VARIAÇÃO SAZONAL DA FOTOSSÍNTESE, · PDF fileA variação...

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  • 53Fotossntese, condutncia estomtica e potencial da gua em laranjeira

    Scientia Agricola, v.59, n.1, p.53-58, jan./mar. 2002

    VARIAO SAZONAL DA FOTOSSNTESE, CONDUTNCIAESTOMTICA E POTENCIAL DA GUA NA FOLHA

    DE LARANJEIRA VALNCIA

    Eduardo Caruso Machado1,4*; Camilo Lzaro Medina2,5; Mara de Menezes de Assis Gomes2,6;Gustavo Habermann3,5

    1Centro de Ecofisiologia e Biofsica - IAC, C.P. 28 - CEP: 13001-970 - Campinas, SP.2Ps-Graduando em Biologia Vegetal - UNICAMP/Instituto de Biologia, C.P. 6109 - CEP: 13083-970 -

    Campinas - SP.3Ps-Graduando em Botnica - UNESP/Instituto de Biocincias, C.P. 510 - CEP: 18618-000 -

    Botucatu - SP.4Bolsista CNPq.5Bolsista FAPESP.

    6Bolsista CAPES.*Autor correspondente

    RESUMO: Em espcies perenes podem ocorrer variaes nas taxas de trocas gasosas e nas relaes hdricasem funo da variao das condies ambientais, durante os diferentes meses do ano. Avaliaram-se, emlaranjeira Valncia enxertada sobre quatro espcies de porta-enxerto, mantida sem deficincia hdrica, astaxas de fotossntese (A) e de transpirao (E), a condutncia estomtica (g) e o potencial da gua na folha(f ), medidos nos perodos da manh (9h00 s 11h00) e da tarde (13h00 s 15h00) nos meses de janeiro,maro e julho em Campinas - SP. As espcies de porta-enxertos no tiveram efeitos sobre as variveismedidas. Independente do porta-enxerto A, g e f foram menores no perodo da tarde. A queda de A deveestar relacionada com a queda de g que diminuiu em resposta ao aumento do dficit de presso de vaporentre o ar e a folha (DPVar-folha ) nos horrios mais quentes do dia. Apesar de ocorrer fechamento parcial dosestmatos no perodo da tarde E foi similar ao perodo da manh, devido ao aumento do DPVar-folha. Tambmobservou-se queda em A e em g no sentido de janeiro para julho. Sugere-se que a queda em A e em gocorrida em maro em comparao a janeiro esteja relacionada queda da atividade de crescimento daplanta, afetando as relaes fonte-dreno, visto que as condies ambientais nestes dois meses foramsemelhantes. As quedas de A e de g observadas em julho, em relao janeiro e maro, parecem estarrelacionadas tanto queda na temperatura noturna quanto queda na atividade de crescimento.Palavras-chave: Citrus sinensis, trocas gasosas, transpirao, crescimento

    SEASONAL VARIATION OF PHOTOSYNTHETIC RATES, STOMATALCONDUCTANCE AND LEAF WATER POTENTIAL

    IN VALENCIA ORANGE TREES

    ABSTRACT: Seasonal variation in environmental conditions may influence gas exchange rates as well aswater relations in perennial species. This work was carried out to evaluate photosynthetic rates (A), transpiration(E), stomatal conductance (g) and leaf water potential (f ) in Valencia orange trees grafted on four differentrootstocks. Measurements were made twice a day: from 9h00 to 11h00 a.m. and from 1h00 to 3h00 p.m.,during January, March and July. A and g were significantly lower and f was significantly more negative, in theafternoon. The decrease in A may be related to the reduction in g, due to the increase in the vapor pressuredeficit between the air and the leaf (VPDair-leaf ) in the afternoon, when temperatures are higher. In spite of thepartial stomatal closure in the afternoon, the values for E were approximately the same as those measured inthe morning, due to the increase in the VPDair-leaf . A decrease in A and g could also be noted from January toJuly, that is, from the hot and humid summer months, to the colder and drier winter ones. It was suggested thatthe decrease in A and g observed from January through March, may be related to the decrease in plantgrowth rates, which could have influenced the source-sink relationships, since the climatic conditions for bothmonths were similar. The decrease in A and g showed in July, seems to be related to the decrease in both thenight temperature and the growth rate of plants.Key words: Citrus sinensis, growth, gas exchange, transpiration

    INTRODUO

    O clima no Estado de So Paulo caracteriza-sepor um vero mido, com nveis de energia solar tpicodo trpico e um perodo de inverno seco com

    temperaturas amenas e precipitao pluviomtricareduzida. De julho a agosto, existem condies trmicase hdricas que condicionam o repouso vegetativo e emsetembro condies favorveis para o florescimento emlaranjeiras. Na primavera, aps a antese, nas fases

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    iniciais de crescimento do fruto e da rea foliar, o nvelde radiao solar mais elevado, os dias so maislongos, as temperaturas mais altas e, geralmente, h boadisponibilidade de gua. O crescimento dos frutosdepende do suprimento de substrato fotossintetizadosendo, portanto, favorecidos por condies adequadasa altas taxas de fotossntese.

    A taxa mxima de fotossntese de Citrus sinensis(L.) Osbeck ocorre em temperaturas do ar em torno de22C a 25C (Kriedmann, 1971; Khairi & Hall, 1976). Sobcondies naturais, sem deficincia hdrica no solo e comfluxo fotossinttico de ftons saturante, a taxa defotossntese mxima ao redor das 9h30, decrescendoposteriormente, com o aumento da temperatura e dodficit de presso de vapor (DPV) (Habermann, 1999;Medina et al., 1999). A reduo na taxa de fotossntesecom o aumento de DPV e da temperatura estrelacionada, respectivamente, com a queda dacondutncia total da folha e da condutncia do mesofilo(Khairi & Hall, 1976; Machado et al., 1994; Medina et al.,1998, 1999). A taxa de transpirao em citros aumentacom o DPV, apesar dos estmatos se fecharemparcialmente, consequentemente a eficincia instantneado uso da gua pela planta menor nos horrios de altademanda atmosfrica por gua (Brakke & Allen Jr., 1995;Medina et al., 1999). Tambm em outras espciesarbreas observaram-se menores taxas de fotossnteseno perodo da tarde, parecendo estarem relacionadascom o valor do DPV no ar e com o DPV entre o ar e afolha (Eamus & Cole, 1997; Prior et al., 1997).

    A variao sazonal da taxa de fotossntese e dacondutncia do estmatos em espcies arbreas, nasregies tropicais, est relacionada com as condies deDPV, temperatura do ar e principalmente umidade dosolo, caracterstica de cada estao do ano (Eamus &Cole, 1997; Prior et al., 1997). A queda da taxa defotossntese em laranjeiras em funo da queda no teorde umidade no solo foi relatada por vrios autores(Syvertsen & Lloyd, 1994; Medina et al., 1998, 1999).

    Nas condies do Estado de So Pauloobservam-se, em laranjeiras, que fluxos caractersticosde crescimento vegetativo ocorrem em funo dasestaes do ano, que possivelmente esto relacionadoscom variaes na taxa de fotossntese. No entanto noh referncias a estudos sobre fotossntese emdiferentes meses do ano.

    Comercialmente as laranjeiras so propagadas,principalmente, por enxertia, sendo que existem vriascombinaes de porta-enxertos e copas. Os porta-enxertos afetam inmeras caractersticas como tolernciaa seca, a taxa de fotossntese, susceptibilidade adoenas e outras (Pompeu Jr., 1991). As diversascombinaes porta-enxerto e copas podem induzirdiferentes respostas em relao s condies ambientaiscaractersticas de cada poca do ano.

    Este trabalho teve como objetivo determinar asrespostas da fotossntese, da condutncia estomtica, da

    transpirao e do potencial da gua na folha scondies ambientais nos meses de janeiro, maro ejulho, em laranjeira Valncia sobre quatro espcies deporta-enxertos, sem deficincia hdrica.

    MATERIAL E MTODOS

    Local do experimentoO experimento foi instalado sob telado do Centro

    de Ecofisiologia e Biofsica no Ncleo Experimental deCampinas do Instituto Agronmico, Campinas - SP.Utilizou-se vinte e quatro plantas de laranjeira Valncia,de aproximadamente trs anos, seis enxertadas sobrecada um dos seguintes porta-enxertos: limoeiro Cravo,Trifoliata, tangerina Clepatra e citrange Troyer.Valncia um dos principais cultivares utilizados nacitricultura paulista. So plantas vigorosas e produtivascom ampla adaptabilidade s diferentes regies decultivo (Figueiredo, 1991). O limoeiro Cravo o principalporta-enxerto da citricultura brasileira constituindo maisde 90% dos pomares. A tangerina Clepatra tem sidouma alternativa ao limoeiro Cravo por induzir maiortolerncia ao declnio bem como induzir boa qualidadedos frutos. O Trifoliata um porta-enxerto que induz ummenor desenvolvimento das plantas, permitindo maioradensamento de plantio. O citrange Troyer no tem umautilizao expressiva na citricultura brasileira, mas induzboa tolerncia a Phytophthora e favorece a qualidade defrutos (Pompeu Jr., 1991).

    Aproximadamente um ano antes do incio doexperimento, estas plantas foram transplantadas paraseis tanques; cada um deles com quatro plantas, umapor porta-enxerto. Cada tanque possui 4,0 m decomprimento por 0,5 m de largura por 0,6 m deprofundidade e esta repleto de terra frtil. Os tanquescom as plantas foram irrigados mantendo-se a terra comumidade prxima capacidade de campo.

    Os dados climticos foram coletados no PostoMeteorolgico do Ncleo Experimental de Campinas,localizado a aproximadamente 500 m do telado onde foiinstalado o experimento.

    As medidas descritas abaixo foram coletadas emdias claros nos meses de janeiro (21 e 22), maro (10 e11) e julho (7 e 8) de 1998.

    Potencial da gua na folhaO potencial da gua nas folhas ( f) foi

    determinado pelo mtodo descrito por Kaufmann (1968)com uma cmara de presso (PMS mod. 1002), s 7h00e s 14h00, com trs repeties para cada tratamento.As folhas utilizadas foram as localizadas do lado opostoquelas utilizadas nas medidas de trocas gasosas.

    Medidas de trocas gasosasAs taxa de fotossntese (A) e de transpirao (E)

    e a condutncia estomtica (g) foram medidas por meiodo mtodo descrito em Medina et al. (1998), utilizandoum aparelho porttil de fotossntese (Li-6200, Licor Ltda.,

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