Utilização do método FMEA para avaliação do risco ... · As leis ambientais mais exigentes faz...
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Utilização do método FMEA para avaliação do risco ambiental em indústria de piso e revestimento cerâmico
Julho 2014
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 7ª Edição nº 007 Vol.01/2014 Julho/2014
Utilização do método FMEA para avaliação do risco ambiental em
indústria de piso e revestimento cerâmico
Grace Morais da Silva Ramos, [email protected]
MBA em Gestão da Qualidade e Engenharia de Produção
Instituto de Pós-Graduação – IPOG
Fortaleza – 01 de Julho de 2013
Resumo
Este artigo tem como objetivo apresentar a utilização da ferramenta de FMEA (do inglês –
Failure Mode and Effect Analysis) na avaliação do impacto ambiental em indústria de piso e
revestimento cerâmico, a aplicação desta metodologia que tem por objetivo reduzir a
probabilidade de ocorrência de falhas de que este segmento industriário causa ao meio
ambiente, aumentando a confiabilidade e analisando as causas potenciais. Apresenta-se o
processo produtivo de piso e revestimento cerâmico utilizando a moagem de massa via seca
evidenciando as suas etapas e os resíduos gerados. Desta forma avaliam-se os impactos
ocorridos ao longo das etapas da cadeia produtiva desde extração da argila, até a área de
classificação. Procurando obter assim um processo produtivo mais limpo e gerando ações
que contribuam para o meio ambiente mais sustentável.
Palavras Chaves: FMEA; Processo produtivo cerâmico; Meio ambiente
1. Introdução
O Brasil é um dos principais produtores de pisos e revestimentos cerâmicos no mercado
mundial, ocupando a segunda posição em produção e consumo, segundo dados da Associação
Nacional dos fabricantes de cerâmica para revestimentos, louças sanitária e congêneres -
Anfacer. Os dados coletados contemplam que em 2012, foram produzidos 865,9 milhões de
metros quadrados, para uma capacidade instalada de 1.004 milhões de metros quadrados. As
vendas totais atingiram 862,1 milhões de metros quadrados, sendo 803,3 milhões de metros
quadrados vendidos no mercado interno e 58,8 milhões de metros quadrados exportados.
Estas indústrias focam diariamente para fornecer produto de qualidade com a melhor relação
custo benefício fugindo da concorrência desleal dos produtos exportados que na sua maioria
não tem as despesas e encargos sociais que contém o Brasil para manter uma empresa com
funcionários legalizados.
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Além da globalização, que força as empresas a serem cada vez mais dinâmicas, onde a cada
momento são forçadas a se atualizaram e investirem em tecnologia, tornando-as mais
competitivas diante de um mercado cada vez mais exigente. Temos a preocupação com o
meio ambiente que nos últimos anos tem sido relevante no desenvolvimento econômico do
país. As leis ambientais mais exigentes faz com o que as empresas procurem se alinhar com
as mesmas para que tenham sua credibilidade diante da população em alta. Porém, exige um
elevado investimento para o cumprimento desta legislação e nem todas as empresas querem
ou podem se adequar as mesmas.
Diante destas dificuldades, por muitas vezes acabam deixando em segundo plano os
impactos ambientais causados por suas atividades. Limitando-se apenas a atender às
legislações pertinentes. O fortalecimento da legislação ambiental é relevante para a
adequação ambiental destas empresas. Quando as empresas passam a avaliar seus
processos em relação aos riscos ambientais, certamente evitará problemas com os
órgãos fiscalizadores (ZAMBRANO; MARTINS, 2007).
O mundo hoje é voltado às questões ambientais e com isso temos um mercado consumidor
cada vez mais exigente e que focam em empresas que zelam por este item. Torna-se até uma
questão de marketing empresas que demonstram sua preocupação com o meio ambiente,
atendo a legislação ambiental vigente e valorizando este ponto em mídias sociais. Com isso a
globalização acaba forçando as empresas a reduzirem os impactos ambientais causados por
seus processos produtivos.
Neste contexto, a preocupação ambiental está se incorporando à cultura das
indústrias deixando de ser apenas uma consequência, passando a ser inserida no
planejamento do processo produtivo. Sendo parte de uma nova atitude de gestão,
dinâmica, competitiva e socialmente responsável (MELLO; PAWLOWKY, 2003).
Define-se aspecto ambiental como “[...] elemento de atividades, produtos ou
serviços de uma organização que pode interagir com o meio ambiente [...]”, sendo
que “[...] um aspecto ambiental significativo é aquele que tem ou pode ter um
impacto ambiental significativo [...]”. Enquanto que impacto ambiental é “[...]
qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo
ou em parte, dos aspectos ambientais da organização [...]”. (ABNT 2004)
Baseado na ISO 14000, defini-se: “Um sistema de gestão ambiental, compreende a parte do
sistema de gestão global que inclui estrutura organizacional, atividades de planejamento,
responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver, programar,
atingir, analisar criticamente e manter a política ambiental”.
Com a finalidade de reduzir os impactos ambientais causados no processo produtivo de pisos
e revestimento cerâmicos utiliza-se a ferramenta do FMEA (do inglês, Failure Mode and
Effect Analysis). Identificando assim o impacto ambiental mais significativo em cada etapa
do processo. Diagnosticando o risco ambiental através de possíveis falhas ocorridas no
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processo produtivo, priorizando o tratamento destas falhas, bem como as ações tomadas para
erradicar ou pelo menos minimizar a mesma atacando desta maneira o impacto ambiental
causado.
2. A indústria cerâmica, suas etapas e os resíduos gerados
O processo produtivo de pisos e revestimentos cerâmicos são basicamente compostos de dois
processos: via seca e via úmida, neste artigo destaca-se o processo chamado via seca, onde a
argila extraída é seca ao natural (depende do sol), depois é processada e retirada o máximo de
umidade para a melhor conformação da peça posteriormente se transformando no produto
acabado.
Na indústria de piso e revestimento cerâmico é composta por várias etapas, que incluem desde
extração de argila até o estoque do produto acabado e em maior parte delas existem
consideráveis impactos ambientais.
Os resíduos sólidos mais comuns gerados no processo de piso e revestimento cerâmico é a
própria argila depois de seu beneficiamento já sinterizada ou contaminada com óleo ou graxa
provenientes da manutenção dos equipamentos, também papelão originados na sua maioria
das embalagens descartadas, fita de pet das amarrações das caixas, varredura, óleo usado
(queimado) dos equipamentos após manutenção, resíduo de esmalte de decoração da peça.
Por sua vez o efluente industrial gerado neste tipo de indústria é contaminado com esmaltes
base água (engobes e bases) que são gerados em lavagem de linha de esmaltação (decoração)
e de lavagem de moinhos dos esmaltes após a moagem das várias matérias-primas.
Os efluentes líquidos contendo materiais sólidos em suspenso, são gerados na
lavagem do piso da fabrica, abrangendo as linhas de produção, os
equipamentos de serigrafia, os moinhos de preparação de esmaltes e demais
equipamentos. Esse lodo, também denominado de "raspas" ou "lama", contém
metais tóxicos classificados como Classe I e Classe II, necessitando de uma
disposição controlada. A parte liquida pode ser reaproveitada nos processos de
lavagem da fábrica após tratamento químico (FERRARI et al., 2002).
Fazendo uma correlação entre a ferramenta FMEA e a ISO 14000, nota-se que a ferramenta
do FMEA pode ajudar a ação tomada ligando a um requisito da norma citada, por exemplo,
no requisito 4.3.1 – Aspectos ambientais: análise e priorização dos impactos ambientais
podem ser analisadas utilizando a ferramenta onde serão analisados os principais impactos
ambientais causados no processo produtivo, já no item 4.5.2 – Não conformidades e ações
preventivas e corretivas utiliza-se o FMEA, na maioria das vezes sendo uma ferramenta de
ação preventiva, utiliza-se para solucionar o problema de forma sistêmica identificando as
causas fundamentais agindo como ação corretiva.
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Conforme LOPES (200l), a indústria cerâmica utiliza certos materiais que,
através de seu processamento, provoca a emissão de fluoretos para a
atmosfera na forma gasosa ou como particulado. A emissão de fluoretos ocorre
durante a queima resultante da decomposição térmica das matérias-primas e pode
ser solucionado através do controle do processo e da instalação de filtros,
consistindo em medidas de fim de linha. A emissão desses gases causam
doenças respiratórias, corrosão de materiais, perda do brilho de vidros,
toxicidade para plantas com implicações na cadeia alimentar humana e chuvas
acidas (ALMEIDA et al, 2001).
Segundo a NBR 10004 (2004) os resíduos gerados são classificados conforme a
seguir:
Resíduos Classe I – Perigosos:
Aqueles que apresentam periculosidade ou apresentam inflamabilidade, corrosividade,
reatividade, toxicidade e patogenicidade ou constam nos anexos A (Resíduos perigosos de
fontes não específicas) e B ( Resíduos perigosos de fontes específicas);
Resíduos Classe II – Não perigosos;
a) Resíduos Classe II A – Não-inertes: aqueles que não se enquadram nas
classificações de resíduos Classe I – perigosos ou Classe II B – Inertes. Estes resíduos podem
ter propriedades, tais como: biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água;
b) Resíduos Classe II B – Inertes: quaisquer resíduos que, quando amostrados de
forma representativa, segundo a norma NBR 10007 (Amostragem de resíduos sólidos), e
submetidos a um contato dinâmico e estático com água destilada ou deionizada, à temperatura
ambiente, conforme ABNT NBR 10006, não tiveram nenhum de seus constituintes
solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se
aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor, conforme anexo G (padrões para ensaio de
solubilização).
Os resíduos sólidos da indústria são tratados conforme o PGRS – Plano de Gerenciamento de
Resíduos Sólidos, conforme legislação ambiental estadual vigente este plano é elaborado
quadrimestralmente e entregue na SEMACE (Superintência Estadual do Meio Ambiente do
Ceará). No PGRS consta como deve ser o manejo destes resíduos no âmbito do
estabelecimento, contemplando a segregação na origem, coleta, manipulação,
acondicionamento, armazenamento, transporte, minimização, reutilização, reciclagem,
tratamento e disposição final.
O processo produtivo cerâmico possui suas particularidades, e principalmente no tocante a
extração de argila tem um impacto ambiental significante, temos que especificamente a parte
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produtiva deste segmente é de muita severidade, a seguir segue explicações das etapas que
tem maior impacto ambiental do estudo em questão:
Extração de argila: a argila por sua vez é o sigilo industrial deste segmento, no caso da
empresa em questão é extraída a céu aberto (área de lavra), os impactos causados são quase na
sua totalidade irreversíveis, pois causa uma degradação muito grande da área requisitada para
esta finalidade;
Os impactos gerados pela mineração de argila pelo processo de lavra a céu aberto,
que é o mais comum, iniciam-se desde a abertura de acesso as obras provocadas
pelos caminhos e estradas, e através da instalação da infra-estrutura com a
terraplenagem/movimentação do solo, compactação do solo,
afugentamento/estresse da fauna, alteração da paisagem e risco de acidentes.
A etapa seguinte seria a remoção da cobertura vegetal e camada superficial do solo
gerando exposição e movimentação do solo, alteração da qualidade da água,
alteração da pedoforma e uso da terra. O desmonte mecânico irá causar
compactação do solo pelo tráfego de máquinas pesadas, intensificação dos
processos erosivos, poluição atmosférica e hídrica, e produção de estéril. O
afugentamento da fauna, alteração da paisagem e risco de acidentes, ocorrem em
todas as fases (DIAS, 1999).
Moagem: tem como objetivo a diminuição das partículas da argila e homogeneização das
mesmas, fazendo com que as partículas cheguem a granulação correta e com umidade
necessária para compactação da massa;
Prensagem: é a conformação da massa utilizando uma prensa hidráulica dando formação a
peça, com o objetivo de se obter uma massa com a densidade uniforme e dentro do molde;
Secagem: utilizando o secador, o processo de secagem fornece calor a peça cerâmica como
compensação ao resfriamento por evaporação e elimina o vapor de água formado. Com a
evaporação de água residual, verifica-se um aumento de resistência mecânica da peça
cerâmica;
Esmaltação: após a peça ter passado pelo processo de secagem, segue para a esmaltadeira
onde consiste nessa etapa, a aplicação do esmalte (engobe e base) sobre o revestimento
dentro dos padrões estabelecidos, geralmente aplicadas com telas serigráficas;
Queima: consiste na sinterização da placa cerâmica já decorada utilizando fornos de rolos
contínuos com a temperatura média de 1200ºC. No caso da empresa avaliada trata-se do
processo de monoqueima;
A função da queima é a sinterização das peças cerâmicas, a vitrificação dos
esmaltes e a estabilização das cores. A queima pode ocorrer em uma única etapa,
sendo chamada de monoqueima, ou se dividir em duas etapas, biqueima,
ocorrendo primeiro a sinterização das peças antes da decoração e ap6s esta etapa
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ocorre a segunda queima para cumprir seus objetivos, ou seja, a vitrificação dos
esmaltes e estabilização das cores (FERRARI, 2000).
Abaixo (figura 1), segue um fluxograma simples explicando as etapas do processo produtivo
cerâmico da extração até o estoque de produto acabado e as atividades exercidas em cada uma
delas:
Figura 1 - Fluxograma do processo produtivo cerâmico e a descrição de suas atividades
Na tabela abaixo, são mostrados as etapas do processo produtivo e os resíduos gerados pela
empresa avaliada:
Processo (Fonte Geradora) Tipo de resíduo gerado Descrição do resíduo e Origem
Jazida Sólido / Líquido Argila extraída junto com filito e
sílica / Óleo das máquinas
pesadas utilizadas na extração
Moagem de Argila Sólido / Líquido Argila moída contaminada por
óleo / Óleo usado originado na
manutenção de equipamentos /
Metal
Prensagem Sólido / Líquido Argila moída contaminada por
óleo / Óleo usado originado na
Extração
Extração, Britagem e Estoque de Argila
Moagem de Massa
Moagem da massa conforme granulometria e umidade padrão para compactação
Prensa
Prensagem da massa compactada dentro do molde
Secador
Retirada da umidade da peça crua prensada
Moagem de Esmalte
Moagem de várias matérias-primas (minerais, fritas, etc) em
moinhos de bola para fabricação do esmalte
Esmaltação
Decoração da peça com o esmalte moido aplicado por campana (engobe e base)
Forno
Sinterização da peça decorada, formando a fase vítrea e
estabilizando a peça
Escolha
Classificação do produto conforme sua avaliação visual
(tipo extra ou comercial) e embalagem
Expedição
Estoque do produto acabado, classificado, embalado e
paletizado para entrega aos clientes
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manutenção das prensas
Secagem Sólido / Gasoso Caco cru / Emissão gasosa
originado da queima do gás
natural após queima
Moagem de Esmalte/
Esmaltação
Sólido / Líquido Ráfia quem vem com matéria-
prima (bag e sacos) / Filme
strech / Palete de madeira /
Contêiner de papelão / Resíduo
de esmalte úmido (pastoso) vindo
da limpeza das valas de
escorrimento e vascas / Caco de
cerâmica crua / Efluente
proveniente da lavagem da linha
de esmaltação e moinhos
Queima Sólido / Gasoso Rolos refratários após
substituição / Emissão gasosa
originado da queima do gás
natural após combustão
Classificação Sólido Caixas de papelão / Fita pet /
Varredura de chão / Caco de
cerâmica queimada
Expedição Sólido Caixas de papelão / Fita pet /
Varredura de chão / Caco de
cerâmica queimada / Papel
Administrativo Sólido / Líquido Papel / Plástico / Efluente
sanitário
Refeitório Sólido / Líquido Material orgânico / Papel /
Plástico
Tabela 1 – Resíduos gerados na indústria de pisos e revestimentos cerâmicos
3. Objetivo
Este trabalho tem como objetivo avaliar os principais impactos ambientais causados pelo
processo produtivo de uma indústria de piso e revestimento cerâmico desde extração de argila
até o estoque do produto acabado utilizando a metodologia da FMEA e avaliando sua
aplicabilidade no tocante a certificação ambiental.
4. A ferramenta FMEA e sua metodologia
A FMEA é uma ferramenta da qualidade que não se resume apenas em um mero
preenchimento de formulário. Se usada de maneira racional pode atender perfeitamente
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alguns requisitos das normas e ajudar no processo de certificação ambiental se for de interesse
da empresa.
A elaboração de uma FMEA em equipe minimiza este efeito, pois possibilita uma visão mais
ampla das causas (histórico informal). No caso da empresa avaliada existem reuniões mensais
com o comitê de meio ambiente para avaliar o processo e andamento relacionados às questões
ambientais, bem como os pontos levantados relacionados aos resíduos gerados em cada etapa
do processo produtivo.
Assim, conclui-se que o FMEA consiste em identificar
as falhas prováveis em projetos ou processo, estabelecer as prioridades para o tratamento das
falhas e implementar as ações recomendadas. Posteriormente, deve-se analisar se as ações
recomendadas diminuíram a probabilidade de ocorrência ou da falha, ou seja, este
procedimento é contínuo, pois algumas ações minimizam os impactos temporariamente e
depois podem ser esquecidas. Daí uma questão importante que a empresa implantou foi a
troca dos membros da equipe e suas áreas de atuação, fazendo assim que todas as ações sejam
fiscalizadas. Desta forma, a constante aplicação do FMEA resultará na melhoria contínua da
organização.
A FMEA teve origem nos Estados Unidos, em 1949, sendo usado como um padrão para as
operações militares. Esta norma era utilizada como uma técnica de avaliação da
confiabilidade para determinar os efeitos nos sistemas e falhas em equipamentos. Mas, em
1960, a NASA, agência aérea americana, passou a utilizar o FMEA no projeto Apollo,
desenvolvendo uma metodologia que identificasse de forma sistemática, falhas potenciais em
processos pela definição de suas causas e efeitos e, a partir disso, definir ações para reduzir ou
eliminar o risco associado a essas falhas. No início dos anos 70, alguns profissionais passaram
a publicar procedimentos de aplicação do FMEA. Na década de 80, a Ford Motor Company
passou a aplicar o FMEA na indústria automotiva. Posteriormente, junto com outras
montadoras como General Motors Corporation e Chrysler Corporation criaram a norma QS –
9000, que buscava harmonizar em um único sistema os requisitos da qualidade a serem
aplicados na cadeia de fornecedores, utilizando o FMEA (AGUIAR; MELLO, 2008).
A metodologia FMEA é importante porque pode proporcionar para a empresa:
• uma forma sistemática de se catalogar informações sobre as falhas dos produtos / processos;
• melhor conhecimento dos problemas nos produtos/processos;
• ações de melhoria no projeto do produto/processo, baseado em dados e devidamente
monitoradas (melhoria contínua);
• diminuição de custos por meio da prevenção de ocorrência de falhas;
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• o benefício de incorporar dentro da organização a atitude de prevenção de falhas, a atitude
de cooperação e trabalho em equipe e a preocupação com a satisfação dos clientes;
Abaixo (figura 2) tem um modelo básico de fluxograma de FMEA, onde se aplica ações
básicas nas reuniões de grupo:
Figura 2 – Fluxograma para implantação do FMEA
Segundo Zambrano e Martins (2007), algumas definições são relevantes para o
preenchimento da tabela do FMEA, como:
Descrição das saídas – função: foram descritas as saídas e a sua função durante o processo
produtivo. No caso em estudo será utilizada a etapa do processo produtivo;
Tipo de impacto ambiental - os impactos ambientais que ocorrem cotidianamente na empresa
foram classificados como “real” (R), por outro lado, os impactos que possam vir a ocorrer
foram classificados como “potencial” (P);
Efeito do impacto ambiental – são os meios envolvidos com os impactos ambientais foram
água, o solo e o ar;
Causa do impacto ambiental - é o descarte incorreto dos resíduos e efluentes industriais;
Controles atuais - são as atitudes que a empresa analisada adota para impedir que ocorra o
impacto ambiental são os “controles atuais”. Quando a empresa não adota nenhuma atitude
para mitigar o impacto, esta coluna fica em branco;
Definir os grupos
Analisar a etapa do processo e a falha ocorrida ou a falha
potencial
Avaliar a gravidade da falha
Avaliar a ocorrência e a probabilidade da
falha ocorrer
Detectar a falha real ou potencial dentro
do processo Avaliar o risco
Implantar a melhoria e verificar
a sua eficácia
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As colunas SODAR, representam, respectivamente, “severidade”, “ocorrência”, “detecção”,
“abrangência do impacto” e o “risco ambiental”;
Controles ambientais – ações recomendadas são as ações que a empresa deveria adotar para
mitigar os impactos ambientais. Quando os controles atuais forem julgados como eficazes
para mitigar os impactos, não será recomendada nenhuma ação.
Para uma melhor avaliação e entendimento dos impactos ambientais causados no segmento de
indústria citado neste artigo, precisa-se assimilar a entrada e saída do processo e
principalmente a classificação dos riscos ambientais causados, seus impactos e danos
causados ao meio ambiente e depois verificar o preenchimento do formulário de FMEA e
posteriormente avaliar e priorizar as causas a serem atacadas, pois por se tratar de uma
empresa privada deve ser levada em conta a que os investimentos não são de, todavia os mais
prioritários.
Severidade do impacto ambiental Classificação
Alta Produtos muito danosos ao meio ambiente, que apresentam as
características: corrosividade, reatividade, explosividade, toxicidade,
inflamabilidade e patogenicidade
3
Moderada Produtos danosos ao meio ambiente, que possuem longo tempo de
decomposição, por exemplo: metais, vidros e plásticos. Também é
considerada a utilização de recursos naturais
2
Baixa Produtos pouco danosos ao meio ambiente que possuem curto tempo
de decomposição como papelão e tecidos. 1
Fonte: Zambrano e Martins (2007)
Tabela 2 – Classificação de severidade do impacto ambiental
Ocorrência do impacto ambiental Classificação
Alta O impacto ocorre diariamente
3
Moderada O impacto ocorre mensalmente
2
Baixa O impacto ocorre semestralmente ou anualmente 1
Fonte: Zambrano e Martins (2007)
Tabela 3 – Classificações de ocorrência de impactos ambientais reais
Abrangência do impacto ambiental Classificação
Alta O impacto ocorre fora dos limites da organização 3
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Moderada O impacto ocorre dentro dos limites da organização
2
Baixa O impacto ocorre no local onde está sendo realizada a operação 1
Fonte: Zambrano e Martins (2007)
Tabela 4 – Classificações de abrangência de impactos ambientais
No caso da empresa avaliada a forma de detectação do impacto ambiental será classificada
como 2 (média) para os processos de moagem, prensagem, secagem e queima, devido a
utilização de medidores de energia elétrica e o medidor de consumo de gás natural. Será
classificada como 1 (alta) para as atividades de extração de argila, esmaltação, classificação e
expedição, pois os danos são visíveis a olho nu, salienta-se que somente será avaliado as
etapas diretamente ligadas ao processo produtivo.
4.1. Aplicação da FMEA na indústria de piso e revestimento cerâmico
A indústria cerâmica deste estudo de caso situa-se no distrito industrial de Maracanaú,
município de Fortaleza, é a única neste segmento no Nordeste, tem uma capacidade produtiva
média mensal de 1.700.000 m² de piso e revestimento cerâmico. Diferente das indústrias deste
mesmo segmento nas regiões do Sul e Sudeste do país a Jazida para extração de argila é de
sua responsabilidade, ou seja, não terceiriza este tipo de atividade, daí a necessidade fica um
pouco mais crítica em relação aos cuidados e preservação com o meio ambiente, pois como se
citam os ceramistas mais antigos a argila é a essência da cerâmica.
Tudo se inicia com o estudo de sondagem da área a ser requerida, posteriormente a análise
deste ensaio a indústria faz o requerimento da área de lavra para extração da argila, com isto
corre uma grande degradação ambiental, pois há a vegetação nativa é arranca, atingindo assim
a fauna e a flora de origem, para amenizar esta situação é feito o PRAD (Plano de recuperação
de área degradada) conforme solicitação da legislação federal vigente (IBAMA).
Os impactos ambientais analisados nessa indústria serão baseados nas etapas dos processos
produtivos, uma vez que os mesmos são os mais relevantes nesta questão. Na tabela abaixo
mostra a planilha do FMEA utilizada nas reuniões do comitê de gestão ambiental:
Atividade
Tipo
Efeito do
impacto
ambiental
Causa do
impacto
ambiental
Controles
Atuais S O D A R
Controles
ambientais-ações
recomendadas
Extração
de
argila
R Utilização dos
recursos
naturais/
Contamin
ação do
solo, água
Degradação
da área
lavrada/
Fragiliz
ação do
ecossist
Conforme
legislação
vigente
2 3 1 1 6
Recuperação da área
degradada
(PRAD)/
Doação do
material extraído
para pedreiras
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e ar ema
Moagem R Geração de
particulad
os e
resíduos/
Utilização
de
água/Cons
umo de
energia
elétrica
Redução da
capacidade
dos recursos
naturais/Co
ntaminação
do ar e solo
Doação de
material de
rejeito para
aterro
2 3 2 2 24
Monitoramento das
emissões
gasosas e análise
de parte do
rejeito para ser
reaproveitado no
processo
produtivo/Utiliza
ção da água da
ETE
Prensagem
R Geração de
partículas
em
suspensão
/Geração
de
resíduos e
utilização
de energia
elétrica
Alteração
da
qualidad
e do
ar/Conta
minação
do
solo/Re
dução
da
capacid
ade dos
recursos
naturais
Recuperação
do resíduo
sem
contamina
ção de
óleo
processo
produtivo/
Venda do
óleo usado
para
empresa
recicladora
2 3 2 2 24
Monitoramento das
partículas em
suspensão e
utilização do
tempo máximo
do óleo utilizado
nas prensas
Secagem R Geração de
partículas
em
suspensão
e gases
em
exaustão
Alteração
da
qualidad
e do ar/
Reduçã
o da
capacid
ade dos
recursos
naturais
Monitorament
o da
emissão
gasosa
2 3 2 2 24
Reutilização do ar
quente que sai
do forno,
reduzindo desta
forma o
consumo de gás
natural utilizado
no processo
Esmaltaçã
o
R Utilização dos
recursos
naturais
(hídricos e
minerais)
Geração de
efluente
liquido/
Grande
quantida
de de
água
utilizada
Estação de
Tratament
o de
Efluente
Industrial
(ETEI)
3 3 1 3 27
Monitoramento dos
efluentes
líquidos
descartados no
meio
ambiente/Monito
ramento da
qualidade da
água tratada
Queima R Utilização dos
recursos
naturais/
emissão
de gases
tóxicos
Emissão
de gases
Alteração
da
qualidad
e do ar/
Aument
o da
tempera
tura do
Monitorament
o da
qualidade
do
ar/Monitor
amento do
calor
dentro da
2 3 2 2 24
Recuperação de ar
quente que sai
do forno
transferindo para
o secador
reduzindo o
consumo de gás
natural/Instalaçã
Utilização do método FMEA para avaliação do risco ambiental em indústria de piso e revestimento cerâmico
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em
exaustão
ambient
e/
fábrica
o de exaustores
Classificaç
ão
R Utilização dos
recursos
naturais/
Contamin
ação do
solo
Descarte de
resíduos
sólidos
como
papelão
e fita
pet/
Caco
queimad
o
1 3 1 2 6
Gerenciamento dos
resíduos sólidos
(PGRS)/
Reaproveitament
o do cão
queimado no
processo
produtivo
Fonte: Adaptado de Zambrano e Martins (2007)
Tabela 5 – Formulário de FMEA adaptado utilizado na indústria de piso e revestimento cerâmico
Observa-se que na maioria das etapas no tocante ao efeito do impacto ambiental cita-se a
utilização dos recursos naturais, seja ele, através do consumo de energia elétrica, uma vez que
todos os equipamentos tem a necessidade deste recurso para funcionar, onde se torna
redundante ser citado acima. Outro recurso natural utilizado é o gás natural, que é o
combustível do secador (secagem) e do forno (queima), é primordial para a sinterização da
placa cerâmica.
Ressalta-se a importância da reutilização do efluente tratado na moagem de massa, onde
necessita de água para molhar a massa para a mesma atingir a granulometria padrão,
atualmente está sendo feito um estudo para se reaproveitar pelo menos 20% desta água
tratada, uma vez que precisa ser feito um investimento para levar esta água da ETE até a
moagem. Por outro lado o lodo produzido na ETE, chamado de borra após a secagem é
utilizado em um percentual menor que 1% junto à argila que será beneficiada e retorna ao
processo, este reaproveitamento foi possível após estudos com laboratórios externos.
Outro ponto que vale salientar de muita relevância para mitigar o impacto ambiental foi o
reaproveitamento do ar quente que sai do forno na exaustão e antes era jogado para a natureza
hoje 90% dele é aproveitado no secador, reduzindo assim o consumo de gás natural reduzindo
o impacto ambiental e o custo para a empresa.
5. Conclusão
Diante dos impactos ambientais avaliados no segmento industrial de piso de revestimento
cerâmico é possível concluir que as empresas que já fazem uso desta ferramenta e tem um
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sistema de gestão da qualidade ativo e eficaz, como é o caso da empresa analisada, torna-se
fácil à certificação da ISO 14000.
A empresa em questão já atende grande parte da legislação vigente tanto no nível estadual
como federal, porém a decisão precisa vir da alta direção uma vez que precisa posicionar o
olhar e ao invés de analisar como custo ver como investimento. Por sua vez no mercado atual,
o cliente deste tipo de produto não se prende ainda a este tipo de certificação, uma vez que a
indústria analisada atende clientes das classes baixas e médias e no momento este segmento
está mais interessado em ter um produto a baixo custo e com qualidade.
Por sua vez o FMEA é um método de fácil aplicação, eficaz, que induz a interação entre os
funcionários buscando a melhoria contínua, assim avaliando os impactos ambientais mais
significativos, fazendo com que a equipe formada analise e questione o processo utilizado,
além de propor soluções para a implantação de ações corretivas e preventivas.
6. Referências
ZAMBRANO, T.F. M.M.F. Utilização do método FMEA para avaliação do risco ambiental. Gestão e
Produção, São Carlos, v14, n.2, p 295 – 309. Maio/2007.
ABNT. NBR ISO 14001: Sistemas de gestão ambiental: requisitos com orientações para uso. Rio de Janeiro:
ABNT, 2004.
COIMBRA, M.M. Aplicação da análise de modo e efeitos de falha potencial (FMEA) para avaliação de
significância de aspectos e impactos ambientais da indústria cerâmica. Disponível em:
http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000295537&fd=y. Acesso em: 22 de Maio de
2013.
COSTA, M.A. Gestão do processo de desenvolvimento de produtos em empresas produtoras de placas
cerâmicas para revestimento do polo de Santa Gertrudes – SP. Disponível em:
http://www.gepeq.dep.ufscar.br/arquivos/artigo_05_029.pdf . Acesso em 4 de Maio de 2013.
HELMAN, H.; ANDERY, P. R. P. Análise de falhas (aplicação dos métodos de FMEA e FTA). Belo
Horizonte: Fundação Christiano Ottoni, 1995. 174 p.
ANFACER - Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica. Informações Técnicas. Disponível em:
<http://www.anfacer.com.br>. Acesso em: 01 de Julho de 2013.
ANDRADE, M.R. Uma metodologia de análise dos aspectos e impactos ambientais através da utilização do
FMEA. Disponível em:
http://www.iem.unifei.edu.br/turrioni/congressos/ENEGEP/2000/UMA_METODOLOGIA_DE_ANALISE.pdf .
Acesso em 9 de Julho de 2013.