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de 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
ANÁLISE DOS EPISÓDIOS PLUVIOMÉTRICOS INTENSOS NO MUNICÍPIO DE BARBALHA-CEARÁ
DENISE DA SILVA BRITO 1
JULIANA MARIA OLIVEIRA SILVA2 CLAUDIA MARIA MAGALHÃES GRANGEIRO ³
RESUMO Este trabalho tem como suporte teórico-metodológico, Monteiro (2003); Gonçalves (2003); e Zanella (2006). Consiste em identificar a ocorrência de totais pluviométricos diários iguais ou superiores a 100 mm, no município de Barbalha - Ceará. De acordo com os resultados, constatou-se um significativo número de eventos pluviométricos concentrados dentro da série estudada e muitos impactos gerados como a ocorrência de inundações, desabamento de casas, infiltrações generalizadas, quebra de ponte, entre outros. Verificou-se no exame do clima, que os eventos pluviais concentrados em poucas horas ocorrem na pré-estação e na quadra chuvosa, são decorrentes de Complexos Convectivos de Mesoescala ou Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis associados à Zona de Convergência Intertropical. Palavras-chave: fenômenos atmosféricos, eventos extremos, impactos ambientais
ABSTRACT This work is theoretical and methodological support, Monteiro (2003), Gonçalves (2003), and Zanella (2006). It is to identify the occurrence of the same daily rainfall totals or greater than 100 mm, in the municipality of Barbalha - Ceará . According to the results, there was a significant number of concentrated rainfall events within the series studied and many impacts as the occurrence of floods, house collapses, generalized infiltrations, bridge breaks, among others. It was found in the climate survey, which concentrated rainfall events occur in a few hours in the pre-season and the rainy season, they are due to Convective Mesoscale Vortices complexes or High Levels of Tropospheric Cyclonic associated with the Intertropical Convergence Zone . Key words: atmospheric phenomena, extreme events, environmental impacts
1 – Introdução
Os eventos pluviométricos extremos são fenômenos naturais relacionados ao clima,
muitas vezes um evento só é caracterizado como extremo, devido a sua intensidade ou
quando geram nas sociedades problemas, que repercutem negativamente na vida das
populações.
Nas últimas décadas, observa-se um aumento da frequência desses eventos em
médias e grandes cidades, de acordo com Zanella e Olímpio (2014) a cidade é uma grande
expressão geográfica da atualidade e sua importância vem aumentando, o que mostra um
mundo cada vez mais urbano. No Brasil, a população urbana representa mais de 84% da
1 Doutoranda em Geografia, Universidade Estadual do Ceará – UECE. Email: [email protected] 2 Doutora, professora da Universidade Regional do Cariri – URCA. Email: ³ Doutora, professora da Universidade Estadual do Ceará – UECE (IN MEMORIAN)
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população do país, diante dessa expansão do processo de urbanização, também aumenta a
preocupação com os episódios pluviométricos extremos, que podem causar diferentes
danos à sociedade, tanto materiais como imateriais (MONTEIRO, 2011).
Esses eventos acontecem em boa parte do território brasileiro, gerando inundações,
deslizamentos, desmoronamento e erosão, e esses fenômenos ganham maior visibilidade
quando ocorrem em áreas urbanas, um exemplo disso são as inundações urbanas
(MONTEIRO, 2011). Nesse sentido, ressalta-se a importância de estudar as causas das
precipitações intensas e as consequências geradas por esses eventos extremos, que
segundo Brandão (2001), nos estudos sobre impactos pluviais, estes são, na maioria das
vezes, enquadrados na categoria dos eventos naturais extremos, dependendo de sua
magnitude e extensão espacial.
O presente trabalho, envolve a temática dos eventos extremos, segundo Zanella et
al. (2009) esse tema enquadra-se nos impactos meteóricos (especificamente dos episódios
pluviais concentrados), estudo desenvolvido por Monteiro em 1979 apresentado na sua
teoria sobre o clima urbano.
Zanella et al. (2009) salienta que os trabalhos relacionados ao impacto das chuvas
nas cidades começaram a ganhar maior importância a partir da década de 1980, mas se
ampliaram em número e áreas estudadas nas décadas de 1990 e 2000 destacam-se alguns
trabalhos que abordam os eventos pluviométricos intensos ocorridos nas últimas décadas e
a intensa ocupação das áreas de risco, são BRANDÃO (2001),GONÇALVES (2003),
ZANELLA(2006 e 2009).
Segundo Gonçalves (2003), mesmo com o grande avanço tecnológico e os esforços
para o conhecimento das forças naturais, as sociedades ainda permanecem vulneráveis e
parecem estar cada vez mais expostas aos “eventos naturais extremos”, e independente da
origem desses eventos e das áreas onde ocorrem, resultam em desastres naturais, com
grandes perdas e prejuízos às economias nacionais e às populações expostas.
É importante ressaltar que, de acordo com Gonçalves (2003), entre esses eventos
naturais, os fenômenos pluviais extremos, sejam eles negativos ou positivos (secas e
inundações), são os que provocam verdadeiro impacto no ambiente e na vida social e
econômica de um país.
Segundo Zanella et al. (2009) em pesquisas que envolvem os eventos pluviais
intensos, faz-se necessário atentar para o sítio urbano da área em estudo, na medida em
que os impactos pluviais estão relacionados não somente às condições climáticas, mas
também ao funcionamento da rede de drenagem, aos processos de infiltração e
escoamento, que por sua vez, estão ligados às variáveis solo, vegetação e relevo. Nesse
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caso, é importante mencionar que se considerou o município de Barbalha, e foram
analisados apenas os eventos ocorridos dentro desse município.
A partir dos totais pluviais diários registrados no posto pluviométrico Barbalha, foram
selecionadas as alturas pluviométricas acima de 100 mm para um único dia ou superiores,
ou próximas a isso em caso de haver dias consecutivos de chuva, devido aos registros de
impactos.
O objetivo desse estudo é identificar a ocorrência de eventos pluviométricos iguais
ou superiores a 100 mm em 24 horas no município de Barbalha. Procurou-se, também,
estabelecer a relação entre total anual de chuvas e número de eventos ocorridos no ano. Na
análise dos impactos considerou-se o evento pluviométrico de maior intensidade identificado
no período correspondente a uma série de 41 anos (1974-2015).
2 – Material e métodos
O município de Barbalha localiza-se no sul do estado do Ceará, especificadamente
em uma área de exceção no Semiárido nordestino, entre as coordenadas geográficas na
porção mais ao norte 39° 11’ 31,23” W e 7° 12’ 30,15” S e mais ao sul com as coordenadas
39° 16’ 18,57” W e 7° 26’ 9,79” S. Na sua porção mais a leste com coordenadas 39° 25’ 19,3
W e 7° 20’ 21,8 S e mais a oeste com coordenadas 39° 10’ 27,3 W e 7° 14’ 32,01” S.
Esse trabalho utilizou como base teórico-conceitual, o estudo de Monteiro (2003),
considerando a teoria do Sistema Clima Urbano (S.C.U.), subsistema hidrometeórico, que
corresponde ao canal de percepção de impactos meteóricos. Como salienta Zanella (2006,
p.32), esse subsistema envolve todas as manifestações meteóricas de impacto, havendo
variada gama de fenômenos tais como tempestades, fortes nevadas, aguaceiros, etc. Neste
estudo serão considerados os eventos pluviais intensos, principalmente os episódios de
precipitação relacionados às inundações no município de Barbalha-Ceará. Para
identificação dos episódios pluviométricos iguais e superiores a 100 mm/24h este valor foi
tomado como referência, tendo como base os trabalhos de Gonçalves (2003) e Zanella
(2006).
Gonçalves (2003) realizou duas etapas na operacionalização da sua pesquisa em
Salvador, a primeira foi à análise têmporo-espacial dos eventos e análise especifica dos
episódios críticos, onde os episódios foram selecionados em função da magnitude dos seus
impactos, a autora tomou com base para a classificação, os episódios com intensidades
iguais ou superiores a 60 mm, em 24 horas, a partir dos quais se verificaram registros de
ocorrência dos eventos mais significativos.
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Zanella (2006) também analisou os episódios a partir de intensidades iguais ou
superiores a 60 mm ocorridos em 24 horas, tomando como base Gonçalves (1992), mais a
autora destaca que as condições ambientais de Salvador e Curitiba são diferentes, e optou-
se na utilização de intensidades diárias a partir de 60mm, porque em análises prévias
realizadas junto aos jornais, relatos de impactos foram constatados a partir deste índice
pluviométrico. Com índices pluviométricos diários inferiores não se constataram relatos de
danos. Entretanto, quando ocorria uma sequência diária destes índices pluviométricos
menores, os jornais registravam impactos e, assim, analisou-se também, a somatória de três
dias consecutivos que atingissem 60 mm ou mais. .
Com relação às etapas da pesquisa, procedeu-se inicialmente, o levantamento e
revisão bibliográfica, documental e cartográfica sobre o assunto e a área de estudo. Junto à
FUNCEME, se obteve dados pluviométricos correspondentes à área e ao período estudado
que corresponde a uma série histórica de 41 anos (1974-2015). Posteriormente, fez-se a
identificação e registro dos episódios que interessavam à pesquisa.
O procedimento seguinte consistiu na interpretação e análise dos resultados. Para
isso, recorreu-se ao aporte teórico obtido inicialmente. Finalmente, passou-se a analisar
especificamente os episódios de maior pluviosidade registrados. Para essa análise, se
considerou dados registrados nos jornais locais sobre o referido evento, informações da
Defesa Civil de Barbalha. Realizou-se uma varredura em todos os meios de comunicações
para verificar se havia alguma notícia sobre impactos pluviais.
3 – Resultados e Discussão
Os dados referentes às precipitações superiores a 100 mm em um dia registrados na
estação meteorológica de Barbalha, assim como seus respectivos dias de ocorrência. Foi
calculado o número de vezes em que eventos como estes ocorreram em cada ano e mês.
Destaca-se a variabilidade para o período de 40 anos considerado, tanto na sua distribuição
mensal quanto na anual: há anos em que estes eventos não ocorrem, e há outros em que
se observam mais de duas ocorrências.
Quanto aos eventos de chuva concentrada, durante o período observado, identificou-
se que estes ocorrem no período chuvoso (dezembro e janeiro pré-estação e fevereiro,
março, abril e maio período chuvoso), mas há uma maior frequência desses eventos no mês
de fevereiro e março, seguindo dos meses de abril, maio e dezembro. Os anos em que mais
se registraram precipitações superiores a 100 mm foram 1974, 1978, 1984, 1985, 1987,
1999, 2000, 2004, 2007, 2008, 2010, 2011, 2014 e 2015 com duas ocorrências cada ano. Já
os anos de 1976, 1982, 1986, 1989, 1994, 1995, 1998, 2002, 2012 e 2013 não foram
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registradas chuvas acima de 100 mm em 24 horas ou em três dias consecutivos. Os demais
anos apresentaram pelo menos uma ocorrência de chuva acima de 100 mm em 24 horas ou
em três dias consecutivos.
O ano de 1974 pode ser considerado um ano de índices pluviométricos acima da
média. Considerando a estação meteorológica da FUNCEME, choveu um total anual de
1.461mm, soma do período chuvoso foi de 1321,8mm como mostra o gráfico com a
distribuição da precipitação (figura 01).
No mês de janeiro choveu 236,7mm, sendo que a média de 30 anos para referido
mês (1974-2003) é de 184,9mm. A figura 01 mostra a distribuição da chuva durante o mês
de janeiro de 1974, no qual se evidenciou o episódio com chuva de 115,2mm em 24 horas.
Figura 01 - Gráfico com a distribuição da precipitação no ano de 1974. Fonte dos dados: FUNCEME
(2015); acessado em dezembro de 2015. Organização: BRITO (2016)
Segundo Zanella et al. (2009) em 1974 houve a ocorrência de La Niña, ao contrário
do El Niño, contribua para que ocorra precipitação pluvial acima do normal no Norte do
Nordeste do Brasil. Diante disso, podendo ser entendido como uma evidência de que esse
fenômeno pode influenciar na atuação dos sistemas atmosféricos a nível regional e,
portanto, em maiores índices pluviométricos como também na geração desse tipo de
evento.
Zanella et al. (2009) e Almeida (2010) consideram em suas pesquisas que os meses
de março e abril apresentarem maior número de eventos extremos, justificados pela maior
atuação da Zona de Convergência Intertropical – ZCIT, já que este sistema atinge, nesse
período do ano, sua posição mais meridional no hemisfério sul, gerando precipitação em
todo o Estado do Ceará e na região do Cariri cearense, aliado à suposição de que nessa
época o nível d’água dos rios já esteja elevado e, portanto, com maior probabilidade de
ocorrência de impactos pluviais nas áreas susceptíveis as inundações, é necessário
destacar o mês de janeiro, por apresentar relevante número de eventos e por exibir nesse
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período a atuação de um mecanismo atmosférico importante na geração de eventos
pluviométricos intensos, que são os Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis –VCAN. Segundo os
autores acima citados, o sistema que atuou no ano de 1974 foi VCAN.
Então, entre o intervalo de 1974 a 2004 não encontramos nenhum registro de
eventos extremos e danos em Barbalha, mesmo assim escolhemos os anos de 1985 e 1997
para demonstrar a ocorrências de chuvas superiores a 100 mm.
O ano de 1985 foi considerado o ano com maior índice pluviométrico da série
histórica estudada com um total anual de 2147,5 mm, a figura 02 (gráfico 02) representa os
cinco primeiros meses do ano de 1985. Observa-se a ocorrência de chuva em quase todos
os dias dos meses citados. No dia 14 de janeiro de 1985 ocorreu uma chuva de 109 mm,
antecedida por uma chuva de 70 mm, a precipitação nesse mês foi 364,3mm, e no mês de
abril choveu 435,6mm, mais não apresentou índices superiores a 100mm por dia e sim a
somatória em três dias consecutivos que foram os dias 28, 29, 30 somando 102,3mm.
Segundo Monteiro (2011) o quadrimestre (fevereiro-maio) do ano de 1985 foi de La Niña
fraca, dipolo favorável (negativo) considerado muito chuvoso, possivelmente com a
ocorrência da ZCIT.
Figura 02 - Gráfico com a distribuição da precipitação no ano de 1985. Fonte dos dados: FUNCEME (2015); acessado em dezembro de 2015. Organização: BRITO (2016)
O ano de 1997 apresentou o total anual de 855,6mm, segundo Monteiro (2011) em
1997, foi um ano seco, nos primeiros meses do ano, observou certa situação de
neutralidade, mas a partir do trimestre abril-maio-junho inicia-se a atuação de um forte El
Niño. O mês de Março apresentou uma precipitação total de 335,4 mm sendo que nos dias
02, 03, 04 somado os respectivos dias choveu 122,3, sendo a chuva maior no dia 03 com 87
mm, no dia 26 choveu 131 mm como mostra a figura 03.
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Figura 03 - Gráfico com a distribuição da precipitação no ano de 1997. Fonte dos dados: FUNCEME (2015); acessado em dezembro de 2015. Organização: BRITO (2016)
O ano de 2004 registrou um total anual 1423,1 mm, a figura 04 apresenta os dados
pluviométricos dos primeiros meses do ano de 2004, nota-se que as chuvas foram bem
distribuídas durante todos os meses, segundo Monteiro (2011) foi um ano considerado muito
chuvoso. E no mês de janeiro choveu 551,5mm, um valor superior à média mensal de 30
anos (1974-2003) é de 184,9mm. Foi um mês de ocorrência de dois eventos superiores a
100 mm: dia 14 com 112 mm e dia 17 com 117mm. No ano de 2004, segundo Xavier
(2004/2005, p.18) apud Zanella (2005, p.181) “a atividade das frentes frias foi muito intensa,
chegando a provocar chuvas em todo o Ceará, inclusive, associando-se a vórtices ciclônicos
de altos níveis em janeiro [...], em alguns casos atraindo a ZCIT para latitudes ao sul do
Equador”.
Figura 04 - Gráfico com a distribuição da precipitação no ano de 2004. Fonte dos dados: FUNCEME (2015); acessado em dezembro de 2015. Organização: BRITO (2016)
Segundo a Defensa Civil do estado do Ceará foi decretado situação de emergência,
mais de quinze mil pessoas foram atingidas pelas fontes chuvas ocorridas nesse ano, os
bairros mais atingidos foram os que ficam próximos aos riachos do Ouro e ao riacho Seco.
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Em alguns sítios localizados na zona rural também foram atingidos pela inundação dos
riachos que formam o rio Salamanca.
O ano de 2007 choveu um total anual de 1.003,8mm, a soma do período chuvoso foi
de 755,6mm, a figura 05 mostra a distribuição da pluviometria nos cinco primeiro meses do
ano.
Figura 05 - Gráfico com a distribuição da precipitação no ano de 2007. Fonte dos dados: FUNCEME (2015); acessado em dezembro de 2015. Organização: BRITO (2016)
No mês de fevereiro choveu 387,2mm, sendo que a média de 30 anos para referido
mês (1974-2004) é de 196,4mm. No mês de fevereiro de 2007, evidenciou-se o episódio
com chuva de 141,5mm em 24 horas. Segundo Monteiro (2011) esse ano foi considerado
um ano normal, no período correspondente à quadra chuvosa do Estado, apresentou uma
situação de neutralidade quanto ao fenômeno ENOS e dipolo do atlântico desfavorável à
ocorrência de chuvas.
O ano de 2008 registrou um total anual de 1384,5 mm de chuvas, nos cinco
primeiros meses do ano choveu 1224,5mm (figura 06), o mês de Março choveu 560,8 mm,
sendo que a média observada para referido mês é de 238,8mm para um período de 30 anos
(1974-2004). Até o dia 23 de março, choveu 338,3mm, o valor registrado no dia 24 foi de
66,5mm. Observa-se que durante o mês as chuvas foram bem distribuídas, os dias que
antecederam o evento foram marcados por chuvas representativas e os dias que sucederam
também registraram valores importantes, somando 156 mm de precipitação.
Segundo Monteiro (2011) no segundo semestre de 2007, inicia-se a atuação de uma
La Niña que se prolonga até o primeiro semestre de 2008, oscilando entre as intensidades
fracas e moderadas. O dipolo do atlântico (negativo) apresentou valores favoráveis à
ocorrência de chuvas no ano de 2008 o resultado foi um ano chuvoso. De acordo com Atlas
Brasileiro de Desastres Naturais 1991 a 2012 (2013), o ano de 2008 teve a atuação conjunta
de vários sistemas meteorológicos contribuindo para a ocorrência de chuvas acima da
média no sul do estado do Ceará.
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Figura 06 - Gráfico com a distribuição da precipitação no ano de 2008. Fonte dos dados: FUNCEME (2015); acessado em dezembro de 2015. Organização: BRITO (2016)
O ano de 2009 foi considerado um ano chuvoso (MONTEIRO, 2011). Apresentando
o total anual de 1.191mm. O período de janeiro a maio choveu 934,2mm (figura 07). Os
meses de abril (328,7mm) e maio (265,5 mm) obtiveram os maiores índices de chuvas, o
evento pluvial aconteceu no dia 05 de maio, com um total de 74 mm em três horas, neste
caso, destacamos que o mês de abril choveu acima da média, caracterizando grande
quantidade de água no solo, a chuva do dia 05 foi inferior a 100 mm, porém, considerando
os dias anteriores verifica-se a saturação do sistema, principalmente devido à chuva ter sido
em poucas horas, no caso 3 horas.
Figura 07 - Gráfico com a distribuição da precipitação no ano de 2009. Fonte dos dados: FUNCEME (2015); acessado em dezembro de 2015. Organização: BRITO (2016)
Segundo Atlas Brasileiro de Desastres Naturais 1991 a 2012 (2013), o ano de 2009
se destaca com 110 registros de inundações no Ceará, onde o mês de abril foi marcado
pelo excesso de chuva resultando na elevação do nível dos rios e Consequentemente
inundações, os sistemas atmosféricos que favoreceram a ocorrência dessas chuvas
intensas foram: a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), a formação de linhas de
Instabilidades (LI’s) ao longo da costa e a propagação de cavados na média e na alta
troposfera.
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De acordo com Monteiro (2011) o ano de 2009 apresentou temperaturas baixas no
oceano pacífico, que poderia dar início à formação de uma La Niña fraca, onde ela exerceu
influência para a ocorrência de chuvas no quadrimestre fevereiro-maio para o Estado do
Ceará.
O ano de 2015 registrou nos quatros primeiros meses do ano o total de 716,5mm
(figura 08), o mês de abril choveu 201 mm, o episódio do dia 23 de abril de 2015 foi causado
pela "convecção profunda (sistema convectivo de nuvens de chuva) associada à Zona de
Convergência Intertropical (ZCIT) que se encontrava atuando, desde o Norte do Ceará até
ao Sul do Estado. A chuva teve início na noite do dia 22 de abril e durou até as primeiras
horas do dia 23 de abril de 2015, durando aproximadamente três horas.
Figura 08 - Gráfico com a distribuição da precipitação no ano de 2015. Fonte dos dados: FUNCEME (2015); acessado em dezembro de 2015. Organização: BRITO (2016)
4 – Considerações Finais
No exame do clima, observou-se que eventos pluviais concentrados em poucas
horas ocorrem na pré-estação e na quadra chuvosa, são decorrentes de Complexos
Convectivos de Mesoescala ou Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis associados à Zona de
Convergência Intertropical.
As consequências dos episódios pluviais intensos se intensificam, devido, o processo
de expansão urbana, onde a o aumento da exposição direta ao perigo na planície fluvial da
bacia do Salamanca área onde localiza-se a cidade de Barbalha, indiretamente, um
crescimento em apresentar problemas em consequência desses eventos, na medida em
que a impermeabilização das superfícies favoreceu uma concentração rápida das águas de
escoamento nos canais, sujeitando-as ao extravasamento em áreas onde, anteriormente, os
alagamentos não ocorriam.
O episódio pluviométrico ocorrido no dia 23 de abril de 2015 deixou Barbalha em
situação de calamidade, tanto pelo fato de ter atingido um total de 159 mm diário, como
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também em virtude da cidade apresentar maior parte do solo impermeabilizado, ruas com
infra-estrutura precária, sistema de coleta de água da chuva precário, pessoas morando em
áreas de risco. Vários bairros sofreram impactos decorrentes das chuvas intensas,
principalmente aqueles localizados em áreas próximas ao leito do riacho Seco e do riacho
do ouro.
Diante disso, destaca-se a importância desse estudo pela possibilidade de gerar
subsídios aos planejadores e tomadores de decisão e assim contribuir para uma melhor
organização do ambiente urbano de Barbalha.
5 – Referências
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VARIABILIDADE E SUSCEPTIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações Ecossistêmicas e Sociais
de 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
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