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    Alessandra Gotuzo Seabra Capovilla1 Universidade So Francisco

    As funes executivas referem-se capacidade do sujeito de engajar-se emcomportamento orientado a objetivos, realizandoaes voluntrias, independentes, auto-organizadas e direcionadas a metas especficas(Ardila & Ostrosky-Sols, 1996). 1Suas basesneurolgicas encontram-se no crtex pr-frontal,especialmente no crtex pr-frontal lateral e nogiro cingulado anterior (Duncan, Johnson, Swales& Frees, 1997; Gazzaniga, Ivry & Mangun,

    2002). Alteraes nas funes executivas tm semostrado relacionadas a vrios transtornoscognitivos e psiquitricos, decorrentes de lesesou de disfunes neurolgicas, como, porexemplo, esquizofrenia (Gil, 2002), autismo(Bosa, 2001; Duncan, 1986) e Transtorno deDficit de Ateno e Hiperatividade (Barkley,1997).

    Apesar das funes executivas terem sidotradicionalmente estudadas pela neuropsicologiacomo um construto unitrio, pesquisas recentestm apontado a necessidade desmembr-las em

    componentes como memria de trabalho, atenoseletiva, controle inibitrio, flexibilidade eplanejamento (Duncan & cols., 1997). Para tanto, fundamental dispor de instrumentos de avaliaoneuropsicolgica adequados. Neste contexto, tmsido desenvolvidos testes para avaliar oscomponentes das funes executivas, bem comoconduzidos estudos para investigar sua preciso ebuscar evidncias de validade, especialmenteverificando sua relao com sintomas dedesateno e hiperatividade.

    J foram desenvolvidas verses de testestradicionalmente usados para avaliar componentesdas funes executivas, tais como Teste de Stroop(Capovilla, Montiel, Macedo & Charin, 2005),Teste de Gerao Semntica (Assef & Capovilla,submetido), Teste de Trilhas (Montiel &Capovilla, no prelo) e Teste da Torre de Londres

    1Contato:

    Rua Alexandre Rodrigues Barbosa, 45, Itatiba, SP,13.251-900e-mail: [email protected]

    (Cozza, 2005) que, conforme o arrazoado terico,avaliam ateno seletiva, controle inibitrio,flexibilidade e planejamento, respectivamente.Paralelamente a tais testes, tm sido usados osTestes de Memria de Trabalho Auditiva e deMemria de Trabalho Visual (Primi, 2002), bemcomo uma verso do Teste de Fluncia VerbalFAS (Montiel, 2005).

    Todos esses instrumentos, com exceo dosTestes de Trilhas e Torre de Londres, so

    informatizados, o que traz grandes vantagens paraa anlise de medidas temporais, como tempo dereao e durao da resposta, pois permiteregistrar precisamente o tempo em milsimos desegundos, aumentando a sensibilidade dos testes.Alm disso, a informatizao auxilia apadronizao das condies de apresentao deestmulos e a coleta das respostas, permitindomaior rigor no controle das condies deavaliao, tornando os instrumentos um recursomais confivel para a avaliao neuropsicolgica.

    Pesquisas usando tais instrumentos tm sido

    conduzidas. Numa primeira pesquisa (Capovilla,Cozza, Capovilla & Macedo, 2005), por exemplo,participaram 154 crianas, sendo 56,5% do sexomasculino e 43,5% do sexo feminino, com idadesvariando de 8 a 13 anos, com mdia de 10 anos e6 meses. Os participantes cursavam entre terceirae quarta sries de escolas pblicas da Grande SoPaulo.

    Foram aplicados os Testes de Trilhas,Memria de Trabalho Auditiva, Memria deTrabalho Visual e Torre de Londres pata avaliarflexibilidade, memria de trabalho auditiva,memria de trabalho visual e planejamento,respectivamente. Alm disso, os professores dascrianas responderam Escala de Transtorno deDficit de Ateno e Hiperatividade ETDAH(Benczik, 2000).

    Houve correlaes significativas entrepercentis na ETDAH e medidas dos Testes deTrilhas, de Memria de Trabalho Auditiva, deMemria de Trabalho Visual e Torre de Londres.No houve correlaes com Testes de Stroop e deGerao Semntica, que avaliam ateno seletiva

    e controle inibitrio, provavelmente porque

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    naquela pesquisa foi computado apenas escore, eno tempo de reao. O grupo de crianas comsintomas de desateno e hiperatividade (percentisacima de 75 na ETDAH) apresentaramdesempenhos significativamente inferiores aogrupo sem tais sintomas em medidas dos Testes

    de Trilhas e de Memria de Trabalho Auditiva,fornecendo evidncias de validade concorrente detais testes na identificao de crianas comsintomas de desateno e hiperatividade.

    De modo a compreender maisdetalhadamente a relao entre os componentesdas funes executivas e TDAH, uma segundapesquisa avaliou 62 participantes, com idadesentre 8 e 12 anos, divididos em dois grupos(Assef, 2005). O grupo 1 foi formado por 31crianas com diagnstico de TDAH, realizado porpsiquiatra segundo os critrios da AssociaoPsiquitrica Americana DSM-IV-TR(American Psychiatric Association, 2002). Ogrupo 2 foi formado por outras 31 crianas queno apresentavam sintomas de desateno ouhiperatividade, conforme avaliada pela ETDAH,pareadas por idade e sexo com as crianas dogrupo 1.

    Houve diferenas significativas entre osdois grupos para os tempos de reao nos Testesde Gerao Semntica e de Stroop, e para osescores no Teste de Trilhas, fornecendo validade

    para esses instrumentos na identificao decrianas com TDAH. Nas anlises de correlaode Pearson, todos os desempenhos nos diferentestestes correlacionaram-se com alguma outramedida. De forma geral as correlaessignificativas foram baixas, sugerindo que taistestes avaliam construtos distintos, emborarelacionados, o que corrobora a hiptese dedissociao entre componentes de funesexecutivas.

    Desta forma, as pesquisas anteriormentedescritas tm contribudo para fornecer evidncias

    de validade de diversos instrumentos que avaliamas funes executivas, relevando ocomprometimento de alguns aspectos no TDAH.Tm, ainda, corroborado a hiptese de que asfunes executivas devem ser consideradasincluindo diferentes componentes, tais comoateno seletiva, planejamento, controle inibitrio,memria de trabalho e flexibilidade.

    Buscando aumentar a compreenso doscomprometimentos de crianas com TDAH, osresultados obtidos devem ser pesquisados maisdetalhadamente em pesquisas futuras. Alguns

    fatores so especialmente relevantes, tais comouso de medicao, tipo de escola, nvel scio-econmico, idade, gnero e comorbidades, entreoutros, visto que, conforme descrito na literatura(Houghton et al., 1999; Sergeant, Geurts &Oosterlaan, 2002), muitas variveis externas aos

    testes podem interferir na avaliao doscomprometimentos em distrbiosneuropsicolgicos.

    importante estudar, tambm, ascaractersticas intrnsecas a cada verso dos testesanteriormente descritos. Por exemplo, na versodescrita do Teste de Stroop, de apresentaoinformatizada, cada estmulo apresentadoisoladamente na tela, e a passagem para oprximo estmulo s realizada aps a emisso daresposta ao estmulo apresentado. Esse fatorelimina a interferncia da distrao pelaapresentao de vrios estmulos numa nicasituao, como ocorre, por exemplo, na verso deRegard (1981) em papel. Se por um lado issoelimina a interferncia da distrao, por outro ladorestringe a possibilidade de erros de resposta eaumenta o tempo de reao.

    De forma a dar continuidade s pesquisascom a aplicao de testes para avaliar funesexecutivas, novos estudos esto sendoconduzidos, buscando derivar dados normativospara crianas brasileiras, o que permitir ao

    neuropsiclogo comparar o desempenho de seuspacientes. Nesta ampla pesquisa de normatizaopodero ser estudados, de forma maisaprofundada, possveis efeitos de variveisimportantes como gnero, tipo de escola e idadesobre o desempenho nos testes neuropsicolgicosem crianas sem transtornos psiquitricos,verificando se emergem os mesmos padresobservados nas crianas com TDAH.

    REFERNCIAS

    American Psychiatric Association (2002).Manualdiagnstico e estatstico de transtornos

    mentais.Porto Alegre: Artmed.Ardila, A., & Ostrosky-Sols, F. (1996).

    Diagnstico del dao cerebral: enfoque

    neuropsicolgico. Mexico: Editorial Trillas.Assef, E. C. S. (2005). Funes executivas e

    TDAH: um estudo de evidncias de validade.

    Dissertao. Universidade So Francisco,Itatiba.

    Assef, E. C. S. & Capovilla, A. G. S. (submetido).Avaliao do controle inibitrio em TDAH

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    por meio de Teste de Gerao Semntica.Barkley, R. A. (1997). Behavioral inhibition,

    sustained attention, and executive functions:Constructing a unifying theory of ADHD.Psychological Bulletin, 121(1), 65-94.

    Benczik, E. B. P. (2000). Manual da Escala deTranstorno de Dficit de Ateno e

    Hiperatividade. So Paulo: Casa doPsiclogo.

    Bosa, C. A. (2001). As relaes entre autismo,comportamento social e funo executiva.Psicologia: Reflexo e Crtica, 14(2), 281-287.

    Capovilla, A. G. S., Cozza, H. F. P., Capovilla, F.C. & Macedo, E. C. (2005). Funesexecutivas em crianas e correlao comdesateno e hiperatividade. Temas sobre

    Desenvolvimento, 82(14), 4-14.Capovilla, A. G. S., Montiel, J. M., Macedo, E.

    C., & Charin, S. (2005). Teste de StroopComputadorizado. Programa de computador,Universidade So Francisco, Itatiba.

    Cozza, H. F. P (2005). Avaliao das funesexecutivas em crianas e correlao com

    ateno e hiperatividade. Dissertao.Universidade So Francisco, Itatiba.

    Duncan, J. (1986). Disorganization of behaviorafter frontal lobe damage. Cognitive

    Neuropsychology, 3, 271-290.

    Duncan, J., Johnson, R., Swales, M. & Frees, C.(1997). Frontal lobe deficits after head injury:unity and diversity of function. Cognitive

    Neuropsychology, 14(5), 713-741.Gazzaniga, M. S., Ivry , R. B. & Mangun, G. R.

    (2002). Cognitive neuroscience: The biologyof the mind. New York: Norton & Company.

    Gil, R. (2002). Neuropsicologia. So Paulo:Editora Santos.

    Houghton, S., Douglas, G., West, J., Whitihng,K., Wall, M., Langsford, S., Powell, L., &

    Carroll, A. (1999). Differential patterns ofexecutive function in children with attentiondeficit hyperactivity disorder according togender and subtype. Journal of Child

    Neurology, 14(12), 801-805.Montiel, J. M. & Capovilla, A. G. S. (no prelo).

    Teste de Trilhas Partes A e B. Em A. G. S.Capovilla (Org.), Teoria e pesquisa emavaliao neuropsicolgica. So Paulo:Memnon.

    Montiel, J. M. (2005). Evidncias de validade deinstrumentos para avaliao

    neuropsicolgica do transtorno de pnico.Dissertao. Universidade So Francisco,Itatiba.

    Primi, R. (2002). Bateria Informatizada deCapacidades cognitivas.Itatiba: LabAPE.

    Regard, M. (1981). Cognitive rigidity andflexibility: A neuropsychological study. EmSpreen, O. & Strauss, E. (Orgs.), Acompendium of neuropsychological tests.Oxford: Oxford University Press.

    Sergeant, J. A., Geurts, H., & Oosterlaan, J.

    (2002). How specific is a deficit of executivefunctioning for Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder? Behavior

    Brain Research, 130(1), 3-28.

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