VALDOMIRO DE OLIVEIRA -...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA VALDOMIRO DE OLIVEIRA O PROCESSO ENSINO-TREINAMENTO DA TÉCNICA E DA TÁTICA NO BASQUETEBOL DO BRASIL: UM ESTUDO SOB A ÓTICA DE PROFESSORES DO ENSINO SUPERIOR E TÉCNICOS DE ELITE VOLUME I Campinas 2007

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAO FSICA

    VALDOMIRO DE OLIVEIRA

    O PROCESSO ENSINO-TREINAMENTO DA TCNICA E DA TTICA NO BASQUETEBOL DO BRASIL: UM ESTUDO SOB A TICA DE PROFESSORES DO ENSINO SUPERIOR E

    TCNICOS DE ELITE

    VOLUME I

    Campinas

    2007

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    VALDOMIRO DE OLIVEIRA

    O PROCESSO ENSINO-TREINAMENTO DA TCNICA E DA TTICA NO BASQUETEBOL DO BRASIL: UM ESTUDO SOB A TICA DE PROFESSORES DO ENSINO SUPERIOR E

    TCNICOS DE ELITE

    VOLUME I

    Tese de Doutorado apresentada Ps-Graduao da Faculdade de Educao Fsica da Universidade Estadual de Campinas para obteno do ttulo de Doutor em Educao Fsica.

    Orientador: Prof. Dr. Roberto Rodrigues Paes

    Campinas

    2007

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    VALDOMIRO DE OLIVEIRA

    o PROCESSO ENSINO-TREINAMENTO DATCNICA E DA TTICA NO BASQUETEBOL DO

    S"SJJ.: UM .ES7UDO SOB A TJCADEPROFESSORES DO ENSINO SUPERIOR E

    TCNICOS DE ELITE

    VOLUME I

    Este exemplar corresponde redaofinal da Tese de Doutorado defendida porValdomiro de Oliveira e aprovada pelaComisso julgadora em: 26103/2007.

    rof. Doutor Roberto RodrigOrientador I

    Campinas2007

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    DEDICATRIA

    Aos meus familiares Paulo, Celeste, Joo, Nilza, Nilson e aos seres superiores que nos conduzem nesta vida Ao meu orientador, Professor Roberto Rodrigues Paes, que me orientou com muita dedicao desde quando nos conhecemos no Mestrado e, posteriormente, no Doutorado, me incentivando, motivando e ensinando coisas simples que sempre acrescentaram ao meu saber pessoal e me acompanhar eternamente por onde eu andar. Muito obrigado, Amigo! Aos estudiosos do desporto, Professores Doutores: Paulo Roberto de Oliveira, Antonio Carlos Gomes, Jos Luiz Lopes Vieira, Paulo Csar Montagner, Joo Paulo Borin. Acredito que temos misses importantes aqui, e percebi nesse pouco tempo de convivncia que suas capacidades, aliadas s competncias e serenidade que os senhores realizam seus trabalhos, me deram certeza para acreditar na Educao Fsica e no desporto como um aliado da vida social, me fazendo buscar dentro da alma toda a crena para nunca desistir de contribuir para o basquetebol brasileiro. A todos os meus professores, e amigos que, pela convivncia de muitos anos, me motivaram a cursar Educao Fsica e me dedicar aos cursos de Especializao, Mestrado e Doutorado, conhecendo e admirando os maestros brasileiros das cincias do desporto e realizar este trabalho com muita dedicao e tranqilidade. A minha esposa Gislaine, e aos meus filhos Caio e Giovana, pelo amor que temos entre ns E, por fim, A todos os tcnicos e atletas na qual conheci enquanto tcnico e atleta de basquetebol. Agradeo por todos os duelos travados .

    ... No existem frmulas mgicas para formar equipes campes no basquetebol, o que pode existir so encaminhamentos cientficos e muito trabalho, trabalho rduo, por parte daqueles que atuam no dia-a-dia nos treinamentos e competies. Aprendi que pessoas que compartilham um objetivo comum, com um sentido de equipe, podem chegar ao seu destino mais depressa e mais facilmente do que se fizessem sozinhas, porque elas se apiam na confiana e na solidariedade uma das outras.

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    AGRADECIMENTOS

    Universidade Estadual de Maring e todos os professores e funcionrios do Departamento de Educao Fsica pela convivncia durante a licenciatura e posteriormente na docncia. Ao Programa de Ps-Graduao em Cincias do Desporto da Faculdade de Educao Fsica da Universidade Estadual de Campinas e, em especial, a todos os funcionrios, que me receberam com muito carinho e ateno. Aos professores do Mestrado, em especial ao professor Miguel, Denise, pelos ensinamentos que transmitiram durante as discusses fantsticas em suas disciplinas. Aos companheiros de orientao do professor Roberto Paes pelos momentos de discusso e aprendizagem: Wagner Bergamo, Jos Carlos Moreno- Cacau, Hermes Balbino, Paulo Csar Montagner, Laurita Schiavon, Larrissa Galati e Henrique Barcelos e todo o grupo de Pedagogia do Esporte. Ao Prof. Dr. Jos Luiz Lopes Vieira, que durante o processo de doutoramento me fez compreender as novas possibilidades de orientao diante de uma Tese de Doutorado. Aos queridos e amigos professores da velha guarda: Vanildo, Maria, Noriko, Lenamar, Wellington, Joaquim, Umeda, Fred, Carraro, Jair, Celso e Macoto, pela convivncia de muitos anos e troca de conhecimentos importantes para a vida acadmica e a todos os professores da jovem guarda, entre esses: Larrissa, Giuliano, Wilson, Ieda. Aos companheiros do basquetebol maringaense e paranaense: Tcnico Saulo e Sergio Abujanrra, Cambar, Nino, Paran, Csar, Profeta, Laurindo, Primo, Claudio, Rosa, Sergio Prati, Luis Prati. Aos comparsas do basquetebol veterano: G, Gilmar, Luizo, Cuculo, Heitor, Mauricio, Ricardo, Marcelo, Ogawa, pela convivncia e desenvolvimento do basquetebol veterano, que d continuidade prtica do basquetebol em mbito nacional. Aos amigos da jovem guarda: Eduardo, Tio, Renata, Marchi, Roger, Jferson, Ricardinho, Rodrigo, Graziela, Palpitz e Osler, pelos maravilhosos momentos que vivemos juntos. famlia Tarnhovi: Eugenio, Terezinha, Alessandra, Elton e Evandro, pelo apoio e incentivo durante toda a minha caminhada em Maring. Aos amigos de apoio: Flvio, Alexandre da K2, Josias, Rodrigo da Prestel, professora Anie e professor Manoel do departamento de letras e lingstica da UEM, que colaboraram de forma decisiva para o trmino deste trabalho.

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    Aos companheiros do Mestrado: Ciro, Wilton, Cris, Fernanda, Tania Bandera, Roberto Alegria, Mauricio, Gustavo, Z e D, pela amizade e momentos filosficos, que vivemos juntos. A todos aqueles que direta ou indiretamente estiveram ao meu lado nos momentos mais difceis da vida. Agradecimentos e homenagens especiais

    Fica fcil tirar algumas concluses quando se tem a possibilidade de conhecer e conviver, mesmo que por pouco tempo, com pessoas que h tempos contribuem para o desenvolvimento do basquetebol brasileiro. Entre estes, professores e tcnicos que colaboraram com a minha pesquisa, meu amadurecimento humano e at por minha permanncia no Mestrado e no Doutorado. Posso ento lhes afirmar queridos companheiros que muitas saudades ficam expressas nessas pequenas falas e fico muito orgulhoso ao saber que muitos de vocs hoje so meus amigos. Obrigado professores e tcnicos pela imensa colaborao que deram e tornaram realidade um sonho de muitos: A unio dos seus conhecimentos descritos em um trabalho cientfico e a contribuio do mesmo para professores e tcnicos menos experientes. E lembrando que todos vocs j deixaram em suas prticas pedaggicas nos diversos cantos do nosso Pas e do mundo suas idias, ou melhor, suas teses. Assim sendo, agradeo: Aos professores: Dante de Rose Junior; Dartagnan Pinto Guedes; Arli Ramos de Oliveira; Vagner Roberto Bergamo; Valdir Pagan Peres; Silvia Cristina Madrid Finck; ngelo Diniz; Marcelo Bandiera Slvio; Carlos Alberto de Oliveira; Dagmar Hunger; Mario Roberto Guarizi. Aos tcnicos: Aluisio Elias Xavier Ferreira; Antonio Carlos Barbosa; Antonio Carlos Vendramini; Maria Helena Cardoso; Jos Roberto Lux - Z boquinha; Antonio Jos Paterniane - Tom Z; Jorge Guerra - Guerrinha; Maria do Carmo M. Ferreira; Jos Alves dos Santos Neto; Flvio Davis furtado; Hlio Rubens Garcia. E ao Professor Moacir Daiuto in memoriam. No poderia ser diferente professor, pois, tenho certeza que se estivesse entre ns (vida terrena), estaria fazendo parte de alguma forma deste estudo. Agradeo de forma especial ao seu labor profissional enquanto em vida e seus trabalhos cientficos que nos deram luz e inspirao para avanar nas pesquisas em basquetebol.

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    OLIVEIRA, Valdomiro de. O processo ensino-treinamento da tcnica e da ttica no basquetebol do Brasil: um estudo sob a tica de professores do ensino superior e tcnicos de elite. 2007. 357 f. Dissertao (Doutorado em Educao Fsica)-Faculdade de Educao Fsica. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007.

    RESUMO O objetivo geral da pesquisa foi explorar o conhecimento acumulado de tcnicos brasileiros e professores do ensino superior em relao ao processo ensino-treinamento da tcnica e da ttica no basquetebol do Brasil. De forma especifica, buscou-se contextualizar os contedos e as estratgias metodolgicas utilizadas por tcnicos e professores do ensino superior para o processo ensino-treinamento dos fundamentos tcnicos e dos sistemas defensivos e ofensivos nas diferentes categorias da formao desportiva:- pr-mini, mini, mirim, infantil, infanto, cadete, juvenil e sub-21. A amostra foi constituda por 11 tcnicos de basquetebol com representao em nvel nacional e internacional e 11 professores universitrios que atuam com basquetebol em universidades brasileiras. Como critrio de seleo, os tcnicos deveriam ser considerados referncia no Pas e, para a seleo dos professores universitrios, o critrio foi a titulao mnima de Mestre e Doutor na rea de Cincia do Desporto e/ou Mestre e Doutor que atuassem no ensino do basquetebol em universidades brasileiras. O instrumento de medida utilizado foi a entrevista embasada num questionrio semi-estruturado com perguntas abertas. Os dados foram analisados de forma qualitativa, atravs da anlise de contedo e descrito de forma quantitativa em nvel de freqncia e percentual. Os resultados mostraram que em relao ao ensino-treinamento do basquetebol na etapa de iniciao e especializao, considerando os fundamentos tcnicos do jogo de basquetebol e os sistemas defensivos e ofensivos, h convergncias, divergncias, sob a tica de tcnicos e professores do ensino superior quanto aos contedos de ensino bem como as estratgias metodolgicas a serem utilizadas. Por exemplo, h fortes indcios para conflitos entre os mtodos de ensino dos fundamentos tcnicos na iniciao, no qual os mtodos analticos sofrem crticas, enquanto os mtodos de jogo parecem ser mais apropriados, principalmente para manter um maior nvel de motivao dos praticantes. J na etapa de especializao, ficou evidenciado que os exerccios produzem uma adaptao mais eficiente da tcnica motora e tem maior aceitao entre os entrevistados. Em relao ao ensino-treinamento dos sistemas defensivos, pode-se confirmar que a defesa individual a mais indicada na etapa de iniciao e, na etapa de especializao, todas as defesas equiparam-se. Com relao ao ensino-treinamento dos sistemas ofensivos, pode-se dizer que, na etapa de iniciao, deve-se evitar jogadas complexas privilegiando o ensino baseando-se nos exerccios em situaes de jogo. Contudo, na etapa de especializao, h de se firmar as qualidades de conjunto com a utilizao de estratgias mais complexas. Com base nos resultados do estudo, podem-se tecer algumas consideraes: o ensino do basquetebol deve ser concebido num processo longo, no qual seus contedos e mtodos variem no transcorrer do processo de ensino da tcnica e da ttica dos atletas, e haja um modelo de iniciao para o basquetebol brasileiro que ainda precisa de muitos estudos, principalmente longitudinais. No que tange especializao, etapa de treinamento, firma-se a idia de que imprescindvel a periodizao embasada num planejamento dos contedos e mtodos de treinamento em longo prazo, principalmente aps 15 anos de idade, categoria infanto e cadete, com o pensamento em nvel nacional e internacional. Sendo assim, tornou-se possvel sinalizar algumas possibilidades pedaggicas para as diferentes fases das etapas do processo de formao tcnica e ttica no basquetebol brasileiro, considerando uma periodizao em longo prazo dos contedos e estratgias pedaggicas de ensino-treinamento.

    Palavras-chave: Pedagogia. Basquetebol. Ensino-Treinamento.

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    OLIVEIRA, Valdomiro de. The teaching-training process of technique and tactics in basketball practiced in Brazil: a study based on the viewpoint of college professors and elite coaches. 2007. 357 f. Dissertao (Doutorado em Educao Fsica)-Faculdade de Educao Fsica. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007.

    ABSTRACT The objective of this study was to explore the acquired knowledge of Brazilian coaches and college professors in relation to the teaching-training process of technique and tactics in the Brazilian basketball. The work tried to contextualize the contents of the methodological strategies used by coaches and college professors for the teaching-training of fundamentals as well as defensive and offensive systems in all different Brazilian basketball categories. The sample group was constituted of 11 basketball coaches and 11 university basketball professors of Brazilian universities. The elected coaches had to be considered as national reference and for the elected university professors, the criterion was their master and doctor degrees in the sports scientific field, and/or basketball experts with teaching experience in Brazilian universities. The measuring instrument was an interview based in an open questionnaire. The data were analyzed qualitatively - through the analysis of the content; and quantitatively, by means of the frequency and percentage of similar answers. Results showed that, in regard to basketball teaching-training, in all stages of the process, considering the fundamentals of basketball and the offensive and defensive systems, there are convergences and divergences when it comes to teaching contents as well as methodological strategies, according to the interviewed participants point of view. For instance, there are strong indications of conflicts between the teaching methods of the basketball foundations for beginners, when analytical methods are criticized, while the game method seems to be more appropriate, mainly to keep the children highly motivated. In the specialization stage, on the other hand, there was evidence that individual exercises may produce a more efficient adaptation to the motor technique, having greater acceptance among the interviewees. Regarding the defensive systems, it can be confirmed that the man-to-man defense is recommended in the initial stage, whereas in the specialization stage, the zone defense starts to be a strong tactical possibility. However, the predominance of the man-to-man defense is still observed. Regarding the offensive systems, it can be observed that in the initial stage, complex games should be avoided, privileging exercises based on game situations and individual conditions. Nevertheless, in the specialization stage, exercises should focus teamwork and more complex strategies. Based in the results of the study it is important to consider that basketball teaching must be conceived in a long term process whose contents and methods may vary according to athletes fundamentals and tactics, with a model of initial stage for the Brazilian basketball that still needs further longitudinal studies. With reference to the specialization stage, it is mandatory that contents and training methods be planned in a long term basis, mainly after the age of 15, targeting national and international levels. Thus, it is possible to signal some pedagogical possibilities for the different phases from the two stages of the basketball learning process in Brazil, taking in consideration the contents and pedagogical strategies of the teaching-training process, in a long-term basis. Keywords: Pedagogy. Basketball. Teaching-Training.

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    LISTA DE GRFICOS Grfico 1 Distribuio das respostas coletivas em relao ao ensino-treinamento

    dos contedos fundamentos tcnicos.......................................................87Grfico 2 Distribuio das respostas coletivas em relao aos mtodos de

    treinamento dos fundamentos tcnicos .......................................................97 Grfico 3 Distribuio das respostas coletivas em relao ao ensino-treinamento

    dos contedos sistemas defensivos .......................................................104 Grfico 4 Distribuio das respostas coletivas em relao metodologia de

    treinamento dos contedos sistemas defensivos. ..................................113 Grfico 5 Distribuio das respostas coletivas em relao ao ensino-treinamento dos

    contedos sistemas ofensivos................................................................118 Grfico 6 Distribuio das respostas coletivas em relao metodologia de

    treinamento dos contedos sistemas ofensivos .....................................125 Grfico 7 Distribuio das respostas coletivas em relao ao treinamento dos

    contedos fundamentos tcnicos. ..........................................................131 Grfico 8 Distribuio das respostas coletivas em relao metodologia de

    treinamento dos contedos fundamentos tcnicos.................................137 Grfico 9 Distribuio das respostas coletivas em relao ao treinamento dos

    contedos sistemas defensivos..............................................................142 Grfico 10 Distribuio das respostas coletivas em relao metodologia de

    treinamento dos contedos sistemas defensivos ...................................151 Grfico 11 Distribuio das respostas coletivas em relao ao treinamento dos

    contedos sistemas ofensivos................................................................155 Grfico 12 Distribuio das respostas coletivas em relao metodologia de

    treinamento dos contedos sistemas ofensivos .....................................164

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    LISTA DE QUADROS Quadro 1 Periodizao do processo de ensino-treinamento da tcnica e ttica para o

    basquetebol na etapa de Iniciao. .............................................................43 Quadro 2 Formas didtico-metodolgicas de ensinar e treinar o basquetebol...........49Quadro 3 Fases de aprendizagem do basquetebol propostas por Garganta (1995)..51Quadro 4 Distribuio percentual dos contedos da tcnica e ttica geral e especial

    na etapa de iniciao em basquetebol e suas fases de desenvolvimento. .61 Quadro 5 Periodizao do processo de especializao da tcnica e da ttica no

    basquetebol e os aspectos biolgico, escolar, cronolgico e as categorias de competio. ............................................................................................65

    Quadro 6 Percentual da preparao tcnica e ttica geral e especial na etapa de especializao em basquetebol e suas fases de desenvolvimento.............66

    Quadro 7 Ambiente A: Tcnicos de basquetebol do Brasil.........................................75 Quadro 8 Ambiente B: Professores universitrios ......................................................75 Quadro 9 Perfil dos sujeitos do ambiente A - Professores universitrios envolvidos na

    pesquisa. .....................................................................................................78 Quadro 10 Perfil dos sujeitos do ambiente B - Tcnicos renomados envolvidos na

    pesquisa. .....................................................................................................78 Quadro 11 Distribuio dos contedos e mtodos de ensino-treinamento para as

    diferentes fases de aprendizagem na etapa de iniciao em basquetebol, segundo a preparao geral e especial.....................................................172

    Quadro 12 - Distribuio dos contedos e mtodos de ensino-treinamento para as diferentes fases de aprendizagem na etapa de especializao em basquetebol, segundo a preparao geral e especial ...............................175

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    SUMRIO LISTA DE GRFICOS .....................................................................................................9 LISTA DE QUADROS....................................................................................................10 INTRODUO ...............................................................................................................16 CAPTULO I PEDAGOGIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO: FATORES FUNDAMENTAIS PARA O ENSINO-TREINAMENTO DA TCNICA E DA TTICA NO BASQUETEBOL NA INFNCIA E NA ADOLESCNCIA ...............................................................................24

    1. CARACTERSTICAS DOS JOGOS DESPORTIVOS COLETIVOS BASQUETEBOL ........................................................................................................ 24

    CAPTULO II PEDAGOGIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO: REFERENCIAL TERICO SOBRE O PROCESSO ENSINO-TREINAMENTO DA TCNICA E DA TTICA NO BASQUETEBOL NA INFNCIA E NA ADOLESCNCIA.............................................41

    1. ETAPA DE INICIAO EM BASQUETEBOL E SUAS FASES DE DESENVOLVIMENTO............................................................................................... 41 2. ETAPA DE ESPECIALIZAO EM BASQUETEBOL E SUAS FASES DE DESENVOLVIMENTO............................................................................................... 64

    CAPTULO III PROCESSO E OS PROCEDIMENTOS METODOLGICOS DA PESQUISA ..............73

    1. O CONTEXTO DA PESQUISA.............................................................................. 73 2. PROCEDIMENTOS PARA ANALISAR OS DADOS DA PESQUISA..................... 78

    CAPTULO IV DESCRIO, ANLISE E DISCUSSO DOS RESULTADOS DA PESQUISA...........85

    1. ETAPA DE INICIAO: A TICA DE TCNICOS E PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM RELAO AO ENSINO-TREINAMENTO DA TCNICA E DA TTICA NO BASQUETEBOL.................................................................................... 85 2. ETAPA DE ESPECIALIZAO: ANLISE DAS ENTREVISTAS SOB A TICA DE TCNICOS E PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM RELAO AO ENSINO-TREINAMENTO DA TCNICA E DA TTICA......................................................... 128

    CONSIDERAES FINAIS.........................................................................................169 INDICATIVOS PEDAGGICOS PARA O ENSINO-TREINAMENTO TCNICO E TTICO DO BASQUETEBOL .....................................................................................177

    1. ETAPA DE INICIAO EM BASQUETEBOL E SUAS FASES DE DESENVOLVIMENTO............................................................................................. 177

    GonzagaConsulte o Manual de apresentao de trabalhos acadmicos para ver modelos de SUMRIOS.

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    2. ETAPA DE ESPECIALIZAO EM BASQUETEBOL E SUAS FASES DE DESENVOLVIMENTO............................................................................................. 183

    REFERNCIAS............................................................................................................190 ANEXOS ......................................................................................................................200

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    APRESENTAO

    No incio da dcada de 80, eu estava na escola, na quinta srie, e, em uma aula

    de Educao Fsica, um professor aplicou um jogo que ele chamava de basquetebol;

    esse jogo no era conhecido por mim, pois eu s brincava os jogos que aprendi na rua

    com os vizinhos. Aps conhecer o basquetebol na escola, nas aulas de Educao

    Fsica, passei a pratic-lo nos intervalos, no recreio e tambm aps o final das aulas, no

    quintal de casa. Ao final dos treze anos de idade, estava passando em frente ao ginsio

    de desportos da cidade de Rolndia, no norte do Paran, quando avistei um tcnico

    ministrando treinamento de basquetebol. Ao me aproximar, ele me disse: por que voc

    no treina? Respondi: no posso... minha famlia quer que eu trabalhe para ajudar em

    casa. Todavia, no resisti e fui, s escondidas, no outro dia ao treino e, a partir da, no

    mais abandonei o basquetebol, me especializando e me tornando um atleta,

    participando de vrios torneios nacionais e internacionais.

    Aos 16 anos, assumi o cargo de tcnico na cidade de Rolndia e comecei a

    estudar basquetebol nos cursos em vdeos, com diferentes tcnicos do basquetebol

    brasileiro, espanhol, americano, entre outros. Participei tambm em eventos como

    tcnico nas diferentes categorias, como mirim, infantil e infanto, cadete e juvenil no

    Estado do Paran e no interior de Santa Catarina e So Paulo. Resolvi prestar o

    vestibular para o curso de Educao Fsica e acabei, aps muita insistncia, entrando

    na Universidade Estadual de Maring. Graduei-me em quatro anos; o curso estava de

    encontro com meus interesses. Aps a graduao, fiz especializao na cidade de

    Londrina, onde havia jogado em algumas temporadas. Em uma das disciplinas, conheci

    o professor Paulo Roberto de Oliveira, que me disse: o basquetebol precisa de

    estudantes. Essa frase simplesmente me deu asas para aprofundar mais ainda meus

    conhecimentos em basquetebol e procurei, ao final do curso de especializao, o

    professor Antnio Carlos Gomes, que havia voltado do Doutorado, para discutir os

    problemas da preparao fsica dos basquetebolistas brasileiros. Naquela ocasio, a

    preocupao era a preparao fsica de nossos jogadores, visto que acreditava que

    poderamos ser melhores se jogssemos mais rpido com e sem a bola,

    principalmente.

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    Iniciei, ento, a busca pelo Mestrado em vrias universidades, quando acabei,

    aps trs concursos seguidos, por entrar na Unicamp, sob a orientao do ilustre

    professor Roberto Rodrigues Paes que, alm de orientador, que passei a admirar,

    considerando-o hoje como um fiel escudeiro e amigo. Compartilhamos o pensamento

    de que s a parte fsica no suficiente e que, juntos, poderamos construir um trabalho

    ampliando as possibilidades de preparao; estruturamos ento uma proposta de

    ensino para os jogos desportivos coletivos, dividida em seis fases, visando,

    especificamente, aprendizagem das habilidades e estratgias ttico-cognitivas e

    tambm ao desenvolvimento das capacidades fsicas especficas para o basquetebol na

    iniciao e no treinamento especializado, com a inteno de contribuir para a melhora

    do desporto coletivo e do basquetebol no Brasil.

    Aps a concluso do Mestrado, publicamos nossos trabalhos no Brasil e em

    alguns pases do exterior, como Portugal, Espanha, Argentina e lanamos livros e

    captulos de livros, com bases cientificas mais consistentes. No entanto, ainda faltava

    algo que eu no conseguia ver, at que tive a oportunidade de ir Espanha participar

    do II Congresso Ibrico de Baloncesto, promovido pela universidade de Extremadura

    em Cceres, norte da Espanha. Naquela ocasio, percebi a importncia da cincia e a

    prtica de se ter uma maior aproximao com ela. Na volta, tive o meu ingresso

    aprovado no Doutorado da Unicamp e a felicidade de continuar meus estudos sob a

    orientao do professor Roberto Rodrigues Paes, que com uma frase, dentre outras

    marcantes, me disse: o aro no vai ser mais alto que 3,5 metros, e os atletas de

    basquetebol dificilmente atingiro mais velocidade ou mais estatura do que o que

    vimos, nestes ltimos 100 anos, desde que o basquetebol foi inventado pelo professor

    canadense James Naismith. Porm, a ttulo de curiosidade, avanamos na literatura

    internacional para investigar como estava a produo cientfica sobre a inteligncia

    ttica do jogo e sobre os procedimentos de interveno da tcnica motora. Durante o

    Exame de Qualificao do Doutorado, o professor Paulo Roberto de Oliveira, com uma

    idia brilhante, nos sugeriu o apoio de estudiosos e tcnicos de renome nacional, para

    concluirmos nossos estudos em nvel de doutoramento. Posso afirmar que dificilmente

    minha idia inicial seria apagada de vez da minha memria, que era colocar dois

    grupos controle e testar diferentes mtodos de ensino e contedos em diferentes faixas

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    etrias realizando filmagens para produzir tecnologias mais avanadas sobre o ensino-

    treinamento do basquetebol. No entanto, tenho certeza que fui privilegiado com a idia

    do professor e o apoio da banca como um todo e agora poderei realizar novos estudos

    de diferentes ordens metodolgicas, com maior embasamento da realidade do

    basquetebol brasileiro. Afinal, pude conhecer muitos professores e tcnicos de nvel

    indiscutvel, aprender mais do que havia feito no Mestrado e ainda fazer muitos amigos.

    A defesa da tese no dia 26/03/2007 ocorreu tudo muito bem, e ento fui aprovado e

    finalmente recebi o ttulo de Doutor em Educao fsica na rea de Cincias do

    desporto.

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    INTRODUO

    1. Caracterizando a problemtica do tema

    Estudiosos de diversas reas das cincias aplicadas ao desporto, principalmente

    a pedagogia do desporto no Brasil, tm analisado as questes que envolvem o sistema

    de preparao dos atletas dos desportos coletivos especificamente nas questes

    tcnicas e tticas, estudando e transportando teorias gerais para modalidades

    especficas, como o basquetebol, nos quais se destacam Paes (1989), Greco (1998),

    Oliveira e Paes (2002, 2003, 2004a, 2005) e Balbino (2001 e 2005). No exterior,

    Garganta (1995 e 1998), Barreto (2001), Nascimento (2003), Cardenas (2003),

    Calatayud (2003) e Delgado (2003).

    Para estes autores, atualmente existe um aumento considervel nas discusses

    sobre o processo de formao tcnica e ttica nos desportos coletivos. So vrios os

    assuntos a serem debatidos como: quais contedos e quais estratgias de ensino-

    treinamento devem ser priorizados em diferentes momentos da formao desportiva,

    principalmente as metodologias de treinamento em longo prazo?

    A problemtica inicial est nos enfoques tericos que abordam o processo de

    formao tcnica e ttica dos atletas de basquetebol no Brasil e no exterior, porque

    parecem ainda no se mostrarem suficientes para sustentar os anseios dos tcnicos no

    seu trabalho na prtica do basquetebol. Assim sendo, recorreu-se aos estudos

    publicados na teoria dos jogos desportivos coletivos, no treinamento desportivo, na

    pedagogia do desporto, na aprendizagem e desenvolvimento motor, no crescimento,

    maturao e desenvolvimento fsico e ainda em estudos sobre o ensino-treinamento do

    basquetebol. Esses estudos, por sua vez, podem ser compreendidos em uma etapa

    que abrange a iniciao e a especializao desportiva. No basquetebol, esse

    entendimento reflete as categorias de disputas nos campeonatos estaduais pr-mini,

    mini e mirim, e nacionais infanto, cadete e juvenil, competies estas que formam a

    base desse desporto no Pas.

    Alm disso, entende-se que os problemas aumentam em funo da distncia

    existente entre teoria e prtica, ou seja, os tcnicos que atuam no dia-a-dia tm pouco

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    ou quase nenhum acesso s produes acadmico-cientficas e, por outro lado, a

    academia tem discutido os temas que abordam a iniciao e a especializao em

    basquetebol de maneira distante das realidades prticas dos tcnicos.

    No Brasil, segundo Vidal (1997), a cobrana dos clubes e dos dirigentes, na

    maioria das situaes prticas pelo resultado no basquetebol em curto prazo, um

    procedimento que tem ocorrido com freqncia em todas as categorias, e esse fator

    pode refletir principalmente na categoria adulta masculina, pois se tem verificado, em

    pesquisas realizadas por Oliveira e Paes (2002, 2003d), que nos ltimos quatro

    campeonatos mundiais os resultados pioraram gradativamente e no agradaram aos

    especialistas das cincias do desporto no Brasil: 1990, quinto lugar; 1994, dcimo

    quarto lugar; 1998, dcimo primeiro lugar; 2002, oitavo lugar; 2006, dcimo stimo lugar

    (CBB, 2002). Apesar da conquista do ltimo torneio pan-americano em 2005, os

    resultados anteriores demonstram uma queda do basquetebol brasileiro masculino ante

    o cenrio internacional, quando se trata de resultados olmpicos e mundiais.

    O que se tem observado com base nos resultados competitivos que as equipes

    de outros pases, como Espanha, Itlia, Estados Unidos, Litunia, Frana, entre outras,

    principalmente da Europa, tm seu foco principal nas competies mundiais e

    olmpicas. Alm desse quadro, percebe-se ainda nos resultados das competies (CBB

    2000) que a Argentina, principal rival do Brasil na Amrica do Sul, no tem utilizado o

    pan-americano como competio principal, priorizando a preparao para mundiais e

    olimpadas. Pode-se ver nos resultados das ltimas olimpadas, por exemplo, em 2000,

    que a Argentina foi vice-campe mundial e, em 2004, foi campe olmpica, enquanto

    nesse perodo o Brasil sagrou-se campeo pan-americano por duas vezes, porm sem

    boas classificaes em mundiais e, pior, no participa de olimpadas h 12 anos. Talvez

    os resultados do basquetebol masculino em mbito mundial e olmpico estejam

    refletindo nos resultados pouco expressivos tambm nas categorias de base, como

    infanto, cadete e juvenil.

    Atrelado a esses problemas esto outros fatores que nos intriga: as dificuldades

    na formao continuada dos profissionais que atuam com o basquetebol nos diferentes

    cenrios, e a no estruturao das selees permanentes de base quando se trata de

    seleo brasileira. Todos esses podem ser fatores fundamentais e responsveis pelos

  • 18

    resultados pouco expressivos, principalmente no masculino nas categorias de base e

    at na adulta. Ainda sobre esse assunto, um outro problema pode ser a no

    organizao e planejamento na aplicao dos contedos do sistema de treinamento

    tcnico e ttico de forma sistematizada e permanente, em longo prazo, foco esse de

    maior preocupao nesse estudo.

    Oliveira e Paes (2002; 2003c; 2004b) observaram em seus estudos sobre o

    contexto desportivo do basquetebol um distanciamento entre a produo cientfica com

    a prtica recaindo, por exemplo, nas fases sensveis da aprendizagem, segundo as

    teorias desenvolvimentistas, a especializao desportiva precoce, o ensino tecnicista

    proposto de forma fragmentada, o treinamento ttico realizado somente por jogadas

    estereotipadas, no valorizando as capacidades cognitivas importantes nas resolues

    de problemas causados pela imprevisibilidade do basquetebol, ou seja, a tomada de

    deciso diante das aes dos adversrios, fazendo a leitura do jogo e agindo de acordo

    com as situaes casuais. Alm dessas preocupaes, os autores tm enfatizado,

    ainda, a importncia do basquetebol ser oferecido e utilizado no ensino fundamental e

    mdio, como um aliado da Educao Fsica para a educao geral das crianas e

    adolescentes de todos os segmentos sociais, uma vez que sua prtica pode promover

    intervenes quanto cooperao, convivncia, participao, incluso, entre outras,

    como possibilidades de identificao de talentos.

    So vrias as questes problematizadas nesse estudo, mas o desinteresse dos

    praticantes mais jovens pelo ingresso na aprendizagem e, posteriormente, no

    treinamento sistemtico no basquetebol, pode estar atribudo principalmente na forma

    como as aulas e/ou treinamentos so aplicados ao ensinar a tcnica e a ttica e aqui

    que estaro delimitadas as investigaes. Sendo assim, foi elaborada a seguinte

    questo norteadora do estudo: Qual a tica de tcnicos e professores universitrios

    (Mestres e Doutores) em relao ao processo ensino-treinamento da tcnica e da ttica

    no basquetebol do Brasil?

    Diante dessa questo norteadora, outra questo se construiu para o estudo:

    Quais so os contedos e as estratgias pedaggicas que poderiam ser utilizadas no

    ensino-treinamento dos aspectos tcnicos e tticos para as diferentes categorias do

    basquetebol no Brasil: pr-mini, mini, mirim, infantil, infanto-juvenil, cadete, juvenil e

  • 19

    sub-21?

    Com base nos problemas levantados e nas questes norteadoras sobre o

    processo de ensino-treinamento da tcnica e ttica no basquetebol em longo prazo,

    apresenta-se a seguir a importncia e as justificativas para a realizao do estudo.

    2. Importncia e justificativas para a realizao do estudo

    A importncia da realizao deste estudo ampla, partindo da idia de criar

    condies freqentes para analisar o processo de formao desportiva tcnica e

    ttica no basquetebol do Brasil e com eficcia levar o conhecimento das discusses

    sobre os procedimentos para a aprendizagem, para as competies e para as

    metodologias de ensino-treinamento, aplicadas ao basquetebol de forma eficiente aos

    professores, tcnicos, dirigentes das federaes, alunos das universidades nacionais,

    bem como aos atletas das escolas e dos clubes desportivos, ampliando-se as

    possibilidades e melhorando-se o intercmbio terico-prtico dessa modalidade.

    Assim sendo, autores da rea das Cincias do Desporto da Faculdade de

    Educao Fsica da Universidade Estadual de Campinas, particularmente da linha de

    Estudos em Pedagogia do Desporto, discutem essas possibilidades visando a

    apresentar propostas metodolgicas de ensino-aprendizagem e treinamento nos

    desportos coletivos e, nesse caso especfico, para o basquetebol.

    So necessrias alternativas tericas para o oferecimento do basquetebol no

    Brasil, na qual a elaborao de um modelo de ensino da tcnica e da ttica importante

    para a etapa de iniciao e de especializao com a participao de tcnicos, porque

    so eles que atuam no dia-a-dia nas escolas e nos clubes, bem como a participao de

    acadmicos, que estudam o assunto mais profundamente e discutem nas suas

    universidades nos cursos de Educao Fsica.

    No caso do basquetebol, deve-se enfocar o ensino nas escolas e nos clubes e

    nas universidades como um processo na busca da aprendizagem do basquetebol e no

    apenas nos resultados mais expressivos, segundo Garganta (1998). J em etapas

    posteriores, como na etapa de treinamento especializado que deve ocorrer entre 15-19

    anos, segundo Greco (1998;1999), a sim solidifica-se o processo de preparao em

  • 20

    longo prazo, com vistas s competies nacionais e internacionais. Deve-se, no

    entanto, evitar nas categorias iniciais o resultado desportivo a qualquer preo.

    Portanto este estudo se justifica pela necessidade de aprofundar estudos com o

    respaldo de professores universitrios e tcnicos renomados do basquetebol nacional

    com vistas a produzir um material conjugando teoria e prtica a exemplo de pases mais

    desenvolvidos, como a Espanha, na qual esse procedimento j comum a muitos anos,

    a julgar pela realizao do I, II e III Congresso Ibrico de Baloncesto (2001, 2003, 2005)

    Justifica-se tambm a importncia dessa pesquisa porque pode-se perceber (I, II,

    III Congresso Ibrico de Baloncesto, 2001, 2003, 2005) a relevncia da aproximao

    entre os cientistas e os tcnicos debatendo o futuro do basquetebol de diversos pases

    e provavelmente ampliando as possibilidades de aprendizagem e treinamento do

    basquetebol. Percebe-se ainda que no Brasil esse tipo de procedimento de pesquisa

    no comum ou no existe, pois a aproximao da teoria com a prtica ainda tnue,

    apesar dos esforos realizados no I Congresso Mundial de Medicina e Cincias do

    Desporto no Basquetebol, promovido pela CBB em 2006. Em relao aos tcnicos

    entende-se que poucos acreditam no desenvolvimento cientfico e os estudiosos no

    encontram facilidades no acesso prtica dos tcnicos. Assim sendo, com essa

    aproximao, entende-se que poderia ser possvel levar os conhecimentos das

    produes cientficas e das prticas pedaggicas de muitos tcnicos renomados com

    mais coerncia e confiabilidade atravs dos meios de comunicao para os tcnicos e

    para as universidades nacionais de ensino do basquetebol e ainda abrir portas para

    novas pesquisas no basquetebol e em outras modalidades desportivas.

    Salienta-se ainda que parte dessas informaes sero posteriormente

    organizadas e divulgadas para a comunidade cientfica e para os tcnicos em todo o

    Brasil, mediante diferentes meios de comunicao, como o site da Pedagogia do

    Basquetebol (www.pedagogiadobasquete.com.br), entre outros meios, alm dos

    impressos e CD-ROM.

    Levando-se em considerao a realidade brasileira bem como a temtica cuja

    abordagem traa o eixo do estudo sobre o sistema de treinamento dos atletas

    brasileiros de basquetebol, justifica-se tambm a realizao desta pesquisa pela

    necessidade e carncia de propostas pedaggicas e metodolgicas que ampliem as

    http://www.pedagogiadobasquete.com.br/

  • 21

    possibilidades de discusso acerca do basquetebol, com o respaldo da experincia de

    professores universitrios e da cultura esportiva especializada de nossos tcnicos.

    Entende-se que nos dias atuais novas propostas pedaggicas e metodolgicas devem

    ser apresentadas comunidade cientfica, visando ao oferecimento do basquetebol em

    diferentes nveis de atuao, de forma organizada, planejada e sistematizada em seus

    contedos e mtodos, assegurando a promoo do basquetebol com mais qualidade

    para os jovens e principalmente para o fortalecimento da base Mirim, Infantil, Infanto,

    cadete e juvenil, identificando, selecionando e promovendo o talento do basquetebol

    para representar os estados em mbito nacional e o Pas em mbito internacional,

    recuperando o prestgio de outrora em nvel olmpico e mundial em um futuro prximo.

    Este estudo foi delimitado a tcnicos que possuem reconhecimento nacional e/ou

    internacional e professores universitrios com titulao de Mestre ou Doutor,

    caracterizando-se como valores reconhecidos pela cultura de onde vivem e atuam.

    O sistema de treinamento desportivo envolve a preparao fsica tcnica e

    ttica - psicolgica e social dos atletas de uma determinada cultura, segundo Matveev

    (1980). No entanto, este estudo limita-se aos conhecimentos produzidos sobre a etapa

    de iniciao e especializao em basquetebol, que busca orientar como deve ocorrer o

    ensino-treinamento dos fundamentos tcnicos, dos sistemas defensivo e ofensivo e

    tambm as estratgias pedaggicas em um perodo que abrange o incio da prtica na

    modalidade basquetebol at o inicio da fase adulta, que visam aos resultados

    superiores.

    Com o intuito de organizar o estudo sobre o ensino-treinamento do basquetebol,

    na iniciao e na especializao, optou-se pela diviso do estudo em quatro captulos.

    No primeiro, so abordados os fatores fundamentais que envolvem o treinamento

    tcnico e ttico no basquetebol, tais como as caractersticas dos desportos coletivos, os

    aspectos do crescimento fsico e da maturao para a elaborao das cargas de

    treinamento para jovens atletas, os princpios do treinamento desportivo e sua

    importncia para o treinamento do basquetebol, os mtodos e os meios que so

    utilizados para a realizao do treinamento do basquetebol na infncia e na

    adolescncia, na qual norteia o processo de preparao da base dos atletas brasileiros

    para as competies nacionais e internacionais no futuro.

  • 22

    No segundo captulo, o destaque principal com os referenciais tericos que

    tratam do processo de formao desportiva basquetebol. Destaca-se a etapa de

    iniciao em basquetebol e suas fases de desenvolvimento, passando pela fase de

    conhecer brincando o jogo de basquetebol, a importncia do aspecto ldico, depois

    pela fase de aprendizagem inicial dos sistemas e fundamentos do jogo de basquetebol

    e, para finalizar, pela fase de automatizao e refinamento da aprendizagem inicial ao

    jogo de basquetebol e aprendizagem de novos contedos. Deste modo, a exemplo de

    como se procedeu na etapa de iniciao em basquetebol, e visando a melhor

    explanao, dividiu-se a etapa de especializao dos atletas de basquetebol em duas

    fases: a) fase de aperfeioamento inicial da tcnica e da ttica; b) fase de

    aperfeioamento profundo da tcnica e da ttica. Finalizando este captulo, discute-se

    alguns aspectos sobre a preparao dos jovens atletas de basquetebol para as

    competies nacionais e internacionais.

    O terceiro captulo do estudo ficou reservado para os procedimentos

    metodolgicos, que compreende o contexto da pesquisa realizada com o intuito de ter

    um melhor conhecimento de causa sobre o processo de ensino-treinamento do

    basquetebol no Brasil. A pesquisa de campo buscou explorar o conhecimento

    acumulado de tcnicos que atuam com as principais equipes nacionais e selees

    brasileiras. Nesse caso, os tcnicos brasileiros de renome nacional e muitos deles com

    renome internacional e professores mestres e doutores com atuao acadmica no

    ensino superior e que atuam com basquetebol em diferentes universidades brasileiras.

    No quarto captulo, descreve-se, analisa-se e discute-se os resultados da

    pesquisa para enfim apresentar as consideraes finais e apresentar alguns indicativos

    pedaggicos e metodolgicos para o ensino-treinamento da tcnica e da ttica no

    basquetebol para as etapas de iniciao e especializao, considerando as diferentes

    categorias do basquetebol presentes na cultura competitiva nacional, reservada aos

    contedos e aos mtodos de trabalho.

    So apresentados a seguir os objetivos da pesquisa que norteou o processo de

    formao desportiva basquetebol no Brasil.

  • 23

    OBJETIVOS

    Objetivo Geral

    Explorar o conhecimento acumulado de tcnicos brasileiros e professores do

    ensino superior em relao ao processo ensino-treinamento da tcnica e da ttica no

    basquetebol do Brasil.

    Objetivos Especficos

    Contextualizar os contedos e as estratgias metodolgicas utilizadas por

    tcnicos e professores do ensino superior para o ensino-treinamento dos fundamentos

    tcnicos e dos sistemas defensivos e ofensivos nas diferentes categorias da formao

    desportiva basquetebol: pr-mini, mini, mirim, infantil, infanto, cadete, juvenil e sub-21,

    e apresentar indicativos pedaggicos para o ensino da tcnica e da ttica para as

    diferentes categorias considerando os contedos e os mtodos de ensino-treinamento..

  • 24

    CAPTULO I

    PEDAGOGIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO: FATORES FUNDAMENTAIS PARA O ENSINO-TREINAMENTO DA

    TCNICA E DA TTICA NO BASQUETEBOL NA INFNCIA E NA ADOLESCNCIA

    O principal enfoque de preocupao nesse capitulo com os fatores

    fundamentais que envolvem o ensino-treinamento tcnico e ttico dos jogos desportivos

    coletivos basquetebol, tais como as caractersticas dos desportos coletivos, os

    aspectos do crescimento fsico e da maturao para a elaborao das cargas de

    treinamento para jovens atletas, os princpios do treinamento desportivo e sua

    importncia para o ensino-treinamento do basquetebol, os mtodos e os meios que se

    utilizam para realizar o treinamento do basquetebol na infncia e na adolescncia, que

    norteia o processo de preparao da base dos atletas brasileiros para as competies

    nacionais e internacionais no futuro.

    1. Caractersticas dos jogos desportivos coletivos basquetebol

    A rea das Cincias do Desporto tem estudado esse processo e a linha de

    pesquisa - Pedagogia do Desporto em algumas universidades brasileiras em suas

    distintas dimenses identificou vrios problemas pertencentes modalidade

    basquetebol. Entre eles, menciona-se a busca de resultados em curto prazo, a

    especializao precoce, a carncia de planejamento, a fragmentao do ensino dos

    contedos do treinamento e outros aspectos relevantes que tratam da compreenso do

    fenmeno em sua funo social, mas principalmente a continuidade no processo de

    treinamento desportivo basquetebol. Os principais autores desta linha, entre outros,

    so: Paes (1989); Greco (1998); Oliveira (2002); Oliveira e Paes (2003a, 2004a e 2005);

    Balbino (2005).

    O jogo de basquetebol desde sua origem praticado por crianas, adolescentes

    e adultos dos mais diferentes povos e naes e sua evoluo constante, ficando cada

    vez mais evidente seu carter competitivo, regido por regras e regulamentos

  • 25

    (TEODORESCU, 1984). O basquetebol caracteriza-se, entre outros fatores, pela

    predominncia da variao tcnica e ttica, alm das solicitaes e efeitos cumulativos

    morfolgicos funcionais e motores, provocados por um intenso envolvimento das

    habilidades e estratgias mentais e da manifestao-emoo. Tambm esto

    envolvidos outros fatores, como alimentao, temperatura, diversificao de ambientes,

    condies socioeconmicas. Essas exigncias, que estimulam os processos

    adaptativos, influenciam diretamente no desenvolvimento multifacetado do indivduo em

    variadas dimenses e nveis de adaptao (WEINECK, 1999), bem como permitem,

    atravs dessas exigncias e estmulos, o desenvolvimento integral do indivduo

    (BALBINO, 2004).

    De acordo com Balbino (2005), uma outra caracterstica que o jogo desportivo

    coletivo possui diz respeito exigncia da habilidade espacial do sujeito em relao a

    bola, aos colegas e adversrios no espao de jogo. No basquetebol, a aleatoriedade do

    contexto, somada imprevisibilidade seqencial de aes, provoca a constante necessidade do atleta projetar, nos possveis momentos do jogo, posteriores

    combinaes, formadas pelos vrios modelos de jogo e no teria outra forma, seno

    uma tima preparao tanto tcnica como ttica, pois uma necessita da outra para uma

    melhor compreenso do jogo. Essa condio de intersubjetividade, ou seja, a trama de

    experincias internas que cada indivduo estabelece ao jogar, um dos elementos

    provocadores da alternncia imprevisvel de situaes e resultados das aes de jogo

    (GARGANTA, 1995). Dessa forma, pode-se dizer que a preparao tcnica e ttica no

    processo de formao em longo prazo tem varincia de performance e torna-se

    necessrio verificar quais contedos e mtodos devem ser utilizados nas diferentes

    fases de desenvolvimento dos jovens atletas. De qualquer forma, torna-se

    imprescindvel fundamentar a pesquisa antes das indicaes tericas:- pedaggicas e

    metodolgicas para o ensino-treinamento do basquetebol embasado nas cincias do

    desporto.

    Assim sendo, apresentam-se a seguir estudos que tratam do desenvolvimento

    fsico e sua relao com o treinamento no basquetebol. Depois, sero apresentados os

    princpios cientficos que do suporte terico preparao dos atletas de basquetebol

    e, em seguida, os mtodos de treinamento e, conseqentemente, os meios de sua

  • 26

    aplicao. Inicialmente, mostram-se alguns estudos de especialistas da rea de

    desenvolvimento e crescimento fsico que discutem as suas respectivas faixas de

    maturao biolgica relacionadas s idades cronolgicas aproximadas e sua relao

    com a aplicao de cargas de treinamento. No entanto, torna-se necessrio um breve

    entendimento sobre crescimento, maturao e desenvolvimento do organismo humano

    durante o processo de treinamento do basquetebol, entendendo que o desenvolvimento

    humano tem amplas formas de vida como: desenvolvimento social, cultural, emocional

    e econmico. Quando se trata do desporto, todos entram em ao ao mesmo tempo,

    porm o objetivo nesse tpico apenas dissertar sobre o desenvolvimento fsico e sua

    relao com o treinamento tcnico e ttico, no qual entram os aspectos crescimento e

    maturao, que so os principais fenmenos de discusso e dvidas entre os

    especialistas do desporto, quando se trata de preparao desportiva e, nesse caso

    especifico, dos(as) atletas de basquetebol. 1.1. Desenvolvimento fsico e sua relao com o treinamento tcnico ttico no basquetebol

    No ensino da tcnica e da ttica dos desportos coletivos - basquetebol, torna-se

    muito valioso discutir como ocorre o desenvolvimento fsico das crianas e

    adolescentes com o intuito de planejar os contedos e as cargas de treinamento com

    vistas a no especializao precoce de alguma capacidade fsica, bem como aos

    fatores motivacionais, que envolve a prtica do basquetebol. Dessa forma, busca-se o

    entendimento sobre o desenvolvimento fsico e sua relao com as idades biolgicas e

    cronolgicas, no que diz respeito s metodologias de ensino dos contedos tcnicos e

    tticos do basquetebol no processo de iniciao e especializao, com respaldo de

    autores renomados nessa rea citados a seguir.

    Para Guedes e Guedes (1997), o desenvolvimento fsico definido como um

    conjunto de fenmenos que, de forma inter-relacionada, permitem ao indivduo uma

    seqncia de modificaes evolutivas, da maturidade at a morte, em toda a

    complexidade da vida humana. Isso demonstra que, apesar das fases de

    desenvolvimento serem seqenciais ao desenvolvimento, as experincias e o ambiente

  • 27

    de cada aluno/atleta so diferenciados. Por exemplo, h atletas que no se alimentam

    muito bem em funo das condies socioeconmicas de suas famlias. Por outro lado,

    h atletas que no se motivam muito para o treinamento porque suas condies

    socioeconmicas lhes possibilitam muitas outras atividades, como estudar idiomas,

    viajar, namorar, entre outras, tendo o treinamento de basquetebol como apenas uma de

    suas possibilidades de sucesso, enquanto outros fazem desse artifcio sua nica forma

    de vida (WEINECK, 1999).

    Assim sendo, torna-se necessrio conceituar tais fenmenos, a fim de se obter

    uma melhor compreenso dos mesmos no processo de ensino do basquetebol.

    O tcnico de basquetebol, ao programar seu treinamento tcnico e ttico, pode

    ser menos ou mais criterioso na escolha dos recursos fsicos-materiais, e vai depender

    claro do seu cenrio de atuao. Mas quando se trata de aprendizagem de algum

    contedo, seja ele tcnico ou ttico, entre outros, torna-se valioso o conhecimento

    bsico dos aspectos do crescimento e da maturao dos jovens atletas, principalmente

    por diferenciarem-se nas curvas do crescimento durante a adolescncia, (ASTRAND,

    1997).

    Nesse sentido, recorreu-se aos estudos de Malina e Bouchard (1991) que

    asseveraram que o crescimento fsico fruto de um complexo mecanismo celular que

    envolve basicamente trs fenmenos: a) hiperplasia aumento no nmero de clulas a

    partir da diviso celular; b) hipertrofia aumento no tamanho das clulas a partir da

    elevao das unidades funcionais destas, como relao principal entre protenas e

    substratos; c) agregao que o aumento na capacidade das substncias

    intercelulares em agregar clulas.

    Nesse contexto, Nahas (1991) ressalta o crescimento fsico como um fenmeno

    complexo e dependente de inmeros fatores, como a bagagem gentica, o estado

    nutricional, o nvel socioeconmico, as doenas na infncia e adolescncia, a atividade

    fsica, a regio geogrfica e as condies climticas. Para Tani (1998), o crescimento

    fsico o aumento do nmero e/ou tamanho das clulas que compem os diversos

    tecidos do organismo, sendo que sua mensurao pode ser realizada atravs das

    medidas antropomtricas de estatura, massa corporal, dobras cutneas, circunferncias

    e dimetro. Com a avaliao desses fatores, talvez a prescrio das atividades possa

  • 28

    tomar um novo rumo quando se trata de treinamento com jovens.

    Em relao maturao, Malina (1994) argumenta que esta se apresenta como

    sendo o andamento, a seqncia e o processo em direo ao estado biolgico maduro.

    Entretanto, apesar da maturao ser um fenmeno essencialmente biolgico, no se

    deve descartar a possibilidade desse fenmeno sofrer influncia do contexto

    sociocultural e ambiental no qual vivem os seres humanos. Em relao a esse assunto,

    Guedes e Guedes (1997) entendem que a experincia, fator originado do meio

    ambiente, pode alterar ou modificar o surgimento de algumas caractersticas

    predeterminadas geneticamente do desenvolvimento fsico por meio do processo de

    aprendizagem. Neste sentido, Weineck (1999) revela a existncia da interao entre

    maturao, aprendizagem e o ambiente, tidos como um processo proveniente da

    prtica e dos esforos fsicos realizados pelos indivduos na atividade desportiva, nesse

    caso o basquetebol.

    Enfim, importante destacar que os aspectos relacionados ao crescimento,

    maturao e experincia e o ambiente esto intimamente ligados, sendo que sua

    percepo separadamente no treinamento tcnico e ttico do basquetebol

    praticamente impossvel. No caso do basquetebol, onde as estaturas se diferenciam

    muito, deve-se tomar muito cuidado para selecionar as funes dos atletas no jogo,

    podendo cometer srios equvocos de avaliao, pois crianas que crescem

    demasiadamente durante o perodo da puberdade podem no ser as mais altas na fase

    adulta e, no entanto, podero no ser pivs na fase de profissionalizao. Assim sendo,

    deve-se dar oportunidade s crianas adolescentes na prtica do basquetebol de uma

    vivencia multifacetada em todas as funes que o jogo possibilita e, ento, buscar a

    formao tcnica e ttica especializada em uma determinada funo aps o pico da

    velocidade de crescimento, que em alguns meninos acontece por volta dos 15/16 anos

    e nas meninas por volta dos 14-15 anos, fase esta que j mais propcia a uma

    especializao para os atletas (WEINECK, 1999).

    Outro fator de preocupao, por parte dos tcnicos, deve ser a relao do

    treinamento tcnico e ttico com as idades cronolgica e biolgica, s quais, na maioria

    das vezes, diferem de atleta para atleta (OLIVEIRA e ARRUDA, 2000). Esses dois conceitos so imprescindveis para a compreenso na elaborao das cargas de

  • 29

    treinamento no processo de ensino da tcnica e da ttica no basquetebol

    No que tange especificamente idade biolgica, Gallahue e Osmum (1995)

    concebe a idade cronolgica como determinada pela diferena entre determinado dia e

    a data do nascimento do indivduo, apresentando a seguinte classificao: vida pr-

    natal: entre a concepo e 8 semanas do nascimento; primeira infncia: um ms a 24

    meses do nascimento; segunda infncia: 24 meses a 10 anos; adolescncia: 10-11 a 20

    anos; adulto de meia idade: 40-60 anos; adulto mais velho: acima de 60 anos. Para o

    autor, a idade biolgica corresponde idade determinada pelo nvel de maturao dos

    diversos rgos que compem a formao corporal do ser humano. Dessa forma, a

    determinao da idade biolgica, quesito relevante para o treinamento tcnico e ttico

    na adolescncia, pode ser efetuada por meio de avaliao da idade ssea, morfolgica,

    neurolgica, dental e sexual, o que possibilita a compreenso do fenmeno,

    possibilitando a classificao em grupos pr-pbere, pbere e ps-pbere, facilitando,

    para os tcnicos, a compreenso do fenmeno ao aplicarem as cargas de treinamento.

    Malina e Bouchard (1991) sugerem para os tcnicos a estimativa da maturao

    biolgica por meio da maturao sexual proposta por Tanner (1975), a qual faz uso das

    caractersticas sexuais secundrias: plos auxiliares, plos pubianos e desenvolvimento

    escrotal, e desenvolvimento mamrio, podendo ser de grande valia para a prescrio do

    treinamento. Essa classificao, em funo da idade biolgica, positiva na distribuio

    das cargas de treinamento para crianas e adolescentes, possibilitando a distino de

    forma mais clara e segura das adaptaes fisiolgicas e morfolgicas resultantes do

    programa de trabalho e das transformaes que ocorrem no organismo, principalmente

    durante a puberdade, haja vista que o incio da adolescncia marcado por um perodo

    de aumento acelerado no peso e na estatura. A idade de incio, durao e intensidade

    do estiro de crescimento determinada geneticamente e varia consideravelmente de

    indivduo para indivduo. Isso ocorre porque o gentipo estabelece limites com o

    crescimento individual, e as condies de aprendizagem e experincias, no ambiente

    em que a pessoa vive, tm influncia primordial sobre esse fator (GALLAHUE, 2000).

    De acordo com os estudos do crescimento e da maturao que determinam o

    desenvolvimento fsico, pode-se afirmar que os treinamentos de crianas e jovens no

    basquetebol devem ser diferenciados dos adultos, tendo em vista que cada faixa etria

  • 30

    possui determinada funo didtica e pedaggica em funo da especificidade do

    desenvolvimento do organismo (perodos sensveis para a aprendizagem). Weineck

    (1999) afirmou que os estmulos e as possibilidades do aprendizado podem ser

    avaliados de acordo com a fase sensitiva, ou seja, existe um perodo timo ou sensvel

    do desenvolvimento das pessoas para receberem cargas especficas de treinamento de

    onde os atletas de basquetebol podem ter como referncia (OLIVEIRA e PAES, 2004).

    Weineck (1999) aponta alguns fatores como determinantes para a continuidade,

    enfatizando a coerncia entre treinamento fsico e tcnico-ttico, sobretudo em relao

    s disponibilidades do treinamento intenso. Dessa maneira, ao especializar os atletas

    no basquetebol, pode-se ter um melhor diagnstico obtido por intermdio das

    avaliaes mdico-fisiolgicas, sobre o crescimento e o desenvolvimento biolgico e

    assim melhor inferir na distribuio das cargas e acompanha-se de perto o

    desenvolvimento fsico motor dos atletas e no se sobrepem as cargas.

    A seguir, e baseado em uma discusso antiga na rea do treinamento desportivo

    e atualmente ampliada na linha de estudos em Pedagogia do Desporto na Unicamp,

    ser apresentada a compreenso dos princpios pedaggicos e biolgicos aplicados ao

    processo de iniciao e treinamento na infncia e na adolescncia, dirigido de forma a

    contemplar o processo de ensino do basquetebol, como sendo complexo e plural e se

    manifesta em mltiplas dimenses.

    1.2. Princpios do treinamento desportivo fundamentais para o ensino-treinamento da tcnica e da ttica no basquetebol

    Para discutir a importncia dos princpios do treinamento desportivo e sua

    aplicao ao ensino-treinamento da tcnica e da ttica no basquetebol, fundamental o

    apoio de autores de distintas reas do conhecimento cientfico, como: Weineck, (1991),

    Zakharov e Gomes (1992), Gallahue e Osmum (1995), Filin (1996), Matveev (1997),

    Gomes (2002) e Granell e Cervera (2003), que procuravam compreender o

    desempenho total do indivduo, integrando os aspectos fsico, mental, emocional, social

    e cultural dos jovens atletas.

    Nesse sentido, so inmeros os fatores que influenciam o processo de

  • 31

    preparao tcnico e ttico dos atletas em longo prazo: biolgicos, psicolgicos,

    pedaggicos, sociais, culturais e outros relativos ao desempenho humano como

    experincia vivida, desenvolvimento fsico e a gentica (GALLAHUE, e OSMUN, 1995).

    De qualquer forma, os princpios do treinamento desportivo representam a estrutura

    primria da organizao do processo de preparao e servem para otimizar a escolha e

    a execuo de meios e mtodos pelos atletas e tcnicos (WEINECK, 1999).

    Os princpios cientficos aplicam-se em todos os desportos coletivos,

    especialmente o basquetebol, e determinam o programa dos mtodos e meios que so

    utilizados durante a preparao e formao tcnica e ttica dos jovens atletas de

    basquetebol, bem como a organizao dos contedos do treinamento, relacionando-se

    utilizao consciente, considerando um grande nmero de variveis que interferem no

    processo. Os princpios cientficos representam a metaestrutura do processo de

    treinamento esportivo, sustentado pelo processo de adaptao biolgico e pedaggico

    (BALBINO, 2004).

    Os princpios pedaggicos e biolgicos so advindos de outras reas do

    conhecimento, como a fisiologia, biologia, bioqumica, das reas biolgicas, e ainda de

    outras reas, como a educao, hstria, psicologia, pedagogia. Matveev (1980) dividiu

    os princpios do treinamento desportivo, asseverando que os mesmos constituem

    regras gerais, os quais so extrados de diversas cincias, particularmente as biolgicas

    e pedaggicas e argumenta que a aplicao dos princpios depender da experincia

    dos tcnicos e professores para facilitar a organizao da preparao desportiva de

    forma geral e especial visando s competies.

    Gomes (2002) descreveu sobre vrios princpios, entre eles o princpio da

    conscientizao que entende-se ser fundamental no processo de formao tcnica e ttica do atleta de basquetebol, para que os mesmos compreendam e reflitam sobre

    sua prtica. Neste, a utilizao dos conhecimentos tericos norteiam o treinamento,

    podendo auxiliar os atletas na compreenso dos objetivos e metas no decorrer do

    processo, durante uma ou mais temporada. No sistema de treinamento do jogo

    desportivo coletivo basquetebol, ocorre a inter-relao diria com muitas informaes

    tericas por parte do tcnico e dos atletas e essas informaes, por sua vez, compem

    um conjunto de conhecimentos necessrios ao atleta, completando as atividades

  • 32

    prticas. Nas informaes, so contemplados os conhecimentos acerca da histria do

    basquetebol, como o basquetebol situa-se socialmente, sobre as tcnicas e

    metodologias adotadas nos treinamentos e competies, sobre a filosofia dos tcnicos

    em relao s formas de jogar, higiene, ao controle mdico, alimentao, s regras

    especficas, periodizao do trabalho, entre outros.

    Referindo-se a esse assunto, Matveev (1997) cita que a preparao terica para

    os atletas de basquetebol vai contribuir para o desenvolvimento intelectual dos atletas e a preparao terica por sua vez, uma das condies, mais importantes da eficcia do desporto como meio de aperfeioamento harmnico da personalidade e confirma que as leis da atividade vital e do desenvolvimento do organismo bem como um elevado nvel intelectual, convertem-se cada vez mais no s em premissas, mas tambm em fatores diretos aos resultados desportivos (MATVEEV, 1997, p. 27).

    Em conformidade com a prerrogativa do autor, e analisando o contexto do ensino

    do basquetebol no Brasil, Oliveira e Paes (2002), constatou-se que os aspectos

    tericos que permeiam o treinamento tcnico-ttico, principalmente na etapa de

    especializao que o valor atribudo inter-relao entre os conhecimentos dos atletas

    com os dos tcnicos so insuficientes, prejudicando sobremaneira a evoluo

    intelectual dos atletas, importante para as tomadas de deciso exigidas pela atividade

    competitiva. Os estudos de Oliveira e Paes (2002), com atletas da seleo masculina

    que disputaram o Mundial nos Estados Unidos, mostraram que um dos fatores de

    pouca ateno por parte dos agentes que dirigem o treinamento ou a preparao dos

    atletas foi a preparao terica.

    Nas fases iniciais do treinamento, busca-se por intermdio dos meios didtico-

    pedaggicos, a autonomia dos atletas. Esses conhecimentos tericos podem ser

    apresentados atravs de filmes, conferncias, palestras, seminrios, estudo individual,

    dentre outros, possibilitando o crescimento intelectual e facilitando a compreenso dos

    contedos que norteiam a preparao tcnica-ttica bem como a inter-relao entre os

    atletas do grupo, melhorando, tambm, o ambiente complexo da atividade competitiva

    desportiva, o rbitro, a torcida, o tcnico, o adversrio e a imprensa (BALBINO, 2001).

    Os conhecimentos tericos oportunizam tambm aos atletas serem mais autnomos em

  • 33

    suas decises e no reproduzirem sempre o que tcnico fala, contribuindo, assim, para

    o desenvolvimento de sua autonomia e de sua personalidade. Assim, a conscientizao

    uma das principais contribuies ao sistema de treinamento e ao sistema de fatores

    que complementam a preparao tcnico-ttica dos atletas.

    Deste modo, todos os itens fundamentais do treinamento tcnico-ttico esto

    estreitamente inter-relacionados com a preparao terica dos atletas no processo de

    preparao para as competies. A preparao fsica cria premissas para a tcnica e a

    ttica. O prprio processo de treinamento tcnico-ttico, por sua vez, pode ser usado

    para desenvolver o potencial fsico. A atitude do atleta, sua motivao, inter-relao,

    vontade, determinao e tenacidade so quesitos determinantes para o sucesso no

    desenvolvimento de suas capacidades e no aperfeioamento tcnico-ttico em toda a

    atividade que envolva o processo de treinamento e competies do basquetebol. No

    entanto, a preparao terica indispensvel para potencializar o trabalho. O destaque

    principal est em realizar determinadas atividades consciente dos seus benefcios bem

    como o porqu e para que estar se dedicando. No caso do basquetebol seria os jovens

    conhecerem os sistemas de preparao, os objetivos do desporto como um todo bem

    como seus significados no mbito social.

    O princpio da sade mostra que o indivduo, na prtica desportiva coletiva

    basquetebol, pode no apenas ser para as competies e, quando for, dever estar

    apto a sua prtica, mas para a ocupao do tempo livre, melhorar a esttica corporal

    para conseqentemente maximizar sua capacidade funcional e neuro-muscular ou at

    em situaes teraputicas, melhorando sua sade como um todo. J o princpio da

    utilidade mostra que a aprendizagem do basquetebol e seu treinamento em longos anos podem e devem ter como principal objetivo a formao do cidado til para a

    sociedade, tendo em vista suas limitaes de estatura, peso e caractersticas pessoais

    com o intuito de preparar-se para o desporto e tambm para a sua vida til na

    sociedade.

    O princpio das diferenas individuais um dos principais princpios da preparao desportiva de grande relevncia que Tubino (1979), Dantas (1995) e

    Weineck (1991) destacam tambm como principio da individualidade biolgica, que so

    as diferenas individuais. Cada ser humano geneticamente diferente do ponto de vista

  • 34

    biolgico, mas tambm social e psicolgico, em funo do ambiente onde vivem e das

    tarefas que lhes so proferidas. Dessa forma, o tcnico deve conhecer os conceitos

    para com inteligncia saber explorar as reais capacidades dos seus educandos/atletas.

    O princpio da durabilidade e da continuidade esclarece que toda carga de treinamento que os jovens recebem em programas de preparao melhoram com o tempo as

    capacidades e as qualidades do organismo frente s competies desportivas. No

    entanto, elas devem ter uma programao contnua para evitar a estabilizao e

    principalmente a reversibilidade das competncias adquiridas. Sendo assim, as cargas

    devem ser programadas em muitos anos de preparao (GOMES, 2002).

    O princpio da especializao das cargas apresentada tambm por Tubino

    (1979) e Weineck (1991) como principio especificidade. No processo de preparao em

    muitos anos, as cargas de treinamento vo se alterando com o tempo e, no momento

    em que os atletas decidem por uma ou outra modalidade, as cargas vo ficando cada

    vez mais especficas. Isso implica especializar as cargas e as aes motoras s

    condies psicolgicas das atividades, s competncias tcnico-tticas, bem como aos

    aspectos funcionais dependentes das possibilidades fisiolgicas dos praticantes e das

    caractersticas de cada modalidade.

    O princpio da unidade entre a preparao geral e especial conhecido tambm

    como principio da proporcionalizao das cargas, que tem como base o princpio da

    especializao das cargas, na qual os desportistas dos jogos desportivos coletivos

    basquetebol, necessitam receber estmulos diferenciados, em distintos momentos da

    preparao em cada sesso de treinamento e a cada perodo de competio nos

    diferentes anos de prtica. Essas diferenas nos contedos das cargas podem ser

    chamadas de cargas gerais, especiais que antecedem as competitivas. J o princpio

    das cargas ondulatrias foi descrito por Weineck (1999) como principio da ciclizao.

    Essas cargas gerais e especiais tomam propores diferentes no decorrer do processo,

    pois nas fases mais iniciais da prtica desportiva h o predomnio das cargas mais

    generalizadas, e nas fases mais especializadas do treinamento as cargas passam a ter

    predomnio mais especfico, com vistas ao aumento do desempenho competitivo.

    O princpio da elevao progressiva das cargas, como nos princpios anteriores,

    indica que a melhoria da performance dos atletas jovens em muitos anos de

  • 35

    treinamento est relacionada com o aumento progressivo das cargas. O principio da

    sobrecarga, segundo Weineck (1991), passa por diferenas significativas no decorrer

    do processo de formao desportiva elencando a carga progressiva mais efetiva,

    sobrecarga individualizada, sobrecarga crescente, sobrecarga seqencial, sobrecarga

    variada, sobrecarga e tempo de recuperao do organismo, progresso da sobrecarga,

    periodizao da sobrecarga, sobrecarga geral e especial. medida que o atleta recebe

    certos estmulos, estes devem estar sendo aplicados levando em considerao todos

    os itens citados acima bem como buscando um controle atravs das avaliaes

    freqentes, principalmente no que diz respeito intensidade e ao volume do

    treinamento nas diferentes fases do processo de preparao tcnica e ttica, tanto nos

    aspectos biolgicos quanto no psicolgico e social.

    Assim, os princpios do treinamento servem como base para a elaborao dos

    contedos e mtodos de maneira eficiente, nos quais os estmulos direcionados aos

    atletas jovens no processo so aes que sustentam a obteno de informaes nas

    prticas referentes ao desenvolvimento e aquisio da melhoria continuada do

    indivduo no processo de preparao, onde, na etapa de iniciao desportiva, o ensino-

    aprendizagem a prioridade e, na etapa de especializao desportiva, o ensino-

    treinamento passa a ser a prioridade quando se trata de formao tcnica e ttica.

    Entende-se ainda que, no caso de uma preparao em longo prazo ou na preparao

    dos atletas de desportos coletivos basquetebol, os tcnicos podem diminuir os erros

    pedaggicos na elaborao dos mtodos e dos meios para a aplicao das cargas nas

    quais os princpios do treinamento servem como elementos fundamentais para o

    entendimento do processo de melhoria do indivduo em todas as suas dimenses de

    competncias na prtica desportiva aqui estudada, especificamente para a tcnica e

    ttica do basquetebol.

    Na seqncia, apresentam-se os mtodos e os meios utilizados na elaborao

    do treinamento, que esto altamente relacionados aos princpios que norteiam o

    processo de treinamento.

  • 36

    1.3. Mtodos e meios pedaggicos aplicados ao ensino-treinamento tcnico e ttico do basquetebol

    Os mtodos de influncia pedaggica tm importncia para a composio de

    prticas no treinamento desportivo. Autores clssicos do treinamento desportivo

    (MATVEEV, 1980 e 1997; WEINECK, 1991 e 1999; BOMPA, 2002; GOMES, 2002)

    buscaram sistematizar e classificar os mtodos pedaggicos para compreender sua

    estrutura funcional aplicada preparao de atletas, com fins determinados de melhoria

    em sua modalidade especfica. Matveev (1997) classificou os mtodos pedaggicos em

    trs grupos: influncia prtica, verbal e demonstrativa. vlido ressaltar que, embora

    essa viso se revele aplicada e com destaque nas capacidades de condicionamento,

    existe um processo de aprendizagem na execuo de sua prtica medida que algum

    problema a ser resolvido significa um desafio a ser vencido, mesmo que se subtraia da,

    aparentemente, a resoluo que envolve a lgica e sua verbalizao (BALBINO, 2001 e

    OLIVEIRA e PAES, 2004).

    Matveev (1980) e Gomes (2002) propuseram a caracterizao dos mtodos,

    organizando-os a fim de estimular as vrias dimenses de desempenho. So eles o

    mtodo de influncia prtica ou programada que podem ter seqncia e intensidade em

    variadas combinaes e se justificam pelos mtodos orientados para o ensino da

    tcnica das aes motoras, nas quais se destacam os enfoques do mtodo de ensino

    integral, que pressupe o estudo da tcnica das aes motoras de uma s vez e em

    carter integral, e o mtodo de ensino dividido, que pressupe a diviso da atividade

    motora em elementos ou fases relativamente independentes.

    Nesse sentido, cabe ressaltar as preocupaes de Fernandez et al, (2002)

    quando estes autores afirmaram que as cincias do desporto como qualquer outra rea

    do conhecimento humano, vem adotando uma abordagem holstica no pensamento

    metodolgico, na qual o ser humano enfocado de uma maneira global, dentro dos

    diferentes campos de estudos e anlises. Este enfoque, segundo o autor, busca o

    desprendimento dos conceitos cartesianos, onde se dividia o todo em partes e a anlise

    era calcada sobre cada parte de forma independente, por exemplo, treinar primeiro as

    passadas da bandeja e depois o salto para somente na seqncia a empunhadura, o

  • 37

    encaixe da bola na mo predominante e s na ltima parte ensinar como arremessar

    para a criana. Desta forma, a metodologia cartesiana no buscava a integrao dos

    diferentes aspectos do treinamento desportivo, visando a um enfoque global das

    diferentes variveis que influenciavam a aprendizagem do desporto coletivo e no

    basquetebol via de regra ainda tem ocorrido atualmente. Basta analisar as pesquisas

    realizadas por Garganta (1995), Oliveira e Graa (1998), Oliveira e Paes (2002, 2004)

    sobre as metodologias de ensino dos desportos coletivos, principalmente sobre o

    ensino-treinamento da tcnica e da ttica no basquetebol no processo de formao

    desportiva.

    Dessa forma, o treinamento das capacidades motoras tcnicas e tticas do

    basquetebol pode estar respaldado pelas referncias de diversas reas do

    conhecimento e no apenas pelos mtodos de exerccio de regime em carter contnuo

    (permanente) ou intervalados importados do atletismo. De acordo com Bompa (2002, p.

    391),

    o mtodo de jogo tem em seu carter emocional grandes vantagens para desenvolver a coordenao e a velocidade de movimentos principalmente nas etapas iniciais de preparao tcnica e ttica porque promove o contentamento e o divertimento dos desportistas.

    Pode-se pensar principalmente no mtodo de jogo que se realiza atravs das

    modalidades desportivas coletivas na qual o basquetebol est inserido e pelos diversos

    tipos de jogos existentes, buscando criar analogias com situaes vividas na

    competio, exigindo desempenho conjugado emotividade, com ausncia de rgida

    programao de xitos porque nesses desportos muitos erros acontecem durante o

    treino e jogos e a preparao global se torna mais fidedigna pela diversidade das

    situaes de jogo e independncia criadora na escolha de solues mais eficazes de

    tarefas motoras (GRANELL e CERVERA, 2003)

    No entanto, parece que o complexo de diversas habilidades e capacidades

    motoras exigidas e manifestadas nos jogos e nas competies torna o mtodo de jogo

    de elevado valor metodolgico, no processo de treinamento tanto para a iniciao

    quanto em alto nvel de exigncia. Nesse sentido, Weineck (1991) destaca vrios

    mtodos, como variativo na movimentao, em condies externas, de movimentos

  • 38

    automatizados por exerccios, por tempo determinado, sem tempo determinado, por

    percepo das informaes, depois de grandes cargas, porm ressalta que o mtodo

    competitivo o melhor parmetro para se fazer as anlises mais profundas da real

    performance dos atletas e indica o mtodo psicolgico para eliminar fatores

    desfavorveis que podem influenciar no desempenho dos jovens. Sobre esse assunto,

    Granell e Cervera (2003) sugerem os estmulos positivos como principal contedo da

    preparao psicofisiolgica dos jovens, defendendo que o reforo negativo pode no

    ser benfico em funo das fases de desenvolvimento, principalmente social dos

    adolescentes que parece estar totalmente relacionado com a auto-estima.

    Alm dos mtodos tradicionais de utilizao pratica, Gomes (2002) com base em

    Matveev (1980) apresentou outros mtodos que so muito relevantes para a

    preparao tcnica e ttica de jovens atletas de basquetebol, como o mtodo de

    influncia verbal. Este se manifesta atravs da comunicao verbal entre o tcnico e o

    atleta. Explicao, dilogo, comando positivo, indicao corretiva, anlise verbal,

    avaliao e outras manifestaes mediante a verbalizao, pautadas pelo contedo

    emocional e pelo sentido lgico da informao. Podem ser citados nesse mtodo os

    mtodos de influncia demonstrativa, os quais utilizam as possibilidades de diferentes

    sistemas sensoriais do homem, relativos aos sistemas visuais, auditivos e sinestsicos.

    Matveev (1980) e Gomes (2002) indicam possibilidades desse tipo de

    estimulao, atravs dos mtodos que se utilizam. Os mtodos demonstrativos visuais

    so orientados pela apresentao da atividade motora, demonstrando o que deve ser

    feito, provocando a imitao. Podem se dar pela demonstrao de materiais didticos,

    permitindo ao atleta perceber a possvel soluo de uma tarefa motora atravs de

    vdeos, fotos, cartazes, desenhos, esquemas grficos, etc. Uma outra maneira de

    aplic-lo atravs da orientao visual, que auxilia a executar corretamente o

    movimento no espao e no tempo, utilizando pontos visuais de referncia, com objetos

    para marcaes, auxiliando o atleta na execuo de uma tarefa motora. Os mtodos

    demonstrativos auditivos indicam a criao de pontos de referncia necessrios ao fim

    ou ao comeo de determinados movimentos, ou a marcao de alguma variao de

    intensidade na ao motora que seja significativa, indicando o esforo principal, por

    exemplo. A demonstrao sonora pode auxiliar na assimilao do ritmo de execuo

  • 39

    das aes motoras. Os mtodos demonstrativos sinestsicos tm como objetivo

    estimular a organizao pelo atleta das sensaes vindas do aparelho motor, que pode

    ser feita com a interveno do tcnico, em ajuda dirigente, na conduo do segmento

    corporal na ao motora.

    Assim, os jogos e os exerccios constituem a base da iniciao e da preparao

    tcnica e ttica do atleta de basquetebol, constituindo-se na principal forma de

    utilizao das aes motoras no treinamento em funo da facilitao e do estmulo

    especfico orientados para a soluo de tarefas nas prticas de preparao dos atletas

    (BALBINO, 2001). Gomes (2002) ressalta que os exerccios fsico-motores esto

    obrigatoriamente ligados ao mtodo do treinamento tcnico e ttico, estabelecendo

    interligaes necessrias para a soluo das tarefas motoras propostas, com

    caractersticas de repetio, de forma definida e objetiva. Fica convencionado aqui que

    meio o que o tcnico utiliza (exerccios tcnicos atravs dos movimentos, um meio geral de treinamento para o basquetebol, utilizado principalmente nas fases iniciais da

    preparao) e mtodo como se utiliza (nmero de sries, nmero de repeties de determinados exerccios de forma intervalada, contnua, ou mistas entre outras).

    Gomes (2002) cita alguns meios que so utilizados: equipamentos especiais

    material desportivo, instalaes, aparelhos de treino, aparelhagem de avaliao, etc;

    fatores da natureza: influncia do ar e da gua, radiao solar, condies climticas

    especiais; condies sociais e ecolgicas de vida dos atletas: condies de vida

    cotidiana, regime de sono, estudos, trabalho, fator social, econmico; alimentao do

    atleta: adequao de quantidades necessrias de nutrientes; fatores de recuperao

    massagem, fisioterapia, suplementao alimentar, sauna, etc; influncias informativas:

    sistemas de informao a fim de se obter maior variedade possvel de dados.

    Como forma de aplicao de exerccios, na perspectiva de que possam atender

    s exigncias especiais da modalidade em questo, Matveev (1997) classificou os

    exerccios em: competitivo: atividade motora integral, dirigida no sentido da soluo da

    tarefa motora especfica de competio, realizada de acordo com as regras da

    modalidade; preparatrio especial: anlogo aos competitivos, porm sem caractersticas

    contextuais da competio, representando de forma mais intensa da modelagem

    seletiva competitiva; preparatrio geral: pode ser ou no anlogo ao competitivo, mas

  • 40

    tem caractersticas referenciadas modalidade de desenvolvimento multifacetada.

    Dessa forma, os meios apoiados nos princpios que regem o treinamento do suporte

    para os mtodos de ensino do basquetebol.

    Apresenta-se a seguir, pautado pela pedagogia do treinamento desportivo, as

    etapas e fases do desenvolvimento desportivo e estudos que tratam do ensino do

    basquetebol, bem como suas propostas tericas e metodolgicas.

  • 41

    CAPTULO II

    PEDAGOGIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO: REFERENCIAL TERICO SOBRE O PROCESSO ENSINO-

    TREINAMENTO DA TCNICA E DA TTICA NO BASQUETEBOL NA INFNCIA E NA ADOLESCNCIA

    Nesse captulo, o destaque principal com os referenciais tericos que tratam do

    processo de ensino-treinamento da tcnica e da ttica no basquetebol. Destaca-se, no entanto, a etapa de iniciao em basquetebol e suas fases de desenvolvimento,

    passando pela fase de conhecer brincando o jogo de basquetebol, ou seja, a

    importncia do aspecto ldico; depois, pela fase de aprendizagem inicial dos sistemas e

    fundamentos do jogo de basquetebol e, para finalizar, pela fase de automatizao e

    refinamento da aprendizagem inicial ao jogo de basquetebol e aprendizagem de novos

    contedos.

    1. Etapa de iniciao em basquetebol e suas fases de desenvolvimento

    Matveev (1997) afirmou que toda proposta terica que visa realizao de um

    modelo de planejamento da prtica do desporto em longo prazo em seus diferentes

    significados prioriza o desenvolvimento dos seus praticantes em etapas e fases que

    percorrem desde a iniciao at o profissionalismo. Fernndez et al, (2002) corroboram

    com a idia e afirmam que a maioria dos autores est de acordo em estabelecer um

    modelo piramidal, sendo esse universalmente aceito, considerando uma fase de

    fundamentao bsica que antecede a iniciao desportiva, seguida da especializao

    desportiva em uma ou at mais modalidade e por fim a prtica do desporto em alto

    rendimento. Destacam-se ainda outros autores que demonstraram essa preocupao

    no decorrer de sua produo cientfica, entre os quais Carl (1988), Hahn (1989), Krebs

    (1992), Zakharov e Gomes (1992), Gallahue e Ozmun (1995), Bompa (1995, 2001 e

    2002), Filin (1996), Borin (1997), Greco (1998), Bhome (1999), Weineck (1999),

    Schimidt (2001), Paes (2001), Gomes (2002), Fernndez (2002) e Oliveira e Paes

    (2004).

  • 42

    Grosser et. al (1989) apontam que so vrios os fatores que condicionam a

    preparao tcnica e ttica desportiva em longo prazo no basquetebol. Por isso,

    defende que se torna necessrio, na elaborao do planejamento da preparao

    desportiva em longo prazo, considerar fatores de diversas naturezas que determinam

    os ajustamentos e reformulaes dos modelos tericos e referncias, como os

    objetivos, a estrutura do processo, os contedos, os meios e os mtodos.

    Primeiramente, os aspectos socioculturais de cada pas, depois a organizao cientfica

    e metodolgica, em seguida os princpios que regem os mtodos e por fim a estrutura

    temporal que, neste estudo, so compreendidos em etapas e fases. Apesar desse

    entendimento, deve-se pensar que no Brasil, alm da sua dimenso territorial, h

    diferenas culturais significativ