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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ JÉSSICA DIAS MOREIRA OS CONTOS DE FADAS E O DESENVOLVIMENTO DA IMAGINAÇÃO INFANTIL CURITIBA 2013

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

JÉSSICA DIAS MOREIRA

OS CONTOS DE FADAS E O DESENVOLVIMENTO DA

IMAGINAÇÃO INFANTIL

CURITIBA

2013

JÉSSICA DIAS MOREIRA

OS CONTOS DE FADAS E O DESENVOLVIMENTO DA

IMAGINAÇÃO INFANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do grau de Pedagoga. Orientadora: Prof.ª Neyre Correia da Silva.

CURITIBA

2013

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho, bem como todas as minhas conquistas, aos

meus amados pais (Pedro e Nita) e aos meus queridos alunos.

Por despertar o desejo desta pesquisa.

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela dádiva da vida e pela liberdade de escolha que nos possibilita

protagonizar a história.

Aos meus pais por todo amor, dedicação e incentivo durante todos estes

anos.

Aos meus amigos Ana Paula, Bruna, Luana, Jaqueline pela paciência,

companheirismo e apoio, minhas válvulas de escape e entretenimento quando

estava sufocando pelo cotidiano.

Aos professores: Arleandra Cristina T. Amaral, Daniele Viera, Eliane

Mimesse, Maria Francisca Vilas Boas Leffer, pela imensa bagagem fornecida de um

conhecimento que é inesgotável

Em especial, à professora Neyre Correia da Silva, por todas as orientações

que valem para além da esfera acadêmica.

Obrigada por tudo!

A educação correta consiste em despertar

na criança aquilo que existe nela.

(VIGOTSKI, 2009, p. 72)

RESUMO

Os contos de fadas são histórias que sobreviveram à ação do tempo e encantam até os dias de hoje, inicialmente tais histórias eram transmitidas somente de forma oral, de geração para geração. Os Contos de Fadas mantêm um enfoque narrativo, que contribui junto ao desenvolvimento da infância. Sendo assim, a partir de pesquisa bibliográfica, busca-se, neste trabalho, conhecer e analisar a relação existente entre os contos de fadas e o desenvolvimento da imaginação e da criação infantil, segundo Vygotsky. Para tal, realiza-se um levantamento histórico sobre os contos e sobre sua transformação ao longo dos anos; procura-se compreender como se dá a formação da imaginação infantil, mediante a perspectiva vygotskyana, e como as narrativas dos contos de fadas podem estimular o desenvolvimento e o enriquecimento da imaginação infantil; e, por fim, busca-se conhecer como professores e adultos podem lançar mão dessa rica literatura a fim de contribuir para o desenvolvimento da imaginação e da criatividade infantil. Conclui-se que os contos de fadas são histórias que, devido a sua grande riqueza literária e narrativa, contribuem para o desenvolvimento e enriquecimento da imaginação da criança pequena, possibilitando, por meio da fantasia, o conhecimento de si mesma e do mundo que a cerca, e revelando ser um excelente instrumento, fomentador de práticas educativas, de trabalho com essa criança. Palavras-chave: Contos de Fadas; Imaginação Infantil; Desenvolvimento Infantil.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8

2. OS CONTOS DE FADAS: ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEPÇÕES ........... 11

2.1 A LITERATURA INFANTIL NO BRASIL .............................................................. 14

2.1.1 Literatura adultocêntrica x literatura emancipatória .......................................... 16

2.2 AUTORES BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS DE LITERATURA INFANTIL 18

2.2.1 Ana Maria Machado ......................................................................................... 18

2.2.2 Ruth Rocha ...................................................................................................... 18

2.2.3 Ziraldo Alves Pinto ........................................................................................... 19

3. O DESENVOLVIMENTO DA IMAGINAÇÃO INFANTIL SEGUNDO VYGOTSKY21

3.1 ATIVIDADE REPRODUTIVA ............................................................................... 22

3.2 ATIVIDADE CRIADORA ...................................................................................... 22

3.3 IMAGINAÇÃO E EMOÇÃO ................................................................................. 24

4. OS CONTOS DE FADAS E O DESENVOLVIMENTO DA IMAGINAÇÃO NA

CRIANÇA PEQUENA ............................................................................................... 26

4.1. SISTEMATIZAÇÃO E SÍNTESE DOS DADOS OBTIDOS MEDIANTE

PESQUISA BIBLIOGRÁFICA.................................................................................... 36

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 41

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 43

8

1 INTRODUÇÃO

Os contos de fadas são histórias muito antigas, que sobreviveram à ação

dos séculos, sendo transmitidos de geração para geração. No início esta passagem

era feita somente de maneira oral, a narrativa era feita por narradores profissionais

que herdavam essa função de seus antepassados, ou como uma simples tradição

transmitida de pessoa para pessoa (RADINO, 2001; 2003 apud SCHNEIDER;

TOROSSIAN, 2009, p.134) posteriormente com o avanço das tecnologias,

ganharam versões escritas e virtuais, e hoje estão por todo mundo. É importante

lembrar que tais histórias ao longo dos anos foram sofrendo adaptações e os contos

de fadas, como conhecemos hoje, são diferentes dos contos narrados há séculos

atrás.

Os contos de fadas eram (e são) histórias pedagógicas que tinham o cunho

de orientar as crianças em sua caminhada pela vida, em épocas nas quais o acesso

à educação era difícil ou quase impossível para a população pobre, compreendemos

o tamanho de sua importância para a formação das mentes infantis, mas em um

mundo tão avançado em tecnologia como o nosso, onde o acesso às informações e

à educação não é privilégio apenas da elite, os contos de fadas permanecem

adorados por todos.

Os contos e fadas possuem uma riqueza literária incontestável, mas por que

tais histórias encantam tanto as crianças? Existe a possibilidade de influência de tais

histórias no seu desenvolvimento imaginativo? Tais indagações foram os motivos

para a realização deste trabalho, que se trata de um estudo cuja principal

metodologia foi a pesquisa bibliográfica. A bibliografia, segundo Santos (2000, p.31),

constitui-se numa preciosa fonte de informações, com dados já organizados e

analisados. O autor ainda nos afirma que na atualidade, praticamente qualquer

necessidade humana, conhecida ou pressentida, possui algo escrito a seu respeito.

Por isso a pesquisa com base em uma bibliografia deve orientar qualquer processo

de busca científica que se inicie.

A partir da busca de referencial teórico, investigou-se os principais autores e

estudiosos dos contos de fadas, conhecendo o surgimento dos contos de fadas e as

modificações que foram sofrendo ao longo da história.

9

Este estudo dos contos de fadas foi realizado procurando relacioná-lo com a

perspectiva vygotskyana sobre o desenvolvimento da imaginação e da criação na

infância. Lev S. Vygotsky, pesquisador russo, nascido em 17 de novembro de 1896

e falecido em 1934, atualmente, é considerado um dos mais importantes psicólogos

do nosso século, seus escritos elaborados há tantos anos atrás, significam uma

grande contribuição para a área da educação na medida em que traz importantes

reflexões sobre o processo de formação das características psicológicas tipicamente

humanas e sobre as relações entre ensino, aprendizagem e desenvolvimento.

Assim, embasados da teoria desse grande autor do desenvolvimento infantil,

buscamos conhecer e analisar a relação existente entre os contos de fadas e o

desenvolvimento da imaginação e da criação infantil, segundo a perspectiva

vygotskyana. Para alcançar tal objetivo, tornou-se necessário a definição de

objetivos específicos, tais como: realizar um levantamento histórico sobre os contos

e sobre sua transformação ao longo dos anos; compreender como se dá a formação

da imaginação infantil, mediante a perspectiva vygotskyana, e como as narrativas

dos contos de fadas podem estimular o desenvolvimento e o enriquecimento da

imaginação infantil; e, por fim, conhecer como professores e adultos podem lançar

mão dessa literatura a fim de contribuir para o desenvolvimento da imaginação e da

criatividade infantil, e quais seriam as possibilidades de trabalho na educação infantil

com os contos de fadas; e, ainda, identificar por que os contos de fadas são tão

interessantes para a criança pequena.

Este trabalho está estruturado da seguinte maneira: num primeiro momento

apresentamos a origem dos contos de fadas, de maneira breve, desde sua

conhecida milenar idade até os dias atuais, bem como seus principais autores e o

contexto histórico em que estão inseridos. Ainda, nesse capítulo, buscaremos

explanar brevemente a diferença entre a literatura adultocêntrica e emancipatória.

Na sequência, será debatido o desenvolvimento da imaginação e da criação

na infância, segundo a perspectiva de Vygotsky (2009). É uma análise sobre como

se processa a criação infantil: a criança cria com base na experiência, reelabora

essa criação, recorre à dissociação para quebrar essa experiência em partes

fundamentais e lança mão delas para compor algo novo. É uma constante

“brincadeira” entre imaginação e realidade, que são interdependentes, e a emoção

tanto interfere na imaginação quanto é provocada por ela.

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Assim, munidas da teoria de Vygotsky e de todo o levantamento realizado

acerca dos contos de fadas, daremos continuidade a este trabalho buscando

analisar a relação entre os contos de fadas e o desenvolvimento da imaginação

infantil a partir da perspectiva vygotskyana, enfatizando como as histórias podem

proporcionar às crianças experiências que despertam sua imaginação, e ressaltando

sua importância no processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança

pequena, pontuando algumas posturas que podem ser desenvolvidas pelos

professores para tornar o contato com essa literatura fantástica ainda mais

prazerosa.

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2. OS CONTOS DE FADAS: ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEPÇÕES

Os contos de fadas são histórias que são disseminadas pelo mundo desde a

antiguidade, exercendo uma forte influência no público infantil. Neste capítulo busca-

se compreender de que maneira os contos de fadas surgiram, com quais finalidades

e como foram se desenvolvendo até chegar nos modelos contemporâneos.

Segundo Schneider e Torossian (2009, p. 133),

o surgimento dos contos de fadas perde-se no tempo. A literatura registra que são histórias transmitidas oralmente de geração a geração e que, mesmo com toda a tecnologia existente, mantêm seu espaço de destaque narrativo junto à infância. Já não se reservam apenas à função de distração ou de acalanto ao sono das crianças, mas seu poder se expressa na magia e na fantasia que despertam no infante. Tornam-se, assim, alvo do estudo científico de diversas ciências do conhecimento e do desenvolvimento infantil, como a Pedagogia, a Psicologia e, em especial, a psicanálise.

Os vestígios mais remotos, localizados por pesquisadores, remontam há

séculos antes de Cristo e provêm de fontes orientais e célticas que, a partir da Idade

Média, foram assimiladas por textos de fontes europeias (COELHO, 1998, p.16-17).

Hisada (1998), apud Schneider e Torossian (2009), aborda os escritos de

Platão, nos quais mulheres mais velhas empregavam suas histórias recheadas de

simbologia na educação de crianças. Ferreira (1991), apud Schneider e Torossian

(2009, p.134), relata

que os povos da Antiguidade conheciam o universo fantástico existente nos contos. Seu enredo é tramado por tecidos de refinadas matrizes do imaginário humano, cuja linguagem, repleta de significados simbólicos e de metáforas, tem a capacidade de interligar o consciente e o inconsciente.

Entretanto, os contos de fadas não eram destinados ao mundo infantil e sim

aos adultos. Ariés (1981 apud SCHNEIDER e TOROSSIAN, 2009), afirma que

originalmente os contos foram construídos para o universo adulto, e a partir da

“descoberta da infância” passam a sofrer adaptações no sentido de contemplarem

as necessidades das crianças, bem como de sua vida imaginária.

A partir de então, os contos de fadas começam a contemplar o mundo

infantil, tais histórias eram contadas pelas amas ou cuidadoras que se incumbiam de

transmitir as histórias da cultura popular às crianças.

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Na forma como atualmente são conhecidos, os contos de fadas nasceram

na França do século XVII, na faustosa corte do rei Luís XIV e pela mão do erudito

Charles Perrault (COELHO, 1998 p. 16).

O francês Charles Perrault (1628-1703) foi um dos primeiros organizar e

publicar os contos populares franceses. Perrault registrava as narrações populares e

as adaptava conforme as necessidades da corte francesa; seus contos

caracterizavam-se pela “mensagem moral” presente nas histórias, que tinham como

objetivo orientar a formação moral das crianças.

Segundo Coelho (1998), a obra mais famosa de Perrault foi intitulada “Os

Contos da Mãe Gansa”, sendo que esta era uma personagem (Mère l’Oye) de

velhos contos populares, muito familiares aos franceses: sua função era contar

histórias para seus filhotes fascinados.

Com a publicação dos oitos Contos da Mãe Gansa, nascia a Literatura infantil, que hoje conhecemos como clássica. Pela primeira vez são publicados A Bela Adormecida no bosque, Chapeuzinho Vermelho, O Barba Azul, O Gato de Botas, As fadas, A Gata Borralheira, Henrique do Topete e O pequeno Polegar, todos eles são originários dos antiqüíssimos lais

1 ou

dos romances céltico-bretões e de narrativas originais indianas, que, com o tempo, transformações e fusões com textos de outras fontes, já haviam perdido seus significados originais. (COELHO, 1988, p.68)

Na Alemanha, os irmãos Jacob Grimm (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-

1859) recolheram da memória popular as antigas narrativas “maravilhosas”, lendas

ou sagas germânicas, que mesclavam relatos das mais diversas fontes, que os

germanos, ao longo dos séculos, foram acrescentando aos seus próprios (COELHO,

1998, p. 73).

Os muitos contos recolhidos, estudados e adaptados pelos irmãos Grimm,

foram publicados entre 1812 e 1822, com o título de Contos de fadas para crianças

e adultos (Kinder und Hausmaerchen). Neste acervo encontram-se 210 histórias

divididas em 3 volumes.

De acordo com Coelho (1998, p. 74), os contos mais conhecidos dos Grimm

são “A bela Adormecida”, “Os músicos de Bremem”, “Os sete anões e a Branca de

1 Lai provem do celta, em francês Lai, e significa “pequeno poema, em versos octossílabos, que os

jograis da Idade Média cantavam, com acompanhamento de harpa.” Seu plural é lais (FERREIRIA,1986, p.1004)

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Neve”, “Chapeuzinho Vermelho”, “A Gata Borralheira”, “O Corvo”, “As aventuras do

Irmão Folgazão”, “A dama e o Leão”, etc. “Tanto nos Grimm como em Perrault

predomina a atmosfera de leveza, bom humor ou alegria, que neutraliza os dramas e

medos existentes na raiz de todos os contos. Daí essa literatura entender-se tão

bem com o espírito das crianças.” (COELHO, 1998, p.75).

O dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875), considerado por

muitos como o pai da literatura infantil, destacou-se justamente por escrever

diretamente para as crianças (SCHNEIDER e TOROSSIAN, 2009, p. 136).

Este utilizou como fonte de inspiração para suas narrativas as histórias

contadas por seu pai, um humilde sapateiro, ele ainda utilizava-se de observações

feitas de crianças pobres para enriquecer seus contos. É atribuída a Andersen a

autoria de aproximadamente 156 contos (SCHNEIDER e TOROSSIAN, 2009, p.

137). Coelho (1998) aponta-nos uma característica peculiar nos contos de Andersen.

Em seu universo literário, não há a alegria, o ludismo e a leveza de atmosfera como na maioria dos contos de Grimm e Perrault. Os momentos de bom humor e descontração, em Andersen, são poucos. Predomina, em geral, um ar de tristeza ou dor. (p.77)

Schneider e Torossian (2009) trazem-nos outras características encontradas

nos contos de Andersen, que o consagram hoje como o pai da literatura infantil: “a

literatura assinala três importantes vértices que tornam a obra de Andersen inédita: a

criança retratada por meio de personagens, brinquedos que ganham vida e histórias

nas quais o papel principal é ocupado por uma criança.” (2009, p.137).

Coelho (1998, p.78) finaliza afirmando que: “Enfim, sente-se, em todos os

contos de Andersen, o esforço de racionalização do imaginário, em benefício de um

mundo real mais gratificante para todos os homens.”.

Dentre seus 156 contos escritos, ganham destaque: “O patinho Feio”,

“Soldadinho de Chumbo”, “A nova roupa do Imperador”, “A pequena vendedora de

fósforos”, “Os sapatinhos vermelhos”, “A rainha da neve”, e “Os cisnes selvagens”.

É importante também o reconhecimento de outros autores que ao longo dos

anos realizaram grandes contribuições para o universo das histórias infantis. Dentre

estes temos o inglês Lewis Carrol (1832-1898), autor do famoso livro Alice no País

das Maravilhas, publicado na Inglaterra em 1865, esse tornou-se uma das obras

mais famosas da literatura ocidental; Carlo Collodi (1826-1890), com Pinóquio

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publicado na Itália, em 1883; na Escócia temos James Berrie com Peter Pan (1902),

a história foi adaptada para o teatro numa peça chamada Peter Pan, or The Boy

Who Wouldn’t Grow, que estreou em Londres em 27 de dezembro de 1904; e o

americano L. Frank Baum (1856-1919), autor de O Mágico de Oz, em 1901. O

cineasta americano Walt Disney (1901-1966) nunca produziu um conto de fadas,

mas foi ele quem produziu o primeiro longa-metragem da história de “Branca de

Neve e os Sete Anões”, lançado em 21 de dezembro de 1937. Após Branca de Neve

e os Sete Anões, outros longas foram produzidos como: Pinóquio, Fantasia e Bambi,

e depois da Segunda Guerra Mundial, “Cinderela” ganhou uma versão para o

cinema.

Os contos maravilhosos conquistaram todo o mundo, e no Brasil não foi

diferente. O escritor Monteiro Lobato representa o Brasil quando se faz referência à

literatura infantil e aos contos de fadas; portanto, na sequência explanaremos

brevemente a respeito de alguns aspectos históricos da literatura infantil brasileira.

2.1 A LITERATURA INFANTIL NO BRASIL

Segundo Albino (2010), embora os livros para crianças começassem a ser

publicados no Brasil em 1808, com a implantação da Imprensa Régia, a literatura

infantil brasileira nasce apenas no final do século XIX. E é consolidada somente nos

arredores da Proclamação da República.

Embora a literatura infantil tenha surgido no século XVIII, foi somente no século XIX, que, relativizando, ainda que de maneira incipiente o flagrante pacto com as instituições envolvidas com a educação, ela define com a maior segurança os tipos de livros que mais agradam aos pequenos leitores, determinando suas principais linhas de ação: histórias fantásticas, de aventuras e que retratem o cotidiano infantil. (ALBINO, 2010, p.4)

No Brasil, a primeira coleção produzida de pequenos volumes de contos

traduzidos de Perrault, Grimm e Andersen, foi a da Biblioteca Infantil, da Editora

Melhoramentos (São Paulo, 1915-1925). Esta conservava na capa a imagem de

uma velha fiandeira contadora de histórias, que se tornou uma espécie de símbolo

para várias gerações de crianças brasileiras (COELHO, 1998, p. 69).

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Na produção de contos de fadas brasileiros temos como grande

representante Monteiro Lobato (1882-1948). Nestes contos as bonecas falam

(influência herdada de Collodi com Pinóquio) e os sabugos de milho transformam-se

em geniais cientistas, e o livro, a história ou o conto de fadas: “são vividos e

experimentados pelas crianças como um agente transformador, auxiliando-as na

construção de sua crítica, de sua criatividade e, sobretudo, de sua liberdade, pois,

neles, elas aprendem brincando.” (RADINO, 2003 apud SCHNEIDER e

TOROSSIAN, 2009, p.138).

Monteiro Lobato dedicou-se a um estilo de linguagem simples e ao mesmo

tempo recheada de fantasia, o que encantou as crianças brasileiras, e foi o criador

do “Sitio do Pica-pau Amarelo” e de seus personagens, como: Emília, a boneca

falante, Narizinho, Pedrinho, Cuca, o sabugo de milho Visconde de Sabugosa, etc.

Dentre suas obras mais famosas destacam-se Reinações de Narizinho (1931),

Caçadas de Pedrinho (1933) e O Picapau Amarelo (1939).

Os livros de Monteiro Lobato ganharam uma versão para a televisão,

apresentada pela primeira vez na TV Tupi de São Paulo, exibida de 3 de junho de

1952 a 1962. Quem realizou as adaptações para a televisão foi a escritora Tatiana

Belinky, sendo estas consideradas as mais fiéis ao original, entre todas as

adaptações que foram realizadas nos anos que se seguiram.

Monteiro Lobato demostrou cada vez mais uma preocupação com o público

infantil, tecendo críticas a muitos livros destinados a esse público, que na sua

concepção nada têm a acrescentar às crianças.

Chegou-me afinal o livro infantil – mas não é livro infantil. Não é literatura para criança. É literatura geral. Para ser infantil tem o livro de ser escrito como o CAPINHA VERMELHA do Perrault. Estilo ultra direto sem nem um grânulo de “literatura”. [...] A coisa tem de ser narrativa a galope, sem nenhum enfeite literário. O enfeite literário agrada aos oficiais de mesmo ofício, aos que compreendam a Beleza literária. Mas o que é beleza literária para nós é maçada e incompreensibilidade para o cérebro ainda não envenenado das crianças [...] Resta agora a opinião do teste supremo: elas. Se elas disserem o contrário do que digo, paciência; darei as mãos à palmatória e terei de revogar minhas teorias. Consulte-as. (LOBATO, 1972, p. 372)

Monteiro Lobato desejava criar um estilo de escrita que fosse acessível às

crianças, que a leitura se tornasse um ato prazeroso e livre de qualquer “regra”. O

escritor buscava tornar seus textos cada vez mais interessantes, textos nos quais os

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pequenos leitores pudessem mergulhar de fato em um mundo de imaginação e

criatividade.

Podemos afirmar que Monteiro Lobato buscava de alguma maneira em seus

contos tornar a literatura infantil brasileira emancipatória, diferente dos contos de

fadas que seguem um caráter que denominamos adultocêntrico, como veremos a

seguir.

2.1.1 Literatura adultocêntrica x literatura emancipatória

A literatura destinada ao público infantil vem ganhando cada vez mais

espaço e reconhecimento, atualmente é objeto de estudo no meio acadêmico e

científico. Ficou no passado a concepção de que a literatura para crianças e jovens

deveria priorizar a formação moral das crianças, caracterizando-se como

adultocêntrica, cuja moral adulta é central, como alerta Ceciliato (2007, s/p).

A autora afirma que, nesta concepção, à infância caberia o papel de

obediência aos valores da sociedade e de aceitação passiva de suas regras, a

literatura, então, nada mais seria que um mecanismo de caráter utilitário, para a

transmissão de valores prezados pelos adultos, consequentemente tornando a

criança um recebedor passivo desses valores.

O entendimento da infância presente nessa concepção era o de que a

criança é um ser em desenvolvimento que precisa do adulto para ser moldada.

Sobre as literaturas desse período, Ceciliato (2007, s/p) escreve que,

sociologicamente, “a fábula e o conto de fadas não fizeram parte da literatura infantil,

porque não se endereçavam às crianças, ainda que elas também os lessem.”

Segundo a autora, os contos não eram destinados ao público infantil, as histórias de

contos de fadas faziam parte do acervo adulto, uma ou outra história era destinada a

alguma criança privilegiada.

Cecilia Meireles faz uma análise da literatura oferecida para as crianças,

nesse período:

Se La Fontaine deu a velhas fábulas a forma incomparável do livro destinado ao Delfim de França, os contos de Perrault e os de Mme. D’Aulney foram recolhidos da tradição popular como quem salva um tesouro para todas as crianças do mundo. Entre os séculos XVII e XVIII já tinham aparecido o “Robinson Crusoé”, de Defoë, e as “Viagens de Gulliver”, de

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Swift, que não eram livros infantis, bem como “Aventuras do Barão de Münchkausen”. E um outro livro fora escrito, cujo destino seria brilhar cerca de três séculos e exercer sua influência em mais de um povo: “As aventuras de Telêmaco”, que Fénelon compusera para o duque de Borgonha, segundo Delfim de França, neto de Luiz XIV. (MEIRELES, 1979, p. 34-35)

Esse pensamento adultocêntrico foi gradativamente perdendo a centralidade

e hoje se concebe que a literatura infantil é importante para o desenvolvimento da

criança, servindo como suporte para o aprimoramento da linguagem, da

sensibilidade, do simbólico, além do enriquecimento de suas vivências no mundo.

Uma boa literatura colabora para a formação de um leitor crítico e ativo.

É a partir desse contexto que surge a literatura emancipatória. Esta nova

concepção busca questionar a autoridade, faz um contraponto ao individualismo e

defende a valorização das diferenças. A criança é vista como um ser em formação

que precisa desenvolver sua criticidade e o seu papel no mundo real, a partir de um

crescimento livre, sem submissão e passividade, para se tornar sujeito

transformador.

Zilberman (1984) escreve sobre a necessidade de diálogo entre o leitor e o

texto, e que esse fato é o que levará à fruição das emoções, ao imaginário, à

produção de conhecimento e, ainda à conscientização de valores frente ao convívio

com o mundo.

Os antigos modelos autoritários, no qual a criança é apenas o receptor

passivo de normas, devem dar lugar às literaturas emancipatórias, que

proporcionam à criança um papel ativo, e busca desenvolver e estimular sua

criticidade para que venha a se tornar um sujeito transformador. A literatura leva a

criança a se questionar sobre a sua condição no mundo, considerando-se que a

consciência do mundo se dá a partir do momento em que a criança consegue

estabelecer uma relação com o livro e, a partir deste, construir um sentido para a

sua realidade. É importante lembrar, no entanto, que, no caso da literatura infantil

essa mediação, entre o leitor e o livro, pode ser realizada por um adulto leitor.

Daí a importância que se atribui, hoje, à orientação a ser dada às crianças, no sentido de que ludicamente, sem tensões ou traumatismos, elas consigam estabelecer relações fecundas entre o universo literário e seu mundo interior, para que se forme, assim, uma consciência que facilite ou amplie suas relações com o universo real que ela está descobrindo dia-a-dia e onde ela precisa aprender a se situar com segurança, para nele poder agir. (COELHO, 1987, p. 29)

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Seguindo esse modelo emancipatório das histórias para crianças

encontramos alguns destacados autores brasileiros, como: Ana Maria Machado,

Ruth Rocha e Ziraldo Alves Pinto, que serão brevemente apresentados na

sequência, a título de reconhecimento de suas obras.

2.2 AUTORES BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS DE LITERATURA INFANTIL

2.2.1 Ana Maria Machado

Ana Maria Machado nasceu em 24 de dezembro de 1941, em Santa

Tereza/RJ. Em alguns de seus depoimentos a autora revela que nunca teve o sonho

de se tornar escritora, seu foco era ser artista de cinema, mas já achava que seria

professora, formou-se na Universidade Federal do Rio Janeiro em Letras.

Seu primeiro livro dedicado ao público infantil veio em 1977, “Bento-que-

bento-é-o-frade”, e quase em paralelo, foram escritos os três volumes das "Histórias

de Recreio", reunindo alguns dos contos publicados na Revista Abril, sob os títulos

“Camilão”, “O Comilão”, “Severino Faz Chover” e “Currupaco Papaco” (TECNOPOP,

2013).

Ana Maria Machado coleciona prêmios por seus trabalhos, em 2000 ganhou

o prêmio Hans Christian Andersen, considerado o prêmio Nobel da literatura infantil

mundial. E, em 2001, a Academia Brasileira de Letras deu-lhe o maior prêmio

literário nacional, o “Machado de Assis”; já em 2003, a escritora foi eleita para

ocupar a cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras, foi a primeira vez que

um autor que escreve para crianças entrou para a Academia (TECNOPOP, 2013).

2.2.2 Ruth Rocha

Ruth Rocha nasceu em 1931 em São Paulo, começou a escrever histórias

infantis em 1969, para a Revista Recreio, mas foi somente em 1976 que teve seu

primeiro livro editado, Palavras Muitas Palavras. Desde então, Ruth Rocha já

publicou centenas de livros no Brasil, e no exterior atingiu a marca de 20 livros em

dezenove idiomas. A escritora também faz parte da Academia Paulista de Letras,

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ocupando a cadeira 38, desde 25 de outubro de 2007 (BIOGRAFIAS E VIDAS

ONLINE, 2013).

Sua obra infantil mais conhecida é “Marcelo, Marmelo, Martelo”. Em 1990 a

escritora lança o livro “Declaração Universal dos Direitos Humanos Para Crianças", o

lançamento foi realizado na Sede das Organizações das Nações Unidas. A escritora

foi condecorada pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso com a Comenda da

Ordem do Ministério da Cultura, em 1998.

Dentre as muitas publicações de Ruth Rocha, destacam-se as seguintes

obras: “O reizinho Mandão”, “Meu Lápis de cor são só Meus”, “A Menina que não era

Maluquinha”, “Histórias Malcriadas”, “A Arca de Noé” (BIOGRAFIAS E VIDAS

ONLINE, 2013)

2.2.3 Ziraldo Alves Pinto

Ziraldo Alves Pinto nasceu em 24 de outubro de 1932, na cidade de

Caratinga, Minas Gerais. Ziraldo formou-se em Direito na Universidade Federal de

Minas Gerais em 1957.

Ziraldo é um dos grandes nomes da literatura infantil brasileira, foi ele que,

em 1960, lançou a primeira revista em quadrinhos brasileira, em cores produzidas

no Brasil, a autoria da “Turma do Pererê” foi exclusiva de Ziraldo. Também é de sua

autoria o livro “O Menino Maluquinho”, lançado em 1980, que se tornou seu maior

sucesso editorial e um símbolo da criança brasileira. Assim como o Sítio do Pica-Pau

Amarelo de Monteiro Lobato, a obra de Ziraldo também ganhou adaptações para a

televisão e o cinema (PORTAL EDUCACIONAL, 2013).

Suas obras mais conhecidas são: “Turma do Pererê”, “O Menino

Maluquinho”, “A Supermãe”, “O Joelho Juvenal”, “Uma professora Muito

Maluquinha”, “Flicts”.

Ziraldo também recebeu o prêmio Nobel de Humor no 32º Salão

Internacional de Caricaturas de Bruxelas, em 1969. Com a obra “Flicts” conquistou

em 2004, o Prêmio Hans Christian Andersen (PORTAL EDUCACIONAL, 2013).

Esses grandes autores da literatura infantil brasileira contribuíram e

contribuem com suas histórias tornando o mundo infantil mais colorido e divertido.

Suas histórias são um convite à imaginação e à fantasia. É sobre esta temática, a da

20

imaginação e criação, que trataremos a seguir: como o maravilhoso mundo das

histórias de fadas, princesas e heróis pode contribuir para o desenvolvimento e

enriquecimento da imaginação da criança. Porém, antes, torna-se necessário

compreendermos como se organiza o processo da imaginação infantil, segundo a

perspectiva de Vygotsky.

21

3. O DESENVOLVIMENTO DA IMAGINAÇÃO INFANTIL SEGUNDO VYGOTSKY

Muitos autores, ao escrever sobre a imaginação, buscam defini-la em

conceitos. Para Girardello (2011, p.76), a “imaginação é para criança um espaço de

liberdade e de decolagem em direção ao possìvel, quer realizável ou não”.

Grene (1995, p.140.) afirma que “a imaginação é a capacidade de olhar

através das janelas do real.”

Segundo Ferreira (1975, p. 918), “imaginar é construir ou conceber na

imaginação; fantasia; idear; inventar; é o ilusório; o fantástico. Imaginação: é a

faculdade que tem o espírito de representar imagens. Imaginário: é o que só existe

na imaginação.”

Ainda Postic (1993) escreve-nos que:

Imaginar não é só pensar, não significa apenas relacionar fatos, e analisar situações, tirando-lhe significados. Imaginar é penetrar, explorar por fatos dos quais se retira a visão. Esta só poderá ser comunicada ao outro através de símbolos, que provocam harmônicos e estabelecem a comunhão. O símbolo age como mediador para revelar ocultando, ocultar revelando, e ao mesmo tempo incitar à participação que, embora com impedimentos e obstáculos, fica favorecida. (POSTIC, 1993, p.19)

Vygotsky (2009, p.14) afirma que no cotidiano, normalmente, designa-se

como imaginação ou fantasia tudo o que não corresponde à realidade, portanto, não

pode ter nenhum significado prático sério. Mas, para ele, a verdade é que a

imaginação não é um divertimento ocioso da mente, uma atividade suspensa no ar,

mas uma função vital necessária (VYGOTSKY, 2009, p.20). É uma atividade mental

que se desenvolve gradualmente e está vinculada à realidade significativa.

Em algumas de suas reflexões Vygotsky busca definir como a imaginação se

desenvolve, para isso demonstra a existência de dois processos mentais principais,

a atividade reprodutiva ou da memória e a atividade criadora. A imaginação caminha

lado a lado com a memória, ambas se complementam, a imaginação caracteriza-se

como a combinação de duas atividades principais do nosso cérebro, a atividade

reprodutiva ou memória e a atividade criadora; a somatória dessas duas atividades

resultam em algo totalmente novo. Na sequência, abordaremos as características da

atividade reprodutora.

22

3.1 ATIVIDADE REPRODUTIVA

Segundo Vygotsky (2009), nosso cérebro tem a capacidade de conservar

nossas experiências anteriores facilitando a sua reprodução. A atividade reprodutiva

está intimamente ligada à memória. Quando lembramos de acontecimentos de

nosso passado, como lugares que visitamos, trazemos à memória imagens já

vivenciadas, nada se cria de novo apenas é uma repetição mais ou menos precisa

daquilo que realmente ocorreu.

Essa atividade se torna possível devido à plasticidade da nossa substância nervosa, que é a base da atividade reprodutiva. Chama-se plasticidade a propriedade de uma substância que permite que ela seja alterada e conserve marcas dessa alteração. (VYGOTSKY, 2009, p. 12).

Nosso cérebro e nossos nervos possuem uma grande plasticidade,

modificam-se com grande facilidade ao receber influências. Se os estímulos são

fortes ou repetidos com frequência produzem uma marca dessas modificações, que

é conservada por nosso cérebro, sendo possível ao homem reproduzir ou recriar a

partir de suas lembranças.

A atividade reprodutiva pode se combinar com a atividade criadora, como

veremos a seguir.

3.2 ATIVIDADE CRIADORA

A segunda atividade desenvolvida por nosso cérebro é chamada de

atividade criadora ou imaginação, não descarta os elementos guardados na

memória, pelo contrário os utiliza como base para novas combinações.

Nosso cérebro não é apenas um órgão que conserva e reproduz nossa experiência anterior, mas também o que combina e reelabora, de forma criadora, elementos da experiência anterior, erigindo novas situações e novo comportamento. (VIGOTSKI, 2009, p.14)

A atividade criadora ou imaginação é o que permite que o homem se

desenvolva e projete seu futuro, pois se o homem fica preso apenas à atividade

reprodutiva, seu futuro seria projetado apenas a partir da reprodução do passado.

23

Na imaginação criativa surgem novas combinações dos elementos, que não

são novos em si. Vygotsky (2009, p.14) afirma que tudo o que nos cerca e foi feito

pelas mãos do homem, todo o mundo da cultura, diferentemente do mundo da

natureza, é produto da imaginação e da criação humana e nelas se baseiam.

Neste sentido podemos, então, afirmar que o resultado da atividade criadora

de cada indivíduo se dá a partir de suas vivências, ou seja, do contexto social e

histórico no qual o indivíduo está inserido, assim quanto mais experiências as quais

a criança for submetida, experiências que sejam estimuladoras da imaginação e

criatividade, mais “dados” ela terá para suas criações.

Uma das grandes questões da psicologia e pedagogia infantil, segundo o

autor, é criação na infância, como se dá o seu processo de amadurecimento na

criança.

O autor expõe que na primeira infância, a criança já demonstra processos de

criação através de suas brincadeiras; um exemplo desta criação é quando a criança

monta em um cabo de vassoura imaginando que está em cima de um cavalo,

provavelmente a criança já passou pela experiência de andar a cavalo ou já viu tal

cena acontecer e com a ajuda da imaginação reproduz tal vivência de forma não

idêntica a original. Diante disso Vygotsky (2009) afirma que:

A brincadeira da criança não é uma simples recordação do que vivenciou, mas uma reelaboração criativa de impressões vivenciadas. É uma combinação dessas impressões, e baseadas nelas, a construção de uma realidade nova que responde às aspirações e aos anseios da criança. (VYGOTSKY, 2009, p.17)

Sendo assim, embasando-se nos pressupostos teóricos vygotskyanos,

podemos, então, afirmar que é essa capacidade de fazer uma construção de

elementos, de combinar o velho de novas maneiras, que constitui a base da criação.

Vygotsky (2009) escreve que a imaginação está intimamente relacionada

com a realidade, pois, é dela que extrai os elementos para sua criação. Para ele a

imaginação vincula-se com a realidade de várias maneiras.

A imaginação está diretamente ligada à quantidade de experiências de uma

pessoa. Por isso, na sua concepção, a imaginação deve ser estimulada nas crianças

desde pequenas e quanto mais ricas forem as experiências delas, mais material

estará disponível para seus processos criativos.

24

Quanto mais a criança viu, ouviu e vivenciou, mais ela sabe e assimilou; quanto maior a quantidade de elementos da realidade de que ela dispõe em sua experiência – sendo as demais circunstâncias as mesmas –, mais significativas e produtiva será a atividade de sua imaginação. (VYGOTSKY, 2009, p. 23)

Outra maneira de vinculação entre a imaginação e a realidade é por meio da relação emocional,

tema que trataremos no próximo tópico.

3.3 IMAGINAÇÃO E EMOÇÃO

Os sentimentos influenciam de forma direta a forma como vemos as imagens, pensamentos ou

imaginamos, de acordo com o ânimo do momento. As imagens e as fantasias propiciam uma linguagem interior

para o nosso sentimento (VYGOTSKY, 2009, p. 26). Essa influência que a emoção exerce sobre a imaginação é

denominada pelos psicólogos de lei do signo comum.

A essência dessa lei consiste em que as impressões ou as imagens que possuem um signo emocional comum, ou seja, que exercem em nós uma influência emocional semelhante, tendem a se unir, apesar de não haver qualquer relação de semelhança ou contiguidade explícita entre elas. (VYGOSYKY, 2009, p. 27)

Imaginação e sentimento podem estabelecer outra relação. Já vimos que o

sentimento pode influenciar na imaginação, mas também a imaginação pode

influenciar os sentimentos ou a emoção e, ao final, a alteração da nossa percepção

da realidade.

Esse fenômeno pode ser chamado de lei da realidade emocional da

imaginação. Ribot, apud Vygotsky (2009, p. 28), afirma o seguinte: todas as formas

de imaginação criativa contêm em si elementos afetivos. Isso significa que tudo que

nossa fantasia constrói influencia nossos sentimentos e, mesmo que essa

construção em nada se relacione com a realidade, todos os nossos sentimentos

provocados por ela, pela fantasia, são reais.

Vygotsky (2009, p.29) explica que isso ocorre porque as emoções

provocadas pelas imagens artísticas, fantásticas, das páginas de um livro ou do

palco de teatro são completamente reais e vividas por nós de verdade, franca e

profundamente.

Chegamos então a última forma de vinculação entre a imaginação e a

realidade, apresentada por Vygotsky (2009), que, de certa maneira, estabelece forte

25

ligação com o que acabamos de discutir, mas se diferencia pelo fato de que aquilo

que a fantasia criou pode ser algo totalmente novo, algo que ainda não aconteceu e

que também não é semelhante a nenhum outro fato que ela já tenha vivenciado. No

entanto, quando é trazida para a realidade, ao adquirir uma solidez material, essa

imaginação “cristalizada”, começa, de fato, a existir no mundo e a influenciar outras

coisas.

Os elementos que fazem parte da imaginação são tomados da realidade. No pensamento do homem sofrem complexa re-elaboração e convertem-se, assim, em produto da imaginação. Por último, ao se materializar, voltam à realidade trazendo consigo uma força ativa, nova, capaz de transformar essa realidade. Assim se fecha o círculo da atividade criadora da imaginação. (VYGOSTKY, 2003 apud PASCUCCI, 2009, p.60)

Compreendemos, então, até este ponto, como de fato se organizam as

funções criadoras do nosso cérebro, e como emergem no processo de

desenvolvimento infantil, e como são muito importantes as experiências e interações

das quais as crianças participam. Diante disso, no capítulo seguinte, buscaremos

analisar como os contos de fadas podem estimular a vida imaginária da criança.

26

4. OS CONTOS DE FADAS E O DESENVOLVIMENTO DA IMAGINAÇÃO NA

CRIANÇA PEQUENA

É na literatura infantil que encontramos os contos de fadas, inseridos no

gênero narrativo, sendo que possui uma estrutura simples e preciosa de valores. “Os

contos de fadas são de origem celta, na qual a etimologia da palavra fada vem do

latim fatum, que significa destino, fatalidade” (COELHO,1987, p. 14).

Os contos de fadas, de acordo com Coelho (1987, p. 15), são chamados de

contes de fées, na França; fair tale, na Inglaterra; cuento de hadas, na Espanha; e

racconto di fata, na Itália. Em Portugal e no Brasil, no final do século XIX, foram

denominados contos da carochinha, sendo chamados por Câmara Cascudo,

importante historiador e folclorista brasileiro, de contos de encantamento.

Sua característica mais conhecida são as formas de iniciar seus enredos

como: “Era uma vez...”, “Num reino encantado...”, “Num lugar não muito distante...”.

O conto é mais uma maneira de introduzir as crianças no mundo da fantasia, seus

enredos são um convite para a imaginação; as possibilidades de criação a partir de

seus enredos são inúmeras.

Os contos de fadas são ímpares, não só como uma forma de literatura, mas

como obras de arte integralmente compreensíveis para a criança, como nenhuma

outra forma de arte é (BETTELHEIM, 2004, p.20).

O conto tem a incrível magia de encantar a criança, reter sua atenção como

nenhuma outra história consegue. O conto de fadas, segundo Bettelheim (2004,

p.20), “diverte a criança e a ajuda a descobrir os mistérios sobre si mesma,

favorecendo o desenvolvimento de sua personalidade, enriquece a existência da

criança.”

O autor escreve-nos que os contos de fadas não são as únicas histórias que

podem ser lidas ou contadas às crianças, mas são simples e facilmente

compreendidas por elas, isso se dá pela forma como são descritos seus

personagens e a estruturação de seus enredos. A forma simbólica sob a qual são

apresentadas as situações permite ao ouvinte, ou ao leitor, sentir-se implicado, não

deixando por isso de se manter mais distante.

27

O conto de fadas é apresentado de um modo simples, caseiro; não fazem solicitações ao leitor. Isto evita que até a menor das crianças se sinta compelida a atuar de modo específico, e nunca a leva a se sentir inferior. Longe de fazer solicitações, o conto de fadas reassegura, dá esperança para o futuro, e oferece a promessa de um final feliz. (BETTELHEIM 2004, p.35).

Diante disso, torna-se inevitável a seguinte questão: por que histórias tão

antigas, mesmo que adaptadas, continuam a interessar tanto o público infantil? Carl

Gustav Jung, citado por Lima (2005), afirma que “mitos e contos de fadas dão

expressão a processos inconscientes, e a sua narração provoca revitalização

desses processos, restabelecendo a conexão entre consciente e inconsciente.”

A criança pequena precisa aprender a lidar com seus desejos, seus medos e

com as questões da vida que a cerca, na medida em que está crescendo. Essa

compreensão do mundo e da vida, para Bettelheim (2004, p.16), ocorre da seguinte

maneira:

A criança necessita entender o que está se passando dentro do seu eu inconsciente. Ela pode atingir essa compreensão, e com isto a habilidade de lidar com as coisas, não através da compreensão racional da natureza e conteúdo de seu inconsciente, mas familiarizando-se com ele através de devaneios prolongados – ruminando, reorganizando e fantasiando sobre elementos adequados da história em resposta a pressões inconscientes. É aqui que o contos de fadas têm um valor inigualável, conquanto oferecem novas dimensões à imaginação da criança que ela não poderia descobrir verdadeiramente por si só. (BETTELHEIM, 2004, p.16).

Podemos então afirmar, através do olhar da psicanálise que os contos de

fadas tornaram-se histórias tão encantadoras para o público infantil em função da

forma como as histórias e as imagens dos contos estão estruturadas, propiciando à

criança inúmeras possibilidades de imaginação e criação, trazendo ao consciente os

medos e desejos que estavam em seu inconsciente; a criança, assim, vivencia no

faz de conta esses sentimentos.

A infância, para Vygotsky (2009, p.44), é considerada a época em que a

fantasia é mais desenvolvida e, de acordo com essa visão, à medida que a criança

se desenvolve, sua capacidade de imaginação está mais relacionada com o

raciocínio, ambos caminham lado a lado. Entretanto, mesmo que a criança possua

uma capacidade imaginativa menor do que o adulto, ela vive mais tempo no mundo

fantasioso no que no mundo real. Como já vimos a criança pequena ainda não tem a

28

capacidade de compreender as coisas que a cerca de maneira racional, mas fará

isso de maneira inconsciente através da sua imaginação, fantasiando até o ponto

em que encontre respostas para suas dúvidas

Os contos de fadas descrevem em suas histórias os conflitos e as relações

que as crianças estabelecem ao longo de seu desenvolvimento, todo conto possui

uma mensagem significativa, algo a ensinar e transmitir às crianças.

Os conflitos profundos originados em nossos impulsos primitivos e emoções violentas são todos negados em grande parte da literatura infantil moderna, e assim a criança não é ajudada a lidar com eles. [...] O conto de fadas, em contraste, toma estas ansiedades existenciais e dilemas com muita seriedade e dirige-se diretamente a eles: a necessidade de ser amado e o medo de uma pessoa de não ter valor; o amor pela vida e o medo da morte. (BETTELHEIM, 1980, p. 18)

O conto de fadas torna-se uma fonte preciosa de informações e

possibilidades de vivências e de novas combinações para atividade criadora da

criança. Esta é capaz de imaginar bem menos do que um adulto, mas confia mais

nos produtos de sua imaginação e os controla menos, afirma Vygotsky (2009, p.46),

portanto, tudo que a criança criar a partir de suas recordações dos contos, embora

irreal, será real, em função das emoções por ela vividas durante o processo da

imaginação.

O conto de fadas é orientado para o futuro e guia a criança – em termos que ela pode entender tanto na sua mente inconsciente quanto consciente – a abandonar seus desejos de dependência infantil e conseguir uma existência mais satisfatória. (BETTELHEIM, 2009, p.19)

Assim sendo, os contos de fadas ajudam a lidar com seus medos, trazendo-

lhes conforto e explicações para suas indagações, por meio da fantasia. Essas

proporcionam à criança a descoberta de sua própria identidade, sugerindo

experiências necessárias para o seu desenvolvimento e amadurecimento emocional

e psicológico. A criança tem necessidade da emoção imaginativa que vive por meio

da brincadeira, das histórias que a cultura lhe oferece.

As histórias e a imaginação são inseparáveis, a criança tem necessidade

das imagens fornecidas pelas histórias como estímulo para as suas próprias

criações, para que possa explorar o mundo. Como escreve Girardello (2011, p.82):

“as histórias permitem um exercìcio constante da imaginação.”

29

Cada criança irá recriar em sua mente a imagem de uma floresta, de um

príncipe e sua princesa, dos terríveis dragões, etc. Os contos de fadas são

literaturas visuais, a riqueza dos detalhes ajudam a crianças a construir um filme

mental, de maneira que possam mais tarde incorporar seu enredo em suas

brincadeiras.

E essa riqueza nos detalhes só será possível à compreensão após escutar

várias vezes a mesma história, a cada nova narração mais detalhes são absorvidos

e reencenados depois através da imaginação.

Rustin e Rustin (1987 apud GIRARDELLO, 2011, p.85) destacam a

Importância da dimensão imagética da narrativa, dizendo que os significados simbólicos das histórias se expressam através de [...] associações de imagens que reverberam ao longo da história [...], além de personagens com os quais a criança pode se identificar – como animaizinhos vulneráveis. Nas melhores obras para criança, [...] as histórias não agem só ao nível do enredo, mas através das imagens e de sua transformação [...], que lhe acrescentam ressonância e profundidade metafóricas.

Portanto, torna-se indispensável que a criança “mergulhe” no mundo da

literatura. Vygotsky (2009, p.44) afirma que a imaginação é uma “função mental

superior humana; todos podem criar, em maior ou menor grau, isso dependerá das

vivências acumuladas durante a vida.”

A parir dessas afirmações é possível compreender que a imaginação pode

ser estimulada, desde que o ambiente, que a cultura na qual a criança estiver

inserida seja propícia para o seu desenvolvimento.

Sob diferentes perspectivas, alguns autores afirmam que a imaginação pode

ser “educada”. Warnock (1976), apud Girardello (2011, p.76), escreve que “as

crianças podem ser ensinadas a olhar e ouvir de maneira a que a emoção

imaginativa seja consequência.” Gardner (1982), apud Girardello (2011, p.76),

também escreve semelhantemente: “assim como o entendimento lógico da criança,

também sua habilidade de se envolver com o faz de conta e a fantasia precisa ser

construìda.” Mock (1970), apud Girardello (2011, p.76), afirma: “a imaginação pode e

deve ser educada, e a experiência que ela nos dá é mais importante e válida do que

qualquer outra que possamos adquirir somente através do pensamento racional.”

30

Para Sloan (1993), apud Girardello (2011, p.85), “a tarefa mais importante da

educação parece ser a educação da imaginação.”

Se a compreensão de que a imaginação é fundamental no processo de

educação da criança pequena, ela torna-se uma grande aliada do professor no

processo ensino-aprendizagem. “A experiência imaginativa é vital para os caminhos

da criança em seu processo integral de conhecimento do mundo, tanto em seus

aspectos estéticos quanto cientìficos.” (GIRARDELLO, 2011, p. 77)

Uma das condições frequentemente mais apontadas como favoráveis à

imaginação é o contato profundo da criança com a literatura e a arte. Greene (1995,

p.129) afirma que a criança constrói significados particulares para ela a partir de

obras que lhe são apresentadas: “Mobilizar a imaginação das crianças em resposta

a um texto [...] pode ser comprometê-las com a busca de possibilidades

alternativas.”

A criança cria estratégias e novos enredos a partir do que já conhece,

experimenta a liberdade que a imaginação lhe possibilita. A imaginação é

impulsionada pela curiosidade e pode ser estimulada pelos adultos; a postura do

adulto no ambiente em que a criança vive é outro fator muito importante para a

imaginação infantil.

Cabe, então, a nós professores refletir sobre nossa prática em sala de aula,

se estamos possibilitando a nossas crianças um ambiente fértil para o

desenvolvimento da imaginação infantil. O papel do professor, como mediador entre

a criança, o espaço físico e social, faz diferença na qualidade imaginativa da criança

pequena.

Singer; Singer (2007), apud Girardello (2011), afirmam que a maior

imaginatividade aparece em ambientes com rotinas estruturadas, com familiares que

valorizam a curiosidade, a narração de histórias e variedade cultural; e que preferem

métodos de indução (não autoritários) no trato com as crianças. A criança, segundo

os autores, precisa de liberdade para brincar sozinha, livre de supervisão. “O faz-de-

conta emerge naturalmente como parte do desenvolvimento da criança pequena,

mas seu florescimento é encorajado quando os pais e outros adultos contam

histórias, lêem em voz alta ou interagem ludicamente com as crianças.” (SINGER;

SINGER, 2007 apud GIRARDELLO, 2011, p.81).

31

Portanto, ao ler para a criança precisamos considerar a fantasia presente

nas histórias, o professor precisa considerar a criança como um ser dotado de razão

e emoção, com uma mente plena de desejos, dúvidas, medos, angústias, e como

um sujeito que se constrói como um ser em constante transformação afetiva,

emocional e cognitiva.

Ceciliato (2007, s/p) escreve que na infância a escola deve permitir o sonho

e a aventura; a literatura, por ser uma arte, captura a criança pela imaginação e pela

gratuidade, não exige dela o retorno imediato ao mundo real.

Para nós, razão e imaginação não se constroem uma contra a outra, mas, ao contrário, uma pela outra. Não é tentando extirpar da infância as raízes da imaginação criadora que vamos torná-la racional. Pelo contrário, é auxiliando-a a manipular essa imaginação criadora cada vez com mais habilidade, distância. O que supõe, quase sempre possível, mediação do adulto, diálogo. Donde a idéia, por exemplo, de álbuns de co-leitura, necessários aos menores – quer se trate da leitura do texto, quer leitura da imagem – porque incitam a cultivar a imaginação dos menores [e ainda], dar à criança o gosto pelo conto e alimentá-la com narrações fantásticas, [e] se escolhidas com discernimento, é acelerar essa maturação com manipulação flexível é lúdica da relação real-imaginário. (HELD, 1980, p.47)

A leitura das histórias devem ser momentos prazerosos,

descompromissados de qualquer cobrança, deve-se permitir à criança fantasiar

sobre a história criando a partir de suas experiências.

Radino (2003), ao indagar como os contos de fadas são utilizados pela

escola de educação infantil, constata que as professoras desconhecem o valor

psicológico da literatura fantástica para a infância e que elas, na ânsia de tranquilizar

os medos de seus alunos, retiram das histórias o seu poder encantatório, dizendo-

lhes que essas histórias são “de mentira.”

Chamou-se a atenção o fato de as professoras dizerem aos alunos que os contos de fadas são histórias de mentira e que seus elementos fantásticos correspondem à criação de um autor. Nada mais racional [...]. Posicionando-se no lugar da verdade, o professor espera que a criança aceite sua única visão de mundo. Priorizando essa visão realista, os contos de fadas são vistos como obstáculo. (RADINO, 2003, p. 189)

Este tipo de posicionamento não deve existir nas escolas, pois nega à

criança o prazer de fantasiar, a oportunidade de superar os seus conflitos internos,

como defende Bettelheim (2004). Os contos devem ser entendidos e utilizados como

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ferramenta de aprendizagem e de estimulação ao imaginário infantil. Girardello

(2011, p.83) escreve que a escola deve manter aberto o espaço para as histórias, já

que o estìmulo narrativo é um dos mais poderosos “hormônios” da imaginação.

É através de uma história que se pode descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética, outra ótica... É ficar sabendo história, filosofia, direito, política, sociologia, antropologia, etc. sem precisar saber o nome de tudo e muito menos achar que tem cara de aula. (ABRAMOVICH, 2006, p. 17)

Radino (2003) faz duras críticas a maneira como muitas escolas de

educação infantil trabalham com suas crianças a perspectiva dos contos de fadas.

Em sua pesquisa realizada em escolas de educação infantil a fim de observar como

os contos de fadas eram utilizados pelos professores em sala, constatou que:

Mesmo que a educação infantil tenha passado por diversas, transformações, percebemos que, na prática, sua função ainda está vinculada a uma prontidão para o ensino fundamental. São valorizadas atividades que desenvolvem aptidão como a coordenação motora, a percepção, a discriminação visual e auditiva, a orientação espacial e temporal, etc. Para as professoras entrevistadas um conto de fadas ou qualquer outra atividade na escola nunca deve ser feita pelo simples prazer. Assim, ao contar uma história por contar, a professora perderá sua função. (RADINO, 2003, p.108)

É lamentável deparar-se com tais visões, que ainda estão presentes em

nossas escolas e que negam as nossas crianças o seu direito de vivenciar a

imaginação por meio da literatura infantil. É fato que nós professores diante de uma

“pedagogia imaginativa” precisamos realizar uma minuciosa avaliação de nossa

prática em sala de aula. É necessário aos educadores uma reinvenção de si

próprios, para que abram espaço e tempo para as experiências da imaginação.

“Uma pedagogia que não separe a formação de cidadão/trabalhadores/poetas,

gente que tenha razão e coração, é o que move a criação de uma pedagogia do

imaginário.” (BARBOSA, 2007, p.138)

Diante disso, é importante refletirmos sobre como o professor deveria

conduzir em sala de aula o trabalho com a literatura infantil. Girardello (2011) afirma

que, um ponto de partida para a criação de um espaço propício para estimular e

enriquecer o imaginário infantil é a preparação imaginativa da “performance” da

professora. Esta, ao contar uma história, precisa projetar mentalmente o seu enredo

33

(a floresta com o lobo, a casa da bruxa ou torre de Rapunzel). Se a professora vai

contar-lhes sobre a torre de Rapunzel, por exemplo, ela precisa projetar essa torre

em sua mente, é importante também que se façam comparações com elementos

presentes no cotidiano das crianças para ajudar no processo de formação do enredo

mental na mente de cada uma; comparar a torre de Rapunzel com o tamanho de um

prédio, por exemplo. Aqui é importante que não se demore nas comparações,

explicações muitos minuciosas podem fazer com que as crianças percam a

concentração na história.

A entonação de voz da professora é também importante, as crianças querem

saber como era voz do príncipe ao chamar por Rapunzel ao pé da torre ou até

mesmo a voz da bruxa ao descobrir que foi enganada. “São detalhes singelos, mas

essenciais, porque ajudam a criança a construir o filme mental sugerido pela

narração, e porque ajudam a professora a ter confiança no que está contando.”

(GIRARDELLO, 2011, p.84).

Já afirmamos, ao longo deste trabalho, que, por meio da narrativa, a criança

vivencia emoções e recria a partir delas, então é fundamental que a criança tenha a

oportunidade de expor seu medo, riso, choro e, até mesmo, suas dúvidas durante a

narração de um conto ou demais histórias. A curiosidade não deve ser encarada

como um obstáculo ou interrupção da narração, mas um ingrediente a mais para

tornar a história mais encantadora e prazerosa.

O que torna as vidas dos outros significativa para nós é nossa habilidade de compartilhar imaginativamente de suas emoções, medos, esperanças, intenções, etc. Pensar nelas como se fossem nossas; e expandir as nossas ao pensar como se fossem alheias. (EGAN, 1992, p.64)

A partir das vivências das histórias a criança irá recriá-las em suas

brincadeiras, daí a importância de possibilitarmos às crianças espaços e tempos de

brincadeiras, uma vez que, quanto mais elas desenvolverem sua capacidade de

imaginar, mais desenvolverão processos criativos. Vygotsky escreve que a

brincadeira de faz-de-conta é caracterizada pelo elemento da imaginação; nessa

dimensão imaginária a criança representa papéis e delimita regras. “A brincadeira de

faz-de-conta é o locus em que a imaginação na infância se manifesta e se

desenvolve, possibilitando à criança torna-se aquilo que não é e permitindo-lhe

ultrapassar os limites postos pela realidade.” (SANTOS, 2009, p.166)

34

Vygotsky (2009, p.97-99), também, nos escreve sobre a criação teatral da

criança, ou sobre a dramatização, que é a mais próxima da criação literária infantil.

Para ele a criança, por força do instinto e da imaginação, cria as situações e os

ambientes que a vida não lhe apresenta, a criança quer encarnar qualquer invenção

ou impressão em imagens e ações vivas. Trazendo para o campo da nossa

discussão sobre os contos de fada e a imaginação infantil, podemos compreender

que a criança durante a sua representação teatral pode vivenciar os personagens

com os quais mais se identifica, recriando e reorganizando seus sentimentos a partir

da representação de papéis.

O autor, ainda, escreve que outro motivo para aproximar a criança do drama

é a relação deste com a brincadeira. Dada a raiz de toda a criação infantil, o drama,

está diretamente relacionado à brincadeira, mais do que qualquer outro tipo de

criação. Uma educação da infância, que enfatize a imaginação, pode contribuir para

quebrar com o preconceito dualista que em nossa cultura ainda separa a razão da

emoção.

Sem a fantasia imaginativa haveria completa estagnação tanto na física como na química, porque a formulação de novas hipóteses, a invenção de novos implementos, a descoberta de novos métodos de pesquisa experimental, a conjetura de novas fusões químicas – todas são produtos da imaginação e da fantasia. (CHUKOVSKY, 1968 apud GIRARDELLO, 2011, p.87)

Mais uma vez destacamos que um dos estímulos mais importantes à

imaginação infantil é a narrativa. As histórias permitem o exercício constante da

imaginação na qual, por meio do prazer estético e poético, as crianças conhecem o

mundo e constroem a si mesmos. “A narrativa é o elo de ligação entre a imaginação

e a cultura. Por isso a nossa responsabilidade diante das histórias que a nossa

cultura oferece para nossas crianças.” (GIRARDELLO, 2005, p.7). Portanto, é

ouvindo histórias sobre:

madrastas malvadas, crianças perdidas, reis bondosos, mas desorientados, lobas amamentando gêmeos, filhos caçulas que não recebem herança e devem buscar a sorte no mundo, e filhos mais velhos que desperdiçam a herança e acabam vivendo no exílio, em meio aos porcos, que as crianças aprendem ou desaprendem o que é uma criança, o que é um pai ou uma mãe, o que pode ser o conjunto de personagens entre os quais elas nasceram, e quais são os caminhos do mundo. Prive as crianças de histórias e você as deixará sem roteiro, gaguejando ansiosamente, tanto em

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suas ações, como em suas palavras. (MACINTYRE, 1993 apud GIRARDELLO, 1998, p 68)

A narrativa exercitará também a memória, a criança por estar interessada no

enredo gravará elementos e detalhes que sabe que lhe trarão satisfação em outra

parte da história. Isso também pode acontecer quando a mesma história é contada

diversas vezes, a cada narrativa, a criança saboreará melhor estes elementos.

A literatura infantil, especialmente o conto de fadas, é um caminho fértil,

prazeroso e com infinitas possiblidades de trabalho em sala de aula para o

desenvolvimento da imaginação de nossas crianças. É importante que nós,

educadores, professores e pedagogos, lembremos das palavras de Chukovsky

(1968), apud Girardello (2011), fazendo delas um guia para nossa prática

pedagógica:

Nosso dever, como educadores, é não apenas responder às infinitas questões das crianças, mas também estimular ativamente a curiosidade delas, para que de um ano para outro, e às vezes de um mês para o outro, essas questões se tornem mais e mais interessantes. (CHUKOVSKY, 1968, apud GIRARDELLO, 2011, p.88)

A criança necessita ter o contato com os livros, seja com pequenas gravuras

e textos simples, ou até mesmo que o adulto leia para ela. É através dos livros que a

criança pode tornar seu mundo mais colorido e rico em fantasias, oportunizando o

conhecimento de si mesma e da realidade.

A imaginação infantil não deve ser vista como uma simples diversão da

mente infantil, como afirmava Vygotsky (2009), ela precisa ser entendida como uma

função primordial e de extrema importância para o desenvolvimento da criança. E,

através da literatura podemos contribuir para tornar essa imaginação cada vez mais

fértil, ler e ouvir histórias são situações de imenso prazer para mundo infantil.

É esta visão de leitura, prazer e diversão que deve permanecer, a literatura

deve ser um convite à fantasia, deve estar livre de qualquer cobrança pelo adulto,

pois é através da liberdade de fantasia que a criança se desenvolve.

A seguir realizaremos algumas considerações no sentido de sistematizar e

sintetizar os dados até aqui apresentados, apontando alguns pontos que nos

chamaram a atenção.

36

4.1. SISTEMATIZAÇÃO E SÍNTESE DOS DADOS OBTIDOS MEDIANTE

PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

Ao iniciarmos a pesquisa sobre a temática alvo deste trabalho, encontramos,

que os contos de fadas, originalmente, foram construídos para o universo adulto,

não eram destinados ao universo das crianças, uma vez que as histórias eram

recheadas de cenas de adultério, canibalismo, incesto, mortes hediondas e outros

componentes do imaginário dos adultos.

Quando a “infância” é descoberta os contos de fadas passam a sofrer

transformações no sentido de contemplarem as necessidades das criança, bem

como de sua vida imaginária. A partir deste momento os contos de fadas passam a

ser um poderoso “combustìvel” para o desenvolvimento da imaginação infantil, os

contos passam a ser narrados, agora pelas amas e governantas das casas, tais

histórias continuaram a ser adaptadas de acordo com as necessidades de cada

época.

O conto de fadas na forma que conhecemos hoje, surgiu na Europa,

especialmente na França e Alemanha, no final do século XVII e XVII. Dentre os

autores que se destacaram desta época está Perrault; este autor registrava as

histórias com base nas narrações que eram feitas das histórias populares, e

posteriormente as adaptava conforme a necessidade da corte francesa. São nos

contos de Perrault que encontramos, as mensagens morais, pois para o autor estas

mensagens tinham como finalidade servir de orientação.

Diferentemente de Perrault, que registrava os contos na sua forma original e

acrescentava-lhes apenas a moral no final, surgem na Alemanha os irmãos Grimm,

que, em suas versões, alteraram as histórias em si, tirando-lhes, em sua maioria, a

violência explicita. Os contos dos Grimm são marcados pela solidariedade e o amor

ao próximo, suas histórias são recheadas de Bruxas, madrastas, príncipes

encantados.

Mas os contos de fadas só passaram a considerar o mundo infantil e suas

necessidades com o dinamarquês Hans Cristian Andersen. Este é considerado o pai

da literatura infantil, isto porque o autor escrevia diretamente para as crianças, é em

sua literatura que a criança era retratada como o personagem principal.

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Muitos outros autores, que já foram citados no segundo capítulo, também

contribuíram para transformar tais histórias em verdadeiros tesouros preciosos. O

que podemos afirmar sem sombra de dúvida é que clássicos ou contemporâneos, os

contos de fadas continuam a impulsionar a imaginação das crianças sobrevivendo

aos séculos, sendo, até os dias de hoje, muito apreciados pelos pequenos.

Também, aprendemos mediante este trabalho, que no Brasil, os contos de

fadas chegam pelas mãos do escritor Monteiro Lobato. Lobato utilizou em seus

contos uma linguagem simples e cheia de fantasia, o resultado foi o encantamento

das crianças brasileiras. O escritor preocupava-se com a qualidade das histórias que

eram destinadas às crianças. A literatura que ele propunha era livre de qualquer

cobrança, a criança devia ser livre para fantasiar, os livros infantis deveriam ser

feitos para a crianças, livros que levassem em consideração suas limitações e seus

desejos de fantasia.

Seguindo os passos de Monteiro Lobato, outros autores brasileiros, como

Ana Maria Machado, Ruth Rocha e Ziraldo, levam em consideração a criança e sua

sede de imaginação em suas histórias. Tais autores, assim como Monteiro Lobato,

opõem-se ao modelo adultocêntrico, onde a criança é vista como uma miniatura do

adulto.

Nessa concepção, o livro infantil, segundo Meireles (1984), transmitia os

pontos de vista que os adultos consideravam mais importantes e úteis à formação

de seus leitores; nestas condições qualquer tema, de suficiente elevação moral,

exposto de forma singela e correta pode transformar-se num livro infantil. E é o que

na maioria tem acontecido.

Aqui torna-se necessário a seguinte nota: os contos de fadas, que fazem

parte da literatura infantil, classificam-se como histórias adultocêntricas, pois tendem

a passar uma moral. Durante muitos anos os contos de fadas foram utilizados como

artifício para formar as mentalidades das crianças de acordo com as necessidades

da sociedade vigente. Reconhecemos, portanto, partindo dessa análise, suas

desvantagens, mas, por outro lado, devido a sua grande riqueza literária, o conto de

fadas, sendo utilizado da maneira adequada pelo professor, tende a oferecer

grandes benefícios ao desenvolvimento imaginativo da criança pequena.

Vygotsky (2009) defende que a imaginação é uma atividade mental que se

desenvolve gradualmente e está vinculada com a realidade significativa. O conto

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traz em suas narrações situações com as quais a criança pode se identificar,

ganhando aos seus olhos um grande valor, pois oferece, de maneira subjetiva, uma

possível solução para seus medos, produzindo subjetividade.

Isso se torna possível porque, ainda segundo Vygotsky (2009), nosso

cérebro possui uma grande plasticidade, modificando-se a cada nova influência

recebida, se os estímulos são fortes e frequentes produzem marcas, que permitem,

posteriormente, reproduções, ou seja, podem ser relembrados. E, além de relembrar

os fatos ocorridos, nosso cérebro é capaz de fazer novas combinações, ou seja,

somos capazes de criar a partir das combinações de nossas experiências, quanto

mais experiências tivermos mais “conteúdo” para combinar e criar, consequente

mais fértil será nossa imaginação.

Agora, chegamos no ponto crucial deste trabalho, concluímos que o conto

de fadas oferece uma grande possibilidade de vivências de fantasias à criança em

processo de desenvolvimento. No conto é permitida a alegria, o choro, o medo, a

raiva, a ansiedade, todos os sentimentos são livres e contribuem para tornar o

momento mágico, e a criança pequena valoriza muito mais que o adulto os produtos

de sua imaginação.

É o fato de a criança pequena atribuir grande valor aos produtos fantasiosos

da sua mente, que coloca o conto como grande “estimulador” dessa fantasia. Os

contos são histórias que trazem uma grande variedade de informações,

proporcionando as mais diversas dúvidas e curiosidades; a curiosidade infantil é

uma aliada do desenvolvimento, pois provoca na criança a buscar de novos

conhecimentos.

Em suma, as histórias dos contos de fadas propiciam o desenvolvimento da

atenção, do raciocínio, senso crítico, imaginação, criatividade, afetividade e de

valores. Estas são vantagens que nós adultos podemos encontrar nos contos. A

criança, por outro lado, pode encontrar no conto uma possibilidade de liberdade, da

fantasia, um momento em que pode expor seus desejos, sem medo de ser

reprimida. O conto oferece à criança vivências, as experiências, que Vygotsky

defende como fundamentais para o processo de desenvolvimento humano. Se

imaginar é uma função tão vital, por que negar isso a criança, já que isso lhe faz tão

bem?

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Ao ler para a criança ou oferecer os contos para a criança, é necessário

lembrar que a “cobrança” ficou no passado, com a moral adultocêntrica. A literatura

deve ser oferecida como um momento de prazer e de desenvolvimento da

imaginação da criança, deixando-a livre para conhecer, descobrir, criar, “delirar” etc.

Ocultar partes “malvadas” dos contos de fadas para não provocar medo nas

crianças de nada ajuda, pois a criança, através da sua imaginação, irá estabelecer

uma constante interação entre o mundo real e o mundo da fantasia e poderá

aprender sobre os conflitos humanos. Mostrar-lhes um mundo perfeito, onde não

existem momentos desagradáveis, é negar à criança a oportunidade de desenvolver

a sua criticidade e reflexão sobre o mundo e sobre seus atos. No conto, o erro é

permitido, e mais, ele é perdoado seguido de mudanças, o que leva o herói a um

final feliz. Zilberman (1998), ao escreve como procede a literatura, afirma que:

Ela sintetiza, por meio dos recursos da ficção, uma realidade, que tem amplos pontos de contato com o que o leitor vive cotidianamente. Assim, por mais exacerbada que seja a fantasia do escritor ou mais distanciadas e diferentes as circunstâncias de espaço e tempo dentro das quais uma obra é concebida, o sintoma de sua sobrevivência é o fato de que ela continua a se comunicar com o destinatário atual, porque ainda fala do seu mundo, com suas dificuldades e soluções, ajudando-o, pois, a conhecê-lo melhor (ZILBERMAN, 1998, p.22)

Infelizmente, muitos adultos inclusive professores, ainda, acreditam que a

maturidade depende exclusivamente dos conteúdos trabalhados na escola,

conteúdos desprovidos de maiores significados para a vida, que não levam em

consideração as particularidades das crianças. À escola não interessa o sujeito

psicológico, suas dúvidas, seus conflitos, seus anseios, mas somente um indivíduo a

ser formando para sustentar, no futuro, o sistema da sociedade vigente.

A escola não tem respeitado o conto de fadas, enquanto uma arte. O seu

uso racional, feito pela escola, acaba por restringir suas funções, adaptando-o ao

modelo pedagógico com fins instrucionais, deixando de lado a leitura prazerosa e

imaginativa.

Os professores necessitam abrir mão da racionalidade para dar lugar a

imaginação livre, na qual o conto de fadas é reconhecido como uma forma artística,

forma que pode estimular a imaginação infantil, como nenhuma outra pode.

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O conto de fadas desenvolve a capacidade de fantasia e imaginação infantil,

eles são para as crianças, o que há de mais real dentro e fora delas.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho dedicou-se, por meio de pesquisa bibliográfica, a buscar as

principais fontes sobre a origem e o desenvolvimento dos contos de fadas aos longo

dos anos. Para isto, procuramos realizar, de maneira breve, sua contextualização

histórica, ou seja, procuramos identificar como e onde os contos de fadas surgiram,

quais foram seus principais escritores, e a quem se destinavam. E para alcançarmos

o nosso principal objetivo, que era conhecer e analisar a relação existente entre os

contos de fadas e o desenvolvimento da imaginação e da criação infantil, tornou-se

necessário a compreensão sobre como funciona nossa mente quando se trata da

imaginação e, para isso, nos remetermos a teoria vygotskyana.

Assim, foi possível uma reflexão sobre a sintonia entre os contos de fadas e

a imaginação da criança pequena. Os contos de fadas representam uma literatura

ímpar rica, prazerosa e fácil de ser lida e interpretada pela criança, e é por isso que

a criança aprecia tanto esse tipo de literatura. O conto proporciona a ela momentos

de “liberdade imaginária”, experiências que enriquecem imensamente sua

imaginação e vida.

Acredito na relevância deste trabalho, ao direcioná-lo aos educadores,

mestres, responsáveis, muitas vezes, por realizar a mediação entre a criança e o

livro, por estimular o desenvolvimento dessa imaginação. Acredito também que as

mudanças, portanto, devem ser iniciadas com mudanças em nosso cotidiano, a

leitura prazerosa deve ganhar cada vez mais espaço na escola.

Cabe então a nossos professores levar para as escolas esta discussão, para

que possamos refletir sobre nossa prática educativa, a verdadeira educação pode e

deve respeitar as especificidades infantis. Se à imaginação infantil for agregada o

mundo da escola, a criança, com certeza, sentir-se-á mais confiante e terá

condições para receber e olhar o mundo com outros olhos.

Como destacado anteriormente, agora com a finalidade de finalizar este

trabalho, concluímos que o conto de fadas oferece grandes possibilidades de

vivências, de fantasias, à criança em processo de desenvolvimento, e pode

configurar-se como um elemento importante, constituinte, das funções mentais

superiores, pois, ao favorecer o desenvolvimento da imaginação infantil, acaba

contribuindo para o desenvolvimento de todas as outras funções a ela relacionadas.

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E deve ser incorporado às práticas educativas que tem como alvo o trabalho com

crianças pequenas.

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