UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CURSO DE MEDICINA...
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA
DESLOCAMENTO DE ABOMASO E BIOTECNOLOGIA DA
REPRODUÇÃO
RENAN GOMES DE SÁ MAIA
CURITIBA
2015
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
RENAN GOMES DE SÁ MAIA
DESLOCAMENTO DE ABOMASO E BIOTECNOLOGIA DA
REPRODUÇÃO
Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de
Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná
como requisito parcial para a obtenção do grau de
Médico Veterinário.
Orientador Acadêmico: Prof. Dr. Welington Hartmann
Orientador Profissional: Med. Vet. Altair Valotto
Orientador Profissional: Med. Vet. Edilson José Vieira
CURITIBA
2015
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
REITOR
Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos
PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO
Carlos Eduardo Rangel Santos
PRÓ-REITORA ACADÊMICA
Prof. Dra. Carmen Luiza da Silva
DIRETOR DE GRADUAÇÃO
Prof. Dr. João Henrique Faryniuk
COORDENADOR DO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA
Prof. Dr. Welington Hartmann
COORDENADOR DE ESTÁGIO CURRICULAR
Prof. Dr. Welington Hartmann
TERMO DE APROVAÇÃO
RENAN GOMES DE SÁ MAIA
TÍTULO
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para
obtenção do título de Médico (a) Veterinário (a) pela Comissão Examinadora do
Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná.
Comissão Examinadora:
Presidente: Prof. Welington Hartmann
Prof. Odilei Rogério Prado
Prof. João Filipi Scheffer Pereira
Curitiba, 1º de dezembro de 2015
AGRADECIMENTOS
Primeiramente а Deus qυе permitiu qυе tudo isso acontecesse, ао longo
dе minha vida, е nãо somente nestes anos como estudante
A minha mãe que foi quem me motivou e me deu a oportunidade de
concluir o curso sem nunca me preocupar com nada, compreendendo os meus
momentos de estresse por noites viradas estudando, compartilhando alegrias e
frustrações.
A minha irmã Louise que também teu seu papel fundamental na minha
graduação pois com ela divido o meu dia a dia.
A minha tia Nane, que teve fundamental papel em minha formação,
tirando inúmeras dúvidas da área médica e sempre disposta a fazer o melhor
por mim e estar ao meu lado quando eu precisar, sem nunca negar nada.
A minha namorada Géssica que me deu muita força nessa reta final de
curso e me motivou muito.
Aos professores Welington Hartmann, Kadu Camargo, Uriel Cotarelli,
Paulo Nocera, Emanuel Faleiros, Celso Grigoletti, Rodrigo Azambuja e por
todos os outros que de forma direta ou indireta me proporcionaram o
conhecimento não apenas ligado a Medicina Veterinária, e sim, do caráter,
educação, os senhores são meus verdadeiros mestres. Muito obrigado.
Aos Médicos Veterinários que me aceitaram no estágio, Edilson José
Vieira e toda sua equipe de Witmarsum, André Van Nouhuys, Fabiano Koerich
e Gunther Schartner os quais me ensinaram muito sem medir esforços.
Ao Médico Veterinário Altair Valloto o qual me aceitou na APCBRH e me
deu a oportunidade de aprender com os Médicos Veterinários Silvano Valoto e
Avelino Corrêa.
A todos qυе direta оυ indiretamente fizeram parte dа minha formação, о
mеυ muito obrigado.
Sumário
LISTA DE TABELAS.................................................................................................................. 08
LISTA DE FIGURAS.................................................................................................................. 09
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS.................................................................................... 10
RESUMO.................................................................................................................................... 11
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................ 12
2
DESCRIÇÃO DA UNIDADE CONCEDENTE DE ESTÁGIO ASSOCIAÇÃO DE
CRIADORES DE BOVINOS DA RAÇA HOLANDESA.............................................................
13
2.1 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ............................................................... 14
2.1.1 REGISTRO GENEALÓGICO...................................................................................................... 14
2.1.2 CLASSIFICAÇÃO PARA TIPO........................... ....................................................................... 17
3 DESCRIÇÃO DA UNIDADE CONCEDENTE DE ESTÁGIO COOPERATIVA WITMARSUM.............................................................................................................................
23
3.1 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS................................................................ 24
4 RELATO DE CASO DESLOCAMENTO DE ABOMASO.......................................................... 26
5 DESCRIÇÃO DO TEMA: IATF................................................................................................... 29
6 REVISÃO DE LITERATURA...................................................................................................... 30
6.1 BOVINOCULTURA LEITEIRA NO BRASIL................................................................................ 30
6.2 REPRODUÇÃO DA FÊMEA BOVINA........................................................................................ 30
6.3 CICLO ESTRAL.......................................................................................................................... 33
6.3.1 FASE FOLICULAR..................................................................................................................... 33
6.3.2 FASE LUTEAL............................................................................................................................ 33
6.4 PROTOCOLO DE IATF.............................................................................................................. 34
7 DISCUSSÃO............................................................................................................................... 37
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 38
8
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Procedimentos acompanhados durante o estágio...................... 25 Tabela 2 Procedimentos na área de Biotecnologia da Reprodução
acompanhados durante o estágio.........................................
25
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Sede da APCBRH, Curit iba.......... ...... ............ .. . 13
Figura 2 Quadro Livro de Mérito.. ........ ......... .. ............ ... . 15
Figura 3 Evolução PC para PO........... ........ .... ............ .. . 16
Figura 4 Vaca True Type..... ............ ........ ........ ............ . . 18
Figura 5 Classif icação dos Animais... ......... .... ............ ... . 22
Figura 6 Cooperativa Witmarsum....... ......... ..... ............ . . 26
Figura 7 Deslocamento de Abomaso.............. ... .. .......... .. 27
Figura 8 Linha de Incisão.... ............ ........ ........ ............ . . 28
Figura 9 Representação esquemática do protocolo Ovsynch......... 35
10
LISTA DE ABREVIATURAS
APCBRH Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça
Holandesa
BVD Diarréia Viral Bovina
CBT Contagem Bacteriana Total
CCS Contagem de Células Somáticas
CL Corpo Lúteo
DA Deslocamento de Abomaso
DAD Deslocamento de Abomaso para Direita
DAE Deslocamento de Abomaso para Esquerda
FSH Hormônio Folículo Estimulante
GC3 Geração Controlada 3
GnRH Hormônio Liberador de Gonadotrof ina
IA Inseminacao Artif icial
IATF Inseminação Artif icial em Tempo Fixo
IBR Rinotraqueíte Infecciosa Bovina
LE Livro de Escol
LH Hormônio Luteinizante
LM Livro de Mérito
MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
P4 Progesterona
PC Puro por Cruza
PGF2α Prostaglandina
PO Puro de Origem
TG Taxa de Gestação
11
RESUMO
A bovinocultura leiteira no Brasil está em expansão devido ao seu
caráter econômico, com consequentes desafios para as áreas de assistência
técnica. Durante o período de estágio, realizado na APCBRH e Cooperativa
Witmarsum foi possível aprofundar os conhecimentos nessa atividade. Na
APCBRH foi possível acompanhar o Registro Genealógico e Classificação
Linear para Tipo e na Cooperativa de Witmarsum as rotinas de clínica médica,
cirúrgica e reprodução dos animais. O total de casos acompanhados em
Witmarsum foi de 574, sendo destes, 104 em clínica médica e cirúrgica e 470
na área de biotecnologias da reprodução.
12
1 INTRODUÇÃO
O período de estágio curricular do curso de Medicina Veterinária da
Universidade Tuiuti do Paraná, visa a prática e o aperfeiçoamento de técnicas
e conhecimentos aprendidos durante a graduação. Neste período foi possível
acompanhar e auxiliar profissionais capacitados aprendendo com os mesmos
para ingressar no mercado de trabalho.
O estágio foi realizado em dois locais, primeiramente na Associação
Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH)
localizada na cidade de Curitiba – PR, durante o período de 5 de agosto a 30
de setembro de 2015, supervisionado pelo Superintendente Técnico Altair
Antônio Valloto.
Durante este período pode-se acompanhar as três principais áreas da
APCBRH: Laborátorio de controle de qualidade do leite, Laboratório de
diagnóstico e Registro Genealógico.
A segunda etapa do estágio curricular foi realizada na Cooperativa de
Witmarsum localizada na cidade de Palmeira – PR, durante o período de 5 a 23
de outubro de 2015, supervisionado pelo Médico Veterinário Edilson José
Vieira. Durante este período foi possível acompanhar a rotina dos Médicos
Veterinários da cooperativa e auxilia-los na parte de Clínica Médica, Clínica
Cirúrgica e Reprodução Animal.
O presente trabalho tem como finalidade descrever um protocolo de
IATF e a sua eficácia e também o diagnóstico e tratamento de uma afecção
comumente encontrada na bovinocultura leiteira, o deslocamento de abomaso.
13
2 DESCRICAO DA UNIDADE CONCEDENTE DE ESTÁGIO – ASSOCIAÇÃO PARANAENSE DE CRIADORES DE BOVINOS DA RAÇA HOLANDESA
O estágio curricular foi realizado na Associação Paranaense de
Criadores de Bovinos da Raça Holandesa, situada à R. Professor Francisco
Dranka, número 608, Bairro Orleans na cidade de Curitiba – PR, no período de
5 de agosto a 30 de setembro de 2015, sob orientação do Superintendente
Altair Antônio Valloto (Figura 1).
FIGURA 1. SEDE DA APCBRH, EM CURITIBA.
A APCBRH possui diversos serviços em prol dos associados, os quais
estão disseminados pelo Paraná inteiro. Dentre os serviços oferecidos pela
APCBRH os principais são: Controle leiteiro, Classificação linear para tipo,
Registro Genealógico, Laboratório de qualidade do leite onde são realizadas as
análises Contagem de Céluas Somáticas (CCS), Contagem Bacteriana Total
(CBT), gordura, proteína e sólidos totais, Laboratório de Diagnóstico onde são
realizados testes de prenhez através do leite, IBR/BVD e também oferece o
exame de DNA e Genoma dos animais, os quais são enviados para
laboratórios parceiros da Associação.
14
2.1 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
2.1.1 REGISTRO GENEALÓGICO
A APCBRH é homologada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA) a mais de 50 anos para executar o registro de animais
da Raça Holandesa e seus mestiços. O investimento para registrar animais é
baixo, sendo assim, disponível para todos os criadores, o registro de um animal
Puro por Cruza (PC) custa R$ 43,00 e gera inúmeras vantagens para o criador.
O Paraná é líder no Brasil no que se refere à quantidade de animais
registrados, são mais de 400 mil animais registrados.
Os benefícios atrelados ao registro genealógico possuem grande
interesse ao produtor, tais como, auxílio em financiamento junto às instituições
bancárias, animal registrado é rastreado, não precisa ser marcado em exames,
relatórios de produção, reprodução e conformação atualizados, e promove uma
enorme facilidade para acasalamento, tendo em vista que o produtor possui
toda a árvore genealógica de seu animal, assim, sabendo exatamente
características a serem melhoradas naquele animal.
Caso o produtor tenha um animal PC, a partir de Geração Controlada 3
(GC3) ele pode evoluir este animal para Puro de Origem (PO), o registro é uma
das exigências para tal, assim como o controle leiteiro oficial (serviço também
prestado pela associação).
Os animais podem ganhar registros especiais de acordo com sua
capacidade leiteira e/ou reprodutiva.
Livro de Mérito: Fará jus ao título a vaca que alcançar ou superar, em uma
lactação, o mínimo de produção de leite e gordura, de acordo com a Tabela de
LM vigente.
15
FIGURA 2.TABELA LIVRO DE MÉRITO
Livro de Escol: É o título de eficiência produtiva e reprodutiva concedido à vaca
que satisfaça as condições:
a) Obtenha Livro de Mérito na produção;
b) Tenha nova parição subsequente à que obteve LM, dentro do
intervalo máximo entre partos de 427 dias.
Reprodutora Emérita: É o título de excelência produtiva e reprodutiva
concedido à vaca que obtiver LE, em três lactações consecutivas ou cinco
alternadas.
Recordista Nacional: É o título concedido à vaca que alcançar produção
máxima de leite ou de gordura, em sua divisão, classe de idade e categoria,
estabelecendo-se, assim, o recorde nacional.
Produtora Vitalícia: É concedida a vaca que há uma produção igual ou maior
que 100 mil kg de leite durante sua vida produtiva.
16
FIGURA 3. EVOLUÇÃO PC PARA PO.
Para evolução para PO o criador conta com duas opções.
OPÇÃO 1:
Classificar mãe e filha (candidata a PO), sendo que a filha deve possuir
no mínimo grau de sangue GC-3. As duas devem estar em controle leiteiro
oficial; não é necessário ter LM e nem mínimo de pontos na classificação.
OPÇÃO 2:
A fêmea PC candidata deve possuir no mínimo grau de sangue GC-3,
possuir o título de LM, ter classificação para tipo e ter obtido no mínimo de 78
pontos, até 42 meses de idade no dia da classificação ou, no mínimo de 80
pontos, quando tiverem mais de 42 meses de idade no dia da classificação.
17
2.1.2 CLASSIFICAÇÃO PARA TIPO
A classificação para tipo é uma avaliação de conformação da vaca, onde
o animal é dividido em seções e cada uma possui um peso no total da
pontuação do animal, sendo o máximo a ser atingido 97 pontos, sendo que se
um classificador classificar uma vaca como excelente mais de 93 pontos, será
necessária a presença de dois classificadores para efetivar esta nota.
Essa ferramenta é de suma importância para os produtores fazerem
uma boa gestão de suas propriedades, na seleção e melhoramento genético de
seu rebanho, é possível o produtor saber quais características individuais de
cada vaca devem ser melhoradas e consequentemente conseguem ter um
panorama geral de seu rebanho.
Os classificadores possuem um aparelho eletrônico onde é dividida cada
parte a ser avaliada do animal o classificador então computa a nota de 1 a 9 e
este aparelho já calcula o peso de cada componente julgado, lembrando que o
classificador compara o animal com a vaca True Type que é o modelo ideal de
animal, e não um animal com o outro. Para algumas características o escore
ideal é 5 pontos, como por exemplo, comprimento de tetos, nivelamento de
garupa, já para outras o ideal é 7, como por exemplo, estatura, ângulo de
casco e profundidade corporal. Para grande maioria o escore 9 é ideal,
exemplo, largura e altura de úbere posterior, inserção de úbere anterior.
FORÇA LEITEIRA (22%)
Representa o balanço equilíbrio entre força e características leiteiras e
condições para maiores produções de leite. É importante avaliar a estrutura do
animal, sem levar em consideração a condição corporal, a qual é considerado
na avaliação do animal. Costelas bem abertas, arqueadas e com força de peito
adequada (Largo), capacidade adequada ao consumo de uma dieta alta em
forragens, condição corporal adequada para sustentar altas produções leiteiras
e reprodução, vaca saudável e com espaço para os órgãos vitais funcionarem
adequadamente.
18
FIGURA 4 VACA TRUE TYPE.
CARACTERÍSTICAS AVALIADAS EM FORÇA LEITEIRA
Estatura: Avalia a altura do animal, classificador utiliza uma tabela,
correlacionando idade com a estatura. Desejável 7 pontos.
Nivelamento de Linha Superior: É relação entre a estatura no posterior,
relacionada com o anterior do animal, na linha dorso, é correlacionada à
idade/número de partos e a pontuação ideal pode ser 5, 6, 7 pontos.
Largura de Peito: Abertura do peito, avaliado na região entre os membros
anteriores dos animais, é o que traciona o animal. Ideal 7 pontos.
Profundidade corporal: Linha mediana, avaliada do ponto inserção dorso e
lombo até o osso esterno, pode-se traçar uma linha imaginária do cotovelo da
vaca até a virilha, quanto mais profundo o abdômen for abaixo dessa linha,
mais profundo o animal é. Ideal 7 pontos.
19
Angulosidade: Abertura das costelas anteriores e posteriores, quanto maior
espaçamento, mais anguloso é o animal. Ideal 9 pontos.
Condição corporal: Avaliado em uma escala de escores de 1 a 5 pontos,
sendo: Escore 1 animal caquético e escore 5 animal obeso. Ideal 3 a 3,5.
GARUPA (10%)
Desejável garupa bem nivelada, larga e comprida, combinada com forte
lombo. 40% do úbere se insere na garupa e 60% no abdômen, possui relação
direta com a locomoção dos animais. Boas condições de garupa provocam
melhora em taxa de prenhez, maior facilidade de parto e recuperação pós parto
e aumentam mobilidade animal.
CARACTERÍSTICAS AVALIADAS EM GARUPA
Ângulo de garupa: Nivelamento entre as pontas dos íleos e ísquios é
desejável desnível de aproximadamente cinco cm, como há correlação entre
número de partos o escore ideal pode variar de 5 a 6.
Largura da garupa: Largura entre os ísquios. Ideal escore 9 pontos
Força de lombo: Avaliado nas vértebras lombares. Ideal escore 9 pontos
PERNAS E PÉS (26%)
Segunda secção com maior peso, a vista posterior das pernas e pés de
um animal possui alta correlação com sua vida útil, é desejável pernas com
curvaturas intermediárias, talão alto, ossos planos e fortes. Pernas e pés
garantem ao animal maior resistência a doenças de casco e claudicação,
locomoção com liberdade de movimentos, mobilidade para chegar ao pasto e
pastejar durante o dia, para ir a sala de ordenha e demonstração de cio, afinal
se a vaca estiver com algum problema em pernas ou pés, sentindo dor ou
20
algum desconforto, não montará em outro animal, assim, não sendo possível
identificar o cio no animal a ser montado.
CARACTERÍSTICAS AVALIADAS EM PERNAS E PÉS
Ângulo de casco: Avaliado nas pernas posteriores, ângulo formado da
muralha com a sola. Ideal 7 pontos.
Profundidade de talão: Avaliado no talão, região posterior do casco, quanto
mais profundo, melhor. Ideal 9 pontos.
Qualidade óssea: Avaliado membros posteriores na região do jarrete, ossos
planos e chatos. Ideal 9 pontos.
Pernas posteriores vista lateral: Avaliado nos membros posteriores é
desejável uma curvatura intermediária. Ideal 5 pontos.
Pernas posteriores vista posterior: Visão posterior das pernas, membros
paralelos e retilíneos. Ideal 9 pontos.
SISTEMA MAMÁRIO (42%)
Secção com maior peso, é extremamente desejável um úbere alto,
largo e fortemente inserido ao abdômen da vaca, textura macia e profundida
adequada, colocação e comprimento dos tetos corretos. Úberes necessitam ser
saudáveis e resistentes, fácil descida do leite, capaz de suportar altos volumes
de leite, ligamentos e inserções fortes para evitar infecções.
CARACTERÍSTICAS AVALIADAS EM SISTEMA MAMÁRIO
Inserção úbere anterior: Avaliada a inserção dos quartos anteriores. Ideal 9
pontos.
Colocação de tetos anteriores: Posição dos tetos nos quartos anteriores,
desejável que sejam centralizados nos quartos mamários. Ideal 5 pontos.
21
Comprimento de tetos: Forma cilíndrica com 5 cm de comprimento. Ideal 5
pontos.
Profundidade de úbere: Avaliada a distância entre a ponta do jarrete e piso do
úbere, é feita correlação com número de partos, então o escore ideal pode
variar de 5 a 6.
Textura de úbere: São avaliados os quartos anteriores e posteriores é
desejável que sejam macios. Ideal 9 pontos.
Ligamento médio: Avaliado principalmente na visão posterior, separação entre
os quartos mamários, quanto mais marcado o ligamento, melhor. Ideal 9
pontos.
Altura do úbere posterior: Visão posterior do úbere (quarto posterior),
distância da vulva até onde a termina a glândula mamária. Ideal 9 pontos.
Largura do úbere posterior: Visão posterior do úbere (quarto posterior),
largura onde termina a glândula mamária. Ideal 9 pontos.
Colocação tetos posteriores: Centralizado nos quartos mamários posteriores.
Ideal 5 e 6 pontos.
22
CLASSIFICAÇÃO FINAL
Após finalizar a classificação, o aparelho gera uma nota e o animal é
enquadrado em uma das classificações abaixo.
FIGURA 5. CLASSIFICAÇÃO DOS ANIMAIS.
23
3 DESCRICAO DA UNIDADE CONCEDENTE DE ESTÁGIO – COOPERATIVA WITMARSUM
A segunda etapa do estágio curricular foi realizado na Cooperativa
Witmarsum, situada na Avenida Presidente Ernesto Geisel, CEP 84130-971
Colônia Witmarsum, Palmeira – PR (Figura 6), no período de 5 de outubro a 23
de outubro de 2015, sob orientação do Médico Veterinário Chefe Edilson José
Vieira.
FIGURA 6 - COOPERATIVA WITMARSUM
A colônia de Witmarsum foi formada em julho de 1951 por menonitas
que reimigraram da cidade de Witmarsum do Estado de Santa Catarina. Os
menonitas pertencem ao grupo dos menonitas alemães-russos, que tem sua
origem na Frísia no norte atual da Holanda e Alemanha. Através da Prússia
eles imigraram para Rússia no século 18. Em 1930 vieram para o Brasil onde,
após um tempo no estado de Santa Catarina, fundaram em 1951 a Colônia
Witmarsum no Paraná, graças a um financiamento conseguido junto aos
menonitas da América do Norte, foi possível comprar a fazenda Cancela de
aproximadamente 7800 ha que pertencia ao Sr. Roberto Glaser dando início a
formação da Colônia Witmarsum. Esta área foi dividida em lotes de
aproximadamente 50 ha em média, destinada a cada colono.
24
É compreendida em aproximadamente 5 núcleos de povoamento os quais são
chamados de aldeias e numerados de 1 a 5, dispostos em torno da cooperativa
situado na sede da antiga Fazenda Cancela.
A economia de Witmarsum é basicamente movida pela agropecuária,
principalmente leiteira, também há menores criações de frangos de corte,
suínos e plantações de soja e milho.
A Cooperativa de Witmarsum possui diversos serviços para auxiliar os
produtores, desde a parte ligado a pecuária quanto a lavoura.
3.1 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Foi possível acompanhar os Médicos Veterinários que atendem todas as
propriedades dos cooperados, fazendo a parte de Clínica Médica, Cirúrgica e a
parte reprodutiva das fazendas, os mesmos possuem um papel fundamental
para o desenvolvimento da pecuária leiteira na região, com técnicas
modernizadas podem contribuir para cada produtor conseguir alcançar o
máximo de produção no seu rebanho (Tabela 1).
25
TABELA 1: PROCEDIMENTOS ACOMPANHADOS DURANTE O ESTÁGIO
Procedimentos Acompanhados Clínica Médica e Cirúrgica
N=104 %
Casqueamento 6 5
Mordida de morcego em úbere 1 0,9
Bezerras com diarréia 3 2
Bezerras com doença cardíaca 1 0,9
Babesiose/Anaplasmose 2 1,9
Pneumonias 3 2
Deslocamento de abomaso 4 3
Mochação 25 24
Partos distócicos 4 3
Irritação em tetos 1 0,9
Animal com possível fratura em membro pélvico 1 0,9
Miíase em vulva 1 0,9
Retenção de placenta 6 5
Transfusão sanguínea 1 0,9
Exame brucelose/tuberculose 40 38
Vulvoplastia 1 0,9
Infeccção de sutura pós abomasopexia 1 0,9
Castração 3 2
Os procedimentos acompanhados na área de Biotecnologia da Reprodução estão
listados na Tabela 2.
TABELA 2: PROCEDIMENTOS NA ÁREA DE BIOTECNOLOGIA DA REPRODUÇÃO
ACOMPANHADOS DURANTE O ESTÁGIO
Biotecnologia da Reprodução N=470 %
Ultrassonografia transretal ≅200 42
Palpação Retal ≅270 58
26
4 RELATO DE CASO DESLOCAMENTO DE ABOMASO
A incidência do deslocamento de abomaso é comumente encontrada em
animais de alta produção leiteira após o parto, pode ocorrer para esquerda ou
para a direita e 90% dos casos ocorrem até seis semanas pós-parto
(CARDOSO, 2004). Há, basicamente, duas possibilidades de o deslocamento
ocorrer, na primeira a víscera migra de sua posição original, no assoalho do
abdômen, para uma posição entre o rúmen e a parede abdominal esquerda,
ocorrendo o Deslocamento de Abomaso a Esquerda (DAE). Em uma segunda
alternativa, o órgão se desloca totalmente para o lado direito, provocando o
Deslocamento de Abomaso a Direita (DAD) que pode evoluir para o vólvulo
abomasal (NIEHAUS, 2008).
A prevalência desta afecção é variável, dependendo de localização
geográfica, manejo dos animais, clima, entre outros fatores. Das desordens dos
vólvulos abomasais o DAE é o com maior incidência com 85 até 95% dos
casos (TRENT, 1990). O DA ocorre principalmente nas raças leiteiras
clássicas, como a Holandesa, em raças de corte apresentam menor incidência
(DOLL et al., 2009). Estudos sugerem que animais com maior estatura e maior
profundidade corporal possuam predisposição para tal afecção (ZWALD et al.,
2004).
O risco do DA aumenta conforme a idade dos animais, após a terceira
lactação são mais frequentemente afetadas, apesar de 28% das novilhas de
primeiro parto, possam apresentar a doença (SANTAROSA, 2010).
Estudos apontam correlação entre dietas ricas em carboidratos solúveis
e pobres em forragem, principalmente com pouca quantidade de fibra, onde
estudo indicam a quantidade ideal de fibra bruta entre 16-17% (KIRCHOF,
2013) sendo menor que este valor, há maior probabilidade de DA. Em estudos,
o aumento de concentrados resultou em uma diminuição da motilidade
abomasal e também aumento na incidência de Deslocamento de Abomaso
(DA) (VAN WINDEN e KUIPER, 2003). Todavia, a alimentação de bovinos com
dietas altamente digeríveis e baixa quantidade de fibra pode ser um fator maior
de risco do que a quantidade de concentrado na ração. Contudo, outros
autores afirmam que o aumento de DA está relacionado com a diminuição da
27
ingestão alimentar observado em vacas recebendo forragens fibrosas ou de
qualidade comprometida (STENGÄRDE e PEHRSON, 2002).
Os bovinos leiteiros que desenvolvem DAE ou DAD apresentam queda
de 30% a 50% na produção (NIEHAUS, 2008).
O deslocamento de abomaso gera perdas econômicas devido ao custo
do tratamento, leite descartado, diminuição da produção, aumento do intervalo
entre partos, perda de peso, descarte prematuro do animal e mortalidade
(SANTAROSA, 2010). A perda econômica é grande, na América do Norte,
estima-se um gasto de aproximadamente 220 milhões de dólares por ano,
deste modo, o deslocamento de abomaso é uma das principais afecções
digestivas da bovinocultura leiteira (CÂMARA, 2009).
O caso acompanhado foi atendido pelo Médico Veterinário da
Cooperativa de Witmarsum, na propriedade da Elizabeth Janzen. Ao chegar na
propriedade, observou-se que o animal possuía menor volume fecal, fezes
secas e a ausculta do lado esquerdo possuía som metálico ou de “panela”.
Então confirmamos o diagnóstico de DAE e decidiu-se submeter o animal a
cirurgia. A técnica escolhida foi a omentopexia pelo flanco direito, conhecido
como “método de Hannover”.
FIGURA 7. DESLOCAMENTO DE ABOMASO
Fonte: TURNER, McILWRAITH (2002)
O procedimento é realizado com o animal em estação contido no canzil.
Foi feito antissepsia com água com 2 pastilhas de cloro na região paralombar
direita, tricotomia, e para anestesia foram utilizados 150 mL de lidocaína
divididos entre pele e subcutâneo, na linha de incisão.
28
A técnica é iniciada com uma incisão vertical de aproximadamente 20
cm na fossa paralombar direita, iniciando 4 a 5 cm abaixo do processo
transverso da vértebra lombar (Figura 10), primeiramente é incisada a pele
seguido pelo subcutâneo e então as camadas musculares, que são: músculo
oblíquo externo, músculo oblíquo interno e por fim o músculo transverso do
abdômen.
FIGURA 8. LINHA DE INCISÃO
Fonte: TURNER, McILWRAITH (2002)
Após a abertura da cavidade peritoneal passa-se o braço esquerdo
caudalmente ao abomaso e ao rúmen, alcançando o abomaso distendido entre
a parede abdominal e o rúmen. O abomaso é esvaziado com uma agulha 13
ligada a uma mangueira, a punção é feita na parte mais dorsal do abomaso
deslocado, assim, liberando o gás acumulado, então se retira a agulha
cuidadosamente para não perfurar outro órgão. Coloca-se o antebraço
esquerdo no topo do abomaso e o desloca para sua posição anatômica. Então
o omento é exteriorizado, localiza-se um segmento adjacente ao piloro. É feito
duas suturas colchoeiro entre as duas camadas da dobra do omento, peritônio
e músculo abdominal transverso, o peritônio e a musculatura abdominal é
suturada no padrão contínua simples, assim como os músculos oblíquos
abdominais interno e externo são suturados com pontos contínuo simples, no
subcutâneo é feito Cushing, e na pele pode ser usado Reverdin ou Sultan
(TURNER, McILWRAITH, 2002). No pós-operatório foi utilizado antibiótico a
base de penicilina intramuscular na dose de 15.000 UI/Kg e na incisão foi
usado unguento spray.
29
5 DESCRIÇÃO DO TEMA: IATF
A Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) é capaz de sincronizar
todos os animais submetidos ao protocolo a ovularem em um intervalo de
tempo pré-determinado. Consiste no uso de um dispositivo de Progesterona, o
qual é utilizado via intravaginal normalmente e diversos hormônios.
Proporciona a inseminação sem a necessidade de observar cio induz
ciclicidade nas fêmeas em anestro assim melhorando a eficiência reprodutiva.
A IATF gera diversos benefícios tais como diminuição do intervalo entre partos,
aceleração do melhoramento genético, homogeneidade dos bezerros,
nascimentos concentrados e eficiência reprodutiva.
Esta técnica vem ganhando cada vez mais espaço na bovinocultura,
quando a técnica é utilizada corretamente a taxa de prenhez é de
aproximadamente 50%, as que não emprenham, podem ser colocadas no
protocolo de IATF para ser inseminadas novamente ou submetidas ao touro de
repasse. Apesar de ser uma técnica consagrada em bovinocultura de corte,
está sendo adotada gradativamente no setor leiteiro.
30
6 REVISÃO DE LITERATURA
6.1 BOVINOCULTURA LEITEIRA NO BRASIL
A bovinocultura leiteira desempenha grande papel econômico no Brasil e
a geração de empregos no país é incontestável. A produção do país em 2007
foi estimada em 26,4 bilhões de litros, gerando aproximadamente 15 bilhões de
reais.
Entre as principais características da pecuária leiteira no Brasil, duas
merecem destaque. A primeira é que a produção ocorre em todo território
nacional, existe informação que há produção de leite em 554 microrregiões das
558 consideradas pelo IBGE. A segunda é que não existe um padrão de
produção, existem propriedades com produção diária menor que 10 litros, e
outras com produção diária superior a 60 mil litros. A produção de leite cresce
em média 4,5 % ao ano, colocando assim, o Brasil como sexto maior produtor
de leite do mundo, com um volume que corresponde aproximadamente 4,5%
da produção mundial. O setor está entre os mais importantes do agronegócio
brasileiro, ocupando o sexto lugar na frente do café beneficiado e do arroz
(JUNQUEIRA, 2008).
6.2 REPRODUÇÃO DA FÊMEA BOVINA
A função dos ovários nos bovinos tem início no período fetal e estende-
se até a senilidade. Durante o desenvolvimento do feto, sob influência dos
hormônios maternos os ovários do feto apresentam crescimento e atresia
folicular. Pós-nascimento até a fase da puberdade, a ausência de função do
hipotálamo e hipófise, as gônadas femininas ficam em repouso, após a
puberdade quando o hipotálamo e a hipófise iniciam liberação de GnRH, FSH e
LH respectivamente, os ovários passam a exercer sua função reprodutiva.
O ciclo estral é o ritmo funcional do aparelho reprodutivo feminino que
começa a partir da puberdade. Modificações cíclicas na fisiologia e morfologia
dos órgãos da reprodução e no perfil dos hormônios relacionados. O ciclo
estral pode ser dividido em 4 fases que são definidos por eventos coordenados
pela secreção de hormônios (ANTONIOLLI, 2002).
31
Segundo Antoniolli (2002): Pró-estro: Fase que se antecede ao estro. É
marcada pelo aumento circulante de estrógeno devido ao desenvolvimento
folicular. Sinais como aumento de tônus muscular e vascularização dos órgãos
genitais, edemaciação inicial da vulva e relaxamento da cérvix. Tem duração
de 2 a 3 dias e termina quando a fêmea aceita a monta do macho.
Estro: É marcado pela aceitação do macho. É a fase de maior visualização.
Nesta fase há níveis elevados de estrógeno, cérvix está relaxada, vagina e
vulva com sinais de hiperemia, edema e muco. Esta fase varia entre 12 a 18
horas.
Metaestro: O corpo lúteo formado pós ovulação secreta progesterona até
atingir o pico de produção, onde ocorre a ovulação. Com produção inicial de
progesterona a genitália tende a ficar com menor tônus e menos vascularizada.
Pode ocorrer leve hemorragia no muco decorrente de alterações hormonais,
dura em média 2 a 3 dias, onde o corpo lúteo atinge a sua maior capacidade de
produzir progesterona.
Diestro: Fase de maior duração, ocorre domínio da progesterona. Possui
duração de aproximadamente 15 dias e termina quando há regressão do corpo
lúteo, tendo início a outro ciclo.
A inseminação artificial é uma biotecnologia de grande importância no
processo do melhoramento genético do rebanho (MACHADO et al., 2006).
Deste modo a indução e/ou sincronização de cio como biotecnologia surge
como uma ferramenta de manejo para aumentar a eficiência produtiva da
atividade pecuária. Sincronizando o cio o período de IA pode ser reduzido de
21 dias para algumas horas, no caso da IATF (BRAGANÇA, 2007).
A sincronização do estro inclui administração de hormônio naturais ou
sintéticos que podem ser utilizados via oral, intramuscular e implante
vaginal/subcutâneo (SANTOS, 2002).
O GnRH é quem controla a secreção de gonadotrofinas, FSH e LH, este
hormônio hipotalâmico é liberado de forma pulsátil e sua amplitude varia de
acordo com o estágio reprodutivo da fêmea (PAVARINA, 2007).
32
As gonadotrofinas são produzidas pelo mesmo tipo celular mas são secretadas
de forma diferenciada. O LH é secretado de maneira pulsátil, já o FSH é
secretado de maneira constitutiva, ou seja, grande parte é liberada assim que é
produzida, embora uma pequena porção possa ser armazenada e ser liberada
posteriormente em resposta ao GnRH (SARAIVA et al., 2010). O LH é
responsável pela ovulação e maturação do folículo ovariano em Corpo Lúteo
(CL), já o FSH tem o papel de desenvolver o folículo de Graaf no ovário, o FSH
atua precocemente no desenvolvimento folicular para formação do antro do
folículo. Talvez a maior importância seja a ação sinérgica entre o FSH e os
estrógenos, proporcionando a formação de receptores para FSH e LH nas
células granulosas do folículo.
A progesterona (P4) é importante para o funcionamento do sistema
reprodutor feminino, é produzida principalmente pelo CL, dentro de suas
atividades fisiológicas é responsável pelo crescimento das glândulas uterinas e
mamárias, estimulação de glândulas endometriais para secreção de fluido
endometrial, o qual é indispensável para nutrição do blastocisto antes da
implantação, também a responsável pela manutenção da gestação, pelo
menos durante o terço inicial e atua sinergicamente com estrógenos em
diversas funções fisiológicas. Altos níveis de P4 inibem o estro e a onda
ovulatória de LH, estabelecendo assim seu papel imprescindível na regulação
do ciclo estral (SANTOS, 2002).
A regressão do CL depende de aumentos de pulsos de prostaglandina,
durante o ciclo estral os folículos secretam estradiol os quais estimulam a
síntese de receptores de ocitocina no endométrio. O CL secreta ocitocina que
age sobre as células do endométrio e estimulam a secreção de prostaglandina
(PGF2α). Dessa forma há a lise do corpo lúteo e posteriormente queda nos
níveis de progesterona. Então ocorre ovulação do folículo pré-ovulatorio e se
inicia um novo ciclo estral (FRIZZO, 2002).
Quantidades crescentes de estradiol secretadas pelos folículos, induzem
o cio e, através de feedback positivo no hipotálamo/hipófise, fazem pico de LH
o qual induz a ovulação e formação do corpo lúteo (MORENO et al., 2004).
33
6.3 CICLO ESTRAL
6.3.1 FASE FOLICULAR
A fase folicular pode ser dividida entre pro-estro e estro. O período do
pro-estro dura de dois a três dias e é marcado pela queda de progesterona,
pelo desenvolvimento folicular e aumento dos níveis de estradiol no sangue.
Nessa fase, há liberação de GnRH pelo hipotálamo o qual estimula secreção
de FSH e LH da glândula pituitária, altos níveis de FSH induzem o
desenvolvimento dos folículos, em sinergismo com o LH estimulam sua
maturação. Conforme o folículo se desenvolve aumenta a produção de
estradiol pelos folículos e após determinada concentração, o estradiol estimula
a manifestação do cio e a liberação em grandes níveis de LH, dando início a
segunda fase.
Durante o estro, ocorre elevados níveis de estradiol os quais são
responsáveis além de induzirem a manifestação do cio também por dilatar a
cérvix, síntese e secreção de muco vaginal, e transporte dos espermatozoides
no trato reprodutivo da fêmea. Durante o período de manifestação de cio, a
vaca fica inquieta, monta e deixa-se ser montada por outras vacas, reduz
apetite, diminui produção leiteira e apresenta corrimento muco vaginal límpido,
vulva e vagina demonstram-se intumescidas e hiperêmicas devido a elevada
irrigação sanguínea, embora, o melhor sinal de manifestação de cio é qual o
animal permite ser montado por outra vaca, touro, ou rufião (EMBRAPA, 2014).
6.3.2 FASE LUTEAL
Após o término do estro, começa o período de desenvolvimento do
corpo lúteo, ou fase luteínica, esta fase pode ser subdivida em metaestro e
diestro. O metaestro tem duração aproximada de 2 a 3 dias e como principal
característica a liberação do óvulo pelo folículo. A ovulação ocorre geralmente
de 12 a 16 horas após o término do cio, após a ruptura do folículo o ovulo é
transportado para porção média do oviduto e as células da parede interna do
folículo se modificam e dão origem a uma nova estrutura, chamada de corpo
34
lúteo ou corpo amarelo. O CL produz progesterona, a qual é responsável pela
manutenção da gestação, o período que o corpo lúteo é funcional, liberando
altos níveis de progesterona é chamado de diestro. Entre as fases do ciclo
estral, o diestro possui maior duração, aproximadamente 5 dias, se o óvulo for
fecundado, o CL será mantido e os níveis de progesterona devem ser mantidos
para manter a gestação. Caso não haja fecundação o corpo lúteo deve regredir
sob a ação da prostaglandina, produzida pelo útero, aproximadamente 17 dias
após o cio, níveis de progesterona no sangue diminuirão, começando um novo
ciclo estral (EMBRAPA, 2014).
6.4 PROTOCOLO DE IATF
A eficiência da reprodução dentro de uma propriedade continua a ser um
dos fatores mais importantes a influenciar a rentabilidade do negócio. Nas
últimas décadas, o aumento de matéria seca e na produção de leite por animal
tem sido correlacionado com um declínio considerável nas taxas de fertilidade
(CUTULLIC et al., 2012). As melhorias genéticas e no manejo de vacas
leiteiras possibilitaram o aumento do número de animais por fazenda. Contudo,
esse aumento de animais por rebanho gerou dificuldade para o manejo
reprodutivo, tendo em vista que o método de detecção de estro fica inviável,
pois seria necessária grande quantidade de funcionários para sua execução.
A eficiência da taxa de serviço da propriedade é um dos fatores mais
importantes para o desempenho reprodutivo de vacas leiteiras. Se este
parâmetro estiver aquém do desejado consequentemente a propriedade não
conseguirá ter altos índices reprodutivos. Um dos métodos de aumentar a taxa
de serviço da propriedade é a utilização da Inseminação Artificial em Tempo
Fixo (IATF), alguns estudos demonstram que as taxas de concepção pós IATF
são menores que as taxas encontradas com Inseminação Artificial (IA), mas, as
taxas de prenhez normalmente são maiores após IATF devido ao fato de todas
as vacas que foram submetidas ao protocolo serem inseminadas, assim
obtendo 100% de taxa de serviço. É de suma importância ter em mente que
para o sucesso da IATF é necessário cumprir três etapas: Submissão de todas
as vacas de primeiro serviço a IATF no final do período voluntário de espera,
identificação precoce de vacas vazias pós IATF e rápida ressincronização e/ou
35
inseminação de animais não prenhes a IATF no segundo e/ou mais serviços
(OUROFINO, 2011).
O Médico Veterinário tem como função imprescindível a avaliação do
rebanho, principalmente detectando vacas prenhes, pois caso o protocolo seja
utilizado a mesma abortará (ERENO et al., 2007). Existem diferentes protocolos
de IATF no mercado, a maioria, diferindo apenas quantidade de usos, número
de manejo as ser feito com animais submetidos ao mesmo, e nome comercial
dos produtos. É de responsabilidade do técnico decidir qual o melhor protocolo
a ser usado no rebanho (SILVEIRA, 2010).
FIGURA 9. REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DO PROTOCOLO OVSYNCH
O protocolo Ovsynch (Figura 9) é baseado na combinação de dois
hormônios em tempos pré-determinados e com três objetivos diferentes pré-
definidos. A primeira dose de GnRH tem como foco conseguir a ovulação do
folículo dominante (presente em aproximadamente 70% dos casos) e
surgimento de uma nova onda folicular de 36 a 48 horas depois (caso a
primeira administração coincidir com os três primeiros dias de uma onda
folicular espontânea, não ocorre ovulação e a onda folicular segue
normalmente com seleção de um folículo dominante nos 7 dias subsequentes)
a administração de PGF2α 7 dias depois, tem como finalidade induzir a
luteólise, permitindo crescimento e maturação do folículo dominante. Depois de
48 horas é feito a segunda dose de GnRH com o objetivo de ocorrer um pico
de LH resultando na ovulação do folículo dominante cerca de 28 horas após a
administração do mesmo. A IATF é recomendada entre 16 a 20 horas após a
administração da segunda dose do GnRH (PURSLEY et al., 1995).
Não foram encontradas grandes diferenças na taxa de gestação (TG)
entre os animais tratados com o Ovsynch e as vacas inseminadas pós
36
detecção de cio natural 38,9 % e 37,8 % respectivamente (PURSLEY et al.,
1997). Segundo RABIEE et al. (2005) a mesma conclusão foi obtida, através de
uma análise de 53 artigos publicados para avaliar a eficiência do Ovsynch na
reprodução de vacas leiteiras. Ambos resultados reforçaram a possibilidade da
IATF sem a detecção do cio, recorrendo ao protocolo Ovsynch.
Diversos estudos tem mostrado uma relação entre concentração
circulante de P4 e fertilidade, sendo assim, necessário manter altas
concentrações de P4 circulante antes da IA para maximizar a fertilidade nas
vacas leiteiras (INSKEEP, 2004). Considerando que vacas com altas
produções apresentam baixas concentrações de P4 (PURSLEY e MARTINS,
2011), a utilização de implantes intravaginais sugere uma forma prática e
simples de suplementação do hormônio. Apesar de este implante ser capaz de
provocar vaginite, corrimento purulento em 5 % a 8 % das vacas tratadas, não
existe evidência que esta reação possua impacto negativo na fertilidade
(VILLARROEL et al., 2004).
A suplementação de P4 durante o protocolo Ovsynch (Ovsynch + CIDR)
resulta na melhoria da TG comparando-se ao Ovsynch clássico, quando existe
um número de vacas não cíclicas ou em animais com baixos níveis de P4
circulante (EL-ZARKOUNY et al., 2004).
37
7 DISCUSSÃO
Durante o estágio em Witmarsum o protocolo uti l izado foi
semelhante ao Ovsynch + CIDR, com excessão, que aqui no Brasil
é permitido o uso de estrógenos onde na Europa e Estados Unidos
onde foi desenvolvido o protocolo Ovsynch não é. O protocolo
util izado foi o seguinte:
D0 – Aplicação intravaginal do CIDR + benzoato de estradiol +
GnRH.
D7 – 5 mL de Lutalyse®.
D9 – 5 mL de Lutalyse® + 0,5 mL de Cipionato de Estradiol e retirada do
implante.
D11 – Inseminação.
As taxas de gestação discutidas com os profissionais da cooperativa,
variam entre 30 % a 35 % e são muito inferiores se comparados aos animais
de corte. Essas taxas baixas podem ser explicadas pois as vacas leiteiras
estão diariamente expostas a desafios maiores, com maiores necessidades
energéticas para lactação. Durante o período de estágio não foi possível
acompanhar os resultados da IATF feito nas propriedades, embora em
conversa com os Médicos Veterinários, este protocolo é o que mais possui
efetividade em vacas de alta produção.
A IATF sem dúvida é uma ferramenta muito eficaz por aumentar a taxa
de serviço, diminuição de funcionários, sincronização de nascimentos. Embora
no gado de leite esta técnica esteja sendo aprimorada e está distante dos
resultados extraordinários como no gado de corte, proporcionando grandes
vantagens aos produtores.
38
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