Vários autores - Tem Gato na Tuba e outros Poemas (doc)(rev)

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LITERATURA EM MINHA CASA

Volume 1- POESIA

Tem Gato na Tuba e Outros Poemas

Sidónio Muralha • Cecília Meireles

Menotti del Picchia • Casimiro de Abreu

Olavo Bilac • Gonçalves Dias

Braguinha • Alberto Ribeiro

Cartola • Carlos Cachaça

Hermínio Bello de Carvalho

Marino Pinto • Paulo Soledade

Ilustrações de

GILBERTO MIADAIRA

1ª edição

Martins Fontes

São Paulo 2002

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Copyright© 2002, Livraria Martins Fontes Editora Ltda., São Paulo, para a presente edição.1ª ediçãojunho de 2002ConsultoriaAlba Regina Spinardi BuenoGlossárioAlba Regina Spinardi BuenoPreparação do originalHelena Guimarães BittencourtRevisão gráficaLuzia Aparecida dos SantosIvete Batista dos SantosProjeto gráficoKatia Harumi TerasakaPaginaçãoMoacir K. MatsusakiProdução gráficaGeraldo Alves

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP. Brasil)

Tem gato na tuba e outros poemas / introdução e apresentação dos autores e das obras Elias José : ilustrações Gilberto Miadaira. — São Paulo : Martins

Pontes, 2002. — (Coleção literatura em minha casa : v. 1)

Vários autores. ISBN 85-336-1581-7

I. Poesia brasileira — Coletâneas — Literatura infanto-juvenil I. José. Elias. II. MIADAIRA, Gilberto, III. Série.

02-2612 CDD-028.5

Índices para catálogo sistemático:1. Poesia : Antologia : Literatura infanto-juvenil 028.5

2. Poesia : Antologia : Literatura juvenil 028.5ISBN 85-336-1581-7

Todos os direitos para a presente edição reservados àLivraria Martins Fontes Editora Ltda.

Rua Conselheiro Ramalbo. 330/340 01325-000 São Paulo SP BrasilTel (11) 5241-3677 Fax (11) 5105-6867

e-mail:[email protected] http://www,.martinsfontes.com.br

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Caro aluno,

Você está recebendo uma coleção composta por cinco livros de diferentes tipos de texto: poesia, conto, novela, literatura universal e teatro ou literatura popular.

A importância desses livros é muito grande: com eles, você irá descobrir muitas coisas novas, conhecer pessoas diferentes e mundos diferentes. Você também irá saber que existem muitas maneiras de se escrever e que cada uma delas serve para passar ao leitor, isto é; para você, um tipo de mensagem.

Esta coleção foi feita para que você possa ler quando quiser e o texto que quiser. Eles vão estar todos ali, aguardando uma oportunidade para mostrar-lhe novos lugares, novas pessoas e despertar novos — e velhos — sentimentos.

Não esqueça, também, que esta é uma pequena coleção. Há muitos outros livros mundo afora e você poderá descobri-los na biblioteca de sua escola ou de sua cidade.

Esperamos que esta coleção possa contribuir para aumentar sua vontade de conhecer o mundo da leitura e aventurar-se no universo das palavras.

Aproveite para contar a seus amigos e parentes sobre essa aventura, que está apenas começando.

http://groups.google.com.br/group/digitalsource

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Este livro pertence à

..........................................................................

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Um recado

Agora que você escreveu seu nome neste livro, ele é seu. Guarde-o em casa, leve-o para a escola, leia-o quintas vezes quiser. A cada leitura, você vai conhecê-lo melhor, compreendê-lo melhor, como se fosse um amigo. Leia-o para seus pais, seus irmãos, as crianças da vizinhança, enfim, para quem tiver vontade de ouvir.

Fazer um livro não é só escrever a história, os poemas ou os contos que estão nele. Esses textos precisam ser apresentados de um jeito agradável, para que sua leitura dê maior prazer. Observe bem as formas e a cor das letras, o tipo de papel, as ilustrações deste livro. Tudo isso foi resolvido e realizado por profissionais preocupados em fazer um livro bonito. E, no fina1, ainda houve gente que leu e revisou cada página, para verificar se estava tudo correto. Todos trabalharam pensando no leitor, que é você.

Chegou sua vez de aproveitar. Boa leitura!

A Turma da Editora

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Por que ler poesia

Amigo leitor

Por que ficamos comovidos quando ouvimos uma música bonita, quando vemos um bom filme, quando apreciamos uma pintura? Porque em tudo isso existe poesia, uma beleza difícil de explicar mas que nos emociona.

Os textos de novelas, romances e contos são textos em prosa. Eles podem ser cheios de poesia. Mas há um tipo especial de texto, em que o autor emprega as palavras, as frases e os parágrafos de um jeito diferente. Ele escreve em versos, usando o ritmo para transmitir os sentimentos de um modo mais forte. Ele usa as palavras com um sentido mais rico, como se elas quisessem dizer alguma coisa a mais. Esse tipo de texto é o poema. Aqui vamos falar da poesia em forma de poema.

As linhas de um poema chamam-se versos. Cada verso tem uma beleza especial, mesmo que não tenha sentido completo. Um grupo de versos, que forma um sentido mais completo, chama-se estrofe. A divisão em versos e em estrofes é que marca o ritmo do poema.

No poema, a divisão em versos e estrofes forma um desenho na página, que muitas vezes também ajuda a compor a beleza do poema.

Ler poesia, então, é se emocionar com as palavras, é ouvir o ritmo das frases, é ver o desenho dos versos.

Neste livro você vai encontrar vários poemas, de diferentes poetas brasileiros, todos eles belas obras de poesia.

Elias José

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Os poemas e seus autores

Este livro é uma antologia, uma reunião de poemas. Ele foi feito para que você tenha uma idéia dos melhores poemas brasileiros escritos nas várias épocas.

Você vai encontrar primeiro obras de autores mais modernos, de um tempo mais próximo do nosso, como Sidónio Muralha, Cecília Meireles e Menotti dei Picchia.

Em seguida, vêm poemas de autores mais antigos, considerados grandes clássicos da nossa literatura. E o caso de Casimiro de Abreu, Gonçalves Dias e Olavo Bilac.

Mas a poesia brasileira não são só os poemas que estão nos livros. Nesta antologia você também vai encontrar obras de alguns poetas chamados populares, poetas-compositores que descrevem com beleza e poesia as coisas simples da vida. Você talvez já tenha ouvido e até cantado algumas dessas músicas. Mas será que percebeu que suas letras tão lindas são pura poesia?

Elias José

MODERNOS

SIDÓNIO MURALHA nasceu em 29 de julho de 1921, em Portugal. Faleceu em 1982. Depois de viajar pelo mundo, escolheu o Brasil para morar. Fixou-se em Curitiba, atraído por uma bela médica paranaense, com quem se casou. Ele dizia "Escrevo como quem respira. Escrever é participar..." Seus livros para crianças mais famosos são: A televisão da bicharada, A dança dos pica-paus, A revolta dos guarda-chuvas e Os três cachimbos.

CECÍLIA MEIRELES nasceu em 7 de novembro de 1901, no Rio de Janeiro. Foi jornalista, professora de alunos de 1ª a 4ª série e de Literatura na Universidade. Após ficar viúva, casou-se novamente

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com um professor universitário e teve a oportunidade de viajar pelo mundo, divulgando nossa cultura, em palestras e publicações. Sua obra e extensa e Ou isto ou aquilo, seu maior sucesso para o público infantil, foi editada em 1964. Neste mesmo ano, faleceu no Rio de Janeiro, em 9 de novembro.

MENOTTI DEL PICCHIA, escritor, jornalista e político, nasceu em São Paulo (SP) em 20 de março de 1892 e faleceu na mesma cidade, em 23 de agosto de 1988. Foi advogado, agricultor, deputado estadual e federal. Seu poema mais conhecido e apreciado é Juca Mulato (l917). Escreveu vários romances, contos. crônicas, novela, além de livros para crianças.

CLÁSSICOS

CASIMIRO DE ABREU nasceu no Rio de Janeiro, em 4 de janeiro de 1839. Tinha saúde fraca e levava vida boêmia. Morreu jovem, vítima de tuberculose, em 18 de outubro de 1860, na cidade de Nova Friburgo (RJ). Seu maior sucesso foi a obra As primaveras, livro de poemas. Publicou também ficção e peças de teatro.

OLAVO BILAC nasceu no Rio de janeiro em 16 de dezembro de 1865 e morreu na madrugada de 28 de dezembro de 1918, de edema pulmonar, em conseqüência de problemas cardíacos. Foi eleito Príncipe dos Poetas brasileiros. Ficou famoso por seus discursos nacionalistas.

GONÇALVES DIAS nasceu em Boa Vista, no Maranhão, em 10 de agosto de 1823. Aos 7 anos é alfabetizado e aos 9 já fazia a escrituração na firma do pai. Com 19 anos publica seus primeiros poemas. Dedicou grande parte de sua obra a poemas indianistas, destacando-se OS Timbiras. Voltando da Europa, doente e muito fraco, veio a falecer à vista do Maranhão, num naufrágio.

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POEMAS DE RAÍZES POPULARES

BRAGUINHA (CARLOS ALBERTO FERREIRA BRAGA) Carlinhos para a família, Braguinha para os amigos e João de Barro para a música brasileira, nasceu em 29 de março de 1907, no Rio de Janeiro. Cantava desde criança, acompanhado ao piano pela avó. As marchinhas de Carnaval são as suas mais famosas criações: Chiquita bacana, As pastorinhas. Pirata da perna de pau, etc. É considerado um dos "monstros sagrados" da música popular brasileira, pelas letras e melodias criadas.

ALBERTO RIBEIRO (DA VINHA) nasceu no Rio de Janeiro, em 27 de agosto de 1902 e faleceu em 10 de novembro de 1971. Era médico, exercia a profissão como obra humanitária, cobrando preços simbólicos pelas consultas. Foi na música que se consagrou, pelos versos e melodias que compunha em parceria com Braguinha, como a famosa Touradas em Madri, dentre as inúmeras criações, que ultrapassaram 300 composições.

CARTOLA (AGENOR DE OLIVEIRA) nasceu no Rio de Janeiro, em 11 de outubro de 1908 e morreu em 30 de novembro de 1980. Desde menino participou das festas de rua, tocando cavaquinho, que aprendera com o pai. Foi ele que escolheu o nome e as cores verde e rosa da Estação Primeira de Mangueira, a famosa escola de samba do Rio.

CARLOS CACHAÇA (CARLOS MOREIRA DE CASTRO) nasceu em 3 de agosto de 1902, no Rio de Janeiro. Seu apelido vem de sua bebida preferida. Esteve em atividade até sua morte, aos 97 anos. Conheceu Cartola, que se tornaria um de seus grandes parceiros e passou a dedicar-se a sambas-enredo para a escola de samba da Mangueira, sendo um de seus fundadores e o primeiro a introduzir elementos históricos nos enredos.

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HERMÍNIO BELLO DE CARVALHO nasceu no Rio de Janeiro, em 28 de março de 1935. Desde cedo conviveu de perto com a música e com os músicos brasileiros. Foi agitador cultural, compositor, descobridor de talentos e também poeta, tendo lançado vários livros. Escreveu programas educativos ligados à música para a rádio MEC.

MARINO PINTO (MARINO DO ESPÍRITO SANTO PINTO) nasceu no Rio de Janeiro, em 18 de julho de 1916 e morreu em 28 de janeiro de 1965, no Rio de Janeiro, trabalhou como jornalista. Deixou cerca de 300 composições, inclusive muitos sucessos de Carnaval.

PAULO SOLEDADE (PAULO CURGEL VALENTE DO AMARAL) nasceu em Paranaguá (PR), em 26 de junho de 1919 e faleceu em 27 de outubro de 1999. Trabalhou como ator, piloto e repórter no jornal A Noite. Foi parceiro freqüente de Marino Pinto.

GILBERTO MIADAIRA nasceu em Juquiá, São Paulo, em 7 de janeiro de 1950. É arquiteto, formado pela Universidade Mackenzie, e também artista plástico, ilustrador e músico. Ganhou o Prêmio Abril de Jornalismo.

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Sumár io

Modernos• Sidónio Muralha • Cecília Meireles • Menotti del Picchia

Clássicos• Casimiro de Abreu • Olavo Bilac• Gonçalves Dias

Poemas de raízes populares• Braguinha e Alberto Ribeiro • Cartola, Carlos Cachaça e Hermínio Bello de Carvalho • Marino Pinto e Paulo Soledade

• Glossário

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Modernos

SIDÓNIO MURALHA

CECÍLIA MEIRELES

MENOTTI DEL P ICCHIA

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Sidónio Muralha

E impossível ler estes poemas sem sorrir. O poeta brinca com as palavras, fazendo-as saltar e dançar.

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Dia de festa

A florestaacordadapela madrugadade um diade festaabriaa saia rodadae a madrugadasorriasorria à florestana madrugadada festa.

A alegriaestava lá,a poesiaestava lá,mas onde estava a alegriamas onde estava a poesiasó sabiao sabiá.

Só o sabiásabiasabiao que havialá— era um sábio o sabiá.

Dono

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do diada festae donoda madrugadasó por ele a florestadespertadado seu sonoabriaa saia rodada.

E tudo o que láhavia,e tudo que havialá,que se chamasse alegriaque se chamasse poesiasó sabiao sabiá.

Ouçam como ele assobia,assobiao sabiá.

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Razão maior

Vizinhos e vizinhas chamaram o galo e mesmo as galinhas quiseram acusá-lo:

— O senhor galo não vale nada pois já não canta de madrugada.

Mas logo o galo falou assim:— Que caia chuva, que suba o no, que haja calor ou faça frio,eu sempre canto, pobre de mim,mas desta vez o meu clarimentupiu,piu,piu

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Cecília Meireles

Aqui a autora faz música com OS tamanquinhos.Em vez de ler o poema, você poderá cantá-lo,

sem dificuldade.

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A canção dos tamanquinhos

Troc... troc... troc... troc... ligeirinhos, ligeirinhos, troc... troc... troc... troc... vão cantando os tamanquinhos...

Madrugada. Troc... troc... pelas portas dos vizinhos vão batendo, troc... troc... vão cantando os tamanquinhos...

Chove. Troc... troc... troc... no silêncio dos caminhos alagados, troc... troc... vão cantando os tamanquinhos...

E até mesmo, troc... troc... os que têm sedas e arminhos, sonham, troc... troc... troc... com seu par de tamanquinhos...

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Menotti del Picchia

Este poeta pregava uma renovação, mas ainda estavapreso ao modo tradicional de fazer poesia.

Neste poema, ele fala do destino dos peixes usandorimas de sons musicais e um rico vocabulário, com

palavras pouco comuns.

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Destino

Amanhã eu vou pescar.

Há um peixe fatalizado que a Ritinha vai guisar na panela de alumínio que brilha mais que o luar. Hoje ele está no seu líquido e opaco mundo lunar. Pequena seta de prata furando a carne do mar.

Qual será? O bagre flácido de cabeça triangular? O lambari que faísca como uma mola a vibrar? O feio e molengo polvo monstruoso, tentacular? O peixe-espada de níquel, a viva espada do mar?

Hoje estão vivos e lépidosos lindos peixes do mar.Amanhã...Nem pensem nisso!Amanhã eu vou pescar...

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Clássicos

C A S I M I R O D E A B R E U

O L A V O B I L A C

G O N Ç A L V E S D I A S

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Casimiro de Abreu

Aqui está um clássico do romantismo,um poema que foi lido edeclamado por várias gerações debrasileiros. O poeta reforça a emoçãode suas lembranças da infância usandoexclamações e muitos adjetivos.

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Meus oito anos

Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras A sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais!

Como são belos os diasDo despontar da existência!— Respira a alma inocênciaComo perfumes a flor;O mar é — lago sereno,O céu — um manto azulado,O mundo — um sonho dourado.A vida — um hino d'amor!

Que auroras, que sol, que vida, Que noites de melodia Naquela doce alegria, Naquele ingênuo folgar! O céu bordado d'estrelas, A terra de aromas cheia, As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância! Oh! meu céu de primavera! Que doce a vida não era Nessa risonha manhã!

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Em vez das mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias De minha mãe as carícias E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,Eu ia bem satisfeito,Da camisa aberto o peito.— Pés descalços, braços nus —Correndo pelas campinasA roda das cachoeiras,Atrás das asas ligeirasDas borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos Ia colher as pitangas, Trepava a tirar as mangas, Brincava à beira do mar; Rezava às ave-marias, Achava o céu sempre lindo, Adormecia sorrindo E despertava a cantar!

Oh! que saudades que tenhoDa aurora da minha vida,Da minha infância queridaQue os anos não trazem mais!— Que amor, que sonhos, que flores,Naquelas tardes fagueirasÀ sombra das bananeiras,Debaixo dos laranjais!

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Olavo Bilac

Este foi o primeiro poeta brasileiro aescrever especialmente para o públicoinfanto-juvenil. Neste poemas, estavamaio preocupado em ensinar do queem brincar e jogar com ao palavras.Ensina sobre a Liberdade falando da dorde um pássaro preso na gaiola, sobrea lealdade falando da relação deum cão com seu dono.

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O pássaro cativo

Armas, num galho de árvore, o alçapão; E, em breve, uma avezinha descuidada, Batendo as asas cai na escravidão.

Dás-lhe então, por esplêndida morada,A gaiola dourada;

Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos; e tudo: Por que é que, tendo tudo, há de ficar

O passarinho mudo, Arrepiado e triste, sem cantar?

É que, criança, os pássaros não falam.Só gorjeando a sua dor exalam,Sem que os homens os possam entender;

Se os pássaros falassem, Talvez os teus ouvidos escutassem Este cativo pássaro dizer:

"Não quero o teu alpiste! Gosto mais do alimento que procuro Na mata livre em que a voar me viste; Tenho água fresca num recanto escuro

Da selva em que nasci;Da mata entre os verdores,Tenho frutos e flores,Sem precisar de ti!

Não quero a tua esplêndida gaiola! Pois nenhuma riqueza me consola De haver perdido aquilo que perdi... Prefiro o ninho humilde, construído

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De folhas secas, plácido, e escondido Entre os galhos das árvores amigas... Solta-me ao vento e ao sol!

Com que direito à escravidão me obrigas? Quero saudar as pompas do arrebol!

Quero, ao cair da tarde, Entoar minhas tristíssimas cantigas! Por que me prendes? Solta-me covarde! Deus me deu por gaiola a imensidade... Não me roubes a minha liberdade...

Quero voar! voar!..."

Estas coisas o pássaro diria,Se pudesse falar.

E a tua alma, criança, tremeria,Vendo tanta aflição:

E a tua mão, tremendo, lhe abririaA porta da prisão...

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Plutão

Negro, com os olhos em brasa Bom, fiel e brincalhão, Era a alegria da casa O corajoso Plutão.

Fortíssimo, ágil no salto, Era o terror dos caminhos, E duas vezes mais alto Do que o seu dono Carlinhos.

Jamais à casa chegara Nem a sombra de um ladrão; Pois fazia medo a cara Do destemido Plutão.

Dormia durante o dia, Mas, quando a noite chegava, Junto à porta se estendia, Montando guarda ficava.

Porém Carlinhos, rolando Com ele às tontas no chão, Nunca saía chorando Mordido pelo Plutão...

Plutão velava-lhe o sono, Seguia-o quando acordado: O seu pequenino dono Era todo o seu cuidado.

Um dia caiu doente

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Carlinhos... Junto ao colchão Vivia constantemente Triste e abatido, o Plutão.

Vieram muitos doutores, Em vão. Toda a casa aflita, Era uma casa de dores, Era uma casa maldita.

Morreu Carlinhos... A um canto Gania e ladrava o cão; E tinha os olhos em pranto, Como um homem, o Plutão.

Depois, seguiu o menino, Seguiu-o calado e sério; Quis ter o mesmo destino: Não saiu do cemitério.

Foram um dia à procura Dele. E, esticado no chão, Junto de uma sepultura, Acharam morto o Plutão.

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Gonçalves Dias

Gonçalves Dias criou uma obra voltada paraa valorização do índio brasileiro.

Se você ler este poema em voz alta,vai notar a preocupação do autor com o ritmo.

É como se os tambores de guerra ficassembatendo, marcando a cadência do poema.

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CANÇÃO do Tamoio(Natalícia)

I

Não chores, meu filho; Não chores, que a vida E luta renhida: Viver é lutar. A vida é combate, Que os fracos abate, Que os fortes, os bravos, Só pode exaltar.

II

Um dia vivemos! O homem que é forte Não teme da morte; Só teme fugir; No arco que entesa Tem certa uma presa, Quer seja tapuia, Condor ou tapir.

III

O forte, o cobarde Seus feitos invejaDe o ver na peleja Garboso e feroz; E os tímidos velhos Nos graves conselhos, Curvadas as frontes,

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Escutam-lhe a voz!

IV

Domina, se vive; Se morre, descansa Dos seus na lembrança, Na voz do porvir. Não cures da vida! Sê bravo, sê forte! Não fujas da morte, Que a morte há de vir!

V

E pois que és meu filho, Meus brios reveste; Tamoio nasceste, Valente serás. Sê duro guerreiro, Robusto, fragueiro, Brasão dos tamoios Na guerra e na paz.

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VI

Teu grito de guerra Retumbe aos ouvidos D'imigos transidos Por vil comoção; E tremam d'ouvi-lo Pior que o sibilo Das setas ligeiras, Pior que o trovão.

VII

E a mãe nessas tabas, Querendo calados Os filhos criados Na lei do terror; Teu nome lhes diga, Que a gente inimiga Talvez não escute Sem pranto, sem dor!

VIII

Porém se a fortuna, Traindo teus passos, Te arroja nos laços Do imigo falaz! Na última hora Teus feitos memora,Tranqüilo nos gestos, Impávido, audaz.

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IX

E cai como o tronco Do raio tocado, Partido, rojado Por larga extensão; Assim morre o forte! No passo da morte Triunfa, conquista Mais alto brasão.

X

As armas ensaia, Penetra na vida: Pesada ou querida, Viver é lutar. Se o duro combate Os fracos abate, Aos fortes, aos bravos, Só pode exaltar.

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Poemas de raízes populares

B R A G U I N H AA L B E R T O R I B E I R O

C A R T O L AC A R L O S C A C H A Ç A

H E R M Í N I O B E L L O D E C A R V A L H O

M A R I N O P I N T O P A U L O S O L E D A D E

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Braguinha e Alberto Ribeiro

"Noite de junho" é de uma época em que soltarbalão não represe atava um perigo tão grande.O poema tem as luzes, a alegria e o toque de

melancolia das festas de São João.Em "Tem gato na tuba", o talento de Braguinha

aproveitou uma cena engraçada para compor a letrade uma alegre marchinha de Carnaval.

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Noite de junho

Noite fria, tão fria de junhoOs balões para o céu vão subindoEntre as nuvens aos poucos sumindoEnvoltos em tênue véuOs balões devem ser, com certezaAs estrelas daqui deste mundoQue as estrelas do espaço profundoSão os balões lá do céuBalão do meu sonho douradoSubiste enfeitadoCheinho de luzDepois as crianças tascaramRasgaram teu bojoDe listras azuisE tu que invejando as estrelasSonhavas ao vê-lasSer astro no céu Hoje, balão apagado Acabas rasgado Em trapos ao léu

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Tem gato na tuba

Todo domingoHavia bandaNo coreto do jardimE já de longeA gente ouviaA tuba do SerafimPorém um diaEntrou um gatoNa tuba do SerafimE o resultadoDessa "melodia"Foi que a tubaTocou assim:Pum, pum, pum — miauPum, pururum, pum, pum — miauPum, pum, pum — miauPum, pururum, pum, pum — miau...

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Car to l a ,

Ca r lo s Cachaça e

Hermín io Be l l o de Ca rva lho

Cartola e Carlos Cachaça compuseram a primeiraparte deste poema que Hermínio Bello de Carvalho

completou. Há tanta luz e beleza neste poema quantoa luz e a beleza ao alvorecer no morro cantado

pelos poetas.

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Alvorada no morro

AlvoradaLá no morro, que belezaNinguém chora, não há tristezaNinguém sente dissaborO sol colorindoE tão lindo, é tão lindoE a natureza sorrindoTingindo, tingindo

Você também me lembra a alvoradaQuando chega iluminandoMeus caminhos tão sem vidaMas o que me restaE bem pouco, quase nadaDo que ir assim vagandoNuma estrada perdida

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Mar ino P in to e

Pau lo So l edade

Este é mais um poema que é também letra de música.Na verdade ele conta uma história, a lenda do

nascimento da estrela-do-mar.

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Estrela-do-mar

Um pequenino grão de areia Que era um pobre sonhador Olhando o céu viu uma estrela Imaginou coisas de amor Passaram anos, muitos anos Ela no céu, ele no mar Dizem que nunca o pobrezinho Pôde com ela se encontrar

Se houve ou se não houve Alguma coisa entre eles dois Ninguém soube até hoje explicar O que há de verdade É que depois, muito depois Apareceu a estrela-do-mar

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GLOSSÁRIO

As palavras estão explicadas neste glossáriosó pelo sentido com que estão empregadas neste livro.

alvorada — amanhecer.arrebol — cor avermelhada do nascer ou pôr-do-sol.arrojar — lançar-se.audaz — ousado.aurora — o nascer do sol, começo de vida.brasão — glória.brios — valentia.cobarde — forma antiga de covarde.conselhos — reuniões, assembléias.dissabor — desgosto, contrariedade.entesar — esticar.fagueiras -agradáveis, serenas.falaz — enganador, fraudulento.fatalizado — morto.flácido — mole.fortuna — destino.guisar — cozinhar com molho e temperos.impávido — destemido.lépido — alegre, ágil.natalícia — feita por ocasião de um nascimento.plácido — tranqüilo.pompas — grande luxo.porvir — futuro.renhida — disputada.tapir — anta.tapuia — índio considerado bárbaro pelos demais.tênue — fino.transidos — atingidos.tuba — instrumento de sopro grande e grave.

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Esta obra foi digitalizada pelo grupo Digital Source para proporcionar, de maneira

totalmente gratuita, o benefício de sua leitura àqueles que não podem comprá-la ou

àqueles que necessitam de meios eletrônicos para ler. Dessa forma, a venda deste e-

book ou até mesmo a sua troca por qualquer contraprestação é totalmente condenável

em qualquer circunstância. A generosidade e a humildade é a marca da distribuição,

portanto distribua este livro livremente.

Após sua leitura considere seriamente a possibilidade de adquirir o original, pois

assim você estará incentivando o autor e a publicação de novas obras.

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