Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida Vadis Luiz ...cemiteriopazeterna.com.br/memorial/Historia...

8
Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida Para contar a história de vida de Vadis Luiz Pierozan, não poderíamos deixar de contar com o importante manifesto de sua esposa Lorecy Cecília Pierozan. A enriquecer essa singela homenagem dedicada a esse querido ser, contamos com o depoimento sobre recordações de diversas pessoas próximas a ele, histórias essas que foram complementadas com fotos, documentos e relatos de alguns dos momentos vividos. Vadis Luiz Pierozan nasceu em primeiro de Junho de 1932, em Guaporé, RS, filho de Alberto Pierozan e Maria Adele Scartazini. Descendente de imigrantes italianos, Vadis integrava uma família tradicional, porém simples, com suas duas irmãs, Jonny e Edviges. Em Guaporé, o Seu Alberto, pai do Vadis, trabalhava em um matadouro. Com a escassez de trabalho, a família acabou se mudando para Arroio do Meio, onde o pai de Vadis conseguiu uma colocação no frigorífico da nova cidade. Nessa época, Vadis estava em idade escolar e foi logo estudar no Colégio das Irmãs daquela cidade. Mais tarde, procurando uma qualificação, seus pais lhe matricularam na Escola Técnica SENAI de Visconde Mauá, em Porto Alegre. No ano de 1949, formou-se mecânico e já exercia seu ofício em Lajeado, em uma oficina mecânica. Seu Vadis foi dispensado do serviço militar, primeiro por apresentar problemas visuais e também por já possuir formação técnica e trabalhar na função. (Na foto, a formatura do curso na Escola SENAI Visconde de Mauá, POA)

Transcript of Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida Vadis Luiz ...cemiteriopazeterna.com.br/memorial/Historia...

Page 1: Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida Vadis Luiz ...cemiteriopazeterna.com.br/memorial/Historia de vida de Vadis Luiz... · Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida Para contar

Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida

Para contar a história de vida de Vadis Luiz Pierozan, não poderíamos

deixar de contar com o importante manifesto de sua esposa Lorecy Cecília

Pierozan. A enriquecer essa singela homenagem dedicada a esse querido ser,

contamos com o depoimento sobre recordações de diversas pessoas próximas

a ele, histórias essas que foram complementadas com fotos, documentos e

relatos de alguns dos momentos vividos.

Vadis Luiz Pierozan nasceu em primeiro de Junho de 1932, em

Guaporé, RS, filho de Alberto Pierozan e Maria Adele Scartazini.

Descendente de imigrantes italianos, Vadis integrava uma família tradicional,

porém simples, com suas duas irmãs, Jonny e Edviges.

Em Guaporé, o Seu Alberto, pai do Vadis, trabalhava em um matadouro.

Com a escassez de trabalho, a família acabou se mudando para Arroio do

Meio, onde o pai de Vadis conseguiu uma colocação no frigorífico da nova

cidade. Nessa época, Vadis estava em idade escolar e foi logo estudar no

Colégio das Irmãs daquela cidade.

Mais tarde, procurando uma qualificação,

seus pais lhe matricularam na Escola

Técnica SENAI de Visconde Mauá, em

Porto Alegre. No ano de 1949, formou-se

mecânico e já exercia seu ofício em

Lajeado, em uma oficina mecânica.

Seu Vadis foi dispensado do serviço

militar, primeiro por apresentar problemas

visuais e também por já possuir formação

técnica e trabalhar na função.

(Na foto, a formatura do curso na Escola SENAI Visconde de Mauá, POA)

Page 2: Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida Vadis Luiz ...cemiteriopazeterna.com.br/memorial/Historia de vida de Vadis Luiz... · Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida Para contar

Dona Lorecy já morava em Arroio do Meio quando a família de seu

Vadis veio estabelecer-se no município. Com o passar dos anos, as famílias

ficaram amigas e mantinham um bom relacionamento – evidentemente, os

filhos de ambos os casais também criaram uma boa amizade.

Dona Lorecy e Seu Vadis eram ainda muito jovens quando começaram a

namorar. Ela tinha apenas 14 anos.

Já ele, era um homem feito e

trabalhador de 19 anos. Mesmo com

a diferença de idades, o fato de que

Vadis já estava mais estabilizado

facilitou, mais à frente, a vida mais

independente do casal com relação

ao seu sustento.

(Na foto, seu Vadis dando aula na escola SENAI em Santa Cruz do Sul)

O namoro, propriamente dito, teve início num baile na Bela Vista, interior

da cidade de Arroio do Meio. Após algumas idas e vindas, o namoro dos dois

recebeu a bênção das mães. Afinal, elas eram boas vizinhas e amigas, o que

acabou incentivando ainda mais a relação entre o futuro casal.

A Dona Lorecy relembra, afirmando ter sido um namoro do “tempo

antigo”: os dois só davam as mãos, sempre na companhia de um responsável

durante as típicas visitas aos finais de semana. Sim, eles só se viam aos finais

de semana, pois o Seu Vadis tinha de trabalhar como mecânico lá em Lajeado,

longe dali.

O enlace não foi imediato. Em decorrência da distância que os dois

tinham de enfrentar durante toda a semana, por causa do trabalho do Vadis,

tiveram de esperar. A inquietude da vontade de estarem juntos piorava,

especialmente no finalzinho do primeiro ano de noivado. Naquela época, Vadis

não conseguia vir todo o final de semana para Arroio do Meio, por causa da

Page 3: Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida Vadis Luiz ...cemiteriopazeterna.com.br/memorial/Historia de vida de Vadis Luiz... · Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida Para contar

estrada de chão que dificultava o acesso de quem tinha de viajar. O pior é que

a distância chegava a ser dois meses entre cada visita.

Nesse meio tempo, com os planos do casamento, quem casa quer casa,

não é mesmo? Quando Vadis foi convidado para trabalhar na cidade de Santa

Cruz do Sul, para dar aulas na Escola do SENAI Carlos Tannhauser, ele e seu

pai Alberto resolveram comprar um terreno próximo ao novo serviço. Era um

lugar “no meio do mato”, como fala Dona Lorecy. O novo lar do futuro casal foi

construído em conjunto, por pai e filho.

Ao todo, Lorecy e Vadis tiveram um ano e meio de namoro e mais dois

anos de noivado. Com a casa construída e o novo emprego em Santa Cruz do

Sul, decidiram que a união deveria ser oficialmente selada. Casaram-se em

Arroio do meio em 16 de Abril de 1955 na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo

Socorro. A festa contou com a presença

da família dos noivos, dos vizinhos, os

amigos e padrinhos do enlace. A partir do

casamento, o casal mudou-se para a

casa nova. Essa mudança e os novos

ares de vida já foram considerados como

a Lua-de-mel. Eles sentiram que esse era

um local seguro e digno para viverem e

construírem a nova família. A casa é

praticamente um mito entre os familiares,

pois com as ampliações e adaptações

que vieram sendo feitas ao longo dos

anos, esse lar foi se tornando o reflexo

de união entre todos – um legítimo porto

seguro.

Até hoje, a casa é a morada da Dona Lorecy. Dona Lorecy lembra-se de

que morar nesse novo lugar foi um pouco difícil, no início. Com 18 anos, Lorecy

(Na foto, o casamento de Seu Vadis e

Dona Lorecy em Arroio do Meio)

Page 4: Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida Vadis Luiz ...cemiteriopazeterna.com.br/memorial/Historia de vida de Vadis Luiz... · Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida Para contar

passava a maior parte do tempo sozinha em casa e Vadis trabalhava muito –

graças a Deus. Mas essa solidão durou pouco tempo, pois no dia 27 de Janeiro

de 1956 nasceu o criativo Paulo Ricardo, primeiro filho do casal Pierozan.

A família continuou crescendo: em 27 de Dezembro de 1957 nasceu a

animada Heloisa, primeira filha moça.

Entre os altos e baixos das finanças da família, Seu Vadis fazia

consertos na casa de amigos e colegas para aumentar a renda e proporcionar

uma vida tranqüila para todos. Naquela época já era complicado sustentar a

família e manter a casa somente trabalhando como professor.

A família permaneceu em crescimento. Em 21 de Setembro de 1959

veio ao mundo o divertido Luiz Carlos. A família ia aumentando – o trabalho

também – mas nada impedia que os dois mantivessem um forte vínculo de

amizade com os vizinhos e conhecidos.

O “pai” Vadis era um homem muito brincalhão, mas também muito

rígido, porém justo, amoroso e sempre incentivou e aconselhou os filhos a

estudarem e almejarem uma boa qualificação para o mercado de trabalho. Era

difícil manter os meninos na escola, pois eles não gostavam muito da rotina do

saber, digamos assim. A oportunidade foi dada e alguns aproveitaram mais que

os outros. Pelo lado profissional, o professor Vadis ficava feliz em ver que

qualificava profissionais competentes e aptos a trabalharem muito bem nas

empresas da região.

Muitos jovens aprendizes industriais foram verdadeiramente

transformados por esse eterno instigador e inventor que era o Seu Vadis. Em

casa, a Dona Lorecy fazia muito bem o seu papel de mãe. Costurava e bordava

as roupas dos filhos e do marido. Obviamente tudo isso contribuía para diminuir

quaisquer gastos extras, pois não é fácil comandar uma casa com uma família

grande. Mesmo assim, o casal apaixonado não parou por aí.

Page 5: Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida Vadis Luiz ...cemiteriopazeterna.com.br/memorial/Historia de vida de Vadis Luiz... · Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida Para contar

No dia 23 de Agosto de

1963 chegou a doce

Claudia, segunda filha

moça do casal. Em

seguida, para

incrementar o time,

chegou o agitado

André Roberto, em 05

de março de 1966. Mas

imaginem só: quando

Vadis e Lorecy se

preparavam para serem

avós, chegou o inquieto

Rafael, em 07 de

outubro de 1982.

O professor Vadis atuou na Escola SENAI Carlos Tannhauser durante

36 anos e aposentou-se na carreira com muito orgulho do que fazia, sempre

preocupado em formar bons profissionais. Além do trabalho, Seu Vadis gostava

de jogar bola e foi, por muitos anos, integrante do time de futebol do SENAI.

Participava dos jogos e campeonatos promovidos pela entidade e gostava

também dos jogos de lógica. Participava dos campeonatos de xadrez, que ele

adorava. Fora do SENAI, Vadis também tinha paixão por lógica e mecânica, o

que fazia com que ele fosse um excelente e insaciável inventor. Misturava seus

conhecimentos e criava desde jogos até utensílios domésticos.

Era gremista doente e defendia com unhas e dentes o timão tricolor. O

que lhe causava mais indignação era quando seu time não alcançava os

objetivos que o torcedor Vadis esperava. Depois de um tempo, ele até já

assistia menos aos jogos, para não se incomodar e evitar discussão com os

amigos e familiares.

(Na foto, ao centro seu Vadis e dona Lorecy, e no círculo os seis filhos do casal, em 2005)

Page 6: Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida Vadis Luiz ...cemiteriopazeterna.com.br/memorial/Historia de vida de Vadis Luiz... · Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida Para contar

Fez grandes amizades que são até

hoje lembradas pela família. Entre os

companheiros mais ligados com o seu

trabalho no SENAI estão Henrique

Carlos Elsenbruch, Noé Severo,

Walkir Cruz e Paulo Sandim. Também

do SENAI, estava Isabel Goldschimidt

e seu esposo Benedito. Como amigos

do dia-a-dia, podemos citar vizinhos

como o Seu Elípio Muller e Dona

Gladys.

(Na foto, à esquerda em pé, seu Vadis e os

companheiros do time de basquetebol do

SENAI)

Não há também como esquecer nomes como Francisco Castilhos e sua

esposa Dinorá, conhecidos até hoje na sociedade santa-cruzense. Esses

amigos participavam das reuniões de família, tanto na casa de um como do

outro, o que acontecia com freqüência.

Nessas reuniões, havia sempre a troca de amizade, de comemorações,

e o que não poderia faltar: o joguinho de baralho. Com uma família tão grande

e tão unida, bons amigos e rodeado dos seis filhos, quatro noras e nove netos,

o que poderia querer mais o seu Vadis?

Page 7: Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida Vadis Luiz ...cemiteriopazeterna.com.br/memorial/Historia de vida de Vadis Luiz... · Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida Para contar

Todos esses anos de convívio, o fechamento de 50 anos de casamento

permitiu a

comemoração das

Bodas de Ouro do

casal Vadis e Lorecy.

A comemoração se

deu na sede do grupo

de danças 25 de

Julho, no dia 16 de

Abril de 2005.

Tiveram a bênção do

padre José Renato.

A expressão de amor e felicidade que ambos tiveram na ocasião fez

com que todos constatassem que aquela tinha sempre sido uma vida bem

vivida e consolidada, capaz de quebrar as fronteiras do tempo e manter acesa

a chama desse amor além das almas – foram de fato almas gêmeas.

Hoje, Dona Lorecy conta com o apoio e amor dos filhos, mas sempre

guardará no fundo de seu coração as mais singelas lembranças. Seis anos

depois da comemoração das Bodas de Ouro, infelizmente o Seu Vadis teve de

partir. A partida do Vadis é uma ferida que permanece aberta em Dona Lorecy

e que, por vezes, dói, pois ela sempre se emociona ao falar da vida a dois que

teve com seu amado esposo. Eternos apaixonados, os jovens Lorecy e Vadis

viveram uma história de amor que duraram 56 anos.

(Na foto, ao centro o casal comemorando as bodas com os seus nove netos, em 2005)

Page 8: Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida Vadis Luiz ...cemiteriopazeterna.com.br/memorial/Historia de vida de Vadis Luiz... · Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida Para contar

Mensagem da família:

A UM AUSENTE

Tenho razão de sentir saudade,

tenho razão de te acusar.

Houve um pacto implícito que rompeste

e sem te despedires foste embora.

Detonaste o pacto.

Detonaste a vida geral, a comum aquiescência

de viver e explorar os rumos de obscuridade

sem prazo sem consulta sem provocação

até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.

Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.

Que poderias ter feito de mais grave

do que o ato sem continuação, o ato em si,

o ato que não ousamos nem sabemos ousar

porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,

de nossa convivência em falas camaradas,

simples apertar de mãos, nem isso, voz

modulando sílabas conhecidas e banais

que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.

Sim, acuso-te porque fizeste

o não previsto nas leis da amizade e da natureza

nem nos deixaste sequer o direito de indagar

porque o fizeste, porque te foste

Carlos Drummond Andrade