UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES...

21
EMANUELE SANTOS FERREIRA UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES ONCOLÓGICOS COMO TERAPIA ALTERNATIVA Salvador/BA. 2011

Transcript of UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES...

Page 1: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

EMANUELE SANTOS FERREIRA

UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES ONCOLÓGICOS

COMO TERAPIA ALTERNATIVA

Salvador/BA.

2011

Page 2: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

EMANUELE SANTOS FERREIRA

UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES ONCOLÓGICOS

COMO TERAPIA ALTERNATIVA

Artigo científico apresentado à disciplina TCC do Curso

de Pós-Graduação Lato Sensu da ATUALIZA regido

pela Universidade Castelo Branco, como requisito para

aquisição do título de Especialista em Farmacologia

Clínica.

Salvador/BA.

2011

Page 3: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Princípios ativos das drogas vegetais e suas funções

Alcalóides Atuam no sistema nervoso central (efeitos calmante, sedativo, estimulante,

anestésico, analgésico). Alguns podem ser cancerígenos e outros antitumorais.

Ex.: cafeína do café e guaraná, teobromina do cacau, pilocarpina do jaborandi. Mucilagens Efeitos cicatrizante, antiinflamatório, laxativo, expectorante e antiespasmódico.

Ex.: babosa, tanchagem, psyllium. Flavonóides e

derivados

Fortalecem os vasos capilares: efeitos anti-inflamatórios, antiesclerótico,

antiedematoso, dilatador de coronárias, espasmolítico, antihepatotóxico, colerético e

antimicrobiano. Ex.: rutina, quercetina, chá verde.

Taninos Por via interna, exercem efeito antidiarréico e anti-séptico: por via externa

impermeabilizam as camadas mais expostas da pele e mucosas, protegendo assim, as

camadas subjacentes. Ao precipitar proteínas, os taninos propiciam um efeito

antimicrobiano e antifúngico. Ex.: barbatimão, vítis vinífera.

Óleos Essenciais Efeitos: bactericida, antivirótico, cicatrizante, analgésico, relaxante, expectorante e

antiespasmódico. Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

índia.

Ácidos

Orgânicos (ácidos tartárico,

málico, cítrico e o

silícico)

As plantas das famílias das borragináceas, das equisetáceas e das gramíneas

absorvem grande quantidade de sais orgânicos do solo, principalmente o silícico

armazenado-o nas membranas das células ou no seu protoplasma.

Ex.: ruibarbo, azedinha.

Saponinas Emulsificam o óleo na água e possuem um efeito hemolítico. As plantas que contêm

saponinas são utilizadas também por sua ação mucolítica, diurética e depurativa. Ex.:

ginseng, erva- mate, prímula.

Antraquinonas São principalmente purgativos, pois estimulam movimentos peristálticos: efeitos

colaterais negativos, como perda da absorção de eletrólitos. Ex.: sene, cáscara

sagrada.

Glicosídeos (cardiotônicos,

antraquinônicos,

fenólicos)

Os cardiotônicos possuem alta especificidade no músculo cardíaco: têm efeito

acumulativo; risco de intoxicação; aumentam o débito cardíaco e diminuem a

freqüência cardíaca. Ex.: dedaleira.

Salicilatos Contêm salicina; ações antipirética, analgésica e antiinflamatória. Ex.: salgueiro,

gautéria, bétula.

Fonte: KALUFF, 2008.

Page 4: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Euphorbia tirucalli....................................................................................................13

Figura 2: Aloe vera....................................................................................................................14

Figura 3: Camellia sinensis.......................................................................................................16

.

Figura 4: Annona muricata L....................................................................................................17

Figura 5: Uncaria guianensis (Aubl.) Gmelin..........................................................................18

Page 5: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

5

ABORDAGEM TEÓRICA SOBRE A UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR

PACIENTES ONCOLÓGICOS COMO TERAPIA ALTERNATIVA

Emanuele Santos Ferreira1

Alessandra Guedes 2

RESUMO

Os usuários da fitoterapia são geralmente indivíduos portadores de doenças crônicas, como o

câncer, que utilizam a medicina alternativa ou complementar como uma fonte adicional ao

seu tratamento. Todavia, sabe-se que muitas plantas medicinais podem desencadear reações

adversas e/ou interações medicamentosas quando associadas à quimioterapia. Este artigo tem

como objetivo analisar a utilização de fitoterápicos em pacientes oncológicos como terapia

alternativa. Para tanto, foi realizado uma revisão de literatura nas bases de dados Lilacs,

Scielo, revistas indexadas e de livros de Fitoterapia, Farmacologia clínica e Oncologia e dos

artigos científicos publicados no período compreendido de 1999 a 2010. Durantes as

consultas de enfermagem e atendimento ambulatorial aos pacientes com neoplasia maligna

em uma instituição privada de oncologia, foi identificado algumas plantas medicinais mais

utilizadas, e dentre essa, cinco foram selecionadas para compor esse artigo, as quais foram:

Euphorbia tirucalli L, Aloe vera, Camellia sinensis, Annona muricata L. e Uncaria

guianensis (Aubl.) Gmelin. Este estudo também possibilitou conhecer os inúmeros benefícios

atribuídos ao uso da fitoterapia, além dos riscos envolvidos quando este consumo é feito de

forma indiscriminada e sem acompanhamento profissional. Portanto, recomenda-se aos

profissionais de saúde, em especial os que prestam atendimento ao paciente oncológico, uma

atualização sobre o assunto e que novas pesquisas científicas sejam realizadas.

Palavras-chave: Terapia alternativa. Fitoterapia. Câncer

1 Enfermeira graduada pela Universidade Católica do Salvador - UCSAL, Especializada em Farmacologia

Clínica pela ATUALIZA e Enfermeira assistencial do Núcleo de Oncologia da Bahia.

E-mail: [email protected]

2 Farmacêutica graduada pela Univerdade Federal da Bahia, Especializada em Metodologia do Ensino Superior

pelas Faculdades Olga Mettig – FACOM, Mestre em Química pela Universidade Federal da Bahia, Docente do

curso de Fitoterapia da Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC.

E-mail: [email protected]

Page 6: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

6

1 INTRODUÇÃO

O homem, durante toda a sua história, vem utilizando os recursos disponíveis na flora de

diversas maneiras com a finalidade de promover o tratamento de inúmeras patologias, e este

hábito popular, têm sido propagados de geração a geração no interior dos diversos grupos

culturais. Em relação ao tratamento do câncer, existem estudos que afirmam a existência de

aproximadamente 700 espécies de plantas, as quais apresentam atividades sobre tumores

malignos. (JACONODINO, 2008).

O câncer é definido com um grupo de doenças caracterizadas pelo crescimento descontrolado

e capacidade de migração e colonização de outros órgãos, decorrentes de alterações em genes

que controlam o crescimento, a divisão e a morte celular durante a vida do indivíduo. Em todo

o mundo, o número previsto de novos casos de câncer é de aproximadamente 10,5 milhões.

Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), as estimativas para o ano de 2010,

válidas também para o ano de 2011, é que haverá 489.270 casos novos de câncer, sendo

esperados 236.240 casos novos para o sexo masculino e 253.030 para sexo feminino.

(LOPES, IYEYASU, CASTRO, 2008; BRASIL, 2009).

Por esta razão, tem-se investido largamente em pesquisas que vão desde uma melhor

compreensão das causas do câncer a descobertas de técnicas cirúrgicas inovadoras, e novos

tratamentos com drogas cada vez mais específicas e eficazes. Porém, a medicina alternativa,

que teve seu surgimento há muito tempo atrás com os povos primitivos, tem superado o

tempo e, ainda hoje, continua ocupando espaço entre a população. No Brasil, em função da

grande biodiversidade e, sobretudo pela tradição do uso de plantas medicinais pela população,

o interesse pelos estudos das propriedades medicinais das plantas vem sendo explorado

amplamente por pesquisadores brasileiros, e mais recentemente, pelas indústrias

farmacêuticas interessadas em produzir novos medicamentos (CALIXTO, 2008).

Ao prestar assistência ao paciente oncológico, a equipe de enfermagem se confronta com

muitos questionamentos a respeito do tratamento proposto. Muitas pessoas ao se depararem

com um diagnóstico de câncer desencadeiam os mais diversos sentimentos, onde na maioria

das vezes, a ansiedade e o medo são os mais comuns. A partir daí, vão em busca de

tratamentos milagrosos e extraordinários, que possa eliminar a doença ou pelo menos

Page 7: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

7

minimizar ao máximo os sintomas da patologia ou os efeitos dos tratamentos aos quais serão

submetidos.

Este artigo tem como tema a abordagem teórica sobre a utilização de fitoterápicos por

pacientes oncológicos como terapia alternativa. O tema proposto torna-se pertinente diante da

constatação que, os pacientes têm buscado cada vez mais outras abordagens como opção

terapêutica ou complemento ao tratamento médico, sendo a fitoterapia uma das terapias

alternativas mais utilizadas pelos mais diversos motivos. A partir do exposto, este artigo tem

como objetivo geral analisar a utilização de fitoterápicos por pacientes oncológicos como

terapia alternativa e, como objetivos específicos definir o que são produtos fitoterápicos,

identificar as razões que promovem o uso da fitoterapia entre os pacientes portadores de

neoplasias malignas, considerar a postura da equipe de saúde frente à utilização de tais

produtos, analisar os riscos e benefícios envolvidos no uso de fitoterápicos e identificar

algumas plantas medicinais mais conhecidas e utilizadas.

2 MÉTODOS

Realizou-se uma revisão da literatura de forma sistemática, nas bases de dados Lilacs, Scielo,

revistas indexadas, livros de Fitoterapia, Farmacologia clínica e Oncologia e artigos

científicos publicados no período compreendido de 1999 à 2010. Na estratégia de busca,

foram utilizadas as seguintes palavras-chaves: Terapia alternativa, fitoterapia e câncer. Os

artigos foram selecionados a partir de uma leitura exaustiva dos resumos disponíveis e dos

artigos encontrados na íntegra. A escolha das plantas abordadas neste estudo se deu a partir

da vivência como enfermeira assistencial em um ambulatório de quimioterapia numa

instituição privada. Através de conversas com pacientes e cuidadores durante as consultas de

enfermagem e tratamento quimioterápico, foi possível identificar algumas das plantas

medicinais mais utilizadas, e dentre essas, cinco plantas foram selecionadas.

3 FITOTERÁPICOS: DEFINIÇÃO

No Brasil, a regulamentação dos medicamentos fitoterápicos vem sofrendo alterações nos

últimos anos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) tem elaborado normas

com o objetivo de regulamentar os medicamentos fitoterápicos desde 1995, e nos últimos

anos, essas normas têm sofrido alterações. A Resolução mais recente foi a RDC nº 14 de 31

Page 8: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

8

de março de 2010, que dispõe sobre o registro destes medicamentos. Isto demonstra a

preocupação da ANVISA em reconhecer os benefícios, porém levando em conta os riscos

potenciais ao organismo humano. (JACONODINO, 2008; BRASIL, 2010).

Fitoterápicos são os medicamentos obtidos com emprego exclusivo de matérias-

primas ativas vegetais, cuja eficácia e segurança são validadas por meio de

levantamento etnofarmacológicos, de utilização, documentações tecnocientíficas ou

evidências clínicas. São caracterizados pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de

seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade, não sendo

considerados fitoterápicos aqueles que incluem na sua composição substâncias

ativas isoladas sintéticas ou naturais, nem associações dessas com extratos vegetais.

(BRASIL, 2010).

Carvalho (2004) define produto fitoterápico todo medicamento tecnicamente obtido e

elaborado, utilizando-se somente matérias-primas vegetais com finalidades profiláticas,

curativa ou para fins de diagnóstico, com benefício para o usuário. É o produto final acabado,

embalado e rotulado. Por outro lado, planta medicinal é toda e qualquer planta que quando

aplicada sob determinada forma e por alguma via ao homem é capaz de provocar um efeito

farmacológico. Possui o potencial de aliviar ou curar enfermidades e tem tradição de uso

como remédio em uma população ou comunidade.

4 A CRESCENTE BUSCA PELA FITOTERAPIA COMO TERAPIA ALTERNATIVA

Os usuários de produtos fitoterápicos são geralmente pessoas portadoras de doenças crônicas,

como o câncer, que fazem uso de tratamentos convencionais e que buscam na medicina

alternativa ou complementar, uma fonte adicional ao seu tratamento para minimizar suas

dores e desconfortos desconsiderando o seu potencial de causar efeitos adversos e/ou

interação medicamentosa.

Segundo Jaconodino (2008) a procura por práticas complementares de saúde, como uso de

produtos fitoterápicos, dá-se principalmente por dois motivos: a insatisfação com a medicina

convencional e a busca de afinidades pela utilização de produtos naturais, sem contar que

estes são mais fáceis de adquirir e possuem menor custo.

Um estudo realizado em um ambulatório de quimioterapia do serviço de um hospital

universitário em Brasília revelou que o crescimento desta pratica se dá também pela

impessoalidade da medicina moderna. Os pacientes reclamam do atendimento insensível,

Page 9: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

9

limitado e apressado de alguns oncologistas e apontam que os profissionais de medicina

alternativa são mais atenciosos por tratarem o individuo como um todo e não de forma

fragmentada (ELIAS; ALVES, 2002).

Para Benson e Stark (1998 apud SILVA e WANDERBROOKE, 2008) quando um paciente

procura outros recursos terapêuticos, além daqueles que estão sendo ministrados pela equipe

de saúde, está se posicionando de uma forma diferenciada frente ao seu próprio tratamento.

Não está apenas submetido aos procedimentos médicos e aos medicamentos, está assumindo a

responsabilidade pelo cuidado pessoal, e nenhuma força curativa é mais impressionante do

que o poder do indivíduo cuidar de si mesmo e de se curar. No caso específico do câncer, essa

atitude consiste num diferencial que irá refletir diretamente no prognóstico de paciente.

5 POSTURA DA EQUIPE DE SAÚDE

Sabe-se que a maior parte dos pacientes faz uso de algum produto fitoterápico, sem que os

médicos, enfermeiros, farmacêuticos e nutricionistas sejam comunicados. As razões são

diversas e incluem a percepção da falta de interesse do médico em pelo menos ouvir sobre o

assunto, antecipação de uma reação negativa e a crença em que os médicos não possuem

conhecimento nem treinamento adequados a respeito dos tratamentos alternativos, como é o

caso da fitoterapia (ELIAS, 2002).

Não é rotina médica relacionar eventos adversos com prováveis interações medicamentosas

de medicamentos alopáticos versus plantas medicinais ou produtos fitoterápicos. Muitas vezes

o uso destes produtos nem sequer é mencionado durantes as consultas, pois para os pacientes

prevalece a idéia de que são totalmente inócuos por serem de origem natural e para os

profissionais médicos, enfermeiros, farmacêuticos e nutricionistas, ainda permanece o hábito

de não incluí-los como item a ser investigado durante a anamnese. (JACONODINO, 2008).

Na Alemanha, país onde se consome metade dos extratos vegetais comercializados em toda a

Europa, as plantas medicinais são utilizadas pela população para tratar desde um simples

resfriado até doenças de pele. Foi verificado também, que a automedicação com preparações à

base destas plantas é uma prática comum dos alemães. Para exemplificar, no ano 1997, 1.5

milhões de pessoas utilizaram ervas medicinais durante o tratamento alopático, sendo que

mais da metade destes pacientes não comunicaram esse uso ao médico (VEIGA JR, 2005).

Page 10: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

10

6 SEGURANÇAS NA UTILIZAÇÃO DOS FITOTERÁPICOS

6.1 RISCOS X BENEFÍCIOS

6.1.1 REAÇÕES ADVERSAS E INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS

Veiga Jr (2005) afirma que no Brasil, as plantas medicinais da flora nativa são consumidas

com pouca ou nenhuma comprovação de suas propriedades farmacológicas, propagadas por

usuários ou comerciantes, e que muitas vezes são empregadas para fins medicinais diferentes

daqueles apresentados ao usuário. Sabe-se também que muitas ervas medicinais apresentam

substâncias que podem desencadear reações adversas seja por seus próprios componentes ou

por presença de contaminantes ou adulterantes presentes nas preparações fitoterápicas, além

de poderem apresentar interações medicamentosas quando associadas a outras drogas.

(KALUFF, 2008).

Estima-se que cerca de 20 a 30% das reações adversas ao medicamento estão relacionadas

diretamente com interações medicamentosas. Uma preocupação adicional com os pacientes

oncológicos é que estes necessitam receber vários outros medicamentos, além dos

quimioterápicos, para minimizar possíveis complicações advindas da quimioterapia como

náuseas, vômitos, diarréia, leucopenia, fadiga e outros. Por esta razão, é fundamental que o

oncologista tenha a consciência de que além destes medicamentos, diversos componentes

naturais que podem estar sendo consumidos pelo paciente tem a capacidade de alterar a

farmacocinética dos quimioterápicos. Logo, a utilização de fitomedicamentos e até mesmo a

dieta do pacientes merecem especial atenção durante o período do tratamento com drogas

antineoplásicas. (FUKUMASU, 2008).

Conforme Shimada (2009) quando uma erva é administrada em combinação com uma droga

antineoplásica, todos os aspectos da farmacocinética podem ser afetados, isto é, a absorção,

distribuição, metabolismo e excreção. Além disso, os efeitos da interação podem permanecer

despercebidos por longos períodos.

Os principais efeitos destas interações medicamentosas estão relacionados com o aumento ou

diminuição do potencial citotóxico do quimioterápico e seus efeitos colaterais. Muitos

quimioterápicos convencionais usados no tratamento do câncer são medicamentos que atuam

diretamente nas células neoplásicas. Porém, outros são pró-drogas, isto é, são substâncias que

Page 11: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

11

necessitam serem biotransformadas para apresentarem seu efeito farmacológico. Assim, é de

extrema importância considerar o risco da ingestão concomitante de plantas medicinais e/ou

fitoterápicos com outros medicamentos por pacientes oncológicos, uma vez que estas plantas

podem ser fortes indutoras ou inibidoras das enzimas do complexo do citocromo p450.

(FUKUMASU, 2008).

O suco de Toranja (Grapefruit) é um exemplo desta interação, pois é um conhecido inibidor

da enzima do complexo do citocromo p450 CYP3A4 nos enterócitos. Este suco promove

maior biodisponibilidade de diversas substâncias, incluindo-se os vários quimioterápicos

antineoplásicos de ação direta, que podem então ter seus efeitos colaterais aumentados, como

por exemplo, o Erlotinib® que é biotransformado principalmente pela CYP3A4.

(FUKUMASU, 2008).

Deve-se também considerar a possibilidade de indução dessas enzimas pelo uso de plantas

medicinais, que acarretaria na diminuição da eficácia dos medicamentos por acelerar sua

eliminação do organismo, aumentar a biodisponibilidade das pró-drogas e conseqüentes

efeitos colaterais por acelerar sua ativação. Uma das plantas mais conhecidas por esse efeito

indutor de enzimas do complexo do citocromo p450 é a Erva de São João (Hypericum

perforatum), indutora da CYP3A4. Pesquisas apontam evidências que o hipérico reduz os

níveis séricos de vários fármacos, provavelmente pelo citocromo p450 e a isoenzima

CYP1A2. Dentre estes fármacos, os estudos mencionam alguns anti retrovirais, ciclosporinas,

digoxinas e anticontraceptivos orais. E devido a essa indução enzimática, durante o

tratamento quimioterápico com o Irinotecan, um pró-fárrmaco substrato para CYP3A4, os

pacientes não devem fazer associação ao uso de hipérico. (FUKUMASU, 2008; CORDEIRO,

2005).

Estas interações medicamentosas tem sido motivo de grande preocupação e devido a

inúmeros relatos a ANVISA tem intensificado sua fiscalização restringindo a venda de alguns

fitoterápicos, como o Hypericum perforatum (Erva de São João) e Piper methysticum (Kava

Kava), somente mediante prescrição médica. (BRASIL, 2002a; BRASIL 2002b).

Conforme abordado, as plantas medicinais não são sinônimos de inocuidade: elas têm uma

caracterização positiva e negativa de acordo com as suas propriedades químicas específicas. A

tabela 1 apresentada neste estudo, aborda os princípios ativos das drogas vegetais e suas

Page 12: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

12

funções no organismo humano. Tais princípios ativos são classificados como: alcalóides,

antraquinonas, saponinas, resinas, mucilagens, ácidos orgânicos, flavonóides, taninos, óleos

essenciais, glicosídeos e salicilatos. Quanto à eficácia terapêutica dos fitoterápicos depende

muito da absorção destes princípios ativos, o que envolve a farmacocinética e a

farmacodinâmica.

No entanto, quando comparadas com outras terapias, especialmente terapias com drogas

sintéticas, é possível identificar algumas das vantagens no uso da Fitoterapia. Dentre estas,

destacam-se o alto grau de confiança que grande parte da população exerce nos

fitomedicamentos baseada parcialmente na percepção emocional de que os produtos naturais

são mais brandos e menos perigosos do que os produtos químicos, a eficácia aliada ao baixo

custo operacional, a relativa facilidade na aquisição das plantas e o costume popular difundido

de geração após geração. (KALUFF, 2008).

Para Teske (1997) os benefícios adquiridos do uso da fitoterapia são variados e amplamente

divulgados. Algumas plantas medicinais que possuem como principio ativo, por exemplo,

óleos essenciais podem atuar como anti-séptico, diuréticos, antiespasmódicos, anti-

inflamatórios e expectorantes e as que possuem como principio ativos os flavonóides têm

algumas propriedades farmacológicas que age sobre capilares, em determinados distúrbios

cardíacos e circulatórios e também possui ação antiespasmódica. Os vegetais que apresentam

ácidos orgânicos como princípio ativo são essenciais para o tecido conjuntivo, pele, cabelos e

unhas, sendo bastante utilizado na fitocosmética.

7 PLANTAS MEDICINAIS: CARACTERÍSTICAS E USO FARMACOLÓGICO

De acordo com Shimada (2009) existe uma grande variedade de espécies de plantas existentes

da flora mundial com importantes propriedades terapêuticas. O emprego das plantas

medicinais na recuperação da saúde tem cada vez mais se difundido e com base neste

conhecimento e na observação frente à assistência de enfermagem este artigo selecionou

cinco plantas medicinais dentre as mais conhecidas e utilizadas pelos pacientes oncológicos.

Page 13: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

13

7.1 Aveloz

Euphorbia tirucalli L – Nomes comuns: Almeidinha, árvore-de-são-sebastião, árvore-de-

lápis, cega-olho, graveto-do-diabo, mata-verrugas, etc. Características: Arbusto grande ou

arvoreta suculenta, nativa de Madagascar e amplamente cultivada no Brasil, principalmente

no Nordeste.

Uso farmacológico: Em sua composição química foram encontradas diversas substâncias

pertencentes a classes dos polifenóis, flavonoídes, taninos, triterpenos, eteróis,

hidrocarbonetos, ácidos orgânicos e açucares, destacando dentre eles um éster do forbol que é

um agente procancerígeno O látex de seus ramos apresenta atividades farmacológicas como

antibactericida, anti-herpético e anti-mutagênico e é empregado externamente em algumas

regiões do país para cauterizar abcessos e verrugas e, possivelmente para remover

melanomas. No entanto, devido a sua toxidade tem capacidade de irritar a pele, podendo

causar cegueira temporária ou permanente se atingir os olhos, por lesão na córnea. É utilizado

na medicina popular como coadjuvante no tratamento do câncer, embora nenhuma evidência

científica de sua atividade anticancerígena em usos internos ainda tenha sido comprovada. No

Nordeste do Brasil, é ainda utilizado popularmente contra sífilis, como antimicrobiano, contra

parasitas intestinais, laxante, no tratamento de asma, tosse e reumatismo. (BARBOSA, 2009;

LORENZI, 2002).

Figura 1. Euphorbia tirucalli L

Fonte: LORENZI,2002.

Page 14: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

14

7.2 Babosa

Aloe vera – Nomes comuns: Aloé, babosa-grande, erva-de-azebre, caraguatá-de-jardim, erva-

babosa. Características: Planta herbácea, suculenta, de até 1 m de altura, de origem

provavelmente africana. No Nordeste, cresce de forma espontânea em toda a região. Prefere

solo arenoso e não exige muita água. É uma das plantas de uso tradicional mais antiga que se

conhece.

Uso farmacológico: Nas suas folhas encontra-se um composto de natureza antraquinônica, as

aloínas, e uma mucilagem constituída de um polissacarídeo de natureza complexa, o

aloeferon, semelhante a arabinogalactana. Esta mucilagem encontrada nas folhas pode ser

separada em gel ou látex. A fase gel contém glucomanan, acemanan, magnésio, glucose,

ácido linolênico, saponinas, esteróis, cálcio e colesterol. O látex, por sua vez, contém

heterosídeos antraqunônicos como a aloína, emodina e barboloína. Também descobriu-se em

sua composição altas dose de vitaminas A, C e E, além de zinco e aminoácidos. O gel da Aloe

vera é conhecido pela sua atividade fortemente cicatrizante nos casos de queimaduras e

ferimentos superficiais da pele, antimicrobiana sobre bactérias e fungos, antiviral e

antitumoral por estimular a resposta do sistema imunológico. Toda via, os compostos

antraquinônicos são tóxicos quando ingeridos em dose alta, podendo até mesmo causar

nefrotoxidade. Por esta razão, lambedores, xaropes e outros remédios preparados com base

nesta planta, podem causar grave crise de nefrite aguda quando ingeridos com doses maiores

das que já foram preconizadas. (BARBOSA, 2009; LORENZI, 2002).

Figura 2. Aloe vera

Fonte: LORENZI,2002.

Page 15: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

15

7.3 Chá Verde

Camellia sinensis – Nomes comuns: Chá, chá-preto, chá-da-índia, black tea (inglês), green

tea (inglês). Características: Arbusto perenifólio grande ou arvoreta de 3-4 m, originária da

Ásia na região de Assam, Laos e Sião e cultivada em larga escala especialmente na China,

Japão e Ceilão e, em menor escala no Brasil no litoral sul do estado de São Paulo.

Comercialmente considera-se como chá-verde as folhas jovens e brotos foliares produzidos

por dessecação das folhas sem fermentação, ou chá-preto produzido por dessecação após

fermentação parcial.

Uso farmacológico: Importante antioxidante vegetal que auxilia o corpo na resistência a

várias condições patológicas especialmente aquelas associadas com o envelhecimento, e por

isso é classificado como agentes quimioportetores. Em sua composição encontra-se polifénois

do tipo flavonóides do grupo proantocianidinas que, segundo evidências obtidas em diversos

estudos com pequenos animais in vitro, são eficazes como antioxidantes potentes,

removedores de radicais livres e inibidores de peroxidação de lipídeos. Também são

inibidores ativos de colagenases, elastase, hialuronidase e β-glucuronidase, todas envolvidas

na degradação dos principais constituintes estruturais da matriz extravascular. Portanto, as

proantocianidinas ajudam a manter a permeabilidade capilar normal. Possui ainda atividade

antimutagênica, sendo que os polifenóis, particularmente o galato de (-)-epigalocatequina

(EGCg), têm atividade antitumoral.

Como agentes imunoestimulantes, ajudam a aumentar a atividade do sistema imunológico

estimulando fatores imunológicos mediados por células (macrófagos, granulócitos,

leucócitos) e por mediadores liberados pelo sistema imunológicos celular, porém de forma

inespecífica. Além disso, estudos em animais demonstraram que o chá verde estimula a

atividade de transferase hepática UDP-glicuronil e proteje contra peroxidação de lipídeos no

rim. Ainda outras pesquisas mostraram que a proantocianidinas agem sinergicamente com a

vitamina C potencializando a atividade dessa vitamina na cicatrização de feridas e na

eliminação do excesso do colesterol. Todavia, declarações de eficácia para distúrbio de falta

de atenção/hiperatividade e artrite exigem mais verificações científicas. (CARVALHO, 2004;

LORENZI, 2002; SCHULZ, 2002).

Page 16: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

16

Figura 3. Camellia sinensis

Fonte: SCHULZ, 2002.

7.4 Graviola

Annona muricata L. – Nomes comuns: Araticum, araticum-de-comer, araticum-do-grande,

coração-de-rainha, carossol, fruta-do-conde, graviola-do-norte, jaca-do-pobre, jaca-do-pará,

pinha, etc. Características: Árvore originária da América tropical, principalmente Antilhas e

América Central, é amplamente cultivada em todos os países de clima tropical, como o Brasil,

em especial no Nordeste.

Uso farmacológico: A literatura etnofarmacológica registra vários usos medicinais como

antidiarréicos e antiespamódicos, adstringentes e antidiabético Porém todos esses são

baseados na tradição popular que atribui a esta planta várias propriedades sem que ainda a

eficácia e segurança tenham sido comprovadas cientificamente. No entanto vale à pena

lembrar que a planta, e não a fruta é potencialmente considerada tóxica para o homem. O

estudo fitoquímico mostrou que as folhas contêm até 1.8% de óleo essencial rico em beta-

cariofileno, gamacadineno e alfa-elemeno. Na composição química do fruto estão presentes

açucares tanino, ácido ascórbico, pectinas e vitaminas A (beta-carotenos) C e do complexo B,

enquanto nas folhas, casca e raiz foram identificados vários alcaloídes como, por exemplo,

reticulina, coreximina, Também são encontrados acetogeninas, composto natural que tem

atividade antitumoral e inseticida, sendo a mais ativa delas a anonacina e outra substância

desta mesma classe que mostrou intensa atividade contra o adenocarcinoma do colon.

(LORENZI, 2002).

Page 17: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

17

Figura 4. Annona muricata L.

Fonte: LORENZI,2002.

7.5 Unha de Gato

Uncaria guianensis (Aubl.) Gmelin – Nomes comuns: Unha-de-cigana, carrapato-

amarelado, garra-de-gavião, cat’s claw (inglês). Características: Arbusto vigoroso e robusto,

de ramos trepadores com um espinho em forma de gancho em cada axila foliar. Possui 34

espécies concentradas no sudoeste da Ásia e três espécies ocorrem no continente africano.

Ainda nas florestas tropicais da América do Sul são encontradas outras duas espécies,

Uncaria tomentosa e Uncaria guaianensis, bem conhecida pelos antigos Incas e

posteriormente pelos índios nativos do Peru que as utilizavam terapeuticamente no tratamento

de processos inflamatórios, artrite, casos de câncer, infecções virais, úlceras gástrica e

desordens menstruais.

Uso farmacológico: Dentre os compostos isolados desta planta, foi evidenciado uma ação

imunoestimulante dos alcalóides oxindólicos pentacíclicos, assim como uma inibição do

crescimento de células leucêmicas. Estudos evidenciaram que os alcalóides oxindólicos

encontrados nas raízes e cascas desta planta estimulam o sistema imunológico em até 50%.

Desta forma, houve uma indução ao seu uso adjuvante em vários países no tratamento da

AIDS, do câncer e de outras moléstias que afetam o sistema imunológico. Outro grupo de

composto pesquisado são os triterpenos polioxigenados e os glicosídeos do ácido quinóvico.

Estes compostos apresentam atividade anti-inflamatória através da inibição da enzima

fosfolipase A2. Promovem também uma incorporação reparadora de lipídeos nas membranas

celulares danificadas e apresentam efeito inibidor de infecções virais. Em sua composição

ainda encontra-se outras substâncias bioativas, as procianidinas, que também tem

Page 18: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

18

responsabilidade pelas atividades antioxidativa, antiinflamatória e anti-viral. (CARVALHO,

2004; LORENZI, 2002; SCHULZ, 2002).

Figura 5. Uncaria guianensis (Aubl.) Gmelin

Fonte: LORENZI,2002.

8 CONCLUSÃO

A utilização da fitoterapia como terapia alternativa é uma realidade fortemente incorporada

aos costumes da população desde a antiguidade, sobretudo, entre as pessoas portadoras de

doenças crônicas, como o câncer. As razões encontradas que justificam a utilização são:

afinidade pela utilização de produtos naturais devido a grande biodiversidade existente no

Brasil, tradição cultural transmitida entre as gerações, menor custo e facilidades na aquisição e

insatisfação com a impessoalidade da medicina moderna. Não obstante, observou-se que, não é

costume dos pacientes mencionarem o uso de plantas medicinais e produtos fitoterápicos

durante uma consulta médica ou entrevista com enfermeiros, farmacêuticos e nutricionistas,

pois para eles prevalece a idéia errônea de que se é de origem natural, não apresenta riscos à

saúde.

Alguns estudos chegam a afirmar a existência de aproximadamente 700 espécies de plantas, as

quais apresentam atividades sobre tumores malignos. Isso demonstra a importância de incluir

na anamnese uma investigação mais cuidadosa quanto ao uso de plantas medicinais e produtos

fitoterápicos. Em se tratando de pacientes oncológicos, a necessidade de uma investigação

mais detalhada torna-se ainda maior, pois além dos quimioterápicos, eles utilizam outros

medicamentos para minimizar ou combater os eventos adversos inerentes a quimioterapia.

Ademais, segundo uma pesquisa mostrou 20 a 30% aproximadamente das reações adversas

estão relacionadas à interação medicamentosa que neste caso, podem ser desencadeadas pelo

consumo de elementos naturais, seja por meio de fitoterápicos ou até mesmo através da dieta

Page 19: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

19

do paciente em associação com quimioterapia, uma vez que as plantas medicinais podem ser

fortes indutoras ou inibidoras das enzimas do complexo do citocromo p450.

Este artigo também possibilitou conhecer os inúmeros benefícios atribuídos ao uso da

fitoterapia. Algumas plantas medicinais possuem importantes propriedades terapêuticas e seu

emprego na recuperação da saúde tem cada vez mais despertado os pesquisadores e as

indústrias farmacêuticas interessadas em produzir novos medicamentos. Contudo, poucos

estudos têm sido realizados. Muitas propriedades terapêuticas atualmente conhecidas e até

mesmo divulgadas pela mídia não possuem comprovação científica.

Diante disso, conclui-se que ao passo que a fitoterapia cada vez mais se insere na rotina de

muitos pacientes oncológicos e que estes desconhecem os riscos, os profissionais de saúde,

médicos, enfermeiros, farmacêuticos e nutricionistas, que fazem parte do dia-a-dia destes

pacientes, necessitam se atualizarem neste assunto. Desta forma, este artigo visa despertar

nestes profissionais a realização de novas pesquisas científicas a fim de oferecer um serviço de

qualidade integrando à medicina convencional os recursos disponíveis na natureza.

THEORETICAL APPROACH ABOUT THE USE OF HERBAL MEDICINES IN

CANCER PATIENTS AS AN ALTERNATIVE THERAPY

ABSTRACT

The users of herbal medicine are generally people with chronic diseases such as cancer, which

use alternative or complementary medicine as an additional source to their treatment.

However, it is known that many medicinal plants may trigger adverse reactions and / or drug

interactions when combined with chemotherapy. This article aims to analyze the use of herbal

medicines in cancer patients as an alternative therapy. To that end, we conducted a review of

the literature in the databases LILACS, SciELO, journals and books, Herbal Medicine,

Clinical Pharmacology and Oncology and scientific papers published in the period 1999 to

2010. During the nursing visits and outpatient care to patients with malignancy in a private

oncology was identified medicinal plants commonly used by them and among these, five were

selected to compose articles which were: Euphorbia tirucalli L, Aloe vera, Camellia sinensis,

Annona muricata L. and Uncaria guianensis (Aubl.) Gmelin. This study also helped

understand the numerous benefits attributed to the use of herbal medicine as well as the risks

when the consumption is done indiscriminately and without professional supervision.

Therefore, it is recommended to the health team involved in the care of cancer patients an

update on the subject as well as the attainment of new scientific research on this issue.

Keywords: Alternative therapy. Phytotherapy. Cancer

Page 20: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

20

REFERÊNCIAS

BARBOSA, C. V. Avaliação do potencial antineoplásico de plantas medicinais utilizadas

como coadjuvantes no tratamento do câncer pelos pacientes do CACON/UFAL. 2009.

112 f. Dissertação – Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Estadual de

Alagoas, Maceió. 2009. Disponível em: < bdtd.ufal.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo

=653 > Acesso em: 29 out. 2010.

BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução - RE nº 356, de 28/02/2002a: Venda sob prescrição

médica do Piper methysticum (Kava Kava). Disponível em: <

http://www.ibama.gov.br/flora/resolucoes/356-02.pdf > Acesso em: 15 nov. 2010

BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução - RE nº 357, de 28/02/2002b: Venda sob prescrição

médica do Hypericum perforatum (Erva de São João). Disponível em: <

http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/2002/357_02re.htm > Acesso em: 15 nov. 2010

BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Estimativas 2010: Incidência de

câncer no Brasil. Rio de Janeiro. INCA, 2009. Disponível em:

http://www.inca.gov.br/estimativa/2010/estimativa20091201.pdf > Acesso em: 25 nov. 2010.

BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução- RDC nº 14 de 31/03/2010: Dispõe sobre os

registros dos medicamentos fitoterápicos. Disponível em: < http:

www.farmacotecnica.ufc.br/arquivos/RDC%2014_2010.pdf > Acesso em: 22 out. 2010.

CALIXTO, J. B.; SIQUEIRA, J. M. J. Desenvolvimento de Medicamentos no Brasil:

Desafios. Gazeta Médica da Bahia, 2008;78 (Suplemento 1):98-106.Disponível em:

<http://www.gmbahia.ufba.br/index.php/gmbahia/article/viewFile/269/260> Acesso em: 10

out. 2009.

CARVALHO, J.C.T. Fitoterápicos anti-inflamatórios: aspectos químicos, farmacológicos e

aplicações terapêuticas. Ribeirão Preto, SP: Tecmedd, 2004.

CORDEIRO, C.H.G.; CHUNG. M.C.; SACRAMENTO, L.V.S. Interação medicamentosa de

fitoterápicos e fármacos: Hypericum perforatum e Piper methysticum. Revista Brasileira de

Farmacognosia 15(3): 272-278,Jul./Set. 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbfar

/v15n3/a19v15n3.pdf > acesso 10 out. 2009.

ELIAS, M. C.; ALVES, E. Medicina não-convencional: prevalência em pacientes

oncológicos. Revista Brasileira de Cancerologia. 2002. Disponível em:

<http://www.inca.gov.br/rbc/n_48/v04/pdf/artigo6.pdf. >Acesso em: 01 out. 2009.

FUKUMASU, H.; LATORRE, A. O.; BRACCI, N. et al. Fitoterápicos e potenciais interações

medicamentosas na terapia do câncer. Revista Brasileira de Toxicologia 2,1 n.2 (2008) 49-

59 Disponível em: <http://iah.iec.pa.gov.br/iah/fulltext/lilacs/revbrastoxicol/2008v21n2/

revbrastoxicol2008v21n2p49-59.pdf>. Acesso em: 10 out. 2009.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996.

Page 21: UTILIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS POR PACIENTES …bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/FC/FC03/FERREIRA-Emanuele... · Ex.: mentol nas hortelãs, timol o tomilho, eugenol no cravo da

21

JACONODINO, C. B.; AMESTOY, S. C.; THOFEHRN, M.B. A utilização de terapias

alternativas por pacientes em tratamento quimioterápico. Cogitare Enferm 13(1): 61-6,

Jan/Mar 2008. Disponível em: < http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/ index.php/cogitare/ article/view

/11953/8434 > Acesso em: 10 Out. 2009.

LOPES, A.; IYEYASU, H.; CASTRO, R. M. R.P.S. Oncologia para Graduação. 2 ed. São

Paulo: Tecmed, 2008.

LORENZI H.; MATOS, F. J. A. Plantas Medicinais no Brasil: nativas e exóticas. Nova

Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2002.

VEIGA JR, V. F.; PINTO, A.C.; MACIEL, M.A.M. Plantas medicinais: cura segura? Quím.

Nova, São Paulo, vol 28, n 3, Jun 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.

php?pid=S0100-40422005000300026&script=sci_arttext> Acesso em: 22 Out 2010.

KALUFF, L. Fitoterapia Funcional dos princípios ativos à prescrição de fitoterápicos.

Parte 1. São Paulo: VP, 2008.

PAGE, C.; CURTIS, M.; SUTTER, M. et al. Farmacologia integrada. 2. ed. São Paulo:

Manole, 2004.

SCHULZ, V.; HANSEL, R.; TYLER, V. E. Fitoterapia Racional: Um guia de fitoterapia

para as ciências da saúde. São Paulo: Manole, 2002.

SILVA, S. F. L.; WANDERBROOKE, A. C. N.S. O uso de terapias holísticas por pacientes

oncológicos como forma de exercício da autonomia. Psicópio: Revista Virtual de Psicologia

Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, a.4, n.8, ago. 2008- jan.2009oa08-j 48, Disponível

em: < http://susanaalamy.sites.uol.com.br/psicopio_n8_47.pdf> Acesso em: 01 out. 2009.

SHIMADA, C. S.; SILVERIO, F. S. Fitoterapia e Oncologia possíveis riscos e benefícios.

São Paulo: Conectfarma, 2009.

TESKE, M.; TRENTINI, A. M. M. Herbarium compêndio de fitoterapia. 3. ed. Curitiba:

Herbarium laboratório botânico, 1997.