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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Josileide Manning ARTIGO O PRAZER DE APRENDER A LER CURITIBA 2007

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Josileide Manning

ARTIGO O PRAZER DE APRENDER A LER

CURITIBA

2007

Josileide Manning

ARTIGO O PRAZER DE APRENDER A LER

Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação

apresentada ao Curso de Psicopedagogia da

Faculdade de Ciências Humanas da Universidade

Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a

obtenção do título de especialização.

Orientador: Margaret Schroeder.

CURITIBA

2007

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TERMO DE APROVAÇÃO Josileide M. N. Manning

O PRAZER DE APRENDER A LER

Este Artigo foi julgada e aprovada para a obtenção do título de.................... de Mestra ( Especialista) em

........................................................................................................................ no Programa (curso) de

....................................................................................... da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ..........de...................de2007.

_____________________________________________

Curso de Psicopedagogia Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Prof. Margaret Schroeder Faculdade de Ciências Humanas

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O PRAZER DE APRENDER A LER JOSILEIDE M. N. MANNING1

RESUMO

O propósito deste artigo é o de refletir sobre a questão do fracasso escolar nas salas de aulas brasileiras em relação à alfabetização. Através de uma metodologia equilibrada, estruturada e diferenciada, já adotada nas escolas dos Estados Unidos e Inglaterra, tendo como foco principal trazer o prazer de ler para a sala de aula. Pretende-se chamar a atenção para a necessidade de introduzir novas práticas que busquem respeitar o ritmo de aprendizagem de leitura dos nossos alunos sem gerar tanta ansiedade e evitar a frustração dentro da sala de aula. A prática da ‘Oficina de Leitura’ possibilita que a sala de aula se torne um ambiente agradável de aprendizagem e, ao mesmo tempo, proporciona uma estrutura que auxilia o professor a conhecer e atender as necessidades de aprendizagem de seus alunos. A ‘Oficina de Leitura’ vem resgatar uma metodologia sistemática e estruturada (ensino alfabético e fonético) para a sala de aula do século XXI. Porém, ainda abre espaço para que haja uma integração entre o método global e o método silábico. Enfim, a ‘Oficina de Leitura’ busca uma experiência conjunta de aprendizagem entre o professor e o aluno, estimulando não o prazer de aprender a ler, mas também o prazer de ensinar a ler. Palavras-chave: Oficina de Leitura; Leitura Dirigida; Scaffolding.

ABSTRACT The aim of this article is to reflect upon the poor literacy skills currently happening in Brazilian primary school settings. By introducing a balanced literacy methodology already adopted by the U.S.A. and Great Britain, its main focus is to bring the pleasure of teaching and learning of reading back to the classroom. Also it hopes to call attention to the need of bringing new teaching practices that respects each student’s learning pace inside a normal classroom setting. The ‘Reader’s Workshop’ is a teaching practice that targets the needs of a particular group with similar reading abilities. The ‘Reader’s Workshop’ also provides enough structure for the class teacher so that he or she can better attend to the learning needs of each student. The ‘Reader’s Workshop’ brings a systematic and structured routine (bottom-up approach) that may bring the teaching of reading into the 21st century. The ‘Reader’s Workshop’ aims to bring an enthusiastic learning path for the teacher and the student and at the same time it helps to motivate children and establish good reading habits and encourages the pleasure of reading. Key-words: Reader’s Workshop; Guided Reading; Scaffolding.

1 Este ARTIGO faz parte do conteúdo programático do curso de Especialização em Psicopedagogia da Universidade Tuiuti do Paraná.

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O objetivo deste artigo é o de contribuir com uma metodologia diferenciada

no ensino da leitura nas salas de aulas brasileiras, usando uma metodologia mais

individualizada e prazerosa visando então amenizar o fracasso escolar no ensino

fundamental. Esta metodologia já faz parte do currículo nos Estados Unidos da

América e na Inglaterra.

O ato de decodificar (ler), codificar (escrever), interpretar e compreender um

texto é um hábito praticamente contemporâneo para a cultura humana. Wolfe e

Nevillis (2004) afirmam que o ser humano tem usado a linguagem verbal por quase

quatro milhões de anos, porém a habilidade de representar os sons que somos

capazes de emitirmos na linguagem escrita só aconteceu cerca de cinco a quatro mil

anos atrás. Na verdade, até o começo do século vinte, a grande maioria da nossa

sociedade era analfabeta. Porém, as expectativas da sociedade contemporânea é

que todo indivíduo possua a habilidade de ler e escrever. Aqueles que não são bons

leitores ou simplesmente não são capazes de decodificar ou codificar com muita

facilidade provavelmente não conseguirão alcançar o mesmo sucesso no mercado

de trabalho. O fato é que há um número muito significativo de adultos e crianças que

simplesmente abandonam a escola por não corresponderem às expectativas do

currículo escolar. Porém, a realidade mais frustrante, aqui no Brasil, é que uma

fração minúscula destes indivíduos consegue receber alguma forma de atendimento.

Capovilla & Capovilla (2004) afirmam que o Brasil precisa buscar uma saída

para sua crise escolar examinando a história e a experiência internacionais. Acredito

firmemente que esta posição precisa ser analisada pelo sistema educacional

brasileiro, de modo a adaptar a metodologia internacional à realidade brasileira.

Para defender a metodologia internacional, pretendo relatar um fato pessoal

que ocorreu há alguns anos quando ainda era residente na Inglaterra e estava de

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férias visitando a família no Brasil. A minha filha que então tinha sete anos de idade

adorava passar o dia brincando com os seus primos e depois de tanto brincar a sua

opção para descansar era de escolher um livro e mergulhar no mundo da leitura.

Porém, a escolha das outras crianças deste cenário geralmente era o de sentar no

sofá e assistir televisão. Certo dia, ela decidiu levantar do seu cantinho foi até a sala

e muito irritada perguntou a todos: “Vocês não estão cansados de farrear? Por que

não fazem como eu e pegam um livro para relaxar?” Como expectadora desta cena,

não pude ignorar a grande verdade que a minha filha havia acabado de verbalizar.

Na verdade, a cultura que ela havia vivenciado durante os sete anos de sua

pequena existência fôra uma cultura onde o livro era apresentado como uma forma

de prazer e de vivenciar fantásticas aventuras. Porém, mesmo que este tenha sido

um fator importante para construir o seu prazer pela leitura, acredito que não tenha

sido o único, pois seus primos também tiveram incentivos semelhantes. A diferença

principal ocorreu na fase de sua alfabetização escolar. Ela, ao contrário de seus

familiares, não foi alfabetizada com o uso de cartilhas, apostilas ou livros didáticos.

Suas tarefas de casa não foram apostilas com figuras em preto e branco e linhas

pontilhadas. Sempre levou para casa livros com ilustrações bonitas e coloridas,

cheios de aventuras, porém com um vocabulário adequado para a sua idade e nível

de leitura. A leitura sempre foi associada ao prazer, não ao dever.

Mas só relatar a experiência da alfabetização da minha filha não é o

suficiente para defender uma metodologia. Durante o longo período de vivência na

Inglaterra, esta escritora deste artigo teve a oportunidade de vivenciar a metodologia

de ensino profissionalmente. Pois, foi na Inglaterra onde estudei, me formei e por

vários anos exerci a profissão de professora em escolas públicas do governo inglês.

Foi lá que aprendi que a filosofia principal da alfabetização, não pode ser aquela de

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só ensinar a decodificar, mas sim de ver cada aluno como um leitor ávido, que se

apaixone pela leitura.

Os vários problemas que o Brasil enfrenta no ensino da leitura e da escrita

não é segredo para nenhum profissional brasileiro ou estrangeiro. Capovilla &

Capovilla (2004, p. iv) relatam o seguinte sobre o fracasso do ensino de

alfabetização no Brasil: “No último quarto do século, assistimos ao agravamento de

um fracasso escolar endêmico no Brasil. A cada ano, mais de um quarto de todas as

crianças que ingressa na 1ª série do ensino fundamental fracassa e não chega à 2ª

série”.

Weiss (1996, p. 77) afirma que: “a escola reflete a sociedade em que está

inserida no tempo e no espaço” e levanta as seguintes questões: “O que será a

escola brasileira do Terceiro Milênio? O que é a escola “para a modernidade” e a

“escola tradicional”? Quais as diferenças concretas que chegam à sala, nos anos

90”?

Assistindo a uma palestra do psicanalista e médico psiquiatra Jorge Forbes

– “A Educação do Bem e do Mal” – no congresso de 15 anos da ABPp2 foi muito

difícil como professora ter que concordar com ele, quando ele afirmou que a escola

brasileira ainda não chegou no século XXI.

Acredito que este artigo possa contribuir para trazer um pouco do século XXI

para a sala de aula brasileira. Sendo que o primeiro passo será refletir sobre a

instalação da oficina de leitura dirigida como parte da rotina diária de uma sala de

aula do ensino fundamental.

Calkins (2001, p. 11) chama a atenção para a importância de criar um

ambiente de sala de aula cheia de livros que venham a chamar a atenção dos

2 Seção Paraná do Sul

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alunos e desperte nas crianças o desejo de aprender a ler. Embora a aquisição de

leitura dependa de um conjunto amplo de habilidades, Calkins realça uma

necessidade muito grande de que a criança seja exposta há uma variada e rica

literatura infantil. “Readers learn from reading itself” 3 .

Quase todas as crianças são capazes de aprender a decodificar, porém

poucos se tornam letradas. Para que o prazer de ler venha a acontecer é necessário

que vários elementos se intercalem constantemente. Nos Estados Unidos, há um

termo conhecido como Balanced Literacy Program4 . Um programa de ensino de

leitura e escrita que busca uma estrutura e equilíbrio entre os elementos principais

para um bom desenvolvimento da leitura e da escrita. Na Inglaterra, este sistema de

ensino foi declarado obrigatório em todas as escolas com a implementação

conhecida como National Literacy Strategy (DfEE51997); que também segue uma

metodologia semelhante ao dos Estados Unidos. Estes dois métodos procuram

seguir um ensino equilibrado, composto de três elementos.

1. A OFICINA DE LEITURA

• Leitura em voz alta – esta leitura é feita pelo professor- o livro

escolhido geralmente é um livro que expõe os alunos a um

vocabulário um pouco mais avançado ainda difícil para os alunos

lerem independentemente.

• Leitura coletiva – o professor utiliza livros gigantes, retroprojetor ou

pôsteres coloridos. Durante esta sessão, a leitura é feita por todas as

crianças em voz alta.

3 “Bons leitores são produtos do hábito de ler” 4 Programa equilibrado/estruturado do ensino de literatura e alfabetização 5 Departament for Education and Employment – Departamento de Educação e Trabalho

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• Leitura dirigida – o professor divide a sua turma em grupos, de

acordo com os diferentes níveis de leitura.

• Leitura independente – durante esta sessão, os alunos escolhem um

livro, de acordo com o seu nível e lêem independentemente - leitura

silenciosa.

2. ENSINO SISTEMÁTICO DE DECODIFICAÇÃO E VOCABULÁRIO

• Abordagem fonológica.

• Ensino sistemático e estruturado de vocabulário.

3. A OFICINA DA ESCRITA

• Escrita coletiva – professor escreve no quadro as idéias, histórias

discutidas em grupo.

• Escrita dirigida - grupos pequenos- geralmente quando o grupo ainda

não consegue criar uma redação independente.

• Escrita independente – o aluno trabalha na sua redação sem a ajuda

do professor.

DIFERENÇA ENTRE O BALANCED LITERACY PROGRAM E O MÉTODO

GLOBAL.

A necessidade de programar uma metodologia mais estruturada na

Inglaterra e nos Estados Unidos foi uma conseqüência do fracasso escolar muito

parecida com a que vem acontecendo no Brasil atualmente. Visto que estes países

haviam abandonado uma metodologia sistemática e estruturada, tais como a

estrutura do ensino alfabético, silábico, fonêmico, gramatical e o ensino de

estratégias essenciais para uma boa compreensão e interpretação de um

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determinado texto. Estes países adotaram imensamente o método global

(GOODMAN, 1986) ou ideovisual. Esta metodologia global presume que os alunos

podem aprender a ler naturalmente através da exposição há vários tipos de

literatura, tendo apenas um mínimo de instrução sobre as regras básicas da

alfabetização.

Gough & Hillinger, (1980) sempre foram defensores de que a o ato de ler

não pode ser caracterizado como um ato natural. No começo dos anos noventa,

pesquisas feitas por Gouh, Juel e Griffith (1992) apresentaram evidências que

indicavam que a aprendizagem das relações grafema-fonema das sílabas, palavras,

frases e textos não é um processo que vem com naturalidade e facilidade para a

criança na fase da alfabetização.

Luzia de Maria (1994 citada por WEILLS, 1996, p.174), afirma que “a sala de

aula é um espaço privilegiado”, onde o professor pode proporcionar várias

experiências positivas e prazerosas ao seu aluno. Ao abraçar a metodologia do

Balanced Literacy Program, o professor abrirá espaços para que o desejo e o prazer

de aprender a ler se tornem uma rotina em sua sala de aula. Com a instalação da

oficina de leitura, o professor proporcionará aos seus alunos que compartilham

necessidades semelhantes a oportunidade de trocar idéias e alcançar um nível de

aprendizagem mais homogenia. Faz sentido então que o professor trabalhe com

grupos pequenos proporcionando assim um clima favorável à aprendizagem.

Vigotsky (1978) nos ajuda a compreender a relevância da integração e

relação entre o aluno e o professor. Vigotsky vê a aprendizagem como um evento

social que pode ser enriquecido quando o ato de ensinar é baseado na zona de

desenvolvimento proximal. Esta área tem sido descrita como a área entre o nível em

que os alunos se encontram no presente e o nível que o aluno pode chegar se

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receber assistência de um ser mais sábio, ou como Braunger & Lewis (1998, p. 29)

preferem dizer: “um ser mais sofisticado”.

Bruner (1985), assim como Vigotsky, acredita e defende que o ato de

aprender acontece com mais eficácia através da integração social bem estruturada,

a qual ele deu o nome de scaffolding6.

Os Estados Unidos e a Inglaterra já estão aplicando a teoria destes grandes

contribuintes à metodologia da aprendizagem e as estatísticas já começaram a

demonstrar resultados positivos. No caso da Inglaterra, o índice de alunos que

estavam abaixo do nível esperado de leitura caiu de 45% para 20% em menos de 10

anos. Hoje, a Inglaterra passou a ocupar o terceiro lugar no ranking internacional de

desempenho de leitura de alunos de 4ª serie (TWIST et al., 2003 citado em

CAPOVILLA, 2004, p.xv).

Entendo que a realidade política e social brasileira não pode ser comparada

com a da Inglaterra e a dos Estados Unidos. Porém, o Brasil é um país rico em

literatura e criatividade, por que então negar este direito de aprender aos nossos

alunos na sala de aula? Então, está na hora de seriamente refletirmos nas palavras

de Jorge Forbes e Lúcia Weiss e começarmos a introduzir metodologias do século

XXI para as nossas escolas.

OFICINA DE LEITURA – UMA METODOLOGIA DIFERENTE DE APRENDER A

LER.

Como já mencionado neste artigo, as teorias de Vigotsky (1978) e Bruner

(1986) têm como ênfase principal uma metodologia interativa e colaborativa entre

professor e aluno. Eles especificamente chamam a atenção para a importância da

6 sistema de andaimes – uma escala/gradativa de crescimento de aprendizagem.

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intervenção efetiva da parte do professor; ele precisa usar estratégias estruturadas

(scaffoling strategies) tais como:

• Visualização - compartilhar a visão do produto final - mostrar exemplos

de trabalhos produzidos por profissionais;

• Demonstrar - ilustrar os passos necessários que o profissional precisa

passar até conseguir o produto final;

• Auxiliar e apoiar - seus alunos durante o processo da aprendizagem.

Como a criança é vista como um aprendiz, que inicialmente precisa muito do

apoio do professor, mas que gradualmente se torna mais independente até alcançar

o ponto total de independência, a figura abaixo foi organizada para mostrar

claramente como a oficina da leitura se compromete com as teorias de Vigotsky e

Bruner.

Figura 1: adaptado de: ROG, L.J. Guided Reading Basics. Ontario: Pembroke Publishers, 2003

Leitura em voz alta – professor modela bons hábitos de leitura para seus alunos

Leitura coletiva – professor e alunos lêem juntos em voz alta

Leitura dirigida – alunos são divididos em grupos de leitura de acordo com seu nível e

habilidade

Leitura independente aluno ler sozinho sem nenhum suporte do

professor

Apoio mínimo do professor

Apoio muito alto do

professor

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LEITURA EM VOZ ALTA

O ato de ler em voz alta para os alunos deve ser parte de uma rotina diária

da sala de aula. Esta sessão precisa ter como objetivo principal desenvolver o

prazer de ler, não como uma sessão que procura ensinar a decodificar palavras. Os

livros ou histórias narradas devem ser historias que desperte o interesse dos alunos,

tais como os contos de fadas, clássicos brasileiros e até mesmo a recitação de

poemas para diversificar os gêneros de historias e livros expostos aos alunos.

LEITURA COLETIVA

Durante esta sessão, o papel do professor é o de demonstrar estratégias

que ajudem o leitor a decodificar e compreender melhor o texto que lhe esta sendo

apresentado. Rog (2003, p.11), define a leitura coletiva como “learning to read by

reading”7. Porém, gosto de pensar nesta sessão como uma sessão interativa, onde o

professor pode demonstrar os dois métodos de leitura que parecem ser tão

diversificados, ou seja, o método global (top-down) e o método fonético e silábico

(bottom-up). Sinclair & Coulthard (1975); Hargie (1978); Edwards (1980) acreditam

na importância e relevância do professor em exercer o papel de técnico, de perito no

desenvolvimento da discussão da leitura. É importante enfatizar que o texto usado

nesta sessão precisa ser um texto que tenha a escrita de um tamanho adequado

para que todos os alunos possam ver a escrita. Holdaway (1979) fala da leitura

coletiva como uma experiência conjunta de aprendizagem e uma estratégia muito

rica como parte da aprendizagem na sala de aula. Holdaway e sua teoria do

desenvolvimento mostra como o aluno e o professor, através da leitura coletiva,

podem se beneficiar de um ambiente seguro, porém estimulador e produtivo que

7 “aprender a ler lendo”

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leva o aprendiz a ter acesso a novas experiências sem correr o risco de alcançar o

nível de frustração. A leitura coletiva se torna bastante eficiente quando:

• O aluno se sente capaz de suceder;

• Percebe que a leitura tem um propósito;

• Sente-se seguro o suficiente para se arriscar;

• Respeita e demonstra confiança pelo professor.

LEITURA DIRIGIDA

A leitura dirigida é, em minha opinião, a mais gratificante, porém a mais

estressante, visto que o professor precisa dividir os seus alunos em grupos

pequenos, um total de 5 a 6 crianças por grupo. Durante esta sessão, cada grupo

precisa estar trabalhando em atividades independentes, para que o professor possa

dedicar sua atenção total ao grupo com quem deseja ler.

O objetivo principal da leitura dirigida é ensinar estratégias e desenvolver

bons hábitos de leitura no aluno para que ele se torne um leitor completamente

fluente e independente. Para alcançar esta meta, é necessário que o professor

trabalhe com grupos pequenos, que possuam o mesmo nível de leitura. O professor

precisa selecionar livros que estejam de acordo com as necessidades do grupo.

Desta forma, os alunos estarão recebendo as ferramentas necessárias para se

tornarem leitores autônomos.

A leitura dirigida segue a seguinte estrutura:

• Professor lê com um grupo que mostra o mesmo nível de leitura;

• Professor escolhe um livro que tenha um nível de instrução adequado

para o grupo, porém não tão fácil que não conseguirá abranger o

vocabulário e ampliar o nível de leitura de seus alunos;

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• Professor escolhe uma a duas estratégias especificas para trabalhar com

este grupo;

• Professor precisa ser organizado e precisa manter um registro de

informações sobre cada grupo. Por exemplo, o que este grupo consegue

fazer e o que precisa melhorar;

• Professor precisa estar alerta devido ao fato de que a dinâmica do grupo

pode mudar rapidamente, visto que as crianças aprendem mais rápido ou

mais devagar do que outras. Por isto, é sempre importante re-estruturar os

seus grupos para que não ocorra nível de frustração entre os alunos.

Exemplos da estrutura de uma sessão de leitura dirigida seguem abaixo

para que o leitor deste artigo possa melhor visualizar a organização dos grupos e

atividades.

Exemplo 1-Leitura Dirigida – Rotação Semanal

Segunda-feira

Terça - feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira

Professora Regente

Vermelho

Professora Regente

Verde

Professora Regente Laranja

Professora Regente

Azul

Avaliação e Apresentação

de Projetos Interpretação

de texto Azul

Interpretação de texto

Vermelho

Interpretação de texto Verde

Interpretação de texto Laranja

Avaliação e Apresentação

de Projetos Leitura

Independente Laranja

Leitura Independente

Azul

Leitura Independente

Vermelho

Leitura Independente

Verde

Avaliação e Apresentação

de Projetos

Vocabulário Verde

Vocabulário Laranja

Vocabulário Azul

Vocabulário Vermelho

Avaliação e Apresentação

de Projetos

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Exemplo 2 -Leitura Dirigida – Rotação Diária

Horário Grupo Azul Grupo Laranja

Grupo Verde Grupo Vermelho

8:00 - 8:20 Leitura

Dirigida Escrita Leitura

Independente

Interpretação de Texto

8:20 – 8:40 Interpretação de texto

Leitura Dirigida

Escrita Leitura Independente

8:40 – 9:00 Leitura

Independente

Interpretação de Texto

Leitura Dirigida

Escrita

9:00 – 9:20 Escrita Leitura Independente

Interpretação de Texto

Leitura Dirigida

LEITURA INDEPENDENTE

Esta sessão é muito necessária para que o aluno tenha o seu tempo

individual com o texto, com a visão de que este hábito possa ser transferido para

fora da sala de aula. De acordo com Rog (2003), estudos feitos sobre o

encorajamento da leitura independente na sala de aula faz com que o aluno

desenvolva o habito de ler e consequentemente fará a transferência desta rotina em

sala de aula para outras áreas de sua vida.

CONCLUSÃO

Este artigo teve como foco principal contribuir com uma metodologia

diferenciada no ensino da leitura nas escolas brasileiras. Esta nova metodologia

pode exigir muito do professor, porém quando vista como uma metodologia que

reconhece que as crianças compartilham necessidades semelhantes, baseado em

sua cultura, tradições e experiências. Faz sentido então que o professor trabalhe

com grupos pequenos ou com a classe toda, dependendo de que sessão da oficina

da leitura de sua escolha, para melhor acolher as necessidades de seus alunos ao

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invés de procurar trabalhar com cada indivíduo e suas diferentes necessidades de

aprendizagem em uma sala de mais de trinta alunos.

As necessidades do aluno do século XXI é um bem mais diferenciado do

que o aluno do século XX. O quadro-negro, lápis e papel, já não estimulam tanto a

aprendizagem. Visto que até os menos favorecidos já estão expostos a uma

variedade de equipamentos modernos. Porém, a necessidade de criar, de ser

relacionar, de se envolver e pertencer a um grupo é muito mais gratificante do que

todos os estímulos que a vida moderna pode nos oferecer. Para que haja

aprendizagem é fundamental que o aluno se sinta feliz e crie prazer pelo aprender.

É fundamental então que o professor possa refletir no ambiente alfabetizador

em sua sala de aula e comece a dar os primeiros passos em direção à

contextualização da educação brasileira. Vigotsky viu o trabalho do professor como

um mediador que pode guiar seu aluno a atingir um nível mais elevado de

aprendizagem. A oficina de leitura oferece varias oportunidades para que o aluno se

torne um ser letrado através de um apoio e suporte de seu professor e pelo contato

a uma variedade da rica literatura brasileira.

Espera-se então que esta nova metodologia possa contribuir para que haja

uma mudança positiva nas estáticas mostradas por Capovilla & Capovilla, responder

as questões levantadas por Lúcia Weiss e acima de tudo provocar a busca do

conhecimento e despertar o desejo de aprender a ler em nossas escolas.

Professores, psicólogos e psicopedagos e os demais profissionais que se

dedicam ao crescimento da aprendizagem de nossas crianças, são profissionais

extremamente criativos, flexíveis e sempre prontos a achar novas estratégias e

metodologias que possam incentivar o desejo de aprender naqueles indivíduos cuja

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chama se encontra um pouco fraca. Espero que este artigo possa ajudar a ascender

à chama da aprendizagem em nossa presente sociedade.

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