Va 11 Completo18-02 Final (1)
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Aquicultura
Viso AgrcolaContedo tcnico com qualidade editorialAnuncie em Viso AgrcolaContedo produzido por uma instituio pioneira, com mais de cento e dez anos de ensino, pesquisa e extenso, reconhecida no Brasil e no Exterior. Viso Agrcola atinge um pblico especializado, composto por profissionais, empresrios, estudantes e tcnicos das diversas reas das cincias agrrias.
Av. PduA diAs n11 CP 9 PirACiCAbA sP 13418-900
PrdiO dA CuLTurA E EXTEnsO
PAbX: (19) 3429.4100 FAX: (19) 3429.4249
www.EsALq.usP.br
Assine ou adquira um exemplarViso Agrcola chega com este exemplar sua dcima primeira edio, cada uma delas enfocando de forma abrangente e detalhada uma rea relevante da agricultura brasileira. As edies anteriores continuam disponveis para os interessados: n 1 Cana-de-acar
n 2 Ctrus
n 3 Bovinos
n 4 Florestas
n 5 Soja
n 6 Algodo
informaes
Revista Viso AgrcolaTel./fax: (19) [email protected]/visaoagricola
Faa seu pedido por fax ou pelo Correio (Formulrio pg. 158) Nmero avulso: R$ 30,00Assinatura anual (duas edies): R$ 50,00 (inclui postagem em territrio nacional)
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USP ESALQ ANO 8 jUL | dEz 2012 11
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Incentivos fizeram setor dar saltos expressivos
n 7 ps-Colheita
n 8 Agroenergia
n 9 plantio Direto
n 10 Agricultura e Sustentabilidade
n 11 Aquicultura
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CRESCIMENTO pORCENTual
Da DEMaNDa SupERa
ExpECTaTIvaS
MElHORaMENTO TORNa
TIlpIa vaRIEDaDE MaIS
COMpETITIva
SETOR aMplIa aES
paRa REDuzIR
IMpaCTO aMbIENTal
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MaNTM????
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D ao homem um peixe e ele se alimentar por um dia. Ensine um homem a pescar e ele se alimentar por toda a vida. Este antigo provrbio chins (atribudo a Lao-Ts, importante filsofo da China antiga, conhecido como o autor do Tao Te Ching, obra basilar da filosofia taosta) continua trazendo a mensagem intrnseca e figurada com relao necessidade do desenvolvimento contnuo e sistemtico de nossos profissionais.
Literalmente, ao longo dos tempos, a ESALQ vem dis-ponibilizando peixes de porte e certamente proporcio-nando diversas oportunidades do ensinar a pescar a partir de uma srie de contribuies de membros de sua comunidade aquicultura brasileira.
Tal como j vem sendo observado em diversos pases que detm uma clara e bem definida orla martima, assim como um sistema fluvial extenso e bem capilarizado, o segmento brasileiro de pesca comea a ser tratado de forma destacada (e integrada agricultura) por nossas lideranas polticas (autoridades federais, em particu-lar), de tal maneira que um ministrio ou mesmo uma secretaria (com status de ministrio) especializados passam a ser agentes fundamentais para a acelerao do crescimento desse ambiente, que est sendo tratado nesta edio nmero 11 de nossa Viso Agrcola.
Portanto, o desafio, um pouco distinto daquele preco-nizado pelo provrbio chins, a obteno do equilbrio de foras voltadas ao se dar o peixe e ao se ensinar a pescar. Boa leitura!
Jos Vicente Caixeta Filho
Diretor da USP/ESALQ
Editorial
1viso agrcola n11 jul | dez 2012
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ISSN 1806-6402
www.esalq.usp.br/visaoagricola
PotENCiaiS do SEtor instrumentos disponveis podem melhorar uso de nossos potenciais hdricos 9
Marcos Vinicius Folegatti, Alba Maria Guadalupe Orellana Gonzlez e Rodrigo Mximo Snchez-Romn
rede Aquabrasil promove sade e qualidade ao pescado brasileiro 13Jorge Antonio Ferreira de Lara
novas formas de comercializao ampliam retornos a produtores 15Joo Donato Scorvo Filho, Clia Dria Frasca Scorvo e Alceu Donadelli
SEGMENtoS da aquiCultura Com excelentes condies ambientais, piscicultura marinha carece de investimentos 18
Ronaldo Olivera Cavalli
Demanda faz crescer interesse por criao de camares em estufas 24Dariano Krummenauer, Gabriele Rodrigues de Lara e Wilson Wasielesky Jnior
Cultivo em bioflocos (BFT) eficaz na produo intensiva de camares 28Geraldo Kipper Fes, Carlos Augusto Prata Gaona e Lus Henrique Poersch
ranicultura se consolida com cadeia produtiva operando em rede interativa 33Andre Muniz Afonso
MEio aMBiENtE Boas prticas aqucolas (BPA) em viveiros garantem sucesso da produo 36
Jlio Ferraz de Queiroz
Certificao e selos de qualidade asseguram requisitos na produo 40Fernanda Garcia Sampaio e Mirella de Souza Nogueira Costa
Prs e contras da aplicao de pesticidas na aquicultura 45Rafael Grossi Botelho, Paulo Alexandre de Toledo Alves, Lucineide Aparecida Maranho,
Srgio Henrique Monteiro, Bruno Inacio Abdon de Sousa, Debora da Silva Avelar e Valdemar Luiz Tornisielo
Off-flavour em peixes cultivados , ainda, dificuldade para produo nacional 49Alexandre Matthiensen, Juliana Antunes Galvo e Jair Sebastio da Silva Pinto
Cultivo aqutico sustentvel implica monitoramento de cianobactrias 54Juliana Antunes Galvo, Maria do Carmo Bittencourt-Oliveira, Marlia Oetterer
Ambiente e biorremediao de efluentes da aquicultura 56Antonio Fernando Monteiro Camargo e Matheus Nicolino Peixoto Henares
GENtiCa E rEProduo Tilpias do nilo tm programa de melhoramento gentico em curso 61
Ricardo Pereira Ribeiro, Carlos Antonio Lopes de Oliveira, Emiko Kawakami de Resende, Lauro Vargas, Luiz Alexandre Filho e Angela Puchnick Legat
Produtividade depende da conjugao de fatores diversos 65Alexandre Wagner Silva Hilsdorf e Laura Helena rfo
Manejos de gametas e embries exigem programao hormonal 69Danilo P. Streit Jr.; Jayme A. Povh; Darci C. Fornari
SEES Editorial 1 FruM 4 A importncia da pesquisa para o desenvolvimento da cadeia produtiva da aquicultura Eric Arthur Bastos Routledge e colaboradores
rEPortaGEM 86 Para atingir seu potencial, setor do pescado deve ser prioridade Extrao marinha almeja mais qualidade do que quantidade Aquabrasil fez melhoramento de espcies prioritrias por regies
iNoVaES tECNolGiCaS 154 tEMaS
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Nutrio
73 Ma nejo a l im enta r ef ica z v i abi l i za aquacultura lucrat i v a e susten tv el Jos Eurico Possebon Cyrino 77 nutrio adequada a cada espcie desafio para pesquisa e produo lvaro Jos de Almeida Bicudo e Eduardo Gianini Abimorad 80 Preveno de doenas em peixes tem nutrio como fator determinante Ricardo Yuji Sado e lvaro Jos de Almeida Bicudo
83 Alimentao determinante na cadeia da piscicultura ornamental Leandro Portz e Welliton Gonalves de Frana
SaNidadE E qualidadE 103 Preveno de doenas evita mortalidade e reduz custos Andra Belm-Costa 105 Getep soma estudo, indstria e comunidade na busca por qualificao Luciana Kimie Savay-da-Silva, Juliana Antunes Galvo e Marlia Oetterer
108 rastreabilidade permite busca de solues para inconformidades Juliana Antunes Galvo, rika da Silva Maciel e Marlia Oetterer
111 Atendimento a normas e padres deve considerar mercado alvo Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva, Rubia Yuri Tomita, Erika Fabiane Furlan e Marildes Josefina Lemos Neto
115 Aquicultura internacional vive quadro de expanso e concorrncia aguerrida Carlos A. M. Lima dos Santos
ProCESSaMENto 118 Minced e surimi de tilpia congelados atraem consumidor Maria Fernanda Calil Angelini, Luciana Kimie Savay-da-Silva e Marlia Oetterer
120 Produtos do pescado esto a servio da gastronomia no mundo Marlia Oetterer, Luciana Kimie Savay-da-Silva e Juliana Antunes Galvo
124 Gastronomia molecular une a cincia arte culinria Marlia Oetterer, Luciana Kimie Savay-da-Silva e Juliana Antunes Galvo
128 os desafios para manter o pescado fresco e com qualidade gastronmica Marlia Oetterer, Juliana Antunes Galvo e Luciana Kimie Savay-da-Silva
131 refrigerao correta do pescado mantm valor nutritivo do produto Marlia Oetterer, Luciana Kimie Savay-da-Silva e Juliana Antunes Galvo
134 Uso do gelo pea-chave na conservao do pescado Marlia Oetterer, Luciana Kimie Savay-da-Silva e Juliana Antunes Galvo
137 Congelamento o melhor mtodo para a conservao do pescado Marlia Oetterer, Luciana Kimie Savay-da-Silva e Juliana Antunes Galvo
140 Componentes funcionais de peixes previnem doenas e promovem sade Lia Ferraz de Arruda, Ligiane Din Shirahigue e Marlia Oetterer
142 Tecnologias emergentes prolongam caractersticas do pescado in natura Marlia Oetterer, Luciana Kimie Savay-da-Silva e Juliana Antunes Galvo
MErCado E CoNSuMo 145 Consumo de pescado no Brasil fica abaixo da mdia internacional Daniel Yokoyama Sonoda e Ricardo Shirota
148 A complexa avaliao do consumo de pescado Erika da Silva Maciel, Juliana Antunes Galvo e Marlia Oetterer
SuStENtaBil idadE 150 Aproveitamento de resduos reduz desperdcios e poluio ambiental Lia Ferraz de Arruda Sucasas, Ricardo Borghesi e Marlia Oetterer
152 Produtores e cientistas buscam novas prticas que protejam o meio ambiente Lia Ferraz de Arruda Sucasas, Juliana Antunes Galvo, Ricardo Borghesi e Marlia Oetterer
-
FruM
o desenvolvimento do potencial da aqui-
cultura que nenhum outro pas nas con-
dies do Brasil ignoraria poder estabe-
lecer novas fronteiras para a diversificao
da economia brasileira, com a explorao
da gua no somente como insumo bsico
para a produo agrcola e animal, mas,
principalmente, como territrio para
ampliao da produo de alimentos asso-
ciada gerao de riqueza. A aquicultura
representa uma atividade produtiva que
vem crescendo no pas, principalmente
nas regies norte e Centro-oeste, onde
muitos produtores rurais esto diversifi-
cando a produo. A ltima estatstica do
Ministrio da Pesca e Aquicultura (MPA)
apontou uma produo oriunda da aqui-
cultura de cerca de 480 mil toneladas, em
A importncia da pesquisa para o desenvolvimento da cadeia produtiva da aquicultura
Eric Arthur Bastos Routledge e colaboradores*
2010, e estima-se que, para 2012, a produ-
o possa atingir aproximadamente 600
mil toneladas. Tal fato positivo; porm,
levanta questes diversas, dentre as quais:
como crescer mais em nveis sustentveis e
como alcanar o status de outras cadeias
da produo animal? Como aproveitar o
crescimento do mercado interno a partir
do aumento da qualidade de vida e do
consumo das famlias brasileiras para
estimular a produo nacional de pescado,
e no as importaes?
inevitavelmente, esses questionamen-
tos remetem demanda da gerao de
conhecimentos, desenvolvimento de pes-
quisas e incremento da inovao tecnol-
gica. A chave o investimento em pesquisa
e tecnologia, no longo prazo, visando ao
aumento da competitividade da indstria
nacional de pescado, seja pela reduo de
custos de produo, como pela introduo
de novos produtos e processos ou, ainda,
pelo aperfeioamento destes. So muitos,
portanto, os desafios para a aquicultura
no Brasil. Entre as diversas perspectivas
para a expanso do setor esto a implan-
tao de parques aqucolas em guas de
domnio da Unio, a diversificao dos
cultivos utilizando espcies nativas, o
desenvolvimento da piscicultura marinha
e a adoo de novos conceitos, tecnologias
e mtodos de produo, como o cultivo
em sistema de bioflocos, a maricultura em
sistemas off-shore, o desenvolvimento
de cultivos multitrficos e a automao
de processos.
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Colheita do consrcio milho com Brachiaria ruziziensis no oeste baiano
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Despesca em rea de cultivo; Palmas, TO, 2012
-
Tabela 1 | quanTiTaTivo e recursos aporTados em projeTos de pesqui-sa por meio de ediTais conjunTos do mpa e mcTi; 2003 a 2010
ano nmero de projeTos recursos em r$
2003 39 R$ 1.999.564,70
2004 0 R$ 0,00
2005 30 R$ 3.232.795,86
2006 19 R$ 2.141.090,65
2007 11 R$ 1.055.154,61
2008 39 R$ 9.500.000,00
2009 15 R$ 7.300.000,00
2010 93 R$ 25.000.000,00
Fonte: Ministrio da Pesca e Aquicultura (MPA).
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FruM
o Brasil possui condies geogrficas
e climticas favorveis para a atividade:
elevada produo de gros insumo para
a fabricao de rao , abundncia de
recursos hdricos e localizao estratgica
para escoamento da produo para toda
a Amrica e Europa. Porm, no campo da
pesquisa e inovao, ainda h muito a ser
feito. o que vemos que a tilpia (Oreo-
chromis niloticus) e o camaro-branco
do pacfico (Litopenaeus vannamei),
ambas espcies exticas, vm dando
condies estruturao de uma cadeia
produtiva na aquicultura. Entretanto, o
desenvolvimento de pesquisas e o esta-
belecimento de sistemas de produo tm
possibilitado o aumento do espao para as
espcies nativas, muito tambm devido
ao apelo dos peixes da Amaznia e do
Pantanal, como o tambaqui (Colossoma
macropomum), o pirarucu (Arapaima
gigas) e o surubim-pintado (Pseudopla-
tystoma spp.).
A falta de foco na definio das deman-
das de pesquisa ainda existe, provocada
muitas vezes pela grande quantidade de
espcies nativas com potencial zootc-
nico e pela existncia de gargalos tecno-
lgicos nas diferentes etapas de cultivo,
beneficiamento e comercializao. Pre-
domina, tambm, uma baixa cultura da
academia em transformar os resultados
das pesquisas em produtos e processos
aplicados resoluo dos entraves do
setor, assim como h uma carncia de
recursos humanos preparados para a
realidade da indstria e de infraestruturas
mais modernas para execuo de pesqui-
sa, e pelo baixo investimento do setor
privado. Ainda necessrio que haja uma
maior interao entre a academia e o setor
produtivo, caracterstica imprescindvel
para que as demandas sejam levantadas
e atendidas, bem como um efetivo dilogo
com o governo para subsidiar o desenvol-
vimento de diretrizes e polticas pblicas
ao setor.
o MPA tem adotado diferentes estrat-
gias para fomentar a pesquisa nas reas
de pesca e aquicultura no Brasil, como a
elaborao e o lanamento de chamadas
pblicas (editais), ferramenta que promo-
ve a ampla concorrncia de forma trans-
parente, com apoio fundamentado na
meritocracia das propostas. Estes editais
de demanda induzida visam resoluo
de problemas estruturais relacionados
Tanques para produo de alevinos; Zacarias, SP, 2012
6
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Figura 2 | disTribuio regional do nmero de projeTos de pesquisa Financiados por ediTais conjunTos do mpa e mcTi; 2003 a 2010
Fonte: Ministrio da Pesca e Aquicultura (MPA).
Figura 1 | recursos aporTados em projeTos de pesquisa por meio de ediTais conjun-Tos do mpa e mcTi; 2003 a 2010*
infraestrutura de pesquisa e formao
e qualificao de recursos humanos, bem
como estimulam a formao de redes de
pesquisa multi-institucionais e multidis-
ciplinares em reas estratgicas com base
em demandas levantadas pelo MPA e no
mbito do Conselho nacional de Aquicul-
tura e Pesca (Conape), entre outros fruns.
Desde 2003, foram lanados 11 editais,
resultado da parceria entre o MPA e o Mi-
nistrio de Cincia, Tecnologia e inovao
(MCTi) e suas agncias de fomento o
Conselho nacional de Desenvolvimento
Cientfico e Tecnolgico (CnPq) e a Fi-
nanciadora de Estudos e Projetos (Finep).
Foram financiados 262 projetos e conce-
didas cerca de 500 bolsas de estudo nos
nveis tcnico, de graduao e ps-gradu-
ao, com aporte de, aproximadamente,
r$ 60 milhes. Cerca de 80% dos projetos
trataram exclusivamente de pesquisas em
reas da aquicultura, tais como: melhora-
mento gentico, nutrio, manejo, engor-
da, reproduo e sanidade de organismos
aquticos, dentre outras. Tal demanda
reflete o interesse em desenvolver o
potencial da atividade diante da falta de
perspectivas de expanso da pesca.
Quanto distribuio do quantitativo
desses projetos de pesquisa por regio
geogrfica brasileira, percebe-se maior
concentrao na regio Sul, seguida da
regio Sudeste. Este fato reflete, dentre
outros fatores, a presena nessas regies
de um maior nmero de instituies de
ensino e pesquisa que atuam h anos com
a temtica da pesca e/ou aquicultura e
que possuem cursos de graduao e/ou
ps-graduao especficos nessas reas
ou em reas de grande interface, bem
como infraestrutura compatvel. Tambm
considervel o quantitativo de projetos
apoiados na regio norte devido ao lan-
amento de editais com foco na regio
amaznica. Por outro lado, verifica-se,
ainda, grande carncia na capacidade ins-
talada nas regies norte e Centro-oeste,
em relao s demais. vale destacar que
este problema vem sendo considerado no
escopo do planejamento, estruturao e
execuo das polticas do MPA, para uma
melhor distribuio e desenvolvimento
do setor entre as diversas regies do pas.
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
20
40
60
80
100
120
0,0
5,010,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
Recursos R$Nmero de projetos
Tanques para produo de alevinos; Zacarias, SP, 2012
*O valor mdio financiado por projeto foi de R$ 167.910,00.
Fonte: Ministrio da Pesca e Aquicultura (MPA).
7viso agrcola n11 jul | dez 2012
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FruM
Considerando-se a necessidade de
que as prioridades intersetoriais de cada
regio sejam critrios que pautem a foca-
lizao dos investimentos de futuras aes
governamentais, importante notar que
as regies divergem no que se refere im-
portncia econmica da atividade aquco-
la. Apesar do crescente fomento a projetos
de pesquisa nos ltimos anos, h espao
para melhor organizar a demanda, dando
foco em reas estratgicas e espcies
prioritrias a serem trabalhadas em m-
bito nacional e regional. outra constante
necessidade refere-se ao estabelecimento
de ferramentas para acompanhamento e
avaliao desses projetos, como forma
de exigir a transferncia adequada dos
resultados e que no se limitem ao aten-
dimento dos indicadores tradicionais de
cincia e tecnologia, de forma a contribuir
para aes posteriores de transferncia da
tecnologia desenvolvida, assim como para
a evoluo do setor e reconhecimento da
sociedade.
Esta , tambm, a perspectiva do Con-
srcio Brasileiro de Pesquisa e Desen-
volvimento (P&D) e Transferncia de
Tecnologia (TT) em Pesca e Aquicultura
(CBPA), cuja proposta est em fase de dis-
cusso para sua posterior implementao.
Tal consrcio tem sido discutido entre o
MPA e a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuria (Embrapa), e contar com
envolvimento de representantes dos elos
da cadeia produtiva aqucola, incluindo
outras instituies de pesquisa, exten-
so e fomento. Para amparar o fomento
regular de pesquisas e o funcionamento
do consrcio, um estudo de viabilidade
para a criao de um fundo setorial para
a aquicultura atrelado ao Fundo nacional
de Desenvolvimento Cientfico e Tecno-
lgico (FnDCT) est sendo desenvolvido
entre o MPA e o MCTi com base na Classifi-
cao nacional de Atividades Econmicas
(Cnae).
outro mecanismo que contribuir para
a soluo dos entraves da P,D&i em aqui-
cultura a busca por investimentos na
formao e na capacitao dos recursos
humanos brasileiros. nesse sentido, o
MPA tem se articulado com o MCTi e a Co-
ordenao de Aperfeioamento de Pesso-
al de nvel Superior (Capes) para sensibili-
zar a incluso da aquicultura no mbito do
Programa Cincia Sem Fronteiras (www.
cienciasemfronteiras.gov.br), para que
sejam financiadas bolsas de estudos de
graduao e ps-graduao nas principais
instituies de pesquisa do mundo que
atuam com aquicultura e/ou pesca, assim
como atrair profissionais de referncia in-
ternacional para atuarem como docentes
e pesquisadores temporrios vinculados
s instituies brasileiras. Adicionalmen-
te, destaca-se que, sendo a aquicultura
uma rea multidisciplinar, alm das linhas
de pesquisa tradicionalmente estudadas,
deve-se buscar a realizao de estudos
mais abrangentes, que envolvam diversas
reas, como economia, logstica, admi-
nistrao, direito, e tambm estudos de
mercado. visando ganhar tempo, ser
importante induzir o envolvimento de
pesquisadores e estudiosos que geraram
as condies para desenvolver o sucesso
atual das diferentes cadeias produtivas
da agropecuria brasileira para aplicar a
expertise adquirida na aquicultura.
Alm disso, deve-se incentivar a mu-
dana na poltica das empresas tradi-
cionais para que se transformem em
empresas inovadoras, investindo em
pesquisa e contratando pesquisadores,
sendo fundamental para a mudana de
perfil do setor. Atrelado a esta ao, tem-
-se buscado aumentar os mecanismos
e as ferramentas governamentais de
incentivo atividade inovadora, assim
como divulg-los para as empresas. A
aquicultura vem ganhando ateno de
todo o governo federal e considerada
rea prioritria na nova poltica indus-
trial, intitulada Plano Brasil Maior, sob a
coordenao do Ministrio da indstria,
Desenvolvimento e Comrcio Exterior
(MDiC) e, tambm, na Estratgia nacional
de Cincia, Tecnologia e inovao (Encti),
poltica lanada em dezembro de 2011 e
coordenada pelo MCTi.
Um trabalho integrado, inclusive no
meio governamental, vital para a con-
solidao de toda a cadeia produtiva da
aquicultura, pois nenhuma organizao
detm todas as competncias, assim como
recursos, capacidade e capilaridade de
execuo.
* Eric Arthur Bastos Routledge bilogo, pesquisador da Embrapa e, atualmente, Coordenador Geral de Pesquisa e Gerao de Novas Tecnologias do Ministrio da Pesca e Aquicultura ([email protected]).Guilherme Brigo Zanette engenheiro de aquicultura e chefe de diviso do Ministrio da Pesca e Aquicultura ([email protected]); Elisa Couti-nho de Lima Saldanha biloga e assessora tcnica do Ministrio da Pesca e Aquicultura ([email protected]); Rodrigo Roubach bilogo, pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia (INPA/MCTI) e coordenador geral de Planejamento e Ordenamento da Aquicultura Marinha em Estabelecimentos Rurais e reas Urbanas do Ministrio da Pesca e Aquicultura (MPA) ([email protected]).
8
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JEFFErSon ChriSToFoLETTi/EMBrAPA AQUiC. E PESCA
Planejamento
instrumentos disponveis podem melhorar uso de nossos potenciais hdricosMarcos Vinicius Folegatti, Alba Maria Guadalupe Orellana Gonzlez e Rodrigo Mximo Snchez-Romn*
PotENCiaiS do SEtor
Represa; Palmas, TO, 2012
9viso agrcola n11 jul | dez 2012
-
Fonte: Conjuntura Recursos Hdricos no Brasil, Informe 201, Agncia Nacional de guas (ANA).
Figura 1 | balano quanTiTaTivo: relao enTre demanda e disponibilidade hdrica superFicial; 2011
PotENCiaiS do SEtor
o Brasil privilegiado por ter em seu
territrio 12% da gua doce do planeta,
sendo que 70% desta esto na regio hi-
drogrfica amaznica (a maior do mundo
em disponibilidade de gua) e os 30%
restantes distribudos nas outras onze
regies hidrogrficas do pas. Contra-
pondo-se a essa grande disponibilidade
de gua e solo, observam-se grandes
concentraes populacionais em bacias
hidrogrficas em situaes crticas, tendo
em vista a grande demanda em relao
oferta de gua (Figura 1). o que nos
falta? onde est o grande problema?
Talvez a resposta resuma-se em uma
nica palavra: planejamento. E, diante
da intensa falta de planejamento, o Brasil
tem a grande oportunidade de organizar
os usos mltiplos da gua, com ativa
participao da sociedade, por meio da
Lei das guas (n. 9433/97), utilizando-se
de cinco importantes instrumentos, que
so recursos que a prpria lei dispe para
sua materializao. So eles:
Plano de recursos hdricos das Bacias
hidrogrficas So planos diretores
de longo prazo e visam fundamentar e
orientar o gerenciamento dos recursos
hdricos, estabelecendo prioridades
compatveis com os perodos estabeleci-
dos de implantao de seus programas e
projetos. Destaca-se aqui a importncia
do instrumento, que, uma vez estabeleci-
do, sofrer pequenos ajustes peridicos.
A cada processo de escolha dos cole-
giados procurar-se- escolher entre os
candidatos os mais qualificados para dar
continuidade ao plano preestabelecido.
Enquadramento dos corpos dgua
Estabelece o nvel de qualidade a ser al-
canado ou mantido ao longo do tempo.
Este um instrumento de planejamento,
pois considera o nvel de qualidade que
deveria possuir ou ser mantido para
atender s necessidades estabelecidas
pela sociedade, e no apenas a condio
atual em que se encontra o corpo dgua
em questo. A classe de enquadramento
de um corpo dgua deve ser definida em
um pacto acordado pela sociedade em
funo das prioridades de uso, e a dis-
10
-
Figura 2 | esquema de uma bacia hidrogrFicacusso e o estabelecimento desse pacto
ocorrem no mbito do Sistema nacional
de Gerenciamento de recursos hdricos
(Singreh). o enquadramento referncia
para os instrumentos de outorga e co-
brana pelo uso da gua, e instrumentos
de gesto ambiental (licenciamento e
monitoramento), sendo uma conexo
importante entre o Singreh e Sistema
nacional de Meio Ambiente (Sisnama).
outorga de direito de uso de recursos
hdricos o objetivo assegurar os con-
troles quantitativo e qualitativo dos usos
da gua e o efetivo exerccio dos direitos
de acesso aos recursos hdricos. , por-
tanto, um ato administrativo mediante o
qual o poder pblico outorgante (Unio,
Estado ou Distrito Federal) faculta ao
outorgado o direito de uso dos recursos
hdricos, por prazo determinado, nos
termos e nas condies expressas no
respectivo ato. Dentre os vrios usos que
dependem de outorga esto os que alte-
ram o regime, a quantidade e qualidade
da gua existente em um corpo dgua.
Cobrana pelo uso da gua visa
estimular o uso racional da gua e gerar
recursos financeiros para investimentos
e preservao dos mananciais das bacias.
A cobrana um pacto condominial, fixa-
do pelos usurios de gua participantes
do comit de bacia.
Sistema nacional de informaes
Sobre recursos hdricos (Snirh) rene
e divulga dados e informaes sobre a
situao qualitativa e quantitativa dos
recursos hdricos no Brasil. Alm disso,
atualiza permanentemente as informa-
es sobre disponibilidade e demanda
de recursos hdricos e fornece subsdios
para a elaborao dos Planos de recur-
sos hdricos das Bacias hidrogrficas.
AtividAde multidisciplinArA aquicultura uma prtica produtiva,
fonte de alimentos, realizada desde os
primrdios das civilizaes. registros
histricos evidenciam o uso da tcnica
pelos chineses e egpcios na poca dos
faras, os quais utilizavam um sistema
muito simples, que consistia no arma-
zenamento de exemplares imaturos
de diversas espcies, sem utilizao
de insumos e recursos sofisticados. A
aquicultura considerada uma atividade
multidisciplinar, que visa ao cultivo de
diversos organismos aquticos, tais como
plantas aquticas, moluscos, crustceos e
peixes. A interveno humana pretende
aumentar a produo de massa alimentar
por metro quadrado de espelho de gua,
mediante o manejo do processo da cria-
o dos indivduos.
na aquicultura os organismos ma-
nejados, geralmente num espao con-
finado e controlado, so de ambiente
predominantemente aqutico, em qual-
quer fase de desenvolvimento. Assim,
a prtica pode demandar e consumir
recursos naturais, como gua, energia
e solo. Portanto, existe a necessidade
de racionalizao e gesto destes. A
aquicultura sustentvel prope-se pela
produo lucrativa, com a conservao
dos recursos naturais e a promoo do
desenvolvimento social. nos ltimos
vinte anos, a aquicultura vem ganhando
espao importante como fonte de renda
e como fonte de alimentos. Destaca-se,
no Brasil, a aquicultura em guas conti-
nentais, ou seja, a atividade desenvolvida
nos corpos de gua inseridos nas bacias
hidrogrficas. Esta atividade, portanto,
ser afetada pela Lei 9.433/97 e pela Lei
da Pesca e Aquicultura. Ainda em 2009
foi aprovada a resoluo n. 413/2009 do
Conselho nacional do Meio Ambiente
(Conama), que considera a aquicultura
uma atividade de baixo impacto e sim-
plifica o licenciamento ambiental para
empreendimentos no ramo.
BrAsil e mundoo Brasil, com 8.400 km de costa martima
e 5,5 milhes de hectares em reservat-
rios de gua doce, tem grande potencial
para o desenvolvimento da aquicultura
(Seap, 2007). As razes principais para
alavancar a aquicultura no Pas so
a grande disponibilidade de recursos
hdricos, clima extremamente favor-
vel, disponibilidade de mo de obra e
crescente demanda do mercado interno.
A aquicultura est presente em todos
os estados brasileiros. As modalidades
principais so: piscicultura (criao de
Fonte: Paula Lima, 2008.
1 1viso agrcola n11 jul | dez 2012
-
peixes), carcinicultura (camares), rani-
cultura (rs) e malacocultura (moluscos,
ostras, mexilhes, escargot). outras mo-
dalidades de produo aqutica tambm
so praticadas, mas em menor escala
(ibama, 2004), como o cultivo de algas.
Pelo ritmo de crescimento populacional
mundial, estima-se, para o ano de 2025,
uma populao em torno de 8,5 bilhes
de pessoas, que apresentar uma deman-
da por peixes na ordem de 162 milhes
de toneladas, baseando-se no consumo
preconizado pela FAo, que de 25 kg per
capita/ano.
A aquicultura cresce mais rapidamente
que todos os outros setores da produo
animal mundial, a uma taxa anual mdia
de 8,8% desde 1970. A taxa mdia de cres-
cimento para os sistemas de produo de
animais terrestres de 2,8% ao ano (FAo,
2007). Alguns fatores tm sido fundamen-
tais para o desenvolvimento da aquicul-
tura mundial. Dentre eles, pode-se citar
(i) a garantia de produtos de qualidade, o
que leva a uma maior segurana alimen-
tar da populao; e (ii) a possibilidade
de produo em reas antes tidas como
imprprias para o cultivo de peixes,
por meio da utilizao de sistemas que
otimizem o uso dos recursos hdricos,
como os tanques-rede e os sistemas de
reutilizao de gua (FAo, 2007).
Existem duas possibilidades para se
explorar a gua na aquicultura. So elas:
a explorao em territrio continental ou
a produo martima. no Brasil, cerca de
70% da produo proveniente do conti-
nente (ibama, 2008), que vem crescendo
devido disponibilidade de extenses
de terra passveis de serem destinadas
atividade, a grandes volumes de gua
doce de boa qualidade e adaptabilidade
das espcies.
Aspectos AmBientAiso primeiro pensamento em relao aos
aspectos ambientais da aquicultura cos-
tuma ser o consumo e a destinao do uso
de gua pelo setor. Entretanto, recursos
como disponibilidade de terra, espao
fsico e o prprio consumo de gua pas-
sam como variveis secundrias em uma
avaliao de negcios. outras fontes de
insumos so trabalhadas com destaque,
como questes relacionadas aos alevinos
e s raes. o sistema produtivo adotado
poder gerar mais ou menos interfe-
rncias ambientais, conforme sua con-
cepo, e, de forma simplista, reunido
em funo de produtividade (extensivo,
semi-intensivo ou intensivo), nmero
de espcies envolvidas, monocultura
ou policultura e compartilhamento
consrcio com outras espcies que no
aquelas exclusivamente aquticas. As
trs prticas de produtividade podem
ser resumidas da seguinte forma: a)
extensiva explorao feita em audes,
lagoas, represas e outros mananciais,
nos quais no h interferncia contra
predadores, qualidade da gua, alimento;
b) semi-intensiva existe a interferncia
em relao ao alimento, fertilizao da
gua com suplementos; c) intensiva uso
de raes balanceadas em virtude da alta
densidade de indivduos.
desenvolvimentoA lei 9.433 de 1997, que trata da Poltica
de Gesto integrada dos recursos hdri-
cos, estabelece que a Bacia hidrogrfica
(Figura 2) a unidade de planejamento
desses recursos. importante considerar
o impacto da atividade sobre tais recur-
sos, j que sero includos vrios centros
de cultivo mais ou menos integrados
(uma rea aqucola), os quais partilham
um corpo de gua comum e que precisam
ter uma gesto integrada.
o impacto socioambiental de uma
granja aqucola pode ser marginal para o
ecossistema. no entanto, quando se con-
sideram os impactos acumulativos de um
conjunto de granjas (por exemplo, a eu-
trofizao), a situao pode ser diferente.
Quando no se conta com uma gesto
integrada, a aquicultura pode afetar as
funes e os servios ecossistmicos da
Bacia hidrogrfica. Assim, fundamental
considerar os impactos da atividade
aqucola e das outras atividades eco-
nmicas que se desenvolvem na mesma
Bacia a fim de preservar a qualidade da
sua gua e sua biodiversidade.
* Marcos Vinicius Folegatti professor no Departamento de Engenharia de Biossiste-mas, USP/ESALQ ([email protected]); Alba Maria Guadalupe Orellana Gonzlez ps--doutoranda no Departamento de Engenha-ria Rural, da Faculdade de Cincias Agron-micas, Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho ([email protected]); Rodrigo Mximo Snchez-Romn professor no Departamento de Engenharia Rural, da Faculdade de Cincias Agronmi-cas, Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho ([email protected]).
refernciAs BiBliogrficAsAGnCiA nACionAL DE GUAS (AnA). Conjun-
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SECrETAriA ESPECiAL DE AQUiCULTUrA E PESCA (Seap), 2007. Aquicultura no Brasil: o desafio crescer. 2008. Disponvel em: .
PotENCiaiS do SEtor
12
-
A aquicultura surgiu como uma estrat-
gia para suprir a lacuna entre a captura
pesqueira mundial e a demanda por
pescado, implicando o desenvolvimen-
to de tecnologias slidas, necessrias
promoo sustentvel da atividade
aqucola. o projeto rede Aquabrasil visa
promoo desse desenvolvimento e ao
atendimento das principais demandas
da cadeia produtiva, especialmente na
obteno de alevinos geneticamente
melhorados, respondendo aos requeri-
mentos nutricionais e s boas prticas
de manejo que garantam sade e qua-
lidade na produo de pescado para
processamento industrial. As espcies
priorizadas para o atendimento das
demandas nacionais e regionais foram
baseadas em aspectos da realidade de
produo e consumo. So elas: camaro-
-branco (L. vannamei), tilpia (Oreo-
chromis niloticus), tambaqui (Colosso-
ma macropomum) e surubim-cachara
(Pseudoplatystoma fasciatum).
A rede Aquabrasil subdivide-se nos
seguintes projetos componentes: gesto,
melhoramento gentico, sanidade, nutri-
o, gesto e manejo ambiental e apro-
veitamento agroindustrial, cada qual com
objetivos e metas para as quatro espcies
escolhidas. Participam do projeto 14 uni-
dades de pesquisa da Embrapa, 17 universi-
dades e instituies de pesquisa federais e
estaduais, quatro empresas pblicas e sete
empresas privadas. Como metas, pretende-
-se: o melhoramento gentico dos animais;
a obteno de raes de baixo custo, baixos
impactos ambientais e com maiores valores
nutricionais; a minimizao dos impactos
rede Aquabrasil promove sade e qualidade ao pescado brasileiroJorge Antnio Ferreira de Lara*
Tambaqui, uma das espcies priorizadas pela Rede Aquabrasil; 2012
JEFFErSo
n Ch
riSTo
FoLETTi/EM
BrA
PA A
QU
iC. E PESCA
13viso agrcola n11 jul | dez 2012
-
causados por doenas e pelo estresse ao
pescado; a adoo de boas prticas de ma-
nejo, de modo a se obterem produtos com
melhor qualidade nutricional e sanitria e
de padro comercial competitivo, com alto
valor agregado, capazes de atender aos
mercados nacional e internacional.
competncia do Conselho Consultivo os
planos de ao dos projetos componentes,
a incluso dos resultados e o andamento
das atividades do plano de ao.
o ltimo nvel se d por meio de
workshops anuais para avaliao de
resultados e encaminhamento de solu-
es para possveis problemas comuns,
alm do delineamento de estratgias de
difuso, transferncia de informaes e
divulgao das tecnologias produzidas. o
desafio de transferir o contedo gerado
pelos pesquisadores e aumentar o nmero
de resultados e participantes da rede um
foco permanente para uma equipe que atua
coesa e de forma sinrgica.
resultAdos 2009/2011 As principais demandas de solues tec-
nolgicas esto relacionadas s limitaes
na produo, sua cadeia produtiva
que envolve melhoramento gentico,
determinao de suas exigncias nutri-
cionais, sanidade, manejo e gesto dos
sistemas de cultivo e de formas eficientes
de aproveitamento agroindustrial. Parte
dos resultados gerados pelo projeto, no
perodo 2009-2011, est apresentada nas
linhas que se seguem:
foram formadas 73 famlias de cacharas e 62 de tambaquis para programa de
melhoramento gentico;
foram realizadas seleo e avaliao de linhagens de camaro livres de pat-
genos com desempenho superior para
crescimento;
houve aumento de 28% na taxa de cresci-mento da tilpia Gift, na quarta gerao
(2010), a partir da sua introduo no
Brasil, em 2005;
foram determinadas as exigncias proteico-energticas de alevinos para
subsidiar o desenvolvimento de raes
de alto desempenho e baixo custo;
foram determinados os ingredientes para fabricao de raes para alimen-
tao de tilpias e tambaquis, cujo uso
foi testado comprovando melhoria
perceptvel no desempenho produtivo
pelo uso de probiticos nas raes;
foram desenvolvidos bioindicadores bentnicos para avaliao da qualidade
do ambiente de cultivo, alm do software
Aquisys, para monitoramento dos siste-
mas de cultivo e processamento;
boas prticas de manejo, que garantam a qualidade dos ambientes de cultivo,
foram implementadas, incluindo a pa-
dronizao de metodologias para diag-
nsticos parasitolgico, microbiolgico,
hematolgico e de coleta para exames
patolgicos, nas espcies nativas, alm
do monitoramento sanitrio com apri-
moramento dos manejos de profilaxia;
houve desenvolvimento de produtos a partir da carne e dos resduos de
filetagem, tais como: farinhas para
incluso em alimentos; couro curtido
para vesturio; tecnologia de produ-
o de fils defumados; tecnologias
de extrao de leos; padronizao
das etapas do processamento mnimo
da tilpia, bem como estabelecimento
de rotulagem para rastreabilidade;
validao de questionrio on-line
para aferir o consumo de pescado e a
qualidade de vida;
foram elaborados coprodutos a partir da otimizao da produo da silagem
de tilpia;
foi realizado o levantamento e a padro-nizao dos pontos para rastreabilidade
de fazendas produtoras de tilpias;
foi desenvolvido produto fast-food Quenelle de tilpia.
fertilizantes e produtos farmacuticos foram obtidos a partir de resduos de
beneficiamento do camaro.
* Jorge Antonio Ferreira de Lara pesqui-sador da Embrapa Pantanal ([email protected]).
refernciAs BiBliogrficAsrESEnDE. E. K. Projeto em rede Aquabrasil.
Macroprograma da Embrapa. Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento. Braslia: Embrapa Sede, 2007.
rESEnDE E. K. Bases tecnolgicas para o desen-volvimento sustentvel da aquicultura no Bra-sil Aquabrasil. Encarte Tcnico. Corumb: Embrapa Pantanal, 2011.
Logomarca da Rede Aquabrasil
AQ
UA
BrA
SiL,
200
9
modelo de gestoo Aquabrasil estruturado em trs n-
veis de ao: estratgico, consultivo e
de avaliao, por meio de workshops
anuais. o nvel estratgico composto
pelo Comit Gestor, formado pelos lde-
res e vice-lderes do projeto e dos seus
componentes. Fica a encargo do Comit
realizar o acompanhamento da execuo
do projeto, identificando os pontos de es-
trangulamento no desenvolvimento das
atividades e intervindo com solues aos
entraves identificados. Cabe presidente
do comit, Emiko resende (Embrapa
Pantanal), realizar o acompanhamento
da liberao dos recursos oramentrios,
analisar e encaminhar soluo aos pro-
blemas decorrentes de eventuais atrasos
no uso dos recursos.
o segundo nvel um Conselho Con-
sultivo formado pelo lder e vice-lder do
projeto e pelos membros indicados pelas
entidades governamentais relacionadas
ao assunto, como Ministrio da Pesca e
Aquicultura, CnPq e Ministrio da Cincia
e Tecnologia (por intermdio do CT-Agro),
tendo como funo acompanhar e avaliar
os resultados obtidos. A comunicao geral
entre os membros permanente, sendo de
PotENCiaiS do SEtor
14
-
no Brasil, a aquicultura uma atividade
que data da poca da invaso holandesa,
quando, no litoral pernambucano, havia
algumas estruturas de criao de peixes
estuarinos. A importncia econmica
da cadeia produtiva foi alavancada pela
abertura dos pesqueiros particulares, na
dcada de 1980, e com a exportao de
camaro, no incio do sculo XXi. Ante-
riormente, o nico meio de produo de
pescado era oriundo da pesca tradicio-
nal, que abastecia o mercado interno com
produtos das mais variadas formas, sem
um canal de escoamento eficiente que
possibilitasse condies do crescimen-
to da atividade. Atualmente, comum
encontrar nas redes de supermercados,
em feiras livres e outros meios de co-
mercializao o pescado proveniente da
aquicultura. o trajeto do pescado advin-
do do cultivo, passando pelas gndolas
do comrcio at a mesa do consumidor,
j se faz presente. Porm, esse no tem
sido um caminho fcil.
o Ministrio da Pesca e Aquicultura
(MPA) demonstra em dados de 2010 que,
nos ltimos anos, a produo pesqueira
brasileira est estagnada: 783.176 t em
2007, 791.056 t em 2008 e 825.164 t em
2009. Esses dados indicam que a ativida-
de no conseguir atender crescente
demanda por pescado no Brasil, e mostra
que a aquicultura passa a ter um papel
importante no cenrio de fornecimento
de pescado. o MPA relata que o consu-
mo (per capita) de pescado no Brasil
aumentou 40% em seis anos, alcanando
9,03 kg por ano e por habitante, em 2009.
Em contrapartida, segue muito abaixo da
mdia mundial e do recomendado pela
organizao Mundial da Sade (oMS).
At o incio do ano 2000, o canal de
comercializao de peixes provenientes
dos viveiros de criao eram os pes-
queiros, grandes impulsionadores do
crescimento da piscicultura continen-
tal. Tambm conhecidos como pesque
pague, os pesqueiros se espalharam
novas formas de comercializao ampliam retornos a produtoresJoo Donato Scorvo Filho, Clia Dria Frasca Scorvo e Alceu Donadelli*
Escoamento
Salmo com especiarias, embalado a vcuo sous vide; Laboratrio de Pescado, USP/ESALQ, Piracicaba, SP, 2012
PotENCiaiS do SEtor
LUCiA
nA
KiM
iE SAvAy-D
A-SiLvA
15viso agrcola n11 jul | dez 2012
-
por quase todo o territrio nacional,
localizados prximo aos pontos de pesca
tradicional, como rios, represas e lagos
(contrariando as teorias de que a pesca
em rios e represas era a forma preferida
pelos pescadores).
A tilpia est entre as espcies con-
tinentais mais comercializadas no
pas, sendo que 70% de sua produo
no estado de So Paulo so entregues
s processadoras de peixe e comercia-
lizados na forma de fil. o restante
comercializado em outros canais, como
a Companhia de Entrepostos e Arma-
zns Gerais do Estado de So Paulo
(Ceagesp) e pesque pague (Sussel, 2011).
o aquicultor deve ter conhecimento
dos canais de comercializao para
montar a estratgia de escoamento da
sua produo, de forma a obter maior
rentabilidade. A abertura de mercado
tem colocado uma gama de produtos
com preos mais baixos, atingindo a po-
pulao de menor renda e concorrendo
com o produto nacional, que apresenta
menor competitividade.
Um dos fatores que tm afetado a
competitividade do pescado nacional
a escala de produo. h algumas dca-
das, a escala de produo da aquicultura
apresentava um tamanho perfeito para
atender aos pesqueiros. Com o aumento
da produo, estimulada pelo preo
pago pelos pesqueiros e, tambm, pela
diminuio destes estabelecimentos co-
merciais, a oferta ultrapassou a demanda.
Esse fato ocasionou uma desvalorizao
do pescado e fez os aquicultores procu-
rarem novos canais de comercializao.
Uma das sadas para o aumento do es-
coamento da produo foi encaminhar
o pescado ao mercado atacadista, que
uma tradicional forma de comerciali-
zao de pescado oriundo da captura e
se caracteriza pela diversidade de tipos,
tamanhos e preos. De forma geral, o ata-
cadista de pescado tenta atender a todas
as demandas: pescado fino, popular, de
grande tamanho e de pequenas pores.
neiva et al (2010) relatam que a Ceagesp
o ponto de referncia na venda ataca-
dista de pescado, sediando 65 empresas
de pesca (Figura 1).
o volume de pescado comercializado
na Ceagesp vem apresentando queda
nos ltimos 20 anos. o aparecimento
de novos entrepostos instalados pelas
grandes redes de supermercado e novas
formas de comercializao so as princi-
pais causas dessa diminuio. no ano de
2009 foram comercializadas, aproxima-
damente, 105 espcies de pescado, tota-
lizando 43.100 toneladas. Em mdia so
comercializadas 176 t por dia, equivalente
ao volume financeiro mdio dirio de
r$ 861.000,00. As espcies mais vendidas
foram: sardinha, pescada, salmo, cor-
vina, cavalinha, tilpia, bacalhau seco,
atum e tainha, que juntas representam
67% do volume total comercializado.
A Figura 2 apresenta os preos m-
dios anuais, nominais e deflacionados,
para o ano de 2010, do quilo da tilpia
comercializada na Ceagesp. os preos
da tilpia no Entreposto (1996 a 2009),
apresentados na Figura 2, demonstram
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
20.000
10.000
0
80.000
90.000
Ton
Toneladas - Ano
Figura 1 | volume de pescado (T) comercializado na ceagesp; 1991 a 2009
Fonte: Ceagesp, 2010. In: Neiva et al, 2010.
Figura 2 | preos mdios anuais, nominais e deFlacionados do quilo da Tilpia co-mercializada na ceagesp; 2010
Fonte: Ceagesp, 2011 (modificada pelos autores).
PotENCiaiS do SEtor
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
4,50
1,31 1,49 1,31 1,61 1,52 1,64 1,92 ,79 3,14 3,19 3,71 3,40 3,40 2,70 2,93 2,25 2,22 2,43 ,50 3,75 3,43 3,92 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
R$/kg
Preo deflacionado
Preo nominal
Ano
Preo deflacionado
Preo nominal
16
-
que estes apresentaram variao ao
longo do perodo. os valores nominais
tiveram uma tendncia de elevao,
mas, quando deflacionados para o ano de
2010 pelo iPCA (FGv), a variao muda de
caractersticas e apresenta um perodo
de queda do ano de 2000 at 2005. na Fi-
gura 3, verifica-se que houve aumento na
quantidade de tilpia comercializada no
mesmo perodo, de 1999 a 2009, de 24,4 t
em 1999 para 256,5 t em 2006, com cres-
cimento de 951,2%. o aumento da oferta
pode ter causado a queda nos preos.
A Ceagesp hoje um canal de venda
tanto para o pequeno como para o mdio
e grande produtor, sendo s vezes a nica
alternativa para aqueles que esto longe
de processadoras e de pesque pague.
Prochmann & Michels (2003) relatam que,
atualmente, os elos mais frgeis da cadeia
produtiva da piscicultura so aqueles em
que ocorre o processo produtivo, como
o processamento e a distribuio dos
produtos oriundos do peixe. o proces-
samento dos peixes criados em viveiros
ainda muito incipiente e feito quase
sempre em escala reduzida, em frigorfi-
cos de pequeno porte. os dados de neiva
et al (2010) informam que, de acordo com
o Ministrio de Agricultura, Pecuria
e Abastecimento, em 2010, o estado de
So Paulo tinha 53 estabelecimentos
trabalhando com pescado, sendo que 17
estavam localizados na regio Metropo-
litana de So Paulo.
As processadoras no estado de So
Paulo trabalham basicamente com a
filetagem da tilpia e poucas esto pro-
duzindo outros produtos do processa-
mento, como formatados e empanados.
o aproveitamento total do pescado pela
indstria processadora poder gerar
novos produtos (a farinha e o leo de
peixe, por exemplo), aumentando seus
lucros, e contribuir para a sustentabili-
dade da atividade. A frequncia na pro-
duo e a produo de lotes homogneos
so requisitos bsicos para atender s
exigncias das processadoras. Para a
manuteno desses requisitos impor-
tante trabalhar de forma comunitria,
organizada e verticalizada. Dessa forma,
a indstria poder diminuir custos,
implantar a rastreabilidade do produto
e agregar valor produo. o produtor
pode buscar um mercado prprio (nicho)
que proporcionar melhores preos de
venda e, consequentemente, melhor
rentabilidade. Mercados locais associa-
dos ao turismo, a comunidades raciais e
religiosas que, em alguns casos, tm dado
ao produtor excelentes resultados.
o Brasil, com todo o seu potencial,
utilizando um planejamento adequado
da produo, novas tecnologias, organi-
zao e representao dos produtores,
poder tornar-se um dos maiores pro-
dutores mundiais de pescado. Para isso
necessrio que sejam tomadas medidas
com o intuito de fomentar o setor de
modo ordenado e elevar ainda mais a
sua competitividade. Embora a aquicul-
tura j venha se viabilizando enquanto
atividade econmica, algumas condi-
es devem ser melhoradas, tais como
pesca, despesca, abate e conservao do
pescado, organizao dos produtores,
falta de padronizao dos produtos e
comercializao.
* Joo Donato Scorvo Filho ([email protected]), Clia Dria Frasca Scorvo ([email protected]) e Alceu Donadelli ([email protected]) so pesquisadores da APTA Regional do Leste Paulista (APTA/SAA-SP), Monte Alegre do Sul, SP.
refernciAs BiBliogrficAsCoMPAnhiA DE EnTrEPoSToS E ArMAznS
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Figura 3 | quanTidade anual, em Toneladas, de Tilpia comercializada na ceagesp duranTe o perodo de 1999 a 2009
Fonte: Ceagesp, 2011.
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
toneladas 24,4 32,3 93,8 163,9 266,9 205,8 256,2 142,8 109,7 145,8 132,1 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
tone
lada
s
Ano
toneladas
17viso agrcola n11 jul | dez 2012
-
Bombas captam gua em manguezal para uma produo de camaro; Fortaleza, CE, 2011
SEGMENtoS da aquiCultura
Com excelentes condies ambientais, piscicultura marinha carece de investimentosRonaldo Olivera Cavalli*
Produo
ro
Dr
iGo
ESTEvAM
MU
nh
oz D
E ALM
EiDA
18
-
Figura 1 | beijupir criado no laboraTrio de pisciculTura marinha, na universidade Federal rural de pernambuco
Figura 2 | Tanques-rede onde so criados os beijupir
nos ltimos 20 anos, a produo da pisci-
cultura marinha mundial tem apresentado
uma taxa de crescimento anual superior a
10%, o que a situa como um dos setores da
aquicultura de maior crescimento (FAo,
2012). no Brasil, criar peixes marinhos no
uma atividade recente: a produo em
viveiros de mar j era uma realidade na
cidade de recife, PE, na dcada de 1930.
Apesar desse incio remoto e aparente-
mente promissor, hoje em dia a piscicultura
marinha no contribui significativamente
para a produo de pescado no Brasil.
Durante anos, as principais espcies de
peixe marinho consideradas para aqui-
cultura foram, no Brasil, as tainhas (Mu-
gil spp.), o robalo-peva (Centropomus
parallelus) e o linguado (Paralichthys
orbignyanus) (Baldisserotto & Gomes,
2010). Apesar dos esforos de pesquisa
e desenvolvimento, a criao dessas
espcies ainda no tem importncia
comercial relevante. Com o desenvolvi-
mento da tecnologia de cultivo e, conse-
quentemente, da produo do beijupir
(Rachycentron canadum) na sia, al-
guns produtores brasileiros passaram a
considerar o cultivo dessa espcie, visto
que ela naturalmente encontrada em
nosso litoral (Figura 1).
o beijupir cresce rapidamente, po-
dendo alcanar at 6 kg em um ano, to-
lera variaes de parmetros ambientais,
tem relativa resistncia a doenas (Liao &
Leao, 2007), e a tecnologia de produo
de alevinos e a engorda j esto relati-
vamente bem desenvolvidas (holt et al.,
2007; Liao & Leao, 2007). Considerado
um peixe de primeira qualidade, o beiju-
pir tem carne branca, de textura macia
e firme, e contm alto valor nutricional.
Assim, a produo mundial dessa esp-
cie vem crescendo gradativamente e,
em 2010, foi estimada em 40.768 t (FAo,
2012). A maior parcela provm de gaiolas
(tanques-rede) (Figuras 2 e 3) instaladas
em reas protegidas na China, em Taiwan
e no vietnam.
A despeito do interesse na aquicultura
do beijupir no Brasil, os estudos com
esta espcie ainda so escassos. A re-
produo em cativeiro vem sendo obtida
desde 2006, quando desovas espontne-
as ocorreram na Bahia e, um ano depois,
em Pernambuco. Apesar da relativa
facilidade na reproduo, a produo de
alevinos em larga escala ainda limitada.
nos poucos laboratrios nacionais que
trabalham com essa espcie, a larvicul-
tura realizada intensivamente em gua
com salinidade 35, temperatura entre 26
e 29 C, fotoperodo natural ou com 13
horas dirias de luz e aerao constante.
A realizao de larviculturas em sistemas
extensivos tem produzido resultados
to bons quanto no sistema intensivo.
neste sistema, as larvas so estocadas
com densidades comparativamente mais
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Figura 3 | pesca de beijupir em um Tanque-rede
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baixas em tanques de grande volume
ou em viveiros escavados, os quais so
previamente adubados para estimular a
produo de fito e zooplncton.
A produo de larvas no sistema
extensivo demanda mais espao, ao
mesmo tempo que oferece menor con-
trole sobre a produtividade, embora, em
contrapartida, o crescimento seja mais
elevado do que no sistema intensivo.
independentemente do sistema de lar-
vicultura utilizado, o aperfeioamento da
tecnologia empregada em outros pases
para uso nas condies brasileiras dever
incluir o oferecimento de alimentos vivos
alternativos aos rotferos e Artemia, a
melhoria no controle do canibalismo e
o aprimoramento do processo de trans-
ferncia do alimento vivo para o inerte
(desmame ou weaning).
Atualmente, existem projetos de en-
gorda de beijupir na Bahia, em Pernam-
buco, no rio Grande do norte, no rio de
Janeiro e em So Paulo. At o presente,
duas fazendas em mar aberto foram ins-
taladas em Pernambuco, mas iniciativas
de criao em reas marinhas protegidas
vm sendo conduzidas em Angra dos reis,
rJ, e em ilhabela, SP. A criao em viveiros
estuarinos tambm vem sendo testada
no rio Grande do norte e na Bahia. Caso
tenham sucesso, essas iniciativas pode-
ro ter um impacto significativo, pois
o Brasil dispe de mais de 16.000 ha de
viveiros de camaro, os quais tambm
poderiam ser utilizados para a criao do
beijupir. no entanto, o sucesso da en-
gorda em viveiros depender da resposta
do beijupir s condies prevalentes
nestes ambientes, tais como variaes
de salinidade e de oxignio dissolvido,
e nveis relativamente altos de material
em suspenso.
no mercado brasileiro, o preo que
o consumidor paga pelo beijupir evis-
cerado varia entre r$ 12,00 e r$ 22,00/
kg. Esses valores, contudo, so de
exemplares provenientes da pesca,
j que a venda de beijupir cultivado
ainda incipiente. Em Pernambuco, o
preo pago ao aquicultor foi r$ 15,00/kg.
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Figura 5| produo de alevinos
Com base nesse valor, a viabilidade de
uma fazenda de criao de beijupir em
mar aberto em Pernambuco foi anali-
sada. Para produtividade de 10 kg/m, a
atividade seria rentvel, considerando-
-se o custo de produo de r$ 11,48/
kg. nesse caso, o retorno do capital
investido levaria 5,1 anos. Com um au-
mento da produtividade para 15 kg/m,
compatvel com o observado em outros
pases, o custo de produo cairia para
r$ 9,46/kg, e o retorno do capital seria
de 2,8 anos. Em funo dos elevados
investimentos necessrios implanta-
o e ao custeio do empreendimento, o
aumento da escala de produo tornaria
o empreendimento mais atraente.
proBlemAs e oBstculosComo o beijupir uma espcie nova na
aquicultura, ainda existem importantes
lacunas no seu ciclo produtivo, tais como
ausncia de laboratrios de produo de
alevinos com esquemas de biossegurana
e com plantis de reprodutores com a
devida variabilidade gentica, e tambm
limitaes quanto produo consisten-
te de ovos, larvas e alevinos. Em relao
engorda, faltam informaes sobre
exigncias nutricionais que permitam a
formulao de dietas especficas (holt et
al., 2007; Liao & Leao, 2007). A necessi-
dade de desenvolvimento de mercado
outra questo importante. na natureza,
o beijupir raramente forma cardumes
e, por isso, sua produo pela pesca
pequena, tornando-o uma espcie des-
conhecida pelos consumidores.
no Brasil, a questo legal um dos
principais entraves ao desenvolvimen-
to da atividade. o Decreto n. 4.895, de
nov./2003, que regulamenta a cesso de
guas de domnio da Unio, representa
um importante marco legal para o de-
senvolvimento da aquicultura em mar
aberto. Entretanto, apesar do incentivo
atividade e das diversas aes buscando
regularizar a demarcao, o monitora-
mento e a concesso de reas por parte
do Ministrio da Pesca e Aquicultura
Figura 4 | produo de alevinos
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(MPA), ainda ocorrem conflitos sobre as
atribuies legais entre alguns rgos
governamentais, em particular os de
fiscalizao e licenciamento ambiental.
na prtica, isso retarda o andamento das
solicitaes de cesso de guas da Unio.
Por exemplo, a cesso de guas da Unio
para os dois projetos implantados em
Pernambuco levou dois anos. h, por-
tanto, a necessidade de fortalecer institu-
cionalmente o MPA, principalmente por
meio da criao de corpo tcnico prprio,
o que permitir acelerar os processos de
cesso e de licenciamento ambiental.
Por ser uma atividade incipiente no
Brasil, existe uma carncia de insumos
e de servios especializados em pisci-
cultura marinha. Apesar de o avano na
criao de camares marinhos e tilpias
ter gerado infraestrutura (equipamen-
tos, raes e demais insumos) para o
desenvolvimento da aquicultura no
pas, importante destacar que tais ati-
vidades tm caractersticas e demandas
diferentes da criao de peixes mari-
nhos. Por exemplo, o Brasil ainda no
conta com empresas capacitadas e com
experincia na construo e instalao
de estruturas de criao no mar. Alm
disso, ainda no dispomos de dietas
especficas para peixes marinhos que
tenham sido testadas nas nossas condi-
es. As dietas atualmente disponveis no
mercado nacional no tm resultado no
desempenho esperado, tanto em ensaios
experimentais como em condies de
cultivo comercial. Sob as mais variadas
condies ambientais e de manejo, foram
Figura 6 | processamenTo de beijupir na qualimar
observadas baixas taxas de crescimento,
alta converso alimentar e at mesmo
peixes regurgitando a dieta. Com relao
composio, anlises bromatolgicas
indicaram baixas concentraes de
aminocidos e cidos graxos essenciais.
vale ressaltar que, no caso do beijupir,
por se tratar do cultivo intensivo de um
peixe carnvoro, os gastos com alimenta-
o podem representar at 70% do custo
de produo. Portanto, este nico item
pode definir a viabilidade econmica
da atividade.
os empreendedores que se interes-
sarem em desenvolver a piscicultura
em mar aberto no Brasil possuem duas
opes com relao aquisio de
equipamentos e estruturas de criao.
A primeira adaptar equipamentos na-
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cionais, os quais, na maioria dos casos,
foram desenvolvidos para ambientes de
gua doce. Esses equipamentos e estru-
turas, porm, nem sempre se adaptam s
condies de mar. Caso optem pela aqui-
sio de equipamentos e embarcaes
especializados para esta atividade, tero
de import-los, o que onera excessiva-
mente os custos finais.
outra deficincia a de profissionais
capacitados e experientes nas diversas
reas da piscicultura marinha. Uma an-
lise na Plataforma Lattes (http://lattes.
cnpq.br/index.htm) indica carncia de
especialistas em sanidade de peixes
marinhos no Brasil, o que se reflete na
inexistncia de insumos especficos para
a sanidade de animais aquticos, ou de
empresas especializadas no diagnsti-
co, controle e preveno de doenas.
h tambm dificuldades de obteno
de seguro aqucola e questes relativas
adequao da legislao trabalhista
e das normas martimas, uma vez que
estas foram estabelecidas sem levar em
considerao a prtica da maricultura.
considerAes finAisApesar da pouca experincia brasileira
em piscicultura marinha, devido a sua longa
costa ( 8,5 mil km), seu mar territorial e sua
zona Econmica Exclusiva (zEE) de duzen-
tas milhas ( 4,5 milhes km2) e mais de 2,5
milhes de hectares de reas estuarinas, o
Brasil apresenta timas condies ambien-
tais e de infraestrutura para o desenvolvi-
mento da piscicultura marinha. nos ltimos
cinco anos, os resultados obtidos com o
cultivo do beijupir tm sido satisfatrios.
A tecnologia de reproduo em cativeiro
est praticamente dominada, e a produo
de alevinos (Figura 4 e Figura 5), embora
ainda instvel, permite o estabelecimento
de cultivos experimentais e at mesmo de
nvel comercial. os resultados de engorda,
porm, ainda so insuficientes para indicar
se os nveis de produtividade sero simila-
res aos observados em outros pases.
Entre as vrias demandas de pesquisa e
desenvolvimento, destacam-se as reas de
sanidade e nutrio. os estudos sobre nu-
trio e alimentao devem ser aplicados
principalmente fase de engorda, pois a
disponibilidade de dietas apropriadas ao
beijupir, a um custo acessvel, um dos
grandes limitantes para a sua criao no
Brasil. igual importncia deve ser dada
pesquisa e formao de pessoal especia-
lizado em sanidade, alm de condies
que facilitem a criao de uma estrutura
especializada no diagnstico, controle e
preveno de doenas. Faz-se necessrio,
tambm, fortalecer institucionalmente
o MPA a fim de acelerar os processos de
cesso de guas pblicas e licenciamento
ambiental. A maior agilidade e transparn-
cia nesses processos certamente serviro
para atrair interessados na atividade.
Acredita-se que, superados os obst-
culos iniciais, naturais a toda atividade
pioneira, a criao e a comercializao
do beijupir (Figura 6) podero servir de
base para o desenvolvimento sustentvel
da piscicultura marinha no Brasil, o que
incluir a necessidade de diversificao
de espcies e sistemas de cultivo, alm de
permitir o estabelecimento de uma nova
atividade geradora de trabalho e renda.
* Ronaldo Olivera Cavalli professor do Departamento de Pesca e Aquicultura da Universidade Federal Rural de Pernambuco (DEPAq/UFRPE) ([email protected]).
refernciAs BiBliogrficAsBALDiSSEroTTo, B.; GoMES, L. C. Espcies nativas
para a piscicultura no Brasil. 2 a. Santa Maria: Editora da UFSM, 2010. 608 p.
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Comercializao de camaro salgado e seco em banca de mercado; Aracaju, SE, 2011
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nas ltimas dcadas, houve escassez na
oferta de alimentos de origem aqutica,
principalmente nos pases em desenvol-
vimento. Como consequncia, a produo
mundial de camares apresentou cresci-
mento considervel. Entretanto, surgiram
problemas prejudiciais atividade refe-
rentes poluio das guas (pela emisso
de efluentes sem tratamento), crescente
demanda por farinha e leo de peixe (am-
bos utilizados na formulao de raes) e,
ainda, disseminao de doenas, como
Sndrome de Taura, Mancha Branca, entre
outras (Wasielesky et al., 2006).
nesse contexto, diversos centros de
pesquisas iniciaram estudos para o de-
senvolvimento de tecnologias sustent-
veis, com objetivos de reduzir a emisso
de efluentes e, ao mesmo tempo, atingir
altos ndices de produtividade (acima de
5.000 kg/ha/ciclo). As novas tecnologias
baseiam-se na produo de camares
em sistemas fechados, ou seja, na cria-
o desses crustceos em sistemas de
bioflocos (Sistema BFT), cujos cultivos
so realizados praticamente sem reno-
vao de gua e com aproveitamento dos
micro-organismos como alimento natural,
reduzindo o uso de raes. Assim, alm
de melhorar os ndices de produtividade,
o sistema BFT apresenta maior biossegu-
rana, pois diminui intercmbios de gua
e doenas (Avnimelech, 2009; Krumme-
nauer et al., 2011).
Demanda faz crescer interesse por criao de camares em estufasDariano Krummenauer, Gabriele Rodrigues de Lara e Wilson Wasielesky Jnior*
Criar camares em raceways cobertos
(estufas) tem despertado o interesse de
pesquisadores e produtores em alguns
pases, oportunizando a criao de ca-
mares penedeos em regies com clima
subtropical e temperado (Figura 1). nos
Estados Unidos da Amrica (Carolina
do Sul, virgnia, Maryland, Texas, hava,
entre outros estados), pesquisas esto
sendo realizadas para a produo em
estruturas fechadas. na Coreia do Sul, na
indonsia, na Blgica e na holanda, o sis-
tema BFT tambm j est sendo utilizado
para a engorda de camares.
Um aspecto importante desse sistema
de cultivo a utilizao de menor quanti-
dade de gua, quando comparado com os
Estufas
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Tabela 1 | principais vanTagens e des-vanTagens do sisTema bFT de culTivo para camares marinhos
vanTagens
Aumento da produtividade
Utilizao de menores reas de cultivo
Aumento da biossegurana
Diminuio ou iseno da renovao de
gua
Maior estabilidade do sistema
Diminuio da quantidade de protena
nas raes
Maior disponibilidade de alimento natural
Comunidade microbiana atuando
como probitico
Menores unidades de cultivo com
maior controle
Menor impacto ambiental
Possibilidade de cultivo em regies
afastadas da costa
desvanTagens
Maior custo de instalao
Maiores gastos de energia (aerao)
Risco do surgimento de
micro-organismos txicos
Acmulo de fsforo no sistema (risco com
cianobactrias)
Maior custo operacional
Fonte: Dariano Krummenauer, Gabriele Rodri-gues de Lara e Wilson Wasielesky Jnior.
sistemas convencionais. isso representa
uma diminuio na emisso de efluentes,
podendo-se produzir at 1 kg de camares
utilizando menos que 100 litros de gua;
enquanto nos sistemas convencionais
so utilizados mais de 50 mil litros para
obter a mesma produo (Samocha et al.,
2010). o sistema BFT apresenta vantagens
e desvantagens quando comparado com
os sistemas tradicionais de cultivo em vi-
veiros (Tabela 1). inicialmente, observam-
-se custos maiores, mas compensados
por produtividades muito maiores que
as obtidas nos sistemas convencionais.
Pelo fato de o sistema BFT utilizar
densidade de estocagem elevada, pos-
sibilita produtividade de at 10 kg/m,
o que equivale a uma produo 10 vezes
maior que em sistemas tradicionais.
Por exemplo, Samocha et al. (2010), utili-
zando densidades de estocagem de 450
camares/m3, obtiveram biomassa final
de 9,75 kg/m3/safra com peso mdio de
22,4 gramas e 95% de sobrevivncia na fase
de engorda. Em outro centro de pesquisa,
otoshi et al., (2009) reportaram produo
de 10,3 kg/m2 (103 ton/ha) com camares
estocados com densidade inicial de 828
camares/m2 e densidade final de 562
camares/m2 em sistema BFT em estufas.
Esses resultados foram obtidos utilizando
recursos tecnolgicos como oxignio
injetvel, filtros biolgicos, filtros mec-
nicos, fracionadores, sedimentadores,
sistemas automatizados e, em alguns
casos, com monitoramento eletrnico de
qualidade da gua. A utilizao de raes
especficas para camares em sistema
superintensivos (BFT) provavelmente
contribuiu para tais resultados (Figura 2).
BioflocosA formao dos bioflocos ocorre a partir
da mudana da razo entre carbono
e nitrognio (C : n) dos cultivos. Esta
deve manter-se entre 15 e 20 : 1, a fim de
que ocorra o surgimento de bactrias
heterotrficas, dando incio a uma su-
cesso microbiana. Para tanto, so feitas
aplicaes de fontes de carbono, como
melao de cana de acar, dextrose,
farelos de arroz e de trigo. A partir da
mudana desta relao C : n e atravs
de uma forte aerao, os agregados ou
bioflocos so formados durante o ciclo
de produo (Avnimelech, 2009). Esses
agregados so constitudos principal-
mente de bactrias, microalgas, fezes,
exoesqueletos, restos de organismos
mortos, protozorios, invertebrados,
entre outros (Figuras 3 e 4).
Uma vez formados, eles servem de
suplemento alimentar para os animais,
alm de assimilarem os compostos ni-
trogenados presentes na gua de cultivo,
que so txicos aos camares. outro fa-
tor de suma importncia associado for-
mao desses agregados a possibilidade
de reduo do teor de protena bruta nas
raes fornecidas aos camares, devido
ao incremento na produtividade natural
do sistema (Wasielesky et al., 2006).
Estudos realizados em Belize (Amrica
Central) demonstraram que mais de 29%
Figura 1 | esTuFa de culTivo de camares em sisTemas bFT; eua
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Figura 2 | esTuFa (585m2) para TesTes piloTo com Tanques revesTidos de geomembra-na (pead) na esTao marinha de aquaculTura da Furg; rio grande, rs
do alimento consumido por Litopenaeus
vannamei podem ser provenientes do
floco microbiano (bioflocos) presente
na gua do cultivo, demonstrando assim
a viabilidade do sistema.
A Estao Marinha de Aquacultura da
Furg conta com um sistema de estufas
de 580m2 com 10 raceways, todos re-
vestidos com geomembrana (Figura 5).
com bioflocos e 3 salas experimentais
para realizao de experimentos em
microescala com bioflocos.
estudos nA furgCom o objetivo de adaptar esta modali-
dade de criao realidade brasileira, a
Furg vem desenvolvendo estudos visan-
do preencher as lacunas ainda existentes,
como os experimentos que identificam
os principais grupos de agregados mi-
crobianos, a utilizao de probiticos
especficos para a criao em sistemas
de bioflocos, em cuja formao foram
testadas diferentes fontes de aerao,
de carbono, alm da adio de amnia
para acelerar a formao dos agregados
microbianos. Tambm foram realizados
cultivos com gua marinha natural e
artificial, com diferentes salinidades,
e visando viabilidade da reutilizao
de gua.
inicialmente realizaram-se testes em
berrios intensivos com densidades
entre 1.500 e 6.000 camares/m. os
resultados so estimuladores, pois as
sobrevivncias foram acima de 90% em
diferentes densidades, sem renovao de
gua. na fase de engorda, Krummenauer
et al. (2011) testaram as densidades de
150, 300 e 450 camares/m durante
Figuras 3 e 4 | deTalhe dos Flocos microbianos em microscpio de epiFluorescncia e no culTivo de Litopenaeus vannamei
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A aerao dos tanques realizada atravs
de um soprador (blower) de 4 hp. A estufa
ainda conta com sistemas de emergncia
e filtrao. A estufa piloto de cultivo
possibilita que sejam realizados testes
em repeties simulando ciclos com-
pletos de cultivo (berrio e engorda). o
laboratrio ainda possui duas estufas de
pesquisa para crescimento de camares
26
-
Tabela 2 | desempenho mdio do camaro-branco Litopenaeus vanna-mei em raceways com sisTema bFT, nas insTalaes da esTao marinha de aquaculTura (ema/io/Furg)
Densidade inicial 400 (ind/m)
Sobrevivncia 85,0 (%)
Ganho de peso/semana 0,85 (g)
Peso mdio inicial Juvenis de 1g
Peso mdio final 15,57 (g)
Tempo mdio de cultivo 120 (dia)
Biomassa final 4.632 (g/m)
Rao fornecida 5.512 (g/m)
Converso alimentar 1:1,19
Produtividade 46.321 (kg/
ha)*
* Mdia dos resultados em 30 ciclos de cultivo em raceways de 50-100 m (100 hp/ha), reves-tidos com Pead em estufas.
Fonte: Dariano Krummenauer, Gabriele Rodri-gues de Lara e Wilson Wasielesky Jnior.
90 dias (a partir de 1 g). os melhores re-
sultados foram observados na densidade
de 300/m, com crescimento semanal de
0,82 g, sobrevivncia acima de 85% e
taxa de converso alimentar de 1,3 : 1. A
produtividade foi de 3,9 kg de camares/
m (39 toneladas/ha/ciclo).
resultAdosos experimentos com raceways tm
apresentado resultados animadores,
demonstrando que a tcnica uma
realidade e est pronta para ser aplicada
em cultivos comerciais no pas. A sntese
dos resultados zootcnicos obtidos em
raceways utilizando o sistema BFT no rio
Grande do Sul apresentada na Tabela 2.
Estima-se que os cultivos em raceways
no sistema BFT sejam uma alternativa
vivel a ser aplicada em diferentes locais
em funo de ocupar reas muito peque-
nas. os resultados aqui apresentados
mostram que possvel trabalhar com
produtividades acima de 46 t/ciclo ou
acima de 130 t/ano.
os resultados obtidos sugerem que o
Litopenaeus vannamei, em sistema BFT,
pode ser utilizado em elevadas densida-
des de estocagem, desde que seja manti-
da a qualidade da gua com o auxlio de
manejo adequado. As taxas de converso
alimentar so semelhantes aos cultivos
tradicionais, a sobrevivncia significati-
vamente superior e a produtividade , no
mnimo, dez vezes maior que em viveiros
que no usam o sistema BFT.
* Dariano Krummenauer professor colaborador do Programa de Ps-Graduao em Aquicultura, da Furg ([email protected]); Gabriele Rodrigues de Lara mestre em Aquicultura pela Furg ([email protected]); Wilson Wasielesky Jnior professor da Universidade Federal do Rio Grande, no Instituto de Oceanografia Cassino, Rio Gran-de, RS ([email protected]).
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Figura 5 | esTruTura de esTuFas para TesTes piloTo com Tanques revesTidos de geomembrana (pead) na esTao marinha de aquaculTura da Furg; rio grande, rs
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Cultivo em bioflocos (BFT) eficaz na produo intensiva de camaresGeraldo Kipper Fes, Carlos Augusto Prata Gaona e Lus Henrique Poersch*
o cultivo de camares marinhos nas
Amricas e no Brasil passou por trs
fases distintas. A primeira, na dcada
de 1980, foi marcada pela construo de
grandes viveiros, com reas superiores a
5 ha e utilizao de baixas densidades de
estocagem (3 a 8 camares/m2). naquele
perodo, a produtividade alcanava em
mdia 1.000 kg ha-1 ano-1. A segunda
fase, a partir de 1990, caracterizou-se
pela melhor qualificao da mo de obra
empregada na produo, pelo aumento de
tecnologia nos cultivos, como utilizao
de aerao artificial, emprego de raes
comerciais de melhor qualidade e uso de
bandejas de alimentao, o que possibili-
tou o aumento de densidade para 20 a 30
camares/ m2.
Com a adoo dessas prticas, a pro-
dutividade nos viveiros aumentou para
6.000 kg ha-1 ano-1. A elevada produti-
vidade perdurou at o incio do presente
sculo, quando foram detectadas doenas
causadas pelo vrus da mancha branca
(WSSv) e da mionecrose (iMnv), alm de
dificuldades na exportao do camaro
produzido no pas. A terceira fase iniciou-
-se com a melhora no quadro econmico
do pas, nos ltimos anos, quando o
mercado interno passou a absorver o
camaro produzido nas fazendas. A preo-
cupao dos produtores em relao
qualidade da gua e do solo dos viveiros
aumentou, e estes passaram a utilizar
ps-larvas; a gentica favorecendo o cres-
cimento e a resistncia a enfermidades.
SEGMENtoS da aquiCultura
Camares marinhos produzidos em sistema de flocos microbianos (bioflocos); Estao Marinha de Aquacultura/IO/Furg, Rio Grande, RS, 2010
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Tecnologia
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Figura 1 | imagem de Flocos microbianos obTida em viveiro de culTivo de camares e em microscpio pTico (deTalhe); 2010
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Tabela 1 | caracTersTicas principais dos sisTemas de culTivo Tradicional (semi-inTensivo) com o sisTema de Flocos microbianos (bFT), em viveiros escavados
sisTema de culTivo densidade (cam/m) liTros de gua / Kilos de camaro
c o n v e r s o alimenTar
sobrevivncia (%) produTividade (Kg ha -1 )
Tradicional 20 - 30 65.000 1,5 60 - 70 6.000
bFT 120 1.000 1,3 80 - 90 15.000
Fonte: Luis Poersch et al.2012.
Desde a dcada de 1990, pesquisa-
dores vm desenvolvendo tcnicas de
cultivo ambientalmente mais amigveis,
preconizando a operao em empreen-
dimentos biosseguros e a diminuio da
renovao de gua. vrios fatores foram
responsveis por esses estudos e pela
adoo dessas tcnicas de cultivo. Po-
dem-se citar fatores externos, tais como:
regulamentaes dos rgos ambientais
para a reduo na emisso de efluentes
ricos e nutrientes e matria orgnica
para o meio ambiente; maior relevncia
da opinio pblica (consumidor), esti-
mulando a adoo de tcnicas ambien-
talmente amigveis pelos produtores;
disponibilizao de novas tecnologias de
cultivo pelos centros de pesquisa; adoo
de sistemas biosseguros de produo,
principalmente nas regies afetadas por
enfermidades. Existem tambm fatores
internos relacionados lucratividade do
empreendimento: aumento de produtivi-
dade, melhoria da converso alimentar,
reduo do tempo de cultivo e aumento
da lucratividade, entre outros.
o sistemA BftDentre as novas tecnologias de produo
e