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Edição comemorativa: Jubilação do Prof. Cesídio AmbrogiTaubaté – 1963 – São Paulo

Jeronymo de Souza

MESTRE CESÍDIO

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[2016]Realização:Almanaque Urupês

Autor:Jeronymo de Souza (1963)

Capa e Diagramação:Nicole Doná

BIBLIOTECA

URUPÊSALMANAQUE

Cesídio AmbrogiTaubaté – 1963

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Poema do Pastoreio

Nasci pastor. Aos vinte anos, Por verdes campos risonhos, Andei tangendo ilusões ...- meu rebanho era de sonhos.

Agora, além dos sessenta,ao peso dos próprios amor,pastoreio outro rebanho ...- hoje só de desenganos.

E no meu velho cajado, que é o mesmo da mocidade,ainda me apoio a sonhar ...- suas chorando de saudade.

1963

Cesídio Ambrogi

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A MÁRCIO TADEUHIERÔNIMOeMARIA MÁRCIA

para que aprendam a amar Taubaté e sua gente

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DADOS BIOGRÁFICOS• 1893 – 22 de maio: Nasce, em Natividade da Serra, Esta-

dodeSãoPaulo,CesídioAmbrogi,quintofilhodeBernar-do Ambrogi e de d. Mariana Ambrogi.

• - Primeiras letras, em sua terra natal.• 1904 – Muda-se com a família para Taubaté. Residência:

LargodoChafariz(hojePraçaRuiBarbosa).• 1907 – Matriculou-se no Ginásio “Nogueira da Gama”, em

Jacareí.• 1909–Públicano jornal“ACidadedeUbatuba”,dirigi-

do por Ernesto de Oliveira, os primeiros versos: o soneto “TeusOlhos”.

• 1911 – Preparatórios, em São Paulo, para ingressar na Escola Politécnica.

• 1912 – Vai à Itália, matricula-se na Régia Universidade dePisa,CursodeEngenharia.

• 1914 – Volta a Taubaté, aos prenúncios da Grande Guerra.• 1915 – Dedicou-se à atividade de construtor.• 1916–Colaboraemjornais.• 1918 – Toma parte ativa na vida literária e artística da

cidade.• 1923–Publica“Asmoreninhas”.• 1924–ColaboraemváriasrevistasejornaisdoEstado.• 1926–Casamento(primeirasnúpcias)comd.Petronilha

C.Ambrogi.Filhosdocasal:BernardoeTerezinha.• 1927–InspetorFederaldaEscoladoComércio“Wash-

ington Luiz”, de Taubaté.• 1932 – É nomeado primeiro professor de Português do

recém- instalado “Ginásio Estadual”, que seria mais tarde, o “Colégio Estadual e Escola Normal “Monteiro Lobato”.

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• 1933 – Um dos fundadores da Sociedade Taubateana de Ensino, da qual foi presidente.

• 1935–Intensificacolaboraçãoemrevistasejornais.• 1938 – Casamento (segundas núpcias) com d. Lygia Fu-

magalliAmbrogi.Filhosdocasal:Eliana,Cesídio,Valfrido,Anabela e Lygia Mara.

• 1947–Publica“PoemasVermelhos”.• 1954–Tomapartenavidapolíticadacidade,filiandoa

um dos partidos. • 1963 – Aposentadoria no cargo de professor secundário.• -IngressanaAcademiaBrasileiradeTrovas.

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O MUNDO QUE O FILHODO IMIGRANTE ENCONTROU

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O recém-apagado esplendor do café criara problemas de “mudanças sociais”, no Vale do Paraíba, zona norte de São Paulo.

A abolição; a queda dos preços a partir de 1896, (de 132francospor50quilos,noHavre,jáhaviamdescido,em1903, para 30 francos); o decréssimo de produção em terras cansadas; e a geada de 1918, (golpe final para os que seobstinavam na lavoura cafeeira), delimitavam a crise em sua fase aguda.

Viam as “famílias boas” - empobrecidas relativa ou completamente - viam membros, seduzidos pela onda verde, abandonar o Vale para tentar outra cartada; ou recomeça-rem na Capital; ou conformarem-se com modestas funções locais, no apego à terra.

Famílias adventícias - “os intrusos” - tendo à frente os

Mestre Cesídio

CIDADES MORTAS?

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mineiros apatacados, que se estendem (1893) os primeiros rolos de arame farpado no Vale: as pastagens iriam invadir a velhoscafezais.

Encarregavam-se da manutenção de pequenos servi-ços os “nativos”, que nada ou pouco possuíam.

Com recurso de suas poupanças, imigrantes ou seus descendentes destacam-se, agora, nos artesanatos, no co-mercio, em pequenas industrias, em outras culturas agrícolas “menos dignas” – ou, até ocupam antigas fazendas em que serviram como colonos.

Comerciantes locais, não “considerados” pelos fazen-deiros de café, por mais fortes que fossem, preparam-se para romper o “status” anterior, em que o fazendeiro teria, sempre, mais prestígio social, independentemente do conforto de fortunas. Do comércio, só as casas comissárias mereceriam maiores atenções.

Representantes da mocidade que dispunha, apenas,dos recursos de leituras e contas, os caixeiros vão tentar a sua vez, casando em “famílias boas” Enfraquecidas.

Sãotodososprincipaisfigurantesdoembateentreasimpulsõesdoconservantismosocial,maisativasesignifica-tivasqueamera“saudadedoantanho”(MudançasSociaisnoBrasil)eademandadenovospadrõesdevida.

Destechoque,permanecem,aténossosdias,emplenafase de industrialização e de crescimento de urbs, em Tauba-té, restrições aos de fora. Na legislatura passada, vereador aqui radicado, líder de partido, casado em família taubatea-na,comfilhocaminhandoparaamaioridaderecebia,emple-nário, admoestações pela condição de não-taubateano.

Queixas de que só “o de fora vence” ou “tem tudo” –

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consagradas no dito popular “Taubaté, muito boa madrasta e mãemuitomá”–justificam-se,atécertoponto.

Transformação dessa ordem não se operaria sem dei-xarmarcasprofundas(MudançasSociaisnoBrasil).Acontra-dição entre o passado recente e realidade seguinte vai situar diversamente os indivíduos no mesmo cenário natural.

Monteiro Lobato, neto de fazendeiro de café, apres-sou-seemchamaraestasmudançasdemorte–“ascidadesmortas” (las ciudads muertas, de Emilio Castelar). As “famí-liasboas”eseusdescendentesnoVale,magoados,nãolheperdoaram, até hoje, a perfídia. Cesídio Ambrogi, em umacrônica,afirmaexistirem,nestasparagens,“rancores telúri-cos” contra o autor de “Urupês”; entenda-se: rancores que partiram dos terreiros das fazendas de café.

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A fazenda de café do Séc. XIX foi mais que uma unida-de de produção, um estilo de vida (Grandeza e Deca-dência do Café).

O conforto e a larguesa das sedes (a casa-grande da fa-zendaBuquira,doViscondedeTremembé,ostentavaoitentajanelaseportas,asaladejantarcomcatorzemetrosdecom-primento), assim como as casas das cidades, distinguiam de prol. Juntese, ainda, uma terceira residência – na observação do prof. Gentil de Camargo – nos centros religiosos, para as festas do padroeiro, como foi o caso de Tremembé.

Descendentes de bandeirantes, que na exaustão das minas, sediaram no Vale do Paraíba, na avidez de fortuna, trouxeram mais que transformações econômicas, mudanças sociais.

OcaféfaziachegaraoVale,emretornodosportoses-

ESTILO DE VIDA

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trangeiros, mercadorias para o bem-estar de seus condes e barões que, aleVale, com suas fidalguias, chegavamaté azona de Campinas.

Pinho de Riga para assoalhos, forros e venezianas,(todooassoalhodovelhoprédioemquefuncionouoGiná-sio Estadual, antiga Associação Artística e Literária, na Rua ViscondedoRioBranco,emTaubaté,comtérminodasobrasem1904,édestamadeira).Móveisdecarvalho.Pratariaspor-tuguesas: baixelas, castiçais, arreios paramontaria.Vinhosde várias procedências. Salames, presuntos e mortadelas italianos.Manteigaholandesa,aoladodaDemagny(queopovo acreditava ser feita com aproveitamento do esgoto de Paris...).Osqueijosdo reino (daHolanda) concorriamcomoscrioulosqueijosdeMinas.TecidosdaInglaterra:ingleseseramtambémosfósforos(JohnKoppings)eocimento,embarricas. Perfumes da França, ao lado de revistas de modas edeprópriasmodistas.Ferrossecos.Batatas.Bacalhauede-maisconservas.Toucinhoamericano,embarricas,comsal-moura. Arroz da Índia (marca Estrela) e seis mil réis a saca.

Eosbigodesseimpunham.Somenteosreligiososeosatores podiam traze-los rapados. Um dos Camargo (Francis co Gomes Camargo), em Taubaté, tentou romper o conven-cional,erecebeu,pelorestodavida,aalcunhadeNhôPadre.

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EmTaubaténofinaldoséculo,membrodafamíliaGui-sard (imigrantes sediados em Minas) da inicio a pe-queno fabrico de meias, em que o casal-proprietário

seriam os tecelões; na ascenção dos negócios, monta-se fa-brica de tecidos. Incendiada, recebe o pioneiro o amparo de D.JoséPereiradaSilvaBarros(religiosoreconhecidamentepobre)numarecomendaçãodecreditoaoBancodaProvi-dencia, para reconstrução. Felix Guisard, mais tarde, em sinal degratidão,fezerguerahermadeseuamigonaPraçaprin-cipal da cidade.

Surgemosprimeirosanarquistas,comoeramchama-dos, no começo do século, os socialistas, e iniciam a publica-ção de O Operário.

No distrito de Quiririm, colonos italianos dão inicio a cultura de arroz, que seria ampliada, em 1910, com o estabe-

A MUDANÇA

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lecimento dos frades trapistas, na Fazenda Maristela, e teria impulso comercialcom o aperfeiçoamento em máquina de beneficiar oproduto, introduzidospelos colonos francesesFranchon(JoséFranchonThomassoneseuirmãoCarlos).

Emsetembrode1905,aextraordináriafloraçãodosca-fezais prenunciou crise de superprodução, com novas baixas. SãoPaulo,MinaseEstadodoRiodeJaneirofirmaramacordode amparo aos fazendeiros de café, em 26 de fevereiro de 1906, - o Convenio de Taubaté – “a boa corda de canane de quatroramais”emqueseenforcariammuitosdosbeneficiá-rios.Acidadeforaescolhida,nestaalturadosacontecimen-tos,pelaposiçãogeográficaehistórica.RibeirãoPretojásepreparavaparacoroarreidocaféaoCel.Schmidt,ex-colonode procedência alemã. Realizou-se o Convenio no solar do Cel.JoséBeneditoMarcondedeMatos,hojePalaceHotel;daía troca do nome Largo do Pilar por Praça do Convenio – no logradouro fronteiro ao prédio.

Um fazendeiro de café – o Visconde de Tremembé – so-fre processo criminal, e vai ao Tribunal do Júri. Por deferên-cia, trocam o banco dos réus por cadeira condigna.

OBancodoCusteioAgrícoladaoprimeirotombonasrestantes economias do municipio.

“Sus-cristo! “San-cristo!” ainda saudavam, humilde-mente, aos brancos os negros. (Stein registra no Vale do Pa-raíba,zonafluminense,as formas“Kist!”e“Vas-cristo!”).Aoque parece, restos da saudação cristã a que eram obrigados osescravosdiantedoamo:“LouvadosejaNossoSenhorJe-sus Cristo!”

Ossuavesnhôs,nhonhôs,nhás,nhãnhãs,nhô,pai,nhámãe,nhôpadreacochegavamrelaçõessociais.Eosjongose

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companhiasdemoçambique,deixandoosterreiorosdasfa-zendas, apresentam suas funções nos arredores e nas festas da cidade.

Aqualquerhora,aprocisãode“NossoPai”percorridaasruas:campainha,irmãosdoSantíssimoecânticosreligio-sosemquesefaziaouvir,sempre,avozdeChicoBendito,na assistências enfermos em estado agônico. E certos mari-dosjustificavamseusretardamentosaolar,nasnoites,pelanecessidadedeacompanharoNossoPai.Velhos,cientesdesua fragilidade, provocados em casos amorosos, retorquiam resignadamente:“QuemsoueuparaacompanharNossoPaiforadehora?”

Percorriam fazendas e, aos domingos, iam ao merca-do,combandademúsicaeacompanhamento,asbandeirasdo Divino,preparando festas soleníssimas para coroação do imperador.E,emoposição,ouviam-se,ahorasperdidasdanoite, soturnos rufos de caixas, com a bandeira preta das almas penadas.

A Procisão do Fogaréu, do Fogo, ou da Prisão atraía muitas pessoas das redondezas. Irmãos, em passos apressa-dos,comtochas,acompanhavamaimagemdoPrimeiroPas-so, de roca; a imagem está de pé, de mãos amarradas, prece-didadosacerdote,sempálio,cantandoaladainhadeTodosos Santos, que era respondida pelo povo. Reza tradição que aRuaMarquêsdoHerval,chamadaRuadoFogo,deviaoseunome ao intinerário costumeiro desta procissão.

Os atos da Semana Santa eram revestidos de pompas e os fazendeiros traziam suas famílias e famulagem para as-sistirem a eles, redobrando o movimento urbano.

O advento primeiro bispo (1909), Dom Epaminondas de

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Ávila e Silva, natural se Serro, cidade mineira fundada por um taubateano, elimina grande numero de usanças religiosas, re-duzidasqueforamacerimôniaslitúrgicas,dentrodopontifical.

Duas diversões empolgam: o cinema e o futebol.O “Cinema Rio” escandaliza a população religiosa exi-

bindo, comgrandes propagandas, o filme“NotreDamedoParis”,comrepulsadecleroemboletimespalhadopelacida-de.Nãoobstante,encheu-seosalão.Eobisporecebeuagra-decimentos pela propaganda negativa, em carta apócrifa. O proprietário, cidadão lusitano Joaquim de Carvalho Freita,homemprobo,honesto,religioso,nãosearrolariaentre“osirreverentes e irônicos” que o bispo censurava em palestra com amigos.

Alemdefilmesmudos,aprojeçãoeratremida,salõesimprovisados(pavilhão)combancoscompridos,coletivos.

As bandas de musica, em anuncio da função, circula-vam a praça e tocavam em frente a porta do “Taubaté Cine-ma”(1909).ABandadosUrsosdirigidapelomaestroPenzorivalizavacomaBandadosParaguaios,tambémconhecidacomoBandade JoãodoCarmo,dirigidapelomaestro JoséVicentedeBarros.Asorquestrassóviriamtocar,dentrodocinema, mais tarde com o maestro Fego Camargo, no “Cine Politeama”(hoje“Metrópole”),inauguradoem1919,segundoumalápisealusiva,comaCia.deAuraAbranches,portugue-sa. O bra do construtor Parodi, apresenta-se com amarração externadecabosdeaço.Foiosuficienteparaqueoboatoprevisse a próxima ruína do teatro.

OTeatro São João, que assistiu a várias companhiasestrangeiras famosas, esta transformado em “cinematógrafo” esporádico.Êsteteatroguardoufamaporsuaacústica:tinha

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sob seu palco cinco cistermas. O pano de boca, com bela ale-goriaaoDescobrimentodoBrasil,estadesaparecido.Forma-to de ferradura, além da platéia, duas ordens de camarotes. Decorados por artistas franceses.

Nos baixos do “Café Ideal”, instalou-se (1910) um can-cã,nasvizinhançasdacatedral,queopovoaindachamavade matriz. Seu proprietário, o “Capitão Cancã”, recebeu mui-taspragaseconjurospordesviarmaridosbons,numacidadesem movimento noturno.

Eofutebolapareceu,já,comesses“referees”culpadospelas derrotas e marmeladas. Em 1916, o Sport Club Taubaté ostentava o titulo de Campeão do Norte e Campeão do In-terior (1919). O campo de futebol (o “ground”) suplantou ao Velódromo, que teve suas atividades rareadas e extintas. Os ex-colonosdistraiam-sebulhentamentenasmesasdetrucoounascanchasdebochas.

Na iluminação das ruas e das residências, o gás, que, desde1884,faziaotaubateanoorgulhar-sequefôraasuaci-dade a primeira do interior e a terceira do país a ter estes ser-viços.Haviamaisumorgulho:eraaúnicaempresaqueconta-va com material próprio – o xisto de Tremembé, transportado atéogasômetroemumtrenzinho.FoiadaptadoumcarrodepassageirosaqueopovochamoudeBondinhodeTremembé,animadordasfestasdoSenhorBomJesus,novizinholugar,emqueos fazendeirosmantinhamuma terceira residência,especialmente para o novenário e festa do Padroeiro.

A luz elétrica veio em 1913. Em cada residência recém-iluminada,haviabailecos,comilanças–e,conformeocaso,música e discurso.

Osprimeirosautomóveisdealuguel(1913/1914)che-

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gavamjácomascaronas.Umjornal(1913)censuravameninaspor“pularemcor-

da” na rua Marquês do Herval.Há,até,quemafirmequeosmexericosintensificadoste-

nhamtidodesenvolturanoVale,apósaquedadocafé.Opaidefamíliafazendeiro,geralmenteenfilharado,exerciaaseumodo um patriarcalismo. E desaprovava mexericos, para que sua própria vida não viesse a servir aos comentários das ruas.

Daí, na decadência deste prestigio patriarcal, o apareci-mentodepequenosjornais,como“OLyrio”,“ORiso”,“ONeco”,“OAtaque”,“ASanfona”eoutros,verdadeirospasquinzinhod,preocupados em escandalizar e, sem mais nem menos, dar nomes e endereços. Até as famílias de antigos fazendeiros estão vexadas, agora, por este novo tipo de censura.

Em1880,surgiu,emTaubaté,“AZorra”–jornalcritico-humoristico,quetemocuidadodeavisar:“Nãodesceremosa falar individualmente, mas sim na generalidade. Serão ba-nidas das colunas de “A Zorra” as criticas pessoais e respeita-remos a vida individual”.

Muito diferente, agora, quando “O Caixeiro” ridiculari-zava com“cemitériogaiato” e seus epitáfios, amaneiradeAdolfoAraújo,em“AVidadeHoje”,nacapital.“ONeco”tinhaoseu“cemitériorisonho”.Equando“AGazeta”(1914)verbera-va“essemodoinfame”–oescândalo–dosjornaispequenos,“O Lyrio” (nº 29), arrogantemente, responde que assim o faz paraqueasmoças“secorrijam”,eexplica:“umasdoudivanasque só servem para desmoralizar uma sociedade e implantar acorrupçãonumpovo–estesescândalosabomináveisquetanto nos desmoralizam no conceito dos povos” (sic). Eram osnamorosfugasesnosjardinspúblicos...Adiante,lamenta-

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se que as moças taubateanas queiram imitar “o amor asque-roso de normalistas cariocas”.

Os cronistas sociais (1917) criticam os cabelos oxige-nado,oscabelospintados;easenhoritaquetentouusaro“jupe-culote”recebeuvaiasenãopodeentrarnumtemplo,comsemelhantetrajo.

O gosto pelas polemicas, entre jornais se acentuou;quase sempre iniciadas por questões de linguagem, grama-tiquices, plágios e descambavam para os doestos.

“Istocheira-mebemaMiguelCarneiroouCesídioAm-brogi, que, como gatos, costumam dar os tapas e esconder a mão” – encerrava uma discussão “O Lyrio, pregando um ce-mitério nos dois:

“MIGUELCARNEIRO&CESIDIOAMBROGI”Com a ida destes poetas Para a região colestial,Taubaté,vaiganharmuitoPrincipalmente em... Moral.Morreram os intrigantesQue “andavam” com rancoresEscrevendo artiguetesPor detrás dos bastidores”.

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À falta de distrações, os moços providenciavam patuscadas.A criação da Liga de Defesa Nacional (1917) e

oapeloaosjovensbrasileirosparaquesealistassemnosbatalhõesvoluntários,ensejouagaiaticeprovincianaaréplica com a fundação de uma “Liga das Manifestações Es-pontâneas”,pacifista,barulhentaeconsumidoradebebidas(especialmente as cervejas “Hamburguesa” e “Teotonica”).Encarregadadedescobrirefestejaraniversáriosdepessoasde destaque, casamentos, ou até batizados. Havia discurso bombásticos, como tais ocasiões sempre propiciaram.

Ao lado da “Liga”, proliferavam outras manifestações: recebiam-se,festivamente,aquelescidadãosquehaviamidoa São Paulo pela primeira vez. Destacava-se, nestas oportu-nidades,nogênerobestialógico,JoãoPrainha,quegranjeoufama de orador popular.

LIGA DAS MANIFESTAÇÕES ESPONTâNEAS

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Podia-se muito bem dizer com o valeparaibano Cassia-no Ricardo:

“Havia erro nos votosMas a soma estava certa”.E,regimeeleitoral,conhecidoemtodoopaís.Taubaté

viveu duas lideranças. Uma com o prestigio de Fernando de MatosedoCel. JoséBeneditoMarcondesdeMatos.Outracom Pedro Costa – talvez o mais completo político tauba-teano, deixando descendentes políticos, nas pessoas do mi-nistroAntoniodeOliveiraCostaedodr.JoãoGuilhermedeOliveiraCosta(Janjão,paranossaintimidade),vereadoremTaubaté e um dos diretores da Caixa Econômica Federal em São Paulo.

Figura,semduvidasimpática,honrandoTaubaténoSe-nado Federal, é a do cônego Valois de Castro.

SOMA CERTA

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Desde 1895, que a Associação Artística e Literária, com prédio próprio, vem tentando manter um liceu de ar-teseoficioecursosdenívelsecundárioparaportu-

guês,francêsedesenho.OColégioBomConselho(internatofeminino),através

de gerações, vem prestando assinalados serviços a popula-ção taubateana, orientando as futuras mães-de-familia.

Acriaçãodo“GrupoEscolarDr.LopesChaves”, trouxe,paraacidade,professoresoficiaisquedeixaramlembranças:JoséRicardo,Artur Santiago,ArmandoAraújo,ArturGloria,José Marcondes de Quadros, Pio Teles Peixoto e outros.

Granjeoufamadepreceptorparticularoprof.Bernardi-noQuerino,poeta,jornalista(oJoeldas“rimaseprosa”),quelecionava preparatórios.

Entretanto, havia outros de grande popularidade, le-

MESTRINHA

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cionando na residência do aluno: eram os professores “inter-mediários”. Professor Corvo Louco – preto, empertigado, livro debaixodobraço,chapéucôco(1).ProfessorTeixeirinha.Pro-fessor João Monteiro. Professor Caneca de Lima e professor João Guedes.

A respeito deste ultimo, conta-se que, sendo pobre, e tendomuitosfilhos,iacomtodaafamíliaparaasfestasdoSenhorBomJesus,deTremembé,apé,pornãopoderpagarobondinho.Daí,otersurgidoaexpressãoqueviveumuitotempo no Vale; “ir no bonde de João Guedes” – ir a pé (2).

A - Ler na Antologia, crônica de Cesídio Ambrogi a respeito.B-Oprof.GentildeCamargojáestudouestaexpres-

são, na revista “Paulistania”.Com o bispado, criou-se o seminário, que viria dar im-

pulso a cultura da diocese.Apareceria o primeiro ginásio, sob a direção do dr. Eu-

sébioInocêncioVazLobodaCâmaraLeal,tributonotávelemonarquista intransigente, mantido pela prefeitura munici-pal (1918/22), na esperança de que o Estado o encampasse, oquenãoaconteceu,determinandoseufechamento.

Entretanto, vem de longe a fama das primeiras mestras particulares.OsnomessuavesdeNháQuembinaedeMes-trinhainvocamidealismo,sacerdócio.Mestrinha.

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Surge, em Taubaté, por volta de 1918, a moda do que se fazia,nofimdoséculonoRioeumpoucomaistardeem São Paulo, em Salvador (“Távola Redonda””, com

CarlosChiacchio,ArturdeSales,RobertoCorreaeoutros),eem outras cidades, a roda literária, a volta das mesas de café. Entrenós,mereciamashonrasdosliteratos:”CaféIdeal”(noprédio,naPraçacentral,emqueestao“BareRestaurante”domesmo nome), “Café Fiel” e “Café do Ponto”.

CesídioAmbrigijáhaviafreqüentadoo“CaféGuarani”,na capital, como revisor do “Correio Paulistano”, quando se preparavaparaengressarnaEscoladeEngenharia.Conhe-cera láMenottiDelPicchia,CassianoRicardo,Belmonte,e,em certa ocasião, a verve a Emilio de Menezes o deslumbrou.

Filhodeimigrantes,quesecolonizaramemNativida-dedaSerra,em1904acompanhouafamília,que,comsuas

RODA LITERÁRIA

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poupanças,vinhaseresidirnoLagodoChafariz,emTaubaté,tentando,agora,ocomércio.OvelhoAmbrogi,jácomercian-tefortenapraça,sonhouparaofilhoacarreiradeengenhei-ro. Matriculou-o no “Colégio Nogueira da Gama”, de Jacareí. Entreosmestres,CesídioconheceuoMajorAcácioGaribaldide Paula Ferreira, um dos mestres de língua portuguesa de maior nomeada, em todo o Estado, e o dr. Nunes Ferreira. Ao tentaringressarnaEscoladeEngenharia,aosprimeiroslan-cesdeboemiasuspeitados,ovelhopai,precavido,mandou-ofazerocursonaItália,emPisa,juntoaparentesseveramentevigilantes.

Os corre-corresdaGrandeGuerra jogaramabaixoossonhos de Ambrogi, e Cesídio voltou a tentar a vida emTaubaté, desistindo do curso superior.

Estasfrustrações iniciaisderam-lhecertatimidez, re-traimento. Restrições, próprias da mudança social a que as-sistira. Inteligência, imaginação, sensibilidade – são outros elementosquecriarão,nojovem,osatírico–umasátiradeinimigos,deunhasaparadas,maisobradesatisfaçãointimaque outra coisa.

GentildeCamargo,filhodefazendeirodecafé,empo-brecido,freqüentaraoSemináriolocal,etentaraocursodaEscola Normal de São Carlos.

Miguel Felix Carneiro, filho de imigrantes italianos,atravésderedaçãodejornaiseleituras,conseguiu(auto-di-data)projetar-senasletrasdacidade.

ElvinoPereiradeMorais,filhodefazendeiroempobre-cido,nazonadeParaibuna;omaisvelhoda turma, satíricodeinspiração,cognominadoo“BocagePaulista”.ForaElvinoque, com uma sátira, fez Monteiro Lobato desistir de tentar os

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versos. Formado, Monteiro Lobato passou os anos de 1905 e 1906 em Taubaté, em casa do avô visconde, antes da promo-toria em Areias. E, para sua noiva, tentou um poema em que escreve“marfins”,“marfins”,“marfins”–repetidamente,publica-dono“JornaldeTaubaté”,comopseudônimodeHélioBruma.Elvinosaiu-secomumsonetoquefinalizava:

“ComtantomarfimassimUmsonetoémalfinado...”

Foi a água fria necessária a inspiração do poeta Lobato ( Monteiro Lobato – Vida e obra). Tempos depois, o próprio LobatoveioaconhecerElvino,einsistiucomeleprareunirsuas sátiras e publicar em livro. O satírico não acreditava pela publicação do volume.

ManecoAraújo,farmacêutico,jornalista.Praxedes de Abreu, professor municipal (auto-didata),

jornalistaafamado,tendosurgidodeorigenshumildes.Benedito Walcome Marcondes, filho de artesão imi-

grante,opalavrosorábula(deprofissão),oelegantedaroda,comtrajesvistosos,cravoalapela,bengala.O“Vaca-brava”,na alcunhade rua. Publicara, já, dois livros deversos:“DeProfundis” e “Primeiros Cantos”, tendo feito parte do corpo redatorialdealgunsjornais.

Em certa ocasião, o “Vaca-brava” fazia, de improviso, a lápis,namesadocafé,operfildecompanheiro.

O soneto para Gentil de Camargo saiu assim:

“Sinceroamigo,onossojornalista,Semprerisonhoesemprebemdisposto,

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Não fez literatura futurista, Só escreve passadismos que dá gosto.

Dentreosartistaséomelhorartista;Escapou de nascer no mês de agosto,Dos grandes corações está na lista,Mastem,nemsempre,jeitodesolposto. Violento as vezes, outras vezes calmo,Ouviu-o, certa vez, cantando um salmo,Mas não de amor que o coração aceita; Cantava que ser “águia” e não ser “pato”,O“bichão,oherói,oliteratoGentil Eugenio de Camargo Leite” Teve logo a resposta de Gentil de Camargo, ali na mesa

do Café:

“PINTOR DO “7” Deengenheiro,demestre,literato,Nobre “set”, no Café, diariamente,À tona, traz a tese transcendente, Traz a baila os assuntos mais baratos... Daíalguémseinflama.Emseurepente,Em salada de gatos e sapatos,Gesticulando, sai dos seus recados...Rompe-se o dique do palanfrorio ardente!

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Do grupo, um só, nem sempre bate caixa.Poeta,sonhador,amesa,abaixaOolharsinistrodoseuoc’lopreto... Era assim a boemia daqueles tempos. Estes sonetos estão

publicadosno“CorreiodeTaubaté”,9/6/927,sobotituloPluied’or...Aindahavianaroda:OnofreAguiar,cronista,jornalista;

descendiadefamíliahumilde,seupaifaziapequenosservi-çosnacidade.GastãoSchmidt–contador,filhodealemão,publicou em 1917 “Rimas”, edição da Tip, Julio Toffuli, Tauba-té. José Ezequiel de Souza, professor normalista pela Escola de Guaratinguetá, sonetista.

As reuniões festivas eram feitas no prédio da Associa-ção Artística e literária, onde funcionava o “Grêmio Literário”.

Era juiz de direito da Comarca dr.Tavares deAlmei-da,poeta,queemboranãofreqüentassearoda,pordecorodocargo,estimulavaatodos,colaboravaemalgunsjornais,exercia papel de critico, acatado pela cultura.

Compõemo grupo: filhos de fazendeiros empobreci-dos,filhosdeimigrantes,efilhosdefamíliasmodestasque,juntos,procuramsubirnaescalasocial,atravésdojornalis-mo e das letras.

Imperava,nogrupo,asátira:todos,aseumodo,tinhamas suas razoes de queixa com uma sociedade em mudanças.

Circulavam,porestaocasião,osseguintesjornais:“Ga-zeta de Taubaté”, de Antonio Castro leão; “O Norte” que circu-lou por mais de trinta anos; “O Lábaro” (diocesano) ainda edi-tado e “O Taubateano”, na segunda fase. Jornais de formato pequeno:“OLyirio”,“ABrisa”,“C.T.I.-Jornal”,“Eros”,“OPirilampo”,“O Suco” e “O Papagaio”.

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Na segunda década, imperou no Vale o gosto pelas con-ferenciaspagas,aimitaçãodoquefizeramMedeiroseAlbuquerqueeoutros.Nãosóvinhamconferencistas

de fora, como eram proferidas por intelectuais da terra, que ostentavam, pomposamente, o titulo de conferencista.

Gentil de Camargo fez varias destas conferencias. Lem-bre-se, por exemplo, “O Sorriso”, que foi lida em Taubaté, São Luis do Paraitinga, Paraibuna. Na programação, a conferencia eraonumerodefundo,havendoantesdeclamaçõesecargode Miguel Carneiro e Cesídio Ambrogi, musica pelo maestro Fego Camargo e canto pelo grande barítono Luis de Freitas, laureado na Itália. Escreveu, ainda, “A Lagrima”. Era boa opor-tunidade de aparecer, passear, comer bem, e voltar com trinta mil réis a conta de literatura.

Renato Granadeiro Guimarães, intelectual da época,

AS CONFERÊNCIAS PAGASE OS SONETOS DE RODA

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escreveu conferencia ainda lembrada por muitas pessoas: “OlhoseOlhares”.

WalmoreMarcondes, o“Vaca-brava”, havia anunciadouma conferencia (“A Moda”), em Caçapava, e, segundo recla-mações de um jornal ‘inimigo’, não apareceu, deixando osorganizadores, que já haviamalugado salão, passado en-tradas,esoltadoosprimeirosrojões,aosomdemusica,emsituaçãoespinhosa.

José do Amaral Gurgel (de Caçapava) teve uma confe-rencia (“A Árvore”) ilustrada por Monteiro Lobato.

Na Capital, quem acabou com este tipo de conferen-cias, foi Cornélio pires, que, em lugar delas, introduziu, no Salão Steinway, as conferencias “populares”, com anedotas e risos, desprestigiando a fútil seriedade de “A Luva”, “O Leque”, “A Flor” e contando causos de caipiras.

Jáosoneto-de-rodatinhapoucosadmiradores,esóosqueversejavampodiamtomarpartenotorneio.Compunhamsoneto em conjunto, caprichando em rimas “bravas”, paraque o parceiro-poeta se embaraçasse. Muitos poemas foram feitos, nesta curiosa co-autoria. No ano passado, quando o poetaDomingoscarvalhodaSilvaesteve,nestacidade,parauma conferencia sobre poesia modernista, remanescente do grupo o envolveram num destes sonetos-de-roda, na tenta-tivadeumperfildapoetisaHelenaCalil,presenteamesa.

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Nos bailes, saraus, ou reuniões familiares, eram obri-gatórias as declamações de poemas, de lavra própria oualheia,aoladodopiano,eaossonsdosdedilha-

dos da Dalila.Eramdeclamadoscomfreqüência:“TeuLenço”deGui-

marães Passos; “A Judia” (poema do livro “Sons que Passam”) deTomazRibeiro,autordoversoquedefiniuPortugal,comosendo“Jardimábeira-marplantado”;“ACegonha”,deAníbalTeófilo;“Olhosverdes”,deVicentede carvalho.“NelmezzoDelcamin”,deOlavoBilac;“OBandolim”e“MeuCasamento”,Luis Pistarin; “Caridade e Justiça”, de Guerra Junqueiro; “Cis-nes” de Julio Salusse (o soneto que consagrou o autor); “O Estudante Alsaciano” (tradução).

Os prosadores mais lidos, naquela época, dentre os portugueses:CamiloCasteloBranco,EçadeQueirós,Alexan-

DECLAMAÇÕES E LEITURAS

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dreHerculanoeRamalhoOrtigão.Entrenacionais:JosédeAlencar,AluisiodeAzevedo,MacedoRaulPompéiaeCoelhoNeto ( alguns livros). Estrangeiros: Vargas Vila, Emile Zola, BlascoIbanez.

Poetas lidos; Tomaz Ribeiro, Guerra junqueiro, JulioDantas, entre os portugueses. Baudelaire, Verlaine, VictorHugo e Danuzzio, entre estrangeiros. Dos nacionais: castro Alves,CasimirodeAbreu,GonçalvesDias,OlavoBilac,Rai-mundoCorrea,Albertodeoliveira,VicentedeCarvalho,Ama-deudeAmaral,EmiliodeMenezes,CruzeSouza,B.Lopes,Luis Pistarin e Cornélio Pires (“Musa Caipira”)

Nesteanode191,comamortedeBilac,ogrupopro-moveusessãofestivaparahomenagearomestre.JoãoVitor,funcionáriodaCentraldoBrasil,produziunotávelconferen-cia sobre a obra do poeta de “Tarde”.

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O mundo, desde1914, jogava suas instituições, regi-mes políticos e economicos, na sorte da guerra. Os intelectuais taubateanos, alem das discussões de

mesadecafé,limitavam-seatorcer,aliadófilosnamaioria.Aoterminodacatástrofe,umjornalhumorísticolimi-

tou-se a registrar:

“Seus gargantas cá da terra,Que estão serrando de baixo,Andam agora na praçaComcarademamãomacho” Alem da geada, aniquilando restos da economia ca-

feeira,eagripeespanholaenlutando,umfatoliterárioagitaSão Paulo e outros centros cultos: a publicação de “Urupês”

URUPÊS

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(1918) de Monteiro Lobato. O escritor taubateano que, após a formatura, morou dois anos aqui, entre 1905-1906, colabo-rouno“JornaldeTaubaté”,comopseudônimodeHélioBru-ma,eem“ONorte”.Maseraconhecidocomoodr.Monteiroou“Onetodevisconde”.Sóa“RevistadoBrasil”e“Urupês”proporcionariam aos intelectuais taubateanos a redescober-ta de Monteiro lobato como escritor. Foi assim que o grupo literário entrou em contato com ele.

A“RevistadoBrasil”, fundadaem1916,e,apartirde1918, de propriedade de Lobato, tornara-se o mais lido, o mais importante veiculo cultural do país, com as inovações de publicidade e venda. Não sendo publicação de caráter po-pular, possuía, contudo, intensa penetração nos meios inte-lectuais, e aparecer em suas paginas constituiu, por muitos anos,osonhodetodoestrante,detodocandidatoagloriano país das letras (Monteiro Lobato – Obra e Vida). Cesídio Ambrogi e gentil de Camargo apareceram em suas paginas, e o grupo, através da Revista, e da própria amizade do grande escritor, iria aparecer fora do vale.

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Nãoédifíciladeterminaçãodasinfluenciasliteráriasem Cesídio Ambrogi.

Nofundo,persisteagrandeadmiraçãoporBi-lacetodososparnasianos,trabalhadaagorapeloantiparna-sianismocrescente,apartirdeB.Lopes–umadasgrandesadmirações do poeta.

Influenciaessa,alias,numaépocabrasileira.“Cromos”conquistoudeassaltoogostopublico.Nãohaviasaraufa-miliar ou festa colegial em que, ao som do piano, deixasse o programadeincluiralgunssonetilhosfamosos.Aadmiraçãodo poeta alastrou-se pelo País inteiro, em verdadeira mania belopiana(EvocaçãodeB.Lopes)

“Surgiram os imitadores, confessos ou dissimulados: Galdino de castro, Ulisses sarmento, Luis Pistarin, Artur Lobo, orlandoTeixeiraeoutrosmenosconhecidoscomoLuisRosa,

FONTES LITERÁRIAS

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armando Lopes, Luis Nóbrega e Alfredo Pimentel”. No setor paulista, a lista de Mello Nóbrega é omissa. Obrigatoriamen-te aparecerão os nomes de Ricardo Gonçalves e de Cesídio Ambrogi.

B.Lopes,nos tonsevocativosde suapoesia regiona-lista,na“genuidadedesentimentos”quelheditouosmaissentidos versos, criara, entre nós, novo gênero poético: os pequenos poemas pictóricos, inspirados em ambiente da roça, interiores pobres, cenas de família, festas populares (EvocaçãodeB.Lopes).

Em1918,na“RevistadoBrasil”,nº34,HeitordeMoraisescreve sobre Ricardo Gonçalves (falecido tragicamente em 1916): “O seu gosto da simplicidade, o seu amor à natureza, à vida e à gente da roça, esta fartamente documentado nas poesias de sua primeira mocidade – lindos cromos à manei-radeB.Lopestaiscomo:“Cromo”,“NháCorola”,“Meio-dia”,“ORancho”,“ADançadostangaras”.

Das ultimas produções desse primeiro período, parecem, fazemparte:“ZédaPonte”–adorávelsonetohumorístico,emque Ricardo pinta uma interessante cena e um tipo original daroça,-e“FazendaVelha”–osmaisfelizes,osmaisoriginaisdetodosostrabalhosdessepoetagenuinamentebrasileiro.

Quando, mais tarde. Monteiro Lobato lança Cesídio Ambrogi,traça-lhefiliaçãoestética:“umpoetanovo,queseapresenta com a mesma formação mental de Ricardo Gon-çalves, o saudoso autor de “Ipês”.

“Apaixonadodostemasrurais,dosertanejohumilde,davida roceira da humanidade cabocla, sabe impregnar seusversos de aromas agrestes. Nada de artificial ou citadinoencontra-senele.Filhodo interior,nãopermiteasuasen-

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sibilidadevôos artificiais através de céusquedesconhece.Daí o seu valor, e a frescura e a sinceridade que sua poesia encantadorevê”(RevistadoBrasil,out.º1922nº82).Trans-crevem-seonzepoemasdosquecomporão“AsMoreninhas”.

MonteiroLobatochegouaafirmar,mesmo,que,dentrode seu grupo literário, Cesídio seria o substituto de Ricardo Gonçalves.

Entretanto, nesta fase de anti-parnasianismo e pré-modernismo,outrasinfluenciasatuariamnaobradeCesídio:ValdomirodaSilveira,CornélioPireseJuóBananére.

O primeiro encantando as populações interioranas, comseuscontoscaipiras,espalhadospelosjornais.Preocu-pado como causo, comoopróprio caipira; ahistóriavalemais que a profundidade psicológica ou física do indivíduo que nela participa. Raramente penetra na alma do caboclo. Aosdiálogos, sempreverdadeiros edeliciosamentefiéisaomodismo caipira. Seus personagens dentro desta linguagem atuam com desembaraço. Na narrativa cuida e correta (Lín-gua Portuguesa).

Os contos do autor de “Caboclos”, em geral, tenedem paraamelancoliaesentimentalismo.Raramentesuahistó-ria é picaresca ou alegre como em Cornélio Pires.

O autor de “Musa Caipira” (1910) exerceu papel impor-tantenoanti-parnasianismoe, conseqüentemente,na fasepré-modernista.Vicentedecarvalhoprotestoucontraoso-neto caipira – “um crime de lesa-nobreza contra o soneto”.

Já nos referimos que Cornélio Pires “ridicularizou” as conferencias, meramente acadêmicas, bisantinices, muito ao gosto da decadência parnasiana, com suas conferencias po-pulares e anedotas.

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Cesídio Ambrogi e gentil de Camargo colaboraram com Cornélio Pires, na revista “Saci”, e mantiveram relações de amizade com ele.

JuóBananére(AlexandreribeiroMarcondesMachado),de Pindamonhangaba, desmoralizava a poesia parnasianade outro modo: usava a linguagem macarrônica, no lingua-jardosítalo-brasileiros,emseuspoemas.A“DivinaIncrenca”(1924), por suas sátiras, gozou de popularidade.

Cesídio, quando redator de “O Libertário”, chegou amanter, nas próprias paginas do período, “O Libertarigno”, à modadeBananére.

Nafaixadosquetrabalharampelomodernismo,mes-mo sem o querer, vamos encontrar Monteiro Lobato, com a exaltação do regionalismo e do novo estilo; Amadeu Amaral publicando, em 1920, “Dialeto Caipira”, e estimulando pes-quisas de linguagem regional. Tanto é assim que, logo de-pois, vem o prof. Antenor nascentes, com seus estudos sobre olinguajarcarioca,publicadosna“RevistadoBrasil”.Valdo-miroSilveira.CornélioPires. JuóBananére.E juntoatodosestes Cesídio Ambrogi.

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1922. O grupo literário de Taubaté, perfeitamente entro-sadocomMonteirolobato–quejáhaviainsurgidopu-blicamente contra os modernistas (episódio Anita Ma-

falti)–nãotomouconhecimentodomovimentomodernistadeSãoPaulo,quecontavacomtrêsnomesconhecidosseus:MenottiDelPicchia,CassianoRicardoePlínioSalgado.

Emoutubro,na“RevistadoBrasil”(nº82),aoladodeum elogioum tanto receoso aos “Epigramas Irônicos e Sen-timentais”,deRonalddeCarvalho (umdosnovosdiretoresda“Revista”),estáumanotadefinidoradaposiçãodogrupo,sobre“PaulicéiaDesvairada”,deMariodeAndrade.Tacha-ade “bestialógico”, resumindo: “Algaravia ou vasconço em tom solene, que distingue pela sonoridade e ininteligencia” – eis que“agoraapareceovelhogênero comaresdenovidade,roupa nova e nome suposto...”

MODERNISMO, NÃO

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Sódepois,extintaa influenciada“Revista”,comafa-lência da Editora de lobato e sua mudança para o Rio, e pos-teriormente para os Estados Unidos, é que cesídio Ambrogi e gentil de Camargo “experimentaram” a poesia modernista.

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Em1923,AsMoreninhas,ediçãodeMonteirolobato&Cia. cesídio intitulara sua obra “Castália Sertaneja”;MonteiroLobatotrocou-lheotitulo.Maistardeconfes-

saria o prazende mudar o nome das obras que iria lançar em sua editora:“Navelha companhia,mudeimuito titulo. Pu-nhadepreferênciaumnomefeminino,porque,emcheiran-doamulherládentro,osleitoresconcupiscentescompram“paraver”.Editaréfazerpisicologiacomercial”(ABrancadeGleyre).

Era a consagração do autor e do Grupo literário pro-vinciano.

Depoisdepublicado,a“revistadoBrasil”,emagosto,nº92,anuncia,emmetadedepagina:“Apoesiahumorística–contacomdoisnovoscultores:OctacílioGomes–“OsFilhosdeCandinha” eCesídioAmbrogi–“AsMoreninhas”.Ambos

AS MORENINHAS

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estão a venda ao preço de 3$000 que bem valem as garga-lhadas,queproporcionam”.

E o próprio autor confessa em carta ao Diretor de um jornaldaépoca:“moçocaipiraqueosescreveuportroça,emmomentodelazer,entreumcigarrodepalhaeumacuiadegarapa sadia”.

Quarenta anos depois, não é possível mais apreciação impressionista sobre a obra. Podemos resumir-lhe a vida:consagrouoseuAutor,tornando-oconhecidonoEstadodeSão Paulo e em outros Estados. Muitos de seus poemas es-tãopopularizados–transcritosemjornaisliterários,revistas,antologias.

Nãoéumlivrodehumorismo,nemoAutoroescreveu“por troça”. Em seus poemas, a malicia, a ironia, a sátira não podem ser tomadas simplesmente “por troça”; e muitos de-lessão,evidentemente,trabalhados,burilados,até.

Em“AsMoreninhas”,resumem-seasinfluenciasatuan-tes num jovem poeta do interior, na época: desde as in-fluenciasparnasianas(“ManhãGloriosa”,“OIncêndio”,“VelhoQuadro”), com passagens delicadas pelo estilo “belopiano”, tão do gosto da província. Seus cromos estão transcritos em muitasantologiasescolares,esenãohámaiornumerodetranscrições,deve-seaestaresgotada,hámuitotempoaedi-ção. E na parte mais extremada da obra, os sonetos caipiras, as piadas, os causos.

Aestréiadojovempoeta–marcadaspelasmudançassociais e literárias a que assistia – estava feita com uma obra contraditória, que poderíamos marcar em traços ligeiros: parnasiano-belopiano-cornelopirista, demonstrando incer-tezasnosrumosestéticosdosjovensescritores,antermanhã

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de 1922, desassistidos pelos grandes “mestres”da poesia e duvidousosdenovoscaminhos.

Se a organização da obre tivesse sido presidida por es-pírito critico, estaria ela tresdobrada. Um primeiro volume, com os versos parnasianos ou neoparnasianos, marcaria a influenciadajuventude–opoetatinha,esparsos,naocasião,vários sonetos que poderiam estar juntos aos publicados.Marcariaosegundoa influenciadosimbolismobelopiano,com muitos e muitos cromos e quadros. Finalmente, viria o terceiro volume, marcado uma fase mais progressista, mais corajosa,comossonetoscaipiras.

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Difícilmarcar,noBrasil,oregional,emlínguaelitera-tura.Asáreaslingüísticastem,ainda,delimitaçãoes-tudada,eoscontactosinter-regionaisinter-sificam-se.

Adivisãonorteesul,paraaliteratura,nãosatisfazhátempos.Jeca-Tatu,tidocomoregional,armaseurancho,emvários recantos do País.

A interpenetração de culturas, não estudada cuidadosa-mente, leva-nos a apressadas conclusões acêrca de regionalismo.

Critérios correntes para aferição do regional, os tipos, os costumes e a linguagem locais, a um tempo. Cremos, en-tretanto, ser possível a existência do regional, sem a coexis-tência dos três elementos. Por exemplo: a mesma linguagem poderá servir a várias regiões.

Mas dentro dos critérios costumeiros, examinemos “As Moreninhas”.

REGIONALISMO

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Na ocasião de seu aparecimento, a critica, em uma só voz, declarou a obra “regionalista”, evidentemente baseada na trilogia: tipos, costumes e linguagens.

Pesquisa, no afã regionalista da época, contribuiu para o levantamentodoqueseafiguravaregionalnoValedoParaíba.

No entanto, só após os vários levantamentos locais – confrontados – é que se poderia determinar o regional ou não-regional.

Hoje,podemosdizerque“AsMoreninhas”nãoéobrapuramente regional. A interpenetração de cultura evidencia-se nela.

Costumes – os mesmos em várias e distanciadas partes doPaís.Obeijonanuca,nocangote;asfestasdenoivadooude casamento; o lenço de gorgorão no pescoço, as “gruvatas”, vestidosdechita,asolenidadedochapéunovo,palaeespo-ras.Ocigarrodepalhaeofuminhopicado.Adificuldadedecalçarsapatoseoscalos;aextraçãodepichos-de-pé,componta de faca. O melado, a rapadura, canas no carro para a moenda–puxadaaégua,éguasmarchadeiras.Espingardaspica-paus.Amoçaqueéoperigodolugar.E,nofinaldetudo,redes que embalam defuntos até o cemitério.

Se não fosse, na paisagem, a insistência domonjolo(técnica mineira aprendida com êxito pelas populações ru-raisdeSãoPaulo);ascenasdotruco(jogogeralmenteemcolônias);eocel.Beltrãoreclamandoabaixadocaféaogo-verno–euestariareencontrandominhainfânciapassadanazonadoRioReal,nafreguesiadoBarracão.

Os elementos faunisticos idênticos – ainda aqui: a an-gola (o “to-fraca!”), o bacorinho (ou bacorim), as baitacas,nhambus,juritis,arapongas,osmateirosecatingueiros.

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No vocabulário (excetuada as nuances fonéticas ainda nãodevidamenteestudada),vamosencontrarsemelhançasinter-regionais, também.

Nasacomodaçõesdo“l”ou“lh”:sartei,cabocrinha,car-çado,Barbina,arto,paió,mio,jueio,ispeio,uréiaetc.(Línguado Nordeste).

Em formas verbais, como: casemo, juremo, viro, tãochegano,sejeetc.

Expressões populares, em todo país: quage, coresma, somana,avuado,amuntá,afucinhá,intalhaninho.

Boquinha(porqueijo)oPequenoDicionárioBrasileiroregistra como “brasileirismo”.

Expressões aumentativas: “peste de bunita”, “fome da-nada”, “diaba de bunita”, “uma tetéia”, “morrê poder de feliz”.

Expressões de xingamento: “disgramado!”, “guampugo!”, (registraoPequenoDicionáriocomogauchismo),“cachorro!”,“canecodelazarento!”(emtodasaszonasquehouveleprosos).

“Songa- monga” ( familiar até em Portugal), “lazão”, “malhado”, “tordilho”, “redomão”, “bragado” – são adjetivos,commaioroumenosfreqüência,desdeospampasatéare-gião amazônica.

Junte-seaestesargumentos,aescolhaqueospoemastemtidoparafiguraremlivroselementares,destinadosaosquatro cantos do país. A acuidade de tais antologistas põem em pratica o que discutimos.

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Em 1942, Monteiro Lobato, sempre em contacto com os três“jacarésdeTaubaté(Cesídio,GentileUrbanoPe-reira),davaconselhosderenovaçãoestilística.“Estou

receitando a Drupé e a “raspadeira” a vários amigos de talen-to e ainda “salváveis”, como o Cesídio Ambrogi, de Taubaté, o qual está tonto como quem tomou dose muito forte de 914. escreveu-me uma carta curiosíssima, que te mandarei” (ABarcadeGleyre).

Afinal,Cesídiodispôs-searenovação:“Em teu caso, eu suspenderia o novo livro até ver o

efeito do remédio Drupé, pois apesar de cristalizado, te su-ponho ainda capaz de reagir amedicação– como Cesídioestáreagindo”(ABarcadeGleyre).

Não só o estilo, mas a temática e os princípios estéti-cos sofreram impacto da segunda grande guerra. Inflação,

POEMAS ATÔMICOS

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lucro-extraordinário, cambio negro substituíram monjolos,nhambusnosgrotões,caçadaseosbaios.

Cesídio foi compondo poemas livres, modernistas, e pu-blicando na revista “Palas”, com o pseudônimo de Walkyrio. Compôsoutrosmaise,em1945,jáovolumeestápronto,sósendo publicado, porém, em 1947.

Mais uma vez, Monteiro Lobato altera o titulo inicial dado por Cesídio – de “Poemas Atômicos” para “Poemas Ver-melhos”eexplica:“vermelhoserveparaafrontarostouros”.Eprevine na Carta-Prefácio: “A boiada está estourando...”

Dezoito anos depois, podemos dizer, na linguagem do prefaciador:ouavisãoerasuperficial,osmourõesdo“man-gueirão” são de aroeira mesmo...

Algunsdospoemasjásãoantológicos:“CantochãodaNoite de Natal”, “Na antevéspera da Grande Aurora” e “Pro-meteu Suburbano”, o que demonstra talento, mesmo no novo empreendimento.

Como sub-titulo, Cesídio explicava: “uma tentativa de poesia social”. Via, como solução de seus problemas, a vol-ta “ao seio transluminoso do cristianismo”, quando o próprio cristianismo pensa em avançar.

Pela sua formação, por suavidapacata, chefede fa-mília amoroso, sentiu necessidade de explicar que não se tratavadebolchevismo.Afinal,eraum“revolucionário”quevinhaapresentardesculpas.Sente-sequeestavadeslocado.Nãoeradeseujeitão.

Tanto é assim, decorridos dezoito anos dos Poemas Atômicos, não voltou mais aos versos modernistas.

Seus quadros, seus cromos, os versos simples sem complicações de ordem ideológica, suas quadras e seus epi-

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gramas – eis onde o poeta se sente a vontade. Esparsos por jornaiserevistas,selecionados,dariamvolume.Gostaopoe-ta das crônicas, e nelas tem se aperfeiçoado.

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CesídioAmbrogi,emcinqüentaanosdecolaboração,parajornaiserevistas,querdacidade,daregiãooudo Estado, vem usando nesta longa atividade, os se-

guintes pseudônimos:Césio, césio d’Ancourt, Robison Brasileiro, Bruno Del

Bruma,ObservadorParado,NewCastle(naRevista“D.Quixo-te”),Carlosd’Ambrósio,Walkyrio(naRevista“Palas”,Taubaté),Magister,Bianca,K.Mõesd’Araque(paraversoscamonianoshumoriticos), Laércio,Dr.XarLatão,VeninadelChiaro,Ma-riaSó,Sertanejo,Freilibório,FreiLambão(Sextilhas)Dr.K.Sange(pormuitotempoem“AVozdoVale,Taubaté)Dra.K.Sandra (em “A Voz do Vale” e “A Tribuna”, de Taubaté) ou sim-plesmente C. (como em quase toda sua colaboração para “O Momento” e para o “Correio do vale do Paraiba”)

PSEUDÔNIMO

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As “antologias” escolares, os livros didáticos encon-tram, nos poemas de Cesídio Ambrogi, verdadeira “mina” – com seus cromos, seus quadros, evocação

davidabrasileira,davidasertaneja,vidasimples,edignadesermostradaaosjovens.

Mais de quinze coleções trazem seus poemas, numa prova evidenta da aceitação dos mesmos.

Entretanto, temos alguns reparos a fazer.NaColeçãoDidática, da Editora do Brasil,“Leitura”–

para o 4º ano primário – Fernando Leite Junior – São Paulo, 1959–háatranscriçãodetrêspoemas.Inventatituloparaum “Cromo” – “Eu quero melado” – coisa que não passou pela cabeçadoautor.Odesrespeitonãoficousónoprosaísmodotitulo trocado, mas estropia verso. O poeta escreveu: Garapa numtachoapura”;oantologistadeixoupassar:“Numtacho

CESÍDIO E AS ANTOLOGIAS

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agarapaapura”.Achade corrigir agrafiade“intalhaninhoda venda”. Ora, nem a alegação de que a leitura se destina a escolaresjustifica.Fosseescolhidooutropoema.O“intalha-ninhodavenda”épalavra-chave,nãopodeserretiradadaíde modo algum.

Na“ColetâneadosPoetasPaulistas”–EnéasdeMoura–Ed.MinervaLtda.,Rio,1951,pág133,hánoticiabiográficade Cesídio Ambrogi e transcrição do soneto “Mãe Gloriosa”, e não dá indicação de obra, se inédito, etc.

Ora,osonetoé“MãeGloriosa”,de“AsMoreninhas”pág114.O “Dicionário de Autores Paulistas”, Ed. IV Centenário,

LuisCorreiadeMelo,SãoPaulo,1954,dánoticiabibliográficae cita o soneto “MAR GLORIOSO” – indicando a fonte da refe-rencia:a“ColetâneadosPoetasPaulista”,acimacitada. Jáastranscrições, os títulos de nossos autores cairão em ridículo.

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Mestre Cesídio tem duas atividades constantes: jornaleescola.Mesmoapoesiaéfeita,primeiro,paraojornal,paraarevista.

Lançadoem1923,dedicou-seaojornalismoeredigiu“OLibertário”,juntamentecomGentildeCamargo;secundou,depois,ocompanheirosdetantaslutasno“CorreiodeTauba-té”, órgão do partido republicano.

Sua atividade como cronista foi grande. Colaborou (e colabora)emváriosjornaiserevistasnoEstadodeSãoPau-lo. De 1935 em diante presta serviços a “O Momento” (um dosmelhoresjornaisdomunicípio)eao“CorreiodoValedoParaíba”; na Revista “Palas”, onde publicou muitos de seus trabalhos,quecomporiam“PoemasVermelhos”,comopseu-dônimo de Walkyrio. Em “A Voz do Vale” e em “A Tribuna” – quase diariamente, em nossos dias.

JORNAL-ESCOLA

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Não nega colaboração a jornal ou revista: é uma desuascachaças.Escreve,deumaassentada,quatrooucincocrônicas ou comentários, e manda-as todas para alegria dos secretáriosdejornais,quetemgarantidaaseção,porumasemana. Usa máquina de escrever “Corona” – presente que suamãe, há quarenta e cinco anos, na volta de viagem àItália,lhetrouxera.

Em1932,iriaacontecerfatodeexcepcionalimportân-cia para a vida da cidade: a instalação do Ginásio Estadual, quejáseencontrava“criadoporlei”desde1926,noprédioda antiga Associação Artística e Literária, doado a Prefeitura local,paraestefim.Instaladopeloprof.OlavodePaulaeSil-va,tevelogodepois,nadireção,afiguradoprofessorMajorAcácioGaribaldidePaulaFerreira,mestrerenomado,majorhonoráriodoexercito,portersido,aotempo,florianistaexal-tado. Seu modo de agir, sua didática, sua autoridade moral, oscasosdoMajorAcácio–dariambelocapitulonahistóriado Ginásio Estadual de Taubaté.

Vamos encontrar uma pleia de professores auto-dida-tas que deixaram nomeada na cidade, na região, e alguns se projetaramEstado.Formamoprimeiroquadro:CesídioAm-brogi, Gentil de Camargo, Emilio Simonetti, Urbano Pereira, José Ezequiel de Souza, Fego Camargo, Jaime Pereira Viana (falecido),ClovisWinther(falecido),ManoelMoreira(faleci-do) e Zita Rabelo.

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SenãosepuderafirmarqueCesídioAmbrogi(auto-di-data) foi um professor, enquadrado em rigoroso pre-ceitosdadidáticamoderna,podemosafirmarquefoi

um mestre. Mestre Cesídio. Fez discípulos. Em sua casa, sem-preacessível,comseupijamaecomseuscigarros,écomum,aindahojedepoisdaaposentadoria,encontrarem-sejovensquelhepedemindicaçãodelivros,ouopiniãosobredeter-minada“frase-dificuldade”paraanalisar.Analiselógicafoioseuforte;e,nesteponto,reconhecequerecebeinfluenciadomajorAcácio.Oulhepedemopiniãosobreunsversinhosousobreoutrostrabalhos.

Aliás,avocaçãoparamestrevemdelonge:écomjustoorgulhoquerelembraoteriniciadoSilveiraPeixoto,nojor-nalismo (Meus Irmãos, Homens Livres!). ainda recentemente, prefaciou um livro de versos, de uma de sua discípula, a poe-

PROFESSOR CABEÇA-VERMELHA

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tisaecronistaJudithMazeladeMoura.Seumétodofoisimples:tinhaexemplos“clássicos”(no

sentido pedagógico) para a resolução das dificuldades deseusalunos.Queriaensinaroqueerasinquise?(3)Colisãoouenálage?Vinhamsempreosexemplos,nosapontamen-tos de seus alunos.

Para frase sem verbo, compôs um soneto muito bonito –“MinhaTerra”(lernaantologia).Compôs,também,poemade versos de uma só silaba.

Mas, para suportar as trabalheiras de professore se-cundário,comtrintaeseisaulassemanais,paraarranjodeorçamento domestico, Cesídio Ambrogi e Gentil de Camargo arranjaram“umaformula”–ateoriada“cabeça-vermelha”,ovelhodegaiola.“Canarinhonovoéassimmesmo,cantaprali,cantapraqui;pulap’ralá,pulap’racá.Deixaficarvelhodegaiola, que mudará muito...”

Odiaboé,porem,queosdoisficaram–naopinião,semduvida respeitável, do prof. Jaime Viana, “com a cabeça ver-melhacedodemais...”

C - A Nomenclatura Gramatical Brasileira, modificou,em parte, a terminologia usada pelos professores.

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Ex-alunos relembram, com saudades, as aulas do Mestre.Quando queriam que a matéria, os pontos, não

se ampliassem para exames, provocavam o professor pelo seu fraco: puxavam assunto de poesia ou mostravam-se interessados pelo emprego da partícula “SE” ou do “QUE”. Não resistia a tentação, e repetia ensinamentos, quantas ve-zes fosse solicitada.

Matavamaula, também,pedindoque lhescontasseaviagemaEuropa,emqueoMestrecommuito“engenhoearte”, relatava observações, fantasiava coisas, para embeve-cimentos de seus discípulos.

E desde moço, gostava dos causos de caçada, de pesca ou de viagens, ou anedotas e estórias caipiras (o mundo de “AsMoreninhas”)

Seprecisadeumafrase,naesperançadediasmelhores,

OS “CAUSOS” DO CESÍDIO

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relembra caboclo, seu amigo, e repete: “O alimá ta no pasto...”Entreostiposdesuaobra,háonhôVira,que“prende a atenção do auditórioa inventar causos de caça”Cesídio temmuitodo seunhôVira;no intimo, éhu-

morista,satírico.Emseuriso,emseusolhosazuis,brilhan-tes,queseamiúdamportrásdonarizpeninsular,devehavermuita gozação deste nosso mundo de Cristo...

Poucas vezes, deixou-se biografar, em seus versos, como nesta passagem:

“E a alma ingênua de um moço tabaréu...”Ingenuidadequelhedatoquedepureza.Acanhamento

queaslongashorasdemeditaçãoparecemaumentar,como tempo.

Há um outro:“queminhacabeçavivaentreasestrelas...”comolibertação–osseussonhos,assuasfugas.

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Jaime Viana, professor de Matemática, cultura geral mui-toboa–ocensor,oumelhordizendo,nalinguagemdosestudantes,erao“caxias”.Trabalhavaquetrabalhava.Eo

pintor:queriaqueseuscolegasacompanhassemoritmo.Gentil de Camargo e Cesídio Ambrogi empreenderam

escrever “As Jaimíadas”, em que dariam resposta ao “Catão de umbigo a mostra”.

E, para deleite dos professores, e do próprio Jaime Via-na,apareciam,noquadro-negrodoColégio,estâncias“camo-nianas”, de autora revezada, com os mais variados episódios.

O episódio da epidemia, da peste

“E velas dando ao vento a nau antiga,que o nome do Colégio traz na proa,damarujadalevaaaltacantiga

AS JAIMÍADAS

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pois que canta quem leva a vida boa:Mas eis que surge a Parca fera e imigaeaalegremarinhagemnãoperdoa:oviciodedaraulaslhetransmite,doençahorrível,quechamamde“jaimite”.

Jaime Viana era o ultimo a entregar as notas de seus alunos, recebendo reclamações do secretário, do diretor e dos alunos.

“Óterradoidealmaravilhoso.do fato que a natura cantradita!Óterra,ondeotrabalhoépurogozo,oburroéinteligenteealojaapita!Mas o acontecimento estrepitosoequeahistoriatalvezjamaisrepita:A - No mesmo dia, Jaime as notas deu!Em Taubaté, até isto aconteceu....”

Episódiodo“Quebra-galho”,umprofessor“turista”quenãosofriagrandesdescontosnafolhadepagamento:

“ÓvósquecomDomJaimemalhodas almas abençoai, que vos vortura!Óvóscrentes,viciadosnotrabalhopara quem a ventura é desventura!Afastai-vosquevemoQuebra-Galho,O da sorte, mimada criatura,o dos deuzes amigo prediletoo Zé – que, na surdina – COME QUETO...”

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E por ai foram os dois (Cesídio e Gentil), com varias estânciasquedariam“plaqueta”,paramarcarépoca“risonhae franca” no Colégio Estadual de Taubaté.

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Cesídio é um grande cultor de quadras. Tem sido pre-miado em vários certames. Recentemente foi eleito paraaAcademiaBrasileiradeTrovas.

Ele mesmo nos conta sua vida de magistério, em qua-dras escritas a esmo no quadro-negro da sala dos professo-resdoColégioEstadual“MonteiroLobato”,erecolhidasporcolegas.

O MAGISTERIO

“Golgota de luz,em que ser mártire insisto,DeusfincouaminhacruzOnde–mestre–mefiz“cristo”

QUADRAS NO QUADRO

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AS APERTURAS DO MESTRE-ESCOLA

“Professor, quando faz versosEmcasalhefaltapão;masquandoa“gaita”lhevem,Selhevaiainspiração...”

Professor, que sou, me privoAté da alimentação,Pois sempre que compro um livro,Deixodecomprar...feijão.

Devo ao Estado o pobre EstadoDesta miséria em que estou:-Acaso será que posso Virdaraulademaio?”

Em certa ocasião, era comum o Estado atrasar o paga-mento do funcionalismo:

“Senhor!FazeicomqueoEstadoEm não pagar não insista:-Do lar onde o pão não entraÉ que sai o comunista...”

“Triste sina – santo Deus!A do mestre secundário:/-TrabalharavidainteiraSem ver nunca o “extraordinário”.

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Empenhara-seoprofessoradosecundário,há tempos,numacampanhadeaumentodevencimentosparaoentãoPadrão “T”:

“De toda a grande família,Do funcionalismo nobre,Em São Paulo, o professor,Primoenjeitado,éomaispobre!”

Eprosseguiu,emsuacampanha:

“Nogalhodeumaesperança,Aflordeumsonhosevê,Eomestresonhaacordado,vendo,emsonho,opadrão“T”!

Ou desanimado com os resultados:

“Eu não crio nesse “T”Que a forma tem de uma cruz, EmcujosbraçosmorreuO mestre, que foi Jesus!

Sob aperturas prementesO pobre lente se vêA ver, através das lentes,O navio... do padrão “T”!

Ouagradeciaumaresposta,unsversos,emsuahome-nagem:

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“Quemquerquesejaopoeta,Muitogratoaquilhefico:Por ter amigo assim,Eu, pobre – me sinto rico.

Quando se falou em semana de cinco dias, não faltou o comentário de Cesídio:

Semanadecincodias?CarvalhoPinto,temdó!Melhor,porcertos,fariasFazendo-a de um dia só...

Afinal,degrandesserviçosamocidade,envelhecido,ede mãos vazias:

“Do ensino, por idealismo,Fiz-mesacerdote,enfim!E,nodeminhavida,Acabeificandoassim...”

Falava-se a respeito de morte, na contemplação da ga-leriadosprofessoresjáfalecidos:

“NestevelhocasarãoOnde os mestres se tropicam,Felizes os que se vão, Einfelizesosqueficam...”

OColégioEstadualdeixouasvelhasinstalaçõesemu-

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dou-se pa prédio novo:

“Adeus,velhotetoamigo,Ondemefizprofessor.Tua saudade ira comigoVá lá para onde eu me for”

A despedida:

Dandohoje,cheiodemágua,minhaaulinhaderradeira,Sentiosolhosrasosdágua...

E mais uma centena de quadras, que devem ser reco-lhidasepublicadas,relatandoavidadoColégioEstadualeEscola Normal “Monteiro Lobato”. Poucos colégios poderão contarcomtãobrilhanteecarinhosacrônica

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ANTOLOGIA DECESÍDIO AMBROGI

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POEMA DO PASTOREIO

Nasci pastor. Aos vinte anos,porverdescamposrisonhos,andei tangendo ilusões...-meurebanhoeradesonhos.

Agora, alem dos sessenta,ao peso dos próprios anos, pastoreiooutrorebanho...-hoje,sódedesenganos.

Enomeuvelhocajado,que é o mesmo da mocidade,aindameapoioasonhar...-maschorandodesaudade.

1963 (Inédito)

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MINHA TERRA

Meuvilarejo–umcromoestilizado:O Largo da Matriz. Uma palmeira.A cadeia sem preso nem soldado.Calma em tudo. Silencio. Pasmaceira.

Andorinhasembando,noarlavado.O rio. O campo ale de uma porteira.Umvelhocasarãoacaçapado-Nossacasatranqüilaehospitaleira.

O cruzeiro lá em cima, em plena serra,Braçosabertosparaminhaterra...E eu criança e feliz. Que doce idade!

Hoje,porem,meuDeus,quantaemoção!Do meu peito no triste mangueirão,Cavo e soturno, o aboio da saudade...

In “São Paulo dos Meus Amores” – Afonso Schmidt – Ed. Brasi-liense – São Paulo

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JECA, O FILóSOFO

Amiúdam galos. E, de manso, a terraDesperta.Ruflamasas.Sopraaaragem.E o sol, que surge por de trás da serra,Aloira toda a matinal paisagem.

Um cão ladra distante. Longe berra,Transmalhada,umacabranapastagem;Deumachoçaajanelasedescerra,A emodulrar do Jeca a triste imagem.

Deslumbrado, entusiasmado da natura,Exclama ante a paisagem que fulgura.-“Simsinhô.Tafermosodeencanta!”

E, em seguida, tomando a “troxada”:-“Cum dia ansim só mermo uma caçada...Inté é pecado a gente trabaiá!”

“AS MORENINHAS” – pág. 86

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INDISCREÇÃO

Lusco-fusco. Madrugada.Anoitefinda-não-finda.Por tudo, a paz sossegada;Em tudo, silencio ainda.

De repente, a longa estrada, Aomeuolharsedeslinda,E,aumbeijodeluzdourada,A terra toda se alinda.

Anteosol,noivorisonho,Amanhã,cheiadesonho,Cora e, indecisa, sorri.

Enquanto alguém, neste instante,Grita,pilhando-aemflagrante:-“Vi!Bem-te-vi!Bem-te-vi!”

(Publicado em “O Momento” – 31/1/43 – com o pseudônimo C.)

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E LÁ VAI O TREM...

Lá vai o “Trem da Nação”:-“Kubicheque-kubicheque...”Lá vai ele, vai rolando,Semnenhumfreionembrequ.

Lá vai ele: - “Piú! Piú!Kubicheque-kubicheque...”Que beleza! Como corre!-“Sacacheque-emitecheque...”

Corre,corre...VaicheiinhoErolandodireitinho...Ninguémnelejámaiscabe.

Mas, eis pergunta alguém:-“Paraondeiráessetrem?”-“Nãosechabe,nãosechabe...”

1960

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PROMETEU SUBURBANO

Tenhoumavontadegrandede sair pelo mundo sem destinode ir-me à-toa,comoumafolhamortaaocaprichodetodosostempos,aoacasodetodososcaminhos.

Tenhoumdesejoimensode me largar pelo mundo-navio sem leme nem bússola,na delicia de um de-déu-em-déuao deus-dará.

Deus, porem, me fez trapo-trapohumano,jásevê–emecingiuainérciadotrabalhopreso a lama da terra.Mas Ele é bom. E deixaqueminhacabeçavivaentreasestrelas...

(de “Poemas Vermelhos”)

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Preto retinto. Esguio. Amável e sorridente. Colarinhoalto. Gravata preta. Fraque e cartola. Flor a lapela. Um livrodebaixodobraço.ContemporâneodoFrontine

precursordeChamberlain–comoindefectívelguarda-chu-va. Sempre azafamado.

Eisaí,emdoistraços,todooperfildessemodestíssimocidadãoAntonio de Souza– por alcunha,“professor Corvo-Louco”.

Poucos, talvez, ainda se recordem dele. Raros, por certo, lhe cultuarão amemória, reconhecendo-lhe osméritos deeducador,quelheassinalavamapersonalidadedolegitimopioneiro do magistério particular em Taubaté.

Trabalhador infatigável, fazendodabondadeumver-dadeiro apostolado, ele parecia sentir-se feliz sempre que conseguiaenfiarnacabeçadoanalfabeto–quasesempre

O “PROFESSOR CORVO-LOUCO”

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um adulto -, pacientemente, como luminosas pontas-de-lan-ça, as “primeiras letras” e as “quatro operações” fundamentais.

Com seus minguados recursos intelectuais, que não iammuitoalemdo“ABC”edosrudimentosaritméticos,qua-se analfabeto ele próprio, ainda assim Antonio de Souza, e é precisoqueselhefaçajustiça,conseguiuprestarrelevantese inestimáveis serviços à sociedade taubateana.

Dezenas de pessoas, inclusive elementos de prepon-derante destaque no comércio e nas industrias da cidade, lendo esta croniqueta, estamos certos, se lembrarão com certaemoçãodoprofessormodestíssimoquelhesserviradeprimeiro guia, ensinando-os a ler e a contar.

Nestahorade festasparaTaubaté,quandocomemo-ramos o centenário de sua elevação a categoria de cidade –queestanossapaginasejaumahomenagemsimples,mascomovedora e piedosa, à memória de Antonio de Souza – o “professor Corvo Loco”.

Humilde,quasemiserável,semplacaquelheimortalizeonome,massempreserenoealheioàzombariacovardedetodososzoilos,-aindahojeeleébemosímbolode todosesses nossos pequeninos anônimos conterrâneos que, semruídonemestardalhaço,masnadiuturnidadedoseutrabalhohonrado,muitofizeramefazempelagrandezadestaterraquelhesserviradeberço,epelobomnomedenossagente.

Estamos certos de que os poderes competentes, nes-te mês do centenário da cidade, perpetuassem o nome do cidadão Antonio de Souza numa das placas de nossas ruas, - onde tantos gralhos se encontram imortalizados, a almaagradecida do povo taubateano, que, na verdade, se revesti-ria tal gesto.

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Não seremos ouvidos, certamente. Mas, mesmo assim, aquificaasugestão.Oshomensdificilmentepoderãocom-preenderoquantohaviadenobreedepuro idealismonaalma iluminada de um paria, de um simples e anônimo “pro-fessor Corvo-Louco”...

(Crônica publicada em “O Momento” – 5/2/1942 – com o pseudônimo C, na seção “Taubaté-social”)

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I –AS MORENINHASCESIDIOAMBROGI–“ASMORENINHAS”_MonteiroLo-

bato & C. Editores – S. Paulo – 1923 127 págs. – formato 32 – com índice

Dedicatórias: “Aos mesmos queridos Paes. Aos meus bens Irmãos. A Natividade,meu berço e terra dasminhassaudades,ondefloriramosmeusprimeirossonhos”.

“A Monteiro Lobato, ovictorioso creador de “Jeca Tatu”.“AMenottidelPecchia,ocantormaravilhosode“Juca

Mulato”comnotainicial–transcrevendotrechodoDiscursonaAcademia,deCoelhoNeto.

CROMOS E VINHETASCromos I – págs. 13; II, págs. 14; III, págs. 15. IV, págs.

16; V, págs. 17; VI, págs. 18; VII, págs. 19; VIII, págs. 20; IX,

ÍNDICE DOS LIVROS DE CESIDIO AMBROGI

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págs. 21; X, págs. 22; “Vingança de Caboclo”, págs. 23;”Trabu-coBão”,págs.24;“MalesdeAmor”,págs.25;“AEsperadoNoi-vo”, págs. 26; “D. João Implume”, págs. 27; “Fala a Esperança”, págs. 28; “Trabuco ATOA”, págs. 29; “Um Cão Precioso”, págs. 30; “Que Susto!”, págs. 31; “Venturosos”, págs. 32; “Visita de Amor”, págs. 33; “Primaveril”, págs. 34; “Paisagem”, págs. 35; “Tempo Quente”, págs. 36; “Vida Feliz”, págs. 37; “Esquisso”, págs. 38; “Era Promessa”, pafs. 39; “De Caçador”, págs. 40; “An-tes do Casório”, págs. 41; “Diana Cabocla”, págs. 42; “Postais” I, págs. 43; II, págs. 44; “Sem Sorte”, págs.45; “Desculpa Plausí-vel”, págs. 46; “Vênus Cabocla”, págs. 47; “Calo Mardiço”, págs. 48; “Depois do Casório”, págs. 49; “Na Caçada”, págs.50; “So-nhoDesfeito”,págs51;“Felizes”,págs.52;“PorAmor”,págs.53; “Pontos de Vista”, págs. 54; “Cena Caipira”, págs. 55; “Di-toso Porco!”, págs. 56; “Ciúmes”, págs 57; “Historia Cabocla”, págs. 58; “Poema Minúsculo”, I págs. 63; II, págs. 64; III, págs 65, IV, págs 66; V, págs. 67; VI, págs. 68

ALMA NACIONAL“NoTemplodePan”,págs71-72;“ComoNumSonho”,

págs 73; “O Mago”, págs 74; “Cantares” págs 75-78; “Quadro Roceiro”, págs 79; “Dia de Azar” págs 80; “Caiporismo”, págs 81;“OTruque”,págs.82;“NháSinhazinha”,págs83;“Sonetun-culo”,págs84;“PorumOlhar...”,págs.85;“Trovas”,págs.86;“Melindrosa”,págs.87;“JecaoFilosofo”,págs.88;“OMonjo-lo”,págs.89;“Machucandoopotro...”,págs.90;“OVelhoZé-Maria”,págs.91;“”Qüiproquó”,págs.92;“Aquelebeijo”,págs.93; “Aquarela”, págs. 94; “Caçada Infeliz”, págs. 95; “O Dote”, págs.96;“EspinhosaMissão”,págs.97;“AlmaCaipira”,págs.98;“VelhoQuadro”,págs.99;“Cachorro”,págs.100;“Chamou

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na Sola..., págs. 101; “Salomé Cabocla”, págs. 102; “Se não vier...”, págs 103; “Apuros de D. João” págs. 104; “Na Roca ao Luar”, págs. 105;“Caminho do Sertão”, págs. 106;“O Casa-mento”, págs 107; “Dupla Infelicidade”, págs. 108; “O Pedi-do”, págs. 109; “No Truque”, págs. 110; “Adorável Simplicida-de”,págs111;“Desejos”,págs112;“SonhoRaro”,págs.113;“ManhãGloriosa”,págs.114;“ContandooCaso...”,págs.115;“O Incêndio”, págs. 116; “Soneto Caipira”, págs. 117; “Tempo guampudo”, págs. 118; “Foi um Dia...”, págs 119; “A Cruz de Ferro”,págs.120;“Quemforamquedisseram?”,págs121;“AoDespertar”, págs 122; Índice: 123-127

II- POEMAS VERMELHOSCESIDIO AMBROGI – POEMAS VERMELHOS – (Uma

Tentativa de Poesia Social) – Editora GUAIRA Limitada – Curitiba – Sem data.

95 págs., com índice, ex-libris, endereço de A. e Carta-Prefacio de Monteiro Lobato, págs. 9-16; nota A., 19-20

“Tremei, Manipansos!”, págs. 21-25; “Enquanto”, págs. 27-29; “Prometeu Suburbano”, págs. 31-33; “O Canto de Guer-radoVelhoÍndio”,págs.35-38;“ABonecaAzul”,págs.39-42;“Mensagem ao Homem do Campo”, págs. 43-46; “Na Antevés-pera da Grande Aurora”, págs. 47-50; Nessa Noite as Cortina Tremeram”, págs. 51-54; “Trovas em Sarabandas”, págs. 55-58;“CantochãodaNoitedeNatal”,págs.59-62;“LuminosoContraste”, págs 63-66; “Os Capítulos Mais Tristes”, págs. 67-69; “Crepúsculo dos Que se Enriqueceram, Criminosamente”, págs. 71-74; “Soldado Anônimo”, págs. 75-78; “O Pequeno Profeta”,págs.78-82;No“Cemitério”,págs.83-86;“BoaNoite

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TrabalhadoresdoBrasil”,págs.87-90;“DeRetornoaoCristia-nismo”, págs. 91-94; Índice, págs. 95.

III- JANÍADASComopseudônimodeK.Mõesd’Araque–Janíadas–

Tip. “O Taubateano” – Taubaté – 1962. 64 pags. Sátira política, em oitava rima, em cinco cantos.

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A - Obras de Cesídio Ambrogi:AsMoreninhas-MonteiroLobato&Cia.Editores–São

Paulo, 1923PoemasVermelhos–EditoraGuairáLtda.–Curitiba–

Sem dataJaníadas–Tipografia“OTaubateano”–Taubaté–1962PintinhoPeludo(ContoInfantil)premiodoD.E.I.–

São Paulo – 1947RanchoVelho–poemain“OBomGinasiano”,1.asérie,

Maximo de Moura Santos, Livraria Francisco Alves, São Pau-lo, 1942, págs. 18

MeuVilarejoNatal– in“OBomGinasiano”, 1.a serie,Maximo de Moura Santos, Liv. Francisco Alves, São Paulo, 1942, págs. 73

A Tempestade – poema in “Nova Seleta da Língua Por-

BIBLIOGRAFIA

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tuguesa”,L.AFragoso,EditoraDidáticaBrasileira,SãoCarlos(SP), 1944

Origem das Rosas – poema in “A Nossa Língua”, 1.a ed. , B.BuenodeMorais–EdiçõesePublicaçõesBrasil,SãoPau-lo, 1939

Anchieta– poema in“O BomGinasiano”,Maximo deMoura Santos, Liv. Francisco Alves, São Paulo, 1942

MinhaTerra–poemain“SãoPaulodosMeusAmores”,Afonso Schmidt, Editora Brasiliense, São Paulo, sem data,págs. 278

B-ObrasrelativasaCesídioAmbrogi,emparte,ouuti-lizadas no estudo da época:

Diegues Júnior, Manoel, Regiões Culturais do Brasil,INEP, Rio de Janeiro, 1960 – págs 371/378.

Fernandes,Florestan,MudançasSociaisnoBrasil,Difu-são Européia do Livro, São Paulo, 1960 – Cap. VIII – A Sombra da Idade de Ouro – págs. 234

Stein, Stanley J., Grandeza e Decadência do Café, (No Vale do Paraíba), Tradução, Editora Brasiliense, São Paulo,1961 – Cap. XI, págs 333

Muryci,Andrade,B.Lopes–Poesia,Agir,Riode|Janeiro,1962 – Apresentação – págs. 5

Nóbrega,Melo,EvocaçãodeB.Lopes,RevistadoLivro,do Instituto Nacional do Livro, nº 12, 1958, págs. 91 e segs.

Cavalheiro,Edgar,MonteiroLobato–VidaeObra,3.aedição,EditoraBrasiliense,SãoPaulo,1962–págs.97,99,130, 149 – 10.a edição

Lobato,Monteiro,aBarcadeGleyre,2º tomo,EditoraBrasiliense,SãoPaulo,1961,págs.239,298,340

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Lobato, Monteiro, Prefácios e Entrevista, 9.a edição, EditoraMelhoramento,SãoPaulo,1959,págs.

Giolo, Pedro, Imprensa de Taubaté, edição do autor, Taubaté, 1956

Marroquim, Mario, A Língua do Nordeste, 2.a edição, Cia. Editora Nacional, São Paulo, 1945

Wey, Walter, Língua Portuguesa, 4.a edição, Editora do Brasil,SãoPaulo,1961,págs.208,220

Schmidt,Afonso, SãoPaulo deMeusAmores, EditoraBrasiliense,SãoPaulo.

Piloto, Valfrido, Profanações, Gráfica Condor, Curitiba,1947, págs.

Peixoto, Silveira, Meus Irmãos, Homens Livres!, (Discur-so), São Paulo, 1943, págs. 9

Ferraz,Breno,NotaBibliográfica,inRevistadoBrasil,n°82, outubro, 1918, págs. 147

Morais,Heitor,RicardoGonçalves,inRevistadoBrasil,n°34,outubro,1918,págs.167/178

C-Jornaisdaépoca(coleçõesde“OLyrio”,“ABrisa”,“ONeco”, Correio de Taubaté”, “O Momento e “Correio do Vale do Paraíba”).

D - InformantesProf. Gentil de Camargo – “cronioca viva” de Taubaté e

do Vale do Paraíba, que deu ao A. preciosa colaboraçãoMiguel Felix CarneiroProf. José Ezequiel de SouzaAmaro Negrini

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Dados BiográficosDo Mundo Que O Filho Do Imigrante EncontrouCidades Mortas?Estilo De Vida A MudançaLiga Das Manifestações EspontâneasSoma CertaMestrinhaRoda LiteráriaAs Conferências Pagas E Os Sonetos De RodaDeclamações E LeiturasUrupêsFontes LiteráriasModernismo, NãoAs Moreninhas

ÍNDICE

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121421222325303234364042

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RegionalismoPoemas Atômicos PseudônimoCesídio E As AntologiasJornal-EscolaProfessor Cabeça-VermelhaOs “Causos” Do CesídioAs JaimíadasQuadras No QuadroAntologia De Cesídio Ambrogi

Poema Do PastoreioMinha TerraJeca, O FilósofoIndiscreçãoE Lá Vai O Trem...Prometeu Suburbano

O “Professor Corvo-Louco”Índice Dos Livros De Cesídio AmbrogiBibliografia

45485152545658606368697071727374757882

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