UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ...

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE POS GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA BIOMÉDICA CLÁUDIO OLTMANN DESENVOLVIMENTO DE UMA APLICAÇÃO WEB E UM APLICATIVO MOBILE PARA O CONTROLE DA RECUPERAÇÃO DO TREINAMENTO FÍSICO ATRAVÉS DA TOTAL QUALITY RECOVERY. DISSERTAÇÃO CURITIBA 2018

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  • UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

    PROGRAMA DE POS GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA

    BIOMÉDICA

    CLÁUDIO OLTMANN

    DESENVOLVIMENTO DE UMA APLICAÇÃO WEB E UM APLICATIVO MOBILE PARA O CONTROLE DA RECUPERAÇÃO DO TREINAMENTO

    FÍSICO ATRAVÉS DA TOTAL QUALITY RECOVERY.

    DISSERTAÇÃO

    CURITIBA 2018

  • CLÁUDIO OLTMANN

    DESENVOLVIMENTO DE UMA APLICAÇÃO WEB E UM APLICATIVO MOBILE PARA O CONTROLE DA RECUPERAÇÃO DO TREINAMENTO

    FÍSICO ATRAVÉS DA TOTAL QUALITY RECOVERY

    Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Engenharia Biomédica, do programa de Pós Graduação em Engenharia Biomédica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Elto Legnani

    CURITIBA

  • Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

    O52d Oltmann, Cláudio

    2018 Desenvolvimento de uma aplicação web e um aplicativo mobile

    para o controle da recuperação do treinamento físico através

    da total quality recovery / Cláudio Oltmann.-- 2018.

    122 f.: il.; 30 cm.

    Disponível também via World Wide Web.

    Texto em português com resumo em inglês.

    Dissertação (Mestrado) - Universidade Tecnológica Federal

    do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica,

    Curitiba, 2018

    Bibliografia: f. 79-85.

    1. Aplicações web - Desenvolvimento. 2. Aplicativos

    móveis – Desenvolvimento. 3. Software - Validação. 4. Educação

    física e treinamento - Reabilitação. 5. Periodização do

    treinamento físico. 6. Psicofisiologia. 7. Atletas – Aspectos

    fisiológicos. 8. Reabilitação – Indicadores. 9. Percepção. 10.

    Engenharia biomédica - Dissertações. I. Legnani, Elto, orient.

    II. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Pós-

    graduação em Engenharia Biomédica. III. Título.

    CDD: Ed. 23 -- 610.28

    Biblioteca Central do Câmpus Curitiba – UTFPR

    Bibliotecária: Luiza Aquemi Matsumoto CRB-9/794

  • 2018

  • DEDICATORIA

    Dedico esta dissertação aos meus pais, Onofre e Zenir, que com sua sabedoria de pessoas simples acreditaram em mim e me incentivaram sempre a estudar e não aceitar a minha realidade.

    Sem jamais esquecer minha família, Vanessa, Yasmin e

    Nicolas, que compreenderam as minhas angustias e com seu amor me apoiaram a vencer esse desafio.

  • AGRADECIMENTOS

    Durante todos os meus anos nos bancos escolares, me recordo claramente de todos os mestres que fizeram diferença na minha caminhada, para agradecê-los certamente uma página seria insuficiente, para estes, digo, do fundo do meu coração obrigado!

    Já há algum tempo havia perdido a esperança de atingir o grau de mestre, eis que Deus colocou em meu caminho o professor Dr. Elto Legnani, um amigo que me ajudou muito nesta jornada, orientando-me e pelo qual tenho profunda gratidão.

    Sou grato também a todo corpo docente da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) pela orientação ao longo desta jornada.

    Agradeço ao meu amigo e parceiro neste projeto, Tiago Andrade, sem sua ajuda, certamente não teríamos chegado aonde chegamos.

    Finalmente, agradeço aos pesquisadores e professores da banca examinadora pela atenção e contribuição dedicadas a este estudo.

  • “Temos o destino que merecemos. O nosso destino está de acordo com os nossos méritos.”

    Albert Einstein

    https://www.pensador.com/autor/albert_einstein/

  • RESUMO

    OLTMANN, Cláudio. Título: Desenvolvimento de uma aplicação WEB e um aplicativo mobile para o controle da recuperação do treinamento físico através da Total Quality Recovery. Dissertação de mestrado profissional da Engenharia Biomédica – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2018. O conhecimento sobre o treinamento esportivo avançou muito nos últimos anos,

    entretanto, atletas, técnicos e cientistas ainda têm muitas dúvidas em relação ao

    momento ideal de aplicar uma nova carga de treino e o tempo necessário para a

    recuperação dos atletas a fim de permitir o controle das adaptações indesejadas, e

    evitando os estados de cansaço e supertreinamento. O objetivo deste estudo foi

    desenvolver e validar um aplicativo web mobile para monitorar e avaliar a recuperação

    das cargas de treinamento em atletas de diferentes esportes. Este estudo consistiu

    numa pesquisa aplicada quantitativa descritiva transversal dividida em quatro etapas:

    elaboração e o desenvolvimento da aplicação web e do aplicativo para mobile,

    validação de conteúdo da aplicação web e do aplicativo mobile juntos aos

    especialistas da área e um estudo piloto para testar a aplicação, onde se avaliaram

    recuperação dos atletas por meio dos indicadores da Total Quality Recovery-(TQR per

    e TQR act) em 105 atletas das modalidades coletivas de futsal masculino categoria

    sub17 e futebol masculino das categorias sub 12, 13, 14, 15. A aplicação permite o

    monitoramento da TQR e pode ser acessada através do site (www.e-trimp.com) ou

    por aplicativo disponível para o sistema android. Na avaliação dos professores e

    profissionais especialistas, 58% das respostas facultadas ao sistema nos 14 itens

    avaliados foram “Excelente”, 34% “Muito Bom” e 8% “Bom”. O estudo piloto mostrou-

    se importante para a testagem do sistema, permitindo o acompanhamento longitudinal

    da percepção da recuperação (TQR per) e das variáveis da recuperação (alimentação

    e hidratação, sono e recuperação, relaxamento e suporte emocional, alongamento e

    recuperação ativa), gerando resumos estatísticos descritivos básicos, assim como

    gráficos da recuperação das sessões de treinamento, dos ciclos de treino e até mesmo

    de toda a temporada permitindo a intervenção imediata ou a correção da periodização.

    Conclui-se que o uso dessa tecnologia pode eliminar uma barreira geográfica e

    temporal com relação ao gerenciamento das sessões de treinamento e mostrou-se

    eficaz para a coleta de dados importantes a respeito da recuperação dos atletas,

    auxiliando na prevenção de lesões e o supertreinamento.

    Palavras-chave: aplicação web. aplicativo mobile. recuperação de treinamento.

    cargas psicofisiológicas.

    http://www.e-trimp.com/

  • ABSTRACT

    OLTMANN, Claudio. Title: Development of a WEB application and a mobile application

    to control the recovery of physical training through Total Quality Recovery. Dissertation

    of the professional master of Biomedical Engineering - Federal Technological

    University of Paraná, Curitiba, 2018.

    The knowledge about the sports training has advanced in recent times, however, athletes, coaches and scientists still have a lot of questions regarding the ideal moment to apply a new load of training and the necessary time to the recovery of the athletes in order to allow the control of the undesirable adaptations and avoiding the states of tiredness and overtraining. The goal of the present study was to develop and validate a web mobile app to monitor and evaluate the recovery of the training loads on athletes of different sports. It consists on a tranversal descriptive quantitative applied research divided into 4 stages: elaboration and development of the web application and of the mobile app, validation of the content of the web application and of the mobile app along with the area specialist teachers and a pilot study to test the application, where was evaluated the recovery of the athletes through the indicators of the Total Quality Recovery (TQR per and TQR act) on 105 athletes of the group modalities of masculine futsal under 17 category and masculine soccer of the under 12, 13, 14 and 15 categories. The application allows the monitoring of the TQR and can be accessed on the website (www.e-trimp.com) or by the app available for the android system. On the specialist teachers and professionals’ evaluation, 58% of the answers given to the system on the 14 evaluated items were rated as “Excellent”, 34% as “Very good” and 8% as “Good”. The pilot study proved to be important to the system testing, allowing the longitudinal monitoring of the recovery perception (TQR per) and the recovery variables (feeding and hydration, sleep and recovery, relaxation and emotional support, stretching and active recovery), generating basic statistic descriptive summaries, as well as charts of the recovery of the training sessions, the training cycles and even the whole season allowing the immediate intervention or the adjustment of periodization. We have concluded that the use of this technology eliminates a geographic and temporal barrier regarding the management of the training sessions and it can proved to be effective for the collection of important data about the athletes’ recovery, helping the prevention of injuries and the overtraining.

    Key words: web application, mobile app, training recovery, psycho-physiological loads.

    http://www.e-trimp.com/

  • LISTA DE GRÁFICOS

    Gráfico 1: TQR act – futsal SJP ................................................................................ 64

    Gráfico 2: TQR per - futsal SJP ................................................................................. 65

    Gráfico 3:TQR act –Renovicente sub-12 ................................................................... 66

    Gráfico 4: TQR per–Renovicente sub-12 .................................................................. 66

    Gráfico 5: TQR act –Renovicente sub-13 .................................................................. 67

    Gráfico 6: TQR per–Renovicente sub-13 .................................................................. 67

    Gráfico 7: TQR act –Renovicente sub-14 .................................................................. 68

    Gráfico 8: TQR per–Renovicente sub-14 .................................................................. 68

    Gráfico 9: TQR act –Renovicente sub-15 .................................................................. 69

    Gráfico 10: Gráfico 10: TQR per - Renovicente sub-15 ............................................. 69

    Gráfico 11: Comparativos entre a TQR per ............................................................... 70

    Gráfico 12: TQR act- nutrição e hidratação ............................................................... 70

    Gráfico 13: TQR act -sono e recuperação ................................................................. 71

    Gráfico 14: TQR act - relaxamento e suporte emocional .......................................... 71

    Gráfico 15: TQR act- alongamento e recuperação ativa ........................................... 72

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Escala de Percepção de Esforço (RPE) e Escala da Qualidade Total da Recuperação (TQR) .................................................................................................. 37

    Tabela 2: Características das aplicações disponíveis no mercado ........................... 43

    Tabela 3: TQR act - atletas recebem pontos por suas ações ao longo das 24 horas após os exercícios, com foco nos quatro principais fatores ...................................... 49

    Tabela 4: Resultado da avaliação da aplicação pelos especialistas ......................... 61

    Tabela 5: Características antropométricas da amostra da amostra avaliada ............ 64

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Lista das tecnologias utilizadas para desenvolvimento do projeto ........... 47

    Quadro 2: TQR per- percepção da recuperação nas últimas 24 horas ..................... 48

    Quadro 3: Sugestões dos professores e profissionais especialistas ......................... 63

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Curva de adaptação dos estímulos do treinamento ................................... 22

    Figura 2: Modelo conceitual do bem estar continuo estabelecido consenso do International Olympic Committee 2015 (SOLIGARD et al., 2016) ............................. 32

    Figura 3 : Etapas da metodologia .............................................................................. 44

    Figura 4: Página de apresentação do sistema .......................................................... 52

    Figura 5: Página de inicial do sistema ....................................................................... 53

    Figura 6: Agenda dos treinos .................................................................................... 53

    Figura 7: Configurações das equipes ........................................................................ 54

    Figura 8: Configurações dos atletas .......................................................................... 54

    Figura 9: Configurações das frequências dos treinos ............................................... 55

    Figura 10: Cadastro dos tipos de treinamentos ......................................................... 55

    Figura 11: Relatório das variáveis coletadas ............................................................. 56

    Figura 12: Comparações das variáveis coletadas ..................................................... 56

    Figura 13: Resultados da qualidade de recuperação (TQR per) ............................... 57

    Figura 14: Resultados da qualidade de recuperação (TQR act) ............................... 58

    Figura 15: Telas iniciais do sistema e-TRIMP mobile ................................................ 59

    Figura 16: Telas de seleção da equipe e do atleta .................................................... 59

    Figura 17: Telas de avaliação da TQR per e TQR act. ............................................. 60

  • LISTA DE SIGLAS

    TQR act

    TQR per

    RPE

    Ações da qualidade total de recuperação

    Percepção da qualidade total de recuperação

    Rating of Perceived Exertion

    TRIMP Impulso de treinamento

    FC Frequência Cardíaca

    PSE Percepção Subjetiva de Esforço

    CK

    Creatina Quinase

  • SUMÁRIO

    1.1 PROBLEMÁTICA .......................................................................................... 16

    1.2 OBJETIVOS .................................................................................................. 17

    1.2.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................... 18

    1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................... 18

    1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................ 18

    2.1. TREINAMENTO DESPORTIVO .................................................................... 21

    2.2 CARGAS DE TREINAMENTO ...................................................................... 24

    2.2.1 CARGAS INTERNAS E EXTERNAS ......................................................... 24

    2.3 MARCADORES DE CONTROLE DA RECUPERAÇÃO ............................... 27

    2.3.1 PARÂMETROS FISIOLÓGICOS ............................................................... 27

    2.3.2 INDICADORES PSICOFISIOLÓGICOS .................................................... 28

    2.5 ESTÁGIOS DO SUPERTREINAMENTO ...................................................... 31

    2.6 TOTAL QUALITY RECOVERY ..................................................................... 36

    2.7 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA RECUPERAÇÃO ...................................... 40

    2.8 SISTEMAS DISPONÍVEIS ATUALMENTE NO MERCADO .......................... 42

    3.1. CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO ............................................................... 44

    3.2 PARTICIPANTES .......................................................................................... 45

    3.2.1 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO ...................................................................... 45

    3.2.2 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO ..................................................................... 45

    3.3 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS ...................................................... 45

    3.3.1 CARACTERIZAÇÕES DO SOFTWARE E SUAS FUNCIONALIDADES ... 45

    3.4 PROCEDIMENTO DA VALIDAÇÃO LÓGICA, DE CONSTRUTO E DE CONTEÚDO ............................................................................................................ 49

    3.5 ESTUDO PILOTO ......................................................................................... 50

    3.5.1 PROCEDIMENTOS ESTATÍSTICOS ........................................................ 51

    4.1 APRESENTAÇÕES DAS APLICAÇÕES ...................................................... 52

    4.1.1 FERRAMENTA WEB ................................................................................. 52

    4.1.2 FERRAMENTA MOBILE ............................................................................ 58

    4.2 RESULTADOS DA VALIDAÇÃO LÓGICA E DE CONTEÚDO PELOS ESPECIALISTAS .................................................................................................... 60

    4.3 ESTUDO PILOTO ......................................................................................... 63

    5.1 OS SISTEMAS WEB E MOBILE ................................................................... 73

    APÊNDICES ........................................................................................................... 87

    ANEXOS ................................................................................................................. 123

  • 16

    1. INTRODUÇÃO

    1.1 PROBLEMÁTICA

    A principal dificuldade encontrada na organização do treinamento é distinguir

    uma adaptação positiva, como resultado obtido pelo programa de treinamento de uma

    adaptação negativa, impostas pelas cargas do treinamento à capacidade de

    recuperação do atleta. Uma das condições primordiais para um treinamento de

    qualidade é evitar estas adaptações indesejadas, que podem se manifestar de

    diferentes formas, como síndrome do supertreinamento ou overtraining, um estado que

    o atleta está treinando excessivamente, com uma baixa qualidade de recuperação,

    sente-se mentalmente fatigado e apresenta uma deterioração do desempenho, ou

    então um estado de cansaço e letargia, denominado staleness (KOELLING et al.,

    2015).

    Para atender às demandas comerciais, os calendários dos eventos tornaram-se

    mais longos e cada vez mais congestionados, o que leva os atletas de alto nível, ao

    limite nas suas capacidades físicas e rotinas de treino (HECKSTEDEN et al., 2016;

    SOLIGARD et al., 2016). Quando há uma organização sistemática, complexa e

    dinâmica das cargas de treinamento que permita o descanso e a recuperação suficiente

    com equilíbrio, esta alta demanda do treinamento pode promover picos de performance

    ideais, entretanto, quando os atletas estão fadigados sem a devida recuperação, a

    possibilidade de lesões aumenta dramaticamente, podendo resultar em um dano à

    saúde ou até o fim da carreira de um atleta (ALEXIOU; COUTTS, 2008; ARMSTRONG;

    CARFAGNO; HENDRIX, 2014)

    Indicadores fisiológicos e bioquímicos podem fornecer parâmetros sobre a fadiga

    física a fim de monitorar e minimizar os danos. A glutamina plasmática, Creatina

    Quinase (CK), imunoglobolina A, ureia, lactato sanguíneo e a variabilidade da

    frequência cardíaca entre outros têm se mostrado muito úteis para avaliar o desgaste

    físico. Entretanto, estes métodos isolados não são efetivos para prevenir os estados de

    supertreinamento ( KENTTA; HASSMEN, 1998; ARMSTRONG; VANHEEST, 2002;

    VILAMITJANA et al., 2014).

    Outros testes que avaliam os chamados indicadores psicofisiológicos, também

    podem fornecer indicativos sobre a recuperação e o estado de fadiga e possuem como

  • 17

    principais vantagens o fato de serem muito confiáveis e também são altamente

    replicáveis. São sensíveis aos aumentos na carga de treinamento e apresentam alta

    correlação com os marcadores fisiológicos, além de ter um bom potencial para a

    prevenção da mesma (KENTTA; HASSMEN; RAGLIN, 2001; KREHER; SCHWARTZ,

    2012; SIKORSKI et al., 2013). Como por exemplo, o POMS (Profile of Mood States

    Questionnaire) e o RESTQ (Recovery and Stress Questionnaire for Athletes) que

    monitoram as sensações autorreferidas de estresse, recuperação e desempenho físico

    (DE OLIVEIRA COSTA et al., 2017).

    Um dos principais estudos com indicadores psicofisiológicos foi proposto por

    Kenttä e Hassmén (1998) com a Total Quality Recovery (Qualidade Total da

    Recuperação - TQR) para avaliar a resposta da recuperação das cargas de treinamento

    por meio de indicadores psicofisiológicos em seus diversos aspectos. Eles

    apresentaram duas escalas numéricas baseadas na escala da Percepção Subjetiva de

    Esforço (PSE) desenvolvida por Borg (1962), a primeira permitia analisar a percepção

    da recuperação ao treinamento do dia anterior, denominada (TQR act) e a segunda

    identificar os pontos fracos que poderiam ser melhorados em quatro itens: nutrição,

    hidratação, sono, recuperação, relaxamento, suporte emocional, alongamento e

    recuperação ativa a qual chamaram de TQR per (KENTTA; HASSMEN, 1998).

    Atualmente, esta ferramenta ainda mostra-se muito útil para o controle da

    recuperação das cargas de treinamento, entretanto a coleta e análise desses dados são

    feitas em planilhas do Excel ou então em anotações que nem sempre permitem um

    armazenamento correto e grande parte desses dados é perdida ou subutilizada e não

    geram feedbacks para os treinadores suportando suas tomadas de decisões para as

    melhores opções treinos para seus atletas naquele momento.

    Neste sentido, encontra-se um vasto campo com valor teórico e prático para

    explorar a melhoria da gestão biomédica do treinamento por meio do desenvolvimento

    de um instrumento que permita o uso efetivo na prevenção dos estados de

    supertreinamento ou desgaste não funcional. Um método não invasivo, de baixo custo,

    que permita uma análise frequente, simples, rápida e fidedigna sobre a recuperação

    dos atletas.

    1.2 OBJETIVOS

  • 18

    1.2.1 Objetivo Geral

    Desenvolver e validar um aplicativo web mobile para monitorar e avaliar a

    recuperação das cargas de treinamento em atletas de diferentes esportes.

    1.2.2 Objetivos Específicos

    a) Desenvolver uma aplicação web para o controle das cargas perceptuais de

    treinamento em atletas de diferentes modalidades esportivas.

    b) Desenvolver um aplicativo mobile para o controle das cargas perceptuais de

    treinamento em atletas de diferentes modalidades esportivas.

    c) Validar a aplicabilidade e os conteúdos da ferramenta digital junto a especialistas

    da área do treinamento desportivo (validação lógica, construto e conteúdo).

    d) Realizar um estudo piloto com atletas de diferentes modalidades esportivas para

    testar a aplicação web e o aplicativo mobile em campo para avaliar as cargas

    perceptuais de treinamento.

    e) Monitorar as variáveis da recuperação pelo método da TQR.

    1.3 JUSTIFICATIVA

    A tecnologia sempre esteve a serviço do esporte, frequentemente, verificam-se

    novas possibilidades e apresentam-se novos desafios para inventar ou recriar modelos

    de processos ou produtos que possam atender essa demanda por mudanças e a busca

    por melhores resultados e desempenho.

    Paralelamente a tudo isso, as modificações na estrutura dos treinamentos,

    particularmente com aumento da frequência, duração, e intensidade das cargas se

    fizeram necessárias. Estas variáveis são ajustadas várias vezes durante o ciclo de

    treinamento, com maior ou menor fadiga dependendo da fase de treinamento e devido

    à variada gama de atividades dentro da periodização o monitoramento em esportes

    coletivos é muitas vezes percebido como desafiador.

  • 19

    A inclusão de tecnologias integradas na rotina dos treinamentos dos atletas

    permite a equipe técnica entender melhor os efeitos das cargas de treinamento na

    fadiga, uma vez que os dados podem ser armazenados e analisados em tempo real e

    comparados com as demandas do treinamento e competições para determinar as

    modificações necessárias, reavaliando se a metodologia está, ou não, adequada à

    demanda do jogo.

    Desta forma o monitoramento das cargas e a recuperação do treinamento podem

    produzir uma explicação científica para os ganhos de performance esportiva, o que

    ajudará a aumentar a clareza e a confiança em relação a essas possíveis melhorias

    minimizando o grau de incertezas associado com os ganhos. Permitindo o ajuste das

    suas cargas de treinamento tanto para aumentar os benefícios do treinamento quanto

    para evitar o supertreinamento. (DELLASERRA; GAO; RANSDELL, 2014; HALSON,

    2014).

    Justifica-se o monitoramento do treinamento também pelo aumento no

    envolvimento no programa, aumentando o senso de participação de todos os atletas.

    Dados coletados no monitoramento do treinamento podem também ser muito úteis para

    facilitar a comunicação entre a comissão técnica. Quando combinados esses dados

    podem ajudar a aumentar a crença e a confiança associada com o programa de

    treinamento.

    Embora nem todos os técnicos e cientistas se empenhem para coletar dados

    sobre a recuperação dos treinamentos, para alguns, recursos insuficientes podem ser

    a maior razão para não incluir um sistema de monitoramento. A falta de conhecimento,

    ou ainda uma inabilidade para interpretar os dados coletados ou inexperiência com as

    técnicas de monitoramento podem resultar em uma objeção para implantar um sistema

    prático e sustentável. Soma-se ainda a necessidade de uma clara análise identificando

    o porquê, o quê, com que frequência e como os dados serão interpretados além do

    retorno destas informações para a comissão técnica.

    Com os avanços das pesquisas na área do treinamento, tem-se um grande

    número de marcadores de fadiga disponíveis, mas poucos apresentam uma forte

    evidência científica que suporte o seu uso como indicador definitivo de fadiga. Ainda

    não se chegou a um marcador realmente confiável, simples e específico para esse fim,

    principalmente para indicar o supertreinamento ou desgaste não funcional nas fases

  • 20

    iniciais (GRISSOM, 2005; DE FREITAS; MIRANDA; FILHO, 2009; HALSON, 2014;

    OLTMANN et al., 2017).

    Neste sentido os indicadores psicofisiológicos apresentam-se como uma boa

    alternativa e têm sido empregados largamente por serem mais sensíveis do que os

    indicadores fisiológicos as mudanças nas cargas de treinamento e bastante

    consistentes. Podem revelar sinais de alerta mais facilmente do que vários marcadores

    fisiológicos e imunológicos, estimando qualitativamente o nível de estresse sofrido e a

    recuperação após os exercícios. Além de possuírem a vantagem de serem métodos

    não invasivos, rápidos e de fácil aplicação.

    Até o presente momento identifica-se uma lacuna no conhecimento de estudos

    que apresentem ao mesmo tempo as características de um produto de inovação

    tecnológica associada a uma ferramenta consistente para avaliar a recuperação do

    treinamento físico.

    O uso dessa tecnologia permitirá eliminar a barreira geográfica e temporal com

    relação ao gerenciamento das sessões de treinamento, isto porque, os atletas poderão

    interagir com seus treinadores e preparadores físicos independentemente do local onde

    se encontrarem, bastando para isso, um dispositivo eletrônico (smartphones ou tablet)

    com acesso à internet.

    Desta forma, o projeto de desenvolvimento de uma aplicação web e um aplicativo

    mobile para o controle da recuperação do treinamento físico através da Total Quality

    Recovery apresenta-se com características de ineditismo na utilização de recursos

    tecnológicos na área da gestão do treinamento esportivo ligado à engenharia

    biomédica.

  • 21

    2. REFERENCIAL TEÓRICO

    Para uma melhor compreensão dos conteúdos que serão abordados neste

    tópico, apresentam-se alguns conceitos importantes da literatura para contextualização

    da discussão ao longo do estudo. Os temas abordados nesta revisão referem-se aos

    conceitos do treinamento desportivo, como ocorrem a distribuição das cargas de

    treinamento e a importância das cargas internas e externas. Apresentam-se também os

    principais métodos e seus marcadores de fadiga utilizados para o controle da

    recuperação, tanto marcadores fisiológicos como os indicadores psicofisiológicos.

    Aditivamente serão contextualizadas as fases de evolução do supertreinamento

    ou overtraining, caracterização do staleness, overreach functional e no functional.

    E por último, a apresentação da Total Quality Recovery (TQR) com um

    levantamento das principais aplicações disponíveis no mercado e suas características

    para avaliar as cargas e recuperação do treinamento.

    2.1. TREINAMENTO DESPORTIVO

    O treinamento desportivo pode ser definido como um conjunto de atividades

    sistemáticas utilizadas na preparação de indivíduos ou atletas, cujo objetivo é de

    causar alterações morfológicas, metabólicas e funcionais especificas, para

    consequentemente proporcionar um aumento positivo do desempenho em um

    determinado período competitivo (BARBANTI, 2005; NAKAMURA; MOREIRA; AOKI,

    2010a).

    O período de treinamento inclui a participação em competições, habitualmente,

    engloba sessões de treinamento com cargas elevadas e alto grau de dificuldade

    (complexidade) com o objetivo de preparação para o evento competitivo (FOSCHINI et

    al., 2007).

    Ao considerar o treinamento físico uma condição exógena de estresse, o

    organismo humano responde alterando sua estrutura para realizar a atividade de uma

    forma mais eficiente mantendo suas condições ótimas de funcionamento sistêmico

    (FOSCHINI et al., 2007).

  • 22

    Sendo que a manipulação das cargas de treinamento e competição é

    considerada um aspecto chave da periodização esportiva (COUTTS et al., 2008). A

    aplicação de estímulos estressores, representados pela intensidade, duração e

    frequência do exercício físico, deve sempre buscar o desequilíbrio da homeostasia

    dos sistemas biológicos de maneira consistente com possibilidade de adaptação do

    indivíduo. Esta adaptação adequada ao estímulo estressor permite ao organismo a

    reorganização de seu mecanismo funcional para o restabelecimento de um estado

    homeostático ideal. Assim, se um mesmo estímulo de estresse for imposto

    novamente, os mecanismos homeostáticos não serão rompidos na mesma extensão

    (HENRIQUE; DANTAS; SPOSITO-ARAUJO, 2011).

    Figura 1: Curva de adaptação dos estímulos do treinamento Fonte: adaptada de Soligard et al. (2016, p.1031)

    A melhoria do desempenho esportivo depende diretamente da distribuição

    adequada das cargas de treinamento e recuperação fornecida aos atletas. A

    capacidade de monitorar com precisão a carga de treinamento é um aspecto

    importante para a eficácia da periodização também como prevenção de efeitos

  • 23

    negativos, como redução no desempenho (HENRIQUE; DANTAS; SPOSITO-

    ARAUJO, 2011).

    A velocidade de adaptação ao treinamento de uma pessoa é limitada e não

    deve ser forçada além da capacidade do seu organismo, consequentemente é

    importante que as diferenças individuais sejam reconhecidas e levadas em conta ao

    se elaborar um programa de treinamento. As principais alterações físicas relacionadas

    ao treinamento ocorrem entre seis e dez semanas e a magnitude destas alterações

    geralmente é controlada pelo volume de exercício aplicado durante o treinamento

    (KENTTA; HASSMEN, 1998).

    Em um estudo de revisão sobre a periodização do treinamento desportivo

    realizado por Henrique et al. (2011) foram levantadas quase dez diferentes elementos

    de carga, tais como: volume; intensidade; densidade; duração; frequência; natureza

    dos exercícios; duração e natureza dos intervalos de repouso; número de repetições;

    e magnitude do estímulo (DE FREITAS; MIRANDA; FILHO, 2009).

    O sucesso do treinamento depende cada vez mais do equilíbrio entre alcançar o

    desempenho máximo e evitar as consequências negativas do excesso de treinamento.

    Os volumes de treinamento abaixo do que pode ser considerado otimizado não resultam

    na adaptação desejada (ou seja, o maior ganho possível de desempenho), enquanto

    que os volumes de treinamento acima do ideal podem, entre outras coisas, levar a uma

    condição geralmente referida como síndrome de overtraining ou stalleness. O

    treinamento rígido pode, aparentemente, ser a fórmula tanto para o sucesso quanto

    para o fracasso (SOLIGARD et al., 2016).

    A sobrecarga imposta no treinamento tem aumentado substancialmente nos

    últimos anos na busca de melhores desempenhos, sendo importante considerar que há

    uma linha tênue entre o treinamento ideal para o máximo rendimento e o excessivo.

    Atualmente há uma grande preocupação dos treinadores e preparadores físicos são os

    efeitos benéficos e nocivos do exercício físico, e cada vez mais o treinamento desportivo

    está se voltando para um processo rigoroso e sistematizado (BORIN; GOMES; LEITE,

    2007; NAKAMURA; MOREIRA; AOKI, 2010b).

  • 24

    2.2 CARGAS DE TREINAMENTO

    O grupo de Consenso do Comitê Olímpico Internacional (2015), concordou com

    uma definição ampla de "carga" para o desporto (estressores fisiológicos, psicológicos

    ou mecânicos únicos ou múltiplos) como um estímulo que é aplicado a um sistema

    biológico humano (incluindo elementos subcelulares, com uma única célula, um ou

    vários tecidos ou sistemas de órgãos do indivíduo). A carga pode ser aplicada ao

    sistema individual biológico humano em diferentes períodos de tempo (segundos,

    minutos, horas a dias, semanas, meses e anos) e com diferentes magnitudes de

    duração, frequência e intensidade (SOLIGARD et al., 2016).

    2.2.1 Cargas Internas e Externas

    O termo "carga externa" é frequentemente usado de forma categórica como

    “carga”, referindo-se a qualquer estímulo externo aplicado ao atleta que é medido

    independentemente de suas características internas. Qualquer carga externa resultará

    em respostas fisiológicas e psicológicas em cada indivíduo, após interação e com

    variação em vários outros fatores de aspectos biológicos e ambientais. Esta resposta

    individual é referida como “carga interna”.

    Um dos princípios que regem o processo de treinamento é a variação da carga

    de treinamento (externa e interna) ao longo do macrociclo (BOURDON et al., 2017).

    Existem muitas medidas diferentes de carga, mas a evidência da sua validade

    como marcadores de adaptação e má adaptação à carga é limitado. Um único marcador

    da resposta de carga de um atleta não consegue prever uma má adaptação ou lesão

    de forma consistente. O acompanhamento da carga total envolve mensurar a carga

    externa, cujas ferramentas podem ser gerais ou específicas do esporte, e para as

    cargas internas, as ferramentas devem ser objetivas ou subjetivas (HALSON, 2014).

    Medir a carga externa normalmente envolve a quantificar a carga de treinamento

    ou competição do atleta, como horas de treinamento, distância percorrida, watts

    produzidos, número de partidas disputadas ou arremessos realizados. Atualmente,

    existem vários métodos que são utilizados para quantificar as cargas de treinamento,

    esses métodos podem ser descritos como a medida da carga de treinamento externo

  • 25

    (carga de treinamento independente das características internas individuais, como por

    exemplo, mensurar a potência, velocidade e aceleração através de dispositivos como

    o SRM ™ e o Power Tap™ com informações sobre a média, potência, velocidade,

    cadência e aceleração, ou as Análises de Tempo e Movimento (TMA) que utilizam o

    global position system (GPS) para fornecer dados como a velocidade, duração, tipo de

    tarefa sempre referente à carga de treinamento (BOURDON et al., 2017).

    Há ainda os métodos que mensuram a função neuromuscular, como o teste de

    saltos (conter movement / squat jump) com variáveis de medidas que incluem potência

    média, velocidade de pico, força de pico, altura de salto, tempo de voo, tempo de contato

    e taxa de desenvolvimento de força (BOURDON et al., 2017).

    O estresse fisiológico imposto sobre os atletas pela carga externa (carga

    interna) pode ser medido por meio de métodos como a Rating of Perceived Exertion

    (RPE), taxa da frequência cardíaca (FC), pelo impulso de treinamento (TRIMP), taxa

    da concentração de lactato, recuperação da frequências cardíaca, variabilidade da

    frequência cardíaca, dosagens bioquímicas, hormonais e imunológicas, questionários

    e sono (IMPELLIZZERI et al., 2004; SOLIGARD et al., 2016; OLTMANN et al., 2017)

    Além disso, outros fatores externos, como o estilo de vida, eventos diários,

    aborrecimentos ou viagens devem ser quantificados, são igualmente importantes

    principalmente em jovens atletas e devem ser monitorados (HALSON, 2014).

    A carga interna é medida pela avaliação do processo fisiológico interno e a

    resposta psicológica à carga externa, exemplos específicos incluem medidas como

    frequência cardíaca (fisiológica / objetiva), classificação da percepção do esforço ou

    questionários para estressores psicossociais (psicológicos / subjetivos)

    (IMPELLIZZERI et al., 2004; SOLIGARD et al., 2016).

    Enquanto a medida da carga externa é importante compreender o trabalho

    completo, as capacidades e habilidades do atleta, a medição da carga interna é

    fundamental para determinar o estímulo apropriado para uma melhor adaptação

    biológica. (HALSON, 2014).

    Outra questão relevante a ser considerada diz respeito à individualidade, a carga

    interna também será influenciada pelas características individuais (exemplo: nível de

    condicionamento e potencial genético). Comparar testes fisiológicos e psicológicos

    pode levar a resultados duvidosos. Diferenças interindividuais no potencial de

    recuperação, capacidade física, estressores em períodos de não treinamento e

  • 26

    tolerância ao estresse podem explicar diferentes graus de susceptibilidade dos atletas

    em situações semelhantes (HALSON, 2014) (AUSTRALIAN STRENGTH &

    CONDITIONING ASSOCIATION; SCOTT; SCOTT, 2014).

    A dissociação entre as unidades da carga externa e interna podem revelar o

    estado de fadiga de um atleta e a resposta fisiológica do indivíduo ao estímulo de

    treinamento (carga interna). Esta pode ser um marcador de carga de treinamento mais

    agudo, o processo de treinamento completo é composto pela combinação de ambos, a

    carga externa e as características individuais. Portanto, pode ser que esses dois

    elementos do treinamento forneçam diferentes informações para treinadores que

    podem ser usadas para influenciar decisões sobre o processo de treinamento (DE

    FREITAS; MILOSKI; FILHO, 2012).

    As cargas externas confirmam se os resultados planejados do treinamento estão

    sendo alcançados, enquanto as medidas internas de carga de treinamento podem ser

    usadas para determinar como os jogadores estão respondendo ao treinamento. (BRINK

    et al., 2014).

    Esta quantificação precisa e distribuição adequada das cargas de treinamento

    (CT) por meio de um programa de treinamento periodizado permitirão que atletas em

    alto nível atinjam um patamar ideal de aptidão, trazendo adaptações específicas e

    aumento de rendimento (AUSTRALIAN STRENGTH & CONDITIONING

    ASSOCIATION; SCOTT; SCOTT, 2014).

    Um problema observado em relação às cargas externas é a diferença de

    percepção do treinador e dos atletas em relação às cargas de trabalho. De uma forma

    geral, os atletas perceberam as sessões como mais difíceis do que o que pretendiam

    os treinadores. Além disso, para as sessões propostas como fáceis e intermediárias

    pelo treinador, os jogadores relataram uma intensidade de treinamento

    significativamente maior. Para dias difíceis, os jogadores relataram menor intensidade

    de treinamento (BRINK et al., 2014).

    A teoria sugere que as cargas de treinamento interno podem ser mais

    apropriadas para monitoramento de treinamento, enquanto que a carga externa

    geralmente é considerada importante para a prescrição e planejamento de treinamento

    (PALACIOS et al., 2015).

  • 27

    2.3 MARCADORES DE CONTROLE DA RECUPERAÇÃO

    2.3.1 Parâmetros Fisiológicos

    Alguns estudos têm demonstrado que o estresse muscular causados pelo

    exercício físico intenso induz a lesões em sua estrutura, que são acompanhadas por

    alterações nas concentrações séricas e plasmáticas de diversas proteínas

    intracelulares (PALACIOS et al., 2015).

    Nos esportes os parâmetros dos biomarcadores são a chave para avaliar o

    impacto do exercício em diferentes sistemas, tecidos e organismos. Podem-se estimar

    parâmetros para avaliar o grau de aptidão física, dano muscular, hidratação /

    desidratação, inflamação, dano oxidativo, fadiga, excesso de treino, etc. que facilitam a

    avaliação da resposta do corpo humano nos diferentes níveis de atividade física ou

    treinamento sendo realizado (MCARDLE, W. D; KATCH, F. I; KATCH, 2003).

    A maioria dos biomarcadores são medidos no sangue, urina e saliva. Os

    biomarcadores podem ser usados para medir o impacto do treinamento em longo prazo

    ou o efeito agudo do exercício. O valor ou concentração de um biomarcador depende

    de muitos fatores, como o status de treinamento do sujeito, o grau de fadiga e do tipo e

    duração do exercício, além da idade e gênero, entre outros. O clima também pode

    desempenhar um papel, principalmente temperatura, umidade e velocidade do vento

    (SIMÕES et al., 2004).

    Dos indicadores bioquímicos, a Creatina Quinase (CK), por exemplo, representa

    muito bem aumento de carga de treinamento (BARA FILHO et al., 2013; DE FREITAS

    et al., 2014). A razão entre as concentrações plasmáticas da testosterona (T) e do

    cortisol (C) também podem ser utilizadas como sinalizadora do nível de desgaste físico

    apresentado pelo atleta. A testosterona é um hormônio anabólico, enquanto o hormônio

    cortisol, cuja produção é aumentada em situações de estresse (como o treinamento

    intenso e de longa duração), está relacionado com o catabolismo dos tecidos muscular

    esquelético e adiposo. Foi observado durante um período de treinamento intensivo,

    sinais de recuperação incompleta naqueles atletas que apresentaram uma diminuição

    maior que 30% na razão T/C em repouso (DE FREITAS et al., 2014)

  • 28

    Outros parâmetros que têm sido investigados incluem alterações na resposta

    autonômica cardíaca de repouso e após o exercício, diminuição de índices relacionados

    à variabilidade da frequência cardíaca (VFC), pressão arterial (PA), consumo máximo

    de oxigênio (VO²max) em repouso e no exercício. A queda de alguns parâmetros

    hematológicos como a concentração de hemoglobina (Hgb) níveis sanguíneos de

    leucocitose hematócrito, ferro, glicose, ureia e várias outras enzimas, principalmente

    pelo aumento dos níveis séricos de Creatina Quinase (CK) e hormônios. Além de afetar

    negativamente o estado de humor com diminuição da percepção de vigor e aumento da

    percepção de fadiga (PALACIOS et al., 2015).

    Em seu estudo com futebolistas, De Freitas (2014), apontou que a Creatina

    Quinase (CK) parece ser uma variável mais reativa à carga de treinamento neste

    esporte em relação às outras, e que as variáveis psicofisiológicas obtidas pelo

    questionário de POMS apresentaram tendências similares a CK. Os valores da

    variabilidade de frequência cardíaca assim como a hemoglobina, apresentaram uma

    relevante tendência de resposta às alterações da carga, no entanto com uma

    temporalidade diferente das demais (DE FREITAS et al., 2014).

    Um dos principais limitações apresentadas por biomarcadores bioquímicos,

    principalmente a cretaina kinase é a falta de valores de referência especificamente

    adaptados para atletas e pessoas fisicamente ativas. As concentrações podem variar

    consideravelmente dos valores de referência normais (PALACIOS et al., 2015)

    2.3.2 Indicadores Psicofisiológicos

    Outra forma descrita na literatura para monitorar a recuperação das cargas de

    treinamento são os modelos de indicadores psicofisiológicos, que podem revelar sinais

    de alerta mais facilmente do que os vários marcadores fisiológicos ou imunológicos,

    sendo mais sensíveis e consistentes. Além disso, medidas psicológicas podem ser

    aplicadas e reportadas mais rapidamente (minutos) do que ou marcadores sanguíneos,

    que podem levar dias ou semanas para serem avaliados. (FREITAS et al., 2014;

    SOLIGARD et al., 2016);(O’CONNOR et al., 1991).

  • 29

    A carga psicológica pode ser definida como a percepção do atleta em relação ao

    treinamento. As medidas subjetivas podem ser mais sensíveis e consistentes do que

    medidas objetivas na determinação de mudanças agudas e crônicas no bem-estar do

    atleta em resposta à carga, podendo estimar qualitativamente a o nível de estresse e

    recuperação após exercícios (HALSON, 2014).

    Os testes psicológicos fornecem métodos mais fáceis e mais efetivos para

    detectar a síndrome de supertreinamento do que os métodos que dependem de vários

    fatores fisiológicos ou marcadores imunológicos (O’CONNOR et al., 1991).

    Aparecem fortes evidências na literatura que o monitoramento é incorporado por

    muitos técnicos de programas alta performance e que as medidas de autorelato são

    mais comumente usadas, seguido por avaliações práticas específicas de desempenho

    do desporto. Comissão técnica e treinadores estão incorporando estas técnicas

    regularmente, com o objetivo de minimizar a fadiga e lesões, bem como examinar a

    eficácia do programa de treinamento (BORG; BORG, 2002).

    As quatro principais vantagens de se usar marcadores psicológicos para

    identificar e monitorar o processo de supertreinamento são apresentadas por O’Connor,

    (1991):

    1) As mudanças psicológicas são mais confiáveis, isto é, mudanças de humor

    coincidem com aumentos e diminuições em treinamento e também são altamente

    replicáveis.

    2) Alguns estados de humor são altamente sensíveis aos aumentos da carga de

    treino (mudanças nesses estados ocorrem no início e têm grandes efeitos) enquanto

    outros são mais sensíveis à síndrome de supertreinamento.

    3) As variações nas medidas de humor geralmente se correlacionam com os

    marcadores fisiológicos.

    4) A titulação de cargas de treinamento com base no humor as respostas ao

    excesso de treinamento parecem ter bom potencial para evitar o estado de

    supertreinamento (O’CONNOR et al., 1991).

    As escalas de percepção de esforço foram criadas com o principal objetivo de

    estabelecer as relações entre percepção do esforço e as cargas de treinamento, ou

    estresse fisiológico (NAKAMURA et al., 2005). O conceito de esforço foi desenvolvido

  • 30

    por Borg, na década de 50, juntamente com métodos a serem utilizados para medir o

    esforço percebido e a fadiga e que são utilizados até hoje.

    O que comumente sentimos e descrevemos como fadiga tem muito em comum

    com o esforço percebido, principalmente durante ou logo após um exercício intenso.

    Contudo, fadiga refere-se a um estado que poderia ser chamado de “sonolência” ou um

    alto estado de cansaço ou exaustão. Por outro lado a percepção do esforço em

    intensidades muito altas está também associada à redução da capacidade de trabalho

    intimamente relacionado ao conceito de intensidade do exercício, ao trabalho muscular

    intenso, envolvendo uma tensão relativamente alta sobre os sistemas

    musculoesquelético, cardiovascular e pulmonar. Ao mesmo tempo condições de

    motivação, emocionais e patológicas especiais podem estar envolvidas. Ambos têm em

    comuns aspectos fisiológicos e psicológicos (BORG; BORG, 2002).

    Os índices de esforço percebido (RPE) podem ser obtidos por vários meios, por

    exemplo, as escalas da RPE ou CR10 de Borg. Por definição a RPE refere-se a todo

    o esforço percebido, o qual depende vários fatores – indícios sensoriais, sintomas

    somáticos e fatores emocionais. Foi construída de modo que certas funções

    psicofísicas possam ser avaliadas de acordo com a suposição que a tensão fisiológica

    cresce linearmente com a intensidade do exercício e que a percepção deve

    acompanhar o mesmo aumento, mais comumente utilizada para testes de esforço

    percebido (AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE, 2003).

    A escala de esforço CR10, uma escala similar a RPE, onde são medidos critérios

    psicofísicos internos, as respostas dizem mais respeito a uma escala de classificação

    o que torna possível determinar funções incrementais para diferentes modalidades. A

    CR10 é uma escala de intensidade geral que pode ser usada para estimar a maioria

    dos tipos de intensidades perceptivas. Atualmente é de uso comum para a avaliação

    de intensidades de dor (SOLIGARD et al., 2016).

    A avaliação do esforço percebido é aceito como um método confiável para

    monitorar a tolerância de um indivíduo em relação ao exercício físico, essa medição de

    esforço correlaciona-se altamente com a FC e com a intensidade do exercício físico

    (SOLIGARD et al., 2016).

    Mais tarde, foi proposta por Foster et al. (1996) a PSE da sessão e tem como

    objetivo quantificar a carga interna de treinamento. Que consiste em perguntar ao atleta

  • 31

    “Como foi a sua sessão de treino?”. Como a medida deve refletir a avaliação global de

    toda a sessão de treino, a PSE da sessão é obtida após 30 minutos de encerramento

    de cada sessão de treinamento e de competição (MCARDLE, W. D; KATCH, F. I;

    KATCH, 2003; NAKAMURA; MOREIRA; AOKI, 2010).

    Além da PSE, outras subescalas podem ser particularmente úteis para monitorar:

    estresse não-esportivo, fadiga, recuperação física, saúde geral / bem-estar físico, vigor

    / motivação e sintomas físicos / lesões. Essas variáveis oferecem ao treinador e a outros

    membros da equipe de suporte dados essenciais sobre a disposição do atleta para

    treinar ou competir, e pode assim informar ajustes individuais a prescrição do

    treinamento (SOLIGARD et al., 2016)

    2.5 ESTÁGIOS DO SUPERTREINAMENTO

    Considera-se a relação entre carga e recuperação como agentes contrários

    mútuos de bem-estar contínuo e saúde. O esporte e as cargas não-esportivas

    (aborrecimentos diários, eventos de estresse, idade, metabolismo, hormônios e fatores

    genéticos) impõem estresse aos atletas, mudando seu bem-estar físico e psicológico

    ao longo de um período que progride do estado de homeostase, através dos estágios

    da fadiga aguda, funcional e não funcional (overeaching), depois para síndrome do

    supertreinamento, seguindo para danos teciduais, sintomas clínicos, ferimento ou

    doença com a continuidade da carga e em últimos casos, a morte. A morte é rara no

    esporte, e tipicamente associada à doença subjacente, por exemplo, doença estrutural

    cardíaca subjacente desencadeando uma arritmia fatal (SOLIGARD et al., 2016).

    Para os atletas, a deterioração (clínica e de performance) ao longo de um período

    geralmente termina em uma lesão ou doença. Nesse ponto, o atleta é obrigado a cessar

    o treinamento (DE FREITAS; MIRANDA; FILHO, 2009; HECKSTEDEN et al., 2016;

    SOLIGARD et al., 2016).

  • 32

    Figura 2: Modelo conceitual do bem estar continuo estabelecido consenso do International Olympic Committee 2015 (SOLIGARD et al., 2016)

    Os profissionais que cuidam da saúde dos atletas preocupam-se que a gestão

    de cargas de treinamento deficiente combinada com um aumento e saturação do

    calendário de competições pode causar danos na saúde dos atletas. Apesar da etiologia

    destes danos nos esportes serem multifatoriais e envolvem fatores de risco intrínsecos

    e extrínsecos, as evidências têm demonstrado que o não controle da recuperação são

    as que oferecem maior risco de danos. Equilíbrio insuficiente entre carga e recuperação

    pode levar a uma fadiga prolongada e respostas anormais do treinamento (HACKNEY;

    BATTAGLINI, 2007; NAKAMURA; MOREIRA; AOKI, 2010a; SOLIGARD et al., 2016).

    Esse desequilíbrio entre estímulos de treinamento e fatores de recuperação pode

    ser encontrado não apenas em situações do treinamento e de competição, mas também

    naquelas advindas de fora do treinamento e da competição. Assim, aspectos sociais,

    educacionais, ocupacionais, econômicos, emocionais, nutricionais, viagens (sem a

    possibilidade de escolha pelo atleta) e monotonia, além da falta de e atividades

    recuperativas podem levar o organismo a desenvolver um estado de letargia e cansaço

    e atuam no aumento do risco de desenvolver o supertreinamento

    (ALVES; COSTA; SAMULSKI, 2006).

    Um conceito-chave para o entendimento da carga é que as más adaptações são

    complexas, e abrangem os aspectos fisiológicos, psicológicos, bioquímicos (ou

    neuroendocrinológicos) e imunológicos. Geralmente são desencadeadas, não apenas

    pela má gestão do treinamento e das cargas das competições, mas também pela

    interação com estressores psicológicos não-esportivos, como o estresse negativo do

  • 33

    evento e problemas diários. Integrando variações interindividuais (por exemplo, idade,

    sexo, condicionamento, fadiga, saúde, psicologia, metabólica, hormonal e fatores

    genéticos) com o gerenciamento de carga dos atletas. Em última análise, o período de

    recuperação e adaptação e, portanto a susceptibilidade às lesões varia entre os atletas

    de uma forma individual (ALVES; COSTA; SAMULSKI, 2006)

    A incidência quanto aos sinais e sintomas do supertreinamento pode variar entre

    7 e 20%. Pesquisas realizadas com atletas de endurance, especialmente nadadores,

    observaram resultados semelhantes (7% a 21%), sendo que 10%apresentavam

    sintomas graves. Esportes que envolvem grandes cargas de treinamento

    frequentemente demonstram maior número de resultados negativos, como as

    modalidades de corridas, natação, ciclismo e remo (KENTTA; HASSMEN, 1998).

    Não há uma definição da terminologia geral sobre as consequências negativas

    associadas ao treinamento físico excessivamente pesado. Muitos pesquisadores

    denominam o fenômeno ou a síndrome do supertreinamento ou overtraining syndrome

    de diferentes formas: fadiga crônica ou persistente (overfatigue), estafa física

    (staleness), exaustão emocional (burnout), uso excessivo (over use – termo utilizado

    também para lesões esportivas com característica micro traumáticas) e over work para

    trabalho excessivo (O’CONNOR et al., 1991).

    Além disso, os termos utilizados têm diferentes significados em diferentes

    contextos. Os termos utilizados em relação ao supertreinamento incluem síndrome de

    overtraining, overtrained, overstrained, overused, overworked, overstressed,

    overreaching, stagnation, staleness, staleness syndrome, burnout e síndrome de fadiga

    crônica (BUCHHEIT, 2014).

    O termo staleness ou overtraining pode gerar certa confusão na terminologia é

    em parte devido às diferentes teorias e tipos de pesquisa. Pesquisadores europeus

    usaram principalmente os termos overstrained, overtraining, overstrain ou overtraining

    syndrome para indicar o que alguns pesquisadores dos EUA se referem como staleness

    ou a staleness syndrome (BUCHHEIT et al., 2013).

    Um problema intimamente relacionado parece ser a incerteza de se os

    sintomas observados precedem o staleness ou ocorre no início do desenvolvimento

    da desordem (overreaching) ou são apenas manifestações do estado de staleness. O

    overreaching e o supertreinamento são processos nos quais o atleta apresenta uma

    queda no rendimento esportivo, sendo que no primeiro o indivíduo se recupera

  • 34

    totalmente em no máximo duas semanas, mas no segundo o período de recuperação

    pode levar de algumas semanas a meses (AUBRY et al., 2015).

    A diferença entre positivo e negativo o excesso de treinamento depende do

    resultado do processo treinamento. Um atleta que não recuperou dentro de 72 horas de

    treinamento, presumivelmente, em trabalhado muito pesado e, portanto experimenta

    um excesso negativo de treinamento e pode ser considerado em estado de overeaching

    não funcional. O overreaching ocorre devido ao acúmulo do estresse do treinamento e

    de outros fatores que resultam em uma diminuição da capacidade de rendimento, a qual

    é restaurada de alguns dias a duas semanas. O overreaching pode ainda ser entendido

    como parte do processo da supercompensação do organismo (KENTTA; HASSMEN,

    1998).

    Overreaching e staleness são usados e são considerados em extremidades

    opostas da resposta de supertreinamento. Estas condições podem acarretar uma queda

    no rendimento do atleta que pode ser revertida, com recuperação adequada, em até

    duas semanas, caracterizando o overreaching. Caso a relação esforço-recuperação

    inadequada se prolongue, o atleta pode vir a manifestar um estado conhecido como

    burnout a que é a perda de motivação e afastamento da modalidade em casos graves

    (DE FREITAS et al., 2014).

    Um atleta em estado de cansaço e letargia ainda pode ser altamente motivado

    para continuar treinando e pode até aumentar a carga de treinamento para compensar

    a diminuição do desempenho (KENTTA; HASSMEN, 1998). Dessa forma, sugere-se

    que o monitoramento do processo de treinamento deva ser realizado por marcadores

    psicológicos, fisiológicos, bioquímicos e hematológicos, conjuntamente (KENTTA;

    HASSMEN, 1998).

    Distinguir entre marcadores que precedem ou sinais de aviso prévio com

    valores de prognóstico e sintomas com diagnósticos de valor (quando a desordem foi

    verificada) é extremamente difícil na maioria das situações aplicadas.

    Consequentemente marcadores e sintomas são usados como sinônimos (BENTZEN;

    LEMYRE; KENTTÄ, 2016).

    Assim, a fronteira entre adaptação como resultado de um treinamento ótimo e os

    estágios iniciais da má adaptação devido ao treinamento excessivo é tênue,

    especialmente durante uma fase de treinamento pesado. Declínios no desempenho,

    que são considerados como marca de supertreinamento e ocorrem junto com aumentos

    na percepção de durante os treinos contínuos (ALVES; COSTA; SAMULSKI, 2006).

  • 35

    O processo de supertreinamento e seu os sintomas associados podem ser vistos

    por meios de uma fadiga contínua de curto prazo (aguda) ou crônica, em longo prazo

    (BENTZEN; LEMYRE; KENTTÄ, 2016). O supertreinamento em curto prazo é descrito

    como sendo o decréscimo de desempenho atlético em um curto período de tempo, em

    que o rendimento normal pode retornar de poucos dias a duas semanas de

    recuperação. Nesse momento, ocorre a melhoria do desempenho por meio da

    supercompensação ou treinamento ideal. Já o supertreinamento longo prazo é

    caracterizado por um decréscimo persistente do desempenho atlético, acompanhado

    geralmente (embora nem sempre) por alterações bioquímicas, fisiológicas e

    psicológicas, com tempo de reversão do estado ocorrendo de algumas semanas a

    meses de recuperação (DE ANDRADE NOGUEIRA et al., 2016).

    O supertreinamento pode afetar os atletas de através do sistema nervoso

    simpático ou parassimpático. Acredita-se que a síndrome do supertreinamento do

    sistema simpático é um estágio intermediário antes do supertreinamento do sistema

    parassimpático. No primeiro, uma predominância da atividade simpática é sugerida,

    com FC e PA de repouso aumentadas, apetite diminuído, perda de massa corporal,

    distúrbio do sono e irritabilidade. Quanto ao supertreinamento do sistema

    parassimpático, são sugeridos uma frequência cardíaca de repouso baixa e frequência

    cardíaca do exercício relativamente baixa. Ambos os tipos mostram deterioração no

    desempenho e fadiga persistente. É possível que as respostas do supertreinamento

    sigam uma progressão, refletida por uma predominância do simpático seguido pela

    estimulação parassimpática (ALEXIOU; COUTTS, 2008).

    Os fatores associados ao supertreinamento podem prejudicar a saúde do atleta

    e afastá-lo momentaneamente de treinamentos e competições, podendo comprometer

    completamente a carreira do mesmo. Admite-se que a principal causa desta síndrome

    é o tempo inadequado de recuperação. A relação direta entre recuperação e estresse

    da carga de treino reforça a necessidade da periodização dos programas de

    treinamento para que os resultados sejam alcançados sem comprometer a saúde e a

    integridade psicofísica e social do atleta, que e o foco principal do processo

    (NAKAMURA; MOREIRA; AOKI, 2010a).

    O atleta com a síndrome do supertreinamento, além da dificuldade em manter os

    regimes de treinamento com consequente queda no desempenho, pode apresentar

    infecção do trato respiratório superior, imunossupressão, percepção de pernas

    pesadas, fadiga generalizada, aumento da percepção subjetiva do esforço, alterações

  • 36

    da frequência cardíaca, em casos extremos, pode evoluir para o fenômeno do burnout,

    processo no qual há um esgotamento psicofisiológicos do atleta sentindo-se este

    completamente desmotivado com o esporte (SANTOS et al., 2015).

    Disfunções no sistema nervoso autônomo, distúrbios do sono e do apetite,

    alterações de humor, depressão, entre outros. Poucos estudos indicaram uma

    descrição precisa do processo do supertreinamento para entender o padrão de

    adaptações positivas e negativas as cargas de treinamento. Fatores como a monotonia

    dos treinamentos, o excesso de pressão e de competições podem contribuir para o

    supertreinamento, mas o principal fator causal dessa síndrome é a recuperação

    inadequada (KENTTA; HASSMEN, 1998).

    2.6 TOTAL QUALITY RECOVERY

    Após observarem vários métodos descritos na literatura para monitorar os

    processos de treinamento e poucos métodos para avaliar a recuperação dos

    treinamentos, Kenttä e Hassmén (1998) propuseram um método através de uma

    escala estruturada a partir do conceito da escala desenvolvida para classificações do

    esforço percebido (RPE) desenvolvida por Borg (1950) e depois modificada por vários

    outros autores Borg (1982), Grove (1993) e Noble e Robertson (1996), que eles

    chamaram de Qualidade Total de Recuperação (TQR), inicialmente através de

    respostas positivas em atletas suecos de elite em relação aos seus estados de

    recuperação.

    A Qualidade Total de Recuperação (TQR) é um instrumento prático e não

    invasivo que, assim como a PSE da sessão, permite uma análise mais frequente e

    rápida desta variável (KENTTA; HASSMEN, 1998). A tabela 1 apresenta as escalas da

    PSE e da TQR.

  • 37

    Tabela 1: Escala de Percepção de Esforço (RPE) e Escala da Qualidade Total da Recuperação (TQR)

    Percepção Subjetiva de Esforço (PSE)

    Qualidade Total da Recuperação (TQR)

    6 6

    7 Muito, muito leve 7 Recuperação muito, muito ruim

    8 8

    9 Muito leve 9 Recuperação muito ruim

    10 10

    11 Bastante leve 11 Recuperação ruim

    12 12

    13 Um pouco difícil 13 Recuperação razoável

    14 14

    15 Difícil 15 Recuperação boa

    16 16

    17 Muito difícil 17 Recuperação muito boa

    18 18

    19 Muito, muito difícil 19 Recuperação muito, muito boa

    20 20

    Fonte: Adaptada de Kentta e Hassmen (1998, p. 10)

    A principal lacuna ao desenvolvimento desta escala está em relação ao processo

    de recuperação que raramente são diferenciados entre cada atleta, podendo ser

    proativo (impedindo a ocorrência de supertreinamento) ou reativo (reabilitação de

    supertreinamento). Bem como o fator que mais está contribuindo para cada tipo de

    estresse (somático ou cognitivo) advindo do treinamento, tensões psicossociais ou a

    combinação deles (FERREIRA et al., 2014).

    Entre as diferentes abordagens direcionadas para a recuperação, quatro

    categorias principais foram identificadas:

    a) Nutrição e alimentação: Uma dieta pobre em carboidratos com baixa ingestão de

    líquidos, particularmente a falta de carboidratos, diminuirá a capacidade de tolerar

    estresse fisiológico (treinamento). É bem conhecido que o reabastecimento de reservas

    de glicogênio e fluidos é necessário tolerar frequentes e intensos de treinamento. Este

    pode ser o fator mais importante na manutenção de treinamento de alta intensidade;

    b) Sono e descanso: o fator mais mencionado e mais obvio para melhorar a

    recuperação é o descanso. Nesse sentido, o descanso significa não se envolver em

  • 38

    nenhuma atividade física (recuperação passiva durante o dia) e obter sono suficiente

    em quantidade e qualidade;

    c) Relaxamento e suporte emocional: inclusão de técnicas de fisioterapia para

    relaxamento, como massagens e sauna na rotina dos atletas são recomendadas e

    envolvem também uma redução de todos os agentes estressores inespecíficos (isto é,

    ocupacional, educacional, financeiros e sociais);

    d) A intensidade do treinamento pode acelerar o processo de recuperação. O

    descanso pode ser fornecido através da participação em um esporte diferente sem a

    cobrança por desempenho. Desta forma, o exercício é usado como uma ferramenta

    terapêutica para acelerar a recuperação.

    O modelo da Qualidade Total de Recuperação propõe avaliar diariamente os

    atletas e permitir acesso rápido a informações sobre variações nos marcadores

    selecionados. Tal como apresentar a possibilidade de correção imediata e simultânea,

    modulando a carga de treinamento e a recuperação e assim evitar o excesso de

    treinamento (KENTTA; HASSMEN, 1998).

    O objetivo principal do uso da escala da TQR é fornecer um instrumento para

    avaliar a recuperação psicofisiológica em atletas. Seu uso tornou possível monitorar, e

    a recuperação física ou simplesmente fornecer uma compreensão mais completa das

    ações necessárias para alcançar uma recuperação total, e caso de necessidade,

    interferir positivamente no processo da recuperação físicas dos atletas imediatamente.

    Por outro lado, a necessidade de educar atletas e treinadores para melhorar o

    processo de recuperação foi claramente afirmada por outros autores (KENTTA;

    HASSMEN, 1998). Ao usar uma escala predefinida, os usuários não só serão mais

    conscientes das complexidades do processo de recuperação, como também verão

    mais facilmente como as ações realizadas se traduzem em uma recuperação

    melhorada após treinamento (KENTTA; HASSMEN, 1998).

    Desta forma, a escala da TQR foi dividida em duas subescalas: a primeira, e mais

    fácil de utilizar devido as suas configurações aplicadas, foi denominada de escala TQR

    percebido (TQR per), ou seja, uma medida global da recuperação física dos atletas.

    Isto diz respeito à questão de como o atleta percebe a sua recuperação física de forma

    global após um período de descanso. A segunda subescala mais complexa é referida

    para a escala de ação TQR (TQR act). O objetivo dessas subescalas é criar um

    parâmetro mais objetivo (TQR per) e mais um objetivo (TQR act), integrando assim os

  • 39

    aspectos quantitativos e quantitativos do processo de recuperação física (KENTTA;

    HASSMEN, 1998).

    A escala TQR per enfatiza a percepção do atleta em relação a sua recuperação.

    O atleta utiliza a percepção para avaliar a sua recuperação geral das 24 horas

    anteriores, incluindo sua noite anterior de sono. Dirigindo a atenção dos atletas para

    as pistas psicofisiológicas (estados de humor e sinais como sensações de cansaço,

    desgaste, etc.). Essa escala tem o mesmo propósito da escala da Percepção Subjetiva

    de Esforço, ou seja, aumentar a autoconsciência. Esta medida altamente

    individualizada pode ser usada principalmente para detectar alterações intraindividuais

    (KENTTA; HASSMEN, 1998)

    A escala TQR act avalia e monitora as ações (ou seja, intervenções individuais

    de recuperação proativa) que, potencialmente, otimizam e aceleram o processo de

    recuperação. Os atletas simplesmente marcam suas ações, além de acumular pontos

    de recuperação em um período de 24 horas, relacionadas às quatro principais

    categorias de recuperação descritas pelo autor. Nesta escala a nutrição e hidratação

    permite a acumulação de um máximo de dez pontos de recuperação; sono e descanso

    no máximo quatro pontos; relaxamento e suporte emocional no máximo três pontos; e

    alongamento e descanso ativo no máximo de três pontos. Assim, o escore global

    máximo de 20 pontos é igual ao ranking mais alto na escala TQR act (KENTTA;

    HASSMEN, 1998).

    A recomendação prática geral para garantir que a recuperação do atleta seja

    adequada é que as classificações TQR act e TQR per devem, de preferência, ser pelo

    menos equivalente ao treinamento real estresse (classificação RPE), o nível mínimo

    recomendado de recuperação o qual os atletas devem atingir é TQR 13 pontos

    (recuperação razoável) Outra implicação prática a considerar é a comparação de TQR

    act e TQR per, quando um atleta tem tomado todas as medidas para o processo de

    recuperação e apresenta taxas significativamente mais baixas no TQR per em

    comparação com a escala TQR act, este é um sinal de alerta precoce de que existe

    um desequilíbrio entre treinamento e recuperação (KENTTA; HASSMEN, 1998).

    O uso da escala para a avaliação do estado subjetivo de recuperação é um

    método válido e confiável para o monitoramento de estresse, podendo ser utilizado

    como uma ferramenta para estimar a intensidade do exercício dando maior enfoque

    sobre aspectos cognitivo, não confiando somente em marcadores fisiológicos,

    permitindo que se concentre nas sugestões psicofisiológicas de qualquer indivíduo

  • 40

    submetido a um esforço intenso (KENTTA; HASSMEN, 1998; KENTTA; HASSMEN;

    RAGLIN, 2001; MAGALHÃES CURTY, VICTOR; GATTÁS BARA FILHO, 2011;

    TAYLOR et al., 2012; OLTMANN et al., 2017).

    2.7 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA RECUPERAÇÃO

    Em seu estudo Taylor (2012), utilizou as respostas de um questionário online

    para analisar 55 indivíduos envolvidos em esportes de alta performance na Austrália e

    Nova Zelândia, com 91% dos entrevistados respondendo que implementaram alguma

    forma de monitorar o treinamento e a maioria (70%) reportaram igual foco na carga de

    treinamento e no monitoramento da fadiga e recuperação no seu sistema. A razão mais

    importante para o monitoramento foi à prevenção de lesões (29%), monitoramento da

    eficácia do programa de treinamento (27%), manutenção da performance (22%). Em

    termos de importância para o desempenho geral dos atletas, 38% classificaram como

    extremamente valiosos. Os questionários de autorelato, foram os meios mais comuns

    para monitoração da fadiga (84%), com a frequência de monitoramento relatado como

    diária (55%), várias vezes por semana (24%), semanal (18%), ou mensal (2%)

    (OLIVER; LLOYD; WHITNEY, 2015).

    Em um artigo de revisão, enviado ao V Congresso Brasileiro de Eletromiografia

    e Cinesiologia (APÊNDICE A), Oltmann et al, (2017) fizeram um levantamento dos

    principais métodos utilizados para avaliar a recuperação das cargas de treinamento no

    período de janeiro de 2013 a março de 2017 e compilaram 63 artigos que apresentavam

    pesquisas com atletas de diversos esportes, em modalidades coletivas e individuais,

    utilizando algum método, ou a combinação de métodos para avaliar a recuperação do

    treinamento.

    Os estudos foram reunidos em cinco grupos: 1) grupo dos métodos que utilizam

    os indicadores fisiológicos como a frequência cardíaca, frequência cardíaca de repouso,

    variabilidade de frequência cardíaca e a interação entre essas variáveis; 2) grupo dos

    métodos que utilizam indicadores bioquímicos que podem fornecer informações sobre

    a fadiga física por meio da análise de fluídos corporais como sangue, suor, saliva etc.

    Parâmetros hormonais (testosterona e cortisol) e bioquímicos (hemoglobina, aspartato

    amino transferase (AST), alanina amino transferase (ALT), γ-glutamil transferase (GGT)

    e níveis plasmáticos de bilirrubina total e direta, glutamina plasmática, Creatina Quinase

  • 41

    (CK), imunoglobolina A, ureia e lactato sanguíneo) usados para avaliar o desgaste

    físico, 3) método dos estudos autoreportados, que usam questionários foram os mais

    utilizados, separadamente, ou em associação com outros métodos.

    Destes o questionário Profile of Mood States Questionnaire (POMS) foi utilizado

    em sete estudos, o Recovery and Stress Questionnaire for Athletes (RESTQ) em outros

    sete estudos analisados. Outros, como o Perceived Ratings of Wellness (fatigue, muscle

    soreness, sleep quality), o Questionnaire of Fatigue (SFMS) e a Total Quality Recovery

    (TQR) foram citados em dois estudos cada um (OLTMANN et al., 2017).

    Além destes, também foram encontradas outras ferramentas, ainda pouco

    difundidas, mas com grande potencial para avaliação e monitoramento dos níveis de

    fadiga, como por exemplo, o Electronic Performance and Tracking Systems (EPTS).

    Também foram encontrados estudos que utilizavam a performance motora para

    controlar os níveis de fadiga, como o reactive strength índex (RSI), leg stiffness

    (OLTMANN et al., 2017), e limiar eletromiográfico de fadiga (EMGft), e estudos que

    envolviam a avaliação da aceleração a partir dos equipamentos Optimeye S 5-Catapult

    Sports. Vale destacar que foram encontrados seis estudos que usaram o Counter

    Movement Jump (CMJ) como indicador de fadiga em atletas de diversas modalidades.

    Em outros dois estudos foram realizados com o método que utiliza a teoria das

    propriedades do ótimo hematócrito, que sugere como o melhor valor do hematócrito

    (hct) aquele que resulta no maior valor da relação hematócrito / viscosidade (OLTMANN

    et al., 2017). Entretanto, parece que a estratégia mais utilizada pela maioria dos estudos

    analisados, 25 dos 63 foram os métodos combinados, com dois ou mais métodos para

    a avaliação da recuperação com indicadores diferentes em diversos momentos do

    treinamento, a fim de monitorar os estados de overreaching não funcional e

    supertreinamento em estágios iniciais (DELLASERRA; GAO; RANSDELL, 2014).

    Os mesmos autores concluíram que os métodos, sempre que possível, devem

    ser usados concomitantemente a fim de estabelecer diversos parâmetros em diferentes

    momentos da periodização do treinamento. Além disso, destaca-se, neste

    levantamento, que apenas um único estudo encontrado utilizou um sistema de

    monitoramento on line para a recuperação (SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009).

  • 42

    2.8 SISTEMAS DISPONÍVEIS ATUALMENTE NO MERCADO

    Com a quantidade crescente de dados disponíveis de monitoramento

    dispositivos como GPS, vídeos digitais e dispositivos SRM, em combinação com

    medidas de cargas internas, tais como FC, questionários e percepções de cansaço vêm

    à exigência de incorporar essa informação em um banco de dados e sistema de gestão

    de dados que resulta em um acesso eficiente a informação significativa.

    Em seu estudo sobre o uso das tecnologias integradas nas equipes esportivas,

    Dellasserra, Gao e Ransdell (2014) apontaram algumas direções dos futuros estudo na

    área do esporte, dentre elas, as pesquisas das mensurações biofísicas e as repostas

    da temperatura corporal através da calorimetria. Estas mensurações são vitais quando

    avaliamos as mudanças pré e pós jogo. Outro assunto que está frequentemente em

    questão em esportes de alta intensidade é atenuar o desgaste dos atletas que podem

    causar micro lesões no músculo esquelético e fadiga muscular (ANDRADE, 2017).

    Como uma etapa importante do referencial teórico a fim de acrescentar e

    fortalecer o processo de desenvolvimento da aplicação web e do aplicativo mobile para

    avaliação e controle das cargas de treinamento, realizou-se buscas por outras

    ferramentas similares para controle da recuperação do treinamento disponíveis na web

    ou no Google Play. Levaram-se em consideração aplicações desenvolvidas no Brasil

    ou em outros países, independentemente dos objetivos serem científicos ou comerciais.

    As cinco principais aplicações, bem como as características comuns contidas

    em cada uma delas encontram-se descritas na tabela abaixo.

  • 43

    Tabela 2: Características das aplicações disponíveis no mercado

    Fonte: Os dados das aplicações podem ser encontrados nos seguintes endereços:

    www.trainingimpulse.com/itrimp; www.e-trimp.com.br; www.athletemonitoring.com;

    www.loadcontrolapp.com e www.mycoachsport.com

    Athlete

    Monitoring

    Localização e-trimp.com.br trainingimpulse.com athletemonitoring.com loadcontrolapp.com mycoachrpe.com

    Idioma portugues ingles ingles portugues frances

    Avalia a recuperação do

    treinamento    X     X X

    Plataforma web                 X

    Plataforma móvel                    

    Avalia carga de treinamento                    

    Integração com GPS ou monitor X X     X X

    Utiliza a F.C. X         X X

    Aplicável em qualquer modalidade?     X         X

    Possui integração com agenda?             X X

    Exporta dados?                    

    É gratuito?     X X X X

    Possui publicações?     X X X X

    Característica e-TRIMP iTRIMP Load Control mycoach:rpe

    http://www.trainingimpulse.com/itrimphttp://www.athletemonitoring.com/http://.loadcontrolapp.com/

  • 44

    3. METODOLOGIA

    3.1. CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO

    O presente estudo trata-se do desenvolvimento, validação e de um estudo piloto

    para testagem de uma aplicação web e um aplicativo mobile para o controle

    psicofisiológicos da recuperação treinamento físico em atletas de diferentes

    modalidades esportivas através de uma escala de percepção chamada Qualidade Total

    da Recuperação (TQR).

    O estudo compreendeu quatro etapas (figura 3):

    Na primeira e segunda etapa do estudo, respectivamente, foram feitas a

    elaboração e o desenvolvimento da aplicação web e do aplicativo para mobile.

    Na terceira etapa, foram realizados os procedimentos de validação das

    aplicações web e mobile Nesta fase foram avaliados 14 itens referentes à aplicação

    web e o aplicativo mobile por 10 profissionais e professores da área do treinamento

    desportivo.

    A quarta e última etapa foi efetivada com a realização de um estudo piloto com

    atletas de futebol e futsal, nesta etapa a pesquisa foi de natureza aplicada quantitativa

    descritiva transversal, (HALSON, 2014).

    Figura 3 : Etapas da metodologia

    1) Desenvolvimento da aplicação Web

    2) Desenvolvimentodo aplicativo mobile

    (App)

    3) Validação da aplicação web e do aplicativo mobile por

    especialistas (Mestres e Doutores)

    4) Realização de um estudo piloto com atletas de futsal e

    futebol

  • 45

    3.2 PARTICIPANTES

    Para o estudo piloto e validação do instrumento participaram de forma voluntária

    105 atletas das modalidades de futebol e futsal, do sexo masculino com idades de 12

    a 17 anos.

    3.2.1 Critérios de Inclusão

    Participaram deste estudo indivíduos de ambos os sexos, que se auto

    declararam saudáveis por meio do Questionário de Prontidão para Atividade Física

    (PAR-Q) – ANEXO A, sem restrições clínicas, com idade entre 12 e 17 anos, com

    experiência mínima de um ano de treinamento físico nas suas respectivas modalidades

    e que estavam desenvolvendo normalmente suas atividades esportivas com

    frequência maior ou igual às 03 horas semanais.

    3.2.2 Critérios de Exclusão

    Foram excluídos do estudo os participantes que apresentaram alguma restrição

    clínica no período do estudo, ou ainda, que não tenham cumprido o número mínimo de

    sessões de treinamento por semana (03 horas semanais). Da mesma forma, indivíduos

    que deixaram de participar ou realizar alguma das avaliações (coleta de dados

    incompleta), ou aqueles participantes que apresentaram lesões ou restrições quando

    da realização das sessões de treinamento.

    3.3 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS

    3.3.1 Caracterizações do Software e suas Funcionalidades

    A primeira e a segunda etapa do estudo foram dedicadas para a elaboração e

    desenvolvimento da aplicação e do aplicativo mobile chamado e-TRIMP, que permite a

    avaliação das cargas de treinamento por meio da PSE e a avaliação da recuperação de

    treinamento através da TQR, que é o objeto do presente estudo.

  • 46

    A aplicação foi construída utilizando a linguagem de programação ASP Net

    MVC C#, desenvolvida pela Microsoft, linguagem esta que permite desenvolvimento de

    aplicações para internet.

    A ferramenta desenvolvida foi publicada em uma empresa de hospedagem

    denominada King Host, e pode-se acessar pelo seguinte endereço eletrônico:

    http://www.e-trimp.com.br de qualquer navegador (Internet Explorer, Mozilla Firefox,

    Google Chrome, entre outros) em notebooks e desktops, quanto em dispositivos móveis

    como tabletes e smartphones que possua acesso à internet (DELLASERRA; GAO;

    RANSDELL, 2014).

    Outra característica importante da interface web desenvolvida é a

    responsividade, ou seja, a interface se adapta a qualquer tamanho de tela do dispositivo

    que está sendo utilizado pelo usuário para acessar a aplicação.

    A aplicação mobile, desenvolvida para a plataforma Android, pode ser

    encontrada para download (instalação) na Play Store (loja de aplicativos desta

    plataforma), em: https://play.google.com/store/apps/details?id=br.com.etrimp.

    Essas aplicações apresentam as seguintes características técnicas e

    tecnologias:

    Tecnologia Definição

    ASP.NET MVC

    Plataforma de desenvolvimento Microsoft que permite construir uma

    aplicação Web com uma composição de três camadas: modelo MVC,

    pode-se dizer que: M (Models) representam os dados e a lógica de

    negócios; V (Views) constroem a interface do usuário C (Controllers)

    interagem com as solicitações do usuário e programam a lógica de

    entrada dos dados. A linguagem de desenvolvimento usada foi a

    Microsoft C# (C sharp)

    J Query Biblioteca rica em recursos Java Script cross-browser, desenvolvida

    para simplificar os scripts client side que interagem com o HTML.

    Boot strap Biblioteca CSS estrutura de HTML5 e CSS3 projetado para ajudar a

    alavancar o desenvolvimento de aplicações web e sites.

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