Vampiros - Noites Sombrias

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Era véspera de Natal. Catharina estava a caminho da casa de seus pais, em Jundiaí. Apesar da forte chuva e da pista escorregadia, estava feliz por conseguir acabar com aquele relacionamento, que já duravam quatro longos anos. Estava satisfeita com a decisão, mesmo porque, já não conseguia inventar desculpas para adiar o casamento. Ao virar a curva da estrada, o carro derrapou e acabou perdendo o controle da direção. Seu automóvel capotou várias vezes, caindo num barranco. Para seu desespero sente o cheiro de gasolina e pensa que seu fim havia chegado. Até que aparece um lindo homem e a livra dos diversos ferros retorcidos que a prendia. Ele a pega nos braços e sobe aquele terreno íngreme, com extrema agilidade e rapidez. A atração entre os dois era evidente. Os lábios daquele estranho procuravam pelos de Catharina com desespero. Ela não pensou em mais nada, apenas ser beijada por aquele estranho.

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por Cristiane G. Sant´Ana

Copyright © 2012 por Cristiane G. Sant´Ana http://cristianegsantana.blogspot.com.br/

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ESTE LIVRO É UMA OBRA DE FICÇÃO. NOMES, PERSONAGENS, LOCAIS E ACONTECIMENTOS SÃO IGUALMENTE PRODUTOS DA IMAGINAÇÃO DO AUTOR OU USADOS DE FORMA FICCIONAL. QUALQUER SEMELHANÇA COM ACONTECIMENTOS REAIS, LOCAIS OU PESSOAS VIVAS OU MORTAS, É MERA COINCIDÊNCIA.

Todos os direitos reservados a autora. Nenhuma parte desse livro pode ser

utilizada ou reproduzida em qualquer meio sem a autorização por escrito da escritora.

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Vampiros

Noites Sombrias

Cristiane Sant´Ana

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Sumário

Capítulo 1

Volúpia

Capítulo 2

Vampiros

Capítulo 3

Corpos

Capítulo 4

Passado

Capítulo 5

Angústia

Capítulo 6

Romênia

Capítulo 7

Sangue

Capítulo 8

A troca

Capítulo 9

Súbito

Capítulo 10

Brasil

Capítulo 11

Romênia

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Capítulo 12

Massacre

Capítulo 13

Recordações

Capítulo 14

Sussurros

Capítulo 15

Castelo

Capítulo 16 Catharina

Capítulo 17

Mihnea

Capítulo 18

Lembranças

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A minha filha, esposo e

aos meus queridos leitores,

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Capítulo 1

Volúpia Era véspera de Natal. Estava a caminho da casa de meus pais, em

Jundiaí. Apesar da forte chuva e da pista escorregadia, tudo parecia estar dando certo em minha vida.

Minutos antes, havia terminado um namoro que já durava quatro longos anos. Já não conseguia inventar motivos para adiar aquele casamento. Finalmente, tomei coragem e coloquei um ponto final naquela história. Não seria justo fazer com que Eduardo, perdesse tempo e energia num relacionamento que estava fadado ao fracasso.

Eduardo tinha todos os atributos que as mulheres desejavam. Ele era muito bonito, inteligente, rico e apaixonado... Se continuasse descrevendo suas qualidades, com certeza ficariam apaixonadas por ele.

Também poderia passar horas falando de suas virtudes. Mas infelizmente, Eduardo, nunca conseguiu despertar a paixão que existe dentro de mim.

Conheci Eduardo quando estávamos fazendo um cursinho para entrar na faculdade. Ele era um aluno simplesmente brilhante.

Fazia o maior sucesso com a mulherada. Elas faziam de tudo para chamar sua atenção. Mas Edu sempre foi muito reservado e seletivo.

Ele sentou-se numa cadeira à minha frente. Fizemos amizade desde o primeiro dia. Ele desejava fazer medicina, enquanto eu pretendia fazer o curso de direito. Essa era a única divergência que havia entre nós. Fora esse fato, sempre houve uma cumplicidade natural entre nós dois.

Houve uma festinha de despedida quando terminou o cursinho. Resolvemos ir a uma balada e acabou rolando o namoro.

Quando chegou a época do vestibular, para minha surpresa, ele resolveu fazer o curso de direito junto comigo. Com isso ganhei a simpatia de seus pais, pois o pai de Edu é proprietário de um dos maiores escritórios de advocacia do Brasil.

Passamos no vestibular. Como era de se esperar, Edu passou em primeiro lugar no curso de direito. Eu tive apenas uma boa colocação e a sorte de frequentar a mesma sala que ele.

Talvez esse fosse um dos motivos, que acabou com o encanto do

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nosso namoro. Tudo em nosso relacionamento virou rotina. Tudo era muito calmo, tranquilo e previsível.

Eu sempre tive o desejo de encontrar uma paixão arrebatadora. Alguém que me fizesse perder a cabeça num simples toque. Sempre desejei um homem que me fizesse contar as horas, minutos e segundos para estar ao seu lado. Queria uma paixão que me fizesse perder o juízo.

Edu definitivamente não era esse homem. Ele nunca conseguiu despertar absolutamente nada em mim, que não fosse um forte sentimento de amizade.

Meus pais ficaram chocados, quando revelei o fim de nosso relacionamento. Os pais de Eduardo também tiveram a mesma reação, pois sempre souberam da forte paixão que ele nutria por mim.

Seria muito difícil viver sem sua proteção e amizade. Me acostumei com Edu sempre por perto. Mas teria que me acostumar com essa situação.

A chuva estava aumentando. O limpador do para-brisa do carro, não conseguia dar conta do excesso de água que se acumulava no para-brisa. Estava começando a ficar muito difícil de enxergar aquela pista.

Aumentei o som do carro, a fim de tentar me distrair e esquecer aquele assunto.

Mas foi tudo em vão. Não conseguia parar de pensar no que teria pela frente. Quando chegasse em casa, meus pais fariam um verdadeiro interrogatório, a fim de saber o motivo dessa decisão. Se dissesse a verdade, me condenariam por manter aquele relacionamento por tanto tempo, sendo que não sentia absolutamente nada, que não fosse amizade.

Definitivamente a música não conseguiu tomar conta dos meus pensamentos. O que diria a meus pais? E como seria quando encontrasse os pais de Eduardo? Eu era culpada pela situação embaraçosa que teria de enfrentar.

Às vezes por comodismo ou por falta de coragem, nos prendemos a relacionamentos que não estão dando certo. Mas sempre pagamos um preço muito alto pela decisão que tomamos, seja ela por terminarmos ou continuarmos. A vida é muito complicada. Ou será que nós a complicamos?

Tenho uma amiga que foi tão reprimida, que agora não fazia absolutamente nada contra sua vontade. Ela conseguiu ser feliz por algum tempo, mas acabou sozinha. Ninguém deseja viver ao lado de alguém que

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só pensa em si mesmo. Ao virar a curva daquela estrada, o carro derrapou e acabei

perdendo o controle da direção. Tentei recuperar o controle do carro, mas ele deslizava pela pista, totalmente desgovernado. Acabei saindo da estrada e caindo num barranco. Ouvi o forte barulho do carro capotando várias vezes.

Fechei os olhos e pensei que aquele seria o meu fim. Quando o carro parou, abri os olhos e senti um imenso pavor. Notei que estava presa as ferragens retorcidas do meu carro.

Tentei sair, mas estava presa ao cinto de segurança. Tentei soltá-lo, mas não consegui. Senti um forte cheiro de gasolina. Naquele momento, o terror tomou conta de mim, quando pensei na possibilidade de uma explosão.

Nesse momento, senti uma mão muito gelada puxando meus braços, tentando arrastar-me para fora do carro. Olhei e vi um homem muito alto, cabelo preto que contrastava com a palidez de seu lindo rosto. Ele era dono dos olhos mais acinzentados e frios que já havia visto em minha vida.

Notei espantada, que retorcia os ferros espessos do meu carro, como se fossem pedaços de arame. Puxou-me para fora do carro e sem nenhum sacrifício, carregou-me em seus braços e subiu aquele terreno íngreme com extrema agilidade e rapidez.

Ao chegarmos novamente à pista, ele continuou segurando-me em seus braços e Olhava-me com interesse. Ficamos nos olhando por alguns instantes. Havia desejo nos olhos daquele homem. Fiquei completamente hipnotizada por sua beleza.

Ela é linda, pensou ele. Tão linda como Megan, ou melhor, ela é idêntica a Megan. O destino conspirava a meu favor! Não havia outra explicação, sorriu com satisfação. Essa era a chance que teria para acabar com Vlad IV. Aquele demônio só tinha um ponto fraco e ele estava diante de meus olhos.

Catharina olhou para aquele estranho e não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Estava sentindo-se atraída por aquele desconhecido... Sentiu o forte desejo de beijar os lábios daquele ser hipnotizante.

Seu rosto se aproximou dos meus lábios, mas para meu espanto,

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seus lábios pousaram em meu pescoço, deixando-me totalmente arrepiada. Senti a deliciosa pressão daqueles lábios carnudos, úmidos e frios. Senti uma deliciosa fragrância masculina amadeirada, que me deixou completamente extasiada.

Naquele instante, o desejo tomou conta de mim. Pela primeira vez, meu corpo ardia como se estivesse pegando fogo. Jamais senti nada parecido com aquilo. De repente seus lábios deixaram o meu pescoço. Ele olhou para mim novamente, seus olhos denunciavam a atração e o desejo que nos unia naquele momento.

Os lábios daquele estranho procuraram pelos meus com desespero. Não pensei mais em nada. Todo o pânico que senti minutos antes se transformou em um louco desejo de ser beijada por aquele homem.

Seus beijos eram cada vez mais exigentes e impessoais. Sua língua explorava cada centímetro de minha boca e meu corpo inteiro parecia vibrar a cada toque de suas mãos.

Meu Deus, quem é esse homem? Jamais ninguém obteve tamanho poder sobre mim. Eu não o conhecia. Mas tudo o que desejava naquele momento, era me entregar de corpo e alma aquele desconhecido.

Ela é parecida com Megan, pensou ele. Até mesmo posso sentir o aroma da mesma fragrância de flores, que um dia perfumou meu quarto, minha vida. Havia também aquele delicioso cheiro de sangue doce e quente... Tudo aquilo era terrivelmente excitante. Queria beber até a última gota daquela abençoada bebida, mas com essa vadia seria diferente. Não beberia até a última gota de seu sangue, pois isso a mataria. Beberia somente a quantidade suficiente, a fim introduzir lhe a quantidade de veneno que a tornaria uma morta-viva, assim como eu.

Catharina sentiu os lábios dele, descerem novamente ao meu pescoço e sua língua brincava com minha pele. De repente ouvi o barulho de uma explosão, seguida de uma dor alucinante em meu pescoço. Era como se algo pontiagudo rasgasse minha pele.

Logo depois, senti que aquele homem misterioso parecia sugar meu sangue, como se estivesse bebendo o mais caro e precioso champanhe.

O sangue dela era doce e o mais saboroso que já havia provado. Aquele líquido enchia meu corpo de vida e esquentava minha alma. Aquele momento era tão precioso, como fazer sexo para os humanos.

Se continuasse a sugá-la, ela morreria. Era um ser tão estúpido, que não conseguia entender o que estava se passando. Não entendia ou não

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acreditava no que estava acontecendo? Os seres humanos, não acreditam em nada que não conseguem provar através de sua ciência. São seres obstinados pela cegueira de uma ciência, que não explica absolutamente nada.

Ela não era Megan. Era apenas uma vadia parecida com o grande e único amor de sua vida. Se não fosse parecida com Megan, acabaria como suas outras vítimas, sem uma única gota de sangue e abandonada como algo sem valor.

Inesperadamente, Catharina sentiu uma sonolência inexplicável e não viu absolutamente mais nada.

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Capítulo 2

Vampiros Acordei. Abri os olhos. Tudo estava confuso ao meu redor. Não

consegui enxergar nada com clareza. Tudo estava embaçado a minha volta.

Fechei os olhos. Esperei alguns minutos e os abri novamente. Agora conseguia enxergar aquele lugar escuro com nitidez.

Notei que estava num pequeno cômodo. Nele havia apenas a cama onde estava deitada e uma mesa de centro com uma vela acesa.

Definitivamente não estava num hospital. Onde estava? Que lugar era aquele?

Recordava-me apenas de ter sofrido um acidente e um lindo homem me tirando do carro prestes a explodir. Isso era tudo o que conseguia me lembrar.

Ouvi passos vindos em minha direção. - Quem está aí? – perguntei gritando assustada. – Onde estou? Não houve resposta. Apenas os passos de alguém que, continuava a

se aproximando do local onde me encontrava. Notei que alguém abriu a porta daquele cômodo. Acendeu a luz. Vi

que era o mesmo homem, que havia me resgatado do acidente. - Você está bem? – perguntou o estranho. - Sim. Onde estou? – indaguei confusa. - Está em minha casa. - Muito obrigado por ter salvado minha vida naquele acidente. Mas

preciso ir embora. Meus pais estão me aguardando para a ceia de Natal. Já devem estar preocupados com a minha demora.

- Você ainda não tem condições de sair daqui, mesmo porque, seu carro explodiu no acidente – disse o estranho calmamente.

- Eu só preciso do meu celular para entrar em contato com meus pais.

- Isso não será possível – disse olhando-me nos olhos. - Por quê? – indaguei apavorada. - Começará a sentir dores nesse exato momento. Naquele mesmo instante senti meu estômago queimar, minha

cabeça parecia que iria explodir e senti que meu coração estava fraco,

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quase parando. Tive a impressão de que ele realmente parou, mas logo em seguida,

bateu novamente de maneira acelerada. - Por favor, poderia me dar alguns cobertores? – perguntei sem

jeito. – Estou com muito frio, ou melhor, estou morrendo de frio – disse batendo o queixo.

Ele saiu sem falar absolutamente nada. Voltou minutos depois, com dois cobertores bem grossos e cobriu-me com eles. Fiquei olhando para aquele homem e percebi que estava em suas mãos. Me senti desamparada e com medo. Queria os meus pais. Estava faminta e sentia uma sede alucinante. Precisava comer alguma coisa.

- Por favor, gostaria de beber água. Estou com muita sede – senti envergonha em pedir comida.

- Trarei água e algo para comer – disse caminhando em direção à porta. – Irei preparar uma refeição simples. Aguarde alguns instantes – disse afastando-se.

Estava me sentindo fraca. Tentei levantar da cama, mas não consegui e não tive forças para ficar em pé. Acabei caindo no chão.

Quando ele retornou ao quarto, já havia conseguido me deitar. Ele trazia uma bandeja de plástico com água e uma tigela com sopa.

- Trouxe uma canja de galinha e um copo com água. Espero que goste – disse colocando a bandeja em cima da mesa de centro.

- Vou ajudá-la a sentar-se – disse arrumando os travesseiros na cabeceira da cama.

Estava com tanta fome, que tomei aquela canja rapidamente. Depois tomei o copo com água. Mas ainda continuava faminta e com muita sede.

Ele ficou parado me observando e sorriu com simpatia. - Vejo que o veneno está concluindo o seu trabalho – concluiu

satisfeito. - Veneno? – repeti apavorada. – Você me envenenou? – gritei

nervosa. - Você ainda sente fome e sede? – indagou ignorando a pergunta

que acabara de fazer. - Sim. Ainda sinto muita fome e sede. Como sabe? - Não consegue se recordar do acidente? - Eu me recordo do acidente – gritei irritada. – Quero saber que

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história de veneno é essa, seu louco! – disse aos berros. - Se o veneno não estivesse fazendo efeito, o alimento que acabou

de devorar a teria deixado satisfeita. - Você colocou veneno na minha comida? – perguntei

completamente irada. Ele sentou-se na beira da cama e sorriu. - Não. - Então, a que veneno está se referindo? - Do veneno que coloquei em seu corpo quando a mordi. Eu fiquei paralisada. Completamente incrédula com a frase que

havia acabado de ouvir. Deveria estar se divertindo as minhas custas. Aquele maluco estava começando a me assustar e talvez essa fosse sua intenção.

Esforcei-me para recordar do acidente. Consegui me lembrar da hora em que ele conseguiu me carregar no colo e subiu um pequeno morro com agilidade e rapidez descomunal. Recordei-me também de como sugava meu pescoço! Ele parecia se alimentar do meu sangue. Aquilo só podia ser um delírio! Aquilo definitivamente não havia acontecido...

- O que você fez comigo? – perguntei apavorada. - Eu apenas lhe dei a imortalidade – disse como naturalidade. - Do que está falando? - Eu a transformei numa vampira – disse sem constrangimento. –

Preciso de sua ajuda e como humana seria muito arriscado. Então a transformei numa vampira.

- Vampira? – repeti. – Deve estar brincando? - Aprenda uma coisa: jamais brinco com assuntos sérios. - Por que está me torturando? – perguntei levantando-me da cama.

No mesmo instante caí no chão, pois ainda me sentia muito fraca e com tontura. - O que você quer de mim?

- Preciso de sua ajuda. Você é a única pessoa nesse mundo que poderá me ajudar a deter um demônio.

- Você definitivamente deve ser do tipo de pessoa, que se diverte à custa dos outros com brincadeiras estúpidas.

Ele aproximou-se de mim e ajudou-me a sentar na cama. - Gostaria muito que fosse uma brincadeira. Mas esse assunto é

muito sério. Preciso de você para deter o mal.

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Estava cansada de ouvir besteiras. Tudo o que ele dizia não fazia o menor sentido. Queria ir embora daquele lugar o mais rápido possível.

- Eu preciso de minha bolsa. Quero ir embora desse lugar. Preciso do meu celular. Ligarei para os meus pais e pedirei que venham me buscar.

- Não posso deixá-la partir, pois preciso de você para acabar com alguém que destruiu minha vida.

- Você deve estar completamente louco! – disse consternada. - O que passa na cabeça de alguém como você? Pensa que o ajudarei a destruir alguém? – gritei nervosa. - Deve estar completamente maluco, se pensa que farei mal a alguém.

- Ele está próximo desse lugar. Está atrás de alguma coisa. Fico feliz por tê-la encontrado antes dele. Assim posso dizer a você que ele é um demônio.

- Do que está falando? - Estou falando de Vlad IV e Mihnea. - Nunca ouvi falar dessas pessoas – disse irritada. – Quem são eles? - Filhos do poderoso e temido Vlad III, o empalador. Não podia acreditar que ele estivesse se referindo do Conde Drácula

dos Filmes. Ele era completamente doido. Precisava sair daquele lugar. - Assistiu a muitos filmes de terror! – exclamei indignada. – Se

estiver falando do Conde Drácula, esqueça. Essas coisas não existem. São apenas histórias inventadas pelo homem. O empalador, Vlad III, morreu e jamais foi um vampiro – disse sorrindo. – Saiba que vampiros não existem.

- Vlad Draculea III existiu – disse com convicção. - Vlad nasceu em 1431 na Transilvânia. Vlad foi um príncipe conhecido por sua política de independência em relação ao Império Otomano, que sofreu sua resistência e pelas punições excessivamente cruéis que impunha a todos os seus prisioneiros.

- Mas Vlad Drácula foi morto em batalha contra os turcos próximo

da cidade de Bucareste, em dezembro de 1476. O corpo dele foi decapitado pelos Turcos e sua cabeça levada à Constantinopla, onde o Sultão a manteve em exposição em uma estaca como prova de que o empalador estava morto. Sei de tudo isso, porque adorei o livro de Bram Stoker, Drácula. Pesquisei para conhecer um pouco mais sobre essa

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lendária figura. - Seu corpo foi sepultado em Snagov, uma ilha-monastério

localizada perto de Bucareste. Arqueólogos escavaram o túmulo em 1931 e não encontraram nada, apenas ossos de animais. Não acha esse fato muito estranho? – disse ele sorrindo de sua descrença.

- Deve haver alguma explicação para isso, mesmo porque, passaram-se séculos até que fosse escavado seu túmulo.

Pobre criatura. Não conseguia enxergar o que estava diante de seus olhos, pensou Michel. Não podia culpá-la por sua estupidez. Séculos atrás era um humano, cheio de certezas incontestáveis até conhecer Megan. Ela destruiu o seu mundinho de certezas absolutas. Depois dela, nunca mais acreditou que existia uma verdade absoluta, pois existem mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a sabedoria do homem.

Senti pena de Catharina. Era tão estúpida quanto ele foi um dia. Pobre mulher! Lutava para não enxergar o que estava diante de seus olhos. Não conseguia acreditar em nada do que havia acontecido e do que havia lhe dito. Agarrava-se a suas crenças como se fosse uma pedra de salvação.

Tudo era tão surreal, que chegava a ser engraçado. Catharina não acreditava em vampiros. Vamos ver se continuaria com essa certeza quando estivesse faminta, pensou sorrindo Michel.

- Qual é o seu nome? – perguntou Catharina incomodada pelo silêncio.

- Michel. Meu nome é Michel... Gosto do seu nome, Catharina. - Como sabe o meu nome? – perguntou desconfiada. - Irá me ajudar ou não? - Por que precisa de minha ajuda – perguntei com medo de ouvir

mais maluquices. Ela estava pensando que era louco, pensou Michel ao ouvir seus

pensamentos. Ser um vampiro me trouxe algumas vantagens. Ouvir pensamentos era uma das vantagens mais interessantes. Havia outras coisas como, sentir o cheiro de qualquer coisa, mesmo distante. Rapidez, agilidade e a força de quinze homens também fazia parte de minha destreza.

- Como havia dito anteriormente, preciso de sua ajuda para destruir Vlad IV.

- Meu Deus, você é completamente louco! – disse Catharina

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horrorizada pela insistência naquele assunto. - Sei que não acredita em nada do que lhe digo – afirmou com

segurança. – Mas precisamos agir antes que ele destrua o mundo em que você acredita.

- Michel apurou o ouvido. Ouviu o noticiário da televisão que havia deixado ligada na sala. Havia uma reportagem que mostrava várias vítimas de um crime bárbaro.

- Vamos descer e assistir uma reportagem que está passando na televisão. Ela mostra a fúria sem fim de Vlad IV e da Condessa Bathory.

- Elizabeth Bathory é uma vampira? Os livros relatam que Bathory apenas tomava banho com o sangue de suas vítimas. Ela veio há falecer três anos após ser encarcerada em um aposento do castelo de Čachtice, onde não havia portas ou janelas. A história nunca revelou que Bathory é uma vampira.

- Como pode ser tão ingênua, Catharina! – exclamou com desprezo. – Já leu em algum livro, que não fosse de ficção, cuja narração revelasse sobre a existência de Vampiros?

- Não. Pegou-a no colo e desceu a escada da casa com velocidade

relâmpago. Seria um caso de possessão demoníaca? Pensei preocupadíssima

diante do ocorrido. Senti lágrimas rolarem por meu rosto. Estava com medo daquele homem. O pior é que estava tão fraca, que não conseguia ficar em pé sem ajuda. Teria que esperar se recuperar e depois fugiria daquele lugar.

Ele me colocou no sofá da sala e sentou-se ao meu lado. Pegou o controle da televisão e aumentou o volume.

“Estamos vivendo um caos”! Mais pessoas foram encontradas

mortas. Dessa vez aconteceu numa casa de classe média, onde estava sendo comemorado o aniversário de uma criança de cinco anos de idade. Os corpos foram encontrados sem uma única gota de sangue. Houve grande luta entre os assassinos e as vítimas adultas. Há móveis quebrados por toda a casa. Todos os corpos adultos faltam partes do corpo.

Esse é o sexto caso com as mesmas características ocorridas dentro dessa semana, na cidade de Jundiaí. “A polícia local acredita ser obra de

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algum serial killer ou alguma seita satânica.” Ele olhou para mim e desligou a televisão. Depois se sentou ao meu

lado. - Acredita agora no que estou lhe dizendo? Devia haver alguma explicação lógica para que as vítimas fossem

encontradas sem uma única gota de sangue, analisou Catharina. Não acredito em vampiros, isso é loucura!

- Você encontrou minha bolsa no acidente? – disse ignorando sua pergunta.

- Sim. Sua bolsa está em meu quarto. - Preciso dela para fazer uma ligação. Poderia pegá-la? Ele subiu as escadas e depois retornou com a minha bolsa. Confesso

que fiquei aliviada quando a peguei. Agora poderia ligar para o meu pai vir me buscar.

Ao abrir bolsa, não foi difícil encontrar o meu celular. Disquei o número do meu pai e aguardei até que atendesse.

- Papai? – perguntei ao notar que ele havia atendido. - Filha onde você está? – ouvi a voz preocupada de meu pai. - Sofri um acidente e um homem me resgatou. Estou na casa dele.

Poderia vir me buscar? - Você está bem? – indagou preocupado. - Sim, eu estou bem. - Infelizmente estou diante de um crime bárbaro. Preciso que ligue

para sua mãe. Ela irá buscá-la, pois irei demorar em conseguir sair daqui. - Tudo bem, pai. Ligarei para ela. - Espere. Dê-me o endereço do local onde você está, pedirei a algum

policial que a leve para casa. Sua mãe entrará em pânico, se souber que sofreu um acidente e ainda se encontra na casa de um desconhecido.

- Não sei o endereço – disse olhando para Michel. Ele levantou-se. Olhou para mim com um sorriso cansado no rosto.

Anotou o endereço de sua casa num papel e me entregou. Passei o endereço da casa e depois me sentei ao seu lado. - Meu pai enviará um policial até sua casa para me levar. Chegará

dentro de trinta minutos. Fiquei um pouco mais tranquila ao saber que não demoraria a sair

daquela casa. Ficaria livre daquele maluco em pouco tempo. Olhei ao

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redor da casa e me deparei com um lindo quadro. Levantei-me com dificuldade para enxergar melhor aquela pintura, pois a sala estava escura e apenas a televisão iluminava aquele ambiente.

Ouvi meu celular tocar novamente. - Alô. - Filha? É o papai. - Aconteceu alguma coisa? - Seu carro acabou de ser encontrado na estrada. Ele explodiu? -

indagou preocupado. - Sim. Minha sorte foi que esse homem encontrou-me a tempo de

retirar-me do carro, senão teria explodido junto com ele. - Você está bem? - Sim. - Ligue para acalmar sua mãe. Uns policiais foram até nossa casa,

para falar que encontraram seu carro. Pode imaginar como sua mãe está nesse exato momento?

- Você disse a ela que estou bem? - Sim. Mas cismou que estou mentindo para poupá-la. Você sabe

como sua mãe é maluca quando o assunto é você! - Não se preocupe, ligarei para ela. Disquei o número do celular de minha mãe, mas ninguém atendia.

Liguei para o número do telefone fixo de casa e a empregada atendeu. - Alô – disse Angelina do outro lado da linha. - Angelina? Aqui quem fala é Catharina. Preciso falar com minha

mãe. Minha mãe era uma mulher muito controlada e sensata em tudo o

que dizia ou fazia. Mas quando se tratava de mim, perdia todo o controle e a sensatez. Sou filha única. Não por opção de meus pais, mas por incompatibilidade do sangue deles.

Minha mãe é Rh negativo e meu pai Rh positivo. Nasci com o sangue do meu pai. Na hora do parto, o meu sangue se misturou com o da minha mãe. Ela não poderia ter mais filhos. Pois seu organismo produziu anticorpos contra o tipo positivo, podendo causar uma grave anemia no novo bebezinho. Aconselharam que ela não tivesse mais filhos.

Isso fez com que se tornasse uma mãe superprotetora. Sempre entrava em pânico, quando eu tinha uma simples gripe.

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- Alô? Catharina? – disse minha mãe com voz trêmula. - Mãe, estou bem. Não fique preocupada. - Ufa – disse aliviada. – Quer me matar de susto? - Claro que não. Eu te amo, mãe. – disse sorrindo – Estou na casa do

homem que me resgatou. Papai disse que enviará um policial para me levar para casa. Logo estarei ao seu lado.

Ouvi minha mãe chorar nervosamente do outro lado da linha. - Não se preocupe! Estou muito bem, mãe. - Agradeça o homem que a salvou – disse com dificuldade. – Nunca

mais quero passar um Natal como esse. Você sofre um acidente e seu pai não está em casa. Está tudo um caos. Eduardo está aqui comigo. Ele veio para casa, assim que soube do acidente. Quer falar com ele?

-Não. Quando chegar, conversaremos. Fique tranquila e pare de chorar. Beijos.

Desliguei o celular e olhei para o quadro a minha frente. Meus olhos se arregalaram ao olhar para ele. Poderia jurar que era eu, não fosse pelas roupas antigas.

- Quem é essa mulher? - Está assustada com a semelhança? - Sim. Poderia jurar que sou eu, nesse quadro. - O nome dela é Megan. - Quem foi Megan? – perguntei com um pouco de ciúmes. - Foi a esposa de Vlad IV. Aquela mulher deveria ser muito importante na vida daquele

homem. Aquele quadro ocupava o centro da sala em que estávamos. Parecia ocupar também o coração dele.

- Sem querer ser indiscreta. O que a pintura da mulher de Vlad IV faz no centro de sua sala?

- Ela foi muito importante em minha vida – disse olhando para aquele quadro com atenção.

- Quer falar sobre o assunto? - Sim. Nunca tive a oportunidade de falar sobre ela com ninguém.

Sempre fui uma pessoa muito sozinha. - Estou ouvindo. Pode começar a falar Michel – disse sentando no

sofá. Ele falou que Megan era filha de dois empregados de Vlad III e

moravam em sua propriedade. Seus pais eram pessoas muito pobres.

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Megan foi uma criança que cresceu com o estritamente necessário, nunca conheceu o luxo.

Ela cresceu e se tornou uma jovem muito bonita. Ajudava sua mãe com os afazeres na casa de Vlad III. Quando completara 15 anos, houve uma grande festa e Vlad IV estava por lá. Ele se encantou com a beleza de Megan. Deixou Paris e mudou-se para o castelo do pai.

Megan era pura e inocente, isso encantou ainda mais Vlad IV. Eles se tornaram inseparáveis. Passavam a maior parte do tempo juntos. Vlad a ensinou a ler e escrever. Mostrou a ela um mundo desconhecido, cheio de novidades.

Ela amava a companhia de Vlad IV. Era sem dúvida seu melhor amigo. Mas Vlad IV amava Megan de outra forma. Ele a queria como mulher. Tentou conquistá-la de todas as maneiras. Vlad a levava em suas viagens comprava-lhe presentes caríssimos, roupas, sapatos, enfim, ele fazia de tudo para conquistá-la. Ele a pediu em casamento. Ela não o amava e aquilo foi o fim para o ego de Vlad IV.

Megan se tornou uma obsessão. Quanto mais Megan o rejeitava, mas ele a desejava.

Pouco tempo depois, houve uma grande epidemia que assolou o mundo. Houve muitas mortes, inclusive a dos pais de Megan. Ela estava sozinha e também muito doente.

Quando estava muito debilitada e desenganada pela medicina, Vlad a transformou numa vampira. Para mostrar sua gratidão, Megan, aceitou seu pedido de casamento.

Ele a mantinha no castelo sobre forte vigilância, pois sabia que aquela mulher não o amava. Com os cuidados de uma rainha, a beleza de Megan se tornou conhecida para o desespero de Vlad.

Quando a epidemia acabou, houve uma grande festa para comemorar o fim da miséria e morte que assolava o mundo. Ela estava linda. Ao passar para cumprimentar Vlad IV, senti o cheiro de flores que emanava de Megan.

Nesse momento, nossos olhos se cruzaram. Ela tinha os olhos mais lindo e angelicais que já havia visto. Tudo nela era perfeito.

Logo em seguida, Vlad a mandou para o quarto. Pouco tempo depois, ele também deixou o salão e subiu ao encontro dela.

Eu fiquei curioso para saber mais sobre aquela mulher. Procurei

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pelo quarto deles. Ouvi atrás da porta. Ele a forçou a fazer sexo. E depois de alguns minutos, ouvi seu ronco pesado. Nesse momento a porta se abriu. Megan estava chorando compulsivamente.

Eu peguei em sua mão e a levei até uma sala perto dali. Ela chorou por um longo tempo. Quando finalmente parecia mais calma, confessou que não era feliz com a brutalidade de Vlad. Disse que no início até gostava dele, mas ele era muito rude e pouco gentil quando faziam amor. Sempre a machucava, quando não o queria a noite.

Eu estava encantado com a beleza daquela mulher. Estava apaixonado... Não me contive e a beijei com cuidado e com todo carinho do mundo, como se pudesse compensá-la por anos de sofrimento.

Seu cheiro de flores me enlouquecia de desejo. Ela tinha a pele muito macia e muito branca. Aquela brancura contrastava com seus cabelos negros, valorizando sua beleza.

Fizemos amor naquela mesma noite. Eu a engravidei. Esse foi o início de todo o vendaval. Quando descobriu que estava grávida, resolveu fugir de Vlad IV, pois ele mataria a criança e nunca mais a deixaria sair daquele quarto.

Ela o deixou e ele quase ficou louco. Seu pai, Vlad III, ordenou para que a encontrassem e a matassem. Ele não admitia que uma mulher houvesse abandonado o filho e ainda continuasse viva. Isso seria uma vergonha para a família.

Vlad IV matou o pai para que Megan não fosse morta. Ele queria Megan viva.

Megan passou muitos meses doente. Não entendia o que estava acontecendo. Seu cabelo estava caindo, sua pele estava envelhecida e ressecada. Sentia uma fome insaciável. Mais tarde me confessou que era uma vampira. Precisava de sangue ou morreria. Ela estava cada dia mais fraca. O bebê não sobreviveria se a mãe continuasse tão fraca.

Pedi que bebesse do meu sangue. Ela se recusou a fazer isso. Mas insisti que precisávamos salvar o bebê. Afinal ele não tinha culpa pelo que havia acontecido.

Megan me transformou num vampiro. Eu dei o meu sangue para que pudéssemos salvar nosso filho. Infelizmente ele nasceu muito doente.

Poucos dias após o nascimento do bebê, Vlad a encontrou e a levou embora. Ele é ardiloso e muito inteligente. Deixou que ela escolhesse. Voltaria para ele ou morreria junto comigo. Para sua surpresa, ela decidiu

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morrer junto comigo. Isso atraiu ainda mais a sua ira. Vlad fez outra proposta. Se ela voltasse para ele, me deixaria viver.

Ela concordou prontamente e partiu com ele. Soube que ele fez de tudo para conquistá-la. Conseguiram viver em

paz durante algum tempo, mas depois ele a matou. - E o filho de vocês? – perguntei curiosa. - Ficou comigo, mas acabou falecendo logo que soube que a mãe foi

assassinada. Era uma criança muito triste e doente. Senti pena daquele pobre homem. Era difícil não sentir compaixão

após ouvir uma história daquela. Mas isso não era problema meu e não iria me envolver.

Ouvimos a campainha tocar. Ele levantou-se e foi abrir a porta. Era o policial encarregado de levar Catharina para casa. - Boa noite, senhor – cumprimentou o homem. – Sou o policial

Paiva. Estou aqui para levar Catharina. - Entre policial Paiva. – disse Michel. – Ela está aguardando na sala. - Estou com um pouco de pressa. – disse o policial. – Poderia fazer a

gentileza de chamá-la? Ainda tenho que voltar para o plantão na delegacia. Aquele lugar está parecendo um inferno!

- Claro. Vou dizer a ela que já está aqui para levá-la. Ele deixou a porta aberta e foi até a sala em que estava Catharina.

Ela ainda estava parada olhando o quadro de Megan. - O Policial Paiva está lá fora esperando por você. - Obrigada, Michel. - Espero que pense sobre tudo o que lhe falei. Dei-lhe um beijo no rosto e sai daquela casa aliviada por deixar

aquele homem com suas lembranças do passado.

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Capítulo 3

Corpos Corpos espalhados por toda a casa. Aquele cenário seria muito

difícil esquecer, principalmente por haver crianças envolvidas. Os adultos que estavam no local, deveriam ter resistido ao ataque, porque não havia um único corpo adulto, que não estivesse faltando algum membro.

O ataque havia acontecido durante a festa de uma criança de cinco anos, pois no bolo coberto por sangue, possuía uma velinha com o número cinco.

Havia muito sangue espalhado por todos os lugares daquela casa. O cheiro começava a ficar insuportável. O mais curioso de tudo, foi notar que o pescoço de todas as vítimas estava quebrado.

Jamais esqueceriam o horror e o espanto estampado no rosto de todos os corpos. A luta havia sido grande, pois os móveis da sala estavam completamente destruídos.

Os responsáveis pelo crime daquela casa, não poderiam ser pessoas normais. Havia um toque de crueldade naquilo tudo.

Subiram as escadas e sentiu o cheiro de morte. O Policial Paiva e o delegado Lucas seguiram seus instintos e se depararam com algumas senhoras que pareciam terem sido estupradas antes de morrer. O delegado sentiu ânsia ao notar que parte dos genitais de uma delas, havia sido arrancada. Seria caso de canibalismo?

Meu Deus, como o ser humano pode chegar a esse ponto? Como alguém fere outra pessoa de forma tão impiedosa? No rostinho daquelas crianças havia uma expressão de dor, medo e desespero, observou horrorizado o delegado.

Saíram de dentro da casa com um sentimento de impotência. Nada mais poderia ser feito para salvar a vida daquelas pessoas. Mas precisavam fazer algo que impedisse que tais crimes continuassem a acontecer naquela cidade.

Os peritos haviam acabado de chegar, agora o trabalho era deles. Aquele local estava virando o estômago de todos os policiais, pois o sangue ficava com um cheiro insuportável quando secava.

O delegado abriu a porta da viatura e saiu daquele lugar o mais rápido que conseguiu. Aquilo precisava acabar, estava começando a ficar

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embaraçoso para a polícia local, não ter nenhuma pista a respeito do que estava acontecendo naquela cidade.

Eram casos de mortes e desaparecimentos de pessoas, que não acabava mais. O pânico tomava conta do lugar. As pessoas se recolhiam a suas casas, logo que chegavam do trabalho. Todos estavam aterrorizados, com a onda de violência que a cidade estava acometida.

Precisava encontrar os culpados por aquilo ou em breve não haveria mais população naquele lugar.

Entrou no carro e dirigiu-se a delegacia. Mal entrei na delegacia, um policial veio falar comigo. Seu rosto parecia preocupado, ou melhor, a preocupação estava estampada no rosto de todos os policiais daquele distrito.

- Delegado, o jornal local trouxe mais notícias sobre desaparecimento. Parece que dessa vez, foi a esposa e a filha do prefeito da cidade – disse o policial preocupado. – Deixei o jornal em sua mesa.

O delegado entrou em sua sala. Foi até a cafeteira e pegou um pouco de café. Sentou-se na cadeira e não precisou folhear o jornal para encontrar a notícia, pois estava estampada na primeira página.

“A esposa e a filha do prefeito desapareceram misteriosamente”.

Segundo o prefeito, a esposa e a filha, saíram de sua casa no dia anterior, às dezessete horas, para aulas de aeróbica.

Essas aulas eram realizadas no clube local da cidade. Mas segundo o diretor do clube, mãe e filha não compareceram as aulas.

Esse é o quinto desaparecimento da semana. A polícia de Jundiaí está fazendo a investigação do caso. “Mas até agora não conseguiram encontrar nenhuma pista”.

Ele colocou o jornal sobre a mesa com raiva, pois sua reputação

como delegado de polícia, estava por um fio naquela cidade. Precisava encontrar pelo menos uma pista, que o levasse ao

culpado, ou melhor, aos culpados. Estava começando a acreditar na existência de Serial Killer na cidade, pois naquela pacata cidade jamais houve um único histórico de desaparecimento. Infelizmente, começava aparecer um caso atrás do outro.

Seus pensamentos foram interrompidos, quando um policial

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adentrou a sala repentinamente. - Delegado Lucas, encontramos essa carteira – disse o Policial

Paiva, depositando uma carteira em cima da mesa. – Ela estava em frente à esquina da Igreja. Parece que pertence a filha do prefeito.

- Vocês interrogaram as pessoas do local? - Sim. O Padre Ricardo nos informou que as duas estiveram em

sua paróquia. Mas saíram apressadamente, assim que a missa terminou. O Padre disse que não conseguiu falar com nenhuma delas.

- Há uma lanchonete em frente à Igreja. Interrogaram o dono da lanchonete?

- Ele nos disse que as duas tomavam refrigerante, quando o celular da filha do prefeito tocou. Ao terminar a ligação, saíram apressadamente, sem terminarem de tomar o refrigerante.

- Peça a quebra do sigilo telefônico do celular da filha do prefeito, em seguida iremos até a casa dele.

O Policial Paiva saiu daquela sala apressadamente, deixando-me sozinho novamente.

Essa carteira era a única pista que tinha para chegar ao criminoso, ou melhor, havia ainda o telefonema que a filha do prefeito havia recebido, pensou o delegado.

Minutos depois, o policial Paiva retornou na sala do delegado. - Delegado, fiz o pedido da quebra de sigilo telefônico da moça.

Infelizmente levará uma semana para termos acesso as gravações recebidas no celular.

- Excelente – disse o delegado com sarcasmo. – Estamos vivendo um tremendo caos. E só daqui a uma semana, teremos acesso à única pista que encontramos?

- A burocracia desse país fala mais alto do que qualquer situação de emergência.

- Vamos à casa do prefeito para ver se descobrimos mais fatos – disse encaminhando-me em direção a porta.

Entramos na viatura policial e partimos em direção ao condomínio residencial em que morava o prefeito da cidade.

Paramos a velha viatura policial, frente a uma belíssima casa de três andares. Avistaram o jardineiro aparando a grama do belíssimo jardim.

- Bom dia – disse o delegado ao jardineiro. – Você saberia me

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informar se o prefeito está em casa? - Ele está na biblioteca delegado – disse uma senhora saindo da

casa. – Ele acabou de ligar na delegacia e soubemos que vocês viriam a sua procura. Eu sou Eleonora Cintra, secretária do prefeito.

- Bom dia, Eleonora. Precisamos falar com o prefeito. Poderia dizer a ele que estou aqui?

- Ele o aguarda na biblioteca. Entraram na casa. A secretária os levou a uma sala ricamente

mobiliada, com vários quadros de pinturas abstratas que estavam pendurados nas paredes, dando ao ambiente requinte e sofisticação.

- Por favor, aguardem nessa sala. Verei se o prefeito está em condições de atendê-los.

A mulher saiu e eles sentaram-se num sofá de couro, enquanto aguardavam.

- Que sofá macio! Quando ganhar na loteria comprarei um desses para mim – disse o policial Paiva, sorrindo.

- Você joga na loteria? – indagou o delegado. - Não. - Então, sinto informar, nunca terá um desses em sua sala – conclui. - Você tem sorte, pois sua esposa é milionária. Tem uma casa tão

bonita quanto à do prefeito. - Sim. Tenho esposa e filha maravilhosas, uma excelente casa e uma

vida tranquila. Mas também nunca fui pobre, pois meu pai era engenheiro da Petrobrás e ganhava muito bem. Deixou-me uma boa herança.

Minutos depois, a secretária apareceu na sala novamente. - O prefeito irá atendê-los. Por favor, me acompanhem. Subiram uma enorme escada de mármore branca, que os levaram

ao primeiro andar da casa. A mulher bateu na porta e ouviram a voz do prefeito, pedindo que

entrassem. Entraram e ficaram penalizados ao ver o prefeito. Aquele homem

tinha os olhos inchados e vermelhos, provavelmente havia chorado a noite toda. O desespero estava estampado no semblante dele.

- Boa tarde, prefeito – cumprimentou sem jeito o delegado - Sentimos muito pelo desaparecimento de sua família. A única pista que temos até o momento, é uma carteira encontrada na esquina da igreja.

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- Carteira? De quem é a carteira? – indagou o prefeito. - Esta é a carteira encontrada próxima à igreja – disse o policial

mostrando a carteira de couro feminina. – O senhor reconhece essa carteira prefeito?

Ele pegou a carteira analisando-a atentamente. Por fim informou surpreso.

- Essa carteira pertence a minha filha. Nós a compramos, na última viagem a Paris que fizemos no Natal passado.

- Você tem certeza, prefeito? - Sim, tenho certeza absoluta. Acho estranho ter sido encontrado

próximo a Igreja. Elas não me disseram que iriam para lá. Elas saíram de casa para irem ao clube, pois era o dia em que tinham aulas de aeróbica.

- Sua esposa é Católica, prefeito? – perguntou o delegado. - Sim. Somos todos católicos, mas não praticantes. Mas minha

esposa sempre ajudou o padre Ricardo, na campanha para arrecadar fundos para as crianças do orfanato.

- O padre disse que não conseguiu falar com elas, pois saíram apressadamente assim que a missa terminou.

- Essa história está cada vez mais estranha. Por que iriam até a igreja assistirem a uma missa, se saíram de casa, para irem ao clube fazer aulas de aeróbica? O mais estranho é terem saído da igreja, sem falarem com o padre.

- O Senhor tem o telefone do padre Richard? - Minha esposa deve ter o número do padre em seu celular.

Infelizmente o celular está com ela, mas aguardem um instante. Pedirei a Eleonora que consiga o número de telefone do padre – disse saindo novamente daquela sala.

Eles resolveram sentar enquanto aguardavam. À frente do pequeno sofá havia uma mesa de centro. Em cima dessa mesa havia vários porta-retratos, um deles chamou atenção do policial Paiva.

Havia um porta-retratos com quatro pessoas na foto, o prefeito, a esposa, a filha e um jovem ao lado dela.

O prefeito retornou a sala novamente, com um papel na mão. Minha secretária encontrou o telefone do padre – disse o prefeito

entregando-lhe o papel. - Prefeito, quem é o jovem ao lado de sua filha? – perguntou o

policial Paiva.

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- É o noivo dela. Eles se conheceram na época em que ela fazia faculdade no Canadá.

- Ele é canadense? - Não. Ele é brasileiro, mas viveu no Canadá desde criança. - Ele ainda vive lá? - Não. Atualmente vive na Espanha, pois é um grande e renomado

escritor. Eles pensavam em se casar no próximo ano. - Você o conhece? - Ainda não. Ele viria ao Brasil para tornar o noivado oficial no

próximo mês. Sua família também viria com ele para nos conhecermos. Mas minha filha estava pensando em desistir do compromisso.

- Havia algum motivo especial para desistir? - O rapaz é de boa família, mas Andressa estava apaixonada por

um rapaz que conheceu numa sala de bate papo na internet. - O senhor chegou a conhecer o rapaz? - Não. Minha filha também não o conhecia, pois ela disse que só

acabaria com o relacionamento com o rapaz do exterior, quando o conhecesse pessoalmente o rapaz da internet.

O delegado ouviu seu celular tocar, pediu licença e saiu para atender.

- Delegado? - disse a voz do outro lado da linha. - Sim. - Aqui é o policial Enoque. Encontramos um menino que afirma ter

visto a esposa e a filha do prefeito, conversando com uns homens no dia em que sumiram.

- Peça ao menino que me aguarde. Onde vocês estão? - Estamos em frente a uma área abandonada, cheia de mato,

próximo a um posto de gasolina que fica na entrada da cidade. - Estarei no local em quinze minutos. Desligou o celular e olhou em direção ao prefeito. - Encontramos um menino que afirma ter visto sua esposa e filha,

ontem. Talvez esse menino nos dê alguma pista. - Posso ir com vocês? – indagou o prefeito. - Sim. Não vejo nenhum problema. Saíram apressadamente em direção a mais uma pista daquele caso.

Ao chegarem ao local, encontraram uma criança de aproximadamente dez

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anos acompanhado de sua mãe. Ele parecia bastante assustado com a presença de mais policiais chegando ao local.

- Boa tarde, menino – cumprimentou o delegado. – Eu sou o delegado. Meu nome é Lucas – disse estendendo a mão. – Qual é o seu nome?

- Meu nome é Enzo – disse o menino estendendo o braço e apertando a mão do delegado com força.

- É um grande prazer conhecê-lo Enzo. Nunca conheci ninguém com seu nome. Você é o primeiro Enzo que conheço - disse o delegado sorrindo.

- Meu nome é igual ao do meu avô, nosso nome é de origem italiana – informou o menino todo orgulhoso.

- Gostei de seu nome. Mas nós precisamos de sua ajuda Enzo. Gostaria que me contasse tudo o que viu nesse lugar, ontem. Fique tranquilo e fale tudo o que você conseguir lembrar.

- Delegado, eu vi duas mulheres conversando com um homem. Ele estava muito calmo, mas elas gritavam demais.

- É mesmo? O que elas estavam gritando? - Socorro! Por favor, não nos faça mal. Pelo amor de Deus não nos

machuque. - O que o homem dizia? - Eu não consegui ouvir. - Pode descrever como era esse homem? - Eu não consegui ver o rosto dele, porque ele estava de costas para

mim. Mas depois, apareceu outro homem. - Conseguiu ver rosto desse outro homem? - Sim. - Consegue me descrever a aparência dele? O menino olhou em direção a sua mãe, depois resolveu continuar. - Ele era alto, tinha os olhos bem vermelhos e ficou beijando o

pescoço da mulher mais velha por um longo tempo. - Beijando o pescoço? – indagou o policial. - Sim. – disse o menino olhando novamente em direção a sua mãe. –

Eu fiquei escondido, para que eles não me vissem. Mas acabei gritando bem alto, quando a mulher mais velha foi jogada longe. Nunca conheci um homem tão forte, pois ele jogou a mulher, como se fosse um brinquedo.

- Pode nos mostrar onde o corpo arremessado caiu?

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- Sim – disse o menino correndo pelo terreno até que finalmente parou. – Ele a jogou nesse lugar – disse apontando para o final do terreno.

O delegado seguiu em direção ao menino. Olhou atentamente o local, mas não encontrou absolutamente nada que confirmasse a história do garoto.

Olhou para o menino. Abaixou-se para olhar em seus olhos. - O que você estava fazendo nesse local? Esse lugar parece perigoso. - Eu menti para minha mãe – disse abaixando a cabeça,

envergonhado. – Disse que fui à escola, mas menti. Fiquei brincando nesse lugar porque ninguém me encontraria num lugar deserto.

- Você sabe que fez algo errado. É muito feio mentir para as pessoas. Espero que nunca mais fale mentiras.

- Eu prometi que jamais mentiria novamente – disse o menino completamente vermelho.

- Tem mais alguma coisa que gostaria de me falar? - Mais tarde eu retornei a esse lugar – disse caminhando de volta ao

início do terreno onde estava sua mãe. – Mas não havia ninguém nesse local.

A mãe aproximou-se do menino e olhou para ele com carinho. - Filho, mostre ao delegado o que encontrou no terreno. - Achado não é roubado! – disse o menino cruzando os braços,

aborrecido. - Mostre a delegado o que você encontrou e se não for da família do

prefeito, poderá ficar com a aliança. - Mas eu queria dar a aliança para você, mamãe. - Faça o que pedi. Se essa aliança for da esposa do prefeito, estará

ajudando a encontrar a esposa dele. Assim saberão que está dizendo a verdade.

- Está bem, vou fazer o que me pediu. – disse o menino a contra gosto. – Promete me devolver a aliança, se não for da esposa do prefeito?

- Sim. Se essa aliança não for da esposa do prefeito, devolverei a você.

- Promessa é dívida! – disse o menino depositando na mão do delegado, uma linda aliança de ouro branco.

O delegado olhou atentamente para a aliança e dentro dela estava gravado o nome do prefeito.

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Virou-se para o prefeito que parecia constrangido, após ouvir que sua esposa estava sendo beijada no pescoço.

- Reconhece essa aliança, prefeito? - Meu Deus! Essa aliança é de minha esposa. Se observar dentro

dela, encontrará meu nome gravado. Olhe a minha tem o nome dela – disse mostrando sua aliança.

- Delegado, posso ir embora para minha casa? – perguntou o menino.

- Muito obrigado por ter devolvido a aliança Enzo. Poderia me fazer somente mais um favor? – disse o delegado. – Se me fizer esse favor, poderá andar numa viatura policial. O que acha da ideia Enzo?

- Eu faria qualquer coisa para andar num carro de polícia. - Então me fará o favor? - Que tipo de favor? – perguntou o menino meio desconfiado. - Eu o levarei até a delegacia, pois lá irá descrever o homem que

conseguiu ver o rosto. - Está combinado. Posso dizer como era o rosto daquele homem. Eles entraram na viatura e seguiram até a delegacia. O menino ficou

feliz por passear na viatura policial. O delegado pegou o celular e discou alguns números. - Heitor? - Ele mesmo – disse a voz do outro lado da linha. - Aqui é o delgado Lucas. Preciso que vá até a delegacia, pois

precisamos de seus serviços. Mas é necessário que se dirija a delegacia nesse exato momento. Poderia me fazer esse favor?

- Sim, delegado. - Muito obrigado, Heitor! Ao chegarem à delegacia, uma policial veio ao encontro deles. - Boa tarde! – cumprimentou a policial. – O desenhista o espera em

sua sala para fazer o retrato falado. - Obrigado. Subiram um pequeno lance de escadas e entraram numa sala

pequena. Lá estava o desenhista. O delegado pediu a Enzo que ficasse na sala, os demais deveriam se dirigir a sala ao lado.

- Enzo, esse é o desenhista que fará o retrato falado. Você irá fazer uma descrição do homem. Tente se lembrar do homem que jogou a esposa do prefeito. Ele irá desenhar exatamente o que você contar a ele.

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Por isso é muito importante que você diga tudo o que se recordar. Não pode inventar e nem aumentar absolutamente nada.

- Eu não irei inventar nada, delegado. Minha mãe disse que inventar é a mesma coisa que mentir. Vou cumprir o que prometi. Não irei mentir nunca mais.

- Eu sairei da sala, assim você consegue pensar melhor – disse abrindo a porta e saindo.

O delegado juntou-se ao prefeito e a mãe do menino. Eles aguardavam ansiosamente sentados em cadeiras pouco confortáveis.

Após quarenta minutos, o desenhista e o menino finalmente saíram da sala.

O desenhista entregou o retrato-falado ao delegado. Todos correram até o delegado, a fim de ver o rosto do suspeito.

Mas caíram na gargalhada ao ver um homem muito bonito com dentes de vampiro.

O desenhista aproximou-se do delegado que parecia atônito. - Delegado, irá precisar da ajuda de um padre para conseguir água

benta e crucifixo. Ainda bem, que o Enzo o preveniu quanto a isso – disse sorrindo de maneira sarcástica ao mostrar o retrato falado.

- Quantas vezes já lhe pedi para não falar de vampiros? – disse a mãe puxando a orelha do menino.

- Ai, minha orelha! A senhora pediu para eu não falar de vampiros. Mas eu prometi que não iria mentir e nem inventar para o delegado. Então eu contei tudo o que vi.

- Acalme-se senhora – disse o prefeito. – Ele está assustado com tudo o que está acontecendo. Talvez tenha associado à figura de um vampiro, por ver minha esposa ser arremessada longe.

- Esse menino precisa parar de inventar coisas, prefeito – disse a mãe do menino envergonhada.

- Eu não estou mentindo – disse o menino chorando. – Por que será que ninguém acredita, quando eu digo a verdade?

- Porque você dificilmente diz a verdade – disse a mãe do menino, irada.

- Vou pedir ao policial Paiva que levem vocês para casa. – disse o delegado.

Eles se despediram e seguiram até a viatura, que em seguida partiu.

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- Prefeito preciso de sua ajuda. Talvez você consiga mais rápido a gravação do celular de sua filha. Afinal, você é o prefeito da cidade.

- Claro. Farei tudo o que puder, a fim de que tudo seja esclarecido o mais rápido possível. Tomara que as pessoas da operadora telefônica, também pensem desse modo. – disse o prefeito pouco otimista.

- Não nos custa tentar. Ao chegarem à operadora, não foi difícil ter o acesso à bendita

gravação. Um senhor muito simpático os atendeu com enorme boa vontade, pois sua neta também estava desaparecida e talvez por esse motivo, estivesse sendo tão prestativo.

Minutos depois ele retornou com a cópia das ligações da filha do prefeito. Lá estavam todas as ligações realizadas e recebidas no dia em que haviam desaparecido.

Voltaram para a delegacia e seguram em direção à sala do delegado. Sentaram-se em frente ao velho aparelho de CD e minhas mãos tremiam. Agora teria uma prova contundente de pelo menos um dos crimes, pensou o delegado.

- Andressa? – disse uma voz masculina com sotaque de gringo. - Amor? É você? - Sim, sou eu. Acabo de chegar ao Brasil. - Quando chegou da Romênia? – disse a filha do prefeito animada. - Ontem à noite. Estou feliz por ter a oportunidade de finalmente

conhecê-la. Decidi fazer-lhe uma surpresa. Nos mudamos para o Brasil. - Que notícia boa! – disse a filha do prefeito no maior entusiasmo. –

Onde está nesse exato momento? - Estou com minha mãe assistindo a missa. Ela é católica e não gosta

de ficar sem comungar. Como não sabe andar pela cidade, resolvi trazê-la e acabei cedendo a pressão para assistir também.

- Estaremos em poucos minutos na igreja. - Estarei aguardando. A ligação foi cortada, provavelmente ele desligou o telefone. - Meu Deus! Só pode ser o rapaz com quem conversava na internet. - Sabe alguma coisa sobre esse rapaz? - Infelizmente, não sei nada sobre esse homem. - Vamos continuar ouvindo.

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- Andressa? - Sim. - Desculpa! Minha mãe não passou bem e decidi levá-la ao hospital.

Estava com pressão baixa. - Entendo. Onde estão agora? - Estou perdido e próximo a um terreno baldio próximo a um posto de

gasolina. Poderia me encontrar aqui? - Sim. Estou com minha mãe. Ela está ansiosa para conhecê-los. - Estarei esperando, meu amor. - Até breve, beijinhos. - Precisamos saber a quem pertence esse telefone – informou o

delegado Lucas. - Está aqui o nome e o endereço da pessoa – disse o policial. – Eu

pedi aquele senhor antes de sairmos. - De quem é o telefone? - De uma senhora idosa. Ela deu queixa do desaparecimento do

celular, no dia anterior ao desaparecimento da família do prefeito. - Voltamos a estaca zero! – disse o delegado com raiva.