VEBLEN, Thorstien_Consumo Conspícuo_ a Teoria Da Classe Ociosa

17
Prof. RUYCOELHO Prof. OCTAVIO IANNI Prof. LUIZPEREIRA Prois. Nestor de Alenc8r - Vicente Unzer de Al- meida - F. Bastos de Avila - Julio Barbosa - Tocary Assis Bastos - Paula Beiguelman - Csndido Procopio Ferreira de Camargo - Wilson Cantoni - Fernando Henrique Cardoso - Orlando M. Carvalho - Helena Maria Pereira de Carvalho - Orlando Teixeira da Costa - Levi Cruz.- Mario Wagner Vieira da Cunha - A. Delorenzo Neto - Florestan Fernandes - Pinto Ferreira - Marialice Mencarini FOl'acchi - Frank Goldman - Augusto Guelli Netto - Juarez Brandlio Lopes - Silvio Loreto - J. V.•F.t,~itasMarcondes ,- Maria Olga Mattar - Laudelino' T: Medeiros -Djacir Menezes - Douglas Teixeira Monteiro -::. Evaristo de Moraes Filho - Aldemar Moreira - Edmundo Acacio Moreira - Renato Jardim Moreira - Oraey Nogueira - L. A. Costa Pinto - Maria Isaura Pereira de Queiroz - Joao Dias RalIlalho - Alberto Guerreiro Ramos - Jose Artur Rios - Aziz Simao - Nelson Werneck So- dre - Henrique Stodieck - Oswaldo Elias Xidieh. ATEORIA DA CLASSEOCIOSA Traduc;lio de OLIVIA KRXHENBUHL LIVRARIA PIONEIRA EDITORA SAO PAULO

Transcript of VEBLEN, Thorstien_Consumo Conspícuo_ a Teoria Da Classe Ociosa

Page 1: VEBLEN, Thorstien_Consumo Conspícuo_ a Teoria Da Classe Ociosa

Prof. RUYCOELHOProf. OCTAVIOIANNIProf. LUIZPEREIRA

Prois. Nestor de Alenc8r - Vicente Unzer de Al-meida - F. Bastos de Avila - Julio Barbosa - TocaryAssis Bastos - Paula Beiguelman - Csndido ProcopioFerreira de Camargo - Wilson Cantoni - FernandoHenrique Cardoso - Orlando M. Carvalho - HelenaMaria Pereira de Carvalho - Orlando Teixeira daCosta - Levi Cruz.- Mario Wagner Vieira da Cunha- A. Delorenzo Neto - Florestan Fernandes - PintoFerreira - Marialice Mencarini FOl'acchi - FrankGoldman - Augusto Guelli Netto - Juarez BrandlioLopes - Silvio Loreto - J. V.•F.t,~itasMarcondes ,-Maria Olga Mattar - Laudelino'T: Medeiros -DjacirMenezes - Douglas Teixeira Monteiro -::. Evaristo deMoraes Filho - Aldemar Moreira - Edmundo AcacioMoreira - Renato Jardim Moreira - Oraey Nogueira- L. A. Costa Pinto - Maria Isaura Pereira de Queiroz- Joao Dias RalIlalho - Alberto Guerreiro Ramos -Jose Artur Rios - Aziz Simao - Nelson Werneck So-dre - Henrique Stodieck - Oswaldo Elias Xidieh.

ATEORIADA

CLASSEOCIOSA

Traduc;lio de

OLIVIA KRXHENBUHL

LIVRARIA PIONEIRA EDITORASAO PAULO

Page 2: VEBLEN, Thorstien_Consumo Conspícuo_ a Teoria Da Classe Ociosa

o paddio de vida pecuniario

Regras pecuniarias do gosto

Todos os direitosreservados por

ENIO MATHEUS GUAZZELLI & CIA. LTDA.

Rua 15 de Novembro, 228 ~4.o andar, sala 412Telefone: 33-5421- Sao Paulo

Impressa nos Estados Unldos do BrasilPrinted, in the United, States of BraziL

4774103114

Page 3: VEBLEN, Thorstien_Consumo Conspícuo_ a Teoria Da Classe Ociosa

Ao BE FALAR DA EVOLUQllo da classe ociosa ~~~a:riaeda sua difel'enciaga.o das demais classes trabalhadoras,fez-se referencia a uma ontra divisao do trabalho, aenstente entre as diversas classes de criados dome§-ticos. Uma parte dessa classe servil, constituida priit-c'ijJalmente pelos individuos cuja ocupagao e 0 6ciovicario, assume eventualmente uma nova especie de de-veres secundarios - 0 consumo vicario de bens. Aforma mais evidente que toma este consumo e 0 usade libres e a utilizagao de acomodagoes domesticas es-pagosas. Uma outra forma, so ligeiramente menosostensiva ou menos efetiva do que a primeira, e muitomais comum, e 0 consumo de alimento, vestuario,moradia e mobilia pela senhora e pelo resto do estabe-lecimento domestico.

ltsse consumo especializado de bens, entretanto, janum momento da evolugao economica muito anterior aoaparecimento da senhora, se tinha constituido numsistemamais ou menos elaborado, como prova de forgap~~!lll~ria. 0 inicio de uma diferenciagao no consumoe mesmo anterior a qualquer possivel forga pecuniaria.

(, (

'\' ')'< /-COnSplCUO

Pode-se mesmo encontrar tal diferenciagao no inicioda cultura predatoria' sugere-se ate que uma diferen-ciagao incipiente, nest~ questa-a, e~istiu antes do imcio.da vida predatoria. Esta dife~encu~,ga.o.no consumo ~ebens existente no momento malS prlnntlvo da evolugaocultural assemelha-se a diferenciagao posterior,· quee hoje tio intimamente familiar, pelo fato de serem am-bas de carateI' cerimonial; difere dela, todavia, porquenao se apoia numa diferenga de riqueza acumulada.Deve-se classificar a_J!.t!~~_~~,,~~l?,Il_~,,!1.P:!Q~g,2W2_.l:)Eoyade riqueza, como urn desenvoIvlmento denvado. Eadaptagao a novo fim, pOl' processo seletivo, de umadiferenga que existia anteriormente e que se tinha fir-memente estabelecido nos habitos de pensamento doshomens.

Nas primeiras fases da cultura predatoria, a unicadiferenciagao economica e a ampla separagao entre umaciasse honorffica superior de urn lade, constituida peloshomens plenamente capazes, e de outro, uma classe in-ferior e despreziveI, que faz todo 0 trabalho, constituidapOl' mulheres. A funglio dos homens, de aoordo com 0esquema de vida ideal, naquele tempo, e consumir 0

que as mulheres· produzem. 0 consumo, que cabe asmulheres, e meramente incidental; e um meio paraque possam continual' a trabalhar, e nao visa 0 pro-prio conforto e plenitude de vida. 0 consumo im-produtivo de bens e honorifico, principalmente porquee uma marca de proeza e um requisito da dignidade hu-mana; secundariamente, torna-se tal consumo POI' S1mesmo substancialmente honorifico, especialmente nocaso das coisas mais desejaveis. 0 consumo de certasiguarias, e freqiientemente, tambem, de artigos rarosde adorno, torna-se tabu para as mulheres e as criangas,como tambem para a c1asse sernl masculina, quandoela existe. ltste tabu, com 0 progresso da cultura setransforma em simples costume, de um carateI' mais oumenos rigoroso. De qualquer modo, todavia, nao im-

Page 4: VEBLEN, Thorstien_Consumo Conspícuo_ a Teoria Da Classe Ociosa

portando a base teorica da distiugao mantida, seja umtabu seja uma cOllvellgaosocial mais ampla, as caracte-rlsti~as do esquema convencional de consumo nao mu-dam facilmente. }Alcangado 0 estagio quase-pacffico deindustria, com aescravidao como sua instituigao funda-mental, 0 principio gel'aI, mais ou menos rigorosamenteobservado, e que a classe servil industrial deve consumirsomente 0 que e necessario a sua subsistencia. Pelapropria natureza das coisas, os luxos e os confortos da

. vida pertencema classe superior. Em virtude do tabu,certos alimentos e mais particularmente certas bebidassac estritamente reservados a essa classe.

A diferenciagko cerimonial na alimentagao se ob-serva principalmente quanto ao uso de bebidas intoxi-cantes e de narcoticos. Estes artigos de con~umo sacdispendiosos e portanto nobres e honorfficos~ . Assim,as classes servis, especialmente as mulheres,praticamuma abstinencia for gada de tais estimulantes, excetonos palses ande podem serobtidos a baixo prego. Desdeos tempos arcaicos ate 0 fim do regime patriarca!, afungao das mulheres e preparar e servir estes artigosde luxo e a fungao dos homeus da classe superior e .consumi-Ios. Desse modo, a embriaguez e as outrasconseqiiencias patologicas do livre uso de tais estimu-lantes tendem a se tornar honorificos, porque sac tam-bem 0 sinal do status superior daqueles que tem a ca-pacidade economica para usa-los. As enfermidadesconseqiientes do seu abuso entre muitos povos sac tidascomo atributos de masculinidade. Nalguns casos, asproprias designagoes de certas condigoes patologicas,resultantes do uso de estimulantes, entraram para alingua quotidiana como sinonimos de "nobre" ou "su-perior". Os sintomas de vlcio dispendioso, somentenum estagio relativamente primitivo da cultura, sacconvencionalmente aceitos como atributos de statussuperior, tendendo a se tornarvirtudes e a obter a defe-rencia da comunidade; apesar disso, a respeitabilidade

ligada a certos vlcios dispendiosos retem muito de suaforga, de modo que ela diminui de modo apreciavel adesaprovagao social dos homens rieos ou de elas~e no:bre que a eles se entregam. Pelo mesmo mohvo, emuito mais forte a desaprovagao de tais vleios, no casude mulheres menores ou pessoas inferiores. Essaodiosa disc;iminagao tradicional permanece atual-mente mesmo nos povos mais avangados. Ve-se assimque, onde 0 exemplo da class~ oeiosa retem ~ sua f?r~aimperativa na regulamentagao das convengoes SOClalS,as muTheres em grande parte observam ainda a mesmaabstinencia tradicional de estimulantes.

Esta caraeterizagao de uma maior abstinencia nouso de estimulantes pOI'parte das muTheres das classessuperiores parecera talvez urn excesso de logica a custado bom senso. Entretanto, os fatos pertinentes, ime-diatamente acesslveis a quem quer que queira observa--los, mostram que a maior abstinencia das mulheres secleve, em parte, a uma convengao social imperativa;esta convengao, de modo geral, e mais forte onde con-tinua com a sua maior forga a tradigao partriarcal, atradigao de que a mulher e propriedade.\Segundo. esta \.tradigao, que num certo: sentido,foi grandemente modi-ficada em ambito e rigor, mas que de modo algum per-deu ainda 0 sentido original, a muTher, sendo proprie-dade, deve consumir somente 0 que e necessario ao seusustento, exeeto na medida em que qualquer consumoexcedente contribui para 0 eonforto ou a respeitabili-dade de seu senhor. 0 consumo de artigos de luxo, noseu verdadeiro sentido, e consumo que visa 0 conforto !

~~t~;i.Q~~;~~~~~~;='~s~id~t~oartr~~i;~sd~;a~:e~ \apenas toleradQ:] Nalgumas comunidades, em que oshabitos de pensamento populares foram profundamentemoldados pela tradigao patriarcal, esperam-se conse-qiientemente as sobrevivencias do tabu relativo ao con-sumo de artigos de luxo, pelo menos sob a forma de

Page 5: VEBLEN, Thorstien_Consumo Conspícuo_ a Teoria Da Classe Ociosa

uma desaprova<,;ao de seu uso pela classe servil. Istoe verd~de especialmente no tocante a certos artigos deluxo cujo uso pela classe dependente diminuiria sen-slvelmente 0 conforto ou 0 prazer de seus senhores ouque pdr outros motivos sac tidos como de legitimidadeduvidosa. No entender da grande classe media conser-vadora da civiliza<,;aoocidental, 0 uso destes varios es-timulantes e repreensivel pelo menos pOl' um dessesdois motivos, senao pelos dois; e e pOl' demais signifi-cativo 0 fato, para deixar de ser notado aqui, de quee precis amen te nesta classe media da cultura germa-nica, em conseqiiencia do peso das tradi~oes patriar-cais, que as mulheres estao com mais for<;a sujeitas aurn tabu modificado relativamente a narcoticos e bebidasalcoolipas. Muitas qualifica<,;6esexistem, e outras ten-dem a se estabelecer a medida que se enfraquece a tra-dil1aopatriarcal; mas .a regra geral e ainda que ,asmulheres devem consumir tao-somente para 0 proveitode seus senhores. Naturalmente, surge logo umaobje<,;ao6bvia: 0 gasto das mulheres, no vestuario e nosartigos domesticos, constitui exce<,;aoevidente da regra;ver-se-a, contudo, que esta exceQaoe inuito mais aparentedo que real.

Durante, os primeiros estagios do desenvolvimentoeconomico, 0 consumo ilimitado de bens, especialmentedos bens de maior excelencia, e como regra qualquerconsumo que exceda 0 minimo necessario a subsistencia,j)(lrtcnce normalmente a classe ociosa. Esta restriQaotondo a desaparecer, pelo menos formalmente, quando1-10 choga ao ultimo estagio pacifico, com a propriedadepurt.iculur e um sistema industrial fundado no traba-Jho lU:lHuluriudoou na pequena economia domestica.'Po<1nviu,durante 0 estagio anterior quase-pacifico, emquu tomnram forma e consistencia tantas, das tradiQoespor molo uus quais a instituiQao da classe ociosa afetoun vida oconomica de epocas post!'lriol'es, este pl'incipiot,ovofl)rQudo lei consuetudinaria. 0 principio serviu delIorrrm, It quo se tinha de conformal' 0 consumo ; qual-

quer desvio ,apreciavel de tal norma considera-se for-ma aberra£te, destinada a desaparecer mais cedo ou

. mais tarde na evolugao ulterior da cultura.tAssim no estagio quase-pacifico, 0 senhor nao so-

menTe con~ome mais do que 0 minimo necessario a suasubsistencia e eficie:lC.ia f~sic.a..'...m.as 0 seu consum.o s.e ,.',iespecializa quanto a qu~~}~~~~,.itQ.~LJ2g;q..§_.,.~,Q:U,S.ll:w+qQ~_'\:mleconsume IlVremente e ao melliol', no tocante a ali- .mento, bebida, narcoticos, abrigo, servigos, ornamentos,vestuario,. a.rmas ~~rr~llliQoes,d~vertimentos, amuletos,idolos e dlvllldade~,.l,Na melliona gradual, que se pl'o-·cessa nos artigos de seu consumo, 0 motivo e 0 fimproximo da inovagao e sem duvida a maior eficiencia

-<'<" dos novos artigos, mais elaborados e perfeitos, napromo<,;aode seu conforto, e bem-estar pessoal. JIDssenao e porem 0 fim principal de sen conSl1mo. 0 pro-c~ d.e.in.QYflQ,apBofre. t~r9J4fun a influencia do criteriode respeitabilida<re;'na -determinagao dos produtos que,de acordo_~om ere, tem mellior possibilidade de sobre-vivencia. '_'pOl' ser' 0 consumo dos bens de maior exce-lencia prov~ de riqueza, ele se torna honorifico; recl-procamente, a incapacidade de consumir na devidaquantidade e ql1alidade se torna uma marea de inferio-ridade e de demerito ..,.,~

A discriminaQao l'igorosa no tocante a excelencia110S alimentos, na bebida, etc., nao somente passa bemlogo a determinar a maneira de viver como tambem aeducaQao e a atividade intelectual do senhor. 1!:le janao e mais simplesmente 0 homem bem sucedido e agres-sivo, 0 homem forte, atilado e intrepido. :mle tem deevitar a deterioraQao; pOI' isso tem tambeni de-ciiltival'o gosto, ja que Ihe e impresciridivel discrirninar cuiJa-dosamente entre <>que e nobre e 0 que e ign6bil nosbens de seil consum<>. Torna-se ele assim um connois-seur dos aliD:l.entosnobres de varios graus de merito,das bebidase dos .adornQs masculinos, do vestuarioadequado, da arquitetura, das armas, dos jogos, das

Page 6: VEBLEN, Thorstien_Consumo Conspícuo_ a Teoria Da Classe Ociosa

dangas e dos narcoticos. Este cultivo do senso esteticorequer tempo e esfor~o) .portanto, tend~ ele a t!ans-formar a sua vida de OCl0num aprendlzado mars oumenos arduo para uma vida ?~rreta d.e ocio ostensivo.Estreitamente ligado ao re.qUlslto de lIvre co~s~mo ;Iaespecie correta de bens eXlste nm outro reqUIslto; eledeve tambem saber consumi-Ios de modo adeq"?,ado. ~sua vida de ocio cleve ser corretamente condnzlda. Daro aparecimento das boas maneiras,~omo ja se noton numcapitulo anterior. As boas manelr.as e os modos devida refinados sac sinais de confornndade com a normade ocio e de consumo conspicuos.

Para 0 homem odoso, 0 consumo conspicuo de bensvaliosos e um instrumento de respeitabilidade. A me-dida que acumula riqueza, ele e incapaz, sozinho, de de-monstrar a propria opuH~nciapelo consumo conspfcuo.Recorre por isso ao auxilio de amigos e eoncorren-tes, dando-Ihes presentes valiosos e convidando-os parafestas e divertimentos dispendiosos. E verdade quefestas e divertimentos se originaram provavelmente nosimples sentimento ingenue de ostentagao; bem cedo,todavia, adquiriram aquela utilidade de consumo cons-picuo, retendo ate hoje esse carater; as.sim, essautilidade ha muito e 0 fundamento substanclal do seuuso. Os divertimentos custosos, tais como 0 potlatch(festa dada em certas tribos de indios americanos peloaspirante a chefia), e 0 baile, sao especialmente pro-prios para tal fim. 0 concorrente, com 0 qual quer 0

dono da festainstituir uma comparagao de opulencia,(, usndo deste modo como um meio para aquele fim;fIlo consome vicariamente por seu anfitriao, serve aomOl-lInO tempo de testemunha do consumo dos bens va-lioHOHque 0 anfitriao tem em excesso e nao pode con-Humir sozinho, e presencia 0 seu refinamento dentiqueta.

Naturalmente, outros motivos existem, de especiemni/:l generosa, para os divertimentos dispendiosos. 0

costume de reunioes festivas se originou provavelmen-.te em sentimentos de sociabilidade e religiao; taissentimentos tambem se encontram mais tarde, mas janao sac os unicos sentimentos presentes. As fe~tivida-des da classe ociosa no seu pleno desenvolvlmento,continuam provavelm~nte determinadas, muito ligeira-mente, por motivos .religioso~,.e em grande

Aparte p,or

sentimentos de recrelO e conVlVlO;mas elas tem tambemo fim aludido de comparagao quanto aoconsUIDOcons-PlCUOe com nao menor eficacia, apesarda base estra-nha daqueles motivos mais confessaveis. 0 efeito eco-nomico de tais amenidades sociais nao diminuiu comisso, quer quanto ao consUI~lOvicario de. be.:rs, q~e,rquanto a exibigao de conhecrmentos de etIqueta, 001-eeis e onerosos.

A medida que acumula riqueza, desenvolve-se aclasse ociosa em suas fungoes e em sua estrutura, sur-gindo dentro dela uma ulterior divisao. Surg~_UIDsistema mais. ou menos elaborado de status e pos1goes.Esta diferenciagao ainda mais se acentua pela heran<;ade riqueza e a conseqiiente heranga de fidalguia. .A

heranga de fidalguia traz forgosamente a heranga deum ocio obrigatorio; a fidalguia pode ser de tal montaque se herda a vida de ocio sem 0 complemento deriqueza necessario para mante-Ia dignamente. Pode-seherdar sangue nobre sem bens suficientes para pORsi-bilitar um consumo livre e facil numa vida de respei-tabilidade. Dal 0 aparecimento de uma classe de gen-tis-homens sem dinheiro, ja iucidentalmente menciona-da neste estudo. :mstes gentis-homens de meia ca1"tase classificam segundo um sistema de posiQoes hierar-quicas. Aqueles que, pelo nascimento ou pela riqueza,ou pelos dois, estao mais perto das camadas mais ahasda classe ociosa sao superiores aos que, pelo na~ci-mento, estao deles mais afastados ou sao pecunia-riarnente mais fracos. Os gentis-homens das camadasinferiores, bspecialmente os pobres, ou marginais, afi-

Page 7: VEBLEN, Thorstien_Consumo Conspícuo_ a Teoria Da Classe Ociosa

liam-se, pOl' urn sistema de dependencia ou lealdade,aos superiores; deste modo ganham em respeitabilidadeou adquirem de seus patronos os meios necessarios a-vida de 6cio, Tornam-se seus cortesaos, dependentesou servos; e, alimentados e prestigiados pOl' seu pa-trono, constituem-se em indices de sua posigao, consu-mindo vicariamente a sua riqueza superflua. Muitosdestes gentis-homens sao, ao m~~1Il9tempo, pOl' direitoproprio, membros da classe I~'ciosa))assim alguns, soem infima medida, outros, mttj;toparcialmente, se po-dem considerar como consumidores vicarios. Aqueles,todavia, que realmente sao dependentes ou servos deurn. gentil-homem superior devem-se considerar, semreserva, como consumidores vicarios. Ainda: muitosdestes gentis-homens, bem como muitos que pertencema aristocracia inferior, tern, ligados as suas pessoas,grupos rnais au menos extensos deconsumidores vica-rios, constituidos pOl' suas esposas, filhos, criados, de-pendentes, etc.

Em toda esta hierarquia de ocio vicario e consumovicario, a regra e que todos as cargos devem ser exer-cidos de tal modo, ou em circunstancias tais, ou aindasob sinais de tal modo evidentes, que se saiba inequi-vocamente de quem e 0 acio ou 0 consumo a que seligam os dependentes, e a quem de direito pe~t~o resulta~incremento de respeitabilidade. 0-C~)mq e o(Joci?}de tais pessoas representam un: inyesti-"mento que faz 0 senhor ou patrono com a fmahdadede aumentar a sua reputagao. :mste ponto e manifes-tnmente obvio, no tocante a festas e liberalidades; eimediato 0 acrescimo de respeitabilidade do senhor ouplltrono, uma vez quoe0 fato e notorio. No caso do ocio011 consumo de servos e dependentes, 0 acrescimo de,'oHpeitabilidade do senhor ou patrono se prende aofnto de residirem eles na sua vizinhanga, sendo assimnvidente para todos a origem das vantagens auferidas.Ao crescer 0 grupo, cuja estima 0 senhor corteja, tor~

nam-se necessarIOS meios mais patentes para demons_o

. trar a quem cabe 0 merito pelo 6cio outorgado; surgementao os uniformes, as insignias e as libres. Uniformese libres implicam consideravel dependencia; pode-semesmo dizer que sao marcas de servidao, real ou os-tensiva. Em linhas gerais, podem-se dividir os queusam uniformes e libres em duas classes - os homenslivres e os servos ou os nobres e os ign6beis. Os ser-vigos que prestam tambem se podem dividir em nobres

oe ign6beis. E esta naturalmente uma distingao que, napratica, nao se observa estritamente; a mesma pessoaexecuta freqiientemente os menos servis dos servicosservis e as menos honorificas das fungoes nobres. N~mpOl' isso, entretanto, se deve pOl' de lado a distingaoindicada. Todavia, ha um elemento de perplexidadena questao; consiste ele no fato de que a distin~aofundamental entre nobre e ign6bil, que tem a sua basena natureza dos servi!;os que ostensivamente se exe-cutam, se prende a uma distin~ao secundaria entre ahonorifico e 0 humilhante, que tem a sua base °na po-sigao social da pesso.a para a ,ql;1al se ,executam taisserviQos ou cuja libre se usa. t.Assini~'·sao nobres oscargos que de direito constitueni o-emprego apropriadqda c~asse ociosa, tais como 0 governo, a guerra, a ca~a~o cUldado de armas e aparelhamentos guerreiros, e ou-tros semelhantes, isto e, os que se classificam comoempregos ostensivamente predatorios. De outro ladosao ign6beis os empregos pr6prios da classe industrial'tais como os oficios manuais e outros trabalh.Q~produti~vos, as tarefas servis, e outros semelhante~Contudoos servigos ign6beis executados para uma pessoa d~aIta nobreza podem se tornar cargo honorifico; estaoneste caso os cargos de Donzela de Honor ou deDama de Companhia da Rainhae os cargos reais deMaster of the Horses(1) e de Keeper of the Ho:undse).

(1) Mestre cavalari~o.(2) Guardiao dos galgos.

Page 8: VEBLEN, Thorstien_Consumo Conspícuo_ a Teoria Da Classe Ociosa

senhor, foi a sua esposa; e como era de se esperar aesposa e a ultima a conservar tal dever, no desenvol~i-mento posterior da instituigao, ao diminuir gradual-mente 0 ntimero de pessoas que costumeiramente temesse dever. Nas classes mais altas da sociedade asduasespecies de servigos, tanto a que e feita diretam~nte .para 0 senhor como a que e feita indiretamente no seuestabelecimento domestico, sac de maior quantidade;nes.sas classes a esposa tem ainda 0 auxilio de um grupomalS au menos numeroso de servos. Na medida em qued~scemos na e~cala social chegamos ao ponto em quesomente a esposa cumpre 0 dever de acio e consumopelo marido. Nas comunidades de cultura ocidentalisso se v.erifica atualmente na baixa classe media. '

Aqm ocorre uma inversao curiosa. E fato de ob-servagao costumeira que na baixa classe media nao hasequel' pretensao de acio pOI'parte do chefe do estabe-l~ci~ento ?omestico. 0 6cio, pela forga das circuns-tanmas, cam em desuso. Mas a esposa de classe mediaainda conserva a tradigao de ocio vicario para 0 bomnome do lar e do marido. Em qualquer comunidadeindustrial moderna, a medida que se desce na escalasocial, 0 fato pi:imario - 0 6cio conspicuo do chefe dafamilia - desaparece nmn ponto relativamente alto. 0c~efe d~ f~milia d~ c~asse media se viu forgado pOl'mrcunstanmas economlCas a ganhar a sua vida emocupagoes que em grande parte tem freqiientemente 0

carateI' de industria; tal e 0 caso do homem de negociosdos nossos dias. Mas 0 fato derivado - 0 acio e 0

consumo da esposa e 0 ocio de dependentes - continuae~ vif?~r, com~ convengao cuja destruigao a sua res-peitabilidade nao tolera. E freqiiente 0 caso do homemque trabaIha a~siduamente a fim de que sua esposapossa, de maneIra correta, dar-lhe 0 acio vicario queo senso, ~omum de seu tempo exige.o OClOque Ihe da a sua esposa nao e naturaImente. ' ,nesses casos, uma sImples manifestagao de preguiga ou

Os dais ultimos cargos sugerem a existencia de umprincipio mais ou menos generalizado; sempre que,como nestes casos, a tarefa servil se liga diretamenteaos empregos primariamente ociosos da guerra e dacaga, ela adquire facilmente, pOI' .reflexo um carateI'honorifico. DesAtemodo, uma grande hon;a se pode li-gar a um emprego que, pOl' sua natureza e de especieservil. '

Com 0 ulterior desenvolvimento da industria paci-fica, desapar~ce gradualmente 0 costume de empregarum grupo omoso de homens-de-guerra uniformizadoso consumo vicario de dependentes que usam a insigni~de seu se~or, ou do~o passa a cingir-se a um grupo deservos de lIbre. AssIm, de modo muito especial a libre setorna a marca da servidao, ou melhor, da servilidade.~err: duvida, algum carateI' honorlfieo se liga sempre alibre de urn homem-de-guerra, mas tal carateI' desa-parece assim que a libre se torna exclusivamente amarca do servo. A libre se torna repugnante a todosos que sac forgados a usa-la. 0 homem esta ainda taopouco afastado de um estado de real escravidao quesao todos senslveis a humilhagao implicita em toda ser-vilidade. Tal antipatia se revela mesmo no caso deuniformes ou libres que algumas corporagoes exigemcomo vestuario distintivo de seus empregados. NosEs::ados Unidos da America do Norte, esta aversao pOl'umformes ,serve para desacreditar, de modo imprecisoe·vago, ate mesmo os funcionarios publicos, militaresou civis, que sac obrigados a usaI' libres ou uniformes.

Com 0 desaparecimento da escravidao tende a di-minuir de modo geral 0 numero de consu~idores vica-r~os. Na;turalmente istoe verda de, talvez num grauamda mals alto, no tocante ao numero de dependentesque consomem diretamente para 0 maior prestlgio deum senhor. De modo geral, embora nao consistente-mente, coincidem os dois grupos~ 0 dependente, queem primeiro lugar assumiu este clever de consumir pelo

Page 9: VEBLEN, Thorstien_Consumo Conspícuo_ a Teoria Da Classe Ociosa

indolencia. Tal ocio toma quase invariavelmente aforma de trabalhos ou deveres domesticos, ou ,g.eame:nidades sociais. A analise mostra que tais trabaThoseamemdades para pouco ou nada servem senao paramostrar que ela nao se ocupa nem precisa ocupar-sede qualquer atividade util. Como ja se notou ao tratar-se das boas maneiras, e deste carater a maior partedos cuidados domesticoscostumeiros com os quais,na classe media, a esposa se ocupa. Nao que os resul-tados da sua atengao a assuntos caseiros, de indole de-corativa ou mundana, nao sejam agradaveis ao sensode homens educados segundo as regras de decencia daclasse media; mas 0 gosto para 0 qual apelam os efeitosde adorno e arranjos domesticos e um gosto formado soba orienta~ao seletiva de llma regra de decoro queexige exatamente essas provas de esforgo despendido.Tais efeitos sao-nos' agradaveis principalmente porquefomos ensinados a acha-los agl'adaveis. Ha nesses de-veres c1omesticosmuita solicitude visando a uma com-binagao adequada de forma e cor, visando igualmenteoutros fins que devem -ser classiIicados como esteticosno sentido proprio do termo;e nao ha negar que, asvezes logram-s.e efeitos de certo valor estetico substan-cial. Quase tudo aquilo em que aqui se insiste no to-cante a essas amenidades da vida e que os esforgos dadona de casa estao sob a orientagao de tradigoes for-madas pela lei do dispendio superfluo (conspicuo) detempo e substancia. Se se consegue beleza ou conforto- merce de circunstancias mais ou menos fortuitas -deve cada um deles ser conseguido por meios e me-todos que se recomendem a grande lei economica doesforgo superfluo. A parcela mais reputada, mais"apresentavel" dos acessorios domesticos, e por um ladocomposta de artigos de consumo conspicuo, e, por ou~tro, de aparatos para por em relevo 0 ocio vicario dadona da casa.

A exigencia de consumo vicario nas maos da mu-Iher, ainda mais do que a exigencia do ocio vicario,

.continua em vigor ate mesmo num ponto mais baixo daescala pecuniaria. Num ponto abaixo do qual nao eperceptivel pouca ou nenhuma pretensao de esforgo'superfluo de pureza cerimonial e de tipo semeThante eonde seguramente nao se faz nenhuma tentativa deocio ostensivo, a decencia ainda exige da muTher 0.consumo conspicuo de alguns beIl:s em prol da boareputa<;iao da casa· e seu chefe. Assim, como resul-tado. mais recente desta evolugao de uma instituigaoarcaica, a muTher que era no comego, tanto de fato'como em teoria, criada e serva do homem e pro-dutora de bens para 0 consumo do senhor, tornou-se con-sumidor.,_~cimQP-ialdos 1:lenspor eleIJ~oduzid.os~ Masamcraineq.uivocamente~permanM'e s;ua '~ ]rva e..m.··••.teQ.Fia'.pois a sua habitual utilizagao do(ocioe do,_~onsumo)vicarios e a marca indelevel do serv<)"naoliberto~~~"'".....'

:ffisteconsumo vicario posta em pratica pefo"'esta-belecimento domestico das classes medias e inferioresnao pode ser explicado como uma expressao direta doesquema de vida da classe ociosa, uma vez que 0 esta-belecimento domestico deste nivel pecuniario nao Thee proprio. Antes, e 0 esquema de vida da classe ociosaque aqui importa como.uma expressao secundaria. Aclasse ociosa esta no tope da estrutura social em ma-teria de consideragao; e seu modo de vida, mais osseus padroes de valor, proporcionam a comunidade asnormas da boa reputagao. A observancia desses pa-droes, em certa medida torna-se tambem incumhencia detOdas as classes inferiores da escala. Nas modernascomunidades civilizadas, as linhas de demarcagao entreas classes sociais se tornaram vagas e transitorias e

d . 'on e quer que IStOocorra, a norma da boa reputagao im-posta pela classe superior estende a sua influencia coer-.citiva, com ligeil'os entraves, por toda:;a...estrutura socialate atingir as camadas mais baixas.'·t 0 resultado e o~membros de cada camada aceitarem'''c''oInOideal de' de-cencia 0 esquema de vida em yoga na camada maisalta logo acima dela, ou dirigirem as suas energias a

Page 10: VEBLEN, Thorstien_Consumo Conspícuo_ a Teoria Da Classe Ociosa

fim de viverem segundo aquele ideal. Sob penade per-del' seu bom nome e respeito proprio em caso de fra-casso, devem eles, pelo mellos na aparencia, confor-mar-se com 0 codigo aceito.

A. base sobre a qual a b"oareputagao em qualquercomunidade industrial altamente organizada final-mente repousa e a forga pecuniaria; e os meios de de-monstrar forga pecuniaria e, merce disso, obter ouconservar 0 born nome, sao 0 ocio conspicuo e um con-sumo conspicuo de bens. POl' conseguinte, ambos essesmetodosestao em voga tao baixo quanto possivel naescala; e nas camadas mais baixas, onde se empregamos dois metodos, ambos os oficios, sac em grande partedelegados a mulher e as criangas da casa. Ainda maisabaixo, onde qualquer grau de acio, mesmo apenasostensivo, se tornou impraticavel para a mulher, 0consumo conspicuo de bens permanece e continua sendoposta em pratica por ela e seus fillios. 0 chefe da casatamMm pade fazer alga neste particular e comumenteo faz; mas descendo ainda mais baixo, ate 0 nivel daindigencia -, ja a beira das favelas - 0 homem, etambem as criangas, cessam virtualmente de consumirbens visando a aparencia, e a mullier permanece virtu-almente sendo 0 unico expoente da decencia pecuniariadomestica. Nenhuma classe da sociedade, nem mesmoa mais abjetamente pobre, abre mao da totalidade doconsumoconspicuo costumeiro. Os ultimos artigos

,desta cat egoria de consumo nao sao pOI' ela abandona-dos, exceto mediante os rigores da mais aflitiva neces..,sidade. Grande soma de esqualidez e privagao serasuportada antes que ela ponha de parte a ultima teteiaou a derradeira pretensao a decencia pecuniaria. Naoha classe nem pais que tao abjetamente cedesse a pres-sac da necessidade fisica ao ponto de se recusar todasas satisfagoes desta necessidade mais alta ou espiritual.

Do anterior exame acerca do crescimento do ocioe do consumo conspicuos, parece que a utilidade de

ambos, para fins de boa reputagao, repousa no ~le~en!ode dispendio, a ambos comum. Num caso, 0 dlS1?endl,Oe de temuo e esforco' no outro, de bens. Ambos sac me-

, todos de"demonst;a~ a posse da riqueza, e os dais sacconvencionalmente aceitos como eqiiivalentes. A. escolhaentre eles e questao de simples conveniencia publici-taria exceto na medida em que possa ser afetada pOI'outr~s padroes de pTopriedade, provenientes de origemdiversa. Na base da conveniencia, pode-se preferiruma ou outra em diferentes fases de desenvolvimentoeconomico. A questao consiste em saber-se a qualdesses dois metodos reagirao com maior eficacia aspessoas cujas convicgoes se deseja afetar. 0 usa res-pondeu a essa questao de diferentes modos em diferen-tes circunstancias.

Enquanto a comunidade ou 0 grupo social sac bas-tante pequenos e bastante compactos para serem efi-cazmente atingidos apenas pela notoriedade comum- isto e, na medida em que 0 ambiente humano ao qualo individuo e obrigado a se adaptar no tocante a boareputagao se limita a esfera de seus' conhecimentospessoais e do falatario da vizinhanga -' nessa medida, 'um metodo e·quase taoeficaz quanto 0 outro. Ambospois servirao igualmente bem durante os primeiros eS-1 •tagios de desenvolvimento social. 1!as .9...u.andoa dife-i:renciagao aumenta e se torIla n~cessario- atillgIr"Uin 'ambieIlte humanQ.mais vast,o, 0 c()nsUm(),comegaa.sup-era:r 0 ocio como meio ordi.nario de .decencia. Istoeespecialmente verdadeiro durante a ultima fase' eco-nomic~,.Ea~ifica. Nessa altura os meios de comunicagaoe a mobiliCIade da populagao expoem 0 individuo a.observaQao de muitas pessoas que nao tem outros meios 'de julgar da sua boa reputagao exceto mediante a exi-b.~g~ode"bens(e talvez de educagao) que ele esteja aptoa fazer enquanto estiver exposto a sua observagao direta.

A moderna organizagaoda industria operfl namesma diregao tambem poroutra:liiili'a. As"exigencias

Page 11: VEBLEN, Thorstien_Consumo Conspícuo_ a Teoria Da Classe Ociosa

do moderno sistema industrial freqiientemente justa~poem os individuos e os estabelecimentos domesticosentre os quais existe pouco contato que nao esse dejustaposigao. Os vizinhos de uma pessoa, mecanica-mente falando, muitas vezes nao sac seus vizinhossociais, nem mesmo seus conhecidos: etodavia a suaboa opiniao transit6ria possui um alto grau de utili-

. dade. 0 unico meio pratico de impressionar esses ob-servadores nao simpatizantes da nossa vida cotidianae a demonstragao ininterrupta da nossa capacidade depagar. Na comunidade moderna ha tambem uma fre-qiiencia mais assidua de grandes reunioes de gente quedesconhece 0 nosso modo de vida, em lugares tais comoa igreja, 0 teatro, 0 salao de baile, os hoteis, os par-ques, as lojas e semelhantes. A .fim de impression~resses observadores efemeros e a flm de manter a satIs-fagao propria em face da observagao deles, a marcada forga pecnnia:ria da pessoa deve se:r gravada emcaracteres que mesmo correndo se possa ler. Jill por-tanto evidente que a presente tendencia do desenvolvi-ffiimto vai na diregao de anmentar, mais que 0 6cio, 0

consumo consplcuo.:ill tambem observavel que a prestimosidade do con-

sumo como meio de acrescer a boa reputagao, bemcomo a insistencia sabre 0 mesmo em sua qualidade deelemento de decencia, encontra-se, no maximo, naque-les setores da comunidade onde 0 contatohumano doindivlduo e mais amplo e onde e maior a mobilidade dapopulagao. 0 consumo consplcuo reivindica uma par-cela relativamente maior da renda da populagao urbanase a compararmos com a populagao rural, e essa rei-vindicagao e igualmente mais imperiosa. 0 resultado eque, a fim de manter uma aparencia decente, a pri-meira vive habitualmente da mao para a boca,e istonuma medida muito maior do que a ultima. Acontece,por exemplo, que 0 lavrador americano, sua mulher efilhos, sac notoriamente menos elegantes no trajar,

bem como de maneiras menos citadinas do que a fami-lia do artesao urbano de igual renda. N~o qu~ a po- .pulagao urbana seja por. natureza mms aVlda dopeculiar desvanecimento orlUndo de um consumo cons-Plcuo, nem que a populagao rural !enha em men~s contaa decencia pecunhiria. M~~ 0 estl.Ululo a esta linha deevidencia bem como a sua eficacia transitoria, sacmais afoltas na cidade. A este metodo, pois, se recorrecom maior proniidao, e na luta para superarem-se unsaos outros a populagao citadina impele 0 seu padraonormal de' consumo consplcuo a urn ponto mais alto,com 0 resultado de exigir-se um dispendio relativamentemaior nesse setor, como indicagao de um determinadoO'rau de decencia pecuniaria na cidade. A exigenciade conformidade a esse paddio convencional mais altose torna obrigatoria. 0 paddio de decencia e mais altode classe para classe, e deve-se viver a altura dessaapa:rencia de decencia, sob pena de perder-se a casta.

o consumo se torna elemento muito mais impor-tante no padrao de vida dos que vivem na cidade doque no padrao de vida dos que vivem no campo. Entrea populagao campesina, seu Iugar e em certa extensaoocupado peIa poupanga e os confortos domesticos, co~nhecidos por intermedio das conversas da vizinhanga 0suficiente para servir ao identico proposito geral deboa reputagao pecuniaria. 1iJssesconfortos caseiros eo ocio ao qual as pessoas se entregam - la, onde 0 ocioe usual - sao, naturalmente, em grande parte, cIas-sificados como artigos de consumo consplcuo, e quaseo mesmo se pode dizer das poupangas. A menor quan-tia de pOllpanga posta de lade pela classe artesanal esem duvida devida, em certa dose, ao fato de, no casedo artesao, serem as poupangas urn meio menos eficazde pubIicidade, relativamente ao ambiente no qual elese situa, do que as poupangas dos moradores de fazen-das e cidades pequenas. Entre os ultimos, os negociosde todo mundo, especialmente a situagao pecuniaria decada urn, saD de todos conhecidos. Consideradosim-

Page 12: VEBLEN, Thorstien_Consumo Conspícuo_ a Teoria Da Classe Ociosa

plesmente em si mesmo -. tomado em primeiro grau -este acrescimode estimulo ao qual as classes artesanaise as classes urbanas laboriosas se expoem, pode naoconcorrer para diminuir seriamente a quantidade depoupangas; mas, em sua agao cumulativa, mediante aelevagao do paddo de dispendio decente, 0 seu efeitodissuasivo sobre a tendencia a poupar nao pode sermuito grande.

Uma feliz ilustragao da maneira pela qual estaregra de boa reputagao obtem resultados e observavelna pratica de "servir uma rodada",de pagar bebidaaos outros e fumar em lugares publicos, pratica costu-meira entre os trabalhadores e artesaos nas cidades, e,geralmente, entre a classe media inferior dapopulagaourbana. Oficiais tipografos podem ser citados comouma classe na qual essa forma de consumo conspicuotern grande vaga, 0 que aearreta certas conseqiienciasnot6Tias] nao raro condenadas. Os habitos peculiaresa essa c1asse neste particular sac em geral atribuidosa certa especie de deficiencia moral mal definida, oua uma influeneia moralmente deleteria que se supoeexereida de modo nao verificavel, pela ocupagao, sobreos homens que nela se empenham. A condigao doshomens que trabaTham nas salas de impressao e com-posigao na generalidade das tipografias pode resumir~secomo segue: a pericia adquirida em qualquer empresatipografica ou em qualquer cidade faz-se valer emqualquer outra empresa ou cidade; isto e, a inercia de-vida a especializagao e insignificante. Ao mesmo tem-po, esse oficio exige mais do que a media das iriteli-gencias e ,?o cOI;hecimento gerais, e os homens que 0exercem sac malS prontos que os demais a tirar pro-yei~o ~3; mudanga. de um lugarpara outro, de qualquermSlgmflCante vanagao na demanda do seu labor. Porconseguinte, a inercia devida ao apego ao lugar tambeme insignificante. Nao so isso, mas os salarios da profis-sac sao bastante altos para tornar relativamente faeila mudanQa de ambiente. 0 resultado e uma grande

mobilidade do trabaThador tipografico; talvez uma. mobilidade ainda maior do que a de qualquer categoriade trabaThadores, consideravel e bem definida. ]Jsseshomens estao sempre sendo postos em contato com no-vos grupos de conhecidos, com os quais as relagoestravadas sac transitorias ou efemeras, mas cuja boaopiniao nao e por 'isso tida em me:r;l.OSconta durantetodo 0 tempo de servigo.A tendeneia humana a osten-tagao, reforgada por sentimentos de camaradagem le-va-os a gastar com mais largueza naqueles setores' que.. /" .meThor servem a essa tend~ncia. Aqui, como em qual- i \ [.rel)quer oUh~olugar, 0 precelto s~ apodera do costume I /(JlJ··,!~~(J..~ue'$te ...eIJ.i:a.'~ voga, e mcorpora-o ao padrao \.a~rJ.1'"l!£!g~£!l1J;l~~.~~cIa.·0 passo seguinte e fazer destepadrao de decencfi' 0 ponto de partida de um novomovimento na mesma diregao - pois nao 1111 meritoalgum na simples conformidade inerte a um padraode dissipagao com 0 qual vive logicamente de acordolitodo 0 oficial do mesmo oficio.

A grande prevalencia da dissipagao entre tipogra-fos. (dissipagao ainda maior do que a do comum dostrabalhadores) e por conseguinte atribuivel, pelo me-nos em certa medida, a maior facilidade de movimen-tos e ao carater mais efemero das relagoes e do contatohumano, peculiar ao oficio. Mas a base substancialdesta grande exigencia de dissipagao nao e outra emultima analise, senao aquela mesma tendencia a 'umamanifestagao de dominio e decencia pecuniaria quetorna frugal e parcimonioso 0 campones-proprietariofrances, e induz 0 milionario norte-americano a fundarcolegios, hospitais e museus. Se a regra do consumoconspicuo nao fosse em grande extensao posta em re-levo por outras caracteristicas da natureza humana aAl 'e e estranhas, qualquer poupanga seria logicamenteimpossive} a uma popuIa<;ao situada como as cIaSR8Sartesanais e laboriosas urbanas na atualidade, por maisaltos que pddessem ser os seus salarios.

Page 13: VEBLEN, Thorstien_Consumo Conspícuo_ a Teoria Da Classe Ociosa

Ha porem outros padroes de boa reputagao, e aindaoutros canones, mais ou menos imperativos, de condu-ta, que nao a riqueza e suas manifestagoes, .al~unsdentre os quais servem para acentuar ou restrmglr aampla regra fundamental· ~~ ~onsum~ ~o?~pfcuo. , Mer-CEl do simples teste de eflCaCla pubhCltana, devIamosesperar que 0 acio e 0 consumo conspfcuo de bens divi-dissem no infcio ocampo de emulagao quase igualmenteentre si. Poder-se-ia esperar que 0 acio,.cedesse terre-no gradualmente e tendesse para a caducidade a me-dida do desenvolvimento economico e 0 alimento detamanho da comunidade; enquanto 0 consumo de bensdeveria gradualment.e erescer de importa:neia, tantoabsoluta como relativamente, ate absorver todos osprodutos disponlveis, nada deixando escapar alem dasimples subsisteneia. Mas a marcha real do desenvol-vimente foi alga diferente deste plano ideal No co-mego, 0 acio OCupou0 prim.eiro lugar, e veio a manteruma posigao muito aeima do consumo superfluo debens seja como expoente direto da riqueza e elementoconshtuint~ do padrao de decencia durante a culturaquase-pacifica. Desse ponto em diante, 0 ~onsumo g~-nhou terreno, ate que, presentemente, mantem uma pn-mazia indubitavel, embora ainda esteja Ionge de absor-ver toda a margem da produgao acima de urn minimo desubsistencia.

A primitiva ascendencia do acio como 'vefculo deboa reputagao e atribufvel a distingao arcaica entreempregos nobres e ign6beis. 0 acio e honorffico e setorna imperativo, em parte porque demonstra isengaodo trabalho ignabil. A diferenciagao arcaica em classesnobres e ignabeis se baseia numa distingao invejosaentre empregos de qualidade honorffica ou aviltante:e esta distingao tradicional se torna em uma regraimperativa de decencia durante a primeira fase quase--pacifica. Sua ascendencia e favorecida pelo fato deser 0 acio ainda uma prova plenamente eficaz de ri-

queza, tal como 0 consumo. Na realidade, tao eficaze ele no ambiente humano relativamente pequeno eestavel ao qual 0 indivfduo se expoe nesse estagio cuI-

o tural que, merce do concurso da tradigao arcaica; quecondena todo trabalho produtivo, ele da nascimento auma vasta classe pobre, e ate mesmo tende a confinara produgao industrial da comunidade a um minima desubsistencia. Esta extrema inibigao da industria e im-pedida porque 0 trabalho escravo, operando sob umacompulsao mais rigorosa que a da boa reputagao, eforgado a produzir bens alem do minimo de sub-sistencia da classe trabalhadora. 0 relativo decllniosubseqiiente no uso do acio conspfcuo como base de boareputagao e em parte devido a um relativo aumento deeficacia no consumo como prova de riqueza; mas e emparte atribufvel a outra forga - uma forga estranha,e, em certa medida, antagonica ao exercfcio do dispendioconspicuo.

1iJsse estranho fator e 0 instinto de artesanato.Permitindo-o outras circunstancias, esse instinto dispoeos homens a considerarem favoravelroente a eficaciaprodutiva e 0 mais que for de humano uso. Dispoe-nosigualmente a condenar 0 desperdfcio de esforgo e subs-tancia. 0 instinto de artesanato esta presente em todosos homens, e afirma-se ate mesmo nas circunstanciasmais adversas. De modo que, por maior que seja emrealidade a superfluidade de um determinado gasto,ele precisa ter pelo menos tintura de propasito osten-sivo a guisa de desculpa. A maneira pela qual, emcircunstancias especiais, 0 instinto resulta em gostopela proeza e discriminagao invejosa entre as classesnobres e ignabeis, ja foi apontada em capitulo anterior.Na medida em que ele entra em conflito com a lei dodispendio conspicuo, 0 instinto de artesanato se ex-prime nao tanto na insistencia sobre a utilidade subs-tancial, como num sentido duradouro da ociosidade eda impossibilidade estetica do que e obviamente futil.Sendo, por natureza, uma afeigao instintiva, a sua

Page 14: VEBLEN, Thorstien_Consumo Conspícuo_ a Teoria Da Classe Ociosa

orientagao toea principal e imediatamente as violagoesobvias e aparentes de quanto exige. Apenas menosprontamente e com menos forga repressora e que alcan-ga as violagoes substanciais de suas exigencias soapreciadas quando nelas se. reflete ..

Enquanto 0 trabalho continua senda executado ex-clusivamente, ou usualmente, por escravos, a degrada-gao de todo esforgo produtivo esta pOl'demais constantee inibidoramente presente na ideia dos homens parapermitir ao instinto de artesanato um efeito mais seriono setor da utilidade industrial; mas quando a fasequase-pacIfica (com escravidao e status) paRRa paraa fase pacIfica na industria (com trabalho assalariadoe pagamento em dinheiro), 0 instinto cornega a operarcom mais eficacia. Comega entao agressivamente arnoldar a opiniao dos homens sabre 0 que e meritorio,e a firmar-se pelo menos como uma regra auxiliar deauto-satisfagao. A parte t6das as consideragoes estra-nhas, eSRaspessoas (adultas) sao, na atualidade, apenasuma minoria esvaecente sem pendor algum para a rea-lizagao de algurn fim, e nao sao' irnpelidas, motu-pro-prio, a plasmal' algum objeto ou fato ou relagao deutilidade humana. 1Dssependor pode em larga dose sersuperado pelo incentivo mais imediatamente compul-sorio de ocio honorlfico e de repugnancia em face deuma utilidade pouco decorosa e pode, pOl' conseguinte,resultar apenas numa obra puramente ficticia j como,pOl' exernplo, os "deveres sociais" e as realizagoesquase-artisticas ou quase-eruditas na decoragao da casae seus arranjos, na atividade de circulos de costuraou de reforrna de vestidos, na proficiencia artistica emtrajar-se, no jogo de cartas, no iatismo, no golfe e emvarios esportes. Mas 0 fato de poder resultar em ina-nidades sob a forga das circunstancias, nao refuta apresenga do instinto - nao mais do que a realldade doinstinto de chocar e refutada numa galinha que se fezsentar num ninho cheio de ovos de porcelana.

Esta atual procura de algurna forma de propositoutil que nao seja a urn tempo in~ecorosamente pro?u-

. tivo de ryanho individual ou colehvo, marca uma dife-renca deoatitude entre a moderna classe ociosa e aquelada fase quase-pacifica. N? estagio ant~rio~, ~e~undoacima se deixou dito, a toda-poderosa mshtmgao daescravatura e de status atuava irresistivelmente paradesencorajar esforgos que nao se dirigissem a outracoisa que nao fossem fins ingenuamente predatorios.E ainda possivel encontrar algum exercicio habitualpara a inclinagao a agao mediante 0 recurso a umaagressao violenta ou a uma repressao exercida contragrupos hostis ou classes submissas no interior do gru-po j e isto serve para aliviar a pressao e consumirenergia da classe ociosa sem que Ihe seja mister recor-Tel' a alguma utilidade real ou mesmo a exerciciosostensivamente uteis. A. pratica da caga tambem servin,em certa medida, aos rnesmos prop6sitos. Quando acomunidade se transformou numa organizagao indus-trial pacifica, e quando a ocnpagao mais plena da terrareduziu as oportunidades da caga a um infimo residuo,a pressao da energia que buscava exercer-se com umfim em vista teve de descobrir uma valvula de escapeem outras diregoes. A ignominia ligada ao esforgo utiltambem entrou numa fase menos aguda com 0 desapa-recimento do trabalho compuls6rio j e 0 instinto de ar-tesanato veio entao a afirmar-se com mais constanciae consistencia.

A linha de menor resistencia mudou urn tanto, e aenergia que primeiro tinha vazao na atividade preda-toria, agora em parte se dirige para algum fim osten-sivamente util. 0 ocio ostensivamente inutil veio a sercondenado, especialmente em vastos setores da classeociosa onde a origem pleMia atua para os por em desa-cordo com a tradigao do otium cum dignitate. Masaquela regra de boa reputagao que desaprova todo 0emprego cuja indole e a do esforgo produtivo, ainda naoesta longe, e nao permitira coisa alguma a18mda voga

Page 15: VEBLEN, Thorstien_Consumo Conspícuo_ a Teoria Da Classe Ociosa

mais efemera a qualquer emprego substancialmenteuti! ou produtivo. A conseqiiencia e que uma mudangase fez no acio conspicuo praticado pela classe ociosa;nao tanto de substancia como de forma. Uma reconci-liagao entre as duas exigencias em conflito se efetuamediante 0 recurso ao fictlcio. Desenvolveram-semuitas e intrincadas observancias polidas e deveressociais de natureza cerimonial; fundaram-se muitasorganizagoes com algum objetivo especioso de melho-ramentos corporificados em seu estilo e titulo oficiais;ha muitas idas e vindas, e muita conversa, a fim deque os interlocutores nao tenham 0 ensejo de refletirnaquilo que constitui 0 valor economico efetivo de seucomercio. E junto com a fic<]aodo emprego utH, einextricavelmente entretecido em sua textura, ha co-mumentfJ, se nao invariavelmente, urn elemento mais oumenos apreciavel de esforgo util dirigido para alguillfim importante.

Na esfera mais estreita do acio vicario processou-se- uma mudanga similar. Em vez de passar 0 tempo-numavislvel ociosidade, como nos melhores dias do regimepatriarcal, a dona de casa da fase pacifica adiantadase dedica assiduamente aos cuidados domesticos. Ostragos salientes deste desenvolvimento do servigo do-mestico ja foram aqui indicados.

Atraves de Wda a evolu<]aodo dispendio conspicuo,seja'de bens ou de servigos ou de vida humana, obser-va-se a 6bvia implicagao de que ele tem de ser, a fimde eficazmente reparar a boa fama do consumidor, umdispendio com coisas superfluas. Nenhum merito selhe acrescentaria mediante 0 consumodas simples coi-sas necessarias a vida, exceto pOl' comparagao com osabjetamente pobres, aos quais falta ate mesmo umminimo de subsistencia; e nenhum padrao de dispen-dio pode resultar de uma tal comparagao, exceto umnivel de decencia 0 mais prosaico e desgracioso. Umpadrao de vida ainda seria possivel, que admitisse

comparagao invejosa a outros respeitos que na,.?0 da-opulencia; como, pOl' exemplo; .Ul!la;comparagao na;,"manifestagoes de forga moral, flslCa, mtelectual ou este-.tica. Hoje em dia estao em voga _comJ?arago,:sem to-das essas direcoes; e a comparagao felt a a esses res-peitos esta- em ge,r:a~tao ine~t~i~avelmente ~gll;da acomparagao pecumana, que dlflcllmente se dlstmguedesta ultima. Isto e especialmente verdadeiro no queconcerne a classificagao contemporanea das expressoesde forga ou proficiencia intelectual ou estetica; de modoque freqiientemente interpretamos como estetica ou in-telectual .llgla diferenga que, em substancia, e apenaspeC1llliaria.;... .._,

o~gO do termo '~:'~~~erflu{);)e a certos res-~eit()~J~l!!!?1!:61\Tal como e em"PTegado'na vida cotidiana,tiiiz uta·timbre de condenagao. :ill usado aqui a falta deurn te:rmo melho:r, que descreva adequadamente a mes-ma serie de motivos e fenornenos, e nao deve ser tornadonum sentido odioso, como se implicasse um dispendioilegltimo de produtos ou de vida humanos. De comor-

.midade com a teoria economica, 0 dispendio em questaonao e mais nem menos legitimo do que qualquer antra.Aqui se denomina "superfluo", porque esse dispendionao serve a vida humana ou ao bem-estar do homem emsua totalidade, nao porque seja um desperdicio ou urn .".desvio de esforgo, ou dispendio segundo estes se encaram 'do ponto de vista do consumidor individual que por eIe <'

opta~':rEscolhendo-o, isto encerra a questao da sua :re- .'lativa'utilidade, comparada esta com outras formas deconsumo nao condenadas pOl' causa da sua superflui-dade. Seja qual for a forma preferida de consumo, ouo fim colimado mediante essa preferencia, a sua utili-dade para 0 consumidor se baseia na virtude dessa mes-ma preferencia. Do ponto de vista do consumidor indi-vidual, a questao do gasto superfluo nao ocorre pro-priamente no ambito da teoria economica. Assim pois,

Page 16: VEBLEN, Thorstien_Consumo Conspícuo_ a Teoria Da Classe Ociosa

o emprego da palavra "superflno" como termo tecnico,nao implica condenagao dos motivos au dos fins bus-cados pelo consumidor sob esta regra de dispendioconspicuo.

Mas, em outros setores, e digno de notar-se que 0

termo "superfluo", na linguagem corrente, implica acondenagao daquilo que se caraeteriza como" gasto su-perfluo". Esta implicagao senso-comUill e um aflora-mento do instinto de artesanato . .A reprovagao populardo gasto superfluo equivale a dizer que, a fim de estarern paz consigo proprio, a homem comum deve ser capazde vel' em qualquer esforgo au prazer humanos uma in-tensificaguo da vida e do bem-estar em sua totalidade..A fim de obter aprovagao irrestrita, qualquer fato eco-nomico deve primeiro ser aprovado no teste da sua uti-lidade impessoal - utilidade do ponto de vista gene-ricamente humano. A vanta gem relativa ou competitivade um individno em comparagao com outro nao satisfaza consciencia economica, e, pOl' conseguinte, 0 dispendiocompetitivo nao obtem a aprovagao da consciencia.

Segundo nma rigorosa exatidao, nao se deve incluil'no capitulo de gasto supel'fluo, exceto 0 dispendioemque se incorl'e na base de uma comparagao pecunial'iainvejosa. Mas, a fim de colocar qualquel' al'tigo deter-rninado, ou qualquer· elemento, sob esta l'ubrica, nao enecessal'io sel'em eles l'econhecidos como gastos nessesentido pela pessoa que incol'l'e em tal dispendio.fFre-qiientemente acontece que um elemento do padr~ devida que comegou sendo primordialmente superfluo,acaba se tornando, na ideia do consumidor, uma dasnecessidades da vida, podendo deste modo se tarnal' taoindispensavel como qualquer outro artigo do seu dis-pendio habitua:Il.A.rtigos que as vezes se alinham nessecapitulo e dos"quais se pode langar mao como exemplosda maneira segundo a qual esse principia se aplica saoos tapetes e a tapegaria em geral, a baixela de prata,servigos de gargom, cartolas de seda, roupa engomada,

muitos artigos de joalheria e vestuario . .A.indispensabi- -lidade dessas coisas depois que 0 habito e a convengao seformara, pouco importam quanta it classificagao do dis-pendio como supel'fluo ou nao superfluo na significagaotecnica da palavra. 0 teste a que todo dispendio temde submeter-se numa tentativa para decidir este ponto,e 0 de saber se eleserve diretamente para intensifical'a vida humana em sua totalidade; se ele promove 0

processo vital encarado impessoalmente. Pois e essa abase da recompensa do instinto de al'tesanato - instintoque e 0 tribunal de ultima instancia em qualquel' assuntoacerca da verdade ou da adequagao economicas. E umaquestao referente it recompensa dada pOI' um sensocomum desapaixonado. .A.questao nao e portanto senas condigoes existentes do habito individual ou do cos-tume social, um determinado dispendio traz satisfagao- on paz de espirito a nm certo consumidor particular imas se 0 seu resultado e urn lucro llquido em confortoou plenitude de vida, it parte os gostos adquiridos e asregras de uso e decencia convencionais. Os gastos ha-bituais devem ser classificados no capitulo do superfluo,na medida em que 0 costume sobre 0 qual repousam sejaatribuivel ao habito de comparagao invejosa; na medidaem que se perceba que nao podiam tol'nar-se habituais enormativos sem 0 apoio deste principio de reputagaopecuniaria ou sucessa economico relativo.

Obviamente, nao e necessario urn determinado ob-jeto de dispendio ser exclusivamente superfluo a fimde se alinhar na categoria de gasto ostensivo. Urn artigopode ser util e superfluo a um tempo, e a sua utilidadepara 0 consumidor pode constar de utilidade e super-fluidade nas mais variadas propor~oes. Os bens con-sumiveis, e ate mesmo os bens produtivos, geralmenterevelam as dois elementos combinados, componentes quesaa da sua utilidac1e; conquanto, de modo geral, 0 ele-rnento "superfluidade" tenda a predominar em artigosde consumo, enquanto 0 contral'io e verdadeiro em se

Page 17: VEBLEN, Thorstien_Consumo Conspícuo_ a Teoria Da Classe Ociosa

tratando de artigos destinados ao uso produtivo. Mes-mo nos artigos que a primeira vista parecem servirapenas a pura ostentagao, e sempre possivel captar apresenga de um prop6sito util, l?elo.menos ostensivo;e pOl' outro lado, mesmo na maqumana e nas ferramen-t~s inventadas visando a algum processo particular,bem como nos mais grosseiros aparelhos da industriahumana, os tragos de consumo conspicuo au, pelo menos,o habito da ostentagao, usualmente se tornam evidentesem face de um escrutinio mais atento. Seria arriscadoafirmarque um prop6sito util esta sempre ausente dautilidade de qualquer artigo ou servigo, pOI' mais 6bvioque seja 0 desperdicio ostensivo do seu proposito ori-ginal e principal elemento; e seria apenas um poucomenos arriscado afirmar em relagao a qualquer produtooriginalmente util, que 0 elemento de desperdicio nada .tenha a vel', imc1iata on remotamente, com 0 sen valor.

o padrao de vida pecuniario

PAftA A GRANDE MAIORIA das pessoas de qualquer COffiU-

nidade IDoderna, a razao imediata dos gastos alem donecessario ao conforto fisico, nao e tanto um esforgoconsciente- de se exceder nas despesas de seu consumovisivel, como urn desejo de manter um padrao conven-cional de decencia quanto ao grau e quantidade dosbens consumidos. :E:Jstedesejo nao e ditado pOl' urn pa-drao rigorosamente fixo, que deve ser alcangado e,alem do qual, nao ha incentivo para progredir. 0 pa-drao e flexivel; e e especialmente de extensibilidadeindefinida, contanto que haja tempo de se habitual' aqualquel' aumento na capacidade pecuniaria e de adap-tar-se a nova e mais ampla escala de gastos, que sesegue a um tal aumento. :ill muito mais dificil diminuil'a escala de gastos, ja adotada, do que estende-Ia emresposta a urn aumento da riqueza. Muitos itens dosgastos costumeiros, quando analisados, revelam-sequase inteiramente como desperdicio, sendo portantoapenas honorarios ; mas, uma vez incorporados a escalado consumo decente, tornando-se assim uma parte in-tegrante da vida do individuo, sac tao dificeis de serem