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ISSN 1808-9992 Agosto, 2009

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Aproveitamento dos Coprodutos da Agroindstria Processadora de Suco e Polpa de Frutas para Alimentao de Ruminantes

ISSN 1808-9992 Agosto, 2009Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria Embrapa Semi-rido Ministrio da Agricultura, pecuria e Abastecimento

Documentos 220

Aproveitamento dos Coprodutos da Agroindstria Processadora de Suco e Polpa de Frutas para Alimentao de RuminantesLuiz Gustavo Ribeiro Pereira Jos Augusto Gomes Azevedo Douglas dos Santos Pina Luiz Gustavo Neves Brando Gherman Garcia Leal de Arajo Tadeu Vinhas Voltolini

Embrapa Semi-rido Petrolina, PE 2009

Esta publicao est disponibilizada no endereo: http://www.cpatsa.embrapa.br Exemplares da mesma podem ser adquiridos na: Embrapa Semi-rido BR 428, km 152, Zona Rural Caixa Postal 23 56302-970 Petrolina, PE Fone: (87) 3862-1711 Fax: (87) 3862-1744 [email protected] Comit de Publicaes da Unidade Presidente: Maria Auxiliadora Coelho de Lima Secretrio-Executivo: Josir Laine Aparecida Veschi Membros: Daniel Terao Tony Jarbas Ferreira Cunha Magna Soelma Beserra de Moura Lcia Helena Piedade Kiill Marcos Brando Braga Gislene Feitosa Brito Gama Pedro Rodrigues de Arajo Neto Supervisor editorial: Sidinei Anunciao Silva Revisor de texto: Sidinei Anunciao Silva Normalizao bibliogrfica: Sidinei Anunciao Silva Tratamento de ilustraes: Nivaldo Torres dos Santos Foto(s) da capa: Luiz Gustavo Ribeiro Pereira Editorao eletrnica: Nivaldo Torres dos Santos 1a edio (2009): Formato digital Todos os direitos reservados. A reproduo no autorizada desta publicao, no todo ou em parte, constitui violao dos direitos autorais (Lei no 9.610). permitida a reproduo parcial do contedo desta publicao desde que citada a fonte. CIP - Brasil. Catalogao na publicao Embrapa Semi-rido

Aproveitamento dos coprodutos da agroindstria processadora de suco e polpa de frutas na alimentao de ruminantes / autores, Luiz Gustavo Ribeiro Pereira... [et al.]. Petrolina: Embrapa Semi-rido, 2009. 30 p.; 21 cm. (Embrapa Semirido. Documentos, 220). ISSN 1808-9992 Autores: Luiz Gustavo Ribeiro Pereira, Jos Augusto Gomes Azevedo, Douglas dos Santos Pina, Luiz Gustavo Neves Brando, Gherman Garcia Leal de Arajo, Tadeu Vinhas Voltolini. 1. Nutrio animal 2. Resduo agroindustrial Ruminantes I. Ttulo II. Srie. CDD (21. ed.) 636.0862 Embrapa 2009

Autores

Luiz Gustavo Ribeiro Pereira Mdico veterinrio, doutor em Cincia Animal, pesquisador da Embrapa Semi-rido, Petrolina, PE. [email protected] Jos Augusto Gomes Azevedo Zootecnista, doutor em Zootecnia, professor da Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhus, BA. [email protected] Douglas dos Santos Pina Zootecnista, doutor em Zootecnia, Universidade Federal de Viosa, Viosa, MG. [email protected] Luiz Gustavo Neves Brando Mdico veterinrio, M.Sc. Faculdade de Tecnologia e Cincias [email protected] Gherman Garcia Leal de Arajo Zootecnista, doutor em Zootecnia, pesquisador da Embrapa Semi-rido. [email protected] Tadeu Vinhas Voltolini Zootecnista, doutor em Cincia Animal e Pastagens, pesquisador da Embrapa Semi-rido. [email protected]

Sumrio

Introduo ...................................................................................... Terminologia.................................................................................... Mercado de Sucos, Origem e Disponibilidade dos Coprodutos ........... Abacaxi ..................................................................................... Maracuj ................................................................................... Manga ....................................................................................... Caju .......................................................................................... Goiaba ...................................................................................... Valor Nutricional ............................................................................ Digestibilidade ............................................................................... Viabilidade Econmica .................................................................... Consumo e Desempenho Animal ..................................................... Consideraes Finais ...................................................................... Referncias ...................................................................................

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Aproveitamento dos Coprodutos da Agroindstria Processadora de Suco e Polpa de Frutas para Alimentao de RuminantesLuiz Gustavo Ribeiro Pereira Jos Augusto Gomes Azevedo Douglas dos Santos Pina Luiz Gustavo Neves Brando Gherman Garcia Leal de Arajo Tadeu Vinhas Voltolini

IntroduoDe 1994 a 2007, o agronegcio brasileiro representou de 21,3% a 28,8% do Produto Interno Bruto (PIB) e foi responsvel por aproximadamente um tero dos empregos gerados no Brasil (CENTRO DE ESTUDOS AVANADOS EM ECONOMIA APLICADA, 2009). De 1999 a 2002, o Brasil duplicou as exportaes de frutas, e em 2002 se tornou o terceiro produtor mundial de frutas, gerando um PIB de US$ 1,5 bilho (EMBRAPA, 2005). As projees so otimistas para as prximas dcadas; preveem incorporao de 30 milhes de hectares aumentando ainda mais a atual fronteira agrcola brasileira (RODRIGUES, 2004). Com um supervit de US$ 184,6 milhes em 2006, o setor emprega, atualmente, mais de cinco milhes de pessoas e ocupa uma rea de 3,4 milhes de hectares. A produo de frutas permite obter um faturamento bruto entre R$ 1 mil e R$ 20 mil por hectare/ano. Hoje, as exportaes de frutas superam os US$ 2 bilhes. O Brasil o terceiro polo mundial do setor, com produo anual de cerca de 38 milhes de toneladas (BRASIL, 2009). O crescimento da fruticultura irrigada, o processo de profissionalizao e o incremento de novas tecnologias visando a produtividade e qualidade das frutas, vm estimulando a expanso das agroindstrias processadoras de frutas tropicais.

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Apesar de todo otimismo gerado com o crescimento do agronegcio e sua importncia para economia do Brasil, existe uma preocupao com a quantidade e a diversidade de resduos agrcolas e agroindustriais consequentes da colheita e do processamento, respectivamente. Souza e Santos (2002) estimaram que a Amrica Latina produz mais de 500 milhes de toneladas de resduos, sendo o Brasil responsvel por mais da metade desta produo. Isto demonstra que o crescimento dos resduos oriundos das atividades agrcolas proporcional ao crescimento do agronegcio. O acmulo de grandes volumes de resduos armazenados em locais inadequados tem representado um srio problema de contaminao ambiental, principalmente dos recursos hdricos e solo. Alm disso, o acmulo de resduos pode criar um ambiente propcio para proliferao de vetores transmissores de doenas, como moscas, formigas, ratos e baratas, os quais podem levar srios riscos sade humana. Com o aumento da fiscalizao e da possibilidade de multas, alm da elevao dos custos de produo devido ao investimento com transporte e/ou pagamento de reas para depositar os resduos, torna-se necessrio o gerenciamento completo destes para atender a legislao ambiental. A base da alimentao dos ruminantes no Brasil a pastagem, porm, somente em situaes particulares, e por pouco tempo, esta capaz de atender s exigncias nutricionais dos animais (EUCLIDES, 2000). Isso porque a concentrao e distribuio de chuvas, alm de variaes de temperatura e fotoperodo, caractersticas das regies tropicais, no permitem produo uniforme de forragem ao longo do ano. Este fato cria o fenmeno de safra e entressafra dos produtos animais (leite, carne, pele), que leva as indstrias a manterem ociosos os seus equipamentos durante parte do ano. Neste sentido, a suplementao alimentar seria um meio de aumentar o fornecimento de nutrientes, corrigindo o dficit da pastagem, atendendo assim s exigncias destes animais e proporcionando melhores ndices de produtividade. Neste contexto, a busca por informaes sobre a qualidade e a viabilidade do uso de resduos da agroindstria tem aumentado no Brasil. Porm, a escassez de dados particularmente no que diz respeito utilizao destes resduos na alimentao de ruminantes tm representado perdas econmicas referentes ao desperdcio de material com potencial valor nutritivo.

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Sero descritos neste trabalho, o potencial de uso, o valor nutritivo, a viabilidade econmica e o desempenho de ruminantes alimentados com coprodutos oriundos do processamento de frutas para fabricao de sucos.

TerminologiaSegundo Burgi (1986), existe uma diferena conceitual entre resduo e subproduto e as caractersticas que os distinguem. Basicamente, ambos so substncias ou materiais gerados secundariamente em um processo de produo. Os resduos e subprodutos agroindustriais so os materiais secundrios gerados no processo de industrializao de produtos agrcolas. O que distingue resduo de subproduto a existncia ou no de um mercado definido para a sua comercializao. Assim, os produtos secundrios de um processo agroindustrial que so demandados pelo Doenas mercado e que apresentam um valor de comercializao definido so chamados de subprodutos e aqueles que no tem potencial mercadolgico ou cujo potencial no efetivamente explorado so chamados de resduos. A legislao nacional, de acordo com o Decreto n 76.986, de 6 de janeiro de 1976, revogado pelo Decreto n 6.296, de 11 de dezembro de 2007, que dispe sobre a inspeo e a fiscalizao dos produtos destinados alimentao animal, no deixa clara a distino entre subproduto e resduos. As duas terminologias passam a ideia de inferioridade ou mesmo a impresso de contaminante no caso de resduos, assim o termo coproduto pode ser uma opo, j que uma palavra que no passa a ideia de algo repugnante ou intil, ou seja no denigre o alimento. A comunidade cientfica nacional e internacional vem empregando este termo, assim, esta terminologia ser utilizada no presente trabalho para os resduos e coprodutos da agroindstria processadora de frutas para suco.

Mercado de sucos, origem e disponibilidade dos coprodutosMercado nacionalA diversidade de produtos e a grande variedade de frutas com sabores exticos e bastante agradveis vm permitindo um expressivo crescimento no comrcio de suco de frutas em todo Brasil. O sucesso desse empreendimento est ligado, entre outros, a fatores como a simplicidade dos processos de produo, aliada aos aspectos de praticidade do produto alm da forte demanda do mercado.

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A categoria de sucos prontos para beber a que mais cresce no setor de bebidas no alcolicas e em 2004, registrou alta de 15,6% em volume e 20,9% em valor (FOLHAONLINE, 2005). Com base na fonte anterior, o mercado de sucos prontos foi inaugurado no Brasil por uma empresa mexicana, que chegou ao Pas em 1999, e j investiu US$ 60 milhes na atividade. Com 24% das vendas no mercado interno, no ano de 2004, esta empresa faturou R$ 212 milhes. A maior multinacional de refrigerantes, lder comercial de sucos prontos infantis, em 2005, observando o promissor mercado de sucos prontos, comprou a segunda maior empresa brasileira de sucos, a qual tem 10% do mercado, entrando no segmento adulto e, desta forma, acirrando a concorrncia de sucos prontos.

Exportaes de sucos e polpasEntre os anos de 1999 e 2004, o Instituto Brasileiro de Frutas (IBRAF) indicou crescimento de 14%/ano na produo de sucos e nctar de frutas no Brasil (IBRAF, 2009). As taxas anuais de crescimento das exportaes de polpas de frutas (27% em mdia) foram consideradas pela Secretaria de Comrcio Exterior (SECEX) como excepcionais, o que significa que o subgrupo das polpas exportou em 1999 o equivalente a oito vezes o verificado em 1990 (Tabela 1). J a exportao de suco de frutas o terceiro subgrupo na pauta do complexo das frutas. Apesar de na dcada de 1990, o desempenho exportador destes produtos ter sido inferior do complexo, apresentou crescimento expressivo com uma mdia anual de 7% (BRASIL, 2005). Tabela 1. Exportaes brasileiras do complexo de frutas (1990/1999).

Fonte: Brasil (2005).

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Origem dos coprodutosAs etapas iniciais de todas as formas de processamento so semelhantes para todas as frutas. Quando o caminho que transporta as frutas chega indstria, so retiradas amostras que so levadas ao laboratrio onde so analisados determinados parmetros de qualidade, como pH, teor de slidos solveis (expressos em Brix), acidez, entre outros, que iro influenciar no planejamento da produo e no controle de qualidade. Depois de comprovada a qualidade das mesmas para o processamento, as frutas so descarregadas, lavadas com gua quente clorada, para sanitizao das cascas e selecionadas manualmente, onde as frutas imprprias para o processamento so removidas. Segundo Hatcher et al. (1992), a lavagem das frutas pode reduzir em at 90% o nmero de microrganismos presentes. Aps a lavagem dos frutos para processamento de suco, feita a seleo, separando frutos verdes, amassados, em estado fitossanitrio precrio ou que tenha qualquer outro tipo de defeito que torne a fruta inadequada para o processamento. A casca e as sementes de algumas frutas como manga, abacaxi e acerola so coprodutos gerados durante o processamento de suco, porque estes possuem componentes orgnicos que se incorporados ao suco alteram o sabor e aparncia do produto final. Tambm, durante o despolpamento e acabamento final do suco, existem peneiras que retm a parte fibrosa das frutas gerando outro tipo de coproduto.

Disponibilidade dos coprodutosOs coprodutos gerados durante a fabricao de suco de frutas so produzidos em larga escala em determinadas pocas do ano, uma vez que a industrializao est atrelada safra (JOBIM et al., 2006). Isso porque, neste perodo os preos so menores e existe a possibilidade de conservao da polpa de fruta na forma concentrada em bag assptico. Para verificar as possibilidades de uso dos resduos na alimentao dos animais, deve-se inicialmente considerar a disponibilidade regional do material ao longo do ano (ROGRIO et al., 2003). Encontra-se na Tabela 2, o percentual de coprodutos em relao a fruta in natura gerados durante o processo de fabricao do suco.

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Tabela 2. Total de coprodutos provenientes do beneficiamento industrial e/ou processamento secundrio de produtos agrcolas.

AbacaxiO uso de coprodutos do abacaxi tem merecido ateno porque apenas 22,5% do material produzido pela planta corresponde polpa do fruto, que comestvel e utilizado pela indstria. Segundo Ferreira et al. (2004b), cerca de 77,5% do produto constutudo das cascas, das folhas, dos caules, das coroas e dos frutos descartados, que apresentam caractersticas favorveis para utilizao na alimentao animal. Alm destes, aps a prensagem da parte nobre, 75% a 85% resulta em suco e 15% a 25% na torta, outro componente ou coproduto diferenciado (RODRIGUES; PEIXOTO, 1990).

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MaracujO Brasil o maior produtor mundial de maracuj, com aproximadamente 90% da produo (FERRARI et al., 2004). Estes mesmos autores constataram que o maracuj in natura era composto de 51% de casca, 23% de suco e 26% de sementes e que a gerao do coproduto acontece no perodo seco, que vai de abril a setembro em Araguari, MG. A composio qumica deste coproduto sofre variao segundo os mtodos e eficincia do processamento, as variedades do maracuj utilizadas e as propores de cascas e sementes contidas no material. O coproduto pode ser formado somente por cascas ou sementes, e cascas mais sementes aderidas.

MangaO coproduto agroindustrial (casca e caroo), que corresponde de 40% a 60% da fruta (PORRAS, 1989) praticamente invivel para uso na alimentao de ruminantes na forma in natura, devido resistncia do endocarpo, camada interna que envolve a semente da manga. O aproveitamento s possvel aps tratamento fsico, que romper a barreira existente do endocarpo, tornando a poro de maior valor nutritivo acessvel s enzimas e microrganismo do trato gastrintestinal. Alm disso, a moagem evita transtornos digestveis pela no digesto do caroo no rmen. O coproduto de manga gerado em curto intervalo de tempo no ano. Segundo informaes de uma fbrica de suco da cidade de Ub, em Minas Gerais, entre o perodo de 15 de novembro de 2005 a 15 de janeiro de 2006, foram gerados aproximadamente 600 t de coprodutos. Em reas de fruticultura irrigada, esta produo sazonal tende a ser menos marcante.

CajuO caju constitudo da castanha (10% do peso da fruta), e do pednculo (pseudofruto) do qual a maior parte deixada no campo, sendo, desta forma, mais de 90% desperdiado (HOLANDA et al., 1996). A safra de caju concentra-se na poca seca, perodo quando os preos de concentrados apresentam-se bastante elevados.

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GoiabaSegundo Arraes (2000), a goiaba apresenta rendimento de suco de 75%, gerando cerca de 25% de coprodutos. Esses podem variar segundo mtodos utilizados no processamento, como finalidade da produo (polpa, sucos, purs, doces, etc), os equipamentos utilizados e a eficincia destes. Os coprodutos gerados podem apresentar as seguintes composies: sementes puras, sementes mais frutos descartados, sementes mais pur, sementes mais pur mais frutos descartados. Na maioria das agroindstrias processadoras de suco de goiaba no ocorre separao das cascas ou sementes, sendo o coproduto normalmente composto pela mistura dos componentes da fruta, j que o objetivo da empresa a produo de suco.

Valor nutricionalComposio Qumica-bromatolgicaA potencialidade de utilizao racional dos alimentos alternativos na alimentao de animais ruminantes depende de conhecimentos sobre sua composio qumica-bromatolgica, da disponibilidade de seus nutrientes e do seu comportamento no trato gastrintestinal, bem como da avaliao do desempenho produtivo e econmico dos animais com eles alimentados (LAVEZZO, 1995). Segundo Abraho (1991), o valor nutritivo de um alimento deve ser considerado no como fator isolado, mas como um complexo formado por fatores que interferem na ingesto e utilizao da forragem ingerida pelos ruminantes. Os valores da composio qumica-bromatolgica dos coprodutos de frutas so variveis, isso consequncia de alteraes nos processos de beneficiamento das indstrias, da qualidade dos frutos, da incorporao de outros resduos, da incluso maior ou menor de cascas em relao s sementes. Na Tabela 3 encontram-se os valores mdios da composio qumica-bromatolgica de co-produtos oriundos do processamento de frutas para fabricao de sucos.

Tabela 3. Composio qumica-bromatolgica de coprodutos de frutas oriundos do processamento de sucos.Aproveitamento dos Coprodutos da Agroindstria Processadora de Suco e Polpa de Frutas para Alimentao de Ruminantes

* Dadom em 5 da matria secas; NIDNa Nitrognio insolvel em detergente neutro (% da matria seca); NIDNb = Nitrognio insolvel em detergente neutro (% do nitrognio total); NIDAa Nitrognio insolvel em detergente cido (% da matria seca); NIDab = Nitrognio insolvel em detergente cido (% do nitrognio total).Fonte: Alves et al. (2003); Ariki et al. (1977); Correia et al. (2006); Ferrari et al. (2004); Ferreira et al. (2004b); Gonalves et al. (2004); Korndorfer et al. (1998); Lousada Jnior et al. (2005); Lousada Jnior et al. (2006); Manoel et al. (2003); Pimentel et al.(2005); Pompeu et al. (2006); Py et al. (1984); Reis et al. (2000); Ribeiro Filho et al. (2006); Rodrigues e Peixoto (1990); Rogrio et al. (2003); S et al. (2004); Silva et al. (2005); Vasconcelos et al. (2002); Vieira et al. (1996, 1997, 1999).

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O principal fator limitante na composio qumica-bromatolgica o alto teor de umidade. Entre os valores mdios observados na literatura e que constam na Tabela 3, possvel observar que estes situam-se entre 8,4% para o coproduto da ma, a 46,7% para o coproduto de tamarindo. Este um problema que foi solucionado pelas empresas esmagadoras de laranja, que desenvolveram, em 1934 (CARVALHO, 1995), tecnologia para secagem e aproveitamento do bagao de laranja. O produto final deste processo ficou conhecido como polpa ctrica peletizada. Porm, devido ao elevado custo de secagem, empresas processadoras de laranja avaliam a possibilidade de desenvolver mercados para polpa ctrica mida. Este interesse maior, particularmente, para pequenas empresas ou para grandes empresas esmagadoras que no pretendem investir na secagem do bagao de laranja, j que a compra de equipamentos para este propsito pode chegar a 50% do investimento total da fbrica (CARVALHO, 1995). Quanto aos compostos nitrogenados, alguns coprodutos apresentam valores de protena bruta (PB) superior a 10%, como os de acerola (10,5%), maracuj (12,4%) e melo (17,3%). Quanto aos valores de nitrognio insolvel em detergente cido (NIDA), frao esta considerada como indigestvel durante sua permanncia no trato gastrintestinal, foram altos para os coprodutos de acerola (26,5% PB), maracuj (20,0% PB) e melo (14,8% PB) conforme Lousada Jnior et al. (2005). O tanino, quando presente, um dos fatores possivelmente responsveis por aumentar a protena insolvel associada com a parede celular da planta. Neste caso, os valores de tanino observados para os coprodutos da acerola (13,2%) e tamarindo (21,4%) foram elevados e isto se deve provavelmente a alta porcentagem de sementes entre seus componentes, pois as sementes contm maior concentrao de tanino. Aos taninos e seus monmeros, substncias adstringentes presentes nos vegetais, so atribudas a indisponibilidade da frao proteica por insolubilizao, depresso de consumo voluntrio e inibio de crescimento bacteriano (SOEST, 1994).

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A presena de semente no coproduto tambm interfere na fibra em detergente neutro (FDN) e no contedo de lignina. Isto pode ser observado para o coprodutos de goiaba que apresenta valor mdio de 73,2% de FDN e 18,5% de lignina. A presena de lignina tende a aumentar a frao indigervel, reduzindo dessa forma, a frao potencialmente digervel (WILSON, 1994). O teor de lignina encontrado por Rodrigues e Peixoto (1990) no coproduto do processamento do abacaxi foi de 7,85%, valor superior ao coproduto do abacaxi avaliado por Lousada Jnior et al. (2006), que foi de 5,29%. Atribui-se essa diferena presena da coroa, pois esse material mais lignificado. A maior presena de sementes no coproduto do maracuj resulta em menor digestibilidade do mesmo, j que Souza Filho (1995) encontrou na matria seca da semente de maracuj valores de 44,93% de lignina. A presena de semente tambm interfere no contedo de extrato etreo. O percentual de leo na semente de maracuj, cerca de 28,9% do peso do farelo seco obtido, com elevado teor de cidos graxos insaturados (Tabela 4), demonstra que este produto tem um bom potencial para aproveitamento tanto na alimentao humana e animal, como em uso para indstria de cosmticos. Tabela 4. Composio em cidos graxos do leo de semente de maracuj.

Tr* = traosFonte: Ferrari et al. (2004).

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A pectina um carboidrato encontrado na lamela mdia, entre as paredes das clulas vegetais. Ela um tipo de fibra solvel em detergente neutro, rapidamente fermentada pelos microrganismos ruminais (HALL, 2000). Baseado nessas caractersticas importante ressaltar que o coproduto do melo, mesmo possuindo o maior teor de pectina (31,4%), apresentou reduzido percentual de carboidratos no fibrosos (CNF). Isso mostra que a maior parte de pectina ficou retida na FDN, ou seja, no foi solubilizada pelo detergente neutro. Existe um mercado potencial para co-produtos de frutas despectinados (SARTURI et al., 2006). Isto porque, as indstrias de alimentos e farmacolgica extraem a pectina, por observar benefcios do seu uso na reduo de patologias como o diabetes, justificando que esta substncia, em contato com o organismo, se transforma em um gel o qual dificulta a absoro de carboidratos, e conseqentemente, de acares.

DigestibilidadeOs resultados sobre a digestibilidade in vivo e in situ dos nutrientes de vrios coprodutos de frutas encontram-se na Tabela 5. Tabela 5. Valores mdios de digestibilidade da matria seca (DMS), matria orgnica (DMO), protena bruta (DPB), fibra detergente neutro (DFDN) e fibra detergente cido (DFDA), nutrientes digestveis totais (NDT) e parmetros de degradabilidade da MS* e PB* de vrios coprodutos de frutas.

* afrao solvel, b frao potencialmente degradvel no rmen, c taxa constante de desaparecimento, DP degradabilidade potencial, DE degrabilidade efetiva para taxa de passagem igual a 0,05 e MS-S matria seca solvel.Fonte: Gonalves et al. (2004); Korndorfer et al. (1998); Lousada Jnior et al. (2005, 2006); Manoel et al.(2003); Pimentel et al. (2005); Rogrio et al. (2003); Vasconcelos et al. (2002); Vieira et al. (1997).

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Digestibilidade da Matria Seca (DMS)Nos resultados de digestibilidade aparente observados em ovinos por Lousada Jnior. et al. (2005), o coproduto de maracuj foi o que apresentou maior DMS (P0,05). Possivelmente, os teores mais elevados de PB, encontrados no coproduto de melo, (17,3%) justifiquem a maior DMS do mesmo, pois, no caso do coproduto de abacaxi, o teor de PB foi de apenas 8,4%, o que pode ter limitado a digesto dos nutrientes por deficincia de compostos nitrogenados para os microrganismos ruminais.

Digestibilidade da Protena Bruta (DPB)Lousada Jnior. et al. (2005), observaram que os coprodutos de maracuj e melo apresentaram DPB semelhantes (P>0,05), porm superiores (P0,05). De modo geral, os valores de DPB so baixos em comparao aos altos teores de PB contidos nos coprodutos. Os coprodutos que apresentaram DPB mais elevada (maracuj e melo) so os que possuem maiores teores de PB, de 12,4% e 17,3%, respectivamente, enquanto os coprodutos de abacaxi, acerola e goiaba, que possuem as menores DPB, apresentam teores de PB inferiores aos demais, de 8,4%; 10,5% e 8,5%, respectivamente. Segundo Soest (1994), os teores de NIDA dos alimentos interferem na DPB. Considerando-se os teores de NIDA (Tabela 3), verifica-se que, nem sempre, coprodutos com NIDA mais elevado apresentaram menor DPB. o caso dos coprodutos de goiaba e maracuj, que possuem teores de NIDA semelhantes, de 21,0% e 20,0%, respectivamente. Porm, o coproduto de maracuj apresenta DPB (54,4%) superior ao de goiaba (39,5%), em razo do maior teor de PB (12,4%) em relao ao de goiaba (8,5%). Percebe-se ento que, para DPB dos coprodutos, os teores de PB exerceram maior influncia que os teores de NIDA.

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Os coprodutos que apresentam alta porcentagem de sementes em sua constituio podem conter elevados teores de taninos. Portanto, pode-se relacionar a presena de sementes, que possuem elevada quantidade de tanino, como um dos fatores responsveis pela baixa digestibilidade da PB dos coprodutos de acerola e goiaba. Entretanto, os dados obtidos com o coproduto de abacaxi contrariam essa explicao, pois este no possui sementes e apresenta teores de NIDA, NIDN e lignina baixos, mas apresentou baixa DPB (29,0%).

Digestibilidade da FDN e FDAPara a digestibilidade da FDN (DFDN), Lousada Jnior. et al. (2005) no observaram diferena (P>0,05) entre os coprodutos de abacaxi e maracuj, que foram superiores (P0,05), porm com valores inferiores (P0,05) ao do abacaxi (Tabela 6). O menor CMS foi observado nos animais alimentados com o coproduto da acerola, provavelmente em virtude do elevado teor de lignina (20,1%), uma vez que este composto basicamente de sementes lignificadas. Entretanto, apesar do coproduto de goiaba possuir teores de FDN e lignina prximos aos do coproduto da acerola, os animais alimentados com o copoduto de goiaba apresentaram o maior CMS, o que pode ser decorrente da presena de sementes de maior densidade especfica e menor tamanho de partcula, aumentando a taxa de passagem da digesta pelo trato gastrintestinal e reduzindo a digestibilidade dos nutrientes, porm, permitindo maior consumo em razo do rpido esvaziamento ruminal.

O CMS mdio dos animais alimentados com os coprodutos testados, expressos em % PV, variaram de 1,4% (acerola) a 4,4 % PV (goiaba) em ensaio realizado com ovinos. Vieira et al. (1999) alimentaram novilhos com farelo de casca de maracuj e observaram CMS mdio de 3,3% PV pelos animais, enquanto Siqueira et al. (1999), utilizando coproduto de maracuj ensilado na terminao de bovinos de corte, verificaram ingesto diria de matria seca de 2,03% do peso vivo. Estas diferenas podem ser atribudas s distintas espcies de animais utilizados nos experimentos,

Aproveitamento dos Coprodutos da Agroindstria Processadora de Suco e Polpa de Frutas para Alimentao de Ruminantes

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formas de fornecimento e variao na composio bromatolgica dos coprodutos testados. Ferreira et al. (2003), trabalhando com carneiros, observaram que a adio de 10% a 14% de coproduto de caju desidratado na ensilagem de capim-elefante promoveu aumento (P