UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO – USF CENTRO DE...

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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO – USF CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS ENGENHARIA CIVIL CAMILA DE ALMEIDA FRANCISCONE PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES NO BRASIL: Levantamento das ocorrências de patologias das construções brasileiras Dezembro de 2005

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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO – USF

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

ENGENHARIA CIVIL

CAMILA DE ALMEIDA FRANCISCONE

PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES NO BRASIL: Levantamento d as

ocorrências de patologias das construções brasileir as

Dezembro de 2005

i

CAMILA DE ALMEIDA FRANCISCONE

PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES NO BRASIL: Levantamento d as

ocorrências de patologias das construções brasileir as

Monografia apresentada junto à Universidade

São Francisco – USF como parte dos requisitos

para a aprovação na disciplina Trabalho de

Conclusão de Curso.

Área de concentração: Estruturas

Orientador: Prof. Dr. ARMANDO MORENO JR.

Itatiba SP, Brasil

ii

Dezembro de 2005

AGRADECIMENTOS

Meus agradecimentos aos profissionais que contribuíram, enviando relato de casos,

indicações de bilbliografia e fontes, ao orientador Prof. Dr. Armando Moreno Jr. , ao

Prof. Dr. Júlio Soriano e aos demais que de alguma forma estiveram presentes na

concretização deste trabalho.

iii

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS .......................................................................................... v

LISTA DE TABELAS ......................................................................................... vi

RESUMO............................................................................................................ vii

PALAVRAS-CHAVE........................................................................................... vii

1 INTRUDUÇÃO................................................................................................. 1

2 OBJETIVO....................................................................................................... 2

3 REFERÊNCIA TEÓRICA................................................................................. 3

3.1 Patologias relacionadas a projetos........................................................... 3

3.2 Patologias relacionadas à execução......................................................... 4

3.2.1 Erros de montagem da estrutura............................................................ 4

3.2.2 Desforma e retirada de escoramentos................................................... 4

3.2.3 Controle de qualidade da execução....................................................... 5

3.3 Patologias relacionadas a materiais......................................................... 6

3.3.1 Cimentos e concreto................................................................................ 6

3.3.2 Agregados................................................................................................ 7

3.3.3 Água.......................................................................................................... 8

3.3.4 Armadura.................................................................................................. 8

3.4 Patologias relacionadas ao uso/ manutenção......................................... 9

3.5 Alguns dos processos patológicos do concreto armado....................... 9

3.5.1 Corrosão no concreto armado................................................................ 9

3.5.1.1 Ataque de cloretos................................................................................ 11

3.5.2 Carbonatação........................................................................................... 11

3.6 Exemplos de patologias ocorridas............................................................ 13

3.6.1 Exemplo de patologia ligada a projetos................................................ 13

3.6.2 Exemplo de patologia ligada a execução.............................................. 14

3.6.3 Exemplo de patologia ligada a manutenção e uso............................... 15

3.6.4 Exemplo de patologia ligada a material................................................. 17

iv

4 METODOLOGIA.............................................................................................. 18

5 DESENVOLVIMENTO E DISCUSSÕES......................................................... 19

5.1 Desabamento de Edifício em Santa Catarina........................................... 19

5.2 Problemas em ponte no Paraná................................................................ 21

5.3 Falha em construção no Recife................................................................. 24

5.4 Desabamento do acabamento de telhado em igreja de Minas.............. 27

5.5 Rachadura em escola de São Paulo.......................................................... 28

5.6 Prédio em construção desaba em Fortaleza............................................ 28

5.7 Plano para “desentortar” prédios em Santos.......................................... 29

5.8 Defeitos em apartamento na Grande São Paulo...................................... 30

5.9 Prédio interditado em Recife por risco de desabamento........................ 31

5.10 Prédio com risco de desabamento no Rio de Janeiro.......................... 31

5.11 Edifício com problemas nos pilares do subsolo em SJRP................... 32

5.12 Problemas no reservatório de Edifício em Pernambuco...................... 33

5.13 Colapso de Postes de Telefonia Móvel X Reforço................................. 34

5.14 Recuperação e Reforço da Ponte Cidade Jardim – SP......................... 35

5.15 Desabamento do “Palace 2” no Rio de Janeiro..................................... 36

6 CONCLUSÕES................................................................................................ 38

7 BIBLIOGRAFIA............................................................................................... 40

APÊNDICE A – Site (www.patologiadasconstrucoes.4t.com)...................... 43

APÊNDICE B – Comunidade no Orkut “Patologia das Construções”......... 44

v

LISTA DE FIGURAS

Figura 3.1 – Corrosão em concreto armado................................................... 11

Figura 3.2 – Ataques de cloretos em concreto armado................................ 11

Figura 3.3 – Variação da profundidade a carbonatação (...) fator a/c.......... 12

Figura 3.4 – Trincas em apartamento.............................................................. 13

Figura 3.5 – Esquema da laje nervurada......................................................... 13

Figura 3.6 – Detalhe dos projetos de armação e fôrmas............................... 14

Figura 3.7 – Perfil do terreno........................................................................... 15

Figura 3.8 – Esquema do layout inicial........................................................... 16

Figura 3.9 – Esquema do layout para solucionar o problema...................... 16

Figura 5.1 – Desabamento de Edifício em Santa Catarina............................ 19

Figura 5.2 – Desabamento de ponte sobre a represa do Capivari............... 21

Figura 5.3 – Acidente na Regis Bittencourtt................................................... 23

Figura 5.4 – Detalhe (...) desabamento do Areia Branca............................... 26

Figura 5.5 – Fachada do “Areia Branca” antes do desabamento................ 26

Figura 5.6 – Fachada do “Areia Branca” após o desabamento.................... 26

Figura 5.7 – Rachadura em escola.................................................................. 28

Figura 5.8 – Desabamento do edifício “Palace II”.......................................... 36

Figura 6.1 – Gráfico da distribuição percentual obtida................................. 39

vi

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 - Origem das Falhas em Edifícios da Europa (%)........................ 3

Tabela 3.2 – Controle na execução da obra a nível reduzido....................... 5

Tabela 3.3 – Tipo de cimento indicado conforme agente agressor............. 6

Tabela 3.4 - Limite de substâncias prejudiciais nos agregados.................. 7

Tabela 3.5 – Prescrições limites para águas de utilização em concreto..... 8

Tabela 3.6 – Cobrimento nominal mínimo (tolerância 10mm)...................... 1 0

Tabela 6.1 – Origem dos problemas (...) nas construções do Brasil........... 3 8

vii

RESUMO

O estudo da patologia das construções tem importância relevante, com relação à

segurança dos projetos, qualidade dos materiais utilizados e execução. Sabe-se que

o custo de um reparo estrutural é até 125% do valor inicial da obra por isso torna-se

indispensável à qualidade e prudência da indústria da construção civil. O

desenvolvimento de pesquisas das patologias contribui para identificação dos

fatores causadores, desenvolvendo terapias e evitando novas ocorrências futuras.

Este trabalho visa estudar as patologias das construções, relatando as últimas

ocorrências no Brasil; levantando dados de acidentes e problemas ocorridos nas

construções, decorrente das diversas patologias, ligadas a erros de projeto,

execução, material, e manutenção ou uso. Planeja-se criar um banco de dados para

contribuir, difundindo as ocorrências nacionais, com estudantes, profissionais da

área e usuários interessados.

PALAVRAS-CHAVE: patologia das construções, erro de projeto, qualidade da

execução, manutenção, uso das edificações

1

1 INTRODUÇÃO

Hoje em dia indústrias primam por certificações de qualidade. A indústria da

construção civil não pode ser diferente. O estudo da patologia das construções tem

importância relevante, com relação à segurança dos projetos, qualidade dos

materiais utilizados e execução. Sabe-se que o custo de um reparo estrutural é até

125% do valor inicial da obra (SITTER, 1984 apud MORENO JR., 2005), por isso

torna-se indispensável à qualidade e prudência da indústria da construção civil. O

estudo das patologias contribui para identificação dos fatores causadores,

desenvolvendo terapias e evitando novas ocorrências futuras.

2

2 OBJETIVO

Este trabalho visa estudar as patologias das construções, relatando as últimas

ocorrências no Brasil; levantando dados de acidentes e problemas ocorridos nas

construções, decorrente das diversas patologias, ligadas a erros de projeto,

execução, material, e manutenção ou uso. Planeja-se criar um banco de dados para

contribuir, difundindo as ocorrências nacionais, com estudantes, profissionais da

área e usuários interessados.

3

3 REFERÊNCIA TEÓRICA

De acordo com Meseguer(1991), a indústria européia já sabe dominar falhas

relacionadas a materiais e a execução, e portanto está em condições de dominar o

projeto; fase que é responsável por metade dos defeitos nas construções da Europa.

Isso leva à tendência de que quanto mais tempo dedicado ao planejamento e

projetos, menores os erros, e conseqüentemente, menor o número de patologias.

Tabela 3.1 - Origem das Falhas em Edifícios da Euro pa (%) Projeto 40 a 45 Execução 25 a 30 Materiais 15 a 20 Uso 10 Causas Naturais Imprevisíveis 4

FONTE - Adaptado de Meseguer (1991)

No Brasil, devido à baixa qualidade de mão-de-obra e baixo controle executivo,

estima-se que o número de defeitos na execução seja bastante significativo.

3.1 Patologias relacionadas a projetos

A norma vigente para projetos de concreto armado é a NBR-6118:2003 ; esta

prescreve verificação quanto à estabilidade em condições de uso, relacionadas ao

Estado Limite de Serviço; e verificação quanto à segurança na possibilidade de

colapso da estrutura, relacionada ao Estado Limite Último.

As construções mais antigas eram baseadas nas condições de Estado Limite de

Serviço, portanto eram mais robustas e não apresentavam grandes deformações

(CUNHA, 1996).

Com os cálculos mais modernos, embasados pela norma recente, estruturas mais

esbeltas são criadas, e patologias ligadas à deformação e deslocamentos tornam-se

mais evidentes.

4

3.2 Patologias relacionadas à execução

Erros ocasionados durante a execução da obra podem ser minimizados através de

uma fiscalização eficiente, com profissionais preparados.

Os erros de execução podem ocasionar limitação do uso da estrutura bem como

levar ao estado de colapso. Portanto é uma etapa que pode causar patologias tanto

como as demais.

Alguns exemplos de erros de execução, segundo Cunha(1996) são: juntas de

concretagem mal-tratadas (com falhas), cobrimento de armadura desrespeitado,

ajuste feitos no canteiro sem supervisão de engenheiro responsável, uso

inadequado de materiais (por exemplo, um revestimento de fachada que permite

infiltração), contato direto entre vegetação e estrutura ( tendência de humanizar as

construções com presença de floreiras, sem a correta impermeabilização),

chumbamento inadequado de estruturas metálicas (ponto para início do processo de

corrosão).

3.2.1 Erros de montagem da estrutura

A disposição das armaduras é um processo extremamente importante, por isso deve

ser orientada e acompanhada por técnico responsável competente para tal

procedimento.

É uma variável que está diretamente ligada a erros de projetos, pois um

detalhamento incompleto, com possibilidade interpretação ambígua, pode abrir

margem para uma execução incorreta.

3.2.2 Desforma e retirada de escoramentos

Outro problema comum ligado à execução, é a retirada precoce de escoramento e

desforma. Enquanto a estrutura não alcançar a resistência para qual foi projetada,

não se devem retirar fôrmas e escoramento, evitando assim trincas e deslocamentos

5

verticais excessivos, situações que podem no mínimo comprometer o uso da

estrutura.

3.2.3 Controle de qualidade da execução

O controle de qualidade na execução é realizado sob responsabilidade dos

engenheiros e demais profissionais habilitados da obra.

O controle na etapa de execução, deve ser correspondente ao tipo de construção e

aos possíveis danos em caso de acidente, em níveis a serem considerados

(CÁNOVAS, 1988):

• nível reduzido;

• nível normal;

• nível intenso.

Quanto maior o coeficiente de majoração dos esforços adotados em projeto, menor

o controle exigido na execução da obra.

O controle a nível reduzido é o mínimo necessário, realizado em obras com visitas

de inspeção não periódicas , conforme tab. 3.2.

Tabela 3.2 – Controle na execução da obra a nível r eduzido Fase de controle de execução Operações que se controlam

Antes da concretagem

Revisão das plantas de projeto e de obra. Verificação dos equipamentos (betoneiras, vibradores, andaimes, equipamentos de transporte, laboratório, segurança, etc). Verificação das fôrmas e armaduras (dobramento, transpasse e posição). Previsão de juntas. Previsão do tempo na concretagem (observar a possibilidade de temperaturas muito acima ou abaixo da ambiente ou chuvas)

Durante a concretagem Preparo, transporte e lançamento do concreto. Juntas. Concretagem com tempo frio, quente ou sob chuva.

Após a concretagem

Cura, retirada de escoramento e desforma. Tolerâncias dimensionais, flechas e contraflechas, inflexões laterais, acabamento de superfícies etc. Transporte e colocação de peças pré-fabricadas. Previsão de ações mecânicas durante a execução. Reparação de defeitos superficiais.

FONTE – Adaptado de Cánovas(1988)

6

3.3 Patologias relacionadas a materiais

A qualidade dos materiais utilizados tem influência no produto final da construção

civil e como ele se comporta quanto ao meio em que é exposto.

O Brasil ainda tem como principal sistema construtivo de estruturas o concreto

armado. Portanto os principais materiais que podem causar patologias, neste caso,

são os componentes do concreto, tais como agregados, cimentos, água de mistura e

a armadura, no caso de concreto armado.

3.3.1 Cimentos e concreto

A escolha do tipo correto do cimento para a obra à que se destina, também é um

fator essencial na durabilidade e desempenho da estrutura final.

Tabela 3.3 – Tipo de cimento indicado conforme agen te agressor Agente agressor Uso do cimento em ordem de prioridade para redução de ataques

sulfatos

C.P. de alto-forno, com teor de escória superior a 60% C.P. pozolânico, com teor de pozolana entre 15 a 50% C.P. resistentes a sulfatos C.P. com baixo teor de álcalis

águas puras, ácidas ou carbônicas

C.P. pozolânico, com teor de pozolana entre 15 a 50% C.P. de alto-forno, com teor de escória superior a 60% C.P. com baixo teor de C3S (silicato tricálcico)

sílica reativa C.P. pozolânico, com teor de pozolana entre 15 a 50% C.P. de alto-forno, com teor de escória superior a 60% C.P. com baixo teor de álcalis(Na2O e K2O )

FONTE – Adaptado de Soriano(2004)

Os defeitos na dosagem, cozimento e moagem do clínquer, matéria-prima do

cimento Portland, pode ser um problema para a qualidade do cimento. Uma

armazenagem incorreta e má aplicação do produto, também pode ocasionar

patologias na estrutura.

Uma boa cura é indispensável para que um concreto apresente bom desempenho.

Segundo Cánovas(1988), um efeito patológico ligado aos materiais, que pode

7

apresentar-se durante a cura, é a “falsa pega”, que consiste em um empelotamento

da pasta de cimento que acontece de 1 a 5 minutos após a mistura água-cimento.

Essa situação pode induzir ao acréscimo de água no concreto, reduzindo a

resistência final. A causa da “falsa pega” é a desintegração parcial do gesso, devido

ao excesso de temperatura na moagem do cimento (clínquer).

A retração excessiva do concreto, também é um fato que pode dar início a situações

patológicas. A hidratação do cimento e a relação água-cimento são as principais

variáveis ligadas à retração do concreto. Quanto maior a relação água-cimento maior

a retração do concreto.

Uma cura adequada, que evite a perda excessiva de água durante o processo,

também evitará problemas com retração do concreto.

3.3.2 Agregados

Os agregados também podem provocar efeitos patológicos nas estruturas de

concreto. Podem ser utilizados pedras britadas, escórias siderúrgicas estáveis, e

demais produtos não-reativos, isentos de corrosões, argilas ou matéria orgânica que

diminuam a aderência agregado/cimento. Não se deve utilizar agregados com

nódulos de pirita, gesso e compostos ferrosos, e agregados reativos com os álcalis

do cimento (determinado por análise química).

Tabela 3.4 - Limite de substâncias prejudiciais nos agregados Quantidade Máxima(%) em relação ao peso total da am ostra Substâncias Prejudiciais

Areia Cascalho

Torrões de argila 1,00 0,25

Partículas friáveis - 5,00

Finos passantes peneira 0,08 5,00 1,00

Material retido peneira 0,063, que flutuam em líquido de peso específico 2,0

0,50 1,00

Composto de enxofre expressos em S04=e referentes ao agregado seco 1,20 1,20

FONTE - Adaptado de Cánovas(1988)

8

3.3.3 Água

A água também é um fator importante na qualidade do concreto. A utilização de

águas impróprias no amassamento causa redução da resistência do concreto,

exemplificando, a utilização de água do mar pode diminuir cerca de 25% a

resistência do concreto.

Mas é principalmente no concreto armado que a água imprópria causa mais

problemas, provocando corrosões na armadura, e pela reação expansiva ,

fissurações e perdas de cobrimento.

Os limites para substâncias contaminantes devem ser os da tabela a seguir, exceto

para concreto protendido, onde este limites são menores Cánovas(1988).

Tabela 3.5 – Prescrições limites para águas de util ização em concreto Determinação Limites pH Acima 5 Substâncias dissolvidas 15 g/l Sulfatos (SO4) 1 g/l Íon Cloro (Cl-) 6 g/l Hidratos de carbono 0 g/l Substâncias orgânicas solúveis em éter 15 g/l

Fonte: (CÁNOVAS,1988)

3.3.4 Armadura

Sendo o aço um produto produzido industrialmente, é quase nula a hipótese que

apareçam falhas por não conformidade com as normas de qualidade.

O principal problema relacionado à armadura no concreto armado, e nas estruturas

metálicas de modo geral, são as corrosões; que não são decorrentes à qualidade do

material, mas sim ao meio ou situação inadequados à que foi exposto.

Os cuidados a serem tomados com a armadura são:

• os aços a serem empregados devem estar limpos de óxidos não aderentes, tintas, graxas ou outras substâncias prejudiciais;

9

• as armaduras devem ser bem fixadas para impedir seu movimento ou deformação durante a concretagem;

• não é conveniente o emprego de aços de diferentes características numa mesma peça;

• respeitar o espaçamento mínimo entre as barras, para uma boa concretagem.

3.4 Patologias relacionadas ao uso/ manutenção

A falta de manutenção e uso incorreto das estruturas também podem causar

patologias que diminuem a sua vida útil ou restringem a utilização das construções.

Uma estrutura exposta a uma atmosfera agressiva deve receber tratamento

superficial adequado, como pintura por exemplo, a fim de evitar processos de

deterioração do concreto, armadura ou estrutura metálica.

Um prédio feito para uma utilização doméstica, não pode simplesmente ser utilizado

como escola, sem consultar o projeto. A carga excessiva, devido ao uso incorreto do

ambiente também pode causar fissurações ou flechas excessivas.

3.5 Alguns dos processos patológicos do concreto ar mado

Dentre os principais processos patotógicos, destacaremos as corrosões e a

carbonatação, que são processos de deterioração que mais ocorrem nas estruturas

de concreto e armaduras.

3.5.1 Corrosão no concreto armado

As principais causas de corrosões nas estruturas do concreto armado são:

• Gases contidos na atmosfera (como CO2 e SO2)

• Águas ácidas ou marinhas

• Compostos orgânicos (como óleos, gorduras, líquidos alimentares, etc)

10

A poluição atmosférica causa vários problemas nas superfícies, a também nas

estruturas. A norma vigente prevê cobrimento mínimo nominal de 2,0cm para

superfícies horizontais (tab. 3.6).

Tabela 3.6 – Cobrimento nominal mínimo (tolerância 10mm) Classe de agressividade ambiental

I II III IV(3) Elementos Estruturais

cnom (mm) CA – Laje(2) 25 25 35 45 CA – Viga/Pilar 25 30 40 50 CP(1) – todos 30 35 45 55 (1)

– Cobrimento nominal da armadura pasiva que envolve a bainha ou os fios , cabos e cordoalhas, sempre superior ao especificado para o elemento de concreto armado, devido aos riscos de corrosão fragilizantesob tensão. (2)

– Para a face superior de lajes e vigas que serão revestidas com argamassa de contrapiso, com revestimentos finais secos tipo carpete e madeira, com argamassa de revestimento e acabamento tais como pisos de elevado desempenho, pisos cerâmicos, pisos asfálticos e outros , pode-se respeitar um cobrimento nominal mínimo de 15mm. (3)

– Nas faces inferiores de lajes e vigas de reservatórios, estações de tratamento de esgoto, canaletas de efluentes e outras obras em ambientes química e intensivamente agressivos, a armadura deve ter cobrimento nominal mínimo de 45mm.

FONTE – Adaptado de Soriano(2004)

A proteção do concreto, e conseqüentemente da armadura, como revestimentos,

impermeabilizações e resinas, tem por finalidade evitar que águas e gazes

prejudiciais cheguem a ela. A corrosão da armadura é interação destrutiva do

material com o ambiente, por reação química, denominado oxidação; ou

eletroquímica, denominado usualmente de corrosão.

A oxidação é a reação de um gás e o metal, com a formação de uma película de

óxido. É um processo extremante lento à temperatura ambiente que não provoca

perda de seção, não sendo o principal processo de corrosão nas estruturas

convencionais.

A corrosão, de origem eletroquímica, acontece quando é formada uma película de

eletrólito sobre a armadura. É a que ocorre usualmente na construção civil. Esta

corrosão conduz à formação de óxidos e hidróxidos de ferro, produtos de corrosão

avermelhado, pulverulentos e porosos, denominado ferrugem, e só ocorrem nas

seguintes condições abaixo, exemplificados pela figura 3.1:

• deve existir um eletrólito;

• deve existir uma diferença de potencial;

• deve existir oxigênio;

• podem existir agentes agressivos (ex.: O2, SO4, Cl);

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Figura 3.1 – Corrosão em concreto armado FONTE – (HELENE,1986)

3.5.1.1 Ataque de cloretos

Principalmente em meios marinhos e industriais, a ação de íons como cloreto podem

causar corrosão das armaduras, mesmo em meio altamente alcalino, como o do

concreto sem alterações.

Ao reagir com a armadura, os íons de cloreto formam uma área anódica e pontos de

corrosão na aço.

Figura 3.2 – Ataques de cloretos em concreto armado FONTE – Adaptado de Moreno Jr.(2005)

3.5.2 Carbonatação

A carbonatação ocorre principalmente em estruturas expostas à poluição,

especificamente em ambiente onde há elevada concentração de dióxido de carbono

(CO2).

PONTO DE CORROSÃO NA ARMADURA

CONCRETO CONTAMINADO COM CLORETOS

CLORETOS

12

O hidróxido de cálcio, presente nas estruturas de concreto, desencadeia o processo

na presença do CO2.

Ca(OH)2 + CO2 → CaCO3 + H2O

A reação ocorre reduzindo a alcalinidade característica da estrutura, pela presença

do hidróxido de cálcio, através da ação do CO2 presente na atmosfera ou outros

gases ácidos , como SO2 e H2S. A redução do pH da estrutura altera a estabilidade

da película passivadora da armadura.

Sendo um fenômeno ligado à permeabilidade dos gases, a carbonatação é

influenciada pelos componentes do meio ambiente, seja este rural, industrial ou

urbano; e pelas características do concreto, como relação água/cimento, e técnicas

de produção como transporte, lançamento, adensamento e cura do concreto.

Figura 3.3 – Variação da profundidade a carbonatação em relação ao fator a/c FONTE – (HELENE, 1986)

Segundo o gráfico da fig. 3.3, uma relação água/cimento baixa, que promove uma

estrutura menos permeável, resulta numa menor profundidade e velocidade da

carbonatação, em torno de 5mm em 6 anos.

A relaçãoágua/cimento alta, que promove um concreto mais poroso e permeável,

gera uma maior profundidade e velocidade da carbonatação, em torno de 10 a 25

mm em 6 anos.

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3.6 Exemplos de patologias ocorridas

Para exemplificar, neste item estão alguns casos de patologia simplificados, contidos

no livro “Acidentes Estruturais na Construção Civil” (Cunha,1996 e Cunha,1998)

3.6.1 Exemplo de patologia ligada a projetos

Dentre os casos relacionados com problemas no projeto, selecionou-se o caso de

“trincas nas alvenarias de um prédio residencial” (Cunha,1996).

As trincas foram observadas em quatro apartamentos do pavimento tipo, e eram

idênticas.

Figura 3.4 – Trincas em apartamento FONTE – (CUNHA, 1996)

O problema foi na armação das lajes, que seriam nervuradas, armadas nas duas

direções, sendo o vazio entre as nervuras, preenchidos com lajotas de 20x20x10cm,

conforme fig. 3.5.

Figura 3.5 – Esquema da laje nervurada FONTE – (CUNHA 1998)

14

Dois bordos da laje foram considerados apoio simples e os outros dois apoios

engastados, e nestas definições surgiram os problemas. Nos bordos engastados

eram necessários armaduras negativas, que até foram detalhadas no projeto de

armação, mas não no projetos de formas (fig. 3.6) o que desencadeou o problema.

Figura 3.6 – Detalhe dos projetos de armação e fôrmas FONTE – (CUNHA 1998)

A falta de informações no projeto, podem desencadear problemas estruturais que

ficam evidentes apenas quando a estrutura é carregada.

Após identificar que a origem das trincas foi este problema de estabilidade nos locais

de momento negativo das lajes, foi recomendado a elaboração de projeto para

reforço da estrutura.

3.6.2 Exemplo de patologia ligada a execução

Um dos casos citados por Cunha(1996), cuja patologia foi ligada a falhas na

execução é de um edifício que sofreu recalques diferenciais excessivos devido a

estacas mal executadas.

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O edifício já estava na construção do terceiro andar quando apareceram fissuras na

parte da frente do edifício.

Observando os perfis de sondagem e os boletins de cravação de estacas pré-

moldadas de concreto, observou-se que todas foram cravadas com 6 metros de

comprimento, que não coincidentemente era do padrão de fabricação dos módulos

das estacas fornecidas pela contratada para execução.

Esses módulos foram suficientes para os demais pilares, mas não para os pilares da

fachada, onde ocorreu o problema de recalque.

Figura 3.7 – Perfil do terreno FONTE – (CUNHA 1996)

Foi um erro de execução cometido pela executora das fundações, que não utilizou

critérios técnicos para cravação das estacas. Foram projetados reforços para a

fundação dos pilares frontais para cessar os recalques e disponibilização total da

estrutura.

3.6.3 Exemplo de patologia ligada a manutenção e us o

Entre as patologias ligadas ao uso, citados por Cunha(1996), pode-se destacar um

caso de deformações excessivas em lajes de edificação comercial.

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A instalação de dois cofres e um armário, conforme disposição escolhida pelo

proprietário (fig. 3.8), causou uma flecha excessiva nas lajes, que estavam apoiadas

em vigas delgadas, que já haviam sido dimensionadas de forma a resultar uma

estrutura esbelta, portanto mais flexível.

A solução foi alterar o layout das instalações (fig. 3.9), promovendo uma melhor

distribuição das cargas e resolvendo o problema da flecha excessiva.

Figura 3.8 – Esquema do layout inicial FONTE – (CUNHA 1996)

Figura 3.9 – Esquema do layout para solucionar o pr oblema FONTE – (CUNHA 1996)

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3.6.4 Exemplo de patologia ligada a material

O livro de Cunha(1998) não faz referência a patologias diretamente ligadas ao

material.

Os materiais industrializados, como aço por exemplo, tem grande controle

tecnológico, portanto raramente apresenta problemas.

Problemas com materiais como agregados, cimento e água, que compõem o

concreto, podem ser confundidos com erro na execução. Quando há problema com

a estrutura de concreto, em uma obra onde não foram colhidas amostras do

concreto por exemplo, este problema pode ser atribuído à concretagem, mascarando

um possível problemas com materiais.

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4 METODOLOGIA

Foram pesquisados os principais acidentes na construção, nas fontes de

informações brasileiras disponíveis, como jornais, revistas e sites da Internet com

informações confiáveis.

Estes acidentes serão analisados, a fim de levantar-se quais foram as causas do

acidente. Muitas vezes um mesmo acidente pode ter mais de um fator causador.

Segundo Cánovas(1988), que utilizou dados de empresas de seguros francesa, a

distribuição percentual de causas de patologia na construção civil é a seguinte:

• Erros de concepção em geral – 3,5%

• Erros de calculo, material ou ausência de estudos – 8,5%

• Disposições defeituosas – 2,5%

• Falhas de deformações excessivas – 19,7%

• Falhas resultantes de variações dimensionais – 43,7%

• Defeitos de execução – 16,5%

• Fenômenos químicos e do gelo – 4,0%

• Causas diversas – 1,6%

Pretende-se utilizar os dados encontrados na pesquisa, para elaborar-se uma

estatística nacional de patologias na construção civil, distribuindo percentualmente

os tipos de patologia, relacionadas à erros de projetos, execução, materiais,

utilização ou uso.

Num segundo momento, estudou-se parcerias para elaboração de site na Internet

(Apêndice A), onde usuários poderiam inserir dados de patologias, acrescentando

no bancos de dados as características da patologia do caso apontado; dados os

quais foram agregados aos provenientes de pesquisas em jornal, revistas e Internet.

19

5 DESENVOLVIMENTO E DISCUSSÕES

Neste capítulo, busca-se apresentar as principais patologias veiculadas em jornais,

revistas e Internet. Uma comunidade da Internet também trouxe a tona alguns

desses casos. Profissionais das áreas de patologia também relataram algumas das

situações citadas.

A maioria das patologias divulgadas na imprensa tratam de construções que já

atingiram colapso da estrutura, com conseqüentes desabamentos. Algumas vezes,

não há consenso do que realmente ocorreu.

Em relatos de profissionais da área, encontram-se patologias onde as causas são

melhor definidas.

5.1 Desabamento de Edifício em Santa Catarina

Figura 5.1 – Desabamento de Edifício em Santa Catar ina FONTE – (BOMBEIROS,2005)

O acidente ocorreu em agosto de 2005. Um edifício de cinco andares, localizado na

região central da cidade de Içara à 230 km de Florianópolis, desabou.

Usuários do edifício disseram extra-oficialmente que o prédio apresentava

rachaduras e tinha infiltrações. Inicialmente, os bombeiros falaram que o imóvel não

apresentava problemas.

Dias antes fortes chuvas atingiram a região e podem ter ajudado para o colapso da

estruturas do edifício. Falha na execução do prédio também não foi descartada.

20

Num primeiro momento o secretário de Obras de Içara afirmou que o prédio seguiu

todas as normas para sua execução. O edifício foi erguido em setembro de 1999 e

foi afirmado que a vistoria técnica era realizada anualmente.

Porém o alvará de construção do prédio autorizava apenas três pavimentos, dois

andares e o térreo como indica o alvará de construção em poder do Crea, mas cinco

foram erguidos.

O “habite-se”, documento que atesta que o imóvel seguiu as exigências construtivas

do município, não foi disponibilizado na época. Posteriormente, confirmou-se,

através da documentação registrada na Prefeitura, que dois pavimentos foram

construídos clandestinamente.

O construtor não foi localizado e o engenheiro responsável pela obra não quis se

manifestar.

O prédio não desabou por completo. Os três pavimentos superiores ficaram intactos

após caírem sobre o primeiro e o térreo. Segundo o Corpo de Bombeiros, o acidente

teve início após uma das pilastras da garagem, que ficava no subsolo, ter cedido.

Os três pavimentos superiores intactos, foram destruídos para evitar novo

desabamento. Houveram mortos e feridos no acidente.

De madrugada, o prédio chegou a afundar alguns centímetros. Foi necessário

esvaziar um edifício e quatro casas vizinhas, mas por não apresentar inclinação, os

técnicos atestaram que não havia mais perigo de desabamento.

A atuação de um ciclone extratropical que causou ventos de aproximadamente 100

km/h, fenômeno que destelhou casas, derrubou árvores, provocou deslizamentos de

terra e deixou regiões da Grande Florianópolis, foi descartada.

Apesar de parte do município estar situada no litoral, o terreno do local onde está o

edifício não é arenoso.

A existência de rachaduras, pode ter sido um fator colaborante nas infiltrações da

estrutura.

21

Entretanto, o fato de não ter projeto regularizado, reforça a idéia de que houve falha

na execução, devida a uma construção não ordenada e sem fiscalização. Este foi o

fator principal, agravado pelo ciclone extratropical que atingiu o estado, provocando

o acidente. Acredita-se que foram uma sucessão de fatores.

5.2 Problemas em ponte no Paraná

Figura 5.2 – Desabamento de ponte sobre a represa d o Capivari

FONTE – (OBRAS,2005)

A ponte da represa do Capivari desabou parcialmente no dia 24/01/2005, na rodovia

Régis Bittencourt (BR-116). Desde 1997, a ponte teve sua conservação

comprometida após a extinção de um programa exclusivo de manutenção de pontes.

O Departamento Nacional de Infra-estrutura em Transportes (DNIT) no Paraná

afirma que, mesmo com a suspensão do programa, promovia inspeções periódicas,

com seu corpo de engenheiros, porém sem periodicidade definida.

Antes de parte da ponte ruir, um professor da Universidade Federal do Paraná, já

havia alertado para a instabilidade do solo e a exigência de um estudo geológico

aprofundado da ponte.

O DNIT define o problema na área como "uma avalanche imperceptível, mas

constante". Em menos de 1 semana, a terra se movimentou 1,6 metro em direção ao

22

pilar que não caiu. Se o movimento continuasse nesse ritmo, a pressão poderia

derrubar o que ficou em pé

A emergência custou cerca R$ 2,5 milhões. Só a retirada da terra que caiu na base

da ponte, dentro da represa, deve consumir R$ 1 milhão do total.

Enquanto a contenção era feita, o DNIT iniciou processo de licitação da reconstrução

propriamente dita. As alternativas até agora discutidas têm custo estimado variando

de R$ 12 milhões a R$ 35 milhões.

Na ocasião do desabamento, a instabilidade no aterro fez com que a cabeceira da

ponte que está em funcionamento cedesse, causando uma rachadura sob as pistas.

O DNIT alega que o excesso de chuva gerou infiltração numa das cabeceiras de

terra da ponte, o que causou um deslizamento de terra contra os pilares da

estrutura.

A ponte foi construída em 1982, e recebeu obras de restauração, reforço e

alargamento no final dos anos 90, depois que outra ponte paralela ficou pronta com

a duplicação da rodovia. Liberada desde 2000, ela suportava um tráfego diário de 30

mil veículos antes do acidente.

A mudança fundamental é a substituição do concreto por vigas metálicas na

sustentação da ponte. Os estudos para estender o vão até terra firme foram

descartados devido ao encarecimento da obra.

Relatórios de 2003 da PRF (Polícia Rodoviária Federal) apontavam problemas de

instabilidade na ponte. Uma imagem feita na época mostra uma fenda entre duas

lajes da ponte que caiu. Em outra fotografia, dos anos 80, essa fenda não aparece.

A assessoria do DNIT informou que a abertura estava prevista no projeto original da

ponte já que ajudaria no traçado em curva da ponte no seu reencontro com a

estrada.

O DNIT insistiu que desabamento não foi causado por problemas na estrutura, mas

pela chuva constante da época que encharcou a terra que ficou muito pesada e

desabou sobre os pilares da ponte. Também afirma que não se encontrava indícios

de que a ponte pudesse ceder, visto que o aterro vinha cedendo por conta de

chuvas intensas, e que tal movimentação não é previsível.

23

Cerca de 70 metros da laje da ponte, que tem 320 metros de extensão, foram

danificados pelo desabamento do aterro em uma das extremidades.

O Crea (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) do Paraná

criticou os critérios de manutenção de rodovias federais no Estado, e se posiciona

com opinião de que uma obra não cai de uma hora pra outra; uma série de

ocorrências prévias acontecem antes do desabamento. E a engenharia tem meios

de evitar isso.

Através dessas considerações, julgou-se que este caso teve seu estado patológico

ligado a manutenção, para efeito dos cálculos estatísticos.

Figura 5.3 – Acidente na Regis Bittencourtt FONTE – (OBRAS,2005)

24

5.3 Falha em construção no Recife

O desabamento do edifício Areia Branca, ocorrido no dia 14 de outubro de 2004, em

Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana de Recife-PE, foi provocado por

falhas de execução.

O edifício desabou após uma série de estalos serem ouvidos. Os residentes haviam

deixado o local dois dias antes, logo que os primeiros ruídos começaram.

O prédio, situado a 50 metros da praia, tinha 12 andares, com dois apartamentos de

220 metros quadrados cada um por andar. As pessoas que morreram no acidente

estavam participando de uma inspeção para saber as condições estruturais do

edifício.

A conclusão sobre a causa do acidente, que provocou a morte de quatro pessoas,

foi divulgada em julho de 2005 pelo IC (Instituto de Criminalística). Segundo o laudo,

o desabamento teve como causa principal, a má execução da estrutura, com

indicativo que relaciona o fato com a ausência de engenheiros qualificados no

acompanhamento da obra. As falhas na execução, provocaram o desgaste precoce

de pilares, entre outros problemas.

O laudo também ressalta que vários outros acidentes estruturais que vem ocorrendo

na região do Recife estão ligados à degradação de materiais por agentes agressivos

presentes no solo e água da região, ausência de uma cultura de manutenção

preventiva e falta de controle na qualidade das edificações

O exame, porém, não acabou com o impasse entre os ex-moradores do prédio e a

seguradora, que se recusa a indenizá-los. A empresa alega que o seguro de R$ 3

milhões só garante o ressarcimento no caso de implosão, e não por

desmoronamento. A perícia não detalha esse termo técnico.

O edifício Areia Branca, de classe média-alta foi construído em 1978 por empresa

que já não existe mais. Um dos sócios morreu, e o outro não residia mais em

Pernambuco.

25

Em abril de 2005 a seguradora publicou uma nota de esclarecimento sobre os

resultados do Laudo, por ela contratado, para definir as causas da queda do edifício

Areia Branca, em 14 de outubro de 2004:

"O desmoronamento do Edifício Areia Branca decorreu de falhas construtivas (...)

acarretando, em vários trechos dos elementos da infra-estrutura (fundação),

principalmente nas bases de pilares, pontos vulneráveis ao ataque de agentes

agressivos a suas ferrugens, causando a oxidação das mesmas" (...) "A ruptura

começou a se processar em uma base de pilar que se encontrava com as

armaduras expostas e oxidadas. Ao se romper este pilar, a sua carga foi

imediatamente transferida aos pilares mais próximos, que a absorveram por curto

período. Porém, por estarem também esses pilares com armaduras comprometidas

ou mesmo por apenas sobrecarga excessiva, não suportaram, iniciando-se, assim,

as rupturas subseqüentes que levaram ao desmoronamento total da edificação".

Em razão das conclusões do laudo, a Seguradora declarou que: "o sinistro não

possui cobertura de seguro dentro das condições da apólice contratada, ou seja, não

foi solicitada a contratação de cobertura para desmoronamento pelo segurado,

Condomínio do Edifício Areia Branca, motivo pelo qual não se faz devido o

pagamento da indenização pleiteada."

Na mesma direção das conclusões do referido laudo foram os resultados apontados

nos laudos oficiais do Instituto de Criminalística (IC) e do Conselho Regional de

Engenharia e Arquitetura - CREA / PE.

Sem que nenhum dos diretores da MAPFRE Vera Cruz Seguradora tenha sido

ouvido, a referida Delegacia, hoje, em coletiva de imprensa, declara terem sido os

mesmos indiciados. É importante ressaltar que se trata de um indiciamento e não de

um processo penal. O inquérito deverá ser enviado ao Ministério Público, que

decidirá sobre a procedência do indiciamento, sobre o simples arquivamento do

inquérito ou solicitar novas diligências.

26

Figura 5.4 – Detalhe de um dos pilares após o desab amento do Areia Branca FONTE – (CREA-PE,2005)

Figura 5.5 – Fachada do “Areia Branca” antes do des abamento

FONTE – (CREA-PE,2005)

Figura 5.6 – Escombros do “Areia Branca” após o des abamento FONTE – (CREA-PE,2005)

27

5.4 Desabamento do acabamento de telhado em igreja de Minas

Um pedaço da cimalha de uma das igrejas barrocas mais antigas de Minas Gerais, a

de Nossa Senhora da Assunção, ou Sé de Mariana, ruiu em maio de 2005, em mais

uma demonstração da fragilidade do patrimônio histórico e cultural do país.

Edificada por volta de 1710, a construção religiosa é uma das primeiras de Mariana,

que fica a 110 km de Belo Horizonte. A cimalha é o nome que se dá ao acabamento

em madeira do beiral do telhado, que envolve todo o lado externo da frágil

construção barroca, feita de pau-a-pique, madeira e adobe.

O envelhecimento da madeira, sempre exposta ao tempo, foi a provável causa da

queda de cerca de dois metros da cimalha da fachada principal, bem abaixo de uma

das duas torres.

Apesar de a Sé de Mariana não ter aparentemente problemas estruturais, ela

precisa ser restaurada. Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional (Iphan) em Mariana, relata que o pedaço que ruiu é pequeno em relação à

extensão da fachada, mas afirmou que toda a cimalha precisa ser revista,

especialmente as das fachadas laterais. Além disso afirmam que a igreja necessita

de uma "inspeção geral”, um estudo mais profundo do estado de conservação, para

que sejam evitados maiores danos.

O engenheiro da Arquidiocese de Mariana, instituição que detém a responsabilidade

sob o prédio, disse que providências já foram tomadas para a recuperação da

cimalha, e acrescentou que no geral a igreja está bem, mas merece uma

restauração, e tratando-se de uma construção frágil, de dez em dez anos tem que

receber “tratamento completo”.

É uma patologia ligada à manutenção, que pode não ter sido efetuada por

negligência. O problema é o dinheiro para a restauração, que a arquidiocese não

dispõe. Depende do poder público ou do interesse de alguma empresa privada que,

usando as leis de incentivo à cultura, financie a obra que deve girar em torno de R$

1 milhão, segundo estimativas. Tombada pelo patrimônio nacional em 1939, a igreja

tem entre suas características 12 altares ricamente adornados por mestres do

barroco.

28

5.5 Rachadura em escola de São Paulo

Figura 5.7 – Rachadura em escola Fonte – (RACHADURA,2005)

Dezessete meses depois de inaugurado o prédio de uma escola municipal na zona

oeste de SP, apresentou rachaduras.

As fissuras assustaram pais de alunos, que temiam o desmoronamento do prédio

Alguns transferiram os filhos, outros os impedem de utilizar parte das dependências.

As rachaduras apareceram depois que invasores construíram uma favela no morro

no terreno de baixo, segundo departamento de edificações da prefeitura paulistana.

O barranco teria "escorregado" e desestabilizado o solo, ocasionando fissuras,

porém não o colapso total da estrutura.

Infiltrações foram causadas por obstrução das calhas, percolando água pelas

fissuras, portanto os vazamentos não eram a causa do problema.

Julga-se que causa da patologia seja ligada ao uso, visto que o terreno abaixo foi

ocupado irregularmente, e o solo que servia de apoio para a edificação foi

modificado, perdendo suas características iniciais de suporte.

5.6 Prédio em construção desaba em Fortaleza

Um prédio em construção em uma das regiões mais movimentadas de Fortaleza

desabou numa tarde em setembro de 2003. Um operário morreu e três ficaram

soterrados.

29

O prédio estava sendo feito com peças pré-moldadas em concreto.

A queda rompeu a fiação elétrica da rua e derrubou postes de luz. Um carro parado

em frente à obra foi danificado.

O Corpo de Bombeiros acredita que uma das lajes presas a um guindaste se soltou

e destruiu todo o edifício que já tinha quatro andares.

Segundo o Corpo de Bombeiros, não é possível saber se o acidente foi causado por

um problema mecânico ou por falha de algum funcionário da obra.

Neste caso, foi um acidente durante a execução.

5.7 Plano para “desentortar” prédios em Santos

Em fevereiro de 2003, estudantes de engenharia e arquitetura reuniram-se para

fazer o cadastramento dos prédios inclinados da orla de Santos, maior cidade do

litoral paulista. No cadastramento, os grupos fizeram leitura do grau de inclinação

das construções.

A iniciativa é da Secretaria de Obras e Serviços Públicos do município, e o estudo

serviria de base para que, em conjunto, os proprietários dos imóveis reivindicassem

ao governo concessão de uma linha de crédito para financiar obras destinadas a

devolver os edifícios aos eixos originais.

Santos tem de 90 a 100 prédios tortos, com alturas entre 3 e 17 andares, localizados

principalmente no trecho de 2,6 km das praias do Gonzaga, Boqueirão e Embaré. De

todos, apenas um no Boqueirão havia sido recuperado até início de 2003.

A secretaria de Obras e Serviços Públicos do município visava firmar convênios de

cooperação, para que os dados coletados pelos universitários originassem um

estudo de risco e referência para projetos de recuperação.

A patologia ligada à projetos, começou nos anos 50 devido ao emprego de

fundações pouco profundas dando início às inclinações. Na época vários prédios

altos foram construídos na orla de Santos. O local tem uma camada profunda, de

30

aproximadamente 20m, de solo argiloso, até alcançar uma camada de solo com

características de maior resistência.

De acordo com os engenheiros responsáveis por obras de recuperação, estudos

técnicos já demonstraram que não há risco de ocorrer o chamado "efeito dominó",

visto que a estrutura não conseguiria resistir a ponto de se sustentar inteira até o

prédio cair e ruiria sobre si mesma.

Segundo a Associação de Engenheiros e Arquitetos de Santos, as construtoras que

nos anos 50 começaram a erguer os prédios dispunham de recursos técnicos para

prever e evitar o problema, isto é, os profissionais sabiam que isso ia acontecer, mas

como havia poucos prédios na praia, o problema não era tão evidente. Quando a

pressão sobre o solo aumentou, com a construção de várias edificações, o problema

ficou visível.

Sobre um solo "mole", os prédios começaram a tombar porque foram feitos com

alturas superiores às que poderiam ser mantidas na vertical por fundações rasas.

Alguns engenheiros e construtores acreditam que profissionais da época

desconheciam o problema, visto que a maioria era de São Paulo, e não tinha

familiaridade com o solo da região.

Portanto, para efeitos estatístico, considerou-se uma patologia ligada à erros no

projeto, principalmente das fundações, ocasionados por má informação quanto às

condições do solo do local.

5.8 Defeitos em apartamento na Grande São Paulo

Este é um caso onde a patologia não teve como conseqüência o colapso total da

estrutura, mas necessitaram de obras de reparos.

O edifício de apartamentos, localizado em bairro nobre da cidade de São Paulo

apresentavam diversas irregularidades.

Segundo proprietários, haviam paredes onduladas, piso com rachaduras e pilares

tortos.

31

O problema é que estes reparos, necessários por patologias relacionadas

geralmente à execução, gerando custos que poderiam ser evitados.

5.9 Prédio interditado em Recife por risco de desab amento

Em novembro de 2001, a Defesa Civil interditou um prédio de quatro andares na

zona oeste da cidade de Recife, por apresentar indícios de desabamento.

Desde 1998, quatro edifícios ruíram em Recife e 54 foram interditados por risco de

desabamento. Onze pessoas morreram nos acidentes.

Assim como as outras obras que apresentaram problemas, ele é do tipo "caixão",

com o térreo formado por apartamentos.

Foram ouvidos estalos e janela quebraram na madrugada anterior à interdição. A

Defesa Civil constatou fissuras nas paredes. Os moradores foram obrigados a

desocupar os 16 apartamentos.

O engenheiro que há 11 anos era sócio da construtora responsável pela obra, disse

que não sabe o que provocou o problema.

Há suspeita de que infiltração de água subterrânea ou um vazamento de esgoto

possam ter comprometido a resistência dos materiais usados na base de

sustentação do prédio.

A partir desses dados, deduz-se que seja uma patologia ligada a manutenção, que

por não ser devidamente executada, acabou por prejudicar a estrutura.

5.10 Prédio com risco de desabamento no Rio de Jane iro

Em janeiro de 2001, um prédio de seis andares na zona sul do Rio de Janeiro foi

interditado porque um bloco ameaçava desabar.

Na ocasião os moradores ouviram um forte estrondo e sentiram o edifício balançar.

Cerca de 60 pessoas tiveram que deixar os apartamentos às pressas.

32

A Defesa Civil constatou a formação de rachaduras em três dos 48 apartamentos do

bloco 2, provocadas pelo abalo em um dos pilares de sustentação do edifício.

O bloco 1, com o mesmo número de apartamentos, não foi afetado.

O edifício estava passando por uma revisão estrutural, e o objetivo da obra era

reforçar os pilares de sustentação.

Após o abalo, foi injetado concreto nas fendas do pilar fissurado e os demais

pilares foram escorados.

Segundo técnicos do Crea, a análise preliminar aponta como causa do abalo, uma

falha na execução da obra de construção do prédio.

O problema está na construção dos pilares de sustentação do edifício. O pilar

abalado não foi devidamente concretado na época em que o prédio foi erguido, há

16 anos. O concreto não preencheu todos os espaços vazios do pilar, e não foi

respeitado o cobrimento mínimo necessário, fazendo com que a estrutura de aço

ficasse próxima da face do pilar. O aço acabou sofrendo oxidação, o que tornou o

pilar mais frágil.

O Crea também verificou falhas em outros quatro pilares de sustentação do edifício.

Em alguns, a armadura estava aparente. Em outros, faltava proteção para a

armadura.

Se confirmada a falha na execução da obra, a empresa responsável pela construção

será convocada a prestar esclarecimentos.

Os moradores culpam a empresa responsável pela obra de reparo pelo acidente , e

afirmam que foram retiradas partes do concreto de três pilares ao mesmo tempo,

sem que fosse feito o escoramento. O Crea não constatou nenhuma irregularidade

na obra de reforço durante a perícia.

5.11 Edifício com problemas nos pilares do subsolo em São José do Rio Preto

Este depoimento foi fornecido, através de comunidade na Internet, por engenheiro

civil que trabalha na área de perícias.

33

Os pilares do subsolo do edifício apresentavam problemas estruturais

evidentes.Julga-se que houve falha na execução, especificamente um pilar do

subsolo apresentou um vício de construção localizado, por falha de concretagem na

base do pilar: pequena, não profunda, localizada rente ao piso e que foi tratada na

ocasião da construção com um recobrimento adicional conforme procedimento

corrente.

A armadura estava em adiantado estado de oxidação, e foi detectada somente com

o “rompimento" do cobrimento de concreto. A surpresa foi que a estrutura tinha

cerca de 12 anos, aparentando perfeitas condições e de repente "explodiu" de

maneira localizada essa patologia que podemos classificar de oxidação da armadura

sem contato aparente com o ar ou umidade, portanto de difícil detecção.

O cobrimento foi medido e estava correto, com 28mm. A causa provável foi que na

ocasião da concretagem houve falha na vibração do concreto ocasionando a

chamada “bicheira” que foi devidamente "mascarada" com argamassa muito porosa,

possibilitando assim infiltração de umidade, mas não foi descartada contaminação

com cloretos.

A estrutura não apresentava manchas avermelhadas que indicassem oxidação

próxima a superfície, porém o nível de contaminação estava muito elevado para ser

somente umidade. Não deve ser descartada a oxidação da armadura por contato

com cloretos na água utilizada no concreto na ocasião da obra, nas águas de

lavagem do piso ou escorrimento do pavimento superior.

Os demais pilares aparentavam ter sofrido manutenção preventiva com

recapeamento, calafetação e reparos de falhas de concretagem.

5.12 Problemas no reservatório de Edifício em Perna mbuco

Através de notícia publicada (DEFESA, 2005), soube-se que a Defesa Civil interditou

em maio de 2005 a caixa d'água de um prédio em Candeias, Jaboatão dos

Guararapes-PE, após moradores ouvirem estalos.

34

Em 2004, o edifício Areia Branca, de 12 andares, desabou provocando a morte de

quatro pessoas em Jaboatão. Na ocasião, os moradores disseram ter ouvido uma

série de estalos e saíram por decisão própria. Horas depois, o prédio estava no

chão.

Segundo Defesa Civil, a caixa d'água apresenta fissuras e havia passado por

reparos em março. Os apartamentos não foram interditados. Mesmo assim,

moradores assustados com o barulho deixaram o conjunto durante a madrugada.

Foram providenciadas de forma emergencial a recuperação da caixa d'água, de

acordo com a Defesa Civil.

Provavelmente é uma patologia ligada a erros no dimensionamento, isto é na fase

de projetos, ou ligada à execução, se esta não seguiu corretamente o projeto.

5.13 Colapso de Postes de Telefonia Móvel X Reforço

Este caso de “Recuperação e Reforço de Postes de Telefonia Móvel com Fibras de

Carbono”, foi relatado em comunidade da Internet (PATOLOGIA,2005).

A patologia levou à ruína de 2 postes e o surgimento de fissuras em outros. Após

estudos e pesquisas sobre o assunto, concluiu-se que as anomalias decorriam da

associação de alguns fatores, dentre eles: as fissuras ocorriam nas regiões de

traspasse das armaduras longitudinais ; os postes eram pré-moldados,

centrifugados, com seção oca. Suas alturas variavam em torno de 30 m.

As seções de traspasse das armaduras apresentavam taxa de armação acima de

20% de aço em relação ao concreto, contrariando os limites normalizados para que

funcione estruturalmente como "concreto armado". Conclui-se que a patologia esteja

ligada ao projeto, que não respeitava regras construtivas.

Sintetizando, a solução foi reforçar os postes com a colagem de fibras de carbono

nas seções de traspasse, assim como o preenchimento das seções ocas nestas

regiões, com a utilização de graute.

35

Desta forma a taxa de armação foi reduzida a parâmetros normalizados, as seções

fissuras foram reforçadas com fibras de carbono em seu diâmetro e, não houve

acréscimo de seção, e conseqüente descontinuidade no diâmetro externo, nos

postes.

Estes reforços foram realizados com um custo aproximado de 30% de implantação

de um novo poste e ainda tiveram a vantagem de não paralisar o sistema de

telefonia.

Este caso foi detalhadamente apresentado em palestra na Escola Politécnica da

USP, na cidade de São Paulo em 2005 e foi ganhador de um prêmio internacional.

5.14 Recuperação e Reforço da Ponte Cidade Jardim – SP

Em 1988 foi realizada obra de recuperação e reforço da Ponte Cidade Jardim sobre

a Marginal Pinheiros, em São Paulo-SP. Caso também relatado em comunidade da

Internet (PATOLOGIA,2005).

Segundo engenheiro responsável pela obra, devido ao baixo greide da ponte em

decorrência de várias camadas de pavimento asfáltico, assim como o aumento das

alturas dos baús dos caminhões, era freqüente o impacto de cargas transportadas

ou dos próprios baús dos caminhões na face inferior do caixão perdido da ponte,

rompendo armaduras e cabos de protensão.

Em razão do exposto, a Prefeitura do Município de São Paulo (PMSP) contratou o

projeto e a execução da recuperação e reforço da ponte.

Os trabalhos iniciaram com a sinalização viária e escoramento preventivo do caixão

perdido da ponte, escoramento este apoiado sobre as pistas da Marginal Pinheiros.

Consecutivamente foi removido o concreto deteriorado, após as delimitações de

seções com disco de corte e, reconstituição das seções com microconcreto, que

continha como agregado graúdo a chamada “brita zero”.

Foram construídos blocos de ancoragens para novos cabos de protensão no interior

do caixão perdido e efetuada a instalação e protensão das cordoalhas.

36

A finalização dos trabalhos ocorreu com a injeção de resina epoxídica fluída nas

fissuras existentes na estrutura.

Após o trabalho realizado, recentemente há uns 3 anos, esta ponte sofreu um

seríssimo acidente, mediante o impacto de uma escavadeira que estava sendo

transportada por um caminhão.

O acidente implicou na interdição da Ponte, assim como novo reforço e recuperação

em regime de emergência.

As últimas notícias provenientes da PMSP é que brevemente será realizada uma

obra de rebaixamento da cota da Marginal Pinheiros, possibilitando o aumento do

greide, com o objetivo de minimizar os acidentes de impactos na ponte.

A partir destes dados, para efeito de classificação, entende-se que seja um estado

patológico da estrutura ligado à utilização.

5.15 Desabamento do “Palace II” no Rio de Janeiro

Figura 5.8 – Desabamento do edifício “Palace II” FONTE – (EM,2005)

O edifício Palace II, na Barra da Tijuca, ruiu parcialmente na noite de 22 de fevereiro

de 1998. Oito pessoas morreram no acidente, que deixou mais de 130 famílias

desabrigadas. Construído pela construtora Sersan, que pertencia ao então

37

parlamentar Sérgio Naya, o edifício sofreu outro desabamento em seguida e foi

implodido no dia 28 de fevereiro de 1998 (PALACE,2005).

Segundo publicação do CREA-RJ (PALACE,1999) , o laudo oficial preparado por

peritos do Instituto Carlos Éboli e anexado ao inquérito policial, aponta “erro no

dimensionamento dos pilares P4 e P44; falha da concretagem e execução da obra

...” , responsabilizando o engenheiro do cálculo estrutural e inocentando Sérgio

Naya. Outro laudo elaborado pela Pontifície Universidade Católica do Rio de Janeiro

(PUC-RJ), que não foi considerado no processo, inclui dois outros erros de execução

da obra, o que envolve diretamente o Responsável Técnico, o proprietário da

construtora Sérgio Naya.

Em 7 de junho de 2005, o engenheiro responsável e proprietário da construtora

foram absolvidos pelo crime de responsabilidade pelo desabamento, mesmo que

tenha sido apontado erro de projeto. A decisão foi adotada por cinco votos a zero. O

Ministério Público do Estado recorreu.

38

6 CONCLUSÕES

Durante o desenvolvimento do trabalho, foi encontrada uma estatística brasileira

mais recente quanto à distribuição de patologia pela origem.

Tabela 6.1 – Origem dos problemas patológicos nas construções do Brasil

Origem Porcentagem

Execução 52 %

Projeto 18%

Utilização 13%

Material 7%

Outros 10%

Fonte : Adaptado de Carmona Filho (1988)

O diferencial desta pesquisa nacional proposta por este trabalho, foi a obtenção de

dados através de sites e comunidades de discussão na Internet, obtendo dados de

vários lugares do Brasil e disponibilizando esses dados de maneira que todos os

interessados na área tenham acesso.

Como foi trabalhado com uma pequena amostra de casos, ficava a dúvida sobre a

veracidade da estatística, porém está de acordo com as informações mais recentes

sobre o assunto. Novas informações sobre casos de patologia ainda estão sendo

pesquisadas. O site para recolhimento de dados está em funcionamento

(www.patologiadasconstrucoes.4t.com), bem como a comunidade de discussão

(PATOLOGIA,2005) , e novas informações podem ser agregadas até a

apresentação oral deste trabalho.

Os acidentes ocasionados por fenômenos naturais ou catástrofes não fizeram parte

do estudo, pois não podem ser evitados durante as diversas etapas da construção.

Conforme informação dos casos obtidos, a distribuição de patologias ficou da

seguinte forma até o presente momento (fig. 6.1).

39

Figura 6.1 – Gráfico da distribuição percentual obt ida

Os erros ligados à execução ainda é a maior fonte de problemas patológicos nas

construções brasileiras, confirmando os valores obtidos em outras fontes.

A falta de mão-de-obra e fiscalizações adequadas são fatores que contribuem para

patologias ligadas à execução.

È uma etapa que pode ser melhorada na construção civil, modernizando,

industrializando e organizando a execução.

EXECUÇÃO 43%

MANUTENÇÃO/USO 27%

PROJETO 30 %

MATERIAL 0%

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Porcentagem

Orig

em d

a P

atol

ogia

Distribuição Percentual da Origem da Patologia dos Casos Estudados

40

7 BIBLIOGRAFIA

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43

APÊNDICE A Site (www.patologiadasconstrucoes.4t.com)

44

APÊNDICE B Comunidade no Orkut “Patologia das Construções”