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UNVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA UM ESTUDO DAS METODOLOGIAS DE RECUPERAÇÃO E ANÁLISE DE ENTERRAMENTOS EM SÍTIOS PRÉ-HISTÓRICOS NO NORDESTE DO BRASIL Samantha Maria de Azevedo Simpliano Natal, RN, Brasil 2014

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UNVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

UM ESTUDO DAS METODOLOGIAS DE RECUPERAÇÃO E ANÁLISE DE

ENTERRAMENTOS EM SÍTIOS PRÉ-HISTÓRICOS NO NORDESTE DO BRASIL

Samantha Maria de Azevedo Simpliano

Natal, RN, Brasil

2014

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SAMANTHA MARIA DE AZEVEDO SIMPLIANO

UM ESTUDO DAS METODOLOGIAS DE RECUPERAÇÃO E ANÁLISE DE

ENTERRAMENTOS EM SÍTIOS PRÉ-HISTÓRICOS NO NORDESTE DO BRASIL

Monografia apresentada ao Curso de História da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

sob a orientação do Prof. Dr. Roberto Airon

Silva, para avaliação da disciplina Pesquisa

Histórica II.

Natal, RN, Brasil

2014

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SAMANTHA MARIA DE AZEVEDO SIMPLIANO

UM ESTUDO DAS METODOLOGIAS DE RECUPERAÇÃO E ANÁLISE DE

ENTERRAMENTOS EM SÍTIOS PRÉ-HISTÓRICOS NO NORDESTE DO BRASIL

Monografia apresentada ao Curso de História da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

para avaliação da disciplina Pesquisa Histórica II.

Aprovado em: ___/___/____.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________________

Prof. Dr. Roberto Airon Silva

(Orientador / UFRN)

___________________________________________________________________________

Profa. Dra. Márcia Severina Vásques

UFRN

___________________________________________________________________________

Profa. Dra. Maria da Conceição Guilherme Coelho

UFRN

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3

Dedico este trabalho a minha familia, meu pai José Francisco

Simpliano Filho, minha mãe Josefa Neuma de Azevedo Simpliano, e

minha irmã Mayra Maria de Azevedo Simpliano, pois foi pela

dedicação e paciência de vocês que consegui alcançar meus objetivos.

A minha avó Damiana, pelo seu amor infinito.

Aos amigos fiéis que nunca me abandonaram.

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AGRADECIMENTOS

Incialmente agradeço a Deus, pelo seu imenso amor, por nunca ter me abandonado.

Pois tudo isso só foi possível devido sua imensa misericórdia.

Aos meus pais, José Francisco Simpliano Filho e Josefa Neuma de Azevedo

Simpliano, que se esforçaram ao máximo para que os meus sonhos se realizassem. Saibam

que são meus espelhos e que todas as conquistas que já obtive são pra vocês. Amo-os.

Ao Professor Roberto Airon Silva, que sempre esteve ao meu lado quando necessário,

que além de um grande orientador, se tornou um exemplo, e um amigo muito querido.

A Wallace dos Santos Alves, por todo o carinho, dedicação e paciência comigo. Por

estar ao meu lado sempre me incentivando a alcançar meu sonho.

Aos amigos fiéis, Alexandre Ronyson Ferreira da Silva, Maxiely Souza Ferreira de

Medeiros, Débora da Silva Barbosa, Geilza Lidiele França Miranda, e Juliana Scarlet de

Sousa Santos, os quais nunca me deixaram desistir dos meus objetivos.

Aquelas que me apoiaram e compreenderam em todos os momentos, Ramona Thayara

da Costa, Muriellen de Melo Bezerra, Thayonara Alves de Souza, Deyse Mayanne Aquino

Cavalcante e Williane Sandra da Silva Gomes.

Aos amigos que conquistei no curso de História, que souberam me compreender nas

dificuldades e empecilhos durante a caminhada.

A todos aqueles que fazem parte do Laboratório de Arqueologia, que sempre me

incentivaram e me apoiaram no trabalho.

E a todos aqueles que de alguma forma me ajudaram a alcançar este sonho.

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“A arqueologia nada mais é que uma leitura, ainda que um tipo particular de leitura, na medida em que o

“texto” sobre no qual se debruça não é composto de palavras, mas de objetos

concretos, em geral mutilados e deslocados do seu local de utilização original”

(Pedro Paulo Funari, “Arqueologia”)

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RESUMO

Este trabalho procura fazer um estudo das práticas mortuárias na pré-história através da

arqueologia. O estudo das práticas com relação a morte se alteraram durante os anos, e mesmo

as metodologias e as análises também se diferenciaram. Buscou-se inicialmente analisar em

dados bibliográficos as etapas e métodos utilizados na recuperação e análise de material

funerário, quando presente, e mostrar a recorrência de diferenciação na metodologia em cada

caso apresentado. Esta análise se dá pela leitura de trabalhos já publicados acerca de

escavações na região nordeste do Brasil, onde foram consideradosos tipos de sepultamento; a

presença de alterações pós-morte, e a utilização de exames laboratoriais para esta

determinação a partir da fossilização dos ossos.

Palavras-chave: arqueologia – sepultamento – cemitério –práticas mortuárias.

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ABSTRACT

This work aims to make a study of mortuary practices in prehistory through archaeology. The

study of the practices about death has changed over the years, and even the methodologies

and analyses also differed. Initially it was proposed to analyze in bibliographic data the steps

and methods used in the recovery and analysis of funerary material, when it is available, and

show the recurrence of differentiation in methodology in each case presented. This analysis is

possible by reading works already published about excavations in the northeastern region of

Brazil, where were considered the types of burial; the presence of post-mortem changes, and

the use of laboratory tests for this determination from the fossilization of the bones.

Keywords: archeology-burial-cemetery-mortuary practices

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LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 –Posição fetal: (http://reginasugayama.blogspot.com.br/2011/07/os-ossos-do-oficio-de-peter-

lund.html acesso: 14/05 às 21:39).

Imagem 2: Deúbito dorsal (http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=arqueologia&id=64

acesso em 14/05 às 21:36).

Imagem 3 – Membros inferiores fletidos (http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL30389-5603,00-

ARQUEOLOGOS+ACHAM+TUMBA+MILENAR+NOS+ANDES.html, acesso em 14/05 às 21:52

Imagem 4 – Mobiliário funerário. Urnas sobre os ossos. (www.canoadetolda.org.br, acesso em 14/05 às

22:59).

Imagem 5 – Sepultamento secundário (http://www.jornalobruxo.org/2013/02/neblina-do-tempo-cultos-

e-ritos.html, acesso 14/05 às 22:07).

Imagem 6 – Organização dos ossos, Sítio Pedra do Alexandre

(http://exploradordosertao.blogspot.com.br/2011/10/escavacao-realizada-pela-equipe-de.html, acesso

em 14/05 às 23:04).

Imagem 7 – Sepultamento secundário em urna

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_de_Arqueologia_e_Etnologia_da_Universidade_de_S%C3%A3o_

Paulo acesso em 14/05 às 23:19).

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SUMÁRIO

1. Introdução.............................................................................................................. Pág.10

2. Capítulo 1 – A teoria arqueológica..................................................................... Pág. 13

3. Capítulo 2 – As práticas mortuárias...................................................................Pág. 16

3.1. – Sepultamento primário ................................................................................. Pág. 16

3.2. - Sepultamento secundário .............................................................................. Pág. 18

4. Capítulo 3 –A metodologia arqueológica .......................................................... Pág. 23

5. Conclusão..............................................................................................................Pág. 27

6. Referências ............................................................................................................ Pág. 29

7. Anexos ................................................................................................................... Pág. 31

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INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por finalidade estreitar os laços entre a História e a Arqueologia e

mostrar que ambas podem beneficiar a construção do conhecimento, assim como do

entendimento de como a relação e entres estes é fundamental para a compreensão do todo.

A História permite que se obtenha uma visão ampla a partir das fontes escritas de

forma que se compreenda o que se passou acerca das chamadas tradições das sociedades do

passado.

A arqueologia, por sua vez permite a construção do entendimento do antigo com base

nos vestígios materiais encontrados, como, por exemplo, ao verificar como se dava a

alimentação de sociedades do passado através da análise da arcada dentária e dos restos

ósseos preservados de alguns indivíduos dessas sociedades. Sendo assim, a interação entre

História e Arqueologia torna possível o entendimento dos hábitos e práticas das sociedades do

passado, mesmo aquelas que não possuíam escrita.

O recorte temporal escolhido para esta pesquisa foi a pré-história, e aqui consideramos

para o âmbito do Brasil, pré-história como sendo o longo passado nativo anterior ao contato

com os colonizadores europeus a partirdo século XVI. Para que possamos compreender mais

sobre o que se passou e mesmo conhecer como viviam as sociedades conhecidas como pré-

históricas, ou que viveram antes de qualquer contato colonizador europeu. Neste contexto,

recortamos o espaço da região Nordeste, e como tema principal a arqueologia das práticas

mortuárias, e assim também procurar saber como essas práticas foram estudadas na

arqueologia.

Assim foi possível observar as semelhanças e principais diferenças dos padrões

funerários encontrados,verificar a variação de terminologias utilizadas para dissertar acerca

dos sítios e mesmo dos ritos da morte, e por fim pudemos compreender melhor práticas e

hábitos dos que viveram no Nordeste no período pré-histórico.

Com isto, se buscoufazer uma pesquisa que contribuísse com o entendimento sobre a

morte e principalmente que tornasse inteligível todos os contextos que cercam o estudo sobre

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os sepultamentos encontrados em sítios arqueológicos, e contribuir com o conhecimento da

pré-história do Nordeste.

Esta pesquisa realizou-se a partir do preenchimento de fichas de catalogação de

informações, elaboradas após a leitura prévia de publicações acerca da metodologia

arqueológica. Delimitaram-se os pontos que buscávamos como resultado e a partir disso foi

realizado o levantamento e leitura dos trabalhos publicados no contexto do nordeste pré-

histórico.

O enfoque escolhido é o estudo dos trabalhos já publicados acerca da coleta e

escavações realizadas em sítios pré-históricos identificados e pesquisados no Nordeste, Além

disso, se buscoobservar e analisar as práticas mortuárias presentes nas informações de forma

que fosse possível estudar e analisar, a partir das teoria arqueológica, os padrões e formas de

sepultamento.

Esta pesquisa utilizou como fontes para análise textos bibliográficos e trabalhos já

publicados que fizeram referencia ao tema da morte no viés arqueológico.

Inicialmente, fora através da leitura de textos que fundamentavam sobre as questões

acerca dos ritos da morte ligados ao contexto arqueológico. Posteriormente, buscou-se a

sistematização das informações sobre os sítios de sepultamento, tendo como principais eixos

para a pesquisa entender a variabilidade das práticas funerárias utilizadas pelos diversos

grupos pré-históricos; e mesmo a variabilidade das técnicas utilizadas na arqueologia para

entender e “decifrar” as práticas mortuárias da pré-história.

No primeiro capítulo deste trabalho, procurou-se esclarecer o que é a arqueologia,

como se dá o estudo dela, e éexplicitada a importância da arqueologia, e do estudo das

práticas mortuárias. Relata-se sobre o recorte temporal e espacial escolhidos. Ressalta-se

acerca da importância da identificação dos padrões de sepultamento, e ainda as semelhanças e

diferenças encontradas nesse contexto.

O segundo capítulo enfatiza a arqueologia no contexto das práticas mortuárias, do

conceito, dos padrões identificados, suas peculiaridades e acerca das diversas práticas

realizadas, a partir desses padrões, para o sepultamento do indivíduo.

O terceiro capítulo tem por objetivo elencar os resultados obtidos com a pesquisa.

Discute-se acerca das metodologias descriminadas nos trabalhos estudados, e ainda acerca das

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terminologias empregadas nos mesmos para fazer referência aos sepultamentos. E ainda sobre

a presença ou não de adornos nos sepultamentos.

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1. A TEORIA ARQUEOLÓGICA

É possível observar as semelhanças e principalmente as diferenças que podem ser

encontradas nos padrões de sepultamentos, e observar uma variação de terminologias

utilizadas para dissertar acerca dos sítios e mesmo dos ritos da morte.

Aqui se construiu uma pesquisa que buscou o entendimento sobre a morte e

principalmente algo inteligível sobre os contextos que cercam o estudo sobre os

sepultamentos encontrados em sítios arqueológicos, e contribuir para o conhecimento

histórico da pré-história do nordeste do Brasil.

Neste trabalho, o enfoque escolhido foi o estudo dos trabalhos publicados acerca de

coletas e escavações realizadas em sítios pré-históricos identificados e pesquisados na região

do nordeste do Brasil. Além disso, era necessário observar e analisar as práticas mortuárias

presentes nas informações de forma que fosse possível estudar e analisar a partir da teoria

arqueológica, os padrões e formas de sepultamentos.

Assim, é importante compreender no que consiste a arqueologia. A arqueologia visa à

identificação e o estudo dos registros deixados pelos homens, nesse contexto, pré-históricos,

para que se torne possível a compreensão de como estes se comportavam, em relação à morte.

Um viés de estudo dentro do tema da arqueologia e ligado às crenças dos povos pré-

históricos é aarqueologia das práticas mortuárias, onde sebusca o entendimento das práticas

com relação ao tratamento dos mortos, a partir da identificação e o estudo de sítios onde se

encontraram diversos corpos sepultados. Segundo Gabriela Martin, em Pré-história do

Nordeste do Brasil1, “... grande parte das informações sobre a vida pré-histórica chega através

da morte. O ritual e o mobiliário fúnebre permite-nos inferir comportamentos sociais e com

restos ósseos das necrópoles identificamos as características físicas e patológicas de grupos

humanos”.

1MARTIN, Gabriela. Pré-história do Nordeste do Brasil. Recife: Editora Universitária da UFPE, 1996.

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Para a compreensão deste trabalho se faz necessário inicialmente entender como o

mesmo é apreendido de acordo com a corrente teórica da arqueologia intitulada “pós-

processual”, pois é de fundamental importância compreender a geração do conhecimento,

realizado por diversas abordagens particulares.

O historiador da arqueologia Bruce Trigger, no seu livro História do Pensamento

Arqueológico2, afirma que, para que se obtenha uma análise mais precisa e completa o “[...]

enfoque contextual baseia-se na convicção de que os pesquisadores precisam examinar todos

os aspectos possíveis de uma determinada cultura arqueológica a fim de compreender o

significado de cada uma de suas partes”.

Algo que também pode ser observado em Ian Hodder, no livro Interpretación en

Arqueologia3, quando o mesmo autor fundamenta a discussão em torno da teoria arqueológica

contemporânea e remete-se à importância do estudo de todos os contextos: “El primer tipo de

significado contextual hace referencia al contexto del medio físico y del comportamiento

presente em la acción [...] es necesario incorporar igualmente el contexto secuencial,

momento-a-momento, de la acción situacionalmente oportuna”. p. 174.

Essa abordagem compreende que é a partir da análise dos contextos em que o artefato

ou estrutura arqueológica estão inseridos (as), e a observação dos significados que esse dado

material pode trazer para o estudo arqueológico ou para o entendimento do contexto (do sítio),

do entendimento do contexto da produção de conhecimento sobre o mesmo, e sobre as

diversas interpretações propostas a essa ação humanapresente naquele local que a arqueologia

realmente se torna plausível. Écom o auxílio da abordagem pós-processualista que é possível

ao arqueólogo o levantamento de resultados amplos para a compreensão não somente do

espaço em que os vestígios materiais se inserem, mas a finalidade com que este espaço foi

utilizado e as formas pelas quais os próprios arqueólogos (re) significam esses locais

anteriormente ativos na sociedade do passado.

Algo quejápode ser observado em análises de arqueólogos processualistas4, é que

existe uma variabilidade de técnicas de sepultamento quando o assunto refere-se à sociedades

pré-históricas.Talcomo é referido por Lewis Binford em “The

2TRIGGER, Bruce G. História do pensamento arqueológico. São Paulo: Odysseus, 2004, pág 340.

3HODDER, Ian. Interpretación em arqueologia: Corrientes actuales. Barcelona: Editorial Crítica, 1986.

4 Para esta visão, a arqueologia buscaria os elementos universais de comportamento humano, que não se

limitariam a uma ou outra sociedade. Para usar um exemplo que todos aceitariam (FUNARI, 2003).

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mortuarypratices:TheirStudyandTheirPotential”5, em que o mesmo explica as diversas

técnicas utilizadas no “sepultar os mortos”, onde pode ser tomado, por exemplo,que a

explicação plausível acerca de como poderia ser feita uma cremação em um indivíduo, o autor

explicita de acordo com o que pode ser aferido mediante a análise das ossadas. E ainda

apresenta que pode ser observada a existência de uma variabilidade de terminologias acerca

destas práticas: sejam elas ditascomo mortuárias, ou como fúnebres, ou como de enterramento

ou de sepultamento.

Ao utilizar uma terminologia para identificar um sítio é necessário atentar até que

ponte essa terminologia utilizada refere-se coerentemente à mesma coisa. Um sítio cemitério

consiste em um local que fora utilizado anteriormente apenas como espaço onde os mortos

seriam então “guardados”. Um sítio,classificado como sítio de sepultamento faz referência ao

fato que também fora utilizado como o lugar escolhido para o enterro dos mortos, porém neste

mesmo lugar podem aparecer diferentes tipos de enterramento, ou aindapodem-se encontrar

apenas as ossadas, pois esse sítio arqueológico pode estar relacionado a um lugar de rituais,

ou de “preparação” do morto, seja qual for a crença daqueles povos.

Aplicar a abordagem contextual ou pós-processual significa então, atentar nesta

trabalhopara a variabilidade não somente de formas e práticas pelas quais grupos pré-

históricos, no contexto do nordeste do Brasil, sepultaram seus mortos, mas também, atentar

para a variabilidade de propostas conceituais e determinações metodológicas utilizadas pelos

arqueólogos nos trabalhos em campo e na publicização de seus resultados de pesquisa sobre o

tema.

5BINFORD, Lewis; QUIMBY, George Inving. Archaeology Mortuary Practices: Their Study and Their

Potential. IN: Memoirs of the Society for American Archaeology. Michigan: Seminar Press, 1972.

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2. AS PRÁTICAS MORTUÁRIAS

O estudo das práticas mortuárias de um grupo humano é importante, pois nos

possibilita um entendimento que vai muito além da morte, é através da análise realizada que

podemos perceber muito acerca dos costumes que utilizavam, a até perceber alguns aspectos

da comunidade, como, por exemplo, a preocupação de preparar o morto ou fazer com que ele

levasse consigoalgo que teve algum significado para o morto ou para o grupo em que estava

inserido, para isso temos o auxílio da arqueologia, principalmente quando se detém ao

entendimento das práticas empregadas na morte.

Para compreendermos a chamada “arqueologia das práticas mortuárias” é necessário

entender os locais que foram identificados e tratados por aqueles que sepultaram os mortos, e

pelos arqueólogos que analisaram as informações acerca do processo da morte.Mediante a

análise do que já foi publicado acerca dos sepultamentos, no Nordeste do Brasil, podemos

elencar alguns “modos”, ou melhor dizendo, práticas de sepultamento. As formas de enterrar

os mortos foram variadas, e é possível perceber tipos diferentes de sepultamentos,

classificados como “primário” e “secundário” no contexto arqueológico.

Sepultamento primário

Este tipo de sepultamento tem como finalidade a deposição do corpo, que pode ser

realizada com ou sem acompanhamento de adornos. Nesse contexto, não conseguimos

identificar se foi realizado algum tipo de rito no ato do sepultamento. Para esse tipo de

enterramento podemos tomar como exemplo o trabalho realizado no Sítio do Justino6, o qual

apresentou, em sua grande maioria sepultamentos primários, pois foram identificados 108

esqueletos humanos completos, sendo esses depositados diretamente no sedimento na posição

fetal, de decúbito dorsal (deitado) com os membros inferiores fletidos ou mesmo com vasos

6VERGNE, Cleonice; AMÂNCIO, Suely (1992). A Necrópole pré-histórica do Justino/Xingó – Sergipe:

Nota prévia. CLIO – Série Arqueológica, n. 8, Recife, UFPE, p. 171-181.

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de cerâmica sobre o crânio e a bacia. Neste sítio também foram observados que os

sepultamentos possuíam adornos funerários.

Imagem 1 –Posiçãofetal

(http://reginasugayama.blogspot.com.br/2011/07/os-ossos-do-oficio-de-peter-lund.html acesso: 14/05 às 21:39).

Imagem 2: Deúbito dorsal (http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=arqueologia&id=64 acesso em 14/05 às

21:36).

Imagem 3 – Membros inferiores fletidos (http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL30389-5603,00-

ARQUEOLOGOS+ACHAM+TUMBA+MILENAR+NOS+ANDES.html, acesso em 14/05 às 21:52).

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Os adornos elencados, mediante a análise realizada, fazem referências a objetos,

artefatos, como, colares, pontas de flechas, raspadores, ossos de animais, ou mesmo vasos de

cerâmica sobre as ossadas.

Imagem 4 – Mobiliário funerário. Urnas sobre os ossos.(www.canoadetolda.org.br, acesso em 14/05 às 22:59).

Sepultamento secundário

O tipo chamado de “sepultamento secundário” é o tipo de sepultamento que nos

traz uma espécie de preparação do morto, onde se pode identificar neste tipo que a simples

decomposição do corpo não é realizada, há uma certa organização ou arrumação do

indivíduo no espaço do sepultamento.

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Imagem 5 – Sepultamento secundário (http://www.jornalobruxo.org/2013/02/neblina-do-tempo-cultos-e-ritos.html,

acesso 14/05 às 22:07).

Neste tipo de sepultamento é possível observar que foi realizada uma cerimônia

mais complexa onde, segundo Gabriela Martin (1994)7, “[...] realiza-se um segundo

sepultamento depois da perda das partes brandas do corpo, ritualiza-se o esqueleto” (p.30).

A presença ou não de adornos pode ocorrer também nesse contexto.

Em alguns casos, foi realizada a inumação, a qual se trata da decomposição do

corpo no solo, prática esta não conceituada nas publicações abordadas, podendo

acompanhar adornos funerários ou não, como já exemplificados com os sepultamentos

primários. Pode-se observar também a arrumação dos ossos, como no sítio “Pedra do

Alexandre”8 estudado por Gabriela Martin, a qual nos relata acerca de esqueletos humanos

depositados (Enterramento nº 05) com os ossos longos arrumados e os crânios por cima

deles, acompanhavam mobiliário (p.49).

7MARTIN, Gabriela. Os Rituais Funerários na Pré-história do Nordeste. CLIO- Série Arqueológica, n. 10,

Recife, UFPE, 1994, p.29-46.

8MARTIN, Gabriela. O cemitério pré-histórico “Pedra do Alexandre” em Carnaúba dos Dantas, RN. Clio

Série Arqueológica, n. 11, Recife: UFPE, 1995-96. p. 43-57.

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Imagem 6 – Organização dos ossos, Sítio Pedra do Alexandre

(http://exploradordosertao.blogspot.com.br/2011/10/escavacao-realizada-pela-equipe-de.html, acesso em 14/05 às 23:04).

Identifica-se também a ocorrência de sepultamentos secundários em urnas, onde

após o “preparo”, os ossos são depositados ou mesmo organizados em grandes vasos de

cerâmica, as urnas, algumas com finalidade específica para o sepultamento, outras sendo

reutilizadas. Os sepultamentos em urnas de enterramentos primários também ocorrem,

porém em menor quantidade. Sepultamento em urnas em sua totalidade aparece elencado

como característico do sepultamento secundário.

Imagem 7 – Sepultamento secundário em urna

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_de_Arqueologia_e_Etnologia_da_Universidade_de_S%C3%A3o_Paulo acesso em 14/05 às

23:19).

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Nesse mesmo contexto constatou-se também a prática de pintar os ossos, nos

sepultamentos secundários em urnas, onde foram encontrados ossos de crianças que

possuíam pinturas com um pigmento vermelho.

Também foi recorrente o sepultamento secundário em que os ossos foram

depositados diretamente no sedimento. Observou-se também, neste tipo de sepultamento,

que em alguns casos a inserção de vasos de cerâmica no contexto do túmulo, algumas

vezes, também o esqueleto é depositado no sedimento e no lugar no crânio coloca-se uma

urna, ou mesmo em cima dos ossos, como já foi exemplificado.

Mediante as informações obtidas constatou-se ainda que o sepultamento, mesmo

num contexto de “cemitério” aparece de forma individual e coletiva, onde é possível

identificar as ossadas de vários indivíduos em um mesmo espaço no sítio arqueológico, o

que pode ser exemplificado pelo sítio “Pedra do Alexandre”, em Carnaúba dos Dantas,

RN.

Como já referido anteriormente, as práticas de tratamento das ossadas aparecem de

formas diversas. Conseguimos identificar, no contexto arqueológico, a prática da queima

dos ossos, caracterizada como incineração (queima parcial), ou mesmo a cremação,

podendo ocorrer o sepultamento com ossos (nas urnas). Tal queima pode ter como

objetivo retirar as partes moles, ou mesmo, através da cremação, em que as cinzas são

depositadas nas urnas e sepultadas.

Podemos utilizar como exemplo para tal prática o trabalho realizado por Adelson

Santos, intitulado “Alterações pós-morte em esqueletos pré-históricos. Contribuição à

análise tafonômica de restos esqueletais humanos no sítio Alcobaça, Buíque, PE, Brasil”9,

neste trabalho o autor relata que não foi possível realizar uma análise detalhada dos

sepultamentos, ou mesmo das ossadas, pois a prática empregada foi a incineração, e

encontrou-se apenas fragmentos ósseos no contexto do sítio. A análise realizada foi em

laboratório com os resquícios das fogueiras e os fragmentos ósseos coletados.

Algo que também deve ser observado é a análise baseada em outros objetos que

podem trazer significado ao espaço de um sítio de sepultamento que em algum momento,

9SANTOS, Adelson. Alterações pós-morte em esqueletos pré-históricos. Contribuição à análise tafonômica

de restos esqueletais humanos do sítio Alcobaça. Buíque,PE. Brasil. . Clio Série Arqueológica, n. 14, Recife:

UFPE, 2000. p.87-98.

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por algum motivo foi perturbado. Para tal contexto podemos apresentar o trabalho

realizado por Maria da Conceição M. C. Beltrão, Carlos Xavier Azevedo Neto e

Jacqueline Amorim, publicado em 1995/96, que tem por título “O Cemitério do Caboclo:

um novo tipo de sítio arqueológico no interior da Bahia”10

, o qual relata que o sítio fora

perturbado pela ação humana e por uma inundação. Descreve-se que, mediante a

escavação identificou-se ali o aparecimento de grande quantidade de cerâmica e material

lítico, que após uma análise, realizada posteriormente, percebeu-se que os artefatos e

mesmo as bordas de cerâmica estavam relacionadas ao rito do sepultamento, análise esta

não detalhada.

10

AZEVEDO NETTO, Carlos Xavier de; AMORIM, Jacqueline. O cemitério do caboclo: um novo tipo se sítio

arqueológico no interior da Bahia. Clio Série Arqueológica, n. 11, Recife: UFPE, 1995-96. p.71-86.

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3. A METODOLOGIA ARQUEOLÓGICA

Para um estudo arqueológico a análise do contexto do sítio é fundamental. É através

das informações obtidas na escavação que é possível formularmos conclusões sobre a

ocupação humana no espaço em questão e mesmo sobre os indivíduos que utilizaram aquele

espaço, ou até mesmo o porquê da escolha daquele espaço para qualquer atividade.

A pesquisa arqueológica tem início até mesmo antes da escavação, onde se realiza um

levantamento de informações que indiquem, em algum momento, a utilização daquele

contexto arqueológico abordado na análise.

Dá-se início a escavação, delimitando então os espaços específicos do sítio os quais

serão escavados e os procedimentos empregados para que a identificação e a coleta dos

artefatos seja possível, pois toda escavação é um processo.

Segundo Pedro Paulo Funari:

“Uma das condições mais comuns de trabalho do arqueólogo é a escavação.

Costuma-se, antes de propor uma escavação, encontrar informações em documentos,

em testemunhos orais, fotos e pinturas sobre possíveis ocupações antigas, e em

seguida, faz-se o reconhecimento do terreno, por meio de uma prospecção. [...]

Identificados vestígios na superfície, determina-se uma área a ser escavada. [...] O

estrato arqueológico é a unidade básica do trabalho. Cada estrato representa uma

ação humana” (FUNARI, 2003)11

No contexto de um sítio arqueológico identificado como de “sepultamento”, a

metodologia empregada em geral é de uma escavação muito minuciosa, com o objetivo de

evidenciar todo o contexto do material ósseo encontrado não só pela fragilidade do material

encontrado quando de sua coleta dentro do sedimento do sítio, mas também pelo estado de

conservação desse tipo de informação arqueológica devido à ação do tempo ou elementos

perturbadores dos sepultamentos naquele local.

Deve-se considerar que a metodologia aplicada não se refere apenas à coleta dos

artefatos, mas se inicia bem antes, na denominação do sítio, e na observação do estado de

11

FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Arqueologia. São Paulo: Editora Contexto, 2003.

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conservação dos ossos, e a identificação do referido sítio, como sendo de sepultamento, por

exemplo. Tais informações, assim como em outros trabalhos arqueológicos compõem a

metodologia utilizada.

O trabalho realizado no Sítio do Justino, sítio então denominado como sendo uma

necrópole pré-histórica ou cemitério indígena, a terminologia empregada para se fazer

referência ao espaço em que o indivíduo estava depositado, nesse contexto, foi chamá-lo de

“sepultamento”. O sítio se localiza no município de Canindé de São Francisco- SE,

caracterizado como um sítio arqueológico em área urbana.

O relato do que foi encontrado em tal sítio constitui-se em sua metodologia, pois se

descreve que ao total foram 19.100 peças coletadas, e que as mesmas estavam em um estado

de conservação razoável, e que o sítio apresentava em sua grande maioria sepultamentos

primários, e em menor escala, os sepultamentos secundários. A metodologia empregada na

coleta foi a decapagem12

, e foram abertas quadrículas, que posteriormente, foram aumentadas.

Nesse sítio foi relatado ainda o aparecimento de “enxoval funerário” nos sepultamentos.

O sítio da Pedra do Alexandre, por exemplo, localizado no Seridó do Rio Grande do

Norte, foi caracterizado como sendo um abrigo sob rocha, com a presença de pinturas

rupestres. Afirmou-se que tal abrigo já se encontrava em uma fase acelerada de

decomposição.

Neste sítio foram encontrados sepultamentos primários e secundários, e que os

mesmos foram datados. O sítio foi referenciado como sendo um cemitério indígena, e fez-se

referência a “enterramentos”. Relatou-se a identificação de vários sepultamentos,

identificados como sendo individuais e coletivos, primários e secundários, e com isso já

conseguimos observar uma metodologia sendo empregada, para a identificação dos indivíduos

e mesmo a condição do sepultamento.

Outro sítio que também apresentou uma metodologia arqueológica no seu tratamento

de pesquisa é o Cemitério do Caboclo, localizado na Chapada da Diamantina (BA), sendo esta

área perturbada devido à ação das chuvas, e também pela ação humana. Como a própria

denominação já evidencia, este sítio foi caracterizado como sendo um cemitério indígena.

12

Durante a escavação, o espaço escolhido para ser escavado é delimitado em quadrículas. Estas vão sendo

aprofundadas até a evidenciação de algum artefato, então é realizada a decapagem, que consiste na limpeza do

artefato com pincéis, e são retiradas fotos em vários ângulos, ou mesmo é feito um desenho numa escala em que

registre a medida da altura, da largura e da profundidade em que o artefato foi encontrado.

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25

Tal cemitério foi caracterizado então como constituído de sepultamentos secundários

em urnas, porém a análise das ossadas não pôde ser realizada devido uma inundação no sítio,

onde as conclusões foram obtidas somente através da análise de partes de vasilhames e

vestígios identificados durante a escavação do cemitério. Não se fez referência ao

aparecimento de quaisquer adornos funerários.

A escavação realizada no sítio Toca da Baixa dos Caboclos, localizado no Parque

Nacional da Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato (PI), foi identificado como sendo

um abrigo sob-rocha e que mostrava novas peculiaridades, sendo realizada ali uma escavação

de salvamento e, portanto, nesse contexto se fez referência a “sepultamentos”.

É relatado sobre o mesmo sítio de sepultamento o aparecimento de um sepultamento

primário e de sepultamentos secundários em urnas, pois estas possuíam “tampas” de

cerâmica, e observou-se o aparecimento de um enxoval funerário. descreveu-se então que os

ossos foram encontrados em bom estado de conservação e para a coleta foram realizadas

decapagens e em seguida o engessamento das urnas.

No sítio Alcobaça, no município de Buíque - PE, município localizado no semiárido

do estado de Pernambuco, também encontramos um abrigo sob-rocha, caracterizado como

sendo uma necrópole. Não há referência a uma terminologia específica para os sepultamentos,

pois a análise destes não pôde ser realizada.

Não foi possível nesse referido sítio detalhar as informações acerca da conservação

dos ossos, pois estes foram queimados, daí então a análise foi realizada com os fragmentos

obtidos, evidenciando uma prática utilizada nesses sepultamentos, que foi a cremação, e além

disso a identificação da metodologia arqueológica que foi aplicada nessa coleta.

A escavação realizada na Toca dos Coqueiros, sítio localizado no Parque Nacional da

Serra da Capivara (PI), em São Raimundo Nonato – PI, também um abrigo sob rocha

forneceu informações mais detalhadas acerca da metodologia utilizada na coleta das ossadas

encontradas no sítio. Este sítio foi então referenciado como sendo um sítio de

“sepultamentos”.

Encontramos nesse sítio, um enterramento primário de um indivíduo adulto, colocado

em uma cova rasa, mas infelizmente, perturbada devido ao movimento de animais e pessoas

no local, contudo a sepultura foi retirada inteira.

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Descreveu-se que a coleta foi realizada através da decapagem da parte superior e

bordas, onde se cobriu a parte superior com papel higiênico e colocaram-se ataduras

engessadas cobrindo, mediante a evidenciação, o todo do sepultamento. Onde havia pedras a

decapagem realizava-se sob o bloco após a retirada do mesmo. Após o total engessamento do

indivíduo deixou-se descansar a estrutura engessada e, posteriormente, foi transportado ao

laboratório.

Mediante os trabalhos apresentados é possível perceber que a utilização de uma

metodologia na arqueologia se inicia com a observação e identificação do sítio, que a

conceituação do espaço e dos indivíduos já conota em si mesmo a aplicação de uma

metodologia.

Também se observou que as informações acerca da coleta dos materiais ósseos são

fundamentais, pois assim como as informações que possibilitam o entendimento do que

consiste o espaço estudado, a identificação de uma tipologia, neste caso, para os tipos de

sepultamento é deveras importante na especificação de procedimentos arqueológicos.

Com a análise, observamos que existe uma variação nas terminologias empregadas

para a denominação da sepultura, que para se fazer referência ao ato de sepultar o indivíduo,

por exemplo, utiliza-se o termo “sepultamento”, “enterramento”, ou para o mesmo espaço

chama-se de “cemitério indígena”, “cemitério” ou ainda “necrópole”.

O material identificado junto ao indivíduo também apresentou terminologias

diferenciadas, como, “adornos”, “mobiliário fúnebre” ou “enxoval funerário”. Algo que pode

ser observado no trabalho realizado no Sítio do Justino, por exemplo, onde se fez referência a

existência de um enxoval funerário, ou na escavação realizada no sitio Pedra do Alexandre em

que se relata o aparecimento de mobiliário fúnebre.

Constatamos que estas terminologias foram aplicadas, porém não há nos trabalhos

estudados uma diferenciação clara na aplicação dessas terminologias, nem uma conceituação

das mesmas, pois ao todo estas são utilizadas como tendo o mesmo sentido.

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27

CONCLUSÃO

Para tal trabalho a arqueologia foi fundamental. É por meio desta ciência que

compreendemos muito acerca do passado. As práticas funerárias nos permitiram entender

como fora o passado e mesmo como os costumes empregados no ato da morte.

Constatamos que a partir deste estudo, e do processo empregado, podemos obter

resultados e entendimento do passado. Identificamos como deve ser realizada a escavação, na

identificação de um sítio cemitério, ou mesmo podemos compreender no que se baseia a

arqueologia e sua contribuição a História para o entendimento do meio em que vivemos, e

mesmo como esta é fundamental para o conhecimento do passado.

O estudo pode ser realizado mediante um levantamento bibliográfico prévio e que são

através dos indícios apresentados pelos pesquisadores, ou descrição dos vestígios que

obtemos os resultados.

Constatamos que há uma variedade de tipologias de sepultamentos, e que estes podem

ser acompanhados de “adornos funerários”, e que na análise arqueológica diversas

terminologias são empregadas para a explicação do contexto.

Mediante a pesquisa, identificamos ainda a metodologia utilizada para a escavação de

um sítio de sepultamento, ou ainda a ausência de tal informação no que foi produzido acerca

do espaço escavado.

Para ser realizar uma pesquisa arqueológica no Brasil, e mesmo no nordeste, na área

das práticas mortuárias, se faz necessário compreender que a pesquisa e seus resultados

interferiram na sociedade, e que estes resultados poderão alterar conceitos hoje tidos como

corretos, e até mesmo crenças do que fora o passado.

É importante perceber o espaço do arqueólogo enquanto agente de mudanças, e

mesmo a dificuldade em que este vai enfrentar para conseguir exercer esta profissão, pois

existe espaço para o estudo arqueológico mais há pouca valorização para o mesmo, até

mesmo a formação deste será deficitária pois não há um grande investimento na área, hoje

este profissional busca as tidas empresas de “arqueologia de contrato”, as quais possibilitam a

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prática os conhecimentos arqueológicos, ou caso o mesmo deseje pode buscar alguma

aberturas no ensino acadêmico.

A pesquisa arqueológica acerca das práticas mortuárias na pré-história do nordeste do

Brasil traz e nos disponibiliza informações importantíssimas para o entendimento do passado,

e ainda que a metodologia e a análise realizadas são fundamentais para tal processo. Esse

estudo está em expansão e em muito ainda irá contribuir para a pesquisa arqueológica e

mesmo para a sociedade.

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29

REFERÊNCIAS

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GUIDON, Niéde;VERGNE, Cleonice; VIDAL, Irma Asón (1998). Sítio Toca Baixa

dos Caboclos. Um abrigo funerário do enclave arqueológico do Parque Nacional

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HODDER, Ian. Interpretación em arqueologia: Corrientes actuales. Barcelona: Editorial

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LEROI-GOURHAN, André. As religiões da Pré-história. Lisboa: Edições 70, 1985.

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Série Arqueológica, n. 12, Recife, UFPE, p. 127-137.

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MARTIN, Gabriela. O cemitério pré-histórico “Pedra do Alexandre” em Carnaúba dos

Dantas, RN. Clio Série Arqueológica, n. 11, Recife: UFPE, 1995-96. p. 43-57.

MARTIN, Gabriela. Os Rituais Funerários na Pré-história do Nordeste. CLIO- Série

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MARTIN, Gabriela. Pré-história do Nordeste do Brasil. Recife: Editora Universitária da

UFPE, 1996.

MOBERG, Carl-Axel. Introdução a Arqueologia. Lisboa: Ed. 70, 1986.

MORIN, Edgar. O homem e a morte. Mem Martins: Europa-América, 1970.

RIBEIRO, Marily Simões. Arqueologia das práticas mortuárias: uma abordagem

historiográfica. São Paulo: Alameda, 2007.

SANTOS, Adelson. Alterações pós-morte em esqueletos pré-históricos. Contribuição à

análise tafonômica de restos esqueletais humanos do sítio Alcobaça. Buíque,PE. Brasil. .

Clio Série Arqueológica, n. 14, Recife: UFPE, 2000. p.87-98.

TRIGGER, Bruce G. História do pensamento arqueológico. São Paulo: Odysseus, 2004.

VERGNE, Cleonice; AMÂNCIO, Suely (1992). A Necrópole pré-histórica do

Justino/Xingó – Sergipe: Nota prévia. CLIO – Série Arqueológica, n. 8, Recife, UFPE, p.

171-181.

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31

ANEXOS

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32

Pesquisa

“Um estudo das metodologias de recuperação e análise de

enterramentos em sítios pré-históricos no Nordeste do Brasil”

Samantha Maria de A. Simpliano

Ficha de catalogação bibliográfica e documental

Título:

___________________________________________________________________________

_________________________________________________________________

Tipo: Livro ( ) Artigo ( ) Documentação Primária ( ) Outros textos ( ) ____________

_____________________________________________________________________

Autor:

______________________________________________________________________

Referência:

___________________________________________________________________________

_________________________________________________________________

Tipologia:

( ) Enterramento primário

___________________________________________________________________________

_________________________________________________________________

( ) Enterramento secundário

___________________________________________________________________________

_________________________________________________________________

Palavras Chave:

( ) Enterramento( ) Práticas mortuárias ( ) Sepultamento ( ) Ossadas humanas

( ) Necrópole ( ) Adornos funerários

( ) Cemitério indígena ( ) Mobiliário funerário

( ) Outro(a)(s): _________________________

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33

Identificação do sítio e/ou do artefato:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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Detalhes sobre o estado de conservação:

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__________________________________________________

Informações sobre a coleta do material:

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Observação sobre os

vestígios:___________________________________________________________________

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Informações adicionais:

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DATA___/___/__