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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Silvana Aparecida Ferraz O FEMINISMO DE ROSARIO CASTELLANOS EM LECCIÓN DE COCINA. CURITIBA 2011

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Silvana Aparecida Ferraz

O FEMINISMO DE ROSARIO CASTELLANOS EM LECCIÓN DE

COCINA.

CURITIBA 2011

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O FEMINISMO DE ROSARIO CASTELLANOS EM LECCIÓN DE COCINA.

CURITIBA 2011

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Silvana Aparecida Ferraz

O FEMINISMO DE ROSARIO CASTELLANOS EM LECCIÓN DE COCINA.

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Pós Graduação em Ensino de Língua Espanhola e suas Literaturas da Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de especialista em Letras Português/Espanhol.

Orientadora: Prof. Ms. Maria Josele B. Coelho

CURITIBA 2011

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha mãe, minha irmã e ao Marcio, meu paciente

companheiro.

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AGRADECIMENTOS

Em especial a minha mãe Hilda, pelo incentivo e apoio que fez com que se

tornasse possível a conclusão deste trabalho e ao Marcio, meu grande

incentivador e que tem a imensa paciência de me agüentar.

Também agradeço a minha orientadora Maria Josele pelo apoio

durante este período e a professora Teresita Campos Avella que sempre ajudou

todos os alunos no curso de especialização.

Aos meus amigos, agradeço por entenderem e respeitarem meu

distanciamento durante o período de realização deste projeto.

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1. CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONTO

Segundo Gotlib, a palavra conto, refere-se à historieta, estória, narrativa e

conto popular, que tem origem da palavra latina computus, em português: conta.

Este termo passou a designar a história curta porque o verbo latino computare,

tem também o sentido de ordenar a narrativa em unidades e enumerar os fatos.

O ato de contar histórias é um fenômeno antropológico, presente no

surgimento e no desenvolvimento de muitas civilizações, na criação de suas

diferentes culturas, valores e costumes, pois é uma atividade inerente ao homem

desde os tempos mais remotos. A condição do homem na sociedade está

intimamente ligada ao ato de contar histórias, que acompanha o seu

desenvolvimento e é um dos mais importantes meios de preservação da história

da cultura, costumes e tradições dos povos. Por essa razão, pode-se considerá-lo

como algo que

Faz parte da cultura de um povo recompor a memória das épocas que se foram e, deste modo, podemos “saber” do conto popular testemunhando sua presença em antologias a que foi recolhido em ainda, estudado, analisado: visto, assim, não sob o prisma do prazer, mas sob bisturis dissecadores que servem a análises minuciosas de cada uma de suas partes, em busca de compreensão maior. (REIS. 1984, p. 09)

Pensando no conto como parte da cultura e tradição dos povos, pode-se

rever um longo percurso dessa narrativa na historia de muitas civilizações, pois

muitas têm suas memórias registradas, sejam elas ensinamentos, lições de vida

ou feitos de sua história.

Conforme Gotlib, o contar histórias, sob o signo da convivência, sempre

reuniu pessoas, as que contam e as que ouvem. Das sociedades primitivas em

torno de fogueiras, com os sacerdotes e seus discípulos na transmissão de mitos

e ritos de suas tribos, em volta da mesa as pessoas contam e ouvem histórias.

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Essas narrativas na forma popular se consolidaram primeiramente

transmissão oral dos fatos e só depois passaram ao registro escrito.

Conforme Reis 1984,

O conto popular cristalizava-se na tradição oral dos povos, atuando como veículo de transmissão de ensinamentos morais, valores éticos ou concepções de mundo, sendo fortalecido na memória de consecutivas gerações, a cada noite, a cada serão, espécie de legado passado de pais a filhos.” (1984, p. 08)

Até chegar ao modelo que hoje conhecemos, o conto passou por algumas

fases. A primeira fase é a oral, pois como já foi visto anteriormente neste trabalho,

o conto se origina no ato de contar histórias.

A próxima fase, a escrita, embora não se possa datar precisamente os

primeiros passos dos registros escritos, muitos estudiosos acreditam que os

contos egípcios “Os Contos dos Mágicos” (4000 a.C) sejam um dos mais antigos.

No oriente há Pantchatantra (VI a.C) a mais antiga coleção de fábulas indianas, e

no século VI a.C, no oriente e na Grécia, as histórias contidas na Ilíada e a

Odisséia de Homero.

Mas, a difusão do conto como relato escrito ocorreu com a coletânea de

contos das Mil e Uma Noites, uma coleção de histórias e contos populares

originárias do oriente médio. A partir das atividades dos copistas, esses contos,

foram retomados durante a idade média e dessa forma, passaram a ser

conhecidos em toda a Europa. Essa difusão é considerada como essencial no

processo de consolidação do gênero conto. Algumas de suas narrativas são bem

conhecidas: "Aladim e a Lâmpada Maravilhosa"; "Simbad, o Marujo"; e "Ali-Babá

e os Quarenta Ladrões".

No século XIV acontece outra transição, pois o relato oral passou ao

registro, e é neste período que se apresentam as primeiras preocupações

artísticas e o conto se afirma como uma categoria estética e ocorre a propagação

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dos contos do Decameron de Bocaccio, que passam a ser traduzidos em diversas

línguas.

Foi durante a Idade Média que muitas modalidades deste gênero foram se

popularizando, como os contos infantis e os de fadas. Assim também como a

estrutura e processo de composição vai mudando, de acordo com sua época e o

estilo de cada narrador. Neste período, quando surgiu, na Itália, o conto recebeu

o nome de racconto, de raccontare, contar de novo. O prefixo "ra" em italiano

equivale ao "re" em português, indicando repetição.

Se no século XVII, surgem grandes escritores e contistas como Miguel de

Cervantes com Las Novelas Ejemplares e Charles Perrault Histoires ou Contes du

Temps passé, conhecidos como Contos da mãe gansa, o século XVIII apresenta

La Fontaine, grande contador de fábulas, como as conhecidas: A cigarra e a

formiga e A raposa e as uvas.

Foi no Século XIX, com maior difusão dos contos a partir de publicações

em jornais e revistas, devido a crescente expansão da imprensa que permitiu a

publicação dos textos que se desenvolve o conto moderno, “Este é o momento de

criação do conto moderno quando, ao lado de um Grimm que registra contos e

inicia o seu estudo comparado, um Edgar Alan Poe se afirma enquanto contista e

teórico do conto.” (GOTLIB, 1999, p.7).

O conto, conhecido como uma narrativa popular, de intenção satírica, ou

moral, ou religiosa consagra-se como gênero literário em meados do século XIX,

despontando na França com Balzac e nos Estados Unidos com Edgar Allan Poe.

Quanto a sua terminologia, este novo gênero foi identificado pela

primeira vez como Short Story, em português: narrativa curta, porque este

gênero tem como característica a economia de meios, conforme Cortázar,

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(…) el cuento contemporaneo se propone como una máquina infalible destinada a cumplir su misión narrativa con la máxima economía de meios; precisamente, la diferencia entre cuento y lo que los franceses llaman nouvelle y lo anglosajones long short story se basa en esa implacable carrera contra el reloj que es un cuento plenamente logrado.(………..)

Durante séculos, este gênero foi passando por transformações, até

chegar ao conto moderno, que ainda mantém muito das características e da

estrutura clássica, mas se atém mais as referencias estéticas e diferentes do

conto clássico, em que a narrativa era linear, havia um começo, meio e fim, e

uma única ação com acontecimentos pontuais, o conto moderno acrescenta à

análise psicológica dos personagens, aos aspectos cotidianos e a alinearidade

da narrativa.

O que caracteriza o conto é o seu movimento enquanto uma narrativa através dos tempos. O que houve na sua “história” foi uma mudança de técnica, não uma mudança de estrutura: o conto permanece, pois, com a mesma estrutura do conto antigo; o que muda é a sua técnica. Esta é a proposta, discutível, de A.L. Bader (1945), que se baseia na evolução do modo tradicional para o modo moderno de narrar. Segundo o modo tradicional, a ação e o conflito passam pelo desenvolvimento até o desfecho, com crise e resolução final. Segundo o modo moderno de narrar, a narrativa desmonta este esquema e fragmenta-se numa estrutura invertebrada.

De fato, a arte clássica (do período greco-latino) e a de seus imitadores (da Renascença, no século XVI; ou do Classicismo no século XVII) tinham eixos fixos que determinavam os valores da arte, como os do equilíbrio e harmonia, que eram reunidos em princípios ou normas estéticas a serem aprendidas e imitadas por outros. Uma delas era esta: a de se obedecer à ordem de início, meio e fim na estória, ou a regra das unidades: uma só ação, num só tempo de um dia e num só espaço. Algumas destas regras já apareceram na Poética de Aristóteles. (GOTLIB. 1985, p. 17)

Conforme Gotlib, o conceito e a estrutura do conto clássico permanece,

mas a grande diferença entre o conto moderno é a mudança na técnica da

narrativa.

O teórico Ricardo Piglia, defende a teoria do iceberg, segundo esta

teoria o conto moderno conta duas histórias como se fossem uma só,

abandona o final surpreendente e a estrutura fechada, característica do conto

clássico, e trabalha a tensão entre as duas histórias .É uma narrativa que

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encerra uma história secreta, que se conta algo enigmático onde o mais

importante não se conta, a história secreta se constrói com o não dito.

O conto contemporâneo, reflexo na nova narrativa que se foi construindo nas últimas décadas, substitui a estrutura clássica pela construção de um texto curto, com o objetivo de conduzir o leitor para além do não dito, para a descoberta de um sentido não-dito. A ação se torna ainda mais reduzida, surgem monólogos, a exploração de um tempo interior, psicológico, a linguagem pode, muitas vezes chocar pela rudeza, pela denúncia do que não se quer ver. Desaparece a construção dramática tradicional que exigia um desenvolvimento, um clímax e um desenlace. Em contrapartida, cobra a participação do leitor, para que os aspectos constitutivos da narrativa possam por ele ser encontrados e apreciados. Exige uma leitura que descortine não só o que é contado, mas, principalmente, a forma como é contado, a forma como o texto se realiza. (2001, p.24).

1.2 CARACTERÍSTICAS DO CONTO

Uma das características que diferenciam o conto de outras narrativas

como a novela e o romance é a sua extensão, pois é considerado uma forma

narrativa em prosa de menor extensão. De acordo com Luzia de Maria, “em

princípio, o conto se caracterizava por ser uma narrativa curta, um texto em

prosa que dá o seu recado em reduzido número de páginas ou linhas”. (1984, p.

23). Mas segundo a própria autora, o conto não é definido apenas pelo seu

tamanho, ocorre que por conta de sua forma, os fatores como concisão e

brevidade tornam-se de profunda importância, pois para escrever levando-se

em consideração o limite de escrita, o autor deverá economizar nos meios

narrativos e atentar-se para a máxima profundidade e densidade, evitando o

que for supérfluo, assim as palavras passam a ter maior valor.

No conto, costuma haver uma única célula dramática, com temática

resumida, desenvolvendo apenas um conflito e com o número de personagens

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reduzido, pois no conto os fatos são interligados, porque necessita de um ritmo

e uma tensão do início ao fim. O tempo e espaço são condensados e a

densidade dramática da trama causa um efeito de atração no leitor.

Esses são alguns traços também são encontrados nas parábolas e nas

fábulas, que são tipos específicos de contos. A fábula é geralmente

protagonizada por animais que falam, e pretendem passar alguma moral. A

parábola é uma narrativa curta, protagonizada por pessoas e que contem

alguma lição ética ou moral.

Outras características do conto são:

• Brevidade: Levando em consideração que a estrutura do conto é

reduzida, a brevidade é fundamental para a sua construção, é

importante delimitar acontecimentos e ser conciso na narrativa.

Inicialmente a estrutura do conto era mais longa, mas foi

diminuindo de tamanho com o tempo. Como por exemplo, o

contista guatemalteco Augusto Monterroso, que é o autor do

menor conto da literatura mundial já escrito: "Quando acordou, o

dinossauro ainda estava lá".

• Economia verbal: Pela sua curta extensão, os contistas precisam

se atentar em utilizar linguagem simples e direta, pois cada

palavra tem uma função direta para o desfecho. Também se deve

evitar usar figuras de linguagem ou expressões que possam

sugerir duplo sentidos e manter a precisão de sua narrativa.

• Concisão: Todas as ações se encaminham diretamente para o

desfecho, a narrativa envolve poucos personagens, geralmente

em só um espaço e levando em consideração apenas um

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conflito, para que não surjam diversos núcleos temáticos. O

passado e o futuro têm significado menor, para um conto não é

necessário dar explicações e informações que possam ser

supérfluas à história, para que não se perca a unidade temática.

• Densidade: O conto tem os fatos são interligados, pois necessita

de um ritmo e uma tensão do início ao fim. O tempo e espaço são

condensados e a densidade dramática da trama causa um efeito

de atração no leitor.

• Desfecho: Todo o conto trabalha para o grande clímax, que é o

desfecho na narrativa.

Muitos escritores e críticos fazem diversas reflexões sobre o caráter

geral do gênero conto e o esforço de apontar certos delimitadores comuns às

suas diversas aparições. Mas ainda hoje há muita discordância quando o

assunto é a sua definição, Machado de Assis o define como um gênero difícil a

despeito de sua aparente facilidade e por causa desta facilidade acaba

afastando-o dos autores e faz com que o público não dê a atenção que se faz

necessário e Mario de Andrade afirma que conto é tudo aquilo que quiser se

chamar de conto.

O primeiro grande teórico do conto e também contista, foi Edgar Allan

Poe. Suas idéias estão expressas no ensaio A Filosofia da Composição, onde

ele apresenta detalhadamente a metodologia do processo de construção do

conto O Corvo.

Poe foi o primeiro a impor limites e criar regras com a sua teoria de

Unidade e Efeito. Neste ensaio Poe se refere à reação que o conto pretende

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causar no leitor, seja: Aterrorizar? Surpreender? Encantar? o efeito causado é

um estado de excitação ou de exaltação da alma e para este objetivo, deve ser

calculado de maneira a não se perder durante a leitura, por isso a importância

da questão da brevidade, pois se o texto for longo demais, pode-se perder esta

exaltação.

Segundo Poe, uma composição é rigorosamente calculada, para se

alcançar o efeito esperado. “É meu designo tornar manifesto que nenhum

ponto de sua composição se refere ao acaso, ou à intuição, que o trabalho

caminhou, passo a passo, até completar-se, com a precisão e a seqüência

rígida de um problema matemático.” (POE.1999, p.12)

Portanto, a composição calculada de Poe inicia-se pela intenção, isto é,

o que o autor pretende com o conto? O próximo passo é a extensão do conto,

para ele há um limite distinto, em torno de cem versos, e que a leitura seja de

uma só sentada, pois se a leitura passar deste limite corre o risco de perder o

efeito pretendido. Podemos considerar esta posição, conforme citação:

Se alguma obra literária é longa demais para ser lida de uma sentada, devemos resignar-nos a dispensar o efeito imensamente importante que se deriva da unidade de impressão, pois, se requerem duas sentadas, os negócios do mundo interferem a tudo o que se apareça com totalidade é imediatamente destruído. (ibid., 1999, p.12)

Poe também alerta para o fato de que o conto também não deve ser

muito breve, deve haver uma forma equilibrada. “um poema breve demais pode

produzir uma impressão vivida, mas nunca intensa e duradoura” (ibid., 1999,

p.13)

Outros fatores importantes são as escolhas do tom e os efeitos artísticos

adequados, que para ele se entende como o uso de um refrão poético de tom

forte, que deve ser sonoro e dar ritmo e ênfase ao conto.

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Para Poe, o autor deve ter o domínio sobre o material narrativo, para

chegar a função do efeito pretendido. Ele se baseia na relação entre a

extensão e o efeito que a leitura causa no leitor e defende que a produção de

um conto deva ser um cálculo minucioso, o autor deve elaborar um plano para

obter o sucesso.

O escritor e teórico argentino Julio Cortázar também destaca a

dificuldade de definição, também segundo ele, o conto é um gênero de difícil

definição e esquivo nos seus múltiplos e antagônicos aspectos. Para ele, o

conto, que é um gênero pouco classificável, não é regido por regras e sem por

pontos de vistas de cada autor.

(…) Nadie puede pretender que los cuentos sólo deban escribirse luego de conocer sus leyes. En primer lugar, no hay tales leyes; a lo sumo cabe hablar de puntos de vista, de ciertas constantes que dan una estructura a ese género tan poco encasillable; en segundo lugar, los teóricos y los críticos no tienen por qué ser los cuentistas mismos, y es natural que aquéllos sólo entren en escena cuando exista ya un acervo, acopio de literatura que permita indagar y esclarecer su desarrollo y sus cualidades.

Cortázar, diferentemente de Poe, avalia que a produção de contos não

se dá por um processo calculado, para ele há certas estruturas, mas não há

regras e cálculos que devem ser seguidos minuciosamente, para ele o fazer

literário vai além de esquemas e normas, a escritura é como um exorcismo,

“Como si el autor hubiera querido desprenderse lo antes posible y de la manera

absoluta de su criatura, exorcizándola en la púnica forma en que le era dado

hacerlo: escribiéndola.

Há na escritura de um conto um oficio de escritor, que consiste em

buscar algo que prenda da atenção do leitor, e a única maneira para que ocorra

este seqüestro momentâneo da atenção do leitor é ajustar o tema com a

intensidade e a tensão que o conto proporcionará e um os meios para se

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conseguir este efeito é com o uso da brevidade e a economia de meios e

palavras, pois o conto parte da noção de limite.

Para explicitar esta questão do limites e da brevidade, Júlio Cortázar usa

como exemplo o cinema e a fotografia, assim o cinema está para o romance e

a fotografia para o conto. Pois o romance e o cinema têm a possibilidade mais

ampla para abordar os temas devido a sua estrutura mais extensa, já o conto

como a fotografia, por seu caráter de físico mais reduzido, precisa em poucas

páginas ou até onde capta a lente da câmera fazer recorte preciso, com o ritmo

e intensidade para projetar o clímax e o efeito pretendido pelo autor.

Outra comparação citada por Cortázar é do conto com um knockout “ La

novela gana siempre por puntos, mientras que el cuento debe ganar por

knockout”. Para ele, um bom contista é um boxeador astuto e seus golpes

iniciais podem padecer despretensiosos e poucos eficazes, mas na verdade ele

está minando as resistências do adversário.

1.3 - O Conto Hispano-Americano

Considera-se que a partir de 1920 que o conto hispano-americano teve o

seu auge e sofreu transformações quanto à sua temática, linguagem e técnica.

Algumas dessas mudanças foram em relação ao deslocamento dos planos

temporais, as rupturas com o fio narrativo e o mais acentuado uso da fala

popular.

Conforme estudo de José Miguel Oviedo, em sua obra Antología del

cuento hispanoamericano, a década de 1920 foi o momento em que se produz

o primeiro grande impacto das vanguardas européias e este fenômeno marca o

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início do conto hispano-americano contemporâneo e esta renovação o leva a

se converter em um dos gêneros mais originais e de grande vitalidade até os

dias de hoje. Antes, a produção contística era marcada pela influência das

correntes modernistas.

Oviedo orienta seu estudo a partir de um mapa classificatório da

trajetória da produção hispano-americano do século XX dividido em quatro

grandes linhas:

• Tradição Realista: é a representação de uma realidade objetiva e

reconhecível ao leitor, que a comparte com o autor. O relato é o

condutor da comunicação de uma realidade ou de experiências

verificáveis, os elementos testemunhais, que vem desde o séc

XIX se mantêm, mas em meados do séc. XX a tradição realista

passa por uma renovação estética. Do realismo há outras formas

das quais evoluíram para:

- Criolista: marca a ruptura com a colônia, se começa a escrever

uma nova tradição e de reconciliação com a própria herança

cultural.

- Iindigenista: o índio é o tema central, mas sua imagem

representada vai transformando-se e adquirindo as características

que os tempos e as novas ideologias vão lhe oferecendo, mas há

mais a figura do bom índio e sim do índio excluído pela

sociedade.

- Neo - realista: rompe com o passado, há uma busca pelo

objetivismo e a realidade se apresenta de forma nua e crua.

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Alguns representantes desta tradição foram: César Vallejo, Arguedas

e Mario Benedetti.

• A Inovação: Contos fantásticos, as vanguardas, especulativo e

humorístico: há elementos de estranheza e nova matéria narrativa

• Grande Síntese – Chamado como o “Boom’ literário dos anos

sessenta, que representa uma nova forma de escrever e que

contribuiu a uma mudança de foco e de perspectivas da tradição

literária hispano-americana. Este acontecimento de deu com a

soma de acontecimentos como a difusão editorial da Espanha e a

presença de um público mais crítico e interessado na literatura

hispano-americana. Segundo Oviedo em relação a este

acontecimento:

… el “boom” contribuyó a un cambio de foco y perspectiva en una nueva propia tradición literaria. Pasado y presente, realidad e imaginación, historia y mito, origen y utopia: en estas novelas se consolidaba una potente visión integradora de un continente dividido y contradictorio. En un determinado momento, la ficción hispanoamericana culmina una gran síntesis de formas, ideas y propuestas gestadas con anterioridad: eso es lo que el “boom” realmente significa. (OVIEDO, 2001, p. 24)

• Otras direcciones:

Para demonstrar a importância e a maturação que o conto hispano-

americano alcançou, muitos autores que se destacaram neste gênero se

consagraram mundialmente e tiveram grande reconhecimento da crítica como

Alejo Carpentier, Jorge Luís Borges, Júlio Cortázar, Juan Rulfo, Gabriel García

Marques, Juan Carlos Onetti, entre outros. Mas a trajetória do conto hispano-

americano tem como pioneiros escritores como Esteban Echeverría,Cesar

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Vallejo, Juan José Arreola, Horacio Quiroga, Adolfo Bioy Casares e Rúben

Dario, que são considerados expoentes da literatura.

2 – O Conto no México do Séc. XX

A literatura mexicana tem importante lugar na literatura mundial. Sua

produção contística contemporânea recupera de maneira irónica as tradições

literárias de gerações anteriores, com antecedentes diretos da década de 1950.

Como referências estão os autores Juan Rulfo, Juan José Arreola e Carlos

Fuentes.

Nas décadas de 1960 e 1670 são publicados os primeiros livros onde o

humor e a ironia começam a tratar de questões sociais e culturais e sociedade

mexicana. Neste período são publicadas, entre outras, as obras La Oveja

negra y demás fábulas de Augusto Monterroso, Cuál es la Onda de José

Agustín e Álbum de família de Rosario Castellanos, que foi pioneira no uso da

auto-ironia de escrita feminina.

2 - Escrita de Autoria Feminina

Desde o fim do séc. XIX e no séc. XX que ocorreram as maiores

transformações em relação a literatura de autoria feminina e da

conscientização de sua autonomia social e cultural, já que por muito tempo as

mulheres foram marginalizadas com o analfabetismo e a submissão patriarcal.

Os últimos anos vêm sendo testemunha da revolução ideológica e

estética da produção literária feminina hispano-americana, com o crescente

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interesse como objeto de estudo e também de produção crítica e teórica, desde

a óptica feminina do seu papel referente a política, sociedade, família,

costumes, sexualidade e cultura, conforme estudo……

…la acuñación de nuevas categorias literárias y socio-culturales para abordar el fenômeno feminista-femenino latino-americano como una realidad inédita que debe ser nominada, analizada y traída a la luz de los estudios literarios contemporáneos.

Na narrativa feminina, encontram-se marcas da crítica do feminismo

francês e anglo-saxão e apresentam caráter biográfico e de testemunho, com

características de escrita de exílio, re-escritura de figuras históricas (como os

mitos mexicanos de La Llorona e Malinche), de resistência ( ato de escrever

como caráter político, de recuperação da memória escrita de historias de vida)

e fantástica, em um contexto familiar e de atitude crítica e reflexiva.

A temática do corpo, erotismo e a sensualidade freqüentemente também

aparecem no corpus dos textos, pois sempre foi motivo de opressão por parte

da sociedade e principalmente da igreja que reprimiam a sexualidade e

condenavam a libido, para manter o ideal de pureza herdado da Espanha.

Sobre a teorização da escrita feminina latino-americana, este é um

caminho que ainda carece de um lugar central ideológico e social na historia

intelectual hispano-americano “Debería ser reconocido como central en el

proceso de auto-creacíon y de auto-comprensión de la sociedad”. (ibid, p.14) e

também as relações entre gênero e identidade e a importância da teoria

feminista na análise literária e cultural da América latina.

Nas décadas de 1970 e 1980 houve tentativas de aprofundamento de

uma teorização feminista, mas começou a se constituir em 1985 com a

publicação La Sartén por el mango de Patricia Elena Gonzáles e Eliana Ortega,

onde aparecem os estudos pioneiros de Sara Castro Klares e Josefina Ludmer.

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Sara Castro Klares, analisa o feminismo e a escrita feminina com a

situação de colonialismo entre América latina e Europa. Após revisar a crítica

feminina norte-americana e francesa, ela relaciona a América latina, em uma

posição marginal em relação a Europa, enquanto a língua, discurso e

identidade, com a situação da mulher em relação de opressão ao homem.

Assim, “la lucha de la mujer latinoamericana sigue cifrada en una doble

negatividad: porque es mujer y porque es mestiza”.

Como a América latina, a mulher segue em uma posição de opressão e

marginalidade, neste caso, considerada juntamente como os negros e os

índios, e somando com a opressão da igreja e da herança católica que a

vinculava a imagem de mãe, que era uma ameaça a sua atividade literária.

A representação da mulher na literatura por parte de Josefina Ludmer

também parte da subordinação e marginalidade, em seu artigo Las tetas del

débil, ela aborda a situação da escrita feminina sem rótulos e simulacros

universais, mas sobre a crítica sobre a posição que ocupa a mulher no campo

do saber e as transformações ocorridas nos modos de leitura em relação ao

social a produção de idéias e de textos.

Ludmer afirma que essas transformações são jogos entre as mulheres e

a sua posição de subordinação e marginalidade, como visto nos textos de Sor

Juana Inés de la Cruz, que,

…combina aceptación de su lugar subalterno (como hija/como mujer/como monja asignado por la madre, el obispo, la Iglesia) con antagonismo y enfrentamiento. Esto determina la resemantización del lugar asignado al convertirlo en una zona de subversión intelectual y de ejercicio de la libertad.

Outra estudiosa do feminismo, Silvia Molloy, analisando uma antologia

feita ao Women’s Writting in Latin America, em referência as formas de

Page 21: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Silvana Aparecida Ferraztcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/08/O-FEMINISMO-DE-ROSARIO... · primeiros passos dos registros escritos, muitos estudiosos

representação das mulheres, estabelece que este é um problema de

autorrepresentação textual e que primeiro deve-se verificar a relação da mulher

com a literatura na América latina, uma vez que é vedada pela autoridade

literária masculina. Para ela, ser uma mulher escritora: “(…) ser privado y

carente de autoridad (en cuanto mujer), aparece investida de poder intelectual

en la esfera pública (en cuanto escritora)”

Beatriz Sarlo apresenta uma definição social das mulheres, exercendo

um papel político, mudaram a historia e a ideologia da América Latina, seja

como políticas, educadoras, sindicalistas e escritoras, que apesar da sua

escrita autobiográfica, em seus textos apresentam debates ideológicos,

políticos e antropológicos.

Produção Literária feminina no México.

O primeiro nome na produção literária feminina hispano-americana, que

se tem registros, é a de Soror Juana de la Cruz, que iniciou no século XVII a

escrita feminina mexicana, questionando as regras da igreja da época e

lutando pelos direitos da mulher a educação, trabalho , liberdade de expressão

e ao amor. Como freira, estudou teologia e como escritora, foi grande poetisa e

pode ser considerada como a primeira feminista da Américas.