Utilização das Unidades de Desenvolvimento Humano como ... · A concentração de indígenas...
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Utilização das Unidades de Desenvolvimento Humano como unidade de análise
de padrões socioeconômico dos Indígenas residentes na Região Metropolitana
de Belo Horizonte em 2010
Diego Rodrigues Macedo
Marden Barbosa Campos
Resumo
A concentração de indígenas vivendo em áreas urbanas no Brasil é um assunto de
grande importância, visto que em 2010 39% dos declarados indígenas moravam em
áreas urbanas, mas por outro lado pouco estudado do ponto de vista demográfico. O
presente trabalho tem como objetivo analisar a inserção dos indígenas na Região
Metropolitana de Belo Horizonte com base nos dados recém disponibilizados do Atlas
de Desenvolvimento Humano do Brasil para áreas intrametropolitanas. Estes dados
agregados possuem a vantagem de serem aderentes aos dados desagregados por
setores censitários, e possuírem variáveis derivadas dos questionários da amostra,
que apenas poderiam ser gerados através das áreas de ponderação. Os resultados
deste estudo destacam que não há uma clara correlação estatística ou espacial entre
a % de indígenas morando na RMBH e indicadores de renda, analfabetismo,
mortalidade e IDH. Por outro lado, foi possível identificar áreas intraurbanas onde os
indígenas são associados a indicadores socioeconômicos tanto de alto
desenvolvimento humano e baixa mortalidade, quanto de baixo IDH a alta
mortalidade, indicando a clara heterogeneidade da inserção dos indígenas na RMBH.
Trabalho apresentado no XXI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Poços de
Caldas – MG – Brasil, de 22 – 28 de Setembro de 2018.
Professor Adjunto, Departamento de Geografia, Universidade Federal de Minas Gerais.
Professor Adjunto, Departamento de Sociologia, Universidade Federal de Minas Gerais.
2
Introdução
A associação entre indígena e cidade normalmente causa certo estranhamento ou um
tipo de desconforto entre os não ambientados ao tema, no sentido de que haveria algo
fora do lugar. Tanto no imaginário de grande parte da população (principalmente que
não habita a Região Norte do País) quanto em abordagens acadêmicas menos
informadas, é atribuído ao indígena um espaço de vida relativamente fixo que se
localiza, via de regra, nas reservas indígenas ou áreas florestais. Caso queiramos
utilizando-se da bipartição – um tanto quanto grosseira – do território entre áreas
urbanas e rurais, aos indígenas seria atribuído, pelo imaginário de menos
informações, a vida nas áreas rurais. Isso estaria ligado a uma certa “essência” que
se atribui, equivocadamente, aos povos indígenas (Cunha, 2012; Oliveira, 2016). Nos
termos do presente estudo, essa essência remeteria a um desconforto entre o
indivíduo e o seu espaço de vida, ou seja, em uma dimensão espacial. Sendo o
indígena visto mais como para a “natureza” do que para a “civilização”, sob tal
perspectiva enganosa seu lugar de vida não poderia ser outro que não a floresta.
Nunca a cidade.
Mesmo entre os textos produzidos no seio da antropologia - disciplina que
tradicionalmente tem produzido o maior número de estudos sobre povos indígenas –
como o de Nunes (2010), há a reclamação de que, mesmo sendo a presença dos
indígenas na cidade um fenômeno antigo e que não passou despercebido pelos
antropólogos, demora a ganhar relevância em termos de produção acadêmica.
Interessante imaginar, com relação ao destaque dado por Nunes à antiguidade do
fenômeno, que os silêncios e esquecimentos sobre o papel do indígena na história
nacional – enfatizados exaustivamente no trabalho de Oliveira (2016) – talvez sejam
os responsáveis pela ideia de desencaixe espacial entre o indígena e a cidade.
Contudo, é possível que os indígenas tenham sido parcela considerável da população
das primeiras cidades estabelecidas nas colônias portuguesas da América, assim
como sempre foram visíveis (mas não necessariamente “bem vistos”) entre os que
vivem nas cidades da Região Norte.
Os resultados dos últimos três censos demográficos lançam nova luz sobre a questão.
Foram registrados 71 mil indígenas vivendo em cidades em 1991, 383 mil em 2000 e
315 mil em 2010, representando 24%, 52% e 39% dos declarados indígenas em cada
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censo, respectivamente (IBGE, 1994; 2002; 2011). Em que pesem as variações entre
os censos, os números são expressivos e conferem visibilidade ao fenômeno. Além
disso, os resultados dos censos mostram que a presença de indígenas em cidades é
um fenômeno de abrangência nacional. Embora a forma de captação dos indígenas
em pesquisas domiciliares de natureza quantitativa seja um tema complexo e que
coloca certas limitações à interpretação dos números, é inegável a importância que o
censo assume para estudos sobre indígenas no País.
É importante destacar que as informações censitárias, por serem passiveis de
agregação ao nível nacional, facilitam deslizes interpretativos e generalizações
incorretas, podendo levar à homogeneização de algo bastante heterogêneo e
diversificado.
Uma análise mais detalhada dos próprios dados censitários – assim como o
conhecimento produzido por outras fontes de informação e diferentes métodos de
investigação – mostram a elevada diversidade entre as populações indígenas do País,
o que não é diferente no tocante a presença indígena nas cidades. Exemplificando,
há cidades com presença marcante de indígenas, como os municípios de São Gabriel
da Cachoeira, no Amazonas, emblemática “cidade indígena” brasileira, cujo prefeito é
indígena, do povo Ticuna, ou mesmo São João das Missões, em Minas Gerais, em
que o atual prefeito é indígena Xacriabá. Há também cidades próximas a reservas,
como no caso em que “certos indígenas” parque-xinguanos que moram na cidade
mato-grossense de Canarana (Horta, 2017), além dos Terena estudados por Roberto
Cardoso de Oliveira nas cidades de Aquidauana, Miranda e Campo Grande na década
de 1960 (Oliveira, 1968). No extremo oposto estariam as grandes metrópoles da
Região Sudeste, por exemplo, onde a visibilidade dessas populações é menor, o que
não quer dizer que não estejam presentes, como o caso dos Pankararu, que há
décadas vivem entre o interior de Pernambuco e a Zona Sul da cidade de São Paulo,
conforme nos mostra Estanislau (2014).
Por fim, gostaríamos de destacar dois aspectos relacionados à questão.
O primeiro aspecto é um alerta de que o tema é considerado “emergente” não só no
Brasil mas também em um contexto internacional. Este mereceu destaque no relatório
produzido pelo Fórum Permanente para as Populações Indígenas das Nações Unidas,
intitulado State of the World’s Indigenous Peoples (UN, 2009), assim como em
4
publicação recente da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL,
2014).
Um segundo aspecto, destacado por Simoni e Dagnino (2016) é o fato de que a
presença de indígenas nas cidades pode levar a situações de vulnerabilidade social,
pois nesses espaços eles não contando com apoio específico de órgãos de suporte
aos indígenas, relacionados ao atendimento à saúde, educação especializada e nem
mesmo apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai), que centra suas atividades
principalmente para as Terras Indígenas.
Censo demográfico e fonte de dados
O censo demográfico é a pesquisa domiciliar de maior abrangência do Brasil, pois
investiga todos os domicílios do país a cada 10 anos. A menor unidade de agregação
para a divulgação dos resultados é o setor censitário1 para os dados do questionário
do universo, e as área de ponderação2, para o questionário da amostra. O setor
censitário vem sendo amplamente utilizado para análise de padrões espaciais de
dados sociodemográficos em escala intraurbana nos últimos 15 anos (p.ex. Jackob &
Cunha, 2005; Almeida et al., 2008; Umbelino & Macedo, 2008; Alves, 2013; Macedo
& Umbelino, 2016), inclusive em estudos sobre a população indígenas (Campos &
Macedo, 2016). Contudo, apenas uma parte limitada dos dados coletados podem ser
explorados (p.ex. perfil etário, renda e condições dos domicílios), devido aos critérios
de divulgação adotados pelo IBGE. Para dados coletados através do questionário da
amostra, apenas é possível desenvolver análise através das as áreas de ponderação,
que muitas das vezes são inadequadas para análises intraurbanas. Com a finalidade
de calcular o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) na escala censitária, o projeto
Atlas do Desenvolvimento Humano (http://www.atlasbrasil.org.br) reorganizou os
dados da amostra, e propôs as Unidades de Desenvolvimento Humano (UDH) –
buscando gerar áreas mais homogêneas, do ponto de vista das condições
socioeconômicas, do que as áreas de ponderação do IBGE. Ou seja, elas são
construídas com o objetivo de melhor captar a diversidade de situações relacionadas
1 O setor censitário é constituído de áreas contíguas, delimitadas para atender aos parâmetros da coleta e para controle cadastral. Situa-se em um único quadro urbano ou rural e o número de domicílios nele contidos e sua dimensão territorial são definidos de forma a permitir o levantamento das informações por um único recenseador (IBGE, 2010). 2 Área agregada contendo no mínimo 400 questionários da amostra, a qual os dados amostrais podem ser expandidos com confiabilidade estatística.
5
com o desenvolvimento humano que ocorre no interior dos espaços
intrametropolitanos, notadamente em seus grandes municípios, para desvendar o que
é escondido pelas médias municipais agregadas (PNUD et al., 2014). A estas
unidades foi possível atribuir as varáveis que compõe o Índice de Desenvolvimento
Humano (longevidade, renda e educação), o que aumentam as possibilidades
analíticas em escala intraurbana.
No entanto, toda a agregação de dados estatísticos pode sofrer do “problema das
unidades de áreas modificáveis” (MAUP) que é a interdependência entre os resultados
de qualquer análise quantitativa aplicada sobre dados individuais agrupados
associados a subdivisões territoriais e a definição desses grupos de indivíduos ou
subdivisões espaciais (Carvalho et al., 2004). Em linhas gerais, este problema é
exposto quando o resultado de agregações espaciais apresenta resultados diferentes
das áreas originais.
Tendo em vista esta nova possibilidade analítica, este trabalho pretende responder 2
questões principais: (1) Os dados agregados por UDH possuem aderência aos
resultados apresentados pelos setores censitários de maneira desagregada, ou seja,
evitando o MAUP? (2) Qual as relações espaciais entre a população indígena na
RMBH e indicadores socioeconômicos?
Dados e método
Para testar a confiabilidade dos dados agregados por UDH em relação aos setores
censitários, foram executadas correlações entre variáveis em comum entre as duas
bases de dados: renda per capta, taxa de analfabetismo dos maiores de 15 anos, %
de brancos, % de pretos, % amarelos, % pardos e % de indígenas. Estes resultados
foram comparados entre as duas fontes de dados.
Como o foco do trabalho são os indígenas em regiões metropolitanas, a segunda
etapa foi analisar a distribuição espacial da % de indígenas e das taxas de mortalidade
infantil até 1 ano através de análise espacial, primeiro através de mapas coropléticos.
Em um segundo estágio, a proporção de indígenas, o IDH e a taxa de mortalidade
infantil foram analisados através da dependência espacial entre UDHs vizinhas, por
meio de autocorrelação espacial mensurada através do Índice de Moran (Anselin,
1995). A autocorrelação espacial é mais complexa que a autocorrelação tradicional,
6
pois além de multi-direcional, também é multidimensional (Anselin, 1995). Atualmente,
o método mais utilizado para identificar se uma amostra ou população possui
autocorrelação espacial em relação a uma variável “x” é através da utilização do Índice
de Moran (Anselin, 1995). O Índice de Moran é útil para verificar se existe a
autocorrelação espacial na amostra ou população estudada. Já a construção dos
clusters ou aglomerados, foi realizada através do indicador de autocorrelação espacial
denominado Local Index of Spatial Autocorrelation - LISA (Anselin, 1995). Este
indicador fornece a correlação entre os vizinhos com níveis de significância
estatisticamente confiáveis a 95%.
O resultado espacial é o mapa de significância de Moran, no qual pode-se dividir as
unidades estudadas em cinco categorias:
1- unidades que não possuem autocorrelação espacial da variável estudada ao
nível de significância desejável (geralmente 95%);
2- unidades que apresentam valores relativamente altos para variável estudada,
assim como os seus vizinhos (Alto-Alto);
3- unidades que apresentam valores relativamente baixos para variável estudada,
assim como os seus vizinhos (Baixo-Baixo);
4- unidades que apresentam valores relativamente altos para variável estudada,
entretanto, seus vizinhos apresentam valores relativamente baixos (Alto-
Baixo);
5- unidades que apresentam valores relativamente baixos para variável estudada,
entretanto, seus vizinhos apresentam valores relativamente altos (Baixo-Alto).
A utilização do LISA permite desenvolver dois tipos de abordagem: uma análise
espacial univariada ou bivariada. A abordagem univariada consiste na correlação do
valor de uma determinada variável “z” com o valor desta mesma variável de seus
vizinhos. Neste caso, as situações 2 e 3 acima descritas formam os clusters espaciais,
destacando se é uma região que apresenta a variável estudada com valores
relativamente altos (Alto-Alto) ou relativamente baixos (Baixo-Baixo) ao nível de
significância de 95%. As situações 4 e 5 denotam “ilhas”, ou seja, uma unidade isolada
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dentro ou próxima de uma região na qual os valores da variável estudada são
inversamente proporcionais (Alto-Baixo ou Baixo-Alto).
Na abordagem bivariada, a correlação da variável “z” ocorre com os valores de uma
outra variável “w”, ou seja, situação 2 (Alto-Alto) representa clusters formados por
valores altos para a variável “z” e altos para a variável “w”; enquanto a situação 3
(Baixo-Baixo), por valores baixos para as duas variáveis. As situações 4 e 5 mostrarão
unidades espaciais nos quais as variáveis “z” e “w” possuirão valores inversamente
proporcionais (Alto-Baixo ou Baixo-Alto).
A proporção de indígenas foi analisada individualmente, através do LISA univariado.
Posteriormente, a proporção de indígenas foi analisada em conjunto com o IDH e a
taxa de mortalidade infantil, através da abordagem bivariada do LISA.
Resultados e Discussão
Os resultados das correlações mostraram que há aderência entre os dados originais
(setores censitários) e os dados agregados em UDHs (Tabelas 1 e 2). Nota-se que o
sinal de todas as correlações foram os mesmos e, além disto, as faixas de correlação
são similares, pois as diferenças são de no máximo 0,15. Outra constatação é que os
resultados das correlações são consistentes com os se espera em relação ao padrão
de segregação histórico brasileiro: a população de brancos está relacionada com as
melhores condições de renda e analfabetismo, e pretos e pardos com as piores. As
relações entre indígenas e estes indicadores são muito fracas (0,05-0,10).
Na sequência das análises, as correlações entre as porcentagens dos grupos de
raça/cor, Mortalidade Infantil (até 1 ano), IDHM foram testados (Tabela 3). Tal como
os resultados da renda e analfabetismo, estes resultados também são consistentes
com o esperado.
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Tabela 1. Resultado das correlações entre % da população por cor, renda per capta
e taxa de analfabetismo (15 anos ou mais) nos setores censitários da RMBH, 2010
Taxa analfabetism
o (15+)
Renda per capta
% Branco
s
% Preto
s
% Amarelo
s
% Pardo
s
% Indigena
s
Taxa analfabetismo (15+)
-
Renda per capta
-0,51 -
% Brancos -0,66 0,81 -
% Pretos 0,48 -0,54 -0,70 -
% Amarelos 0,21 -0,17 -0,20 0,23 -
% Pardos 0,60 -0,78 -0,94 0,42 0,08 -
% Indigenas 0,10 -0,06 -0,08 0,12 0,10 0,02 -
p < 0,05
Tabela 2. Resultado das correlações entre % da população por cor, renda per capta
e taxa de analfabetismo (15 anos ou mais) nas UDHs da RMBH, 2010
Taxa analfabetism
o (15+)
Renda per capta
% Branco
s
% Preto
s
% Amarelo
s
% Pardo
s
% Indigena
s
Taxa analfabetismo (15+)
-
Renda per capta
-0,39 -
% Brancos -0,51 0,75 -
% Pretos 0,34 -0,48 -0,63 -
% Amarelos 0,13 -0,12 -0,16 0,18 -
% Pardos 0,47 -0,70 -0,94 0,35 0,03 -
% Indigenas 0,05 -0,06 -0,07 0,11 0,17 0,00 -
p < 0,05
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Tabela 3. Correlação entre Mortalidade Infantil (até 1 ano), IDHM e % grupos
populacionais (raça/cor) para as UDHs na RMBH, 2010
% Brancos % Pretos % Amarelos % Pardos % Indígenas
Mortalidade Infantil (até 1 ano)
-0,78 0,58 0,20 0,71 0,04
IDHM 0,86 -0,63 -0,21 -0,79 -0,06
p < 0,05
Em relação ao padrão espacial, nota-se através dos mapas coropléticos, um padrão
disperso da % de indígenas (Figura 1a), enquanto o IDHM e Mortalidade possuem um
padrão mais agregado (Figuras 1b e 1c).
Os resultados das análises espaciais corroboram os padrões observados através dos
mapas coropléticos. Os índices de autocorrelação espacial (I-Moran) no geral foram
baixos (0,3-0,5), o que significa que existe um baixo padrão de agrupamento espacial
no que tange aos indígenas na RMBH (Figura 2). Em relação % de indígenas, nota-
se que os poucos clusters espaciais observados estão localizados nas áreas
periféricas da RMBH (Figura 2a). A legenda do mapa representa: Alto-Alto: UDH que
possui alta porcentagem relativa de indígenas e seu vizinho também; Baixo-Baixo:
UDH que possui baixa porcentagem relativa de indígenas e seu vizinho também;
Baixo-Alto: UDH que possui baixa porcentagem relativa de indígenas e seu vizinho
alta porcentagem; Alto-Baixo: UDH que possui alta porcentagem relativa de indígenas
e seu vizinho baixa porcentagem. A relação espacial entre % de indígenas e IDH
(Figura 2b) e mortalidade infantil (Figura 2c) mostram que existe alta porcentagem
relativa de indígenas tanto em áreas “melhores” (alto IDHM e baixa Mortalidade),
quanto em áreas piores (baixo IDHM e alta Mortalidade), apesar do Moran-I se
apresentar baixo. A legenda representa: Alto-Alto significa UDH que possui alta
porcentagem relativa de indígenas e seu vizinho alto IDHM ou taxa de mortalidade;
Alto-Baixo: UDH que possui alta porcentagem relativa de indígenas e seu vizinho
baixo IDHM ou taxa de mortalidade.
10
A) B)
C)
Figura 1 (A) Porcentagem de indígenas por UDH, RMBH, 2010; (B) Distribuição do IDHM por UDH,
RMBH, 2010; (C) Distribuição da taxa mortalidade infantil por UDH, RMBH, 2010.
11
A) B)
C)
Figura 2 (A) Mapa LISA univariado (Porcentagem de indígenas); (B) Mapa LISA bivariado
(Porcentagem de indígenas & IDHM); (C) Mapa LISA bivariado (Porcentagem de indígenas &
Mortalidade infantil até 1 ano). Resultados por UDH, 2010.
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Estes resultados trazem as primeiras reflexões acerca do uso das UDHs para o estudo
dos indígenas em regiões metropolitanas, entretanto, ilustram o grande desafio desta
abordagem. A porcentagem de população indígena no geral é um evento raro (Figura
3), o que dificulta a análise de correlações e autocorrelação espacial.
Figura 3. Distribuição percentual (barras= médias; traços = desvio-padrão) dos
grupos populacionais (raça/cor) nas UDHs da RMBH, 2010
Considerações Finais
Este trabalho clarificou algumas questões importantes no que tange a utilização das
UDHs em análises intraurbanas relacionadas a presença de indígenas da RMBH. A
primeira delas é que as UDHs são tão consistentes quanto os setores para estas
analises, o que traz um grande ganho analítico, visto que elas possuem mais variáveis
disponíveis.
Outra importante constatação é a dificuldade em identificar correlações entre os
indígenas e variáveis socioeconômicas, visto que os primeiros são eventos raros.
Nota-se que existe padrão espacial bem marcado na renda e na mortalidade, mas não
na % de indígenas. A partir destas análises, é necessário considerar que existem
setores com % relativa de indígenas em áreas melhores e piores na RMBH, e isto
mostra a dificuldade em se estabelecer uma causa-efeito direto. Isto abre a
0
10
20
30
40
50
60
Brancos Pretos Amarelos Pardos Indígenas
Po
rcen
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m d
a P
op
ula
ção
Grupos (raça/cor)
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perspectiva de estudos setorizados (áreas com melhores e piores condições na
metrópole).
Por fim, espera-se, com base no exercício realizado, contribuir para a ampliação do
uso dessas informações para estudos de populações minoritárias em ambientes
urbanos, assim como para dar visibilidade a um fenômeno complexo e importante que
ainda se mostra relativamente pouco conhecido dos estudos demográficos, qual seja,
a presença dos indígenas nas grandes cidades brasileiras.
Agradecimentos
Os autores agradecem o financiamento da Fapemig através do projeto de pesquisa
“Indígenas urbanos em Minas Gerais: o uso do censo demográfico para estudo de
populações minoritárias” e do auxílio coletivo “PCE-00343-18”; da Fundação
Wellcome Trust através do projeto “Saúde dos Povos Indígenas no Brasil:
Perspectivas Históricas, Socioculturais e Políticas”; e da Pró-reitora de Pesquisa da
UFMG, através do financiamento para professores recém-contratados
“ADRC05/2016”.
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