Utilização de blogues na discussão de uma controversia sócio-científica - Marta

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    Caderno pedaggico, Lajeado, v. 10, . 1, . 9-24, 2013. ISSN 1983-0882 9

    UTILIZAO DE BLOGUES NA DISCUSSODE CONTROVRSIAS SOCIOCIENTFICAS NADISCIPLINA DE CINCIAS DA NATUREZA

    Marta Esprito Santo1, Pedro Reis2

    Resumo: A presente investigao pretendeu avaliar as potencialidades educativas da discusso deassuntos controversos na disciplina de Cincias da Natureza, util izando blogues. Para este estudo optou-se por uma metodologia de investigao qualitativa com orientao interpretativa, onde o investigadorinvestiga a sua prpria prtica atravs da aplicao de uma proposta didtica. Neste estudo participaram

    26 alunos de uma turma do quinto ano de escolaridade (alunos com 11 anos de idade). Como mtodos decoleta de dados oram utilizados: a aplicao de um questionrio e a anlise do contedo dos blogues. Osresultados obtidos permitiram vericar que a discusso em torno do cenrio proposto permitiu a aquisioe o desenvolvimento de competncias indispensveis na promoo da alabetizao cientca.

    Palavras-chave: Ensino das cincias. Discusso. Controvrsias Sociocientcas. Blogue.

    THE USE OF BLOGS TO DISCUSS SOCIOSCIENTIFICISSUES IN THE NATURAL SCIENCES CLASS

    Abstract: Tis qualitative research aimed at evaluate the educational potential on discussing controversialissues using blogs in the Natural Sciences classes. In this study the researcher investigates its own practiceby implementing an educational proposal. Te study involved 26 students o a th grade class (11 yearsold). Data were collected through the application o a questionnaire and the analysis o the blogs writtencontent. Te results showed that the discussion around the proposed scenario allowed the development oskills essential or scientic literacy.

    Keywords: Science Education. Discussion. Socioscientic Issues. Blog.

    1 Licenciada em Proessores do Ensino Bsico, 2 ciclo, variante: Matemtica e Cincias da Natureza,pela Escola Superior de Educao Jean Piaget e Mestre em Educao com rea de especializaoem Didtica das Cincias, pelo Instituto de Educao da Universidade de Lisboa; docente na Escola

    Bsica 2, 3 Pintor Almada Negreiros. E-mail: [email protected]

    2 Proessor Associado e Subdiretor do Instituto de Educao da Universidade de Lisboa. E-mail:[email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    1 DISCUSSO DE ASSUNTOS CONTROVERSOS

    Um assunto, para que seja controverso, deve envolver interesses e valores

    contraditrios, pelo que no pode ser resolvido recorrendo apenas a atos, evidncias oudados empricos; politicamente sensvel; complexo e motiva o interesse da maioriadas pessoas (BERG; GRAEFFE; HOLDEN, 2003; WELLINGON, 1986).

    Segundo Nelkin (1992, 1995), as controvrsias sociais que envolvem umadimenso cientca podem emergir de implicaes sociais, morais ou religiosas doempreendimento cientco; tenses sociais diversas (entre os direitos individuais eos objetivos sociais, entre prioridades polticas e valores ambientais, entre interesseseconmicos e preocupaes com a sade das populaes ou com o ambiente etc.); e,destinao de recursos nanceiros elevados para projetos cientcos e tecnolgicos emvez de para a resoluo de problemas sociais.

    Envolvendo vrias pessoas na discusso de um assunto controverso, pode dar-seo caso de no se conseguir chegar a uma concluso. Stradling (1985) dene assuntocontroverso como:

    [...] those issues on which our society is clearly divided and signicant groupswithin society advocate conicting explanations or solutions based on alternativevalues (SRADLING, 1985, p. 9).

    Oulton, Dillon e Grace (2004) consideram que a sociedade ser beneciada sea educao em cincia encorajar os alunos, que so cidados de hoje e de amanh,a: adotarem uma perspectiva mais realista e positiva da cincia e reconhecerem oseu potencial para resolver conitos comuns; desenvolverem o sentido crtico e a suacapacidade de argumentao de orma undamentada; aceitarem, de orma menosautomtica, a viso/opinio de outras pessoas; reconhecerem que a cincia avana portentativa e erro, desenvolvendo o seu raciocnio com o tempo; desenvolverem a vontadee a capacidade de procurar mais e melhor a inormao, procurando, deste modo,argumentar de orma undamentada, incluindo aspectos loscos e ticos.

    De modo a que se promova a discusso de assuntos controversos em cincia, Oulton,Dillon e Grace (2004) consideram ainda necessrio ter em conta que se deve: ocarna natureza das questes polmicas e controversas, isto , que as pessoas discordam,tm dierentes vises de mundo, valores e limitaes da cincia, o entendimentopoltico e o poder. Motivar os alunos a reconhecerem a noo de que a postura deuma pessoa sobre um assunto ser aetada pela sua viso de mundo. Enatizar aimportncia dos proessores e alunos em reetirem criticamente sobre a sua prpriapostura e reconhecerem a necessidade de evitar os danos que resultam de uma alta de

    reexo crtica. Promover nos alunos competncias e habilidades, incentivando-os aassumir uma postura crtica em relao a reivindicaes de neutralidade, procurandoorientar uma viso equilibrada. Igualmente, promover a mente aberta, a sede para

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    mais e melhores ontes de inormao; e, uma vontade de, conorme o caso, mudar deopinio. Alm disso, motivar os proessores, tanto quanto possvel, a partilharem assuas opinies com os alunos, mostrando que estes devem azer um caminho explcitopara chegarem sua prpria posio sobre uma determinada questo.

    So vrios os autores que deendem a incluso de atividades de discusso deassuntos controversos nos currculos de orma a promover a construo de conhecimentocientco e o desenvolvimento de capacidades e atitudes. Para Reis (2007) a pesquisae a seleo de inormao, a deteco de incoerncias, a avaliao da idoneidade dasontes, a comunicao de inormao recolhida e /ou pontos de vista, a undamentaode opinies, o poder de argumentao e o trabalho cooperativo so exemplos decapacidades que podem ser desenvolvidas por meio da discusso de controvrsias.

    Dushl (2000) deende que a participao dos cidados em processos decisriosrelacionados com questes cientcas e tecnolgicas depende da compreenso dasdinmicas sociais, cognitivas e epistmicas da cincia, sustentando um ensino dascincias promotor de reexo sobre a natureza da cincia e das inter-relaes entreCincia/ecnologia/Sociedade/Ambiente.

    Segundo Rudduck (1986), a explorao ativa da discusso de questes controversaspode ajudar a desenvolver o pensamento crtico e a independncia intelectual. Dessemodo, considera que os alunos devem ser ajudados a encarar a controvrsia, cientes do

    seu direito de ormular opinies e de tomar decises como qualquer outro cidado, eno na expectativa de que qualquer autoridade possa decidir por si.

    Estudos sobre o impacto educativo do conito e da controvrsia na sala de aula tmdemonstrado as potencialidades educativas da discusso de controvrsias, permitindoconstatar que a sua utilizao, no mbito de uma estrutura de aprendizagem cooperativa,promove a motivao, a pesquisa, e o intercmbio de inormao, a reavaliao dasposies individuais, atitudes positivas acerca da controvrsia, sentimentos deautoestima, relaes de apoio entre os alunos, bem como a apreciao dos contedos edas experincias de ensino (JOHNSON; JOHNSON, 1995; JOHNSON et al., 1985;

    LOWRY; JOHNSON, 1981; REIS, 1997; SMIH; JOHNSON; JOHNSON, 1984;JOSVOLD; JOHNSON; LERNER, 1981).

    2 BLOGUES EM CONTEXTO EDUCATIVO

    Weblog, Blog e Blogue (este ltimo utilizado na graa portuguesa), so termos quese reerem a:

    [...] um dirio na Web cuja inormao est organizada da mais recente para a

    mais antiga, disponibiliza um ndice de entrada e pode conter apontadores paraoutros sites. Aberto a todos os cibernautas, permite que os visitantes deixem

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    os seus comentrios, tornando-se num cil e popular meio de comunicao(CARVALHO et al., 2006, p. 635).

    Um blogue ento uma pgina Web que se pressupe ser atualizada com granderequncia por meio da colocao de mensagens. A cada mensagem colocada oucomentrio deixado pelos visitantes, d-se o nome de post, que podem ser constitudospor imagens e/ou textos de pequenas dimenses ou at links para outros blogues ousites. Inicialmente limitado ao ormato texto, oi evoluindo de orma a integrar vriosormatos (otoblog ou otolog; vdeoblog, videolog ou vlog; moblog - mobile e weblog)(CARVALHO et al., 2006). A estrutura natural de um blogue segue uma linhacronolgica ascendente.

    rata-se de uma erramenta relativamente recente, tendo em conta que oi criadano nal da dcada de noventa por Jorn Barger (BARBOSA; GRANADO, 2004). Noentanto, a sua utilizao tem aumentado de dia para dia, quer para ns pessoais comoeducativos.

    Desde o debate de temas atuais at divulgao de projetos escolares, possvelutilizar um blogue como um instrumento de auxlio pedaggico. H dierentesexemplos de blogues utilizados com ns educacionais e que envolvem: produo detextos, narrativas, poemas, anlise de obras literrias, anlise e discusso de assuntoscontroversos, relatos de visitas de estudo, publicao de desenhos, otograas ou at

    vdeos eetuados pelos alunos.

    Os blogues podem ser multidisciplinares, uma vez que ler e escrever so atividadestransversais a qualquer disciplina e utilizadas em inmeros contextos educacionais.Contextos e conceitos podem ser articulados e discutidos, por meio de interlocuesindividuais ou em grupo, cujas ideias vo sendo construdas com base num determinadocontedo educacional. Os alunos passam assim a ser, em alguns casos, simultaneamenteautores e leitores de contedos. Os blogues potencializam a construo de redes sociaise de saberes, constituindo um excelente recurso para desenvolver trabalhos em equipa,discutir e elaborar projetos, estendendo a sala de aula muito alm das suas paredes.

    endo em conta o m a que se destinam, os Blogues educacionais podem sertanto um recurso como uma estratgia. Gomes (2005) considera ainda que enquantorecurso pedaggico podem constituir um espao de acesso a inormao especializadaou de disponibilizao de inormao por parte do proessor. Enquanto estratgiapedaggica podem assumir-se como portlio digital, espao de intercmbio e decolaborao, espao de discusso (envolvendo representao de papis) e espao deintegrao. Como potencialidades do uso de blogues no contexto educacional, algunsautores reerem que, o ato de se tratar de um servio online, representa uma das

    grandes mais valias dos sistemas de blogues uma vez que, no s permite que possamser consultados/lidos a partir de qualquer ponto do mundo com acesso Internet,como tambm permite receber contributos de autores ou leitores igualmente dispersos

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    geogracamente. Outras potencialidades dos blogues so, ainda: a) a acilidade com quese publica inormao em blogues, recorrendo ao uso de texto, imagem e hiperligaes,com a possibilidade de integrao de servios depodcasting, aplicaes do tipo slyde-showou pequenos vdeos, publicados em servios como o Youube.com; b) a possibilidade deautoria mltipla e de se comentar qualquer postcolocado por um qualquer elemento; c)o papel de complemento ao ensino presencial, j que os blogues podero ser um veculoprivilegiado de comunicao, para avisos (de trabalhos a realizar, ligaes para materiaisde consulta, textos de apoio s aulas; possibilita que os pais acompanhem o processo deensino/aprendizagem, bem como trocar experincias com outros proessores de qualquerparte do mundo; d) o desenvolvimento de mltiplas competncias associadas pesquisae seleo da inormao, produo de texto escrito e ao domnio de diversos serviose erramentas da Web; e) o seu grande eeito motivador, j que az com que aumente

    o interesse dos alunos pela aprendizagem (CARVALHO et al., 2006; CLOHIER,2005; BARBOSA; GRANADO, 2004; GOMES, 2005; GOMES; LOPES, (s.d.);ORIHUELA; SANOS, 2004).

    3 METODOLOGIA

    Para o estudo optou-se por uma metodologia de investigao qualitativa, comabordagem interpretativa onde o investigador investiga a sua prpria prtica. Este

    oi desenvolvido na disciplina de Cincias da Natureza, numa turma que pertence aoquinto ano do ensino bsico e conta com vinte e seis alunos, sendo dezasseis do sexomasculino e dez do sexo eminino.

    Esta investigao teve como nalidade o estudo das potencialidades educativasda discusso de assuntos controversos utilizando blogues, procurando dar resposta sseguintes questes orientadoras:

    1. Quais as potencialidades educativas da utilizao de blogues na promoo dadiscusso de controvrsias sociocientcas?

    2. Quais as competncias desenvolvidas nos alunos por meio da discusso geradaem torno dos cenrios propostos?

    3. De que orma se deve dinamizar um blogue direcionado para crianas do 2Ciclo3 do Ensino Bsico?

    4. Qual a importncia da discusso de assuntos controversos na disciplina deCincias da Natureza para os alunos do 2 Ciclo do Ensino Bsico?

    3 Correspondente ao 5 e 6 anos do Ensino Bsico em Portugal.

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    A recolha de dados oi eita pela investigadora, a partir das contribuies dosalunos atravs da anlise das interaes estabelecidas entre os alunos nos bloguesconstrudos para o eeito e da aplicao de questionrios aos alunos para autoavaliaodo trabalho realizado e avaliao das potencialidades e limitaes do cenrio propostoe da metodologia utilizada. Desta orma, a investigadora trabalhou diretamente sobreos dados recolhidos atribuindo signicados a partir das interpretaes que os alunoszeram da atividade.

    O estudo envolveu a criao, aplicao e avaliao de um cenrio que promovesse adiscusso de controvrsias sociocientcas por meio da utilizao de blogues.

    Para dar incio abordagem do tema, oi criado pela proessora o blogue . Numa primeira ase, oi divulgada no blogue umanotcia que abordava um estudo eetuado pela Greenpeace acerca do consumo debacalhau em Portugal.

    Figura 1 Pormenor do blogue A Cincia d que alar.

    No mesmo blogue, algum tempo depois, oram publicados dois documentriosem vdeo de curta durao, abordando o tema da pesca de arrasto em proundidadecom o objetivo de dar a conhecer como se processa este tipo de pesca, levar os alunosa se questionarem acerca dos motivos pelos quais se aplica este tipo de tcnica e,

    eventualmente, quais as consequncias para o meio ambiente.Pertenceu aos alunos avaliar a necessidade de alterar as quotas estipuladas para

    a pesca de bacalhau de cada pas da unio europeia, e, especicamente, das quotas

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    atribudas a Portugal, e propor algumas estratgias que pudessem reduzir/anularo impacto negativo da pesca de arrasto. Deste modo, eetuou-se uma representaode papis com a criao de uma comisso ormada por bilogos, representantes dosconsumidores e criadores de bacalhau em aquicultura. No nal, teriam de tomar umadeciso conjunta e undamentada com base na discusso eetuada. Os alunos oramdistribudos por grupos, oi-lhes atribudo aleatoriamente um papel e apresentado ocenrio de discusso com as vrias ases da tarea, passando a discusso do tema a sedesenvolver em cinco blogues dierentes: ; ; ; ; .

    Figura 2 Pormenor do blogue Proteger Grupo 1, onde se eetuou a discusso em

    torno do cenrio proposto.

    A tarea proposta apresentava o ttulo Pesca de Arrasto: contributos para reduzir/anular o seu impacto e oi introduzida aos alunos nos respetivos blogues.

    Seguindo as diversas ases, os alunos oram publicando os seus comentrios nosblogues. Foi utilizada apenas uma aula de noventa minutos para publicao de algunscomentrios, tendo, os restantes, sido publicados ora do contexto de sala de aula.

    http://protegerg2.blogspot.pt/http://protegerg2.blogspot.pt/http://protegerg2.blogspot.pt/http://protegerg2.blogspot.pt/
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    4 RESULTADOS E DISCUSSO

    Dos vinte e quatro alunos inquiridos por questionrio, sete j tinham utilizado

    blogues no seu dia a dia, enquanto dezessete armaram nunca ter utilizado. Vinte eum dos alunos gostaram de utilizar blogues para discusso de um tema, armandotratar-se de uma experincia nova, original e inovadora. Reoraram esse gosto dizendoque aprenderam a tomar uma deciso conjunta e que desta orma a interao onlineentre os alunos mais rpida e mais prtica que a interao ace a ace. Seguidamente,transcrevem-se alguns excertos dos questionrios que evidenciam as respostas dadaspelos alunos:

    E1: Aprendi a trabalhar num blogue, a tomar uma deciso com todos os membros dogrupo e respeitar melhor as decises dos outros.

    E2: Ao discutir num blogue, podemos sempre consultar a inormao necessria. Seestivssemos a discutir oralmente no iramos saber deender-nos bem, porque no podamos irpesquisar e recolher inormao mesmo antes de respondermos.

    E3: Gostei, porque discutir um tema num blogue uma coisa original e inovadora em vezde nos juntarmos na sala e azermos os trabalhos, como sempre. Gostei muito deste trabalhoporque utilizamos uma coisa do nosso dia-a-dia, o computador.

    As diculdades sentidas pelos alunos na realizao da atividade prenderam-se

    com: a) diculdades em justicar as suas opinies de orma undamentada; b) conseguirresumir a inormao de modo a poder ter uma opinio; c) questionar os colegas, deorma inormada, acerca dos seus papis; d) tomar uma deciso conjunta e compreendera tarea que lhes oi proposta.

    Os alunos apreciaram a elaborao do texto nal, a publicao dos comentrios,a tomada conjunta de decises, a consulta dos stios da Internet ornecidos pelaproessora, a possibilidade de representarem um papel e o visionamento dos vdeosdisponibilizados pela proessora. Gostaram ainda de trabalhar em grupo, mesmo que ainterao no tenha sido eetuada presencialmente:

    E4: O que eu mais gostei de azer nesta tarea oi azer o texto fnal, porque eu e o meugrupo fzemos tudo em conjunto e conseguimos ter uma opinio s nossa.

    E5: O que gostei mais de azer nesta tarea oi juntar-nos e azermos o texto fnal, poistnhamos de ser bons a trabalhar em grupo e a respeitar a opinio dos outros e no s a nossaopinio que conta.

    E6: Foi comentar. Porque ao comentar-se nos blogues d-se opinies dierentes e cadapessoa tem a sua opinio e assim ns percebemos a responsabilidade dos verdadeiros dilogos,

    consumidores e criadores.

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    E7:O que eu mais gostei oi tomar a deciso conjunta, porque trabalhamos todos juntos ecom muito empenho para acabarmos o texto fnal.

    A8:O que mais gostei de azer nesta tarea oi consultar os sites que a proessora recomendou,porque ao consultar estes sites fquei a aprender muito.

    E9: Foi ter um papel e poder represent-lo e discutir como pessoas dierentes; tendo emconta que nunca representei esse papel.

    E10: O que mais gostei nesta tarea oi tomar uma deciso, porque ns parecamos adultosa decidir algo.

    No que concerne discusso de assuntos controversos utilizando blogues, os

    alunos reeriram como vantagens: a) a possibilidade de comunicao ora do espaoescolar; b) a disponibilidade de tempo para se pesquisar melhor e se alcanar umaopinio undamentada; c) a disponibilidade de inormao; d) o trabalho em grupo;e) a disponibilidade de tempo em sala de aula para a continuidade de lecionao doscontedos (discusso paralelamente aula, ora do seu espao sico). Relativamentes desvantagens da utilizao de blogues para discusso de assuntos controversos,os alunos mencionaram: a) a alta de tempo em sala de aula para a discusso; b) apossibilidade de nem todos os elementos do grupo darem a sua opinio, atravs daredao de comentrios; c) a necessidade de ter que se esperar pelos comentrios doscolegas; d) a maior diculdade em alcanarem uma deciso conjunta; e) a necessidade

    de recordarem constantemente o papel que se est a desempenhar e de escreverem comuma linguagem correta, pelo ato de qualquer pessoa em qualquer parte do mundopoder ter acesso ao blogue.

    Durante a realizao da tarea, oi notrio que os alunos sentiram necessidade deque houvesse uma ase de discusso ace a ace. Sentida essa necessidade pela proessora,oi ajustada a tarea e houve, ento, esse momento em sala de aula, durante a elaboraodo texto nal.

    Ao nvel da anlise das interaes nos blogues e dos textos nais elaborados

    pelos alunos, vericou-se que na generalidade estes: a) procuraram apresentar umaopinio undamentada acerca da alterao ou no das quotas de bacalhau estipuladas;b) apropriaram-se dos termos e/ou conceitos aprendidos durante o decorrer da tarea,como: quota, ecossistema, habitat, pesca de arrasto, aquicultura, extino, utilizando-osnos seus comentrios. Vericou-se que as interaes entre a maioria dos membros dosgrupos procuraram ser undamentadas (como se pode constatar no excerto do bloguedo Grupo 3 apresentado seguidamente), com o objetivo de levar os participantes dadiscusso a colocar-se tambm no papel dos outros intervenientes, conduzindo-os auma mudana de opinio.

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    Marta Esprito Santo, Pedro Reis

    semelhana do que aconteceu nas opinies individuais de cada um, os gruposprocuraram, no texto nal, undamentar as suas opinies, utilizando, inclusivamente,opinies evidenciadas nos comentrios individuais. Os textos nais oram elaboradosem conjunto, presencialmente, na sala de aula de inormtica, e publicados de imediatono blogue correspondente a cada grupo. Apenas um dos grupos no publicou o textonal, pois os alunos no conseguiram argumentar as suas opinies nem chegar aconsenso.

    De modo transversal, conorme os exemplos que se seguem, todos os grupos,consensualmente, reduziriam as quotas de bacalhau atualmente estipuladas, deendendoque a este ritmo acilmente a espcie se extinguir.

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    Figura 3 - exto nal do Grupo 3.

    Figura 4 - exto nal do Grupo 1.

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    Marta Esprito Santo, Pedro Reis

    O desenvolvimento da atividade de discusso com representao de papisrevelou-se extremamente motivadora para os alunos e bastante apreciada por eles, poispermitiu-lhes explorar uma tarea contextualizada numa situao real do quotidiano,colocando-se na posio de um adulto que tem de tomar uma posio e uma decisoperante determinada situao. Consideraram importante discutir assuntos polmicosnesta disciplina por: a) permitir a construo de conhecimentos; b) alargar horizontespara o que se passa ao seu redor; c) desenvolver a capacidade de ouvir e de argumentar;e d) os preparar para o uturo, quando um dia tiverem de tomar decises.

    5 CONSIDERAES FINAIS

    Relativamente s potencialidades educativas da utilizao de blogues na promooda discusso de controvrsias sociocientcas, vericou-se que promove: a) o trabalho degrupo e o trabalho colaborativo; e b) a interao e a coeso entre os membros do grupo.Durante a discusso, e uma vez que no blogue todas as interaes cam registadasnos comentrios, oi possvel a consulta das opinies dos vrios membros do grupo,antes de ser elaborado o texto nal com a deciso nal. A utilizao de blogues nodesenvolvimento desta tarea permitiu que os alunos pudessem gerir o tempo disponvelda orma que lhes osse mais propcia, podendo recorrer consulta de documentos deorma imediata para dar resposta a questes colocadas. Deste modo, promoveu tambm

    a autonomia, dado que uma parte da tarea era desenvolvida autonomamente por cadaaluno.

    O presente estudo permitiu concluir que ao se envolverem os alunos na tareaproposta, oram estabelecidas condies acilitadoras para a aquisio e desenvolvimentode competncias, tal como o preconizado nas Orientaes Curriculares para asCincias Fsico-Naturais em Portugal. Neste sentido, o estudo demonstra que com aimplementao da tarea promoveu-se o desenvolvimento de competncias:

    a) de conhecimento substantivo, atravs dos conceitos cientcos adquiridos nasituao analisada, tais como habitat, ecossistema, aquicultura, extino;

    b) de conhecimento processual, atravs do processo desenvolvido para a resoluodo seu problema at tomada de deciso;

    c) de raciocnio, atravs da interpretao de dados, do relacionamento de evidnciase do conronto de dierentes perspetivas;

    d) de comunicao ao deenderem e argumentarem as suas ideias durante arealizao da tarea e na elaborao do texto nal; e

    e) de atitudes, nomeadamente de respeito pelas opinies dos outros.

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    Assume-se, ainda, que esta tarea promoveu as competncias de: a) pesquisa,seleo e organizao da inormao para a transormar em conhecimento mobilizvel;b) adoo de estratgias adequadas resoluo de problemas e tomada de decises;c) realizao de atividades de orma autnoma, responsvel e criativa e de cooperaocom os outros em projetos e tareas comuns, conorme veiculado nas CompetnciasEssenciais do Currculo Nacional do Ensino Bsico em Portugal.

    O blogue um recurso educativo gratuito que estimula a curiosidade, promoveo desenvolvimento do trabalho colaborativo, permitindo aos alunos colaborarem naidenticao e resoluo de problemas. simples, motivador, de utilizao intuitiva,sendo por isso cil de utilizar e implementar, tornando os contedos acessveis emqualquer parte do mundo (mediante acesso Internet). Assim sendo, e tendo em conta

    os resultados obtidos neste estudo, a conceo e dinamizao de um blogue direcionadopara alunos do 2 Ciclo deve seguir determinadas orientaes:

    a) a linguagem utilizada deve ser clara e estar em conormidade com a aixa etriados alunos a que se destina;

    b) o modelo de layoutescolhido deve ser simples, evitando grandes imagens, poisso motivo de distrao;

    c) a indicao no blogue de alguns sites ou inormaes apresentadas em diversossuportes de inormao (vdeos, udio, imagens, textos etc.) constitui uma mais valia;

    d) a denio rigorosa dos tempos previstos para a realizao de cada segmento dastareas propostas;

    e) a importncia da interveno do proessor como moderador do blogue, a m deir direcionando o trabalho e estimulando a promoo de competncias pelos alunos; e

    ) a realizao de pontos de situao do trabalho desenvolvido no blogue de orma achamar a ateno dos alunos para os conhecimentos construdos e para as competnciasdesenvolvidas.

    O potencial destas atividades na motivao dos alunos poder ser particularmentetil para o ensino de temas em que os alunos apresentem mais diculdades.

    REFERNCIAS

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  • 7/29/2019 Utilizao de blogues na discusso de uma controversia scio-cientfica - Marta

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    UTILIZAO DE BLOGUES NA DISCUSSO DE CONTROVRSIAS...

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