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VÂNORA MARLA BUIM DE ANDRADE
INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
LEITURA ATRATIVA: IMAGINAÇÃO E REENCANTAMENTO ATRAVÉS
DO MÉTODO RECEPTIVO
COLÉGIO ESTADUAL LUZIA GARCIA VILLAR E.F.M. - CIDADE DE
BARBOSA FERRAZ - NRE DE CAMPO MOURÃO- PR
Campo Mourão
2012
INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA
LEITURA ATRATIVA: IMAGINAÇÃO E REENCANTAMENTO ATRAVÉS
DO MÉTODO RECEPTIVO
Vânora Marla Buim de Andrade1
Wilma dos Santos Coqueiro2
RESUMO
Este trabalho visa mostrar a importância de se ensinar a leitura através dos contos de fadas clássicos e contemporâneos, despertando no educando o gosto por esse gênero, trabalhando assim no imaginário da criança, sua importância literária, bem como a formação de sua personalidade, a interação e a compreensão de mundo. Dessa forma, poderá haver um aprimoramento da leitura e da escrita. O desenvolvimento das atividades de intervenção em sala de aula teve como base a pesquisa bibliográfica, pautada em autores como Hans Robert Jauss (1994) e Bruno Bettelheim (1976), (2010), complementando com algumas autoras brasileiras como Regina Zilbermann (1988, 2009) e Marisa Lajolo (1988, 2010), e também em documentos oficiais organizados pela SEED (2008), que orientam o trabalho em sala de aula. O presente artigo mostrará formas diferenciadas de trabalho com os contos de fadas, evidenciando possíveis contribuições do método recepcional, cujo ponto fundamental é valorizar e contextualizar o leitor em suas experiências de vida e leituras.
Palavras-chave: Leitura; Método Recepcional; Contos de Fadas; Reencantamento.
1 Autora: Professora de Língua Portuguesa no ensino Fundamental e Médio da Secretaria de
Estado da Educação/PR no Colégio Estadual Luzia Garcia Villar - EFM – Barbosa Ferraz/PR. Especialista em Língua Portuguesa: Descrição e Ensino (FAFIJAN).
2 Orientadora: Mestre em Estudos Literários (UEL) e Doutoranda em Estudos Literários (UEM).
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ABSTRACT
PEDAGOGICAL INTERVENCION
This work aims to show the importance of teaching reading through the fairytale
classic and contemporary, arousing in the pupil a taste for this genre, working well in
the imagination of children, their literary importance as well as the formation of his
personality, the interaction and understanding the world. Thus, there may be an
improvement of reading and writing. The development of intervention activities in the
classroom was based on the literature, based on authors such as Hans Robert Jauss
(1994) and Bruno Bettelheim (1976), (2010), complemented with some Brazilian
authors as Regina Zilbermann (1988, 2009 ) and Marisa Lajolo (1988, 2010), and
also in official documents organized by SEED (2008), which guide the work in the
classroom. This article will show you different ways of working with fairy tales,
highlighting the possible contributions of the method recepcional, whose key point is
to highlight and contextualize the reader in your life experiences and readings.
Keywords: Reading, Method Recepcional; Fairy Tales; Reenchantment.
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1. INTRODUÇÃO
A questão da leitura não é assunto para ser discutido exclusivamente em
meios acadêmicos. O brasileiro, em geral, não lê. A leitura não é algo presente em
seu cotidiano. Para Silva (2005), os estudantes, por sua vez, só lêem como atividade
escolar obrigatória e poucos o fazem por prazer. O problema atinge toda a
sociedade e deve ser discutido por quem pode ajudar a resolvê-lo: os professores.
A leitura é vista como um ato dialógico e interlocutivo, ou seja, o leitor
participa como coprodutor do processo com sua experiência e vivência sócio-
cultural. No contexto de construção de um leitor crítico e reflexivo, deve-se
proporcionar um contato com diferentes textos, produzidos em diferentes esferas
sociais, considerando as linguagens não verbais produzidas pelas multimídias e que
povoam as vivências de nossos pequenos leitores.
Numa abordagem clara e concisa, há a necessidade de transformá-los em
sujeitos críticos, capazes de manter uma visão flexível da realidade que os cercam,
valorizando seus conhecimentos para construir um novo caminho na compreensão
da leitura.
Lajolo (2010) salienta que a ciência e a arte estreitam relações querendo
provar que a leitura está situada na confluência do sério e do lúdico. Segundo a
autora, o aluno deve ter o direito de escolher o que ler e desistir do livro se não lhe
agradar. Na prática, os professores não obtêm sucesso no desenvolvimento do
hábito de ler nos alunos, porque estes são constrangidos a ler. Neste sentido,
defende-se hoje a tese do convencimento, da argumentação e uma linguagem
eficiente. É preciso pensar que as linguagens e os candidatos à verdade estão num
processo de mudança constante. Assim, o ato antidemocrático de impor um
receituário de obras e autores, além de desestimular o aluno na prática de uma
leitura interativa e propositiva, faz com que o Professor da disciplina venha a sentir
um fracasso intrínseco.
Bordini e Aguiar (1998) têm a convicção de que a crise na leitura não se deve
à falta de motivação dos alunos, mas ao desconhecimento, por parte do professor,
acerca da oferta dos textos literários, bem como o despreparo dos educadores como
leitores e ao uso de técnicas autoritárias que afastam as crianças dos livros.
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De qualquer modo, todos os seguimentos sociais, a
despeito de suas divergências internas, podem ser
mobilizados para a leitura quando encontram nas obras
o momento catártico, que identifica o leitor com o
conteúdo expresso. (BORDINI E AGUIAR, 1988, p.13)
Para as autoras, texto e leitor estão mergulhados em horizontes históricos
diferentes, e num dado momento precisam se fundir para que a comunicação ocorra.
Dessa forma, Jauss (2009), ao reabilitar os estudos de história da literatura,
recupera-a como base do conhecimento do texto, transformando-a no fundamento
para a formulação de uma teoria equidistante do estruturalismo e do marxismo.
A atitude de prazer, que a arte provoca e possibilita, é a
experiência estética primordial. Ela não pode ser
suprimida, pelo contrário, deve voltar a ser objeto da
reflexão teórica, quando se trata hoje de defender a
função social da arte e da ciência que a serve contra os
que letrados ou iletrados suspeitam delas. (JAUSS,
2009, p.49)
Sobre este aspecto, Zilberman (2009), lembra-nos que a fusão de horizontes
de expectativas se dá obrigatoriamente, uma vez que as expectativas do autor se
traduzem no texto e as do leitor são a ele transferidas. Dentro dessa lógica, o
processo de recepção se inicia antes do contato do leitor com o texto. Faz-se então
necessário o método recepcional de Bordini e Aguiar (1988) no que diz respeito ao
ensino da leitura em sala de aula.
Deste modo, ouvir e ler histórias, de certa forma, é encantador, interessante,
curioso. Portanto, a ideia de que, aprendendo a ler, a criança, mais tarde, poderá
enriquecer a sua vida é vivenciada como uma promessa vazia quando as histórias,
que elas escutam ou estão lendo, são inexpressíveis.
Essa é exatamente a mensagem que os contos de fadas
transmitem à criança de forma variada: que uma luta
contra dificuldades graves na vida é inevitável é a parte
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intrínseca da existência humana que, se a pessoa não
se intimida e se defronta resolutamente com as
provações inesperadas e muitas vezes injustas,
dominará todos os obstáculos e ao fim emergirá
vitoriosa. (BETTELHEIM, 2010, p.15)
Assim sendo, o presente trabalho visa discorrer acerca da experiência de
ensino com a leitura dos contos de fadas na sua contemporaneidade, em uma turma
do 6º ano de uma Escola pública. O trabalho teve como foco fazer com que as
crianças pudessem vivenciar seus próprios conflitos existenciais, por meio da leitura
de contos, das narrativas simbólicas, num processo de amadurecimento e interação
com o mundo. Deste modo, procuramos mostrar como pode ser positivo este
trabalho para o desenvolvimento integral da criança, sobretudo de seus valores, e
como a escola pode utilizar-se deste gênero para ampliar seu trabalho de leitura,
apoiando-se no método recepcional.
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2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA PRÁXIS EDUCATIVA
As Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa tem um novo posicionamento
em relação à prática de ensino da leitura; tanto na discussão crítica dessa prática
como no envolvimento do professor na construção da mesma.
[...] a prática de leitura é um princípio de cidadania, ou
seja, o leitor cidadão, pelas diferentes práticas de leitura,
pode ficar sabendo quais são suas obrigações e também
pode defender os seus direitos, além de ficar aberto às
conquistas de outros direitos necessários para uma
sociedade justa, democrática e feliz. (SILVA, 2005, p. 24)
As DCEs (2008) resultaram numa proposta reflexiva e produtiva,
considerando as práticas linguísticas que o aluno traz; incluindo seus saberes e o
uso da norma padrão. Cabe a Escola possibilitar diferentes práticas sociais,
utilizando a leitura, a oralidade e a escrita; inserindo de forma ativa as vozes de seus
alunos no contexto em que tiverem inseridos.
No que diz respeito ao ensino-aprendizagem, quanto maior contato com a
linguagem, nas diferentes esferas sociais, mais possibilidades se tem de entender o
texto. Devemos lembrar que a criança quando chega à Escola já domina a oralidade.
O aperfeiçoamento da escrita se faz a partir da produção de diferentes gêneros.
Quando escreve, ele diz de si e de sua leitura de mundo. A leitura é individual,
através dela o aluno demonstra suas experiências e seus conhecimentos prévios.
Confronta-se com o saber, com sua experiência de vida.
Segundo Bordini e Aguiar (1988), a partir do século XVIII, a leitura se revela
um fenômeno para a sociedade que se valeu dela para sua expansão. Desde então,
a sociedade europeia e ocidental vive sob o emblema da revolução duradoura que
se manifesta nos níveis econômico (Revolução Industrial), político (Revolução
Democrática) e num sistema apoiado na igualdade de todos os seus membros. Para
tanto, a Escola converte-se em intermediária entre a criança e a cultura, passando a
funcionar como a porta de entrada do jovem ao universo do conhecimento.
Para Zilberman (2009), o ato de ler é a conquista mais importante da ação da
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Escola e este se confunde com a aquisição de um hábito que tem como
consequência o acesso a um patamar do qual não mais se consegue regredir. A
leitura deve ser prazerosa, cativante, a criança precisa e deve se encantar. Durante
muitos anos, os contos de fadas já eram esquecidos, desprezados e banidos sob a
alegação de irreais, em vista de suas tramas na maioria dramáticas. Depois que a
psicanálise desmitificou a “inocência” e a “simplicidade” do mundo da criança, os
contos de fadas voltaram a ser lidos (e discutidos), justamente por descreverem um
mundo pleno de experiências, de amor, mas também de destruição e ambivalências.
Segundo as autoras Bordini e Aguiar (1988, p. 87), o processo de recepção se inicia
antes do contato do leitor com o texto. O leitor possui um horizonte que o limita, mas
que pode transformar-se continuamente, abrindo-se. Esse horizonte é o mundo de
sua vida, com tudo que o povoa: vivências pessoais, culturais, sócio-históricas,
filosóficas, religiosas, estéticas, jurídicas, ideológicas, que orientam ou explicam tais
vivências. Munidos dessas referências, o sujeito busca inserir o texto que se lhe
apresenta no esquadro de seu horizonte de valores. Por sua vez, o texto pode
confirmar ou perturbar esse horizonte.
É por isso que o papel do texto, no processo receptivo, é fundamental. Sua
construção precisa incluir espaços em que a criatividade do leitor possa atuar e seja
estimulada a fazê-lo. No caso, a criança. O diálogo com a obra depende da
identificação ou do distanciamento do leitor com a mesma. O reconhecimento dos
procedimentos textuais que atraem o leitor se dá por uma tomada de consciência
entre a própria visão de mundo e a da obra. O que requer uma formação do leitor.
Ele precisa conhecer o gênero. Começa, então, a capacidade de análise,
complementa-se com a comparação que abrange suposições extraliterárias,
conduzindo à compreensão e valorização.
O processo de recepção se completa quando o leitor compara e inclui a obra
ou não como componente de seu horizonte de expectativas, mantendo-a como ela
era ou preparando-a para novas leituras ou novas experiências de rupturas. Quanto
mais a criança lê, maior a possibilidade de modificar seus horizontes. Este método
insiste em qualificar leitores, interando-os ativamente com outros textos e com a
sociedade.
Neste momento, vale ressaltar do livro A Psicanálise dos Contos de fadas, no
qual o autor Bruno Bettelheim faz uma radiografia das mais famosas histórias
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infantis, arrancando-lhes seu significado. O autor nos mostra as razões, as
motivações psicológicas, os significados emocionais, a função de divertimento, a
linguagem simbólica do inconsciente que estão subjacentes nos contos infantis, as
quais ficam perceptíveis através da leitura dos mesmos.
A psicanálise permitiu a Bruno Bettelheim o acesso ao significado mais
profundo das histórias. E para que uma história prenda a atenção da criança deve
entretê-la e despertar sua curiosidade; para enriquecer sua vida, deve estimular sua
imaginação, desenvolver seu intelecto e tornar claras suas emoções; harmonizar
ansiedades e aspirações; reconhecer as dificuldades e sugerir soluções para
possíveis problemas que a perturbem.
Por meio dos contos de fadas, pode-se aprender mais sobre os problemas
mais íntimos dos seres humanos e sobre as soluções corretas para suas
dificuldades. Aplicando o modelo psicanalítico da personalidade humana, os contos
de fadas transmitem mensagens importantes à mente e, por conseguinte, ajudam a
dominar os problemas psicológicos do crescimento, superando decepções
narcisistas, dilemas edipianos, rivalidades fraternas, tornando-se capaz de
abandonar dependências infantis; adquirindo um sentimento de individualidade, de
autoestima e um sentido de obrigação moral. A criança precisa entender o que está
se passando dentro de seu eu consciente para que possa também enfrentar o que
se passa em seu inconsciente.
A mensagem que os contos de fadas transmitem à criança possui uma forma
variada: que uma luta contra dificuldades graves na vida é inevitável; é parte
intrínseca da existência humana – mas que se a pessoa não se intimida e se
defronta com as provações inesperadas e, por muitas vezes, injustas, dominará
todos os obstáculos e ao fim emergirá vitoriosa.
Enquanto diverte, o conto de fadas a esclarece sobre si próprio e favorece o
desenvolvimento de sua personalidade. Os contos de fadas, como todas as
verdadeiras obras de arte, possuem uma riqueza e profundidade multifárias que
transcendem de longe aquilo que mesmo o mais cuidadoso dos exames pode extrair
deles.
Tanto os mitos como as histórias de fadas respondem a
questões eternas: Como é realmente o mundo? Como
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viver minha vida nele? Como posso de fato ser eu
mesmo? (BETTELHEIM, 2010, p. 67)
Os contos de fadas deixam para a própria fantasia da criança a decisão de se
aplicar e como aplicar a si própria o que a história revela sobre a vida e a natureza
humanas.
O Mundo só está vivo para a pessoa que desperta para
ele. Só o relacionamento com os outros nos desperta do
perigo de deixar nossa vida adormecida. (BETTELHEIM,
1976, p.134)
A leitura compreende também a importância dos valores que são universais e
regem o comportamento dos seres humanos. Nesse sentido, fica claro que os
mesmos são essenciais para nossa vivência, convivência e evolução. Os contos
são úteis na transmissão dos valores não somente pelos elementos conteudísticos,
mas também por problematizar situações que podem oferecer maior sentido às
ações humanas. Outro aspecto relevante que destacamos é que os contos aliviam
as pressões exercidas por problemas do dia a dia; favorecem a recuperação,
incutindo coragem na criança, mostrando que é sempre possível encontrar saídas;
os contos ensinam e muito; o “final feliz”, que tantos consideram “irreal” e “falso” é a
grande contribuição que os contos fornecem à criança, encorajando-a a lutar por
valores amadurecidos e uma crença positiva na vida.
A criança percebe que existe momento para tudo:
brincar, se divertir e também para prestar atenção. Isto
contribuirá para o aumento de uma atitude crítica em
relação ao seu comportamento e aos demais, ou seja,
levará a uma disciplina consciente e assumida pela
própria criança. (DOHME, 2010, p.20)
Para a autora, os valores podem e devem ser trabalhados com as crianças
através dos contos. Complementado o trabalho, os contos clássicos de Charles
Perrault, que viveu no século XVII, foram imortalizados, pois sua literatura caiu no
gosto infantil, tornou-se popular e tinha a aprovação dos adultos; utilizou o confronto
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dualista entre bons e maus, belos e feios, fracos e fortes, como exercício de crítica à
corte. Não raramente os personagens que representam as classes discriminadas se
tornam superiores à nobreza pela inteligência.
Suas histórias tinham uma redação de cunho simples. Eram adaptações que
traziam, ao final, conceitos morais em forma de verso. Perrault demonstra em sua
obra, desde o início, na chamada literatura infantil; um teor pedagógico associado ao
lúdico.
Ao pensarmos em contos de fadas, lembramos com carinho das narrativas
mágicas que ouvíamos quando éramos crianças e que, por conseguinte, tornaram
nossa infância mais feliz. Esses contos continuam sendo editados, lidos e relidos por
crianças do mundo todo e de diversas gerações.
Sobre os contos da escritora contemporânea Marina Colasanti, ela mesma
afirma que eles vêm de muito longe e de muito perto. Muito longe porque tratam dos
sentimentos antigos dos seres humanos: o amor, o medo, o ódio, a inveja, o desejo,
o sonho que o ser humano tem de abrir as asas da alma e voar. Muito perto porque
o sentimento que permite alcançar essas lonjuras é despertado por uma atitude, um
gesto, uma imagem.
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3. DA TEORIA À PRÁTICA: A PSICANÁLISE DOS CONTOS DE FADAS
CLÁSSICOS E CONTEMPORÂNEOS NA SALA DE AULA
O trabalho desenvolvido priorizou a compreensão do descompasso entre as
exigências formais para a prática da leitura e a realidade reveladora de que os
estudantes estão distantes de uma prática, no mínimo, razoável de leitura. É assim,
que buscamos recolher em referenciais bibliográficos, metodologia apropriada e em
investigações junto aos alunos situações concretas para reverter este processo.
Nesse sentido, o presente material se propôs em outras questões, buscar
alternativas para tornar a leitura mais atraente e mais eficiente, mas também fazer
uso de materiais que trouxessem inovação ao processo de ensino-aprendizagem. As
primeiras ideias acerca deste trabalho eram amplas e confusas, alargadas, mas
através das orientações, fomos traçando alguns objetivos mais claros que auxiliaram
a um estudo mais direto da proposta que estava sendo trabalhada.
Após análise das opções, decidiu-se realizar o trabalho com os alunos dos 6º
anos das séries iniciais, para que nestas, pudesse ser verificado as diferentes
posições, opções e possibilidades de trabalho; bem como ações didáticas que
auxiliassem a construção de um senso de leitura mais apurada e prazerosa,
fundamentada na reflexão profunda e ampla da realidade na qual eles, enquanto
educandos e cidadãos, encontram-se inseridos.
Para contribuir com a elaboração teórica deste estudo, algumas referências
bibliográficas foram importantes, pois auxiliaram na elucidação dos objetivos a
serem traçados, e ainda, trouxeram luzes à compreensão da realidade e do
fenômeno educacional.
A investigação realizada junto aos alunos dos 6ºs anos, os quais, de certa
forma, apresentavam problemas emocionais, pois alguns advinham das últimas
turmas das “4ªs séries”, era preciso deixá-los em contato com os contos clássicos e
contemporâneos em sala de aula, elencando interpretações subjetivas. Foi-se
construindo um conhecimento diferenciado, embasado na leitura, interpretação,
produção, reescrita, encenação, apresentação dos contos clássicos e
contemporâneos, o que refletia diretamente na leitura e na escrita. Ao ouvir os
contos, como todas as verdadeiras obras de arte, as crianças apreciavam seu
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verdadeiro significado e experimentavam seu impacto por intermédio da história
original. Para Jauss, uma obra de arte:
...só logra seguir produzindo seu efeito na medida em
que sua recepção se estenda pelas gerações futuras, ou
seja, por elas retomada – na medida, pois, em que haja
leitores que novamente se apropriem da obra passada,
ou autores que desejem imitá-la, sobrepujá-la ou refutá-
la. (1994, p.26)
Jauss compreende como um processo de recepção e produção estética que
se realiza na atualização dos textos literários por parte do leitor que os recebe do
escritor, que se faz novamente produtor e do crítico que sobre eles reflete.
Quando as histórias foram contadas, foram sendo feitas adaptações aos
contos, pois os originais eram longos, o que foi logo percebido e questionado pelas
crianças. Então, foram necessárias algumas adequações. Fomos atrelando aos
contos inúmeros recursos didáticos pedagógicos para evidenciar a presença do
lúdico. Além dos textos, para tornar as atividades mais interessantes, motivadoras e
até emocionantes, realizamos algumas adaptações para teatro, fizemos
encenações, assistimos a filmes e desenhos, ouvimos canções, utilizamos de massa
de modelar, colorimos desenhos, sem jamais desconsiderar a contextualização da
totalidade do trabalho.
As atividades foram envolventes, os avanços muito significativos, habilidades
de leitura foram adquiridas, valores foram incorporados no cotidiano, houve melhora
na escrita e o mais importante: os contos incutiam coragem nas crianças, mostrando
que é possível encontrar saídas; o final feliz que os adultos consideravam “irreal” e
“falso” foi a nossa grande contribuição, encorajando-as a uma crença positiva na
vida.
A história de fadas começa no momento da vida em que
a criança está, e no qual, sem a sua ajuda, se manteria
fixada: sentindo-se negligenciada, rejeitada, degradada.
(BETTELHEIM, 2010, p.84)
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Ler, ouvir e dramatizar histórias sobre contos de fadas foi uma ferramenta que
contribuiu para a formação do conhecimento, para o aprimoramento da leitura, dos
valores educacionais e familiares de forma dinâmica. Inserindo a criança no mundo
mágico de sonho e da fantasia, percebendo que por meio dos contos, sejam eles
clássicos ou contemporâneos, podem ocorrer mundos mágicos e pode haver
interação com outros leitores. Afinal, o papel da Escola é decisivo na formação do
leitor, é preciso que o hábito de ler não seja só rotina, mas uma atividade
consciente, um desafio que o texto oferece como alternativa existencial.
Lê-se para entender o mundo, para viver melhor. Em
nossa cultura, quanto mais abrangente a concepção de
mundo e de vida, mais intensamente se lê, numa espiral
quase sem fim, que pode e deve começar na escola,
mas não pode encerrar-se nele. (LAJOLO, 2010, p.7)
Para que a leitura realmente prenda a atenção da criança, desperte sua
curiosidade e enriqueça sua vida; deve estimular sua imaginação, ajudando a
desenvolver seu intelecto, tornando claras suas emoções, estando em harmonia
com seus desejos e aspirações; reconhecendo suas dificuldades e buscando
soluções para os problemas que a perturbam. A criança deve ter confiança em si e
em seu futuro.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Depois desse trabalho de leitura com contos clássicos e contemporâneos, o
horizonte de expectativa das crianças pode, sem dúvida, ampliar-se. Assumimos
uma visão diferenciada em tempos pós-modernos, nos quais a criança, muitas
vezes, perde o direito à infância e lê “literatura para adultos”. Faz-se necessário o
resgate da leitura por meio dos contos e, na sua contemporaneidade, surge o fato de
que as crianças puderam vivenciar seus conflitos existenciais, num processo
constante de amadurecimento e interação com o mundo.
Dessa forma, os contos clássicos e contemporâneos apresentam uma relação
inseparável entre realidade e fantasia, mostrando à criança modos de atuar no
mundo; o que será relevante para o seu trabalho na construção da diversidade e
complexidade textual.
Esse é o desafio, pois no decorrer do trabalho convém ressaltar as leituras
compreensivas e críticas, a recepção a novos textos, os questionamentos, as
leituras realizadas em relação a seu horizonte cultural e a transformação dos
próprios horizontes de expectativas. Sejam eles da criança, do professor, da escola,
da família ou da comunidade.
Compreende, também, solucionar problemas de adaptação à sua realidade; o
manuseio, a identificação de contos lidos e conhecidos que suscitem o prazer e o
envolvimento emocional das crianças. Desta maneira, a leitura dos contos apresenta
uma existência real, permeia a razão e o coração. As palavras têm duplo sentido:
são breves e conquistam o espírito.
As histórias foram transmitidas de geração em geração, são fontes de
sabedoria. Nos textos, percebemos que os protagonistas são crianças ou
adolescentes; que têm problemas ligados à infância ou à juventude. Nos contos
como na vida real, passamos por provações. Neles existem pessoas simples, com
os mesmos anseios que qualquer criança ou jovem moderno. Transmitem ideais a
que muitos de nós aspiramos. Os textos em si são parecidos com sonhos, e os
sonhos refletem a vida e a personalidade de quem os sonha; por isso tratam
questões da alma.
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Como educadores, acreditamos que os contos de fadas, clássicos ou
contemporâneos, possibilitarão aos alunos, de maneira geral, magia, suspense,
drama e emoção. Nesse sentido, não há duvida de que tais inserções poderão
mexer com a inocência da criança e devolver o encanto a um mundo que as
esqueceu. Para Bettelheim, “essa é uma das múltiplas verdades reveladas pelos
contos de fadas que podem orientar nossas vidas; é uma verdade tão válida hoje em
dia quanto quando era uma vez”. (2010,p.414)
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, Vera Teixeira de; BORDINI, Maria da Glória. Literatura: a formação do leitor, alternativas metodológicas. 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988. BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Tradução de Arlene Caetano. 21. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2010. BETTELHEIM, Bruno. Na Terra das Fadas: Análise das Personagens Femininas. 2. ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1976. CHINEN, Allan B. - E foram felizes para sempre - Contos de fadas para adultos. São Paulo: Cultrix, 1989. DOHME, Vânia. Técnicas de Contar Histórias. Rio de Janeiro: Vozes, 2010. FREIRE, Paulo. Alfabetização, Leitura do Mundo, Leitura da Palavra. São Paulo: Paz e Terra, 1994. JAUSS, Hans Robert. A Historia da Literatura como Provocação à Teoria Literária. Ática - serie Temas, volume 36, São Paulo, 1994. LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 6. ed. São Paulo: Ática, 2010. LAJOLO, Marisa. Leitura em crise na escola. 8. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988. MENIN, Ana Maria da C.S.; GIROTO, Cyntia Graziella G.S.; ARENA, Dagoberto Buim.; SOUZA, Renata Junqueira. Ler e compreender: Estratégias de Leitura. Campinas: Mercado das Letras, 2010. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Departamento de Educação Básica. Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Português. Curitiba, 2008. SILVA, Ezequiel Theodoro. A produção da leitura na escola - pesquisas x propostas. 2. ed. São Paulo: Ática, 2005. Smith, Frank. Leitura significativa. Tradução Beatriz Affonso Neves. – 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 1999. SOLÉ, Isabel. Estratégia de Leitura. Porto Alegre: Artmed 1998. ZILBERMAN, Regina. Estética da recepção e história da Literatura. São Paulo: Ática, 2009.