Utilização da Análise Térmica para Avaliação da qualidade do … · 2019. 1. 31. ·...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA - CCET INSTITUTO DE QUÍMICA - IQ Alyxandra Carla de Medeiros Batista Utilização da Análise Térmica para Avaliação da qualidade do Biodiesel Natal, RN 2016

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN

    CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA - CCET

    INSTITUTO DE QUÍMICA - IQ

    Alyxandra Carla de Medeiros Batista

    Utilização da Análise Térmica para Avaliação da qualidade do Biodiesel

    Natal, RN

    2016

  • Alyxandra Carla de Medeiros Batista

    Utilização da Análise Térmica para Avaliação da qualidade do Biodiesel

    Trabalho de conclusão de curso apresentado ao

    curso de Química do Petróleo – Bacharelado, da

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

    como parte integrante dos requisitos necessários

    para a obtenção do grau de Bacharel em Química

    do Petróleo.

    Orientador: Prof. Dr. Valter José Fernandes Júnior

    Co-orientadora: Prof.ª Drª. Amanda Duarte

    Gondim

    Natal, RN

    2016

  • Catalogação da Publicação na Fonte Universidade

    Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

    Sistema de Bibliotecas - SISBI

    Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Instituto de Química - IQ

    Batista, Alyxandra Carla de Medeiros.

    Utilização da análise térmica para avaliação da qualidade do

    biodiesel / Alyxandra Carla de Medeiros Batista. - Natal, RN, 2016.

    60 f: il.

    Orientador: Prof. Dr. Valter José Fernandes Júnior.

    Coorientador: Profª. Drª. Amanda Duarte Gondim.

    Monografia (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do

    Norte, Centro de Ciências Exatas e da Terra, Instituto de Química,

    Programa de Recursos Humanos da Petrobrás 222.

    1. Análise térmica - Monografia. 2. Biodiesel - Monografia. 3.

    Transesterificação - Monografia. 4. Óleos vegetais como

    combustível - Monografia. 5. Oxidação - Biodiesel - Monografia.

    6. Química - Monografia. I. Fernandes Júnior, Valter José. II.

    Gondim, Amanda Duarte. III. Título.

    RN/UF/BS-IQ CDU 543.57(02)

  • Alyxandra Carla de Medeiros Batista

    Utilização da Análise Térmica para Avaliação da qualidade do Biodiesel

    Trabalho de conclusão de curso apresentado ao

    curso de Química do Petróleo – Bacharelado, da

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

    como parte integrante dos requisitos necessários

    para a obtenção do grau de Bacharel em Química

    do Petróleo.

    Aprovado em _____/_____/_____

    ____________________________________

    Prof. Dr. Valter José Fernandes Júnior (Orientador)

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    ____________________________________

    Prof.ª Drª. Amanda Duarte Gondim (Co-orientadora)

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    ____________________________________

    Prof.ª Drª. Aruzza Mabel de Morais Araújo (Membro)

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte

  • Dedico este trabalho aos meus avós paternos e maternos “In

    Memorian” e aos meus pais, Alber Batista Pereira e Maria

    Aparecida de Medeiros Pereira.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus pelo dom da vida e pelo seu amor infinito.

    Aos meus pais, Alber Batista Pereira e Maria Aparecida de Medeiros Pereira, por todo

    amor, carinho, paciência e por acreditarem em mim. Obrigada por cada incentivo e

    orientação, pelas orações, pelos seus conselhos e pelo apoio em todos os momentos da minha

    vida.

    A meus irmãos, Amanda e Alber Júnior, e a minha sobrinha, Dávila Cristina, que

    estiveram sempre presentes em todos os momentos da minha vida.

    Ao meu namorado, Lucas Batista, por todo amor, carinho, paciência e compreensão

    que tem me dedicado.

    Ao Prof. Dr. Valter José Fernandes Júnior, orientador deste trabalho, pela orientação e

    oportunidade de realização deste trabalho, e sobre tudo pelo seu carisma, amizade, atenção e

    simplicidade.

    À Prof.ª Dr. Amanda Duarte Gondim, pelos conhecimentos que me passou durante o

    desenvolvimento do projeto, pela amizade e orientação neste trabalho, pela confiança e por

    acreditar em mim, me dando a oportunidade de trabalhar com uma pessoa tão especial como

    ela.

    À Prof.ª Dra Aruzza Mabel pela contribuição e apoio na realização deste trabalho.

    A todos que fazem parte do Laboratório de Catálise e Petroquímica, em especial à

    Cesar, Danielle, Ellen Kádja, Gabriela Lemos, Luana, Marcella, Regineide e Tatiane, pela

    ajuda que sempre me deram nos experimentos realizados em laboratório e por sempre se

    disponibilizarem nos momentos em que precisei. E aos demais, Andresa, Maria Fernanda,

    Leonardo, Rafaela, Taísa, ao Prof. Antônio e à Prof.ª Ana Paula, que fazem parte do

    Laboratório de Catálise e Petroquímica pelos bons momentos de convivência e amizade.

    A todos que fazem parte do Laboratório de Combustíveis e Lubrificantes, em especial

    à, Camila e Josué, pela ajuda que sempre me deram nos experimentos realizados em

    laboratório e pelos bons momentos de convivência, companheirismo e amizade, durante o

    período que estagiei no laboratório.

    As melhores e mais especiais amigas que a vida me proporcionou; Clarisse Dantas,

    Erica Cortez, Isadora Medeiros, Isaura Torres, Luísa Cunha e Renata Medeiros, obrigada por

    compreenderem o meu tempo de ausência durante a construção deste trabalho.

    Aos meus amigos e irmãos que ganhei durante esses quatro anos e meio no curso de

    Química do Petróleo; Afonso, Gabriella Sousa, Gabriela Lemos, George, Isadora e Maxwell

  • Aos meus amigos especiais que compartilhei diversos momentos de alegria e se fizeram

    presentes na minha vida durante esse tempo; Bruna, Bruno, Gabriel, Gullyty, Joe, Jonilson,

    Júnior, Letícia, Nathália e Tatyane, Obrigada por me socorrerem nos momentos que mais

    precisei durante a vida acadêmica.

    À UFRN e ao Instituto de Química pelo conhecimento adquirido durante a graduação.

    Ao PFRH PB – 222, pela concessão da bolsa de iniciação científica e pelo fomento à

    capacitação de recursos humanos na área de petróleo e gás natural.

    A todos aqueles que contribuíram, de forma direta ou indiretamente, para a realização desse

    estudo.

  • RESUMO

    Este trabalho tem como objetivo utilizar análise térmica como instrumento para avaliar

    a qualidade do biodiesel, avaliar o teor de éster por termogravimetria (TG/DTG) e a

    estabilidade térmica por calorimetria exploratória diferencial sob pressão (P-DSC). Os

    biodieseis de algodão e de mamona foram obtidos através da reação de transesterificação por

    rota etílica, na presença de KOH. Foram determinadas as principais propriedades físico-

    químicas do B100 de algodão e de mamona. A determinação do teor de ésteres presentes nas

    amostras de óleo de algodão e biodiesel de algodão e nas blendas óleo/biodiesel nas

    proporções de 25:75, 50:50 e 75:25 foram analisadas por termogravimetria (TG/DTG) e

    espectroscopia de absorção na região do infravermelho com Transformação de Fourier

    (FTIR). Para estudar o processo de oxidação do biodiesel de algodão aditivado com diferentes

    concentrações de biodiesel de mamona, foram elaboradas blendas BIOALG/BIOMAM nas

    proporções de 75:25, 50:50 e 25:75, essas amostras foram analisadas através da Calorimetria

    Exploratória diferencial sob pressão (P-DSC) e espectroscopia de absorção na região do

    infravermelho com Transformação de Fourier (FTIR). O biodiesel de algodão apresentou

    resultado em conformidade com as especificações da Resolução ANP Nº 45/2014 para massa

    específica, viscosidade cinemática, índice de acidez e ponto de fulgor. No entanto, o biodiesel

    de mamona só apresentou conformidade para a análise de ponto de fulgor. As curvas

    TG/DTG do biodiesel de algodão e de mamona permitiram observar que todos triglicerídeos

    foram transesterificados com sucesso, pois tanto as curvas TG do óleo como o do biodiesel

    apresentaram uma única etapa. Na avaliação do teor de ésteres através da termogravimetria

    (TG/DTG), podemos concluir que com a adição de óleo de algodão foi surgindo duas etapas

    de perdas de massas, proporcionalmente a quantidade de óleo acrescentado. E o aparecimento

    dos ésteres foi confirmado pela visualização das bandas de absorção características do

    processo de transesterificação na faixa entre 1000 e 1600 cm-1 através da análise FTIR. No

    estudo do processo de oxidação do biodiesel de algodão aditivado com diferentes

    concentrações de biodiesel de mamona, podemos observar que a adição de mamona aumenta

    a temperatura de oxidação, ou seja, aumenta a estabilidade térmica – oxidativa. Confirmado

    pelos espectros FTIR, onde observamos o comportamento de algumas bandas e picos

    característicos do processo de oxidação do biodiesel.

    Palavras-Chaves: Análise Térmica. Biodiesel. Estabilidade Oxidativa. FTIR. PDSC.

    Transesterificação.

  • ABSTRACT

    This work aims to use thermal analysis as a tool to evaluate biodiesel quality,

    evaluate the ester content by thermogravimetry (TG/DTG) and thermal stability by

    Differential Scanning Calorimetry under pressure (P-DSC). The biodiesels Cotton and Castor

    were obtained through the transesterification reaction by ethyl route in the presence of KOH.

    The main physico-chemical properties of cotton B100 and Castor were determined. The

    determination of the ester content in the samples of cotton seed oil, cotton blends of biodiesel

    and the oil/biodiesel in proportions of 25:75, 50:50 and 75:25 were analyzed by

    thermogravimetry (TG / DTG) and absorption spectroscopy in the infrared Fourier Transform

    Spectroscopy (FTIR). To study the oxidation process of cotton biodiesel with castor oil in

    different concentrations, were prepared blends BIOALG/ BIOMAM in ratio of 75:25, 50:50

    and 25:75, the samples were analyzed by differential scanning calorimetry under pressure (P-

    DSC) and absorption spectroscopy in the infrared Fourier Transform spectroscopy (FTIR).

    The cotton biodiesel show results in accordance with the specifications of ANP Resolution

    N°45/2014 for density, kinematic viscosity, acid index and flash point. However the castor

    biodiesel only presented results in accordance to the flash point analysis. The TG / DTG

    curves of cotton biodiesel and show that all triglycerides were successful transesterified,

    because both the TG curves of oil as biodiesel showed a single step of mass loss. In the

    evaluation of the ester content by thermogravimetry (TG/DTG), we can conclude that with the

    addiction of cotton oil, two steps of mass loss appeared, relative with the quantity of oil

    added. The appearance of esters was confirmed by characteristic absorption bands of the

    transesterification process, in range of 1000 and 1600 cm-1 by FTIR technique. In study of

    cotton biodiesel oxidation process with different castor biodiesel concentrations, we can see

    with the increase of castor concentration, the oxidation temperature also increase, that is the

    thermal Oxidative stability is increased, confirmed by the FTIR specters, where the behavior

    of peaks and bands are characteristic.

    Keywords: Thermal Analysis. Biodiesel. Oxidative stability. FTIR. P-DSC.

    Transesterification.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Reação geral de transesterificação dos triacilglicerídeos......................... 18

    Figura 2 - Esquema das reações intermediárias da

    transesterificação...................................................................................... 18

    Figura 3 - Fluxograma geral da produção dos biodieseis de Algodão e de

    Mamona................................................................................................

    31

    Figura 4 - Curvas de TG de óleo de Algodão e B100 de

    algodão.................................................................................................... 40

    Figura 5 - Curvas de DTG de óleo de Algodão e B100 de

    algodão.................................................................................................... 40

    Figura 6 - Curvas de TG de óleo de Mamona e B100 de Mamona.......................... 41

    Figura 7 - Curvas de DTG de óleo de Mamona e B100 de Mamona....................... 41

    Figura 8 - Curvas de TG das alíquotas das blendas óleo/biodiesel nas proporções

    de 75:25, 50:50 e 25:75, e das amostras de óleo de algodão e biodiesel

    de algodão............................................................................................... 42

    Figura 9 - Curvas de DTG das alíquotas das blendas óleo/biodiesel nas proporções

    de 75:25, 50:50 e 25:75, e das amostras de Óleo de Algodão e biodiesel

    de Algodão. ........................................................................................... 43

    Figura 10 - Curvas de FTIR das alíquotas das blendas óleo/biodiesel nas

    proporções de 75:25, 50:50 e 25:75, e das amostras de Óleo de Algodão

    e biodiesel de Algodão.............................................................................

    44

    Figura 11 - Curvas de FTIR na região de 1000 a 1600 cm-1 das alíquotas das

    blendas óleo/biodiesel nas proporções de 75:25, 50:50 e 25:75, e das

    amostras de Óleo de Algodão e biodiesel de

    Algodão.................................................................................................

    44

    Figura 12 - Curvas de PDSC dinâmico das alíquotas de biodiesel de Algodão

    (B100 – ALG) submetida a uma estocagem a 60oC durante 13 dias........ 46

    Figura 13 - Curvas de PDSC dinâmico das alíquotas da blenda B100 –

    25%MAM/75%ALG submetida a uma estocagem a 60oC durante 13

    dias..........................................................................................................

    47

    Figura 14 - Curvas de PDSC dinâmico das alíquotas da blenda B100 –

    50%MAM/50%ALG submetida a uma estocagem a 60oC durante 13

  • dias......................................................................................................... 47

    Figura 15 - Curvas de PDSC dinâmico das alíquotas da blenda B100 –

    75%MAM/25%ALG submetida a uma estocagem a 60oC durante 13

    dias..........................................................................................................

    48

    Figura 16 - Curvas de PDSC dinâmico da alíquotas do biodiesel de mamona (B100

    – MAN) submetida a uma estocagem a 60oC durante 13 dias..................

    48

    Figura 17- Temperatura de Oxidação das amostras de biodiesel de Algodão e

    Mamona e suas blendas.............................................................................

    49

    Figura 18- Curvas de FTIR das alíquotas de biodiesel de Algodão (B100 – ALG)

    submetida a uma estocagem a 60oC durante 13 dias.................................

    50

    Figura 19- Curvas de FTIR das alíquotas da blenda B100 – 75%ALG/25%MAM

    submetida a uma estocagem a 60oC durante 13 dias.................................

    51

    Figura 20- Curvas de FTIR das alíquotas da blenda B100 – 50%ALG/50%MAM

    submetida a uma estocagem a 60oC durante 13 dias................................

    51

    Figura 21- Curvas de FTIR das alíquotas da blenda B100 –25%ALG/75%MAM

    submetida a uma estocagem a 60oC durante 13 dias.................................

    52

    Figura 22- Curvas de FTIR das alíquotas do biodiesel de mamona (B100 – MAM)

    submetida a uma estocagem a 60oC durante 13 dias.................................

    52

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Características físico–químicas de óleo de Algodão ............................... 23

    Tabela 2 - Composição de ácidos graxos do óleo de Algodão ................................. 23

    Tabela 3 - Características físico-químicas dos biodieseis de Algodão e de

    Mamona obtidos ......................................................................................

    39

    Tabela 4 - Dados termogravimétricos do B100 de Algodão, Óleo de Algodão e as

    respectivas blendas.................................................................................

    43

    Tabela 5 - Atribuição e posição das bandas e picos dos espectros do

    infravermelho das blendas óleo/biodiesel nas proporções de 75:25,

    50:50 e 25:75, e das amostras de Óleo de Algodão e biodiesel de

    Algodão.....................................................................................................

    45

    Tabela 6 - Temperaturas de oxidação (OT) dos biodieseis de Algodão e de

    Mamona e suas blendas............................................................................

    49

    Tabela 7 - Atribuição e posição das bandas e picos dos espectros do

    infravermelho das blendas BioAlg/BioMam nas proporções de 75:25,

    50:50 e 25:75, e das amostras dos biodieseis de Algodão e de Mamona

    submetida a uma estocagem a 60oC durante 13 dias...............................

    54

  • LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS

    ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas.

    ALG- Óleo de algodão

    ANP - Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.

    ANVISA - Agência Nacional da Vigilância Sanitária

    AOCS - American Oil Chemists Society.

    ASTM - American Society of Testing and materials.

    ATR- Reflexão Total Atenuada - Attenuated Total Reflectance

    BioAlg - Biodiesel de Algodão

    BioAlg/BioMam - Mistura de biodiesel de algodão e biodiesel de mamona

    BioMam – Biodiesel de Mamona

    BS EN - British Standart

    B100 - Biodiesel

    B100 - ALG - Biodiesel de Algodão

    B100 - MAM - Biodiesel de Mamona

    B100 - 25%Mam/75%Alg - Mistura de 25% de Biodiesel de mamona e 75% biodiesel de

    algodão

    B100 - 50%Mam/50%Alg - Mistura de 50% de Biodiesel de mamona e 50% biodiesel de

    algodão

    B100 - 75%Mam/25%Alg - Mistura de 75% de Biodiesel de mamona e 20% biodiesel de

    algodão

    C - Constante do capilar

    Ct - concentração da solução de KOH obtida

    DSC - Calorimetria Exploratória Diferencial

    EN - Norma Européia

    EMPARN- Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária do RN

    FTIR- Espectroscopia de Absorção na região do Infravermelho com Transformação de

    Fourier

    IA- Índice de acidez.

    ICTAC- International Confederation for Thermal Analysis and Calorimetry

    na padronização

    KOH - Hidróxido de potássio

    MAM - Óleo de mamona

  • m - Massa

    NaOH- Hidróxido de sódio

    NBR - Norma Brasileira

    Óleo/biodiesel - Mistura de óleo de algodão e biodiesel de algodão

    OIT- Tempo de indução oxidativa

    OSI - Oxidative Stability Instruments

    OT - Temperatura de oxidação

    P-DSC - Calorimetria Exploratória Diferencial sob Pressão

    PV- Índice de peróxido

    Rpm- Rotações por minuto

    TG/DTG - Termogravimetria

    t - tempo

    v - Viscosidade cinemática

    VA - Volume da solução alcoólica de KOH

    VB - Volume da solução alcoólica de KOH gasto na titulação da solução solvente

    ZeSe - Célula de Seleneto de Zinco

    25Óleo/75Bio - Mistura de 25% de óleo de algodão e 75% biodiesel de algodão

    50Óleo/50Bio - Mistura de 50% de óleo de algodão e 50% biodiesel de algodão

    75Óleo/25Bio - Mistura de 75% de óleo de algodão e 25% biodiesel de algodão

    25:75 óleo/B100 - Mistura de 25% de óleo de algodão e 75% biodiesel de algodão

    50:50 óleo/B100 - Mistura de 50% de óleo de algodão e 50% biodiesel de algodão

    75:25 óleo/B100 - Mistura de 75% de óleo de algodão e 25% biodiesel de algodão

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 14

    2 OBJETIVOS.................................................................................................. 16

    2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.......................................................................... 16

    3 REFERENCIAL TEÓRICO........................................................................ 17

    3.1 BIODIESEL.................................................................................................... 17

    3.2 ROTA DE TRANSESTERIFICAÇÃO.......................................................... 17

    3.2.1 Metanol x Etanol............................................................................................ 19

    3.3 ÓLEOS VEGETAIS UTILIZADOS PARA OBTENÇÃO DE BIODIESEL. 20

    3.3.1 Óleo de Mamona............................................................................................ 21

    3.3.2 Óleo de Algodão............................................................................................. 22

    3.4 ANÁLISE TÉRMICA................................................................................... 23

    3.4.1 Termogravimetria (TG/DTG)..................................................................... 24

    3.4.2 Calorimetria Exploratória Diferencial sob Pressão (P-DSC)................... 25

    3.5 ESTABILIDADE OXIDATIVA.................................................................. 27

    4 METODOLOGIA......................................................................................... 30

    4.1 SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DOS BIODIESEIS................................ 30

    4.1.1 Fluxograma da produção do biodiesel de algodão e o de mamona........... 31

    4.2 CARACTERIZAÇÃO FISICO-QUÍMICA................................................... 31

    4.3 DETERMINAÇÃO DE TEOR DE ÉSTER.................................................... 35

    4.4 ESTUDO DA ESTABILIDADE OXIDATIVA DO BIODIESEL............. 36

    5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................. 38

    5.1 OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DO

    BIODIESEL DE ALGODÃO E DE MAMONA.........................................

    38

    5.2 DETERMINAÇÃO DO TEOR DE ÉSTERES............................................. 42

    5.3 ESTUDO DA ESTABILIDADE OXIDATIVA........................................... 46

    6 CONCLUSÕES.............................................................................................. 55

    REFERÊNCIAS.............................................................................................

  • 14

    1. INTRODUÇÃO

    A introdução dos biocombustíveis é importante para diversificação da matriz

    energética. Existe uma tendência crescente na produção e no consumo de biodiesel, podendo

    cumprir um papel importante no fortalecimento da base agroindustrial brasileira e no

    incremento da sustentabilidade da matriz energética nacional com geração de empregos e

    benefícios ambientais relevantes. Para isso é necessário definir uma metodologia específica

    para os estudos de alternativas de investimentos na introdução de novas tecnologias para a

    produção e distribuição e logística dos biocombustíveis (FUKUDA et al., 2001;

    STAVINOHA et al., 1999).

    A produção de biodiesel pode ser realizada de uma grande variedade de matérias-

    primas. Estas matérias-primas incluem a maioria dos óleos vegetais (soja, algodão, palma,

    amendoim, mamona, colza/canola, girassol, açafrão, coco) e gorduras de origem animal

    (sebo), bem como óleo de descarte (óleos usados em frituras). A escolha da matéria prima

    para a produção de biodiesel depende largamente de fatores geográficos (KNOTHE et al.,

    2006).

    A oferta de matéria-prima parece ser uma das principais dificuldades restritivas para a

    implementação de um programa de produção extensiva de biodiesel. Atualmente, a matéria-

    prima para produção de óleo no Brasil encontra-se fortemente concentrada na cultura da soja.

    A diversificação da matéria-prima é uma saída para o aumento da oferta de oleaginosas

    destinada à produção de biodiesel. No nordeste tem potencialidade para oleaginosas

    tradicionais como mamona, algodão, girassol, canola, dendê e amendoim que já contribuem

    com pequenas quantidades de óleo, e para oleaginosas perenes, nativas e adaptadas da região

    Nordeste como a oiticica, a faveleira, o buriti, a macaúba, o babaçu, o pequi e o licuri por

    produzirem óleo de boa qualidade para a produção de energia, no entanto necessita de maiores

    estudos das suas características físico-químicas.

    O biodiesel se apresentar como um recurso natural renovável e biodegradável, e

    devido às suas vantagens apresentadas nos aspectos econômico, tecnológico, social e

    ambiental, verifica-se que a produção do mesmo é sustentável (CONCEIÇÃO et al., 2007).

    Quanto ao aspecto econômico, o biodiesel irá gerar mais empregos no campo e na indústria

    com o plantio de matérias-primas, da assistência técnica rural, da montagem e operação das

    plantas industriais para produção, do transporte e da distribuição.

    No aspecto tecnológico, verifica-se que o Brasil possui capacidade para produzir um

    biodiesel de qualidade internacional. Interessante destacar, ainda, que o Brasil oferece

    condições para fabricar o primeiro biodiesel no mundo usando a rota tecnológica a partir do

  • 15

    etanol por ele produzido e fabricado.

    Para utilização do biodiesel como combustível e importante manter a qualidade do

    biodiesel e de suas misturas com diesel mineral. Isto é um desafio que afeta diretamente os

    produtores, distribuidores e usuários de combustíveis, e isto envolve o período de

    armazenamento (DUNN, 2005; PARENTE, 2003).

    As técnicas de análise térmica vêm sendo bastante utilizadas para caracterização de

    diversos materiais e em biocombustíveis que já é aplicado para estudar a estabilidade térmica,

    a cinética de volatilização e avaliação da reação de transesterificação. As reações de oxidação

    do biodiesel são de natureza exotérmica, isto é, elas liberam calor à medida que a reação

    progride e a taxa de liberação de calor é proporcional à velocidade da reação (ULKOWSKI et

    al, 2005). Essas reações podem ser acompanhadas por técnicas de análise térmica como a

    Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) e Calorimetria Exploratória Diferencial sob

    pressão (P-DSC) (XIN et al., 2009).

    O estudo da estabilidade oxidativa no biodiesel é muito importante, pois facilita a

    utilização do sistema de armazenamento e manuseio já consolidado no mercado de

    combustíveis (TAN et al., 2002; FREIRE et. al, 2009).

  • 16

    2. OBJETIVO

    O trabalho tem como objetivo utilizar análise térmica como instrumento para avaliar a

    qualidade do biodiesel. Portanto, para avaliar o teor de éster por Termogravimetria (TG/DTG)

    e a estabilidade térmica por Calorimetria Exploratória Diferencial sob pressão (P-DSC).

    2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

    1ª Etapa

    Obtenção do biodiesel através da rota etílica;

    Determinar as propriedades físico-químicas dos biodieseis obtidos e verificar se estão

    conforme as especificações;

    2ª Etapa

    Avaliar o teor de ésteres através da Termogravimetria (TG/DTG) e Espectroscopia de

    Absorção na região do Infravermelho com Transformação de Fourier (FTIR);

    3ª Etapa

    Avaliar a utilização de Calorimetria Exploratória Diferencial sob Pressão (P-DSC) e a

    Espectroscopia de Absorção na região do Infravermelho com Transformação de

    Fourier (FTIR) para a determinação da estabilidade oxidativa do biodiesel.

  • 17

    3. REFERENCIAL TEÓRICO

    3.1 Biodiesel

    O biodiesel foi definido pela "National Biodiesel Board" dos Estados Unidos como o

    derivado mono-alquil éster de ácidos graxos de cadeia longa, proveniente de fontes

    renováveis como óleos vegetais ou gordura animal, cuja utilização está associada à

    substituição de combustíveis fóssil em motores ciclo diesel (HAAS et al., 2001; KRAHL et

    al., 2001; SOARES et al., 2001, BELTRÃO et al, 1999).

    A Agência Nacional do Petróleo (ANP) define o biodiesel como um combustível para

    motores a combustão interna com ignição por compressão, renovável e biodegradável,

    derivado de óleos vegetais ou de gorduras de animais, que substitui parcialmente ou

    totalmente óleo diesel de origem fóssil, de acordo com a Portaria Nº 255/2003.

    A lei que regulamenta o biodiesel no Brasil é a 11.097, de janeiro de 2005, na qual

    estão especificadas todas as regras para produção e comercialização de biodiesel.

    O Biodiesel é um combustível alternativo de queima limpa, produzido de recursos

    renováveis, não contém petróleo, mas pode ser adicionado ao diesel formando uma mistura.

    Pode ser usada num motor de ignição a compressão sem necessidade de modificação. Não é

    tóxico, essencialmente livre de compostos sulfurados e aromáticos (PARENTE, 2003). Suas

    principais desvantagens incluem baixo ponto de fluidez (á frio) e manter a qualidade do

    combustível durante o armazenamento de longo prazo (DUNN, 2005)

    3.2 Rota de transesterificação

    Existem vários processos de produção do biodiesel, porém a transesterificação é o

    método mais utilizado em todo o mundo. O método consiste em reagir um lipídeo conhecido

    como triglicerídeos ou triacilglicerídeos com um mono-álcool de cadeia curta (metílico ou

    etílico), na presença de um catalisador básico ou ácido, resultando na produção de uma

    mistura de ésteres alquílicos de ácidos graxos, denominado de biodiesel, e glicerol conforme

    ilustra a Figura 1, (TAPANES et al., 2008; SUAREZ et al., 2007).

  • 18

    Figura 1 - Reação geral de transesterificação do triacilglicerídeos.

    Fonte: SUAREZ et al, 2007.

    O processo geral da trasesterificação consiste de uma sequência de três reações

    consecutivas, na qual mono e diacilglicerídeos são formados como intermediários como

    ilustrado na Figura 2. Para uma transesterificação estequiometricamente completa é

    necessário uma proporção molar 3:1 de álcool por triacilglicerídeo. Entretanto, devido ao

    caráter reversível da reação, o álcool (agente transesterificante) é adicionado em excesso,

    contribuindo assim, para aumentar o rendimento do éster, bem como permitir a sua separação

    do glicerol formado (MA e HANNA,1999; MEHER et al., 2006; SCHUCHARDT et al.,

    1998).

    Figura 2 - Esquema das reações intermediárias da transesterificação.

    Fonte: GONDIM, 2009.

    A transesterificação pode ser realizada por catalise ácida ou básica, contudo, de acordo

    com a literatura, os catalisadores mais eficientes são KOH e NaOH. Além do tipo de

  • 19

    catalisador, outros parâmetros devem ser investigados na reação de transesterificação como:

    razão molar entre o álcool e o óleo vegetal, as propriedades físico–químicas do óleo,

    temperatura, tipo de álcool, tempo de reação, grau de refino do óleo, presença de umidade e

    ácidos graxos livres (KNOTHE et al., 2006).

    A quantidade de catalisador favorece a cinética da transesterificação, entretanto pode

    favorecer também a saponificação, principalmente em temperaturas elevadas. Em geral, 1,0%

    m/m de catalisador é suficiente para uma transesterificação completa, com a menor

    quantidade de sabão formada, levando a uma rápida separação de fases para maioria das

    oleaginosas (RINALDI et al., 2007).

    3.2.1Metanol x Etanol

    Os álcoois simples, tais como metanol, etanol, propanol, butanol e o álcool amílico,

    são utilizados na transesterificação. Dentre esses, o metanol e o etanol são os mais utilizados,

    sendo o metanol mais viável do ponto de vista técnico e por razões relacionadas a processo

    (GALVÃO, 2006). Dos álcoois de cadeia pequena o metanol é o mais utilizado, entretanto

    este reagente é oriundo do petróleo e também é bastante tóxico. O uso de etanol é uma boa

    opção, pois além ser obtido da biomassa, a Brasil produz grandes quantidades desta matéria-

    prima. O rendimento da reação de transesterificação é afetado pela temperatura de reação,

    tipo e concentração do catalisador e razão molar etanol/óleo vegetal (ENCINAR et al., 2002).

    A utilização de etanol é atrativa do ponto de vista ambiental, uma vez que este álcool

    pode ser produzido a partir de uma fonte renovável e, ao contrário do metanol, não levanta

    tantas preocupações relacionadas com a toxicidade. No entanto, a utilização de etanol implica

    que este esteja isento de água, assim como o óleo utilizado como matéria prima apresente

    um baixo conteúdo de água, pois caso contrário será difícil separar a glicerina.

    (CONCEIÇÃO et al., 2005; FREEDMAN et al.,1984; HATEKEAMA e QUINN, 1994).

    O metanol é o álcool predominantemente utilizado em todo mundo para a produção de

    ésteres de ácidos graxos para o uso como biodiesel. A razão para esta escolha se deve ao fato

    de que o metanol é o álcool mais barato na maioria dos países. Nos Estados Unidos, o

    metanol é 50% mais barato do que o etanol, seu competidor mais próximo. Mas no Brasil a

    disponibilidade de matéria-prima e tecnologia permite a produção economicamente viável de

    etanol por processo fermentativos, resultando em um produto que é mais barato que o metanol

    (KNOTHE et al., 2006).

  • 20

    O metanol é altamente tóxico, pode ser absorvido através da pele e é 100% miscível

    com água e qualquer tipo de derramamento apresenta um problema sério. Em comparação

    com metanol, etanol é mais seguro para lidar porque os efeitos tóxicos são reduzidos. A

    produção de ésteres de etilo em vez de ésteres de metilo é de interesse considerável porque

    permite a produção de um combustível inteiramente agrícola e o carbono adicional trazida

    pela molécula de etanol aumenta ligeiramente o teor de calor e o número de cetano. O

    bioetanol é derivado de produtos agrícolas; é renovável e é biologicamente menos

    desagradável no ambiente.

    3.3 Óleos vegetais utilizados para obtenção de biodiesel

    Os óleos e gorduras são formados, principalmente, por triglicerídeos ou

    triacilgliceróis, resultante da combinação entre três moléculas de ácidos graxos e uma

    molécula de glicerol, porém, possuem também outros constituintes minoritários, tais como:

    monoacilglicerídeos, diacilglicerídeos, tocoferóis, esteróis, fosfolipídios, ácidos graxos livres,

    cerídeos e carotenoides.

    Os ácidos graxos presentes nos óleos e gorduras são constituídos, geralmente, por

    ácidos carboxílicos que contêm de 4 a 30 átomos de carbono na sua cadeia molecular, as quais

    podem ser saturadas ou insaturadas. Os ácidos graxos saturados, encontrados na maioria dos

    óleos e gorduras são o láurico (C12), mirístico (C14), palmítico (C16) e esteárico (C18). Estes

    se organizam com facilidade em cristais e como as atrações de Van der Waals são fortes,

    possuem pontos de fusão relativamente elevados. Os pontos de fusão aumentam com o

    aumento do peso molecular.

    Os ácidos graxos insaturados são encontrados livres ou ligados ao glicerol e

    apresentam uma ou mais duplas ligações entre os carbonos nas suas moléculas. Eles

    predominam sobre os saturados, particularmente nas plantas superiores e em animais que

    vivem em baixas temperaturas. Os ácidos graxos insaturados diferem entre si quanto ao

    número de átomos de carbono, duplas ligações, localização das insaturações e configuração.

    O uso direto de óleos vegetais como combustível para motores é problemático devido

    a sua alta viscosidade, maior densidade e baixa volatilidade (COSTA NETO et al., 2000). A

    viscosidade de alguns óleos vegetais chega a alcançar valores, de 11 a 17 vezes, maiores que

    as do diesel mineral e isto, gera problemas no funcionamento dos motores que os usam.

    (DEMIRBAS 2005; HRIBERNIK 2007). Dentre os vários problemas tem-se combustão

  • 21

    incompleta, formação de depósitos de carbono nos sistemas de injeção, diminuição da

    eficiência de lubrificação, obstrução nos filtros de óleo e sistemas de injeção,

    comprometimento da durabilidade do motor e emissão de acroleína (substância altamente

    tóxica e cancerígena) formada pela decomposição térmica do glicerol (SCHWAB et al.,

    1988).

    Várias abordagens diferentes têm sido consideradas para contornar esses problemas,

    sendo que a transformação de óleos e gorduras de origem vegetal ou animal em ésteres de

    álcoois de cadeia curta tem importância estratégica para o setor energético, pois possibilita a

    obtenção do biodiesel, com características físico-químicas semelhantes ao óleo diesel

    (KNOTHE et al., 2006; TYSON et al., 2004).

    Os óleos vegetais apresentam várias vantagens para uso como combustível, como

    elevado poder calorífico, ausência de enxofre em suas composições e são de origem

    renovável. Esse óleo vegetal pode ser obtido por meio do processamento de inúmeras

    oleaginosas, como a soja, o algodão, a mamona, o amendoim, a macaúba, o dendê, o girassol,

    a canola e o milho. Como também pode ser proveniente de óleos residuais, que são aqueles

    utilizados em fast-food, por exemplo, para fritar batatinha.

    O Brasil com sua enorme área territorial cultivável, apresenta vantagem para produção

    de oleaginosas, assim como para pecuária, e desta forma possui uma diversidade de

    oleaginosas promissoras para a produção de biocombustíveis, sendo essas produzidas em

    diferentes regiões a depender da forma de cultivo, clima, solo e zoneamento existente.

    3.3.1 Óleo de Mamona

    Óleo de mamona é uma das mais promissoras matérias-primas entre as disponíveis no

    Brasil. A mamoneira cresce mesmo sem cultivo e em grandes quantidades na maioria dos

    países tropicais e subtropicais. É bastante tolerante a diferentes climas e tipos de solos, além

    de ser disponível a baixo custo.

    O ácido ricinoleico (12-hidroxi-9-octadecenoico) compreende cerca de 89% dos

    ácidos graxos do óleo de mamona. Embora o grupo hidroxila no óleo de rícino adicione

    estabilidade extra ao óleo, impedindo a formação dos hidroperóxidos, a sua presença atribui

    ao óleo características incomuns para um óleo vegetal, a exemplo da viscosidade elevada e a

    maior solubilidade em álcoois, decorrentes das ligações de hidrogênio dos seus grupos

    hidroxilas. Esta última característica tem sido responsável por uma das grandes dificuldades

    encontradas na produção de biodiesel através da transesterificação do óleo de mamona, que é

  • 22

    a separação da glicerina e o álcool do biodiesel de forma a atender as especificações da

    Resolução No 45/2014 da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis –

    ANP.

    3.3.2 Óleo de Algodão

    O óleo de algodão é extraído da semente do algodoeiro herbáceo (Gossypium hisutum)

    que contém de 14 a 25% em média de óleo. A planta de algodoeiro herbáceo possui uma

    estrutura do tipo organografia singular com dois tipos de ramificação, apresentando ramos

    frutíferos e vegetativos, dois tipos de macrofilo: frutíferos e vegetativos; flores completas - as

    brácteas- possuindo um terceiro verticilo floral que faz uma proteção extra e pode possuir,

    na base interna e externa, glândulas de secreção, além disso, apresenta prófilos, folhas sem

    bainha com duas estípulas, dois tipos de glândulas e pelo menos duas gemas na base de cada

    folha (BELTRÃO, 1999).

    Quanto ao cultivo, o algodoeiro herbáceo é uma planta de clima quente, que não

    suporta o frio. O período vegetativo varia de cinco a sete meses de acordo com a quantidade

    de calor recebida e exige verões longos, quentes e bastante úmidos. O plantio requer alguns

    cuidados como a renovação dos solos, mediante o uso de fertilizantes, rotação de culturas ou

    ainda o descanso por certo período (GONDIM, 2009)

    O Brasil tem duas grandes zonas algodoeiras, uma no Nordeste, que vai do rio

    Paraguaçu (Bahia) ao Ceará e chega até o Piauí e o Maranhão, e outra em São Paulo, que se

    prolonga para o norte paranaense e o Triângulo Mineiro. Há uma terceira zona, no norte de

    Minas Gerais e centro-sul baiano. Os estados que mais produzem algodão arbóreo (em

    caroço) têm sido Paraná, São Paulo e Bahia. Quase todas as variedades cultivadas no Brasil

    pertencem à Gossypium hisutum (BIOMANIA, 2015).

    A cultura do algodão no Rio Grande do Norte poderá encontrar no biodiesel o

    caminho para sua tão sonhada retomada. É o que estimam os pesquisadores da Empresa

    Brasileira de Pesquisa Agropecuária do RN (EMPARN), que enxergam na produção do

    combustível a partir do caroço a saída para valorizar o produto e aumentar os ganhos da

    agricultura familiar (BIODIESELBR, 2015).

    De acordo com Boccardo (2004), o rendimento em óleo de algodão varia de 0,1-0,2

    (t/ha), com três meses de colheita e com ciclo de máximo de eficiência anual. As propriedades

    físico-químicas e composição de ácidos graxos do óleo de algodão estão apresentadas nas

    Tabelas: 1 e 2 , respectivamente (CAMPESTRE, 20015).

  • 23

    Tabela 1 - Características físico–químicas de óleo de Algodão.

    Propriedades Físico–Químicas Valores de referência

    Massa Específica a 20o

    C, g.cm-3

    0,915 - 0,923

    Índice de Refração 40o

    C 1,458 - 1,466 Índice de Iodo, g

    Índice de Iodo/ 100g 99 - 119

    Índice de Saponificação, mg KOH/g 189 - 198

    Matéria Insaponificável, % < 1,5

    Acidez, g ácido oléico / 100 g < 0,3

    Índice de Peróxido meq/kg < 10,0

    Fonte: Valores de Referencia: RDC N°482, de 23/09/1999, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária –

    ANVISA

    Tabela 2 - Composição de ácidos graxos do óleo de Algodão.

    Ácidos Graxos Composição (%)

    C14:0 mirístico 0,4 - 2,0

    C16:0 palmítico 17,0 - 31,0

    C16:1 palmitoléico 0,5 - 2,0

    C18:0 esteárico 1,0 - 4,0

    C18:1 oléico 13,0 - 44,0

    C18:2 linoléico 13,0 - 44,0

    C18:3 linolênico 0,1 - 2,1

    Outros

    Fonte: Valores de Referencia: RDC N°482, de 23/09/1999, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária -

    ANVISA

    3.4 Análise térmica

    Segundo International Confederation for Thermal Analysis and Calorimetry (ICTAC),

    análise térmica consiste em um grupo de técnicas nas quais as propriedades físicas e/ou

    químicas de uma substância são medidas em função da temperatura, enquanto a substância é

    submetida a um programa controlado de temperatura ou a um programa de aumento

    controlado da temperatura numa atmosfera específica.

    Essa técnica é empregada nos seguintes estudos: decomposição térmica; determinação

    de umidade, de voláteis, de resíduo e teor de cinzas; oxidação térmica; cinética da reação;

    diagrama de fases; determinação de calor específico; determinação de transição vítrea, de

    fusão e, tempo de armazenamento; entre outros (GONDIM, 2009).

  • 24

    Além disso, possui uma vasta aplicabilidade, podendo ser utilizada em diversos

    materiais, tais como: inorgânicos, minerais, argilas, solos, metais, ligas, combustíveis,

    explosivos, revestimentos, madeiras, materiais de construção, materiais biológicos, produtos

    naturais, farmacêuticos, petroquímicos, orgânicos, polímeros, misturas, carvão, graxas,

    sabões, alimentos, vidros, cerâmica, catálise, dentre outros.

    Pode-se destacar como as principais vantagens da análise térmica: a utilização de

    pequena quantidade de amostra, resultados rápidos e precisos e ausência de preparação da

    amostra. Porém, existem algumas desvantagens, como o custo relativamente alto dos

    equipamentos e ser uma técnica destrutiva (MOTHÉ e AZEVEDO, 2002).

    3.4.1 Termogravimetria (TG/DTG)

    A análise termogravimétrica ou a termogravimetria é definida como um processo

    contínuo que mede a variação de massa de uma substância ou material em função da

    temperatura e/ou tempo. A variação de massa de uma amostra pode ser resultante de uma

    transformação física (sublimação, vaporização, condensação) ou química (degradação,

    decomposição, oxidação) em função do tempo ou da temperatura. O principio desta técnica

    baseia na obtenção da curva termogravimétrica (TG), plotando-se massa (mg) ou percentual

    de perda de massa no eixo Y versus temperatura ou tempo no eixo X. A amostra é

    acondicionada em um recipiente e colocada em uma balança analítica sob atmosfera

    controlada, onde efetua-se o aquecimento programado. Ao sofrer degradação, a amostra perde

    massa sob a forma de produtos voláteis e o sensor registra a correspondente perda de massa

    (LUCAS et al., 2001; HAINES, 1995).

    Os métodos termogravimétricos são classificados em: dinâmico, isotérmico e quase

    isotérmico. No método dinâmico, a amostra é aquecida a uma temperatura programada com

    uma velocidade linear pré-determinada e a perda de massa é registrada continuamente à

    medida que a temperatura aumenta; este método é mais utilizado. No método quase-

    isotérmico, a partir do momento em que começa a perda de massa da amostra a temperatura é

    mantida constante até que a massa se estabilize novamente, neste momento recomeça-se o

    aquecimento e este procedimento pode ser repetido em cada etapa da decomposição. No

    método isotérmico, a variação de massa da amostra é registrada em função do tempo,

    mantendo-se a temperatura constante, sendo geralmente utilizado em trabalhos cinéticos.

    (YOSHIDA, 1993; CONCEIÇÃO et al., 2005).

  • 25

    A estabilidade térmica é definida como a capacidade de uma substância em manter as

    propriedades, durante o processo térmico, o mais próximo possível de suas características

    iniciais. Deve ser considerado o ambiente exposto. A termogravimétrica apresenta muitas

    aplicações, tais como:

    Estudo da decomposição e da estabilidade térmica de substâncias orgânicas e

    inorgânicas;

    Estudo cinético de reações, inclusive de reações no estado sólido e descoberta de

    novos compostos químicos;

    Estudos sobre a velocidade de destilação e evaporação de líquidos e de sublimação de

    sólidos;

    Estudos sobre desidratação, higroscopicidade, absorção, adsorção, determinação do

    teor de umidade, fração volátil e do teor de cinzas de vários materiais;

    Determinação da pureza e da estabilidade térmica de reagentes analíticos, inclusive

    padrões primários e secundários;

    Estabelecimento da composição e estabilidade térmica de compostos intermediários;

    Composição do resíduo e decomposição térmica em várias condições de atmosfera e

    temperatura.

    O equipamento para análise termogravimétrica compreende os seguintes módulos:

    Termobalança – microbalança eletrônica adequada ao forno que permite pesagem

    contínua da amostra em função da temperatura;

    Forno – pode ser controlado quanto à temperatura (até 1500ºC) e a velocidade de

    aquecimento (0 a 200ºC/min). A temperatura é registrada utilizando um termopar

    próximo ao recipiente da amostra;

    Sistema de purga de gás - A atmosfera do forno pode ser controlada através de purgar

    de gás inerte (nitrogênio ou argônio) ou oxidante (ar sintético ou oxigênio). Há

    equipamento configurado para operar com troca de gás de purga durante a análise;

    Estação de dados – responsável pelo controle do equipamento, do registro e tratamento

    dos dados obtidos na análise (microcomputador).

    3.4.2 Calorimetria Exploratória Diferencial Sob Pressão (P-DSC)

    A Calorimetria Exploratória diferencial sob Pressão (P-DSC) consiste em uma técnica

    analítica desenvolvida para avaliar a estabilidade oxidativa, utilizando um gradiente de

  • 26

    direção e a taxa de variação de temperatura entre a amostra e o termopar de referência sob

    diferentes temperaturas e pressão.

    O conceito de estabilidade oxidativa é importante uma vez que a vida útil de um

    produto é determinada e relacionada com a sua resistência à decomposição oxidativa. Esta

    técnica é aplicada no controle da qualidade de polímeros e na determinação de pressão de

    vapor e estabilidade oxidativa de lubrificantes. As principais vantagens desta técnica são:

    Pequena quantidade da amostra;

    Menor tempo de análise – alta pressão e temperatura aceleram a reação;

    Boa sensibilidade;

    Fácil operação;

    Análise automática dos dados;

    Flexibilidade.

    O Tempo indução oxidativa (OIT) é definido como o tempo em que a oxidação de

    uma amostra exposta a uma atmosfera oxidante a uma determinada temperatura inicia-se

    (isotérmico). O teste consiste na determinação do intervalo de tempo entre o inicio do teste e o

    aparecimento de oxidação (evento exotérmico).

    O P-DSC foi utilizado por GAMLIN e colaboradores (2002) para avaliar o

    comportamento de ignição oxidava espontânea e degradação dos óleos base (natural,

    semissintético e sintético). Óleos de base com maior viscosidade, dentro da mesma classe,

    tendem a se degradar em temperaturas mais altas.

    Atualmente, vários pesquisadores vêm realizando estudos de óleos, lubrificantes e

    biodiesel, pelo método P-DSC. Estes estudos geralmente mostram que a P-DSC tem a

    vantagem de aumentar o número total de moles de oxigênio presente na célula, permitindo a

    aceleração da reação a baixas temperaturas.

    Dantas et al., (2009), relataram sobre a importância de se controlar a estabilidade

    oxidava de óleos e biodiesel. Estudaram a estabilidade oxidava do óleo e biodiesel de

    mamona, por P-DSC. As medições foram utilizadas para avaliar as propriedades do óleo de

    mamona, após o processo de refino e, consequentemente, as características do biodiesel. Os

    resultados obtidos mostraram que o tempo de indução oxidativo indicou que as amostras de

    biodiesel foram mais estáveis do que os óleos refinados.

    O uso do P-DSC, atualmente não é um método padronizado, porém, como foram

    citados anteriormente, vários estudos utilizaram este método para se medir a estabilidade

  • 27

    oxidava das matérias primas e respectivos biodiesel, sendo os resultados encontrados

    satisfatórios quando comparados com o método padrão Rancimat.

    3.5 Estabilidade Oxidativa

    Os óleos combustíveis derivados do petróleo são estáveis à temperatura de destilação,

    mesmo na presença de excesso de oxigênio. Ao contrário, nos óleos vegetais que contêm

    triacilglicerídeos de estrutura predominantemente insaturada, reações de oxidação podem ser

    observadas até a temperatura ambiente e o aquecimento a temperaturas próximas a 250oC

    ocasiona reações complementares de decomposição térmica, cujos resultados podem inclusive

    levar à formação de compostos poliméricos mediante reações de condensação.

    A estabilidade oxidativa é definida como a resistência da amostra à oxidação. Ela é

    expressa pelo período de indução – tempo entre o início da medição e o momento em que

    ocorre um aumento brusco na formação de produtos da oxidação que é dado em horas. Pela

    estabilidade a oxidação é que se determina a degradação do biodiesel e das suas misturas. Está

    relacionada ao tempo necessário para degradar o biodiesel, e determina a estabilidade na

    armazenagem (VELASCO et al., 2004).

    O estudo da estabilidade oxidativa de óleos é de fundamental importância para seu

    controle de qualidade, principalmente no que diz respeito a seu armazenamento. Ela é

    expressa como o período de tempo requerido para alcançar o ponto em que o grau de

    oxidação aumenta abruptamente. Este tempo é chamado Período de Indução e, é expresso em

    horas (TAN et al., 2002).

    O biodiesel é susceptível à oxidação quando se encontra exposto ao ar e este processo

    de oxidação afeta a qualidade do combustível. Pode também haver degradação hidrolítica por

    presença de água. Este é um fator de grande avaliação do combustível, embora a presença de

    substâncias, tais como monoglicerídeos e diglicerídeos (intermediários da reação de

    transesterificação) ou glicerol, possam influenciá-lo fortemente, dadas as suas capacidades de

    emulsificar em contato com água. Em função disso a estabilidade à oxidação tem sido o foco

    de inúmeras pesquisas (GALVÃO, 2006).

    O processo de degradação oxidativa do biodiesel depende: da natureza dos ácidos

    graxos utilizados na sua produção, do grau de instauração dos ésteres que o compõem, do

    processo adotado, da umidade, luz, e da presença de antioxidantes intrínsecos como os

    carotenos. Dentro as implicações negativas deste processo podem ser destacadas o aumento

  • 28

    da viscosidade, a elevação de acidez – capaz de gerar processos corrosivos abióticos e a

    formação de goma e compostos poliméricos indesejáveis (FERRARI, 2005).

    Várias abordagens para aumentar relativa resistência à oxidação de derivados ácidos

    têm-se mostrado eficiente para o biodiesel. Armazenamento sob atmosfera inerte, de

    nitrogênio, retarda a oxidação dos ésteres metílicos e etílicos de óleo de girassol para

    armazenamento em temperaturas de até 50 oC. Du Plessis e colaboradores (1985) também

    realizaram um teste de estabilidade oxidativa e apresentou que os ésteres metílicos são um

    pouco mais estáveis do que os etílicos.

    Bondioli, Gasparoli e Lanzani (1995) estudaram o efeito da estocagem e

    envelhecimento do biodiesel de óleo de colza em deposito de armazenamento de vidro a 40ºC

    e observaram que a qualidade do combustível em relação à viscosidade cinemática, número

    de cetano, massa especifica, ponto de fulgor e ponto de entupimento a frio, não afetaram

    significativamente.

    Muitos pesquisadores têm procurado por técnicas mais rápidas para a determinação do

    período de indução em óleos, e muito estudo tem sido realizado utilizando a técnica de

    calorimetria exploratória diferencial (DSC), uma vez que a oxidação é um fenômeno

    exotérmico (TAN et al., 2002; VELASCO et al., 2004).

    Rudnik, Szczuncinska, Gawardiak, Szulc e Winiarska (2001) estudaram a estabilidade

    oxidativa do óleo de linhaça usando o método clássico de determinação do índice de peróxido

    (PV), Rancimat e métodos termoanalíticos, como DSC e TG em atmosfera de oxigênio.

    Também foram estudados os efeitos da adição de dois antioxidantes. A mistura de

    antioxidantes (α-tocoferol, palmitato ascórbico, ácido cítrico, acido ascórbico, e etileno glicol

    etoxilático) foi mais eficiente do que BHA para a proteção contra o processo oxidativo do

    óleo de linhaça.

    Os testes acelerados, recorrendo a condições padronizadas de oxidação acelerada

    (oxigenação intensiva, tratamento térmico e/ou catálise metálica), permitem estimar de forma

    rápida a estabilidade oxidativa de uma matéria graxa. Uma vez que os fenômenos naturais de

    oxidação são processos lentos, desenrolando-se frequentemente ao longo de vários meses, os

    testes de estabilidade em tempo real tornam-se por vezes incompatíveis com o controle de

    qualidade a nível industrial. Deste modo, os testes de estabilidade acelerados assumem

    particular importância na rotina analítica.

    O método padrão para a determinação da estabilidade oxidativa (Período de Indução) é

    utilizado Rancimat e Oxidative Stability Instruments (OSI), porém muitos pesquisadores têm

    procurado por técnicas mais rápidas e eficientes para determinação do período de indução, e a

  • 29

    Calorimetria Exploratória Diferencial sob pressão (P-DSC) tem se apresentado como uma boa

    alternativa (GAMLIN, 2002; MCCORMICK et. al , 2007; SANTOS et al., 2009; MOSER,

    2009).

    A Resolução da ANP Nº42 de 24/11/2004, estabelece a estabilidade oxidativa

    para o B100 deve ser de 6 horas a 110ºC. Segundo a metodologia EN 14112, a estabilidade

    oxidativa é tida como a resistência de um óleo à oxidação sob algumas condições definidas.

    A grande vantagem do P-DSC com relação ao Rancimat para a estabilidade oxidativa

    é a utilização de uma pequena quantidade de amostra e a redução acentuada do tempo de

    análise (GONDIM, 2009).

  • 30

    4. METODOLOGIA

    4.1 Síntese e Caracterização dos biodieseis.

    O biodiesel de algodão foi obtido a partir do óleo de algodão refinado da marca Icofort

    Agroindustrial LTDA comprado no supermercado Nordestão e o biodiesel de mamona foi

    obtido a partir do óleo de mamona refinado, fornecido pela Empresa Campestre, ambos

    através da reação de transesterificação na rota etílica alcalina utilizando o Hidróxido de

    Potássio (KOH) como catalisador de acordo com a literatura (SCHWAB et al., 1988).

    No biodiesel de algodão foi utilizada a razão molar 1:9 de álcool etílico com adição de

    1% de catalisador KOH, em relação à massa do referido óleo. Já no biodiesel de mamona foi

    utilizada a razão molar de 1:12 de álcool etílico com adição de 2% de KOH. Em ambos foram

    adicionadas as referidas quantidades de catalisador KOH ao álcool etílico sob agitação

    constante até a homogeneização completa formando, assim, o etóxido de potássio. Em

    seguida, acrescentaram-se o óleo de algodão e o óleo de mamona no reator, o qual já continha

    o etóxido de potássio. Essas misturas permaneceram em agitação constante por duas e três

    horas, respectivamente, em temperatura ambiente, para ocorrer à reação de transesterificação.

    A separação das fases foi realizada em um funil de separação, após o término da

    reação. Após uma hora em repouso, observa-se a separação de duas fases, sendo a superior

    clara e menos densa (ésteres etílicos) e a inferior mais escura e mais densa (glicerina).

    Depois de 24 horas de decantação, a glicerina foi recolhida, ficando apenas o biodiesel

    de algodão e o biodiesel de mamona. Após a separação, o biodiesel foi submetido ao processo

    de lavagem com água morna e de secagem, para a retirada das impurezas e purificação dos

    ésteres.

  • 31

    4.1.1 Fluxograma da produção do Biodiesel de Algodão e o de Mamona.

    Figura 3 - Fluxograma geral da produção dos biodieseis de Algodão e de Mamona.

    Fonte: Autor, 2016.

    4.2 Caracterização Físico-química

    O óleo e o biodiesel obtidos neste trabalho foram analisados de acordo com as

    normas da American Oil Chemists Society (AOCS), da American Society of Testing and

    Materials (ASTM), British Standart (BS EN) e Associação Brasileira de Normas Técnicas

    (ABNT). Para a caracterização físico-química dos biodieseis de algodão e de mamona obtidos

    foram utilizadas as normas indicadas pela Resolução Nº No 45/2014 da Agência Nacional de

    Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP. As amostras de B100 foram caracterizadas

    por:

    a) Aspecto e cor

    O ensaio da determinação da aparência foi realizado com a finalidade de estimar a

    presença de contaminação por água livre e material sólido em suspensão no combustível. Essa

    análise é realizada por meio de cuidadosa observação visual, registrando-se a aparência do

    KOH + Etanol

    Óleo

    Reação de

    transesterificação

    Separação

    das fases

    Glicerina + Etanol Biodiesel

    Biodiesel Puro

    1:9 (ALG) e 1:12

    (MAM) razão

    molar óleo/etanol

    1% (ALG) e 2%

    (MAM) m/m

    catalisador em

    relação ao óleo

    Aspecto e cor;

    Ponto de Fulgor;

    Índice de Acidez;

    Viscosidade

    Cinemática;

    Densidade;

    Rancimat

    Lavagem (água morna)

    Menos densa e clara Densa e escura

    2hs

  • 32

    biodiesel de acordo com a seguinte classificação: (i) Límpido e isento de impurezas; (ii)

    Límpido com impurezas; (iii) Turvo sem impurezas e (iv) Turvo com impurezas.

    b) Ponto de Fulgor

    O ponto de fulgor é definido como sendo a menor temperatura na qual o combustível,

    ao ser aquecido sob condições controladas, gera vapores que se inflamam na presença de uma

    fonte de ignição aplicada acima da amostra. Este parâmetro está relacionado com a

    inflamabilidade do produto e é um indicativo para os procedimentos de segurança a serem

    tomados durante o uso, transporte, armazenamento e manuseio do combustível que nesse caso

    é o biodiesel.

    O ponto de fulgor é usado em carregamento de navios e regulamentações de segurança

    para definir materiais inflamáveis e combustíveis de acordo com a ASTM D93. E de acordo

    com a Resolução da ANP Nº 7/2008, o ponto de fulgor pode ser determinado através das

    normas:

    NBR 14598 – Produtos de Petróleo - Determinação do Ponto de Fulgor pelo aparelho

    de vaso fechado Pensky-Martens;

    ASTM D 93 – Flash Point by Pensky-Martens Closed Cup Tester;

    EN ISO 3679 – Determination of flash point – Rapid equilibrium closed cup method.

    A determinação do ponto de fulgor, de acordo com a ASTM D93, foi realizada em um

    equipamento Pensky-Martens, vaso fechado automático, da marca TANAKA, modelo APM

    7. Este equipamento é constituído de uma cuba de teste (cobre), tampa e obturador,

    dispositivo de agitação, fonte de aquecimento, termômetro e dispositivo de fonte de ignição

    (gás butano).

    Para a determinação do ponto de fulgor, inicialmente, colocou–se aproximadamente

    75 mL da amostra de biodiesel, ou seja, até a marca na parte interna da cuba. Em seguida, a

    cuba foi fechada com a tampa teste, o termômetro (+ 90 a 350 ºC) colocado no local

    determinado pelo equipamento e a chama teste acesa. A amostra foi mantida sob agitação de

    100 rpm. A fonte de ignição aplicada a partir de 130 ºC e depois a cada 2 ºC. O ponto de

    fulgor é detectado quando a fonte de ignição aplicada provoca um lampejo distinto no interior

    da cuba teste.

    c) Índice de Acidez

  • 33

    O índice de acidez é definido como a quantidade de base, expressa em miligramas de

    hidróxido de potássio por gramas de amostra, requerida para titular a amostra até o

    determinado ponto de final (ponto de equivalência), de acordo com a norma ASTM D 664.

    O índice de acidez indica o estado de conservação do óleo, pois a decomposição dos

    glicerídeos é acelerada pelo aquecimento e luz, e a rancidez é quase sempre acompanhada

    pela formação de ácido graxo livre, (ALBUQUERQUE, 2006). Nas análises dos óleos, serve

    também como parâmetro para se saber qual catalisador e qual quantidade deve ser usado,

    assim como se existe necessidade de se realizar algum processo de neutralização dos óleos.

    A Resolução da ANP Nº 7/2008 determina três possíveis métodos para a

    obtenção do índice de acidez:

    ASTM D664 – Acid Number of Petroleum Products by Potentiometric Titration;

    EN 14104 – Fatty and oil derivatives – Fatty acid methyl esters (FAME) –

    Determination of acid value;

    NBR 14448 – Produto de Petróleo - Determinação do índice de acidez pelo método de

    titulação potenciométrica.

    O método utilizado para determinação do índice de acidez foi realizado de acordo com

    a NBR 14448, utilizando um Titulador Potenciométrico Automático, modelo AT-500N e

    marca KEM, equipado com um eletrodo de indicador de vidro e um eletrodo de referência ou

    eletrodo combinado, a leitura do resultado é realizada ao final do ponto de equivalência.

    Inicialmente, pesou-se 20 g da amostra em uma balança analítica, marca Mettler Toledo,

    com precisão 0,0001g, com auxílio de um béquer e adicionou-se 125 mL de solução solvente,

    composta por 5 mL de água destilada, 495mL de iso-propanol e 500 mL de tolueno. A

    solução solvente foi anteriormente titulada com solução alcoólica de hidróxido de potássio 0,1

    N sendo o valor obtido, em mL, correspondente ao branco. A solução de hidróxido de

    potássio foi padronizada por uma solução alcoólica de ácido clorídrico e assim determinada a

    real concentração da solução titulante.

    O cálculo do índice de acidez foi realizado pela equação descrita abaixo:

    𝐼𝐴 =(VA − VB)𝑥 𝐶𝑡 𝑥 5,61

    𝑚 (1)

    Onde: IA é o índice de acidez, VA é o volume (mL) da solução alcoólica de KOH a

    0,1 N gasto na titulação da amostra; VB é o volume (mL) da solução alcoólica de KOH gasto

    na titulação da solução solvente (BRANCO); Ct é a concentração (N) da solução de KOH

    obtida na padronização e m é a massa (g) da amostra. O resultado obtido foi expresso em mg

    KOH/g (amostra).

  • 34

    O valor de índice de acidez elevado tem um efeito negativo no que diz respeito à

    qualidade do óleo, podendo torná-lo impróprio para a alimentação humana ou até mesmo para

    fins carburantes. Além disso, a pronunciada acidez dos óleos pode catalisar reações

    intermoleculares dos triacilgliceróis, ao mesmo tempo em que afeta a estabilidade térmica do

    combustível na câmara de combustão. Também, no caso do emprego carburante do óleo, a

    elevada acidez livre tem ação corrosiva sobre os componentes metálicos do motor

    (ALBUQUERQUE, 2006). No Brasil, o valor limite do índice de acidez para biodiesel é 0,5

    mg KOH/g.

    d) Viscosidade Cinemática.

    A viscosidade cinemática é definida como o produto da medida de tempo de fluxo e

    pela constante de calibração do tubo viscosímetro. Seu controle visa garantir um

    funcionamento adequado dos sistemas de injeção e bombas de combustíveis, além de

    preservar as características de lubricidade do biodiesel.

    A determinação da viscosidade cinemática foi realizada para o biodiesel de algodão de

    acordo com a norma ASTM D 445 e o equipamento utilizado foi um viscosímetro da marca

    TANAKA, modelo AKV 202, utilizando um capilar do tipo LANZ ZEITFUCHS com

    constantes iguais a 0,01572 mm2/s 2 e 0,01988 mm2/s 2 em banho térmico à 40 ºC. A faixa de

    viscosidade cinemática permitida pela Norma ASTM D445 é de 3 a 6 mm2/s 2 a 40 ºC.

    Para realizar a análise de viscosidade cinemática, coloca-se cerca de 15 mL no capilar,

    e em seguida, o mesmo é colocado no banho cerca de 20 minutos, tempo suficiente para

    amostra alcançar a temperatura do teste. Depois se usa sucção para ajustar o nível superior da

    amostra para a posição da primeira marca-se do braço capilar e marca o tempo de escoamento

    até a segunda marca.

    A viscosidade é calculada de acordo com a Equação:

    v = c x t (2)

    Onde: ν é viscosidade cinemática, mm2/s; c é a constante do capilar, (mm2/s;)/s; e o t é o

    tempo em segundos. O resultado da viscosidade cinemática deve ser reportado em mm2

    /s.

    e) Densidade

  • 35

    A densidade relativa é a razão da massa de um dado volume de líquido a 20ºC pela

    massa de igual volume de água pura à mesma a diferença temperatura a 4ºC. A densidade é

    um indicador importante de qualidade para combustíveis automotivos, de aviação e

    marítimos, estando relacionado à estocagem, manuseio e combustão.

    A determinação da densidade, de acordo com a ASTM D4052, foi realizada em um

    densímetro digital de bancada, da marca ANTON PAAR, modelo DMA-4500 Density Meter.

    Este equipamento possui controle da temperatura do banho.

    Para a calibração do equipamento utilizou-se água destilada purifica. Em seguida, foi

    introduzida a amostra no tubo do densímetro, limpo e seco, através de sucção. Após verificar

    que não havia presença de bolha no tubo, a leitura da densidade foi realizada diretamente no

    visor do equipamento a 20 ºC.

    f) Rancimat

    Para estudar a estabilidade oxidativa e determinar o período de indução do biodiesel

    de algodão sintetizado. As amostras foram analisadas de acordo com método Rancimat

    segundo a Norma Europeia (EN 14112) utilizando o equipamento de marca METROHM,

    modelo Rancimat 873.

    As amostras de biodiesel foram analisadas sob aquecimento a uma temperatura de 110

    ºC e fluxo constante de ar 10L/h. O fator de correção da temperatura foi fixado em 0.9 ºC,

    conforme recomendado pela EN 14112. O volume da amostra utilizado é de 3,0 gramas. A

    medida é finalizada quando o sinal alcança os 100% da escala, usualmente ao alcançar 200 µS.

    Os produtos formados pela decomposição são arrastados por um fluxo de ar para dentro de

    uma célula de medição abastecida por água destilada. O tempo de indução é determinado pela

    medida da condutividade. A avaliação é completamente automática.

    4.3 Determinação de teor de éster

    Para a determinação do teor de ésteres presentes nas amostras analisadas, foram

    elaboradas blendas óleo/biodiesel nas proporções de 25:75, 50:50 e 75:25. Essas amostras e as

    amostras de óleo de algodão e biodiesel de algodão foram analisadas por Termogravimetria

    (TG/DTG) e Espectroscopia de Absorção na região do Infravermelho com Transformação de

    Fourier (FTIR).

  • 36

    As curvas termogravimétricas foram obtidas em uma termobalança, atmosferas de

    nitrogênio, na razão de aquecimento de 10 °C.min-1 e intervalo de temperatura de 35-600 °C.

    Estas curvas serão obtidas para verificar o perfil da decomposição térmica permitindo avaliar

    estabilidade térmica das amostras.

    As análises do óleo de algodão e do seu respectivo biodiesel, e das blendas foram

    realizadas através da técnica de Reflexão Total Atenuada - Attenuated Total Reflectance-

    (ATR) utilizando um espectrômetro de infravermelho com transformação de Fourier (FTIR)

    da SHIMADZU, modelo IRAffinity-1, série MB 104, na faixa de 4000-700 cm-1 com

    resolução de 4 cm-1. Utilizando a célula de ZnSe 45º, em uma média de 45 scans e uma

    resolução espectral de 4 cm-1. O branco será realizado utilizando a célula de ZnSe sem

    amostra e para a obtenção dos espectros de ATR/FTIR será utilizado um volume suficiente

    para cobrir a célula.

    4.4 Estudo da Estabilidade Oxidativa do biodiesel

    Para o estudo do processo de oxidação do biodiesel de algodão aditivado com

    diferentes concentrações de biodiesel de mamona foram elaboradas blendas BioAlg/BioMam

    nas proporções de 75:25, 50:50 e 25:75. As amostras foram analisadas através da calorimetria

    exploratória diferencial sob pressão (P-DSC) e espectroscopia de absorção na região do

    infravermelho com transformação de Fourier (FTIR).

    Processo de Oxidação Acelerado: Os biodieseis de algodão e de mamona e blendas

    (BioAlg/BioMam) foram mantidos na estufa a uma temperatura de 60 °C por 13 dias e foi

    coletada uma alíquota para analisar no P-DSC e no FTIR nos seguintes intervalos: 0, 3, 6, 8,

    11 e 13 dias.

    Estudo da Estabilidade Oxidativa: As curvas de calorimetria exploratória diferencial

    sob pressão (P-DSC) foram obtidas por um calorímetro da NETZSCH, modelo DSC 204

    HP Phoenix, sob pressão de 700 kPa e um fluxo de 50 mL.min-1, em atmosfera de oxigênio.

    As análises de P-DSC foram realizadas pelo método dinâmico. As curvas obtidas pelo método

    dinâmico utilizou uma rampa de aquecimento de 20 oC.min-1, da tempertura ambiente até 500

    oC.

    A análise de P-DSC foi realizada com intuito de estudar a estabilidade oxidativa a uma

    determinada temperatura e pressão. Através desta análise pode ser determinado o tempo de

    indução oxidativa (OIT).

  • 37

    A análise dos biodieseis de algodão e de mamona e das blendas foram realizadas

    através da técnica de Reflexão Total Atenuada - Attenuated Total Reflectance - (ATR)

    utilizando um Espectrômetro de Infravermelho Médio por Transformação de Fourier (FTIR)

    da SHIMADZU, modelo IRAffinity -1, série MB 104, na faixa de 4000-700 cm-1 com

    resolução de 4 cm-1. Utilizando a célula de ZnSe 45º, em uma média de 45 scans e uma

    resolução espectral de 4 cm-1. O branco será realizado utilizando a célula de ZnSe sem

    amostra e para a obtenção dos espectros de ATR/FTIR será utilizado um volume suficiente

    para cobrir a célula.

  • 38

    5. RESULTADOS E DISCURSSÕES

    Neste capítulo, serão discutidos os resultados obtidos das análises realizadas para o

    biodiesel de algodão e de mamona pela rota etílica, através do processo de transesterificação.

    Assim como para as misturas realizadas com os biodieseis produzidos. Para a determinação

    do teor de ésteres presentes nas amostras analisadas, foram elaboradas blendas óleo/biodiesel

    nas proporções de 25:75, 50:50 e 75:25. Essas amostras e as amostras de óleo de algodão e

    biodiesel de algodão foram analisadas por termogravimetria (TG/DTG) e espectroscopia de

    absorção na região do infravermelho com Transformação de Fourier (FTIR). Para o estudo do

    processo de oxidação do biodiesel de algodão aditivado com diferentes concentrações de

    biodiesel de mamona foram elaboradas blendas BioAlg/BioMam nas proporções de 75:25,

    50:50 e 25:75. As amostras foram analisadas por Calorimetria Exploratória Diferencial sob

    Pressão (P-DSC) e Espectrômetro de Infravermelho Médio por Transformação de Fourier

    (FTIR).

    5.1 Obtenção e caracterização Físico-Química do Biodiesel de Algodão e de Mamona.

    Os B100’s etílico de algodão e de mamona foram obtidos através da reação de

    transesterificação e os rendimentos calculados foram de 98,0 e 80,5% m/m, respectivamente.

    A determinação da qualidade do combustível é um aspecto de grande importância para

    a comercialização do biodiesel e deve ser avaliada através da caracterização físico-química e

    são especificadas através de normas e portarias ou resoluções.

    Após a obtenção dos biodieseis, os biodieseis foram analisados quanto a sua aparência

    e os dois se apresentaram como límpidos e isentos de impureza.

    Na Tabela 3 estão apresentadas as caracterizações físico-químicas dos biodieseis de

    algodão e de mamona etílico. Os biodieseis foram caracterizados por: índice de acidez; massa

    específica; viscosidade cinemática e ponto de fulgor. Todos os valores apresentados na

    tabela abaixo se encontram dentro das especificações estabelecidas pela Resolução ANP No

    45/2014.

  • 39

    Tabela 3: Características físico-químicas dos biodieseis de Algodão e de Mamona obtidos.

    AMOSTRAS Massa específica

    a 20 ºC, Kg/m3

    Viscosidade

    Cinemática a 40oC,

    mm2.s-1

    Ponto de

    Fulgor, mín,

    oC

    Índice de

    Acidez,

    máx,

    mg/KOH g

    Rancimat a

    110 oC,

    PI/min

    B100 - ALG 882,50 4,397 167 0,5 31,45

    B100 - MAM 922,8 14,6 220 0,68 30,62

    Fonte: Autor, 2016.

    O biodiesel de algodão apresentou resultado em conformidade com as especificações

    da Resolução ANP Nº 45/2014 para massa específica e viscosidade cinemática. Porém, o

    biodiesel de mamona apresenta não conformidade com as especificações da Resolução ANP

    Nº 45/2014, de acordo com o Regulamento Técnico ANP Nº 45/2014, a massa específica é

    entre 850 e 900 Kg/m3. O mesmo ocorre com a viscosidade cinemática que é entre 3,0 e 6,0

    mm².s-1. Portanto, apenas o biodiesel de algodão apresentou resultado em conformidade com

    as especificações, como podemos observar na Tabela 3.

    A determinação do ponto de fulgor indica a menor temperatura à qual o biodiesel gera

    vapores que inflamam na presença de uma fonte de ignição, ao ser aquecido sob condições

    controladas. Observou-se que todas as amostras estão conforme com as especificações da

    Resolução ANP Nº 45/2014. O ponto de fulgor dos biodieseis, se completamente isento de

    metanol ou etanol, for superior à temperatura ambiente, significa que o combustível não é

    inflamável nas condições normais ao ser transportado, manuseado e armazenado, servindo

    inclusive para ser utilizado em embarcações.

    O biodiesel de algodão apresentou resultado em conformidade com as especificações

    da Resolução ANP Nº 45/2014 para o índice de acidez. Porém, o biodiesel de mamona

    apresenta não conformidade com as especificações da Resolução ANP Nº 45/2014, de acordo

    com o Regulamento Técnico ANP Nº 45/2014, o valor máximo do índice de acidez é 0,5

    mg/KOH g.

    Através da Tabela 3, podemos observar que nem o biodiesel de algodão e nem o de

    mamona estão em conformidade com as especificações da Resolução ANP Nº 45/2014 para a

    estabilidade oxidativa, pois o período de indução é abaixo do que é permitido pela Resolução.

    De acordo com a Resolução ANP Nº 45/2014, o período de indução mínimo e de 6 horas.

    Porém, podemos observar que a amostra de biodiesel de algodão apresenta maior valor de

    período de indução em relação à amostra de biodiesel de mamona, assim podemos afirmar

  • 40

    que o biodiesel de algodão apresenta maior estabilidade oxidativa, consequentemente,

    aumenta o seu tempo de estocagem em relação ao biodiesel de mamona.

    Figura 4: Curvas de TG de óleo de Algodão e B100 de algodão.

    100 200 300 400 500 600

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    Perd

    a d

    e m

    ass

    a (

    %m

    /m)

    Temperatura (oC)

    TG - Óleo de Algodão

    TG - Biodiesel de Algodão

    Fonte: Autor, 2016.

    Figura 5: Curvas de DTG de óleo de Algodão e B100 de algodão.

    Fonte: Autor, 2016.

    0 100 200 300 400 500 600

    -0,020

    -0,015

    -0,010

    -0,005

    0,000

    DT

    G

    Temperatura (oC)

    DTG - Óleo de algodão

    DTG - Biodiesel de algodão

    230 oC

    434oC

  • 41

    .Figura 6: Curvas de TG de óleo de Mamona e B100 de Mamona.

    100 200 300 400 500 600

    Pe

    rda

    de

    ma

    ssa

    % (

    m/m

    )

    Temperatura °C

    BIODIESEL MAMONA

    OLEO MAMONA

    Fonte: Autor, 2016.

    Figura 7: Curvas de DTG de óleo de Mamona e B100 de Mamona.

    100 200 300 400 500 600

    396,00 °C

    DT

    G

    Temperatura °C

    BIODIESEL DE MAMONA

    OLEO DE MAMONA

    312,00 °C

    Fonte: Autor, 2016.

    As curvas de TG/DTG permitiram observar que todos triglicerídeos foram

    transesterificados com sucesso, pois tanto a curva TG/DTG do óleo como o do biodiesel

    apresentaram uma única etapa com valores máximo de volatilização de 434 oC, 230 oC, 396

    oC e 312 oC para óleo de algodão, biodiesel de algodão, óleo de mamona e biodiesel de

    mamona, respectivamente.

  • 42

    5.2 Determinação do Teor de Ésteres

    Para a determinação do teor de ésteres presentes nas amostras analisadas, foram

    elaboradas blendas óleo/biodiesel nas proporções de 25:75, 50:50 e 75:25. Essas amostras e as

    amostras de óleo de algodão e biodiesel de algodão foram analisadas por termogravimetria

    (TG/DTG) e espectroscopia de absorção na região do infravermelho com Transformação de

    Fourier (FTIR).

    As curvas termogravimétricas (TG/DTG) das alíquotas das blendas óleo/biodiesel nas

    proporções de 25:75, 50:50 e 75:25 e das amostras de óleo de algodão e biodiesel de algodão

    foram analisadas por TG/DTG estão apresentadas nas Figuras 8 e 9.

    A análise termogravimétrica foi realizada com intuito de estudar o comportamento

    térmico das amostras e assim determinar o teor de ésteres. As curvas TG/DTG das blendas

    óleo/biodiesel obtidas a uma razão de aquecimento de 10 ºC.min-1, em atmosfera de

    nitrogênio, apresentaram duas etapas de decomposição térmica, conforme podemos observar

    na Figura 9. Na Tabela 4, está apresentado o intervalo de temperatura e percentual de perda

    de massa para cada etapa e também a massa residual.

    Figura 8: Curvas de TG das alíquotas das blendas óleo/biodiesel nas proporções de 75:25, 50:50 e 25:75, e das

    amostras de óleo de algodão e biodiesel de algodão.

    Fonte: Autor, 2016.

    100 200 300 400 500

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    % M

    assa

    Temperatura (oC)

    B100 Algodão

    Óleo de algodão

    25:75 óleo/B100

    50:50 óleo/B100

    75:25 óleo/B100

  • 43

    Figura 9: Curvas de DTG das alíquotas das blendas óleo/biodiesel nas proporções de 75:25, 50:50 e 25:75, e das

    amostras de Óleo de Algodão e biodiesel de Algodão.

    Fonte: Autor, 2016.

    Tabela 4: Dados termogravimétricos do B100 de Algodão, Óleo de Algodão e as respectivas blendas.

    AMOSTRA

    ETAPA

    INTERVALO DE

    TEMPERATURA

    (°C)

    PERDA DE

    MASSA (%)

    MASSA

    RESIDUAL

    (%)

    B100 de Algodão 2 112-263/263-309 98,8/1,2 -

    25:75 óleo/B100 2 175-370/370-514 73,2/26,8 -

    50:50 óleo/B100 2 175-386/386-514 50,56/49,44 -

    75:25 óleo/B100 2 175-376/376-515 25,8/74,2 -

    Óleo de Algodão 1 300-514 98,56 1,44

    Fonte: Autor, 2016.

    Podemos observar que houve uma redução na temperatura inicial de perda de massa

    do B100 de algodão em relação ao óleo de Algodão (Tabela 4) evidenciando a eficiente

    transesterificação dos triglicerídeos em ésteres. Em relação ao segundo intervalo de

    temperatura do B100 de algodão, podemos associar ao mono, diacil e triglicerídeos que não

    foram transesterificados. Já em relação às blendas, observamos que com a adição de óleo de

    algodão foi surgindo duas etapas de perdas de massas, proporcionalmente a quantidade de

    óleo acrescentado. A primeira etapa, em um intervalo de temperatura menor, está relacionada

    aos ésteres presentes no B100 de algodão e a segunda etapa, em um intervalo de temperatura

    maior, referente aos triglicerídeos específicos do óleo de algodão.

    100 200 300 400 500

    -0,020

    -0,015

    -0,010

    -0,005

    0,000

    % M

    assa

    Temperatura (oC)

    B100 de Algodão

    Óleo de Algodão

    25:75 Óleo:B100

    50:50 Óleo:B100

    75:25 Óleo:B100

  • 44

    A caracterização estrutural do óleo de algodão, do B100 e das blendas óleo/biodiesel

    nas proporções de 25:75, 50:50 e 75:25 foram realizadas por espectroscopia na região do

    infravermelho com o objetivo de avaliar o processo de transesterificação do óleo de Algodão.

    As curvas do FTIR estão apresentadas nas Figuras 10 e 11.

    Figura 10: Curvas de FTIR das alíquotas das blendas óleo/biodiesel nas proporções de 75:25, 50:50 e 25:75, e

    das amostras de Óleo de Algodão e biodiesel de Algodão.

    3000

    BioAlg

    25Óleo/75Bio

    50Óleo/50Bio

    75Óleo/25Bio

    ÓleoAlg

    Absorb

    ância

    (u.a

    )

    Número de onda cm-1

    Fonte: Autor, 2016.

    Figura 11: Curvas de FTIR na região de 1000 a 1600 cm-1 das alíquotas das blendas óleo/biodiesel nas

    proporções de 75:25, 50:50 e 25:75, e das amostras de Óleo de Algodão e biodiesel de Algodão.

    1000

    1075 O- CH2

    -C

    Absorb

    ância

    (u.a

    )

    Número de onda cm-1

    BioAlg

    25Óleo/75Bio

    50Óleo/50Bio

    75Óleo/25Bio

    ÓleoAlg

    1435 - CH3

    1195 - O-CH3

    1370- O-CH2

    Fonte: Autor, 2016

  • 45

    A espectroscopia no infravermelho mede a transição entre estados vibracionais, que

    ocorrem quando uma molécula absorve energia na região do infravermelho do espectro

    eletromagnético. Os diferentes grupos funcionais e os seus tipos de ligações têm frequências e

    intensidades de absorção distintas no infravermelho (SILVERSTAIN e WEBSTER, 2000).

    As Figuras 10 e 11 ilustram o espectro na região do infravermelho por absorbância do

    óleo de algodão