Racionalização do Uso de Água na Indústria de Celulose. O caso ...
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USINA ECOELÉTRICA: EDUCAÇÃO PARA O USO RACIONAL E AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEL DA ENERGIA ELÉTRICA
Dionízio Paschoareli JÚNIOR Diego N. GEWERH Julio C. FERREIRA
Ricardo B. VARGAS André MORITA
Renata V. OLIVEIRA Thiago B. SANTOS
Thiengo A. de PAULA1 Carolina Buso DORNFELD
Danitielle C. SIMONATO2
Resumo: O presente artigo apresenta as atividades desenvolvidas pelo projeto “Usina Ecoelétrica”, junto aos alunos e professores do ensino fundamental (5ª a 8ª séries), no ano de 2006, sobre a temática “Energia, meio ambiente e sociedade”, de forma interdisciplinar. A aproximação foi realizada por meio da elaboração de feiras de ciências, palestras e desenvolvimento de um site com linguagem adequada à esse público alvo. Também foi aplicado um questionário, no qual observa-se uma deficiência no entendimento de terminologias científicas, inclusive aquelas empregadas constantemente na mídia, sugerindo que existe um descompasso entre o que é dito e o que é realmente apreendido, pela sociedade em geral, e por esses alunos, em particular. As atividades foram motivadoras para todas as partes envolvidas tanto pela relevância da temática, quanto pela importância em relação à formação de uma consciência ecológica, englobando informação, conhecimento científico e vida cotidiana.
Palavras-chave: fontes renováveis; educação ambiental; interdisciplinaridade; sustentabilidade
1. INTRODUÇÃO
Um dos grandes desafios nos próximos anos, para países industrializados ou
em desenvolvimento, será compatibilizar crescimento econômico e desenvolvimento social
com disponibilidade energética. O Século XX foi marcado pelo grande avanço tecnológico
no setor da energia elétrica. Grandes parques geradores foram construídos e complexos
sistemas de transmissão e distribuição foram instalados para disponibilizar aos
consumidores a energia elétrica gerada. Por outro lado, uma nova realidade aponta para
novos desafios na solução dos problemas energéticos. Com a progressiva escassez dos
recursos naturais utilizados na matriz energética, bem como com as restrições ambientais
mais rigorosas, o setor elétrico é obrigado a formular soluções que impliquem no uso
racional da energia produzida. Desta forma, adia-se investimentos, racionaliza-se o uso de
recursos naturais, reduz-se impactos ambientais. Qualquer que seja a forma de conversão
de energia (hidro-elétrica, eólica-elétrica, eólica-potencial, termo-elétrica, solar-elétrica, 1UNESP – Faculdade de Engenharia, Campus de Ilha Solteira – Departamento de Engenharia Elétrica. Coordenador do Projeto Prof. Dr. Dionízio Paschoareli Júnior (e-mail: [email protected]). 2UNESP – Faculdade de Engenharia, campus de Ilha Solteira – Departamento de Biologia e Zootecnia
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solar-térmica, solar-biomassa, etc) ou a fonte primária (águas dos rios, combustíveis fósseis,
sol, vento, biomassa), há sempre uma maneira de se racionalizar a utilização dos recursos
disponíveis.
Entretanto, uma das dificuldades na racionalização do uso da energia é
convencer o usuário de que o conforto e o bem-estar têm custos, nem sempre explícitos ou
facilmente mensuráveis, que devem ser considerados no resultado global. Muito desta falta
de consciência no uso das fontes da energia vem da falta de uma educação ambiental que
leve a mudanças de hábitos de consumo.
A crescente demanda de energia, nas suas diversas formas, encontra como
principal obstáculo à necessidade da conversão de formas primárias de energia em
processos de transformação que agridem ou destroem a natureza (Doig, 1999; Plastow,
2001). A energia elétrica, fundamental para as sociedades modernas, raramente é obtida
(em particular em grandes quantidades) sem que o ambiente seja impactado. É fundamental
que a sociedade esteja devidamente esclarecida e consciente sobre os impactos na
natureza da utilização da energia para seu conforto, lazer e, evidentemente, seu almejado
desenvolvimento (Cresesb, 2006).
No projeto Usina Ecoelétrica, a educação ambiental, conforme proposto por
Orellana (2001), é realizada segundo uma visão integral, sistêmica e holística, baseada na
construção de um novo tipo de relação do usuário com o meio ambiente, colocando a
sociedade como mediadora. Desta forma, a educação ambiental não se limita a ser um
instrumento na resolução de problemas para se alcançar um uso mais racional dos recursos
naturais, a fim de preservar seu potencial de exploração (visão instrumentalista).
Desse modo, o presente projeto busca desenvolver junto aos professores e
alunos do ensino fundamental, em especial aos de quinta à oitava séries, uma visão crítica e
reflexiva sobre a produção da energia elétrica, no que se refere ao impacto ambiental e
social, apresentando alternativas viáveis e ecologicamente corretas para a sua utilização
sustentável.
2. CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO USINA ECOELÉTRICA
O projeto Usina Ecoelétrica integra os projetos desenvolvidos junto ao Núcleo
de Apoio ao Ensino de Ciências e Matemática – NAECIM, constituído por uma parceria
entre a Universidade Estadual Paulista – UNESP, campus de Ilha Solteira, e a Prefeitura
Municipal de Ilha Solteira. É realizado pelo Grupo de Fontes Renováveis e Aproveitamento
de Energia, certificado junto ao CNPq.
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Por sua característica educacional e extensionista, o projeto recebe recursos
da Pró-reitoria de Graduação (PROGRAD) e da Pró-reitoria de Extensão Universitária
(PROEX) da UNESP.
O projeto foi iniciado no final do ano de 2005, tendo sua continuidade
aprovada para o ano de 2007, e compõe a listagem de Projetos de Inclusão Social
selecionados pela PROEX-UNESP.
A implementação deste projeto foi subdividida em duas etapas. A primeira,
diagnóstica, constituindo a etapa de envolvimento e aproximação com o público alvo
(professores e alunos do ensino fundamental). A segunda etapa, de fluxo contínuo e que
continuará a ser desenvolvida em 2007, caracteriza-se pela elaboração de subprojetos
voltados às fontes renováveis e uso racional da energia elétrica, com orientação pedagógica
reflexiva, considerando a Ação-Reflexão-Ação, em uma perspectiva freiriana, com os
conhecimentos problematizados em um processo dialógico e em torno de temas geradores.
Nesta orientação, encontra-se um planejamento, ação, observação e reflexão e novo
planejamento de ação, o que, segundo Grabauska & De Bastos (1998), expressam o
exercício da práxis.
Embora as etapas de implementação do projeto sejam distintas, elas são
continuamente realizadas. Mesmo a primeira etapa, que se caracteriza pelo contato inicial
com o público alvo, deve ser sistematicamente implementada, já que, a cada novo ano
letivo, o público é renovado.
3. AGENTES ENVOLVIDOS NO PROJETO USINA ECOELÉTRICA
Para implantação da primeira etapa do projeto, foi necessária a realização de
reuniões preparatórias entre professores e coordenadores da instituição de ensino
fundamental onde o projeto foi implantado e os participantes do projeto “Usina Ecoelétrica”.
Foram realizadas reuniões na Escola Estadual de Ensino Fundamental Arno Hausser (Ilha
Solteira, SP), com apresentação do projeto e delineamento das atividades, bem como com a
definição de responsabilidades de cada integrante do grupo. O grupo formado para
implementação do projeto foi composto por professores da Arno Hausser (das disciplinas de
ciências, língua portuguesa, inglês, matemática, história e geografia), alunos de graduação
da UNESP (cursos de Licenciatura em Física, Biologia e Matemática e Engenharia Elétrica)
e docentes da UNESP (dos departamentos de engenharia elétrica, física e química e
biologia), coordenadores de cada área específica.
A fim de esclarecer a participação de cada integrante do projeto, são
apresentadas algumas das responsabilidades que foram importantes para a organização
das atividades durante o ano de 2006:
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a. Docentes da UNESP – Ilha Solteira: responsáveis pela organização geral
do projeto por meio de reuniões com os partícipes do projeto, pela orientação teórica e
prática e avaliação dos alunos de graduação da UNESP, bem como pelas discussões para
definição das estratégias de implantação do projeto, junto com os professores da Arno
Hausser.
b. Alunos de graduação da UNESP – Ilha Solteira: desenvolvimento e
compilação de materiais didático-pedagógicos (em textos educativos, módulos didáticos e
experimentais); apresentação de experimentos básicos para a conversão de energia
primária em energia elétrica e regência do projeto.
c. Coordenadores e Professores da Escola Estadual de Ensino Fundamental
Arno Hausser: discussão da inclusão no material de apoio didático-pedagógico da temática
“energia: formas de conversão e utilização”, considerando a aplicabilidade do tema em cada
uma das disciplinas, a partir de sua experiência docente; aplicação do material didático
elaborado em sala de aula; avaliação do impacto do projeto no processo de aprendizagem
dos alunos sobre a importância do uso sustentável de energia e os impactos ambientais
decorrentes da produção do uso inadequado da energia elétrica.
A participação dos professores da Arno Hausser foi de grande importância
nos direcionamentos das ações para a continuidade desse projeto.
4. ATIVIDADES DIDÁTICO-PEDAGÓGICAS DESENVOLVIDAS
4.1. Articulação, desenvolvimento e participação em eventos e palestras
Na etapa de implementação do projeto, foram apresentados, em palestras
para os coordenadores e professores da Arno Hausser, aspectos básicos da conversão de
diversas fontes primárias de energia (solar, eólica, térmica, potencial, cinética, etc) em
energia elétrica.
O primeiro contato com os alunos aconteceu na realização de uma pequena
Feira de Ciências, elaborada pelos alunos de graduação, com apresentação de
experimentos básicos de conversão de energia primária em energia elétrica, introduzindo
conceitos de geração hidrelétrica, eólica, termoelétrica e eletroquímica.
Foram realizados, entre outros, os seguintes experimentos:
1. Bateria de limão: utilização dos princípios da eletroquímica para geração
de diferença de potencial. A partir da introdução de dois eletrodos (um de ferro e um de
cobre) em um limão, devido à reação química do ácido cítrico com os eletrodos, surge uma
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corrente elétrica capaz de ser mensurada em um amperímetro ou mesmo de acender uma
pequena lâmpada.
2. Gerador eólico: utilizando dois ventiladores (coolers) de
microcomputadores, apresenta-se a geração eólica. Um dos ventiladores será energizado e
servirá para promover o deslocamento de ar e fará o segundo ventilador girar e provocar,
em seus terminais elétricos, uma diferença de potencial, acendendo, assim, uma lâmpada
(ou led).
3. Geração fotovoltaica: uma placa de zinco e uma placa de cobre são
imersas em uma solução de água e sal. Quando o conjunto é exposto ao sol, as placas
aumentam a troca de elétrons entre si, através da solução eletrolítica, obtendo-se o efeito
fotovoltaico.
4. Motor elétrico: utiliza-se um fio de cobre esmaltado, o qual é enrolado em
uma bobina de algumas espiras e alimentado em suas extremidades por uma bateria,
através de um suporte que permita sua rotação. Sob a bobina de fio de cobre, coloca-se um
imã permanente. Aplica-se uma força de rotação na bobina que, devido à interação entre os
campos eletromagnéticos da bobina e o campo magnético do imã permanente, mantém a
bobina em rotação, como no caso de um motor elétrico.
5. Painel fotovoltaico: é apresentado um painel fotovoltaico comercial (70 Wp)
com células de silício, ligado diretamente a uma lâmpada compacta, a qual é acessa com a
incidência da luz solar.
Esse contato foi importante para estimular e aguçar a curiosidade dos alunos
sobre as formas, fontes e conversão de energia, bem como familiarizá-los com termos e
novos instrumentos. Foi realizada uma apresentação, utilizando-se do recurso de
multimídia, sobre as formas de conversão de energia primária em energia elétrica, em
linguagem apropriada para alunos do ensino fundamental. Algumas fotos deste encontro
estão apresentadas na Figura 1:
Figura 1 Apresentação na Escola Arno Hausser
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Durante o desenvolvimento do projeto, foram elaborados materiais áudio-
visual, que foram desenvolvidos ou compilados, de maneira didática e adequada à faixa
etária dos alunos participantes. Nesse tópico, também foram discutidos os custos
ambientais e sociais para a produção de energia elétrica junto aos professores.
A participação dos professores da Arno Hausser foi facultativa e espontânea,
e dependia da disponibilidade de tempo e da possibilidade de inserção em seu conteúdo
programático de tópicos relacionados com a temática do projeto. A partir das áreas de
atuação (exatas, humanas e biológicas), os professores foram divididos em subgrupos e
foram realizados encontros para apresentação de propostas de materiais que seriam
utilizados em sala de aula, como complementação didática.
Outra participação dos integrantes envolvidos no projeto aconteceu no
“Venha nos Conhecer - 2006”, evento realizado pela UNESP, campus de Ilha Solteira, para
divulgação dos cursos de graduação. O grupo “Usina Ecoelétrica” participou no estande
reservado ao Departamento de Engenharia Elétrica, com apresentação do projeto, incluindo
experiências de conversão de energia, material de divulgação do projeto e apresentação do
site do grupo à comunidade em geral. Esta participação está registrada nas fotos
apresentadas na Figura 2:
Figura 2. Venha nos conhecer
4.2. Desenvolvimento de site do projeto
O projeto Usina Ecoelétrica criou um site no endereço
http://www.dee.feis.unesp.br/usinaecoeletrica/, que tem por objetivo fazer a divulgação das
diversas fontes renováveis de energia, com linguagem voltada ao público jovem, mas de
grande importância para todas as idades. No site, é possível conhecer as principais fontes
renováveis de energia, links para sites de interesse, jogos, os projetos do grupo e as
principais atividades realizadas.
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Há também um link para um Fórum de Discussão criado no Yahoo, para troca
de informações sobre as fontes alternativas de energia. O Fórum conta, atualmente, com
mais de 200 associados, o que o colocou, em abril de 2007, como um dos dez maiores
grupos de discussões do Yahoo no assunto, tendo recebido, até o período, cerca de 550
mensagens, o que demonstra a utilidade do site, bem como o interesse pelo assunto
abordado.
Figura 3. Site do projeto Usina Ecoelétrica
4.3. Aplicação e análise do questionário diagnóstico
Em dezembro de 2006 foi realizada uma atividade, nas dependências da
Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira – UNESP, para os alunos das 7ª e 8ª séries da
Arno Hausser, totalizando 95 alunos. A atividade foi dividida em três etapas: na primeira
etapa, foi aplicado um questionário para avaliação prévia do conhecimento dos alunos sobre
a temática “Energia, meio ambiente e sociedade”. O questionário foi composto por sete
questões de múltipla escolha e uma dissertativa. A segunda etapa consistiu na
apresentação, em forma de palestra, sobre conteúdo relacionado ao questionário e outras
concepções e conceitos sobre fontes de energia renovável. A terceira etapa consistiu da
apresentação de experimentos os quais os alunos puderam manipular, tendo um contato
mais próximo com o funcionamento dos aparelhos e seus aspectos físicos, químicos e
eletro-eletrônicos. A duração da atividade foi de 150 minutos.
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Para a realização desta atividade, foram necessárias várias reuniões com os
Professores e os Coordenadores da Escola Estadual de Ensino Fundamental Arno Hausser,
de modo a adequar a linguagem e as formas de abordagem dos alunos, pelos participantes
do projeto.
Com o questionário, foi possível realizar um levantamento do conhecimento
prévio dos alunos frente à temática em estudo.
O questionário é apresentado no Quadro I:
Quadro I: Questionário de conhecimento prévio aplicado aos alunos de 7ª e 8ª séries da Escola Arno Hausser.
Queremos saber o que você já conhece sobre a geração e o consumo de energia elétrica!
Responda com atenção as questões que seguem! Após, vocês assistirão uma palestra sobre o tema “Energia, meio ambiente e
sociedade” e poderão conhecer alguns experimentos sobre essa temática. Boa tarde a todos!
Escola ________________________________________________série _______________ 1) Você sabe o que é uma fonte de energia renovável? ( ) sim ( ) não 2) Se a resposta foi sim, como esse conceito chegou até você? ( ) livros ( ) televisão ( ) revistas ( ) escola ( ) professores ( ) amigos ( ) Internet ( ) jornais ( ) rádio 3) Qual desses aparelhos elétricos você acha que consome MAIS energia? a) ar condicionado b) chuveiro c) liquidificador d) computador 4) Qual desses aparelhos elétricos você acha que consome MENOS energia? a) ar condicionado b) chuveiro c) liquidificador d) computador 5) Qual dessas fontes de energia você considerada como a fonte primária de energia da Terra? a) vento b) núcleo da Terra c) água d) sol 6) Existem diversas fontes de energia. Assinale as opções que você conhece. ( ) biomassa ( ) solar ( ) petróleo ( ) eólica ( ) hidrelétrica ( ) gás natural ( ) geotérmica ( ) undimotriz ( ) termelétrica ( ) nuclear ( ) marémotriz ( ) lenha/madeira 7) Quais das alternativas que você marcou na questão 6, você considera como fontes de energia não renováveis?________________________________________________________________________________________________________________________ 8) Das alternativas abaixo, qual apresenta duas fontes de energia que podem poluir o meio ambiente? a) carvão e hidrelétrica b) petróleo e eólica c) carvão e solar d) petróleo e carvão
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Analisando as respostas da Questão 1, observou-se que 71% dos alunos
responderam que sabem o que é fonte de energia renovável (Figura 4), sendo que para
29% dos alunos esse conceito foi adquirido por intermédio do professor (Figura 5). As outras
fontes consideradas foram a escola (16%) e a televisão (10%) (Questão 2). Devido ao
grande número de alunos que optaram pela alternativa “outras fontes” (38%), nos próximos
questionários será solicitado que o mesmo especifique qual a fonte de informação
responsável por dar acesso à esse conhecimento.
1 - Você sabe o que é fonte de energia renovável?
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não sabem
sabem
Figura 4. Compilação das repostas obtidas na Questão 1.
2. Como este conceito chegou até você?
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Figura 5. Compilação dos resultados obtidos na Questão 2.
Em relação ao consumo de energia por aparelhos domésticos, utilizou-se
como referência para elaboração desta questão o “Manual de Consumo Consciente”,
organizado em parceria pelo Instituto Akatu e UNIMED. Neste manual encontra-se o tempo
necessário para que determinados aparelhos consumam 1kWh. De acordo com a referência
supracitada o eletrodoméstico que consome mais energia é o chuveiro (11 minutos – 1kWh)
e o que consome menos energia é o computador (6 horas e 40 minutos – 1kWh).
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A análise da Questão 3, referente ao aparelho eletro-eletrônico que consome
mais energia, demonstrou um conhecimento desta informação por parte dos alunos, sendo
que 44% apontaram o chuveiro e 38% o ar condicionado (36 minutos – 1kWh) como os
maiores consumidores de energia elétrica (Figura 6).
3. Qual desses aparelhos você acha que consome mais energia?
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Figura 6. Compilação dos resultados obtidos na Questão 3.
Porém, a análise da Questão 4, referente ao aparelho eletro-eletrônico que
consome menos energia mostra que 81% dos alunos apontaram o liquidificador (3 horas e
20 minutos – 1KWH) como o aparelho mais econômico (Figura 7), sendo que a resposta
correta para essa pergunta seria o computador. Esta confusão pode ter sido gerada quando
o aluno relaciona a freqüência do uso do aparelho com o seu consumo geral, ou mesmo o
tamanho do aparelho com o consumo, isto é, aparelhos maiores consomem mais energia
elétrica. Provavelmente, a freqüência de uso do computador é superior à do liquidificador
nos ambientes freqüentados por esses alunos, justificando as repostas à essa questão.
4. Qual desses aparelhos você acha que consome menos energia?
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Figura 7. Compilação dos resultados obtidos na Questão 4.
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A Questão 5 mostrou que, uma informação considerada básica e que deve
ser trabalhada nos primeiros anos do ensino fundamental, não foi assimilada por muitos
alunos que atualmente freqüentam o 4º ciclo do ensino fundamental. Apenas 33% dos
alunos responderam que a fonte primária de energia da Terra é o sol, seguido por 31% para
a água, 13% para o núcleo da Terra e 12% para o vento (Figura 8). Esse conceito, em geral,
é trabalhado principalmente no conteúdo de Ciências, sendo utilizado nas quintas séries
para introduzir os assuntos que tratam do meio ambiente, cadeia alimentar e nas séries
mais avançadas com os processos relacionados à fotossíntese dos vegetais.
5. Qual dessas fontes de energia você considera como a fonte primária de energia da Terra?
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Figura 8. Compilação dos resultados obtidos na Questão 5.
A Questão 6 era para que os alunos assinalassem, dentre 12 fontes de
energia, quais eles conheciam. As respostas foram as mais variadas e não foi possível
realizar uma análise quantitativa dessa questão. Para ajudar nessa análise, utilizou-se a
Questão 7, que solicitava que escrevessem, com o auxílio das alternativas da questão 6,
quais fontes de energia eram consideradas como não renovável. Somente 21% dos alunos
indicaram uma fonte de energia não renovável, sendo que 54% responderam errado e 25%
não responderam a questão.
A análise da Questão 8, fornece alguns subsídios para discussão.
Considerando que 64% dos alunos identificaram o petróleo e o carvão como poluidores do
meio ambiente (Figura 9), pode-se sugerir que a terminologia de fontes de energia
“renovável” e “não renovável” pode causar dúvidas aos alunos, ao ponto que quando se
refere ao termo “poluição”, os mesmos conseguem responder a questão com maior
segurança. Deve-se considerar que uma terminologia não substitui a outra, mas
provavelmente, os termos “poluição” e “poluir” estão mais presentes no cotidiano desses
alunos.
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8. Das alternativas apresentadas qual representa duas fontes de energia que podem poluir o meio ambiente?
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Figura 9. Compilação dos resultados obtidos na Questão 8.
De forma geral o questionário mostrou que, apesar de ser um tema muito
debatido na escola e estar presente constantemente na mídia, os alunos apresentam muitas
dúvidas em relação aos conceitos, que parecem estar distantes de seu cotidiano. Uma
discussão que poderia ser iniciada é sobre a alfabetização científica dos alunos. O
conhecimento ou não da terminologia científica adequada pode não significar uma mudança
de hábito ou atitudes, porém auxilia no entendimento de questões debatidas nos meios de
comunicação e, portanto, facilita a tomada de decisão por esses alunos. Neste contexto,
segundo Merino (2003), muitas vezes a educação trabalha com dados e pessoas sem que o
seu fator essencial, isto é, o conhecimento garantisse a solidez conceitual, a imaginação
artística, o pensamento argumentado e crítico.
Apesar de na questão 1, 71% dos alunos afirmarem que sabem o que é fonte
de energia renovável, este fato não foi refletido nas demais questões, o que indica um
conhecimento apenas superficial da temática trabalhada e, portanto, justificando a
importância desse projeto no contexto educacional.
A segunda e terceira etapas dessa atividade tiveram participação ativa dos
alunos que demonstraram grande interesse, especialmente com os experimentos
demonstrados.
Estudo realizado por Benjamin & Teixeira (2001), utilizando o livro
paradidático “Energia e Meio Ambiente” de Samuel Murgel Branco (1990), observaram três
categorias para análise específica da leitura realizada por 11 alunos do ensino médio:
compreensão das noções básicas de energia, conscientização da problemática ambiental e
influência da leitura em suas atitudes. Em suas conclusões os autores afirmam que a
conscientização quanto à problemática ambiental foi a que apresentou os melhores
resultados, isto é, na qual os estudantes demonstraram mais reflexão, compreensão e
evolução.
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Porém, no presente trabalho observa-se que em relação à sensibilização e à
mudança de atitudes dos alunos participantes, maior acompanhamento será necessário,
elaborando novas atividades e desafios para a formação de alunos críticos e com atitudes
cidadãs. Estas atividades serão desenvolvidas durante a segunda fase do projeto, em 2007.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A temática do projeto apresenta grande relevância para a formação da nossa
sociedade, especialmente do público alvo selecionado. Observou-se grande interesse dos
alunos no desenvolvimento das atividades de demonstração dos experimentos, o que,
juntamente com as atividades de conscientização, forneceram subsídios importantes para a
formulação de questões e pensamentos mais críticos por parte dos alunos, considerando os
alunos participantes e os colaboradores do projeto. A aplicação do questionário foi de
grande importância e, por ele, pode-se verificar que nem tudo que o aluno diz saber significa
efetivamente conhecimento e aprendizado. Adicionalmente, a terminologia adotada, apesar
de estar de acordo com os livros didáticos e também propagada pela mídia, ainda parece
distante do cotidiano desses alunos. Reconhece-se a superficialidade das informações
veiculada pelas mídias e, neste caso, o desenvolvimento do conhecimento científico pode
ser um instrumento importante para o aprimoramento do conhecimento de relevância
ambiental, chegando a questões como a alfabetização científica.
Em relação aos agentes envolvidos, tem-se uma grande motivação pela
continuidade do projeto, pois além de considerar a temática relevante acreditam que a
formação de uma consciência ecológica seja fruto de um trabalho contínuo que mescla
informação, conhecimento científico e vida cotidiana. Por se tratar de um projeto cujos
resultados serão percebidos a médio prazo, ainda não se pode auferir seu impacto.
Entretanto, em comunicações pessoais, observa-se satisfação das partes envolvidas.
Na elaboração das atividades para continuidade do projeto, estão sendo
consideradas atividades práticas, desenvolvimento de kits e uma maior atuação da área
pedagógica para identificar os possíveis caminhos que desviam a linguagem (terminologia)
científica do cotidiano dos alunos. As atividades serão desenvolvidas de acordo com o
referencial teórico de Paulo Freire e outros autores que pesquisam e trabalham na
perspectiva de AÇÃO-REFLEXÃO-AÇÃO.
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AGRADECIMENTOS
O “Grupo Usina Ecoelétrica” agradece à Pró-reitoria de Graduação e ao
Núcleo de Apoio ao Ensino de Ciências e Matemática (NAECIM – Ilha Solteira) pelo apoio
recebido e à Profa. Eloísa Cavalcante, coordenadora pedagógica da Escola Estadual de
Ensino Fundamental Arno Hausser, pela receptividade e participação ativa durante o
desenvolvimento do projeto. Aos professores da Arno Hausser, agradecemos pela atenção
e disponibilidade de tempo e pela participação e colaboração durante a primeira fase desse
projeto.
JÚNIOR, DIONÍZIO P., GEWERH, DIEGO N., FERREIRA JÚLIO C., RICARDO B. VARGAS, RICARDO B., MORITA, ANDRÉ., OLIVEIRA, RENATA V., SANTOS THIAGO B., PAULA, THIENGO A. DE., DORNFELD, CAROLINA BUSO., SIMONATO, DANITIELLE C.
Abstract: This paper presents the activities carried out by the “Ecoelectric Powerplant” project with fundamental level students and lectures (5th to 8th grades), on the “Energy, environmental and Society” subject, in a multidisciplinary approach. The contact with students was achieved by science fairs, lectures and a website focused in the targeted public (children from 11 to 14 years old). Additionally, a questionnaire was applied to identify the children understanding about the subject. Some misunderstanding on scientific terms, even those often presented by the media, could be perceived, suggesting a fail of communication which restrain the educational process. People involved were well motivated, not only due the thematic worth but also due to the strict relation between the subject and their lifestyle welfare.
Keywords: renewable sources, environmental education, multidisciplinary, sustainability
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENJAMIN, A.A.; TEIXEIRA, O.P.B. (2002). A leitura de um texto paradidático sobre energia e meio ambiente: análise de uma pesquisa. In: Nardi, R. (Org.), Educação em ciências: da pesquisa à prática docente. Escrituras, São Paulo, 97-116. (143p.)
DOIG, A. (1999). Off-grid electricity for developing countries, IEE Review, 45 (1): 25-28.
GRABAUSKA, C. J. e DE BASTOS, F. P. Investigação-ação educacional: possibilidades críticas e emancipatórias na prática educativa. Heuresis, Revista Electrónica de Investigación Curricular y Educativa, vol.1, n.2. 1998. http://www2.uca.es/HEURESIS.
MERINO, G. (2003).Estado actual y perspectivas de la divulgación de la ciencia em Latinoamérica. In. Matos, C. (org.). Conhecimento científico e vida cotidiana. Estação Ciência, Universidade de São Paulo, São Paulo, Terceira Margem. p. 219-234.
ORELLANA, I. (2001). La comunidad de aprendizaje en educación ambiental: una estrategia pedagógica que abre nuevas perspectivas en el marco de los cambios educacionales actuales. Tópicos en Educación Ambiental 3 (7), 43-51 (2001)
PLASTOW, J.W. (2001). Energy services for an electricity industry based on renewable energy, IEE Power Engineering Journal, 15(5): p. 239-247
INSTITUTO AKATU (2007). http://www.akatu.org.br/
CRESESB (2007). www.cresesb.cepel.br