UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ RAFAELA NAYARA...
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
RAFAELA NAYARA ALMEIDA DOS SANTOS
A MÚSICA COMO COMPONENTE CURRICULAR OBRIGATÓRIONA EDUCAÇÃO BÁSICA E SUA INSERÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
CURITIBA 2014
RAFAELA NAYARA ALMEIDA DOS SANTOS
A MÚSICA COMO COMPONENTE CURRICULAR OBRIGATÓRIO NA EDUCAÇÃO BÁSICA E SUA INSERÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao curso de Pedagogia, da Universidade Tuiuti do Paraná com requisito parcial para a obtenção do título de pedagogo.
Orientadora: Prof.ª Ma. Maria Francisca Villas Boas Leffer
CURITIBA 2014
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha família em especial a minha filha, meu bem mais
precioso,amigos, professores, e a mim que mantive o meu foco para não desistir dos
meus ideais.
AGRADECIMENTOS
Ao longo dessa caminhada enfrentei muitos obstáculos, mas com muita força de
vontade e perseverança.Finalmente consegui chegar ao fim do curso, no entanto
nada teria conquistado se não fosse à presença de alguns envolvidos que me
ajudaram durante esta minha trajetória. Assim... Deixo meus agradecimentos: a
Deus por ter me dado força e coragem nos momentos mais difíceis.
A todos os professores que contribuíram para minha formação e por ensinarem o
dom da sabedoria. Em especial a minha professora orientadora Ma. Maria Francisca
Villas Boas Leffer, pela orientação, dedicação e paciência para comigo.
A minha família pela compreensão, carinho, companheirismo e apoio. E em especial
a minha mãe por sempre fazer de tudo para dar a mim e as minhas irmãs estudo e
educação.A todos,qυе direta оυ, indiretamente, fizeram parte da minha formação, о
mеυ muito obrigado.
EPÍGRAFE
“A música é feita para ser bela e o belo existe para proporcionar alegria. O ensino da
música tem por objetivo levar os alunos a um contato feliz com as obras musicais, fazê-los
viver uma experiência de alegria a partir delas. É necessário levar a sério o rock e os outros
gêneros apreciados pelos jovens, assim como é preciso incitá-los a exprimir e viver seus
gostos sem culpas nem provocações”.
Georges Snyders – (do Livro: A escola pode ensinar as alegrias da música?)
RESUMO
Este trabalho teve como tema: A música como componente curricular obrigatório na educação básica e sua inserção na educação infantil. Levantou o seguinte problema: Como se dá a inserção da música na educação infantil, como componente curricular obrigatório? Trazendo como objetivo geral: Discutir a música na educação infantil, tendo em vista aLei 11.769/2008que a torna obrigatória; e como objetivos específicos: analisaras diferentes teorias relacionadas ao ensino da música; levantar dados bibliográficos relacionados às propostas metodológicas para o ensino da música na educação infantil. Discutiu-se nesse trabalho: a música nas políticas da educação brasileira; a música na visão dos teóricos e sua aplicabilidade na educação infantil; explicitou-se a música nas fases do desenvolvimento da criança de três a seis anos de idade; foram apresentados exemplos e possibilidades de como utilizar a música na educação infantil. Como resultado, a pesquisamostrou que trabalhar com a música é muito mais do que apenas cantar mecanicamente músicas decoradas para rotinas do dia-a-dia. O trabalho teve como resposta de que a inserção da música na educação básica e em especial na educação infantil deve envolver elementos como o som, o silêncio, diferentes intensidades; e o saber ouvir, apreciar a diversidade cultural, entre outros.Assim, incorporar a música nas escolas contribui na formação do aluno como cidadão, auxiliando no seu desenvolvimento em diferentes aspectos, e aprimorando seu senso estético.
Palavras-chave: Educação Infantil, música, cultura, senso estético.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................9
2 A MÚSICA NAS POLÍTICAS DA EDUCAÇÃO BRASILERA........................12
3 A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL NA VISÃO DOS TEÓRICOS.........18
4 DISCUTINDO A MÚSICA EM DIFERENTES FASES DA CRIANÇA ...........23
4.1 A MÚSICA E CRIANÇAS DE 0 A 3 ANOS......................................................23
4.2. A MÚSICA E CRIANÇAS DE 4 A 6 ANOS.....................................................25
5 EXEMPLOS E POSSIBILIDADES DE COMO UTILIZAR A MÚSICA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL..................................................................................27
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................30
REFERÊNCIAS..........................................................................................................32
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1 INTRODUÇÃO
Este trabalho foi desenvolvido com base nas discussões sobre o ensino da
música na educação infantil, tendo em vista a nova lei que a torna obrigatória nas
instituições de educação básica.
Devido ao meu trabalho com Educação Infantil, e por presenciar essa inserção
da música no contexto escolar de uma forma fragmentada e descontextualizada, senti a
necessidade de discutir a música nos ambientes escolares. Tendo em vista que a
música ganhou maior visibilidade na educação escolar a partir da Lei 11.769/08, que a
determina como componente curricular obrigatório, a começar pela educação infantil.
Por isso este trabalho trouxe como tema: “A música como componente curricular
obrigatório na educação básica e sua inserção na educação infantil”.
Entende-se que é incontestável a presença da música em nossas vidas. Ela se
faz presente em diferentes lugares e ocasiões. Desde muito cedo somos inseridos em
ambientes sonoros, já que os sons e a música fazem parte da nossa comunicação, e a
linguagem musical é uma das principais formas de relacionamento humano. (BRITO,
2003).
A relação que as crianças têm com a música ocorre de forma natural e intuitiva,
desde tenra idade são capazes de perceber o mundo sonoro ao seu redor, e mesmo
antes de seu nascimento já é envolvida pelos sons. Ainda no ventre, é capaz de ouvir a
voz de sua mãe e começar a desenvolver os laços afetivos. Brito (2003, p. 35) diz que
“O envolvimento das crianças com o universo sonoro começa ainda antes do
nascimento, pois na fase intrauterina os bebês já convivem com um ambiente de sons
provocados pelo corpo da mãe”.
Em nosso cotidiano, é difícil encontrar pessoas que não tenham relações com a
música; de uma forma ou de outra, há um envolvimento, seja, cantando, ouvindo,
dançando, ou executando algum instrumento. Todos nós temos um repertório musical
especial que reúne músicas significativas que nos fazem lembrar histórias de nossa
vida; sejam canções de ninar, de nossa infância, músicas que nos fazem relembrar
pessoas ou momentos alegres ou tristes; enfim a música nos faz sentir diferentes tipos
de emoções.
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Na educação infantil a música está presente em diversas atividades, podemos
ver isso em diferentes situações, como a hora do lanche, almoço, higiene, nas
recreações, dentre outras. Entretanto, muitas vezes a presença da música torna-se algo
mecânico e descontextualizado, o que acaba por não contribuir para o desenvolvimento
da criança.
Em virtude dessas asserções, esta pesquisa traz o seguinte problema: Como se
dá a inserção da música na educação infantil, como componente curricular obrigatório?
Trazendo como objetivo geral: Discutir a música na educação infantil, tendo em vista a
nova lei que a torna obrigatória; e como objetivos específicos: analisar as diferentes
teorias relacionadas ao ensino da música; e levantar dados bibliográficos relacionados
às propostas metodológicas para o ensino da música na educação infantil.
Este trabalho teve como sustentação os seguintes teóricos: George Snyders
(1992), este vai propor que a escola não pode ser somente preparação para o futuro,
mas propiciar ao aluno uma alegria que possa ser vivida no momento presente; Teca A.
de Brito (2003), discute a construção da consciência estética das pessoas, dizendo que
isso ocorre ao longo de suas vivências, visto que o homem é um ser que está sempre
em desenvolvimento, seja este, estético, cognitivo ou afetivo, esse processo ocorre
desde seu nascimento e só acaba com sua morte; Lígia Karina M. Chiarelli (2005) traz
como contribuição pensando a música no desenvolvimento global da criança, com sua
afetividade, percepções, criatividade, sua expressão e seus sentidos; Walter Howard
(1984), um autor clássico do ensino da música, vai trazer as questões culturais, diz que
“todos os seres humanos podem e devem participar de alguma maneira da cultura dos
homens de gênio, sem o que o próprio nascimento da cultura nas diferentes épocas,
entre os diferentes povos e na humanidade inteira, não seria concebível”, (1984, 120); e
Maura Penna ( 2012) corrobora o pensamento de Howard, quando afirma que a função
da música na escola é de ampliar o universo musical do aluno nas diversidades de
manifestações musicais num patrimônio cultural capaz de enriquecer a vida de cada
um; Daiana Papalia (2010) discute o mundo da criança, da infância, à adolescência; e
Enny Parejo (2007) traz seus ensinamentos musicais, discutindo como aprender a ouvir
música.
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No que diz respeito aos aspectos legais, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação 9394/96, as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (2010) e
o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998), serviram de base para as
discussões sobre a inclusão da música na educação básica, como componente
curricular obrigatório.
A pesquisa bibliográfica foi a proposta metodológica do trabalho. Os autores
citados acima contribuíram para o levantando dos dados, mostrando que a inclusão da
música no currículo escolar tem como objetivo, não a formação de músicos, mas sim, o
desenvolvimento de diferentes habilidades humanas dentre elas a criatividade, a
sensibilidade e o desenvolvimento cultural dos alunos. As Leis vigentes sustentaram a
obrigatoriedade da música na educação básica, e consequentemente na educação
infantil.
Este trabalho está dividido em seis seções: na primeira temos a introdução; na
segunda é apresentada a música nas políticas da educação brasileira; na terceira
seção é discutida a música na educação infantil na visão dos teóricos; na quarta seção
discute-se a música em diferentes fases da criança; na quinta seção são apresentados
os exemplos e possibilidades de como utilizar a música na educação infantil; e na sexta
seção são apresentadas as considerações finais.
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2 A MÚSICA NAS POLÍTICAS DA EDUCAÇÃO BRASILERA
A partir de agosto de 2011, o ensino da Música passou a ser conteúdo
curricular obrigatório nas escolas públicas e privadas da educação básica, com a
promulgação da Lei 11.769/08, sancionada em 18 de agosto de 2008, que altera a
redação da Lei nº 9.394/96, dispondo que § 6º “A música deverá ser conteúdo
obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular de que trata o § 2º deste
artigo” (BRASIL, 2008).
Já em 1998, nos Parâmetros Curriculares Nacionais/Arte, dizia que a música
deveria ser compreendida como uma forma de expressão sensível, afetiva e social do
desenvolvimento da criança, visto que sua inclusão no currículo escolar tem como
objetivo não a formação de músicos e especialistas em música, mas sim, o
desenvolvimento de diferentes habilidades humanas, dentre elas a criatividade, e a
sensibilidade, assim como a sociabilidade dos alunos, além de contribuir com o
desenvolvimento cultural. Ao mesmo tempo, em que ela estimula o contato com
diferentes linguagens, auxiliando no processo de democratização do acesso à
arte. (BRASIL, 1998).
Lima (2013), diretora regional da Associação Brasileira de Ensino Musical,
(ABEM) e diretora dos cursos de graduação e pós-graduação lato sensu em Música e
Educação Musical da FMCG (Faculdade de Música Carlos Gomes-São Paulo), em
entrevista à revista Educar e Crescer nos diz que:
A música contribui para a formação integral do indivíduo, reverencia os valores culturais, difunde o senso estético, promove a sociabilidade e a expressividade, introduz o sentido de parceria e cooperação, e auxilia o desenvolvimento motor, pois trabalha com a sincronia de movimentos... O trabalho com música desenvolve as habilidades físico-cinestésica, espacial, lógico-matemática, verbal e musical. Ao entrar em contato com a música, zonas importantes do corpo físico e psíquico são acionadas - os sentidos, as emoções e a própria mente. Por meio da música, a criança expressa emoções que não consegue expressar com palavras. (2013, s/p).
Para Lima (2013), a nova Lei 11.769/08, não impõe um conteúdo pragmático
específico e obrigatório para o ensino da música, ela deixa a cargo das instituições de
ensino o que será ministrado nas aulas, o que confere autonomia para as escolas
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decidirem o conteúdo. Outro ponto que não está claro na lei é em relação ao professor
com formação específica para ensinar música, esta decisão está sendo tomado pelo
estado e municípios, ou no caso de escolas particulares pelas próprias instituições.
Entretanto, o MEC recomenda que, além das noções básicas de música, dos cantos
cívicos nacionais e dos sons de instrumentos de orquestra, os alunos aprendam cantos,
ritmos, danças e sons de instrumentos regionais e folclóricos para, assim, conhecer a
diversidade cultural do Brasil.
A Lei 11.769/08 não é a primeira que trata do ensino da música na educação
formal de nosso país. No período de colonização o Brasil já apresentava registros que
mostram que os jesuítas utilizavam a música como ferramenta pedagógica no ensino de
crianças e jovens, e não somente para catequizar, mas sim com o intuito de auxiliar o
ensino da leitura e da matemática.
De acordo com Jordão et. al. (2012), os primeiros registros da música com a
educação no Brasil ocorreram em 1658 e 1661, com a Lei das Aldeias Indígenas, na
qual se instaurava o ensino do canto, que incluía músicas religiosas e canções
populares da época.
O Decreto Federal nº 331A, de 17 de novembro de 1854, inseriu a música no
currículo escolar do ensino público nas escolas primárias de 1º e de 2º graus e
Normais. Nele se estipulava noções de música e o exercício do canto. (JORDÃO, et. al.
2012, p.20)
Em 8 de novembro de 1890, durante a Reforma Benjamin Constant, o Decreto
nº 981 de âmbito nacional colocava o ensino de elementos da música nas escolas
primárias e secundárias. Este ensino deveria ser dado por professores especiais para
música, admitidos em concursos.
Ainda segundo Jordão et. al. (2012) durante as décadas de 1910 e 1920,
ocorreram as primeiras manifestações de um ensino musical mais organizado, com o
canto orfeônico, um canto coletivo. Durante esse período o canto orfeônico possuía um
caráter cívico patriótico, que servia de instrumento para educação cívica. Em 1932, o
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, sugere um novo modelo de educação
nacional, onde se valorizam o ensino das artes como um importante componente social.
A partir desse momento o então Secretário de Educação do Rio de Janeiro, Anísio
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Teixeira convida o músico Heitor Villa-Lobos para assumir a direção da
Superintendência de Educação Musical e Artística (SEMA). Villa-Lobos acreditava que
somente por meio da implantação do canto coletivo nas escolas renovadas, seria
possível formar uma consciência musical brasileira. (2012,p.20)
Neste período, o Brasil vivia o ideal nacionalista em sua plenitude, e com o
canto orfeônico, o projeto de Villa-Lobos buscava uma identidade musical nacional,
assim renovando a educação musical oferecida pelos conservatórios e, popularizar o
saber musical, por meio da inserção da música no sistema público de ensino,
Com a criação do Ministério da Saúde e Educação do governo provisório, mais
conhecido como Reforma Francisco Campos, a qual em 18 de abril de 1931, através do
Decreto Federal nº 19.890, assinado pelo então presidente Getúlio Vargas, torna o
ensino da música (canto orfeônico) obrigatório, em todas as instituições de ensino.
(JORDÃO, et. al. 2012, p.21)
Assim, com o ensino da música instaurado em âmbito nacional, sentiu-se a
necessidade da profissionalização de professores capazes de disseminar a música
como fator de formação de caráter da juventude. O SEMA ficou encarregado dessa
formação em um primeiro momento, e, após, é criado o Conservatório Nacional de
Canto Orfeônico. Este desenvolveu e disseminou uma metodologia de educação
musical própria, oferecendo cursos a professores com o objetivo de estudar a música
nos seus aspectos técnicos, sociais e artísticos. Formou-se também um repertório
musical brasileiro, baseado na cultura popular e no folclore nacional. Neste mesmo
período criou-se um Guia Prático, contendo 138 versões de cantigas infantis populares
para serem utilizadas como material didático. (JORDÃO, et. al. 2012, p.21)
A partir da década de 60, o ensino da música (canto orfeônico) adotado em
todo território nacional pelas instituições educacionais públicas nas décadas de 30, 40 e
50, foi substituído pela disciplina de educação musical, presente na primeira Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB) nº 4.024, de 1961.
Com esta LDB nº 4.024, o ensino da música passa a ter novas possibilidades
de criação por parte do aluno, que até então só cantava, agora ele poderia dançar,
tocar, e sentir a música. Essa mudança nas aulas deveria criar efeitos sensitivos, para
tal, utilizavam-se jogos, brincadeiras e instrumentos de percussão, para que esses
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proporcionassem o desenvolvimento rítmico, auditivo, corporal além da socialização,
expressão e improvisação dos alunos. (JORDÃO, et. al. 2012, p.23)
Entretanto, na prática e devido às diferentes realidades encontradas em cada
região do país, muitas escolas continuaram a aplicar somente o canto orfeônico em
decorrência da falta de recursos materiais e humanos.
Jordão, et. al. (2012), afirmam que durante o governo Médici em 1971,
sancionou-se a Lei de Diretrizes e Bases nº 5.692, onde a Educação Musical foi banida
dos currículos escolares e substituída por Educação Artística, em que se agrupavam os
conteúdos: artes cênicas, artes plásticas, música e desenho. Essa nova Lei de
Diretrizes e Bases da Educação, traz no Art.26 § 2º, o seguinte: “O ensino da arte
constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica,
de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. Assim, a introdução do
ensino de Educação Artística nos currículos tinha o objetivo de valorizar todas as áreas
do conhecimento artístico. O que de fato não ocorreu. Com essa mudança a música
passa a ficar em um segundo plano, servindo para comemorações, festas e formaturas.
Ela deixa de ser explorada como uma linguagem artística.
Entretanto, com a nova Lei Federal que tornava obrigatório o ensino de artes
nas escolas, o governo não contou que para isso precisaria de professores formados
em nível universitário, pois para lecionar a partir da 5ª série tal formação era
obrigatória. Por meio da Resolução nº 23, em 1973 surge a formação superior em
Educação Artística, em duas modalidades: Licenciatura Curta com habilitação geral,
para atuação no ensino de 1º grau, e Licenciatura Plena, com habilitações específicas
em Artes Plásticas, Artes Cênicas, Música e Desenho, para trabalhos com alunos do
ensino de 1º e 2º graus. Segundo Penna, (1995, p,11):
a criação dessas licenciaturas resultou, em muitos casos, na desestruturação das Escolas de Belas Artes e/ou dos bacharelados específicos em artes plásticas. (...) As licenciaturas em E. A. tornaram-se, então, o espaço por excelência para a construção e divulgação de um discurso próprio da arte-educação, discurso este voltado, na grande maioria das vezes, para as artes plásticas, por suas próprias origens.
Com a abertura política na década de 80, há uma nova Constituição Federal
em 1988, que se descortina para uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
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Nacional, que se concretizou na LDB nº 9.394/96, trazendo no art. 26, §2º o seguinte,
em relação ao ensino da arte: “O ensino da arte constituirá componente curricular
obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o
desenvolvimento cultural dos alunos”.
Nesse período o governo lançou os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN)/1998, como vimos anteriormente, para criar uma base de conteúdos comuns em
todo território nacional, e também na tentativa de servir como uma referência para a
atuação do professor em sala de aula. O PCN/Artes, no que diz respeito à música
apresentou-se dividindo o conteúdo em Comunicação e Expressão em Música:
Interpretação, Improvisação e Composição; Apreciação Significativa em Música:
Escuta, Envolvimento e Compreensão da Linguagem Musical; e, por fim, A Música
como Produto Cultural e Histórico: Música e Sons do Mundo. (JORDÃO, et. al. 2012,
p.25)
Da mesma forma que os PCNs, surge o Referencial Curricular Nacional da
Educação Infantil (RCNEI) apresentando três volumes, sendo o terceiro: Conhecimento
de mundo, em que constam orientações de trabalho para a construção de diferentes
linguagens pela criança, sendo uma delas a musical. Esse documento apresenta
formas de como se trabalhar a música com crianças de 0 a 6 anos de idade.
No Estado do Paraná, a Secretaria da Educação traz a Música junto ao caderno
de Artes das Diretrizes Curriculares Estaduais (DCE), em que essa aparece como
conteúdo junto com artes visuais, dança e teatro. Traz como conteúdos estruturantes os
elementos formais da música: altura, duração, timbre, intensidade, densidade.
Constando em sua composição: ritmo, melodia, harmonia, tonal, modal,
contemporânea, escalas, sonoplastia, estrutura; gêneros: erudita, folclórica, entre
outras; técnicas: instrumental, vocal, mista, improvisação.
Como foi apresentada anteriormente, em 2008, a Lei 11.769 de 18 de agosto,
altera a Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da
Educação para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação
básica.
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§ 6o A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular de que trata o § 2o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.769, de 2008) fazendo da música o único conteúdo obrigatório, porém não exclusivo. As demais áreas artísticas deverão ser contempladas dentro do planejamento pedagógico das escolas.
É inegável que a Música possibilita inúmeros benefícios para a formação do
sujeito. Trabalhar com musicalização é importante, visto que a música transmite nossa
herança cultural. Ela está presente em todas as culturas, em diferentes situações, como
festas, comemorações, crenças religiosas, entre outas.
Na próxima seção será apresentada a música na educação infantil na visão dos
teóricos.
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3 A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL NA VISÃO DOS TEÓRICOS
Um dos objetivos da música na escola, e principalmente na educação infantil é
o de propiciar uma alegria própria à criança em relação ao mundo que a rodeia.
A escola não pode ser somente preparação para o futuro, para a vida adulta, para o trabalho adulto, para a rudez do princípio de realidade. Propiciar uma alegria que seja vivida no presente é a dimensão essencial da pedagogia, e é preciso que os esforços dos alunos sejam estimulados, compensados e recompensados por uma alegria que possa ser vivida no momento presente. (SNYDERS, 1992, p.14, citado por CHIARELLI, 2012)
É preciso trabalhar com a criança pensando em seu desenvolvimento global,
como uma pessoa inteira, com sua afetividade, suas percepções, sua expressão, seus
sentidos, sua crítica, sua criatividade. “A alegria própria da música é propiciar-nos uma
apreensão global e uma relação emotiva com o mundo...” (SNYDERS, 1992, citado por
CHIARELLI, 2012).
O ensino da música necessita que o professor trabalhe um contexto de
apreciação, onde a criança possa ter a possibilidade de percepção dos mais variados
sons e dos silêncios musicais. Com isso o professor buscará desenvolver na criança o
reconhecimento e a observação por meio da escuta, e também fará com que o aluno
reflita e produza suas próprias criações musicais, a fim de desenvolver sua criatividade.
Para Snyders (1992), apud CHIARELLI, (2012) “a consciência estética das
pessoas é construída ao longo de suas vivências, de seu modo de valoração”, em
outras palavras a música é um assunto puramente interior. Já para Walter Howard
(1984) é necessária fineza e sensibilidade para se compreender música, e isto se dá
como fruto de uma educação estética e psicológica.
Para esses teóricos a contextualização é um fator imprescindível na utilização
da música, como ferramenta pedagógica, com isso o ato de cantar músicas prontas
mecanicamente, não cabe mais nos dias atuais, pois a música abre espaço para a
construção do processo de assimilação pela criança do que lhe é proposto nas aulas,
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agindo como facilitador do processo de ensino da música, podendo aliar-se ao trabalho
com os movimentos corporais e o desenvolvimento da fala da criança. A música a
ajudará a se expressar, resolver diversas situações de convívio social, comunicar
sensações, sentimentos, pensamentos, por meio da organização entre o som e silêncio.
Nogueira (2003) discute, em seu artigo, a música e o desenvolvimento
cognitivo da criança citando inúmeras pesquisas realizadas em diferentes países e em
diferentes épocas nos finais do século XX. Como por exemplo:
Schlaug, da Escola de Medicina de Harvard (EUA), e Gaser, da Universidade de Jena (Alemanha), revelaram que, ao comparar cérebros de músicos e não músicos, os do primeiro grupo apresentavam maior quantidade de massa cinzenta, particularmente nas regiões responsáveis pela audição, visão e controle motor (apud SHARON, 2000). Segundo esses autores, tocar um instrumento exige muito da audição e da motricidade fina das pessoas. O que estes autores perceberam, e vem ao encontro de muitos outros estudos e experimentos, é que a prática musical faz com que o cérebro funcione „em rede‟: o indivíduo, ao ler determinado sinal na partitura, necessita passar essa informação (visual) ao cérebro; este, por sua vez, transmitirá à mão o movimento necessário (tato); ao final disso, o ouvido acusará se o movimento feito foi o correto (audição). Além disso, os instrumentistas apresentam muito mais coordenação na mão não dominante do que pessoas comuns. Segundo Gaser, o efeito do treinamento musical no cérebro é semelhante ao da prática de um esporte nos músculos. Será por isso que Platão já afirmava, há tantos séculos, que a música é a ginástica da alma? (Revista da UFG, Vol. 5, No. 2, dez 2003).
Nogueira (2003) soma-se a isso, outros estudos que apontam que mesmo os
que apreciam a música desenvolvem a atenção, e tem intensificados os seus estímulos
cerebrais.
Nessa discussão dos teóricos sobre a música no desenvolvimento dos
estímulos das capacidades cognitivas, pode-se recorrer ao currículo da educação
infantil em que este contempla a formação integral da criança em que contém práticas
que articulem experiências e saberes culturais, artísticos, ambientais, científicos e
tecnológicos.
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (2010), as
propostas pedagógicas devem estar pautadas nos seguintes princípios; éticos, políticos
e estéticos. Estes últimos dizem que as propostas devem respeitar a sensibilidade, a
criatividade, a liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e
culturais.
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Essas Diretrizes deixam claras as proposições cabendo aos educadores e às
instituições de educação infantil favorecer a imersão da criança em diferentes
linguagens e formas de expressão, como a gestual, musical, dramática, verbal e
plástica. Para tal é preciso promover o relacionamento e a interação da criança com
diversas manifestações culturais. Penna (2012), esclarece que
[...] a função da música na escola é justamente ampliar o universo musical do aluno, dando-lhe acesso à maior diversidade possível de manifestações musicais, pois a música, em suas mais variadas formas, é um patrimônio cultural capaz de enriquecer a vida de cada um, ampliando a sua experiência expressiva e significativa. (p.27).
A música como ferramenta pedagógica tem como objetivo desenvolver
aspectos cognitivos que envolvem atenção, percepção, memória, raciocínio,
imaginação, pensamento e linguagem, criatividade e ação, contribui também para
noção de ritmo, socialização e afetividade.
Howard Gardner (1995) nos coloca a música como uma das múltiplas
inteligências humanas. Esta pode ser desenvolvida de acordo com o meio, ou seja, o
ambiente pode proporcionar estímulos que favoreçam seu desenvolvimento ou não.
Atividades que envolvam musicalização ajudam a criança a conhecer melhor a si
mesma, facilitando e desenvolvendo a construção da noção de esquema corporal. A
música é a linguagem que é capaz de permitir às crianças a possibilidade de expressar
pensamentos e sentimentos. Ela é uma das mais importantes formas de expressão
humana, o que justifica sua presença nos diferentes espaços educacionais, e
principalmente na educação infantil.
Ouvir música, aprender uma canção, brincar de roda, realizar brinquedos rítmicos, jogos de mãos etc., são atividades que despertam, estimulam e desenvolvem o gosto pela atividade musical, além de atenderem a necessidades de expressão que passam pela esfera afetiva, estética e cognitiva. Aprender música significa integrar experiências que envolvem a vivência, a percepção e a reflexão, encaminhando-as para níveis cada vez mais elaborados. (BRASIL, RCNEI, 1998 p.48)
Para Brito (2003), a construção da consciência estética das pessoas ocorre ao
longo de suas vivências, visto que o homem é um ser que está sempre em
desenvolvimento, seja este, estético, cognitivo ou afetivo, esse processo ocorre desde
seu nascimento e só acaba com sua morte. Em decorrência desse processo as
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instuições de ensino devem levar em consideração a formação integral do aluno
contemplando todas as linguagens e áreas do conhecimento.
Brito (2003), coloca nos que quando a criança canta, bate, ou realiza qualquer
outra forma para produzir som, ela “se transforma em som”, representa a si através do
som. E é por isso que brincar é a melhor forma da criança aprender, porque quando
brinca se diverte, e concentra maior atenção para aquilo que faz.
Ainda, segundo Brito (2003):
A criança é um ser „brincante‟ e, brincando, faz música, pois assim se relaciona com o mundo que descobre a cada dia. Fazendo música, ela, metaforicamente, „transforma-se em som‟, num permanente exercício: receptiva e curiosa, a criança pesquisa matérias sonoros, „descobre instrumentos‟, inventa e imita motivos melódicos e rítmicos... (p. 35)
A autora ainda nos afirma que trazer a música para a sala de aula exige muita
atenção e disposição para ouvir e observar como cada criança percebe e se expressa
musicalmente em cada etapa de seu desenvolvimento, pois para criança ouvir ou fazer
música não significa seguir regras ou observar características, mas sim sentir o
momento, e para que o professor perceba tal ação é necessário que ele esteja bem
preparado para compreender, analisar e transformar a experiência musical em
conhecimento.
Walter Howard (1984), cientista musical e professor suíço (1880-1963), afirma
que, só intimamente sentir-se-á alegria em comprovar que a música desperta a
curiosidade espiritual e as faculdades mais diversas. Para ele: “[...] os problemas
oriundos da relação entre a música e a criança são de importância capital. É de fato
questão fundamental de estética saber até que ponto é possível fazer com que os
indivíduos menos sensíveis participem daquilo que exige sensibilidade mais
apurada.”(p. 120).
A música pode servir como instrumento pedagógico desde que não seja
fragmentada e descontextualizada. O universo musical da criança é bem diferente, e
uma boa formação do professor é necessária, para que ele saiba por onde começar a
utilizá-la no processo pedagógico, incentivando a criança a desenvolver sua
criatividade e não a restringindo. No entanto, as atividades musicais na educação
22
infantil, não têm objetivos propriamente musicais, segundo Andrade (2012) ela é
utilizada para: a) acompanhar atividades cotidianas (lanche, fila, recreio, sono, etc.); b)
apresentação para datas comemorativas e festas; c) acalmar e relaxar, cantando ou
ouvindo; d) auxiliar no processo de alfabetização.
Georges Snyders (1992) considera que é preciso respeitar a individualidade
das alegrias, pois nem todos os alunos serão tocados pela mesma alegria, e nem
tampouco ao mesmo tempo e pelas mesmas obras. Para o autor “ensinar música é
também a possibilidade de apresentar obras-primas às crianças muito pequenas e
fazer com que elas encontrem, nelas, alegria cultural.” (p. 132)
Snyders (1992) complementa, que:
A influência que a música exerce sobre nós remete-nos evidentemente a seu poder sobre o corpo; ela coloca o corpo em movimento, faz com que ele vibre de forma não comparável às outras artes; e é o fato de estarem inscritas em nosso corpo que dá tanta assiduidade às emoções musicais; por seu enraizamento psicológico, a própria música atinge uma espécie de existência corporal. (p.85).
Penna (2012) afirma que é necessário considerar a vivência cultural do aluno, e
a partir daí desenvolver o trabalho pedagógico, isso sempre que possível. Dessa forma
as ações pedagógicas devem partir da vivência dos alunos, a fim de ampliá-las e
desenvolvê-las, para assim aprimorar seu conhecimento musical.
Por fim, é importante salientar que trabalhar com música na educação infantil,
não se restringe apenas as questões musicais, cognitivas, mas também motoras. Desta
forma, o objetivo de trabalhar com a música na educação infantil não é o de formar
futuros músicos, mais sim de desenvolver plenamente a criança em seus mais
diferentes aspectos, social, cognitivo, afetivo e motor, além de proporcionar-lhes
alegria.
Na próxima seção será analisada a música em diferentes fases da criança.
23
4 DISCUTINDO A MÚSICA EM DIFERENTES FASES DA CRIANÇA
4.1 A MÚSICA E A CRIANÇAS DE 0 A 3 ANOS
Ao nascer a criança é introduzida em diferentes ambientes sonoros. Os bebês e
crianças iniciam seu processo de musicalização de forma intuitiva, ela ocorre de forma
espontânea e natural, a presença da música os torna indivíduos sensíveis e receptivos
aos fenômenos sonoros.
Brito (2009) afirma que no decorrer de seu crescimento as crianças vão
estabelecendo vínculos e criam repertórios de comunicação por meio de sons. Os
bebês de 0 a 3 meses reagem a sons altos e se assustam com sons fortes inesperados.
A linguagem utilizada nessa faixa etária é o choro, pois o bebê chora quando quer algo.
Papalia et. al. (2010) diz que dos três aos seis meses o bebê consegue
perceber e até mesmo procura sons à sua volta; ele já é capaz de perceber mudanças
na tonalidade da voz. Nessa fase inicia o balbucio, a criança brinca com os sons, e aos
6 meses, esses sons deixam de ser sem sentido, e passam a ser imitativos, ou seja, de
repetições de sons conhecidos pelo bebê tendo assim um significado.
Aos nove meses o bebê reage de formas diferentes aos sons fracos e fortes,
ele já é capaz de reconhecer sons familiares, e de responder a seu próprio nome,
quando chamado, e também reconhece palavras simples como mamãe, papai e tchau.
Com essa idade o bebê comunica-se através de gestos; já bate palmas, reclama
quando contrariado, imita sons dos animais e adultos. Os bebês, por meio de
balbucios, que representam sua primeira forma de comunicação, procuram imitar o que
ouvem, e também exploram possibilidades vocais, dependendo do som, eles podem
manter-se atentos, tranquilos ou agitados. (PAPALIA, et. al. 2010)
Com um ano de idade a criança já consegue associar sons a objetos, ela
consegue reconhecer algumas palavras, e até mesmo reproduz algumas. Por volta de
um ano 6 meses a criança entende frases simples, e começa a utilizar frases curtas
(sentenças de duas palavras), seu vocabulário aumenta cerca de vinte a cinquenta
palavras. (PAPALIA, et. al. 2010)
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Aos dois anos de idade a criança já consegue escutar histórias e músicas
simples, por um curto tempo, pois nessa faixa etária o tempo de concentração e
atenção ainda são muito curtos. A criança ainda consegue compreender e realizar
tarefas simples, sua linguagem desenvolve-se bastante nessa fase; pessoas que não
convivem diretamente com a criança já conseguem compreender o que ela diz, e seu
vocabulário cresce significativamente. (PAPALIA, et. al. 2010)
Do primeiro ao terceiro ano de vida, a criança desenvolve e amplia seus modos
de expressão musical, algumas já articulam palavras, já conhecem e reconhecem
diferentes sons, inclusive conferem importância a qualquer fonte sonora. (BRASIL,
1998)
Nessa faixa etária a criança explora o som, sua altura, duração, intensidade e
timbre. O Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, 1998) prevê
algumas capacidades que devem ser desenvolvidas nesta etapa: ouvir, perceber e
discriminar eventos sonoros diversos, fontes sonoras e produções musicais; brincar
com a música, imitar, inventar e reproduzir criações musicais. Nos primeiros anos de
vida a música poderá ser posta por meio de atividades lúdicas, que trabalhem a
percepção e atenção das crianças, brinquedos e objetos sonoros auxiliam em jogos e
exercícios sensório motores.
O RCNEI (BRASIL, 1998) apresenta conteúdos a serem trabalhados, dividindo-
os em dois blocos: 1º "O fazer musical" e o 2º "Apreciação musical". Os conteúdos que
devem ser priorizados são: a exploração de materiais e a escuta de obras musicais
para propiciar o contato e experiências com a matéria-prima da linguagem musical: o
som (e suas qualidades) e o silêncio; a vivência da organização dos sons e silêncios
em linguagem musical pelo fazer e pelo contato com obras diversas; a reflexão sobre a
música como produto cultural do ser humano é importante forma de conhecer e
representar o mundo (p.54).
O primeiro bloco, o fazer musical, constitui-se de improvisações, composição e
da interpretação. Já o segundo bloco de conteúdos refere-se a audição e interação
com diferentes obras musicais, e a participação de músicas, canções e movimentos
corporais. No que diz respeito à apreciação musical, a escuta de uma importante
ferramenta durante esse trabalho, a organização e a escolha de um repertório com
25
diferentes gêneros musicais é aconselhável, entretanto não para todas as atividades,
que se deve deixar momentos sem músicas para que se valorize o silêncio.
4.2 A MÚSICA E A CRIANÇAS DE 3 A 6 ANOS
A partir do terceiro ano de vida a criança já compreende o que o adulto diz, e
quando não entende ela pergunta. A criança fala constantemente para expressar seus
desejos e sentimentos, já constroem frases mais complexas e utilizam palavras no
plural, porém omitem partes das frases, mas normalmente transmitem bem o
significado. (PAPALIA, et.al. 2010, p.205)
Segundo o RCNEI (BRASIL, 1998) por volta dos 3 a 4 anos a criança já tem um
maior domínio da sua entonação melódica, ela já consegue fazer a retenção de
desenhos melódicos, ou seja, ela consegue organizar os sons com diferentes alturas o
que sugere a melodia. O interesse por diferentes gêneros e estilos musicais tende a
aumentar nessa faixa etária, também buscam compor e reproduzir sons que
componham uma melodia.
Jogos com movimentos, brincadeiras, instrumentos de percussão são de
grande valia para o desenvolvimento de atividades com crianças a partir dos três anos.
Os jogos são fonte de prazer e alegria, estes possibilitam que a criança desenvolva sua
coordenação motora e rítmica de acordo com a música. A criança improvisa "cantando
histórias" e inventa canções, utiliza-se de trechos de músicas conhecidas para recriar
outras. Aos poucos começa a cantar com mais precisão e entonação, o
desenvolvimento de cada uma depende do nível de complexidade a que lhe é proposto.
(BRASIL, 1998, p.52)
Crianças de quatro a seis anos já memorizam diferentes músicas, estas têm um
repertório mais amplo, e para essa faixa de idade o RCNEI (BRASIL, 1998) nos traz os
seguintes objetivos a serem desenvolvidos: explorar e identificar elementos da música
para se expressar, interagir com os outros e ampliar seu conhecimento de mundo;
perceber e expressar sensações, sentimentos e pensamentos por meio de
improvisações, composições e interpretações musicais.
26
Devido ao avanço alcançado pela criança nessa fase é possível ampliar as
possibilidades de trabalho, os conteúdos podem exigir que haja uma reflexão em torno
da linguagem musical. O reconhecimento de diferentes alturas de som (agudo ou
grave), duração (curto ou longo), intensidade (fraco ou forte) e características que
distinguem cada som (timbre), variação da velocidade das mais distintas produções
musicais, criação de repertórios de canções a fim de se desenvolver a memória
musical, brincadeiras que envolvam a dança. (BRASIL, 1998, p.59)
Apreciar diferentes obras musicais, desperta o desejo da criança de interagir e
de expressar-se de maneira individual ou coletiva, e como forma de interpretar o
mundo. Assim, explica Brito (2003), “O modo como as crianças percebem, apreendem
e se relacionam com os sons, no tempo-espaço, revela o modo como percebem
apreendem e se relacionam com o mundo quem vêm explorando e descobrindo a cada
dia”. (p.41)
O fazer musical nessa fase necessita de atitudes de concentração que envolve
algumas posturas, como a presença do som e do silêncio. Assim o fazer música exige
uma organização, é preciso um entendimento para que se distinga o barulho como uma
interferência desorganizada, a música como uma interferência intencional e o silêncio
com elemento complementar ao som. Movimentos corporais e gestos estão ligados ao
trabalho com a música. (BRASIL, 1998, p.57)
Dos três aos seis anos de idade ocorrem muitas mudanças, as habilidades
motoras finas se aperfeiçoam, a linguagem e a sociabilidade se desenvolvem, e o
processo de leitura e escrita se inicia. Cada um desses processos ocorre de diferentes
maneiras com cada criança, pois eles dependem de características individuais como
organização familiar, gênero, condições e histórias de vida, os cuidados que a criança
recebe e o sistema educacional em que está inserida.
Na próxima seção passaremos às discussões sobre exemplos e possibilidades
de como utilizar a música na educação infantil
27
5 EXEMPLOS E POSSIBILIDADES DE COMO UTILIZAR A MÚSICA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Os primeiros anos de vida são de extrema importância na vida de qualquer ser
humano, e a escola é o principal instrumento para construir conhecimentos, sejam eles
musicais ou não. Existem diversas atividades que podem ser trabalhadas com as
crianças de educação infantil, explorando o seu universo musical e construindo sua
aprendizagem de maneira lúdica e de fácil entendimento.
Para Brito (2009)
A apreensão intuitiva, fundada na observação, na repetição e na imitação, na vivência, enfim, tem importância significativa nos primeiros anos de vida, o que não implica, obviamente, ausência de reflexão. As crianças fazem-pensando, assim como pensam-fazendo, vivendo – na inteireza – o modo humano de ser, de se expressar, de construir e compartilhar conhecimentos. É importante que os territórios da educação agenciem o acontecimento do jogo musical infantil. Escutando, respeitando e caminhando junto com as crianças, facilitaremos o encaminhamento das experiências para planos mais complexos e sempre
plenos de sentido. (p.13).
Abaixo seguem alguns exemplos e possibilidades que poderiam ser realizadas
no trabalho com crianças da educação infantil, segundo Brito (2003, p.21):
-Recriar a música no cotidiano: utilizar músicas conhecidas e junto com as crianças realizar paródias, criar novos ritmos. Compartilhar experiências, gerando novos significados, ultrapassando a subjetividade individual. -Sonorizar, sons vocais ou corporais: realizar brincadeiras onde todos realizaram movimentos propostos (girar, pular, marchar, bater palmas, bater os pés, realizar ruídos vocais, etc.) tentando criar uma melodia, tentar “encontrar um ritmo”. Ampliar a criatividade e o repertório de sons corporais, proporcionar descobertas, instrumentos ou objetos podem ser introduzidos na brincadeira. - Estimular a lembrança de sons ouvidos: perguntar para as crianças quais os sons que ouviram antes de chegar na escola, antes de dormir ou nas férias, levar as crianças para fora da sala de aula, pedir para que fechem os olhos e apenas escutem, perguntar o que estão ouvindo, sentindo, estimular a memória. -Associação: associar o som ao animal, ou ao instrumento musical, faz com que a criança preste atenção, trabalhando assim a concentração.
Penna (2012) afirma que é necessário construir duas atitudes para construir
uma educação musical:
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1) Em lugar da acomodação, que leva a repetir sem crítica ou questionamento os modelos tradicionais de ensino de música, faz-se necessária disposição de buscar e experimentar alternativas, de modo consciente.
2) Em lugar de se prender a um determinado “padrão” musical, faz-se necessário encarar a música em sua diversidade e dinamismo, pois sendo uma linguagem cultural e historicamente construída, a música é viva e está em constante movimento. (p.28).
Brito (2003), chama a atenção para a questão da diversidade cultural relacionada
à música e que deve fazer parte do repertório curricular do ensino da música na
educação infantil. Assim ela cita:
O samba ou o maracatu brasileiro, o blues e o jazz norte-americanos, a valsa, o rap, a sinfonia clássica europeia, o canto gregoriano medieval, o canto dos monges budistas, a música concreta, a música aleatória, a música da cultura infantil, entre muitas outras possibilidades – são expressões sonoras que refletem a consciência, o modo de perceber, pensar e sentir de indivíduos, comunidades, culturas, regiões, em seu processo sócio histórico. Por isso tão importante quanto conhecer e preservar nossas tradições musicais é conhecer a produção musical de outros povos e culturas e, de igual modo, explorar, criar e ampliar os caminhos e os recursos para o fazer musical. Como uma das formas de representação simbólica do mundo, a música, em sua diversidade e riqueza, permite-nos conhecer melhor a nós mesmos e ao outro – próximo ou distante. (p. 28).
Enny Parejo, doutora em Educação-Currículo pela PUC de São Paulo, Bacharel
em Piano pela Faculdade Paulista de Arte em 1984, elabora cursos para formação e
atualização de professores de música e ensino fundamental que vêm sendo ministrados
em diversos espaços da capital, do interior paulista e de outros estados. Ela dirige o
ENNY PAREJO ATELIER MUSICAL, afirma que “a partir de certo momento,
começamos a escolher as músicas que queremos ouvir. Este momento é muito
importante porque, a partir dele, começamos a formar nossos hábitos musicais.”
(PAREJO, 2007, p.8)
Parejo (2007) afirma que aprender a ouvir música também é fundamental para
a vida, em geral. Pois, para a autora é essencial o silêncio, visto que somente a partir
dele é possível apreciar os sons. “A criança que consegue silenciar para ouvir música
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conseguirá também silenciar para ouvir os colegas, ouvir o que o professor diz, ouvir os
sons que a cercam, e conseguirá colocar-se num estado perceptivo espacial.”
(PAREJO, 2007, p. 2)
Brito (2003, p.187) complementa, “apender a escutar, com concentração e
disponibilidade para tal, faz parte do processo de formação de seres humanos
sensíveis e reflexivos, capazes de perceber, sentir, relacionar, pensar, comunicar-se”. O
Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (BRASIL, 1998) nos diz que:
A conquista de habilidades musicais no uso da voz, do corpo e dos instrumentos deve ser observada, acompanhada e estimulada, tendo-se claro que não devem constituir-se em fins em si mesmas e que pouco vale se não estiverem integradas a um contexto em que o valor da música como forma de comunicação e representação do mundo se faça presente. (BRASIL, 1998, p. 77)
Assim, por meio da música a criança comunica-se com o outro, com ela mesma
e principalmente, com o seu corpo, pois, cantando, dançando ou imitando, ela é ela
mesma, ela é seu próprio instrumento. Com a música a criança desenvolve a linguagem
corporal, organização temporal e espacial.
Além das diversas possibilidades de trabalho com a música, é preciso levar em
consideração os processos vivenciados pelas crianças, por meio de uma avaliação
contínua, dos resultados obtidos de um trabalho intencional do professor, para que
assim seja possível constituir-se em instrumento para a reorganização de objetivos,
conteúdos, procedimentos, atividades, e como forma de acompanhar e conhecer cada
criança e grupo. (RCNEI, 1998, p.77)
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho deixou muito claro a importância da música na educação
escolar, em especial na Educação Infantil, visto que a escola é um ambiente de
aprendizados, onde se constroem conhecimentos, vivências e culturas.
Os teóricos mostraram que a música é um dos principais meios de
comunicação existentes na sociedade. Através dela é possível transmitir não só
palavras, mas sentimentos e ideias que podem ganhar grandes proporções didáticas,
quando bem direcionadas. A Lei 11.769/2008 mostra um avanço significativo no que diz
respeito a aprendizagem musical, juntamente com outras formas de linguagens
artísticas. As escolas, segundo os teóricos, ainda estão se adequando a essa disciplina,
que deve ser considerada como uma disciplina do componente curricular obrigatório,
que, na grande maioria das vezes, é trabalhada de uma forma reducionista e
descontextualizada.
A pesquisa bibliográfica mostrou que trabalhar com a música é muito mais do
que apenas cantar mecanicamente músicas decoradas para rotinas do dia-a-dia. O
trabalho com a música deve envolver elementos como o som, o silêncio, diferentes
intensidades, o saber ouvir, apreciar a diversidade cultural, entre outros. Incorporar a
música nas escolas contribui na formação do aluno como cidadão; auxilia seu
desenvolvimento em diferentes aspectos, e aprimora seu senso estético.
Snyders (1992) diz que para resgatar as alegrias da escola é preciso tomar
consciência das verdadeiras carências pedagógicas no domínio do ensino musical, que
é necessário que se projete um plano estratégico, transparente e inovador, que tenha
objetivos claros e bem definidos que possam ser trabalhados efetivamente no cotidiano
escolar.
A pesquisa também mostrou que o ensino da música na Educação Infantil,
assim como em toda Educação Básica ainda precisa superar diferentes obstáculos,
para possibilitar que a escola alcance seu objetivo, que é o de formar cidadãos plenos,
sensíveis e reflexivos, capazes de perceber, sentir e relacionar-se com o outro.
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Acredito que todos os meus objetivos foram alcançados nesse trabalho, tendo
em vista os dados levantados da própria Lei 11.769/08, que determina a música como
componente curricular obrigatório na educação básica a começar pela educação
infantil. Por meio dos teóricos foi possível dar resposta ao problema levantado: Como
se dá a inserção da música na educação infantil, como componente curricular
obrigatório Os teóricos deixaram suas mensagens como que dizendo, vale a pena o
ensino da música na escola e especialmente com os pequenos da educação infantil.
Para constatar se a música vem sendo trabalhada de uma maneira séria,
contextualizada, e significativa, acredito que pesquisas de campo a instituições
públicas e privadas seriam necessárias.
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