Variaçao da cotacao, soja 06/2015

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ENTENDENDO O MERCADO DA SOJA 17/06/2015

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VIsa a comparacao de cotacao de soja até o periodo de 06/2015

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ENTENDENDO O MERCADO

DA SOJA

17/06/2015

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ÍNDICE 1. Introdução ......................................................................................................................

1.1 O agronegócio da soja e suas utilidades ........................................................................

1.1.1 Definição e características ...........................................................................................

1.2 O mercado mundial da soja ............................................................................................

1.2.1 Produção ....................................................................................................................

1.2.2 Importação .................................................................................................................

1.2.3 Exportação .................................................................................................................

1.2.4 Calendário agrícola ....................................................................................................

1.3 O mercado da soja em Mato Grosso .............................................................................

1.3.1 Oferta e demanda .......................................................................................................

1.3.2 Exportação do complexo soja ....................................................................................

1.4 Os mercados externo e brasileiro ..................................................................................

1.4.1 Tipos de mercados .....................................................................................................

1.4.2 Bolsa de Chicago (CBOT) ..........................................................................................

1.4.3 Especificações da Bolsa de Chicago .........................................................................

1.4.4 Cotação internacional no mercado interno .................................................................

1.4.5 Especificações da BM&F ............................................................................................

1.5 Como se formam os preços no mercado interno ..........................................................

1.5.1 Prêmio de exportação ................................................................................................

1.5.2 Custos portuários .......................................................................................................

1.5.3 Frete ao porto .............................................................................................................

1.5.4 Cotação interna ..........................................................................................................

1.6 Principais rotas de escoamento da soja no Estado ......................................................

1.6.1 Hidroviário ..................................................................................................................

1.6.2 Ferroviário ..................................................................................................................

1.6.3 Rodoviário ..................................................................................................................

1.7 Paridade de exportação e sua importância ...................................................................

1.7.1 O que é e para que serve a paridade de exportação .................................................

1.7.2 Como se calcula a paridade de exportação ...............................................................

1.8 Gastos produtivos com a cultura da soja ......................................................................

1.8.1 Custo de produção da soja ........................................................................................

1.8.2 Custos fixos e custos variáveis ..................................................................................

1.9 O ponto de equilíbrio .....................................................................................................

1.9.1 Determinantes do ponto de equilíbrio (PE) ................................................................

1.10 Preço de base e relação frete/soja ..............................................................................

1.10.1 Formação do preço de base .....................................................................................

1.10.2 Preço do frete X cotação da soja .............................................................................

1.11 Glossário .....................................................................................................................

1.12 Conclusão ....................................................................................................................

1.13 Referências .................................................................................................................

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1. Introdução

No contexto mundial e nacional, a soja está inserida economicamente como uma das principais

culturas produzidas. No Brasil, a oleaginosa é a principal cultura agrícola atualmente. Segundo

dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab, maio/15), na safra 2013/14 cerca de

86,12 milhões de toneladas de soja foram produzidas no país, representando 44,5% de toda a

produção brasileira de grãos na mesma safra. Para a safra 2014/15, a expectativa de

participação da soja aumenta ainda mais. Os dados de maio de 2015 do relatório de safra da

Conab apontam um volume produzido de soja pelo Brasil de 95,07 milhões de toneladas,

representando 47% dos 202,23 milhões de toneladas de grãos produzidos pelo país.

Amplamente difundida devido às suas variadas formas de utilização em diferentes segmentos,

a oleaginosa apresenta papel importante para a economia agropecuária brasileira. Em Mato

Grosso, o principal Estado produtor, a oleaginosa representou em 2014 aproximadamente 50%

do valor bruto da produção (VBP) agropecuária mato-grossense, com representatividade bem

acima da segunda atividade de maior projeção, a bovinocultura de corte, com 20%.

Em relação à comercialização, a produção brasileira da soja representa cerca de 41% do que

foi exportado mundialmente na safra 2013/14. Diante desta grande representatividade mundial,

o preço da soja no mercado interno sofre grande influência do mercado externo.

Os principais fatores que influenciam a paridade de exportação brasileira são: cotação da soja

na Bolsa de Chicago (CBOT), prêmio de exportação, despesas portuárias, frete, câmbio,

impostos e outras taxas e comissões.

Diante da grande importância da soja no cenário mundial, este trabalho irá analisar e discutir o

mercado da soja, desde a oferta e demanda da cultura, sua importância no mercado mundial,

até o entendimento de formação de preços da commodity.

Esperamos que você, leitor, tenha prazer em descobrir, nas páginas a seguir, de maneira geral

como funciona o mercado da soja e suas particularidades.

1.1 O agronegócio da soja e suas utilidades

Nesta seção, serão analisadas, de maneira geral, a definição e características da soja, bem

como as principais utilidades dos seus subprodutos.

1.1.1 Definição e características

Pode-se considerar como commodities as mercadorias primárias não manufaturadas, ou

parcialmente manufaturadas, de grande exposição no mercado internacional. No mercado

financeiro, uma commodity pode ser usada para sugerir um tipo de produto, normalmente

agrícola ou mineral, de grande relevância econômica internacional, por ser amplamente

negociado entre importadores e exportadores. Existem bolsas de valores de mercados abertos

específicas para negociar tais commodities. Geralmente sua produção é realizada em grandes

escalas e sua comercialização, dentro de um padrão de qualidade conhecido mundialmente.

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Por isso, pode-se considerar o complexo soja como uma commodity agrícola (MACHADO,

2010).

A soja é uma das principais commodities produzidas mundialmente, e faz parte do conjunto de

atividades agrícolas com maior destaque no mercado mundial. Por ter uma importância

considerável globalmente, a sua demanda é de grande relevância no mercado internacional. A

dinâmica do mercado da soja é dividida em países produtores-exportadores e países

consumidores-importadores.

Normalmente, as commodities são cíclicas por definição. Isso significa que a produção é

estimulada ou desestimulada de acordo com o preço. Se o preço de algum produto estiver alto,

diversos produtores se sentirão “estimulados” a produzi-lo. Se a produção for grande, os

estoques aumentam, o preço cai e, consequentemente, diversos produtores perdem o

interesse por produzir grandes volumes, fazendo com que a safra diminua. Consequentemente,

os estoques reduzem-se e o preço volta a subir. Não há uma tendência de alta nem baixa

eterna, mas sim ciclos, por isso, as commodities como a soja são consideradas cíclicas

(NEHMI, 2012).

Por ser um grão rico em proteínas, a soja é cultivada como alimento tanto para os seres

humanos quanto para os animais. Além disso, sendo caracterizada principalmente por uma

produção agroindustrial, sua cadeia pode ser denominada como uma cadeia agroindustrial, na

qual, antes mesmo da produção, é essencial a existência de um setor de insumos, máquinas e

implementos agrícolas para trazer viabilidade para o setor.

Para que a soja possa ser utilizada, é preciso que ela passe por um processo de

industrialização. Após esse processo são gerados vários produtos, porém dois são os mais

conhecidos, o farelo e o óleo de soja. O farelo de soja, com teor proteico de 44% a 48% (se o

grão for descascado antes da extração do óleo), é utilizado na maioria das vezes como

suplemento rico em proteínas para a criação de animais. O farelo de soja pode ser utilizado

ainda como alimento de peixe na aquicultura, na produção de ração de animais domésticos e

como substituto do leite para bezerros. Para se obter o farelo de soja, é necessário fazer a

torrefação e a moagem da torta da soja, sendo esta torta o que permanece após a extração do

óleo com solventes (MISSÃO, 2006).

Já o óleo de soja é rico em ácidos graxos poli-insaturados. Pode ser usado domesticamente

como óleo de cozinha e nas indústrias, como tinta de caneta, biodiesel, tintas de pintura em

geral, xampus, sabões e detergentes (MISSÃO, 2006).

Na indústria alimentar, nos importantes ingredientes da produção de cereais, pães, biscoitos,

massas, produtos finos de carne, etc, usa-se a proteína texturizada de soja como substituto da

carne. Os isolados de soja (pelo menos 90% de proteína) são ingredientes funcionais

empregados em produtos finos de carne e leite. Os usos técnicos dos ingredientes proteicos e

da farinha de soja incluem revestimentos de papel e auxiliares de processos de fermentação.

A casca da soja é retirada durante o descascamento inicial dos grãos e contém material

fibroso. É usada como forragem grossa e também como fonte de fibras dietéticas de cereais

matinais e de certos lanches prontos (MISSÃO, 2006).

Assim como muitas outras plantas, a soja também contém alguns fatores antinutricionais. Os

inibidores, por exemplo, que impedem a ação de enzimas digestivas, como a tripsina, tornando

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Antes das fazendas Nas fazendas Após as fazendas

Cooperativas

Revendas

Defensivos

Fertilizantes

Sementes

Máquinas

Outras Indústrias

Produção Agrícola Originadores

Armazenadores

Cooperativas

Tradings

MERCADO EXTERNO

Esmagadorase refinadoras

Outras Indústrias

Indústrias de derivados de

óleo

Indústriade rações

Indústriade carnes

Distribuição

CONSUMIDOR INTERNO OU

EXTERNO

a digestão da soja crua extremamente difícil. O cozimento e o aquecimento dos grãos ou do

farelo de soja inativam os inibidores de tripsina. Na prática, o farelo de soja e os ingredientes

proteicos originados da soja são sempre cozidos antes do consumo.

Organograma 1 - Cadeia agroindustrial da soja

Fonte: Imea

1.2 O mercado mundial da soja

Nesta seção, será analisado o mercado mundial da soja. Os aspectos discutidos estão

relacionados com quatro variáveis principais: produção, importação, exportação e calendário

agrícola mundial.

1.2.1 Produção

A soja, além de ser a principal oleaginosa cultivada no mundo, faz parte do conjunto de

atividades agrícolas com maior destaque no mercado mundial. Nos dados do mapa 1, percebe-

se que 82% da produção mundial concentra-se em apenas três países: Estados Unidos, Brasil

e Argentina. Adicionalmente, os outros quatro países que se destacam na produção mundial

são: China, Índia, Paraguai e Canadá que, juntos, esses sete países representam cerca de

95% da produção mundial da oleaginosa, segundo dados do Departamento de Agricultura dos

Estados Unidos (USDA, maio/15).

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País

0,0

108,0

Prod. Mundial: 317,3 milhões t

12,4

94,5

9,8

108,0

58,5

9,8

8,5

6,1

Mapa 1 - Principais países produtores de soja na safra 2014/15

Fonte:

USDA

maio/15

Ao se analisar o cenário de oferta mundial da soja, deve-se avaliar os estoques finais da

oleaginosa. Isso porque, verificando esta variável, pode-se obter parâmetro com relação de

equilíbrio ou de desequilíbrio entre a oferta e demanda do produto, que poderá afetar não só os

preços mundiais da commodity, como também a decisão da quantidade produzida na próxima

safra.

Gráfico

1 - Oferta e demanda no mundo – últimas dez safras

Fonte: USDA maio/15

85,5

317,3

291,8

0,0

30,0

60,0

90,0

120,0

150,0

100,0

150,0

200,0

250,0

300,0

350,0

Estoques Produção Consumo

Milhões de toneladas

Estoq

ues

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7

0,0

73,5

Imp Mundial: 114,1 milhões t

73,5

12,8

2,4

2,9

2,1

4,0

Diante de tal relevância, verifica-se a concentração dos estoques finais mundiais em

quatro principais países: Argentina, Brasil, China e Estados Unidos, que juntos representaram

94% do total na safra 2014/15, segundo dados do USDA. Os estoques vêm crescendo desde a

safra 2011/12, principalmente pelo aumento da produção em proporções maiores que o volume

mundial de consumo.

1.2.2 Importação

A soja é uma das culturas mais difundidas no mundo. Apesar da sua grande importância

econômica no mercado mundial, a importação da soja em grão limita-se a poucos países. A

China e a União Europeia respondem juntas com cerca de 75,6%, segundo dados do USDA,

na safra 2014/15. Apenas a China representa quase 65% das importações mundiais da soja

em grão, segundo o departamento norte-americano, demonstrando a tamanha relevância que

este país representa no mercado mundial da oleaginosa. Assim, qualquer oscilação na

economia chinesa que comprometa o fluxo da sua demanda por soja pode, portanto,

comprometer o quadro de oferta e demanda mundial da commodity.

Mapa 2 - Principais países importadores de soja em grão na safra 2014/15

Fonte: USDA, maio/15

A importação mundial de soja em grão teve uma trajetória crescente na última década.

Na safra 2014/15 ocorreu o maior fluxo de importações da história, com um aumento anual de

2,6%.

Apesar da grande relevância que a China apresenta sobre o mercado da soja em grão, o

país asiático não se destaca atualmente como o principal player importador dos subprodutos

da oleaginosa como farelo e óleo. Isso ocorre, pois a China compra a soja justamente para

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produzir estes subprodutos e possui uma grande capacidade de industrialização da soja em

grão.

No mercado de óleo de soja, o país que lidera suas importações é a Índia, que

representa 21,3% na safra 2014/15, segundo o USDA, com a China aparecendo logo atrás,

com 14% de participação. Já para o mercado de farelo de soja, a China não se destaca entre

os cinco principais países importadores. O principal player importador é a União Europeia,

representando cerca de 35% do total nas últimas cinco safras. Com representatividade menor,

aparecem Indonésia, Vietnã, Tailândia e Irã, que juntos representaram nos últimos cinco anos

cerca de 20% das importações mundiais do farelo de soja.

Percebe-se que o mercado dos subprodutos da soja (óleo e farelo) é menos concentrado

que o mercado da soja em grão, apresentando uma dependência muito maior de um único

país, a China. Mesmo assim, oscilações econômicas ocorridas nos principais países

importadores de soja e farelo podem impactar o mercado da soja como um todo.

1.2.3 Exportação

As exportações mundiais de soja vêm crescendo nos últimos anos, acompanhando o

ritmo crescente da oferta e do consumo mundial da oleaginosa. Em torno de 40% da produção

mundial da safra 2013/14 foi exportada segundo dados do Departamento da Agricultura dos

Estados Unidos (USDA, maio/15). Para a safra 2014/15 da oleaginosa, apesar de o volume

exportado ser o maior da história, de 117,5 milhões de toneladas, segundo o USDA, a

participação sobre a produção mundial será reduzida para 37%.

Mapa 3 - Principais países exportadores de soja em grão na safra 2014/15

Fonte: USDA, maio/15

Os Estados Unidos e o Brasil, principais players produtores de soja, são também os

protagonistas no cenário exportador da oleaginosa, participando juntos com 81% do que foi

0,0

49,0

Exp Mundial: 117,5 milhões t

45,7

8,0

4,8

3,7

49,0

2,0

3,3

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exportado na safra passada. Para a safra 2014/15, os Estados Unidos devem aumentar em

9,3% o seu volume exportado ante a safra passada, atingindo cerca de 49 milhões de

toneladas exportadas. Já o Brasil tem a expectativa de reduzir em 2,5% o volume escoado na

nova temporada, registrando exportação de 45,6 milhões de toneladas. Apesar disso, percebe-

se a grande importância que esses dois países têm sobre o cenário exportador da soja. E,

assim, qualquer alteração no tamanho da safra de soja nestes dois países impacta sobre a

oferta mundial.

Apesar de apresentar uma representatividade mundial bem aquém a dos Estados Unidos

e do Brasil, a Argentina aparece como o terceiro principal player exportador da soja. Na safra

2014/15 o volume exportado pelos argentinos deve atingir oito milhões de toneladas,

apresentando elevação de 2% em relação ao que foi escoado na temporada 2013/14.

Analisando-se apenas esses três principais países exportadores, percebem-se diferenças

consideráveis no que tange à questão logística de escoamento da commodity em cada um

deles. Para se ter uma ideia, quando se analisam as matrizes de transportes da soja da

Argentina e Estados Unidos (maiores concorrentes do Brasil na produção e exportação do

produto), observa-se que no primeiro, embora 80% do escoamento da soja seja realizado

através do transporte rodoviário, as distâncias médias entre as regiões produtoras e os portos

são próximas a 300 km, tornando, assim, os custos com transporte reduzidos, devido às

distâncias percorridas serem relativamente pequenas. Já nos EUA, que possui, como o Brasil,

distâncias elevadas entre as regiões produtoras e os portos, a média da distância no país

norte-americano está entre 1.000 e 2.000 km, dos quais, cerca de 60% da matriz é formada por

hidrovias. Segundo Rippol (2012), o custo de transporte por tonelada por km percorrido do

modal hidroviário é 61% inferior que o rodoviário e 37% inferior que o ferroviário, assim, torna

os custos com transporte do grão nos Estados Unidos mais reduzidos se comparado ao Brasil,

conforme pode ser analisado no organograma 2.

Organograma 2 - Logística e custo com transporte da soja dos principais países

exportadores

Fonte: Centrogrãos, Caramuru and Soy Transport Coalition, BCR Rosário, USDA

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Os gargalos dos portos brasileiros também apresentam parcela de contribuição para

reduzir a competitividade da soja brasileira. Os fatores portuários que mais prejudicam a

competitividade das exportações brasileiras são: elevado custo das tarifas portuárias; demanda

superior à capacidade instalada dos terminais e armazéns; falta de investimentos na ampliação

de instalações portuárias, ocasionando filas de caminhões e navios no período da safra; e a

limitação de profundidade, impedindo a atracação de navios de maior porte em alguns portos.

Os custos elevados de transporte da soja acabam refletindo negativamente sobre os

preços recebidos pelos produtores, especialmente àqueles localizados em regiões mais

distantes dos principais portos, como os do Sul e Sudeste do país. Para se ter uma ideia dessa

realidade, os sojicultores de Sorriso, por exemplo, distantes cerca de 2.000 km dos principais

portos de exportação, pagam de frete valores próximos a 30% do preço recebido pelo produto

em 2015.

Apesar de tais gargalos, pode-se dizer que houve uma melhora nas condições dos portos

brasileiros desde 2014, sobretudo, no porto de Santos-SP, principal porto de escoamento

atualmente no país. Além disso, há atualmente uma nova rota de escoamento de grãos, pelo

Norte do país. O porto de Barcarena, localizado no Pará, que começou as suas atividades em

2014, exportou cerca de 625 mil toneladas de soja mato-grossense, representando cerca de

5% do volume escoado pelo Estado na safra 2013/14. Apesar de a representatividade sobre o

volume total escoado ser baixa, a expectativa é que a participação deste porto sobre as

exportações mato-grossenses aumente nos próximos anos.

1.2.4 Calendário Agrícola

A balança comercial da soja é bem definida, ou seja, os maiores produtores ocupam os

primeiros lugares do lado positivo (oferta), que no caso são os Estados Unidos, Brasil e

Argentina. E do lado negativo (demanda) encontram-se a China e a União Europeia.

Com isso, fica evidenciado quem são os maiores players do mercado de soja e também

para onde se deve voltar as atenções ao analisar informações do mercado.

Voltando-se as atenções para os principais players ofertantes de soja do mundo,

percebe-se que o calendário agrícola é dividido em hemisférios sul e norte. No hemisfério sul,

onde está Brasil e Argentina, a semeadura ocorre entre setembro e dezembro e a colheita

entre janeiro e maio. Já no hemisfério norte ocorre o inverso, com a semeadura de abril a junho

e a colheita de setembro a novembro.

A principal justificativa é devida às condições climáticas. Os Estados Unidos, situados no

hemisfério norte, realiza sua semeadura durante o período citado acima, pois são primavera e

verão, respectivamente, quando as condições climáticas são ótimas para o cultivo da

oleaginosa. Há uma diferença de algumas semanas em algumas regiões entre as semeaduras

da soja e do milho nos Estados Unidos por causa do clima, pois o milho é mais resistente à

geada no início do seu desenvolvimento e possui um ciclo mais longo que o da soja,

necessitando-se, assim, ser semeado antes.

Já no hemisfério sul, a semeadura ocorre em período distinto ao do hemisfério norte,

como já mencionado. No Brasil, as duas principais regiões produtoras, Centro-Oeste

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(destacando-se Mato Grosso), e o Sul (Paraná e Rio Grande do Sul), percebe-se uma

diferença no período de semeadura. Em Mato Grosso, alguns produtores dão início aos

trabalhos de semeadura logo após o fim do vazio sanitário, que se encerra no dia 15 de

setembro, mesmo que as condições climáticas não estejam tão favoráveis. Em setembro,

muitas regiões de Mato Grosso ainda não apresentam grande quantidade de chuvas e, por

isso, os trabalhos a campo se intensificam em meados de outubro, quando os volumes

pluviométricos são maiores.

Em condições normais é recomendável que o produtor espere a chuva alcançar o

acumulado de 80-100 milímetros para que o solo tenha um estoque razoável de água para

permitir a germinação das sementes, com menos risco de perda de semeadura, no caso de as

chuvas não se estabilizarem. No entanto, algumas lavouras de soja mato-grossenses não são

semeadas na época ideal para alcançar o máximo potencial produtivo da cultura. A causa

principal para que os agricultores não consigam semear na data ideal está na necessidade de

antecipar a colheita do grão para dar início o mais rápido possível à segunda safra, geralmente

com milho ou algodão.

Na região Sul do Brasil, a semeadura da soja inicia-se em outubro com a sua

intensificação a partir de novembro, quando as condições climáticas já estão mais favoráveis.

Antes disso, o frio ainda é bastante considerável nas regiões produtoras. Assim, quanto mais

ao sul, mais tarde começa-se a semeadura da oleaginosa devido às temperaturas mais

amenas antes desse período.

Já na Argentina, o período de semeadura e colheita é bastante parecido com o do Brasil,

principalmente com o calendário agrícola dos estados da região Sul, devido às semelhanças

climáticas. Assim, a entrada das safras brasileira e Argentina ocorre em períodos bastante

semelhantes, afetando tanto as cotações internacionais da oleaginosa como também o foco da

demanda internacional.

Figura 1 - Calendário agrícola da soja nos principais países produtores, e no Brasil, nas

principais regiões

Fonte: USDA, ODS

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12

Percebe-se que o clima tem fundamental importância no calendário agrícola da soja nos

principais players ofertantes, apontando a época de início da semeadura e as variedades mais

aptas para determinada região e/ou país. Os principais fatores climáticos que interferem no

rendimento do grão, segundo a Embrapa, são os volumes pluviométricos, em que durante todo

o seu ciclo a necessidade hídrica ideal deve variar entre 450 milímetros a 800 milímetros,

dependendo da variedade cultivada. Além disso, outro fator de grande importância, a

temperatura, atua diretamente em todas as fases da cultura. As condições ótimas para a soja

estão entre 20ºC e 30ºC, sendo 30ºC a temperatura ideal para o seu desenvolvimento. Ainda

segundo a Embrapa, a faixa de temperatura do solo adequada para a semeadura varia de 20ºC

a 30ºC, sendo 25ºC a temperatura ideal para a rápida e uniforme emergência das plântulas,

além do comprimento do dia (foto período) que também é um fator limitante para o

desenvolvimento da planta.

1.3 O mercado da soja em Mato Grosso

Nesta seção, será analisado o quadro de oferta e demanda da soja mato-grossense,

examinando os principais destinos da produção estadual. Além disso, sabendo-se da

importância que as exportações representam para o destino da soja produzida em Mato

Grosso, serão verificados os principais destinos dos produtos do complexo soja.

1.3.1 Oferta e demanda

Segundo dados da Conab, Mato Grosso lidera a produção nacional de soja há 15 safras,

com boas perspectivas de consolidar-se nessa posição. Atualmente, o Estado representa cerca

de 9% da produção mundial e 30% da produção nacional da oleaginosa, segundo dados do

Imea. Na safra 2014/15, a expectativa é que Mato Grosso produza cerca de 27,9 milhões de

toneladas, batendo todos os recordes produtivos anteriores.

Dentro do Estado, a principal região produtora é o médio-norte, onde se encontram

municípios como Sorriso, Sinop, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, e outros. A crescente

conversão de área de pastagem em agricultura nas regiões nordeste, norte e noroeste do

Estado, vem proporcionando novos ganhos produtivos em Mato Grosso através também

destas regiões.

Page 13: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

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Tabela 1 - Oferta e demanda da soja em grão mato-grossense na safra 2014/15

Soja em grão

2012/13 2013/14 2014/15 (dez-14)

2014/15 (abr-15)*

Variação 13/14 e 14/15

Variação 14/15 (dez-14/abr-15)

Oferta 23,93 26,5 28,13 28,08 6% 0%

Estoque Inicial

0,27 0,21 0,23 0,2 -2% -13%

Importação 0 0 0 0 - - Produção 23,66 26,29 27,89 27,87 6% 0%

Demanda 23,72 26,3 27,82 27,86 6% 0%

Consumo MT 7,37 8,08 8,5 8,85 9% 4% Consumo Interestadual

4,05 4 4 4 0% 0%

Exportação 12,3 14,21 15,32 15,01 6% -2%

Estoque Final

0,21 0,2 0,3 0,22 7% -27%

Fonte: Imea

O principal destino da produção de soja mato-grossense é a exportação, representando

mais de 50% do que é produzido. Mato Grosso escoa a produção de soja principalmente pelos

portos de Santos e Paranaguá. Apesar da grande distância entre origem e destino, a

infraestrutura logística das regiões sul e sudeste é mais desenvolvida em relação às novas

alternativas de escoamento que o arco norte vem proporcionando desde 2014 para algumas

commodities. Apesar do maior suporte oferecido pelas rodovias e portos das regiões sul e

sudeste, elas não estão sendo suficientes para conter toda a demanda por descarga em picos

de safra, que, apesar de terem sido beneficiadas pelas novas rotas de escoamento pelo Norte

do país, ainda causam problemas com filas, lentidão no descarregamento, causando

pagamento de “demurrage” (situação em que o navio fica atracado mais dias no porto do que o

estabelecido) e estadia, gerando custos que poderiam ser evitados, além de reduzir a

competitividade do país frente a outros players exportadores.

Outro grande destino da produção estadual de soja é o mercado interno, que tem

projeção de esmagar cerca de 8,9 milhões de toneladas na safra 2014/15, representando

pouco mais de 30% do que é produzido pelo Estado. Os subprodutos oriundos do

esmagamento, como o óleo e o farelo de soja, apresentam destinos e participação variados

entre o consumo estadual e interestadual. O farelo de soja, por exemplo, tem como principal

destino as exportações, com representatividade de mais de 60%. Já o óleo de soja tem

destinos bastante variados. As exportações representam cerca de 18% e o consumo dos

demais estados brasileiros tem representatividade próxima a 28% da produção de óleo. Já o

consumo interno (dentro de Mato Grosso) representa mais de 34%, segundo dados do Imea,

permanecendo o resto da produção como estoque no Estado.

Além das exportações e do mercado interno, outro destino da soja em grão são os outros

estados brasileiros, que representam cerca de 15% da produção estadual.

Page 14: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

14

1.3.2 Exportação do complexo soja

Sabendo-se da grande relevância que Mato Grosso tem sobre as exportações brasileiras

de soja, é importante conhecer o destino dos principais países importadores do complexo de

soja mato-grossense, no intuito de entender a importância que cada país representa para cada

subproduto da soja.

No caso da soja em grão, o principal país importador é a China, que em 2014 participou

com cerca de 64% do total escoado por Mato Grosso, já na média dos últimos cinco anos a

participação é de 66%. Além da China, a Espanha e a Holanda também são outros dois players

importadores do grão da soja mato-grossense. Os dois representaram juntos nos últimos cinco

anos cerca de 12% da soja em grão escoada pelo Estado.

Já para o farelo de soja, a China não aparece como principal importador, mas sim a

Holanda e a Indonésia, que juntas representaram cerca de 48% das exportações de Mato

Grosso nos últimos cinco anos, em 2014 essa participação foi ainda maior, de 62%. Já para o

óleo de soja, os principais países para os quais Mato Grosso exporta são a Argélia, China e

Índia. Esses três países juntos abocanharam uma parcela de pouco mais de 70% do total

escoado pelo Estado na média dos últimos cinco anos.

Além de cada produto do complexo soja mato-grossense ter diferentes players

importadores, o volume e os principais portos de escoamento dentro do país variam também.

No caso da soja em grão, o principal ponto de escoamento é o porto de Santos, que

sozinho representa pouco mais da metade do que é embarcado pela soja do Estado. Além do

porto de Santos, os portos de Paranaguá e Manaus também são rotas de escoamento da soja

mato-grossense. Já nas exportações do farelo de soja, o porto de Santos tem uma

representatividade ainda maior, de mais de 70% em média dos últimos anos.

Nas exportações do óleo de soja, os dois principais portos são Paranaguá e Manaus, que

apresentam representatividade mais balanceada em comparação às exportações de farelo.

Paranaguá representa na média dos últimos anos cerca de 50% do total escoado de óleo pelo

Estado. Já para o porto de Manaus a representatividade média é próxima de 35%.

Mapa 4 - Destino dos produtos do complexo soja de Mato Grosso

Fonte: Secex (2015)

Page 15: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

15

Com novas rotas pelos portos do Norte do país, como é o caso de Barcarena, no Pará, a

tendência é que os portos do Sudeste e Sul do país tendem a ser mais desafogados, sobretudo

na época de safra, quando os portos como o de Santos e de Paranaguá apresentam

superlotação, dificultando o escoamento no país.

1.4 Os mercados externo e brasileiro

Nesta seção, serão trabalhados os conceitos de diferentes tipos de mercado e a

importância do mercado futuro para a soja,bem como os detalhes da principal bolsa de

mercado internacional da soja, levando em consideração as especificações dos contratos e

importância das cotações externas sobre o mercado interno da commodity.

1.4.1 Tipos de mercado

A atividade agrícola está longe de ser uma linha de produção industrial, em que o

empresário pode mais bem controlar o tempo, a quantidade e a qualidade da produção.

Conciliar uma demanda relativamente estável com uma oferta agrícola que flutua sazonal e

aleatoriamente é o principal desafio da comercialização da soja.

A escolha do mecanismo de comercialização depende das características gerais dos

produtos e, principalmente, das características das transações. Por exemplo, commodities

apresentam boa eficiência na comercialização por meio de mecanismos de mercado spot ou de

futuros, já produtos sensíveis a variações qualitativas e sujeitos a compras regulares são

eficientemente comercializados por meio de contratos de fornecimento de médio e longo

prazos.

As negociações da soja podem ocorrer em quatro grandes mercados. O mercado físico

(spot, cash ou à vista), a termo, mercado futuro e mercado de opções. Essencialmente são

esses quatro grupos de operações praticadas em todo o mundo e que são utilizadas, também,

no mercado interno.

Em suma, o mercado físico é basicamente a troca de produto físico por dinheiro, uma vez

que se trata de uma troca imediata. É também chamado de mercado disponível, cash ou spot

(este último termo normalmente utilizado em bolsas de mercadorias). No mercado à vista os

negócios realizados têm como objetivo efetuar uma compra e/ou venda imediata. Assim, a

entrega do produto e seu pagamento acontecem no mesmo instante. É característico desse

mercado ser tipicamente esporádico e apresentar alto grau de incertezas no que se refere ao

comportamento dos preços, regularidade de suprimentos e qualidade de produtos. Assim, uma

empresa que adota esse mecanismo assume um grande risco, o que pode levá-la ao

insucesso nas suas operações, em consequência das incertezas dos aspectos relacionados à

demanda e à oferta.

O mercado físico, isoladamente, não se mostra um mecanismo adequado para diversos

tipos de transações, particularmente quando a estabilidade do suprimento e de preços é

necessária, ou a qualidade dos insumos é de difícil observação. Para isso, existem outros

mecanismos mais apropriados, permitindo transações que reduzem esses riscos, como o

mercado a termo.

Page 16: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

16

O diferencial do mercado a termo em relação ao mercado físico é que as transações

ocorrem em dois ou mais instantes no tempo. São contratos em que as partes acordam alguns

elementos da transação que irão ocorrer no futuro, especificando no contrato: a mercadoria, a

data de entrega, o local, o meio de transporte, o meio de pagamento e/ou qualquer outro

elemento que comprador e vendedor desejem incorporar a ele.

Os contratos no mercado a termo apresentam grande flexibilidade de modelos de

transação. Um exemplo muito comum é a compra de soja antecipada por indústrias desse

segmento, em que, um pouco antes da semeadura ou mesmo durante o ciclo da cultura, o

agricultor pode vender sua safra para a indústria processadora por preços fixos e com

pagamento em data futura. O agricultor garante a venda de seu produto e trava o preço, já a

agroindústria consegue planejar compras e recebimentos, a fim de fazer a ocupação racional

da capacidade de processamento da sua planta industrial.

O grande problema desse mecanismo é o risco de não cumprimento do contrato por uma

ou ambas as partes. Mesmo o contrato tratando de obrigações entre as partes, isso não as

impede de agirem com atitudes oportunistas, por outro lado, nesse mercado o produtor não

precisa retirar dinheiro do seu caixa para fechar contrato.

Da evolução dos contratos a termo resultou a formação dos mercados de futuros, que é

um pouco mais complexo que o mercado a termo. O que os diferencia são os contratos

padronizados e negociados em bolsas organizadas, não permitindo a inclusão de cláusulas por

parte de compradores e vendedores. Os contratos futuros especificam apenas o período para

entrega, o lugar, lotes padrão, e o objeto transacionado, sendo este mercado restrito somente a

commodities com contratos padronizados registrados nas respectivas bolsas de mercadoria e

futuro, como é o caso da soja.

Ao se comprar ou vender um contrato, não é necessária a inspeção do produto ou

avaliação da possibilidade de cumprimento do contrato, uma vez que este é assegurado pela

instituição responsável pela transação, que no caso brasileiro é a BM&F.

Outra característica importante do mercado futuro é o fato de uma minoria dos contratos

(menos de 2%) resultarem em entrega efetiva da mercadoria. Na maior parte dos contratos

ocorre liquidação financeira (a posição é revertida) antes da data de entrega, não necessitando

assim realizar a entrega física no local acordado. O objetivo de um contrato futuro é apenas a

redução de riscos, característicos das transações no mercado físico. O mercado futuro permite

essa redução de risco que é conhecida como hedge, que é uma operação de “travamento” de

preço para uma data futura.

Intimamente relacionado ao mercado futuro existe o mercado de opções, que são

contratos que asseguram o direito de exercício de uma compra ou de uma venda de algum

ativo. Pode ser um ativo físico (como mil toneladas de soja) ou um contrato futuro. No caso

das principais bolsas, as opções negociadas são direitos de compra ou de venda de contratos

futuros.

Na medida em que há uma separação de direito e obrigação de compra e venda, há dois

tipos de opções: opções de compra (Call), e opções de venda (Put). No primeiro caso, o

comprador da opção tem o direito de compra de um determinado contrato futuro a um preço

preestabelecido, enquanto o vendedor tem a obrigação de venda, se este for o desejo do

Page 17: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

17

comprador. O inverso ocorre no caso de uma opção de venda, em que o comprador tem o

direito de venda e o emitente da opção, a obrigação de compra.

A ligação entre mercado de opções e uma estratégia de hedge é bastante evidente. Por

exemplo, um agricultor, que está sujeito ao risco de queda do preço de seu produto, pode

comprar uma Put (direito de venda) daquela mercadoria a um preço de exercício que remunere

seus custos. Assim, se houver uma queda dos preços, o agricultor pode exercer o direito de

vender seu produto pelo preço predeterminado, garantindo a cobertura de seus custos de

produção. Do mesmo modo, uma agroindústria, sujeita ao risco de uma elevação do preço de

seus insumos, pode comprar uma Call (direito de compra) a um preço de exercício

preestabelecido. O valor desse direito, tanto da Call quanto da Put, possui variações de preço

relacionadas ao tempo de vencimento do ativo e riscos do mercado.

1.4.2 Bolsa de Chicago (CBOT)

A Bolsa de Mercadorias de Chicago (CME, sigla em inglês) aparece como a principal

referência para os preços internacionais da soja. Isso porque, na Bolsa de Chicago, há uma

alta concentração de ofertantes e demandantes dos principais países produtores e

importadores da oleaginosa. Assim, os preços internos da soja possuem uma relação muito

próxima com o referencial do mercado futuro (Bolsa de Chicago).

Pode-se entender mercado futuro como um mercado no qual são realizados negócios de

compra e venda por meio de contratos uniformes, podendo ser tanto agrícolas quanto

financeiros, e sua entrega ou liquidação se dá em data futura já estabelecida no contrato

firmado pelas partes.

Os contratos futuros têm como características:

Vendedor tem a obrigação de entregar a mercadoria dentro dos padrões do contrato,

ou fazer liquidação financeira (grande maioria dos casos).

Comprador tem a obrigação de pagar o valor negociado.

Padronização acentuada.

Liquidez.

Risco de crédito baixo e homogêneo, isto é, risco da “clearing” ou compensação.

Negociação transparente em bolsa mediante pregão.

Bolsa e instituições envolvidas garantem a execução e liquidação dos contratos.

Possibilidade de encerramento da posição com qualquer participante em qualquer

momento, graças ao ajuste diário do valor dos contratos.

A escolha da Bolsa de Chicago como referência mundial se dá pela alta concentração da

oferta e da demanda dos principais países produtores e importadores neste mercado. Além

disso, é a bolsa mais antiga do mundo, fundada em 1848, sendo uma referência consolidada

no mercado.

Quando se está negociando no mercado futuro, compra-se ou vende-se por um preço à

vista, mas para uma data futura expressa no contrato. Com isso surge o preço futuro, que é o

preço à vista mais as expectativas dos agentes em relação aos fatores que afetam o preço

futuro, como: custo, demanda e oferta, exportações, preço dos bens substitutos, câmbio, clima,

Page 18: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

18

sazonalidade (safra e entressafra), poder aquisitivo, atitudes dos compradores internacionais e

também os juros.

O objetivo de operar no mercado futuro é fixar um preço futuro, essa forma de operar é

chamada de hedge, livrando-se das oscilações do preço e com isso protegendo o resultado do

seu negócio. Além disso, torna-se possível realizar outros tipos de operações neste mercado,

como é o caso dos especuladores que visam ganhar com a oscilação do mercado e os

arbitradores que ganham com as diferenças de preços que ocorrem entre mercados. Estes três

tipos de operações vão ser detalhados no decorrer do capítulo.

Para realizar uma operação no mercado futuro deve-se abrir uma conta numa corretora

afiliada à Bolsa de Mercadorias pretendida (BM&F ou CBOT). Nos sites das bolsas existem

listas de corretoras afiliadas, as quais podem ser procuradas para a abertura da conta.

Este processo inicial, geralmente, não possui nenhum custo. Após a abertura da conta o

cliente poderá acessar o Home Broker ou uma plataforma de negociação. Através destas

ferramentas, o cliente poderá acompanhar momentaneamente as negociações nas Bolsas de

Mercadorias. Porém, para realizar alguma operação através destas ferramentas, o cliente

deverá depositar uma margem de garantia na sua conta na corretora escolhida. Mais detalhes

sobre a margem de garantia serão abordados adiante.

No caso da Bolsa de Chicago (CBOT), os contratos futuros da soja são patronizados,

possuindo uma estrutura previamente definida por regulamentação da bolsa. Nesta

padronização, há características predefinidas do produto negociado, no caso, a soja, como a

cotação, data de vencimento, tipo de liquidação, dentre outras especificações.

As especificações dos contratos da soja na CBOT estão listadas no quadro abaixo:

Quadro 1 - Especificações dos contratos da soja na CBOT

Fonte: CME Group

Page 19: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

19

O site da CME Group (http://www.cmegroup.com) traz informações mais detalhadas

sobre a padronização dos contratos futuros.

1.4.3 Especificações da Bolsa de Chicago

Antes de realizar uma negociação na CBOT é necessário conhecer os códigos dos

produtos listados na bolsa. Esses códigos deverão ser inseridos no Home Broker ou na

plataforma de negociação.

Figura 2 - Composição dos códigos da soja na CBOT

Fonte: CME Group - Elaboração: Imea

Por exemplo:

Quem for fazer uma negociação de soja na CME Group para vencimento em março de

2016, qual é o código que deverá ser utilizado no Home Broker ou na plataforma?

ZS, que identifica um contrato de soja;

H, o mês de vencimento, que é março;

6, o ano de vencimento do contrato (2016);

Portanto o código do produto fica ZSH6.

1.4.4 Cotação internacional no mercado interno

Nesta seção será realizado um exemplo básico de conversão dos preços da Bolsa de

Chicago para o mercado interno, considerando o preço interno no porto.

Apesar de a soja ser colhida, transportada e armazenada a granel, o seu preço de

referência no mercado interno é a saca de 60 kg.

Mês Código

Janeiro F

Março H

Maio K

Julho N

Agosto Q

Setembro U

Novembro X

ZS X 5

Código na CBOT

Mês de Vencimento

Ano

Código na Bolsa de Chicago

Unidade: Cents de US$ por Bushel

Page 20: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

20

Já no mercado internacional (Bolsa de Chicago) a soja é baseada em bushel não em

sacas, ou quilos, ou toneladas. O bushel é uma unidade de medida de volume equivalente a

um cesto utilizado pelos indígenas nas trocas de produtos. O seu peso específico varia para

cada tipo de grão, assim, o peso de um bushel é variável. No caso da soja, um bushel pesa

27,215 kg.

Neste sentido, temos que converter o preço de bushel de soja em quilo para sabermos o

preço de uma saca ou de uma tonelada do produto, e depois ainda converter o preço de dólar

para reais.

Como as cotações da soja em grão na CBOT possuem a unidade de centavos de dólar

por bushel (¢US$/bushel), deve-se primeiramente dividir o valor cotado na bolsa por 100 para

verificar o valor da cotação em dólar por bushel (US$/bushel). Posteriormente, converter de

dólar para reais, para então se ter o preço em reais por bushel, e então se converte para saca.

Sabendo-se que 1 bushel corresponde a 27,216 kg, para saber quanto que uma saca de

soja de 60 kg corresponde em bushel, basta dividir-se o valor de bushel em kg, que

correspondente a 27,216, pelo valor de uma saca, que corresponde a 60, assim, dividindo-se

27,216 por 60, tem-se que um bushel de soja corresponde a 2,2046 sacas.

Com isso, basta multiplicar o valor da cotação a ser considerada na Bolsa de Chicago

(bushel) por 2,2046 para se ter o valor em saca (de 60 kg).

Para que fique mais claro o entendimento, realizamos uma equação simples de

conversão do preço da soja cotado na Bolsa de Chicago para o mercado brasileiro.

Por exemplo:

US$¢ 984,50/bushel ÷ 100 (para tirar de cents) US$ 9,8450/bushel

US$ 9,8450/bushel × 2,2046 (para transformar de bushel para saca de 60 kg) US$

21,70/sc

US$ 21,70/sc × 3,15 (para transformar de dólar para saca) R$ 68,47/sc

Cabe salientar que os preços da soja e do dólar considerados no exemplo acima são

hipotéticos, sendo utilizados apenas para o entendimento do cálculo de conversão.

1.4.5 Especificações da BM&F

A Bolsa de Mercadorias e Futuros surgiu pela união de bolsas paulistas: a Bolsa de

Mercadorias de São Paulo e a Bolsa Mercantil de Futuros.

A Bolsa de Mercadorias de São Paulo (BMSP) foi criada por empresários paulistas,

ligados à exportação, ao comércio e à agricultura, em 1917. Foi a primeira no Brasil a trabalhar

com operações a termo (compra e venda sob condição de entrega e pagamento futuro).

Alcançou, com o tempo, grande experiência na negociação de contratos agropecuários,

particularmente café, boi gordo e algodão. A liquidez para contrato de soja, entretanto,

apresenta-se menor que para os contratos agropecuários elencados anteriormente.

Page 21: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

21

Para realizar uma operação no Mercado Futuro da BM&F deve-se abrir uma conta em

uma corretora afiliada à bolsa, assim como na CBOT. Nos sites das bolsas existem listas de

corretoras afiliadas, as quais podem ser procuradas para a abertura da conta.

Este processo inicial, geralmente, não possui nenhum custo. Após a abertura da conta o

cliente poderá acessar o Home Broker ou uma plataforma de negociação. Através destas

ferramentas, o cliente poderá acompanhar momentaneamente as negociações nas Bolsas de

Mercadorias. Porém, para realizar alguma operação através destas ferramentas, o cliente

deverá depositar uma margem de garantia na sua conta na corretora escolhida.

Antes de realizar uma negociação na BM&F é necessário conhecer os códigos dos

produtos listados nas bolsas. Esses códigos deverão ser inseridos no Home Broker ou na

plataforma de negociação que você possuir. Os códigos da soja na BM&F estão contidos na

figura abaixo:

Figura 3 - Composição dos códigos da soja na BM&F

Fonte: BM&FBOVESTA - Elaboração: Imea

Assim como na Bolsa de Chicago, os contratos da soja na BM&F também são

padronizados, ou seja, possuem estrutura previamente definida por regulamentação de bolsa,

estabelecendo todas as características do produto negociado, como cotação, data de

vencimento, tipo de liquidação e outras.

As especificações dos contratos de soja na BM&F estão listadas no quadro abaixo:

Mês Código

Março H

Abril J

Maio K

Junho M

Julho N

Agosto Q

Setembro U

Novembro X

SFI K 15

Código na BM&F

Mês de Vencimento

Ano

Código na BM&FBOVESPA

Page 22: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

22

Quadro 2 - Especificações dos contratos da soja na BM&F

Fonte: BM&FBOVESPA

O site da BM&FBovespa (http://www.bmfbovespa.com.br) traz informações mais

detalhadas sobre a padronização dos contratos futuros.

Além das taxas de corretagem também são cobradas outras taxas pela bolsa, como os

emolumentos, taxa de registro, taxa de liquidação, taxa de permanência, dentre outros. Porém,

o custo mais expressivo fica por conta da taxa de corretagem.

1.5 Como se formam os preços no mercado interno

Há vários tipos de mercado onde podem ocorrer as negociações da soja. A formação do

preço interno da oleaginosa possui uma estreita relação com o referencial da Bolsa de Chicago

(CBOT). O preço doméstico depende também de descontos, ou acréscimos, do prêmio de

exportação e dos custos de movimentação do produto na área produtora para o porto.

Somando-se a isso o dólar comercial, frete e outras variáveis impactam também

consideravelmente no mercado doméstico. Neste sentido, esta seção tem como objetivo

analisar os tipos de mercados da soja, bem como variáveis que apresentam grande relevância

para a formação do preço da soja no mercado interno, mais precisamente, em Mato Grosso.

1.5.1 Prêmio de exportação

Definida a cotação da soja no mercado externo, a qual é tomada na Bolsa de

Mercadorias de Chicago (CBOT), este valor deve ser comparado com o preço dentro do navio,

no porto onde será feita a exportação, ou seja, preço FOB (free on board) da soja. A diferença

entre estes valores é definida como prêmio de exportação.

Os prêmios de exportação sobre as cotações da soja nos portos correspondem também

às leis de oferta e demanda e são formados a partir dos preços nos portos, pelos exportadores

e importadores, segundo a origem e o destino da mercadoria, fretes marítimos, dentre outros

fatores. Com uma oferta de soja muito elevada após a colheita, os preços do frete tendem a se

Código SFI

Cotação Dólares por saca de 60 kg.

Unidade de Negociação 450 sacas

Meses de Vencimento Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. e Nov.

Data de Vencimento Segundo dia útil anterior ao mês de vencimento.

Corretagem Normal 0,30%.

Corretagem Day Trade 0,07%.

Liquidez 1 em 1 contrato.

Cálculo de Volume Cotação x Dólar x 450 x Número de contratos.

Horários Pregão 9 às 15:00 – After 15:35 às 18:00.

Page 23: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

23

elevar, enquanto os prêmios de exportação podem realizar o caminho inverso e ficarem mais

baixos, em algumas vezes até negativos.

O prêmio leva em consideração a origem e o destino do produto exportado, a qualidade,

a oportunidade, o frete marítimo, a demanda, o câmbio e a eficiência do porto exportador. O

mercado monitora esses fatores e aplica esse prêmio à cotação da Bolsa de Chicago (CBOT).

Se as condições são favoráveis no porto exportador o prêmio recebe ágio. Já se forem

desfavoráveis o prêmio será negativo, ou seja, com deságio.

Assim, o valor do prêmio varia de acordo com o porto a ser escoado o produto. Com isso,

o prêmio pago no porto de Paranaguá-PR, por exemplo, é diferente do prêmio pago no porto

de Santos-SP. Além desta variação portuária, a sazonalidade do prêmio nos portos, as

negociações do prêmio são contínuas ao longo do ano e estão vinculadas à realização de

contratos de exportação, nos quais é estabelecido somente o volume exportado. Como os

principais agentes envolvidos na negociação do prêmio estão as cooperativas exportadoras de

grãos, indústrias, tradings, corretoras de prêmio e empresas importadoras finais.

Usualmente, no período de entressafra brasileira os prêmios tendem a ser positivos e

elevados. Já no período de colheita, os prêmios se tornam reduzidos, chegando a ficar

negativos em portos de maior movimentação. Esta sazonalidade se dá devido à quantidade de

produto ofertado no porto, a qual reduz consideravelmente no período de entressafra. Logo,

geralmente quanto maior o volume de transação (exportação) no porto, menor será o prêmio

de exportação, e vice-versa.

Assim, o prêmio de exportação pode ser considerado como uma variável de ajuste na

negociação internacional que leva em conta a origem e o destino do produto exportado, a

qualidade e a oportunidade do produto e do porto. A inclusão desta variável de ajuste na

negociação internacional procura ajustar o preço pago ao produtor com o valor internacional do

produto. Com isso, a tendência de preços do produto no mercado interno segue a mesma

verificada no mercado internacional.

1.5.2 Custos portuários

Os custos portuários são aqueles incorridos, de forma direta ou indireta, nos portos, com

o intuito de iniciar as exportações ou concluir as operações de importação de produtos e

mercadorias (AMARAL et al., 2013).

Os custos diretos são aqueles relacionados à utilização dos equipamentos e instalações

portuárias terrestres ou marítimas, embarques e desembarques de cargas, despachos

aduaneiros, taxas e impostos, e a “demurrage”, que leva em consideração o tempo de espera

da carga no porto.

Já os custos indiretos incorridos nos portos compreendem as despesas relacionadas à

contratação dos serviços de praticagem, rebocadores, agências marítimas, atracação e

desatracação, faróis, vigias, transporte de tripulação, dentre outros.

Ainda segundo Amaral et al., 2013, nem todos os portos possuem as mesmas despesas

portuárias, pois variam dependendo das dificuldades operacionais, bem como capacidade

logística, infraestrutura do porto. Para a utilização dos portos há três principais tipos de gastos:

Page 24: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

24

As taxas portuárias, referentes à utilização da infraestrutura portuária e utilização de

infraestrutura terrestre do porto.

O custo de oportunidade de estoques no caminhão em virtude das filas e demora no

momento do descarregamento da mercadoria.

A remuneração por estadia, que leva em consideração a utilização do armazém no porto.

1.5.3 Frete ao porto

No Brasil, algumas regiões produtoras se desenvolveram distantes dos principais portos

utilizados no processo de exportação, como é o caso de Mato Grosso. Com isso, o custo do

transporte da carga da região produtora até o porto é significativo no processo de formação de

preço da soja no mercado interno, pesando sobre o bolso do produtor. Este custo varia

conforme a distância e tipo de modal utilizado, se tornando maior à medida que aumenta a

distância percorrida.

A formação do preço do frete é bastante complexa e incorpora também fatores locais e

conjunturais, além dos custos da atividade, podendo ser influenciada por fatores diretos e

indiretos (CYPRIANO, 2005).

Fatores Diretos: são influenciados através de eventos que fazem variar a demanda pelo

serviço.

Por exemplo:

A performance da economia.

Algumas estratégias empresariais, como localização, gestão da produção, política de

estoques e centralização de armazéns.

Acordos internacionais de comércio, como o Mercosul, por exemplo.

Materiais para embalagens.

Fluxos reversos (por exemplo, com a finalidade de reciclagem).

As estruturas de mercado da oferta e da demanda do bem transportado.

Fatores Indiretos: fatores que afetam os custos da prestação dos serviços (CYPRIANO,

2005). Por exemplo:

A regulação/desregulação.

Variação nos preços dos combustíveis.

Inovações nos veículos e compartimentos de carga.

Congestionamentos.

Limites de peso para a circulação.

Além disso, há sazonalidade no valor deste frete, pois se torna maior no período da safra

brasileira de soja. Nas regiões produtoras de Mato Grosso há um déficit na armazenagem,

assim há a necessidade do escoamento rápido da produção para os portos de exportação e

para as indústrias esmagadoras de soja. Este escoamento eleva a demanda por serviços de

transporte e gera um aumento nos preços relativos a estes serviços. Além disso, a

necessidade de caminhões fica maior, devido ao frete da fazenda até os armazéns.

Page 25: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

25

No Brasil, assim como em Mato Grosso, o modal de transporte mais utilizado é o

rodoviário, o que torna o custo do frete da soja bastante elevado, sobretudo nas regiões mais

afastadas dos principais portos.

Em Mato Grosso, o aumento do fluxo de escoamento pelos portos do Norte, a exemplo

do porto de Barcarena, no Pará, que começou suas atividades em 2014, está sendo capaz de

reduzir a superlotação dos portos do Sudeste e Sul do país, a exemplo do de Santos e de

Paranaguá. Além deste fator, a ferrovia até Rondonópolis também foi um fator muito importante

para diminuição do gargalo logístico, pois reduziu o tempo que o caminhão percorre até a

chegada ao terminal, o que refletiu já nos custos dos fretes rodoviários, que atingiram valor

menor em 2015 durante o pico de safra da soja em março se comparado ao da safra 2013/14.

1.5.4 Cotação interna

O cálculo do preço da soja é realizado no ato da negociação com o vendedor, de acordo

com as cotações de Chicago e a taxa de câmbio daquele momento, mas não necessariamente

no momento da entrega e por outros fatores, como demanda interna para esmagamento.

O preço da soja a ser pago ao produtor envolve as seguintes variáveis:

Cotação da soja na CBOT com vencimento do dia da negociação, cotado em cents de dólar

por bushel.

Prêmio praticado no porto no dia da negociação, valor este influenciado pela força da oferta

e demanda no mercado interno, pelo frete marítimo e diferencial de porto.

Custos portuários.

Custo com o frete rodoviário.

Para exemplificar consideremos os seguintes dados para o cálculo do preço da soja

disponível em Sorriso:

Cotação da soja em Chicago: US$ 978,50 cents/bushel

Prêmio no porto de Santos: + US$ 43,00 cents/bushel

Custo portuário (base, porto de Santos) para Sorriso: US$ 15,00/tonelada

Dólar comercial no disponível: R$ 3,15/US$

Frete rodoviário de Sorriso a Santos: R$ 295/tonelada

CONVERSÕES

Lembrando que: 1 bushel = 27,214 kg

1 saca (sc) = 60 kg

1 saca (sc de 60 kg) = 2,2046 bushel

1 tonelada = 16,666 sacas (60 kg)

Page 26: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

26

Antes de realizar o cálculo para a obtenção da cotação interna, devem-se fazer as

conversões das variáveis para facilitar o cálculo, assim, as variáveis mencionadas devem

apresentar os seguintes valores já convertidos para a unidade adequada:

(1) Cotação da soja na CBOT: US$ 21,57/sc

(÷ 100 para tirar de cents de bushel e passar para bushel, e, × 2,2046 para converter de

bushel para saca)

(2) Prêmio do porto: + US$ 0,90/sc

(÷ 100 para tirar de cents de bushel e passar para bushel, e, × 2,2046 para converter de

bushel para saca)

(3) Custo portuário em Santos: US$ 0,90/sc

(÷ 16,666 para transformar de toneladas para saca)

(4) Dólar comercial: R$ 3,15/US$

(5) Frete rodoviário de Sorriso a Santos: R$ 17,70/sc

(÷ 16,666 para transformar de toneladas para saca)

Depois de fazer as conversões necessárias, pode-se realizar o cálculo, conforme a

equação abaixo, em que cada variável está sendo simplificada pela numeração dada acima:

((((1 + 2) − 3) ∗ 4) − 5)

Desta forma, conforme a equação acima, deve-se somar o preço da soja da CBOT com o

prêmio no porto, o resultado deve ser reduzido pelo custo portuário. Logo após, deve-se

multiplicar o valor obtido pelo dólar para converter as variáveis de dólar para reais e, em

seguida, o resultado deve ser reduzido do frete rodoviário. Assim, no exemplo dado, a cotação

interna em Sorriso teria um valor de R$ 50,37/sc.

1.6 Principais rotas de escoamento da soja no Estado

O Brasil atualmente é o segundo maior produtor mundial de soja, com um grande

potencial de expansão e crescimento da cultura no país. No entanto, o desenvolvimento

produtivo deve estar acompanhado com a melhoria da infraestrutura logística das grandes

regiões produtoras, a fim de permitir o processo adequado de escoamento da produção

agrícola, uma vez que as condições logísticas de escoamento do produto ao mercado externo

é fator determinante para a competitividade do Brasil no cenário internacional.

Mato Grosso, o principal Estado produtor de soja do país, enfrenta há muito tempo

gargalos logísticos no que tange à armazenagem, rotas e modais utilizados para o transporte

do produto. Atualmente, segundo dados de maio de 2015 da Conab, o Estado possui

capacidade estática de armazenagem próxima a 31 milhões de toneladas. Com este volume, o

déficit logístico, de acordo com o espaço adequado de armazenamento recomendado pela

FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), estaria próximo a 24

milhões de toneladas, levando em consideração a produção de soja e milho na safra 2014/15.

Page 27: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

27

Além da falta de estrutura para a armazenagem, o Estado enfrenta ainda dificuldade

logística para transporte da safra para a exportação. O mercado externo representa mais da

metade do destino da produção da soja do Estado, as dificuldades logísticas de escoamento da

safra acabam, portanto, não só elevando os custos de transporte, como também reduzindo a

competitividade do Estado frente a outros polos exportadores da oleaginosa, a exemplo dos

Estados Unidos e a Argentina.

Apesar da utilização de três modais de transporte para escoamento da soja no Estado, o

principal deles é o rodoviário, que seria mais indicado para transporte de pequenas distâncias,

visto que apresenta um alto custo variável, fato este que não é observado em Mato Grosso,

que possui distâncias de Sorriso ao porto de Santos próximas a 2.000 km, por exemplo, com

outras regiões podendo apresentar distâncias ainda maiores. Assim, este modal não é o mais

indicado para o transporte de grãos não só em Mato Grosso como em outros estados

brasileiros, já que a soja tem um baixo valor agregado, e principalmente em Mato Grosso, que

possui longas distâncias a serem vencidas até que o produto chegue aos portos, onerando

assim o bolso do produtor rural.

Mapa 5 - Principais vias de escoamento no Brasil

Fonte: Imea

Diante da grande importância das rotas de escoamento sobre a competitividade do

Estado no cenário mundial de comercialização da soja, esta seção analisará as diferentes

formas de escoamento da soja mato-grossense.

Rodovias

Ferrovias

Hidrovias

Page 28: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

28

1.6.1 Hidroviário

Mato Grosso, por estar localizado longe do litoral e consequentemente dos portos,

apresenta alternativa reduzida de escoamento via hidrovia. O único utilizado atualmente é o

transporte rodo-hidroviário para escoar a produção do norte do Estado, utilizando a BR-364 até

Porto Velho-RO e posteriormente a hidrovia do Rio Madeira até Itacoatiara-AM.

Em termos de estrutura de transporte da soja, os três principais países exportadores

(EUA, Brasil e Argentina) apresentam uma grande heterogeneidade. A participação do

transporte hidroviário é muito pequena no Brasil e na Argentina, enquanto que nos EUA cerca

de 61% do escoamento dos grãos é realizado através de hidrovias, segundo dados da

Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) de 2013. Dessa forma, a

competitividade brasileira no mercado externo é prejudicada, em virtude de o modal hidroviário

apresentar um menor custo relativo para o transporte de grãos a longas distâncias.

O transporte hidroviário é o ideal para o transporte de cargas volumosas de baixo valor

agregado, e é o mais indicado para movimentações em longas distâncias, visto que consome

menos combustível em condições semelhantes de carga e distância, pois um conjunto de

barcaças consome menos da metade do combustível requerido por um comboio ferroviário. A

redução do preço do frete resultaria no aumento da receita líquida do produtor.

O investimento em hidrovias como forma de escoamento da safra não só mato-

grossense, como também brasileira, possibilitaria a redução do custo e maior competitividade

do mercado e do produto brasileiro. A exemplo disso está a hidrovia Paraguai-Paraná, com

início no município de Cáceres, a 204 km de Cuiabá. A hidrovia, que ainda possui etapas a

serem realizadas para o pleno funcionamento do escoamento de cargas, ligaria Mato Grosso

até os portos de Rosário, na Argentina, e Nueva Palmira, no Uruguai, em um trajeto próximo a

3.400 km, levando produtos com um custo bem mais barato rumo ao Oceano Atlântico.

Além deste há ainda em Mato Grosso outro projeto para a construção de um outro

corredor hidroviário, o da Araguaia-Tocantins, com 2.115 km, o maior em extensão. Na parte

mato-grossense, a hidrovia sairia da cidade de Nova Xavantina, a 651 km da capital.

Page 29: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

29

Mapa 6 - Principais vias potenciais de escoamento por hidrovia em Mato Grosso

Fonte: Imea

Os custos do transporte hidroviário correspondem aproximadamente à metade dos

custos associados ao transporte ferroviário e a menos de um terço dos custos incorridos para o

transporte através do modal rodoviário. Para se ter uma ideia, dados de 2014 do USDA

apontam que o custo com o frete por hidrovias em Illinois até o porto de Nova Orleans, nos

EUA, é próximo a US$ 18,00/tonelada, contra o custo próximo a US$ 100,00/tonelada de

Sorriso a Santos, através do modal rodoferroviário.

Além das inúmeras vantagens ambientais e econômicas, com o modal hidroviário mais

eficiente, seria possível viabilizar o crescimento e o surgimento de parques agroindustriais em

regiões hoje pouco exploradas. Diante da existência de demanda reprimida pelo uso do modal

hidroviário, se fazem necessários investimentos em infraestrutura logística em várias hidrovias

brasileiras que carecem de maiores recursos.

1.6.2 Ferroviário

O modal ferroviário também é uma boa opção de escoamento, visto que permite o

transporte de grandes volumes. Por possuir altos custos fixos e custos variáveis relativamente

baixos, é adequado a Mato Grosso por possuir longas distâncias entre o Estado e portos como

o de Santos e Paranaguá, podendo, assim, reduzir os custos de frente de grãos. No entanto,

possui entraves relacionados à concessão da ferrovia e pelas longas filas de espera dos

caminhões nos pátios de transbordo.

Atualmente, o principal trecho por ferrovia em Mato Grosso que leva a soja até o porto de

Santos, acompanhado por intermodalidade rodoferroviário, é através da ferrovia Ferronorte,

que possui uma extensão de 1507 km de Rondonópolis-MT até Santos-SP.

Page 30: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

30

Mapa 7 - Principais vias de escoamento via ferrovia de Mato Grosso

Fonte: Imea

Segundo dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT), o custo por tonelada de

soja transportada entre Mato Grosso e o porto de Itaqui, no Maranhão, utilizando apenas o

modal ferroviário, é próximo a R$ 150,00. Enquanto isso, a utilização do sistema rodoviário, até

o porto de Paranaguá, custa em média R$ 240,00/t.

Percebe-se que o país necessita de rotas alternativas para o escoamento da safra

destinada à exportação. As ferrovias são eficientes porque movimentam grandes tonelagens

por longas distâncias a um custo menor. Esse ganho de eficiência depende necessariamente

de investimentos em infraestrutura de transporte e da construção de novos trechos.

1.6.3 Rodoviário

Apesar de ser o Estado com maior produção de soja do país, Mato Grosso possui um dos

piores sistemas de transportes do grão do Brasil. A maior parte da soja mato-grossense é

escoada ainda através de um modal rodoviário, por estradas federais e estaduais. As principais

rodovias utilizadas para o escoamento da soja são a BR-163 e a BR-364.

As condições das rodovias utilizadas para o escoamento de grande parte da commodity

não são suficientemente adequadas, levando em consideração a importância da exportação de

soja mato-grossense. Dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT) de 2014,

apontam que a grande maioria das estradas mato-grossenses é considerada regular. Do total

de 14.745 km de malha rodoviária federal em Mato Grosso, apenas 642 km estão classificados

OBRAS CONCLUÍDAS

OBRAS IMCOMPLETAS

Page 31: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

31

como ótimos, 3.881 km em boas condições, 6.685 km em condições regulares, 2.818 km em

condições ruins e 719 km em péssimo estado, o que prejudica ainda mais a etapa de

comercialização da soja, e competitividade não só do Estado como do Brasil.

O custo de transporte da soja no norte de Mato Grosso até os portos é três vezes

superior ao frete pago pelos produtores do Estado americano de Iowa, por exemplo. Os

produtores que estão em Sorriso-MT, que fica a 2.282 km do porto de Paranaguá-PR, têm um

custo de US$ 97 por tonelada de soja transportada por rodovia. Já os produtores de Iowa, que

estão a 1.576 km do porto, gastam US$ 33,98 por tonelada, dos quais US$ 10,09 são

despesas com o frete do caminhão até os terminais no Rio Mississippi e mais US$ 23,89 com o

da barcaça que transporta a mercadoria até o Golfo do México.

Além disso, ao se compararem as formas de transporte utilizadas no Brasil e na

Argentina, percebe-se que as participações das rodovias são mais elevadas no país vizinho.

Cerca de 80% dos transportes da Argentina são realizados por rodovias, contra 60% no Brasil.

No entanto esta diferença deve ser relativizada, pois as áreas produtoras de soja na Argentina

encontram-se mais próximas dos portos, cerca de 250 a 300 km de distância. Sendo assim, o

país vizinho pode ser comparado ao Paraná, com logística de transporte e distância dos portos

similares, no entanto, Mato Grosso apresenta realidade bastante diferente, com uma distância

média próxima a 2.000 km dos portos do Sul e Sudeste do país.

Além da grande distância para chegar até os portos, o cenário logístico de Mato Grosso é

agravado pelo mau estado de conservação das suas rodovias e pelo congestionamento nas

rotas para os portos no período de safra, mesmo que a infraestrutura dos portos, como Santos-

SP, venha apresentando melhora nos dois últimos anos, ainda não é completamente

estruturado.

Em época de safra, os custos com o frete rodoviário, de Sorriso-MT até o porto de

Santos-SP, por exemplo, chegam a representar mais de 30% do valor da oleaginosa,

impactando significativamente sobre o bolso do produtor mato-grossense.

Não se pode deixar de considerar outras possibilidades de escoamento da soja que não

foram objeto de nossa análise, pois a soja plantada no norte de Mato Grosso pode ser

transportada pelo Rio Madeira até o Rio Amazonas e do porto de Manaus ser embarcada para

o exterior, e que atualmente, mesmo com o escoamento pelo porto de Barcarena-PA, o volume

ainda é bastante reduzido, possuindo custos ainda muito elevados, pois as rodovias que

atravessam o Estado até chegar em Miritituba e/ou Santarém-PA apresentam ainda condições

ruins, pois existem trechos a serem pavimentados, pontes a serem finalizadas, além de os

trechos rodoviários que não estão pavimentados não apresentarem sequer condições de

trafegabilidade, principalmente no período chuvoso.

Page 32: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

32

Mapa 8 - Principais vias de escoamento via rodovia de Mato Grosso

Fonte: Imea

1.7 Paridade de exportação e sua importância

Com já foi visto, por a soja mato-grossense ser um produto de grande comercialização

externa, é esperado que a formação do seu preço doméstico resguarde uma estreita relação

com a bolsa de mercadoria e futuros que reflete a demanda e oferta mundial, que no caso da

soja corresponde à CBOT (Chicago Board of Trade).

Assim sendo, esta seção irá analisar o que é a paridade de exportação da soja, bem

como a sua importância e a forma de ser calculada.

1.7.1 O que é e para que serve a paridade de exportação

O preço da paridade de exportação da soja pode ser considerado uma espécie de

internalização dos preços, pois equipara as cotações internacionais às regiões produtoras do

Estado. Assim, é calculado o custo de exportação da soja mato-grossense com base nos

preços a partir do mercado externo e os custos de escoamento interno, visando identificar se,

eventualmente, as condições estão mais ou menos benéficas para a exportação da oleaginosa

estadual.

A paridade de exportação da soja depende de vários fatores dentro do processo de saída

da oleaginosa da região produtora até a colocação dela no navio. Todo este processo de

Page 33: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

33

obtenção do preço na região produtora é chamado de internalização do preço, ou como é mais

conhecido, como a paridade de exportação.

Os preços em Mato Grosso guardam relação direta com os internacionais e são

praticados em estreita sintonia com a Bolsa de Chicago, o que reflete a grande importância das

exportações como destino da produção. Esta paridade influi diretamente no preço recebido

pelo produtor mato-grossense, pois as trades se utilizam desta ferramenta para o cálculo e a

definição do limite de preço que pode ser pago ao produtor.

Assim, compreende-se que, ao efetuar o procedimento de internalização do preço, o

produtor ou a empresa compara o preço da sua commodity ao estabelecido no mercado

externo. A razão pela qual um país exporta ou importa um dado produto pode ser explicada

parcialmente por meio da paridade de preço, ou seja, a relação entre a cotação externa

internalizada e o preço doméstico do produto. Nesse sentido, a paridade de preço passa a

influir diretamente no preço que o produtor da commodity agrícola recebe, pois, os agentes

internalizam a cotação internacional para estabelecer o limite de preço que podem pagar pelo

produto no mercado interno.

O cálculo do preço de paridade de exportação é bastante semelhante ao cálculo

realizado no item 1.5.5, que visava encontrar o preço da cotação interna com base na cotação

da soja na Bolsa de Chicago. A principal diferença entre o preço da cotação interna para o

preço de paridade de exportação são os contratos utilizados. Enquanto que na cotação interna,

se a negociação é realizada no disponível, o contrato a ser considerado para todas as variáveis

(soja na CBOT, dólar, prêmio, despesas portuárias, frete) devem ser o disponível.

Já para a paridade de exportação, geralmente se faz para uma data futura, assim, o

contrato considerado para as variáveis deve ser futuro.

No caso da paridade de exportação realizada pelo Imea, considera-se o contrato futuro

de março, pois, sabendo-se que em março grande parte da soja mato-grossense já está

colhida, esse contrato que expressa a safra de soja do Estado.

De tal modo, a partir de março de cada ano, observam-se as variáveis de março do ano

seguinte. Por exemplo: em janeiro de 2015, a paridade de exportação realizada pelo Imea era

para março de 2015, assim as variáveis analisadas (soja na CBOT, dólar, prêmio, despesas

portuárias, frete) eram todas para março de 2015. Já em maio de 2015 a paridade a ser

analisada é a de março de 2016, uma vez que março de 2015 já ocorreu. Assim, todas as

variáveis devem apresentar cotações para o contrato futuro, de março de 2016.

1.7.2 Como se calcula a paridade de exportação

A formação do preço de paridade da soja depende da cotação internacional da

oleaginosa, tendo como base os preços na CBOT. Além disso, entram no cálculo os descontos

ou acréscimos, do prêmio de exportação e dos custos de movimentação do produto da área

produtora para o porto, assim como dos custos de intermediação dos agentes envolvidos neste

processo. Não se pode esquecer também da questão cambial, já que a soja é um produto

negociado internacionalmente, onde seu preço é cotado em dólar e por isso necessita ser

convertido para a moeda local, que é o real.

Page 34: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

34

Para o cálculo do preço de paridade de exportação são consideradas as mesmas

variáveis do item 1.5.5, que são:

Cotação da soja em Chicago.

Prêmio no porto.

Custos portuários.

Custo com o frete rodoviário.

Dólar.

No entanto, diferentemente do que foi exposto no item 1.5.5, em que o contrato destas

variáveis era o disponível, para a paridade de exportação o contrato utilizado para o cálculo

destas mesmas variáveis é o futuro. No caso, para servir atualmente de base para a safra

mato-grossense de soja 2015/16 é considerado o contrato de março de 2016 de todas as

variáveis, com exceção do custo portuário, que não é negociado em bolsas.

Para exemplificar como é realizado o cálculo de paridade de exportação, tendo como

referência o município de Sorriso, consideremos os seguintes valores das variáveis:

Cotação da soja em Chicago: US$ 917,00 cents/bushel

Prêmio no porto de Santos: + US$ 55,00 cents/bushel

Custo portuário (base, porto de Santos) para Sorriso: US$ 15,00/tonelada

Dólar comercial no disponível: R$ 3,15/US$

Frete rodoviário de Sorriso a Santos: R$ 265/tonelada

Cabe salientar que, mesmo sendo valores hipotéticos para cada variável, em uma

situação real, todas (com exceção do custo portuário) teriam como referência o contrato de

março de 2016.

CONVERSÕES

Lembrando que: 1 bushel = 27,214 kg

1 tonelada (t) = 1000 kg

1 saca (sc) = 60 kg

1 saca (sc de 60 kg) = 2,2046 bushel

1 tonelada = 16,666 sacas (60 kg)

Antes de realizar o cálculo para a obtenção do preço de paridade de exportação de

março 2016 em Sorriso, devem-se fazer as conversões das variáveis para facilitar o cálculo,

assim como foi feito no cálculo das cotações internas do item 1.5.5. Com isso, as variáveis

mencionadas devem apresentar os seguintes valores já convertidos para a unidade adequada

de cálculo:

(6) Cotação da soja na CBOT: US$ 20,21/sc

(÷ 100 para tirar de cents de bushel e passar para bushel, e, × 2,2046 para converter de

bushel para saca)

(7) Prêmio do porto: + US$ 1,21/sc

Page 35: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

35

(÷ 100 para tirar de cents de bushel e passar para bushel, e, × 2,2046 para converter de

bushel para saca)

(8) Custo portuário em Santos: US$ 0,90/sc

(÷ 16,666 para transformar de toneladas para saca)

(9) Dólar comercial: R$ 3,15/US$

(10) Frete rodoviário de Sorriso a Santos: R$ 15,90/sc

(÷ 16,666 para transformar de toneladas para saca)

Depois de realizar as conversões necessárias, pode-se realizar o cálculo, conforme a

equação abaixo, em que cada variável está sendo simplificada pela numeração dada acima:

((((1 + 2) − 3) ∗ 4) − 5)

Desta forma, conforme a equação acima, deve-se somar o preço da soja da CBOT com o

prêmio no porto, o resultado deve ser reduzido pelo custo portuário. Logo após, deve-se

multiplicar o valor obtido pelo dólar para converter as variáveis de dólar para reais e, em

seguida, o resultado deve ser reduzido do frete rodoviário. Assim, no exemplo dado, a cotação

interna em Sorriso teria um valor de R$ 48,76/sc.

Ao analisar a conjuntura atual, a alta do dólar em 2015, somando-se à expectativa de

fretes rodoviários mais baratos em virtude das novas rotas de escoamento no Norte do país

(desafogando portos como Santos-SP e Paranaguá-PR) e melhorias de infraestrutura no porto

de Santos-SP, tem beneficiado a elevação do preço de paridade de exportação da soja para

março de 2016, tendo como base o município de Sorriso e o porto de Santos-SP.

Page 36: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

36

Gráfico 2 - Paridade de exportação da soja para março em Mato Grosso (2014/15 e 2015/16)

Fonte: BM&F, CME Group, Safras&Mercado, FCStone - Elaboração: Imea

1.8 Gastos produtivos com a cultura da soja

Os gastos produtivos da soja estão diretamente relacionados com a rentabilidade de

safra. Assim sendo, esta seção irá analisar a evolução do custo de produção da soja nas

últimas safras em Mato Grosso, verificando o impacto sobre a rentabilidade da safra, bem

como a diferença dos custos fixos e dos custos variáveis da produção.

1.8.1 Custo de produção da soja

O custo de produção total da soja em Mato Grosso vem apresentando crescimento

constate nas últimas quatro safras, saindo de valores próximos a R$ 1.968,84 por hectare na

safra 2012/13 para o valor de R$ 2.687,56 por hectare na safra 2015/16, segundo a divulgação

de abril de 2015 do Imea.

A principal justificativa está em torno do aumento das despesas com insumos que

abocanham cerca de 60% do total dos gastos produtivos. Os custos com os insumos saltaram

52% nas últimas três safras, saindo do valor de R$ 1.100,75/ha na safra 2012/13 para R$

1.668,36/ha na temporada 2015/16.

Os principais fatores que influenciaram o aumento do custo com insumos são o dólar e o

aumento da demanda. O dólar fez com que os preços dos produtos atingissem valores mais

elevados no mercado interno nos últimos anos. E a demanda por insumos nas últimas safras,

em virtude da expansão da área a ser cultivada, também impulsionou os preços dos produtos

das safras seguintes.

40,0

42,0

44,0

46,0

48,0

50,0

52,0

54,0

56,0

3-mar 10-mar

17-mar

24-mar

31-mar

7-abr 14-abr 21-abr 28-abr 5-mai 12-mai 19-mai 26-mai

2014/15 2015/16

R$

/Sac

a

Page 37: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

37

Dentro das despesas com os insumos aparecem os custos com as sementes, fertilizantes

e defensivos. Destes três custos, o destaque vai para os defensivos, que apresentam a maior

representatividade dentro dos gastos com os insumos, registrando, também, o maior aumento

de custos nas últimas três safras, de 90%.

Tabela 2 - Custo com os insumos da soja GMO na média de Mato Grosso da safra

2012/13 a 2015/16.

Média de

Mato

Grosso

2012/

13

2013/

14

2014/

15

2015/1

6*

Unidade R$/hectare R$/hectare R$/hectare R$/hectare DESPESAS COM

INSUMOS R$ 1.100,75 R$ 1.220,25 R$ 1.481,05 R$ 1.668,36

Sementes R$ 150,49 R$ 168,07 R$ 219,70 R$ 249,14 Semente de Soja R$ 148,49 R$ 151,90 R$ 209,53 R$ 237,30

Semente de Cobertura

R$ 2,00 R$ 16,18 R$ 10,17 R$ 11,84

Fertilizantes R$ 558,37 R$ 625,94 R$ 622,90 R$ 674,33 Corretivo de Solo R$ 40,53 R$ 52,34 R$ 53,76 R$ 56,67 Macronutriente R$ 499,38 R$ 551,13 R$ 537,09 R$ 579,80 Micronutriente R$ 18,47 R$ 22,47 R$ 32,05 R$ 37,85 Defensivos R$ 391,89 R$ 426,23 R$ 638,46 R$ 744,89 Fungicida R$ 105,74 R$ 102,22 R$ 160,31 R$ 183,81 Herbicida R$ 127,23 R$ 153,15 R$ 158,81 R$ 190,22 Inseticida R$ 140,35 R$ 148,26 R$ 290,17 R$ 335,50 Adjuvante R$ 18,57 R$ 22,61 R$ 29,17 R$ 35,36

*Relatório de abril de 2015 do Imea

Fonte: Imea

Na safra 2012/13, os custos com os defensivos apresentavam média em Mato Grosso de

R$ 391,89 por hectare, ficando abaixo dos custos com os fertilizantes, que atingiram valor

próximo a R$ 558,37/hectare.

Na safra 2015/16, no entanto, este cenário se inverteu. Os custos com os defensivos

atingiram valor próximo a R$ 744,89/hectare, superando os gastos com os fertilizantes, que

foram de R$ 674,33/hectare. O fator-chave para tal acontecimento está em torno da alta

demanda por defensivos nas últimas safras em virtude do aumento do número de aplicações,

fazendo os preços do produto elevarem-se nas safras seguintes.

Page 38: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

38

Gráfico 3 - Custo de produção da soja mato-grossense - GMO da safra 2012/13 a 2015/16

*Relatório de abril de 2015 do Imea

Fonte: Imea

Além dos gastos com os insumos, o custo variável e o custo operacional também

apresentaram elevação constante nas últimas safras, porém em proporção menor que a dos

gastos com os insumos.

Com a alta dos gastos com os insumos, do custo variável e do custo operacional, o gasto

total para a produção da safra em Mato Grosso foi impulsionado na safra 2015/16, portanto,

para o maior valor de toda a história da soja.

Na safra 2015/16, apesar de a expectativa de produtividade ser ainda incerta, o aumento

no custo produtivo da safra de soja deve reduzir a expectativa da rentabilidade do custo

operacional, tornando-a a menor desde a safra 2009/10.

Isso porque a expectativa dos preços para a temporada 2015/16 não deve se elevar na

mesma proporção do aumento dos gastos produtivos, em virtude não só da grande produção

interna, como também externa, que poderá contribuir para um viés de baixa dos preços da

oleaginosa em 2016.

Assim, o “retorno” do valor investido com a produção da soja na safra 2015/16 poderá

não vir na mesma proporção com a receita, reduzindo a rentabilidade do produtor.

1.8.2 Custos fixos e custos variáveis

Os custos produtivos de uma safra podem ser subdivididos em dois grandes grupos: os

custos fixos e os custos variáveis. Os custos variáveis são os custos que variam de acordo com

a produção. Se a fazenda está trabalhando mais, produz mais, consome mais matéria-prima.

Se está com a produção ociosa, consequentemente a matéria-prima gasta vai ser menor. São

custos que têm seu total definido dependendo da área produzida. Pode-se dizer que os custos

variáveis são compostos pelos custos com insumos, custos com as operações agrícolas, mão

de obra, custos administrativos e outros. Já nos custos fixos estão alocados os custos com

depreciação e manutenção dos maquinários e implementos agrícolas.

600,00

1100,00

1600,00

2100,00

2600,00

3100,00

2012/13 2013/14 2014/15 2015/16*

Despesas com Insumos Custo Variável

Custo Operacional Custo Total

R$

/He

ctar

es

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39

Os custos fixos e os custos variáveis podem ser diretos e indiretos. Custos diretos são

aqueles utilizados no todo, não havendo necessidade de rateio, como insumos, mão de obra

direta, dentre outros. São custos que podem ser diretamente apropriados aos produtos,

bastando para que isso aconteça que exista medida de consumo de materiais, embalagens

utilizadas, horas de mão de obra utilizadas, por exemplo. De maneira geral, são diretamente

alocados aos produtos. Em suma, os custos diretos são aqueles que podem ser realizados

diretamente (sem rateio) apropriados aos produtos agrícolas, bastando exigir uma medida de

consumo (quilos, horas de mão de obra ou de máquina, quantidade de força consumida, dentre

outros).

Já os custos indiretos ocorrem em função da estrutura da produção e da empresa e que

não podem ser diretamente atribuídos à execução de dado serviço ou produto, devendo ser

utilizado o método de rateio sobre eles. São geralmente custos administrativos da produção.

Podem ser considerados como os custos que não oferecem condição de medida objetiva e

para a alocação da produção devem ser utilizadas estimativas. De maneira geral, podem ser

considerados como os custos que não podem ser diretamente alocados aos produtos.

1.9 O ponto de equilíbrio

É fundamental para o produtor rural entender o relacionamento entre suas vendas e seus

custos, ou seja, qual seria o preço adequado de venda para que se recuperem os valores

investidos na produção. E é sobre essas questões que o Ponto de Equilíbrio (PE) está inserido.

Em suma, o PE, também conhecido como break even point, indica o preço mínimo que o

produtor deve vender sua safra para não obter prejuízo e é encontrado a partir da análise dos

custos totais (fixos e variáveis) e da receita bruta. No PE não há lucro ou prejuízo, somente

quando ultrapassar o PE é que o produtor obterá lucro ou prejuízo.

Quando a receita bruta, ou seja, quantidade produzida x preço de venda, se iguala aos

custos variáveis e despesas fixas, consideramos que a empresa atingiu seu PE.

O PE pode ser alcançado basicamente de duas formas: aumentando a receita bruta ou

diminuindo os custos de produção. Com relação à receita, podemos aumentar a produtividade

e/ou o preço de venda. Como no agronegócio, os produtores são ‘’tomadores’’ de preço, ou

seja, quem decide o preço é o mercado, não o produtor, isto exige que a gestão de custos e os

controles sobre a eficiência produtiva sejam realizados da forma mais eficiente possível, uma

vez que o mercado não altera os preços baseados nos custos de produção e sim nos fatores

de oferta e demanda do mercado.

Percebe-se que tais análises tendem a ser vitais para a apreciação de viabilidade da

produção da cultura. Sabendo-se da importância desta ferramenta, esta seção irá analisar os

componentes utilizados para a identificação do PE, bem como o cálculo realizado para a sua

obtenção.

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40

1.9.1 Determinantes do Ponto de Equilíbrio (PE)

Para calcular o PE, devem-se considerar apenas o custo variável e a produtividade da

soja na safra a ser analisada. Este cálculo é realizado quando não se sabe o preço de venda

que o agricultor comercializou o seu produto.

Com este cálculo é possível visualizar o preço mínimo necessário para se vender a

oleaginosa objetivando cobrir os gastos com as despesas variáveis da safra. Para o cálculo do

preço de venda necessário, faz-se:

𝑃𝐸 = 𝐶𝑉/𝑝

Em que:

PE = Ponto de Equilíbrio

CV= Custo Variável

p = Produtividade da lavoura de soja

Para exemplificar, consideremos os seguintes valores da soja:

Tabela 3 - Cálculo do Ponto de Equilíbrio da soja em MT

(-) Custo Variável da safra 2014/15 R$ 2.400,00/ha

Produtividade da safra 2014/15 52,00 sc/ha

Ponto de Equilíbrio R$ 46,15/sc

Fonte: Imea

Portanto, no caso do exemplo acima, seria necessário que o produtor vendesse a saca

da soja pelo valor mínimo de R$ 46,15 para poder cobrir os custos variáveis de sua produção.

Neste caso, este valor (R$ 46,15) corresponderá ao lucro “zero” dado a um perfeito

equilíbrio entre o custo variável da produção e o preço de venda do produto. Cabe salientar

que neste cálculo não entra na conta a cobertura do custo fixo da produção da soja.

1.10 Preço de base e relação frete/soja

É de grande valia para o produtor analisar a coerência existente no percurso dos preços

nas praças locais (mercado físico) e o preço do mercado futuro. Caso haja um “descolamento”

entre esses preços, o agente não garantirá a fixação de seu preço, passando a correr o

denominado risco de base. A utilização dessa estimativa de previsão de base representa uma

ferramenta eficiente que oferece suporte ao processo de tomada de decisões dos participantes

do mercado da soja.

Além do preço de base, outro dado bastante analisado pelos produtores mato-

grossenses é a chamada relação frete/soja, em que se calcula quanto o preço do frete da soja

acaba “abocanhando” do valor a ser pago pela saca da soja ao produtor.

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41

Diante da importância dessas duas ferramentas para analisar o cenário do mercado

interno da soja, esta seção irá mostrar a importância e como se calcula cada uma dessas

variáveis.

1.10.1 Formação do preço de base

A diferença entre o preço no mercado local e o preço no local de referência de

comercialização da commodity futura é denominada preço ou valor de base.

O preço de referência para a soja na BM&F é a cotação física do porto de Paranaguá, no

Paraná. Já o preço de referência para a soja na CME Group é o próprio preço futuro da bolsa,

mais especificamente a cotação do contrato futuro mais próximo do vencimento. Assim, para

definir o preço de base utiliza-se o seguinte cálculo:

Preço físico do local (ex.: Sorriso-MT) – Preço do local de referência da bolsa.

Esse valor de base ocorre por causa de frete, impostos e fatores regionais de oferta e

demanda (safra, condições de armazenagem, etc.). Este último é o principal fator que afeta a

base entre a cotação física brasileira e a cotação de Chicago (CME Group).

Todos os anos ocorrem diferenças entre o valor de base atual e o valor de base anterior.

Essa incerteza quanto ao valor da base é chamada de risco de base. Para tentar controlar esse

risco de base, deve-se realizar uma média dos últimos quatro a cinco preços de base (por

exemplo: de 2011, 2012, 2013 e 2014) para projetar um possível preço de base para o ano

corrente (2015).

Para exemplificar, consideremos o exemplo do organograma abaixo:

Organograma 3 - Diferença do preço de base da soja

Fonte: Imea

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42

Considerando o preço da saca da soja em Sorriso-MT de R$ 55,00 e uma cotação

internacional, da soja na CBOT, no mesmo dia, de US$ 10,00/bushel, teríamos um preço futuro

convertido de R$ 69,44/sc. Assim, a base seria de –R$ 14,44/sc.

Ao se analisar o preço de base da soja desde 2014, percebe-se que o período em que a

base se torna menos negativa, e em alguns momentos positiva, é entre agosto e novembro,

quando o preço futuro da oleaginosa começa a se reduzir em virtude da colheita da safra

norte-americana de soja que começa normalmente no final de outubro.

Nos outros períodos, no entanto, percebe-se que a base se torna negativa,

demonstrando preços mais baixos no mercado interno se comparados aos do mercado

internacional.

Gráfico 5 - Diferença de base (Preço Sorriso-MT e Preço CBOT) para o preço da soja

Unidade: US$/bushel

Fonte: CBOT, Imea - Elaboração: Imea

1.10.2 Preço do frete X cotação da soja

A relação entre o valor do frete e o preço da soja é expressa em porcentagem,

significando o percentual que o custo com o frete “ocupa” no preço da soja.

Desta forma, caso o preço do frete de grãos eleve-se em proporções maiores que a

cotação da soja, o percentual de participação do frete sobre o preço da soja irá elevar-se,

assim, maior será o peso gerado sobre o bolso do produtor, uma vez que será maior a despesa

com o frete.

Da mesma forma, caso o preço do frete de grãos se reduza em proporções maiores que

a cotação da soja, o percentual de participação do frete sobre o preço da soja irá também se

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43

reduzir, assim, menor será o peso gerado sobre o bolso do produtor, uma vez que será menor

a despesa com o frete.

Percebe-se, conforme º gráfico 6, que desde 2014 a relação frete/soja em Sorriso está

entre 25% e 30%. Portanto, cerca de 1/4 do preço da soja é despendido pelo produtor de

Sorriso com o frete da oleaginosa.

Nota-se que durante a época de safra da soja, a partir de janeiro, a relação começa a se

elevar em virtude, principalmente, do aumento do preço do frete. Apesar disso, percebe-se que

neste ano, o mês que apresentou a maior relação, março, com 29%, ainda assim, ficou abaixo

do observado no ano passado, que apresentou média da relação frete/soja neste período de

34%.

Isso ocorreu pela junção de dois fatores. O primeiro é o preço do frete, que se apresentou

um pouco abaixo do registrado no ano passado. Em março deste ano, a média do frete de

Sorriso ao porto de Santos foi de R$ 290,00/t contra R$ 300,00/t em 2014.

O outro fator é o preço do grão da soja, que em março deste ano registrou média de R$

58,95/sc contra R$ 53,42/sc na média de março em 2014. Essa diferença de R$ 5,53/sc acaba

amenizando as despesas com o frete no bolso do produtor.

Gráfico 6 - Relação frete (Sorriso a Santos) e preço da soja em Sorriso-MT

Fonte: Imea

15,00

20,00

25,00

30,00

35,00

40,00

45,00

21

-abr-

14

5-m

ai-14

19

-mai-1

4

2-j

un-1

4

16

-jun

-14

30

-jun

-14

14

-jul-

14

28

-jul-

14

11

-ago-1

4

25

-ago-1

4

8-s

et-

14

22

-set-

14

6-o

ut-

14

20

-out-

14

3-n

ov-1

4

17

-nov-1

4

1-d

ez-1

4

15

-dez-1

4

29

-dez-1

4

12

-jan

-15

26

-jan

-15

9-f

ev-1

5

23

-fev-1

5

9-m

ar-

15

23

-mar-

15

6-a

br-

15

20

-abr-

15

4-m

ai-15

Frete/Soja Média

Relação em (%)

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44

1.11 Glossário

Basis = Preço à vista – Preço Futuro.

BM&F = É a bolsa brasileira na qual se negociam contratos e minicontratos futuros de ativos

financeiros ou commodities.

Break Even Point = É o Ponto de Equilíbrio entre receitas e despesas, em que não há perda

nem ganho.

Bushel = É uma unidade de volume utilizada nos EUA para comercializar grãos, como a soja.

Call = Opções que conferem o direito de compra.

CBOT = Chicago Board of Trade, bolsa norte-americana em que é negociada a soja.

CIF = Sigla para “custo, seguro e frete”. Neste tipo de frete, o fornecedor é responsável por

todos os custos e riscos da entrega da mercadoria.

CME Group = É o principal e mais diversificado mercado de derivativos do mundo.

Commodity = Termo para designar produtos de baixo valor agregado, estando muitas vezes

innatura.

Custos diretos = Constituem todos aqueles elementos de custo individualizáveis com respeito

ao produto.

Custos fixos = Não sofrem alteração de valor em caso de aumento ou diminuição da

produção.

Custos indiretos = São as despesas incluídas aos produtos finais conforme critérios

predeterminados.

Custos portuários = São os custos incorridos, direta ou indiretamente, nos portos, com a

finalidade de iniciar as exportações.

Custos variáveis = Variam proporcionalmente de acordo com o nível de produção ou

atividades.

Demurrage = É a multa paga pelo contratante quando o contêiner permanece em seu poder

mais do que o prazo acordado.

FOB = Sigla para “Livre a Bordo”. Neste tipo de frete, o comprador assume todos os riscos e

custos da entrega da mercadoria.

Hedge = Operação de “travamento” de preço para uma data futura.

Intermodal = Transporte que requer tráfego misto, envolvendo mais de uma modalidade,

exemplo: transporte rodoferroviário.

Liquidação de contrato = Finalização de um contrato.

Page 45: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

45

Liquidez = Facilidade de converter o ativo em dinheiro.

Mercado futuro = Mercado em que os contratos são padronizados e negociados em bolsas

organizadas.

Paridade de exportação = Internalização dos preços externos para uma data preestabelecida.

Plataforma de negociação = É um software que permite comprar e vender ativos na bolsa

valores e mercadorias.

Prêmio de exportação = Diferença dos preços externos da bolsa com o preço dentro do navio

no porto.

Proteína texturizada = Conhecida popularmente como “carne de soja”.

Put = Opções que conferem o direito de venda.

Rateio = Forma direta de segregar os recursos consumidos, principalmente de custos, em

determinado estágio de ocorrência.

Relação frete/soja = Percentual de participação do custo com o frete sobre o preço de venda

da soja.

Page 46: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

46

1.12 Conclusão

Diante de tudo que foi exposto neste trabalho, percebe-se a grande importância que a

soja possui não só com relação ao cenário mundial como também internamente, para o Brasil e

Mato Grosso.

A formação de preços da oleaginosa engloba uma série de variáveis e por isso o

acompanhamento constante do mercado é fundamental para o entendimento das oscilações

ocorridas.

Além disso, foi exposto ao longo das seções anteriores algumas das principais

ferramentas de análises do mercado da soja. Saber, portanto, realizar seu cálculo, bem como

utilizá-la, também é um diferencial não só para o produtor, como para outros agentes do

mercado que pretendem compreender as movimentações ocorridas no mercado da soja.

Page 47: Variaçao da cotacao, soja 06/2015

47

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