Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida Vadis Luiz ...cemiteriopazeterna.com.br/memorial/Historia...
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Vadis Luiz Pierozan: uma história de vida
Para contar a história de vida de Vadis Luiz Pierozan, não poderíamos
deixar de contar com o importante manifesto de sua esposa Lorecy Cecília
Pierozan. A enriquecer essa singela homenagem dedicada a esse querido ser,
contamos com o depoimento sobre recordações de diversas pessoas próximas
a ele, histórias essas que foram complementadas com fotos, documentos e
relatos de alguns dos momentos vividos.
Vadis Luiz Pierozan nasceu em primeiro de Junho de 1932, em
Guaporé, RS, filho de Alberto Pierozan e Maria Adele Scartazini.
Descendente de imigrantes italianos, Vadis integrava uma família tradicional,
porém simples, com suas duas irmãs, Jonny e Edviges.
Em Guaporé, o Seu Alberto, pai do Vadis, trabalhava em um matadouro.
Com a escassez de trabalho, a família acabou se mudando para Arroio do
Meio, onde o pai de Vadis conseguiu uma colocação no frigorífico da nova
cidade. Nessa época, Vadis estava em idade escolar e foi logo estudar no
Colégio das Irmãs daquela cidade.
Mais tarde, procurando uma qualificação,
seus pais lhe matricularam na Escola
Técnica SENAI de Visconde Mauá, em
Porto Alegre. No ano de 1949, formou-se
mecânico e já exercia seu ofício em
Lajeado, em uma oficina mecânica.
Seu Vadis foi dispensado do serviço
militar, primeiro por apresentar problemas
visuais e também por já possuir formação
técnica e trabalhar na função.
(Na foto, a formatura do curso na Escola SENAI Visconde de Mauá, POA)
Dona Lorecy já morava em Arroio do Meio quando a família de seu
Vadis veio estabelecer-se no município. Com o passar dos anos, as famílias
ficaram amigas e mantinham um bom relacionamento – evidentemente, os
filhos de ambos os casais também criaram uma boa amizade.
Dona Lorecy e Seu Vadis eram ainda muito jovens quando começaram a
namorar. Ela tinha apenas 14 anos.
Já ele, era um homem feito e
trabalhador de 19 anos. Mesmo com
a diferença de idades, o fato de que
Vadis já estava mais estabilizado
facilitou, mais à frente, a vida mais
independente do casal com relação
ao seu sustento.
(Na foto, seu Vadis dando aula na escola SENAI em Santa Cruz do Sul)
O namoro, propriamente dito, teve início num baile na Bela Vista, interior
da cidade de Arroio do Meio. Após algumas idas e vindas, o namoro dos dois
recebeu a bênção das mães. Afinal, elas eram boas vizinhas e amigas, o que
acabou incentivando ainda mais a relação entre o futuro casal.
A Dona Lorecy relembra, afirmando ter sido um namoro do “tempo
antigo”: os dois só davam as mãos, sempre na companhia de um responsável
durante as típicas visitas aos finais de semana. Sim, eles só se viam aos finais
de semana, pois o Seu Vadis tinha de trabalhar como mecânico lá em Lajeado,
longe dali.
O enlace não foi imediato. Em decorrência da distância que os dois
tinham de enfrentar durante toda a semana, por causa do trabalho do Vadis,
tiveram de esperar. A inquietude da vontade de estarem juntos piorava,
especialmente no finalzinho do primeiro ano de noivado. Naquela época, Vadis
não conseguia vir todo o final de semana para Arroio do Meio, por causa da
estrada de chão que dificultava o acesso de quem tinha de viajar. O pior é que
a distância chegava a ser dois meses entre cada visita.
Nesse meio tempo, com os planos do casamento, quem casa quer casa,
não é mesmo? Quando Vadis foi convidado para trabalhar na cidade de Santa
Cruz do Sul, para dar aulas na Escola do SENAI Carlos Tannhauser, ele e seu
pai Alberto resolveram comprar um terreno próximo ao novo serviço. Era um
lugar “no meio do mato”, como fala Dona Lorecy. O novo lar do futuro casal foi
construído em conjunto, por pai e filho.
Ao todo, Lorecy e Vadis tiveram um ano e meio de namoro e mais dois
anos de noivado. Com a casa construída e o novo emprego em Santa Cruz do
Sul, decidiram que a união deveria ser oficialmente selada. Casaram-se em
Arroio do meio em 16 de Abril de 1955 na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro. A festa contou com a presença
da família dos noivos, dos vizinhos, os
amigos e padrinhos do enlace. A partir do
casamento, o casal mudou-se para a
casa nova. Essa mudança e os novos
ares de vida já foram considerados como
a Lua-de-mel. Eles sentiram que esse era
um local seguro e digno para viverem e
construírem a nova família. A casa é
praticamente um mito entre os familiares,
pois com as ampliações e adaptações
que vieram sendo feitas ao longo dos
anos, esse lar foi se tornando o reflexo
de união entre todos – um legítimo porto
seguro.
Até hoje, a casa é a morada da Dona Lorecy. Dona Lorecy lembra-se de
que morar nesse novo lugar foi um pouco difícil, no início. Com 18 anos, Lorecy
(Na foto, o casamento de Seu Vadis e
Dona Lorecy em Arroio do Meio)
passava a maior parte do tempo sozinha em casa e Vadis trabalhava muito –
graças a Deus. Mas essa solidão durou pouco tempo, pois no dia 27 de Janeiro
de 1956 nasceu o criativo Paulo Ricardo, primeiro filho do casal Pierozan.
A família continuou crescendo: em 27 de Dezembro de 1957 nasceu a
animada Heloisa, primeira filha moça.
Entre os altos e baixos das finanças da família, Seu Vadis fazia
consertos na casa de amigos e colegas para aumentar a renda e proporcionar
uma vida tranqüila para todos. Naquela época já era complicado sustentar a
família e manter a casa somente trabalhando como professor.
A família permaneceu em crescimento. Em 21 de Setembro de 1959
veio ao mundo o divertido Luiz Carlos. A família ia aumentando – o trabalho
também – mas nada impedia que os dois mantivessem um forte vínculo de
amizade com os vizinhos e conhecidos.
O “pai” Vadis era um homem muito brincalhão, mas também muito
rígido, porém justo, amoroso e sempre incentivou e aconselhou os filhos a
estudarem e almejarem uma boa qualificação para o mercado de trabalho. Era
difícil manter os meninos na escola, pois eles não gostavam muito da rotina do
saber, digamos assim. A oportunidade foi dada e alguns aproveitaram mais que
os outros. Pelo lado profissional, o professor Vadis ficava feliz em ver que
qualificava profissionais competentes e aptos a trabalharem muito bem nas
empresas da região.
Muitos jovens aprendizes industriais foram verdadeiramente
transformados por esse eterno instigador e inventor que era o Seu Vadis. Em
casa, a Dona Lorecy fazia muito bem o seu papel de mãe. Costurava e bordava
as roupas dos filhos e do marido. Obviamente tudo isso contribuía para diminuir
quaisquer gastos extras, pois não é fácil comandar uma casa com uma família
grande. Mesmo assim, o casal apaixonado não parou por aí.
No dia 23 de Agosto de
1963 chegou a doce
Claudia, segunda filha
moça do casal. Em
seguida, para
incrementar o time,
chegou o agitado
André Roberto, em 05
de março de 1966. Mas
imaginem só: quando
Vadis e Lorecy se
preparavam para serem
avós, chegou o inquieto
Rafael, em 07 de
outubro de 1982.
O professor Vadis atuou na Escola SENAI Carlos Tannhauser durante
36 anos e aposentou-se na carreira com muito orgulho do que fazia, sempre
preocupado em formar bons profissionais. Além do trabalho, Seu Vadis gostava
de jogar bola e foi, por muitos anos, integrante do time de futebol do SENAI.
Participava dos jogos e campeonatos promovidos pela entidade e gostava
também dos jogos de lógica. Participava dos campeonatos de xadrez, que ele
adorava. Fora do SENAI, Vadis também tinha paixão por lógica e mecânica, o
que fazia com que ele fosse um excelente e insaciável inventor. Misturava seus
conhecimentos e criava desde jogos até utensílios domésticos.
Era gremista doente e defendia com unhas e dentes o timão tricolor. O
que lhe causava mais indignação era quando seu time não alcançava os
objetivos que o torcedor Vadis esperava. Depois de um tempo, ele até já
assistia menos aos jogos, para não se incomodar e evitar discussão com os
amigos e familiares.
(Na foto, ao centro seu Vadis e dona Lorecy, e no círculo os seis filhos do casal, em 2005)
Fez grandes amizades que são até
hoje lembradas pela família. Entre os
companheiros mais ligados com o seu
trabalho no SENAI estão Henrique
Carlos Elsenbruch, Noé Severo,
Walkir Cruz e Paulo Sandim. Também
do SENAI, estava Isabel Goldschimidt
e seu esposo Benedito. Como amigos
do dia-a-dia, podemos citar vizinhos
como o Seu Elípio Muller e Dona
Gladys.
(Na foto, à esquerda em pé, seu Vadis e os
companheiros do time de basquetebol do
SENAI)
Não há também como esquecer nomes como Francisco Castilhos e sua
esposa Dinorá, conhecidos até hoje na sociedade santa-cruzense. Esses
amigos participavam das reuniões de família, tanto na casa de um como do
outro, o que acontecia com freqüência.
Nessas reuniões, havia sempre a troca de amizade, de comemorações,
e o que não poderia faltar: o joguinho de baralho. Com uma família tão grande
e tão unida, bons amigos e rodeado dos seis filhos, quatro noras e nove netos,
o que poderia querer mais o seu Vadis?
Todos esses anos de convívio, o fechamento de 50 anos de casamento
permitiu a
comemoração das
Bodas de Ouro do
casal Vadis e Lorecy.
A comemoração se
deu na sede do grupo
de danças 25 de
Julho, no dia 16 de
Abril de 2005.
Tiveram a bênção do
padre José Renato.
A expressão de amor e felicidade que ambos tiveram na ocasião fez
com que todos constatassem que aquela tinha sempre sido uma vida bem
vivida e consolidada, capaz de quebrar as fronteiras do tempo e manter acesa
a chama desse amor além das almas – foram de fato almas gêmeas.
Hoje, Dona Lorecy conta com o apoio e amor dos filhos, mas sempre
guardará no fundo de seu coração as mais singelas lembranças. Seis anos
depois da comemoração das Bodas de Ouro, infelizmente o Seu Vadis teve de
partir. A partida do Vadis é uma ferida que permanece aberta em Dona Lorecy
e que, por vezes, dói, pois ela sempre se emociona ao falar da vida a dois que
teve com seu amado esposo. Eternos apaixonados, os jovens Lorecy e Vadis
viveram uma história de amor que duraram 56 anos.
(Na foto, ao centro o casal comemorando as bodas com os seus nove netos, em 2005)
Mensagem da família:
A UM AUSENTE
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste
Carlos Drummond Andrade