Vaso do Monte da Vinha Espólio da Gruta do Correio-MórCurso de Iniciação A CERÂMICA ROMANA EM...

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O MNA RECEBE ACERVOS NOTÁ VEIS Vaso do Monte da Vinha Espólio da Gruta do Correio-Mór Conforme noticiámos em anterior Boletim do GAMNA, foi doado em Junho de 2003 ao Museu, pelo escritor Mário de Carvalho, membro do nosso Grupo de Amigos, um notável vaso de cerâmica datado do Neolítico Antigo, pertencente à sua família e encontrado fortuitamente há muitos anos, no decurso de trabalhos agrícolas na Herdade do Monte da Vinha, freguesia de Alvalade do Sado e concelho de Santiago do Cacém. Trata-se de um vaso de forma ovóide, ou em “fundo de saco” , de colo alto e cilíndrico, com 23,5 cm de altura e 18,9 cm de diâmetro máximo, ostentando três asas verticais e assimétricas de suspensão e decoração feita a partir de matriz impressa, organizada em faixas paralelas e horizontais marcando o início do bojo e asas. Este vaso está a ser estudado pelo Doutor Carlos Tavares da Silva, que o publicará na revista do Museu, “O Arqueólogo Português” . Podemos, no entanto, adiantar, que este tipo de vasos com a sua característica forma e decoração, integram- se no conjunto das mais antigas produções cerâmicas, características do Neolítico Antigo do Mediterrâneo Ocidental, e são em regra, achados isolados, raramente surgindo em contextos arqueológicos, o que indicará porventura um carácter votivo, mais do que funerário ou de uso comum. No caso presente, contudo, mercê das informações obtidas da família do doador será talvez possível identificar o local exacto da descoberta, à qual parecem ter estado associados outros objectos neolíticos. ? ? ? ? ? Foi recentemente depositado no nosso Museu pelo Doutor João Luís Cardoso, um importante conjunto de materiais arqueológicos provenientes da gruta do Correio-Mór, no concelho de Loures, completando assim o núcleo inicial doado em 1987 pelo Doutor Manuel Leitão, um dos escavadores do sítio, acto que mereceu despacho de incorporação definitiva por parte do Secretário de Estado da Cultura datado, em 16 de Dezembro desse ano. A Gruta do Correio-Mór, identificada em 1974, encontrava-se ameaçada e foi efectivamente destruída pela exploração de uma pedreira, pelo que mereceu uma intervenção com carácter de emergência por uma equipa constituída por G. Zbyzewski, O. da Veiga Ferreira, M. Leitão e C. T. North. A escavação revelou uma ocupação humana de larga diacronia, desde o Paleolítico Médio até à Idade do Ferro. Particularmente expressivas são as ocupações da gruta como necrópole no Neolítico Antigo, com cerâmicas decoradas de tipo impresso, nomeadamente cardiais, e ossos humanos, que forneceram uma datação radiocarbónica do final do 6º milénio a.C. Muito importante também é o espólio atribuído ao Calcolítico, de que se salienta um notável conjunto votivo constituído por ídolos de calcário, alguns dos quais decorados, onde estão representados os exemplares de forma cilíndrica e semicilíndrica, mais comuns, mas também outras formas, raras e mesmo inéditas. Desenho de Helena Figueiredo Anel de granadas Foi doado ao MNA, pelos herdeiros do Dr. João Pina d’ Aragão e Costa, os senhores João Nuno Montenegro de Pina Aragão, José Augusto Montenegro de Pina Aragão, Fernando Luís Montenegro de Pina Aragão, Francisco Manuel Montenegro de Pina Aragão e Maria Margarida Montenegro de Pina Aragão, um anel de ouro com granadas, atribuível ao Período Visigótico. Será no futuro exposto na sala Tesouros da Arqueologia Portuguesa” , enriquecendo assim um período 2005 5 Janeiro

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O MNA RECEBE ACERVOS NOTÁ VEIS

Vaso do Monte da Vinha Espólio da Gruta do Correio-Mór

Conforme noticiámos em anterior Boletim do GAMNA, foi doado em Junho de 2003 ao Museu, pelo escritor Mário de Carvalho, membro do nosso Grupo de Amigos, um notável vaso de cerâmica datado do Neolítico Antigo, pertencente à sua família e encontrado fortuitamente há muitos anos, no decurso de trabalhos agrícolas na Herdade do Monte da Vinha, freguesia de Alvalade do Sado e concelho de Santiago do Cacém. Trata-se de um vaso de forma ovóide, ou em “fundo de saco”, de colo alto e cilíndrico, com 23,5 cm de altura e 18,9 cm de diâmetro máximo, ostentando três asas verticais e assimétricas de suspensão e decoração feita a partir de matriz impressa, organizada em faixas paralelas e horizontais marcando o início do bojo e asas. Este vaso está a ser estudado pelo Doutor Carlos Tavares da Silva, que o publicará na revista do Museu, “O Arqueólogo Português”. Podemos, no entanto, adiantar, que este tipo de vasos com a sua característica forma e decoração, integram-se no conjunto das mais antigas produções cerâmicas, características do Neolítico Antigo do Mediterrâneo Ocidental, e são em regra, achados isolados, raramente surgindo em contextos arqueológicos, o que indicará porventura um carácter votivo, mais do que funerário ou de uso comum. No caso presente, contudo, mercê das informações obtidas da família do doador será talvez possível identificar o local exacto da descoberta, à qual parecem ter estado associados outros objectos neolíticos.

? ? ? ? ? Foi recentemente depositado no nosso Museu pelo Doutor João Luís Cardoso, um importante conjunto de materiais arqueológicos provenientes

da gruta do Correio-Mór, no concelho de Loures, completando assim o núcleo inicial doado em 1987 pelo Doutor Manuel Leitão, um dos escavadores do sítio, acto que mereceu despacho de incorporação definitiva por parte do Secretário de Estado da Cultura datado, em 16 de Dezembro desse ano. A Gruta do Correio-Mór, identificada em 1974, encontrava-se ameaçada e foi efectivamente destruída pela exploração de uma pedreira, pelo que mereceu uma intervenção com carácter de emergência por uma equipa constituída por G. Zbyzewski, O. da Veiga Ferreira, M. Leitão e C. T. North. A escavação revelou uma ocupação humana de larga diacronia, desde o Paleolítico Médio até à Idade do Ferro. Particularmente expressivas são as ocupações da gruta como necrópole no Neolítico Antigo, com cerâmicas decoradas de tipo impresso, nomeadamente cardiais, e ossos humanos, que forneceram uma datação radiocarbónica do final do 6º milénio a.C. Muito importante também é o espólio atribuído ao Calcolítico, de que se salienta um notável conjunto votivo constituído por ídolos de calcário, alguns dos quais decorados, onde estão representados os exemplares de forma cilíndrica e semicilíndrica, mais comuns, mas também outras formas, raras e mesmo inéditas.

Desenho de Helena Figueiredo

Anel de granadas Foi doado ao MNA, pelos herdeiros do Dr. João Pina d’Aragão e Costa, os senhores João Nuno Montenegro de Pina Aragão, José Augusto Montenegro de Pina Aragão, Fernando Luís Montenegro de Pina Aragão, Francisco Manuel Montenegro de Pina Aragão e Maria Margarida Montenegro de Pina Aragão, um anel de ouro com granadas, atribuível ao Período Visigótico. Será no futuro exposto na sala “Tesouros da Arqueologia Portuguesa”, enriquecendo assim um período

Nº2005 5Janeiro

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Actividades passadas do GAMNA Como tem sido amplamente observado, as actividades do GAMNA têm vindo a processar-se em ritmo crescente, procurando também diversificar-se, de acordo com as orientações definidas na última Assembleia-Geral do Grupo, realizada em Junho passado. São tantas e tão variadas, que se torna impossível referi-las todas, com o destaque devido, dado o limitado espaço deste Boletim. Ainda assim, assinalemos algumas. No domínio das acções de formação, refira-se o Curso intensivo Aprender Epigrafia, hoje (1), leccionado com tanto êxito pelo Prof. Dr. José d’ Encarnação ou o Curso de Introdução à Arqueologia do Próximo-Oriente Antigo, leccionado pelo Doutor Álvaro Figueiredo e pela Arquitecta e Museóloga Helena Delgado, o qual ainda decorre, constituindo uma experiência inovadora que a prática nos revela dever ser retomada nos próximos anos. No domínio das conferências, salientam-se as palestras da Prof. Dra. Maria Helena Trindade Lopes, sobre O Palácio de Apriés (2), e a da Doutora Ângela Carneiro, sobre A Cultura de Lengyel. Quanto a lançamentos de livros, o destaque vai para a obra Impressões da Síria, da nossa consócia Arquitecta Leonor Janeiro, livro que resultou da viagem do Grupo àquele país, no ano passado. Em matéria de exposições apoiadas pelo GAMNA merece referência a que permitiu mostrar ao público português parte da Colecção de Joalharia Contemporânea do Ocresná Museum (República Checa).

No plano das viagens e visitas de estudo, importa sublinhar o significativo alargamento da oferta proporcionado pelo GAMNA. Assim e correspondendo às sugestões de alguns dos sócios, iniciou-se em Setembro com uma jornada de “museu portas-abertas” (3), durante a qual se organizaram visitas guiadas a zonas de reservas e laboratórios, seguindo-se mais tarde uma visita mais restrita às Colecções Etnográficas. Deu-se continuidade às visitas a sítios arqueológicos portugueses, diversificando-as também: Lisboa Romana e Criptopórtico romano da Rua da Prata (4), respectivamente sob orientação do Doutor Clementino Amaro e do Doutor Cardim Ribeiro; Villa romana do Rabaçal e património arqueológico de Penela (5), guiados pelo Doutor Miguel Pessoa; Rio Sado e Alentejo Litoral (6), passeio de dois dias que contou com o apoio precioso de entidades diversas, com relevo para as autarquias de Alcácer do Sal e Ferreira do Alentejo, o Museu de Arqueologia e Etnografia de Setúbal, a Direcção Regional do Sul do IPPAR e a empresa IMOAREIA. Finalmente, é-nos especialmente grato recordar neste breve resumo de actividades o Concerto de Natal oferecido ao GAMNA pelo grupo coral “Cantores de Letras” (7), que foi a actividade deste tipo com maior sucesso até hoje realizada, proporcionando-nos um cativante momento de confraternização. Na mesma data foi inaugurada no átrio do Museu a nova apresentação da vitrina do GAMNA, subordinada ao tema O Presépio na Tradição Popular Portuguesa, e foi lançado um bilhete postal de Boas Festas, com desenho de George Leisner.

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Breves…

O MNA esteve presente no IV Congresso de Arqueologia Peninsular, organizado pela Universidade do Algarve, com a instalação de uma banca de venda de publicações e o lançamento do volume de “O Arqueólogo português” que inicia uma nova fase da revista. Finka-Pé no MNA

Numa organização do IPM e integrado no programa “Museus e Outras Artes”, o MNA acolheu em 25 de Setembro uma actuação de grupo FINKA-PÉ, conjunto de batuqueiras cabo-verdianas, que nos proporcionaram um momento de grande intensidade rítmica e humana. Sem dúvida, uma ideia a repetir !

Remodelação do MNA Acaba finalmente de ser recebido pelo IPM o parecer do IPPAR relativamente ao projecto de obra de remodelação do MNA. Emitido pelo Conselho Consultivo daquele Instituto, trata-se de um parecer positivo que permitirá agora passar à fase seguinte do processo: projecto de execução e concurso público internacional.

Literatura de cordel (folheto do séc. XVIII)

Doação ao MNA de verbetes originais de Leite de Vasconcelos

Adivinhas Populares Foi doado ao nosso Museu pelo Arqto. Henrique Chicó, filho da Doutora Maria Alice Lami Tavares Chicó, um notável conjunto inédito de verbetes de Adivinhas Populares, recolhidas pelo Doutor José Leite de Vasconcelos e que possivelmente teriam sido confiados àquela eminente investigadora, para estudo e futura publicação. É intenção da direcção do Museu providenciar a organização deste importante conjunto para publicação futura. A título informativo, acrescente-se que o muito diversificado fundo documental do Museu sugere múltiplas opções que possibilitariam edições fundamentais para a divulgação do nosso património. Presentemente, as quatro seguintes publicações encontram-se em fase já adiantada de estudo e preparação: . Registos de Santos, colecção de 2793 registos, pertencentes a Aníbal Fernandes Tomás e adquiridos por José Leite de Vasconcelos; . Epistolário de Manuel Heleno, adquirido pelo Museu em 1998, e constituído por cerca de 870 correspondentes; . Literatura de cordel, colecção de mais de 900 folhetos adquiridos por José Leite de Vasconcelos e publicados entre o séc. XVII e séc. XX; . Satira da Felice he Infelice vida do Condestavel D. Pedro, manuscrito do séc. XV, em castelhano, de que só se conhecem mais dois exemplares em todo o Mundo.

Em preparação com o apoio do GAMNA

Informações [email protected]

16 A 18 DE MAIO 2005

Curso de Iniciação A CERÂMICA ROMANA EM PORTUGAL Compreensão das técnicas de fabrico e observação e descrição das pastas 4 e 5 de Março de 2005 Por Anne Schmitt e Inês Vaz Pinto (colaboração de Catarina Viegas e Jeannette U. S. Nolen)

Curso Intensivo

AS ÂNFORAS ROMANAS Fontes para o estudo da produção, comércio e consumo de alimentos

17 a 18 de Junho de 2005

Por Carlos Fabião

Curso de Iniciação

MUMIFICAÇÃO NO ANTIGO EGIPTO

Por Luís Manuel Araújo e Álvaro Figueiredo

12 a 15 de Abril de 2005

Viagem a Trás-os-Montes

Itinerário camiliano (com incursões arqueológicas de

Vila Real a Ribeira de Pena)

11 e 12 de Junho de 2005

Com partida e chegada do Porto

DIA INTERNACIONAL

DOS MUSEUS 18 DE MAIO

Consulte o programa

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“Learning Roman Ceramics - Hands On”

Decorreram durante os meses de Julho, Agosto e Setembro no MNA actividades de tratamento, inventariação e classificação de cerâmicas

romanas das colecções do Museu, numa actividade que foi dinamizada e orientada pelas Doutoras Catarina Viegas e Maia Langley.

Estudantes provenientes de universidades de vários países (Inglaterra, Alemanha, África do Sul, Israel, México, Canadá, Republica Checa,

Índia e Estados Unidos) e da Faculdade de Letras de Lisboa puderam assim passar parte das suas férias de Verão na observação prática e

estudo da cerâmica do período romano. As actividades desenvolvidas vão desde a limpeza e tratamento das

cerâmicas, passando pela sua marcação, classificação e inventário. Ao mesmo tempo está a ser criada uma base de dados informatizada

onde são introduzidas informações sobre os milhares de fragmentos cerâmicos que estão a ser objecto de investigação.

Dado o êxito alcançado, o projecto, que conta com o apoio do GAMNA, será continuado no próximo ano.

Remodelação do web site do MNA Biblioteca on-line Acaba de ser colocada em linha uma nova versão do sítio Internet do MNA, mantendo embora a mesma filosofia e imagem gráfica de base – as quais justificaram o prémio internacional recebido e de que demos já nota em anterior número deste Boletim. Uma análise atenta revelará importantes mudanças ao nível da organização do sítio, com a possibilidade de adicionar muito mais páginas e novos conteúdos. Pretendeu-se tornar ainda mais acolhedora a navegação do internauta e adoptou-se o sistema de “back-office” para a totalidade dos conteúdos. Uma das principais mais valias agora introduzidas é a do acesso on-line à biblioteca do Museu (mais de 13 000 títulos por agora), através do sistema Bibliobase. As alterações agora introduzidas foram integralmente financiadas pelo GAMNA.

- as voltas de uma vida Foi inaugurada em Castelo Branco, no Museu de Francisco Tavares Proença Júnior, a exposição em epígrafe, organizada pelo GAMNA e pela Sociedade de Amigos daquele Museu. A exposição, evocativa daquele ilustre antigo director de ambos os museus, esteve entretanto também já patente ao público na Reitoria da Universidade de Lisboa, prevendo-se que seja proximamente apresentada no Centro Nacional de Cultura e no

Exposição conjunta do GAMNA e da SAMFTPJ