Utilização de rejeitos de Caulins na Síntese de Zeólita ACAPITULO 1 1. INTRODUÇÃO As zeólitas...

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Severino Higino da Silva Filho Utilização de rejeitos de Caulins na Síntese de Zeólita A Dissertação apresentada como requisito para obtenção do título de Mestre, pelo Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Orientadora: Profa. Dra. Sibele B. C. Pergher (UFRN). Co-orientadora: Profa Dra. Ana A. B. Maia (UNAMA). Natal-2014

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Severino Higino da Silva Filho

Utilização de rejeitos de Caulins na Síntese de Zeólita A

Dissertação apresentada como requisito para

obtenção do título de Mestre, pelo Programa

de Pós-Graduação em Química da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Orientadora: Profa. Dra. Sibele B. C. Pergher

(UFRN).

Co-orientadora: Profa Dra. Ana A. B. Maia

(UNAMA).

Natal-2014

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UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede.

Catalogação da Publicação na Fonte.

Silva Filho, Severino Higino da.

Utilização de rejeitos de caulins na síntese de zeólita A. / Severino

Higino da Silva Filho. – Natal, RN, 2014.

63 f.; il.

Orientadora: Profª. Dra. Sibele B. C. Pergher.

Co-orientadora: Prof.ª Dr.ª Ana A. B. Maia.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Centro de Ciências Exatas e da Terra. Instituto de Química.

Programa de Pós-Graduação em Química.

1. Rejeito de caulim – Dissertação. 2. Sintese de zeólitas –

Dissertação. 3. Zeólita A – Dissertação. I. Pergher, Sibele B. C. II. Maia,

Ana A. B. III. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título.

RN/UF/BCZM CDU 553.612

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Severino Higino da Silva Filho

Utilização de rejeitos de Caulins na Síntese de Zeólita A

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-graduação em Química da

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, em cumprimento às exigências para

obtenção do título de Mestre em Química.

Aprovada em: 24 de janeiro de 2014.

Comissão Examinadora:

__________________________________________________________________

Dra. Sibele Berenice Castellã Pergher – UFRN (orientadora)

__________________________________________________________________

Dr. Carlos Alberto Martinez Huitle – UFRN

__________________________________________________________________

Dra. Ana Clécia Santos de Alcântara – UPV

__________________________________________________________________

Dra. Ana Áurea Barreto Maia – UNAM

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AGRADECIMENTOS

Quero agradecer de forma especial a toda minha família pelo apoio e suporte, tanto

emocional como financeiro, por acreditarem que tenho potencial.

A minha esposa Sandra, por toda paciência, compreensão e amizade.

A Dra. Sibele por ter acreditado e dado o maior incentivo para a realização do mestrado.

A Dra. Ana Áurea Barreto Maia.

Ao pessoal do LABPEMOL pela amizade e apoio, em especial a Lindiane pela ajuda

nos experimentos bem como discussão de resultados.

A todos os colegas, funcionários e professores do Instituto de Química

Aos amigos que, de alguma forma também colaboraram com esse trabalho.

Ao PPGQ da UFRN.

Ao CNPQ pela bolsa.

Quero agradecer a todos que contribuíram diretamente ou indiretamente na realização

dessa dissertação, sem citar nomes para ninguém se sentir esquecido.

Agradeço a todos, pelo apoio e compreensão.

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RESUMO

SILVA, F. Utilização de rejeitos de Caulins na Síntese de Zeólita A. 2014, janeiro.

Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Rio Grande do norte.

Três estudos foram realizados empregando rejeitos de caulins para a síntese da

zeólita A. O primeiro a síntese da Zeólita A foi realizada utilizando-se um rejeito de

caulim, gerado a partir do processo de beneficiamento de caulim para produção de

papel, foi estudada. O rejeito de caulim foi ativado termicamente em um intervalo de

temperatura de 550 a 800°C. Para efeito de comparação foi realizada uma síntese padrão

de Zeólita A (procedimento da IZA). Os materiais preparados foram caracterizados por

RMN-MAS de 27

Al, difração de raios X e Microscopia eletrônica de varredura com

microsonda. O pré-tramento mostrou-se necessário e as temperaturas mais adequadas

foram entre 600 e 700ºC. Observou-se a formação da zeólita A em todos os materiais,

alcançando-se 52% de cristalinidade, além da presença da fase sodalita e de material

amorfo. O segundo estudo foi o emprego de um metacaulim altamente reativo originário

da região do Jarí na síntese da Zeólita A através de um novo método de síntese

hidrotermal. A zeolita A é obtida pura e altamente cristalina empregando o caulim da

região do Jarí calcinado a 600°C por 2h quando ocorre a transformação para

metacaulim. Obtem-se a fase zeolita A em 4h. O melhor tempo de cristalização

encontrado foi de 24 h que proporcionou uma cristalinidade de 67,9 %. E o terceiro

estudo foi a avaliação da relação de NaOH / metacaulim e tempo de cristalização na

síntese da zeólita NaA a partir de uma amostra de rejeito de caulim, nomeado como

Caulim de Cobertura. Os experimentos foram realizados utilizando planejamento

estatístico (com pontos axiais) e treplica do ponto central. As amostras obtidas foram

caracterizadas por difração de Raios-X (DRX), análises microscópicas de varredura e

análise química utilizando-se uma microssonda EPMA. Os resultados mostraram que

existe uma relação entre a quantidade de NaOH adicionado e o tempo de cristalização.

Os experimento realizados utilizando a mais baixa relação NaOH / metacaulim (0,5) e

menor tempo (4 h) produziu um material amorfo. Já o aumento da relação NaOH

/Metacaulim e o tempo de cristalização leva a formação de uma fase NaA mais

cristalina, mas com a presença da fase sodalita como impureza.

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Palavras chave: Rejeito de Caulim, síntese de zeólitas, Zeólita A.

ABSTRACT

SILVA, F. Use of tailings kaolins in Synthesis of Zeolite A. 2014, janeiro. Dissertação

de Mestrado – Universidade Federal do Rio Grande do norte.

Three studies were performed using tailings kaolin for the synthesis of zeolite A.

The first synthesis of zeolite A was performed using a kaolin waste generated from the

beneficiation of kaolin for paper production process was studied. The kaolin waste was

thermally activated at a temperature range of 550-800°C. For comparison was

performed a synthesis pattern of Zeolite A(procedure IZA). The prepared materials were

characterized by 27Al MAS NMR, X-ray diffraction and scanning electron microscopy

with microprobe rays. The pre-tramento proved to be the most appropriate and suitable

temperatures are between 600 and 700°C. Observed the formation of zeolite A in all

materials, reaching 52% crystallinity, and the presence of phase sodalite and amorphous

material. The second study was the use of a highly reactive metakaolin originating from

the Jari region in the synthesis of zeolite A by a new method of hydrothermal synthesis.

The zeolite is obtained pure and highly crystalline employing the Jari kaolin calcined at

600 ° C for 2h when the transformation to metakaolin occurs. Get to zeolite phase A at

4pm. The best crystallization time was of 24 h afforded a crystallinity of 67.9%. The

third study was the evaluation of the NaOH / metakaolin and crystallization time on the

synthesis of zeolite NaA from a sample of kaolin waste, named Kaolin Coverage. The

experiments were performed using statistical design (axial points) and rejoinder the

center point. The samples were characterized by X-ray diffraction (XRD), scanning

microscopic analysis and chemical analysis using an EPMA microprobe. The results

showed that a relationship exists between the amount of NaOH added and the

crystallization time. The experiment performed using the lowest ratio NaOH /

metakaolin (0.5) and shorter (4 h) produced an amorphous material. The increase ratio

of NaOH / metakaolin and crystallization time leads to formation of a more crystalline

NaA phase, but the presence of phase with sodalite as impurities.

Keywords: Reject kaolin, zeolite synthesis, zeolite A.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1: Esquema das estruturas do caulim (A) e da Zeólita A(B)............................11

Figura 3.1: Estrutura do caulim .....................................................................................13

Figura 3.2: Estrutura da Zeólita A..................................................................................19

Figura 4.1: (A) Difratograma de raios X e (B) Micrografia da amostra de

Metacaulim.............................................................................................32

Figura 4.2: Difratogramas das amostras obtidas em diferentes tempos de

cristalização............................................................................................34

Figura 4.3: Micrografias eletrônica de varredura das amostras obtidas em diferentes

tempos de síntese: (A) 4h, (B) 6h, (C), (D) 24h, (E) 24h(detalhe dos

cristais sextavados)................................................................................35

Figura 5.1: Estrutura do caulim (A) e da zeólita A (B).Adaptado...............................38

Figura 5.2: Espectros de RMN-MAS de 27

Al das amostras de caulim precursor (A) e após

calcinação, nas temperaturas de 550ºC (B), 600ºC (C), 700ºC (D) e 800 ºC

(E).*bandas rotacionais..........................................................................41

Figura 5.3: Difratograma da Zeólita A- Síntese padrão IZA.........................................42

Figura 5.4: Difratogramas das amostras sintetizadas utilizando-se caulim calcinado em

diferentes temperaturas. A – zeólita A e S- sodalita..............................43

Figura 5.5: Micrografia da amostra sintetizada empregando o caulim calcinado a 600ºC

- ZAMC600............................................................................................44

Figura 6.1:Esquema de síntese para a zeólita NaA........................................................51

Figura 6.2: Difratogramas e micrografias das amostras de caulim de cobertura natural e

calcinado a 700ºC por 2h........................................................................53

Figura 6.3: Difratogramas das amostras obtidas a partir do planejamento estatístico 22

com 3 pontos centrais, para a zeólita A a partir do caulim de cobertura

calcinado ( A= zeólita NaA e S= sodalita)............................................54

Figura 6.4: Gráfico de Pareto para a síntese de zeólita A a partir do caulim................57

Figura 6.5: Superfície de resposta para os experimentos realizados............................58

Figura 6.6: Micrografias das amostras sintetizadas a partir do planejamento

estatístico.............................................................................................59

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LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1: Mercado do caulim no mundo..................................................................15

Tabela 4.1:Cristalinidade e relação molar Si/Al das amostras obtidas em diferentes

tempos de cristalização........................................................................33

Tabela 5.1: Ondem dos reagentes utilizados na síntese da zeólita A, procedimento

padrão IZA..........................................................................................38

Tabela 5.2: Análise química dos materiais, obtida com microsonda...........................45

Tabela 6.1:Parâmetros do modelos de Languir-Freundlich ajustados aos dados

experimentais.......................................................................................51

Tabela 6.2: Percentual de cristalinidade relativa das amostras sintetizadas utilizando

planejamento estatístico 22

com 3 pontos centrais..............................55

Tabela 6.3: Razões H2O / Na2O para as sínteses realizadas........................................56

Tabela 6.4: Modelo empirico predito para a síntese da zeólita NaA como função do

tempo de cristalização e razão NaOH / metacaulim e análise de variância

para o modelo apresentado. (NaOH / Metacaulim = N e tempo de

cristalização = T)...................................................................................57

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SUMÁRIO

Capítulo 1 10

1. Introdução 10

Capítulo 2 12

2. Objetivos 12

2.1. Objetivos Específicos 12

Capítulo 3 13

3. Referencial Teórico 13

3.1. Caulim 13

3.2. Zeólitas 17

3.3. Síntese de Zeólita A partindo-se de Caulim 20

3.4. Referências Bibliográfica 23

Capítulo 4 29

4. Artigo: Síntese de Zeólita A com elevado grau de ordem estrutural empregando

um metacaulim da região do JARI 29

4.1. Introdução 29

4.2. Experimental 31

4.2.1. Síntese 31

4.2.2. Caracterização 32

4.3. Resultados e Discussão 32

4.4. Conclusão 35

4.5. Referências Bibliográficas 36

Capítulo 5 37

5. Artigo: Utilização de rejeitos de Caulins na síntese da Zeólita A 37

5.1. Introdução 37

5.2. Experimental 38

5.2.1. Síntese de zeólitas 38

5.2.2. Caracterização dos materiais de partida e sintetizados 39

5.3. Resultados e Discussão 40

5.3.1. Caracterização das amostras de metacaulim de cobertura 40

5.3.2. Síntese de Zeólitas 41

5.4. Conclusões 45

5.5. Referências Bibliográficas 45

Capítulo 6 47

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6. Artigo: Estudo da razão NaOH/Metacaulim e tempo de cristalização para a

síntese da zeólita A partindo-se de um rejeito de caulim utilizando planejamento

estatístico 47

6.1. Introdução 47

6.2. Experimental 50

6.2.1. Materiais e Métodos 50

6.2.2. Síntese da Zeólita NaA 50

6.2.3. Caracterização 52

6.3. Resultados e Discussão 52

6.4. Conclusão 60

6.5. Referências Bibliográficas 61

Capítulo 07 63

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CAPITULO 1

1. INTRODUÇÃO

As zeólitas devido à suas propriedades particulares de troca de cátions, adsorção e

catálise, possuem significativas aplicações industriais. Em virtude disso, é crescente o

número de trabalhos que estudam desenvolvimento destes materiais (Breck, 1974;

Giannetto et al., 2000; Alkan et al., 2005; Chandrasekhar & Pramada, 2008; Rigo et al.,

2009; Maia et al., 2011; Liu et al., 2013).

A utilização de zeólitas naturais ou sintetizadas a partir de matérias-primas naturais

mostra-se uma tecnologia limpa de fácil aplicação e de baixo custo, que tende a um

crescimento futuro. A síntese desses materiais a partir de matérias-primas naturais se

mostra extremamente interessante num país onde reserva de minerais é grande.

Além das vantagens da matéria-prima ser de origem nacional e de baixo custo de

extração, a utilização desses minerais na síntese de zeólitas, se torna interessante, pois o

processo torna-se viável economicamente além de autossuficiente. A zeólita A apresenta

grande aplicação comercial como: aditivos de detergentes, trocadores catiônicos,

desumidificador de ambiente, etc. (Breck, 1974; Giannetto et al., 2000)

Embora já existam muitas pesquisas relacionadas ao processo de síntese da Zeólita

A partindo-se de caulim, é importante levar em consideração que as diferentes

características desse argilomineral, oriundo de diversas regiões podem influenciar

diretamente no rendimento do produto final da síntese (Maia, 2011).

No Brasil, as reservas de caulim concentram-se em sua quase totalidade (93%) nos

depósitos sedimentares dos três maiores distritos cauliníferos do país: Rio Capim, no estado

do Pará; Jari, no estado do Amapá e um terceiro depósito no estado do Amazonas.

O caulim apresenta uma estrutura lamelar composta de folhas de tetraedros de Si e

octaedros de Al com oxigênios comuns, com formação de uma camada 1:1 (Figura 1.1A).

Como os caulins apresentam uma relação Si/Al próxima a 1,0 são materiais de composição

adequada para a síntese da zeólita A (Figura 1.1.B) também de relação Si/Al próxima a 1,0.

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Figura 1.1. Esquema das estruturas do caulim (A) e da Zeólita A (B)

(http://pubs.usgs.gov/of/2001/of01041/htmldocs/clays/kaogr.htm)

Em virtude do exposto, o estudo da síntese de LTA a partir de caulins é interessante

e necessário uma vez que a origem do caulim influencia nas propriedades dos materiais

bem como no processo de obtenção das zeólitas.

Assim, o objetivo deste trabalho é estudar a síntese da zeólita A empregando-se

diversos caulins e rejeitos de caulins gerado no processo de produção de papel na região

norte, como fonte de Si e Al.

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CAPITULO 2

2. OBJETIVOS

O objetivo geral deste trabalho é sintetizar as zeólitas A, utilizando-se como fonte

de Si e Al uma matéria prima natural a base de caulim provenientes de diferentes jazidas e

processos.

2.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Empregar o rejeito industrial de caulim proveniente da jazida de Jari na síntese da

zeólita A, para estudar diferentes parâmetros de síntese.

- Empregar um resíduo de caulim proveniente do processo de beneficiamento de

caulim para de papel, para a síntese da zeólita A estudando diferentes parâmetros de

síntese.

- Estudar a razão NaOH/metacaulim e tempo de cristalização para a síntese da

Zeolita A partindo-se de um caulim de cobertura utilizando planejamento estatístico.

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CAPITULO 03

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1-CAULIM

O caulim é uma rocha formada por um grupo de silicatos hidratados de

alumínio, principalmente caulinita e haloisita. Essa rocha ainda é constituída de outras

substâncias na forma de impurezas como por exemplo: areia, quartzo, palhetas de mica,

grãos de feldspato, óxidos de ferro e titânio,etc(Corrêa, 2009).

Embora o mineral caulinita, teoricamente apresente a fórmula

Al2O3.2SiO2.2H2O, outros elementos além do alumínio, silício, hidrogênio e oxigênio

encontram-se geralmente presentes na sua estrutura em posições mais complexa e muitas

vezes desconhecidas.O caulim apresenta uma estrutura lamelar composta de folhas de

tetraedros de Si e octaedros de Al com oxigênios comuns, com formação de uma camada

1:1 (Mascarenhas et al, 2001) (Figura 3.1.).

Figura 3.1. Estrutura do Caulim. (http://pubs.usgs.gov/of/2001/of01041/htmldocs/clays/kaogr.htm)

O caulim tem muitas aplicações industriais e novos usos estão sendo

constantemente pesquisados e desenvolvidos. É um mineral industrial de características

especiais, porque é quimicamente inerte em uma ampla faixa de pH; tem cor branca,

apresenta ótimo poder de cobertura quando usado como pigmento ou como extensor em

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aplicações de cobertura e carga, é macio e pouco abrasivo, apresenta baixa condutividade

térmica e elétrica e seu custo é mais baixo (Corrêa, 2009).

Suas principais aplicações são como agentes de enchimento (filler) no preparo de

papel; como agente de cobertura (coating) para papel couché e na composição das pastas

cerâmicas. Em menor escala o caulim é usado na fabricação de materiais refratários,

plásticos, borrachas, tintas, adesivos, cimentos, inseticidas, pesticidas, produtos alimentares

e farmacêuticos, catalisadores, absorventes, dentifrícios, clarificantes, fertilizantes, gesso,

auxiliares de filtração, cosméticos, produtos químicos, detergentes e abrasivos, além de

cargas e enchimentos para diversas finalidades. Atualmente há grande variedade de

aplicações industriais (Corrêa, 2009). Das reservas brasileiras (medidas e indicadas),

aproximadamente 97% encontram-se na região norte do País, nos estados do Pará (Imerys

S/A e PPSA), Amapá (CADAM) e Amazonas (Mineração Horboy Clays Ltda). O mercado

produtor de caulim apresenta-se concentrado e competitivo. Os Estados Unidos juntamente

com a Comunidade dos Estados Independentes, Coréia do Sul, República Tcheca, Brasil e

Reino Unido, são responsáveis por 62% do caulim produzido no mundo (Tabela 3.1). É

importante ressaltar que apenas o Brasil disponibiliza o minério já beneficiado para o

mercado interno e externo a ser utilizado na indústria de papel, o qual responde por 7% da

produção mundial (Sena, et al.2009).

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Fonte: DNPM; Mineral Commodity Summaries-2008. Notas: (r) Revisado (apenas para o Brasil, estimado para outros países); * Comunidade dos Estados Independentes; (p) Dados preliminares; n.d. não disponível; (1) Reservas (medidas + indicadas); (2) Vendas; (3) Produção bruta.

Tabela 3.1.Mercado do caulim no mundo.

Discriminação Reservas(1)

(10 6

t) Produção (10 3

t)

Países 2007 (%) 2006r 2007

p (%)

Brasil 7.300 n.d 2.455 2.527 6,8

Estados Unidos (2)

Abundantes

n.d 7.740 7.330 19,6

Reino Unido (2)

n.d 2.500 2.100 5,6

República Tcheca (3)

n.d 3.770 3.700 9,9

Alemanha (2)

n.d 3.770 3.800 10,2

Coréia do Sul (3)

n.d 2.400 2.400 6,4

*CEI (3)

n.d 6.020 6.000 16,1

México n.d 875 900 2,4

Turquia n.d 580 450 1,2

Grécia (3)

n.d 60 50 0,1

Itália n.d 470 470 1,3

Outros Países n.d 6.730 7.630 20,4

Total n.d 37.370 37.357 100,0

Grandes depósitos de caulim com ampla distribuição são encontrados no mundo.

Esses depósitos são classificados em dois tipos principais de acordo com sua gênese:

depósitos primários, que resultam da alteração hidrotermal ou intempérica de rochas

cristalinas, e os secundários que resultam dos processos de erosão e deposição de depósitos

primários (Mártires, 2010).

No Brasil, as reservas são da ordem de 5,0 bilhões de toneladas e concentram-se em

sua quase totalidade (93%) nos depósitos sedimentares dos três maiores distritos

cauliníferos do país: Rio Capim, no Estado do Pará; Jari, no Estado do Amapá; e no Estado

do Amazonas, no município de Manaus. Neste último distrito se concentram 68% das

reservas conhecidas no país, embora não tenha ainda quaisquer atividades de lavra. Já, nas

regiões Sul, Sudeste, Leste, Nordeste e Centro-Oeste, a maioria dos depósitos de caulim

conhecidos é do tipo primário, derivados de alterações hidrotermais e intempéricas de

pegmatitos (regiões Nordeste e Leste) e granitos (Farias, 2009). Em relação a produção,

existem três minas consideradas de grande porte no Brasil, sendo que duas delas estão

localizadas no Município de Ipixuna, no Estado do Pará e a terceira em Vitória do Jari, no

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Estado do Amapá. Essas três minas produzem caulim de alta qualidade para aplicação na

indústria de papel, destinado quase que totalmente para o mercado internacional (Monte et

al. 2001).

A indústria de caulim brasileira caracteriza-se por ser fortemente concentrada.

Apenas dois grupos empresariais – Cia. Vale do Rio Doce-Vale e Imerys Rio Capim

Caulim- - IRCC – controlam cerca de 92,5% do caulim produzido no país. Enquanto a Vale

responde por 51,6%, através de suas controladas CADAM S/A (29,3%) e Pará Pigmentos

S/A – PPSA (22,3%), a Imerys detém a fatia de 40,9% da produção. Em conjunto, destinam

entre 80 e 90% da produção para a indústria de papel na Europa, Ásia e América do Norte,

colocando o restante no mercado doméstico. As demais regiões do país produzem caulim

para outras finalidades, notadamente para cerâmicas branca e vermelha, cimento, borracha,

plástico, tintas, refratários e, também, em menor proporção, para enchimento (filler) e

cobertura (coating) na indústria de papel (Farias, 2009). Segundo Mártires (2009), a

produção papel continuará, por longo tempo, sendo a de maior consumo de caulim de

qualidade internacional, como o produzido no Brasil. Isso se deve ao fato do caulim

proporcionar maior brilho e também alvura no papel.

No período 2010-2030, o crescimento da indústria brasileira de caulim dependerá

essencialmente da conquista de fatias sempre maiores do mercado internacional, que deverá

continuar a ser o principal foco de atenção das grandes reservas do caulim. Estima-se um

crescimento de 1,2% a.a. no consumo mundial de caulim, partindo-se de um patamar de

23,2 milhões de toneladas em 2010 para 29,4 milhões de toneladas em 2030, com

ampliação de 6,0 milhões de toneladas. Neste contexto, para o Cenário Frágil, com previsão

de 10% de crescimento, ou 600 mil toneladas em 2030, praticamente não haverá

necessidade de adicionar capacidade de produção às atuais plantas brasileiras (Farias 2009).

Em relação à questão ambiental e de gestão, as três maiores produtoras têm

certificação ambiental ISO 14001/2004 e ISO 9001/2000, enquanto os demais produtores,

todos de pequeno porte, carecem de certificação ambiental, embora estejam sujeitos às leis

e regulamentos dos estados e municípios onde operam. (Farias, 2009).

No processo de beneficiamento de caulim para produção de papel, na região

Amazônica, são gerados dois principais tipos de rejeitos: o primeiro, constituído por

partículas de quartzo, e o segundo, mais volumoso, correspondendo em torno de 26% da

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produção, constituído principalmente pelo argilomineral caulinita, o qual é armazenado em

grandes lagoas de sedimentação em forma de solução aquosa (Martelli, 2004; Maia, 2011).

Segundo Maia (2011), como esse rejeito passou por alguns processos de natureza

física e química, o mesmo acabou se tornando um material de grande importância

tecnológica, já que é constituído principalmente por caulinita e baixíssima quantidades de

impurezas.

Tal motivo resultou na utilização do rejeito de caulim da Amazônia como matéria-

prima em vários processos e para diferentes tipos de aplicação, como porcelonas para

indústria de cimento por Barata & Dal Molin (2002), Barata (2007), Lima (2004), Lima

(2006); agregados na construção civil por Flores (1997, 2000); na produção de zeólitas por

Saldanha (2006), Maia (2011), Maia et al. (2007, 2008,2011,2013), Paz (2010), Moraes

(2008), Serra (2009), Moraes (2010), Rodrigues (2010) Menezes (2011), Santos (2011),

Silva (2011).

3.2-ZEÓLITAS

As zeólitas são materiais microporosos de origem natural ou sintética,

formando uma estrutura tridimensional compostas por tetraedros de silício e alumínio

(Breck, 1976). Mais especificamente, a estrutura das zeólitas é formada por moléculas

hospedeiras (tetraedros de Si e Al) e moléculas visitantes (cátions trocáveis e água).

(McCusker et al., 2001 e Cundy & Cox, 2003). Segundo Luz (1994), as zeólitas são

aluminosilicatos hidratados de metais alcalinos ou alcalinos terrosos (principalmente sódio,

potássio, magnésio e cálcio), estruturados em redes cristalinas tri-dimensionais, compostos

de tetraedros do tipo TO4 (T = Si, Al, B, Ge, Fe, P, Co) unidos nos vértices por meio de

átomos de oxigênio. Porém, para Wright & Pearce (2010) as zeólitas podem ser definidas

de forma rigorosa como aluminosilicatos com estrutura em rede conectada tetraedricamente

baseada no compartilhamento da extremidade dos tetraedros aluminato (AlO4) e silicato

(SiO4). Assim, “zeólita e materiais semelhantes às zeolitas” são termos utilizados para

tentar englobar todo o material de interesse. Atualmente, o termo “material nanoporoso”

tem sido aplicado para zeólitas e peneiras moleculares (Flanigen et al. 2010).

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Essa estrutura microporosa das zeólitas resulta em excelentes propriedades desses

materiais, tanto é que os mesmos são amplamente usadas do processo de adsorção, troca

iônica e catálise (Breck, 1976).

Devido a essas características, as zeólitas tem sido largamente sintetizadas e esse

processo vem sendo alvo de pesquisa com objetivo de se encontrar melhores condições de

síntese.

Segundo Zagorodni (2007), uma das vantagens em se utilizar zeólita sintética seria a

possibilidade de variar sua relação Si/Al, de acordo com a necessidade específica. Quando

se aumenta essa relação, a mesma passa a apresentar alta estabilidade térmica, alta

resistência ao meio ácido e hidrofobicidade, contudo a capacidade de troca iônica decresce.

Segundo Maia (2011) a zeólita A é um daqueles materiais cristalinos que não são

encontrados na natureza, mas pelo número de publicação, há um grande interesse no seu

processo de síntese devido às suas características muito atrativas, sendo uma delas a sua

capacidade de variar o tamanho de seu poro. Essa zeólita pode comportar-se como um

material de poros de dimensões variáveis, dependendo da forma do íon trocável: K (3 Å),

Na (4 Å) e Ca (5 Å) (Breck , 1976).

A estrutura cúbica da zeólita A (a = 24,6 Å, grupo espacial Fm-3c) apresenta

arranjos tridimensionais compostos por unidades tetraédricas de SiO4 e AlO4 na proporção

1:1 e é geralmente descrita em termos da unidade sodalita (ou caixa β), e anel duplo de 4

tetraedros (Figura 3.2). A interconexão dessas unidades produz a larga cavidade, 11,4 Å em

diâmetro (caixa α), e dois sistemas de canais cruzados. A neutralidade elétrica é ativada

pela inclusão do íon Na+ na cadeia, além disso, um número de moléculas de água se

difunde facilmente. (McCusker et al. 2001). Do ponto de vista termodinâmico, a zeólita A é

uma fase metaestável e tende a transformar em hidroxisodalita (Na6Al6Si6O24.8H2O) com o

tempo (Breck, 1976).

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Figura 3.2..Estrutura da Zeólita A . Adaptado fonte

(http://pubs.usgs.gov/of/2001/of01041/htmldocs/clays/kaogr.htm)

Como consequência, dessa relação Si/Al próxima a 1, as zeólitas apresentam o

número máximo de cátions trocáveis que equilibra o alumínio na estrutura, compensando a

carga, apresentando, assim um maior teor de cátions e maior capacidade de troca. A

superfície das mesmas é altamente seletiva para água, moléculas polares e polarizáveis, que

servem como base para muitas aplicações das zeólitas, em especial para secagem e

purificação (Carveloni, 2004).

Por ser uma zeólita de baixo conteúdo de Si (relação Si/Al é igual a 1), a zeólita A é

facilmente sintetizada partindo-se de caulinita. Sua síntese passa por duas etapas: (1) a

transformação da caulinita para metacaulinita e (2) a reação da metacaulinita com NaOH.

Na etapa 1, é feita a ativação da caulinita para a forma não cristalina metacaulinita, sendo

essa mais reativa. Essa ativação pode ser feita através de tratamento térmico (calcinação) ou

por tratamento mecânico (moagem), sendo que suas condições experimentais vão depender

da origem e características da caulinita. Na etapa 2, ocorre a zeolitização em condições que

também vai depender da caulinita de partida (Maia, 2011).

Por ser uma fase metaestável, como já descrito, geralmente na síntese da zeólita A

partindo-se de caulinita, também ocorre a produção da sodalita, como pode ser visto nos

trabalhos de Gualtiere et al., 1997; Alkan et al., 2005. Kallai & Lapides, 2007.

A produção da sodalita juntamente com a zeólita A também ocorreu quando se

utilizou determinados rejeitos de caulim, como o rejeito industrial de caulim da

Amazônia,mais especificamente da região do capim (Maia 2007, Maia et al. 2007, Maia et

al. 2011) e o rejeito da mina dessa mesma região(caulim flint) descartado no

beneficiamento do caulim soft, que por sua vez é usado na cobertura de papel (Muzzi et al.,

2008).

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A sodalita é representada pela fórmula geral M8[AlSiO4]6X2, em que M é o cátion

monovalente (Na, Li, Ag) e X o ânion monovalente, com grupo M4Cl localizado no centro

de cada cadeia (Johnson et al., 1999). As β-cadeias podem conter também uma variedade

de sais encapsulados M+ A

-, hidróxido M

+ OH

- e/ ou moléculas de água. (Engelhardt et al.

1992).

Ao contrário da zeólita A, sodalita é encontrada naturalmente e apresenta a

composição química Na8[AlSiO4]6Cl2. Porém, para alguns mineralogistas a mesma é

considerada um fesdapatoide, devido ao fato de não apresentar água nas cavidades e sim o

cloro (Smith, 2000).

Durante a síntese da sodalita, ânions como OH-, Cl

-, CO3

2-, SO4

2-, podem ser

incorporados na sua estrutura e assim, tem-se uma variedade desse material (Maia, 2011).

Quando a sodalita apresenta a hidroxila (OH-) inserida na sua estrutura é conhecida

por hidroxisodalita, com abertura de poro de tamanho pequeno de 0,27 nm (2,7 Å). Por

apresentar esse tamanho característico de poro, a hidroxisodalita pode ser uma ideal

candidata na separação de pequenas moléculas, tais como NH3 (2.55 Å), He (2.6 Å), H2O

(2.65 Å) e dependendo das condições de processo, H2 (2.95 Å) a partir de uma mistura de

gases ou de líquidos (Breck 1974).

Benharrats et al. (2003) e Kallai & Lapides (2007), ao utilizar como fontes de Si e

Al, caulinita e metacaulinita, constataram que a sodalita é mais facilmente formada através

da caulinita e zeólita A cristaliza-se com mais facilidade a partir de metacaulinita. Como

essas duas zeólitas são fases metaestáveis, partindo-se de metacaulinita, sodalita cristaliza

após a zeólita A.

3.3-SÍNTESE DE ZEÓLITA A PANTINDO-SE DE CAULIM

Pelo fato do caulim ser constituído principalmente por caulinita, o mesmo é um dos

materiais naturais mais utilizados na síntese de zeólitas. A razão disso está na proximidade

das estruturas da caulinita e das zeólitas, após esse argilomineral ser ativado térmica ou

mecanicamente. Na estrutura da caulinita o Al se apresenta em coordenação octaédrica e o

Si em coordenação tetraédrica. Na transformação da caulinita para metacaulinita, após o

aquecimento, o Al passa da coordenação octaédrica para a tetraédrica e o Si permanece

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nela, resultando assim em uma estrutura não cristalina, com tetraedros de Al e Si (Brindley

& Gibbon 1968, Breck 1974, Lambert et al. 1989, Kakali et al. 2002, Maia et al. 2013).

Esses tetraedros, como já foi descrito, também são encontrados na estrutura das zeólitas.

Dessa forma, a seguir serão apresentados alguns trabalhos de pesquisa de síntese de

zeólita A, no qual utilizaram caulim, como fonte de Si e Al.

Zeólita A partindo-se de caulim, constituído por caulinita de alto grau de ordem

estrutural e baixíssimo grau de impureza (3% de mica) e Fe2O3 igual a 0,42% foi

sintetizada por Rocha et al. (1991). Metacaulim foi obtida pela calcinação desse caulim nas

temperaturas 550, 600, 700, 800 e 900 ºC por 1 h. Essas amostras foram reagidas com uma

solução de NaOH (5 mol/L) e aquecidas em autoclave a 90 ºC em vários tempos: 30, 60,

90, 120, 150, 180 e 240 minutos. Verificou-se, através de DRX e RMN, que zeólita A

inicia sua cristalização a partir do tempo de 120 min.

Kim et al. (2000) verificaram o efeito do processo mecânico e químico da caulinita

na formação das zeólitas A e X. O caulim foi levado à moagem nos tempos de 5, 15, 30,60

e 120 minutos para ocorrer a ativação da caulinita. Após as amostras de caulim foram

tratadas com uma solução de NaOH (1,25 mol/L) e submetidas a agitação, a 60 ºC por 24h,

em um banho de água. Através de DRX, observou que a cristalização da zeólita A ocorreu

com amostras de caulinita moída a partir de 15 minutos e as intensidades dos picos dessa

zeólita aumentaram com o progresso do tempo de moagem. Por outro lado, no produto de

amostras moídas por 120 minutos, as intensidades dos picos da zeólita A diminuem

levemente, devido à formação da zeólita X. Isto significa que a formação das zeólitas A e X

é influenciada pelo estado de ativação da caulinita, em que zeólita.

Rigo et al. (2009), investigou a viabilidade de obtenção da zeólita A, empregando

um novo procedimento que, ao invés de usar a fusão alcalina, baseou-se na síntese padrão

da zeólita A, usando um caulim natural como fonte de silício e alumínio.

Maia (2011), Maia et al. (2013) e Silva Filho et al. (2013), observou que as amostras

de caulim calcinadas apresentaram uma diminuição no teor do Al octaédrico (observado

por RMN) conforme a temperatura foi aumentada de 550oC a 800

oC. Isto indica a

necessidade de calcinar as amostras de caulim antes de serem empregadas na síntese de

zeolitas, uma vez que estas são compostas de Al tetraedrico.

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Sabe-se que a relação de sílica/alumina determinará a composição elementar da

estrutura do produto cristalino; mas a quantidade de alumina no gel pode também

determinar qual estrutura cristalizará.

Além da relação sílica/alumina, outros fatores referentes a composição influenciam

a síntese de zeólita. São eles: Concentração de OH-, cátions (orgânicos e inorgânicos),

ânions diferentes de OH-

e concentração de água. Existem ainda fatores relacionados ao

processo de síntese, tais como digestão ou período de envelhecimento, agitação, natureza

(física ou química) da mistura reacional e ordem de mistura; além do tempo e temperatura

de síntese.

Maia et al. (2007, 2011), utilizaram o rejeito proveniente da etapa de centrifugação

na síntese de zeólita A em sistema hidrotermal estático. Esses autores afirmaram que na

temperatura de síntese em torno de 80°C não houve cristalização da fase zeolítica, apesar

de outros autores terem obtido as mesma zeólita em temperaturas mais baixas a partir de

caulim. Eles concluíram que o rejeito usado é constituído por caulinita de alto grau de

ordem estrutural na qual é necessária a temperatura de 110°C para formação da zeólita A.

Saldanha (2007) produziu zeólita analcima utilizando o mesmo rejeito de caulim,

descrito anteriormente, e aplicou na adsorção de cobre, zinco, cádmio e níquel. Ele

concluiu que a estabilidade térmica na analcima se encontra em torno de 200°C e que acima

de 400ºC ocorre a cristalização de outras fases. Nesse trabalho também foi mostrado que a

analcima apresenta seletividade preferencial por cobre, cádmio, níquel e zinco em relação a

analcima sintetizada e utilizada nesse processo.

Moraes (2008),através desse mesmo rejeito, sintetizou zeólitas sódicas. Verificou

que o rejeito de caulim, através da calcinação e de tratamento hidrotermal torna-se um

precursor na síntese de sodalita. Observou também que esta zeólita pode ser utilizada para

obter outras: analcima, cancrinita e hidroxicancrinita.

Paz et al. (2010), que também utilizaram o mesmo rejeito de caulim, termicamente

ativado obtiveram sodalita básica como única fase zeolítica e com alto grau de ordem

estrutural. Observaram que é possível obter esta zeólita utilizando o hidróxido de sódio e o

carbonato de sódio (como reagente alternativo). Concluíram também que estudos futuros de

CTC e aplicações em tratamentos de efluentes ou no melhoramento de solos, poderão

confirmar a importância da sodalita sintetizada.

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CAPITULO 04

ARTIGO: Síntese de zeólita A com elevado grau de ordem estrutural empregando um

rejeito de caulim metacaulim da região do Jari

Severino H. da Silva Filho; Lindiane Bieseki; Ana A. B. Maia; Sibele B. C. Pergher

(A ser enviado para Revista Cerâmica)

Resumo

Uma metacaulinita altamente reativa produzida a partir do rejeito de caulim da região de

Jarí foi empregado na síntese da Zeólita A através de um novo método de síntese

hidrotermal foi obtida. A zeolita A é obtida pura e altamente cristalina empregando esse

rejeito calcinado a 600oC por 2h, condições em que ocorrem a total transformação da

caulinita em metacaulinita a fase zeólita A foi obtida em 4h. O melhor tempo de

cristalização encontrado foi de 24 h que proporcionou um grau de ordem estrutural de 67,9

%.

4.1. Introdução:

A síntese de zeólitas empregando argilominerias como fontes alternativas de Si e Al

é bem conhecida, principalmente a síntese da Zeólita A partindo-se de caulim. Isto se deve

ao fato da zeólita A e o caulim apresentarem uma relação Si/Al estrutural próxima de 1,0;

evitando assim de ter que acertar a composição da síntese com adições extras de Si ou Al.

A vantagem de se obter zeólitas a partir de argilominerais, é a de agregar valor aos

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argilominerais empregados, que muitas vezes podem ser resíduos de algum processo (Silva

Filho et al. 2013).

Embora a síntese de zeólita A partindo-se de caulim seja conhecida, é importante

levar em consideração que as diferentes características dessa argila, oriunda de diversas

regiões podem influenciar diretamente no rendimento do produto final da síntese.(Maia

2011). No Brasil, as reservas de caulim concentram-se em sua quase totalidade (93%) nos

depósitos sedimentares dos três maiores distritos cauliníferos do país: Rio capim (no estado

do Pará), Jari (no estado do Amapá) e um terceiro depósito no estado do Amazonas.

Em alguns processos que são empregados caulins ou metacaulins para a síntese de

zeólita A é utilizado o método de fusão alcalina. Neste método o argilomineral é tratado a

altas temperaturas com uma quantidade excessiva de NaOH para que ocorra a fusão

alcalina e posteriormente através de tratamento hidrotérmico se obtém a estrutura zeolítica.

Entretanto, esta síntese é muito onerosa, pois requer altas temperaturas e grandes

quantidades de NaOH. Além disso, este método é de baixa reprodutibilidade e quase

sempre se obtém diferentes fases zeolíticas tais como A, X, Sodalita, entre outras.

(Petkowicz et al 2005)

O grupo (LABPEMOL) sintetizou a Zeolita A, por um novo método, em condições

mais brandas (Rigo et al 2009), em que se consegue obter a Zeolita A de forma reprodutível

e evitando a fusão alcalina. Este método foi estudado para um caulim fornecido pela

mineração Tabatinga da região do Paraná.

Recentemente, foi utilizado por tal grupo um resíduo de caulim oriundo de uma

empresa de beneficiamento de caulim para cobertura de papel. Este resíduo é o próprio

caulim só que com uma granulometria maior do que a requerida para emprego como

cobertura. Foi possível obter a zeólita A com alto grau de ordem estrutural, entretanto

observou-se a fase sodalita concorrendo (Silva Filho et al 2013). Neste estudo e em estudos

anteriores de Maia (2011) e Maia et al.(2013) foi observado que a temperatura de

calcinação do caulim e consequentemente sua transformação em metacaulim é de suma

importância para a obtenção de fases zeolíticas cristalinas. Através de RMN de Al,

observou-se que dependendo da temperatura de calcinação ocorre a transformação do

alumínio octaédrico em tetraédrico e por isso o metacaulim fica mais reativo e propício

para a síntese de zeólitas.

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Neste sentido, foi verificado em Maia et al.(2013), que a temperatura correta de

calcinação do caulim para a transformação em metacaulim é importante para se obter um

material mais reativo para a síntese de zeólitas. Entretanto, esta temperatura nem sempre

será a mesma, pois a origem do caulim bem como suas propriedades irão influenciar no

processo de transformação em metacaulim.

Buscando otimizar as sínteses de zeólitas a partir de caulim, este trabalho teve como

objetivo empregar uma metacaulinita altamente reativa produzida a partir do rejeito

industrial de caulim da região do Jarí para a síntese de zeólita A para ser estudado o tempo

de cristalização.

4.2. Experimental:

Maia (2011), e Maia et al.(2013) verificaram que a condição ideal para se obter uma

metaulinita altamente reativa na síntese de zeólita A, utilizando o rejeito da região do Jarí

(KJ) é 600oC por 2 h. Como nesse trabalho também utilizou-se esse rejeito, o mesmo foi

tratado termicamente nas condições descritas acima.

4.2.1. Síntese:

A síntese foi realizada da seguinte forma: 6,562 g de NaOH foram adicionadas em

86,58g de água destilada e o sistema foi agitado até completa dissolução. Em seguida

adicionou-se 1,632 g de aluminato de sódio. Novamente o sistema é agitado até completa

dissolução. E finalmente se adiciona 8,478g do KJ calcinado e mantém-se a mistura sob

agitação durante 30min.

Posteriormente o gel formado é acondicionado em autoclaves de aço inox com um

revestimento interno de teflon (60 mL) e as mesmas são levadas a estufa a 100oC por

diferentes tempos de síntese: 4, 6, 12 e 24h.

Após este período as autoclaves são resfriadas e o material é filtrado, lavado com

água destilada até que o pH da água de lavagem seja menor que 9,0. O material sólido

obtido é seco em estufa a 60oC e acondicionado para as análises.

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32

0 10 20 30 40 50 60 70

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

Inte

nsid

ad

e R

ela

tiva

(u

.a.)

2

4.2.2. Caracterização:

Os materiais preparados bem como o metacaulim de partida foram caracterizados

por Difratometria de Raios X em um difratômetro– modelo D5000 (Siemens) utilizando-se

filtro de níquel e radiação Cu-k (λ = 1,54Å). Também foi realizada análises microscópicas

eletrônica de varredura e análise química utilizando-se uma microsonda EPMA, Modelo

1720H, Shimadzu, com voltagem de aceleração de 15KV e BC variando de 50nA a 0,01nA.

Para esta análise as amostras foram dispersas numa fita de carbono e metalizadas com ouro.

4.3. Resultados e Discussão:

O difratograma de raios X do metacaulim apresentado da Figura 4.1(a) mostra que o

material se apresenta como não cristalino o que era de se esperar, uma vez que com o

processo de calcinação ocorre a modificação da estrutura tornando o material mais reativo

para a síntese de zeólitas. Também se observa uma reflexão a 2θ ~ 25,5o

indicando a

presença de quarzto na amostra. Na Figura 4.1(b), também é apresentada uma micrografia

da amostra mostrando que o material é amorfo, confirmando o resultado da Figura 4.1.(a).

A relação molar Si/Al obtida para o metacaulim pela análise de Microscopia

eletrônica de varredura com microsonda foi de ~ 0,94. Observou-se também a presença de

Fe (1,36%) e Ti (0,83%). Esta análise é uma analise semiquantitativa, entretanto se

confirma a presença de Si e Al em relações molares próximas o que é adequado para a

síntese da zeólita A.

A B

Figura 4.1. (A) Difratograma de raios X e (B) Micrografia da amostra de Metacaulim

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O KJ foi empregado como fonte de Si e Al para a síntese dos materiais, e o tempo

de cristalização foi estudado. A Figura 4.2 apresenta os difratogramas das amostras obtidas

em diferentes tempos de cristalização. Observa-se nessa Figura as reflexões características

da zeólita A (estrutura LTA) que foram indexadas conforme o Atlas da “International

Zeolite Association” (Ballmoos e Higgins 1990). Foi verificado que zeólita A foi obtido

com elevado grau de ordem estrutural e como único material zeolítico.

A cristalinidade dos materiais foi calculada pela comparação das áreas das seguintes

reflexões, 2θ = 7,2; 12,5; 16,1; 21,7; 30 e 34,2o; levando em consideração uma zeolita

padrão obtida pela síntese IZA (Silva Filho et al 2013). A Tabela 4.1 apresenta estes

resultados juntamente com as relações molares Si/Al e Na/Al obtidas pela análise

semiquantitativa de microsonda (MEV). Observa-se que o tempo de síntese influi no

aumento da cristalinidade, em 4 h se obtém a zeolita A com 52,7% cristalina ao comparar

com uma zeolita padrão IZA (100%). Com o aumento do tempo, obtém-se materiais mais

cristalinos, chegando em 24 h a 67,9% de cristalinidade. Sabe-se que em tempos longos de

síntese leva a uma transformação de fases ou amorfização da fase sintetizada uma vez que o

meio é altamente básico, entretanto nas condições estudadas não se observou isso. As

relações molares Si/Al se mantém próximas a 1,0 que é a relação típica da zeólita A, a

relação molar Na/Al também fica próxima a 1,0 indicando que o Na presente está

compensando a carga do alumínio na rede tetraédrica. Na amostra de 6h observa-se um

valor um pouco menor, que pode ser devido a outros cátions, estejam compensando a carga

do alumínio já que o material de partida, KJ, possivelmente apresenta Fe na sua estrutura

(Maia 2011), ou há limitações da técnica de análise.

Tabela 4.1. Cristalinidade e relação molar Si/Al das amostras obtidas em diferentes tempos

de cristalização

Tempo de cristalização (h)

Cristalinidade (%)

Relação molar Si/Al

Relação molar Na/Al

4 52,7% 0,94 0,94 6 53,4% 0,95 0,74 12 65,2% 0,94 0,98 24 67,9% 0,95 0,98

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0 10 20 30 40 50 60 70

(840)

(840)

(822)

(644)

(642)

(640)

(622)

(442)

(440)

(420)

(222)

(220)

Inte

nsid

adae u

.a.)

2

4 horas

6 horas

12 horas

24 horas

(200)

Figura 4.2. Difratogramas das amostras obtidas em diferentes tempos de cristalização.

A análise de microscopia eletrônica de varredura mostrou que os materiais obtidos

na síntese apresentam a morfologia típica de zeólita A que são cubos, confirmando assim, a

presença dessa fase zeolítica nos produtos de síntese. Não se observou cristais de outras

fases, como por exemplo sodalita. Foi observado também que esses materiais obtidos na

síntese, provavelmente apresentam alto grau de ordem estrutural, com tamanhos de cristais

uniformes em 5µm. Observa-se em alguns casos cristais sextavados também típicos da

estrutura desta zeólita. Em algumas amostras se observam fases amorfas. (Figura 4.3).

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A B

C D

E

Figura 4.3: Micrografias eletrônica de varredura das amostras obtidas em diferentes tempos

de síntese: (A) 4h, (B) 6h. (C) 12h, (D) 24h, (E) 24h (detalhe dos cristais sextavados)

4.4. Conclusão:

zeolita A é obtida como único material zeolítico e com elevado grau de ordem

estrutural pura e altamente cristalina empregando o rejeito de caulim da região do Jarí.

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Para a síntese da zeolita A é necessário que a caulinita do KJ seja calcinada a 600oC por 2h

para ser transformado em metacaulinita altamente reativa, obtendo-se a fase zeolita A em

4h. O melhor tempo de cristalização encontrado foi de 24 h que proporcionou uma

cristalinidade de 67,9 %.

4.5. Referências Bibliográficas:

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CAPITULO 05

ARTIGO: Utilização de rejeito de Caulins na Síntese de Zeólita A

Severino H. da Silva Filho*, Lindiane Bieseki, Artejose R. da Silva, Ana A. B. Maia, Rosane

A.S. San Gil, Sibele B. C. Pergher

(Trabalho apresentado no 17 Congresso Brasileiro de Catálise, 2013. Artigo a ser submetido a Materials

Research)

RESUMO – A síntese da Zeólita A utilizando-se um rejeito de caulim, gerado a partir do

processo de beneficiamento de caulim para produção de papel, foi estudada. O rejeito de

caulim foi ativado termicamente em um intervalo de temperatura de 550 a 800oC. Para

efeito de comparação foi realizada uma síntese padrão de Zeólita A (procedimento da IZA).

Os materiais preparados foram caracterizados por Ressonância Magnética Nuclear de

Alumínio (RMN-MAS de 27

Al), difratometria de raios X e Microscopia eletrônica de

varredura com microsonda. O pré-tramento do rejeito de caulim mostrou-se necessário e as

temperaturas mais adequadas utilizadas na calcinação dessa amostra foram entre 600 e

700oC. Observou-se a formação da zeólita A em todos os materiais, alcançando-se 52% de

cristalinidade, além da presença da fase sodalita e de material amorfo.

Palavras-chave: Rejeito de Caulim, síntese de zeólitas, Zeólita A.

5.1 Introdução

No Brasil, as reservas de caulim concentram-se em sua quase totalidade (93%) nos

depósitos sedimentares dos três maiores distritos cauliníferos do país: Rio Capim, no estado

do Pará; Jari, no estado do Amapá e um terceiro depósito no estado do Amazonas.

O caulim apresenta uma estrutura lamelar composta de folhas de tetraedros de Si e

octaedros de Al com oxigênios comuns, com formação de uma camada 1:1 (5), (Figura

5.1A). Como os caulins apresentam uma relação Si/Al próxima a 1,0 são materiais de

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Etapa

s

Procedimento

01 40g de H2O destilada + 0,4 g de NaOH 02 Divide-se em duas partes V1 e V2 03 V1 + 4,1g de aluminato de sódio 04 Agita-se até dissolver 05 V2 + 2,2 g de sílica + 2,9g NaOH + 3,3g de H2O 06 Verte-se V1 em V2 agitando-se por 30min 07 Amostras cristalizadas em autoclave por 4h a 100 °C

composição adequada para a síntese da zeólita A (Figura 5.1B), também de relação Si/Al

próxima a 1,0.

A B

Figura 5.1. Estrutura do Caulim (A) e da zeólita A (B). Adaptado fonte

O objetivo deste trabalho é estudar a síntese da zeólita A empregando-se o rejeito de

um caulim gerado no processo de produção de papel na região Amazônica, como fonte de

Si e Al. O rejeito industrial de caulim na verdade é o próprio caulim, mas com

granulometria maior do que a desejada para o objetivo do processo de cobertura de papel

(4). Por esse motivo ele é considerado como rejeito.

A zeólita A é utilizada frequentemente nas indústrias de petróleo e Química como

catalisador, trocadora de íon e peneira molecular, além de ser um eficiente agente de

amolecimento de água na formulação de detergentes e na remoção de água como gás

refrigerante.

5.2. Experimental

5.2.1. Síntese de zeólitas

Para efeito de comparação e cálculo de cristalinidade entre as amostras sintetizadas,

realizou-se uma síntese padrão da zeólita A de acordo com o procedimento da IZA

(International Zeolite Association) (9). As etapas de síntese são descritas na Tabela 5.1

Tabela 5.1. Ordem dos reagentes utilizados na síntese da zeólita A, procedimento padrão

IZA.

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Como fonte alternativa de silício e alumínio para a síntese da zeólita A foram

utilizadas amostras de caulim calcinado em diferentes temperaturas, 550, 600, 700 e 800

°C.

A síntese desses diferentes materiais foi realizada conforme procedimento descrito a

seguir. Na primeira etapa 0,881g de NaOH são dissolvidos em 11,621g de H2O,

posteriormente nesta solução são adicionados 0,037g de aluminato de sódio. Quando o

mesmo se encontra dissolvido foi adicionado 8,478g de metacaulim, obtido através do

rejeito. As amostras foram colocadas em autoclaves e levadas a estufa a 115 °C por 4h.

5.2.2. Caracterização dos materiais de partida e sintetizados.

Foram realizadas analises de RMN-MAS de 27

Al para as amostras de caulim natural

e calcinado em diferentes temperaturas. As análises foram realizadas em equipamento

Bruker Avance III 400 (9,4 T), na frequência de 104,3 MHz (27

Al), com sonda de 3,2mm e

velocidade de rotação de 12 kHz.

Para a determinação das fases zeolíticas formadas, as amostras sintetizadas foram

caracterizadas por Difratometria de raios X em um difratômetro – modelo D5000 (Siemens)

utilizando-se filtro de níquel e radiação Cu-k (λ = 1,54 Å).

Nessas mesmas amostras também foram realizadas análises de microscopias de

varredura e análise química utilizando-se uma microsonda EPMA, Modelo 1720H,

Shimadzu, com voltagem de aceleração de 15 KV e BC variando de 50 nA a 0,01 NA. O

procedimento de preparo das amostras foi dispersão numa fita de carbono e metalização

com ouro.

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40

5.3. Resultados e Discussão

5.3.1. Caracterização das amostras de metacaulim de cobertura:

No espectro de RMN-MAS de 27

Al da amostra de caulim sem tratamento (figura

5.1) observa-se um sinal intenso em aproximadamente 0 ppm devido a presença de Al

octaédrico. Isto é consistente com as amostras de caulim pois o mesmo é constituído por

uma folha octaédrica de alumínio, sem substituição isomórfica na folha tetraédrica.

Na Figura 5.1 são apresentados os espectros de RMN-MAS de 27

Al das amostras de

caulim de cobertura calcinadas em diferentes temperaturas. Observa-se que as amostras

calcinadas apresentaram sinal de Al extremamente alargados, e que ocorreu uma discreta

diminuição no teor do Al octaédrico conforme a temperatura foi aumentada de 550 oC a

800 oC, conforme resultados descritos na literatura. Embora a posição do máximo do sinal

tenha sido observada na região entre os Al octaédricos e tetraédricos, é possível que se trate

de Al tetraédrico com grande assimetria, ou de substituintes ou de ângulos tetraédricos, e

não de sítios pentaédricos. Experimentos bidimensionais (3QMAS) estão sendo realizados

para confirmar a coordenação deste sítio.

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41

Figura 5.2. Espectros de RMN-MAS de 27

Al das amostras de caulim precursor (A) e após

calcinação, nas temperaturas de 550 oC (B), 600

oC (C), 700

oC (D) e 800

oC (E).*bandas

rotacionais.

5.3.2. Síntese de zeólitas

Na Figura 5.3 observa-se o difratograma da amostra sintetizada nas condições

padrão, conforme síntese IZA. As reflexões observadas condizem com a estrutura LTA da

zeólita A, mostrando pelas intensidades um material bem cristalino. No insert da Figura 5.3

está mostrada a micrografia obtida para essa amostra, em que se observa a morfologia

típica da zeólita A, de cubos.

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42

10 20 30 40 50 60

Inte

nsid

ad

e u

.a.

2

Zeólita A padrão

Figura 5.3. Difratograma da zeólita A – síntese padrão IZA

Sínteses com o emprego do rejeito de caulim sem tratamento térmico (calcinação)

não conduziram a nenhuma fase zeolítica; o material obtido foi totalmente amorfo.

Na Figura 5.3 são apresentados os difratogramas das zeólitas sintetizadas utilizando-

se diferentes amostras de rejeito de caulim calcinado a diferentes temperaturas. Essas

amostras apresentaram as reflexões características da zeólita A. Comparando-se estes

difratogramas com o da amostras de zeólita A padrão se observa que na faixa de 2θ de 20 a

35° a elevação do “background” indica a presença de material amorfo.

As amostras apresentaram reflexões menos intensas do que a amostra padrão. A

cristalinidade relativa para as amostras sintetizadas foi calculada utilizando-se a Equação 1

apresentada a seguir. As áreas dos picos 2θ igual a 7,2°; 12,5°; 16,1°; 21,7°;30°; 34,2°

foram utilizadas para o cálculo de cristalinidade.

Eq. 1

As cristalinidades relativas encontradas para os produtos de síntese a partir das amostras,

de rejeito de caulim calcinadas em 550, 600, 700 e 800 °C são: 47, 52, 52 e 45%,

respectivamente.

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43

10 20 30 40 50 60

A

AA

A

A AA

AA

A

A

AA

A

2

ZAMC550

A

S

Inte

nsid

ad

e u

.a.

ZAMC600

S

ZAMC700

ZAMC800

Figura 5.4: Difratogramas das amostras sintetizadas utilizando-se caulim calcinado

em diferentes temperaturas. A – zeólita A e S - sodalita

As micrografias dos materiais zeolíticos obtidos com os caulins calcinados a diferentes

temperaturas (Figura 5.5) foram bastante similares.Na Figura 5.5A é apresentada a

micrografia da amostra obtida com o caulim calcinado a 600oC. Observa-se a morfologia de

cubo típica de estrutura LTA (zeólita A), com o intercrescimento de cristais. Observa-se

também cristais esféricos (aglomerados) característicos de fase sodalita (SOD) que

concorre na síntese da zeólita A, e pode ser identificada pelo aparecimento de uma pequena

reflexão no difratograma a 2θ = 13,84°. Esses resultados também foram encontrados na

literatura.

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44

A Figura 5.5B apresenta outra micrografia desta mesma amostra, em outra região, em que

se observa novamente os cristais em forma de cubos (Zeólita A), os cristais esféricos

(sodalita) e agregados de morfologia não definida, indicando a presença de material

amorfo, o que está de acordo com os resultados de difração de raios X, como também

mostrado em Maia et al. 2007 (16) e 2011 (9).

Em algumas micrografias se observa ainda cristais cúbicos sextavados, outra morfologia

apresentada pela zeólita A.

A B

Figura 5.5. Micrografia da amostra sintetizada empregando o caulim calcinado a 600 oC -

ZAMC600

Uma análise química semiquantitativa foi realizada usando-se microsonda, e os

resultados estão resumidos na Tabela 5.2. Como a análise não é total e sim de certa forma

superficial, observa-se que a relação molar Si/Al é maior que 1,0 o que indica que a maior

parte do Al encontra-se nas cavidades zeolíticas, o que está de acordo com o esperado.

Chama a atenção o aumento do teor de sódio com o aumento da temperatura de

calcinação, coincidindo com materiais menos cristalinos. Uma vez formada a estrutura

zeolítica A, a razão molar de Si/Al deve ser igual a 1,0 e a razão molar Na/Al deve ser

também igual a 1,0 já que cada átomo de Na estaria compensando a carga de cada Al

tetraédrico. O aumento da temperatura de calcinação do caulim de cobertura também

ocasionou a formação da sodalita e de um material não cristalino. E nesse aumento da

temperatura também observou que a razão Na Al também aumentou, já que além de zeólita

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45

A, também foram encontrados nos produtos, sodalita e o material não cristalino, que muitos

pesquisadores acreditam ser o precursor da zeólita A.

Tabela 5.2. Análise química dos materiais, obtida com microsonda.

5.4. Conclusões

Os resultados obtidos indicam que o pré-tratamento do caulim é necessário para a

transformação do metacaulim e consequente síntese de zeólita A. Através da análise por

RMN de sólidos observa-se a transformação do Al octaédrico em tetraédrico assimétrico.

O aumento dessa temperatura conduz a um decréscimo do alumínio octaédrico, e indicou

a necessidade de calcinar o caulim a temperaturas de 600 – 700 oC. As amostras obtidas

formaram a estrutura desejada, zeólita A, porém observou-se também a presença de

material amorfo e da fase sodalita. Isso sugere que ainda se pode otimizar a síntese para

alcançar maior rendimento na zeólita A.

5.5. Referências

ALKAN, M., HOPA, C., YILMZ, Z., GULER, H.; Microporous and Mesoporous

Materials. 86, 176-184, 2005.

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GRIM, R. E., Clay Mineralogy. 384, 1953.

Heller-Kallai, L., LAPIDES, I.; Appl. Clay Sci., 35, 99, 2007.

Amostra %Si

(p/p) %Al (p/p)

%Na

(p/p)

Na/Al

(molar)

Si/Al

(molar)

ZAMC550 24,30 7,60 16,70 2,58 3,07

ZAMC600 24,20 7,70 15,97 2,43 3,02

ZAMC700 16,92 5,39 25,51 5,55 3,01

ZAMC800 18,05 3,60 28,04 9,14 4,81

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46

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MAIA, A.A.B., ANGÉLICA, R.S., NEVES, R.F.; Clay Minerals. 46,127–136, 2011.

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47

CAPITULO 06

ARTIGO: Estudo da razão NaOH / metacaulim e tempo de cristalização para a síntese

de zeólita A partindo-se de um rejeito de caulim utilizando planejamento estatístico.

Severino Higino da Silva Filho; Lindiane Bieseki; Ana Aurea B. Maia; Helen Treichel;

Sibele Berenice Castelã Pergher, Rômulo Angélica Simões.

(Artigo a ser submetido a Applied Clay Science)

RESUMO

A relação de NaOH /metacaulim e tempo de cristalização foram estudadas para a

síntese da zeólita NaA partindo-se de uma amostra de caulim da mina Capim, Brasil. Os

experimentos foram realizados utilizando planejamento estatístico (com pontos axiais) e

tréplica do ponto central. O material de partida, caulim e as amostras obtidas na síntese

foram caracterizadas por difratometria de Raios-X (DRX), microscopia eletrônica de

varredura (MEV) e análise química utilizando-se uma microssonda EPMA. Os resultados

mostraram que existe uma relação entre a quantidade de NaOH adicionado e o tempo de

cristalização. Os experimentos realizados utilizando a mais baixa relação NaOH /

metacaulim (0,5) e menor tempo (4 h) produziu um material não cristalino. Já o aumento da

relação NaOH /Metacaulim e o tempo de síntese proporcionam a formação de uma fase

NaA com elevado grau de ordem estrutural, mas com a presença da fase sodalita como

impureza.

Palavras chave: Zeólita NaA, metacaulim, planejamento estatístico

6.1. Introdução

O Caulim é uma argila com diferentes aplicações tais como cerâmica, adsorvente e

fonte de Si e Al para a síntese de zeólitas. Este material é constituído principalmente pelo

argilomineral caulinita, que apresenta uma relação Si / Al próxima de 1 o que o torna muito

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48

interessante para síntese da zeólita A (COSTA et al., 1988; RIGO et al., 2009; RIOS et al.,

2009).

Os materiais sintetizados a partir de argilas podem ser aplicados em adsorção,

apresentando resultados comparáveis ou até mesmo melhores que alguns materiais

comerciais. Loiola et al. (2012) mostraram que uma zeólita do tipo NaA sintetizada a partir

de metacaulim, (produzido a partir de um caulim brasileiro calcinado a 900° C por 2h) foi

mais eficiente que uma zeólita A comercial, na retirada de Ca2+

da água. Isto quando são

comparados velocidade de remoção e quantidade de adsorvente para quantidade de

adsorbato. Modificações como a magnetização podem ser realizadas nestes materiais sem

grande perda na eficiência da adsorção. Isto foi observado por Liu et al. (2013) em uma

zeólita sintetizada a partir de um metacaulim nas condições: SiO2 / Al2O3 = 2.3, Na2O/SiO2

= 1.4, H2O / Na2O = 50, tempo de cristalização de 8 h a 95 °C, em que mostrou uma

eficiência acima de 95% para remoção de chumbo e cobre, tendo propriedades magnéticas

pela adição de Fe3O4. A troca com Ca2+

em zeólitas NaA produzidas a partir de caulim e

com capacidade de troca catiônica de 183,40 meq /100 g, produziu um adsorvente para

arsênio (MELO et al., 2012).

Não somente na área de adsorção, mas também estes materiais podem ser utilizados

como suporte na área de catálise. Selim e El-Maksoud, (2004) realizaram testes com a

zeólita LTA produzida a partir do tratamento hidrotérmico de um caulim egípcio com Ni,

nos quais observaram que o material estudado apresentou alta atividade catalítica, na

hidrogenação do óleo de girassol.

Em vista do exposto, existem diferentes possibilidades de aplicação para zeólita A e o

estudo da sua síntese é importante, já que esse material microporoso pode apresentar

características diferentes que dependem do caulim de partida (Maia 2011).Isso acontece

devido ao caulim ser proveniente de diversas regiões e por consequência apresentar

diferentes características, como a sua composição química e o grau de ordem estrutural da

caulinita (Maia et al.2013). Por isso, diferentes estudos foram ou são realizados sobre os

procedimentos de síntese da zeólita A, de forma a adequar as metodologias, bem como

aperfeiçoá-las para o uso de matérias primas regionais.

Por exemplo, Alkan et al. (2005) estudaram a influência da concentração de NaOH e

da razão sólido/líquido na síntese da zeólita NaA utilizando metacaulim obtido a 900°C por

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49

2h. O tempo de síntese foi fixado em 2 h, sendo a melhor concentração utilizada de 4 mol/L

de NaOH. Já utilizando uma concentração de 6 mol/L observou que as melhores razões

sólido / líquido utilizadas na síntese foram de 1,25 a 5,0 g para 25 mL com tempo de 2 h e

temperatura de 105ºC.

A ativação do caulim também pode ser feita por ativação mecânica ou calcinação. A

utilização de caulins ativados através dessas duas formas é interessante para produção de

zeólita A. Cristóbal et al. (2010), mostraram que um caulim com composição de 47,76 %

de SiO2 e 39,68 % de Al2O3 e apenas 5% de quartzo, tratado mecanicamente através de

moagem ou calcinação, proporcionou a formação de zeólita A, após ativação com NaOH 5

mol / L a 90 °C por 3 h, sob agitação.

Além dos métodos hidrotérmicos, a síntese de zeólita A pode ser realizada com o uso

de uma pré-etapa de fusão alcalina, como a utilizada por Rios et al. (2009), em que o

caulim é misturado com NaOH na proporção de caulinita /NaOH = 1 / 1,2 em peso. Esse

processo utilizou um caulim não calcinado e produziu uma zeólita A com elevado grau de

ordem estrutural. Também existem estudos utilizando síntese por microondas que

apresentam bons resultados em relação a formação da fase zeólita A pura. Chandrasekha e

Pramada (2008) estudaram a otimização de condições para síntese de zeólitas a partir de

metacaulim utilizando microondas, sendo as melhores condições: 2 minutos de irradiação

por microondas da mistura de reação seguida por um envelhecimento de 20h, a temperatura

ambiente, e por fim aquecimento em microondas a 85°C por 2h.

A metodologia de síntese também vai influenciar o processo de formação da estrutura

desejada. De acordo com a síntese padrão IZA, a relação Na / Al utilizada para a síntese da

zeólita A é de 1,78. No estudo de Maia et al. (2011) foram estudadas as relações Na / Al de

1,26, 1,36 e 1,45 no tempo de síntese de 24 h a 110 °C. Foi observado que a relação de Na /

Al 1,36 proporcionou os melhores resultados em termos de cristalinidade para a zeólita

NaA a partir do rejeito de caulim da Amazônia calcinado, com tempo de cristalização de 24

h. Variando os valores da relação Na / Al se está modificando de forma indireta a relação

NaOH / Caulim na síntese, e vice versa.

Assim, neste trabalho, tem-se como objetivo estudar diferentes razões NaOH /

metacaulim em função do tempo de cristalização, utilizando planejamento estatístico, de

forma a definir um domínio em que estes parâmetros de síntese podem ser otimizados.

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50

6.2. Experimental

6.2.1. Materiais e métodos

O Caulim utilizado neste estudo é proveniente da mina do Capim, localizada no

estado do Pará.Esse caulim é o produto comercial de uma empresa, situada no mesmo

estado, sendo assim o mesmo já passou por tratamentos químicos e físicos e é denominado

como caulim de cobertura. O Caulim utilizado em todos os experimentos foi calcinado a

700 °C em mufla por 2 h, de forma a ser transformado na fase metacaulinita, mais reativa,

conforme descrito por Maia et al., (2013), que utilizaram o rejeito industrial de caulim

oriundo também da mina do capim.

6.2.2. Síntese zeólita NaA

Para estudar a relação entre os parâmetros de tempo de cristalização e razão

NaOH/Metacaulim foi utilizado um planejamento estatístico 22 com 3 pontos centrais. Na

Tabela 6.1 é apresentada a matriz do planejamento, as faixas de tempo de cristalização e

razões NaOH/Metacaulim estudadas. As amostras foram nomeadas como: PxZAyH, em que

P se refere ao experimento, x representa o número dos experimentos, ZA o material

sintetizado, no caso zeólita NaA, y o tempo de cristalização utilizado e H representa que o

tempo esta indicado em horas.

A composição do molar do gel de síntese de todos os procedimentos realizados foi

estipulada para ser: 0,04 SiO2; 0,02 Al2O3; 2,4 H2O; x NaOH. Em que o valor de x igual a:

0,046; 0,055; 0,078; 0,1 e 0,11 para os procedimentos nos quais a razão NaOH/metacaulim

(g/g) variou de 0,42; 0,5; 0,7; 0,9 e 0,99.Os experimentos 6 e 7 são replicatas do

experimento 5. O tempo padrão para síntese da zeólita A é de 4 h. Desta forma, os tempos

mínimos utilizado nestes estudos foram de 0 e 4 h e os valores de ponto central e máximos

foram 16, 28 e 33 h, respectivamente. Na Figura 6.1 é apresentado o esquema de síntese

realizado nesse trabalho baseado na síntese padrão da zeólita NaA.

Page 52: Utilização de rejeitos de Caulins na Síntese de Zeólita ACAPITULO 1 1. INTRODUÇÃO As zeólitas devido à suas propriedades particulares de troca de cátions, adsorção e catálise,

51

Tabela 6.1. Parâmetros dos modelos de Langmuir e Langmuir-Freundlich ajustados aos dados

experimentais.

Experimentos Tempo de Cristalização Razão NaOH/Caulim

P1ZA4H -1 -1

P2ZA28H -1 +1

P3ZA4H +1 -1

P4ZA28H +1 +1

*P5ZA16H 0 0

*P6ZA16H 0 0

*P7ZA16H 0 0

P8ZA16H 0 - 1,41

P9ZA16H 0 +1,41

P10ZA0H - 1,41 0

P11ZA33H +1,41 0

Níveis Tempo Cristalização(h) Razão NaOH/Caulim

-1,41 0 0,42

-1 4 0,5

0 16 0,7

+1 28 0,9

+1,41 33 0,99

*Pontos centrais

Figura 6.1: Esquema de síntese para a zeólita NaA.

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52

Uma adição muito pequena de Aluminato de sódio foi realizada de forma que as

relações Na/Al apresentassem valores de: 1,45; 1,97; 2,75; 3,54 e 3,89 para as amostras

com relação NaOH/metacaulim de 0,42; 0,5; 0,7; 0,9 e 0,99; respectivamente.

6.2.3. Caracterização

A amostra de caulim utilizada neste estudo foi calcinada a 700° C por 2h,

para a produção do metacaulim.O caulim, o metacaulim e as amostras obtidas na síntese

foram caracterizadas por difratometria de raios X em um difratômetro D2-PHASER

(Brucker), com tubo de Cu (Kα1 = 1,5406Å). Os resultados obtidos foram utilizados não só

para a identificação de fases, como para o cálculo da cristalinidade relativa das amostras.

Estes resultados foram analisados estatisticamente por meio do software Statistica 6.0

(Statsoft Inc, Tulsa, EUA). Resultados referentes a composição química e morfologia de

todas as amostras foram obtidos através de microscopia eletrônica de varredura e análise

química utilizando-se uma microssonda EPMA, Modelo 1720H, Shimadzu, com voltagem

de aceleração de 15KV e BC variando de 50 nA a 0,01nA. Para esta análise as amostras

foram dispersas numa fita de carbono e metalizadas com ouro.

6.3. Resultados e discussão

O Caulim Cobertura não calcinado apresentou reflexões características da presença

dominante da caulinita (Figura 6.2a). Após o processo de calcinação do caulim através do

difratograma apresentado na Figura 6.2b é possível observar a total transformação da

caulinita em metacaulinita.

As imagens ao MEV do caulim natural e do metacaulim são apresentadas na Figura

6.2. A imagem do caulim natural (Figura 6.2a) mostra agregados de placas paralelas que

apresentam morfologia pseudo-hexagonal, típica da caulinita. Na imagem do metacaulim

(Figura 6.2b) observa-se que a morfologia pseudo-hexagonal permanece. Esses resultados

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53

também foram encontrados por Maia et al. (2011) que usaram o rejeito do caulim, também

da região do Capim, na síntese da zeólita A.

A calcinação promove a desidroxilação da caulinita o que implica uma mudança no

ambiente dos átomos de alumínio, que passam a ter número de coordenação 4 e 5 (FABBRI

et al., 2013). Desta forma o alumínio octaédrico passa para tetraédrico, tornando o material

amorfo e mais reativo.

(a)

10 20 30 40 50 60

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

Inte

sn

sid

ad

e (

u.a

)

2

Caulim Cobertura Natural

(b)

10 20 30 40 50 60

100

200

300

400

500

Inte

ns

ida

de

(u

.a)

2

Caulim Cobertura Calcinado

Figura 6.2: Difratograma e micrografias das amostras de Caulim Cobertura natural e calcinado a 700 °C por 2

h.

Pelos resultados de análise química, o caulim é constituído de Alumínio (16,27 %),

Silício (15,75%), além de Titânio (0,27 %) e Ferro (0,5 %). A análise com uso de

microssonda é semi-quantitativa, e os resultados obtidos estão de acordo com o esperado

para amostras de Caulim.

Na Figura 6.3 são apresentados os difratogramas das amostras obtidas a partir do

planejamento estatístico. Pode-se observar que os materiais formados caracterizam-se pela

presença da fase zeólita A, sendo os picos identificados a partir de comparação com um

Page 55: Utilização de rejeitos de Caulins na Síntese de Zeólita ACAPITULO 1 1. INTRODUÇÃO As zeólitas devido à suas propriedades particulares de troca de cátions, adsorção e catálise,

54

padrão (8664 para zeólita A) do banco de dados ICSD “Inorganic Crystal Structure

Database”, exceto a amostras P1ZA4H e P10ZA0H. Estas amostras apresentam um

difratograma característico de material amorfo. Em 2 θ entre 20 e 35º observa-se uma

elevação do “background”, principalmente para as amostras P3ZA4H, P2ZA28H e

P8ZA16h, indicando que uma parte do metacaulim não foi convertido totalmente em

zeólita. Nas amostras P4ZA28H, P9ZA16H e P11ZA33H esta elevação é menor, indicando

uma síntese mais eficiente.

10 20 30 40 50 600

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

P1ZA4H

Inte

nsid

ad

e u

.a.

2

10 20 30 40 50 600

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

P2ZA28H

Inte

nsid

ad

e u

.a.

2

A

A

A

A

A

A

A A A

A

AA

10 20 30 40 50 600

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

P3ZA4H

Inte

nsid

ad

e u

.a.

2

A

A

AA

AA A A

AA

10 20 30 40 50 600

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

P4ZA28H

Inte

nsid

ad

e u

.a.

2

A

A

A

A

A

A

A

A

A

S

AAAA

10 20 30 40 50 600

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

P5ZA16H

Inte

nsid

ad

e u

.a.

2

A

A

A

A

A

AA

A

A

AA

S

10 20 30 40 50 600

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

P8ZA16H

Inte

nsid

ad

e u

.a.

2

AA

A AA A A A

A

10 20 30 40 50 600

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

P9ZA16H

Inte

nsid

ad

e u

.a.

2

A

A

A

S

A

A

A

A

A

AA

A A

A

10 20 30 40 50 600

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

P10ZA0H

Inte

nsid

ad

e u

.a.

2

10 20 30 40 50 600

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

A

P11ZA33H

Inte

nsid

ad

e u

.a.

2

A

A

A

A

S

A

A

A

A

A

AA A

Figura 6.3: Difratogramas das amostras obtidas a partir do planejamento estatístico 22 com 3 pontos centrais,

para a zeólita A a partir do caulim de cobertura calcinado (A = zeólita NaA e S = sodalita).

Os valores de cristalinidade relativa foram calculados para todas as amostras

sintetizadas, a partir da soma das áreas dos picos em 2 θ igual a: 7.2°, 12.5°, 16.1°, 21.7°,

30°, 34.2°. Uma amostra de zeólita A sintetizada pelo método IZA foi tomada como

padrão. Abaixo é apresentada a equação utilizada para efetuar este cálculo.

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55

= x 100=Equação (1)

Os valores de cristalinidade relativa de todas as amostras sintetizadas com o uso de

planejamento experimental são apresentados na Tabela 6.2.

As amostras P4ZA28H, P9ZA16H e P11ZA33H são as mais cristalinas quando

comparadas as outras amostras sintetizadas. Na Tabela 6.3 são apresentados as razões

molares de Na/Al e H2O/NaO2 para cada uma das razões NaOH/metacaulim utilizadas.

Tabela 6.2: Percentual de cristalinidade relativa das amostras sintetizadas utilizando planejamento

estatístico 22 com 3 pontos centrais.

.

Amostras Percentual de

Cristalinidade

P1ZA4H 0

P2ZA28H 49,7

P3ZA4H 31,3

P4ZA28H 66,4

P5ZA16H 60,2

P6ZA16H 59,5

P7ZA16H 58,8

P8ZA16H 18,5

P9ZA16H 62,4

P10ZA0H 0

P11ZA33H 65,4

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Tabela 6.3: Razões H2O / Na2O para as sínteses realizadas.

Razão NaOH /

Metacaulim (g/g)

Razão molar

H2O / Na2O

Razão molar

Na / Al

0,42 104 1,65

0,5 96 1,97

0,7 60 2,75

0,9 48 3,54

0,99 44 3,89

É possível observar que para as amostras mais cristalinas (P4ZA28H e P9ZA16H) a

relação NaOH/metacaulim foi a mais alta 0,9 e 0,99 o que levou a uma razão Na/Al de 3,54

e 3,89. Para a síntese P11ZA33H a relação NaOH/Metacaulim foi de 0,7, mas com o maior

tempo de síntese estudado 33h, o que também levou a formação de um material com alto

grau de ordem estrutural. Na síntese de zeólitas, o cátion compensador de carga (neste caso

Na) também pode funcionar como um direcionador estrutura (GIANNETTO PACE et al.,

2000).

Isto pode ser citado como um dos fatores que levou a um material mais cristalino.

Na síntese de zeólitas existem domínios em que a interação entre os parâmetros de síntese

pode definir o tipo de estrutura formada. Neste caso a maior quantidade de NaOH aliada a

um maior tempo de cristalização proporcionou a formação da fase NaA mais cristalina. A

interação destes dois parâmetros no rendimento das sínteses pode ser melhor visualizado

através do gráfico de Pareto apresentado na Figura 6.4.

Observa-se que o tempo e a razão NaOH / metacaulim apresentam alta influencia na

síntese, em relação a obtenção de um produto com elevado grau de ordem estrutural, tanto

linearmente como também de forma quadrática. Mas, se observarmos os difratogramas

apresentados, percebe-se que o aumento da cristalinidade da fase NaA é acompanhado pelo

aumento da presença de sodalita. A amostra P2ZA28H foi a que apresentou melhores

valores de cristalinidade com a fase NaA pura. WANG et al., (2008), utilizando cinzas do

carvão para síntese da zeólita A observaram que o aumento da concentração de NaOH leva

a uma redução no tempo de cristalização.

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Coded model 59.5 + 6.89.N – 4.74.N2 + 11.10. T – 6.69. T

2 – 3.65. N. T

Sum of

Squares

Degress

of

Freedom

Mean of

squares

F calculated

Regression 6688,8 5 1337,7 193,3

Residues 34,6 5 6,9

Total 6723,4 10

Listed F5;5;0.95 = 5,05

Pareto Chart of Standardized Effects

-2,77494

-8,52684

-12,034

14,79198

23,8254

p=,05

Standardized Effect Estimate (Absolute Value)

1Lby2L

NaOH/Metacaulim(Q)

Tempo(Q)

(1)NaOH/Metacaulim(L)

(2)Tempo(L)

Figura 6.4: Gráfico de Pareto para síntese de zeólita A a partir do caulim.

Isto é esperado pois a taxa de dissolução da matéria prima nesse estudo, como no

caso do caulim, aumenta com o aumento da quantidade de NaOH. Em contrapartida a este

efeito observa-se a formação de fases mais estáveis como a sodalita (estrutura mais

condensada). Também se observa que a diminuição da quantidade de NaOH pode levar a

formação de material amorfo.

Na Tabela 6.4 é apresentado o modelo proposto e a análise de variância para o

mesmo. Este modelo não se mostrou robusto o suficiente para estas condições

experimentais mas pode-se avaliar a influencia dos parâmetros de tempo de cristalização e

razão NaOH/Metacaulim.

Tabela 6.4: Modelo empirico predito para a síntese da zeólita NaA como função do tempo

de cristalização e razão NaOH / metacaulim e análise de variância para o modelo

apresentado. (NaOH / Metacaulim = N e tempo de cristalização = T).

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Na Figura 6.5, gráfico de superfície pode-se observar mais claramente que o domínio

em que se obtém os melhores resultados de cristalinidade para a zeólita A fica na região de

mais alta temperatura e maiores tempos de cristalização.

Fitted Surface

> 60 < 60 < 20 < -20 < -60 < -100 -2,00 0,42 0,5 0,7 0,9 0,99 2,00

NaOH/Metacaulim

-2

0

4

16

28

33

2

Tem

po

Figura 6.5: Superfície de resposta para os experimentos realizados.

ALKAN et al., (2005) também observou um aumento na formação da fase sodalita

com aumento da quantidade de NaOH e diminuição da fase líquida. Quando a razão

metacaulim / H2O foi fixada em 0,3, o material produzido foi sodalita, na faixa de 0,05 –

0,2 obteve uma mistura de fases sodalita e zeolita A. No presente estudo a relação

Metacaulim / H2O foi fixada em 0,1 para todos os experimentos, de forma a minimizar esse

efeito no aparecimento da fase sodalita. Modificando-se a razão NaOH/Metacaulim

também indiretamente as razões H2O/Na2O são modificadas nos géis de síntese, e

influencia pois uma diminuição na quantidade de H2O leva a um aumento na concentração

de NaOH. Na Tabela 6.3. também são apresentadas as razões H2O/Na2O para cada síntese

realizada.

Liu, X. et al., (2013) usando cloreto de alumínio como fonte de alumínio e

ortosilicato de tetraetila observou que uma diminuição na relação H2O/Na2O levou a

formação de uma mistura zeólita NaX e NaA quando esta relação foi aumentada de 20 para

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30 e 40 obteve-se somente a fase NaA pura. No presente estudo a fase zeólita A pura foi

sintetizada utilizando-se uma relação NaOH/Metacaulim = 0,5 e uma razão H2O/Na2O de

96. Mas a maior cristalinidade foi obtida com uma diminuição dessa relação para 48, na

síntese P4ZA28H. Isto indica que nesta faixa de 96 a 48 pode-se obter a zeólita NaA

utilizando metacaulim, como único material zeolítico.Desta forma o uso de diferentes

fontes de Si e Al deve ser estudado de forma a se conhecer as melhores condições de

síntese destes materiais.

Na Figura 6.6 são apresentas as micrografias das amostras P2ZA28H, P3ZA4H, P4ZA28H

e P6ZA16H. A amostra P1ZA4H não foi apresentada pois trata-se de um material amorfo.

P2ZA28H P3ZA4H

P4ZA28H P6ZA16H

Figura 6.6: Micrografias das amostras sintetizadas a partir do planejamento estatístico.

Todas as amostras sintetizadas apresentam cristais com morfologia característica para

zeólita NaA (cristais cúbicos). Pode-se observar pelas amostras P3ZA4H e P6ZA16H que

o crescimento dos cristais ocorre sobre aglomerados de caulim calcinado. Assim como em

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todas as amostras observa-se um crescimento intracristalino da a fase zeólita A. A fase

sodalita identificada pelo DRX aparece com morfologia semelhante a “novelos” sob os

cristais de zeólita NaA. Entre a amostra P2ZA4H e P4ZA28H pode-se observar que ocorre

um amento do tamanho destes aglomerados de sodalita.

6.4. Conclusões

O aumento da relação NaOH / Metacaulim leva a formação da fase zeólita NaA

mais cristalina, mas em contrapartida uma maior presença da fase sodalita é observada. O

tempo de cristalização também tem influencia positiva no aumento da cristalinidade. Mas

trabalhando-se a baixa relação NaOH / Metacaulim o aumento do tempo é favorável para

formação da zeólita A sem a presença da fase sodalita, com valor de cristalinidade relativa

de 49,7 %. O uso de planejamento estatístico mostrou-se uma boa ferramenta para avaliar

diferentes condições de síntese, determinando domínios em que os parâmetros de tempo e

razão NaOH / Metacaulim podem ser estimados para obtenção de uma fase NaA pura.

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61

6.5. Referências Bibliográficas

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CAPITULO 07

CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tanto o rejeito industrial de caulim oriundo da região do Jari (KJ) como o caulim de

cobertura, proveniente da região do capim, ambos de empresa localizada no estado do Pará,

se mostraram como excelente material de partida para produção de zeólita A de sódio.

A ativação térmica para os dois rejeitos ocorreram em condições diferentes: KJ-

600°C/2h e caulim de cobertura- 700°C/2h. Isso ocorreu devido a diferença do grau de

ordem estrutural da caulinita entre as duas amostras, que no caso do KJ é menor. Isso

mostra a importância do estudo da síntese da zeólita A com diferentes amostras de caulins

oriundas de diferentes localidades.

As condições de síntese utilizadas no trabalho foram adequadas para produção de

zeólita A com elevado grau de ordem estrutural e como único material zeolítico.