Uso Tiririca Alporquia Ervamate
-
Upload
silvana-moreira -
Category
Documents
-
view
231 -
download
41
Transcript of Uso Tiririca Alporquia Ervamate
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ
INSTITUTO LATINO AMERICANO DE AGROECOLOGIA, EDUCAÇÃO,
CAPACITAÇÃO E PESQUISA DA AGRICULTURA CAMPONESA CONTESTADO
ESCOLA LATINO AMERICANA DE AGROECOLOGIA
CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM AGROECOLOGIA
LAPA- PARANÁ
AVALIAÇÃO DA EMISSÃO DE RAÍZES EM ALPORQUIA DE ERVA MATE
LUIZ CARLOS SCHMIDT BUENO
LAPA - PR
MARÇO - 2010
LUIZ CARLOS SCHMIDT BUENO
AVALIAÇÃO DA EMISSÃO DE RAÍZES EM ALPORQUIA DE ERVA MATE
Trabalho apresentado ao Instituto Federal do Paraná e a Escola Latino Americana de Agroecologia - ELAA, como uma das exigências para a conclusão do curso superior de Tecnologia em Agroecologia. Orientadora: Profª Silvana dos Santos Moreira
Co-orientador: Vagner Lopes da Silva
LAPA – PR
MARÇO - 2010
Dedico este trabalho as
camponesas e camponeses,
que lutam por um mundo
melhor, com igualdade social.
AGRADECIMENTOS
A Via Campesina por possibilitar uma formação técnica, política, ideológica e
científica.
A Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia – AOPA, pela
oportunidade de estudar no curso de Tecnologia em Agroecologia, e pelo apoio e
ajuda fornecido.
A minha orientadora de pesquisa Silvana dos Santos Moreira pela orientação e
atenção recebida.
Ao meu co-orientador Vagner Lopes da Silva, pela sua contribuição.
A minha família que sempre me incentivou ao estudo, em especial a minha
companheira Luci Maria Hoffmann, que sempre esteve ao meu lado, nos
momentos mais difíceis .
Aos educadores (as) e trabalhadores (as) da Escola Latino Americana de
Agroecologia.
A turma Resistência Camponesa, pela ajuda ao longo do curso, que contribuiu
para superação dos limites.
Mais importante que saber, é nunca perder a
capacidade de aprender”
Paulo Freire
RESUMO
A erva mate (Ilex paraguariensis) é cultivada geralmente em pequenos e
médios agroecossistemas, o que lhe assegura importância cultural, econômica e
social. O uso de técnicas de propagação vegetativa como a alporquia, pode ser
uma alternativa de produção de mudas, realizadas pelas famílias camponesas.
Assim o objetivo deste trabalho foi avaliar a emissão de raízes em alporques de
erva mate, sob diferentes fontes de tratamentos. O experimento foi conduzido no
município da Lapa – PR, no agroecossistema da família de Luiz Carlos Schmidt
Bueno e Luci Maria Hoffmann, no período de maio a dezembro de 2009. O
experimento, com alporquia de erva mate, constitui-se de quatro tratamentos de
hormônios para estimular a emissão de raízes com três repetições: sendo eles:
T1: gramínea tiririca (Cyperus rotundus) em solução composto por 90 g de bulbos
e raízes para 1 l de água; T2: salgueiro chorão (Salix babilônica) numa solução de
200 g de folhas e talos verdes para 1 l de água; T3:ácido indobutirico (AIB) a 1g
para 1000ml de solução de: água (700 ml) e álcool (300 ml) e; T4: testemunha
sem uso de hormônio. Verificou-se aos 240 dias que ocorreu a emissão de maior
número de raízes nos tratamentos com extrato de tiririca (25 raízes), seguindo-se
o da testemunha - sem hormônios (16 raízes). Em terceiro lugar ficou o
tratamento do extrato de chorão (14 raízes) e, finalmente vem os tratamentos com
AIB (13 raízes). A alporquia de erva mate dispensa o uso de hormônios para a
emissão de raízes. No experimento todos os tratamentos emitiram raízes.
PALAVRAS CHAVE: propagação vegetativa, emissão de raizes, hormonios naturais, agroecologia.
RESUMEN
La Yerba mate (Ilex paraguariensis) se cultiva por lo general en pequeños y
medianos agro ecosistemas, que le proporciona importancia cultural, económica y
social. El uso de técnicas de propagación vegetativa como la aporquia, esta
puede ser una alternativa para la producción de plántulas, llevada a cabo por las
familias campesinas. Así que el objetivo de este estudio fue evaluar la emision de
las raíces en aporques de Yerba Mate bajo las diferentes fuentes de tratamientos.
El experimento se realizó en Lapa - PR en el agroecosistemas dela familia de Luiz
Carlos Schmidt Bueno y Luci Maria Hoffmann, en un periodo de mayo a
diciembre de 2009. El experimento con Aporquia de yerba mate, fue compuesto
de cuatro tratamientos hormonales para estimular la emisión de raíces con tres
repeticiones, a saber: T1: hierba junca (Cyperus rotundus) en una solución
compuesta de 90 g de bulbos y raíces para 1 L de agua, T2: sauce lorron (Salix
Babilonia) en 200 g de hojas verdes y tallos para 1 L de agua, T3: ácido
indolbutírico (AIB) 1 g por 1000 ml de solución: el agua (700 ml) y alcohol (300
ml), T4: control, sin uso de hormonas. Se verifico que en 240 días ocorrió la
mayor emision de número de raíces en los tratamientos con extractos de hierba
junca (25 raíces), seguido por el control - sin hormonas (16 raíces). En tercer
lugar quedó el tratamiento del extracto de sauce lloron (14 raíces), y finalmente
el tratamiento con AIB (13 raíces). La Aporquia de yerba mate no requieren el uso
de hormonas para la emisión de raíces. En el experimento todos los tratamientos
emitieron raíces.
PALABRAS CLAVES: multiplicación vegetativa, emisión de raíces, las hormonas
naturales, agroecología.
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Diâmetro e identificação dos alporque............................................................25
TABELA 2: Emissão de raízes em alporquias de erva mate no tratamento 1.................. 26
TABELA 3: Emissão de raízes em alporquias de erva mate no tratamento 2.................. 27
TABELA 4: Emissão de raízes em alporquias de erva mate no tratamento 3.................. 27
TABELA 5: Emissão de raízes em alporquias de erva mate no tratamento 4.................. 28
TABELA 6. Eficiência dos tratamentos de acordo com tamanho e quantidade de raízes
Emitidas, aos 240 dias após implantação do experimento............................................... 29
TABELA 7: Média de raízes por tratamento......................................................................31
TABELA 8 Diferença entre os tratamentos com relação a quantidade de raízes
com tamanho de 0-2,5.......................................................................................................31
TABELA 9: Diferença entre os tratamentos com relação a quantidade de raízes
com tamanho de > 2,6.......................................................................................................32
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1. Anelamento dos alporques e embalagem do substrato............................23
FIGURA 2. Emissão de raízes......................................................................................29
Sumário
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10
REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................ 13
2.1. Agroecologia e sustentabilidade ........................................................................................... 13
2.2 . Descrição da espécie: erva mate .......................................................................................... 14
2.3. Propagação vegetativa por alporquia ................................................................................... 17
MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................ 22
RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................................................... 26
ANÁLISES ESTATÍSTICAS ............................................................................................. 31
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 34
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 35
10
INTRODUÇÃO
O município da Lapa se caracteriza por muitas comunidades apresentarem
o nome de Faxinal. É uma forma de organização de pequenos agricultores na
produção baseada em um ambiente de floresta nativa, tendo como espécie
predominante o Pinheiro do Paraná, onde animais domésticos eram criados soltos
em pastagens comunitárias. Como complemento de renda se apresentava a
coleta de erva mate. Este sistema de extrativismo preserva a biodiversidade local.
“Trata-se, sem dúvida, de uma experiência auto sustentada de relevante
importância ecológica, social, histórica e cultural”. (SAHR e CUNHA, 2001).
Alguns autores definem o Sistema Faxinal como a forma de organização
camponesa com criação extensiva de animais em áreas comuns; extração
florestal dentro do criadouro comum e policultura alimentar de subsistência
(CHANG, 1988 apud SAHR e CUNHA, p. 94).
Com o processo de modernização da agricultura a partir da década de
1960, com a Revolução Verde e a implementação de seus pacotes tecnológicos
este tipo de organização camponesa está passando por um gradativo processo
de extinção.
Hoje as principais atividades agrícolas desenvolvidas no município de Lapa
são o cultivo de milho, soja e feijão, no sistema convencional, que com o passar
dos anos vem se intensificando no sistema de monocultura, em seguida vem a
criação de aves, no sistema de integração e produção de leite e gado de corte.
Algumas famílias camponesas se preocupam com o sustento familiar,
diversificando o agroecossistema.1 Desta forma contrapõem-se ao agronegócio,
resistindo a este modelo advindo da Revolução Verde, que tem como objetivo se
apropriar da maior parte da produção, tornando o camponês cada vez mais
dependente de insumos externos.
1 “Agroecossistema é um local de produção agrícola – uma propriedade agrícola, por exemplo –
compreendida como um ecossistema. O conceito de agroecossistema proporciona uma estrutura com a
qual podemos analisar os sistemas de produção de alimentos como um todo, incluindo seus conjuntos
complexos de insumos e produção e as interconexões entre as partes que os compõem (GLIESSMAN,
2005, p.61).
11
No município são 50 famílias certificadas pela Rede Ecovida de
Agroecologia, que é uma organização formada por pessoas organizadas em
associações e agroindustrias familiares da região Sul do Brasil do Brasil, que tem
como objetivo organizar, fortalecer e consolidar a agricultura familiar
agroecológica.
A erva mate (Ilex paraguariensis) é uma espécie arbórea pertencente à
família Aquifoliaceae. Natural do Brasil, é cultivada especialmente nos estados do
Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Ocorre ainda
na Argentina e no Uruguai (CARVALHO, 2003).
O uso desta planta como bebida tônica já era conhecida pelos aborígines
da América do Sul. Em túmulos dos pré colombianos no Peru onde foram
encontradas folhas de erva mate ao lado de alimentos e objetos, demonstrando o
uso pelos incas. A folha de erva mate é usada na medicina popular na forma de
chás e tradicionalmente como chimarrão ou tererê.
Os agroecossistemas, em que a erva mate é cultivada são na maioria,
pequenos e médios, os que asseguram uma importância econômica e social
expressiva (MEDRADO, 2007, apud GORENSTEIN et al, p. 1).
No Brasil, é produzida em 180 mil propriedades rurais de 596 municípios,
gerando mais de 170 mil empregos diretos constituindo-se numa das poucas
opções de emprego e renda no meio rural, principalmente nos meses de junho,
julho e agosto, época da concentração da poda (colheita). Além de ser a principal
atividade econômica de muitos produtores e municípios, rende diretamente mais
de R$ 175 milhões anuais (RODIGHERI et al, 2005).
A erva mate é a poupança verde das famílias camponesas. Quem tem
erval consegue ter maior independência financeira na entre safra das culturas
anuais.
Um dos problemas enfrentados pelos produtores de erva mate é a
produção das mudas e o alto custo para aquisição das mesmas no mercado. As
sementes de erva têm dormência e o processo de preparação de mudas via
sementes é longo, podendo chegar até 24 meses da quebra de dormência até o
ponto das mudas estarem prontas para serem transplantadas. Isto pode acarretar
em perdas econômicas e de produção.
12
Cada vez mais aumentam as necessidades, por parte de famílias
camponesas quanto a aquisição de sementes e mudas para a proteção de fontes,
sombreamento de pastagens, recomposição das matas de margens de riachos e
rios ou para sistemas agroflorestais, que gerem auto-sustento e renda.
Neste contexto, o uso de técnicas de propagação vegetativa, pode ser
vantajoso quando há restrições na obtenção de mudas por sementes, ou quando
se deseja propagar árvores que apresentam características desejáveis e com
características de adaptabilidade ao meio de cultivo. Dentre as diversas técnicas
de propagação vegetativa, a alporquia é uma forma rápida para a produção de
mudas, que atinge porte adequado para o plantio a partir de seis meses de idade
para muitas espécies, com a vantagem de possuírem as características de
maturidade semelhantes á planta mãe e, portanto em fase de produção
acelerada.
Faz-se necessário lembrar que, para a readequação ambiental prevista na
lei nº 9.433/1997 até 2018, todos os agroecossistemas deverão apresentar a
recomposição das áreas implantadas, com definição de Reserva Legal e Áreas de
Preservação Permanente.
A erva-mate pode ser uma boa alternativa para ser implantada nesses
ecossistemas, podendo ser usada para o consumo, sendo assim mais uma fonte
de renda.
A existência de ervais nativos em agroecossistemas apresenta potencial
para propagação da espécie, através da alporquia, resultando em ganho de
tempo, recursos e manutenção da qualidade genética para as famílias
camponesas. O aperfeiçoamento e utilização de tecnologias de propagação
vegetativa da erva mate podem otimizar a produção de mudas,
O objetivo deste trabalho foi avaliar a emissão de raízes em alporques de
erva mate, sob diferentes fontes de hormônios.
O tratamento alternativo pode proporcionar bom desenvolvimento na
emissão de raízes para produção de mudas de erva mate, através de alporquia
.Ainda devemos considerar que, através deste sistema é possível produzir mudas
de grande porte, com boa qualidade e ganho de tempo.
13
REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Agroecologia e sustentabilidade
Nos dois últimos séculos, a produção de alimentos aumentou de duas
maneiras: incorporando maior área de produção e aumentando a produtividade –
a quantidade de alimento produzido por unidade de terra.
Diversas técnicas, usadas para aumentar a produtividade, têm muitas
conseqüências negativas que, em longo prazo, trabalham para minar a
produtividade da terra agrícola. Portanto, não podemos confiar nos meios
convencionais de aumentar a produtividade para ajudar a satisfazer as
necessidades crescentes de alimentos de uma população global em expansão.
(GLIESSMAN, 2005).
Segundo Khatounian (2001) a busca de uma agricultura menos
dependente de insumos químicos é parte de uma busca maior de
desenvolvimento sustentável tentando, conciliar necessidades econômicas e
sociais de populações humanas com preservação da sua base natural.
Para Gliessman (2005) a agroecologia proporciona o conhecimento e a
metodologia necessários para desenvolver uma agricultura que é ambientalmente
consistente, altamente produtiva e economicamente viável, valorizando o
conhecimento local e empírico dos agricultores, a socialização deste
conhecimento e sua aplicação ao objetivo comum da sustentabilidade.
Altieri (2004) destaca que a produção sustentável em um agroecossistema
deriva do equilíbrio entre plantas, solo, nutrientes, luz solar, umidade e outros
organismos coexistentes. Quando estas condições de crescimento encontram-se
equilibradas, o agroecossistema é produtivo e saudável, e as plantas
permanecem resistentes de modo a tolerar estresses e adversidades. Nesse
contexto de agroecossistemas vigorosos e diversificados, as possíveis
perturbações podem ser superadas naturalmente, passado o período de estresse.
E, mesmo que ocasionalmente haja necessidade do uso de medidas mais
14
drásticas, como inseticidas botânicos ou fertilizantes alternativos, para controle
especifico ou deficiências, a abordagem agroecológica assegura todos os
cuidados, sem provocar danos desnecessários, ressaltando que a causa da
doença, das pragas, ou da degradação do solo esta no desequilíbrio. O objetivo
do tratamento é recuperá-lo.
O declínio na qualidade de vida rural, bem como a degradação da base de
recursos naturais tem sido objeto de preocupação e de debates na perspectiva
de desenvolvimento sustentável. Nas ultimas décadas, na América Latina e
especialmente no Brasil, tem sido difundida a agroecologia como um padrão
técnico – agronômico capaz de orientar as diferentes estratégias de
desenvolvimento rural sustentável, avaliando as potencialidades dos sistemas
agrícolas através de uma perspectiva social, econômica e ecológica. (ALTIERI,
2004).
O objetivo maior da agricultura sustentável é a manutenção da
produtividade agrícola, o mínimo possível de impactos ambientais e com retornos
econômicos, adequados as necessidades dos camponeses.
A agroecologia além de fazer o estudo de processos econômicos de
agroecossistema, também é um agente para as mudanças sociais e ecologicas
complexas que o mundo precisa fazer para que a agricultura possa ser
verdadeiramente sustentável (GLIESSMAN, 2005).
Os camponeses (as) são agentes fundamentais na construção deste
processo, para isso precisamos desenvolver tecnologias voltadas a atender as
necessidades da construção da agroecologia que venha contribuir na
sustentabilidade dos agroecossistemas, desta forma camponeses (as) terão a
apropriação de conhecimentos e das técnicas desenvolvidas, sendo que os
mesmos possam implantá-las em seus agroecossistemas, passando também
para outros esses conhecimentos.
2.2 . Descrição da espécie: erva mate
A erva mate varia de arvoreta a árvore perenifólia, pertence à família
Aquifoliaceae, da espécie (Ilex paraguariensis), na floresta pode alcançar até 30
m de altura e 1 m de diâmetro, na idade adulta, quando as plantas são manejadas
15
para a produção, atingem altura entre 3 e 5 m A espécie é dióica, com flores
diclinas e um dos sexos abortivos, com processo reprodutivo iniciando em até
dois anos após o plantio de mudas oriundas de propagação vegetativa, e aos
cinco anos de mudas provenientes de sementes (CARVALHO, 2003). Apresenta
folhagem verde escura que é bastante característica, possui tronco cilíndrico, reto
ou pouco tortuoso e flores brancas, pequenas. A frutificação ocorre de janeiro a
março. Os frutos são globosos e envolvem a semente de 4 a 6 mm de diâmetro.
Os frutos tem coloração roxa escura quando maduros e polpa mucilaginosa. A
semente tem cor de castanho clara a escura, é muito dura e de forma variável. A
dormência das sementes é quebrada pelo processo de estratificação, por meio do
armazenamento em camadas de areia úmida por um período aproximado de 120
dias. A dispersão de frutos e sementes ocorre notadamente pelos sabiás
(CARVALHO,2003).
Com ocorrência natural, a erva mate abrange no Brasil, os estados do
Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e reduzidos
nichos de ocorrência nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
Na Argentina esta espécie está na Província de Missiones, em parte da Província
de Corrientes e pequena parte da Província de Tucumã; no Paraguai a área entre
os rios Paraná e Paraguai e no norte do Uruguai. Esta região localiza-se em
altitudes que variam entre 500 m a 1500 m sobre o nível do mar. No Brasil
corresponde a 450.000 Km2, representando cerca de 5% do território nacional. Na
América do Sul corresponde a 3% da área (CARVALHO, 2003).
Espécie clímax tolerante à sombra, a erva mate cresce nas associações
mais evoluídas dos pinhais. Regenera-se com facilidade quando o estrato arbóreo
superior e, principalmente, os estratos arbustivo e herbáceo são raleados.
É característica da Floresta Ombrófila Mista Montana (Floresta com
Araucária), sempre em associações nitidamente evoluídas com o pinheiro do
Paraná (Araucária angustifólia) também denominada Mata de Araucária e
também penetra na Floresta Estacional Semidecidual no noroeste do Paraná e no
sul de Mato Grosso do Sul.(CARVALHO, 2003).
Ainda segundo Carvalho,(2003), na distribuição da erva mate dois tipos
climáticos são citados, conforme classificação de Koeppen: Cfb (clima temperado)
e Cfa (clima subtropical), com chuvas regulares e distribuídas ao longo do ano e
16
com médias de precipitação em torno de 1 500 a 2 000 mm. As temperaturas
médias anuais, variam de 15ºC a 18ºC na região dos pinhais e de 17ºC a 21ºC
em Misssiones, Argentina. As geadas são freqüentes ou pouco freqüentes,
dependendo da altitude.
Ilex paraguariensis ocorre naturalmente em solos de baixa fertilidade, com
baixos teores de cátions trocáveis, altos teores de alumínio e pH baixo
(CARVALHO, 2003). Consideram-se solos aptos para o plantio da erva-mate,
aqueles que apresentam profundidade média (acima de 30 cm) a profundos, com
boa permeabilidade. A cultura não suporta solos compactados e/ou encharcados.
O principal produto da Ilex Paraguariensis é o mate, uma bebida
estimulante usada tanto como infusão quente denominada chimarrão,
característica dos gaúchos, quanto fria, conhecida como tererê e amplamente
difundida no Mato Grosso do Sul. O extrato de erva mate permite a produção de
mate solúvel e refrigerante. Suas folhas são usadas na medicina popular, na
forma de chás, incluindo funções como estimulante, diurética, estomáquica e
sudorífica, atuando também contra a obesidade.
É uma espécie altamente recomendável, pelo seu belo porte, para
arborização e jardinagem. É recomendada na recuperação de ecossistemas
degradados e na restauração de mata ciliar, em locais sem inundação.
No ano de 2006 foram produzidas 233.360 toneladas de erva mate no
Brasil, com a região sul concentrando 99,8% de toda a produção, destacando-se
o estado do Paraná com 65,5% do total nacional, seguido por Santa Catarina e
Rio Grande do Sul (IBGE, 2006).
Na região centro sul do Paraná, está a maior parte dos ervais nativos com
a melhor erva mate para chimarrão. Esses ervais nativos crescem junto à
diversificada floresta de araucária. São ervais ecológicos, livres de produtos
tóxicos (GABRE e TARDIN, 2004).
Ainda segundo GABRE e TARDIN, a produção total no Paraná é superior a
152 mil toneladas por ano de erva verde. São 176 municípios paranaenses com
ervas distribuídos em 51 mil agroecossistemas. Dessas, 31.620 são pequenas
propriedades de 1 a 20 hectares. A agricultura familiar é uma grande produtora de
erva mate.
17
A propagação vegetativa da erva-mate – via enraizamento de estacas – é
viável, podendo-se obter mudas de qualidade se essa propagação for baseada na
seleção de genótipos superiores de povoamentos adultos (JACOMINI et al.,2000
apud CARVALHO, 2003 pg 462).
2.3. Propagação vegetativa por alporquia
As plantas podem ser multiplicadas por diferentes processos, as anuais e
bienais são exclusivamente por sementes e as perenes também, por sementes,
estaquia, alporquia, mergulhia, ou por divisão de touceiras, dependendo da
própria planta ou da maior facilidade em multiplicá-la.
Um dos principais objetivos da propagação vegetativa é possibilitar a
multiplicação de árvores adultas que apresentam características superiores, ou
seja, reproduzirem o mesmo genótipo da planta que as originou.
A alporquia é um sistema de produção que não necessita de infra-estrutura
e espaço para produzir mudas, utiliza-se apenas a planta mãe da cultura de
interesse.
“Alporquia é o método de propagação vegetativa pelo qual as raízes são
formadas em um ramo, ligadas a planta doadora. Esse ramo enraizado pode ser
segmentado da planta mãe e constituir uma nova planta” (GALVÃO, 2000).
Para espécies florestais a propagação vegetativa oferece várias vantagens,
Entre elas, a possibilidade de ganhos genéticos maiores que a reprodução via
semente em um menor período de tempo (GALVÃO, 2000).
Quando a produção de mudas de erva mate é feita a partir de sementes, a
poda de formação para a muda perfilar é feita a partir do terceiro ano após o
transplante. Com a alporquia a poda é feita após a emissão das raízes no
alporque, no momento do transplante, que deverá acontecer a partir dos seis
meses após feito o mesmo, com isso podemos ter um ganho de até três anos
com relação a muda feita a partir de sementes.
A alporquia, é um dos métodos de propagação vegetativa mais antigos.
Indícios históricos mostram que os chineses já a utilizavam há 4 mil anos com
sucesso. Devido ao fato de não ser tão agressivo como a estaquia, a alporquia é
um método indicado para plantas que têm dificuldade de enraizar por estacas e
18
para aquelas que queremos rejuvenescer. A alporquia é muito semelhante à
mergulhia, diferindo desta por ser utilizada sem vergar os ramos até o solo. A
alporquia também pode ser chamada de mergulhia-aérea (GALVÃO, 2000).
O método consiste em estimular o crescimento de raízes em um ramo ou
no caule principal de uma planta, sem que esta esteja separada da planta mãe.
Desta forma, o ramo que está se desenvolvendo, continua sendo alimentado com
seiva, sem sofrer a desidratação e o enfraquecimento que geralmente acontecem
na estaquia.
“A alporquia tem várias utilidades como uma propagação de plantas difíceis
de serem enraizadas por estaquia, apesar do baixo rendimento dessa técnica, na
multiplicação de plantas já desenvolvidas, em curto período de tempo “(GALVÃO,
2000).
Na alporquia o desenvolvimento das raízes é auxiliado por hormônios e
pelo anelamento do ramo que impede que carboidratos, hormônios e outras
substâncias produzidas pelas folhas e gemas, sejam transportados para outras
partes da planta. Por sua vez, o xilema não é afetado, fornecendo água e
elementos minerais ao ramo (SIQUEIRA,1998 apud DANNER et al, 2006 p.530).
A propagação pelo método de alporquia apresenta vantagens em relação a
estaquia, dentre as quais estão o alto percentual de enraizamento e a
independência de infra-estrutura (casa de vegetação com sistema de
nebulização) (CASTRO e SILVEIRA, 2003 apud DANNER et al, 2006 p.530-531).
A alporquia além de método de propagação, também é uma ótima maneira
de rejuvenescer plantas que se desenvolveram demais em altura e apresentam
caules compridos e desfolhados.
Há três principais maneiras de se fazer a alporquia: aérea – também
chamada de Anel de Malpighi, a de solo e o torniquete.
Na alporquia de solo utilizamos um galho longo que possa ser dobrado até
o chão ou ainda, pode-se usar um vaso onde será colocado o galho que se
pretende usar. Para facilitar podemos retirar uma parte da casca (mais ou menos
a metade do diâmetro do galho por um comprimento aproximado de 2 vezes o
seu diâmetro), do lado que estiver para baixo (em contato direto com a terra).
Na alporquia aérea, mais indicada para ramos lenhosos, trata-se em fazer
dois cortes circulares e paralelos e o descasque do local, permanecendo um anel,
19
chamado de anel de Malpighi. O anelamento bloqueia a translocação de
carboidratos, hormônios e outros nutrientes para a base da planta, podendo
resultar em um maior enraizamento (GALVÃO, 2000). A diferença principal entre
os dois métodos é que o primeiro não interrompe a circulação da seiva elaborada,
sendo mais suave, e o segundo permite apenas a circulação da seiva bruta,
interrompendo totalmente a passagem da seiva elaborada.
Ainda segundo Galvão (2000) também se pode realizar o anelamento
através do amarro de um arame metálico chamado de “forca” ou “torniquete”.
Pode-se fazer ainda um anel incompleto, com um pequeno segmento permitindo
a passagem de seiva elaborada. Esse método é usado em plantas que não
toleram uma interrupção radical no fluxo da seiva (caso particular das coníferas).
Após o corte, em qualquer um dos métodos, se procede à aproximação de
musgo, esfagno ou outro substrato úmido, envolvendo bem o local, com a
utilização ou não de hormônio enraizador no local do corte. Cobre-se então o
substrato com plástico, preferencialmente escuro, amarrando-se em ambas as
extremidades com barbante ou fita adesiva, sem apertar. Pode-se deixar um
pequeno orifício na parte que permita regar o substrato.
Com o passar de algumas semanas ou meses, dependendo da espécie, as
novas raízes já estarão bem formadas e o alporque poderá ser cortado, logo
abaixo das raízes e transplantado. As raízes nesta fase são muito finas e
delicadas deve-se tomar cuidado ao retirar o plástico para fazer o transplante.
A propagação vegetativa da erva mate pode ser realizada durante todo o
ano, porém, é menos sucedida durante as estações quentes. Para a utilização no
método é de fundamental importância a escolha do material vegetativo (galhos e
ramos) livres de doenças, pragas e danos. Os galhos e ramos, com cores de
folhas diferentes do verde, devem ser evitadas.
O substrato de enraizamento para alporquia deve ser leve, não
encharcável. O mais simples é a terra vegetal e o de uso mais antigo é a areia
lavada peneirada. Existem substratos comerciais à base de vermiculita. Um dos
mais práticos consiste na mistura de uma parte de vermiculita e uma parte de
areia, que retém a umidade. Outro substrato conveniente para estacas herbáceas
é a casca do arroz carbonizada.
20
No enraizamento em propagação vegetativa, utiliza-se na maioria dos
casos, uma auxina para acelerar a formação de raízes, no caso específico da
erva mate o ácido indolbutíico (AIB) tem se mostrado o fitorregulador mais
eficiente na indução de raízes, especialmente pela baixa mobilidade e
estabilidade química (IRITANI e SOARES, 1981, apud HORBACH, 2008, p.6).
A utilização de hormônios de enraizamento pode melhorar a eficiência
deste método. A propagação de mudas através da alporquia pode ter o
enraizamento abreviado ou tornado mais intenso com o emprego de hormônios.
A composição básica desse produto químico é o ácido indolbutírico. São
preparados em concentrações diversas de acordo com a natureza da planta. Se
herbácea, a concentração é menor e maior se for lenhosa. As instruções para o
uso acompanham o produto. Em estudo de enraizamento de brotos de erva –
mate utilizando as doses de 1 a 1,5 mg de AIB, observaram a formação de raízes
em 50% dos explantes oriundos de plantas jovens e em segmentos provenientes
de matrizes adultas, em apenas 25%. Muitas vezes, quando se utilizam altas
doses de AIB, ocorre um efeito negativo na formação e no desenvolvimento das
raízes (MANTOVANI,1997 apud HORBACH, 2008 p. 39-40).
Mantovani relata ainda. que,em enraizamento de caixeta (Didymopanax
morototoni),houve a formação de raízes em 45% dos brotos quando utilizado AIB
na dose de 1,0%mg L-1,entretanto,com o aumento da dose para 1,5mg L-1,
verificou-se a diminuição da percentagem de brotos enraizados.
Naturalmente, as plantas possuem o fitormônio Indolbutírico para a
formação específica de suas raízes. A gramínea Titirica (Cyperus rotundus)
família botânica Cyperaceae concentra quantidades mais elevadas de ácido
indolbutírico (AIB),um fitorregulador específico para a formação de
raízes.(LORENZI, 2000 apud NETO. et al 2008 p. 1).
Em um experimento utilizando extrato de bulbos de tiririca, no
enraizamento de estacas de pinhão-manso (Jatropha curcas L.) família
euphorbiaceae, verificou-se que este extrato apresentou-se como um bom
promotor no enraizamento das estacas, favorecendo também um bom
desenvolvimento do comprimento das raízes.(SILVA, 2007 apud XAVIER et al,
2009 p.1).
21
Igualmente o salgueiro chorão ou simplesmente chorão (Salix babylonica)
família salicaceae, que é uma árvore originária da Ásia e muito usada na
arborização de cidades e parques apresenta proporções de fitormônios e podem
ser facilmente encontrados nos agroecossistemas locais. O chorão é uma árvore
de porte médio, medindo de 20 a 25 metros de altura e de curta longevidade, mas
de crescimento muito rápido e vivaz. Cresce virtualmente em qualquer solo,
apenas deve ser úmido, daí ser freqüente na beira de lagoas e parques e também
usada na drenagem de terrenos alagadiços, através de conhecimento empírico é
usada como indutor de enraizamento em propagação vegetativa.
No entanto muito pouco se sabe sobre a eficiência destas plantas no
auxilio da emissão de raízes, nem em dosagem a serem usadas, daí a
importância desse experimento.
22
MATERIAIS E MÉTODOS
O experimento foi conduzido numa área de 15 ha, sendo 50%
agriculturáveis, no agroecossistema da família de Luiz Carlos Schmidt Bueno e
Luci Maria Hoffmann, no período de maio a dezembro de 2009.
O agroecossistema está localizado na comunidade de Piripau, distante 4
km da sede no município da Lapa.-PR, e faz parte da Microbacia do Rio Calixto.
De acordo com a classificação climática de Koeppen, o clima da região da
Lapa é do tipo ”Cfb”, onde “C” representa climas pluviais temperados, nos quais a
temperatura do mês mais frio fica entre 18º C e –3º C; o “f” indica um clima
sempre úmido, com chuva em todos os meses do ano; “b” refere que a
temperatura do mês mais quente é inferior a 22º C, mas no mínimo com quatro
meses com temperatura superior a 10º C.(BIGARELLA, 1997).
Conforme relata Bigarella (1997) os solos que ocorrem na maior parte da
região ao sul da Lapa são de baixa fertilidade natural, com elevados teores de
alumínio tocável. Solos estes, com níveis de moderado a fortemente susceptíveis
à erosão. Possuem pequena espessura. Cientificamente fazem parte de uma
associação que ocorre entre Cambissolo Álico e solos litólicos álicos em terrenos
ondulados, cuja vegetação primitiva era a da floresta subtropical perenefólia,
caracterizada por árvores que não perdem as folhas no inverno.
As principais atividades agrícolas, desenvolvidas neste agroecossistema,
são o cultivo de cebola, batata, mandioca, feijão, milho, alho, hortaliças, abóbora
e plantas frutíferas e nativas. Entre as nativas neste agroecossistema existem
cerca de 100 plantas adultas de erva mate com aproximadamente 20 anos de
idade e proporcionam condições satisfatórias para realização do experimento
O experimento, com alporquia de erva mate, constitui-se em quatro
tratamentos de hormônios para a emissão de raízes com três repetições: sendo
eles: T1: gramínea tiririca (Cyperus rotundus) em solução composto por 90 g de
bulbos recém colhidos e raízes para 1 l de água; T2: salgueiro chorão (Salix
23
babilônica) numa solução de 200 g de folhas e talos verdes para 1 l de água;
T3:ácido indobutirico (AIB) a 1g para 1000ml de solução de água (700 ml) e álcool
(300 ml) e; T4: testemunha, (sem hormônio).
Para o experimento, que teve inicio em 1º de maio de 2009, foram usados
tesoura, faca, alicate, paquímetro, caneta, caderno, arame, plástico transparente,
barbante, terra vegetal, fita adesiva, hormônios AIB (ácido indobutirico), tiririca
(Cyperus rotundus), chorão (Salix babilônica), plaquetas numeradas, tiras de pano
e água. A escolha das árvores de erva mate para a implantação do experimento
foi avaliando plantas saudáveis e galhos com diâmetro entre 20 e 40mm, pois
com diâmetro menor podem ser prejudicados principalmente pelo vento.
O anelamento foi realizado fazendo dois cortes na casca com uma
distancia de aproximadamente 4 cm um do outro e retirando a casca nesse local,
colocando um anel de arame metálico de 12mm na parte superior e outro na
parte inferior do anelamento para evitar a passagem da seiva elaborada,
concentrando-a no local onde se pretende que haja a emissão de raízes.
FIGURA 1. Anelamento dos alporques e embalagem do substrato.
Fonte: Edesmar 2010.
O hormônio AIB foi utilizado na concentração de 1%, sendo diluído uma
grama para 300ml de água e 700 ml de álcool (96 %). A escolha dessa dosagem
foi feita sobre recomendação técnica onde foi adquirido o produto,e estudando
trabalhos realizados com estaquia sobre diferentes doses de AIB, pois não foi
encontrado nenhum trabalho sobre alporquia em erva mate.
24
A solução de chorão foi preparada utilizando-se 200g de folhas e ramas da
planta verde, sendo feita infusão por 10 minutos em 1000 ml de água.
Para a preparação da solução de tiririca foram utilizados 90 g de raízes e
bulbos da planta em 1000 ml de água em infusão por 10 minutos. A escolha da
dosagem tanto do chorão quanto da tiririca foi feita a partir do conhecimento
empírico através de leituras e conversas com outras pessoas.
As soluções de tiririca e chorão foram utilizadas após o seu esfriamento.
A aplicação dos hormônios foi realizada através do encharcamento de uma
tira de pano de algodão em seguida aplicado sobre o anelamento do alporque,
devendo permanecer por 10 minutos. Após essa fase foi colocado o plástico com
dimensões de 40 x 50 cm o qual foram coladas suas laterais e no fundo com fita
adesiva, tomando cuidado para deixar o anelamento na metade dessa
embalagem que envolve o anelamento e local de emissão de raízes. Em seguida
foi colocado terra vegetal, coletada em área de cultivo de erva mate em sistema
agroflorestal, pois estudando a necessidade da erva mate concluímos que este
seria o substrato ideal para o experimento. Após isso foi amarrado com barbante
de algodão para afirmar a embalagem no entorno e na parte superior, fixando nos
galhos do alporque.
Após a realização da alporquia, a terra da embalagem foi umedecida,
tomando cuidado para não provocar encharcamento, já que a erva mate não
tolera o excesso de água.
Para a implantação dos alporques, foi criado um sistema de identificação
dos tratamentos, conforme demonstrado na tabela abaixo.
25
TABELA 1 - Diâmetro e identificação dos alporques.
Hormônio
para emissão de
raízes
Tratamento Repetição Diâmetro do
alporque
Tiririca T1 R1 22 mm
Tiririca T1 R2 27 mm
Tiririca T1 R3 26 mm
Chorão T2 R1 24 mm
Chorão T2 R2 32 mm
Chorão T2 R3 28 mm
AIB T3 R1 28 mm
AIB T3 R2 39 mm
AIB T3 R3 27 mm
Testemunha T4 R1 33 mm
Testemunha T4 R2 30 mm
Testemunha T4 R3 30 mm
Fonte: O Autor, 2009.
Durante o experimento foram realizadas vistorias a cada 7 dias, com o
objetivo de analisar o alporque na emissão de raízes e na necessidade de água.
Houve a necessidade de molhar á cada duas vistorias em média.
26
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Existem poucos relatos de experimentos do uso de alporquia na
propagação da erva mate, pois os encontrados referem-se a estaquia como
métodos de propagação, as quais referem que a emissão de raízes deve ocorrer
com seis meses (180 dias). No entanto constatou-se neste experimento, que
neste período de tempo não foi observado visualmente a emissão de raízes. Fato
que definiu a abertura de alporques aos 240 dias após a implantação para
avaliação mais criteriosa e detalhada, embora ainda neste período, não se
observaram os resultados esperados inicialmente.
Os diferentes tratamentos realizados para a propagação vegetativa através
da alporquia, podem ser visualizados na tabela 2, especificando cada repetição
com os respectivos resultados na avaliação realizada com 240 dias após
implantação.
TABELA 2: Emissão de raízes em alporquias de erva mate no tratamento 1
Tratamento Emissão
de raízes
Tamanho
das raízes
Total raízes por
repetição
Total raízes
emitidas por
tratamento
T1 R 1
Tiririca
1 raiz
1 raiz
1raiz
3 cm
0,5 cm
4 cm
3
T1 R2:
Tiririca
2 raizes
8 raizes
2, cm
1 cm
10 25
T1 R 3:
Tiririca
4 raízes
4 raízes
4 raízes
3 cm
2 cm
1,5 cm
12
27
TABELA 3: Emissão de raízes em alporquias de erva mate no tratamento 2.
Tratamento Emissão de
raízes
Tamanho
das raízes
Total raízes
por repetição
Total raízes
emitidas por
tratamento
T2 R 1
Chorão
1 raiz
1 raiz
2 raízes
1 raiz
3 cm
2,5 cm
1,5 cm
1 cm
5
T 2 R 2
Chorão
1 raíz
3 raízes
4 cm
1 cm
4 14
T 2 R 3
Chorão
1 raiz
3 raizes
1 raiz
5 cm
2 cm
1 cm
5
TABELA 4: Emissão de raízes em alporquias de erva mate no tratamento 3.
Tratamento Emissão de
raízes
Tamanho das
raízes
Total raízes
por repetição
Total raízes
emitidas por
tratamento
T 3 R 1 -
AIB
1 raiz
1 raiz
4 raízes
2 raízes
2 cm
2,5 cm
1 cm
0,5 cm
8
T 3 R 2 -
AIB
1 raiz
1 raiz
2 raízes
3,5 cm
3 cm
2 cm
4 13
T 3 R 3 -
AIB
1 raiz 0,5 cm 1
28
TABELA 5: Emissão de raízes em alporquias de erva mate no tratamento 4.
Tratamento Emissão
de raízes
Tamanho
das raízes
Total raízes por
repetição
Total raízes emitidas
por tratamento
T 4 R 1 –
Testemunha
2 raízes 2 cm 2
T 4 R 2 -
Testemunha
1 raíz
3 raízes
3 cm
0,5 cm
4 14
T 4 R 3 -
Testemunha
1 raiz
6 raízes
3 raízes
3 cm
1 cm
0,5 cm
10
Fonte: O Autor, 2009
Verificou-se aos 240 dias que ocorreu a emissão de maior número de
raízes nos tratamentos com extrato de tiririca, conforme tabela 3. Tanto nas raízes
menores que 2,5 cm como nas maiores que 2,6 cm sendo 19 e 6
respectivamente. O total de raízes tratadas com extrato de tiririca, correspondeu
25 raízes, seguindo-se o da testemunha (sem hormônios) com 16 raízes, sendo
14 delas menores que 2,5 cm e, apenas duas raízes de 2,6 cm.
Em terceiro lugar ficou o tratamento com extrato de chorão, totalizando 14
raízes, sendo 11 menores que 2,5 cm e 3 acima de 2,6cm.
Finalmente vem os tratamentos com AIB, tendo um total de 13 raízes,
sendo 9 menores que 2,5 cm e duas maiores que 2,6 cm.
29
Figura 2. emissão de raízes
Tabela 6. Eficiência dos tratamentos de acordo com tamanho e quantidade de raízes emitidas, aos
240 dias após implantação do experimento.
Tratamento Raízes até 2,5 cm Raízes acima de
2,6 cm
TOTAL DE
RAÍZES
Tiririca 19 6 25
Chorão 11 3 14
AIB 11 2 13
Testemunha
(sem hormônios)
14 2 16
Fonte: O Autor, 2009
30
Pode-se visualizar no gráfico abaixo, a emissão de raízes, em quantidade e
comprimento, de acordo com os tratamentos acima discutidos:
GRÁFICO 1. Emissão de raízes de acordo com os tratamentos
Reforça-se que o tratamento com extrato de tiririca apresentou maior
número e tamanho na emissão de raízes.
O tratamento com o chorão foi o que apresentou maior repetitividade nos
números de raízes e também no comprimento.
O tratamento com o AIB inibiu a emissão de raízes da erva mate
comparado com a testemunha, mostrando que se fazem necessários outros
estudos para testar dosagens diferentes do AIB para a cultura da erva mate.
A alporquia de erva mate dispensa o uso de hormônios para a emissão de
raízes, no experimento todos os tratamentos emitiram raízes conforme gráfico e
tabelas 2 e 3.
Tamanho e Número de Raízes
0
5
10
15
20
25
30
Tiriric
a
Chor
ão AIB
Teste
munh
a
Raízes até 2,5 cm
Raízes acima de 2,6 cm
Total
31
ANÁLISES ESTATÍSTICAS
Os dados foram submetidos a analises de variância e os tratamentos
comparados pelo teste de Tukey.
Tabela 7: Média de raízes por tratamentos
Tratamentos Média
Tiririca 8,33 a
Testemunha 5,33 a
Chorão 4,67 a
AIB 4,33 a
*As médias seguidas das mesmas letras não se diferenciaram significativamente no teste de médias Tukey
5%.
Não houve diferença estatística, porém observa-se que o tratamento tiririca
tendeu a apresentar os maiores valores.
Tabela 8: Diferença entre os tratamentos com relação a quantidade de raízes com tamanho de 0-
2,5.
Tratamentos Média
Tiririca 8,33 a
Testemunha 4,66 a
Chorão 3,67 a
AIB 3,66 a
*As médias seguidas das mesmas letras não se diferenciaram significativamente no teste de
médias Tukey a 5%.
Não houve diferença estatística, porém observa-se que o tratamento tiririca
tendeu a apresentar os maiores valores. Interessante verificar que o chorão e o
AIB ficaram muito próximos.
32
Tabela 9: Diferença entre tratamentos com relação a quantidade de raízes com tamanho de > 2,6.
Tratamentos Média
Tiririca 2,00 a
Testemunha 1,00 a
Chorão 0,67 a
AIB 0,66 a
*As médias seguidas das mesmas letras não se diferenciaram significativamente no teste de
médias Tukey a 5%.
Não houve diferença estatística, porém observa-se que o tratamento tiririca
tendeu a apresentar os maiores valores. Interessante verificar que o AIB e a
testemunha ficaram muito próximos.
Diante destas constatações destacamos a necessidade de tempo maior
para a emissão de raízes a fim de que as mudas de alporques de erva mate
estejam prontas para serem levadas a campo. Sugere-se a continuidade da
pesquisa para avaliar o tempo necessário para que as mudas sejam
transplantadas e realizado a avaliação de pegamento e ganho de tempo
comparado a mudas feitas através de sementes.
Precisamos desenvolver tecnologias voltadas a atender as necessidades
da construção da agroecologia que venha contribuir na sustentabilidade dos
agroecossistemas, através da apropriação de conhecimentos e das técnicas
desenvolvidas, sendo que os próprios camponeses(as) podem implantá-las em
seus agroecossistemas.
Pode-se afirmar que do ponto de vista da agroecologia a alporquia de erva
mate constitui grandes possibilidades de sustentabilidade econômica no que se
refere ao ganho de tempo na propagação de mudas e redução do tempo de
colheita, bem como geração de fonte de renda na entressafra das culturas anuais.
Do ponto de vista social as vantagens estão relacionadas ao controle na
produção de mudas pelas famílias, na geração de trabalho, fortalecimentos dos
laços familiares e possibilidades de fixação da população jovem no campo, além
da qualidade de vida, com produção e consumo de produtos saudáveis
Ecologicamente a cultura da erva mate é natural da região sul do Brasil,
oferecendo possibilidades de inserção em sistemas agroflorestais de clima
temperado, os quais produzem além da erva mate, o sustento familiar, além da
33
diversificação de espécies com frutíferas nativas, plantas medicinais e condimen
tares, entre outras. O corte da planta não implica na destruição de uma árvore; é
uma poda que a refaz e fortalece.
A apropriação da tecnologia de propagação de plantas por alporquia por
camponeses (as) reforça a cultura da região, cuja população tem o hábito de
consumo da erva mate, na forma de chá e chimarrão, bem como possuí grande
conhecimento popular a respeito de sua produção e beneficiamento.
Através de organização das famílias em mutirões cria-se a possibilidade
de multiplicação do conhecimento e divulgação da alporquia, pelas comunidades,
refletindo sua importância política.
No que diz respeito a adequação ambiental prevista em lei, a alporquia de
erva mate representa grandes possibilidades de recomposição das áreas a serem
implantadas, atendendo aos princípios éticos e legais, ao mesmo tempo
oferecendo grande potencial de sustentabilidade para os agroecossistemas.
.
34
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A erva-mate é uma espécie nativa do Brasil produzida, em sua maior
parte, por agricultores camponeses dos estados do Sul do Brasil e do estado de
Mato Grosso do Sul. Utilizada tradicionalmente para a produção de chimarrão e
chás, a erva-mate constitui-se numa atividade com impactos altamente positivos,
contribuindo para a geração de emprego e renda para os agroecossistemas da
região, além de ser uma boa alternativa ambiental, já que seu cultivo não exige o
uso de agrotóxicos.
Existem poucos relatos de experimentos do uso de alporquia na
propagação da erva mate, pois os encontrados referem-se a estaquia como
métodos de propagação, as quais referem que a emissão de raízes deve ocorrer
com seis meses (180 dias). Constatou-se neste experimento através de
observação externa que não havia emissão de raízes neste período de tempo. .
Fato que definiu a abertura de alporque aos 240 dias após a implantação para
avaliação mais criteriosa e detalhada da emissão de raízes.
Neste estudo verificou-se a emissão de raízes na alporquia de erva mate
em todos os tratamentos, ou seja, com extrato de tiririca, de chorão, AIB e
testemunhas (sem hormônio).
O tratamento com tiririca apresentou maior número de raízes e de maior
comprimento, mostrando que houve um estímulo maior do enraizamento dos
alporques com este tratamento.
Observou-se a inibição da emissão de raízes no tratamento com AIB, tanto
no número quanto no comprimento de raízes, quando comparados com a
testemunha (sem hormônio).
Sugere-se outras possibilidades de pesquisa, testando dosagens diferentes
de tiririca, chorão e AIB com tratamentos diferentes. Neste estudo foram cozidos
os bulbos, pode-se fazer extrato com o esmagamento dos rizomas, folhas e talos.
O estudo nos permite concluir que o método da alporquia como técnica de
propagação vegetativa da erva mate, pode ser realizado pelos camponeses-(as),
que após, conhecê-lo, podem implantá-lo em seus agroecossistemas, com menor
dependência externa.
35
REFERÊNCIAS
ALTIERI, M. Agroecologia: A dinâmica produtiva da agricultura sustentavel.
4ª ed, Porto Alegre: UFRGS, 2004.
ALVES Neto, A.J., SILVA, C.T.A.C.; Efeito de diferentes concentrações de
extratos aquosos de tiririca (Cypererus rotundus L.) sobre o
enraizamento de cana de açúcar. Cascavel PR. Faculdade Assis
Gurgaez, 2008.
BIGARELLA, J. J; BLASI, O; BREPOHL, D. Lapinha a natureza da Lapa. Lapa:
Lar Lapiano de Saúde, 1997.
DANNER, M.A.; CITADIN, I.; et al. Enraizamento de jabuticabeira (Plinia
trunciflora) por mergulhia aérea. Revista Brasileira de Fruticultura. V 28; nº
3; Jaboticabal; dez. 2006.
CARVALHO, P.E.R – Espécies Arbóreas Brasileiras. Brasília: Embrapa
Informação Tecnológica: Colombo – PR: Embrapa Florestas, 2003.
GALVÃO, A.P.M. Reflorestamento de propriedades rurais para fins
produtivos e ambientais. Brasília: Embrapa, 2000.
GABRE, I; TARDIN, J.M. Na roda de chimarrão. Vivência comunitária no
centro sul do Paraná. AS-PTA. 2004
GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: Processos ecológicos em agricultura
sustentável. 3ª ed, Porto Alegre: UFRGS, 2005.
HORBACH, M.A.- Propagação in vitro e ex vitro de erva-mate. Dissertação de
Mestrado: Universidade Federal de Santa Maria – Santa Maria – RS, 2008.
KHATOUNIAN, C. A. A reconstrução ecológica da agricultura. Botucatu:
Agroecológica, 2001.
36
MAY, P. H; TROVATTO, C. M. M; DEITENBACH, A; FLORIANI, G. S; DUBOIS, J.
C. L; VIVAN, J. L. Manual Agroflorestal para a Mata Atlântica. Brasília:
Ministério do Desenvolvimento Agrário; 2008
MEDEIROS, J.D.; GONÇALVES, M.A.; PROCHNOW, M.; SCHAFFER, W.
Floresta com Araucárias. Rio do Sul; APREMAVI, 2004
RODIGHERI, R. H.; DOSSA. D.; VIELCAHUAMAN, L.J. M.;EMBRAPA - Cultivo
da Erva-Mate: Importância Socioeconômica e Ambiental. Nov./2005.
Disponível em:
http://sistemasdeprodução.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Erva-
mate/CultivodaErvaMate/01_importancia_socioec.htm. Acesso em: 19/01/2010
SAHR, C.L.L; CUNHA, L.A.G. O Significado Social e Ecológico dos Faxinais:
Reflexões acerca de uma Política Agrária Sustentável para a Região da
Mata com Araucária no Paraná. Emancipação, Ponta Grossa – PR, UEPG,
2001
XAVIER, A.S. et al. Indução de Enraizamento em Canela através do Extrato
de Tiririca – Vitória de Santo Antão PE. UFRPE, 2009
< http://www.cannabiscafe.net/foros/showthread.php?t=114701 > Acesso em
12.03.2009.
< www.embrapa.br/.../arborização-de-plantios-de-erva-mate-traz-beneficios-
ambientais/- > Acesso em 09.01.2010