Valor e Dinheiro Nos Grundrisse-uma Discussão Contemporânea
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5/23/2018 Valor e Dinheiro Nos Grundrisse-uma Discuss o Contempor nea
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Valor e Dinheiro nos Grundrisse: uma discusso contempornea
Maria de Lourdes Rollemberg Mollo1
Resumo
O artigo faz uma anlise de texto do captulo do dinheiro nos Grundrisse,
discutindo o valor e o dinheiro como formas sociais historicamente datadas, como
relaes sociais fundamentais no modo de produo capitalista. A complexidade da
diviso social do trabalho se fazendo por meio do dinheiro no capitalismo tambm
descrita, por meio dos movimentos dos valores e preos em torno de valores e medidas
mdias, e dos processos de autonomizao ou descolamento da circulao relativamente
produo. Destacamos como e por que esses processos so prticas reais necessrias,
no capitalismo, em virtude do seu carter produtor de mercadorias. Finalmente, o artigo
mostra como as anlises anteriores so importantes em reflexes e discusses ainda
atuais como a da necessidade de uma moeda-mercadoria, a do chamado socialismo de
mercado e a noo de capital fictcio, to presente e importante para a compreenso da
crise que vivemos. Assim fazendo, destaca a atualidade do pensamento de Marx.
Abstract
The article analyses the text of the chapter on money of Grundrisse, discussing
value and money as social forms historically dated, as fundamental social relations in
capitalism. The complexity of the social division of labor using money in capitalism is
also described discussing the movements of values and prices around medium
measures, and the gaps between circulation and production values. This is observed as
necessary in capitalism as a consequence of the production of commodities. Finally, the
article uses these analysis to discuss questions still present in the contemporarydebates, as the need of a commodity-money, the called market socialism and the notion
of fictitious capital, so important to understand the crisis today. In so doing, the article
shows how opportune the Marxs ideas are.
JEL:B14;B51;E40
rea 5: Economia Monetria e Financeira
1 Professora do Departamento de Economia da Universidade de Braslia. [email protected]. A autora
agradece ao CNPq, por financiamento a pesquisa maior da qual esse trabalho um dos frutos. Aresponsabilidade pelas idias aqui colocadas apenas da autora.
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Em comemorao aos cento e cinqenta anos dos Grundrisse, o objetivo deste
artigo mostrar sua importncia para a discusso de questes atuais. De forma a
cumprir esse objetivo, faremos uma anlise de texto do captulo sobre o dinheiro,
discutindo, em primeiro lugar, no item 1, o valor e o dinheiro como formas sociais
historicamente datadas, como relaes sociais fundamentais do modo de produo
capitalista, relacionadas com o seu carter produtor de mercadorias.
Em seguida, no item 2, chamaremos ateno para alguns aspectos que
conduzem complexidade da diviso social do trabalho se impondo por meio do valor e
do dinheiro. Destacaremos ento a importncia dos movimentos dos valores e preos
em torno de valores e medidas mdias, dos processos de autonomizao ou
descolamento da circulao relativamente produo, e de como esses processos so
prticas reais necessrias, no capitalismo, em virtude do seu carter produtor de
mercadorias.
No terceiro item, tiraremos das anlises anteriores algumas concluses teis para
discutir questes tericas ainda muito atuais. Entre elas destacamos para anlise a
questo de como essas formas sociais evoluem com o capitalismo; de como esse
desenvolvimento reflete contradies caractersticas deste modo de produo; de como
essa evoluo no precisa implicar do ponto de vista lgico e por isso no implicou, de
fato, do ponto de vista histrico, o dinheiro-mercadoria; e de por que a percepo do
dinheiro e do valor como formas sociais do mundo das mercadorias torna discutvel a
concepo de socialismo de mercado.
Ao longo da nossa exposio, vamos destacando como a autonomizao da
circulao relativamente produo vai explicitando a complexidade da diviso social
do trabalho na economia capitalista, um processo realizado de forma indireta e a
posteriori, por meio do dinheiro. Entre as categorias de anlise que mais permitem
discutir estes assuntos est o capital fictcio que, por definio, surge como exemplo de
autonomia da circulao relativamente produo. Ele ser analisado tambm no item
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3, como um assunto que, embora no mencionado no captulo do dinheiro dos
Grundrisse,requer sua leitura para melhor compreenso.
O item 4, das consideraes finais, conclui o artigo.
1. Valor e Dinheiro como Relaes Sociais
Em que pese seu estilo inacabado, de um texto no escrito para publicao, os
Grundrisse, ao divulgar reflexes de Marx, foi e fonte de inspirao e consegue com
muito sucesso apoiar os leitores de hoje na discusso de assuntos especficos e atuais2.
Em particular, no que se refere a valor e dinheiro, o tratamento de algumas questes,
mais condensadas nos Grundrisse do que no Capital, nos parece particularmente
esclarecedor.
A definio, por exemplo, de dinheiro e valor como formas sociais especficas
do capitalismo, dado o seu carter produtor de mercadorias, especialmente clara, e
conta com citaes importantes.
Para Marx, sabemos, a compreenso de um modo de produo requer que nos
dediquemos anlise dos processos de trabalho. Como processo por meio do qual oshomens atuam e transformam a natureza para tirar dela seu sustento, os processos de
trabalho so comuns a qualquer formao social. Os homens se organizam, porm, de
formas diferentes nestes processos e analisar as foras produtivas e as relaes sociais
de produo, assim como as articulaes entre elas a maneira de definir e apreender a
lgica de funcionamento e a evoluo de um modo de produo.
Assim, nada mais adequado do que, no modo de produo capitalista, comear,
como fez Marx, com o processo de trabalho na produo de mercadorias, desvendando-lhe o que especfico dele, uma vez que, conforme explicita na Contribuio Crtica
2 Como destaca Arnon (1984), os Grundrisse e a Contribuio Crtica da Economia Poltica sotrabalhos onde Marx cristaliza sua viso sobre a moeda. Krtke (2005), porm, em trabalho que discute aevoluo do pensamento de Marx, afirma que ele se mostra muito crtico dos Grundrisse, em textosposteriores, em particular no que se refere ao mtodo dialtico.
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da Economia Polticae bem no incio do Capital (Marx, 1971, p. 41)3, no capitalismo a
riqueza se apresenta como uma imensa acumulao de mercadorias4.
A produo de mercadorias implica um processo de trabalho especfico que,
diferentemente dos processos de trabalho dos demais modos de produo, contm uma
contradio importante: esses processos de trabalho so privados, aparentemente
independentes uns dos outros e, no entanto, preciso dividir socialmente o trabalho,
uma vez que nas produes de mercadorias todos so dependentes uns dos outros como
compradores e vendedores5. Neste sentido diz Marx,
esta dependncia recproca e multilateral dos indivduos, de restoindiferentes uns relativamente aos outros, que constitui sua conexo
social . Essa conexo social se exprime no valor de troca; somente neleque a atividade prpria de cada indivduo ou seu produto torna-se umaatividade e um produto para ele; necessrio produzir um produtouniversal: o valor de troca, ou , se se isola, ou se se individualiza , esseltimo, o dinheiro. De outro lado, o poder que todo indivduo exercesobre a atividade dos outros ou sobre as riquezas sociais existe enquantoele possui valores de troca, dinheiro. Seu poder social assim como suaconexo com a sociedade, ele carrega consigo, no seu bolso (Marx,1980, p. 926).
neste sentido que diz tambm que o valor a relao social das mercadorias,
sua qualidade econmica (G. p.75).
o tempo de trabalho socialmente necessrio que o contedo do valor, mas
este precisa de uma forma de aparecimento, o dinheiro, para se representar socialmente.
Assim, o dinheiro a forma na qual todas as mercadorias se igualam, se comparam, se
medem, aquilo no que todas as mercadorias se resolvem, aquilo que se resolve em todas
as mercadorias; o equivalente universal (G.p. 77). A resoluo de que fala Marx a da
contradio privado-social ligada ao trabalho, realizado de forma privada, mas sujeito a
3O Capital ser citado ora em portugus, pelo ano da edio e do nmero da pgina, ora em francs.Neste ltimo caso, como os vrios livros foram editados no mesmo ano, ao ano da edio seguir-se- otomo e o nmero da pgina. As observaes entre colchetes ([ ]) sero nossas, para esclarecer algo daargumentao, o mesmo ocorrendo com a traduo da edio francesa.4Ainda que se possa perceber mercadorias e dinheiro em outros modos de produo, em particular natransio do feudalismo para o capitalismo, s no capitalismo que a produo de mercadorias segeneraliza. Assim, se o valor e o dinheiro aparecem em outros modos de produo, no tm importnciaanaltica para defini-los ou caracteriz-los. Isso faz com que a questo do valor e, com ela, a do dinheiro,s se coloquem como importantes no capitalismo.5 As idia sobre valor e dinheiro, aqui organizadas, esto presentes tambm em Rubin (1978); DeBrunhoff (1973); Mollo (1991); Arthur (2005); e Murray (2005). Para uma comparao entre vrias
concepes marxistas de valor, ver Saad-Filho (2002).6 Essa edio francesa dos Grundrisse aparecer neste texto daqui para a frente como G., seguido dapgina relativa ao assunto citado.
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uma diviso social que ocorre apenas depois que ele foi efetuado, ou depois que a
mercadoria foi produzida. Resolver a contradio privado-social no a elimina, mas
permite que, apesar da sua existncia, a sociedade produtora de mercadorias no possa
ser vista como um caos. H conexo, h a possibilidade efetiva de funcionamento,
porque a diviso social do trabalho se faz. Ou seja, h uma forma de fazer a
equivalncia das mercadorias, de dividir tarefas e distribuir produtos do trabalho nesta
sociedade, mesmo que de forma complexa e indireta, por meio de um terceiro, o
dinheiro, que o equivalente geral.
A troca pressupe a dependncia recproca, mas ao mesmo tempo o isolamento
completo (G. p.94) dos interesses privados. A soluo da contradio, portanto, ocorre
por meio da socializao de trabalhos privados, onde o valor de troca a forma social
dos produtos (G. p. 80); onde troca e diviso social do trabalho se condicionam
reciprocamente; e onde pela mediao da presso recproca da demanda e da oferta
universais que se estabelece a conexo das pessoas indiferentes umas s outras (G. p.
94).
Ora, o valor expressa a qualidade de conversibilidade em outra que a mercadoria
tem, de uma forma quantitativa, e essa quantidade representada numa existncia
diferente da sua existncia natural (G. p. 75). Assim, a mercadoria tem, ao lado de sua
existncia natural, uma existncia puramente econmica na qual ela um simples signo,
uma letra indicando uma relao de produo, um simples signo, seu prprio valor (G.
p. 76).
Vrias so as transformaes a serem operadas neste processo de validao
social dos trabalhos privados das mercadorias por meio do dinheiro (Valier, 1982),
permitindo a insero social dos compradores e vendedores neste tipo de sociedade.Trabalho concreto precisa se transformar em abstrato; trabalho qualificado em mltiplos
de trabalhos simples; trabalho individual em socialmente necessrio e trabalho privado
em social. Ora, tudo isso s se faz nas trocas, por meio do confronto entre mercadorias.
E tudo isso sem planejamento prvio, e por meio do dinheiro, que realiza a diviso
social do trabalho.
Neste sentido, Marx diz que a troca contra dinheiro que confere ao trabalho
privado, particular, seu carter universal. Assim, diz que o carter social da produo
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s se colocapost festum, pela promoo dos produtos ao nvel de valores de troca e pela
troca desses valores de troca (G. p. 109).
Assim, no basta que a equivalncia entre mercadoria e dinheiro se faa apenas
mentalmente, nem que as mercadorias se troquem entre elas, porque
essa comparao que, na cabea se efetua num s golpe, no se realiza,na realidade, a no ser sucessivamente em um permetro determinadopela necessidade. Assim, para realizar de um golpe a mercadoria comovalor de troca e lhe conferir eficcia universal de valor de troca sua trocapor uma mercadoria particular no suficiente. preciso que ela [amercadoria] seja trocada contra uma terceira coisa que no seja elamesma uma mercadoria particular, mas o smbolo da mercadoria comomercadoria, o valor de troca mesmo da mercadoria;. que ento represente
digamos o tempo de trabalho como tal, digamos um pedao de papel oude couro que represente uma frao alquota do tempo de trabalho(G. p.79).
Marx completa esse trecho com uma frase importante entre parnteses, que diz
que (semelhante smbolo supe que ele seja reconhecido universalmente; o que s
pode ser um smbolo social; de fato, ele no exprime mais que uma relao social)(G.
p. 79).
Da a grande importncia que o dinheiro tem na produo capitalista de
mercadorias, que determina sua inseparabilidade deste tipo de produo e sua evoluo
com o desenvolvimento dessa produo, buscando resolver, embora nunca as abolindo,
as contradies envolvidas. As evolues, segundo, Marx, no abolem as contradies
mas podem eliminar alguns defeitos (G. p. 57).
Antes de passarmos complexidade da realizao desta diviso social do
trabalho, algumas observaes se fazem necessrias. Em diversos momentos do
captulo do dinheiro nos Grundrisse, mas tambm no Capital,Marx se refere forma
valor como sendo a que serve ao modo de produo capitalista. Assim, no se trata de,
analisando o valor e o dinheiro como formas sociais, desvalorizar a anlise do capital
como relao social que implica a explorao da fora de trabalho7. Ao contrrio, no
possvel conceber a explorao da fora de trabalho no capitalismo se ela no se tornar
mercadoria, o que implica formas sociais especficas, como o valor e o dinheiro. Mais
que isso, no possvel definir a mais-valia ou o mais-valor sem o prprio valor,
7A teoria do valor como forma social criticada por vezes como desvalorizando analiticamente a relaode explorao. Para uma crtica dessa teoria ver Saad Filho (2002).
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categoria relacionada produo de mercadorias ou, como diz o prprio Marx, relao
social delas (G. p. 75).
Isso no significa, tambm, ver a produo de mercadorias como um modo de
produo anterior ao capitalismo porque, mesmo que se possa constatar o uso do
dinheiro e do valor em sociedades pr-capitalistas, s no capitalismo que essas formas
sociais adquirem generalidade e tornam-se caractersticas que o definem enquanto modo
de produo. Alm disso, no capitalismo podemos verificar o dinheiro se transformando
em capital quando compra a fora de trabalho e, para isso, precisa comprar ou j ter
comprado os meios de produo, e podemos ver tambm o dinheiro se transformando
em capital ao se mostrar valorizado ao final do ciclo completo de reproduo de capital.
Porm o dinheiro que, nas mos quer do trabalhador, quer do capitalista, compra po ou
outras mercadorias comuns, no capital, no define a circulao do capital, mas a
circulao simples de mercadorias, dentro do prprio capitalismo8.
2. A complexidade da diviso social do trabalho por meio do dinheiro
A complexidade da diviso do trabalho realizada no capitalismo destacada por
Marx de vrias maneiras, em vrias obras e ocasies. Nos Grundrisse isso se explicita
na insistncia em chamar a ateno para a importncia das medidas e valores mdios, e
na nfase dada autonomia e autonomizao que se observa das variveis da circulao
com relao s da produo.
Logo no incio do captulo sobre o dinheiro nos Grundrisse, na crtica a
Darimon, ele fala de diferenas entre valores, entre valores e preos e discute a
importncia das mdias.
Diz ele, inicialmente, que o que determina o valor, no o tempo de trabalho
incorporado aos produtos, mas aquele que atualmente necessrio(G. p. 69), ou num
dado momento9. E que variam a produtividade do trabalho que produz mercadorias e
que produz ouro ou prata (G. pp. 70 e 71), assim, como valores e preos tm diferenas
8Na verdade, a circulao simples de mercadorias e a circulao capitalista se encontram igualmente nocapitalismo e se entrecruzam como uma malha de operaes de compra e venda se cruzando em vriospontos. As observaes de Marx no Capital,a nosso ver, destinam-se justamente a destacar as diferenas
entre estes dois modos de circulao do dinheiro no capitalismo, em particular, buscam mostrar que no qualquer dinheiro que capital mas apenas o que compra a fora de trabalho e meios de produo.9 num dado momento que aparece na verso em ingls dos Grundrisse(Marx, 1973)
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outras que a diferena entre valor real (tempo de trabalho) e valor nominal (em
quantidade de dinheiro), concluindo que o valor das mercadorias determinado pelo
tempo de trabalho no mais que o seu valor mdio (G. p. 71).
Alm disso, o valor de mercado difere sempre desse valor mdio(G. p. 72) e
a igualao do valor de mercado para chegar ao valor real se obtm por oscilaes
constantes do valor de mercado e jamais pela sua igualao com o valor real com um
terceiro dado, mas por contnua desigualdade ou como negao do valor real(G.p. 72).
Em outra passagem diz que o preo da mercadoria se situa constantemente
acima ou abaixo do valor dela e o prprio valor das mercadorias s existe no alto e no
baixo dos seus preos. Demanda e oferta determinam constantemente os preos dasmercadorias; eles no coincidem jamais ou somente fortuitamente; mas seus custos de
produo determinam por seu lado, as oscilaes da demanda e da oferta. Observa-se,
at aqui, a insistncia, em poucas pginas, em listar todos os tipos de possibilidades de
divergncias entre valores e entre valores e preos.
Em seguida, Marx conclui que
supondo que os custos de produo da mercadoria e aqueles do ouro ou
da prata permaneam os mesmos, a alta ou a baixa de seu preo demercado no significa nada mais que: uma mercadoria = x tempo detrabalho comanda constantemente no mercado > ou < de trabalho, sesitua acima ou abaixo do seu valor mdio, determinado pelo templo detrabalho (G. p. 72-73).
O termo comanda, com grifo nosso, d bem a idia de trabalho comandado de
Smith, onde o trabalho incorporado precisa aparecer no mercado ou ver-se refletido
naquilo que consegue comandar. As discusses de Marx com Smith, e as crticas que
faz, no so quanto a isso, mas quanto falta de percepo de Smith de que preciso
um terceiro, socialmente eleito ou escolhido, para cumprir esse papel.
Assim, diz por exemplo que
Ainda que o dinheiro no seja mais que o valor de troca destacado dasubstncia das mercadorias e deva sua origem tendncia do valor detroca a se colocar de forma pura, a mercadoria no pode se transformarimediatamente em dinheiro; a atestao automtica do quantum detrabalho realizado nela no pode lhe servir de preo no mundo dosvalores de troca (G. p.96).
Discute, em seguida, o papel do dinheiro como penhor mobilirio dasociedade, em vista da sua propriedade social (simblica) (G. p. 96). Ou seja, a
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propriedade de representante social do trabalho que o dinheiro ganha nestas sociedades
que lhe d o papel de validador social dos trabalhos privados contidos nas mercadorias,
mas isso no se faz de uma vez por todas porque, mesmo quando a moeda ouro ou
conversvel em ouro, o valor do ouro em termos de trabalho muda, o trabalho nas
condies mdias e sociais muda, e ento preciso que haja trocas permanentes e
sistemticas para que esses valores se estabeleam.
A idia que aparece ento a de um processo de tateamento social
(Brunhoff, 1973), onde as mercadorias se confrontam umas com as outras por meio do
dinheiro e vem refletido no dinheiro correspondente sua venda ou no seu preo, o
contedo de trabalho socialmente necessrio que conseguem validar10. Como diz Foley
(2005, p. 36), the actual sale of commodities for maney tests the validity of the
expectation that any particular labour expended is indeed social and necessary
labour.
Toda importncia das unidades ou medidas mdias aparece nessa interpretao,
mas Marx explcito sobre isso quando nos diz, desde o incio do captulo do dinheiro
nos Grundrisse que a mdia, ..., no para se desdenhar(G. p. 66). No Capital
(Marx, 1971, p. 115), diz que a possibilidade de divergncia quantitativa entre o preo
e magnitude de valor ,... ... inerente forma preo, destacando que isto no
constitui um defeito dela. Ao contrrio, diz ele, torna-a a forma adequada a um modo
de produo, em que a regra s se pode impor atravs de mdia que se realiza,
irresistivelmente, atravs da irregularidade aparente.
Em vrios momentos do captulo do dinheiro nos Grundrisse, Marx retorna a
essa questo. Aps discutir as divergncias entre valores, entre valores e preos e
destacar a importncia das mdias, critica a iluso dos partidrios dos bnus-horas(time-chits). A base da crtica justamente o fato de no perceberem que a
determinao do valor, em termos mdios sociais, requer algo que represente
socialmente o trabalho social, o que o bnus-hora no faz. A socializao s pode se
dar, no capitalismo, via confrontao das mercadorias por meio do dinheiro em vista
justamente do papel social que ele tem.
10O processo que estamos chamando de tateamento social embute processos como os de normalizao,sincronizao e homogeneizao dos trabalhos descritos por Saad-Filho (1993).
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Para Marx, os partidrios dos bnus-horas querem eliminar a diferena e a
contradio efetiva entre preo e valor de troca, que no pode ser eliminada sem que
seja eliminada tambm a formao social qual pertencem; querem eliminar as crises e
os defeitos da produo capitalista sem eliminar ela mesma.
Esse tambm o tipo de crtica que faz aos que, no entendendo as contradies
que definem ou caracterizam o capitalismo, procuram acabar com os seus problemas
mudando algumas das suas formas, sem perceber que as formas se adeqam s prprias
contradies e que elas so inseparveis do capitalismo. Da porque diz:
desse modo, (resolvendo a crise e igualando preo monetrio aseu valor real; demanda a oferta; produo a consumo) a
mercadoria seria transformada diretamente em moeda e em ouro eo dinheiro seria rebaixado, de seu lado, ao nvel de todas as outrasmercadorias. (G. p. 73).
Ou seja, recusa-se a realidade para que caiba no modelo de anlise, ao invs de
adequar a teoria para que consiga analisar a realidade como ela , complexa e
contraditria. a complexidade do processo de diviso social do trabalho quando o
mundo de mercadorias que no se leva em conta neste tipo de anlise, complexidade
que decorre do fato de que a diviso do trabalho se faz sem planejamento prvio, depois
que o trabalho foi realizado de forma privada, ou seja, post festum.(G. p. 109).
Quanto autonomizao da circulao relativamente produo, ela aparece de
diferentes maneiras. O dinheiro precisa surgir como exterior mercadoria para
representar trabalho social, mas como exterior mercadoria, torna a prpria
conversibilidade da mercadoria em dinheiro sujeita a condies externas11. A ciso da
compra e da venda em atos separados espacial e temporariamente abre possibilidades de
crises. A autonomizao das trocas ou do comrcio como funo de comerciantes da
produo, faz com que a produo trabalhe imediatamente para o comrcio e s
mediatamente para o consumo, tornando-se presa da incongruncia entre comrcio e
troca para consumo que ela mesma gera. A autonomizao do mercado mundial que
cresce como o desenvolvimento das relaes monetrias e estas com o crescimento do
primeiro. A autonomia das relaes sociais que se defrontam com os indivduos
11Dado que o dinheiro tem uma existncia autnoma fora da mercadoria, o preo da mercadoria aparececomo sendo uma relao externa dos valores de troca ou das mercadorias com relao ao dinheiro; a
mercadoria no preo como ela era valor de troca em virtude da sua substncia social; essadeterminidade no coincide imediatamente com a mercadoria; mas mediatizada pela comparao destacom o dinheiro. A mercadoria valor de troca, mas ela tem um preo (G. p. 128).
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aparentemente independentes, ou seja, o conjunto de suas relaes de produo
recprocas, promovidos autonomia relativamente aos prprios indivduos (G. p. 101).
Vemos, portanto, que alm da complexidade relativa diviso do trabalho
fazendo-se post festum, depois de j realizado o trabalho; alm dos valores mdios
serem importantes e s se definirem na circulao, h autonomia da circulao
relativamente produo. Esta, diga-se de passagem, uma autonomia por diversas
vezes mencionada por Marx no Capital, desde a separao dos atos de compra e venda,
passando pelo crdito e lhe dando origem, e explicando o desenvolvimento do capital
fictcio.
Tambm nos Grundrisse ela destacada, mas, tanto quanto no Capital, essaautonomia sempre relativa, sendo seus limites estabelecidos pelas crises. Diz ele, a
propsito, que absolutamente necessrio que os elementos separados pela fora, que
em essncia vo juntos, se manifestem por meio de exploses violentas como separao
de algo que, essencialmente anda junto. A unidade se estabelece pela violncia (G. p.
84).
Complexa ou no, esta a realidade quando se produz mercadorias sem
planejamento prvio, porque desta forma que o trabalho privado despendido naproduo se converte em trabalho social ao ser convertido no seu representante,
representao reconhecida pela sociedade, mesmo que de forma inconsciente.
3. Alguns debates atuais luz dos Grundrisse
3.1 A questo da moeda inconversvel
As anlises at aqui realizadas do texto de Marx nos Grundrissepermitem umaapreenso do dinheiro e do valor na concepo marxista que possibilita discutir algumas
questes muito atuais. Vimos nos itens anteriores a percepo de Marx do valor e do
dinheiro como relaes sociais, como formas especficas de conexo social entre os
homens no capitalismo, em virtude do seu carter produtor de mercadorias. porque o
trabalho realizado de forma privada, por produtores aparentemente independentes, que
a diviso social do trabalho s pode ocorrer a posteriori, por meio do dinheiro, e isso
que d ao dinheiro o poder social que ele tem nestas sociedades.
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Vimos ainda que o valor e o dinheiro operam de forma complexa para dividir
socialmente o trabalho, depois que ele se realizou de forma privada, e essa forma de
diviso social do trabalho nada mais do que a imposio da lei do valor.
Vimos, finalmente, que essa imposio se d na mdia dos movimentos
permanentes dos valores e preos; que tais diferenas so maiores do que meras
diferenas entre variveis reais e nominais; que decorrem de mudanas diversas nas
produtividades dos trabalhos; de variaes de oferta e procura; e que o carter exterior
do dinheiro, como terceiro, socialmente escolhido para representar o trabalho social,
permite defasagens, autonomias e descolamentos reais entre produo e circulao, que
se desenvolvem no capitalismo.
Assim, as proporcionalidades quando se estabelecem, s o fazem nas mdias dos
movimentos permanentes, ou de forma violenta, por meio de crises.
Diga-se mais, aqui, que tais descolamentos e autonomias da circulao
relativamente produo, servem bem a um sistema que busca continuamente
ultrapassar seus limites, explorando quem gera o valor novo, absorvendo mais lucros do
que contribuiu para gerar, expropriando valores gerados por outrem, mas tambm
eliminando o lastro em trabalho do dinheiro e desenvolvendo o crdito e o capitalfictcio.
Nestas circunstncias, fcil entender o dinheiro como mercadoria perdendo
historicamente sentido. Apesar disso, os crticos de Marx sempre usaram o fato do
dinheiro atual ser inconversvel para argumentar em favor da idia de que a concepo
monetria de Marx no fazia mais nenhum sentido.
Do ponto de vista lgico, a conversibilidade-ouro da moeda s se faz necessria
se houver uma preocupao em dourar o capitalismo garantindo-lhe igualdades que ele
no tem nas suas razes, por meio da proporcionalidade direta e estrita entre trabalhos
contidos nas mercadorias e trabalhos contidos no ouro como dinheiro.
Esquece-se, porm, nesta interpretao, todo o lado social do confronto entre as
mercadorias intermediado por um terceiro; o confronto que decorre exatamente da
dificuldade e impossibilidade de se estabelecer o valor-trabalho do ouro e das
mercadorias a cada momento, a no ser checando de foram indireta permanentemente
umas mercadorias com as outras por meio da converso efetiva em dinheiro; todo o
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processo de reconhecimento social do prprio dinheiro para cumprir esse papel. a
realidade dos movimentos mdios e das autonomias da circulao relativamente
produo que fica esquecida quando se insiste na necessidade de, do ponto de vista
lgico, manter o dinheiro-mercadoria. Mais que isso, a prpria realidade histrica do
dinheiro inconversvel que se esquece.
Quanto insistncia na proporcionalidade necessria, diz Marx,
Quando se pressupe cumpridas as condies nas quais o preodas mercadorias = seu valor de troca; coincidncia entre oferta edemanda; da produo e do consumo; em ltima anliseproduo proporcional (relaes de distribuio so elasprprias relaes de produo), a questo do dinheiro torna-se de
todo secundria, e em particular a questo de saber se se emitetickets, se eles so azuis, verdes, em ferro branco ou de papel, ouainda sob que forma se mantm a contabilidade da sociedade (G.p. 88).
Os termos em negrito so de Marx no original, criticando a nsia por proporcionalidade
num sistema que burla constantemente a mesma. Os termos sublinhados so nossos,
para indicar quo longe se est da percepo do que a realidade capitalista . Ou seja, o
secundrio, no dinheiro, o lastro que garante a proporcionalidade direta entre
quantidades de trabalho mdias, de resto desconhecidas a no ser post festum. O
fundamental o seu papel social, de penhor mobilirio da sociedade (G. p.96),
mesmo inconversvel.
Sem dvida a inconversibilidade do dinheiro muda a forma como a lei do valor
se impe, e mesmo a complexidade de tal imposio, embora continue como j era, se
fazendo por meio de tateamentos sociais e de crises que apuram divergncias e impem
mudanas de forma violenta.
Vale aqui retomar a preocupao de Marx, tambm nos Grundrisse, de mostrarque o entendimento de como se d, de fato, a diviso social do trabalho no mundo das
mercadorias, indispensvel, para conhecer os limites no interior dos quais as
reformas monetrias e as transformaes na circulao podem dar uma configurao
nova s relaes de produo e s relaes sociais que lhe caracterizam.
A preocupao com o contedo do trabalho do ouro, nestas circunstncias, por
um lado esquece que mesmo quando a moeda ouro, no possvel pensar em uma
imposio da lei do valor que se d pelo mero confronto de produtores individuais com
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produtores de ouro, porque, na boca da mina, o ouro tem um valor em termos de
contedo de trabalho que no o socialmente necessrio.
o caso, por exemplo, Quando Germer (2005, p. 29), defendendo a moeda-
mercadoria como necessria diz que
....the need to convert commodities into something thatexpresses the social labour they contain, in opposition to the labouractually applied in each individual case, presents itself as a demand
pertaining to the internal logic of the system without which there wouldbe no way to correct the inevitable deviations that are due to theanarchic nature of mercantile production ....
Esse argumento desconhece que divergncias e desproporcionalidades existem mesmo
quando a moeda mercadoria. Desconhece, por exemplo, que o prprio ouro
produzido em condies diferentes nas vrias minas, no necessariamente representando
o contedo de trabalho socialmente necessrio, ou seja, nas condies mdias sociais de
produo e, nesse caso no poderia, como diz adiante Germer, expressar o contedo de
trabalho social que ele contm. Por outro lado, o aparecimento histrico do ouro como
dinheiro uma tentativa social neste sentido, que desaparece historicamente, em parte
em vista das dificuldades apontadas, em parte porque a lgica do sistema procura se
desgarrar da equivalncia para apropriao de maior de valor, objetivo do capitalismo.Assim, essa interpretao procura o equilbrio entre produo e circulao, a
proporcionalidade criticada acima pelo prprio Marx, desconhecendo que ela no
objetivo deste modo de produo nem caracterstica sua.
O que faz com que Marx diga que a mercadoria-ouro diretamente social o
reconhecimento social que ele tem como representante do trabalho social, mas isso
independe de quanto trabalho foi envolvido na produo do metal. Da porque Murray(2005, p. 50), citando Marx, menciona que para ele value was strictly a social
substance, a phantom like-objectivity, a congealed quantity of socially necessary
homogeneous human labour of a particular social sort..... Outra forma de analisar
isso como faz Arthur (2005, p. 114), quando destaca que value is a purely social
reality, and it emerges from commodities relations. Segundo ele o dinheiro, ouro ou
uma representao escrita, a nica maneira de tornar presente o valor, de fazer o valor
aparecer, j que ele no uma coisa intrnseca mercadoria.
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3.2. A questo do socialismo de mercado
Outra concluso merece destaque aqui, a partir destes textos de Marx. Vimos
que o dinheiro o validador social das mercadorias ou dos trabalhos privados nelas
contidos, adquirindo por isso enorme poder social no capitalismo, dado seu carter
produtor de mercadorias, porque essa a forma de insero social dos indivduos neste
tipo de sociedade. Os trabalhadores precisam vender sua fora de trabalho como
mercadoria, os capitalistas precisam vender as mercadorias produzidas por
trabalhadores por ele contratados para realizar lucro, e tanto trabalhadores quanto
capitalistas precisam comprar e, para isso, vender mercadorias. Da porque Marx pode
dizer que os indivduos carregam seu poder social e sua conexo social no bolso (G. p.
92).
Nada mais crtico, a esse respeito, sabemos, que o trecho sobre o fetichismo das
mercadorias, no primeiro captulo do Capital, onde Marx chama ateno para as
caractersticas de um modo de produo onde a relao entre produtores assume a
forma de relao social entre os produtos do trabalho, e isso est tambm nos
Grundrisse, onde diz que a independncia pessoal se funda na dependncia das coisas
(G. p. 94).
Tambm nos Grundrisse Marx diz, como j vimos, que o dinheiro funcionacomo penhor mobilirio da sociedade (G. p. 96), e ainda:
mas ele s isso em virtude de sua propriedade social(simblica); ele s pode possuir uma propriedade social porque osindivduos alienaram sua prpria relao social, fazendo dela umobjeto (G. p.96, grifo nosso).
Diz ele que essa conexo social por meio do dinheiro ou de coisas neutras
prefervel ausncia de laos entre os indivduos ou a um lao exclusivamente local
fundado na estreiteza dos laos de sangue originais e sobre relaes sociais de
dominao e servido (G. p. 98). Mas ele completa dizendo que
inepto conceber essa conexo que no mais que umaconexo entre coisas, como sendo a conexo natural (emoposio ao ser e ao querer refletidos) imanentes natureza da individualidade e indissocivel dela( G. p.98, grifo nosso).
Ao contrrio, sabemos, o dinheiro como relao social uma forma de conexo
historicamente datada, que pressupe a produo na base de valores de troca, que
comea por produzir com universalidade a alienao do indivduo relativamente a si
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mesmo e aos outros, mas produz tambm a universalidade e o carter multilateral de
suas relaes e atitudes (G. p. 98).
Ora, essa no , ou no deveria ser a forma de conexo social ou de relao
social do socialismo porque, como tambm deixa claro Marx nos Grundrisse, tal
relao do mundo das mercadorias como relao recproca de indivduos como poderio
acima dos indivduos, tornada autnoma..... o resultado necessrio de que o ponto de
partida no o indivduo social livre(G. p. 135), como deveria ser no socialismo. o
ser e o querer refletidos e respeitados (conforme grifamos acima na frase de Marx), que
se quer no socialismo, razo pela qual no possvel alienar suas relaes sociais,
fazendo delas um objeto. Assim, tambm para discutir e criticar a idia de socialismo
de mercado esses trechos dos Grundrissese prestam e se mostram atuais e teis.
No h dvida de que numa sociedade desenvolvida, h dificuldades para o
planejamento das atividades, mesmo quando o sistema de produo o socialista. Essa
parece ser uma das razes pelas quais o dinheiro continuou a ter funes no socialismo
real, mesmo que algumas atividades centrais fossem planejadas12.
Essa tambm parece ser uma das razes para a proposta de socialismo de
mercado, onde a socialist money could continue to play significant economic role even
in a planned socialist society based on free association (Itoh & Lapavitsas, 1999: p.248). A essa razo eles acrescentam que o socialismo de mercado pode prevalecer
longos perodos fundado na natureza extrnseca do dinheiro e do mercado, extrnseca
relativamente s relaes de produo no processo de trabalho, funcionando como
formas de coordenao entre organizaes comunitrias independentes, firmas e
consumidores individuais. Reconhecem, alm disso, que o dinheiro teria importante
papel social sem criar problemas para o socialismo.
Curioso notar que a argumentao dos autores, que se segue a essa propostacomea justamente com o dinheiro-trabalho, como os bnus-horas criticados por
Marx. Dizem, todavia, que esto encarando money and commodities as forms of
circulation that arise at the point of contact of communities and are unrelated to the
underlying relations of production (Itoh & Lapavitas, 1999, p. 249).
Ora, essa percepo, em primeiro lugar, s se justifica porque, seguindo as idias
de Uno, os autores concebem a produo de mercadorias como tendo ocorrido em
12Ver, por exemplo, o trabalho de Carcanholo e Nakatani (2007) sobre Cuba a esse respeito.
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outros modos de produo. Conforme j mencionamos, em modos de produo
anteriores, os significados do valor e do dinheiro eram outros, inclusive porque vender e
comprar no era uma obrigatoriedade dentro da lgica de funcionamento econmico dos
mesmos e, por isso, a questo do valor e do dinheiro no se colocava como modo de
socializao fundamental. Dito de outra forma, se no feudalismo havia sobra de
produo e esta no era trocada ou vendida, isso no abalava o funcionamento do
sistema nem comprometia a insero social dos responsveis por ela. completamente
diferente do que ocorre numa sociedade regida ou coordenada pelo valor e pelo dinheiro
porque a insero social das pessoas passa a se fazer de forma indireta, fora do seu
controle e conscincia.
Dizem ainda que se capital e terra fossem detidos socialmente e trabalho fosse
diretamente social, seria possvel, na prtica, usar o dinheiro-trabalho. Ora, se o trabalho
diretamente social, isso significa que j foi igualado, divididas as tarefas e distribudos
os produtos dele entre os participantes da sociedade. Qual o sentido do dinheiro ento?
Mero meio de circulao. Esse no , todavia, o dinheiro e o mercado tal como foram
definidos e, se o sistema social do qual tratamos j estabeleceu critrios de distribuio
prvios, por que cham-los de sistema de mercado?
Mais curioso ainda notar que referindo-se ao dinheiro-trabalho de Owen,dizem que ele faz questo de frisar que no se trata de produo de mercadorias. Ora, se
a produo no de mercadorias para que falar de mercado ou de socialismo de
mercado?
Mais adiante, referem-se complexidade da determinao do trabalho
socialmente necessrio no socialismo real, mas referem-se a Rubin, criticando-o porque
no explica direito como ele determinado. Ora, Rubin trata do capitalismo, expe
conforme expusemos aqui a forma complexa como o trabalho se divide no capitalismo,mas essa no , ou no deveria ser aceita para a diviso do trabalho no socialismo,
justamente porque essa forma de socializao no se encontra sob controle e
conscincia da sociedade, o que nos leva ao incio da nossa crtica. Esse retorno nos
leva a pensar que, embora Itoh e Lapavitsas tenham insistido em que a produo no
de mercadorias e que o dinheiro mero direito a parte do trabalho social j dividido
previamente, a diviso prvia do trabalho que resta a ser feita. Esta no pode ser feita,
insistimos, por meio de coisas, nem de forma inconsciente, por maior que seja sua
complexidade, ou retornamos a alguns dos problemas do capitalismo.
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Em texto conclusivo, Itoh e Lapavitsas, apesar de perceberem esta necessidade
de conscincia no processo de socializao dos trabalhos, associam de forma estreita o
socialismo com um mercado relativamente livre, levando a crer que, na proposio de
socialismo que fazem, o mercado mais do que uma questo de inadequao de termo.
Dizem, a esse respeito, que as well as a relatively freely operating market, a socialist
market economy might contain the socially planned distribution of goods and services
(under controlled prices) in the reas of economic activity in which conscious
management would be deemed desirable(Itoh & Lapavitsas, 1999, p. 256, grifo nosso).
3. 3. A noo de capital fictcio e a autonomia relativa da circulao relativamente
produoAlm da atualidade dos Grundrisse para discutir as questes da moeda
inconversvel e do socialismo de mercado, nada mais atual, para mostrar a importncia
dessas idias de Marx ainda hoje, que falar do capital fictcio. Essa no uma idia que
est nos Grundrisse, mas desenvolve-se de forma esparsa e desorganizada no Livro III
do Capital. Entretanto, sua definio e o tratamento dado por Marx ao capital fictcio
dependem estreita e fundamentalmente destas idias de divergncias entre valores, entre
valores mdios e individuais, entre valores e preos, e da noo de autonomia, emborasempre relativa, da circulao com relao produo no capitalismo.
De fato, Marx define o capital fictcio em contraposio ao capital real.
Enquanto o capital real, no processo de produo, por meio da explorao da fora de
trabalho, gera mais valia que garante sua prpria expanso, o capital fictcio analisado
como aquele que surge quando o sistema de crdito se desenvolve, porque com ele o
capital parece dobrar, triplicar, graas ao fato de que o mesmo capital aparece de
diversas maneiras em vrias mos.Apesar de surgir e se desenvolver com o desenvolvimento do crdito, o capital
fictcio no o crdito em si mesmo. O crdito, usado pelo capitalista industrial,
potencializa a produo apressando e aumentando a sua escala e permitindo a gerao
maior de mais-valia.
O capital fictcio, ao contrrio, surge quando o crdito est desenvolvido e suas
operaes difundidas suficientemente para que toda renda em dinheiro determinada e
regular aparea como juros de um capital, seja essa renda proveniente ou no de um
capital (Marx, III, 430). Fruto de capitalizao como diz Brunhoff (1990), esse no
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capital dito fictcio porque, sem passar pelo processo de explorao, no h como
gerar valor novo maior. Da porque Marx diz que capital produtor de juros s produz
juros verdadeiramente na medida em que o dinheiro emprestado efetivamente
convertido em capital e um excedente produzido, do qual o juro uma parte(Marx, III,
364). Com o capital fictcio, ao contrrio, as coisas so diferentes: Primeiro se
transforma o dinheiro embolsado em juros e quando se tem os juros se acha em seguida
[por clculo de capitalizao] o capital que o produziu (Marx, III,430) 13.
Esse clculo deixa de ser um mero exerccio contbil quando papis adquirem
uma forma transmissvel, como o caso dos ttulos da dvida pblica, das aes
negociadas em bolsa e, mais recentemente, dos derivativos e dos demais produtos
financeiros negociados.
No se trata de pura iluso, uma vez que tais papis enriquecem e empobrecem
pessoas (Mollo, 1989), mas se trata de um conjunto de papis cuja valorizao no
ocorre com relao direta com a produo de valor e mais-valia. Podem ser somas de
dinheiro correspondentes a emprstimos que no se destinaram produo, podem ser
ttulos ou aes cuja valorizao ou desvalorizao no esteja de acordo com as
movimentaes de valor do capital real que lhe deu origem, como o caso dos valores
nas bolsas, nas negociaes secundrias de valores.Trata-se, assim, de um exemplo de preos sem relao com valores, de caso de
autonomia da circulao relativamente produo. O que torna possvel essa autonomia
explicado por Marx, como vimos, nos trechos citados dos Grundrisse e do Capital,
quando menciona o dinheiro como algo exterior e separado da mercadoria, permitindo
que, na forma preo, no apenas haja divergncias entre preos e valores, mas que os
preos deixem de ser expresses dos valores (Marx, 1971, p. 115). As compras
separadas das vendas e o crdito ampliando tal separao, so tambm formas de ver aautonomia da circulao com relao produo. Essa autonomia adquire grau ainda
maior como o capital fictcio que se valoriza sem passar pela produo de mais-valia.
Essa autonomia, caracterstica de uma forma de articulao social promovida
autonomia relativamente aos prprios indivduos (G.p.101), todavia, limitada, ou
relativa, ou a lei do valor no se imporia nunca, perdendo o seu sentido lgico e
13Essa no uma opinio unnime dos leitores de Marx. Nossa opinio a esse respeito mais prxima da
de Foley (2005, p. 45), para quem loans to productive capitalists are real capital. enquanto o valordas aes que depende expectativas de dividendos capitalizados grandemente capital fictcio.
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histrico. Assim, embora a autonomia permita que o capital fictcio exista
historicamente e faa sentido do ponto de vista lgico, os limites a essa autonomia
precisam se impor e se impem, mesmo que por meio de crises. Com elas estamos, de
novo, de volta necessidade de unidade entre etapas de um mesmo processo social ou,
como vimos que dizia Marx nos Grundrisse, absolutamente necessrio que os
elementos separados pela fora, que em essncia vo juntos, se manifestem por meio de
exploses violentas como separao de algo que, essencialmente anda junto. A unidade
se estabelece pela violncia (G. p. 84). O grifo nosso para destacar a necessidade
lgica, que nos ajuda a entender o que a histria nos mostra com a crise atual.
A ligao entre a circulao e a produo existe no desenvolvimento do capital
fictcio porque apesar de no haver relao direta e proporcional entre os preos dos
ttulos que representam o capital real e este ltimo, existe de forma indireta, uma vez
que as rendas que compram ttulos e aes nos mercados financeiros, e que so
responsveis por sua valorizao, provm do processo produtivo. Assim, a valorizao
do capital fictcio precisa destas rendas para ter continuidade.
A compra de capital fictcio, que significa preo sem respaldo ou lastro em
valor, significa renda que falta para validar socialmente trabalho privado contido em
outras mercadorias (Mollo, 1989). Enquanto a autonomia persistir, em vista do crditoque permite tais compras, a acumulao flui e pode at ser estimulada pelo movimento
de emisses primrias de aes em meio ao perodo de euforia. Esses recursos faltaro,
porm, para comprar mercadorias e para estimular o crescimento do capital real. Neste
sentido que possvel falar de puno de recursos que o capital fictcio exerce,
recursos provenientes da esfera real da acumulao de capital. Isso por si s pode dar
origem a problemas de pontos de estrangulamento e despropores que impedem ou
dificultam o processo de acumulao.Brunhoff (2005, p. 220) diz, a esse respeito, que the contemporary capitalist
credit system is not free from the monetary constraint, which is inherent in
commodities trade, alm de sugerir uma analysis of the role that a law of value
plays in determining the conditions limiting the operations of international capitalism
today.
Quanto mais amplo e desenvolvido o sistema de crdito, como o caso na
economia globalizada atual, onde as liberalizaes dos movimentos de capitais
articularam grande parte dos mercados nacionais de crdito, mais dinheiro h para
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aquisies de ttulos e aes nos mercados de crdito globalizados, e maior pode ser,
por isso, a valorizao desses ttulos e mais tempo pode durar a euforia. Maior pode ser,
assim, a divergncia entre preos dos ttulos e aes, relativamente aos capitais reais
que lhes deram origem. Mas se tais recursos aplicados nos mercados financeiros no
voltam produo, como o caso, por definio, do capital fictcio, faltaro rendas para
continuar comprando, e o valor do prprio capital fictcio que acaba por cair, por
vezes de forma brutal e generalizada, como o caso nas crises como a atual.
4. Consideraes Finais
Vimos que a imposio da lei do valor, a equivalncia e diviso de tarefas e
produtos do trabalho, ou a diviso social do trabalho no capitalismo, na leitura feita
aqui, complexa, porque feita a posteriori, depois que os trabalhos foram realizados.
Isso, vimos tambm, faz parte das contradies que definem o modo de produo
capitalista, em particular, neste aspecto, da contradio privado-social ligada ao trabalho
neste tipo de produo.
Mesmo quando o dinheiro era ouro, contendo determinada quantidade de
trabalho realizado na sua produo, essa complexidade existia, porque o que garantia a
realizao do trabalho privado na boca da mina, por onde a moeda entrava emcirculao, era o reconhecimento social do ouro como representante social do trabalho,
reconhecimento que garantia seu papel de equivalente geral e, por isso, permitia que
validasse socialmente os trabalhos privados contidos nas mercadorias. Isso era assim
porque nada garantia que o trabalho contido no ouro fosse igual em todas as minas e
muito menos trabalho igual ao socialmente necessrio (nas condies mdias sociais de
produo). Da a necessidade de Marx trabalhar, j naquela poca, com as mdias dos
movimentos permanentes.Quando o dinheiro perde inteiramente o lastro em trabalho, como ocorre hoje,
por outro lado, essa imposio da lei do valor fica ainda mais complexa, mas isso no
elimina o seu papel. O produtor da mercadoria, ao vend-la, ou ao troc-la por dinheiro,
valida socialmente o seu trabalho privado, na proporo do que conseguiu na venda.
Porm no agregado, o processo de produo que gera as rendas a serem distribudas.
Assim, o que algumas mercadorias conseguem validar como trabalho socialmente
necessrio a mais do que o efetivamente contido, necessariamente ser compensado
com o contedo de trabalho no validado de outras mercadorias. A acumulao desse
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tipo de divergncia sistemtica implica despropores que no conseguem se
desenvolver permanentemente e esto na base de crises, que nada mais so do que as
erupes violentas das quais falava Marx, que acabam por apurar e eliminar, de forma
brutal, tais divergncias.
Como a quantidade de dinheiro depende hoje mais dos Bancos Centrais do que
antes, pode-se dizer que h uma maior fluidez da circulao, e isso pode tornar o
sistema mais predisposto inflao. Mesmo neste caso, porm, a inflao a forma da
crise que mostra a imposio brutal da lei do valor (Saad-Filho e Mollo, 2002).
Alm da inflao, porm, existem outras formas de crise que aparecem a
posteriori para impor a lei do valor. Os bancos, quando emprestam, criam moeda de
forma privada. Como a moeda criada privada, a compra de mercadorias com ela
apenas antecipao da validao dos trabalhos privados (Brunhoff, 1973 e 1974;
Lipietz, 1983). Quando o Banco Central sanciona tal criao privada de moeda pelos
bancos, tambm a a validao social no se completa, porque o Banco Central parte
da sociedade, ainda que hierarquicamente superior por ser pblico. Mas seu carter
pblico no se confunde com aval social ou possibilidade de validao social das
mercadorias. Assim, ele tateia ao intervir nas dinmicas monetrias, por no ter a
oniscincia nem o controle da dinmica monetria que implica a sociedade como umtodo. Tateia entre fornecer liquidez para estimular a acumulao do capital e a
necessidade de garantir o reconhecimento social da moeda como equivalente geral,
ameaado por fugas diante da moeda. Se exagera de um lado, provoca fuga diante da
moeda. a inflao como forma de crise, anunciada pelas crises cambiais. Se exagera
do outro, temos a acumulao de capital freada e a deflao como forma tomada pela
crise. Nesse sentido, quando Foley lamenta que com o desaparecimento da ligao
institucional com o ouro, we seem to be left with no Marxist theory of the commodityvalue of national currencies, a lacuna that makes itself sorely felt in a world in which
struggles over inflation and the value of national currencies play a central political
economic role (Foley, p. 43), o que ele esquece exatamente a lei do valor se
impondo, de forma diferente de como se impunha na poca de Marx, mas de forma to
complexa como ele a havia analisado.
essa forma indireta, cega para os problemas que cria para os indivduos em
vista da sua falta de definio consciente sobre o que produzir, para quem, de que
maneira e segundo que critrio que, entre outras coisas, est na base do processo de
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explorao e se critica no capitalismo. As relaes sociais, como disse Marx, parecem
se autonomizar, os indivduos dependem de abstraes (G. p. 101) ao invs de
dependerem de vontade prpria para decidir seu presente e seu futuro. isso que no se
quer repetir no socialismo, enquanto sistema que liberta e onde a livre individualidade
[acha-se] fundada no desenvolvimento universal dos indivduos e na subordinao de
sua produtividade comunitria. Esta ltima sociedade, conforme Marx, no tem nada
de arbitrrio (G. p.94), ou no deveria ter.
Finalmente, as crises financeiras como as atuais mostram que, apesar da
complexidade de imposio da lei do valor, ela acaba por se impor, mesmo que em
ltima anlise, como diz de Brunhoff (1973, p. 91), apurando divergncias entre
coisas que tm preos mas no valores, mesmo que de forma drstica e violenta e
punindo quase sempre os que menos responsabilidade tm pela autonomizao da
circulao relativamente produo, como convm a um sistema onde os homens se
relacionam por meio das coisas. E para tudo isso no h necessidade de que haja uma
moeda-mercadoria.
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