Uso de sêmen girolando Novos produtores como estratégia de ... · Thiago Camacho Rodrigues...

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Edição 286 Ano XXII Fevereiro de 2013 Viçosa-MG O Brasil é um país tropical carac- terizado por possuir um clima com temperaturas médias acima dos 20ºC. Animais de raças europeias (Holan- dês) não conseguem responder bem a esse tipo de clima, pelo fato de so- frerem um desconforto gerado por estresse térmico e também pela pre- sença de ectoparasitas. Isso interfere diretamente na resposta produtiva desses animais gerando prejuízos ao produtor. Para contornar essa situação, há al- guns anos está sendo introduzido o cruzamento de vacas holandesas com touros zebuínos, gerando o animal girolando, buscando aliar rusticidade e produtividade. O produtor Hermann Müller possui sua propriedade situada em Visconde do Rio Branco-MG, cujo clima é bas- tante quente, principalmente nessa época do ano. O manejo dos animais de produção é feito totalmente a pas- to na época das águas e confinado no período da seca, a recria é feita a pas- André Souza Oliveira Estudante de Medicina Veterinária Paulo Jacques M. Freitas Estudante de Agronomia Momento do Produtor: Áureo Alcântara - Fazenda Tum-Tum Dicas do Veterinário: Prevenção e controle da neosporose em bovinos leiteiros Qualidade do leite: Seleção Genética para sólidos no leite Transferência de embrião p. 3 p. 2 p. 4 p. 2 Uso de sêmen girolando como estratégia de cruzamento to todo o ano, com uma suplemen- tação de volumoso e concentrado no período da seca e as vacas secas são alimentadas durante todo o ano a pasto. Devido a este manejo e o cli- ma da região, o produtor precisa de animais rústicos e produtivos, para a propriedade continuar a ter os bons índices econômicos e zootécnicos demonstrados. Esta é uma caracterís- tica dos animais girolando, que alia a rusticidade do Gir (Zebu), a alta pro- dutividade do Holandês (Europeu). Esse trabalho está gerando bons resultados para a propriedade, visto que as vacas com sangue girolando são mais rústicas, sofrem menos a interferência do calor, e com isso ob- têm índices reprodutivos, de ganho de peso e de produção de leite bas- tante satisfatórios. Vamos demons- trar a média de um lote de animais ¾ HZ, filhas de touro girolando ¾ HZ (sêmen provado) com vacas girolan- do ¾ HZ obtidos na propriedade: • Pico Lactação: 23,3 L/dia • Período de Lactação: 11,2 Meses • Média das Lactações Fechadas: 5.266,6 Litros Através dos resultados apresentados acima, pode-se concluir que o uso de touros da raça girolando é uma boa alternativa para nossos produtores. Desde fevereiro deste ano, o nosso Programa conta com novos parceiros produtores de lei- te. Ao final de cada ano, fazemos um balanço do desenvolvimento de cada produtor parti- cipante do PDPL-RV. Aqueles produtores que não estiverem comprometidos com a evolução da sua propriedade e desta forma, contribuin- do para alcançarmos o principal objetivo do Programa, que é a formação de profissionais especialistas em produção de leite, são convi- dados a deixar o PDPL-RV, disponibilizando vagas para outros produtores interessados. Da mesma forma que acontece com os estu- dantes da UFV, há uma lista de espera com os produtores interessados em participar do Pro- grama, sendo que a espera por uma vaga cos- tuma ser longa, em torno de 2 anos. Portanto, no início deste ano ingressaram 6 novas pro- priedades, localizadas há uma distância máxi- ma de 60 km de Viçosa e que vendem o leite produzido para um laticínio que se submeta a algum tipo de inspeção, seja municipal, es- tadual ou federal. Sendo assim, atualmente o PDPL-RV atende a 39 produtores e a 44 pro- priedades. Os novos produtores que ingressaram são: Alessandro Barletta Gomes, proprieda- de situada no município da Ubá/MG. A fazenda tem um grande potencial, está pra- ticamente iniciando na ati- vidade leiteira, tendo como diferencial o seu retireiro, que já trabalhou em uma propriedade que era atendi- da pelo PDPL-RV, portanto já conhece a forma de traba- lho do Programa; Joaquim Campos Júnior, proprieda- de situada no distrito de Ubari. A fazenda é muito grande, com muita água e pastagem formada, tendo um grande potencial para produzir leite com baixo custo, está iniciando na atividade leiteira migran- do da pecuária de corte; Christiano Nascif Zootecnista/coordenador técnico do PDPL-RV Novos produtores participantes do PDPL-RV José Mauro do Carmo, propriedade no município de Viçosa. A propriedade é administrada pelo proprietário, o senhor José Mauro, o que é uma grande vantagem. Já traba- lha com a atividade leiteira há mais tempo, tem um re- banho geneticamente me- lhorado, conferindo uma possibilidade de evolução na produção de leite da propriedade. Rafaela Araújo de Castro, propriedade situada no município de Guaraciaba. A proprie- dade vem sendo imple- mentada há 3 anos, ini- ciando na produção de leite praticamente há 12 meses. Tem ótima estru- tura, um gado jovem de boa procedência e o mais importante, os proprietá- rios empolgados e comprometidos com o desenvolvimento da atividade leiteira de forma sustentável. Paulo Bitarães, propriedade no muni- cípio de Viçosa. A fazenda é dotada de boa estrutura e se encontra em fase do aumento do rebanho e o principal, muito volumoso, ou seja, alimentação não é o problema, possibilitando vislumbrar uma maior pro- dução de leite. José Antônio Lelis, propriedade no muni- cípio de Viçosa. A ativida- de leiteira está bem estru- turada, com boa produção de volumoso, faltando no momento alguns ajustes de manejo que irão contri- buir para aumentar a pro- dução de leite. Enfim, pelas características das proprie- dades podemos afirmar que estes parcei- ros vão dar certo e que, reforçarão o nosso Programa, tornando-o cada vez mais pu- jante, formando competentes especialistas e tornando a atividade leiteira um bom negócio para o produtor. Touro Girolando

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Edição 286 • Ano XXII • Fevereiro de 2013 • Viçosa-MG

O Brasil é um país tropical carac-terizado por possuir um clima com temperaturas médias acima dos 20ºC. Animais de raças europeias (Holan-dês) não conseguem responder bem a esse tipo de clima, pelo fato de so-frerem um desconforto gerado por estresse térmico e também pela pre-sença de ectoparasitas. Isso interfere diretamente na resposta produtiva desses animais gerando prejuízos ao produtor.

Para contornar essa situação, há al-guns anos está sendo introduzido o cruzamento de vacas holandesas com touros zebuínos, gerando o animal girolando, buscando aliar rusticidade e produtividade.

O produtor Hermann Müller possui sua propriedade situada em Visconde do Rio Branco-MG, cujo clima é bas-tante quente, principalmente nessa época do ano. O manejo dos animais de produção é feito totalmente a pas-to na época das águas e confinado no período da seca, a recria é feita a pas-

André Souza Oliveira Estudante de Medicina Veterinária

Paulo Jacques M. Freitas Estudante de Agronomia

Momento do Produtor:Áureo Alcântara - Fazenda Tum-Tum

Dicas do Veterinário:Prevenção e controle da neosporose em bovinos

leiteiros

Qualidade do leite:Seleção Genética para

sólidos no leite

Transferência de embrião

p. 3p. 2 p. 4p. 2

Uso de sêmen girolando como estratégia de

cruzamentoto todo o ano, com uma suplemen-tação de volumoso e concentrado no período da seca e as vacas secas são alimentadas durante todo o ano a pasto. Devido a este manejo e o cli-ma da região, o produtor precisa de animais rústicos e produtivos, para a propriedade continuar a ter os bons índices econômicos e zootécnicos demonstrados. Esta é uma caracterís-tica dos animais girolando, que alia a rusticidade do Gir (Zebu), a alta pro-dutividade do Holandês (Europeu).

Esse trabalho está gerando bons resultados para a propriedade, visto que as vacas com sangue girolando são mais rústicas, sofrem menos a interferência do calor, e com isso ob-têm índices reprodutivos, de ganho de peso e de produção de leite bas-tante satisfatórios. Vamos demons-trar a média de um lote de animais ¾ HZ, filhas de touro girolando ¾ HZ (sêmen provado) com vacas girolan-do ¾ HZ obtidos na propriedade: •PicoLactação:23,3L/dia•PeríododeLactação:11,2Meses•MédiadasLactaçõesFechadas: 5.266,6LitrosAtravés dos resultados apresentados

acima, pode-se concluir que o uso de touros da raça girolando é uma boa alternativa para nossos produtores.

Desde fevereiro deste ano, o nosso Programa conta com novos parceiros produtores de lei-te. Ao final de cada ano, fazemos um balanço do desenvolvimento de cada produtor parti-cipantedoPDPL-RV.Aquelesprodutoresquenão estiverem comprometidos com a evolução da sua propriedade e desta forma, contribuin-do para alcançarmos o principal objetivo do Programa, que é a formação de profissionais especialistas em produção de leite, são convi-dadosadeixaroPDPL-RV,disponibilizandovagas para outros produtores interessados.

Da mesma forma que acontece com os estu-dantes da UFV, há uma lista de espera com os produtores interessados em participar do Pro-grama, sendo que a espera por uma vaga cos-tuma ser longa, em torno de 2 anos. Portanto, no início deste ano ingressaram 6 novas pro-priedades, localizadas há uma distância máxi-ma de 60 km de Viçosa e que vendem o leite produzido para um laticínio que se submeta a algum tipo de inspeção, seja municipal, es-tadual ou federal. Sendo assim, atualmente o PDPL-RVatendea39produtoresea44pro-priedades.

Os novos produtores que ingressaram são:

•Alessandro Barletta Gomes, proprieda-de situada no município da Ubá/MG.Afazendatemumgrande potencial, está pra-ticamente iniciando na ati-vidade leiteira, tendo como diferencial o seu retireiro, que já trabalhou em uma propriedade que era atendi-da pelo PDPL-RV, portantojá conhece a forma de traba-

lho do Programa;

• Joaquim Campos Júnior, proprieda-de situada no distrito de Ubari. A fazenda é muito grande, com muita água e pastagem formada, tendo um grande potencial para produzir leite com baixo custo, está iniciando na atividade leiteira migran-do da pecuária de corte;

Christiano NascifZootecnista/coordenador técnico do PDPL-RV

Novos produtores participantes do PDPL-RV

• José Mauro do Carmo, propriedade no município de Viçosa. A propriedade é administrada pelo proprietário, o senhor José Mauro, o que é uma grande vantagem. Já traba-lha com a atividade leiteira há mais tempo, tem um re-banho geneticamente me-lhorado, conferindo uma possibilidade de evolução

na produção de leite da propriedade.•Rafaela Araújo de Castro, propriedade

situada no município de Guaraciaba. A proprie-dade vem sendo imple-mentada há 3 anos, ini-ciando na produção de leite praticamente há 12meses. Tem ótima estru-tura, um gado jovem de boa procedência e o mais importante, os proprietá-rios empolgados e comprometidos com o desenvolvimento da atividade leiteira de forma sustentável.

•Paulo Bitarães, propriedade no muni-cípio de Viçosa. A fazenda é dotada de boa estrutura e se encontra em fase do aumento do rebanho e o principal, muito volumoso, ou seja, alimentação não é o problema, possibilitando vislumbrar uma maior pro-dução de leite.

• José Antônio Lelis, propriedade no muni-cípio de Viçosa. A ativida-de leiteira está bem estru-turada, com boa produção de volumoso, faltando no momento alguns ajustes de manejo que irão contri-buir para aumentar a pro-dução de leite.

Enfim, pelas características das proprie-dades podemos afirmar que estes parcei-ros vão dar certo e que, reforçarão o nosso Programa, tornando-o cada vez mais pu-jante, formando competentes especialistas e tornando a atividade leiteira um bom negócio para o produtor.Touro Girolando

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Programa de DesenvolvimentodaPecuáriaLeiteirada Região de Viçosa

Publicação editada sob a responsabilidade do

CoordenadordoPDPL-RV:Adriano Provezano

Gomes

Jornalista Responsável:José Paulo Martins(MG-02333-JP)

Redação:Christiano Nascif

Zootecnista

Marcus Vinícius C. MoreiraMédico Veterinário

André Navarro LobatoMédico Veterinário

Thiago Camacho RodriguesEngenheiro Agrônomo

Diagramação e coordenação gráfica:

João Jacob Neide de Assis

EndereçodoPDPL-RV:Ed. Arthur Bernardes

Subsolo/Campus da UFVCep: 36570-000

Viçosa - MG

Telefax: (31) 3899 5250E-mail: [email protected]: www.pdpl.ufv.br

Facebook: Pdpl Minas Gerais

Jornal da Produção de Leite

1 - Medidas de controle da neosporose que podem ser adotadas?

R: Uma delas é evitar o con-tato de cães com o rebanho, a fim de prevenir a contamina-ção fecal das fontes de água, pastagens; também é recomen-dando o isolamento dos gal-põesde armazenamentode salmineral, ração e/ou silagem e

Dicas do Veterinário:

Prevenção e controle da neosporose em bovinos leiteiros

Marcos Nélio Marangon Júnior Estudante de Medicina Veterinária

o pré-parto. Outra alternati-va de controle seria identificar animais positivos(através de testes laboratoriais) e realizar o descarte dos mesmos, ou iden-tificar a neosporose em animais antes de comprá-los, evitando a introdução da doença no reba-nho.

2 - Quais as perdas econômi-cas que a neosporose pode trazer para a atividade lei-teira?

R: As perdas econômicas por neosporose em bovinos são altas, não se limitando apenas aos abortamentos como mui-tos produtores pensam, mas também ao descarte prematu-ro de matrizes; a mortalidade neonatal de bezerros; os gastos com medicamentos e reposição de animais, também devem ser incluídos na contabilização dos prejuízos.

3 - Existe vacina para prevenir o aborto causado pela ne-osporose?

R: Sim, mas ainda está em fase de teste em várias partes do mundo e com resultados pouco satisfatórios. Portanto, na pre-venção do aborto pela neospo-

rose ainda não podemos contar com a vacinação, dessa forma, devemos garantir um bom es-tado nutricional das vacas pre-nhes, porque irá ajudar a redu-zir os riscos de aborto entre os animais contaminados.

4 - Qual a importância do es-tágio da gestação no qual ocorre a infecção pelo Ne-ospora caninum?

R: É importante para deter-minar o resultado da doença. Infecções adquiridas no inícioda prenhez, antes do feto bo-vino desenvolver seu sistema imunológico (sistema de defe-sa do organismo), leva a morte fetal e reabsorção. Infecção no meio da gestação pode resul-tar em aborto. Já a infecção da vaca no período final da gesta-ção, quando o feto já possui seu sistema imunológico desenvol-vido, ocorre o parto normal, porém o bezerro pode ser con-genitamente infectado (nasce infectado com a doença porém aparentemente normal). O nas-cimento de bezerras infectadas congenitamente, porém clini-camente normais é de grande impacto negativo, pois trans-mitem a infecção a suas futuras

Transferência de embrião

A transferência de embrião consiste em uma técnica onde coletamos embriõesde uma doadora e transferi-mos para vacas receptoras. Esta técnica apresenta como principal vantagem o fato de

João Márcio AlvimEstudante de Medicina Veterinária

crias, e não são identificadas facilmente no rebanho.

5 - Como controlar a infecção congênita (transmissão via placentária) no rebanho?

R: Através da redução do nú-mero de animais infectados mediante o descarte e a reposi-ção seletiva.

6 - Deve-se eliminar todas as vacas positivas do reba-nho?

R: As medidas de controle de-vem atingir todo o rebanho, sempre em função das taxas de animais positivos e aborto. A eliminação das vacas positivas pode ser a medida mais ade-quada se esse número for baixo, porém se for elevado, as açõesa serem tomadas não devem ser tão drásticas. Nos animais positivos podem ser encontra-dos diferentes tipos de mani-festações, que influenciarão nadecisão a ser tomada. Vacas que abortaram uma ou mais vezes devem ser priorizadas para des-carte. Vacas positivas, porém sem antecedentes de aborto, podem continuar no rebanho, devendo-se evitar a utilização de suas bezerras para reposição.

7 - O que fazer com uma vaca de alto valor zootécnico positiva para Neospora ca-ninum?

R: Uma alternativa seria utilizá--la como doadora para trans-ferência de embriões, não seesquecendo que a receptora obrigatoriamente deve ser ne-gativa para Neospora caninum. Com o emprego dessa biotec-nologia não descartamos esse animal de alto valor genético, e ainda controlamos a infec-ção congênita(vertical). Outra alternativa é utilizá-la na pro-dução de leite, não aproveitan-do sua cria para reposição do plantel.

Conclui-se, que a neosporose é um problema sério que ocor-re no rebanho leiteiro brasileiro, mas talvez pela pouca informa-ção e até mesmo por ser uma doença descoberta recentemen-te, não é dada a importância que se deveria dar, principalmente através de testes de diagnóstico, uma vez que a Neosporose causa enormes prejuízos econômicos aos produtores. Somente uma campanha de divulgação e cons-cientização dos produtores po-derá amenizar esses prejuízos.

Seleção dos embriõesEmbriões

se obter um maior número de descendentes de um mesmo animal, este com elevado va-lor genético, produtivo e em um menor período.

Para o sucesso desta técnica é necessário que se tenha um controle sanitário, zootécni-co e nutricional do rebanho, além de uma adequada sele-ção das doadoras e receptoras.

Com o intuito de melho-rar a genética dos rebanhos, multiplicar vacas com ca-racterísticas desejáveis para produção leiteira, aumentar a produção de leite das pro-priedades e tornar esta téc-nicamaisdifundida,oPDPL– RV buscou meios, adquiriu material e estará iniciando esta prática nas propriedades

atendidas. Os produtores que desejam utilizar desta tecnologia devem conversar os estagiários e técnicos res-ponsáveis pela propriedade para que se iniciem os pla-nejamentos e a técnica pos-sa ser aplicada. Brevemente estaremos colhendo frutos desta tecnologia.

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3Vista parcial da propriedade

A fazenda Tum-Tum, proprie-dade do Sr. Áureo de Alcântara Ferreira, localiza-se no município de Guaraciaba, na Zona da Mata Mineira. Fundada em 2005, possui 53hectares,dosquais25compre-endem a Mata Nativa. Dos 28 hec-tares destinados à pecuária leiteira, 8,6 hectares são utilizados para a culturadomilhoparasilageme0,3ha para o plantio de capim-elefante. O restante é composto por pasta-gem de Braquiária, a qual é subdi-vidida em 5 áreas menores. Torna--se importante relatar que a fazenda possui várias nascentes na porção de Mata Nativa, responsáveis pelo abastecimento da casa sede, casa do funcionário, curral e bebedou-ros para os animais. O excedente é direcionado para os 2 açudes que represam a água. Futuramente esta será utilizada no projeto de irriga-ção para o plantio da cultura para safrinha.

Desde o ano de sua fundação, construiu-se na fazenda instala-çõesebenfeitoriaseinvestiu-seemabertura de estradas e formação de pastagens. Esta última foi precedida da recuperação do solo através da tecnologia de adubação verde nas áreas mais íngremes e deterioradas e correção com calcário, seguida de dois anos consecutivos de plan-tio de milho grão nas áreas mais nobres de baixada. Desta forma, a partir do segundo ano, formou-se a pastagem adubada de Braquiária.

Enquanto tais estruturas eram erguidas, certo de que a proprie-dade se destinaria à produção lei-teira, o Sr. Áureo adquiriu novilhas de aproximadamente 1 ano, comgraus de sangue que variavam do ½ Holandês-Zebu ao 7/8 Holandês--Zebu.

Momento do produtor: Áureo Alcântara - Fazenda Tum-Tum

AlomaEitererLeãoEstudante de Medicina Veterinária

Yuri César TristãoEstudante de Agronomia

BrunaPereiraLeonelEstudante de Zootecnia

JáemMarçodoanode2009,seinscreveu e passou a integrar o gru-po dos produtores de leite assistidos pelo Programa de Desenvolvimen-todaPecuáriaLeiteiradaRegiãodeViçosa(PDPL-RV).Contandocoma assistência técnica e gerencial de técnicos e estagiários, o produtor atuou elaborando a sala de ordenha (com a ordenhadeira mecânica no modelo espinha de peixe de quatro conjuntos); a pista de alimentação com dois acessos, nos quais são divididos os lotes de vacas em lac-tação; a divisão dos pastos destina-dos aos lotes em recria, entre outras atuaçõesgerenciaisqueauxiliaramem tomadas de decisão imediatas e definiçõesdemetasfuturas.

Até o último ano, a cana-de-açú-car era plantada em uma área de 2,0 hectares e fazia parte da alimenta-ção dos animais. Contudo, perante a dificuldade com mão-de-obra para manejá-la, foi substituída pelo plantio de milho para silagem. Esta última é fornecida no cocho junta-mente com o concentrado, calcula-do com base na produção de leite, período de lactação e condição de escore corporal. Embora o sistema de criação seja classificado como semi-intensivo, uma vez que as vacas em lactação vivem parcial-mente a pasto, a dieta das mesmas é fechada no cocho, ignorando-se a participação da pastagem em sua nutrição.

Quando o silo é esgotado, as ne-cessidades de volumoso da dieta no restante do ano são supridas pela capineira. Tendo em vista a evolu-ção do plantel, torna-se necessário a maior produção de volumoso de qualidade, desafio que pode ser potencialmente vencido a partir da conversão de áreas de pasto possi-velmente mecanizáveis em áreas de plantio de cultura de milho. Além disso, planeja-se expandir a área onde é plantada o capim-elefante.

Ainda sobre o manejo alimentar, é importante ressaltar que o proprie-tário planeja compras estratégicas de milho grão, armazenado em um silo vertical adquirido no último ano. Tal ingrediente é processado dentro da propriedade, o que ga-rante um concentrado de qualidade

e obtido por menores preços.Relativo à mão-de-obra, a fazenda

é composta por três competentes funcionários: Sinésio (Preto), res-ponsável primariamente pelo trato das vacas; Geraldo, encarregado pelas funções de reparos gerais eLílian,arecém-contratadarespon-sável pelas duas ordenhas diárias.

Atualmente, a propriedade pos-sui um rebanho que conta com 26 vacasem lactaçãoe4vacas secas.Os lotes dos animais em recria apresentamumtotalde38animais,subdivididosem24novilhasemre-produçãoe14novilhasemrecria.Acriapossuiapenas1bezerraemaleitamento,mastambémabriga1dos3machosdafazenda.Soma-seaorebanho1animaldeserviçouti-lizado para a atividade leiteira.

Os animais da cria são maneja-dos em um sistema de bezerreiro individual do tipo contínuo e apre-sentam um ganho de peso médio de 700g diários. Porém, tal setor está sofrendo uma reforma que objetivamelhorescondiçõesaestacategoria, o que inclui uma cons-trução parcialmente de alvenaria com capacidade para 8 animais, bebedouros automáticos e plantio de tífton como forrageira. Já o ma-nejo da cria que emprega o pastejo rotacionado (inclusive em áreas ar-rendadas), proporciona um ganho de peso médio diário de 600g, o que provoca uma idade à primeira inseminaçãode24mesescomcon-sequente idade ao primeiro parto de33meses.

Ainda se falando em manejo re-produtivo, cita-se que o intervalo entre partos encontra-se em 13,5meses. Para a inseminação arti-ficial, atualmente utiliza-se os sê-mens de touros Holandeses, Jersey e Gir, uma vez que o antigo touro Holandês responsável pela monta natural pertencente à propriedade e que gerou excelentes filhas, foi vendido. Justifica-se o atual repre-samento de animais na fase de re-produção (índice de vaca em lac-tação/total do rebanho resultandonobaixovalorde25,92%)pelousode sêmen sexado nas filhas gerados pelo touro Holandês, já que estas

não emprenharam e não saíram desta categoria. Tal condição se re-fleteemumrebanhodecomposi-ção não estabilizada.

Planeja-se que seja implantada a tecnologia de Inseminação Artifi-cial em Tempo Fixo e o produtor demonstra grande interesse pela técnica de Transferência de Em-briões,que embreve serápratica-da pelos Médicos Veterinários do PDPL-RV.A produçãomédia de 400 litros

diários é de um leite de destaque no que se refere à qualidade, com perdaestimadade2%no testedeCMT. Fruto de um correto mane-jo de vacas leiteiras e da adoção de boas práticas de higiene durante a ordenha, a propriedade ocupa sempreas10melhorescolocaçõesquando se avalia a CCS e CBT, cor-respondenteaosvaloresde335000e 5000, respectivamente, segundo a última análise do leite (fevereiro de 2013).

Momento da premiação no 23º Torneio Leiteiro do PDPL-RV o produtor Áureo Alcântara contemplado pela Reitora/UFV Nilda de Fátima

Figura 04 - Gráfico de acompanhamento da análise de leite desde Abril/2011 até Novem-bro/2012.

Tais resultados comprovam que trabalhar com qualidade só traz eficiência à produção, inclusive no que se refere ao aumento no volu-me de leite, fato constatado com a premiação conquistada no 23ºTorneio Leiteiro promovido peloPDPL-RV: a Fazenda Tum-Tumrecebeuosprêmiosde3ªcoloca-da por Produção em conjunto de 5 animais de duas ordenhas e 2ªcolocada por Produção Individual de duas ordenhas.

O produtor Áureo Alcântara

acredita muito na atividade leitei-ra e por esta razão vem investindo constantemente em sua proprie-dade, objetivando conquistar a produção média diária de 1.000litros de leite. A boa relação de parceria com o Programa certa-mente facilitará que se alcance os resultados propostos pelo projeto adotado.

Observa-se abaixo alguns in-dicadores da Fazenda Tum-Tum referentes ao ano compreendido entre2011e2012:

Fonte: PCC-LEITE, IGP-DI UTILIZADO 02/2013

Indicadores da Fazenda Tum -Tum Unidade 2011/2012Produção média de leite L/dia 283,32Vaca em lactação/total de vacas % 74,15Vaca em lactação /Área para pecuária Cab./ha 0,44Produção/Vaca em lactação L/dia 13,63Produção/Área para pecuária L/ha/ano 2177,86CT do leite/preço do leite % 89,01Gasto com mão-de-obra na ativ/renda bruta do leite % 27,8Gasto com concentrado na ativ/renda bruta do leite % 31Taxa de remuneração do capital sem terra % a.a 11,6Taxa de remuneração do capital com terra % a.a 5,38

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Com base nas características da composição do leite dessas dife-rentes raças e cruzamentos cita-dos acima, o produtor deverá tra-balhar o melhoramento genético do seu rebanho para qualidade do leite, na escolha de animais mais adequados a essas características de acordo com o sistema de pro-dução de sua propriedade e bus-cando sempre o lucro máximo.

Várias empresas que trabalham com venda de sêmen já disponibi-lizam em seus catálogos de touros (leite), opções de animais prova-

dos positivos para sólidos. De-vem-se observar nas provas dos touros as características de produ-ção e percentuais em PTA de leite, gordura e proteína, que mostram o que se espera adicionar em mé-dia no volume dessas característi-cas das filhas desse touro. E o PTA %paragorduraeproteínasãodi-ferenças percentuais, onde valores positivos indicam um leite com mais alta concentração de gordura e proteína como mostrado na ta-bela(3)abaixo.

Na escolha do touro temos de observar as características apre-sentadas na tabela:• Dadosdeprodução(leite,pro-

teína e gordura): estima libras extras de leite, proteína e gor-dura esperadas a cada lactação das futuras filhas, quando com-paradas a uma filha de um tou-ro PTA zero.

• (%prot e % gord): estima ahabilidade do touro em trans-mitir proteína e gordura como porcentagem da produção de leite.

O touro da prova acima, eleva a produção média de suas filhas em 1296librasdeleitequeequivalea589kgdeleiteemrelaçãoabasegenética do rebanho. Além dis-soacrescenta0,03%e0,02%nospercentuais médios de suas filhas para proteína e gordura respecti-vamente.

A seleção genética é uma das melhores ferramentas para ele-var os teores de sólidos e assim aumentar a rentabilidade da ati-vidade leiteira, pelo aumento do preço do leite recebido.

Seleção Genética para sólidos no leite

Qualidade do leite

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As 10 maiores produções do mês de janeiro de 2013

As 10 maiores produtividades do mês de janeiro de 2013

10 melhores análises totais de bactérias CBT do mês de fevereiro de 2013

10 melhores análises do leite em CCS do mês de fevereiro de 2013

O cenário hoje, se reporta a uma tendência dos laticínios ba-lizarem o pagamento ao produ-tor a partir do teor de sólidos no leite, através de bonificação ou penalização do leite produzido, com isso, o produtor tem bus-cado melhorar a produção de sólidos no leite, principalmente teores de proteína e gordura.

Vários fatores interferem na qualidade do leite para os teores de sólidos (gordura e proteína), como: raça, genética, estágio de lactação, sanidade, conforto animal e nutrição. Mas é através da genética, por meio da sele-ção dentro da raça, entre raças, cruzamento de raças, a maneira mais segura e duradoura de se

melhorar esses teores de sólidos, além de se obter outros benefí-cios como obter crias mais pro-dutivas e longevas.

Os teores de proteína e gor-dura do leite variam de acordo com a raça. Assim, os teores de sólidos do leite podem ser au-mentados se o produtor utilizar raças produtoras de leite que possuam maiores teores desses nutrientes.Atabela(1)mostraaprodução média de leite e o teor médio de gordura e proteína do leite de vacas da raça holandesa, pardo-suíça e Jersey, destacan-do-se esta última. Já a tabela (2) mostra a produção de sólidos no leite conforme o grau de sangue (holandês X zebu), mostrando que a medida que se aumenta a fração de sangue zebuíno, eleva--se o teor de sólidos, contudo não se pode esquecer do volume de leite.

Fonte: USDA - Animal Improvement Programs Laboratory (2006)

Raças Kg de Kg de % de kg de % de leite gordura gordura proteína proteína

Holandesa 10.224 376 3,66 314 3,06Jersey 7.306 337 4,61 262 3,59Pardo-Suiço 8.223 336 4,06 280 3,37

Tabela 1. Composição do leite de diferentes raças especializadas no Brasil. Valores Médios.

Fonte: USDA - Animal Improvement Programs Laboratory (2006)

Holandesa 3/4 Hol x 5/8 Hol x 1/2 Hol x 3/4 Zebu x Zebu (HOL) 1/4 Zebu 3/8 Zebu 1/2 Zebu 1/4 Hol

Proteína,% 3,00 3,20 3,42 3,52 3,54 3,83Gordura,% 3,32 3,66 4,01 4,00 4,08 4,39Lactose,% 4,56 4,62 4,73 4,80 4,82 4,85ESD,% 8,26 8,52 8,85 9,02 9,06 9,43EST,% 11,58 12,18 12,86 13,02 13,14 13,82

Tabela 2. Composição do leite de vacas holandesas, zebuínas e mes-tiças nos trópicos.

Leite 1296 lb 77% Conf. Proteína $ +200 0,03% 48 lbGordura 0,02% 52 lb

Tabela 3. Prova Americana, touro holandês. (Produção e Teores de sólidos no leite).

FábioLuizPereiraFontesEstudante de Medicina Veterinária

Ord Produtor Município Produção

1 AntônioMariadaSilvaAraújo Cajuri 117656

2 JoséAfonsoFrederico Coimbra 57089

3 HermannMuller Visc.RioB 54438

4 PauloFrederico Araponga 42200

5 MarcoTúlioKfuriAraújo Oratórios 37200

6 CristianoJoséLana Piranga 26420

7 DanilodeCastro Ervália 24349

8 SérgioH.V.Maciel Coimbra 21250

9 LucianoSampaio Teixeiras 19908

10 OzananMoreira Ubá 19821

Ord Produtor Município Produtividade por Produtividade por vaca em lactação vaca total 1 AntônioMariadaSilvaAraújo Cajuri 27,1 20,19 2 OzananMoreira Ubá 22,0 19,38 3 JoséAfonsoFrederico Coimbra 21,9 17,54 4 DaviC.F.deCarvalho SenadorFirmino 23,4 16,34 5 CéliodeOliveiraCoelho PortoFirme 17,5 15,62 6 JoséFranciscoGomide Cajuri 16,3 15,48 7 AntônioCarlosReis Piranga 16,2 13,29 8 PauloFrederico Araponga 16,8 12,96 9 ÁureodeAlcântaraFerreira Guaraciaba 14,6 12,68 10 DanilodeCastro Ervália 16,4 12,66

Ord Produtor Município UFC (mil/ml)

1 AntônioMoreiraVieira PresidenteBernardes 2 2 EdmarLopes Canaã 4 3 ÁureodeAlcântaraFerreira Guaraciaba 5 4 JoséMaurodoCarmo Viçosa 5 5 Alaelson José da Silva Ubá 6 6 Davi C. F. de Carvalho Senador Firmino 8 7 Joao Bosco Diogo Porto Firme 8 8 Sérgio Henrique V. Maciel Coimbra 8 9 AntônioMariadaSilvaAraújo Cajuri 9 10 CléberLuisMagalhães Divinésia 9

Ord Produtor Município CCS (mil/ml)

1 JoséMaurodoCarmo Viçosa 151 2 AntônioMoreiraVieira PresidenteBernardes 216 3 AgenorAméricodaSilvaNeto Teixeira 232 4 DaviC.F.deCarvalho SenadorFirmino 232 5 AlaelsonJosédaSilva Ubá 235 6 RoqueMaciel Piranga 259 7 José Maria de Barros Presidente Bernardes 278 8 LucianoSampaio Teixeira 287 9 EdmarLopes Canaã 293 10 RafaelaAraújodeCastro Guaraciaba 303