Utilização de Metacaulim Para a Produção de Concreto Autoadensável

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Utilização de metacaulim para a produção de concreto auto- adensável com composição granulométrica de agregados Anderson F. Andrade (1); Eguinaldo M. Lira (1); Maílson M. Queiroz (1); Karoline A. Melo* (2); Arnaldo M. P. Carneiro (3) (1) Graduando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco (2) Doutoranda em Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco email: [email protected] (3) Professor Doutor, Departamento de Engenharia Civil Universidade Federal de Pernambuco email: [email protected] * Rua Desembargador Virgílio de Sá Pereira, 544, Ap. 303, Cordeiro, Recife – PE CEP: 50721-040 RESUMO O concreto auto-adensável consiste em um concreto especial, caracterizado principalmente por sua capacidade de se mover sob ação exclusiva do peso próprio, fazendo com que seja dispensado o processo de adensamento. As principais propriedades do concreto auto- adensável são a capacidade de preenchimento, resistência ao bloqueio e resistência à segregação, as quais exigem métodos de ensaio específicos, diferentes dos usualmente empregados na avaliação dos concretos convencionais. Para que todos estes requisitos sejam atendidos, sua produção envolve uma composição adequada dos materiais constituintes e processo de dosagem complexo. Este trabalho tem como objetivo avaliar o uso de dois tipos de metacaulim na produção de concreto auto-adensável, cujos agregados foram utilizados a partir de composições granulométricas. Foram utilizados cimento CP II Z, areia média, britas 0 e 1, e aditivo superplastificante de base policarboxilatos. Para a composição granulométrica dos agregados foi estudada uma mistura ternária entre a areia e os dois tipos de brita, e uma mistura quaternária incluindo-se o metacaulim vermelho. Nos concretos com a mistura ternária o metacaulim branco foi empregado como aglomerante junto com o cimento. Foram avaliadas as propriedades de espalhamento, Funil-V, massa específica e resistência à compressão aos 7 e 90 dias de idade. Os concretos obtidos apresentaram bom comportamento em relação às propriedades estudadas. As misturas tiveram bom aspecto em termos de consistência e coesão, sem indícios de segregação, o que é atribuído tanto ao uso do metacaulim, quanto à otimização da granulometria dos agregados. No caso da resistência à compressão, os melhores resultados ocorreram nas misturas que empregaram o metacaulim branco. Palavras Chaves: concreto auto-adensável, metacaulim, composição granulométrica

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  • Utilizao de metacaulim para a produo de concreto auto-adensvel com composio granulomtrica de agregados

    Anderson F. Andrade (1); Eguinaldo M. Lira (1); Malson M. Queiroz (1);

    Karoline A. Melo* (2); Arnaldo M. P. Carneiro (3)

    (1) Graduando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco

    (2) Doutoranda em Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco email: [email protected]

    (3) Professor Doutor, Departamento de Engenharia Civil

    Universidade Federal de Pernambuco email: [email protected]

    * Rua Desembargador Virglio de S Pereira, 544, Ap. 303, Cordeiro, Recife PE CEP: 50721-040

    RESUMO O concreto auto-adensvel consiste em um concreto especial, caracterizado principalmente

    por sua capacidade de se mover sob ao exclusiva do peso prprio, fazendo com que seja

    dispensado o processo de adensamento. As principais propriedades do concreto auto-

    adensvel so a capacidade de preenchimento, resistncia ao bloqueio e resistncia

    segregao, as quais exigem mtodos de ensaio especficos, diferentes dos usualmente

    empregados na avaliao dos concretos convencionais. Para que todos estes requisitos sejam

    atendidos, sua produo envolve uma composio adequada dos materiais constituintes e

    processo de dosagem complexo. Este trabalho tem como objetivo avaliar o uso de dois tipos

    de metacaulim na produo de concreto auto-adensvel, cujos agregados foram utilizados a

    partir de composies granulomtricas. Foram utilizados cimento CP II Z, areia mdia, britas

    0 e 1, e aditivo superplastificante de base policarboxilatos. Para a composio granulomtrica

    dos agregados foi estudada uma mistura ternria entre a areia e os dois tipos de brita, e uma

    mistura quaternria incluindo-se o metacaulim vermelho. Nos concretos com a mistura

    ternria o metacaulim branco foi empregado como aglomerante junto com o cimento. Foram

    avaliadas as propriedades de espalhamento, Funil-V, massa especfica e resistncia

    compresso aos 7 e 90 dias de idade. Os concretos obtidos apresentaram bom comportamento

    em relao s propriedades estudadas. As misturas tiveram bom aspecto em termos de

    consistncia e coeso, sem indcios de segregao, o que atribudo tanto ao uso do

    metacaulim, quanto otimizao da granulometria dos agregados. No caso da resistncia

    compresso, os melhores resultados ocorreram nas misturas que empregaram o metacaulim

    branco.

    Palavras Chaves: concreto auto-adensvel, metacaulim, composio granulomtrica

  • 1 INTRODUO

    Com a ampliao do campo de utilizao do concreto, surgiram problemas decorrentes

    do processo de adensamento gerados, principalmente, pela maior complexidade das

    estruturas. Isto mais evidente em elementos com grande densidade de armadura, ou em

    reas de difcil acesso, j que o adensamento geralmente feito por meio de agulha de

    imerso. Com isto, houve a necessidade de se desenvolver um concreto que apresentasse um

    grau de consistncia capaz de dispensar o adensamento (NUNES, 2001).

    Neste contexto surge o concreto auto-adensvel - CAA, o qual caracterizado

    principalmente por sua capacidade de se mover no interior das frmas sob ao exclusiva do

    peso prprio (COPPOLA, 2001; KHAYAT, 2000). Trs propriedades bsicas definem este

    material, que so: capacidade de preenchimento ou deformabilidade, resistncia segregao,

    e capacidade de passar atravs de sees estreitas ou resistncia ao bloqueio (GOMES, 2002).

    Estas propriedades so conseguidas principalmente a partir do adequado proporcionamento

    dos materiais.

    Devido s suas propriedades particulares no estado fresco, os mtodos de ensaio

    aplicados na caracterizao dos concretos convencionais no so adequados para o CAA. Isto

    faz com que sejam necessrios mtodos prprios para este tipo de concreto, seguindo

    metodologias apresentadas na literatura, podendo-se destacar como os mais utilizados o

    espalhamento (Slump flow), Funil-V, Caixa-L e Caixa-U.

    O CAA bastante sensvel a algumas caractersticas dos materiais constituintes como,

    por exemplo, o tamanho e a forma dos agregados. A distribuio granulomtrica dos materiais

    deve ser contnua, de forma que as partculas menores preencham os vazios entre as maiores,

    a fim de evitar a obstruo do CAA diante de regies estreitas. Um ponto importante a ser

    observado a necessidade de uma maior quantidade de finos, que contribui para garantir a

    viscosidade adequada.

    A seguir, sero apresentadas as principais caractersticas do metacaulim, o qual foi

    empregado neste trabalho como adio, bem como alguns aspectos relacionados

    composio granulomtrica dos agregados.

    1.1 Metacaulim

    Dentre as adies minerais utilizadas para melhorar as propriedades de concretos e

    argamassas encontra-se o metacaulim, que consiste em um material de elevada finura

    proveniente da calcinao da argila caulintica a temperaturas de 650C a 800C (PERA,

    2001). As temperaturas de calcinao s quais a caulinita submetida causam desorganizao

    estrutural e conferem, ao material resultante, propriedades pozolnicas, conforme citam Rojas

    e Cabrera (2002).

    Segundo Souza e Dal Molin (2002), alm da calcinao, necessrio que o material

    passe por um processo de moagem para adquirir as propriedades pozolnicas. Os autores

    citam que quando o tamanho resultante das partculas inferior a 5 m, o metacaulim considerado de alta reatividade.

    A atividade pozolnica do metacaulim se d atravs do rpido consumo de hidrxido

    de clcio (CaOH) proveniente da hidratao do cimento produzindo CSH, que o hidrato

    responsvel por garantir as propriedades mecnicas dos concretos e argamassas. Outros

    compostos tambm so formados, sendo que a natureza das reaes qumicas depende da cura

    a qual o elemento estar submetido (ROJAS; CABRERA, 2002).

    Dentre as vantagens do uso do metacaulim como adio em concretos e argamassas,

    Rojas e Cabrera (2002) citam melhoras na trabalhabilidade, microestrutura e resistncia

    mecnica, menor permeabilidade e maior durabilidade.

  • 1.2 - Composio granulomtrica de agregados

    Um importante aspecto a ser definido em relao aos agregados empregados no CAA

    diz respeito a granulometria. Quando a distribuio granulomtrica dos agregados no

    contnua, podem ocorrer alguns problemas no concreto, como: maior consumo de cimento,

    levando a um aumento no custo final; reduo da fluidez; e existncia de mais vazios entre os

    agregados.

    Conforme descreve Neville (1997), os principais fatores afetados pela granulometria

    so a rea superficial dos agregados, o volume relativo ocupado pelas partculas, a

    trabalhabilidade da mistura e a tendncia segregao. Agregados com granulometria

    descontnua levam a uma maior tendncia segregao. Estes tipos so recomendados para

    misturas de baixa fluidez, adensadas por vibrao, sendo, portanto, desaconselhadas para o

    uso em CAA.

    Desta forma, a utilizao de agregados com curva granulomtrica otimizada um fator

    muito importante para se conseguir as propriedades desejadas no CAA, e isto pode ser

    conseguido atravs da elaborao de curvas de composio granulomtrica de diferentes tipos

    de agregados.

    Os primeiros estudos referentes dosagem granulomtrica dos agregados foram

    realizados por William Fuller (CARNEIRO et al., 2002). Em seguida, surgiram diversos

    trabalhos que visavam encontrar mtodos de se definir composies ideais, ou seja, que levem

    a granulometrias contnuas, e maior compacidade da mistura de concreto ou argamassa.

    Dentre os trabalhos apresentados no Brasil para a obteno de composies de

    agregados, pode-se destacar o estudo apresentado por Carneiro (1999). O mtodo prope que

    a distribuio do tamanho das partculas se d segundo uma progresso geomtrica, a partir da

    expresso apresentada na Equao 1.

    )1/()1(100 rnr PPA =

    (1)

    Onde:

    A = primeiro termo do somatrio, correspondente quantidade de material retido

    na peneira de abertura mxima;

    Pr = razo entre as quantidades em massa retidas em cada peneira;

    n = nmero de termos da PG.

    2 METODOLOGIA

    2.1 - Materiais utilizados

    Foi feita a investigao de alguns materiais, buscando-se definir a possibilidade de

    utilizao deles na produo do CAA. Para isto, estes materiais foram caracterizados a partir

    das definies das normas da ABNT.

    O cimento utilizado foi do tipo CP II Z, que consiste em cimento composto com

    adio de pozolanas que, neste caso, so cinzas volantes. A massa especfica deste cimento,

    conforme laudo do fabricante, de 3,1 g/cm3.

    Foram utilizados dois tipos de metacaulim sendo um de colorao branca, cuja massa

    especfica de 2,49 g/cm, usado como adio mineral em substituio parcial ao cimento, e

  • outro de colorao avermelhada e massa especfica de 2,56 g/cm, o qual foi empregado em

    uma mistura quaternria juntamente com os agregados.

    Os agregados empregados foram areia do tipo quartzosa, procedente de pedreira

    localizada s margens da BR 101 Sul no Estado de Pernambuco, e britas 0 e 1 de origem

    grantica. Como agregado mido utilizou-se a areia, e no caso do agregado grado, uma

    composio granulomtrica entre a areia e as britas. Na Figura 1 esto apresentadas as curvas

    de composio granulomtrica dos agregados, e na Tabela 1 esto resumidas as massas

    especficas dos materiais empregados.

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    1912,59,56,34,82,41,20,60,30,150,075

    Peneiras

    % R

    etida a

    cum

    ula

    da

    Areia Brita 0 Brita 1

    Figura 1 Distribuio granulomtrica dos agregados

    Tabela 1 Massas especficas dos materiais

    Material Massa especfica (g/cm3)

    Cimento 3,10

    Areia 2,62

    Brita 0 2,65

    Brita 1 2,65

    Metacaulim branco 2,49

    Metacaulim vermelho 2,56

    A definio das misturas granulomtricas seguiu a metodologia de Carneiro (1999),

    apresentada anteriormente. Foram estudados dois tipos de composio granulomtrica. A

    primeira delas foi uma mistura quaternria de brita 1, brita 0, areia e metacaulim vermelho,

    sendo que no concreto produzido com estes materiais, no foi empregado outro tipo de adio

    em substituio ao cimento. A segunda composio adotada foi uma mistura ternria de

    brita 1, brita 0 e areia, ocorrendo neste caso a substituio de parte do cimento do concreto

    por metacaulim branco.

    A definio da mistura quaternria se deu variando-se a razo entre as peneiras (Pr),

    observando-se o aspecto de cada mistura seca dos materiais, bem como avaliando sua massa

    especfica e as propores resultantes dos agregados em relao ao total de concreto em

    funo dos parmetros usualmente definidos para o CAA.

  • Foi empregado o aditivo superplastificante Glenium 51, cuja base qumica de

    policarboxilatos. Este aditivo possui um teor de slidos de 30%, de forma que as porcentagens

    de aditivo utilizadas nas misturas esto relacionadas a esta porcentagem. Em funo disso, a

    gua de amassamento foi corrigida, descontando-se a gua presente no aditivo.

    2.2 - Produo dos concretos

    Os concretos foram produzidos em betoneira de eixo inclinado, com capacidade de

    cuba de 120 L, em ambiente de laboratrio. A seqncia de mistura adotada foi:

    1) Agregado grado + 80% da gua mistura por 1 minuto 2) Cimento + metacaulim + restante da gua mistura por 1,5 minuto 3) Agregado mido mistura por 1,5 minuto 4) Limpeza das ps betoneira parada por 3 minutos 5) Mistura 2 minutos 6) Aditivo superplastificante mistura por 3 minutos

    Como ponto de partida para a dosagem dos concretos, foram adotados alguns

    procedimentos apresentados no Mtodo de dosagem Repette-Melo (MELO, 2005), bem como

    experincias anteriores de utilizao dos mesmos materiais empregados neste trabalho, para a

    produo de concreto convencional.

    Os concretos produzidos foram ensaiados em relao s propriedades no estado fresco

    e endurecido. No estado fresco, foram realizados os ensaios de massa especfica,

    espalhamento e Funil-V. No estado endurecido, mediu-se a resistncia compresso aos

    7 dias e aos 90 dias, a fim de se verificar a ao do fler nas primeiras idades e aps decorrido

    um tempo significativo de cura. Os corpos-de-prova foram curados em cmara mida at a

    idade de rompimento.

    O teor de aditivo superplastificante foi ajustado para que fossem atendidos os

    parmetros definidos para o CAA, que so: dimetro de abertura no espalhamento entre 600 e

    800 mm e tempo de escoamento no Funil inferior a 10 s.

    3 RESULTADOS

    3.1 Composio granulomtrica dos agregados

    Quanto ao estudo das misturas de agregados, na Tabela 2 tem-se a distribuio das

    porcentagens passantes das misturas quaternrias definidas em funo do Pr, cujas curvas

    esto representadas na Figura 2, e na Tabela 3 so apresentadas as propores de cada

    componente na mistura e a massa unitria final.

  • Tabela 2 Porcentagens passantes das misturas quaternrias de componentes

    % Passante Peneiras

    Pr = 0,70 Pr = 0,80 Pr = 0,90 Pr = 0,95 Pr = 0,98

    19 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

    9,8 69,13 77,59 84,65 87,54 89,07

    4,8 47,52 59,67 70,83 75,70 78,35

    2,4 32,39 45,33 58,39 64,46 67,85

    1,2 21,80 33,86 47,20 53,77 57,56

    0,6 14,39 24,68 37,13 43,62 47,48

    0,3 9,20 17,34 28,06 33,98 37,59

    0,15 5,57 11,47 19,90 24,82 27,91

    0,075 3,03 6,77 12,56 16,12 18,42

    0,05 1,25 3,01 5,95 7,85 9,12

    0,001 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

    0,00

    20,00

    40,00

    60,00

    80,00

    100,00

    120,00

    0,001 0,01 0,1 1 10 100

    Peneiras (mm)

    % P

    assante

    Pr = 0,70 Pr = 0,80 Pr = 0,90 Pr = 0,95 Pr = 0,98

    Figura 2 Curvas granulomtricas das misturas quaternrias

    Tabela 3 Composio das misturas quaternrias de componentes

    Pr = 0,70 Pr = 0,80 Pr = 0,90 Pr = 0,95 Pr = 0,98

    Brita 1 30,87% 22,41% 15,35% 12,46% 10,93%

    Brita 0 21,61% 17,92% 13,82% 11,84% 10,71%

    Areia 44,49% 52,9% 58,27% 59,58% 59,93%

    Metacaulim 3,03% 6,77% 12,56% 16,12% 18,42%

    Massa unitria

    (g/cm) 2,46 2,35 2,08 1,97 1,92

    Nas Figuras 3 a 7 so apresentadas amostras de cada uma das misturas quaternrias.

  • Figura 3 Mistura quaternria com Pr = 0,7

    Figura 5 Mistura quaternria com Pr = 0,9

    Figura 4 Mistura quaternria com Pr = 0,8

    Figura 6 Mistura quaternria com Pr = 0,95

    Figura 7 Mistura quaternria com Pr = 0,98

    Analisando-se as misturas observa-se que maiores valores de Pr levam a uma

    quantidade reduzida de britas 1 e 0, o que pode ser um aspecto anti-econmico tendo em vista

    que h possibilidade de se empregar mais agregado grado sem perda de eficincia das

    misturas quanto s suas propriedades no estado fresco. Para que se tenha uma percepo mais

    clara deste parmetro, foi determinado, para um volume de concreto, qual a relao entre o

    volume de britas 1 e 0 que estaria sendo empregado em relao ao volume total de concreto,

    de forma que fosse possvel aproximar estas medidas aos parmetros usuais de dosagem do

    CAA, aceitos na literatura internacional. Estes resultados esto resumidos na Tabela 5 e foram

    obtidos admitindo-se o teor de argamassa de 70% em todas as composies.

  • Tabela 4 Avaliao das misturas quaternrias em funo dos parmetros de dosagem usuais do CAA Pr = 0,70 Pr = 0,80 Pr = 0,90 Pr = 0,95 Pr = 0,98

    Vb/Vconc 15,74% 12,10% 8,75% 7,29% 6,49%

    Vmet/Vfinos 5,09% 10,71% 18,20% 22,21% 24,60%

    Tendo em vista que no CAA o volume de brita utilizado em relao ao volume de

    concreto em geral em torno de 30%, todas as misturas apresentam valores inferiores a este,

    podendo-se optar por aquele que apresenta a maior relao, que corresponde ao Pr de valor

    igual a 0,7. Alm disso, esta mistura apresentou maior massa unitria, o que pode indicar

    menor volume de vazios e, com isto, misturas mais homogneas.

    Com relao s misturas ternrias, a escolha se deu de forma semelhante ao estudo

    anterior. Na Tabela 5 tem-se as porcentagens passantes de cada composio, e na Figura 8, as

    curvas relativas a estes dados. As porcentagens de cada componente na a serem utilizadas nas

    composies esto na Tabela 6.

    Tabela 5 Porcentagens passantes das misturas ternrias de componentes

    % Passante Peneiras

    Pr = 0,5 Pr = 0,6 Pr = 0,75 Pr = 0,85 Pr = 0,9

    19 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

    12,5 46,67 54,04 63,43 68,62 70,92

    9,8 20,00 26,47 36,00 41,94 44,75

    4,8 6,67 9,93 15,43 19,27 21,20

    1 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

    0,00

    20,00

    40,00

    60,00

    80,00

    100,00

    1 10 100

    Peneiras (mm)

    % P

    assante

    Pr = 0,5 Pr = 0,6 Pr = 0,75 Pr = 0,85 Pr = 0,9

    Figura 8 Curvas granulomtricas das misturas ternrias

    Tabela 6 Composio das misturas ternrias de componentes

    Pr = 0,5 Pr = 0,6 Pr = 0,75 Pr = 0,85 Pr = 0,9

    Brita 1 80,00% 73,53% 64,00% 58,05% 55,25%

    Brita 0 13,33% 16,54% 20,57% 22,68% 23,55%

    Areia 6,67% 9,93% 15,43% 19,27% 21,20%

  • Neste caso, o teor de britas 1 e 0 alto em todas as misturas, e, para que a composio

    no se distanciasse muito do que foi empregado com a mistura quaternria, escolheu-se a

    composio com Pr de 0,9, que corresponde menor porcentagem de brita.

    3.2 - Produo dos concretos

    Foram produzidos concretos com as seguintes caractersticas:

    MV = cimento, areia, mistura quaternria (Pr = 0,7);

    MB-10 = cimento, metacaulim branco (substituio volumtrica de 10% do

    cimento), areia, mistura ternria (Pr = 0,9);

    MB-15 = cimento, metacaulim branco (substituio volumtrica de 15% do

    cimento), areia, mistura ternria (Pr = 0,9);

    MB-20 = cimento, metacaulim branco (substituio volumtrica de 20% do

    cimento), areia, mistura ternria (Pr = 0,9).

    Os resultados dos ensaios esto apresentados na Tabela 7.

    Tabela 7 Resultados dos ensaios nos concretos

    Mistura % Aditivo Massa especfica

    (g/cm)

    Espalhamento

    (mm) Funil-V (s)

    Fc 7 dias

    (MPa)

    fc 90 dias

    (MPa)

    MV 0,4 2,29 820 3,58 27,07 46,12

    MB-10 0,3 2,26 745 2,49 31,30 55,54

    MB-15 0,4 2,16 755 2,88 32,63 57,17

    MB-20 0,5 2,20 640 4,56 34,03 54,89

    Nas Figuras 9 e 10, tem-se um exemplo do aspecto visual destas misturas.

    Figura 9 Determinao do dimetro de abertura no espalhamento

  • Figura 10 Realizao do ensaio do Funil-V

    A partir dos resultados dos ensaios e da anlise visual das misturas, observa-se que foi

    possvel obter concretos com caractersticas auto-adensveis a partir das dosagens estudadas.

    Nos primeiros concretos dosados, partiu-se para uma faixa maior de espalhamento (entre 700

    e 800 mm) tendo em vista a alta coeso obtida em algumas misturas feitas previamente. Isto

    levou ao emprego de uma porcentagem elevada de aditivo, o qual poderia ser reduzido para

    que o espalhamento estivesse dentro do intervalo inferior de aceitao (entre 600 e 700 mm),

    isto foi aplicado na mistura MB-20.

    Com os altos ndices de espalhamento, foram obtidos tempos de escoamento no Funil-

    V bastante baixos, o que poderia indicar tendncia segregao. Este comportamento, porm,

    no foi observado nas misturas, todas se mantiveram estveis e com distribuio uniforme dos

    agregados.

    Conforme j foi apresentado, na composio granulomtrica dos agregados os

    concretos com mistura terciria (concretos com identificao MB) possuem maior quantidade

    de britas 1 e 0, o que visualmente observado. Apesar disso, os quatro concretos produzidos

    apresentaram-se homogneos quanto distribuio das partculas, bem como com boa coeso

    e ausncia de segregao e exsudao.

    Um outro aspecto observado nas misturas foi a grande quantidade de areia que

    confirmada pelas elevadas porcentagens deste material, especialmente nas misturas

    quaternrias. Isto demonstra a possibilidade de se melhorar a composio granulomtrica dos

    agregados com ganhos econmicos atravs da maior utilizao dos agregados de dimenso

    mxima superior a 4,8 mm.

    Analisando-se as propriedades mecnicas dos concretos, observa-se que as misturas

    com metacaulim branco apresentaram maiores resistncias nas duas idades de estudo, sendo

    este efeito mais evidente aos 90 dias. Aos 7 dias, quanto maior a quantidade de metacaulim

    branco maior foi a resistncia compresso. J aos 90 dias, para estas mesmas misturas, o

    aumento de resistncia s foi observado ao passar da MB-10 para a MB-15, tendo ocorrido

    um decrscimo quando o teor de metacaulim aplicado foi de 20% (MB-20). Isto pode indicar

    a existncia de um teor crtico de metacaulim que pode ser empregado sem que haja prejuzos

    ao concreto. Para que isto seja comprovado seria necessrio estudar misturas com teores de

    substituio acima de 20%.

  • Na Figura 11, tem-se a evoluo da resistncia compresso em funo da idade de

    ensaio, apresentando-se o ganho percentual de cada mistura. Pode-se observar que, a exceo

    da mistura MB-20, o ganho de resistncia foi maior com o uso do metacaulim branco.

    Figura 11 Evoluo da resistncia em funo da idade de ensaio

    4 CONCLUSES

    O uso de adies, que so materiais muitas vezes provenientes de fontes geradoras de

    resduos, bastante eficiente na produo do CAA, tanto em aspectos econmicos, como para

    maior qualidade do concreto. O uso do metacaulim demonstrou estes benefcios, resultando

    em concretos com bom desempenho em relao s propriedades do CAA no estado fresco

    como coeso, homogeneidade e fluidez, bem como no que diz respeito resistncia

    compresso.

    Outro aspecto relevante foi o uso de misturas de agregados, que constituiu um fator

    importante para garantir a adequada coeso do CAA, levando a misturas homogneas e

    estveis. O estudo de composies granulomtricas fundamental para que haja no concreto

    uma distribuio contnua de partculas que muito benfica para o CAA, pois ajuda tanto a

    se obter a fluidez como a viscosidade.

    Um estudo mais detalhado em relao composio granulomtrica dos agregados,

    avaliando-se seu comportamento frente misturas no otimizadas, pode levar otimizao do

    CAA, propiciando a produo de concretos mais econmicos com teores adequados de finos e

    de aditivo superplastificante.

    5 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    MV MB-10 MB-15 MB-20

    Concreto

    fc (M

    Pa)

    7 dias 28 dias

    70,37%

    77,44% 75,21% 61,30%

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