Vanessa Lea, Parentesco Macro Jê

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PARENTESCO ENQUANTO UMA ELABORAÇÃO SÓCIO-CULTURAL DA PERCEPÇÃO DO DIMORFISMO SEXUAL HUMANO Vanessa R. LEA 1 resumo Os lingüistas geralmente delegam aos antropólogos a análise das terminologias de parentesco. Antes de enfocar a terminologia de parentesco Mbêngôkre, o artigo aborda o que os antropólogos entendem por parentesco e as principais divergências que surgiram no decorrer de um século de reflexão sobre esse tema. As últimas duas décadas foram marcadas por uma aproximação entre parentesco e gênero. É sugerida a possibilidade do mapeamento das categorias de parentesco ter surgido como uma tentativa de interpretar e atribuir significado ao dimorfismo sexual humano (permeado por diferenças etárias). Em seguida, são apresentados alguns aspectos da terminologia de parentesco Mbêngôkre, tais como as implicações de sua classificação como sendo do tipo Omaha. É demonstrada a imbricação da terminologia com a onomástica e a importância da ordem de nascimento. As metáforas são apontadas como um terreno escorregadio e é problematizada a universalidade de categorias como ‘pai’. O artigo termina argumentando que o amante Mbêngôkre é concebido como uma forma atenuada de marido ou de esposa e não como uma categoria que se diferencia do cônjuge, tal como ocorre em português. palavras-chave terminologia; parentesco; gênero; onomástica; Mbêngôkre; Kayapó; etnologia O V Encontro de Línguas e Culturas Macro-Jê, fomentando um diálogo entre lingüistas e antropólogos, forneceu a oportunidade para retomar uma questão que sondei pela primeira vez num encontro da ANPOCS 2 em 2001. Naquela ocasião eu havia proposto discutir a questão de parentesco e gênero, o que acabou me provocando um malestar, porque percebi que talvez seja inapropriado cotejar parentesco e gênero, na medida em que parentesco poderia ser caracterizado como uma construção social-cultural de gênero, no sentido de uma elaboração intelectual sobre a percepção do dimorfismo sexual humano (permeado por diferenças etárias). 3 1 Departamento de Antropologia, IFCH, UNICAMP; [email protected]. ‘Parentesco e Gênero’ texto apresentado na Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), 26/8/01. seminário temático: Sexualidade, Reprodução, Parentesco: Novas Questões, Novos Desafios? Leituras a partir dos Estudos de Gênero; sessão: Parentesco, filiação, reprodução. 3 Collier e Yanagisako (1987: 32) argumentaram, num livro entitulado Gender and Kinship, que parentesco e gênero se constituem mutuamente. O sucesso de juntar os dois temas foi refletido no livro de Stone (2000) que simplesmente inverteu a ordem do título deste livro – Kinship and Gender.

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PARENTESCO ENQUANTO UMA ELABORAÇÃO SÓCIO -CULTURAL DA PERCEPÇÃO DO DIMORFISMO

SEXUAL HUMANO

Vanessa R. LEA1

resumo Os lingüistas geralmente delegam aos antropólogos a análise das terminologias de parentesco. Antes de enfocar a terminologia de parentesco Mẽbêngôkre, o artigo aborda o que os antropólogos entendem por parentesco e as principais divergências que surgiram no decorrer de um século de reflexão sobre esse tema. As últimas duas décadas foram marcadas por uma aproximação entre parentesco e gênero. É sugerida a possibilidade do mapeamento das categorias de parentesco ter surgido como uma tentativa de interpretar e atribuir significado ao dimorfismo sexual humano (permeado por diferenças etárias). Em seguida, são apresentados alguns aspectos da terminologia de parentesco Mẽbêngôkre, tais como as implicações de sua classificação como sendo do tipo Omaha. É demonstrada a imbricação da terminologia com a onomástica e a importância da ordem de nascimento. As metáforas são apontadas como um terreno escorregadio e é problematizada a universalidade de categorias como ‘pai’. O artigo termina argumentando que o amante Mẽbêngôkre é concebido como uma forma atenuada de marido ou de esposa e não como uma categoria que se diferencia do cônjuge, tal como ocorre em português. palavras-chave terminologia; parentesco; gênero; onomástica; Mẽbêngôkre; Kayapó; etnologia

O V Encontro de Línguas e Culturas Macro-Jê, fomentando um diálogo entre lingüistas e

antropólogos, forneceu a oportunidade para retomar uma questão que sondei pela primeira vez

num encontro da ANPOCS2 em 2001. Naquela ocasião eu havia proposto discutir a questão de

parentesco e gênero, o que acabou me provocando um malestar, porque percebi que talvez seja

inapropriado cotejar parentesco e gênero, na medida em que parentesco poderia ser caracterizado

como uma construção social-cultural de gênero, no sentido de uma elaboração intelectual sobre a

percepção do dimorfismo sexual humano (permeado por diferenças etárias).3

1 Departamento de Antropologia, IFCH, UNICAMP; [email protected]. ‘Parentesco e Gênero’ texto apresentado na Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), 26/8/01. seminário temático: Sexualidade, Reprodução, Parentesco: Novas Questões, Novos Desafios? Leituras a partir dos Estudos de Gênero; sessão: Parentesco, filiação, reprodução. 3 Collier e Yanagisako (1987: 32) argumentaram, num livro entitulado Gender and Kinship, que parentesco e gênero se constituem mutuamente. O sucesso de juntar os dois temas foi refletido no livro de Stone (2000) que simplesmente inverteu a ordem do título deste livro – Kinship and Gender.

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A tentativa de definir o que é parentesco constitui um dos debates principais

empreendidos por antropólogos sociais no decorrer do século XX, sendo que não se chegou a

nenhum consenso. Houve aqueles como Gellner (apud Dumont 1971: 38), que se rebelaram

contra o consenso antropológico vigente que frisava o aspecto social do parentesco, insistindo no

seu substrato biológico. Anteriormente, Lévi-Strauss, na sua celebre obra As Estruturas

Elementares de Parentesco (1947), havia argumentado que tudo que é universal remete à

biologia, portanto, não se trata de um tema relevante aos antropólogos. Para este autor, sabemos

que estamos no domínio socio-cultural ao lidar com regras, o tabu de incesto sendo justamente a

única regra universal, a excepcionalidade explicada pelo fato de que o conteúdo daquilo

considerado incesto varia de uma sociedade para outra.

Posteriormente, Needham argumentou que parentesco enquanto tal é algo ilusório; o que

está em jogo é “a alocação de direitos e sua transmissão de uma geração a outra” (1971: 3).

Schneider (1984) também criticou o pressuposto de que parentesco seja um domínio universal, e

questionou a universalidade das nossas categorias genealógicas básicas, como ‘mãe’, e ‘pai’.

Notou que a cultura euro-americana associa parentesco à reprodução sexuada, sendo que não são

todas as culturas que atribuem o mesmo valor ao coito no processo de gerar uma pessoa. Por

exemplo, a reincarnação dos espíritos ou a riqueza da noiva (bridewealth4) podem desempenhar

um papel mais importante do que o genitor na definição do pai social - o pater (ver Evans-

Pritchard 1951, e Strathern, 1995). A tendência a esvaziar o parentesco de qualquer essência

poderia ser sintetizada pela perspectiva de considerar as terminologias de parentesco como

sistemas compostos por categorias de socialidade, ou seja, mapeiam uma rede de relações

básicas. Nos últimos anos, vários autores vêm insistindo que parentesco não é algo dado a priori,

mas construído dentro de relacionamentos que nutrem (nurture, em inglês) a pessoa, fazendo-a

desabrochar, tais como os grupos regidos pela comensalidade (cf. Gow, 1991, Overing, 1999).

Kroeber (1909), refletindo sobre o método genealógico desenvolvido por

Rivers, no início do século XX, percebeu que nenhuma sociedade possui termos para designar

cada posição genealógica. Diversas posições são sempre agrupados em uma mesma categoria;

basta exemplificar nossa designação do irmão do pai e do irmão da mãe, ambos classificados

como ‘tio’.

4 Trata-se das riquezas (por exemplo, cabeças de gado), dada à família da noiva pela família do noivo. Na literatura mais antiga é denominado ‘preço da noiva’.

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Autores como Radcliffe-Brown (1950), um dos principais exponentes da teoria de

descendência, contrastou a relação de autoridade da figura materna e da paterna com aquela dos

avós, essa última caracterizada por uma relação mais amena com os filhos de seus próprios filhos.

Em muitas sociedades, os primos cruzados5 são classificados como cônjuges, ou cunhados

potenciais, o que torna inteligível uma ambivalência em relação a eles, caracterizada por relações

jocosas institucionalizadas.

Um dos pioneiros dos estudos de parentesco, o norte-americano Morgan (1871), foi

instigado a elaborar um projeto de pesquisa numa escala mundial depois de constatar o fato,

aparentemente exótico, de que os índios que conheceu no estado de Nova Iorque aplicavam o

mesmo termo ao pai e ao irmão do pai, e à mãe e à irmã da mãe. Tal estudo coincidou com o

auge da influência do evolucionismo e levou a hipóteses mirabolantes, pseudo-históricas e psudo-

científicas, como a idéia de que isso era um resquicio de uma promiscuidade preterita, quando as

pessoas não sabiam quem era seu pai e, portanto, designavam os homens da geração ascendente,

de forma geral, como pais.

Malinowski (1922), o pai fundador do método de participação observante,6 é

frequentemente citado expressando seu desprezo pela alegbra das terminologias de parentesco.

Foi outro norte-americano, Murdock, que elaborou uma das primeiras tipologias sistemáticas das

terminologias de parentesco, na década de 1940. No final do século XX, uma reanálise dessa

tipologia, na França (ver Godelier; Trautman; Tjon Sie Fat orgs., 1998), possibilitada por meio

século de novos dados coletados por várias gerações de antropólogos, resultou num acréssimo de

alguns poucos tipos (e subtipos) suplementares. Sob a influência dos escritos de Lévi-Strauss, as

terminologias de parentesco despertaram o interesse de diversos matemáticos, mas a

formalização em que alguns desembocaram acabaram alienando aqueles de indole não

matemática (me incluindo entre esses últimos).

Na virada do milênio, foi anunciado o advento do pós-parentesco (no rastro da era pós-

industrial e pós-moderna). Sinto que posso questionar a legitimidade desse rótulo, na medida em

que fui autora de um capítulo (ver Lea, 1995), num dos livros atribuidos ao gênero pós-

parentesco. Considero tal rótulo retórica de merchandizing editorial. O que realmente sacudiu os

5 Os primos cruzados são os filhos do irmão da mãe, e os filhos da irmã do pai. 6 Inaugurou a transição da antropologia dos estudos de gabinete à imersão numa pesquisa de campo.

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alicerces da natureza e dos fatos de parentesco foram as novas tecnologias reprodutivas, mas são

pouco relevantes ao que está sendo analisado neste artigo.

Héritier, uma dos herdeiros inteletuais de Lévi-Strauss, considera a diferença sexual um

dos fatos irredutíveis de parentesco (1979: 30-31). Conforme o método estruturalista, ela se

interessa não apenas por combinações constatadas empiricamente, mas por aquelas logicamente

possíveis. Ela notou (1979: 32-33) que nunca foi constatada uma sociedade onde o irmão da mãe

fosse colocado na mesma categoria que o pai, com o irmão do pai designada por uma categoria

separada (F=MB≠FB7). Ou seja, é comum colocar o pai e o irmão do pai numa mesma categoria

porque estão no polo do idêntico, sendo do mesmo sexo. O parente de ligação de Ego, ao traçar

sua relação com o MB, é a mãe, ou seja, alguém de sexo oposto da pessoa designada (o tio

materno8). A mesma lógica explica a frequência das terminologias que colocam a mãe e sua irmã

em uma mesma categoria, distinta da categoria para a tia paterna. Ao tentar explicar esse fato

simples, constato que a explanação verbal torna a questão, aparentemente, mais complicada. Pode

ser visualizado com mais facilidade do que explicado com palavras (ver diagramas).

7 É usada a notação padrão, proveniente do inglês. Portanto, F = father (pai); M = mother (mãe), B = brother (irmão); Z = sister (irmã), S = son (filho), e D = daughter (filha). Os demais termos compostos são invertidos devido à apóstrofe em inglês. Portanto, MB = irmão da mãe (tio materno), e FZ = irmã do pai (tia paterna). 8 Em latim, o avunculus se refere ao tio materno. Em português, o substantivo ‘avunculato’ se refere a uma relação institucionalizada e não ao tio materno enquanto tal, e o adjetivo ‘avuncular’ é definido pelo dicionário Aurélio como “relativo ao tio materno”. Portanto, falta um substantivo para designar tal tio especificamente.

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nhênget nhênget

nhênget nã bam nã bam bam

kamy kamy kanikwojkamy Ego

krakra

kra

nhênget

kwatyj` kwatyj`

kwatyj` kwatyj`

tabdjwy

tabdjwy tabdjwy

tabdjwy

nhênget nã kanikwoyj` kanikwoyj`

Termos de parentesco para Ego feminino

nã = mãe, filha do irmão da mãe... bam = pai... kamy = irmão... kanikwoyj = irmã... kra = filho/a, filhos da irmã,filhos da irmã do pai

`

Glosa dos termos

nhênget = irmão da mãe, pai do pai, pai da mãe, filho do irmão da mãe...kwatyj = irmã do pai, mãe do pai e mãe da mãe...tabdjwy = filhos do irmão, netos, filhos da irmã do pai...`

`

A linha pontilhada indica a transmissão de nomes

nhênget nhênget

nhênget nã bam nã bam bam

nhênget nã kamykamy

kra

nã nhênget

kra

Ego

kwatyj` kwatyj`

kwatyj`kwatyj`

tabdjwy

tabdjwy

tabdjwy tabdjwy

`

Glosa dos termos

nhênget = irmão da mãe, pai do pai e pai da mãekwatyj = irmã do pai, mãe do pai e mãe da mãetabdjwy = netos, filhos da irmã, filhos da irmã do pai

`

Termos de parentesco para Ego masculino

kamy kanikwoyj` kanikwoyj` kanikwoyj`

nã = mãe bam = pai kamy = irmão kanikwoyj = irmã kra = filho/a, filhos do irmão

`

A linha pontilhada indica a transmissão de nomes

6

Kroeber (1909) enumerou 8 princípios que podem ser acionados em uma terminologia de

parentesco.9 A distinção sexual integra três princípios, ou seja, referente ao sexo do parente, o

sexo de quem fala, e o sexo do parente de ligação. Ao expor essa questão na ANPOCS, uma

psicoanalista me acusou de estar querendo retroceder à irredutibilidade dos dois sexos, algo que

algumas feministas consideram ultrapassada. De acordo com Piscitelli (1998), a expressão

“identidade de gênero” surgiu inicialmente em 1963,10 e foi no artigo de Rubin (1975) ‘The

traffic in women’, que foi usada pela primeira vez para falar de um sistema de sexo e gênero.

Seja como for, essa distinção entre sexo e gênero permitiu uma mutação cognitiva, ou revolução

epistemológica, ao possibilitar cindir a percepção da diferença sexual da sua elaboração socio-

cultural. Teoricamente, pelo menos, é possível perceber a distinção entre alguém de sexo

masculino e alguém de sexo feminino sem isso acarretar julgamentos valorativos. A percepção

está no polo do biológico, possibilitada pela visão. As representações projetadas a partir dessa

percepção são inteiramente socio-culturais.

Lévi-Strauss (1956: 114-116) enfatisa que a divisão sexual de trabalho é um artifício

inteiramente socio-cultural (sem qualquer fundamento natural - no sentido de biológico) que cria

uma dependência mútua entre os dois sexos ou, na paráfrase de Héritier (1979), um contrato de

sustento mútuo. Héritier (1979) afirma que acabar com a divisão sexual de trabalho ameaçaria a

existência da família nuclear. A subversividade dessa possibilidade é evidenciada pela resistência

a mudanças por parte das igrejas católicos e protestantes (entre outras). Para Lévi-Strauss (1956:

114), é essa divisão sexual de trabalho, encontranda na maioria das sociedades, que torna o

casamento heterossexual fundamental, dando origem à família. E a permuta de cônjuges entre as

famílias cria alianças, gerando sociedades.

Rubin (1975) ganhou renome ao acusar Lévi-Strauss de tratar as mulheres como objetos

que circulam entre os homens. Porém, na teoria da aliança matrimonial desse autor é indiferente

quem circula - as mulheres ou os homens. A leitura que Rubin (1975) e Butler (2003) fazem de

Lévi-Strauss é problemática no que diz respeito à exposição das idéias desse autor. No entanto,

9 A diversidade de sistemas existentes pode ser reduzida a 8 princípios subjacentes: 1) a diferença entre pessoas da minha/outras gerações; 2) a diferença entre parentes lineares/colaterais, por exemplo, o pai versus o irmão do pai; 3) a diferença de idade numa mesma geração; 4) o sexo do parente; 5) o sexo de quem fala, algo não representado na maioria das línguas européias; 6) o sexo do parente de ligação; 7) a distinção entre consangüíneos/afins; 8) a condição de vida do parente de ligação - vivo/morto; consangüíneo/afim; casado/separado. 10 Foi introduzido pelo psicoanalista Robert Stoller, mas seu uso deslanchou após a publicação do artigo de Rubin, apud Piscitelli, 1998: 308, nota 8. O dicionário Oxford cita a primeira referência ao gênero masculino e feminino, em inglês, no século XIV, mas foi apenas no século XX que adquiriu o sentido atual, contrastando com o sexo biológico.

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ao insistirem que heterossexualidade é compulsória na teoria lévi-straussiana, elas apontam,

implicitamente, para o elo entre gênero e parentesco.

Não considero que o parentesco possa ser comparado com o político, o econômico e a

religião, outros pilares clássicos da disciplina antropológica. Nunca fui convencida de que

religião é uma categoria universal, e se Dumont (1985) argumentou pela autonomização

gradativa da esfera política e da econômia, no decorrer da história do Ocidente, o quê fazer com o

parentesco? Lévi-Strauss descartou qualquer noção de natureza humana, enfocando, em vez

disso, a natureza da mente. A linguistica estrutural, e mais especificamente a fonologia

(elaborando sistemas a partir de oposições distintivas – como o surdo e o sonoro), é

provavlemente responsável pelo fascínio de Lévi-Strauss com a extensão do leque da

racionalidade humana que caracteriza o projeto inteletual dele. Numa via paralela, Radcliffe-

Brown (1952), no ensaio entitulado ‘o método comparativo’, argumentou que a associação de

contrários constitui uma das formas mais elementares e universais do pensamento humano. Para

comprová-lo, comparou mitos provenientes da Austrália e da América do Norte, quase idênticos

em seus conteúdos, sendo que a distância que separa os dois continentes torna a questão de

difusão fora de cogitação.

Um exame da terminologia de parentesco Mẽbêngôkre

A terminologia de parentesco Mẽbêngôkre é classificada como sendo do tipo Omaha. Na

tipologia Crow-Omaha, a variante Crow é geralmente associada como matrilinearidade, enquanto

terminologias Omaha são associadas com patrilinearidade, como aquela dos Samo da Alto Volta

da África, estudada por Héritier (1979, 1981). Essa autora argumenta que as terminologias Crow-

Omaha implicam uma valorização diferencial dos dois sexos. Ego masculino classifica os filhos

de seus irmãos como filhos classificatórios, enquanto classifica os filhos de suas irmãs da mesma

maneira que seus netos. Isso demonstraria a minorização do sexo feminino.

O problema com a análise de Héritier e que, na terminologia Mẽbêngôkre, as mulheres

classificam os filhos de suas irmãs como filhos classificatórios, e os filhos de seus irmãos são

classificados pela mesma categoria que os netos (ver diagramas acima). Há, portanto, simetria

perfeita entre a lógica masculina e feminina. É interessante que, no que diz respeito aos filhos dos

germanos dos cônjuges, de ambos os sexos, Ego tende a adotar a perspectiva do cônjuge. Ou seja,

8

um homem refere aos filhos das irmãs da esposa como ‘filhos’, e os filhos dos irmãos da esposa

como tabdjwỳ (glosável como ‘netos’). Uma esposa adota o procedimento equivalente.

Nosso entendimento das terminologias do tipo Crow-Omaha exige uma boa dose de

relativismo cognitivo porque, ao contrário dos nossos sistemas (em português ou inglês), não

recorrem ao princípio geracional. Ou seja, fazem equações oblíquas, do tipo, o irmão da mãe é

classificado na mesma categoria que o avô materno e o paterno (nhênget). É difícil dizer qual

posição genealógica seria primária – aquela do tio materno ou do avô; são eqüidistantes de Ego.

Isto vale igualmente para a tia paterna e avó (kwatỳj). Simetricamente com o termo nhênget, a

irmã do pai é designada do mesmo jeito que a avó materna e a paterna.

Héritier (1979) notou que o próprio Lévi-Strauss (1947) supunha, erroneamente, que Ego

masculino dá conta do recado, no mesmo sentido que o uso gramatical do masculino em

português, onde posso me referir a um grupo composto por pessoas de ambos os sexos como

“eles”, com a forma masculina englobando a feminina. No que diz respeito à terminologia de

parentesco Mẽbêngôkre, há uma distinção importante na classificação feminina e masculina que é

imprescindível para a lógica do sistema. Ego feminino e masculino designam seus primos

cruzados matrilaterias da mesma forma, colocando-os, respectivamente, na categoria de ‘mãe’ e

de ‘irmão da mãe’. No que diz respeito aos primos cruzados patrilaterais, Ego feminino os

classifica como filhos e, concomitantemente, Ego masculino os classifica como ‘filhos da irmã’

(a mesma categoria que ‘netos’).

Parece evidente que a terminologia de parentesco deve preceder, em termos temporais, o

sistema onomástica. Sem saber explicar o fenômeno, pode ser constatada que a terminologia de

parentesco Mẽbêngôkre é congruente com o sistema onomástico. Ego masculino e feminino

chamam a prima cruzada matrilateral de mãe, porque a mãe dos Egos é a nominadora ideal dessa

prima deles. Da perspectiva da mãe dos Egos, ela transmite seus nomes à filha de seu próprio

irmão. Logicamente, então, o primo cruzado matrilateral é uma espécie de ‘irmão da mãe’.

A forma ideal da transmissão de nomes, para Ego masculino e feminino, é simétrica

apenas superficialmente. Um homem sai de sua casa natal ao casar, de acordo com a norma de

uxorilocalidade, e devolve seus nomes à sua casa natal, para os filhos das irmãs. As mulheres, por

sua vez, emprestam seus nomes às filhas dos irmãos. Tais sobrinhas detêm ususfruto vitalício dos

nomes, mas devem devolvê-los, ou delegar sua re-transmissão (procedimentos equivalentes), às

herdeiras uterinas da nominadora (ou seja, as primas cruzadas patrilaterais). Nem pai nem mãe

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podem transmitir seus nomes a seus filhos, apenas às pessoas da categoria tabdjwỳ. Portanto, Ego

feminina e sua nominadora ideal (a FZ), pertencem à mesma categoria em relação à menina que

recupera os nomes pertencentes à sua casa natal (a FZDD de Ego, ver diagrama novamente). Para

a menina em questão, ambas as mulheres são kwatèj.

Minha pesquisa sobre os Mẽbêngôkre foi a primeira a enfatisar a importância da

incorporação da ordem de nascimento na terminologia de parentesco (Lea, 1986). É algo ligada à

autoridade, e não constitutei uma ordem de precedência matrimonial, tal como ocorre em

algumas sociedades. Há claramente uma desvalorização dos caçulas de ambos os sexos.

Representam uma espécie de fim de linha de produção, quando seus pais já esgotaram seu

estoque de nomes e de prerrogativas transmissíveis, além da energia necessária para angariar

forças para produzir uma grande cerimônia de nominação.

Um caminho que falta explorar na análise da terminologia de parentesco Mẽbêngôkre

seria a comparação das distinções que se mantêm estáveis (e quais são mutáveis) ao cotejar as

diversas formas terminológicas. Há contrastes nas distinções realizadas, respectivamente, nos

termos de referência e vocativos básicos, na terminologia empregada no choro, nos cântigos dos

chefes, e na terminologia triádica (ver Lea, 2004). Ainda não pude aprofundar essa questão.

Conclusão

Alguns antropólogos já discutiram a questão do emprego de metáforas e o que constitui

uma metáfora (Turner, 1985, J.C. Crocker, 1977, entre outros). DaMatta (1976) alegou que os

Apinayé chamam o tio materno e os avós de ‘cabeça velha’ (krã tum), a mesma expressão usada

pelos Mẽbêngôkre. No entanto, krã designa diversas formas redondas e não apenas a cabeça

humana. É usada para descrever o túmulo, a flor da bananeira, e a glande do pênis. Portanto, não

é necessariamente mais elucidativo comparar o tio materno e os avós à cabeça do que explicar

algo pelo fato dos ingleses medir distância e peso em termos de pés e pedras (feet and stone). A

palavra para mão e para filho são homônimos, distinguidos pelo prefixo possessivo empregado.

Tais usos, por sua vez, evocam o sib anglo-saxão (descrito por Radcliffe-Brown, 1950), uma

forma de organização social na qual o grau de distância dos primos era medida em termos das

juntas do corpo. Enfim, as metáforas apontam para outro caminho que poderia ser explorado, mas

esse tema não pode ser elaborado nessa ocasião.

10

Dumont (1971), inspirado pela lingüística, resumiu o que é parentesco pela oposição entre

consanguinidade e afinidade, o conteúdo de cada categoria variando de uma sociedade a outra.

Precisa ser enfatisado que qualquer referência a ‘sangue’ ou ‘genes’ é apenas uma metáfora que

exprime uma sensação intuitiva de metonímia. E poderia ser argumentado que, em vez de

biologia, parentesco consangüíneo evoca uma relação metonímica, ou sintagmática.11

Lévi-Strauss (1947) estava à procura de mecanismos de aliança matrimonial que geram

integração social. Estava pouco interessado pela questão da sexualidade, algo que poderia ser

resolvida das mais diversas formas na opinião dele. É significativo que, na língua mẽbêngôkre, a

mesma palavra é usada para designar cônjuges e amantes. Para explicar isso, já recorri à

expressão ‘shadow minister’, em inglês. Trata-se do ministro da oposição que assumiria o cargo

de primeiro ministro caso esse fosse destituído. A importância do parâmentro de distância já se

tornou um tema clássico na etnologia das terras baixas, distinguindo, por exemplo, os sistemas

dravidianos da India do dravidianato amazônico. Por analogia, os amantes12 parecem ser

concebidos como uma espécie de cônjuge de intensidade atenuada para os Mẽbêngôkre (com

quem não se mora debaixo do mesmo teto), sendo a fonte de novos cônjuges em casos de

separação ou falecimento.

Algumas tentativas foram feitas para demonstrar que há sociedades onde inexistem

determinadas figuras clássicas do panteão de parentesco (Cai, 1997, e Geffray, 2000).13 No que

diz respeito aos Mẽbêngôkre, é significativo que posso perguntar para alguém “quem é teu pai?”,

e obter uma resposta inteligível, embora haja a possibilidade de alguém ter dois pais, um

principal e outro que ajudou, um fenômeno amplamente difundido nas terras baixas (ver

Beckerman, e Valentine orgs., 2002). Os Mẽbêngôkre negam veementemente que uma mulher

pode engravidar através de uma única relação sexual. Perguntei para uma mulher se era verdade

que Fulano fez o filho dela. Me respondeu que não, foi “amante só um pouquinho”, em outras

palavras, não tinha intercurso suficiente com ele para poder engravidar. Isto significa que, ao

conversar com um Mẽbêngôkre sobre a figura do pai, nossas perspectivas se sobrepõem até um

determinado grau (como num diagrama Venn), mas não coincidem inteiramente. As novas

11 Leach (1976) associa uma corrente sintagmática e metonimia. 12 O amante é krôaj mied (masculino) ou krôaj prõ (feminina), ou ainda mied/prõ kaàk. Os termos krôaj e kaàk são sinônimos que geralmente são traduzidos como ‘pseudo’. Já que isso tem a conotação de ‘falso’ (algo que soa pejorativo), o adjetivo ‘atenuado’ é uma glosa mais apropriada. 13 Ao questionar a universalidade da noção de genealogias, foi introduzido o termo pedigree, que seria o equivalente ‘nativo’ da genealogia construida pelo antropólogo. Do meu ponto de vista, a palavra pedigree evoca cães e cavalos. Portanto, não considero tal distinção particularmente útil.

11

tecnologias estão conduzindo a uma biologização exacerbada de parentesco na nossa sociedade,

com homens renegado filhos após um exame de DNA, enquanto os Mẽbêngôkre eliminam uma

porcentagem de homens que nos reconheceremos como genitores devido a outra teoria de

concepção humana.

Ao construir diagramas, os antropólogos usam um círculo para representar as mulheres,

um triângulo para os homens, e foi introduzido o quadrado para representar alguém cujo sexo é

irrelevante ou desconhecido (um feto abortado por exemplo). A língua inglesa tem o neutro (it,

além do masculino e do feminino), algo inconcebível em português, ou francês. Há muito tempo

me pergunto se é uma questão puramente lingüística, ou se acarreta implicações socio-culturais

no que diz respeito às representações sobre gênero. Delego a resposta aos lingüistas.

No programa de Pós-Graduação em Antropologia da UNICAMP, Dorotea Grijalva, a

primeira mestre indígena, da etnia quiché guatemalteca, ficou indignada ao ser informada por

mim que os Mẽbêngôkre nem cogitavam ter uma professora. Nos cursos dos quais participei,

para a formação de professores bilingues, inicialmente havia mulheres para cozinhar e lavar louça

durante os cursos. Posteriormente os cursos foram realizados fora das aldeias devido ao sono dos

alunos que aproveitavam a viagem a outras aldeais para namorar. A escola lida com o mundo dos

brancos, um assunto de homens. Conforme dizem os Mẽbêngôkre, antes brigavam com bordunas,

mas hoje aprenderam a brigar com a boca (argumentando). Trocando em miudos, nós caraiba

pudemos chegar à noção do cidadão, munido de direitos, independentemente de seu sexo, mas

não se trata de uma perspectiva compartilhada universalmente. Isso demonstra que as questões

abordadas neste paper não são apenas abstrações inteletuais. São relevantes aos projetos de

desenvolvimento e à discussão sobre a universalidade dos direitos humanos. É politicamente

correto insistir na universalização da educação feminina, mas isso implica conceder espaço

mental para o quadrado, o neutro. É algo que precisa vir de baixo e não pode ser imposto de

cima.

Enfim, é convincente que parentesco não se reduz a alguma essência do tipo ‘blood is

thicker than water’ (o sangue é mais grosso do que água), e nem é uma mera grade que mapeia

categorias de socialidade. A alternativa colocada aqui é que seja algo construído para tentar fazer

sentido do dimorfismo sexual. Ao desembocar na irrelevância disso, após milênios de história,

12

marcados por inúmeras tentativas de interpretação, a desconstrução do parentesco finalmente

chegou ao nosso alcance, graças em grande medida às feministas e ao movimento gay.14

abstract Linguists generally delegate the analysis of kinship terminologies to anthropologists. Before focusing on the Mẽbêngôkre kinship terminology, this article looks at what anthropologists understand by kinship and the main disagreements that have emerged over the course of a century of reflection on this theme. The last two decades have witnessed an approximation between kinship and gender. The possibility is suggested of the mapping out of kinship categories having arisen in the attempt to interpret and attribute meaning to human sexual dimorphism (permeated by age differences). This discussion is followed by the presentation of some aspects of the Mẽbêngôkre kinship terminology, such as the implications of being classified as Omaha. It is shown how the terminology is interwoven with the onomastic system, besides the importance of birth order. Metaphors lead us into slippery terrain and the universality of categories such as ‘father’ prove to be problematic. The paper ends showing that Mẽbêngôkre lovers are conceived as attenuated forms of husband or wife, rather than as a category differentiated from the spouse, as is the case in Portuguese. keywords terminology; kinship; gender; onomastics; Mẽbêngôkre; Kayapó; anthropology

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14 Sugeri para meus alunos, num curso de parentesco, que num mundo de recursos sobrecarregados, poderia, futuramente, se tornar politicamente e ecologicamente correto ser gay e adotar crianças (em vez de recorrer às novas tecnologias reprodutivas), para diminuir a pressão humana sobre o globo. Os índios, por sua vez, poderiam ser beneficiados por políticas demográficas compensatórias em relação ao genocídio que sofreram, assegurnado mais terra para sua expansão.

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