UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ ELAINE CRISTINA...

35
1 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ ELAINE CRISTINA WEISS BINDI ESTUDO COMPARATIVO SOBRE OS EFEITOS DO ZUMBIDO EM POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS DE TRONCO ENCEFÁLICO CURITIBA 2012

Transcript of UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ ELAINE CRISTINA...

1

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

ELAINE CRISTINA WEISS BINDI

ESTUDO COMPARATIVO SOBRE OS EFEITOS DO ZUMBIDO EM POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS DE TRONCO ENCEFÁLICO

CURITIBA 2012

2

ELAINE CRISTINA WEISS BINDI

ESTUDO COMPARATIVO SOBRE OS EFEITOS DO ZUMBIDO EM POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS DE TRONCO ENCEFÁLICO

Monografia apresentada à Faculdade Tuiuti do Paraná como requisito parcial para obtenção do título de especialização em audiologia clínica com enfoque ocupacional.

Orientadora: Profª. Denise Maria Vaz Romano França

CURITIBA 2012

3

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 112 JUSTIFICATIVA................................................................................................. 123 OBJETIVOS......................................................................................................... 123.1 OBJETIVO GERAL........................................................................................... 123.2 OBJETIVO ESPECIFICOS................................................................................ 134 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................................... 134.1 ZUMBIDO.......................................................................................................... 134.2 PEATE................................................................................................................ 164.3 ZUMBIDO E PEATE......................................................................................... 185 MATERIAL E MÉTODOS................................................................................. 195.1 CASUÍSTICA..................................................................................................... 195.2 MATERIAIS....................................................................................................... 205.3 PROCEDIMENTOS........................................................................................... 205.4 CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DOS RESULTADOS............................. 225.5 MÉTODO ESTATÍSTICO................................................................................. 236 RESULTADOS..................................................................................................... 237 DISCUSSÃO......................................................................................................... 278 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 289 ANEXO................................................................................................................. 3010 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 32

4

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS DO PEATE (GC)........................

25

TABELA 2 – ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS DO PEATE (GP)........................

26

TABELA 3 – COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS DOS (GC) E (GP) ATRAVÉS DO TESTE t DE STUDENT..........................................

26

5

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – RESULTADOS OBTIDOS EM RELAÇÃO À SEVERIDADE DO ZUMBIDO (GP).........................................................................

24

GRÁFICO 2 – RESULTADOS OBTIDOS EM RELAÇÃO À LOCALIZAÇÃO DO ZUMBIDO (GP).........................................................................

24 GRÁFICO 3 – ASSOCIAÇÃO DO LADO DA ALTERAÇÃO NO PEATE E NORMAL (GP – N=20)...................................................................

27

6

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – PADRÃO DE NORMALIDADE DOS VALORES DE LATENCIA E INTERPICOS DO PEATE, “Neuro.audio-Neurosoft” (DP: 0,2)....

22

7

LISTA DE ABREVIATURAS

et. al.

e outros

dB

decibel

dB NA

decibel Nível de audição

Khz

kilo Hertz

Kohms

kilo Ohms

Ms

milissigundo

N

tamanho da amostra

8

LISTA DE SIGLAS ATA

American Tinnitus Association

ANSI

American National Standards

PEA

Potencial Evocado Auditivo

PEATE

Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico

CCE

Células Ciliadas Externas

IRPF

Índice Percentual de Reconhecimento de Fala

LRF

Limiar de Reconhecimento de Fala

SNC

Sistema Nervoso Central

SNAC

Sistema Nervoso Auditivo Central

OD

Orelha Direita

OE

Orelha Esquerda

9

RESUMO

INTRODUÇÃO: O zumbido é a percepção de um som que é gerado na ausência de

um estímulo acústico externo. Afeta aproximadamente 15% da população mundial, e

esta prevalência aumenta para 33% entre os indivíduos com mais de 60 anos de idade.

O zumbido pode ser o primeiro indício de uma série de doenças que comprometem a

saúde e o bem-estar do indivíduo. Na tentativa de elucidar alguns aspectos

relacionados ao zumbido, levantou-se a hipótese de alteração em vias auditivas

centrais em pacientes normo-ouvintes. Diante disso, os potenciais evocados auditivos

podem representar uma alternativa para detectar possíveis alterações auditivas centrais

que possam estar presentes nesta população e que indiquem o provável sitio gerador

desse sintoma. OBJETIVO: Analisar os achados da avaliação eletrofisiológica do

nervo auditivo, através do PEATE, em pacientes normo-ouvintes, com queixa de

zumbido. MÉTODO: Foram avaliados 40 indivíduos, tanto do gênero masculino

quanto do gênero feminino, na faixa etária entre 20 e 56 anos, sendo 20 com zumbido

(grupo pesquisa) e 20 sem zumbido (grupo controle). RESULTADOS: Através do

teste t de Student, ao nível de significância de 0,05 (5%), verificou-se a existência de

diferença significativa para os seguintes casos: OD: Onda V e Interpicos III-V e I-V,

OE: Interpicos III-V e I-V, sendo que em todos esses casos o valor médio foi

significativamente maior para o Grupo Pesquisa. CONCLUSÃO: Frente os resultados

obtidos pôde-se concluir que os individuos normo-ouvintes com queixa de zumbido

podem apresentar alteração no potencial auditivo de tronco encefálico, não sendo a

maioria, como mostra o estudo.

10

ABSTRACT Tinnitus is the sound perception which is generated in the absence of na external

acoustic stimulation. It inflicts in almost 15% of word population and it increases to 33

% among the 60 years old individuals. The tinnitus can be the first sing of illness that

compromises the individual health and welfare. In an attempt to solve some aspects

directly involved to tinnitus, it raises the hypothesis of modification in central

conductive auditory in normal listeners. Therefore, the auditory potential evoked can

represent an alternative to detect possible existing central hearing modifications that

might be present in this population and could indicate the symptom main cause. To

analyses the findings of the auditory nerve electrophysiological evaluation through

PEATE in normal listener’s patients with tinnitus complaint. Analyzed 40 individuals

of male and female gender between 20 to 56 years old, having 20 tinnitus (research

group) and 20 without tinnitus (control group). Through Student “t” test at the 0,05

significance level (5%)m it was verified the significant difference to the following

cases: RE (right ear) wave V and between peaks III-V and I-V, LE (left ear) between

peaks III-V and I-V, being on all of those the higher values on research group. Due to

obtained results it can be concluded that the normal listener individuals whit tinnitus

complaints might present modification on brainstem potential auditory, not being the

most as the study shows.

11

1. INTRODUÇÃO:

O zumbido é um sintoma que pode ser causado por inúmeras afecções

otológicas, metabólicas, neurológicas, cardiovasculares, farmacológicas, odontológicas

e psicológicas que, por sua vez, podem estar presentes concomitantemente no mesmo

indivíduo (Sanchez, 2002). Apesar dos recentes avanços na literatura específica, a sua

fisiopatologia ainda não foi completamente elucidada, o que compromete o avanço do

seu tratamento (Sanchez, 2005).

Freqüentemente a presença do zumbido torna-se um fator de grande repercussão

negativa na vida do indivíduo, dificultando o sono, a concentração nas atividades

diárias e profissionais, assim como a vida social. Muitas vezes altera o equilíbrio

emocional do paciente, desencadeando ou agravando estados de ansiedade e depressão

(Dobie, 2003).

Esse problema vem afetando milhões de pessoas em todo o mundo, assumindo

dimensões assustadoras. Sua incidência mostra um crescimento em ritmo alarmante,

atingindo a população em geral, sem distinção de idade, gênero e etnia (Santos Filha,

2009).

Segundo Santos Filha (2009), a literatura especializada, demonstra que,

alterações nos testes auditivos centrais e anormalidades eletrofisiológicas no Potencial

Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (PEATE), podem ser encontradas em

indivíduos com queixa de zumbido.

Os Potenciais Evocados Auditivos (PEA) têm como objetivo avaliar a atividade

neuroelétrica na via auditiva desde o nervo auditivo até o córtex cerebral (Matas, et.al.,

2011).

Segundo Magliaro (2009), os Potenciais Evocados têm sido muito utilizados em

Neurociência como uma ferramenta útil para diagnósticos funcionais, sendo que

aumento nas latências ou a diminuição nas amplitudes das respostas são evidências

objetivas de problemas clínicos e sub-clinicos.

12

2. JUSTIFICATIVA:

O tema zumbido tem sido objeto de vários estudos de vários pesquisadores, de

várias áreas da ciência, e como tratar este paciente tem se mostrado um verdadeiro

desafio (Schochat, 2004).

Por se tratar de um sintoma que pode apresentar grande repercussão na vida do

individuo, toda e qualquer contribuição cientifica nessa área passa a ser importante

(Sanchez et. al., 2004).

Em cerca de 80% dos casos, o zumbido é leve e intermitente, não trazendo

maiores conseqüências a vida do individuo, nem mesmo levando-o a procurar ajuda

medica.

Entretanto, quando o zumbido se manifesta de maneira importante, pode

prejudicar sobremaneira a qualidade de vida do paciente, afetando seu sono, sua

concentração, seu equilíbrio emocional e até sua atividade social, incapacitando-o a

realizar suas atividades normais. São esses os pacientes que procuram à ajuda médica.

Portanto, esse é um dos motivos para que o zumbido mereça especial atenção por parte

dos profissionais envolvidos (Sanchez et. al., 2004).

Como a avaliação do zumbido é muito subjetiva surgiu o questionamento que

suscitou a pesquisa: os pacientes atendidos, em uma clínica particular em Curitiba, que

são ouvintes normais com zumbido, apresentam alguma alteração na avaliação dos

potenciais evocados auditivos de tronco encefálico (PEATE)?

3. OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

• Analisar os achados da avaliação eletrofisiológica do nervo auditivo, através do

PEATE, em pacientes normo-ouvintes, com queixa de zumbido.

13

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Comparar as latências absolutas das ondas I, III e V entre o grupo pesquisa e o

grupo controle.

• Comparar as latências dos intervalos interpicos I-III, III-V e I-V entre o grupo

pesquisa e o grupo controle.

4. REVISÃO DA LITERATURA:

4.1 ZUMBIDO

O zumbido é a percepção de um som que é gerado na ausência de um estímulo

acústico externo (Bauer, 2004). Afeta aproximadamente 15% da população mundial

(Pinto, 2010) e esta prevalência aumenta para 33% entre os indivíduos com mais de 60

anos de idade (Sanchez, 2010). O zumbido pode ser o primeiro indício de uma série de

doenças que comprometem a saúde e o bem-estar do indivíduo (Takeuti et al., 1992).

Knobel e Almeida (2001) definem o zumbido como um fenômeno muitas vezes

referido como chiado, apito, barulho de chuveiro, de cachoeira, de cigarra, do escape

da panela de pressão, de campainha, do esvoaçar de inseto, de pulsação do coração,

batimento de asa de borboleta etc, apresentando-se de forma contínua ou intermitente,

constante, mono ou politonal.

Segundo Jastreboff e Jastreboff (2001) o zumbido é uma “percepção auditiva

ilusória” e sofrimento mental, percebido unicamente pelo paciente, e difícil de ser

mensurado.

De acordo com American Tinnitus Association (ATA) de 1997, o zumbido é

definido como uma experiência subjetiva na qual alguém escuta um som quando

nenhum som externo está presente. Este sintoma, também denominado acúfeno ou

tinnitus, varia de pessoa para pessoa, podendo ou não estar associado a alterações

auditivas, além de mudar de intensidade e qualidade, desde o som agudo, como o de

um sino, até um grave, como um motor.

14

A maioria das pessoas convive muito bem com o zumbido, outras, entretanto,

não possuem essa habilidade e o sentem de forma extremamente desconfortável. A

queixa de zumbido pode aparecer em indivíduos cujos resultados audiométricos ainda

se encontram dentro dos limites de normalidade (Carraro, 2005).

O sintoma do zumbido pode interferir de diferentes formas na vida do paciente,

variando desde uma leve irritação até uma completa incapacidade (Fukuda et al.,

1990).

Geralmente, o zumbido não dura mais que alguns segundos. Porém, existem

pessoas que ouvem esse barulho permanentemente, ficando mais evidente quando o

ambiente está silencioso (Hazell, 1995).

Alguns estudos foram realizados e Sanchez et al. (1997) fizeram um

levantamento clínico ao estudarem 150 pacientes com zumbido. Observaram que

ocorria maior prevalência em mulheres (60%) e maior incidência na faixa etária

compreendida entre 40-60 anos. Neste grupo, constaram que a maioria era da raça

branca (79,3%), com zumbido de intensidade moderada e severa e com grande

interferência na qualidade de vida do paciente.

Zimmermann (1998) estudou a prevalência de zumbido em 200 indivíduos do

sexo masculino expostos a ruído, encontrando a queixa espontânea do sintoma em

15,5% da população.

Segundo uma pesquisa realizada pela Publish Health Agency of América em

1984, cerca de 36 milhões de adultos norte-americanos apresentam alguma forma de

zumbido. Destes, aproximadamente 7,2 milhões tem zumbido na sua forma severa

(Sanchez e Ferrari, 2004).

Apesar da extensa investigação a avanços científicos, o zumbido é ainda uma

incógnita e permanece sendo um dos desafios da Audiologia. Vários estudos já

tentaram investigar os fatores determinantes desse incomodo, mas nem sempre a

etiologia pode ser determinada com precisão, sendo por isso classificado como

idiopático.

15

Segundo Nodar (1996), o zumbido já aparecia em achados escritos desde a

antiga civilização egípcia. Mesmo presente na vida das pessoas há quase cinco mil

anos, esta queixa continua obscura em muitos de seus aspectos, como, por exemplo, no

que diz respeito à sua origem e produção.

Para Moller et el., (1992), a falta de conhecimento a respeito da fisiopatologia

do zumbido levou ao desenvolvimento de inúmeras teorias que tentam explicar a

origem desse sintoma. Sabe-se que há possibilidade de envolvimento de mais de um

mecanismo em um mesmo indivíduo.

De acordo com Bauer (2004) teorias de fisiopatologia do zumbido podem ser

divididas em três tipos: teorias que enfatizam a atividade neuronal periférica alterada,

teorias que enfocam a origem neural central e teorias que consideram a disfunção

central como decorrentes de uma anormalidade periférica. Isso demonstra

provavelmente que existe mais de um mecanismo fisiológico envolvido na geração do

zumbido.

Hazell e Jastreboff (1990) acreditam que uma disfunção do sistema eferente

provoque perda de modulação das células ciliadas externas (CCE), gerando uma

atividade anormal nas vias aferentes que poderia ser erroneamente interpretada como

som.

Os autores sugeriram um modelo de origem periférica do zumbido, que sugere

que o mesmo poderia ocorrer a partir do efeito de hiperatividade das células ciliadas

externas próximas à região coclear danificada. A hipótese é a de que uma área de

disfunção de CCE resultaria na redução da atividade eferente nesta região de

freqüência especifica.

Chéry-Croze et el., (1993) hipotetizaram que, possivelmente, exista uma

desinibição da via eferente em algumas células externas e/ou internas, devido a um

dano coclear, o que poderia resultar em uma movimentação alterada da membrana

basilar e um conseqüente aumento da atividade basal das células ciliadas interna, que

não foram acometidas pela lesão. Esta atividade poderia ser potencializada pelos

centros auditivos superiores, o que daria inicio, então, à percepção o zumbido.

16

Segundo Jastreboff (1992), o zumbido central, originado na via auditiva central,

pode ocorrer sem a presença de um estímulo acústico e sem uma obvia ou provável

origem periférica. Além disso, para um zumbido que é gerado perifericamente pode

existir uma contribuição de mecanismos auditivos centrais que atuam para aumentar a

percepção do zumbido.

Fukuda (1998) afirmou que o zumbido é decorrente da transmissão anômala da

energia sonora desde os cílios das células sensoriais da cóclea até a despolarização dos

neurônios auditivos do córtex cerebral, devido provavelmente a uma alteração na

produção e liberação de neurotransmissores. Quaisquer alterações morfológicas ou

funcionais das estruturas ao longo desse trajeto podem resultar em impulsos elétricos

anormais. Essa neurotransmissão anômala pode ocorrer também no gânglio espiral, no

axônio ou em qualquer segmento das múltiplas estruturas auditivas no sistema nervoso

central.

Para Moller (2000), o zumbido poderia ser causado por disfunções neurais

(hiperatividade das vias periféricas ou centrais). As disfunções periféricas encontrar-

se-iam nos locais anatômicos dos sintomas, enquanto que as disfunções centrais

estariam relacionadas a modificações na função das partes especificas do sistema

nervoso central (SNC), situadas em locais diferentes de onde o zumbido seria

percebido originalmente.

O esclarecimento sobre os mecanismos envolvidos na produção do zumbido é

necessário e fundamental para que as medidas eficazes possam ser propostas, com o

objetivo de alívio permanente desse sintoma (Samelli, 2004).

4.2 POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE TRONCO ENCEFÁLICO - PEATE

Os Potenciais Evocados Auditivos (PEA) são procedimentos eletrofisiológicos,

utilizados para avaliar o sistema nervoso auditivo central (SNAC), desde o nervo

auditivo até o córtex cerebral, por meio de mudanças elétricas na via auditiva

decorrente de uma estimulação sonora (Costa et el., Momensohn-Santos, 2005).

17

Os Potenciais Evocados Auditivos de Tronco Encefálico (PEATE) assumiram

uma grande importância na prática da Audiologia ao avaliar a integridade da via

auditiva do tronco encefálico e mensurar o limiar de audibilidade de individuo por

meio das respostas eletrofisiológicas neurais. Além disso, o fato destes potenciais

poderem ser captados de forma objetiva e não invasiva torna ainda maior a aplicação

clínica deste procedimento (Lima, 1998).

As respostas auditivas no tronco encefálico (PEATE) são registradas em forma

de ondas, e observadas nos primeiros 10 milissegundos (ms) após a apresentação do

estímulo acústico, por meio de um par de fones, permitindo a avaliação da integridade

da via auditiva, originando-se desde o nervo acústico até as vias auditivas do tronco

encefálico (Durrant e Ferraro, 2001).

As respostas desse potencial são registradas por meio de eletrodos (ativo,

referencia e terra) que são posicionados sobre a fronte ou vértex, sobre a mastóide ou

lóbulo ipsilateral e sobre a mastóide ou lóbulo contralateral, respectivamente, e

constitui uma série de sete ondas, sendo as cinco primeiras mais fáceis de serem

visualizadas (Josey, 1999).

Moller et al., (1981) associam a nomenclatura as estruturas anatômicas

responsáveis pelas referidas ondas: onda I – porção distal ao tronco encefálico do

nervo auditivo; onda II – porção proximal ao tronco encefálico do nervo auditivo;

onda III – núcleo coclear; onda IV – complexo olivar superior; onda V – lemnisco

lateral, com contribuição do colículo inferior; onda VI – colículo inferior e onda VII –

corpo geniculado medial.

A medida do PEATE é um procedimento muito utilizado para diagnostico dos

déficits auditivos periféricos e disfunções neurológicas. Os critérios mais utilizados

para a interpretação do PEATE baseiam-se nos tempos de latências absolutas de cada

onda I, III e V e, no intervalo de ocorrência entre elas (latências interpicos I-III, III-V e

I-V), (Schochat et. al., 2004).

A análise do traçado baseia-se na morfologia, nas latências absolutas e nas

amplitudes das ondas, na relação latência/amplitude, nos interpicos, na comparação

binaural e no limiar de resposta, correspondente à menor intensidade na qual a onda V

encontra-se presente. A reprodutibilidade do traçado também é um fator preponderante

18

para se considerar a existência ou não de respostas. Apenas as configurações de ondas

reproduzidas podem ser consideradas como respostas do tronco encefálico (Matas,

2003).

4.3 ZUMBIDO E PEATE

Vários autores utilizam como medida o PEATE para avaliação das vias

auditivas centrais, e também, em indivíduos com queixa de zumbido.

Sanchez (1997) realizou um estudo com indivíduos com zumbido (com e sem

limiares auditivos tonais dentro da normalidade, respectivamente grupos Z1 e Z2),

comparados a um grupo controle sem zumbido (com ou sem limiares auditivos tonais

dentro da normalidade, respectivamente grupos C1 e C2). Foi observado um aumento

significante das latências das ondas I e III nos indivíduos do grupo Z1. A autora

concluiu que estes resultados concordavam com outros achados pregressos, sugerindo

uma associação entre alterações do PEATE e fisiopatologia do zumbido.

Samelli e Schochat (2001) avaliaram 30 indivíduos com zumbido e 30

indivíduos sem zumbido. Os resultados mostraram um aumento das latências e

redução das amplitudes para o grupo zumbido ao comparar com o grupo controle. As

autoras levantaram a hipótese de que existiria uma possível alteração na atividade do

tronco encefálico evidenciada por esses resultados obtidos.

Lemaire e Beutler (1995) estudaram o PEATE de 355 indivíduos com queixa de

zumbido uni ou bilateral, com o objetivo de avaliar o efeito do zumbido no SNAC. Os

autores subdividiram o grupo de acordo com o lado da queixa do zumbido e a simetria

da perda auditiva, comparando as amplitudes das ondas I, III e V e as latências

absolutas e interpicos com um grupo controle de 129 pacientes com audição normal.

Na tentativa de eliminar o efeito da perda auditiva maior do lado acometido

pelo sintoma, os autores procuraram selecionar pacientes com perda auditiva simétrica

e compara-los com o grupo controle. Os resultados mostraram que o zumbido esteve

sempre associado a um aumento significante da latência absoluta da onda I e interpico

I-V, no lado acometido pelo zumbido, com uma redução significante na amplitude das

ondas I e III e, às vezes, da onda V, no grupo com zumbido.

19

Attias et al., (1996) estudaram o PEATE em 13 (21 orelhas) pacientes crônicos

com zumbido causado por perda auditiva induzida por ruído e 11 (21 orelhas) com

audição normal sem zumbido pareado por idade. Os autores observaram um aumento

na amplitude da onda III nos pacientes com zumbido, sendo que este resultado não foi

confirmado por nenhuma outra medida do PEATE, não havendo distinção entre os

grupos.

Os autores concluíram que mais estudos envolvendo os potenciais em

indivíduos com zumbido devem ser realizados.

5. MATERIAL E MÉTODO

A presente pesquisa consiste em um estudo do tipo transversal com uma

abordagem quantitativa.

Foi realizada com a participação de 40 indivíduos, tanto do gênero masculino

como do gênero feminino, na faixa etária entre 20 e 60 anos, sendo 20 com zumbido

(grupo pesquisa) e 20 sem zumbido (grupo controle).

5.1 Casuística

Critérios de Inclusão

Os critérios de inclusão adotados nesta pesquisa foram:

GRUPO PESQUISA (GP):

- Indivíduos com faixa etária entre 20 e 60 anos;

- Zumbido constante, uni ou bilateral, há mais de 03 meses;

- Limiares auditivos dentro do padrão da normalidade, ou seja, menores ou

iguais à 25dBNA em todas as freqüências (0,25KHz à 8KHz ) em ambas as orelhas;

- Timpanometria curva do tipo “A” normal com presença de reflexo acústico

contra e ipsilateral nas freqüências de (0,5KHz, 1KHz, 2KHz e 4KHz) bilateral.

- Otoscopia: normal bilateral;

20

GRUPO CONTROLE (GC):

- Indivíduos com faixa etária entre 20 e 60 anos;

- Ausência de zumbido bilateral;

- Limiares auditivos dentro do padrão da normalidade, ou seja, menores ou

iguais à 25dBNA em todas as freqüências (0,25KHz à 8KHz ) em ambas as orelhas;

- Timpanometria curva do tipo “A” normal com presença de reflexo acústico

contra e ipsilateral nas freqüências de (0,5KHz, 1KHz, 2KHz e 4KHz) bilateral;

- Meatoscopia: normal bilateral;

5.2 Materiais

O material do presente estudo constou dos resultados das avaliações

comportamentais, eletroacústicas, e eletrofisiológicas da audição, obtidos nos dois

grupos estudados.

Os materiais e equipamentos utilizados para realização das avaliações serão

descritos a seguir:

- Otoscópio da marca TK;

- Audiômetro modelo AVS 500, marca Vibrasom, fones de ouvido supra aurais

modelo TDH-39 atendendo os padrões;

- Cabine acústica atendendo à norma de quantidade de ruído ambiental.

- Equipamento de eletrofisiologia da audição sistema portátil Neuro.audio -

marca Neurosoft, com software inserido no computador. Este equipamento consiste de

um computador portátil, um gerador de estímulos acústicos, um “mediador” (caixa na

qual são conectados os eletrodos), quatro eletrodos de superfície (cobre), e fones de

ouvido supra aurais modelo TDH-39.

- Pasta abrasiva e pasta eletrolítica;

- Fita microporosa.

5.3 Procedimentos

Os esclarecimentos em relação aos procedimentos foram realizados,

verbalmente, pela pesquisadora e por meio de termo de consentimento livre e

esclarecido.

21

Os mesmos foram informados de que os procedimentos fazem parte da rotina

básica de exames de audição, são de fácil realização, não são considerados

procedimentos invasivos, não apresentam riscos à saúde, e que os resultados deste

seriam utilizados para tal pesquisa.

Serão descritos, a seguir, os procedimentos realizados na ordem em que foram

executados:

- Otoscopia: procedimento realizado por meio de um otoscópio, para verificar

se há algum impedimento para realização do teste, por exemplo, obstrução completa

do conduto auditivo externo, por cerúmen, ou qualquer outro elemento. Na

meatoscopia o que se busca é investigar o meato e observar se a membrana timpânica

está visível ou não, pois se ela não estiver visível os outros exames não poderão ser

realizados. Não é um procedimento que cause desconforto.

- Imitanciometria: realizada por meio da timpanometria e pesquisa dos

reflexos acústicos, nas freqüências de 500 à 4Khz. Cada individuo foi orientado a

permanecer quieto, sem movimentar a cabeça e sem falar.

- Audiometria Tonal: realizada nas freqüências de 250 à 8Khz. O individuo

foi orientado a levantar a mão, sempre que escutasse o estímulo acústico, mesmo

quando estivesse bem baixo. O exame foi realizado com fones de ouvido supra-aurais

em cabine acústica.

- Logoaudiometria: foi pesquisado o Limiar de Reconhecimento da fala (LRF)

e o Índice Percentual de Reconhecimento da Fala (IPRF), com lista de vocábulos. O

indivíduo foi orientado a repetir as palavras ditas pela pesquisadora da maneira que

entendesse. O mesmo foi realizado com fones supra-aurais em cabine acústica.

- Avaliação Eletrofisiológica da Audição: os Potenciais Evocados Auditivos

foram realizados com o individuo deitado em uma maca, dentro de uma sala tratada

acústica e eletricamente. A superfície da pele foi limpa com pasta abrasiva, sendo em

seguida fixados os eletrodos por meio de pasta eletrolítica, a fim de melhorar a

condutividade elétrica, além de esparadrapo do tipo microporoso. Os estímulos

acústicos foram apresentados por meio de fone de ouvido supra-aural. Os valores de

impedância dos eletrodos foram verificados, devendo situar-se abaixo de 5 Kohms.

Para realização deste potencial foi utilizado o estimulo clique com polaridade rarefeita,

22

à 90dBNA, empregando um total de 2000 estímulos. Foram gravados dois registros

para cada lado, verificando assim, a reprodutibilidade dos traçados e confirmando a

existência de respostas.

5.4 Critérios de classificação dos resultados

Os resultados das avaliações comportamentais e eletroacústicas foram

classificados como normal, uma vez que estes já são critérios de inclusão. Os

resultados eletrofisiológicos foram classificados como normal (GC) e alterado, para

cada individuo. O individuo foi considerado alterado quando pelo menos uma das

orelhas, ou um dos lados, apresentava alteração (GP).

Sendo assim, para os resultados do PEATE foram analisados os valores de

latências absolutas das ondas I, III e V, e interpicos I-III, III-V e I-V. Os mesmos

foram classificados como normal e alterado quando apresentaram:

NORMAL: Foram utilizados como padrão de normalidade os valores propostos

pelo manual do aparelho (Neuro.audio-Neurosoft).

QUADRO 1 – PADRÃO DA NORMALIDADE DOS VALORES DE LATÊNCIA E INTERPICOS DO PEATE, PROPOSTO PELO “NEURO.AUDIO-NEUROSOFT”.(DESVIO PADRÃO DE 0,2).

ONDA

I

ONDA

III

ONDA

V

Interpico

I-III

Interpico

III-V

Interpico

I-V

1,4 a 1,8

3,8

5,8

2,00

2,00

4,00

ALTERADO: Os resultados que não preencheram os critérios descritos

anteriormente foram considerados alterados.

23

5.5 Método estatístico

Para este estudo, foi realizado a analise dos dados quantitativos as quais foram

realizadas por meio da comparação dos resultados das avaliações eletrofisiológicas

entre os grupos e para o mesmo grupo.

Para a analise estatística foi utilizado o teste t de Student, ao nível de

significância de 0,05 (5%), sendo que todos os intervalos de confiança foram

construídos com 95% de confiança estatística.

6. RESULTADOS

Neste capitulo serão apresentados os resultados obtidos nas avaliações

comportamentais, eletroacústicas e eletrofisiológicas da audição de 40 indivíduos.

O grupo controle (GC) foi formado por 20 indivíduos sendo 06 homens (30%) e

14 mulheres (70%). O grupo pesquisa (GP) foi formado por 20 indivíduos sendo 09

homens (45%) e 11 mulheres (55%). A idade dos indivíduos do grupo controle variou

entre os 20 e 56 anos e o grupo pesquisa entre 25 e 56 anos, tendo uma média para o

grupo controle de 30,4 e para o grupo pesquisa de 43,35 anos.

A pesquisa foi inicialmente realizada a partir da anamnese e meatoscopia,

seguido da Audiometria Tonal/Vocal, Impedanciometria e PEATE.

Como critérios de inclusão para realização da pesquisa, o grupo controle e

grupo pesquisa apresentaram Meatoscopia, Audiometria e Impedanciometria 100%

normal.

Na anamnese algumas questões sobre o zumbido foram levantadas, a seguir

serão apresentados os resultados obtidos em relação à localização do zumbido nos

indivíduos do grupo pesquisa.

Os dados foram avaliados quanto à lateralidade para orelha direita, orelha

esquerda ou ambas as orelhas, bem como avaliados quanto ao grau de severidade do

zumbido: leve, moderado ou severo (Gráfico 1).

24

Severidade do Zumbido

10%

75%

15%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Leve Moderado Severo

Gráfico 1 – Resultados obtidos em relação à severidade do zumbido (GP)

Localização do Zumbido

10%

20%

70%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Orelha Direita Orelha Esquerda Bilateral

Gráfico 2 – Resultados obtidos em relação à localização do zumbido nos indivíduos do grupo pesquisa. Os dados foram avaliados em relação à lateralidade para orelha direita, orelha esquerda, ou bilateralmente.

No Gráfico 1, verificou-se que dos indivíduos com queixa de zumbido, 75%

apresentaram o grau de severidade moderado.

Quanto à localização do zumbido, verificou-se que 70% dos indivíduos

apresentaram queixa bilateral (Gráfico 2).

25

• Análise Quantitativa dos resultados obtidos pelo PEATE

Os resultados do PEATE foram classificados de acordo com os critérios

recomendados pelo manual do aparelho (Neuro.audio-Neurosoft).

QUADRO 1 – PADRÃO DA NORMALIDADE DOS VALORES DE LATÊNCIA E INTERPICOS DO PEATE, PROPOSTO PELO “NEURO.AUDIO-NEUROSOFT”. DESVIO PADRÃO DE 0,2).

ONDA

I

ONDA

III

ONDA

V

Interpico

I-III

Interpico

III-V

Interpico

I-V

1,4 a 1,8

3,8

5,8

2,00

2,00

4,00

Sendo assim, os resultados das médias dos valores absolutos de latência das

ondas I, III e V para cada orelha e valores interpicos I-III, III-V e I-V do grupo

pesquisa será apresentado a seguir comparado aos resultados do grupo controle.

Tabela 1 – ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS DO POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE TRONCO ENCEFÁLICO – GRUPO CONTROLE (GC)

VARIÁVEL N MÉDIA MÍNIMA MÁXIMA DESVIO PADRÃO

OD I 20 1,59 1,42 1,78 0,10 OD III 20 3,58 3,40 3,80 0,10 OD V 20 5,59 5,42 5,78 0,10 OD I-III 20 2,00 1,98 2,02 0,02 OD III-V 20 2,00 1,98 2,02 0,01 OD I-V 20 4,00 3,98 4,02 0,01 OE I 20 1,59 1,40 1,76 0,10 OE III 20 3,59 3,42 3,78 0,10 OE V 20 5,58 5,40 5,76 0,10 OE I-III 20 2,00 1,98 2,02 0,02 OE III-V 20 2,00 1,98 2,02 0,01 OE I-V 20 4,00 3,98 4,02 0,02

26

Tabela 2 – Estatísticas descritivas do potencial evocado auditivo de tronco encefálico - Grupo Pesquisa (GP)

VARIÁVEL n MÉDIA MÍNIMA MÁXIMA DESVIO PADRÃO

OD I 20 1,59 1,42 1,78 0,10 OD III 20 3,58 3,40 3,80 0,10 OD V 20 5,72 5,42 6,13 0,22 OD I-III 20 2,00 1,98 2,02 0,02 OD III-V 20 2,13 1,98 2,45 0,19 OD I-V 20 4,13 3,98 4,46 0,19 OE I 20 1,59 1,40 1,76 0,10 OE III 20 3,59 3,42 3,78 0,10 OE V 20 5,67 5,40 6,10 0,20 OE I-III 20 2,00 1,98 2,02 0,02 OE III-V 20 2,09 1,98 2,48 0,17 OE I-V 20 4,09 3,98 4,50 0,17 Tabela 3 – COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS DOS GRUPOS CONTROLE E PESQUISA, ATRAVÉS DO TESTE T DE STUDENT

GRUPO CONTROLE GRUPO PESQUISA ORELHA E ONDA n Média Desvio

padrão n Média Desvio

padrão

p

OD I 20 1,59 0,10 20 1,59 0,10 1,0000 OD III 20 3,58 0,10 20 3,58 0,10 1,0000 OD V 20 5,59 0,10 20 5,72 0,10 *0,0214 OD I-III 20 2,00 0,02 20 2,00 0,02 1,0000 OD III-V 20 2,00 0,01 20 2,13 0,01 *0,0036 OD I-V 20 4,00 0,01 20 4,13 0,01 *0,0032 OE I 20 1,59 0,10 20 1,59 0,10 1,0000 OE III 20 3,59 0,10 20 3,59 0,10 1,0000 OE V 20 5,58 0,10 20 5,67 0,10 0,0871 OE I-III 20 2,00 0,02 20 2,00 0,02 1,0000 OE III-V 20 2,00 0,01 20 2,09 0,01 *0,0291 OE I-V 20 4,00 0,02 20 4,09 0,02 *0,0299

Através do teste t de Student, ao nível de significância de 0,05 (5%), verifica-se

a existência de diferença significativa para os seguintes casos: OD: Onda V e

Interpicos III-V e I-V, OE: Interpicos III-V e I-V, sendo que em todos esses casos o

valor médio foi significativamente maior para o Grupo Pesquisa.

27

Peate - Grupo Pesquisa

60%

15%

5%

20%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

1

Normal

Direita

Esquerda

Bilateral

Gráfico 3 – Associação do lado da alteração no PEATE com normal no grupo pesquisa (N=20).

Para o grupo controle ocorreu um percentual de 100% de resultado normal,

enquanto que no grupo pesquisa, Gráfico 4, observou-se um percentual de 60% de

resultado normal. Ainda no grupo pesquisa em relação à alteração observou-se 15% à

direita, 5% à esquerda e 20% bilateral.

7. DISCUSSÃO

Diante da análise estatística realizada, os dados foram comparados entre os

grupos pesquisa e controle, com o intuito de analisar os achados da avaliação

eletrofisiológica do nervo auditivo, através do PEATE, em pacientes normo-ouvintes,

com queixa de zumbido.

Quanto à faixa etária pode-se observar uma diferença significante entre os

grupos, sendo que o GP apresentou média de (43,3) e para GC média de (30,4).

Segundo Magliaro (2009), nos estudos de Obert e Cranford (1990), os grupos controle

e pesquisa também apresentavam diferença entre a média de idades (36 anos no GP e

26 anos no GC).

Em relação ao gênero, observou-se que não existiu diferença significante entre

os grupos, visto que o gênero feminino predominou nos dois grupos. Segundo

Magliaro (2009), nos estudos de Obert e Cranford (1990) também foi verificado um

predomínio de individuos do gênero feminino.

28

Após a analise dos dados, verificou-se que dos indivíduos com queixa de

zumbido, 75% apresentaram o grau de severidade moderado, diferente dos estudos de

Seidman e Jacobson, (1996) no qual apresentam 80% dos casos, sendo o zumbido leve

e intermitente. Segundo Bauer (2004), em suas estimativas de estudo os pacientes

apresentam zumbido severo.

Quanto à localização do zumbido, verificou-se que 70% dos indivíduos

apresentaram queixa bilateral (Gráfico 2). Segundo estudos de Stéphane Loiseau,

(2012), Aproximadamente 40 milhões de pessoas nos Estados Unidos sofrem de

zumbido, sendo 25% destes casos zumbido grave e bilateral.

Na análise dos valores obtidos no PEATE, comparando os valores médios das

latências absolutas das ondas I, III e V, e interpicos I-III, III-V e I-V, entre as orelhas

direita e esquerda, observou-se diferenças estatisticamente signifcantes para os

seguintes casos: OD: Onda V e Interpicos III-V e I-V, OE: Intericos III-V e I-V, sendo

que em todos esses casos o valor médio foi significativamente maior para o Grupo

Pesquisa.

Nos estudos de Kadlec e Mendel (1997), pode-se observar que os resultados

foram similares a este estudo, no qual, também encontraram aumento das latências e

interpicos para indivíduos com zumbido e audição normal.

Pode notar-se que a maior parte da população estudada, tanto do grupo pesquisa

quanto do grupo controle, apresentou uma maior ocorrência de resultados normais

frente a investigação, porém não podemos deixar de lado os dados alterados que foram

encontrados no grupo pesquisa, pois estes podem oferecer dados clinicamente

significantes, principalmente quando utilizados em conjunto com os demais potenciais

evocados auditivos.

29

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Frente os resultados obtidos pôde-se concluir que os individuos normo-ouvintes

com queixa de zumbido podem apresentar alteração no potencial auditivo de tronco

encefálico, não sendo a maioria, como mostra o estudo.

As medidas do PEATE mostraram que a maior parte dos individuos com queixa

de zumbido (grupo pesquisa), não apresentaram alterações, porém, observou-se uma

diferença significante para os que apresentaram alterações: OD: Onda V e Interpicos

III-V e I-V, OE: Interpicos III-V e I-V, sendo que em todos esses casos o valor médio

foi significativamente maior para o Grupo Pesquisa.

Essa diferença no nível de significância sugere alteração de Tronco Encefálico

Alto (TEA), ou seja, os valores da latência da onda V e dos interpicos I-V e III-V

encontram-se aumentados na presença de latências absolutas normais para as ondas I e

III.

Um ponto importante observado foi que o Zumbido parece estar constantemente

associado a pequenas, mas relevantes alterações nas medidas eletrofisiológicas

avaliadas.

Pode-se observar a necessidade de novos estudos que possam maximizar a

precisão e a confiabilidade do PEATE, bem como justificar a utilização destes

potenciais auxiliando no acompanhamento do processo terapêutico da habituação do

zumbido.

30

9. ANEXO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado(a) para participar de uma pesquisa. As informações existentes neste documento são para que você entenda perfeitamente os objetivos da pesquisa, e saiba que a sua participação é espontânea. Se durante a leitura deste documento houver alguma dúvida você deve fazer perguntas para que possa entender perfeitamente do que se trata. Após ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias, sendo uma via sua e a outra do pesquisador responsável. 01. Informações sobre a Pesquisa: Título da pesquisa: “ESTUDO COMPARATIVO SOBRE OS EFEITOS DO ZUMBIDO EM POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS DE TRONCO ENCEFÁLICO”. Pesquisador Responsável: Elaine Cristina Weiss Bindi Telefone pra Contato:( 041)-8811-5543

INTRODUÇÃO O zumbido é a percepção de um som que é gerado na ausência de um estímulo

acústico externo. Afeta aproximadamente 15% da população mundial, e esta prevalência aumenta para 33% entre os indivíduos com mais de 60 anos de idade. O zumbido pode ser o primeiro indício de uma série de doenças que comprometem a saúde e o bem-estar do indivíduo. Na tentativa de elucidar alguns aspectos relacionados ao zumbido, levantou-se a hipótese de alteração em vias auditivas centrais em pacientes normo-ouvintes. Diante disso, os potenciais evocados auditivos podem representar uma alternativa para detectar possíveis alterações auditivas centrais que possam estar presentes nesta população e que indiquem o provável sitio gerador desse sintoma.

FINALIDADE DA PESQUISA: Analisar os achados da avaliação eletrofisiológica do nervo auditivo, através do

PEATE, em pacientes normo-ouvintes, com queixa de zumbido PROCEDIMENTOS É necessário que sejam feitas avaliações auditivas, que serão realizados por meio dos exames de: meatoscopia, audiometria tonal, logoaudiometria, imitanciometria e potencias evocados de tronco encefálico (PEATE). Todos esses exames são de fácil realização, não são considerados procedimentos invasivos e serão explicados a seguir: A Meatoscopia: o profissional que realiza o exame olhará sua orelha, por meio de um otoscópio, para verificar se há algum impedimento para realização do teste, por exemplo, obstrução completa do conduto auditivo externo, por cerumen, ou qualquer outro elemento. Na meatoscopia o que se busca é investigar o meato e observar se a membrana timpânica está visível ou não, pois se ela não estiver visível os outros exames não poderão ser realizados. Não é um procedimento que cause desconforto. A Audiometria tonal limiar: é um teste de audição onde se busca o mínimo de audição da pessoa para cada freqüência de som. Você entrará em uma cabina audiométrica, onde há um certo grau de isolamento sonoro, e colocará fones de ouvido. Por esses fones você ouvirá uma série de sons e deverá avisar, levantando a mão, toda vez que ouvir um som, mesmo que ele seja bem fraco. A Logoaudiometria: você ouvirá uma lista de palavras e terá que repetí-las, uma de cada vez. E também perceber quais são as palavras que consegue repetir com o som bem baixo.

A imitanciometria: é um teste objetivo, que você não precisa responder, ele é feito pelo examinador, que coloca no seu ouvido, no conduto auditivo externo, bem por fora, uma oliva plástica para fechar o conduto auditivo. Você só deve ficar bem quieto enquanto o exame é realizado. Você vai sentir uma discreta variação de pressão no conduto auditivo externo, mas que não desve gerar nenhum desconforto.

31

Os Potenciais Evocados Auditivos de Tronco Encefálico (PEATE): é um exame que você não precisa fazer nada, apenas ficar acomodado, quieto, de olhos fechados e tranqüilo. Serão colados eletrodos de superfície atrás de suas orelhas e na sua testa. Em seus ouvidos serão colocados fones de ouvido por onde você ouvirá sons. Esses sons provocarão respostas em seu sistema auditivo mais interno e essas repostas serão captadas pelos eletrodos que estão colados atrás de suas orelhas e testa. Não há necessidade de sua participação. RISCOS E BENEFÍCIOS:

Todos os exames descritos acima, fazem parte da rotina básica de exames de audição e não oferecem riscos aos sujeitos da pesquisa.

Depois de realizado os exames, você saberá o resultado e conhecerá seu estado auditivo e se for diagnosticado qualquer problema de audição será orientado sobre o que deve fazer ou quais profissionais deve procurar. DESCONFORTO O desconforto será inexistente ou mínimo, pois a metodologia que será utilizada é a convencional da audiologia clínica. São procedimentos de rotina para a avaliação da audição. CUSTOS

Você não terá nenhum gasto com a pesquisa, porque ela será custeada pelo pesquisador. PARTICIPAÇÃO Caso você queira desistir de participar da pesquisa, poderá fazê-lo em qualquer tempo e no

momento em que desejar. Todos os participantes da pesquisa serão informados e seus exames acompanhados pela

pesquisadora ELAINE CRISTINA WEISS BINDI, FONOAUDIÓLOGA, CRFª 9206, residente à rua: Mateus Leme, 3212 – São Lourenço, em Curitiba.Telefone: (041) 8811-5543.

Durante o decorrer da pesquisa, caso você venha a ter alguma dúvida ou precise de alguma orientação a mais, use o telefone acima.

PRIVACIDADE E CONFIDENCIALIDADE: Você tem o compromisso dos pesquisadores de que a sua imagem e identidade serão mantidas

em absoluto sigilo. Nos casos de fotografias, estas somente serão realizadas e expostas com a sua autorização.

RESPONSABILIDADE: No caso de novas informações no decorrer da pesquisa, estas serão submetidas à avaliação da

Comissão de Ética para um novo parecer.

_________________________________________ Assinatura do Participante

_________________________________________ Pesquisadora: Elaine Weiss Bindi

_________________________________________ Orientadora: Profª. Ms. Denise França

Curitiba, _________de _______________________________de 20____

32

10. REFERENCIAS BILIOGRAFICAS

AMERICAN TINNITUS ASSOCIATION. Information about tinnitus. Portland:

ATA, 1997.

ATTIAS, J, et. al.. Detailed analysis of auditory brainstem responses in patients whit

noise-induced tinnitus. Audiology, 1996.

BAUER CA. Mechanisms of tinnitus generation. Otolaryngol Head Neck Surg. 2004.

CARRARO, Va. A percepção da fala em indivíduos expostos a níveis elevados

pressão sonora. In: MORATA, Tc. Caminhos para a saúde auditiva – ambiental –

ocupacional. São Paulo: Plexus Editora, 2005.

CHÉRY-CROZE, S. Medial Olivo-cochlear system and Tinnitus. Acta Otolaryngol,

(Stockh) 1993.

COSTA, Smb. Os efeitos da idade e sexo na latência P300. Rev. Bras.

Otorrinolaringologia, 2002.

DOBIE RA. Depression and tinnitus. Otolaryngol Clin North Am. 2003.

DURRANT, Jd. FERRARO, Ja. Potenciais Auditivos Evocados de curta latência:

eletrococleografia e audiometria de tronco encefálico. In: Musiek, FE. Perspectivas

atuais em avaliação auditiva. São Paulo: Manole, 2001.

FUKUDA Y et. al.. Avaliação clínica de zumbidos: resultados inicais. Acta Awho,

1990.

GANANÇA, Mauricio et. al. - Audiologia Clínica. São Paulo: Editora Atheneu, 2003.

33

HAZZEL Jwp, Support for a neurophysiological modelo f tinnitus. In: The hearing

journal v. 51. Reich GE., Vernon J. Preceedings of the 5 th International Tinnitus

Seminar. Portland: American Tinnitus Association, 1995.

JASTREBOFF E JASTREBOFF, Tinnitus retraing therapy. Seminars: Hearing, 2001.

JOSEY, AF. Respostas Auditivas de tronco cerebral como teste de localização das

lesões. In: Katz, J. Tratado de Audiologia Clínica. São Paulo: Manole, 1999.

KNOBEL, Kab, ALMEIDA, K. Perfil dos pacientes em terapia para habituação do

zumbido. Brasília: Rev. Fonoaudiologia Brasil, 2001.

LEMAIRE, MC, BEUTTER, P. Brainstem auditory evoked responses in patients with

tinnitus. Audiology, 1995.

LIMA, Mamt. Potencial Evocado Auditivo: Eletrococleografia e Audiometria de

Tronco Encefálico. In: Frota S. editor. Fundamentos em Fonoaudiologia: audiologia.

Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.

LOISEAU, S. O que é Zumbido Bilateral. Appforce.net/o-que-e-o-zumbido-

bilateral.html, 2012.

MAGLIARO, Fernanda. Avaliação comportamental, eletroacústica, e eletrofisiológica

da audição em pacientes com lesão isquêmica do hemisfério direito. São Paulo, Ll:

2009.

MATAS, CG. Medidas Eletrofisiológicas da Audição – audiometria de tronco

encefálico. In: Carvalho RMM. Fonoaudiologia informação para formação –

Procedimentos em audiologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 2003.

34

MOLLER, Ar. Some forms of tinnitus may involve the extralemniscal auditory

pathway. Laryngoscope, 1992.

MOMENSOHN-SANTOS, Tm. Métodos Objetivos de avaliação da audição. In:

Momensohn, Tm. Práticas da Audiologia Clínica. São Paulo: Cortez, 2005.

MUNHOZ, Mário Sérgio, et. al. - Audiologia Clínica. São Paulo: Editora Atheneu,

2003.

NODAR, RH. Tinnitus Reclassified: new oil in an old lamp. Otolaryngol Head Neck

Surg, 1996.

PINTO, Patricia, SANCHEZ, Tanit, TOMITA, Shiro. Avaliação da relação entre

severidade do zumbido e perda auditiva, sexo e idade do paciente. São Paulo: Braz. J.

otorhinolaryngol, 2010.

SAMELLI, Ag. Hipoteses atuais sobre a geração do zumbido. In Samelli, Ag.

Zumbido: avaliação, diagnóstico e reabilitação – abordagens atuais. São Paulo, 2004.

SANCHEZ, T.G. Zumbido: Estudo da Correlação entre Limiar Tonal e

Eletrofisiológico e das Respostas Elétricas do Tronco Encefálico. São Paulo, Tese

(doutorado) – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 1997.

SANCHEZ, TG. Reabilitação do paciente com zumbido. In: Campos CA, Costa

HO.Tratado de Otorrinolaringologia. São Paulo: Roca, 2002.

SANCHEZ, Tanit, et. al., – O que é Zumbido? Cap. 01. In: SAMELLI, Alessandra –

Zumbido: avaliação, diagnóstico, e reabilitação - abordagens atuais. São Paulo:

Lovise, 2004.

35

SANTOS FILHA, Valdete. Estudo dos potenciais evocados em indivíduos com queixa

de zumbido. São Paulo, 2009.

SCHOCHAT, E. RABELO, CM. LORETI, RCA. Sensitividade e especificidade do

potencial de media latência. Rev. Bras. Otorriolaringologia, 2004.

SCHOCHAT, Eliana (col.) - SAMELLI, Alessandra – Zumbido: avaliação,

diagnóstico, e reabilitação - abordagens atuais. São Paulo: Lovise, 2004.

TAKEUTI, MM. Zumbido. Rev. Bras. De Otorrinolaringologia, 1992.

ZIMMERMANN, KJ. A prevalência e a auto percepção do zumbido em trabalhadores

expostos a ruído. São Paulo, 1998.