USO DE PRÁTICAS DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA EM … · de Sustentabilidade, ... Introdução De acordo...

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USO DE PRÁTICAS DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA EM EMPRESAS DE PEQUENO PORTE Luan Randal Peres Botta (UEM) [email protected] Edwin Cardoza (UEM) [email protected] O objetivo do trabalho é descrever um Guia que pode ajudar a implantar práticas de P+L em indústrias de pequeno porte. São destacadas as práticas de gestão e avaliação da sustentabilidade industrial. A técnica de Produção Mais Limpa é definnida como estratégia que evoluiu da preocupação com o meio ambiente e a minimização dos resíduos industriais para conceitos relacionados com a Eco-Eficiência e Produção Sustentável. São mencionados os principais passos e ferramentas que podem ser utilizados durante o processo de implementação da Produção Mais Limpa e indicadores de sustentabilidade que possibilitam a avaliação desempenho empresarial e ambiental. Trata-se de um trabalho de iniciação científica que prevê a validação da proposta por meio de uma Revisão Sistemática e Pesquisa de Campo em PMEs do setor de Metal-Mecânico do polo de Maringá - PR. A proposta objetiva introduzir práticas de Produção mais Limpa e incentivar a redução dos resíduos industriais e desperdícios de matéria-prima. Palavras-chaves: Produção Mais Limpa, Eco-Eficiência, Indicadores de Sustentabilidade, PMEs. XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

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USO DE PRÁTICAS DE PRODUÇÃO

MAIS LIMPA EM EMPRESAS DE

PEQUENO PORTE

Luan Randal Peres Botta (UEM)

[email protected]

Edwin Cardoza (UEM)

[email protected]

O objetivo do trabalho é descrever um Guia que pode ajudar a

implantar práticas de P+L em indústrias de pequeno porte. São

destacadas as práticas de gestão e avaliação da sustentabilidade

industrial. A técnica de Produção Mais Limpa é definnida como

estratégia que evoluiu da preocupação com o meio ambiente e a

minimização dos resíduos industriais para conceitos relacionados com

a Eco-Eficiência e Produção Sustentável. São mencionados os

principais passos e ferramentas que podem ser utilizados durante o

processo de implementação da Produção Mais Limpa e indicadores de

sustentabilidade que possibilitam a avaliação desempenho empresarial

e ambiental. Trata-se de um trabalho de iniciação científica que prevê

a validação da proposta por meio de uma Revisão Sistemática e

Pesquisa de Campo em PMEs do setor de Metal-Mecânico do polo de

Maringá - PR. A proposta objetiva introduzir práticas de Produção

mais Limpa e incentivar a redução dos resíduos industriais e

desperdícios de matéria-prima.

Palavras-chaves: Produção Mais Limpa, Eco-Eficiência, Indicadores

de Sustentabilidade, PMEs.

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1. Introdução

De acordo com a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP) a região de Maringá

abriga o segundo maior Polo Metal-Mecânico do Estado do Paraná. É formado por Pequenas

e Médias Empresas (PMEs) que atuam em diferentes setores industriais. É uma atividade

econômica que oferece cerca de 20 mil empregos diretos e um faturamento aproximado de R$

4 bilhões por ano.

Devido à importância econômica e social do Polo Metal-Mecânico de Maringá há necessidade

de trabalhos que foquem na melhoria de suas atividades, produtos e processos. Sendo assim o

objetivo do projeto de pesquisa é desenvolver e propor um Guia para o Uso de Práticas de

Produção Mais Limpa (P+L) voltado a Pequenas e Médias Empresas através de Revisão

Sistemática e Pesquisa de Campo.

A Produção Mais Limpa objetiva o crescimento sustentável das organizações através da

melhoria da eficiência, lucratividade e competitividade. Para isso tem a premissa de eliminar

os poluentes antes que eles sejam gerados. A Revisão Sistemática revelou que ferramentas

importantes da P+L são: Eco-design, Sistemas de Gerenciamento Ambiental, Produção

Enxuta e Indicadores Ambientais do processo. A identificação das barreiras e etapas de

implantação constituem requisitos importantes para o sucesso do Guia de Práticas de P+L.

Nos próximos itens é exposta a metodologia de pesquisa: Revisão Sistemática e Pesquisa de

Campo, seguida pela definição das principais práticas de Produção Mais Limpa a partir da

Revisão Sistemática. Além disso, são destacadas as barreiras e etapas de implantação de P+L.

Em um quarto item é dada uma prévia do Guia de Práticas através de 7 etapas que auxiliarão

as PMEs a implantarem a Produção Mais Limpa na rotina de seus processos, tais etapas serão

refinadas e validadas pela Pesquisa de Campo.

2. Método de Pesquisa

2.1. Revisão Sistemática

A Revisão Sistemática tem como objetivo apresentar uma avaliação justa a respeito de um

tópico de pesquisa, fazendo uso de uma metodologia de revisão confiável, rigorosa e que

permita auditagem (KITCHENHAM, 2004).

Para o processo de construção da Revisão Sistemática foi planejado e elaborado um protocolo

de pesquisa que busca responder a seguinte questão: “Quais são as práticas de P+L podem ser

integradas ao processo de gestão e melhoria do desempenho industrial das Pequenas e Médias

Empresas do setor de manufatura?”. A resposta a essa questão se deu através de um trabalho

crítico de análise literária das publicações levantadas durante o período definido para a busca

de artigos nos mecanismos de pesquisa.

Para a busca de artigos foram selecionadas as seguintes bases de dados eletrônicas:

Engineering Village, Springer, Scielo, Science, Emerald, IEEE Xplore, Google Scholar além

dos anuários do ENEGEP e SIMPEP. A busca pelas publicações foi eficiente devido à

utilização de filtros de pesquisa que retornavam apenas artigos que possuíam as palavras-

chave: Produção Mais Limpa / Cleaner Production, Produção Sustentável / Sustentability

Production, Avaliação de Desempenho Sustentável / Assessment of Sustainable Performance,

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Avaliação do Ciclo de Vida / Life Cycle Assessment, Eco-design, Eco-Eficiência / Eco-

Efficiency, Manufatura / Manufacturing, Pequenas e Médias Empresas / Small and Médium

Enterprises.

O processo de pesquisa foi constituído pela procura de artigos focados em Produção Mais

Limpa e Sustentabilidade, escritos em inglês e em português, publicados entre 1993 e 2011. A

string de busca foi definida pela combinação dos operadores booleanos AND e OR conforme

é apresentado: Produção Mais Limpa AND Cleaner Production OR Produção Sustentável

AND Sustentability Production OR Avaliação do Desempenho Sustentável AND Sustainable

Performance OR Avaliação do Ciclo de Vida AND Life Cicle Assessment OR Ecodesign OR

Eco-Eficiência AND Eco-Efficiency OR Manufatura AND Manufaturing OR Pequenas e

Médias Empresas OR Small and Médium Enterprises. A string de busca foi adaptada para

cada base de dados, pois as opções de busca e a forma como a string deve ser construída é

específica para cada mecanismo.

A pesquisa através da string de busca pode-se consultar as bases de dados eletrônicas que

retornaram 196 publicações. Tais publicações passaram por um critério de Pré-seleção,

através da leitura do título e resumo, desta Pré-seleção 108 publicações foram selecionadas.

Passou-se então para o critério de seleção que envolveu a leitura completa dos trabalhos, desta

seleção obteve-se 24 publicações. A Figura 1 esquematiza o processo de seleção das

publicações durante a Revisão Sistemática.

Figura 1 - Sistema de seleção da Revisão Sistemática

As 24 publicações que resultaram no processo foram consideradas de suma importância para a

qualidade do Projeto de Pesquisa, pois continham ferramentas que auxiliavam na

identificação, implantação e melhoria da competitividade através da utilização da P+L.

Através destas publicações foi montada a base teórica para a elaboração do Guia de Práticas

de P+L. As publicações e seus respectivos autores encontra-se enumerados no Erro! Fonte

de referência não encontrada..

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Figura 2 - Trabalhos selecionados sobre P+L

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A análise crítica da Revisão Sistemática é proporcionada pela adequação dos trabalhos aos

critérios de inclusão e exclusão do Protocolo de Pesquisa. Ao final, a base de dados formada

pelos artigos da Revisão pode responder as Seguintes questões: I)Quais as barreiras para a

implantação da P+L na indústria? II)Quais as etapas de implantação da P+L na indústria?

III)O que é um modelo de gestão sustentável? IV)Quais são os indicadores de P+L? V) O que

é Produção mais Limpa? VI) Quais ferramentas podem levar uma empresa a Produção

Sustentável? A Tabela 1 associa a publicação que responde a cada questão proposta no

protocolo de Pesquisa.

Artigo/Questão I II III IV V VI

1 X

2 X

3 X

4 X

5 X

6 X

7 X

8 X

9 X

10 X

11 X

12 X

13 X

14 X

15 X

16 X

17 X

18 X

19 X

20 X

21 X

22 X

23 X

24 X

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Tabela 1 – Publicações Associadas à questão de pesquisa

As maiores incidências de publicações encontradas foram àquelas escritas entre os anos de

2009 e 2010, como mostra a Figura 3. Destes trabalhos foram extraídas ferramentas e práticas

que levam uma indústria a conquistar a Produção Sustentável e a competitividade através da

Produção Mais Limpa.

Figura 3 - Quantidade de Artigos Selecionados em relação ao Ano de Publicação

A etapa final da Revisão Sistemática envolveu o estudo da qualidade e o reconhecimento das

publicações e práticas sobre P+L. Através da Revisão foi possível não só identificar o que já

havia sido publicado sobre o tema, mas também o que realmente interessava a respeito do

tema da Produção Mais Limpa. Pela Figura 4 mostra que Inovações no Processo e Ciclo de

Vida dos Produtos são o principal alvo das pesquisas atuais, portanto não podem ficar de fora

da atuação do Guia de Práticas de P+L

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Figura 4 - Incidência de Práticas de P+L

3. Produção Mais Limpa

3.1. Conceitos e definições

De acordo com Mello et al (2002) a P+L surgiu através da evolução da técnica de fim de tudo,

a qual é uma tecnologia utilizada para remediar os impactos ambientais decorrentes dos

processos produtivos, usadas no tratamento, minimização e inertização de resíduos, efluentes

e emissões, visando evitar que a poluição gerada seja diluída no meio ambiente

Após a United Conference on the Human Environment em 1972 deu-se o passo inicial com

gestão da conformidade, colocando processos e métodos de acordo com as diretrizes

ambientais. A P+L veio em seguida como ferramenta ativa na melhoria de processos e

redução do impacto ambiental da organização. Da Eco-Eficiência surgiu a visão de promover

um desenvolvimento econômico ao mesmo tempo que se gerava a proteção ambiental.

Seguindo essa evolução, de acordo com MAN (1994) a tecnologia mais atual é a Produção

Sustentável, é a produção e utilização de bens e serviços para satisfazer necessidades básicas e

a melhoria da qualidade de vida, minimizando o uso de recursos naturais, materiais tóxicos e

geração de resíduos e poluentes ao longo do ciclo de vida do produto. A evolução dos

sistemas de produção sustentáveis pode ser resumida em quatro etapas, descritas na

Fonte:Adaptado de ARAÙJO (2010)

Figura 5, de acordo com Araújo et al (2011).

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Fonte:Adaptado de ARAÙJO (2010)

Figura 5 - Evolução dos sistemas de produção sustentáveis.

São tecnologias que continuam em evolução , assim como o Eco-design, que de acordo com

Borchardt et al (2007) tem como principal objetivo o a redução do impacto ambiental na

melhoria do método de desenvolvimento de produtos, ampliando as possibilidades do uso da

criatividade para gerar produtos e processos mais eficientes sob o ponto de vista da

sustentabilidade, buscar soluções efetivas para os sistemas produtivos e ter produtos com

design mais atrativo.

Análise sustentável do ciclo de vida dos Produtos

Lindahl(1999) cita técnicas que auxiliam no desenvolvimento de produtos, o DFE, Checklists

e o E-FMEA tais técnicas podem ajudar na identificação de resíduos e desperdícios no

processo produtivo. De acordo com Masera et al(2003) e O’Connor(2005) o Eco-Design é um

fator chave para o processo de desenvolvimento de produtos e melhoria da lucratividade. Os

autores levantam a necessidade de diversificação nos produtos vendidos e a necessidade da

redução do impacto ambiental no processo produtivo. Kmita et al(2005) propõe que o design

sustentável prevaleça desde o nível estratégico na concepção do produto, passando pela

seleção de materiais e estudo do mercado consumidor até o operacional no monitoramento do

ciclo de vida do produto no mercado.

Uma indústria sustentável é vista por Rui (2008) como aquela que adota um sistema cíclico de

consumo de recursos de forma que todos os resíduos de um processo possa ser reaproveitado

por outro sem desperdícios através de balanceamento de trabalho e energia. As formas de

produção tradicionais são vistas por Santos et al(2010) como ultrapassadas e poluentes, uma

Produção Sustentável é aquela que visa os 6R’s sendo eles: Re-manufaturar, Re-projetar,

Recuperar, Reutilizar, Reciclar e Reduzir.

Sistema de Gerenciamento Ambiental

Mirek, Froehlich (2004) relatam através de estudos de caso a experiência de implementação

de um Sistema de Gerenciamento Ambiental em uma indústria, tal experiência de acordo com

os autores mostrou que independentemente dos objetivos da organização a implementação do

SGA depende da qualificação técnica, conscientização dos funcionários, disponibilidade de

recursos e investimentos por parte do alto escalão da organização além do mais os benefícios

com o SGA são aprimoramento do processo produtivo e medição da confiabilidade das

decisões tomadas.

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Produção Enxuta

Existem diversas técnicas que não são aplicadas diretamente para a resolução de problemas

ambientais, mas o seu uso pode acarretar benefícios para a organização e o meio ambiente. De

acordo com Araújo et al(2010) a Produção Enxuta é uma forma de mudança organizacional

de retorno rápido e sem grandes investimentos que pode garantir a economia de material,

tempo de trabalho e melhoria do processo produtivo. A mesma forma de pensar é proposta

por Fagundes et al(2010) que através de um estudo de caso propõe que as melhorias venham

das fontes poluidoras através da melhoria no produto, substituição de matérias primas por

outras mais limpas e reciclagem interna.

Indicadores Ambientais

De acordo com Paveloski et al(2010) utilização de indicadores ambientais para

monitoramento de práticas de gestão ambiental deve ser padronizada com a normas

internacionais GRI. O relatório de sustentabilidade é a principal ferramenta de

comunicação do desempenho social, ambiental e econômico das organizações. Seu processo

de elaboração contribui para o engajamento das partes interessadas da organização, a reflexão

dos principais impactos, a definição dos indicadores e a comunicação com o público de

interesse.

De acordo com Pedrini et al(2008) a medição de Eco-eficiência em uma indústria pode ser

feita com utilização de seis indicadores: O primeiro é o indicador de eco-eficiência, que pode

ser obtido pela razão entre o valor econômico gerado (VEG) e o impacto ambiental causado

(IAC).O segundo indicador a ser utilizado é relativo ao consumo de água no sistema

produtivo.O terceiro indicador analisado é o consumo de energia da empresa.O quarto

indicador a ser utilizado é relativo à geração total de resíduos líquidos e sólidos da empresa,

onde se inclui também a emissão de elementos particulados.O próximo indicador é referente à

emissão de gases de efeito estufa e o último indicador é o da emissão de elementos

acidificantes.

3.2. Barreiras para a Implantação da P+L

Apesar das vantagens ambientais e econômicas provenientes da aplicação da P+L, seu uso

ainda se encontra bem limitado no Brasil. Existem barreiras internas às empresas para a

Implantação da P+L. Figueiredo(2004) demonstrara através de estudos que os principais

empecilhos para o desenvolvimento da P+L em uma organização podem ter origem

econômica, política, organizacional, técnica ou conceitual, conforme é classificado pela

Figura 6.

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Figura 6 - Barreiras para o Implantação da P+L

Por mais que seja necessário e fácil utilizar programas como a P+L, percebe-se que uma parte

significativa das principais barreiras está relacionada com o comportamento e educação das

pessoas envolvidas na organização, também estão presentes as barreiras sistêmicas, culturais,

técnicas e até mesmo econômicas. Sendo assim, a divulgação do conceito de Produção Mais

Limpa é uma importante ferramenta de sensibilização das pequenas e micro empresas na

implantação de Produção Mais Limpa. Segundo Vickers et al(1999), a Produção Mais Limpa

é um complexo processo interativo onde a aprendizagem individual e do grupo pode ser

traduzida em aprendizagem organizacional.

4. Oportunidade de Usar P+L em empresas de pequeno porte

A Estrutura do Guia de Práticas de P+L possibilitará o desenvolvimento de produtos e

operações dentro dos conceitos e princípios básicos de sustentabilidade industrial com a

divulgação de práticas de manufatura sustentável entre qualquer indústria, independente do

ramo ou atuação. A empresa seria beneficiada com o passo a passo de uma gestão de

estratégias de produção mais sustentáveis não só para o cumprimento da legislação ambiental,

mas também para obter competitividade no mercado e inovação nos processos.

O levantamento e definição das práticas de gestão e avaliação da sustentabilidade (Eco-

Eficiência e Avaliação do desempenho Ambiental) podem ser utilizados para criar valor

econômico, promoção da inovação contínua e garantir os requisitos básicos de

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sustentabilidade industrial. Na Figura 7 são destacadas as fases que descrevem a versão inicial

da Estrutura de Uso de Práticas de P+L proposta pelos autores, tais fases serão validadas e

estruturados mediante os resultados obtidos na análise da Pesquisa de Campo.

Figura 7 - Etapas para a Implantação da P+L

Por meio das pesquisas realizadas pelos pesquisadores, foram elaboradas / propostas 7

etapas que podem ser seguidas para implantar práticas de P+L em uma empresa do setor de

manufatura, especificamente, pequenas empresas.

Etapa 1. Comprometimento da empresa e dos funcionários, devido às mudanças geradas

com processo, apresentando a metodologia e formando o ECOTIME, que são

equipes com a função de repassar a metodologia da P+L aos demais

funcionários da empresa.

Etapa 2. Pré-avaliação da empresa, para saber como está o licenciamento ambiental na

empresa, juntamente com a elaboração de fluxogramas dos processos, afim de

ter uma melhor visualização de todos os passos de um processo e do modo que

estão relacionados entre si, e por meio de fluxogramas elaborar tabelas

quantitativas.

Etapa 3. Definir indicadores, que serão utilizados para monitorar a empresa. Coletar e

avaliar dados de entradas e saídas, para definir onde serão realizadas as

medições efetivas. Identificar barreiras que poderão comprometer o trabalho de

implantação da P+L.

Etapa 4. Definição das etapas, processos, produtos e equipamentos que serão

priorizados para as efetivas medições. Realização dos balanços de massa e de

energia, definindo os pontos críticos das medições, onde devera ser feito um

fluxograma específico para a realização desse balanço.

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Etapa 5. O ECOTIME devera fazer a avaliação de causas de geração de cada resíduo

identificado. Desenvolvimento de alternativas de melhoria para a geração de

resíduos, utilizando as opções de P+L para deixar de gerar resíduos.

Etapa 6. Avaliação técnica, onde são investigadas as propriedades e requisitos das

matérias primas, avaliação econômica, através de um estudo de viabilidade, e

por fim a avaliação ambiental de cada opção identificada entre as diversas

oportunidades de P+L. Em seguida fazer a escolha da opção identificada para a

redução de resíduos. Feita a avaliação das diversas opções identificadas para a

redução do resíduo, devera ser feita a escolha daquela que apresente a melhor

condição técnica, com os maiores benefícios ambientais e econômicos.

Etapa 7. O responsável pela implantação da metodologia de P+L deverá definir o

momento de implantação das melhorias. Elaboração de um plano de

monitoramento e continuidade para avaliação do desempenho ambiental.

5. Considerações Finais

A proposta do Guia para a implantação da Produção Mais Limpa voltado para Pequenas e

Médias Empresas do Setor Metal-Mecânico da região de Maringá/PR, busca promover a

competitividade, a lucratividade e sustentabilidade dos processos industriais.

Os métodos utilizados para a pesquisa foram a Revisão Sistemática e Pesquisa de Campo. A

Revisão Sistemática obteve como resultados as principais ferramentas para a implantação da

P+L, ou seja: Eco-design, Sistema de Gerenciamento Ambiental, Indicadores Ambientais,

Produção Enxuta assim como as barreiras de implantação da mesma.

A importância da etapa da Pesquisa de Campo aplica-se no contexto de proporcionar ao

pesquisador o conhecimento daquilo que a indústria está fazendo para atingir a

sustentabilidade, além do mais será utilizado um questionário Survey que irá produzir

informações quantitativas sobre a população de PMEs da região de Maringá alvo do estudo,

tais informações serão selecionadas por um critério estatístico que proporcionará uma visão

dos métodos e práticas de Produção Mais Limpa utilizada pelas PMEs.

Do Guia de Práticas de P+L é exposta uma versão inicial com uma estrutura de 7 etapas ditas

essenciais para uma empresa conquistar a Sustentabilidade do Processo e do Produto. Tais

etapas ainda passarão por validação por parte da Pesquisa de Campo, que adequará a literatura

ao cotidiano de trabalho das Pequenas e Médias Empresas da região de Maringá/PR.

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