V COLÓQUIO INTERNACIONAL “A EDUCAÇÃO PELAS … · manhã, tinha o aspecto de um homem que...

116
1

Transcript of V COLÓQUIO INTERNACIONAL “A EDUCAÇÃO PELAS … · manhã, tinha o aspecto de um homem que...

  • 1

  • 2

    V COLQUIO INTERNACIONAL A EDUCAO PELAS IMAGENS E SUAS

    GEOGRAFIAS E XVII SIMPSIO DE GEOGRFIA DA UDESC

    COMISSO ORGANIZADORA

    Coordenao:

    Profa. Ana Maria Hoepers Preve - UDESC

    Profa. Ana Paula Nunes Chaves - UDESC

    Profa. Karen Rechia CA/UFSC

    Profa. Karina Rousseng Dal Pont USJ e Coletivo Tecendo/ UFSC

    Profa. Raphaela Desiderio CA/UFSC

    Profa. Rosa Elisabete Militz Wypyczynski Martins - UDESC

    Brbara Feij

    Camila Barbosa

    Danilo Stank Ribeiro

    Kathy Scharf

    Larissa Marchesan

    Larissa Anjos

    Lvia Carvalho

    Natlia Benatti

    Willian Preve

    Colaboradores:

    CA Colgio de Aplicao - UFSC

    CALGE Centro Acadmico Livre da Geografia - FAED/UDESC

    LEPEGEO Laboratrio de Estudos e Pesquisas de Educao em Geografia UDESC

    NEA Ncleo de Estudos Ambientais FAED/UDESC

    PET Programa de Educao Tutorial FAED/UDESC

  • 3

    COMIT CIENTFICO

    O Comit Cientfico do V Colquio Internacional A Educao pelas Imagens e suas

    Geografias composto por pesquisadores de reconhecida qualificao, sendo grande parte

    deles membros da Rede Internacional de Pesquisa Imagens, Geografias, Educao:

    Ana Maria Hoepers Preve UDESC

    Ana Paula Nunes Chaves UDESC

    Claudio Benito Oliveira Ferraz UNESP/ Presidente Prudente

    Flaviana Gasparotti Nunes UFGD

    Gisele Girardi UFES

    nia Franco de Novaes UFU

    Jairo Valdati UDESC

    Karen Rechia Colgio de Aplicao UFSC

    Karina Rousseng Dal Pont USJ

    Larissa Corra Firmino UDESC

    Marcio Marchi Colgio de Aplicao UFSC

    Raphaela Desiderio Colgio de Aplicao UFSC

    Rosa Elisabete Militiz Martins UDESC

    Sandra Mendona Colgio de Aplicao UFSC

    Toms Figueiredo Fontan Colgio de Aplicao UFSC

    Valria Cazetta USP

    Vernica Carolina Hollman Universidad de Buenos Aires

    Wenceslao Machado de Oliveira Junior UNICAMP

  • 4

    APRESENTAO .............................................................................................................................................................. 7

    THE ILLUSTRATED MAN E BLIND SPOT: NOTAS SOBRE UM DILOGO EM DELAY ................................... 8

    ADOTE UM CRREGO: A IMAGEM, O VDEO E O DESENHO COMO FERRAMENTAS PEDAGGICAS

    PARA O ESTUDO DA GUA .......................................................................................................................................... 9

    A OBSERVAO E O USO DA CADERNETA NOS TRABALHOS DE CAMPO: DAS ORIGENS DA

    GEOGRAFIA PRODUO DO CONHECIMENTO GEOGRFICO ..................................................................... 12

    DO VIRTUAL AO REAL: UMA PROPOSTA AO ENSINO DE GEOGRAFIA ......................................................... 13

    O ESPAO ESCOLAR E SEUS SIGNIFICADOS: MAPEAMENTO COLETIVO COMO PRODUTO DE AULA

    DE CAMPO NO ENTORNO DA ESCOLA.................................................................................................................... 17

    O BANHEIRO DO PAPA E AS GEOGRAFIAS POSSVEIS ................................................................................... 19

    EXPERIMENTAES COMO COMBATES DA DICOTOMIA GEOGRFICA ESCOLAR.................................. 20

    AS IMAGENS NO PERCURSO DE ESCOLARIZAO: OLHARES A PARTIR DO LIVRO DIDTICO DE

    GEOGRAFIA .................................................................................................................................................................... 21

    MULTIMODALIDADE NO ENSINO DE GEOGRAFIA ............................................................................................. 23

    O PERIGO DA UTILIZAO DE IMAGENS EMBLEMTICAS NO PLANEJAMENTO URBANO: O CASO DE

    BLUMENAU/SC............................................................................................................................................................... 25

    POR UM OUTRO ENSINO DE GEOGRAFIA: DA CONFECO DE FANZINES AT UMA "OUTRA

    GLOBALIZAO .......................................................................................................................................................... 26

    DAS IMAGENS COMPREENSO DOS LUGARES: POSSIBILIDADES METODOLGICAS PARA A

    LEITURA DE IMAGENS NAS AULAS DE GEOGRAFIA ......................................................................................... 28

    DE QUEM O MEU ESPAO? ..................................................................................................................................... 29

    POTICAS DO CORPO E DRAMATURGIAS DA DANA NO CENTRO DE SO PAULO ................................ 29

    CINEMA NACIONAL E YOUTUBERS: LINHAS QUE ATRAVESSAM O ENSINO DE GEOGRAFIA .............. 31

    VER-VIVER COM GODARD: EXPERIMENTAES GEOGRFICAS .................................................................. 32

    EXPLORANDO A EDUCAO EM MUNDOS VIRTUAIS NOS VIDEOGAMES: UM ESTUDO DE CASO DO

    NVEL 1-1 DO JOGO SUPER MARIO BROS ............................................................................................................... 33

    MAPAS MENTAIS E SOCIOPOTICA COMO APORTES METODOLGICOS NA INVESTIGAO DE

    ESPAOS ESCOLARES.................................................................................................................................................. 36

    GEOCULT: RELATO DE EXPERINCIA DA GINCANA CULTURAL DE GEOGRAFIA DO COLGIO

    ESTADUAL HASDRUBAL BELLEGARD EM CURITIBA - PR ............................................................................... 37

    AS POLTICAS PBLICAS APLICADAS NO NORTE DA ILHA DE SANTA CATARINA: DO PEQUENO

    PRODUTOR A VALORIZAO DA TERRA .............................................................................................................. 39

    LENGUAJE VISUAL Y EXPERIENCIA ESCOLAR: MIRAR LO AMBIENTAL .................................................... 40

    IMAGENS QUE FALAM POR SI NA GEOGRAFIA DE DONA BENTA (1935) E NO LE TOUR DE LA

    FRANCE PAR DEUX ENFANTS (1877) ....................................................................................................................... 42

    IMAGENS DA CIDADE: UM ESTUDO DAS ESPACIALIDADES DE REFUGIADOS EM FLORIANPOLIS.. 44

    DISCUTINDO FRONTEIRAS ATRAVS DE IMAGENS: RELATO DE UMA PRTICA ..................................... 45

    TECENDO ARTICULAES ENTRE MICHEL FOUCAULT E A GEOGRAFIA: ELABORAO E

    DESENVOLVIMENTO DE CURSO ONLINE .............................................................................................................. 47

    MAPAS (DE) MENORES: OUTRAS CARTOGRAFIAS DE DOURADOS (MS) ..................................................... 49

    LAS EXPRESIONES VISUALES DE LA GEOGRAFA PRESENTES EN EL CUADERNO ESCOLAR: EL

    DIBUJO COMO REPRESENTACIN DEL TERRITORIO ......................................................................................... 51

    ESPAO E CORPO: PROCESSOS EDUCATIVOS A PARTIR DE ESTUDOS DA PAISAGEM EM UMA

    ABORDAGEM HUMANISTA ........................................................................................................................................ 51

  • 5

    ENSINO DE GEOGRAFIA E CINEMA: UMA ANLISE A PARTIR DAS CONCEPES E PRTICAS DOS

    PROFESSORES DE GEOGRAFIA DA REDE ESTADUAL DE DOURADOS (MS) ................................................ 53

    NS, OS CLICHS, OS POTES CARTOGRAFIAS DE UMA PESQUISA ............................................................ 55

    O ESTERETIPO DA FOTOGRAFIA RESTRITA E RESTRITIVA NA GEOGRAFIA ESCOLAR ................... 56

    O ESPAO UTPICO AO LUGAR COMO CORPO HETEROTPICO: ALGUNS APONTAMENTOS A PARTIR

    DE K-PAX ......................................................................................................................................................................... 58

    PARA ALM DA SALA ESCURA: ENCONTROS ENTRE CINEMA E ESCOLA A PARTIR DA CRIAO DE

    IMAGENS ......................................................................................................................................................................... 59

    PAISAGENS POR SEGUNDO: O CINEMA NO ENSINO DE GEOGRAFIA EM FAVOR DE OUTRAS

    PERSPECTIVAS E ESCALAS ........................................................................................................................................ 61

    ENSINO E IMAGINRIO GEOGRFICO: UMA PROPOSIO METODOLGICA A PARTIR DA

    PERCEPO DA PAISAGEM URBANA ..................................................................................................................... 63

    POR UMA EXPERINCIA DE CINEMA NA ESCOLA .............................................................................................. 64

    PLANETA TERRA, MUNDO SE PARTINDO, TEIA DE ARANHA E UMA REDE JOGADA NO MAR ............. 66

    IMAGENS, DEFICINCIA VISUAL E ENSINO DE GEOGRAFIA ........................................................................... 67

    CIRCUITO ESCOLAR DE CINEMA BRASILEIRO: ................................................................................................... 69

    OS (DES)CAMINHOS DO FILME AT A ESCOLA ................................................................................................... 69

    DAR ZOOM ENTRE AS LINHAS PARA CONSTRUIR OUTRAS CARTOGRAFIAS DE FLUXOS

    MIGRATRIOS ............................................................................................................................................................... 71

    EXPERIMENTAES COM FOTOFRICAS ENTRE GEOGRAFIAS E ENCONTROS .................................... 73

    EDUARDO COUTINHO E DOREEN MASSEY: INTERCESSORES PARA UMA PESQUISA COM CINEMA E

    ESCOLA ............................................................................................................................................................................ 75

    REPRESENTAES E O ENSINO DA GEOGRAFIA: A CONSTRUO DE UM PAS EM SALA DE AULA . 76

    ATITUDES SIMPLES QUE AUXILIAM NA REDUO DO DESPERDCIO DE ENERGIA ELTRICA E

    GUA NA ESCOLA DE EDUCAO BSICA DE ARARANGU ........................................................................ 77

    EMBARALHAR IMAGENS. A COLAGEM COMO EXERCCIO NA EDUCAO GEOGRFICA ................... 79

    DO NORTE AO LESTE DA ILHA, MESMO PERFIL TURSTICO? UMA ANLISE GEOCULTURAL DAS

    IMAGENS REPRODUZIDAS E COMERCIALIZADAS NA CIDADE DE FLORIANPOLIS, SC ....................... 81

    A GEOGRAFIA EM IMAGENS: UM OLHAR PARA O EXAME NACIONAL DO ENSINO MDIO - ENEM

    (2014) ................................................................................................................................................................................. 82

    EXISTNCIA E RESISTNCIA DO CINEMA BRASILEIRO NA EDUCAO BSICA ..................................... 84

    O VDEO-MAPA COMO LINGUAGEM CARTOGRFICA PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA ....................... 85

    DES(A)FIANDO NS: EXPERINCIAS COM MURALISMO EM UM HOSPITAL DE CUSTDIA .................. 86

    EDUCAO COMO INVENO: O LAMBE-LAMBE E SUAS POTENCIALIDADES........................................ 87

    O CAMINHAR COMO PROCESSO ESTTICO: POSSIBILIDADES DE DESENVOLVIMENTO E

    UTILIZAO DE MAPAS MENTAIS NA ESCOLA .................................................................................................. 88

    AS MIGRAES CONTEMPORNEAS E O ENSINO DE GEOGRAFIA: UMA ANLISE DOS LIVROS

    DIDTICOS DO ENSINO MDIO ................................................................................................................................ 90

    O MAPEAMENTO COLABORATIVO NO ENSINO: GEOTECNOLOGIAS NA REPRESENTAO DO

    TERRITRIO E LUGAR ................................................................................................................................................. 92

    GEOGRAFIAS EM DERIVA .......................................................................................................................................... 94

    ENCONTRO PARA PENSAR GESTOS E RESTOS: .................................................................................................... 95

    ONDE ESTO AS IMAGENS DO IMPROVVEL? .................................................................................................... 95

    CONSUMIR ESPAOS: A CONSTRUO IMAGTICA DA CIDADE DE SO PAULO COMO

    MERCADORIA ................................................................................................................................................................ 97

  • 6

    CONHECENDO OS DIFERENTES FENMENOS GEOLGICOS RODAS DE CONVERSA SOBRE A

    GEOLOGIA DE SANTA CATARINA ........................................................................................................................... 98

    BRINCANDO COM A PAISAGEM: UMA EXPERINCIA EM CARTOGRAFIA NAS AULAS DE GEOGRAFIA

    .......................................................................................................................................................................................... 100

    VIVNCIA DA CARTOGRAFIA AFETIVA NUMA AULA DE GEOGRAFIA DO ENSINO FUNDAMENTAL II

    .......................................................................................................................................................................................... 102

    PENSANDO TERRENO EM ANIMAES 3D ESCOLARES FEITAS COM SOFTWARE LIVRE E

    LICENCIADAS EM CREATIVE COMMONS .............................................................................................................. 103

    PERFIL DE VEGETAO UMA FERRAMENTA PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA .................................. 105

    IMAGENS DA FORMAO DO UNIVERSO E DA TERRA NO LIVRO DIDTICO: UMA MINI-OFICINA

    NEBULOSA ................................................................................................................................................................ 107

    CO SEM PLUMAS: POESIA DE CORPOS E PAISAGENS ................................................................................... 108

    EXPERINCIAS GRFICAS COM ZINES NO ENSINO DE GEOGRAFIA........................................................... 110

    O MANGUE QUE NO CENRIO: LIMITES E POSSIBILIDADES DE UMA EDUCAO AMBIENTAL NO

    ENSINO FUNDAMENTAL ........................................................................................................................................... 111

    IMAGENS DA ESCOLA: O QUE PODE UMA HORTA............................................................................................ 113

  • 7

    V COLQUIO INTERNACIONAL A EDUCAO PELAS IMAGENS E SUAS

    GEOGRAFIAS E XVII SIMPSIO DE GEOGRFIA DA UDESC

    APRESENTAO

    REDE INTERNACIONAL DE PESQUISA

    Acesse o site da Rede Internacional de Pesquisa Imagens, Geografias e Educao:

    http://www.geoimagens.net/

    ***

    Este ano o XVII Simpsio de Geografia acontece junto ao evento da Rede de Pesquisa. Em

    muitos simpsios e congressos na rea de Educao, Geografia e Ensino de Geografia vm

    acontecendo discusses que colocam a cultura na centralidade de suas anlises. Pesquisadores,

    que de longa data vinham se encontrando e trocando experincias e referenciais, passaram a

    cogitar a pertinncia de se criar um espao especfico em que essas pesquisas, ideias e intenes

    fossem apresentadas e melhor analisadas. Paralelo a isto, percebeu-se a necessidade de estreitar

    laos com pesquisadores estrangeiros que pudessem contribuir para esse coletivo, assim como

    propiciar novas e ricas trocas com outros centros de estudos sobre a Imagem em suas interfaces

    com a Geografia. Um conjunto de pesquisas, pesquisadores e instituies aglutina-se, hoje, na

    Rede de Pesquisas Imagens, Geografias, Educao. As buscas de todos os participantes da

    rede visam rasurar o entendimento j dado para a imagem, almejando outras possibilidades para

    a mesma. Contudo, por estarmos inseridos no contexto de uma prtica cultural de pensamento

    que tende a majoritariamente colocar a imagem como elemento informativo e de reproduo da

    realidade j dada, essa busca por novas possibilidades caminha na tenso e na deriva com essa

    concepo maior. Nesse contexto, a abordagem da imagem no interior da Rede possui trilhas

    diferenciadas que mutuamente se enriquecem a partir da crtica e da resistncia ao usual:

    a) inovar a metodologia de abordagem da imagem, ou seja, fazer uso de novas ferramentas

    tcnicas e metodolgicas para interpretar o que a imagem quer dizer enquanto informao e

    representao do real;

    b) buscar pensar a imagem atravs da prpria imagem, portanto, instaurar novos sentidos

    espaciais com a potencialidade das imagens em nos afetar e tensionar o pensamento para outras

    possibilidades.

    Desejamos aos participantes um bom encontro, que desses encontros possam surgir

    outras imagens e Geografias na educao!

    Comisso Organizadora

    http://www.geoimagens.net/

  • 8

    RESUMOS

    THE ILLUSTRATED MAN E BLIND SPOT: NOTAS SOBRE UM DILOGO EM

    DELAY1

    Valria Cazetta (EACH-USP)

    [email protected]

    Em 1951, ano da publicao do livro de contos The illustrated man2, o romancista norte-

    americano Ray Douglas Bradbury anunciara, por meio do gnero da literatura de fico

    cientfica, seu encontro com um certo homem ilustrado, com o qual conversou por alguns

    instantes, seguidos da interpelao do autor-narrador: Importa-se que lhe faa companhia?

    Tenho ainda alguma comida que gostaria de repartir consigo []. Sofregamente, responde o

    homem ilustrado:

    Vai arrepender-se de me pedir para ficar. Toda a gente se arrepende. por causa disso que no paro. Estamos em princpios de Setembro, a melhor poca para divertimentos. Ganharia montes de ouro

    numa feira de qualquer pequena cidade. Mas estou aqui, sem qualquer contrato []. (p.3).

    Geralmente, agento-me num emprego dez dias. Depois, acontece sempre a mesma coisa e despedem-me. Nesta altura, em nenhuma feira da Amrica me quereriam tocar, nem sequer com a ponta de uma vara. (p.4).

    Intrigado com a soturnidade daquele homem, Bradbury questiona-o: Desde quando

    est ilustrado?

    Em 1900, tinha eu vinte anos, trabalhava numa feira e parti uma perna. O acidente imobilizou-me. Tinha de arranjar trabalho para me manter. Ento decidi fazer-me tatuar. (p.5).

    Bradbury, cada vez mais curioso e inquieto, segue interpelando o homem ilustrado:

    Mas quem o tatuou? O que aconteceu ao artista?

    Ela voltou para o futuro exatamente isso que quero dizer. Uma velha mulher, numa casinha algures no Wisconsin, em algum stio no longe daqui. Uma velha e pequena feiticeira que tinha o ar

    de ter mil anos em certos momentos e vinte no instante imediato. Mas afirmou-me que podia

    deslocar no tempo. Ri-me. Mas j no o fao agora! []. (p.5).

    O homem ilustrado tambm contou a ele como encontrou a tatuadora: Tinha visto na

    berna de uma estrada uma tabuleta pintada: Ilustraes sobre a pele! Ilustraes e no

    tatuagens!. E segue Bradbury: Foi no decorrer de uma noite que as agulhas mgicas da mulher

    o morderam como vespas, o picaram como abelhas, o sugaram como sanguessugas. Chegada a

    manh, tinha o aspecto de um homem que tivesse passado sob uma prensa polcroma, muito

    liso, multicolor, cintilante. Na srie televisiva Blindspot, roteirizada pelo suo-canadense

    Martin Gero e lanada em 2015, a tatuagem aglutina o enredo. No episdio inaugural da

    1 Em aluso ao texto Dilogos em delay: especulaes em torno de uma temporalidade outra do encontro

    pedaggico (AQUINO, 2016). Convm destacar que esse resumo refere-se a desdobramentos da investigao

    vinculada temtica da tatuagem, sob superviso do professor Jlio Groppa Aquino (FE-USP). 2 Traduzido em Portugal sob o ttulo O homem ilustrado (1955), e no Brasil Uma sombra passou por aqui (1969),

    mesmo ano em que foi lanado nos EUA o filme homnimo ao livro. The illustrated man, tambm pode se

    encontrado sob o ttulo The exiles, publicado em 15 de agosto de 1949 e intitulado The mad wizards of Mars, em

    Macleans Magazine. Posteriormente, em 1950, Bradbury o reescreve e o publica em The Magazine of fantasy and science fiction. Em seguida, lana-o, no livro de contos The Illustrated Man, em 1951, com o ttulo de The exiles.

    (AZEVEDO, 2016, p. 95).

    mailto:[email protected]

  • 9

    primeira temporada, a protagonista e personagem amnsica Jane Doe abandonada dentro de

    uma mala de viagem (identificada como Call the FBI), em uma das avenidas da Times Square,

    em Manhattan, com seu corpo inteiramente tatuado. Os signos, distribudos em

    aproximadamente 200 desenhos, remetero a cenas de crimes e ao nome Kurt Weller - agente do

    Federal Bureau of Investigation (FBI) -, tatuado no centro do dorso de Jane, que desconhece como aquelas tatuagens foram inscritas em seu corpo. Ao final da primeira temporada o

    espectador descobre a pessoa responsvel pela realizao das tatuagens de Jane Doe. Como

    poderamos pensar em pontos de imbricao desses dois documentos e linguagens - um livro de

    fico cientfica e uma srie televisiva -, tendo a temtica da tatuagem como liame de um

    dilogo em delay de mais de seis dcadas entre a publicao da primeira edio do livro de

    Bradbury em ingls e o episdio inaugural da primeira temporada de Blind Spot? Os arquivos...

    Os arquivos a embaralhar, literalmente, os bolses de tempo3 (presente, passado e futuro) -

    tripartidos como numa vareta de estilingue cujos dois elsticos, presos forquilha, lanam via

    nossas prprias mos, projteis nos tempos-espaos de nossas vidas (arquivadas ou no).

    Aquelas que no o so, vagueiam por entre os projteis disparados como partculas slidas em

    suspenso. A sobrevivncia dos arquivos mortos, ou seja, dos arquivos que vivem em ns,

    ganhando uma vida outra, depender de como nos portaremos diante de seus gritos incessantes

    no silncio do presente de nosso tempo. Esse dilogo em delay entre livro e srie televisiva

    enunciaria, seja a sobrevivncia das tatuagens enquanto enunciados textuais e visuais do arquivo

    do mundo, seja seu espraiamento pelos corpos na contemporaneidade no mais como uma

    prtica relegada, mas desejada e governada a movimentar a spera mquina epidrmica

    (AQUINO, 2016, p. 324).

    Referncias

    AQUINO, Jlio Groppa. Dilogos em delay: especulaes em torno de uma temporalidade

    outra do encontro pedaggico. Educao e Pesquisa, So Paulo, v.43, n.2, p.311-326, Abr.

    2017. Acesso em: 23/03/2017.

    AZEVEDO, Cludia Chalita de. Um estudo sobre a obra The Fireman, de Ray Bradbury. 2016.

    283 f. Tese (Doutorado em Literatura) - Universidade Federal de Santa Catarina.

    BRADBURY, Ray. The illustrated man. New York: Simon & Schuster Paperbacks, 2012.

    ______. O homem ilustrado. Traduo de Eurico da Costa. Lisboa: Edio Livros do Brasil,

    1955. (Coleo Argonauta nmero 18).

    BLIND Spot, Piloto. Criao Martin Gero. Srie original National Broadcasting Company

    (NBC). S.l.: Media Rights Capital; Panic Pictures, 2015. 42-43 min, son., col. Srie exibida pela

    Netflix. Acesso em: 24 mai. 2017.

    ADOTE UM CRREGO: A IMAGEM, O VDEO E O DESENHO COMO

    FERRAMENTAS PEDAGGICAS PARA O ESTUDO DA GUA

    Natlia Lampert Batista, UFSM, [email protected]

    Elsbeth Lia Spode Becker, UNIFRA, elsbeth.geo@unifra

    Tascieli Feltrin, UFSM, [email protected]

    Leandro da Silva Roubuste, SOBRESP, [email protected]

    3Noo oriunda das anotaes da palestra Defender a escola das pedagogias contemporneas, ministrada pelo

    professor Jlio Groppa Aquino, no dia 29 de agosto de 2017, referente mesa-redonda intitulada As pedagogias

    contemporneas em xeque: de qual liberdade se fala?, ocorrida em So Paulo (SP), como parte da programao do

    evento cientfico "Jornadas de Histria e Filosofia da Educao: democracia, escola e infncia", realizado na

    Faculdade de Educao da Universidade de So Paulo (FE-USP), no perodo de 28/08 a 01/09/2017

    (http://www3.fe.usp.br/secoes/inst/novo/eventos/detalhado.asp?num=3066&cond=4a).

    https://www.google.com.br/search?q=NBC&stick=H4sIAAAAAAAAAOPgE-LWz9U3MDQ2iU9Ly1LiAHFM0_PStCSzk630S8qAKL6gKD-9KDHXKi-1pDy_KBsAeM1CCTQAAAA&sa=X&ved=0ahUKEwiErs7J2YHWAhVK8mMKHatEC14QmxMIqAEoATAQhttp://www3.fe.usp.br/secoes/inst/novo/eventos/detalhado.asp?num=3066&cond=4a

  • 10

    As imagens, nas suas mltiplas interfaces (fotografias, esquemas, simuladores, vdeos,

    desenhos, entre outras), podem contribuir significativamente para debates terico-prticos

    acerca dos mais variados temas da Educao Bsica. A exemplo disso permitem ilustrar,

    discutir e aprofundar questes de ordem ambiental que, naturalmente, fazem parte do contedo

    da disciplina de Geografia como a temtica da gua. O estudo da gua integra o contedo

    programtico do currculo de Geografia do 6 ano do Ensino Fundamental. Alm disso, um

    relevante assunto a ser discutido em sala de aula, pois a gua a principal fonte de vida e

    necessita ser cuidada e conservada para as geraes futuras. Assim, para contemplar essa

    temtica, pensou-se uma sequncia didtica, que foi desenvolvida com os alunos do 6 ano, do

    Ensino Fundamental, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Junto ao CAIC Luizinho de

    Grandi, Santa Maria/RS, em junho de 2017. O objetivo da atividade proposta foi sensibilizar os

    alunos para os cuidados com a gua e mostrar que os crregos so essenciais para a manuteno

    da gua na bacia hidrogrfica. Para o desenvolvimento da atividade, primeiramente, abordou-se

    teoricamente os conceitos vinculados temtica gua: rio principal, afluentes e subafluentes,

    lenol fretico, bacia hidrogrfica, ciclo hidrogrfico, qualidade e cuidados com a gua. Nesta

    etapa, utilizaram-se fotografias, esquemas e um Simulador de Bacia Hidrogrfica para discutir

    cada conceito. As imagens auxiliaram o entendimento os estudantes, pois elucidaram conceitos

    muitas vezes abstratos e de complexo entendimento. Aps, utilizou-se o vdeo Adote um

    crrego para diversificar as linguagens visuais empregadas e fomentar a discusso sobre a

    temtica. O recurso ensina como identificar as caractersticas de um crrego que necessita de

    ajuda e, portanto, precisa ser adotado. O emprego do vdeo como linguagem visual motivou os

    estudantes e fomentou a discusso mais aprofundada sobre um crrego existente no bairro da

    escola, logo eles associaram as imagens nos recursos didticos com a do Arroio Cadena. Depois

    de debater o tema, os alunos construram cartazes ilustrando como se apresenta um crrego bem

    cuidado e outro que necessita ser adotado. O desenho enquanto fonte de reflexo permitiu que

    os estudantes demonstrassem subjetiva e objetivamente os conceitos apreendidos com a

    sequncia didtica, bem como para ampliarem o entendimento da necessidade de pensar sobre a

    gua no sculo XXI. Por fim, o material produzido foi organizado e exposto no corredor da

    escola para que possa ser observado pelos demais estudantes. A Figura 1 apresenta um mosaico

    de momentos da atividade realizada.

  • 11

    Figura 1: Mosaico de momentos da atividade desenvolvida: a) Alunos assistindo o

    vdeo Adote um crrego; b, c e d) Produo de materiais informativos.

    Acredita-se que a proposta contribuiu com a sensibilizao dos alunos frente temtica,

    ademais, serviu para destacar aes simples e concretas que podem ajudar a salvar a vida que

    existe no crrego. Alm disso, estimulou os estudantes a pensarem ativamente frente ao

    problema apresentado (degradao da gua) e proporem solues para o Crrego existente no

    bairro da escola por meio da interpretao e produo de imagens. Portanto, acredita-se que a

    sequncia didtica contribuiu para a construo de conhecimentos geogrficos e para a

    sensibilizao frente problemtica da gua.

    REFERNCIAS:

    BECKER, E. L. S; BATISTA, N. L; OLIVEIRA, J. P. P. Adote um crrego. Disponvel em:

    https://capacitacao.ana.gov.br/conhecerh/handle/ana/306, acesso em junho de 2017.

    BECKER, E. L. S; VIERO, L. M. D; BILHALVA, W. D. B. guas urbanas Arroio Cadena

    Santa Maria, RS. Disponvel em: https://capacitacao.ana.gov.br/conhecerh/handle/ana/308,

    acesso em junho de 2017. l, acesso em junho de 2017.

    GOMES, P.C. C. O olhar do lugar: elementos para uma Geografia da visibilidade. Rio de

    Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.

    FERNANDES, N. S. Mapeamento de reas suscetveis inundao na bacia hidrogrfica

    do Arroio Cadena, Santa Maria/RS. Dissertao (Mestrado em Geografia) Universidade

    Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS: UFSM, 2016.

    FINKLER, Raquel. A bacia hidrogrfica. Curso: Planejamento, Manejo e Gesto de Bacias.

    Agncia Nacional das guas. 2014/2. Disponvel em: http://eadana.hospedagemdesites.ws/,

    acesso setembro de 2014.

    QUOOS, J. H; ROVANI, F. F.M; CASSOL, R. Simulador de Bacia Hidrogrfica. Disponvel

    em: http://coral.ufsm.br/cartografia/, acesso em junho de 2017.

  • 12

    A OBSERVAO E O USO DA CADERNETA NOS TRABALHOS DE CAMPO: DAS

    ORIGENS DA GEOGRAFIA PRODUO DO CONHECIMENTO GEOGRFICO

    Maria Carolina Villaa Gomes. Universidade do Estado de Santa Catarina

    [email protected]

    Mara Kahl Ferraz. Instituto Federal de So Paulo

    [email protected]

    A importncia do trabalho de campo para a Geografia atravessou sculos, resistindo s rupturas

    epistemolgicas que a reformularam, chegando ao sculo XXI com seu status inabalado,

    representando, talvez, o maior consenso entre os gegrafos das mais diversas tendncias e

    formaes (VENTURI, 2011). Para o referido autor, o trabalho de campo uma tcnica ampla

    que incorpora outras mais especficas (atreladas aos diferentes objetos de estudo) e, de to

    fundamental para a anlise geogrfica, considerada como mtodo. Em razo dos diferentes

    objetos de estudo, h uma gama de tcnicas mais especficas amplamente utilizadas nos dias de

    hoje, dentre as quais podem ser citadas a observao, a realizao de entrevistas e aplicao de

    questionrios, tipos variados de mensuraes e amostragens. Destas, h de se destacar a

    importncia da observao e registro em caderneta de campo. Ainda que complementarmente

    sejam empregadas outras tcnicas, estas constituem a base dos trabalhos de campo em

    Geografia. Alexander von Humboldt (1769-1859), naturalista alemo, foi o precursor na

    realizao de um trabalho de campo sistemtico. As tcnicas de anlise por ele privilegiadas

    foram observar, descrever e representar, sendo a observao (a partir da contemplao), a

    descrio (com intuio) e a representao (por meio do desenho) (BECKER, 2012). Ao

    empreender grandes expedies, Humboldt propunha uma observao minuciosa dos elementos

    da paisagem, buscando, na sua contemplao, fazer a ligao do particular com o que pode ser

    encontrado de mais geral (BECKER, 2012). Sendo assim, o objetivo deste artigo relatar a

    experincia da utilizao da caderneta de campo como um recurso na produo do

    conhecimento geogrfico. Para tanto, foram consideradas duas experincias: (i) trabalho de

    campo vinculado s disciplinas Geografia Fsica e Cartografia Geral, pertencentes 1 fase do

    curso de licenciatura em Geografia da Universidade do Estado de Santa Catarina; e (ii) trabalho

    de campo da disciplina de Geografia do 2 ano do ensino mdio do Instituto Federal de So

    Paulo, Campus Mato. O trabalho de campo realizado no curso de Graduao em Geografia

    ocorreu no bairro Itacorubi, na bacia hidrogrfica homnima, situada na poro central da Ilha

    de Santa Catarina, Florianpolis-SC. Os objetivos desta atividade foram: sensibilizar o corpo

    discente para a necessidade de se registrar as informaes obtidas, de forma sistematizada, a

    partir do uso da caderneta de campo, bem como observar os fenmenos fsico-geogrficos a

    partir de uma abordagem integrada, buscando compreender o funcionamento da paisagem,

    sobretudo em escala de bacia hidrogrfica. A atividade referente turma de 2 ano do ensino

    mdio se destinou a apresentar aos alunos os aspectos biticos e abiticos da paisagem do baixo

    vale do rio Ribeira, no municpio de Cananeia, no extremo Litoral do Sul paulista. Para ambos

    foi proposta uma estrutura inicial para registro na caderneta, sendo elas: (i) Informaes gerais

    (Data; Objetivo do trabalho de campo); (ii) Pontos/Parada (Nome; Hora; Condies

    meteorolgicas temperatura, umidade, vento, etc.; Referncias do local endereo, rodovia,

    municpio, etc.; coordenadas geogrficas; Informaes obtidas no campo, referente ao objetivo

    (primrias, secundrias, interpretativas, etc.). Ademais, sugeriu-se que os fenmenos observados

    fossem representados graficamente, a partir de croquis com escala. A partir desta referncia,

    outras informaes poderiam ser registradas, representando, ento, a observao livre dos

    fenmenos, contemplando sua subjetividade. A partir da consulta s cadernetas de campo, pde-

    se observar que a estrutura inicialmente proposta serviu como base para registros de diferentes

    mailto:[email protected]:[email protected]

  • 13

    naturezas. Primeiramente, houve a incorporao de itens caracterizao geral, como, por

    exemplo, a descrio dos odores percebidos, em ambos os casos, referentes aos manguezais. Em

    segundo lugar, destaca-se que, na medida do possvel, os alunos se utilizaram de croquis para

    representar os fenmenos observados, ainda que a falta de prtica os iniba. Quanto a isso, os

    mesmos foram alertados que a caderneta de campo um documento pessoal, ou seja, os

    registros escritos e grficos devem, a priori, ser por eles compreendidos. Por fim, a tentativa por

    parte dos alunos de descrever e interpretar fenmenos geogrficos na sua integralidade,

    associando os chamados fatores naturais e humanos, uma constatao que admite se afirmar

    que na experincia do campo que a complexidade da realidade se revela. A experincia ora

    apresentada permite constatar que, independente da especificidade dos fenmenos investigados,

    dos avanos tecnolgicos nas ltimas dcadas e do paradigma filosfico dominante na

    Geografia, este se reafirma enquanto um instrumento insubstituvel, e que tem muito a

    contribuir para a superao das conhecidas dicotomias da Geografia.

    Referncias

    BECKER, E. L. S. (2006) Histria do pensamento geogrfico. Santa Maria: Pallotti, 120p.

    VENTURI, L. A. B. (2011) Geografia Prticas de Campo, Laboratrio e Sala de Aula. So

    Paulo: Editora Sarandi, 528p.

    DO VIRTUAL AO REAL: UMA PROPOSTA AO ENSINO DE GEOGRAFIA

    Joo Daniel Barbosa Martins1 [email protected]

    Davi Gnecco Martins1 [email protected]

    Maria Carolina Soares1 [email protected]

    Rodrigo Pinheiro Ribas1 [email protected]

    1 - Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC

    Vivemos em uma realidade compartilhada por seres dotados de capacidade cognitiva, que

    podem observar e interpretar os fenmenos que acontecem no espao. Alm disso, a

    humanidade tem o poder de aprender e ensinar a partir da experimentao da existncia. Neste

    contexto, so criadas e desenvolvidas muitas ferramentas e metodologias utilizadas nos

    processos de ensino-aprendizagem, estes, podem ser objetos que estimulem sentidos e

    experincias visuais, tteis, olfativas, entre outras, reais e virtuais. Este trabalho traz uma

    metodologia de captura e visualizao da realidade material como subsdio para o processo de

    ensino-aprendizagem, especialmente nas disciplinas relacionadas ao campo da Geografia. Neste

    caso especfico ao citar a realidade material nos referimos aos processos e estruturas que

    compem o espao, objetos e feies variadas que integram as relaes sociedade/espao e que

    alimentam constantes debates nas disciplinas ligadas ao ramo geogrfico. Para o objetivo acima

    proposto utilizado um software de fotogrametria e modelagem 3D, um computador (desktop)

    e, por fim, para os dados gerados utilizado um stio eletrnico de hospedagem gratuita de

    modelos tridimensionais. A importncia da utilizao de uma ferramenta que permite a

    visualizao das feies em um ambiente virtual 3D ganha um ponto positivo a mais pela

    gratuidade desta ferramenta de alta tecnologia. Os programas gratuitos de geoprocessamento

    que j possuem relativa popularidade - principalmente no ramo do mapeamento com softwares

    de elaborao de mapas e plataformas virtuais (como o QGIS, Mapme, GoogleMaps, 123D,

    etc.) - ganham cada vez mais usurios e expandem a passos largos as possibilidades no

    processamento de imagens e processos educativos. O produto 3D que pode ser utilizado de

    formas diversas, nesse trabalho citado como material didtico e proposta metodolgica de uso

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]

  • 14

    em situaes pr-campo de disciplinas que recorrem observao da realidade material como

    recurso pedaggico. A metodologia proposta permite que mesmo anteriormente viagem de

    estudos seja possvel que o docente mostre aos alunos o local a ser visitado, identificando suas

    feies e conceitos que devem ser revisados, chegando no campo com uma bagagem de

    conhecimento que permite o aproveitamento em nvel terico e identificao no nvel fsico do

    objeto de estudo, ou seja, tambm prtico. A figura a seguir apresenta um dos resultados obtidos

    neste trabalho, hospedado numa plataforma de livre acesso. A feio apresentada referente a

    um trecho revitalizado da trilha da Lagoinha do Leste ao Pntano do Sul. Nele, os atores

    envolvidos nos estudos podem transitar em trs dimenses, assim, observando formas e feies

    do solo, bem como a prpria estrutura revitalizada da trilha (troncos de apoio ao pedestre em

    forma de degraus).

    Figura 1 Trecho da trilha da Lagoinha do Leste em 3D

    Fonte: Produo dos autores

    Como recurso pedaggico, a feio permite acesso durante as aulas ministradas pelo professor

    interessado em utilizar a ferramenta, ficando disponvel para os alunos a observao das formas

    em mltiplas plataformas, como smartphone, tablete e PC. Por fim, buscamos apresentar esta

    metodologia de uma forma descomplicada, simples e de fcil reproduo pelos professores,

    alunos e demais interessados pela prtica no mbito escolar.

    https://skfb.ly/Zq6q

  • 15

    TURISMO RELIGIOSO: UM OLHAR SOB SANTA CATARINA

    Julia Silva - [email protected]

    Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC

    Larissa Anjos Santos - [email protected]

    Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC

    Natalia Feltz Alano - [email protected]

    Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC

    O presente trabalho teve inicio na disciplina de Geografia de Santa Catarina, ministrada no

    Curso de Geografia, da Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC). Durante a disciplina

    procuramos regionalizar o Estado de Santa Catarina atravs do componente turismo. Durante a

    realizao dessa pesquisa inferiu-se que existem diversas modalidades de turismo e que cada

    uma delas possui um grande nmero de especificidades. Pela abrangncia do tema, decidimos

    para este trabalho nos aprofundar no turismo religioso, em suas caractersticas e relevncia para

    o estado. O turismo religioso em Santa Catarina, como em outras localidades do Brasil e do

    mundo, tem como motivao principal a f. Contudo no so somente religiosos que frequentam

    tais destinos. Segundo Steil (1998) discutido por Silveira (2007) falar em turismo religioso

    falar quando o sagrado migra como estrutura de percepo para o cotidiano, para as atividades

    festivas, para o consumo, para o lazer. Segundo dados obtidos a partir do site da Santur (Santa

    Catarina Turismo S/A), existem mais de 60 municpios com destinos tursticos religiosos

    distribudos pelas doze regies tursticas do estado. Difundido nesses municpios encontram-se

    destinos para romarias, retiros e procisses, igrejas histricas de diversas religies, festas,

    grutas, catedrais e outros. A juno da variedade de destinos somado ao aumento gradativo de

    pblico em eventos do gnero mostra, segundo artigo publicado no site da Assembleia

    Legislativa do Estado de Santa Catarina, o potencial do turismo religioso como um dos

    segmentos que mais cresce em nosso Estado (PAVAN, 2015). Mesmo com o aporte do turismo

    religioso economia do estado, nota-se atravs de anlise dos dados obtidos no site da Santur,

    que esse segmento predominantemente catlico, pois mesmo possuindo mais de cem

    destinos/eventos distribudos pelas cidades tursticas no estado, somente seis destas no

    destinam-se ao pblico catolicista. Dentre as localidades mais conhecidas como referncia em

    turismo religioso no estado, as duas que mais se destacam, pelo nmero de devotos que recebem

    durante todo o ano, so as cidades de Nova Trento e Brusque, com nfase no Santurio de

    Azambuja. Nova Trento conhecida pelo Santurio de Madre Paulina, considerada a primeira

    santa brasileira, contudo possvel encontrar tambm outras igrejas e monumentos destinados a

    outras santidades. A cidade de Brusque, alm de seu turismo relacionado s compras, tambm

    possui o Santurio de Azambuja, localizado em Vale homnimo (tambm conhecido com Vale

    dos milagres). Nessa poro da cidade encontra-se o Museu Arquidiocesano, considerado um

    dos mais completos acervos de arte sacra popular do Brasil (TURISMO, sem data). No ms de

    agosto, quando realizada a Festa de Azambuja, a cidade recebe cerca de 80 mil fiis de todo o

    Brasil. Outra festa popular no litoral sul do Brasil a festa em honra a Nossa Senhora dos

    Navegantes. Esta acontece na primeira semana do ms de janeiro em diversas cidades do litoral

    catarinense, principalmente em Florianpolis, Navegantes e Tijucas. Em Navegantes, no ano de

    2017, a festa completa, segundo dados obtidos atravs do site da prefeitura, 121 anos de

    histria. Tambm nessa data se comemora o dia de Iemanj, onde em algumas cidades como

    Laguna e Florianpolis se realizam festividades Orix. Em aproximadamente 51 municpios

    do litoral catarinense acontece festa em honra ao Divino Esprito Santo. Tal festividade tem

    herana dos colonizadores portugueses (aorianos) que acreditavam que ao fazer promessas e

    celebrar o culto ao Esprito Santo, estariam protegidos da ocorrncia de eventos climticos,

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]

  • 16

    abalos ssmicos, vulcanismos e possveis epidemias (MALLON, 2006, p. 69). Atualmente essa

    festa registrada como patrimnio histrico, artstico e cultural de Santa Catarina pela Lei

    estadual n 15.731/2012 (KEPPELER, 2016) devido a sua importncia para o estado. Possui

    tambm calendrio prprio e atrai milhares de fiis e simpatizantes anualmente, contudo a

    cidade de Florianpolis, dentre as outras, a que possui maior relevncia sob esse aspecto, pois

    so doze bairros que realizam tal evento durante o ano. Mesmo o estado possuindo uma

    pluralidade em relao aos destinos e festejos religiosos, perceptvel o quanto que a cidade de

    Nova Trento se destaca nesse segmento. Grande parte da fama da cidade oriunda da

    disseminao da imagem de Santa Paulina e de outras que a referenciam, como o santurio e a

    gruta em honra a santa. Para tanto, usaremos como subsdio para discusso, a linha terica

    culturalista, que aborda as imagens como uma forma de linguagem potencializadora para

    compreenso dos lugares e como constituidora dos modos de sermos e vermos estes (Tonini,

    2013). Utilizando a cidade de Nova Trento e o imaginrio criado sobre ela discutiremos como o

    mesmo criado e como a cidade, os moradores e os turistas se apropriam deste. Para

    complementar a discusso abordaremos, tambm na perspectiva culturalista, a educao como

    uma forma de educar os sujeitos a determinados jeitos e vises sobre os lugares, no somente na

    vertente escolar, mas sim no fato de que todos ns estamos nos educando diariamente atravs

    dos elementos culturais, como as imagens e discursos emitidos pela mdia.

    REFERNCIAS

    GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Santur. Santa Catarina venha

    descobrir. Disponvel em: . Acesso em: 26/06/2017.

    KEPPELER, C. Festa do Divino: Tradio mantida pela f. Disponvel em:

    . Acesso em: 26/06/2017

    MALLON, M. A Influncia do Contexto Institucional no Processo de Reinstitucionalizao

    da Festa do Divino Esprito Santo no centro de Florianpolis. 2006. 135 f. Dissertao

    (Mestrado em Administrao) Curso de Ps Graduao em Administrao PROPAD,

    Universidade Federal de Pernambuco, Recife. 2006.

    PAVAN, L. Turismo Religioso: Valorizao e Investimento. Disponvel em:

    . Acesso em: 25/06/2017

    SANTA CATARINA. Secretaria de Turismo do Estado de Santa Catarina. Disponvel em:

    http://www.turismo.sc.gov.br. Acesso em: 26 jun. 2017.

    SILVEIRA, E. J. S. da. Turismo Religioso no Brasil: Uma perspectiva local e global. Turismo

    em anlise, v. 18, n. 1, p. 33-51, maio 2007.

    TONINI, I.M. Notas sobre imagens para ensinar geografia. Revista brasileira de educao em

    geografia, V.3, n.6, Campinas, 2013.

    http://horadesantacatarina.clicrbs.com.br/sc/geral/noticia/2016/05/festa-do-divino-tradicao-mantida-pela-fe-5798024.htmlhttp://horadesantacatarina.clicrbs.com.br/sc/geral/noticia/2016/05/festa-do-divino-tradicao-mantida-pela-fe-5798024.htmlhttp://agenciaal.alesc.sc.gov.br/index.php/gabinetes_single/artigo-turismo-religioso-valorizacaeo-e-investimentohttp://agenciaal.alesc.sc.gov.br/index.php/gabinetes_single/artigo-turismo-religioso-valorizacaeo-e-investimento

  • 17

    O ESPAO ESCOLAR E SEUS SIGNIFICADOS: MAPEAMENTO COLETIVO COMO

    PRODUTO DE AULA DE CAMPO NO ENTORNO DA ESCOLA

    Poliana Back da Silveira - [email protected]

    Universidade Federal do Paran - UFPR

    Elaine de Cacia de Lima Frick - [email protected]

    Universidade Federal do Paran UFPR

    Nas universidades brasileiras existem diversos projetos extracurriculares que buscam

    complementar a formao dos universitrios, proporcionando experincias diferenciadas que

    ampliem o processo de ensino-aprendizagem. Entre esses projetos, destaca-se o Programa

    Institucional de Bolsas de Iniciao Docncia - PIBID, financiado pela Coordenao de

    Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior - CAPES, que foi criado com o objetivo de

    aperfeioar a formao de professores nos cursos de licenciatura, por meio de parceria entre as

    universidades e a rede pblica de ensino bsico. Evidencia-se aqui tambm o Projeto

    Expedies Geogrficas - PEG, vinculado ao Programa Licenciar4, com objetivo de utilizar a

    aula de campo como um recurso metodolgico para o ensino de geografia, entendendo que aulas

    prticas e in loco so importantes trunfos facilitando o processo de ensino-aprendizagem,

    proporcionando ao estudante uma anlise mais profunda da paisagem ao seu redor a partir da

    conexo da teoria aprendida em sala de aula com os exemplos observados concretamente. Um

    ponto interessante nesse recurso metodolgico como ele transcende a percepo do aluno para

    alm das imagens contidas nos livros didticos, proporcionando que este visualize com os

    prprios olhos e reflita sobre os processos presentes na paisagem observada. Esta prtica

    pedaggica foi realizada no corrente ano durante a experincia no PIBID no PEG, que integrou

    atividades realizadas em ambos projetos e efetivou a prtica pedaggica com aula de campo no

    entorno do Colgio Estadual Yvone Pimentel, localizado no bairro Novo Mundo, em Curitiba

    PR, este vinculado ao PIBID. Alm da integrao de dois projetos de cunho pedaggico, um

    destaque da presente prtica o produto gerado coletivamente pelos alunos aps a realizao da

    aula de campo: um mapa mental que externalizou a percepo dos alunos do entorno do

    ambiente escolar, alm da sua relao para com ele. A prtica pedaggica realizada pela autora

    foi norteada pelo contedo de Geografia Urbana, ministrado em sala pela professora supervisora

    do PIBID. A partir disso se aprofundou durante a prtica a temtica de Problemas Urbanos,

    focando nos que se fazem presentes na cidade em que os alunos vivem, j que Curitiba sofreu

    um crescimento desordenado com planejamento insuficiente (MOURA, 2005). Destaca-se que

    foram utilizadas duas metodologias para o desenvolvimento da prtica, uma que norteou a

    realizao da aula de campo, a mesma utilizada no PEG, e a segunda que deu luz confeco do

    produto final, o mapa mental coletivo. Segundo Paz (2016), importante a realizao de um

    campo de reconhecimento anterior aula de campo propriamente, com o objetivo de coleta de

    dados para preparao, e ainda, a ocorrncia de um ps campo, que possibilita a elaborao de

    atividades diferenciadas partindo da percepo do aluno durante o campo decorrido

    anteriormente. Partindo disso, o campo de reconhecimento foi realizado pela bolsista e pela

    4 Congrega projetos dos diversos Cursos de Licenciatura da UFPR. Seu objetivo geral apoiar aes que visem ao

    desenvolvimento de projetos voltados melhoria da qualidade de ensino nas Licenciaturas da Universidade Federal

    do Paran.

  • 18

    prof. supervisora no dia 12 de junho, a aula de campo foi realizada com o auxlio de outros

    integrantes do PEG no dia 26 de junho e o ps campo foi realizado apenas no dia 15 de agosto,

    por conta das frias letivas. A turma na qual a prtica foi desenvolvida foi o 7 ano E,

    composta por 36 alunos, e a aplicao ocorreu em um primeiro momento durante 2 (duas) aulas

    de 50 (cinquenta) minutos cada e em um segundo momento durante 1 (uma) aula com a mesma

    durao. Para a atividade realizada durante o ps-campo, foi utilizada a metodologia proposta

    por Malanski e Kozel (2015), que norteou a construo do mapa mental coletivo, partindo da

    compreenso de que "o espao para se tornar um lugar deve passar por uma relao afetiva e

    poltica de apropriao e significao por pessoas de um grupo cultural" (MALANSKI;

    KOZEL, 2015, p. 159). Desta forma, salienta-se que a prtica pedaggica utilizando a aula de

    campo se mostrou extremamente rica, pois a quadra na qual o colgio est localizado apresenta

    realidades extremamente dspares. Enquanto a rua da entrada principal do colgio possui um

    asfalto novo, iluminao e limpa, a rea nos fundos do muro de trs abriga uma ocupao

    irregular na qual as casas so construdas por cima de um crrego, que foi canalizado pelos

    prprios moradores da regio. Vrios pontos polmicos podem ser destacados na anlise do

    produto final (mapa mental coletivo) pelos estudantes, como por exemplo, a representao de

    uso de drogas em uma esquina especfica, a presena de resduos slidos, a presena do crime,

    entre outros. Essas so evidncias de marginalizao e segregao espacial que precisam ser

    levadas em conta quando se pensa a construo da imagem da escola para os estudantes,

    pois de acordo com Malanski e Kozel (2015), um lugar influencia na construo de

    identidades culturais. Evidencia-se a importncia da percepo individual de cada aluno e da sua

    relao com o espao escolar/lugares do entorno da escola para a construo do mapa coletivo,

    pois, de acordo com Santos (2007), cada indivduo, ao construir uma Geografia, est

    sistematizando um ou alguns dos aspectos fundamentais das suas diferentes maneiras de

    viver. Conclui-se com esse trabalho a urgncia do dilogo entre os saberes que os alunos j

    possuem com a conduo do conhecimento especializado do professor de Geografia (SANTOS,

    2007), pois essa interao s tem a contribuir para o processo de ensino-aprendizagem.

    REFERNCIAS

    MALANSKI, Lawrence Mayer; KOZEL, Salete. Representao do espao escolar a partir de

    mapeamento coletivo: uma abordagem da geografia humanista. Goinia: Ateli Geogrfico,

    2015, p.154-169.

    MOURA, Rosa. CURITIBA: CONSTRUO E DESCONSTRUO DE UM MITO,

    2014. Disponvel em: < http://terradedireitos.org.br/acervo/artigos/curitiba-construcao-e-desconstrucao-de-um-mito/14127 > Acesso em: 29 de ago. 2017.

    PAZ, Otaclio Lopes de Souza. A aula de campo como um encaminhamento metodolgico

    no processo de ensino-aprendizagem aplicaes a partir da geografia do custo zero.

    Curitiba. Trabalho de Graduao (Licenciatura em Geografia). Setor de Cincias da Terra.

    Universidade Federal do Paran, 2016. 41p.

    SANTOS, Douglas. O que Geografia? 2007. Indito. Apostilado. Disponvel em:

    . Acesso em:

    set, 2017.

  • 19

    O BANHEIRO DO PAPA E AS GEOGRAFIAS POSSVEIS

    Thiago Albano de Sousa Pimenta - [email protected]

    Doutorando em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados

    Professor-Coordenador Pedaggico da Rede Estadual de Ensino do Mato Grosso do Sul

    Este trabalho versa sobre algumas possibilidades de se pensar as geografias que o cinema pode

    suscitar. No caso da obra cinematogrfica analisada, O Banheiro do Papa, h um conceito que

    a perpassa de forma mais acentuada, que o conceito de fronteira. Pensamos que articular este

    conceito, com o que podemos agenciar no filme, atrelado a alguns pensamentos e leituras, pode

    ser fato muito enriquecedor. Sabemos que a Geografia se estabelece como uma disciplina

    cientfica dentro de uma rigidez metodolgica e conceitual que pode inibir a criatividade de

    pensar a diferena. Queremos refletir sobre a no necessidade do ensino de Geografia de

    adentrar neste ciclo recalcante, conservador, e permitir refletir sobre outras possibilidades de

    pensar o ensino da linguagem geogrfica. Gostaramos de contribuir na ampliao das anlises

    de Geografia. Neste sentido de uma maneira ou de outra iremos falar sobre as fronteiras da

    nossa disciplina e como s vezes estas demarcaes impedem da Geografia olhar para outras

    reas do saber e captar as contribuies possveis no dilogo.

    Aqui estamos buscando criar uma experincia que envolva ensino de Geografia e

    Cinema. No queremos fazer do cinema, das criaes que envolvem os recursos audiovisuais,

    formas de representao dos conceitos j dados pela Geografia. Queremos pensar o cinema

    como linguagem que permite dizer, fazer sentir outras coisas para alm da linguagem

    geogrfica, ou seja, como o cinema diz sobre os fenmenos que acontecem e que a Geografia

    ainda no pode dizer atravs da sua linguagem. Quando nos utilizamos do cinema para suscitar

    pensamentos em Geografia, o fazemos como estratgia para potencializar que as geografias,

    possam ser apreendidas pela nossa viso geogrfica. E neste sentido, quando somos forados

    a uma situao no tpica, sem os cacoetes comuns do linguajar da Geografia, agenciando as

    imagens cinematogrficas, podemos fazer o pensamento pensar. Alguns autores, gegrafos ou

    no, sero colocados neste texto de forma a entender as concepes que giram em torno dos

    conceitos levantados, como ensino, Geografia, cinema, fronteira, etc. A anlise do filme

    uruguaio O Banheiro do Papa (direo: Csar Charlone e Enrique Fernndez; 97 minutos;

    produo: Uruguai, Brasil e Frana), vem como forma de dialogarmos com os elementos que

    perpassam o filme e que nos permitem pensar geograficamente as questes ali expostas. De

  • 20

    certa forma, a nossa opo pela anlise flmica tambm partilha da posio de abrir a Geografia

    para a anlise das geografias contidas na arte, sabendo que o cinema articula (em suas formas e

    textos) uma srie de elementos espaciais, muitas vezes negligenciados pelo pensamento mais

    tradicional da Geografia. A nossa proposta de aproximao entre cincia e arte se d no dilogo

    com o filme O Banheiro do Papa. Pensamos que filme tem uma capacidade mpar de dizer

    sobre as relaes sociais e nos sensibilizar para algumas questes. No caso deste filme h uma

    relao entre os personagens onde o aspecto da fronteira Uruguai-Brasil muito importante,

    movimentando a vida destes sujeitos. Este trabalho, longe de buscar modelos e frmulas de

    como deve ser, tem o intuito de ser uma experimentao. Experimentar nas relaes entre

    cinema e ensino e assim criar outras possibilidades de aula que potencialize a criao, devires, a

    diferena e a vida. Fazer da aula um espao para o pensar, para a reflexo, para a criatividade.

    Aqui, na nossa proposta, o cinema pode ser pensado atravs das suas potncias de pensar as

    geografias, e neste sentido este exerccio, de anlise flmica, pode ser importante para

    pensarmos nossas as nossas aulas.

    EXPERIMENTAES COMO COMBATES DA DICOTOMIA GEOGRFICA

    ESCOLAR

    Carina Merheb de Azevedo Souza - [email protected]

    Universidade Estadual de Campinas UNICAMP

    Faculdade de Educao/ Grupo OLHO

    O presente trabalho faz parte da finalizao da minha pesquisa de doutorado, que passou por um

    processo de qualificao recentemente (Maio/2017), e procura estabelecer uma conexo entre o

    que at ento foi produzido e as sugestes das professoras que fizeram parte da banca

    examinadora nesse procedimento. Centraliza-se em obras imagticas produzidas dentro de

    prticas educativas, e conta com a minha experincia como professora de Geografia da

    Educao Bsica de uma escola da rede privada na cidade de Campinas SP. Trata-se de uma

    reflexo sobre as novas linguagens e imagens realizadas pelos alunos, a partir de propostas de

    experimentaes que tm como principal objetivo ultrapassar as fronteiras do currculo habitual,

    descobrindo potncias menores na educao. O foco da pesquisa est centralizado no conjunto

    de imagens utilizado pelos livros didticos, e que se reproduz nas escolas e nos currculos que

    abordam a dicotomia entre campo e cidade. Buscou-se experimentar outras formas de se pensar

    o espao, alm da imagem figurativa construda, onde o rural e o urbano insistem em surgir

    como dois espaos independentes e divididos dentro das cidades. Ao deslocar essas imagens dos

    sentidos habituais dicotmicos para outras formas que vo alm desse vnculo espacial,

    apostamos que elas assumem potncias expressivas que levem esse modo de pensar o espao

    para uma nova relao. Ao observar as minhas experincias como professora de Geografia,

    notei que as imagens e os textos aprisionam o pensamento espacial dos alunos; e esse foi um

    dos incmodos que me levaram a pensar e outras formas de lidar nas minhas prticas

    educativas. A proposta a de pensar a Educao a partir de experimentaes com imagens que

    possibilitem pensar o espao rural/urbano de outra forma: sem ser a dicotomizada,

    possibilitando assim maior abertura de novos conhecimentos e prticas educativas a partir de

    potncias menores.Uma das maiores preocupaes desta pesquisa a dos combates em relao

    s dicotomias apresentadas pela geografia escolar nos livros didticos. A proposta a de

    mailto:[email protected]

  • 21

    reimaginar o espao e suas classificaes, atravs das experimentaes, que contaram com as

    seguintes etapas: em um primeiro momento, os alunos escolheram as palavras que

    classificassem o que era rural e urbano a partir das suas concepes prvias. Logo aps, tiveram

    contato com outros tipos de imagens que abordavam o tema, porm de forma mais artstica e

    por fim, os alunos transformaram essas imagens em outras, com o desafio de que essas

    pudessem ser reclassificadas com outros nomes, a fim de que houvesse um deslocamento

    espacial e imaginativo acerca da dicotomia geogrfica em que estavam paralisados

    anteriormente a essa experincia. Uma das sugestes na banca da qualificao foi a de que as

    experimentaes realizadas fossem explicadas com mais detalhes. Sendo assim, a partir daqui

    descreverei como elas foram realizadas a partir do lugar (a escola) e o perodo em que ela foi

    feita.A localizao da escola um dado diferencial na pesquisa, pois determina uma das razes

    para a escolha do tema rural/urbano. Ela se encontra no distrito de Sousas, na cidade de

    Campinas SP. Essa regio uma via municipal, onde caractersticas rurais e urbanas

    convivem juntas inclusive na rea adjacente escola que no momento da realizao das

    experimentaes (entre os meses de maio e junho de 2014), havia um pasto com gado bovino

    como vizinhos de lado. Na ocasio, especulava-se a venda para a formao de um condomnio

    fechado. A maioria dos alunos moradora do mesmo bairro e/ou distrito e poucos ali

    conheciam a regio central da cidade, conforme foi respondido em uma das perguntas realizadas

    nos momentos prvios das experimentaes. O conhecimento dos alunos em sua grande maioria

    restringia-se aos espaos por ele frequentados, tais como: shopping, condomnios fechados,

    clubes recreativos, residncias de familiares e casas noturnas do distrito.

    Pretende-se apresentar o produto final das imagens produzidas pelos alunos, a fim de

    compreender o efeito das experimentaes realizadas. Pretende-se nesse encontro, uma nova

    conversa com o grupo a partir das mudanas estabelecidas do encontro com a banca

    examinadora at o presente momento.

    AS IMAGENS NO PERCURSO DE ESCOLARIZAO: OLHARES A PARTIR DO

    LIVRO DIDTICO DE GEOGRAFIA

    Izabella de Oliveira Rodrigues - Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP.

    [email protected]

    Tnia Seneme do Canto Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. [email protected]

    Wenceslao Machado de Oliveira Jnior - Universidade Estadual de Campinas UNICAMP.

    [email protected]

    O aprimoramento das tecnologias de mdia atuais fazem com que as imagens digitais

    influenciem largamente no processo cognitivo, que deixa de ser linear para tornar-se no-linear,

    baseado na interatividade. O sentido de verdade passa, mais do que nunca, a ser atribudo s

    imagens. Nessa perspectiva, tal apontamento (e suas implicaes aos processos educacionais e

    aprendizagem) observado entre os professores da Escola Estadual Vitor Meirelles de Ensino

    Mdio Integral na cidade de Campinas/ SP dando origem disciplina eletiva Linguagens

    Fotogrficas, cuja proposta trabalhar os vrios contextos onde a imagem fotogrfica est

    inserida e seus respectivos veculos de informao. Alm da relevncia do tema, os estudantes

    da escola apresentam alta defasagem na compreenso de linguagens no-verbais, segundo as

    constataes do corpo docente da escola. O gegrafo e pesquisador do tema Oliveira Jr. (2009)

    afirma que para alm de a imagem ser uma realidade em si mesma, ela nos faz mirar o mundo

    da maneira como ela o apresenta. Nessa perspectiva, como colaboradora da disciplina eletiva

    Linguagens Fotogrficas, a partir do PIBID Subprojeto Geografia, propus destinar duas aulas

  • 22

    construo colaborativa de um debate sobre o tema atravs de uma prtica pedaggica de

    anlise crtica das imagens apresentadas por um livro didtico. A orientao fora que os alunos

    se dividissem em grupos de quatro para selecionar um captulo do livro didtico Geografia

    sociedade e cotidiano: espao mundial (ALBUQUERQUE et al., 2013). Aps a escolha do

    material, os estudantes receberam um roteiro pr-definido com questes que buscavam

    estimular uma anlise crtica do contedo imagtico e textual do captulo. Anotando e

    quantificando os tipos de imagem encontradas (fotografias, mapas, croquis, desenhos, charges,

    gravuras, pinturas, quadrinhos, grficos, etc.), os estudantes aguaram o olhar sobre o material

    utilizado no cotidiano escolar. Na sequncia, cada grupo iniciou uma discusso sobre o modo

    como a imagem expe; explica; problematiza; destaca; esconde o tema do captulo e as suas

    funes de embelezamento, memorizao, espetacularizao na diagramao do material

    didtico. Os estudantes escreveram sobre as observaes realizadas, tendo como objetivo

    apontar de quais maneiras as imagens configuram a constituio de uma cultura acerca da

    disciplina do tema trabalhado. A discusso efervesceu em indagaes nesta etapa do roteiro com

    as questes: por que a populao negra majoritariamente exibida em naturalizada condio de

    misria? Por que nos mapas econmicos dos pases sul-americanos e africanos sempre esto

    destacadas somente a produo agrcola e pecuria, em detrimento da produo industrial,

    tecnolgica e cientfica? Por que, quando se trata de Revoluo Industrial, surgem em sua

    maioria homens trabalhando, apagando a presena feminina da histria da industrializao

    mundial? Por que a frica apresentada predominantemente atravs de organizaes sociais

    tribais, invisibilizando o processo de urbanizao existente nos pases do continente? A

    devolutiva questionadora por parte dos alunos despertou os olhares resignados e estimulou a

    construo da etapa posterior da prtica, uma atividade estruturada com um novo arcabouo de

    imagens, oriundas de outras fontes que no o livro didtico Geografia sociedade e cotidiano:

    espao mundial (ALBUQUERQUE et. al., 2013). Imagens de cunho jornalstico; artstico;

    social, retiradas de acervos fotogrficos encontrados na internet, contudo vinculadas aos temas

    discutidos na atividade anterior. Em seguida, ao contrrio do habitual, trouxe imagens sobre o

    processo de favelizao do Rio de Janeiro feitas por fotgrafas(os) residentes em comunidades

    cariocas. As produes traziam narrativas prprias de quem l vive, revelando a dimenso

    cultural das favelas e desmistificando a falcia de que um territrio sem cultura, como

    afirma o senso comum. Foi possvel tambm ver, atravs das imagens fotogrficas, a maneira

    como as mulheres conduzem com maestria uma bola na prtica do futebol, tirando assim, o

    protagonismo masculino de foco e empoderando as mulheres presentes na sala de aula a

    permitir-se praticar um esporte. Cidades urbanizadas de pases africanos tambm foram

    exibidas, causando surpresa e evidenciando a complexidade das organizaes socioeconmicas

    e territoriais de um continente invisibilizado pela hegemonia dos mitos, lendas e discursos

    coloniais. A atividade fora bem avaliada pelos professores devido sua pertinncia ao ambiente

    escolar, ao tema da disciplina eletiva e a predominante ausncia da discusso de imagens no

    processo de aprendizagem. Os estudantes matriculados na disciplina expressaram interesse pela

    prtica de analisar as imagens com novos olhares e a surpresa com seus resultados. A reflexo

    acerca das imagens utilizadas no decorrer da prtica pedaggica despertou questionamentos.

    Num primeiro momento, sobre seus usos na obra didtica, produto sempre carregado de

    sentidos discursivos, posicionamentos e ideologias. Num segundo momento, acerca dos

    esteretipos reforados pelo senso comum, desconstrudos por produes fotogrficas que no

    so usuais no processo de ensino-aprendizagem do ambiente escolar.

    Pensando no livro didtico como uma ferramenta fundamental aos profissionais docentes e aos

    estudantes no vigente modelo escolar brasileiro, se faz necessrio apropriar-se das imagens

  • 23

    trazidas pelo livro com intuito de tornar o ensino crtico e o aprendizado mais dinmico. As

    imagens so sempre dotadas de intencionalidade: optar por trabalhar com determinado material,

    traz visibilidade a certas questes e inevitavelmente inmeras outras possibilidades tornam-se

    invisibilizadas. Por fim, desenvolver e aplicar a prtica, somando foras com os professores

    efetivos, proporcionou uma aproximao com o exerccio da docncia. Ouvir seus pareceres,

    crticas e elogios foi muito enriquecedor.

    Referncias

    ALBUQUERQUE, M. A. M. BIGOTTO, J. F. VITIELLO, M. A. Geografia sociedade e

    cotidiano: espao mundial. 3. ed. So Paulo: Escala Educacional, 2013. 280 p.

    OLIVEIRA JUNIOR, W. M. Grafar o espao, educar os olhos: rumo a geografias menores. Pro-

    posies, Campinas, v. 20, n. 3, p.19, 14 dez. 2009.

    MULTIMODALIDADE NO ENSINO DE GEOGRAFIA

    Natlia Lampert Batista, UFSM, [email protected]

    Elsbeth Lia Spode Becker, UNIFRA, elsbeth.geo@unifra

    Maurcio Rizzatti, UFSM, [email protected]

    Roberto Cassol, UFSM, [email protected]

    Os textos visuais/imagens podem contribuir significativamente com o ensino de Geografia e

    com a compreenso do espao geogrfico na medida em que permitem discutir as categorias de

    anlise desta cincia (espao geogrfico, lugar, paisagem, regio e territrio) a partir de um

    olhar multimodal. Assim, evidente a necessidade de entender as imagens, cada vez mais

    abundantes e diversas, no contexto da Geografia, compreendendo que elas do visibilidade a

    determinados aspectos da realidade formando informaes reais, mas no necessariamente

    verdadeiras como aponta Gomes (2013). Partindo dessas premissas o presente trabalho foi

    pensado e organizado como uma Oficina Pedaggica ofertada na programao do XVI

    Seminrio Internacional em Letras, I Simpsio Internacional de Ensino de Humanidades e

    Linguagens e VII Seminrio Interdisciplinar do PIBID, do Centro Universitrio Franciscano. O

    pblico alvo do evento eram profissionais e alunos de Letras, Histria, Filosofia, Pedagogia,

    Geografia, Comunicao, Direito, Psicologia e reas afins. As Oficinas foram ofertadas no turno

    da tarde do dia 22 de agosto de 2017 e 1 hora e 30 minutos de durao. Dessa maneira, a

    Oficina Multimodalidade no Ensino de Geografia, aqui destacada, visou discutir a compreenso

    de textos visuais/imagens no ensino de Geografia sob um enfoque multimodal e baseada na

    Gramtica do Designe Visual (GDV), proposta por Krees e Van Leuween (2006) e adaptada ao

    contexto geogrfico. Participaram da Oficina 18 pessoas. Dessas 43% eram mulheres e 57%

    homens; Quanto formao (concluda e em andamento), 11% eram Psicolgicos; 11%

    Pedagogos; 11% Professores de Histria; 50% Professores de Letras; e 17% Professores de

    Geografia. As idades dos participantes variavam de 19 a 58 anos, sendo que 11% possuem at

    19 anos; 66% de 20 a 30 anos; e 23% mais de 30 anos. Portanto, evidencia-se que o pblico

    envolvido for bastante ecltico, frente formao e idade.

    Como delineamento metodolgico da Oficina, primeiramente, apresentou-se teoricamente a

    proposta de anlise das imagens a nvel ideacional, interacional e composicional, conforme

    propem Krees e Van Leuween (2006), exemplificando-as com imagens retiradas do site da

    instituio promotora do evento. Aps, realizou-se a anlise de textos visuais previamente

    selecionados em livros didticos aprovados pelo Plano Nacional do Livro Didtico (PNLD)

    como exerccio da metodologia, bem como foram elaborados textos visuais coletivos (desenhos

    de livre escolha dos participantes). Por fim, foi aplicada a proposta de Krees e Van Leuween

  • 24

    (2006) nos textos visuais elaborados e os participantes responderam um questionrio avaliando

    a Oficina, conforme destacado na figura 1.

    Figura 1: Mosaico de momentos da Oficina: a) Organizadores da

    Oficina; b) Exposio terica; c) Participantes criando seus textos

    visuais/imagens; e d) Exemplo de imagem produzida e analisada

    durante a oficina.

    Com relao avaliao da oficina questionaram-se os participantes sobre aspectos como a

    compreenso do uso da GDV: 50% compreendeu como utiliz-la, e os demais 50% em parte.

    Considerando que a GDV bastante complexa e que os participantes no a conheciam, o

    resultado satisfatrio. Avaliou-se tambm se as imagens utilizadas colaboraram com esse

    entendimento, todos colocaram que sim. Acerca da utilizao da GDV em sala de aula na

    Educao Bsica, os participantes destacaram que colabora com a leitura de textos

    visuais/imagens (88%) ou colabora em parte (12%). J sobre o tempo da Oficina 50% julgou

    adequado e 50% considerou pouco. Essa tambm foi recomendao na questo aberta sobre

    sugestes: ampliar o tempo da Oficina empreendida. Com relao a clareza das explicaes e

    discusses 5% considerou que foram parcialmente claras e os demais 95% que foram suficientes

    para o entendimento do uso da GDV no ensino. Com relao a maior contribuio da Oficina para

    a prtica profissional dos participantes as respostas convergiram para o fato de que a mesma

    auxilia a discusso de imagens nas disciplinas de Geografia, Histria e Lngua Portuguesa, bem

    como para a identificao da ideologia por traz de anncios publicitrios. Portanto, acredita-se

    que a Oficina tenha motivado os participantes a refletirem sobre o uso de imagens/textos visuais

    no ensino de Geografia e reas a fins, bem como para que percebessem o carter multimodal

    presente nos textos visuais tanto de livros didticos de Geografia como nos produzidos pelos

    participantes da oficina.

    Referncias:

    GOMES, P. C. C. O olhar do lugar: elementos para uma Geografia da visibilidade. Rio de

    Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.

    KRESS, G; VAN LEEUWEN, T. Reading Imagens: The Gramar of Visual Desing. 2. ed.

    London: Taylor & Francis e-Library, 2006.

  • 25

    O PERIGO DA UTILIZAO DE IMAGENS EMBLEMTICAS NO

    PLANEJAMENTO URBANO: O CASO DE BLUMENAU/SC

    Bernardo Brasil Bielschowsky - [email protected]

    Instituto Federal de Santa Catarina

    Este trabalho pretende analisar o perigo da utilizao de imagens emblemticas no planejamento

    urbano de Blumenau/SC Brasil. O principal argumento deste trabalho que, com a utilizao

    dessas imagens no planejamento urbano ao longo dos ltimos anos, que vo materializar-se nos

    processos de renovao urbana, especialmente na rea central da cidade, corre-se o risco de

    deformao ou de desaparecimento da paisagem socialmente construda, ocasionando assim,

    perda irreversvel cidade contempornea e as futuras geraes. Essas renovaes urbanas

    tendem a ser cada vez mais intensas, substituindo assim, antigas construes inseridas em

    determinados conjuntos urbanos por edifcios cada vez mais altos e estandardizados, fora de um

    contexto, seguindo simplesmente lgica do mercado (HARVEY, 1998). As cidades brasileiras

    conhecem rpidos processos substitutivos, decorrentes da fraqueza da legislao urbanstica que

    permite uma acelerada dinmica do capital imobilirio, que transformam o tempo numa varivel

    determinante para a manuteno da paisagem e da memria urbana dessas cidades. A principal

    relevncia do trabalho discutir sobre a introduo dessas imagens nas polticas pblicas de

    planejamento urbano, que no deveriam ser somente estticas, mas sobretudo social. A

    pluralidade s se torna possvel respeitando as semelhanas e diferenas, mas a singularidade s

    existe dentro de um contexto de relaes sociais determinadas (ARENDT, 1993), porque o

    indivduo precisa se reconhecer socialmente. S ser possvel ousar planejar a construo de um

    futuro comum quando os diferentes grupos da sociedade procurarem estabelecer a construo de

    uma identidade comum, baseado nessas referncias sociais e urbanas, ou seja, encarar os

    desafios da sociedade contempornea e no tratar a cidade como uma mercadoria para consumo.

    Essas imagens emblemticas se introduziram no planejamento urbano, de forma distinta, nos

    diferentes perodos. a partir desses diferentes nveis de ameaa que ocorreram, nos diferentes

    perodos, em nossa rea de estudo, que vamos delimitar o recorte temporal. Em 1950 temos uma

    primeira tentativa modesta, com o modernismo se sobrepondo ao conjunto urbano com a

    substituio de alguns bens histricos por elementos emblemticos modernos, que representam

    a imagem da modernidade. A partir da dcada de 1970 temos a construo de um cenrio

    urbano temtico pautado na reinveno de uma germanidade atravs imagens emblemticas

    extemporneas, que representam a imagem da germanidade. Atualmente, a maior ameaa a

    tentativa do prprio poder pblico em tentar vender a cidade como uma imagem para atrair

    investidores e as polticas pblicas que legitimam isso atravs do Plano Diretor, com a cpia de

    imagens emblemticas que poderiam estar em qualquer outra cidade do mundo e que

    representam a imagem da cidade global. O processo de formao da paisagem do conjunto

    urbano atual na rea central de Blumenau e as diversas relaes deste com a sociedade e seus

    elementos emblemticos, como os espaos, o rio e a topografia, demonstram o valor patrimonial

    dessas relaes historicamente construdas. A partir da compreenso da importncia dessa

    paisagem, numa viso mais ampla de conjunto de cidade, o trabalho pretende discutir o risco e a

    ameaa que as imagens emblemticas representam para o futuro da rea de estudo. Esse

    contnuo processo de investimento econmico e discursivo, baseado na construo imagtica da

    cidade como mercadoria, principalmente a partir da dcada de 1970, atravs de alguns

    elementos emblemticos que acabou transformando boa parte da paisagem urbana da rea

    central num cenrio temtico, carregada de simulacros para atrair turistas, demonstra a falta de

    valorizao do patrimnio genuno e a falta de considerao pelo cidado local em detrimento

    de uma cidade cenogrfica construda para o turista eventual. Temos neste caso um claro desvio

    de prioridade com relao aos investimentos pblicos, que ao invs de valorizarem os espaos

    pblicos e dar valor de uso esses espaos destinados populao local, acabam por concentrar

    investimentos em locais privados ou semi privados, destinados prioritariamente para os turistas,

  • 26

    esvaziando dessa forma, os espaos mais nobres da cidade. Ao desqualificar, abandonar e

    esvaziar esses espaos, o poder pblico repassa suas obrigaes para o poder privado e legitima

    um discurso muito aferido pelos blumenauenses de que somente o poder privado pode gerir e

    qualificar os espaos da cidade. E nesta relao obscura entre os agentes pblicos e os

    privados que as polticas pblicas se tornam uma ameaa cada vez mais presente para a

    paisagem e a histria da cidade. Essas polticas pblicas tratam da espetacularizao urbana, da

    mercantilizao dos espaos e da prpria paisagem da cidade (DEBORD, 1997). A globalizao

    vai impondo incessantemente a necessidade de substituio das cidades antigas pelas novas

    cidades globais, sem se preocupar com a histria do lugar, substituindo conjuntos urbanos

    adaptados ao stio fsico e apropriados culturalmente pelo meio, por um acumulado de no

    lugares (AUGE, 1994). Essas apropriaes culturais dos meios significa que diversos processos

    histricos marcaram a paisagem, revelando assim o sentido sociocultural e educativo da prpria

    geografia. Logo, valorizao da paisagem como elemento cultural serve tambm para

    democratizar esse patrimnio, que no deve ser apenas esttico ou de aparncia (SANTOS,

    1982; 1985), mas que deve contemplar os ambientes que marcam a vida cotidiana das pessoas.

    Atualmente, a introduo de novas imagens emblemticas no planejamento urbano, associadas

    s cidades globais, pode afetar diretamente a paisagem histrica e culturalmente construda, pois

    estas vo se impor nos espaos mais significativos, - e ainda por cima pblicos (Centro

    Histrico, Prainha e Mirante do Morro do Aipim) - e com carter referencial para a cidade.

    Como consequncia dessa poltica da criao de imagens para tentar vender a cidade e atrair

    investidores, surgem tambm os projetos como imagens, desconexos da realidade local, em

    locais inapropriados e sem considerao pelo patrimnio e pela paisagem historicamente

    constitudos.

    POR UM OUTRO ENSINO DE GEOGRAFIA: DA CONFECO DE FANZINES AT

    UMA "OUTRA GLOBALIZAO

    Gabriela Calvette Cesar - [email protected]

    UDESC Universidade do Estado de Santa Catarina

    Marina Coelho Rosa e Silva

    [email protected]

    O Ensino de Geografia tem como desafio proporcionar aos alunos a capacidade de leituras de

    mundo, fazendo relaes destes processos com o seu cotidiano para perceberem-se participantes

    das transformaes do espao. importante que durante as aulas de geografia possamos

    apresentar aos alunos diferentes formas de experimentar o mundo, sejam elas com filmes,

    imagens, msicas ou poesias, assim construindo diferentes possibilidades de linguagens para

    construir conhecimento de modo que no se prendam apenas aos instrumentos convencionais

    (livros didticos). Como parte da nossa formao acadmica em Geografia-Licenciatura

    iniciamos no primeiro semestre de 2017, na stima fase, a disciplina de Estgio Curricular

    Supervisionado III, que tem como objetivo a formao de um educador e pesquisador em

    geografia em campo. Nosso campo de pesquisa e de atuao aconteceu no Instituto Estadual de

    Educao (I.E.E.), em Florianpolis - Santa Catarina. As atividades de observao e oficina

    foram realizadas com a turma 252 nas aulas de Geografia da professora Solange, regente da

    turma. Para trabalhar os contedos relacionados globalizao tentamos nos aproximar da

    realidade dos alunos, desenvolvendo uma oficina que utilizou como tema gerador os celulares

    smartphones, e as redes sociais (ferramentas que so massivamente utilizadas pelos jovens

    durante seu dia a dia). Com o celular como foco da conversa tentamos utilizar diferentes

  • 27

    linguagens dentro da oficina, como o udio visual (para apresentar o episdio intitulado

    Nosedive da srie Black Mirror da Netflix). Nesse episdio retratado um futuro no to

    distante, onde a tecnologia parte fundamental na convivncia dentro do meio social, se

    baseando em avaliaes feitas constantemente atravs das redes sociais, sendo que quanto

    melhor sua pontuao, mais alto voc vai estar na escala social. Como trabalho final desta

    interveno ns propomos uma atividade de pesquisa, a partir de marcas conhecidas

    mundialmente que fabricam celulares, para que os alunos conseguissem relacionar os conceitos

    de globalizao abordados juntamente com essas tecnologias. O produto principal dessas

    oficinas foi confeco de fanzines para reproduzir os conhecimentos gerados em sala. Como

    conceito norteador da nossa interveno utilizamos a abordagem de Milton Santos (2001) em

    sua obra "Por uma outra globalizao: do pensamento nico conscincia universal", onde o

    autor analisa o fenmeno criticando a existncia de um nico mundo globalizado, descrevendo a

    existncia de pelo menos trs mundos: O mundo globalizado visto como fbula, que aquele

    que se apresenta como verdade, o mundo tal como nos fazem crer; O mundo globalizado visto

    como perversidade, que o mundo como , com suas mazelas resultadas do sistema

    capitalista, gerando comportamentos competitivos, fome, desemprego, pobreza e todas as

    mazelas da desigualdade social causadas pela valorizao de grupos sociais hegemnicos; O

    terceiro mundo descrito pelo autor seria uma possiblidade, o mundo como ele pode ser, uma

    "outra Globalizao". Como tratamos dos conceitos de globalizao e fluxos de informao,

    buscamos em sala de aula, utilizar outra forma de se vincular a informao, pois hoje em dia a

    globalizao muito ligada imagem. Nesse sentido, alm de abordar os conceitos de

    globalizao propomos na atividade de pesquisa a confeco de fanzines. A inteno foi de

    propor essa confeco enquanto uma ferramenta pedaggica alternativa se comparada aos

    padres de materiais didticos tradicionais, principalmente ao livro didtico, onde suas imagens

    se repetem e so meramente ilustrativas, sem nenhum tipo de informao. Optamos pelos

    fanzines justamente por ser uma forma diferente de se vincular informao, elaborada e

    reproduzida de maneira artesanal e que tem como caractersticas bsicas a liberdade de

    expresso, de temas diferenciados, formatos variados, e a utilizao de imagens de revistas e

    jornais de forma a dar outro sentido a essas que eram apenas comerciais e vinculadas as grandes

    mdias. Utilizar essa ferramenta como alternativa de produo de imagens em sala de aula vem

    ao encontro dos conceitos de uma outra globalizao proposta por Milton Santos. A

    globalizao como fbula e perversidade, que trata da monopolizao mundial dos fluxos de

    informao, que chega a influenciar at mesmo na padronizao de imagens vinculadas nos

    livros didticos, que muitas vezes so os nicos livros que os alunos de escola pblica tm

    acesso. Possibilitar que os alunos produzam a informao atravs da confeco do fanzine,

    tambm propor outra forma de vincular o conhecimento, seguindo na linha de uma outra

    possibilidade de mundo e de globalizao, que respeita e valoriza a sociodiversidade e

    individualidades que foi proposta por Milton Santos.

    REFERNCIAS

    SANTOS, Milton. Por uma outra globalizao: do pensamento nico conscincia

    universal. 8. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.

    SCHUR, Michael; JONES, Rashida. Nosedive. In: BROOKER, Charlie. Black Mirror. Reino

    Unido. House of Tomorrow. 2016.

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Endemol_UK

  • 28

    DAS IMAGENS COMPREENSO DOS LUGARES: POSSIBILIDADES

    METODOLGICAS PARA A LEITURA DE IMAGENS NAS AULAS DE GEOGRAFIA

    Thays Ukan Pereira - [email protected]

    Universidade Federal do Paran

    Prof.Dr.Marcos Alberto Torres - [email protected]

    Universidade Federal do Paran

    A leitura de paisagens uma das prticas recorrentes no ensino de Geografia para a

    compreenso dos lugares. Andreotti (2012) conceitua paisagem a partir da tica e da esttica do lugar, sendo a tica composta pela concepo de mundo da comunidade, seu modo de pensar e

    viver, suas crenas, smbolos e valores que, com o passar do tempo, torna-se esttica. Nesse

    sentido, a leitura de imagens pode contribuir para uma melhor compreenso dos lugares, dentro

    da sua complexidade tica e esttica. As imagens so frequentemente utilizadas por professores

    nas aulas de Geografia como ferramentas para aproximar os alunos de contextos especficos ou,

    ainda, como uma forma de exemplificar e complementar o contedo ministrado. Para que as

    imagens funcionem de forma eficiente, porm, importante que sejam aplicados alguns

    mtodos para as leituras dessas que, frequentemente, so pinturas histricas, alegorias,

    fotografias e, algumas vezes, trabalhos de arte contempornea como grafites, por exemplo. A

    proposta deste trabalho est no processo de leitura dessas imagens, buscando em trs t