Use o OEO: Observar, Esperar e Ouvir como seu filho precisa que mostrem a ele como fazer as coisas,...
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86 Capítulo 3
A maioria das pessoas presta atenção ao que a interessa. Por exemplo, se você
gosta de futebol e assiste a um jogo na televisão, facilmente se lembra do placar
e dos nomes dos jogadores. Agora, quando assiste a um evento de um esporte que
não lhe interessa muito, por exemplo, um jogo de tênis, provavelmente não vai
se lembrar de muita coisa sobre o jogo. Pode perder o interesse e mudar de canal
após poucos minutos.
Uma criança com TEA, mais ainda do que as outras crianças, presta atenção no
que a interessa. Mas como seu filho precisa que mostrem a ele como fazer as coisas,
você acaba gastando um bom tempo sendo o “professor” ou “ajudante”, enquanto
ele é o “aprendiz”. Se você sempre disser ou mostrar ao seu filho o que fazer, pode
ser que ele nunca tenha a chance de fazer coisas que realmente quer. E não terá a
oportunidade de iniciar a comunicação por conta própria.
Neste capítulo, vamos falar sobre o momento e o jeito certos de deixar-se con-
duzir pelo seu filho, bem como quando não é apropriado fazer isso. Mostraremos
que se você deixar-se conduzir pelo seu filho, ele pode aprender a se comunicar
enquanto vocês fazem as coisas juntos.
A criança que conduz frequentemente obtém o que precisaUma criança presta mais atenção às coisas que ela escolhe do que as coisas que
você escolhe.
Uma criança geralmente é mais sociável e interativa quando está engajada em
atividades escolhidas por ela.
É mais fácil que vocês dois prestem atenção na mesma coisa quando ela
estiver conduzindo a situação. Quando seu filho consegue prestar atenção na
mesma coisa que você, está dando um importante primeiro passo para poder se
relacionar ao mesmo tempo com você e com o que está fazendo.
Uma criança que lidera aprende que não depende de você para saber o que fazer
ou dizer em todas as situações. Pode fazer escolhas por conta própria.
Uma criança que lidera aprende que tem o poder de fazer as coisas acontecerem.
Saber que pode afetar pessoas ao seu redor é um passo importante para se
tornar um comunicador intencional.
Uma criança que conduz a situação não tem que alternar o seu foco de atenção,
coisa que é difícil para crianças com TEA.
Para ser conduzido pelo seu filho, você deve começar “observando, esperando e
ouvindo” seu filho, como faria uma sábia mãe coruja.
ObservarObservar significa olhar atentamente para seu filho para ver as coisas que o inte-
ressam. Desta forma, você poderá incluir as coisas que o interessam nas coisas que
vocês fazem juntos. Veja o que Karina aprende sobre o filho dela, Júlio, quando o
observa de perto durante uma brincadeira de bater a bola com a colher. Ela percebe
que Júlio está mais interessado em segurar a colher
na frente dos olhos do que em usá-la para bater
na bolinha.
A observação de Karina lhe dá infor-
mações importantes sobre Júlio. Agora
pode escolher: continua a incentivar
Júlio a jogar a bolinha de volta
para ela ou usa o interesse dele
pela colher e esquece a brin-
cadeira com a bolinha. O que
ela vai fazer? (Vamos voltar a
falar de Karina e Júlio mais
adiante neste capítulo).
Use o OEO: Observar, Esperar e Ouvir
88 Capítulo 3 Deixe-se conduzir pelo seu filho 89
Enquanto observa seu filho, veja como e por que ele se comunica e a que
responde. Depois que ele “ecoa” o que você diz, olha para você ou se aproxima da
coisa sobre a qual você está falando? Percebe mudanças na expressão facial dele
quando você pega determinado brinquedo? O que seu filho faz nessas situações dá
informações de onde começar para ajudá-lo a aprender a se comunicar.
EsperarA espera dá ao seu filho tempo suficiente para que ele envie mensagens do seu
próprio jeito. Embora você possa pensar às vezes que seu filho não está se comuni-
cando nada, talvez ele simplesmente não esteja tendo chances de se comunicar.
A mãe está preocupada porque Luciana nunca pede nada. Então, um dia, depois do
almoço, na hora em que a filha costuma ganhar um biscoito, a mãe não pode pegar
o biscoito, pois está no telefone. Luciana bate o pé no chão e grita para mostrar
que quer o biscoito imediatamente. Nessa hora, a mãe percebe que Luciana sabe se
comunicar se as pessoas esperarem até que ela o faça.
Se não se apressar, seu filho terá chan-
ces de fazer mais do que você espera.
Esperar também pode dar chance ao
seu filho de assimilar e pensar sobre o que
você está dizendo. Se fizer uma pergunta e
seu filho não responder de imediato, você
pode supor que ele não entendeu a pergunta
e perguntar de novo. Contudo, a repetição
da pergunta pode distrai-lo bem na hora em
que a sua primeira pergunta ia começar a
fazer sentido para ele. Se ele estava a ponto
de lembrar-se de uma palavra, sua segunda
pergunta pode fazê-lo esquecer.
Toda criança demora mais do que um
adulto para responder a uma pergunta. Para
o seu filho, demora ainda mais. Então, es-
pere pelo menos quinze ou trinta segundos
para que seu filho responda. Para que você
se lembre de esperar, conte lentamente até quinze. Mas tenha cuidado! É possível
que você espere tempo demais e seu filho perca o interesse. Você tem que ter “sin-
tonia fina” na sua espera para que ela fique no mesmo nível da persistência do seu
filho. Se ele desiste facilmente, seu tempo de espera pode ser mais curto. Sua espera
trará melhores resultados quando seu filho estiver motivado como a Luciana.
OuvirQuando você ouve com atenção os sons, palavras e frases vindos do seu filho ,
aprende o que ele já consegue fazer e o que você pode construir a partir disso.
Por exemplo, se ele produz uma série de sons com os lábios, como “pá” e “bó”,
pode se dedicar mais a coisas motivadoras que comecem com esses sons, como
“parque” e “bola”.
Quando seu filho começa a falar, pode não falar claramente. Se disser “sa”
toda vez que você pega a mochila dele no armário, há uma forte possibilidade
de ele estar tentando dizer “sair”. Se você ouve com atenção, pode responder ao
som de “sa” dizendo “Sair. Vamos sair.” Isto dará a ele um modelo da pronúncia
correta da palavra. Depois, você pode, nas outras vezes que ele disser “sa”, res-
ponder pegando a mochila, mesmo que não tenha planejado sair. Logo seu filho
entenderá o poder da palavra.
Você pode ouvir seu filho usar uma palavra um dia, e depois não ouvi-lo dizer
essa palavra por vários dias ou mesmo semanas. Mas se ouvir e memorizá-la, pode
fazer coisas que o incentivem a usar essa palavra novamente logo. Por exemplo, se
ouvir seu filho dizer “não” uma vez, pode aumentar as oportunidades que ele tem
de dizer “não” de novo, oferecendo comidas que não gosta, cantando músicas com a
palavra “não” e vendo fotos de pessoas fazendo “não” com a cabeça.
Ouvir é uma ferramenta valiosa quando seu filho apresenta ecolalia (isto é,
imita ou “papagaia” as palavras ou frases que outras pessoas dizem). Se você pres-
tar atenção à maneira como ele repete essas palavras, sua entonação lhe dirá muita
coisa sobre por que as está dizendo. Por exemplo, se pergunta para seu filho “Quer
um biscoito?” e ele repete a pergunta exatamente da forma como você disse (com
a mesma entonação ascendente), é provável que não tenha entendido e esteja “eco-
ando” porque está aflito. Contudo, se ele repete o que você diz e muda a entonação,
pode ter entendido sua fala e esteja lhe dizendo, da melhor maneira que pode, “Sim,
eu quero um biscoito”.
Quando seu filho usa ecolalia tardia, “pescando” algo que ouviu de um con-
texto e usando em outro, você precisa ser um ouvinte e observador muito bom para
entender o que ele está tentando lhe dizer. Algumas vezes pode precisar bancar o
detetive para tentar descobrir o que esses “ecos” significam.A mãe de Luciana descobre
a importância da espera.
90 Capítulo 3 Deixe-se conduzir pelo seu filho 91
Larissa gosta de assistir a uma história interativa no computador. Sempre que vai
“mudar de página”, o computador diz “clique na opção desejada”. Quando Larissa
quer que seus pais liguem a TV, ela também diz “clique na opção desejada”. Embora
isto faça todo o sentido para ela, deixa seus pais confusos. Mas ao observá-la,
percebem que ela associa o comando “clique na opção desejada” com fazer algo novo
aparecer, tanto na tela do computador quanto na tela da TV.
Ao observar e ouvir, os pais de Larissa percebem que ela acha que “clique na opção desejada”
significa “Faça a tela (qualquer tela) mudar!”
Sabendo que tantas palavras, frases e sentenças de seu filho podem ser empres-
tadas de outras situações, garanta que estas palavras ajudem-no a aprender. Depois
que os pais ouviram o que Larissa estava dizendo e perceberam qual o motivo,
tentaram descobrir novos programas de computador com instruções (por exemplo,
“pressione a tecla” ou “próximo”) que a filha pudesse usar em outras situações.
Quando Você Usa o OEO, a Melhor posição é Face a Face
Se você se posiciona face a face com seu filho, consegue ver o que o está interessan-
do. Colocando-se no mesmo plano do seu filho, torna-se parte do mundo dele.
Sabendo que pode ser difícil para seu filho fazer contato ocular, facilite as coi-
sas para ele. Por exemplo, coloque-o sentado nos seus joelhos, de frente para você;
se ele estiver brincando no chão, deite-se de barriga para baixo ou de lado, se ele
estiver de pé, engatinhe ou se agache na sua frente.
Nosso rosto transmite importantes informações sociais que podem ser difíceis
de entender. Mesmo quando seu filho está participando de uma conversa, pode
não notar o franzir da testa, o sorriso e os movimentos dos olhos, que dizem tanto
quanto as palavras. Então, abaixe-se até a altura do seu filho e dê a ele todas as
oportunidades de ver seu rosto “falar”.
Quando souber o que esperar, seu filho terá um desempenho melhor. Se você
brincarem frente a frente regularmente, ele passará a esperar e antecipar sua pre-
sença. Se um dia você não estiver, ele pode simplesmente buscá-lo você para brin-
car com ele como você sempre faz.
Quando a mãe fica face a face com Igor, vê que ele está
brincando com um barbante e pode juntar-se a ele.
A mãe não pode ver o que interessa
Igor quando está atrás dele.
Deixe-se conduzir pelo seu filho 93
As estratégias dos Quatro “Is” ajudam seu filho a aprimorar suas habilidades de
comunicação e interação. Você pode usar os Quatro “Is” com seu filho em qualquer
estágio do desenvolvimento de comunicação: nos estágios de Interesses Próprios,
Pedidos, Comunicação Básica e Parceria. Três dos Quatro “Is” - inclua os interesses
do seu filho, imite e intrometa-se – ajudarão a incentivá-lo a participar de ativida-
des e interagir com você. Assim que vocês já estiverem interagindo, a estratégia de
“interpretar” ajuda a dar informações ao seu filho.
O Primeiro “I”: Inclua os Interesses do seu filho
Perceba o que seu filho está fazendo, e junte-se a ele.
É o que fez a mãe de Igor quando o viu brincando com o barbante. Volte e pense sobre
Júlio no começo deste capítulo. Durante a brincadeira de “bater a bola com uma colher”,
sua mãe percebeu que ele estava mais interessado em pôr a colher diante de seus olhos
do que usá-la para bater na bola. Embora a mãe quisesse que Júlio entrasse em uma
brincadeira que exigisse a participação dele, sentiu que se o pressionasse para brincar de
bater na bola, ele se levantaria e iria embora. Decidiu, então deixar a bola de lado.
Karina aproximou-se do filho, e, minutos depois, quando ele baixou a colher, disse
“Achou!”. Júlio gargalhou e pôs a colher diante de seus olhos de novo. Logo ele come-
çou a dizer “Achou!” depois de Karina. Júlio se escondeu atrás da colher oito vezes,
antes de se cansar da brincadeira, e manteve contato ocular com sua mãe o tempo todo.
Olhando para a mãe, Júlio a manteve envolvida para poder continuar brincando.
Note que depois que as mães de Igor e Júlio perceberam o que interessava seus
filhos, entraram na brincadeira como “parceiras”. Entrar na brincadeira significa
tornar-se “criança” e fazer tudo o que seu filho está fazendo.
Às vezes, seu filho pode ter interesses limitados e depender de você para que
novas atividades sejam introduzidas. Apresente um objeto ou atividade tentadores,
espere que ele o descubra e depois o siga, entrando na brincadeira.
Quando Karina percebe que Júlio não quer brincar com a bola, deixa-se conduzir por ele,
transformando o interesse dele na colher em uma brincadeira de “Achou!”.
Traga para um espaço compartilhado a coisa
para a qual seu filho está olhando
Incluir os interesses de seu filho significa que, quando ele estiver interessado em
algo, você mostra interesse também. Pode fazer isto trazendo o brinquedo ou objeto
no qual ele está interessado para mais perto de vocês dois. Por exemplo, se o seu
filho fixa o olhar em uma pedra brilhante e colorida, pegue essa pedra e olhe para
ela junto com seu filho (mesmo se parecer estranho que ele esteja mais interessado
em uma pedra ou barbante do que em um brinquedo novinho).
Você também pode compartilhar os interesses de seu filho reparando no que ele
está olhando e apontando para a pessoa, coisa ou ação e fazendo comentários. Um
comentário pode ser uma palavra (“bola”) ou uma sentença (“É uma bola grande”) que
dê ao seu filho informações sobre os interesses dele. Por exemplo, se ele nota um passa-
rinho, você pode apontá-lo e dizer “Olha! Um
passarinho!”. Você precisa estar perto do
seu filho e próximo daquilo que está
apontando, para que ele veja o que
está fazendo. Se possível, ponha a
mão dele no objeto, para que sai-
ba exatamente do que você está
falando. Mais adiante, seu filho
pode descobrir que você também
tem coisas bacanas para mostrar
a ele. Talvez se interesse por coi-
sas que você percebe antes dele.
Use os quatro “Is” para se deixar conduzir pelo seu filho
Os quatro “Is”
1. Inclua os interesses do seu filho
2. Interprete
3. Imite
4. Intrometa-se
O pai aponta e nomeia o
passarinho para Lucas.
94 Capítulo 3 Deixe-se conduzir pelo seu filho 95
O Segundo “I”: Interprete
Trate tudo o que seu filho faz como se ele estivesse enviando
uma mensagem intencional
Quando trata tudo o que seu filho faz como se ele estivesse intencionalmente en-
viando uma mensagem, você o ajuda a perceber que pode influenciar o que você
faz. Este tipo de interpretação funciona melhor com crianças nos estágios de In-
teresses Próprios e Pedidos, que não se comunicam diretamente a você de forma
consistente, mas frequentemente mostram o que querem através de ações.
Por exemplo, se o seu filho pega as chaves do carro, você pode dizer “Chaves.
Vamos!”. Mesmo que ele não esteja se comunicando diretamente, você está respon-
dendo como se ele estivesse. Se fizer isto repetidas vezes, seu filho poderá fazer a
associação entre as chaves e o passeio de carro, e finalmente dar-lhe as chaves da
próxima vez em que tiver vontade de dar uma volta.
Diga ou faça coisas “como ele faria, se pudesse”.
Se o seu filho demonstra interesse em algo ou tenta lhe transmitir uma mensa-
gem, você precisa “interpretar” suas tentativas de comunicação, dizendo ou fa-
zendo “como ele faria, se pudesse”. Quando faz isso, você usa as palavras e ações
que gostaria que seu filho usasse no futuro, dando a ele um modelo que ele possa
eventualmente copiar. Um modelo físico demonstra o que pode fazer. Um modelo
verbal mostra o que ele pode dizer. Por exemplo, se ele mostrar interesse em um
passarinho, aponte (um modelo físico) e diga “passarinho” (um modelo verbal). Para
chamar atenção para seus modelos, diminua o ritmo antes de demonstrá-los, enfati-
zando ou exagerando suas palavras e ações. Quando você enfatiza um modelo, seu
filho presta atenção e fica mais provável que o copie.
Interprete para as crianças nos estágios de Interesses Próprios e Pedidos
Seu filho pode estar começando a se comunicar para pedir coisas, puxando sua
mão ou dando um objeto ou figura em troca do que ele quer. Esses são momentos
importantes para fornecer-lhe as palavras que “usaria, se pudesse”. Nomeie o objeto,
pessoa ou atividade que ele está pedindo. Evite usar palavras como “isso” e “coisa”,
porque essas palavras não são tão específicas quanto “biscoito” e “livros”.
Os nomes que você dá às coisas também ajudam seu filho a entender o signi-
ficado das palavras; então os use sempre para fazer comentários sobre coisas que
o interessam.
Quando está interpretando para Caio, a mãe fala “curto e gostoso”,
para que ele possa vir a pedir pizza de forma independente.
A mãe de Eugênio age como se ele estivesse
pedindo para dar uma volta de carro.
Então, um dia, ele de fato dá as chaves
do carro a ela para pedir o passeio.
Você também pode interpretar e responder às palavras de seu filho, tratando
tudo o que ele disser como se estivesse falando com você. Por exemplo, se ouvir seu
filho dizer “mama” na hora em que estiver brincando no quarto ao lado, pode ir até
lá e dizer “A mamãe está aqui”, como se ele realmente estivesse chamando você.
96 Capítulo 3 Deixe-se conduzir pelo seu filho 97
Pode ser que as primeiras palavras do seu filho sejam bobas e sem sentido, fáceis de
pronunciar e divertidas de dizer, como “opa” ou “eca!”. Você pode usar essas pala-
vras DIVERTIDAS quando estiver interpretando. (Veja o capítulo 6, página 201 para
uma lista de palavras DIVERTIDAS).
Exagere seus modelos e tenha pa-
drões consistentes nas inflexões e ento-
nações que você usa para enfatizar os
modelos. A crescente associação que seu
filho faz entre palavras ou frases espe-
cíficas e sua entonação o ajudará a se
lembrar delas. É provável que, antes de
repetir o que você diz, ele repita como
você diz, imitando sua entonação, mas
não pronunciando realmente as pala-
vras. Não se surpreenda se ele, quando
começar a falar, usar suas palavras e seu
padrão de entonação. Se o seu filho se
interessa por música, você pode até can-
tar algumas palavras para ele!
“Ops” é uma palavra DIVERTIDA, mais fácil e
mais legal para Renato dizer do que “O garfo caiu”.
Lucas aprende a dizer “oi” do mesmo jeito cantado do seu pai.
Interprete para a criança que está no estágio de Comunicação Básica
Se o seu filho ainda não começou a falar, mas envia mensagens intencionais com
gestos ou figuras, você deve dar um modelo verbal de uma só palavra imediatamen-
te depois que ele fizer um gesto ou der uma figura.
Se, contudo, seu filho, como tantas outras crianças neste estágio, começar a
falar repetindo frases e sentenças, é importante que seus modelos verbais conte-
nham palavras que ele possa “pescar” e usar depois. Ao fornecer modelos de pala-
vras, você dá ao seu filho um roteiro para memorizar e usar no futuro. Depois de
aprender o que dizer em uma situação, ele pode conseguir aplicar essa fala a outra
situação. Quando, por fim, ele se tornar um comunicador mais capaz, vai se apoiar
menos no roteiro e mais em suas próprias idéias.
No começo, André aprende o que dizer de forma
mecânica, repetindo o que seu pai diz.
Depois, André mostra que entendeu as palavras,
usando-as em uma situação similar.
Seu filho tende a lembrar-se e repetir a última coisa que ouve. Então, enfatize
palavras importantes, colocando-as no final da frase. Por exemplo, se você quer que
ele aprenda a palavra “abre”, diga “a porta, abre” em vez de “abre a porta”.
Diga do jeito dele!
Se o seu filho vai se expressar imitando exatamente o que você disser, é importante
fornecer um modelo verbal do ponto de vista dele. Se você diz “Quer beber água?”,
ele pode entender exatamente o que você está perguntando, mesmo que não entenda
98 Capítulo 3 Deixe-se conduzir pelo seu filho 99
o que cada palavra significa. Por causa da tendência à ecolalia, pode repetir sua
pergunta em vez de dar uma resposta adequada. Se você quiser que seu filho apren-
da a dizer coisas de uma forma mais apropriada, você deve dizer “como ele diria,
se pudesse”! Em vez de perguntar da forma costumeira, assuma a perspectiva da
criança e diga “Eu quero água”. Para mostrar-lhe quem é o “eu”, ajude-o a tocar o
peito com a própria mão.
Pode ser estranho falar com seu filho dessa maneira, mas é importante apro-
veitar-se da sua habilidade de imitar o que você diz, para que possa começar a usar
as palavras com significado. Embora você não possa dizer tudo do jeito dele, tente
fazê-lo toda vez que ele estiver motivado a falar, principalmente quando quiser algo
de você, mas não sabe como pedir.
Lembre-se de desacelerar antes de falar e enfatizar o que diz, chamando a
atenção de seu filho para o modelo. Quando você destaca o que diz, a chance de
que ele repita é maior.
Se o seu filho imita prontamente, você precisa simplesmente enfatizar o modelo,
fazer uma expressão de expectativa e, quem sabe, tocar o peito ou o ombro dele para
mostrar que é a vez dele falar. Por outro lado, se ele não tende a copiar, você pode
precisar solicitar que use o seu modelo, com a instrução “Diga: ‘eu quero água’”. Se
o seu filho entende o significado das palavras “diga”, “fale”, ou de outras instruções,
não vai incluí-las quando repetir o modelo. Contudo, para crianças que tendem a
copiar tudo o que você diz,
independente do significa-
do, essas instruções serão
percebidas como parte do
modelo. Você pode tentar
ajudar seu filho a distinguir
o modelo das instruções,
usando diversas técnicas
discutidas no próximo ca-
pítulo (veja o Capítulo 4,
páginas 117-118). Se você
perceber que ele repete
suas instruções, atenha-se
apenas ao modelo.
Para dizer ao pai que quer um
copo de água, Lucas repete a
pergunta do pai exatamente
como ouve.
Mais tarde, ele usa a
sentença memorizada
para pedir para o pai
um copo de água.
Quando o pai diz “como o
filho diria, se ele pudesse”,
Lucas tem um modelo mais
apropriado para copiar.
100 Capítulo 3 Deixe-se conduzir pelo seu filho 101
Use Frases-Suporte ou de Apoio* em seus modelos verbais para que seu filho apren-
da algumas frases-chaves, úteis em diversas situações.
De uma palavra, para duas palavras, para três
Nem todas as crianças que estão no estágio de Comunicação Básica aprendem a
falar através da repetição de trechos inteiros do que ouvem. Algumas adquirem,
primeiro, um vocabulário com nomes de coisas, geralmente de comidas ou brin-
quedos que mais gostam, e depois progridem para combinar esses nomes com
palavras que designem ação (verbos). Por exemplo, podem primeiro dizer “suco”
para pedir para beber algo, e depois dizer “Quer suco”. Quando você interpretar
para uma criança que diz palavras isoladas, ajude-a a progredir de uma palavra
para duas palavras. Primeiro, repita o que ele disser, e depois diga “como ele
diria se pudesse”, usando um modelo de duas palavras, sendo uma a palavra que
ele disse e a outra uma palavra que designa uma ação. Por exemplo, se a criança
trouxer uma fita de vídeo e disser “vídeo”, repita “vídeo” e adicione “assistir
vídeo” ou “quer vídeo”. Para chamar a atenção da criança para a nova palavra,
fale devagar e enfatize-a.
Repetir o que a criança diz e adicionar um verbo não é a única forma de
ajudar seu filho a começar a fazer combinações de duas palavras. Você também
pode combinar nomes de coisas com palavras que designam lugar ou palavras
descritivas. Você só tem que imaginar o que seu filho diria se pudesse, e depois
usar a estratégia de “repetir e adicionar” para ajudá-la a progredir de frases de
duas palavras para frases de três palavras. A seguir, uma lista para começar.
COMBINAÇÕES DE DUAS PALAVRAS Exemplos
Pessoa/objeto + ação “Mamãe empurra”, “carro vai”
Ação + pessoa/objeto “Ler livro”, “quer biscoito”
Pessoa/objeto + localização “Cachorro fora”, “sapato no pé”
Ação + lugar/objeto “Por (colocar) dentro”, “pular em cima”
Descrição + pessoa/objeto “Mais suco”, “bola grande”
COMBINAÇÕES DE TRÊS PALAVRAS Exemplos
Agente (pessoa/coisa) +palavra-ação + objeto “Eu quero suco”
Agente + palavra-ação + objeto “Mamãe beija o bebê”
Ação + objeto + lugar “Põe o copo na mesa”
Ação + descrição + objeto “Quero mais suco”
Interpretação para o Parceiro
Você vai precisar menos da estratégia de “interpretação” com a criança que está no
estágio de Parceria, porque ela está começando a fazer suas próprias sentenças. Sim,
ainda é importante modelar palavras e frases que você quer que seu filho aprenda. Tam-
bém pode dizer “como ele diria se
pudesse” para dar a informação que
ele precisa para corrigir alguns erros.
Se ouvir seu filho cometer um erro,
apresente imediatamente o modelo
verbal correto, e exagere a correção
para que ele perceba a mudança.
Janaína pode corrigir o próprio erro
se a mãe interpretar para ela.
Como modelar pronomes
Comunicadores Básicos e Parceiros, que dependem de “pescar” e reutilizar palavras
que ouvem, podem se beneficiar não só dos seus modelos de pronomes, mas tam-
bém dos modelos de outras pessoas. Observar e ouvir membros da família falando
entre si usando “eu”, “mim” e “você” durante uma conversa, dá modelos verbais
dessas palavras para o seu filho.
* N.T.: A frase de apoio ajuda uma criança que não tem capacidade lingüística de montar es-
pontaneamente uma frase. Para a criança que diz apenas “bolacha” para pedir bolacha – a
frase de apoio seria “Eu quero....”. O que a criança tem que fazer é terminá-la: “Eu quero...
bolacha”. Depois de ouvir muitas vezes “Eu quero bolacha” a criança passará a usá-la inteira.
O QUE SÃO FRASES-SUPORTE OU DE APOIO?
Frases-suporte consistem de palavras que aparecem juntas freqüentemente e são usadas em
bloco. Exemplos de frases-suporte apropriadas para todas as crianças são:
“Eu quero...”, “Eu gosto...”, “Eu tenho...”, “Estou vendo...”,
“Eu vou...”, “Me dá...”, “Quero mais...”, “O que é isto?”
102 Capítulo 3 Deixe-se conduzir pelo seu filho 103
Comunicadores Básicos e Parceiros
entendem pronomes melhor do que você
pode imaginar. Eles frequentemente per-
cebem a quem a palavra “você” se refere,
mesmo que não sejam capazes de usar
“você” corretamente em uma sentença.
Essas crianças precisam de dois tipos de
modelos de pronomes: um que modele
como elas usariam pronomes se pudes-
sem, e outro que demonstre como prono-
mes são usados naturalmente no meio de
uma conversa. (Veja o Capítulo 6, página
206, para ler mais sobre como ajudar seu
filho a entender e usar pronomes).
O terceiro “I”: imite
Deixe seu filho liderar; imite suas ações e sons.
A imitação pode ajudar seu filho a se envolver em interações de mão dupla, com
chances para vocês copiarem um ao outro.
Seu filho pode prestar atenção em você se você bater em um bloco logo depois que
ele fizer o mesmo, se pular depois que ele pular, ou se emitir os mesmos sons que ele, logo
em seguida Você pode até tentar copiar alguns dos comportamentos sensoriais dele, tais
como girar em torno de si mesmo ou sacudir as mãos (flapping). A criança pode se sentir
bem poderosa quando perceber que está conduzindo e você está seguindo. Se imitar as
ações e sons do seu filho, ele pode começar reagir imitando-o também. Nessa hora, você
pode adicionar algo novo para ele duplicar. Esta brincadeira de imitação é muito impor-
tante – seu filho pode aprender muito observando o que você faz.
Na hora do almoço, Marcelo bate na
mesa com a colher. O pai deixa-se
conduzir, batendo sua colher na
mesa também. Isto
chama a atenção de
Marcelo! Depois de
bater a colher de novo,
Marcelo olha para o
pai, como se dissesse
“É sua vez, papai”.
Caso seu filho não se interesse por brincadeiras de imitação, você pode ensiná-lo a
imitar. Comece mostrando uma ação, e depois, se ele não imitar você, ajude-o fisicamente
a fazê-lo. Quando conseguir, recompense-o com um elogio, abraços ou o doce preferido.
Comece fazendo-o imitar ações com brinquedos, como, por exemplo, empurrar um car-
rinho no chão. Depois, progrida, fazendo-o copiar ações sem brinquedos (por exemplo,
“toque o nariz”), e depois copiar alguns sons, como sons de animais.
O quarto “I”: intrometa-se
Insista em participar do que seu filho está fazendo, mesmo que ele
não o receba bem no início
Nem sempre é fácil brincar com uma criança relutante em interagir com você ou que gos-
ta de fazer coisas repetitivas sozinha. Mas lembre-se de que ela não está fazendo isso por-
que não quer incluir você. Ela simplesmente não sabe como fazê-lo. Em vez de desanimar,
procure oportunidades para se “infiltrar” no que seu filho estiver fazendo. Por exemplo:
sente-se ao lado enquanto ele age como se não quisesse você por perto, ou bloqueie o
caminho quando ele estiver correndo. Abaixe-se ao lado dele e brinque com brinquedos
similares! Não se preocupe se ele não parecer feliz no começo. Uma hora ele aprenderá
que é mais divertido brincar com você do que brincar sozinho. Lembre que seu filho
ainda precisa ouvir modelos de palavras que possa dizer. Quando você se intrometer
no que ele está fazendo, também vai precisar interpretar.
Álvaro gosta de correr de um lado para o
outro. Seu pai tenta seguir as suas ações
correndo junto, mas Álvaro parece nem
perceber. Então, o pai bloqueia seu caminho
e diz “Parado!”. O menino não gosta, e tenta
evitar o pai tentando dar a volta, mas o pai
vai junto. Álvaro se vê forçado a empurrar
o pai para que saia do seu caminho. Saindo
da frente, o pai diz “Sai!”, deixando que
Álvaro volte a correr. Depois que isto
acontece algumas vezes, Álvaro começa a
esperar o “bloqueio” e ri quando o pai entra
na sua frente. Três semanas depois, quando
Álvaro está correndo pela sala, procura pelo
pai. Assim que o pai pula na sua frente,
Álvaro diz, pela primeira vez “Sai!” para
fazer seu pai sair da frente.
Os pais modelam a maneira
como Fábio pode usar pronomes
na mesa de jantar.
Marcelo fica entusiasmado quando seu pai o imita.
Ao criar um “bloqueio na estrada”, o pai de Álvaro
transforma a correria em uma brincadeira interativa e
dá ao filho a chance de aprender uma nova palavra.
104 Capítulo 3 Deixe-se conduzir pelo seu filho 105
Geralmente, há mais de uma forma de se intrometer no que seu filho está fazendo. Tal-
vez tenha que tentar algumas coisas diferentes antes que você e seu filho interajam.
Pode ser que, como o Álvaro, que corre pra lá e pra cá o tempo todo, seu filho
faça coisas que não parecem produtivas. É provável que esse comportamento esteja
satisfazendo necessidades sensoriais. Por exemplo, pode ser que seu filho goste de
jogar coisas no chão e vê-las cair. Ou pode alinhar objetos, como carros de brinque-
do ou livros, porque gosta de ver a fila de objetos.
Vamos apresentar algumas idéias de como se intrometer nessas atividades repeti-
tivas e solitárias, transformando-as em interações positivas entre você e seu filho.
A estratégia do guardador
Se seu filho gosta de jogar coisas (por exemplo, blocos) no chão, aja como se ele
estivesse intencionalmente iniciando uma brincadeira. Ponha uma cesta ou caixa
no chão para recolher os objetos, e diga: “Na caixa. Blocos na caixa.” Depois, para
participar da atividade de jogar blocos no chão, torne-se o “guardador” dos blocos.
Junte todos os blocos assim que seu filho tiver jogado no chão, e ofereça um para
ele. Interprete no nível do seu filho: se ele estiver no estágio de Interesses Próprios
ou de Pedidos, diga “bloco”. Se ele estiver no estágio de Comunicação Básica e for
capaz de repetir o que você diz, diga “Eu quero um bloco”. Uma criança no estágio
de Parceria provavelmente vai descobrir sozinha uma forma de dizer que quer um
bloco. Dê o bloco ao seu filho. Depois que ele jogar o bloco no chão, dê-lhe outro,
junto com o modelo verbal apropriado. Assim que você estabelecer um padrão,
espere alguns segundos antes de dar mais um bloco. Isto vai dar tempo para seu
filho tentar alcançar o bloco, fazer um som, repetir seu modelo verbal ou usar as
palavras dele para pedir o bloco.
Lembre-se que seu fi-
lho pode não ficar muito
feliz com suas intromissões,
mas com um pouco de per-
sistência divertida da sua
parte, atividades solitárias
podem se transformar em
brincadeiras interativas.
Se o seu filho gosta de enfileirar objetos, você pode usar a estratégia do
“guardador”, a mesma que usaria com uma criança que gosta de jogar coisas
no chão. Junte todos os objetos que seu filho enfileira (carros de brinquedo,
letras do alfabeto, blocos, etc.) e dê-lhe os objetos um por um, até que aprenda
que você é parte da brincadeira. Quando você é o “guardador” dos objetos que
seu filho quer, ele tem que incluir você naquilo que está fazendo.
O pai segura o último carrinho
que Caio precisa para terminar
a fileira, de forma que o filho
tenha que interagir com ele
para obter o carrinho.
Coloque você também
um objeto, para ajudar
seu filho a fazer uma
fila. Deslize um carrinho
até a fila naturalmente e
diga algo como
“Mais um carrinho”.
Depois que seu filho permitir sua participação, introduza uma variação, por
exemplo, colocando um brinquedo diferente na fileira ou colocando o mesmo tipo
de brinquedo, mas de uma forma diferente (por exemplo, de cabeça para baixo, ou
de lado). Ele pode não gostar da mudança, mas quando gritar ou chorar, lembre-se,
isto é comunicação! Se persistir
de uma forma gentil e divertida,
a nova rotina de brincadeira de
seu filho logo incluirá você.
Caio deixa bem claro como se sente
quando seu pai tenta colocar uma
peça de Lego na fila de carrinhos.Quando insiste em recolher as pecinhas na cesta, esta mãe transforma o ato
repetitivo da filha de jogar blocos no chão em uma brincadeira interativa
106 Capítulo 3 Deixe-se conduzir pelo seu filho 107
Escondendo e Procurando
Tire um dos objetos da fila e esconda-o na sua manga, no seu bolso ou em-
baixo da sua camisa. É praticamente certo que seu filho vai interagir com você
(porém, pode ser que ele goste tanto da brincadeira de “esconder”, que comece a
procurar nas mangas e bolsos de todo mundo!).
Esconda os objetos que seu filho gosta de enfileirar, e depois a ajude a procu-
rá-los. Para facilitar que a busca seja bem sucedida, deixe os objetos parcialmen-
te visíveis onde quer que você os esconda, seja embaixo do sofá, atrás da porta
ou em cima da mesa.
Quando estiver procurando, use palavras ou frases que sejam apropriadas para
o estágio de comunicação de seu filho: uma palavra simples se ele estiver no estágio
de Interesses Próprios ou de Pedidos (“Carrinho!”); uma ou duas palavras ou uma
sentença que contenha uma frase-suporte para um Comunicador Básico (“Estou
vendo um carrinho”); ou uma sentença que inclua uma palavra nova ou conceito
novo (“Vamos procurar embaixo da cadeira”!) para uma criança Parceira.
Entre na frente
Entre na frente de seu filho, de forma que ele tenha que dizer ou fazer alguma
coisa para pedir para você sair. É exatamente o que o pai faz quando bloqueia
o caminho de Álvaro, tornando impossível para o filho não interagir com ele, se
quiser continuar correndo.
Descubra outras oportunidades para
barrar o caminho do seu filho. Se ele tentar
pegar o brinquedo que mais gosta, coloque-
se parado na frente da prateleira. Interpre-
te para seu filho, quando ele empurrar para
tirá-lo do caminho, dizendo alguma coisa
do tipo “Sai!”. Pare na frente de portas, de
escadas ou mesmo na frente da TV. Se você
estiver impedindo seu filho de fazer algo que
ele quer, ele terá que mostrar o que quer.
Se Álvaro quiser passar, tem que dizer para o pai
sair da frente.
Entre na brincadeira
Quando seu filho estiver brincando sozinho com um brinquedo, pegue um
brinquedo parecido e insista em entrar na brincadeira. Por exemplo, faça seu
carrinho bater no carrinho dele e diga algo como “Bateu!” ou “Ai, não!”. Faça
o seu dinossauro comer o dinossauro dele, criando animação com grunhidos
de dinossauro e dizendo “Te peguei!” para crianças nos estágios de Interesses
Próprios, de Pedidos ou de Comunicação Básica, ou “Grr”! “Estou comendo um
tricerátopes” para o Parceiro que sabe os nomes dos dinossauros dele.
Léo gosta de brincar sozinho
com dinossauros, até que
a mãe insiste em fazer
parte da brincadeira. Então,
ele descobre uma nova
brincadeira, que só tem
graça quando envolve duas
pessoas.
O pai esconde os carrinhos; assim,
quando Caio quiser enfileirar
carrinhos, terá que procurá-los junto
com seu pai, primeiro.
108 Capítulo 3 Deixe-se conduzir pelo seu filho 109
Luana gosta de ficar sentada sozinha no sofá, até que a mãe
se intromete com a brincadeira de “amassar”.
Se o seu filho sempre quer ficar sentado sozinho, tente sentar bem perto dele
e “amassá-lo” de forma divertida. Para a criança no estágio de Interesses Pró-
prios, de Pedidos ou de Comunicação Básica, diga algo como “Amassa”, “Empur-
ra” ou “Ops! Mamãe em cima da Luana”. Para a criança no estágio de Parceria,
diga algo como “Vamos brincar de amassar”. Se ele virar de costas para você ou
sair de perto quando se aproximar, será fácil de supor que isto significa “Não
perturbe!”. Mas se você desistir, não vai estabelecer uma conexão. Então, persista
(sempre de forma divertida!) em compartilhar o espaço com ele.
Intrometa-se para ter uma conversa
Se o seu filho está no estágio de Parceria, intrometer-se pode significar mais
do que simplesmente se envolver no que ele estiver fazendo. Pode ser que você
não precise se intrometer com tanta freqüência para estabelecer uma conexão
com seu filho ou para fazê-la perceber você. Em vez disso, você pode usar a téc-
nica da “intromissão” para ajudar seu filho a participar de uma conversa.
Se o seu filho faz a mesma pergunta repetidas vezes, ou insiste em manter a con-
versa no mesmo assunto, nem sempre é a melhor idéia deixá-lo conduzir. Se você
deixar que continue falando sempre sobre as coisas que ele quer, não vai aprender
a participar de uma conversa.
Jonas adora listar todos os pontos de ônibus que conhece. Às vezes, o pai dele tenta
deixá-lo conduzir e tenta incluir os interesses de Jonas nas conversas deles. Contudo, o
pai quer que Jonas fale sobre outras coisas, e não só sobre ônibus. Olhe como o pai de
Jonas se intromete para ajudar o filho a sair do seu assunto preferido.
Como se intrometer quando seu filho sai do assunto
ou insiste no assunto dele:
Reintroduza o primeiro assunto ou introduza um assunto novo. Avise a criança
que haverá uma mudança na conversa (por exemplo: “Mais uma coisa sobre... e
depois vamos conversar sobre...”).
Fale novamente o que já foi dito antes que seu filho mude de assunto.
Para conduzir seu filho de volta para o assunto, repita parte do que foi dito e
deixe-o completar o resto (por exemplo: “Estávamos falando sobre a escola. Pri-
meiro, você desenhou. Depois você brincou com...)
Certifique-se que seu filho está entendendo você. Se ele mudou para um assunto fa-
miliar porque a conversa o está confundindo, tente simplificar sua fala. Transforme
uma pergunta difícil numa afirmação. Depois faça uma pergunta mais fácil.
Para ajudar Jonas a mudar de assunto, seu
pai introduz um novo tema na conversa.
Situações em que você não deve deixar seu filho conduzir
Nem sempre é apropriado ou bom para o seu filho deixar que ele conduza a situa-
ção. Ele ainda precisa aprender muitas coisas com você, e uma dessas coisas é como
se comportar. A decisão de quando deixar e quando não deixar seu filho conduzir
a situação dependerá muitas vezes do seu bom senso.
Foi sugerido que você tente transformar um comportamento repetitivo e im-
produtivo em uma brincadeira interativa. Mas se as ações do seu filho resultarem
da frustração ou irritação, você precisa mostrar a ele outras formas de lidar com
estes sentimentos. Por exemplo, se ele está jogando blocos porque está bravo ou
para dizer que não quer brincar com blocos, não tente transformar isto em brinca-
deira, pois estará reforçando esse comportamento. Em vez disso, mostre à criança
que não vai aceitar o que está fazendo, dizendo “jogar não” (não jogar os blocos no
chão) ou “pára” de forma firme e clara para fazê-la parar de jogar os blocos. Assim
que o comportamento parar, faça seu filho recolher os brinquedos jogados no chão,
dizendo algo como “Pega! Pega!”.
Certas necessidades sensoriais de algumas crianças são tão fortes que podem ser
difíceis de satisfazer. Por exemplo, uma brincadeira interativa de pega-pega pode
não ser suficiente para a criança que precisa de movimento. Para esta criança, você
precisa encontrar outras formas de provocar as sensações que ele precisa, usando,
por exemplo, uma mini cama elástica ou um balanço. Uma terapeuta ocupacional
que tenha conhecimento na área de questões sensoriais pode ajudá-la a decidir que
estímulos sensoriais seu filho precisa e como proporcioná-los.
Resumo
Quando você usa o OEO – observar, esperar e ouvir o que seu filho faz e diz - des-
cobre exatamente quais são os interesses dele. Depois, você pode deixar-se conduzir
por seu filho, entrando na atividade e incluindo os interesses dele nas interações
entre vocês. Ele pode oferecer resistência à sua participação. Nessa hora, você deve
gentilmente se intrometer no mundo dele. Outra forma de conseguir iniciar uma
interação é imitar seu filho, copiando suas ações e sons. Sempre que sentir que seu
filho se comunicaria “se pudesse”, interprete, para lhe dar as informações que pre-
cisa, dizendo as palavras sob o ponto de vista dele.
110 Capítulo 3
Participem juntos
Se você deixar-se conduzir pelo seu filho, como sugerido no Capítulo 3, pode perce-
ber que vocês respondem um ao outro de muitas maneiras. Quando faz cócegas nele,
por exemplo, ele pode olhar para você, mostrando que está se divertindo. Se parar de
fazer cócegas por um momento, seu filho pode puxar suas mãos na direção dele para
conseguir que você continue. Nessa situação e outras parecidas, os dois participam.
Neste livro, a palavra “participar” descreve qualquer coisa que duas pessoas
fazem – olhar uma para outra, gesticular, produzir sons ou dizer palavras – para
mostrar uma para a outra que estão fazendo parte da interação.
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