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Volume 4. Número 1. Outubro de 2014. ISSN 2238-8001

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A RBPAEMH é orgão orficial de divulgação do Congresso Brasileiro de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana

São José do Rio Preto-SP

Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade HumanaVolume 4 . Número 1 . Outubro 2014

ISSN 2238-8001

Prof. Dr. Altair Moioli (Org)

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Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade HumanaVolume 4 . Número 1 . Outubro 2014

ISSN 2238-8001

Comissão CientíficaProf. Dr. Afonso Antonio Machado - UNESP

Prof. Dr. Kazuo Kawano Nagamine - FAMERPProf. Drª Silene Fontana - FIPA

Prof. Drª. Mara Rosana Pedrinho - UNIRPProf. Dr. Lucas Portilho Nicoletti - UERR

Prof. Dr. Marcelo Calegari Zanetti - UNIPProf. Dr. Altair Moioli - UNIRP

Prof. M.Sc. Arlete G.Scaramuzza P. Nicoletti - Dom Bosco

IV CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE E À MOTRICIDADE HUMANA

EditoraçãoRodrigo A. Martins Gonçalves

Consultoria Técnica Paulo Resende

Capa Renata Sbrogio

Periodicidade Anual

EndereçoAv. José Munia Nº 5650 - Chácara MunicipalCEP - 15.090.500 - São José do Rio Preto-SPTelefone (17) 3016.1101 Fax (17) 3201.8890

www.psicologiadoesporte.esp.br

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SUMÁRIO

EDITORIAL ...................................................................................................................................................... 7

COMISSÃO ORGANIZADORA ........................................................................................................................ 8

PROGRAMA .................................................................................................................................................... 9.RESUMOS DAS CONFERÊNCIAS E MESAS REDONDAS ............................................................................... 15

A Educação Física e a Psicologia do Esporte em Jogo: resultados da Copa do Mundo, o que temos com isso?Prof. Dr. Afonso Antônio Machado ................................................................................................................... 17

Emoções no Esporte e na Atividade FísicaProf. Dr. Daniel Presoto. .................................................................................................................................. 23

Contextualizações das Emoções no Esporte e na Atividade FísicaProf. Dndo. Mauro Klebis Schiavon .................................................................................................................. 24

Ciberviolência no Esporte: uma visão sobre as torcidas organizadas (cyberhooligans)Prof. Mdo Guilherme Bagni ............................................................................................................................. 25

Violências Escolares: a necessidade de problematizar tais questões para além dos reducionismosProfª. Drª. Mara Rosana Pedrinho ................................................................................................................... 27

Bullying Virtual no ambiente escolarProf. Dr. Antonio Carlos Araujo; Profª Drª Silene Fontana ................................................................................ 29

Afinal, Esporte Educa?Prof. Dr. Marcelo Callegari Zanetti ................................................................................................................... 30

Diálogos entre a Psicologia, a Educação Física e o Esporte: por que não?Ednei Previdente Sanchez; Camila Freitas Teodoro .......................................................................................... 34 Educação e Esporte caminham juntos?Profª Mda. Arlete Scaramuzza Nicoletti ........................................................................................................... 35

Perspectivas para o Esporte e a PsicologiaProf. Dr. Afonso Antonio Machado ................................................................................................................... 37

CURSOS ......................................................................................................................................................... 41 Dimensão psicológica na detecção de talentos esportivosProf. Kauan Galvão Morão; Prof. Renato Henrique Verzani .............................................................................. 43

Treinamento FuncionalProf. Esp. Marcelo Jamil Humsi ........................................................................................................................ 44

Dança: Criação, Concepção e PerformanceProf. Frank Tavantti ......................................................................................................................................... 45

ARTIGOS ....................................................................................................................................................... 47

A influência da privação visual nas respostas psicológicas de indivíduos adultos após exercício em leg press 45°

Luciana Botelho Ribeiro; Eric Francelino Andrade; Gustavo Puggina Rogatto; Priscila Carneiro Valim-Rogatto ... 49

Efeitos de uma sessão de dança sobre a ansiedade de indivíduos com deficiência intelectual leveEric Francelino Andrade; Lucimara Mendonça Zacaroni; Gustavo Puggina Rogatto; Priscila Carneiro Valim-Rogatto; Amanda Mayara do Nascimento-Cardoso ................................................................. 54

Artes Orientais de Movimentos: alternativas às terapias do campo da saúde. uma possibilidade de investigação para a psicologia do esporte. um exemplo de pesquisa fenomenológica

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Hebert Henrique Ohnishi Carabolante; Luiz Augusto Normanha Lima ............................................................ 58

Educação Física e Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTIC: atitudes de professores imigrantes e nativos digitais frente aos recursos tecnológicos aliados à prática docenteDouglas Aparecido de Campos; Anderson Bençal Indalécio ........................................................................... 64

Associações entre habilidade motora grossa e dificuldade de aprendizagem: resultados preliminaresLeonardo Trevisan Costa; Anderson Bençal Indalécio; Danilo Assis de Souza; José Irineu Gorla ...................... 72

Formação de Atletas: Uma Análise Sobre Ansiedade e a Interferência dos PaisRenato Henrique Verzani; André Aroni; Luis Fernando Gonçalves; Guilherme Bagni; Kauan Galvão Morão; Afonso Antonio Machado ............................................................................................................................... 77

Geografia Esportiva: questões relacionadas a eventos esportivosLuis Fernando Gonçalves; Kauan Galvão Morão; Guilherme Bagni; Renato Henrique Verzani; Afonso Antônio Machado ....................................................................................................................................................... 82

O Bullying no ambiente esportivo: implicações para a práticaKauan Galvão Morão; Luis Fernando Gonçalves; Guilherme Bagni; Renato Henrique Verzani; Afonso Antônio Machado ....................................................................................................................................................... 86

Professores de Educação Física e o uso das redes sociaisVivian de Oliveira; Guilherme Bagni; André Luis Aroni; Gustavo Lima Isler; Kauan Galvão Morão; Afonso Antônio Machado .......................................................................................................................................... 92

O Moodle como ferramenta de ensino da Psicologia do Esporte: visão sobre os pontos negativos do cursoGuilherme Bagni; Vivian de Oliveira; Renato Henrique Verzani; Kauan Galvão Morão; Luis FernandoGonçalves; Afonso Antonio Machado ............................................................................................................. 97

Meios de comunicação social de massa e a agressividade do espectador de FutebolClaudinei Chelles; Mauro Betti ..................................................................................................................... 102

O Jogar sob uma investigação psicanalíticaClaudinei Chelles; Mauro Betti ..................................................................................................................... 108

Caracterização teórica da filosofia Saikoo de Jiu-jítsu e das contribuições da Psicologia Desportiva na performance dos atletasMarcelo de Carvalho Spolzino; Claudemir Gomes ........................................................................................ 113

Resumos de Temas Livres e Painéis.......................................................................................................... 119

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Prof. M.Sc. Altair MoioliPresidente da Comissão Organizadora

CBPAEMH

Prof. Dr. Afonso Antonio MachadoCoordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas

em Psicologia do Esporte - LEPESPE - UNESP- Rio Claro- SP

EDITORIAL

Acredito, que quase todo brasileiro viveu expectativas intensas no tempo que transcorreu entre a

realização do último Congresso no ano de 2012 e o que restamos recebendo este ano. Nesse período,

experimentamos um elevado nível de ansiedade esperando a chegada de 2014 como um ano importante

para o esporte. A passagem da Copa do Mundo representaria a conquista de legados importantes para

todos os setores. A esperança era também de que psicologia e o esporte brasileiro pudessem romper

fronteiras e o país assumisse um protagonismo sem precedentes. Mas, contra todos os prognósticos, este

ano está provocando uma sensação de incompletude, visto que, mesmo com um grande evento como o

que o país sediou, parece não ter preenchido os anseios dos setores esportivos, educacionais, culturais,

políticos e econômicos.Talvez, diante de um comportamento compulsivo para o consumo de informações,

compartilhamento de selfies, aquisição de bugigangas tecnológicas, o homem esteja perdendo a

capacidade de desfrutar as grandes emoções do cotidiano com a intensidade que se espera. Essa

fugacidade do comportamento humano e as difusas concepções de território de convivência, o constante

deslocamento do plano físico para o plano virtual faz deste momento histórico um momento de reflexão.Alguns autores, entre eles Betti (1988), argumentam que o esporte tem sido usado para tentar

solucionar problemas que as políticas públicas não solucionam, problemas sociais como a criminalidade,

cura ou alívio do estresse urbano em que a sociedade em geral está vivendo, questões de sociabilidade

das crianças e inclusive para reprimir a sexualidade.Nossa proposta é que neste evento possamos nos questionar e refletir sobre os paradigmas

teóricos e práticos que o esporte está vivendo e compreender os mecanismos sociopsicológicos que a

sociedade de consumo impõe a ele É preciso ter um olhar crítico e a consciência do que tem sido imposto.Assim a conferência de abertura propõe pensar a Educação Física e a Psicologia do Esporte neste

momento tão importante que o país vive. Momento pós-derrota na Copa e momento de decisão política

para esta grande Nação.Nos demais dias a programação está voltada para cursos de aprofundamento que irão auxiliar na

prática cotidiana dos profissionais e futuros profissionais, mesas de discussão que irão tratar de temas

relevantes para pensar a formação profissional, as implicações do esporte na vida e na educação.O cenário de apresentação de trabalhos abrilhantará o nosso congresso como espaço

democrático, produtivo, rico de ideias, trocas de experiências e aprendizagem simultânea.No encerramento do evento, uma reflexão para além do cenário atual: Quais as perspectivas para

o Esporte e a Psicologia? Serão pautadas considerações para que possamos pensar e repensar nossa

atuação profissional enquanto partícipes desse processo de mudançaAo finalizar este preâmbulo, ressaltamos a dedicação, as parcerias, o empenho e a confiança de

todos na organização de nosso IV Congresso.Que todos possam se sentir acolhidos, abraçados por nossa cidade e por nós, para os que vieram

de outras cidades, que tenham uma ótima estadia e para todos aqueles de nossa cidade que estarão nos

prestigiando com a presença, nossos agradecimentos e o desejo de que este seja um espaço de muita

aprendizagem e reflexão individual e coletiva.Bem vindos ao IV Congresso Brasileiro de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana.

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Organização

PresidenteProf. Dr. Altair Moioli

Assessoria Técnico-PedagógicaProf. M.Sc. Arlete Guisso Scaramuzza Portilho Nicoletti

Prof. Esp. Guilherme Rocha Britto

Comissão CientíficaProf. Dr. Afonso Antonio Machado - UNESP

Prof. Dr. Kazuo Kawano Nagamine - FAMERPProfª. Drª. Mara Rosana Pedrinho - UNIRP

Prof. Dr. Lucas Portilho Nicoletti - UERRProf. M.Sc. Ednei Previdente Sanches - UNILAGO

Profª. M.Sc. Ligia Adriana Rodrigues - FAFICAProf. M.Sc. Marcelo Calegari Zanetti - UNIP

Profª Drª Silene Fontana - FIPA

Secretaria GeralProf. Esp Robinson Simões GavassiProf. Esp. Paulo Estevão da Silva

Prof. Esp. Rodinei Marcelino RodriguesProf. Marcus Fabiano Franco da Gama

TesourariaProf. Esp. Marcos Antonio Favarin

Prof. Esp. Robinson Simões Gavassi

Assessoria de ImprensaJornalista Paulo Rezende

Relações PúblicasProf. Marco Antonio de Mello Franco

Prof. Gabriel Lage

Marketing | Publicidade | FotografiaRodrigo A. Martins Goncalves

Divulgação | Informática | Filmagem | Apoio TécnicoMarcus Fabiano Franco da Gama

Tayla Monize da SilvaLuiz Henrique Orestes

Renan FrancoGirodano Bruno Teixeira Medrado

Hospedagem | AlojamentoProf. Silvio Renato Silveira

Alimentação | Transporte | Recursos MateriaisProf. Esp. Manoel Brandão FilhoProf. Paulo Estevão Alves da Silva

Prof. Lucas Milani FrancoProf. Renato Alex Cioca

Prof. Rodnei Marcelino Rodrigues

IV CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE E À MOTRICIDADE HUMANA

09 a 11 de Outubro de 2014

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PROGRAMA

09.10.2014 | QUINTA FEIRA

UNIP | Campus JK – Av. Juscelino Kubitschek Oliveira, s/n – Jardim Tarraf II

19h00 | ÁREA DE CONVIVÊNCIA DO TEATROAbertura da Secretaria Geral | Cadastramento e entrega de material

19h30 às 20h00 | TEATROCerimônia de Abertura

20h00 às 21h30 | TEATROConferência de Abertura: A Educação Física e a Psicologia do Esporte em jogo: resultados da Copa do Mundo, o que temos com isso?Convidado: Prof. Dr. Afonso Antônio Machado | UNESP Rio Claro-SPModerador: Profª Drª Priscila Carneiro Valim-Rogatto | UFLA

Resumo: O impacto psicológico, econômico e sociológico dos eventos esportivos para a sociedade como um todo e para a educação em especial. O poder dos meios de comunicação virtual no processo de massificação da cultura esportiva. A crítica social do esporte e os paradigmas da sociedade pós-moderna.

21h30 | Área de Convivência TeatroApresentações artísticas | Coquetel de boas vindas

10.10.2014 | SEXTA FEIRA

UNIP | Campus JK – Av. Juscelino Kubitschek Oliveira, s/n – Jardim Tarraf II

08h30 às 12h30 | Cursos de Aprofundamento

BLOCO “C” | SALA2 01 Curso 1 - Concepções teóricas e metodológicas para o futebolConvidado: Prof. Carlos Rossi | Técnico de Futebol | Campeão Paulista Série A3 edição 2014.Moderador: Prof. Ms Martin Wisiak | Unirp – S. J. Rio Preto

Ementa: Aspectos conceituais e didático-metodológicos aplicados ao futebol. Situações de ensino-aprendizagem com exercícios educativos. Possibilidades de implantação de novas metodologias de ensino frente ao cenário atual.

BLOCO “C” | SALA2 02 Curso 2- Atividades recreativas educacionaisConvidado: Prof. Luís Antônio de Souza Junior | UNIP São José do Rio Pardo-SPModerador: Prof. Gabriel Lage | Smel –S. J. Rio Preto-SP

Ementa: A atuação do professor com atividades recreativas na escolarização da criança. Preparação e conhecimento pedagógico. Atividades práticas para diversos ambientes e ciclos de aprendizagem. Aspectos motivacionais, técnicas de intervenção e planejamento das atividades.

BLOCO “C” | SALA 204 Curso 3- Treinamento FuncionalConvidado: Prof. Marcelo Jamil Humsi | Instituto de Reabilitação Lucy MontoroModerador: Prof. Cleide Monteiro | Unip - S.J. Rio Preto-SP

Ementa: Introdução conceitual e metodológica do treinamento funcional. Planejamento e aplicação de atividades por meio de vivência prática. Aspectos cinesiológicos, sistematização, avaliação e prescrição do treinamento funcional.

BLOCO “C” | SALA 203 Curso 4- Badminton: práticas escolaresConvidado: Prof. Roberto Aparecido Leal | Smel - S. J. Rio Preto-SPModerador: Prof. Renato da Silva Santos | Unilago - S. J. Rio Preto-SP

Ementa: Intervenção metodológica para a aprendizagem dos esportes e dos jogos nos diversos contextos educacionais. Outras formas de motivar a participação nas aulas de educação física. Exercícios educativos para a prática da modalidade como componente da cultura corporal de movimento.

BLOCO “C” | SALA 205Curso 5- Dimensão psicológica na detecção de talentos esportivosConvidado: Profs. Kauan Galvão Morão e Renato Henrique Verzani | Lepespe-Rio Claro-SPModerador: Prof. Dr. Marcelo Calegari Zanetti | UNIP

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Ementa: Aspectos psicológicos do esporte. A importância das relações interpessoais para a formação do atleta jovem. Fatores que interferem na avaliação e desenvolvimento da atividade esportiva. Variáveis psicológicas interferentes na adaptação, promoção e no treinamento esportivo.

TEATROCurso 6 | Dança: concepção, educação e performanceConvidado: Prof. Frank Tavantti | TF Style Cia de DançaModerador: Prof. Esp. Guilherme Rocha Britto

Ementa: Atividades para desenvolver a consciência, expressão e o movimento corporal integrado às técnicas da dança. Novas leituras corporais, fundamentação estética e as relações entre as linguagens musicais e a dança. Fornecer subsídios para o desenvolvimento criativo de estudos coreográficos por meio da improvisação como forma de pesquisa corporal. Exercícios individuais e em grupos

12h30 às 14h30 – Almoço

14h30 às 16h00 | TEATRO - Mesa Redonda

Ciberviolência: implicações para o esporte e a educaçãoConvidados: Prof. Mdo Guilherme Bagni | LEPESPE UNESP Rio Claro-SP e Prof Drª Mara Rosana Pedrinho | UNIRP – S. J. Rio Preto-SPModerador: Profª Drª Silene Fontana | Fundação Padre Albino - Catanduva-SP

Resumo: O comportamento dos adolescentes e os deslocamentos pelas redes sociais virtuais. A liberdade proporcionada pelo espaço virtual e a sensação de impunidade. A banalização da agressividade e da violência pelos meios de comunicação. O escopo do ciberespaço para as manifestações de preconceito e hostilidade. Causas e consequências no âmbito escolar. Estratégias de enfrentamento.

16h00 às 16h30 | Área de Convivência TeatroCoffee break

16h30 às 18h00 | TEATRO - Mesa RedondaEmoções no Esporte e na Atividade FísicaConvidados: Prof. Dr. Daniel Presoto | ESEF Jundiaí-SP e Prof Dr. Mauro Klebis Schiavon | UnianhangueraModerador: Prof. M.Sc. Ednei Previdente Sanches | Unip/Unilago - Rio Preto-SP

Resumo: Os estados emocionais presentes na atividade física e esportiva. A relação com o desempenho. A euforia, a frustração, o medo, a alegria, o choro, a decepção e a excitação percebidos por atletas profissionais e praticantes eventuais.

18h00 às 19h30 | TEATRO - Apresentação de Trabalhos - Artigos/Oral

1. A INFLUÊNCIA DA PRIVAÇÃO VISUAL NAS RESPOSTAS PSICOLÓGICAS DE INDIVÍDUOS ADULTOS APÓS EXERCÍCIO EM LEG PRESS 45º Luciana Botelho Ribeiro¹, Eric Francelino Andrade², Gustavo Puggina Rogatto², Priscila Carneiro Valim-Rogatto¹1 2Laboratório de Pesquisa em Psicologia do Exercício – UFLA/ Laboratório de Investigação e Estudos sobre Metabolismo e Exercício Físico – UFLA.

2. EDUCAÇÃO FÍSICA E NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (NTIC): ATITUDES DE PROFESSORES IMIGRANTES E NATIVOS DIGITAIS FRENTE AOS RECURSOS TECNOLÓGICOS ALIADOS À PRÁTICA DOCENTEDouglas Aparecido de Campos¹; Anderson Bençal Indalécio¹,²¹Universidade Federal de São Carlos – UFSCar / ²Centro Universitário de Votuporanga – UNIFEV.

3. EFEITOS DE UMA SESSÃO DE DANÇA SOBRE A ANSIEDADE DE INDIVÍDUOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL LEVEEric Francelino Andrade¹; Lucimara Mendonça Zacaroni²; Gustavo Puggina Rogatto¹; Priscila Carneiro Valim-Rogatto²; Amanda Mayara do Nascimento-Cardoso²¹Laboratório de Investigação e Estudos sobre Metabolismo e Exercício Físico - UFLA²Laboratório de Pesquisa em Psicologia do Exercício – UFLA

4. ASSOCIAÇÕES ENTRE HABILIDADE MOTORA GROSSA E DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM: RESULTADOS PRELIMINARES.

1,2 1 1 3Leonardo Trevisan Costa , Anderson Bençal Indalécio , Danilo Assis de Souza , José Irineu Gorla1 2Centro Universitário de Votuporanga, UNIFEV. Grupo de Pesquisa em Educação PARFOR - UNIFEV. 3Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP.

5. CARACTERIZAÇÃO TEÓRICA DA FILOSOFIA SAIKOO DE JIU-JÍTSU E DAS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA DESPORTIVA NA PERFORMANCE DOS ATLETAS.

1 2Marcelo de Carvalho Spolzino ; Claudemir Gomes1Professor de educação física, psicólogo clínico e esportivo e especialista em fisiologia e performance humana.2Docente no Curso de Psicologia, da FAC-FEA.

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6. O BULLYING NO AMBIENTE ESPORTIVO: IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICAKauan Galvão Morão¹, Luis Fernando Gonçalves¹, Guilherme Bagni¹, Renato Henrique Verzani¹, Afonso Antonio Machado¹.¹ Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte (LEPESPE) – DEF – IB – UNESP RIO CLARO

18h00 às 19h30 |Bloco A - Sala 101 - Apresentação de Trabalhos - Artigos/Oral

1. ARTES ORIENTAIS DE MOVIMENTOS: ALTERNATIVAS ÀS TERAPIAS DO CAMPO DA SAÚDE. UMA POSSIBILIDADE DE INVESTIGAÇÃO PARA A PSICOLOGIA DO ESPORTE. UM EXEMPLO DE PESQUISA FENOMENOLÓGICAHebert Henrique Ohnishi Carabolante; Luiz Augusto Normanha Lima/UNESP – Rio Claro

2. FORMAÇÃO DE ATLETAS: UMA ANÁLISE SOBRE ANSIEDADE E A INTERFERÊNCIA DOS PAISRenato Henrique Verzani, André Aroni, Luis Fernando Gonçalves, Guilherme Bagni, Kauan Galvão Morão, Afonso Antonio Machado.Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte - LESPESPE – UNESP Rio Claro

3. GEOGRAFIA ESPORTIVA: QUESTÕES RELACIONADAS A EVENTOS ESPORTIVOSLuis Fernando Gonçalves; Kauan Galvão Morão; Guilherme Bagni; Renato Henrique Verzani; Afonso Antonio MachadoLaboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte – LEPESPE / UNESP - Rio Claro-SP

4. PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA E O USO DAS REDES SOCIAIS.Vivian de Oliveira; Guilherme Bagni, André Luis Aroni, Gustavo Lima Isler, Kauan Galvão Morão, Afonso Antonio Machado.Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte

5. O MOODLE COMO FERRAMENTA DE ENSINO DA PSICOLOGIA DO ESPORTE: VISÃO SOBRE OS PONTOS NEGATIVOS DO CURSOGuilherme Bagni; Vivian de Oliveira; Renato Henrique Verzani; Kauan Galvão Morão; Luis Fernando Gonçalves; Afonso Antonio Machado.Laboratório de Estudos e Pesquisa em Psicologia do Esporte, Departamento de Educação Física, UNESP – Rio Claro.

6. AMBIENTAÇÂO À CIDADE SEDE NA COPA SÃO PAULO DE FUTEBOL JÚNIOR: UMA NOVA PROPOSTA1,2 1 1,2Lucas Ribeiro Cecarelli ; Carlos José Martins ; Afonso Antonio Machado | 1 UNESP/IB/DEF - Rio Claro / 2

LEPESPE

7. MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DE MASSA E A AGRESSIVIDADE DO ESPECTADOR DE FUTEBOLClaudinei Chelles¹; Mauro Betti²Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus Bauru

8. O JOGAR SOB UMA INVESTIGAÇÃO PSICANALÍTICAClaudinei Chelles¹; Mauro Betti²Universidade Estadual Paulista - UNESP – Campus Bauru

19h30 às 20h30 | TEATRO - Palestra

Motivação como componente de excelência para o sucesso esportivoConvidado: Prof. Ms. Coach Jean Carlos Souza | UP Desenvolvimento HumanoModerador: Prof. M.Sc. Mayara Arina Bertolo | Unilago - S.J. Rio Preto-SP

Resumo: Identificar e contextualizar as expectativas e necessidades profissionais na sociedade atual. Analisar os motivos e objetivos que norteiam a prática docente. Estratégias para enfrentamento do mercado de trabalho. Lições do esporte para a vida pessoal. Aspectos da motivação para o desempenho pessoal e profissional nas diversas áreas do esporte. O Coaching e o desempenho docente, atlético e na atividade física.

20h30 às 21h30 - Programação Social e Cultural

11.10.2014 | SÁBADO

UNIP | Campus JK – Av. Juscelino Kubitschek Oliveira, s/n – Jardim Tarraf II

08h30 às 09h30 | Pátio - Apresentação de Trabalhos - Banner

1. A INFLUÊNCIA DO CONSUMO REGULAR E DELIBERADO DE ÁLCOOL NO RENDIMENTO FÍSICOGiordano Bruno Teixeira Medrado | UNIP Campus JK

2. ASPECTOS MOTIVACIONAIS E INSATISFAÇÃO CORPORAL DE MULHERES PRATICANTES DE ACADEMIA DE GINÁSTICAGeovana Ferreira da Silveira; Ana Carla Ferreira Silveira; Caciane Dallemole Souza | FAMERP/ UNIP/UNIFEV

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3. OS BENEFÍCIOS DO KUNG-FU PARA AS PESSOAS QUE SOFREM COM O ESTRESSEAndré Luis Bueno; Thiago Cassiano da Rocha; Ednei Sanches | UNILAGO

4. A MÍDIA NOS MANIPULOU DURANTE A COPA DO MUNDO?André Luis Aroni; Kauan Galvão Morão; Renato Verzani; Raphael Moura; Guilherme Bagni; Afonso Antonio Machado | UNESP/Rio Claro-SP

5. INÍCIO E ADESÃO À PRÁTICA ESPORTIVA: O QUE TE MOTIVA A PRATICAR VOLEIBOL?1,2 1,2 ,2 2Gustavo Lima Isler ; Mauro Klebs Schiavon ; Vivian Oliveira ; Afonso Antonio Machado

1 2 Claretiano – Faculdade – Rio Claro/SP; LEPESPE – IB/UNESP – Rio Claro/SP

6. ANÁLISE DO PERFIL DEMOGRÁFICO E MOTIVOS QUE LEVAM A PARTICIPAÇÃO DAS PESSOAS NOS EVENTOS DE CORRIDA DE RUA NA CIDADE DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETOMarlon Souza Freitas; Pedro Alex Carniato; Mayara Bertolo.| UNILAGO

7. ALTERAÇÕES POSTURAIS E LESÕES NA CORRIDA EM ATLETAS PROFISSIONAIS E AMADORESWillian Lopes Da Graça | UNIP JK

8. O NÍVEL DE CONHECIMENTO DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO SOBRE A MODALIDADE ESPORTIVA BASQUETEBOL NA ESCOLA¹,²Anderson Bençal Indalécio; ²Henrique Ribeiro Carrasco; ¹,²Higor Thiago Feltrin Rozales Gomes | ¹UNIFEV – Centro Universitário de Votuporanga / ²SME – Secretaria Municipal da Educação de Votuporanga/SP

9. ESTUDO SOBRE APLICABILIDADE DOS JOGOS PRÉ-DESPORTIVOS AO ENSINO DO VOLEIBOL EM DOZE ESCOLAS DO MUNICÍPIO DE VOTUPORANGA/SP¹,²Anderson Bençal Indalécio; ²Henrique Ribeiro Carrasco; ¹,²Higor Thiago Feltrin Rozales Gomes | ¹UNIFEV – Centro Universitário de Votuporanga / ²SME – Secretaria Municipal da Educação de Votuporanga/SP

10. O COMPORTAMENTO DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO SOBRE A OBESIDADE E A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR¹,²Anderson Bençal Indalécio; ²Henrique Ribeiro Carrasco; ¹,²Higor Thiago Feltrin Rozales Gomes | ¹UNIFEV – Centro Universitário de Votuporanga / ²SME – Secretaria Municipal da Educação de Votuporanga/SP

11. OS ASPECTOS SOCIAIS RELACIONADOS AO VOLEIBOL NA ESCOLA¹,²Anderson Bençal Indalécio; ²Henrique Ribeiro Carrasco; ¹,²Higor Thiago Feltrin Rozales Gomes | ¹UNIFEV – Centro Universitário de Votuporanga / ²SME – Secretaria Municipal da Educação de Votuporanga/SP

12. PROPRIOCEPÇÃO PARA A PRÁTICA DE MUSCULAÇÃO: MÉTODO DE PREVENÇÃO DE LESÕESFrederico Gonçalves da Costa | UNIP JK

13. ANÁLISE HISTOLÓGICA DE FIBRAS MUSCULARES APÓS EXERCÍCIO RESISTIDO NA NATAÇÃO ASSOCIADO A INGESTA HIPERPROTEICAKarina Duque Amantini; Jerônimo Augusto Galvão; Wilson Mancini Neto | UNIRP

14. A RELEVÂNCIA E EFICÁCIA DA ATIVIDADE FÍSICA NO TRATAMENTO E PREVENÇÃO DA DEPRESSÃOPamella Natally Figueiredo Marzochi; Mayara Bertolo | Unilago

15. A CULPA É DO ESPORTE: EDUCAÇÃO POR MEIO DO JOGOFernando Ferreira da Silva | UNIP / S.J. Rio Preto

16. O PADRÃO DE BELEZA CORPORAL PARA PRATICANTES DE ATIVIDADES FÍSICAS.1 1,2 1 1Francieli Pires Barbosa; Marcelo Callegari Zanetti; Deivison Luis Corrêa | UNIP – São José do Rio Pardo – SP; 2LEPESPE/IB/UNESP - Rio Claro

17. BRASIL, PAÍS DO FUTEBOL. VERDADE OU MITO?Bruna Garcia; Laila Muller - Centro universitário de Rio Preto-UNIRP

18. O ENSINO DOS JOGOS COLETIVOS ESPORTIVOS POR MEIO DE JOGOS NA INICIAÇÃOSouza, V. V; Gomes, G. M; Buffo Junior, L. E; Pavan, P. H. B; ZanettiI, M. C | UNIP – São José do Rio Pardo

19. A RELAÇÃO ENTRE JOGOS ELETRÔNICOS E A DEFICIÊNCIA MOTORA APRESENTADA EM CRIANÇAS PRATICANTES DE NATAÇÃOChafic Chaves dos Santos; Victor Reia Pinheiro | Aquáctica Escola de Esportes

20. ATLETAS INTELIGENTES: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA1,2¹Guilherme Silva; ¹Deivison Correa; ¹José Guilherme Carvalho; ¹Luan Lopes; Marcelo Callegari Zanetti.

1 2| UNIP- São José do Rio Pardo – SP – Brasil / LEPESPE/I.B./UNESP – Rio Claro - SP – Brasil

21. OBESIDADE INFANTIL, ATIVIDADES FÍSICAS E SEDENTARISMO EM CRIANÇAS DO 1º CICLO DO ENSINO INFANTIL DA CIDADE DE MOCOCA¹Luan Lopes; ¹Leticia Bertasso; ¹Paula Cardoso; ²Pedro Coelho; ¹Graziela Feltran. | ¹UNIP - São José do Rio Pardo - SP – Brasil / ²UNIFAE - São João da Boa Vista – SP - Brasil

22. RISCOS SOBRE O USO INDEVIDO DE ANABOLIZANTES ESTEROIDES POR PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO

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Raphael Magosso | UNIP– Campus JK

23. FATORES MOTIVACIONAIS PARA A PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA DOS HABITANTES DO MUNICÍPIO DE TABAPUÃ-SP.Gabriel Bossolani da Guarda; Gabriela Blasquez | UNIP - Universidade Paulista

24. IMAGEM CORPORAL DE PRATICANTES DA TERCEIRA IDADE DE ATIVIDADES FÍSICAS DA CIDADE DE MOCOCA ¹Leticia Bertasso; ¹Luan Lopes; ²Pedro Coelho; ¹Graziela Feltran | ¹UNIP - São José do Rio Pardo - SP – Brasil / ²UNIFAE - São João da Boa Vista – SP – Brasil.

25. A INFLUÊNCIA DA ANSIEDADE NO DESEMPENHO ESPORTIVOPatricia Tais de Oliveira; Aline Luzia Perez; Ednei P Sanches - Unilago

26. ANSIEDADE NA ESTREIA ESPORTIVA: ANÁLISE POR MEIO DE DEPOIMENTOS MIDIÁTICOSMatheus de Oliveira Martins; Afonso Antônio Machado | IB/UNESP/LEPESPE – Rio Claro-SP27. COGNIÇÃO E AÇÃO TÁTICA NO BASQUETEBOLRenan Franco – UNIP JK

28. CAPOEIRA E BRINCADEIRA: OS DESAFIOS DE SE ENSINAR DE FORMA LÚDICA1 1, 2Maria Jose de Matos Laurentino, Marcelo Callegari Zanetti1 2UNIP - São José do Rio Pardo - SP – Brasil, LEPESPE/I.B./UNESP – Rio Claro - SP - Brasil

29. A IMPORTÂNCIA DA COMPREENSÃO DA CULTURA CORPORAL DOMOVIMENTO PARA A VISÃO DE UMA NOVA EDUCAÇÃO FÍSICA.Arthur Santana Santos da Silva, Mara Rosana Pedrinho; Silene Fontana | Centro Universitário de Rio Preto-UNIRP

30. ANÁLISE DOS RESULTADOS DO BRASIL NA COPA DO MUNDO: AVERGONHA NA MÍDIA. MAS QUE VERGONHA?1, 2 1 3 Arlete Guisso Scaramuzza Portilho Nicoletti, Afonso Antônio Machado, Lucas Portilho Nicoletti.1 2 3 LEPESPE | Faculdade Dom Bosco | UERR

09h30 às 10h30 | TEATRO - Mesa RedondaDiálogos entre a Psicologia a Educação Física e o EsporteConvidados: Prof. M.Sc. Ednei Sanchez |Unip/Unilago e Psicóloga Camila Freitas Teodoro | CRP São Paulo.Moderador: Prof. Dr. Afonso Antônio Machado | Unesp - Rio Claro-SP

Resumo: A contribuição das diversas áreas na atuação profissional. Estratégias de integração e socialização de conhecimento. Definição nas áreas de intervenção. Possíveis ações integradas da psicologia e da educação física.

10h30 às 11h30 | TEATRO - Mesa RedondaAfinal, Esporte educa?Convidados: Prof. Dr. Marcelo Callegari Zanetti | UNIP – S. J. Rio Pardo-SP e Prof. Mda Arlete Scaramuzza Portilho Nicoletti | Faculdade Dom Bosco Monte Aprazivel-SPModerador: Prof. Cesar Antonio Parro | Unip - S.J. Rio Preto-SP

Resumo: O papel do educador na seleção do esporte como ferramenta de educação, formação e inclusão. Aspectos positivos e negativos da competição. A importância do adversário no contexto esportivo. As diferentes formas de linguagem esportiva para a comunicação entre os praticantes. O esporte e a emancipação social e psicológica.

11h30 às 12h00 | TEATRO – Palestra de Encerramento

Síntese do Evento – Perspectivas para o Esporte e a Psicologia no cenário atualConvidado: Prof. Dr. Afonso Antônio Machado | UNESP – Rio Claro-SPModerador: Prof. Dr. Altair Moioli | UNIP/UNIRP S.J.Rio Preto-SP

Resumo: Análise e avaliação das discussões realizadas. Propostas e expectativas geradas. Os modelos ideais para a atuação e intervenção profissional; viabilização e consolidação do esporte, da educação física e da psicologia do esporte no cenário esportivo contemporâneo.

11h30 – Secretaria GeralCertificação

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CONFERÊNCIAS

MESAS REDONDAS

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A universidade vem desenvolvendo uma produção de conhecimentos que servem como referências para reflexões acerca de como o esporte é um discurso ideológico representante das classes dominantes da sociedade e de quão enganoso é o “direito” à escalada social no meio esportivo. Pensando nos exemplos diários, da crônica esportiva, temos que muitos de nossos atletas representam milhares de euros e os salários apenas incham os olhos de pais de novatos.

Sonhos e realidades do mundo do esporte

De fato, o que temos são atletas bem valorizados, mas a crônica sempre se esquece de demonstrar a probabilidade de uma criança chegar ao topo desta pirâmide fantástica. Sem esta referencia, a sociedade acredita na possibilidade de sucesso de todos seus membros, independente da habilidade motora ou da viabilidade de estar em mãos adequadas para um polimento exemplar (VIANA, 1994). Nem todos os iniciados serão craques, como também nem todos os iniciados chegarão à segunda fase da preparação.

Baseado nessas ideias, o esporte passa a ser acusado de tornar o homem refém do sistema econômico vigente, a sociedade capitalista. Desta forma, as críticas marcadas pela utilização de termos como cois i f icação, al ienação, repressão e manipulação passaram a associar os sistemas de ação do esporte e do trabalho, orientados pela lógica capitalista. Talvez seja este o motivo que faça com que Torre e Vaz (2006) citem as denúncias realizadas pelos autores da Teoria Crítica do Esporte, acusando o paralelismo entre esporte e trabalho, com característ icas de concorrência, discipl ina, autoridade, rendimento e organização, com ênfase na ação repetitiva, mecanicista e estereotipada.

Analisemos que uma família, orientada por um pai desinformado, investe toda sua estrutura econômica na formação de seu filho mais novo, pois o retorno financeiro será alto e em breve todos estarão sobrevivendo das divisas angariadas pelos altos salários do jovem atleta. Esta é uma estória recorrente em qualquer estádio ou praça esportiva, onde o futsal apareça como esporte de competição: a venda do atleta para a Espanha, ou para a Itália, Iraque e até Rússia, é a ultima notícia, sempre.

Este fenômeno só acontece baseado no princípio de rendimento inculcado no esporte, pela busca de recordes, vitória a qualquer custo; as imagens de mitos e heróis devido a seus feitos eternizados em gols, dribles e façanhas, no intuito de utilizar suas imagens para vender sua força de trabalho; a espetacularização da mídia, também com a intenção de ganhar os benefícios do consumo na sua variedade de produtos, através de ibope e venda de materiais esportivos usa a imagem desses atletas “heróicos”.

Temos claro que todo esse processo de

maximização do rendimento presente na sociedade como um todo, e que refletiu nos vestiários e quadras de esporte, contribui para o processo de aceleração da busca por resultados, fato que acaba por sobrepor as etapas da formação de jovens esportistas, visto que tais alunos são submetidos a horas de treinamento, especificamente buscando a perfeição técnica e necessitando alcançar o mais alto padrão do movimento perfeito, tornando estereotipado e mecanizado.

Nes te processo , acabam por se rem descartados todos os benefícios que os jogos lúdicos possuem nesta etapa de formação, e tornando a prática do esporte maléfica para o crescimento e o desenvolvimento do indivíduo. Escolinhas de esportes ou treinamentos bons são aqueles em que o profissional da Educação Física repete exercícios de categorias maiores ou de seleções estrangeiras, pois assim os menores vão se habituando ao ritmo que terão pela frente, sem pensar nas etapas de crescimento e desenvolvimento humanos.

Analisando pelos olhares de uma filosofia de trabalho, encontramos vários estudos de autores nacionais que se baseiam na teoria crítica marxista acusando a enganosa ideologia do esporte alimentada pelas vontades da classe dominante burguesa, tais como Betti (1998), Bracht (1986, 2000), Kunz (2004), Medina (1990), Presoto, Machado e Gouvêa (2006). Todos eles, de uma forma ou de outra, inclinam-se a criticar essa “barbarização do esporte”, e suas características de racionalização, supervalor ização, sacr i f íc ios e repet ições, metrificação e funcionalidade do corpo, repressão, consciência coisificada, autoritarismo e caráter manipulador.

Entendemos que essas considerações fazem parte de uma reflexão crítica diante do problema da iniciação e da especialização esportiva, sem controle e rigor, afim de que se possa entender tal fenômeno e o sentido de sua prática como tal. Esse esclarecimento deve, como afirma Machado (2006), trazer um foco de luz ao que está encoberto, desmistificando este caráter de desumanização e alienação dos indivíduos, possibi l i tando a valorização, a emancipação e a libertação dos sujeitos inseridos em tal contexto.

O entorno do espetáculo esportivo: inferno de Dante

Em todo evento esportivo, seja do nível que for a presença da torcida é de fundamental importância, pois pode ser fonte de motivação para muitos atletas e equipes em geral. No entanto ela, que deve ser considerada como aspecto fortemente intrínseco no entorno esportivo, pode trazer influências positivas e negativas, pois a mesma é “despertada” segundo as atuações das equipes. Ou mais: a ligação entre equipe-torcida-equipe forma um clima tensional que demanda estudos e manejos.

Em meio a este processo, segundo Isler (2003),

A EDUCAÇÃO FÍSICA E A PSICOLOGIA DO ESPORTE EM JOGO:resultados da Copa do Mundo, o que temos com isso?

Afonso Antonio Machado, Prof. Dr.LEPESPE-D.E.F.-I.B.-UNESP

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pode haver transferências dos processos emocionais entre atletas e público, fato este explicado pelas teorias de contágio social, transferência de disposição e sugestão de massa, apontados por Thomas (1983). Uma grande questão da influência da torcida no problema da formação esportiva está no fato de a mesma, pela sua simples presença nos “palcos” esportivos, culminar em um processo de observação.

Diante desta questão, a observação pode ser encarada com diferentes olhares pelos observados. Isso porque ela terá diferentes pesos para cada um dos atletas assistidos, pois existem três fatores que interferem nessa questão: a experiência, a modalidade e a personalidade do indivíduo (ISLER, 2003). O fato de alguém da torcida gritar aleatoriamente, atinge ao grupo, mas atinge um deles em especial: o menos preparado para ouvir tal grito. E isso fará diferença na performance do atleta, portanto do grupo.

O interessante é que a torcida não percebe que cada um dos observados (atletas, em questão) recebe sua presença de uma forma: uns gostam muito, outros só gostam e outros não gostam. Mas alguns a odeiam. O comportamento não é padrão, apesar de a torcida torcer em uníssono, o que não garante percepção igual e resposta igual por parte dos observados. Desta diferença de recepção surgem os conflitos internos, exacerbam-se os conflitos externos e está formada a discordância entre grupos sociais diferentes, com interesses convergentes: vencer um jogo.

Analisando esses fatores, Isler (2003) indica alguns autores que se posicionam em relação às influências da torcida no esporte: para Singer (1982), quanto mais complexa e de precisão for a habilidade da modalidade em questão e também a exigência do nível de concentração, mais prejudicial pode ser a presença da torcida, mesmo que o indivíduo tenha um bom domínio da modalidade; este fato é explicado por Magill (1984), acusando que a complexidade da tarefa aumenta os níveis de ansiedade-estado.

No entanto, vale a pergunta: alguma torcida, alguma vez, se preocupou com a ansiedade de seus heróis? Ao menos considerou que eles podem estar ansiosos ou que seus alaridos e batuques podem aumentar seu estado de ansiedade? O que podemos observar é que a torcida exerce sua função sem considerar o lado pessoal ou grupal de quem eles torcem. E ignorando esse fator, concorrem para destruir uma estabilidade nem sempre real ou alicerçada, causando mais danos do que benefícios.

Estudos de Cirulli e Machado (1997) demonstram que a presença da torcida em momentos de prática em que o atleta possui um bom nível de habilidade e aprendizado da técnica do esporte pode ser positiva, motivando-o. Mas caso o mesmo não possua um bom nível de habilidade da técnica do esporte em questão, o fato de ser observado pelos expectadores pode causar uma maior inibição dos movimentos e descontrole motor, incapacitando-o de atuar perante eles.

É neste momento que parece que a torcida se torna inclemente e cobra o sangue do atleta. No Futsal, grande parte dos acidentes de contato ou

lesões individuais acontece quando a torcida se descontrola e passa a cobrar além do possível pelo atleta. E ele, que não consegue discernir naquele momento, tenta dar mais do que pode, avançando sinais e rompendo com barreiras impossíveis; é o momento ideal para lesões, sejam física ou mental.

Pensando na iniciação esportiva do futsal, este fator presencial da torcida torna-se mais complicado ainda, pois os iniciantes ou aprendizes encontram-se na fase de refinamento dos movimentos, e nem todos sairão com uma execução precisa e coordenada. Nem todos os profissionais da Educação Física estão atentos a este detalhe e expõem seus atletas a algumas situações inusitadas, tanto do ponto de vista técnico, como tático e psicológico (MACHADO, 1998, 2006; MAGNANE, 1969).

Desta forma, o fato de serem observados pode gerar o sentimento de vergonha, diminuição da concentração, distração e aumento dos estados de ansiedade. Vamos lembrar que a torcida é uma massa que reage instintivamente e nem sempre dá o melhor apoio necessário; além disso, os pais também são componentes dela, o que causa maior impacto aos pequenos atletas (CRATTY, 1984, ISLER, 2003)

A quem compete liderar e organizar?

Refletindo sobre o relacionamento que técnico e atleta(s) mantêm dentro de uma equipe esportiva, devemos considerar alguns fatores, como a formação profissional de tal técnico seguido dos laços interpessoais de respeito, reciprocidade, confiança e amizade que eles comungam entre si. Estes elementos devem ser bem distintos e devem ser bem cu l t uados , v i s t o que co l abo ram pa ra o desenvolvimento individual e da equipe de Futsal, como um todo.

Quando levantamos os fatores que podem fazer com que jovens esportistas abandonem o esporte, devido à postura dos técnicos com os quais não se compactuam, precisamos analisar como foi a formação profissional daquele indivíduo que lidera uma determinada equipe, qual sua visão de ser humano, seus valores e qual é a sua linha de trabalho. Esta análise permitirá entender se os valores morais estão sendo trabalhados ou se cada atleta representa apenas algumas cifras, no final de um contrato milionário.

Por meio dos estudos de Betti (1991) sabemos que os profissionais de Educação Física tiveram, ao longo dos anos 70 e 80, uma formação profissional extremamente esportivista e mecanicista, na qual a execução da técnica metricamente refinada e perfeita era considerada como fator preponderante, dando-se valor exclusivo aos gestos estereotipados e mecan i zados , e pensando - se apenas na competitividade esportiva e na busca da vitória a qualquer preço.

Esta concepção funcional na qual se encontrava a Educação Física brasileira era fortemente apoiada pelo governo do estado, que via no esporte a possibilidade da ascensão da economia e do mercado, fortalecendo a imagem do país internacionalmente através das conquistas esportivas (BETTI, 1991). Ter atletas brasileiros fora do país seria exportar aquilo que o Brasil produzia de melhor,

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portanto, quanto mais forte esse atleta fosse, melhor seria a propaganda.

Então, foi por isso que os princípios da Educação Física, inclusive no aparelho escolar, eram os de seleção e de rendimento, exclusão dos menos habilidosos e a busca por vitórias a todo custo. Refletindo sobre essas questões, se no ambiente escolar as exigências para a conquista de resultados já era pesada, imaginem em clubes esportivos, associações ou escolinhas de esportes.

A c r e d i t a m o s , p o i s , q u e d e v i d o à s circunstâncias contextuais da época, enraizou-se – e ainda se mantém presente – essa apreciação maléfica pela vitória na formação e no crescimento de jovens indivíduos inseridos na prática esportiva. Além dessas considerações, Sobrinho, Mello e Peruggia (1997) nos alertam que devemos considerar fatores de ordem econômica, de ordem política e outros de ordem social. Por exemplo, as pressões que os técnicos sofrem por parte dos patrocinadores e dirigentes, tendo que sempre apresentar um bom resul tado em determinada competição ou temporada, questões contratuais e salariais, prêmio em dinheiro por vitória, bônus e outras coisas mais.

E mais: também notamos a influência da mídia interferindo nessa relação, pois a mesma enaltece sempre os que conquistam as vitórias, e apedreja aqueles que não obtiveram um resultado satisfatório. Em suma, todos esses fatores devem ser pensados para entendermos a relação entre técnicos e atletas, e talvez porque tais técnicos venham a ter uma postura com exigências enormes diante de seus atletas (o que não justificava tal fato), mesmo os que estejam iniciando no esporte.

De uma forma crítica, entendemos que o importante talvez seja conscientizar os próprios atores principais do cenário esportivo – técnicos e atletas – dessas informações, para que os mesmos saibam lidar com essas questões, e não ocorram desistências e abandono de atletas da prática esportiva, especialmente dos iniciantes, pela pressão e cobrança na busca de resultados.

Para que um técnico saiba respeitar o tempo de formação de jovens esportistas, se faz necessário que o mesmo tenha domínio dos seguintes conteúdos: de Crescimento e desenvolvimento humano, que favorecerá o conhecimento sobre os princípios e fatores que regulam o crescimento, e as influências da atividade física neste processo, puberdade, adolescência e desenvolvimento sexual; das condições de aprendizagens de movimentos com suas aquisição e fases de aprendizagem das habilidades motoras.

Saber da formação de jovens esportistas, dos treinamentos para crianças e adolescentes, freqüência e duração de treinos, critérios para formação de grupos, procedimentos e sistemáticas de formação atlética e da preparação física de jovens no esporte, com as: capacidades físicas envolvidas, princípios gerais de treinamento e preparação muscular e sobrecarga facilitarão um trabalho equilibrado e bem dosado, sem que se avance sinais que comprometerão o desenvolvimento dos atletas em formação.

Os aspectos psicopedagógicos de formação esportiva, com suas noções de formação de

personalidade, desenvolvimento cognitivo, questões afetivas, estados emocionais e estados de humor, aspectos motivacionais, agentes estressores, socialização, relações intrapessoais e interpessoais, resolução de problemas, estimulação da criatividade e autonomia, princípio da diversidade e da alteridade, e formação e coesão grupal permitirão que seja respeitado cada um em sua individualidade e a formação do grupo tenderá a ser mais equilibrada e menos danosa.

Afinal, o técnico esportivo é um maestro de uma orquestra afinada? Ou cabe a ele ter elementos para afinar sua orquestra e dar a ela um tom adequado em cada apresentação? O técnico esportivo necessita lidar com dirigentes, mídia, torcida e atletas, além de preparar estes últimos para o sucesso, sem ultrapassar limites nem romper com sonhos, sem antes analisar as conseqüências a que exporá cada um dos seus comandados. Entendemos, então, que a orquestra está por ser afinada, por um especialista hábil.

Elementos contextuais: bônus e sanções

Temos a percepção de que a família exerce uma influencia muito grande na vida dos indivíduos, pois é o primeiro contato social logo após o nascimento, constitui-se na primeira comunidade e colabora pela compreensão do mundo, de forma inicial. No processo de desenvolvimento, alguns comportamentos e atitudes, assim como os valores morais, são influenciados e internalizados pelos comportamentos observados nos pais.

Esse processo de imitação ou modelação de comportamentos é explicado por alguns autores, como por exemplo, por Gusson (1989), como um processo de facilitação social, sendo que a influência recebida por um indivíduo na presença de outros passa a ser um facilitador e um modelo na vida social. Isto é explicado por Bandura (1995), pela Teoria da Aprendizagem Social, afirmando que o sujeito internaliza os comportamentos e condutas freqüentemente observadas.

Partindo dessa importância da família na vida dos indivíduos, como será essa relação na vida de jovens atletas que estão em um processo de formação esportiva, especializando-se em uma modalidade qualquer, mergulhando em um mundo de competições, comparações e exigências? Estas crianças são expostas aos olhares de seus próprios pais e de pessoas próximas à família, que concordam com o plano de desenvolvimento esportivo do mini-atleta.

Em função do peso que a família exerce na vida da pessoa, Sobral (2000) relata que na iniciação esportiva os jovens atletas recebem uma grande quantidade de influências externas, e as de maior valor são as da família. Para Machado (1994) a relação de intimidade entre pais e filhos pode ter algumas conseqüências negativas na vida dos jovens esportistas, como por exemplo, pais que se sentem mais próximos e mais à vontade, ou até mesmo proprietários dos filhos podem exercer uma excessiva cobrança em cima dos mesmos, com o intuito de que estes alcancem melhores resultados ou aumentem o desempenho.

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Pelo fato dos pais estarem presentes e acompanharem a vida atlética dos filhos podemos entender de que se trata de uma importante fonte de motivação para os jovens atletas. Isso porque os filhos dão grande importância aos julgamentos dos mesmos, e querem sempre ser bem vistos diante da presença dos pais e em especial por eles. Mas o efeito também pode ser contrário se, por exemplo, tornar-se comum os pais assistirem aos jogos dos filhos e realizarem diversos comentários nos momentos posteriores, principalmente se os desempenhos dos jovens não forem tão bons, e os comentários mais infelizes ainda.

Do ponto de vista da Psicologia do Esporte, a dimensão deste problema pode ser ampliada, de acordo com Curro (2000), se os pais forem ex-atletas. Mas ainda não é o ponto final: essa relação pode ficar ainda mais complicada, e piora, se os pais forem técnicos dos próprios filhos. Segundo dizeres do autor descrevendo o relacionamento dos pais – técnicos de basquetes – e seus filhos – atletas das equipes dirigidas pelos pais – os jovens sentem-se muito mais cobrados em relação aos demais companheiros de equipe, mesmo os pais afirmando que cobram o mesmo empenho de todos do grupo, o que acontece é que o pequeno atleta necessita ser um astro para evitar a vergonha do pai.

Numa outra situação constrangedora e um pouco parecida, porém mais complexa, Machado (1998) afirma que pais ex-atletas frustrados com suas carreiras esportivas podem transmitir esse sentimento a seus filhos, ou ainda buscar nos filhos as realizações, desejos e vontades que não conseguiram alcançar ou realizar enquanto atletas: meu filho será campeão..., meu filho jogará na Europa..., meu filho ganhará muito dinheiro em..... Es tas s i tuações descr i tas pe lo autor são extremamente negativas para jovens atletas, que muitas vezes se vêem pressionados, aumentando a suas responsabilidades tendo que satisfazer alguma vontade ou sonho dos pais.

E o grande problema é que essas situações são corriqueiras e comuns, e são motivos de desistências e abandonos por parte dos jovens no esporte, quase sempre sem que a família perceba que ela foi o componente de tal fracasso. A crescente cobrança e a real percepção do universo esportivo soam como um peso demasiado grande para um jovem atleta em formação.

Os pais, por sua aproximação afetiva em relação aos filhos, e também seus poderes de autoridade, tornam-se os torcedores mais ácidos, impondo uma cobrança acima da média, achando-se no direito de gesticular, esbravejar e insultar. Essas condutas podem comprometer as relações dos filhos atletas com os demais companheiros de equipe e até técnicos, gerando problemas de entrosamento e coesão grupal, e conseqüentemente o abandono dos mesmos do esporte.

O ambiente de reclusão esportiva existe para que, teoricamente, o atleta seja preparado para entrar no jogo no seu estado de mobilização máxima. O treinamento psicofisiológico é um excelente exemplo de estratégia designada para melhorar a pe r fo rmance , r ee s t ru tu ra r p roce s so s de pensamentos ineficientes e manter a mobilização

máxima dos atletas durante toda a competição (ROST, 1996).

O prazer e a satisfação dos atletas na prática desportiva deve ser um dos objetivos principais a s e r e m c o n s i d e r a d o s p e l o t é c n i c o . Conseqüentemente, os resultados aparecem já que o indivíduo tende a repetir experiências prazerosas e evitar uma não prazerosa.

Como já citado, a reclusão pré–evento e spo r t i vo , chamada de “ concen t ra ção” , supostamente é apresentada como “terapia coletiva” para equilibrar o estado emocional dos jogadores, afastando–os de quaisquer outros estímulos e contatos extraesportivos (sejam sociais, e até famil iares) . Nessa reclusão, os jogadores permanecem basicamente se distraindo com TV, jogos de baralho e sinuca. (TOLEDO 2002)

Se por um lado temos essa má impressão, de uma “prisão”, por outro lado, temos um número de atividades que se somam às rotinas dos treinos, e , são considerados fundamentais para a preparação do atleta para o evento esportivo, visando “moldar” o “espírito” do atleta para a competição. (TOLEDO 2002).

Para alguns prof iss ionais o veto às informações já virou rotina de trabalho e uma opção em que acreditam ser positiva, porém, é necessário analisar o outro lado da moeda, onde o jogador fica apreensivo por notícias de familiares e pode até recebê-la na beira do gramado antes do início da partida, emitida por um repórter esportivo. Os princípios metodológicos aplicados pelos professores devem obedecer a critérios rigorosos da ética e do senso de humanidade que cada profissional deve conter, para no mínimo respeitar nossas crianças como seres humanos que querem aprender algo e não vê-las como robôs prontos para render.

Pa r a f i n a l i z a r a a n á l i s e s o b r e a reclusão/concentração em véspera de competições fica a sugestão de que nenhuma informação seja vetada ao jogador dentro do per íodo de concentração (que deve ser curto – 12 horas a 24 horas antes da partida), porém, toda informação que chegar até o atleta deve ser trabalhada evitando dessa forma um desgaste psicológico do mesmo, tentando minimizar os problemas que possam ocorrer.

Chorar ou não chorar? Reside ai o problema?

O acompanhamento e monitoramento das fases de desenvolvimento do jovem inserido no esporte de rendimento pode ser considerado como o ponto fundamental para a elevação do nível do nosso esporte de alta performance. As capacidades físicas necessárias para a prática têm nas fases anteriores da adolescência, o desencadeamento de sua base de sustentação, assim existem condições de serem desenvolvidas de forma mais intensa através de um treinamento mais sistemático (ZAKHAROV e GOMES, 1992).

A potencial ização das condições de assimilação dos regimes e cargas de treinamento faz com que, exatamente, neste período surja uma busca intensa, muitas vezes, desproporcional e inadequada pelo talento esportivo. Essa “galinha dos ovos de

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ouro” é definida por Weineck (1999) como sendo aquele que, com disposição, prontidão para o desempenho e possibilidades, apresenta um desempenho acima da média comprovada para aquela faixa etária (desempenho este comprovado por competições). Este resultado é obtido graças ao acompanhamento de um treinamento - orientação in tenc ional , a t i va e pedagógica - v i sa o desenvolvimento do desempenho.

Atualmente, estes jovens identificados como “talentosos” são vistos, muitas vezes, como grandes negócios, fontes de renda para a família e, principalmente, para os chamados “agentes e s p o r t i v o s ” , c o n h e c i d o s t a m b é m c o m o : procuradores, empresários, representantes, pais, técnicos, dirigentes, dentro outros. Brunoro e Afif (1997) destacam dois tipos de profissionais que atuam junto aos atletas: de um lado, os experientes, conhecedores da legislação e do capital. De outro, os franco-atiradores que só pensam no lucro fácil e rápido, escondendo dos clubes interessados eventuais problemas que alguns jogadores apresentem.

Os atletas têm sofrido o assédio destes p r o f i s s i o n a i s d e f o r m a s i s t e m á t i c a e , conseqüentemente, se associado a eles durante seus primeiros anos de treinamento. Podemos dizer que este fenômeno reforçou ainda mais o modelo da espec ia l i zação p recoce . Pas sando a se r, praticamente, o único norteador do esporte na infância e adolescência, em detrimento do desempenho e desenvolvimento mais harmônico das etapas de formação. A ausência da visão de desenvolvimento multilateral do jovem tem levado ao surgimento de alguns problemas: muitos jovens estão comprometidos profissionalmente, antes mesmo de terem maturidade para compreender o que é ser profissional (REBUSTINI, 2005); proporcionam ao jovem atleta um ambiente que não corresponde às necessidades de seu desenvolvimento. Crianças e adolescentes competem com uma estrutura e um ambiente de pressão proporcionada por adultos e para adultos. (BENTO, 1989).

Os meios e métodos utilizados nas faixas etárias mais tenras são na sua maioria reproduções parciais ou fiéis dos elaborados e utilizados por adultos (GALDINO, 2000). Antecipam as etapas de formação para que este atleta renda antes do esperado; (GALDINO, 2000); pode ser responsável, em muitos casos, pelo abandono precoce do esporte (LOS FAYOS RUIZ e VIVES BENEDICTE, 2002), provoca no jovem uma saturação e cria perspectivas de futuro muito acima daquelas que podem atingir, ignora-se nas decisões o aspecto de desenvolvimento técnico que mais tarde será cobrado dela.

Vemos que estas constatações não se firmam apenas no campo biológico, as alterações e as exigências sobre os jovens atletas também interferem nos aspectos psicossociais; por essa razão ocorre uma interação com o campo das emoções e suas complexidades. As alterações nas emoções são provocadas por estímulos externos (MACHADO e CALABRESI, 2003).

A análise complexa do campo emocional por ser vista com propriedade por meio da afirmação de Kleiniginna e Kleiniginna (apud BOUTCHER, 1991)

que estabelecem uma definição de emoção com a intenção de abordar todas a multidimensionalidade do tema: emoção é um complexo de interações entre fatores subjetivos e objetivos, mediada pelo sistema neural/hormonal o qual pode (a) elevar as experiências afetivas como as sensações de ativação, prazer/desprazer; (b) processos cognitivos gerais como a percepção dos efeitos de emoções relevantes; (c) ativação expressiva dos ajustamentos fisiológicos para condição de ativação; e (d) conduz ao comportamento freqüente, mas não permanente, expressivo, objetivo e de adaptação.

Exatamente em decorrência desse imenso repertório de possibilidades que compreendem a emoção humana é que há divergências entre os autores. Alguns destacam a reação como componente principal da emoção e os que destacam as percepções das situações ou os efeitos da emoção sobre o comportamento normal (MACHADO e CALABRESI, 2003).

Esta referência às emoções se fez necessária para compreendermos que o ambiente esportivo e os mecanismos que regem as ações e reações não são decorrentes apenas do enfoque biológico.

Últimas reflexões

Como pudemos analisar, a questão da formação esportiva e todo o contexto que envolve a prática esportiva pode receber um olhar muito mais abrangente, contextualizando os problemas, reflexões e pressupostos da sociedade como um todo, como foi feito em nosso primeiro momento, parafraseando com alguns autores e fazendo uma profunda discussão a respeito do tema.

Neste momento caminhamos no intuito de encerrar nossa linha de raciocínio, mesmo sabendo que não demos conta de pautar todo o assunto relacionado aos fatores externos que podem ser associados com a especialização precoce, no esporte em geral, mas arranhamos a todas as perspectivas que colaboram para um trabalho consciente e adequado, desde que desempenhado por um profissional qualificado.

Discutimos que a grande expectativa dos torcedores no contexto esportivo pode contribuir para o agravamento da problematização considerada. Conforme anteriormente comentado, a lista de fatores externos que podem influenciar na formação esportiva necessita ser pertinentemente melhor estudada e compreendida pelos profissionais das áreas da Educação Física e Psicologia do Esporte.

Neste contexto temos alguns detalhes de suma importância, como a interferência da família, namorados, pais, técnicos, amigos, imprensa, fãs, torcedores, entre outros. Isso porque todas essas vertentes podem gerar uma alteração dos estados emocionais desses jovens atletas no decorrer do momento esportivo. Conforme afirma Machado (2006, p.63), não há motivo para negligenciarmos nossas atenções diante de qualquer manifestação externa, uma vez que qualquer tipo de torcida e sua atuação são fatores que interferem direta ou indiretamente em atletas, com uma composição que vai da família do jogador até a torcida organizada, do telespectador no campo ou ginásio ao telespectador

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pela televisão ou rádio, da imprensa ao técnico, e os próprios companheiros de equipe, entre outros elementos.

Enfim, tendo conhecimento do impacto psicológico e sócio-afetivo que a presença dos expectadores pode causar (ou não) no ambiente esportivo, essas reflexões devem ser consideradas por aqueles que trabalham, dirigem e atuam no “palco” do esporte, para que, usufruindo as palavras de Sobrinho, Mello e Peruggia (1997, p. 79), “[...] a vida do atleta não se resuma em jogar e ganhar (ou perder), mas em sentir prazer diante da atividade físico-esportiva por ele escolhida, e que deve ter caráter duradouro [...]”.

Aos técnicos esportivos, educadores físicos e psicólogos do esporte, aos pais de atletas e aos torcedores de esportes cabem a função de entender das regras lógicas que orientam a modalidade. Muito além disso, está a necessidade de aprender a aplaudir as iniciativas dos jovens atletas, além de concorrer para sua autonomia e liberdade de escolha pelo gesto esportivo dos jogadores em formação. A p e n a s c o m u m e n c o r a j a m e n t o e u m a demonstração de confiança nossas equipes em formação conseguiram galgar espaços, sem sofrer danos emocionais irreparáveis no futuro. È u m trabalho em grupo: pais-torcidas-profissionais do Esporte. Mas é muito viável.

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(*) Afonso Antonio Machado é licenciado em Educação Física e Filosofia; docente da UNESP e coordenador do Laboratório de estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte. Foi professor efetivo na rede pública de ensino do Estado de SP e técnico de modalidade competitiva. Pesquisador e autor de livros.

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RESUMOQuando tratamos de Emoções no Esporte e na Atividade Física logo vem a seguinte pergunta: Esporte e Atividade Física emocionam? Para respondê-la precisamos ter em mente o que vem a ser chamado de Emoção e de como ela pode ser ativada via esses fenômenos. O Contexto Esportivo e da Atividade Física, em geral, representam verdadeiros encontros entre seres humanos, no sentido de compartilharem momentos de realizações e dificuldades sentidas em seus corpos. Como tal, são ocasiões em que, graças aos relacionamentos, não só são expressas comunicações corporais, tanto verbais quanto não verbais. Os corpos postos em movimento no Esporte e na Atividade Física encontram o cenário possível para expressar no corpo, ou na relação entre os corpos, uma gama enorme de emoções. Daí, já poder dizer, conforme ditam os dicionários, que Emoção seria tudo o que nos perturba a Mente ou o cérebro, sem controle consciente. Só que essa agitação nos coloca em ação em função de um determinado evento. A Emoção, então, vem a ser um estado passageiro, porém potente e passível de registro na memória, em que o indivíduo é colocado em ação frente a algo que o afeta. Consolida-se, desta maneira o que se costumou chamar de experiência emocional. Logo, para que nos emocionemos é necessário um gatilho emocional que coloque em andamento mecanismos internos cerebrais. Esses mecanismos são os denominados de autoavaliadores cerebrais automáticos (Ekman, 2011). Sendo assim, ao emocionarmos, não temos controle consciente, mas estamos sob controle de mecanismos automáticos que nos controlam. Esses mecanismos foram adquiridos via seleção natural, portanto, ligados a nossa sobrevivência. As emoções foram, ao longo do tempo, incorporadas ao nosso aparato cerebral e representam nossa maneira de controle automática como resposta a eventos que acontecem e inviabilizam o uso de aspectos racionais conscientes e mais evoluídos no presente momento. Assim, emocionar-se implica em utilizar-se de mecanismos arcaicos evolutivos e que permitem, além de sobreviver, viver de maneira mais colorida. Imagine-se um mundo todo racionalizado, sem emoções. Seria um mundo de senhores Spock do seriado “Jornada nas Estrelas”, onde o sentir é visto e analisado como desnecessário e o aspecto racional supervalorizado. Sendo desta forma, razão e emoção sempre caminharam juntos na humanidade, só que o primeiro é mais recente evolutivamente falando (neocortex), já o segundo, mais primitivo, chegou primeiro e ainda domina no âmbito automático (sistema límbico). Na verdade, os automatismos corporais convivem com a controlabilidade das várias funções e ações do nosso corpo. Os diversos esportes e atividades físicas desenvolvidos pelos seres humanos propiciam momentos (ativação) de expressão para várias emoções. Podemos dizer que são um cadinho (contexto esportivo) para que as

emoções possam fluir. Os gatilhos emocionais que falei acima estão presentes nesses contextos. Com efeito, as pessoas que praticam ou que assistem eventos esportivos demonstram emoções as mais diversas. Dentre elas, a alegria, a surpresa, o medo, a tristeza de uma derrota, etc. Os eventos nos provocam, nos afetam, nos emocionam. Mecanismos tão antigos embutidos dentro de nós são postos em andamento e provocam em nossos corpos sensações que vão desde as mais agradáveis (regozijo,alegria) até as mais desconfortantes (como a angustia, o medo, a raiva, etc). Um senhor Spock não entenderia o que, ou que colorido as emoções trazem ao mundo esportivo humano. Portanto, as emoções, expressas no rosto, no corpo, na fala humana, são formas de comunicação empreendidas ao longo do tempo e que no Esporte e na Atividade Física propiciam raros momentos de estar vivo e em interação com os demais. No contexto esportivo, as emoções afloram, demonstrando tanto nosso lado animal (violência) quanto nosso lado humano (amorosidade). Somos seres emotivos e como tal necessitamos expressar essa emotividade. Criamos, então, espaços onde possamos fazer isso de maneira divertida e prazerosa. Assim, a resposta a questão inicial seria, sim o Esporte e a Atividade Física emocionam, ativam experiências emocionais potentes e passíveis de registro. Que o Esporte e a Atividade Física sejam momentos de experiências emocionais ricas e plenas de significados, é o que propõe esse texto.

ReferênciasANOLLI, Luigi. A Vergonha: surge quando nossa auto-imagem faz-se em pedaços e o que mais queremos é dasaparecer. São Paulo: Paulinas, Edições Loyola, 2003.

EKMAN, Paul. A linguagem das emoções: Revo luc ione sua comun i cação e seus relacionamentos reconhecendo todas as expressões das pessoas ao redor. São Paulo; Lua de Papel, 2011.

GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional: A Teoria revolucionária Que Redefine o que é ser Inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.

EMOÇÕES NO ESPORTE E NA ATIVIDADE FÍSICA

Prof. Dr. Daniel Presoto Escola Superior de Educação Física de Jundiaí

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CONTEXTUALIZAÇÃO DAS EMOÇÕES NO ESPORTE E NA ATIVIDADE FÍSICA

Prof. Dndo Mauro Klebis Schiavon

Podemos afirmar que exercício físico e emoção estão intimamente ligados, pois todas as experiências vivenciadas por nós são acontecimentos simultâneos, ou seja, uma experiência física é acompanhada s imul taneamente por uma experiência psíquica, tal como uma experiência psíquica é acompanhada por uma experiência física.

Um indivíduo ao praticar uma sessão intensa de exercícios musculares (musculação), além da exigência física, há um desencadeamento de processos emocionais que regulados por neurotransmissores, como a endorfina e serotonina, produzem um estado de euforia e a regulação do humor (MIRANDA, R.).

Em uma situação emocional positiva que proporciona alegria, provoca ao mesmo tempo um aumento do fluxo sanguíneo e da pressão arterial e, para preparar o organismo a agir diante a situação propriamente dita. Nesse conjunto pode-se proferir que o ser humano sempre se expressa através da relação simultânea corpo-mente e vice-versa e esses estão constantemente presentes na dinâmica pessoal.

Deste modo, as emoções são imprescindíveis nas tomadas de decisões, das mais simples as mais complexas e é possível afirmar que as emoções organizam e dirigem o comportamento tanto como os motivos que impulsionam as pessoas agirem. Não obs tante , as emoções podem ter e fe i tos desorganizadores sobre o comportamento. Em suma, as emoções são bastante afins da motivação (força ou motivo que nos impulsiona em direção a algo).

D e a c o r d o c o m M i r a n d a ( 2 0 0 8 ) o comportamento é facilitado por um motivo até certo grau de força e depois o motivo é desorganizador: o ponto de “mutação” depende da dificuldade da tarefa. As tarefas mais difíceis tendem a provocarem um comportamento desmotivado e desorganizado, repercutindo ansiedade. As tarefas (força de motivo) com dificuldade adequada tendem a provocarem um comportamento motivado e produtivo (organizado).

O autor supra citado afirma ainda que quando de uma regulação da exigência do grau de dificuldade do exercício físico (treinamento), além de providenciar uma sobrecarga ideal para a pessoa, uma adaptação emocional favorável será verificada, pois haverá harmonia entre a exigência da tarefa (motivo) e a capacidade psicofísica da pessoa. O resultado dessa combinação será uma motivação ideal para a execução da tarefa e como consequência oportunidade de sentimento de alegria, satisfação, recompensa, bem-estar e envolvimento com a atividade.

Do mesmo modo, ao persistir esse equilíbrio entre tarefa e capacidade pessoal interveniente, o comportamento motivado e organizador das emoções, projetará o praticante de exercícios físicos para um nível de execução de alto grau de sofisticação e mobilização psicofísica, sem terem consciência de problemas ou alternativas fora da

atividade presente. É como se naquele momento nada mais importasse a não ser suas próprias ações de treinamento.

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CIBERVIOLÊNCIA NO ESPORTE: UMA VISÃO SOBRE AS TORCIDAS ORGANIZADAS(cyberhooligans)

Guilherme BagniMestrando em Desenvolvimento Humano e Tecnologias na UNESP- RC e membro do LEPESPE

Com o crescimento e avanços das novas mídias, temos o crescimento da ciberviolência, sendo que ela irá permear todos os agrupamentos sociais, muitas vezes independente da sua vontade e/ou de estar conectado na rede, já que qualquer um pode colocar uma foto, um texto ou qualquer outro item com a intenção de violentar algum indivíduo.

Por um lado temos o ciberbullying, o qual está presente tanto nas escolas quanto no esporte, talvez o mais interessante dessa migração do bullying para o ciberespaço seja a possibilidade alteração do agressor que, enquanto no bullying normalmente é o maior, o mais forte, o mais velho, no ciberbullying pode ser o menor, o mais jovem, o mais novo, o qual muitas vezes é a vitíma do bullying (YBARRA; MITCHELL, 2004).

Esse fato indica que uma das características presente na ciberviolência é o aparente ou suposto anonimato do agressor, por isso que muitos se sentem encorajados a serem agressores, por acreditarem cegamente nesse anonimato, entendendo que, assim, pode-se realizar qualquer tipo de ação na rede, especialmente aquelas que não se pode realizar no mundo real, pois tais atitudes não serão passíveis de punição.

Sul l ivan (2000) destaca que existem aproximadamente 20 membros violentos ou “hardcore” como o autor denomina a cada 100 membros das “firms” que são agrupamentos de hooligans. Murad (2012) destaca que nas torcidas organizadas brasileiras existem cerca de 5% de membros violentos.

A polícia britânicas divide os torcedores em 3 categorias: “A” onde estão presentes os “típicos fans”, “B” onde estão os hooligans que às vezes se envolvem em episódios violentos e “C” onde estão os hooligans “hardcore” que sempre estão envolvidos com violências. A polícia ainda estima que existem cerca de 600 integrantes da categoria C e 250-300 da categoria B que se envolvem em episódios violentos sob influência do álcool. (SULLIVAN, 2005). Segundo o autor o que inicialmente parece ser uma violência espontânea se tornou coordenada e orquestrada e a rede como um todo facilitou tanto na mobilização dos membros da própria torcida quanto para desafiar torcidas adversárias.

Apesar da denominação hooligans ser utilizada no Brasil, existem algumas diferenciações entre os hooligans ingleses e as torcidas organizadas brasileiras. Dentre elas destaca-se a organização, enquanto as torcidas brasileiras constituem entidades jurídicas e possuem estrutura formal com estatuto, eleições, dentre outros, os hooligans possuem estrutura hierárquica, porém são intuições bem mais informais; os vínculos, onde os torcedores organizados brasileiro estabelecem tanto com outras torcidas quanto com outros setores da sociedade, enquanto os hooligans acabam por realizarem apenas alianças estratégicas que favoreçam suas ações violentas; a sede, a qual para os hooligans são

os bares e pubs, os torcedores organizados possuem uma sede fixa a qual também é utilizada para outros eventos; as questões políticas, que estão muito mais presentes nos holigans; as vestimentas, enquanto os hooligans utilizam, geralmente, roupas relacionadas com o clube, os torcedores organizados brasileiros utilizam roupas com símbolos que fazem referência as torcidas e não ao clube (LOPES; CORDEIRO; MOMBERGER, 2010).

Em relação aos cyberhooligans, temos um grupo que age especificamente no esporte e nada mais é do que uma migração dos hooligans, isto é, dos membros violento de torcidas organizadas para o ciberespaço. Inicialmente é importante destacarmos que as torcidas organizadas têm, cada vez mais, membros jovens, os quais se agrupam nelas e aderem a identidade coletiva da torcida por terem o sentimento da pertença em relação à este grupo.

Outro fato importante é a inversão de papéis, onde os torcedores ganham destaque em detrimento dos atletas, isso acaba se expandindo também com as redes sociais e o jogo não se restringe mais aos 90 minutos (MENEZES MARTINS; MOMBERGER, 2008). Rocco Junior (2007) analisou quatro sites de torcidas organizadas no Estado de São Paulo e encontrou alguns elementos comuns tais como: importância dedicada ao samba e ao carnaval, a questão da violência na agressividade dos textos, no desprezo aos outros, especialmente adversário e o que o autor considera serem “torcedores comuns”, isto pode ser percebido pela utilização de palavras de ordem e também desprezo às autoridades e a ordem social. O terceiro elemento em comum notado pelo auto é a importância destinada ao clube o qual a torcida apoia, mesmo que este espaço seja muito menos que o destinado a própria torcida em si.

Menezes Martins e Momberger (2008) analisaram comunidades no orkut de Grêmio e Internacional após um episódio envolvendo a morte de dois torcedores do Internacional em confronto entre as duas torcidas e verificaram a existência de subgrupos heterogêneos dentro das comunidades, destacam-se os que apoiavam as mortes, os que eram contrários e os que culpavam a mídia. Ainda neste estudo os autores verificaram que o resultado do jogo e o desempenho da equipe ficam em segundo plano em detrimento da guerra contra o rival, sendo que o orkut foi identificado como a face permanente dos cyberhooligans brasileiros.

Ainda não se tem claras as medidas a serem tomadas visando evitar a ação dos cyberhooligans, Murad (2012) defende como medidas contra a violência entre as torcidas: a curto prazo a punição, a médio prazo a prevenção e a longo prazo a reeducação. Possivelmente essa medidas também possam valer para os cyberhooligans, especialmente as medidas de prevenção que podem evitar confrontos agendados pela internet.

Referências Bibliográficas:

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VIOLÊNCIAS ESCOLARES: A NECESSIDADE DE PROBLEMATIZAR TAIS QUESTÕES PARA ALÉM DOS REDUCIONISMOS

Profª Drª Mara Rosana Pedrinho Centro Universitário Rio Preto

O fenômeno da violência é caracterizado pela polissemia conceitual, por controvérsias sobre sua delimitação e pela falta de consenso sobre sua natureza. Na perspectiva de Ristum e Bastos (2004), a violência deve ser concebida como um fenômeno socialmente construído e que sua compreensão só é possível a partir de uma aproximação das realidades sociohistóricas e culturais nas quais os atores sociais estabelecem relações dialéticas. Teixeira (2010), por sua vez, entende a violência como exclusão de possibilidades de cidadania e de desestímulo ao exercício de direitos. Em Lopes (2007) foi possível identificar uma concepção de violência engendrada nos meandros sociais, de forma a caracterizá-la como um fenômeno complexo, multifacetário, resultante de múltiplas determinações e que se articula com processos sociais assentados em uma estrutura social desigual e injusta.

Galvão et al (2010) utilizam o termo “violências escolares” (no plural) por entenderem que a escola é autora (quando produz e reproduz exclusão social), vítima (na hostilização sofrida por docentes e gestores – e m parte como reflexo produzido por ela mesma – e no vandalismo) e palco (quando se torna ambiente em que as violências ocorrem e quando se torna lugar de aprendizagem de violências). Ristum (2010), a partir de Charlot (2002) se refere à violência na escola (que se reproduz dentro do espaço escolar, sem estar ligada à natureza e as atividades da instituição), da escola (violência institucional, simbólica) e contra a escola (atos de vandalismo, incêndios e destruição, roubo ou furtos que envolvem tanto os membros da escola como à comunidade e estranhos a ela).

É na área da Psicologia e da Educação que, segundo Sastre (2010) que o tema da violência e suas manifestações ganham representatividade e legitimidade, mas com um recorte disciplinar, ora socializando, ora psicologizando o fenômeno resultando em textos “nos quais, ou se faz abstração das características sociais, históricas e culturais ou se faz abstração dos elementos que dizem respeito às subjetividades e estruturas internas dos indivíduos envolvidos em tais experiências.” (SASTRE, 2011, p.14). Sem a realização da crítica à apologia das normas e regras pode-se, segundo o autor, chegar a um moralismo ingênuo, ao acreditar que a falta de valores o ensino compulsório das mesmas “é suficiente para descrever um fenômeno complexo como o da violência nas escolas e seus correlatos: o Bullying, o Preconceito e a Discriminação”. (idem)

Aos pesquisarmos as temáticas da violência, é possível notar o destaque reservado ao fenômeno do bullying , sendo o mais recorrente o bullying escolar, cujo estudo teve início nos anos de 1990 e sua motivação se dá no contexto do crescimento da violência nas escolas. O termo foi adotado por facilitar a classificação, reconhecimento, diagnóstico de tal modalidade de violência, bem como para promover a intervenção, além de facilitar a

comunicação entre os estudiosos do bullying (ANTUNES, 2008; RISTUM, 2010). O cyberbullying se caracteriza, por sua vez, como um tipo de bullying, cuja especificidade é o fato de ocorrer no ambiente virtual ou cyberspaço. Ou seja, é a agressão entre pares praticada por meio de comunicações virtuais. A sua abrangência é maior do que a forma tradicional de bullying, devido à dinâmica e velocidade dos meios de propagação, os quais possibilitam a quebra de barreiras geográficas, além de permitirem sua permanência.

Importante destacar que o fenômeno bullying tem sido abordado na perspectiva dos sujeitos individuais, em suas características segundo o papel que desempenham no processo – vítima, agressor, expectador (FANTE, 2005). Tal perspectiva, utilizando o mecanismo classificatório, acaba por retirar o foco explicativo das relações sociais (mecanismo compreensivo), encerrando nos sujeitos (aluno, pais, professores) culpas e responsabilidades, sem que se analise aspectos histórico-sociais que atravessam tais atos e que interferem na função da escola de socializadora de conhecimentos.

Autores como Antunes e Zuin (2008) entendem que o fenômeno denominado de bullying é uma nova nomeação para o preconceito, existente em sociedades que se pretendem democráticas, mas que, em realidade, são extremamente autoritárias. Estudos recentes estudos recentes sinalizam as representações sociais positivas e negativas (preconceitos) na base de muitas formas de bullying existentes tanto na escola como na sociedade e que propõem, dessa forma, que se compreenda o fenômeno em sua relação com a cultura, com os modelos e padrões socialmente valorizados, e com os grupos excluídos e desprezados (TV UNICAMP, 2010).

Desta forma, o caminho proposto para a reflexão sobre os temas da violência e do (cyber)bul ly ing vai na mesma direção dos entendimentos de Soligo (2001) e PATTO et al. (2008): a de que estudar o preconceito parece ser hoje um ponto de partida necessário e indispensável para a compreensão dos modos como se constituem subjetividades em relação aos modelos socialmente valorizados (pela sua proximidade ou distância, muitas vezes marcado pelo estigma da inferioridade) e como estas se articulam com a cultura e com as experiências de sujeitos concretos.

Assim, entendemos, é possível visualizar uma forma de escapar dos reducionismos dos recortes disc ipl inares, que contr ibuem para que a culpabilização se encerre nos sujeitos, relegando a um segundo plano aquilo que ocorre na e sob as regras instituídas.

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BULLYING VIRTUAL NO AMBIENTE ESCOLAR

Antonio Carlos Araujo; Silene FontanaDocentes do Departamento de Pedagogia das Faculdades Integradas Padre Albino, Catanduva/SP.

O bullying é hoje, sem dúvida, um problema mundial e um dos temas mais discutidos, podendo ocorrer em praticamente qualquer contexto no qual as pessoas in te ra jam, ta i s como esco la , faculdade/universidade, família, local de trabalho e entre vizinhos.

Em meio às discussões, surge uma infinidade de opiniões, ideias, sugestões, estudos, publicações, que tentam explicar o fenômeno e os motivos que leva um indivíduo ou grupo a agir de forma deliberada e, muitas vezes, cruel.

Bullying é um termo da língua inglesa (bully = “valentão”) que se refere a um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão, além de danos físicos, morais e materiais, são algumas das manifestações do "comportamento bullying (FANTE, 2005).

De acordo com Silva (2010) os problemas mais comuns da vítima de bullying são: desinteresse pela escola; problemas psicossomáticos; problemas comportamentais e psíquicos como transtorno do pânico, depressão, anorexia e bulimia, fobia escolar, fobia social, ansiedade generalizada, entre outros. O bul ly ing também pode agravar problemas preexistentes, devido ao tempo prolongado de estresse a que a vítima é submetida. Em casos mais graves, podem-se observar quadros de esquizofrenia, homicídio e suicídio.

Outra forma de violência também derivada do bullying é o bullying virtual ou ciberbullying, uma prática muito popular entre as crianças e adolescentes que acontece pelo mundo da internet. Segundo Maldonado (2011, p.62)

O cyberbullying é a prática da crueldade online. Com o rápido desenvolvimento da tecnologia, os agressores passam a criar muitas outras formas de atormentar suas vítimas. A pessoa que, em um momento, é agressor, no momento seguinte pode tornar-se vítima, porque também passa a ser atacada. O cyberbullying caracteriza-se por ataques usando mensagens de texto do celular, câmeras, ou o computador por meio de redes sociais, sites de vídeo, e-mails com o objetivo de depreciar, humilhar, difamar, fazer ameaças e aterrorizar uma pessoa ou um grupo escolhido como alvo.

No ciberbullying a agressão pode ser identificada, mas o agressor é dificilmente identificado e talvez nunca saia do anonimato. No bullying, o agressor pode observar ao vivo e cores as reações da vítima; no cyberbullying, apenas imagina e com freqüência, “não consegue relacionar a crueldade de seus ataques com a repercussão na vida de quem está sofrendo tamanha perseguição, apesar de sent ir prazer em provocar sofr imento”

(MALDONADO, 2011, p.63).Além disso, no ciberbullying a vida das vítimas

não está exposta somente para um grupo, mas sim para toda a rede

A escola é um ambiente propício para o combate à violência, mas é necessária uma ação multidisciplinar entre escola e comunidade, por meio da articulação de projetos e diálogos com as famílias e os alunos.

Albino e Terêncio (2009) subdividiram as ações preventivas contra o bullying em três grupos principais:

1. Intervenção indiv idual , quando é apresentada pré-disposição a violência, com resultados mais evidentes em crianças pequenas;

2. Intervenção curricular, através de atitudes anti-bullying dentro da escola por meio de vídeos, discussões em grupo, embora os autores entendam que esse tipo de intervenção desfavoreça os grupos de crianças menores, por se tratar de um processo sistemático direcionado a um único tipo de grupo;

3. Intervenção integral, que deve abranger todas as disciplinas, através de atividades que compreenda o ambiente em que o bullying acontece, incluindo toda a equipe da unidade escolar.

Outra atitude a ser tomada, pelas escolas, é conscientização de crianças e adolescentes quanto ao uso de redes sociais, mostrando os riscos de uma exposição exagerada e lembrando que os pais são responsáveis jurídicos sobre um menor agressor. Além disso, caso o bullying ocorra no ambiente escolar, a escola pode ser responsabilizada também.

Decorrente o exposto, fica claro o quão importante é necessário debater o cyberbullying no ambiente da educação. No entanto, não é apenas dos educadores a responsabilidade de prevenir e combater o bullying, mas eles têm um papel fundamental para que o bullying não faça parte do cotidiano escolar.

REFERÊNCIAS

ALBINO, P. L.; TERÊNCIO, M. G. Considerações críticas sobre o fenômeno do Bullying:do conceito ao combate e à prevenção, 2009, Disponível em: http://portal.pmf.sc.gov.br/arquivos/arquivos/pdf/18_03_2010_15.21.10.2af5ca0c78153b8b4a47993d66a51436.pdf Acesso em: 29 set. 2014.

FANTE, C. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2ª edição. Campinas. Editora Versus, 2005. 224 p.

MALDONADO, M. T. Bullying e cyberbullying: o que fazemos com o que fazem conosco? São Paulo: Moderna, 2011.

SILVA, A.B.B. Cartilha: Bullying - justiça nas escolas. 1ª ed. Conselho Nacional de Justiça. Brasília, 2010.

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AFINAL, ESPORTE EDUCA?

Prof. Dr. Marcelo Callegari ZanettiUniversidade Paulista – UNIP – São José do Rio Pardo

Afinal, Esporte educa? parece ser um título bastante provocativo, indagativo e ao mesmo tempo fazer parte do ideário e do senso-comum, já que é notória a ligação que muitas pessoas e até boa parte da sociedade faz entre esporte e educação, acreditando que o esporte por si só educa.

A relevância da temática proposta também se faz notar pela série de projetos envolvendo esporte e educação. Ao realizar uma breve busca no Google no dia 26 de setembro de 2014 com a frase: “Projeto esporte e educação”, foram apontadas 67.700 fontes (Figura 1).

Figura: Busca no Google pela frase: "Projeto esporte e educação"

Fonte: Próprio autor

Já, no site do Ministério do Esporte (2014a), em pesquisa realizada no dia 2828 de setembro de 2014, na área destinada ao “esporte, educação, lazer e inclusão social” foram encontrados 10 diferentes programas e projetos (Figura 2) envolvendo essa temática (Segundo Tempo, Esporte da Escola, Recreio nas Férias, Esporte e Lazer da Cidade, Competições e Eventos de Esporte e Lazer, Jogos Indígenas, Rede Cedes, Prêmio Brasil de Esporte e Lazer de Inclusão Social, Pintando a Cidadania, Pintando a Liberdade). Dentre tais programas, aquele que parece mais se destacar no cenário nacional parece ser o Programa “Segundo Tempo”, que segundo o Ministério do Esporte (2014b): “tem por objetivo democratizar o acesso à prática e à cultura do Esporte de forma a promover o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens, como fator de formação da cidadania e melhoria da qualidade de vida, prioritariamente em áreas de vulnerabilidade social”. Seus objetivos específicos são:

!·Oferecer práticas esportivas educacionais, estimulando crianças e adolescentes a manter uma interação efetiva que contribua para o seu desenvolvimento integral;!Oferecer condições adequadas para a prática esportiva educacional de qualidade;!Desenvolver valores sociais;!Contribuir para a melhoria das capacidades físicas e habilidades motoras;

!Contribuir para a melhoria da qualidade de vida (auto-estima, convívio, integração social e saúde);!Contribuir para a diminuição da exposição aos riscos sociais (drogas, prostituição, gravidez precoce, criminalidade, trabalho infantil e a conscientização da prática esportiva, assegurando o exercício da cidadania).!Em relação a seus princípios temos:!Da reversão do quadro atual de injustiça, exclusão e vulnerabilidade social;!Do esporte e do lazer como direito de cada um e dever do Estado;!Da universalização e inclusão social;!Da democratização da gestão e da participação.!

Já, em relação aos resultados esperados, os mesmos são divididos em impactos diretos e indiretos: Impactos diretos:

!Melhoria no convívio e na integração social dos participantes;!Melhoria da autoestima dos participantes;!Melhoria das capacidades e habilidades motoras dos participantes;!Melhoria das condições de saúde dos participantes;!Aumento do número de praticantes de atividades esportivas educacionais;!Melhoria da qualificação de professores e estagiários de educação física pedagogia ou esporte envolvidos.!Impactos indiretos:!Diminuição da exposição dos participantes a riscos sociais;!Melhoria no rendimento escolar dos alunos envolvidos;!Diminuição da evasão escolar nas escolas atendidas;!·Geração de novos empregos no setor de educação física e esporte nos locais de abrangência do Programa;!·Melhoria da infra-estrutura esportiva no sistema de ensino público do país e nas comunidades em geral.

Figura 2: Projetos envolvendo “esporte, educação, lazer e inclusão social” do Ministério do Esporte

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Fonte: Próprio autorSem fazer qualquer juízo de valor do

projeto“Segundo Tempo”, nos parece que o mesmo apresenta princípios bastante relevantes em relação ao esporte educacional, tais como: promover o desenvolvimento integral, promover cidadania, qualidade de vida, integração social, autoestima, saúde, etc., porém, apesar de suas propostas de c a p a c i t a ç ã o e t r e i n a m e n t o d o s professores/monitores envolvidos, tais princípios pa recem bas tan te genér i cos e de d i f í c i l desenvolvimento.

O tema esporte/educação também parece ser bandeira de inúmeros candidatos e políticos, que buscam relacionar esporte a mudanças sociais e avanços educacionais. Nesse sentido, buscamos verificar o tratamento dessa temática nas propostas de governo disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral (2014) dos presidenciáveis 2014. Ao verificarmos as propostas dos 3 primeiros colocados nas intenções de voto (Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves), segundo o Datafolha (2014), em pesquisa realizada entre os 25 e 26 de setembro de 2014 (Figura 3) pudemos verificar o tratamento dado pelos candidatos ao esporte educacional

Figura 3: Intenção de votos para presidente em 2014

Fonte: Próprio autor

Vejamos as propostas dos candidatos para o esporte educacional:

·Dilma Rousseff!A frase: “esporte e educação” não apareceu em sua proposta;!A palavra esporte apareceu 10 vezes na proposta de governo;!Não há um índice específico sobre o tema esporte, porém, é nítida a propaganda governista sobre aquilo que já foi feito, por meio de frases como: “Os governos do PT investiram muito em esporte e cultura, implementando políticas que se tornaram in s t rumen to s de i n c l u são soc i a l e desenvolvimento econômico. Pela primeira vez a cultura e o esporte foram concebidos como programas de Estado, fomentando o mercado de trabalho e as potencialidades do nosso povo” e até de menção ao esporte de rendimento e à busca por talentos esportivos: “Daremos continuidade ao Bolsa Atleta, auxílio financeiro que permite a nossos jovens atletas se dedicarem com afinco à sua

formação e aprimoramento técnico. Avançaremos também na construção de 285 unidades dos Centros de Iniciação ao Esporte (CIE) em 163 municípios de todos os Estados e no Distrito Federal. Estes centros propiciarão infraestrutura adequada ao surgimento dos futuros talentos esportivos brasileiros, e elevarão a um novo patamar as condições e a estrutura para a prática dos mais diversos esportes em nosso País”, porém, em momento algum da proposta o esporte é vinculado à educação;

·Marina Silva!A frase: “esporte e educação” não apareceu em sua proposta;!A palavra esporte apareceu 6 vezes na proposta de governo;!Não há um índice específico sobre o tema esporte. A palavra esporte aparece de forma genérica em frases como: “A educação integral deve instituir escolas abertas aos tempos e espaços das comunidades, inserindo-as nos contextos locais, regionais, nacional e mundial, mantendo diálogo com as demais instâncias formadoras dos setores de cultura e esportes”; “Como forma de promover melhorias à saúde e não apenas cuidar das doenças, deve-se inscrever a prática de esportes e atividades corporais como parte do conceito de assistência integral à saúde”; “Trata-se de uma educação integral que articula esportes e cultura e busca conexão com os novos conhecimentos, o p e n s a m e n t o c i e n t í f i c o e a s n o v a s tecnologias”; “A Coligação promoverá polít icas de cultura, esporte e lazer, integrando-as às políticas de juventude, com a finalidade de ampliar o convívio na diversidade e aumentar a disponibilidade de bens culturais e alternativas de lazer e recreação da população”.

·Aécio Neves!A frase: “esporte e educação” não apareceu em sua proposta;!A palavra esporte apareceu 19 vezes na proposta de governo;!No índice a palavra esporte aparece apenas no sub-item: “II.VII. ESPORTE E LAZER” do item: “II. CIDADANIA”;!Na abertura do subitem “II.VII. ESPORTE E LAZER” há uma apresentação que aponta: “O esporte deve ser tratado como objeto de políticas públicas e como instrumento da formação educacional e da integração social, disseminando as boas práticas de convivência em comunidade e aprimoramento pessoal”;!Ainda no subitem: “II.VII. ESPORTE E LAZER” há 18 diretrizes, porém, somente a diretriz: “10. Integração da política de esporte com as demais políticas públicas, especialmente de Educação e de Saúde”, faz menção à educação;!No subitem: “II.IX. JUVENTUDE”, há 2 diretrizes que apontam o esporte, mas sem

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nenhuma menção à educação: “14. Fomento, em parceria com estados e municípios, à construção de áreas de lazer, em especial nas periferias das grandes cidades, para práticas de esportes e de atividades culturais” e “15. Estimulo à prática de esportes e de atividades culturais pelos jovens”;!Já no subitem: “VIII.I. COMBATE AO USO DE DROGAS” do item: “VIII. SEGURANÇA PÚBLICA”, a palavra esporte aparece na diretriz: “3. Desenvolvimento de um programa nacional de prevenção ao uso abusivo de álcool e outras drogas, em parceria com estados, municípios, empresas privadas e entidades do Terceiro Setor, priorizando os jovens, com ações nas áreas de cultura, lazer e esportes”. A bandeira do esporte educacional dos

candidatos parece não muito clara ao analisarmos suas propostas de governo, já que, nenhum dos mesmos promove uma articulação adequada entre esporte e educação.

Mas, afinal, o que seria educação? Segundo a Wikipédia, a Educação (2014) engloba os processos de ensinar e aprender. É um fenômeno observado em qualquer sociedade e nos grupos constitutivos destas, responsável pela sua manutenção e perpetuação a partir da transposição, às gerações que se seguem, dos modos culturais de ser, estar e agir necessários à convivência e ao ajustamento de um membro no seu grupo ou sociedade. Enquanto processo de sociabilização, a educação é exercida nos diversos espaços de convívio social, seja para a adequação do indivíduo à sociedade, do indivíduo ao grupo ou dos grupos à sociedade. Nesse sentido, educação coincide com os conceitos de socialização e endoculturação, mas não se resume a estes.

E o esporte? Para Elias (1992) apud Gomes, Silva e Queirós (2004) o desporto, ou os primórdios daquilo que hoje conhecemos como desporto, desempenhou um papel civilizador na nossa cultura, nomeadamente quando regulou a violência de práticas físicas guerreiras, tornando-as relativamente não violentas, dado que opositores resolviam as suas diferenças e divergências segundo regras respeitadas por ambas as partes. Para esses mesmos autores, é exatamente pelas suas características civilizacionais e cul turais, pela sua l inguagem universal e possibilidades educativas que o desporto franqueia as portas das escolas, tornando-se assim matéria de ensino e, hoje em dia, dá sentido e justifica a disciplina de Educação Física no currículo escolar, que para esses autores, baseados nos apontamentos de Bento (1998) é a disciplina escolar que toma o desporto como conteúdo e como forma específica de lidar com a corporalidade. Porém, Gomes, Silva e Queirós (2004) nos chamam atenção para o fato de que a importância do esporte na história da humanidade é acrescida quando a ciência estabelece relações inequívocas entre a atividade física, a saúde e o bem-estar das populações. Essa relação inequívoca, para exemplificar acontece em relação à construção de gêneros, já que o desporto ilustra e perpetua carac ter í s t i cas fundamenta is da corporalidade masculina, tais como: força,

competitividade, agressividade e domínio do espaço. A questão de gênero também é abordada

por Corsino e Auad (2012) que apontam que na Educação Física escolar há por meio das relações de poder, formas de organização e tratamento dos conteúdos, com mecanismos que se postam a favor das diferenças, principalmente quando os meninos acabam por dominar e controlar boa parte das aulas. Muitas vezes, há a aprendizagem do silenciamento, que busca um ambiente pacífico por meio de uma atitude conformista, que utiliza o sexo como argumento para diferenças de rendimento entre meninas e meninos, que geralmente são separados nas aulas para que os conflitos sejam negados, em um verdadeiro aprendizado da separação.

Poderíamos pensar ainda nas diversas formas de preconceito racial, violência, uso de drogas e anabolizantes como forma de melhorar cada vez mais precocemente o rendimento e a estética dos atletas. Seria esse um modelo de esporte educativo? Parece óbvia a resposta! Por outro lado, cabe-nos pensar que o esporte também poderia promover maior socialização entre seus praticantes, respeito às individualidades e diferenças, emoldurar princípios éticos/morais, regular e possibilitar a expressão de diferentes emoções e sentimentos, possibilitar diferentes formas de manifestação cultural e identitária e acima de tudo proporcionar a ampliação das relações humanas.

Porém, tais questões não perpassam apenas por modelos de projeto e/ou propostas de governo, mas sim, pelas mãos daqueles que tem a função de trabalhar diretamente tais desafios, que são os professores/profissionais de Educação Física. Porém, talvez um dos maiores problemas esteja relacionado à formação desses indivíduos, pois, para Borges (2005), ainda há predomínio de um modelo técnico/esportivo nos programas de formação de Educadores Físicos. A divisão entre bacharelado e licenciatura em 1987 parece não ter dado conta de resolver tal problema e principalmente promover uma formação mais ampla e sólida, principalmente em relação a questões educativas. Outro fator apontado pela autora é o de que antes de iniciar a formação profissional muitos desses futuros prof i ss ionais já t razem uma bagagem de experiências, certezas e crenças, geralmente atreladas a vivências passadas, carregadas de questões técnicas. Poderíamos apontar ainda a indiferença e falta de compromisso por parte desses futuros profissionais para com disciplinas de formação humana como psicologia, sociologia, antropologia, entre outras, que além de serem bastante escassas nas grades curriculares, figuram como meras coadjuvantes nesse processo. Portanto, estaria esse profissional apto a lidar com as questões educativas que o esporte poderia promover?

Para finalizar cabe o apontamento de Paulo Freire de que “Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”. Parafraseando Freire concluiria que o esporte não é bom, nem ruim, ele é apenas o que se faz dele.

Referencias

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BORGES, C. A formação dos docentes de educação física e seus saberes profissionais. In. BORGES, C. e DESBIENS, J-F. (org.). Saber, formar e intervir para uma educação física em mudança. Campinas, SP: Autores Associados, 2005, p.157-190.

CORSINO, L. N.; AUAD, D. O professor diante das relações de gênero na educação física escolar. São Paulo: Cortez, 2012.

DATAFOLHA. [2014]. Disponível em: http://datafolha.folha.uol.com.br/. Acesso em: 28 set. 2014.

EDUCAÇÃO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2014. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Educa%C3%A7%C3%A3o&oldid=40031293>. Acesso em: 27 set. 2014.

GOMES, P. B.; SILVA, P.; QUEIRÓS, P. Para uma estrutura pedagógica renovada, promotora da co-educação no desporto. In.: SIMÕES, A. C.; KNIJNIK, J. D. (org.). O Mundo Psicossocial da Mulher no Esporte: comportamento, gênero, desempenho. São Paulo: Aleph, 2004. p. 173-189.

MINISTÉRIO DO ESPORTE. [2014a]. Disponível em: <http://www.esporte.gov.br/index.php/institucional/esporte-educacao-lazer-e-inclusao-social>. Acesso em: 28 set. 2014.

MINISTÉRIO DO ESPORTE. [2014b]. Disponível em:<http://www.esporte.gov.br/index.php/institucional/esporte-educacao-lazer-e-inclusao-social/segundo-tempo>. Acesso em: 28 set. 2014.

TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. [2014]. Disponível em: <http://divulgacand2014.tse.jus.br/divulga-cand-2014/eleicao/2014/UF/BR/candidatos/cargo/1>. Acesso em: 28 set. 2014.

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DIÁLOGOS ENTRE A PSICOLOGIA, A EDUCAÇÃO FÍSICA E O ESPORTE: POR QUE NÃO?

1Ednei Sanchez; 2Camila Freitas Teodoro

1Unip/Unilago, 2FEFISA/CRP São Paulo

Os hábitos esportivos da sociedade moderna, bem como a transformação do esporte em produto da indústria cultural requerem atenção e análise crítica dos profissionais da área da saúde. Assim, Pedagogos, professores de Educação Física, Psicólogos, Nutricionistas, Assistentes Sociais, Fisioterapeutas, enfim, os envolvidos com a intervenção na competição esportiva, na reabilitação ou na área educacional devem enxergar esse contexto não como áreas segregadas, mas ambientes multi e interdisciplinares, favorecendo uma atuação mútua que possa contr ibuir efetivamente para o desenvolvimento humano.Portanto, a contribuição dessas diferentes áreas na atuação profissional não deveriam limitar territórios de atuação, mas sim integrá-los, visto a necessidade de enxergar o indivíduo em toda sua plenitude. Para tanto, deve-se buscar estratégias de integração e socialização de conhecimento. Elaborar possíveis ações integradas, especialmente da psicologia e da educação física. Esse diálogo é possível, bem vindo e necessár io para o bom desempenho dos profissionais e o fortalecimento da área.

Referências Bibliográficas

MACHADO, A. A. Qual Psicologia do Esporte para quais Jogos Olímpicos? análise do contexto atual. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012

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EDUCAÇÃO E ESPORTE CAMINHAM JUNTOS?

Prof. Mda. Arlete Scaramuzza NicolettiFaculdade e Colégio Dom Bosco de Monte Aprazível – FAECA

Em tempos de eleição, o que vimos há pouco foi um grande engodo em uma corrida desenfreada por votos, em um embate no qual o ataque ao adversário não foi poupado entre os candidatos mais populares. Este panorama de uma ética sombria que ora existe no Brasil, repercute diretamente na educação de seu povo constituindo um frágil pilar.

É de fundamental importância que a educação seja compromisso vital do governo eleito e que seus ideais estejam pautados numa estreita relação com toda a sociedade. Somente uma força política integrada com a força de sua gente fará com que uma mudança significativa na estrutura do sistema educacional seja possível. Este preceito seguido de uma grande vontade política pode e deveria fazer a diferença nos próximos anos.

É sabido que uma Nação com educação, e dentro disso subentende-se cultura e qualidade de vida, é a única possibilidade de formar as novas gerações em uma concepção científica de mundo desenvolvendo o indivíduo em toda plenitude. Isso envolve as capacidades intelectuais, físicas e sociais do cidadão.

Brandão (2007) conta que há um tempo atrás nos E.U.A., dois estados fizeram um acordo de paz envolvendo seis nações indígenas diferentes. Os governantes enviaram cartas às estas nações (para tirar proveito político do momento) com o “delicado” pedido de enviarem alguns de seus jovens para que pudessem estudar em escolas nos E.U.A., para surpresa dos governantes houve carta de recusa dos chefes indígenas:

Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e agradecemos de todo o coração. Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa ideia de educação não é a mesma que a nossa.

Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formandos nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltaram para nós, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal.

Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros. Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão, oferecemos aos nobres senhores que nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos deles, homens.

A educação é um bem conquistado, é produto do processo de humanização. Para Nunes (2006), a educação permite ao homem inventar, criar, produzir,

diferenciando-o das demais espécies vivas. Já para Gadotti (1997) a educação é muito mais do que instrução, do que treinamento ou a simples repetição. A Educação é eminentemente transformadora, deve se enraizar na cultura dos povos. A educação é atemporal e não necessita de espaços específicos. Os saberes não são constituídos apenas no interior das escolas e os professores são alguns dos agentes de transmissão.

Em que momento então, estamos prontos para definir os conteúdos de esporte que devem ser aplicados enquanto saberes na Educação Física Escolar? Esporte educa?

Durantes décadas estamos reproduzindo um modelo de esporte e educação vindo das propostas governamentais que ao que pudemos ver, nem sempre são pensadas para a transformação e emancipação do indivíduo e as condições reais não são àquelas escritas nos documentos.

Como pensar a representação do corpo social no mundo contemporâneo (alguém ou algum partido, apresentou alguma proposta que pensasse corpos mutilados ou híbridos como inclusão real e necessária nas aulas de Educação Física?), os significados e sentidos da prática escolar da Educação Física como fator que agrega pessoas, socializa grupos e proporciona afetos e desafetos? Quais as influências que a cultura produz na atuação de professores e alunos nas aulas de Educação Física e nos diversos esportes?

As Diretrizes Curriculares Nacionais trazem desafios e contradições para a formação de professores de Educação Física, assim como questões que rompem com o que o Estado apresenta e a realidade social no desenvolvimento das propostas de suas políticas públicas.

Cidadão do mundo real - o professor, profissional da educação, deveria ser compreendido como aquele que possui “conhecimentos específicos de sua área e os saberes pedagógicos necessários para sua aplicabilidade na escola, respaldado por uma competência, um agir social com vistas à transformação da realidade como um todo” (DAVID, 2001, p.121 ).

Infelizmente, a disciplina e o profissional de Educação Física não apresentam visibilidade e importância no interior da escola e também na sociedade em geral (para os alunos, um momento de jogo e descontração; para pais, treino e competição; para os demais partícipes da escola, momento no qual os alunos podem soltar as energias) seus pro fessores são cons iderados “de menor importância” e suas ações muitas vezes se restringem à preparação de eventos, danças nas datas comemorativas ou participação em campeonatos que podem proporcionar à escola algumas medalhas e status nos anúncios, outdoors e propagandas de matrícula.

De acordo com Duckur (2004) durante sua construção histórica, a Educação Física se apropriou

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dos fundamentos do esporte com o objetivo de educar, mas a falta de especificidade da Educação Física Escolar permitiu o desenvolvimento da disciplina independente das reais necessidades da escolarização como prática pedagógica.

A dificuldade em estabelecer uma relação na qual a Educação Física tenha um compromisso crítico-emancipatório sem necessariamente pautar-se em competições acirradas e treinamentos, se constitui um grande desafio.

Desafio para os especialistas do MEC e conselheiros do CNE que precisam repensar a necessidade da construção de currículos que possam dialogar com as pesquisas sérias e comprometidas das Universidades brasileiras e o mundo real, as novas dinâmicas sociais e os reordenamentos históricos sociais, quer em práticas competitivas ou cooperat ivas, para uma proposta vol tada consequentemente para uma práxis transformadora e humana.

Práxis, esta, que possa demonstrar a importância dos saberes constituídos historicamente para a compreensão e superação de uma prática esportiva voltada para a competição, para a humilhação do “perdedor”, para o esporte enquanto demonstração de poder, status social e perpetuação de valores pautados na disciplinação dos corpos e mentes, em direção a uma prática voltada a inclusão, para a não discriminação, para o respeito à diversidade, para a não balização de atribuição de gênero, a socialização e uma forma de estar com o outro respeitando-o sem segregação ou mortificação de indivíduos que se sentem à margem.

Kunz (1994, p.18) sabiamente coloca que o esporte só conseguirá atender a uma concepção crítico-emancipatória (assim como a Educação Física Escolar) se:

[...] quando conseguirmos ensinar um esporte às nossas crianças de tal forma que as mesmas possam crescer, se desenvolver e se tornar adultas através dele, e quando isto acontecer, quando se tornarem adultas, possam praticar esportes, movimentos e jogos como crianças.

Referências

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação? São Paulo: Brasiliense, 2007.

DUCKUR, Lusirene Costa Bezerra. Em busca da formação de indivíduos autônomos nas aulas de educação física. Campinas: Autores Associados, Coleção educação física e esportes, 2004.

GADOTTI, Moacir. Escola Cidadã. São Paulo: Editora Cortez, 1997.

KUNZ, Eleonor. Transformação Didático-Pedagógico do Esporte. 6. ed. Ijuí: Unijuí, 2004.

NUNES, César Aparecido. Educação, Pedagogia e Sociedade: matrizes políticas e estigmas culturais da instituição escolar no Brasil. In: ROMÃO, Lucília Maria Souza. Leitura, História e Educação: um diálogo possível. Ribeirão Preto:

Alphabeto,Editora 2006.

REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Temática: Educação Física Escolar. v. 23 n. 2. p.119 à 131. Campinas: 2002.

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PERSPECTIVAS PARA O ESPORTE E A PSICOLOGIA

Afonso Antonio Machado, Prof. Dr.LEPESPE-D.E.F.-I.B.-UNESP

Muitos foram os progressos registrados na Psicologia do Esporte, do ponto de vista teórico-prático; todos consideráveis, porém pouco difundidos. Em alguns países, a Psicologia do Esporte foi reconhecida apenas como um contributo válido para o enriquecimento do potencial atlético, compondo junto com a Treinamento Esportivo. Em outros, a sua história caminhou por outros lados, possibilitando a recuperação de lesões psicológicas e físicas, enriquecendo a Medicina do Esporte e, ainda em outros, auxiliou no entendimento e resolução dos problemas humanos a que os envolvidos com o esporte se defrontam, aproximando- se de uma visão Psico- Pedagógica do Esporte. Mas, em qualquer destas, pairou uma questão: quem é aquele profissional? De onde ele veio? O que pode fazer?

Outra grande dúvida: se tal profissional é um elemento importante em qualquer dos níveis da prática esportiva, como tal, qual a razão pela qual a Psicologia do Esporte não contribuiu ainda mais significativamente com seu campo de aplicação? As diferenças científicas, éticas e educacionais entre os profissionais que atuam na área levam a promover ou a impedir as oportunidades que a Motricidade Humana pode vir a usufruir. A Psicologia do Esporte sofre, ainda, uma crise de identidade, muito mais profunda do que outras áreas das Ciências do Esporte, por conta desta identidade pouco delineada.

Ë com este intuito que estaremos discutindo nosso texto, tentando explanar e analisar cada uma das etapas que demarcam as questões ligadas à formação e a atuação de um profissional da Psicologia do Esporte. Talvez alguns limites tenham que ser estabelecidos e outros superados, mas deverão ser discutidos e refletidos, para que possamos entender o universo profissional e acadêmico envolvidos. Somente assim estaremos aptos a responder: Mas o que é a Psicologia do Esporte? O que um psicólogo do esporte pode fazer? O que é que a psicologia do esporte tem para oferecer às Ciências do Esporte?

Universo a ser tratado

O universo de estudo e atuação da psicologia do esporte já foi sugerido por vários estudiosos da área, bem como já se estabeleceu campo de atuação; porém, numa visão interdisciplinar, como a que aqui se configura, seria necessário que tal reflexão fosse fruto de debates e amadurecimentos de opiniões de um grupo de profissionais de interesses convergentes mas de formação diferenciada (Singer, 1997; Derter & Weber, 1975; Morgan, 1998; Machado, 1999; Rubbio, 1999 ). Estes, entre outros, ofereceriam-nos análises e alternativas contextualizadas da situação contemporânea e sugestões para o desenvolvimento dos trabalhos.

Isto demandaria uma identif icação e delineamento dos contributos possíveis para a Motricidade Humana, de uma maneira a pensarmos

em seu macro- universo, afinal apenas o Esporte é merecedor de alguém para estudar e trabalhar com as divergências sócio- afetivas- emocionais? Partindo da possibilidade do modelo já conhecido, das áreas de atuação, teremos a possibilidade da Psicologia do Esporte estar desenvolvendo projetos na docência, na pesquisa e na assessoria.

Entretanto, dizer isto, desta forma, parece-nos não esclarecer nem situar precisa e adequadamente os profissionais que queiram com ela trabalhar, pois sempre teremos uma indagação: mas quem pode fazer isto? O professor de Educação Física ou o Psicólogo? Qual o papel a ser desempenhado em cada uma das três propostas? Como atuar em cada uma delas?

Diante deste volume de questionamento, Stafford & Gibbs ( 1999 ) oferecem-nos saídas que entendemos como viáveis, para este nosso momento, na Psicologia do Esporte do Brasil. Interessante dizermos que, em pesquisas realizadas pelos membros do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte ( LEPESPE ), da UNESP, campus de Rio Claro, foi possível quantificar o número de trabalhos apresentados em quatro grandes simpósios/ encontros de Educação Física/ Esporte e a constatação é de que a maior par te dos pesquisadores da área vem da Educação Física/ Esporte. Este quadro parece contrapor o da ISSP ( International Society of Sport Psychology ), onde o número de psicólogos- membros é maior do que o de educadores físicos- membros, nos Estados Unidos e Europa Ocidental. Tal comparação merece uma análise mais apurada e uma interpretação que busque entender o processo de formação dos profissionais das áreas, em outros países, o que não é foco de interesse deste documento.

É com es ta i dé ia , a do vo lume de pesquisadores na área, que estaremos trabalhando agora. Se a pesquisa tem sido liderada pelos educadores físicos e consumidas em cursos de graduação e pós- graduação em Educação Física, não nos parece contraditório o campo profissional ser de exclusividade do psicólogo clínico? Acaso o trabalho a ser desenvolvido na Psicologia do Esporte tem que ser aquele delimitado pelos estudiosos da clínica, exclusivamente?

Outra questão que nos faz ecos: porque os cursos de formação em Psicologia não tratam da disciplina Psicologia do Esporte, mas apenas fazem uma inclusão do tema, na disciplina de Psicologia Organizacional? Não sendo um tema de análise aprofundada, estaremos colocando no mercado de trabalho pessoas que entendam da “Lógica do Esporte”, conforme entende Bourdieu, em seu estudo “Sobre a Educação” , de 1978?

Mais uma questão de detalhe: porque os cursos de mestrado e doutorado em Psicologia não se dedicam à uma linha de pesquisa que contemple o “Esporte/ Motricidade Humana/ Educação Física”, como fazem os de Educação Física? Até onde

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entendemos ( ou sentimos ) e vivemos ( ou sofremos ), tais distanciamentos apenas resultam em negativo, para uma área emergente, no Brasil.

Talvez, ainda, um primeiro momento de discussão deva pairar sobre a terminologia: será que é de Esporte, mesmo, que estamos falando? Ou da Motricidade Humana? Verifiquemos que, em nossas análise, estaremos considerando não apenas aos atletas do alto rendimento, mas aos freqüentadores de academias de ginástica, aos bailarinos, aos que praticam caminhadas, aos em recuperação cirúrgica ou traumática, aos que buscam momentos de recreação e lazer, aos portadores de deficiências...a toda a população que, através do movimento, diferencia seu modo de vida.

Desta forma, por que Psicologia do Esporte? Pensar e propor apenas em Esporte não seria delimitar sobremaneira um vasto universo? Outro elemento para reflexão: acaso necessitam dos cuidados desta Psicologia do Esporte apenas as equipes que disputam campeonatos nacionais? Ou seria possível estender os benefícios deste trabalho às equipes menores e iniciantes, que proverão as demais, num futuro?

A situação atual, no Brasil, é bastante ímpar: estudantes e recém- formados buscam estágios e empregos apenas nas g randes equ ipes , sobrecarregando os departamentos de pessoal com currículos e propostas de trabalhos. Por outro lado, em muitas das vezes, os currículos apontam para uma formação básica, sem aprofundamento ou conhecimento da área de atuação, o que concorrerá para um trabalho enviesado, independente da área de formação básica do postulante ao cargo.

O abandono e descaso, até, para com equipes de base e iniciações esportivas, ou mesmo aos demais segmentos da Motricidade Humana, conforme já elencamos, ocorre em função da busca da fama e crescimento profissional rápido, que apenas uma equipe vitoriosa, no cenário nacional, pode oferecer. Salvo melhor juízo. Talvez isto seja o motivo de não encontrarmos pretendentes ao cargo de Psicólogo do Esporte em academias de ginástica ou natação, entre grupos de atividades físicas para terceira idade ou recuperados, em corpos de baile ou escolas de dança, locais que demandariam profissionais conhecedores da Natureza Humana, em sua essência.

Pensando nisto, entendemos que as propostas para atuação, de Serpa e Jolibois ( ambas de 1995 ), esteja indicando caminhos interessantes para nós, brasileiros. Diante da formação dos profissionais da Psicologia e da Educação Física, temos uma variedade de possibilidades que apontam para conhecimentos específicos, seguidos de práticas pontuais.

E a intervenção?

Falar em intervenção, em Psicologia do Esporte, é falar do diabo na Capela Sistina. Em função da falta de cuidado com nosso própria língua falada e escrita, talvez tenhamos tantos problemas para resolver. Em dicionários da Língua Portuguesa, dos mais tradicionais aos mais desconhecidos, encontramos que “intervir é o ato de exercer uma

ação em ou sobre...” , de onde se conclui, sem muito esforço de nossa rede neuronal, que uma aula seria bem vista como uma forma de intervenção. Ressalto: uma aula de educação do movimento ou de conhecimento psicológico. Tanto faz.

O mesmo se dá, quando estivermos numa conferência, diante de alunos, atletas, adeptos de atividades f ís icas radicais ou “jogging”, e manifestarmos nossos pontos de vista. Também será uma intervenção a adoção de uma atividade mais aeróbica ou de uma volta- a- calma com música mais compassada (Caillois, 1993; Cratty, 1989). Todas estas ações são tidas como intervenções, sem exceção.

E, se formos analisar cada uma delas, estaremos diante de atuações que resvalam nos dois universos: tanto no da Educação Física/ Esporte quanto no da Psicologia. Por que estas intervenções seriam específicas do educador físico ou do ps icólogo? Onde está a caracter ís t ica de exclusividade de uma profissão diante da outra? Estas questões apenas reforçam que, no âmbito da intervenção, não há limites de atuação para este ou aquele profissional, como bem querem alguns dos atuais estudiosos da Psicologia do Esporte.

Garantir que ao graduado em Psicologia cabem a pesquisa e a docência e ao graduado em Psicologia cabem todas as tarefas seria, no mínimo, hilário, visto que o universo de atuação é duo, em gênese, e enquanto resolução os procedimentos necessitam de encadeamentos interdisciplinares. Com que fundamentação se limita a atuação do graduado em Esporte, impedindo-o de intervir? Acaso uma aula não seria uma intervenção? E os psicodramas ensinados pelos professores de Psicologia Geral ou da Educação, aos seus alunos da graduação em Educação Física, não devem ser adotados como procedimentos adequados? Como se justifica seu ensino?

Este terreno é muito delicado e de difícil consenso, visto que se debate por campos de atuação, com uma visão pouco socializadora. Parece-nos, até onde pudemos perceber ( ou sentir ) que a exclusão funciona com mais eficácia, sem se considerar a abrangência e a aplicação da terminologia. Muito mais uma luta de egos do que de princípios. E isto é ruim para a Psicologia do Esporte.

Nosso entendimento é baseado em situações reais e teorias conhecidas através de Beresford ( 1994), Guay ( 1993 ), Dishman( 1983), Richards( 1998) e Segré ( 1995) que nos garantem excelentes níveis de intervenções psicológicas exercidas por profissionais maduros e conscientes, que atuam na Psicologia do Esporte e que são graduados em Pedagogia, Serv iço Social , Comunicações e, inclusive, Educação Física/ Esporte e Psicologia. Nada comprometedor em intervir. O comprometimento está em como intervir? Qual a qualidade desta intervenção? Com o que se trabalha? Qual o conhecimento necessário e a possibilidade de tratar daquele tipo de assunto, o profissional possui?

E s t a s i n q u i e t a ç õ e s p a r e c e m - n o s encaminhar para algumas soluções que permitem uma vida profissional sadia e adequada: a formação do profissional deve estar centrada no universo a que

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ele se destina como interventor. A dupla formação seria a ideal e adequada, para nossa questão, mas podemos dispor de pessoas capacitadas, com uma graduação e especializações em outra área, que venham a contemplar nossos interesses. Isto é o que temos no cenário brasileiro, em grande número.

Inquietar-nos pela intervenção ou pela formação é uma etapa que precisamos superar; nossa inquietação deve se projetar para algo maior: por um código de ética, onde os profissionais que buscarem abraçar a Psicologia do Esporte estejam aptos ao bom trabalho, amadurecidos e sábios o suficiente para uma boa atuação, quer seja docente, ou científica, ou psicodiagnosticando, otimizando ou aconselhando. A área de atuação será tão forte quanto seus membros atuantes.

Como o gabinete de trabalho ( ou clínica ) do Psicólogo do Esporte deve vir a ser as quadras, os salões de danças, as piscinas, os campos de futebol, ou seja, o próprio contexto onde se desenvolve a atividade física, as intervenções serão tanto mais adequadas quanto se aproximarem de seus contextos...logo, distante das atitudes clínicas e convencionais da Psicologia, apregoou Garry Martin, Psicólogo do Esporte de equipes olímpicas canadenses, em seu mini- curso, em Campinas, no Encontro de Medicina do Comportamento Humano.

Intervir, muito mais do que uma ação profissional, é um ato de consciência, numa dupla configuração: a do que exerce a ação e a do que sofre esta interferência. Isso apenas garante a relação in terpessoal , sem dar garant ias de bons procedimentos, o que nos remete ao conhecimento ético e moral, assunto central de nosso trabalho. Intervir é atuar com critério ético, através de procedimentos profissionais, num determinado contexto. Tal identificação está a premiar todos os profissionais graduados em áreas afins à Psicologia e Esporte; a seletividade está na ética e na moral da conduta profissional.

Encaminhamentos finais

Do ponto de vista de um profissional da Educação Física, a situação brasileira do Psicólogo do Esporte é muito diferente daquela vivida pelo norte- americano, europeu ou asiático, por conta de sua própria formação básica. Enquanto os eixos centrais de conhecimentos permanecerem excluindo seus complementares, no Brasil, as dificuldades tendem a persistir: educadores físicos que fogem de aulas de Psicologia e psicólogos que fogem de aulas de Educação Física.

Parece simplória tal citação, mas atende aos objetivos e propósitos da atuação do profissional. Segundo Singer ( 1997 ), como pode estar preparado para trabalhar na interface o profissional que na sua graduação não se motivou para conhecer a outra área? É possível entender aquilo a que não se conheceu? Como lidar com estas questões iniciais?

Outra questão que passa pela formação universitária nacional é o grau de aplicabilidade ( ? ) dos conhecimentos veiculados: o volume de teorias ensinadas e a pequena relação estabelecida entre teoria- prática resulta num descrédito daquilo que é ensinado. Para Guay ( 1993 ), não concretiza o saber,

o que pode vir a ser a gênese da ignorância da área de interface. O afastamento do saber e do saber- para quê faz diferença no desenvolvimento de comportamentos interdisciplinares, como o que aqui sugerimos.

E, finalizando nossa argumentação, a existência de um banco de dados comuns, onde todos pudessem vir a sanar suas dúvidas e depositar suas descobertas, seria de grande proveito para o fortalecimento da área, visto que possibilitaria a manutenção de teorias e práticas atuais, a discussão de elementos clássicos das áreas envolvidas e incrementaria a busca por novos projetos e procedimentos. Estimularia o processo criativo nesta interface.

O saber não tem dono; e pode ser sempre apr imorado. Independe da graduação do interessado. Sua aplicação exige padrões éticos, em qualquer profissão ou ação humana. Independe, igualmente da formação do interessado. Pensando na Psicologia do Esporte, para que ela cresça entre as Ciências do Esporte, será necessár io que intens i f iquemos a busca pelo saber, com procedimentos éticos adequados. Independendo de nossas formações.

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(*) Afonso Antonio Machado é licenciado em Educação Física e Filosofia; docente da UNESP e coordenador do Laboratório de estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte. Foi professor efetivo na rede pública de ensino do Estado de SP e técnico de modalidade competitiva. Pesquisador e autor de livros.

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CURSOS

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A detecção de talentos é um assunto ainda muito debatido, visto que envolve um processo que necessita ser muito bem estruturado e com uma série de cuidados para que realmente possa resultar em algo fidedigno. A descoberta do talento esportivo não é tão simples quanto muitos acham, sendo que no Brasil este processo ainda apóia-se muito no virtuosismo, isto é, na questão da sorte de encontrar algum talento. (DANTAS et al., 2004)

Utiliza-se o termo “talento esportivo” com o intuito de caracterizar os atletas que expressam níveis elevados de capacidades biológicas e psicológicas, demonstrando alto desempenho dependendo do contexto social ao qual está inserido, necessitando de condições ambientais adequadas (LANARO FILHO; BÖHME, 2001).

Ao pesqu i sa r o con te x to e spo r t i vo internacional, Dantas et al. (2004) também encontraram que a antiga União Soviética utilizava quatro áreas de conhecimento: a genética desportiva, a bioquímica desportiva, a metodologia do treinamento e a psicologia desportiva. Isto demonstra que não é recomendado se basear na sorte para esta finalidade, mas sim na ciência.

Para Matsudo et al. (2007), a detecção de talentos estaria ligada com as chances de realizar um prognóstico de longo prazo sobre um sujeito ( frequentemente cr ianças e adolescentes) , evidenciando desta forma capacidades que são fundamentais para que o mesmo possa integrar uma população de atletas de excelência esportiva. Desta forma, os talentos seriam crianças que foram selecionadas por apresentar performance alta devido as suas capacidades acima da média.

O atleta de elite passa por quatro etapas de desenvolvimento segundo sugestões explicitadas em estudos de Durant-Bush e Salmela (2002), começando o processo pela iniciação, passando pela especialização, aperfeiçoamento e, por fim, manutenção, sendo que é confirmada a colocação que os atletas de elite, de modo geral, vivenciam as três primeiras etapas, entretanto somente alguns passam pela última, denominada de manutenção.

Pensando na detecção de talentos de maneira precoce, Lanaro Filho e Böhme (2001) destacam a necessidade do incentivo às crianças vivenciarem diversas práticas esportivas, experimentando distintas atividades motoras que os esportes possibilitam-nas experienciar, realizando o processo de detecção de talentos especificamente para uma modalidade por meio de métodos corretos e habilidades obtidas durante todo o processo, dando início a etapa da especialização.

Sendo assim, diversas questões necessitam ter uma atenção muito grande para que haja resultados realmente positivos neste processo, e dentre todos os aspectos que devem ser valorizados está a psicologia do esporte, pois os aspectos psicológicos dos atletas tem uma importância muito grande no rendimento esportivo e podem ser determinantes no cenário do

esporte.Com isso, questões como o medo, a

ansiedade, o estresse, a interferência dos pais e treinadores no rendimento esportivo, o bullying, a especialização esportiva precoce, dentre diversos outros aspectos que podem influenciar nas questões psicológicas destes atletas e contribuir para prejuízos ao rendimento devem ser estudados, bem como os conhecimentos acerca destas questões, colocados em destaque para cada vez mais proporcionar uma intervenção mais eficaz.

Portanto, é nítido que a psicologia do esporte passou a ser cada vez mais utilizada no âmbito do esporte, passando a ter um papel fundamental nas modalidades esportivas, somando-se aos pilares básicos que acarretam o desempenho esperado, ou seja, o treinamento global passou a implicar em preparação técnica, tática, física, nutricional e psicológica, uma vez que esta última pode auxiliar atletas, treinadores e toda a comissão técnica de uma equipe, sendo essencial na detecção de talentos esportivos, devido à necessidade de maior equilíbrio emocional, principalmente nas etapas iniciais do processo de seleção de esportistas.

Referências

DANTAS, E. H. M.; PORTAL, M. N. D.; SANTOS, L. A. V. Plano de expectativa individual: uma perspectiva científica para a detecção de talentos esportivos. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 12, n. 2, p. 72-100, 2004.

MATSUDO, V. K. R.; ARAÚJO, T. L.; OLIVEIRA, L. C. Há ciência na detecção de talentos? Diagn Tratamento,12(4):196-9. 2007.

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DURANT-BUSH, N.; SALMELA, J. The development maintenance of expert athletic performance: Perception of world and Olympic champions. Journal of Applied Sport Psychology, v. 14, p. 154-171, 2002.

DIMENSÃO PSICOLÓGICA NA DETECÇÃO DE TALENTOS ESPORTIVOS

Kauan Galvão Morão; Renato Henrique Verzani

UNESP Rio Claro

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O Treinamento Funcional tem se popularizado pela internet, com reprodução de vídeos, executado por indivíduos atléticos, mas o seu enfoque é uma organização de um programa de treinamento físico diferenciado, com a utilização do peso corporal e acessórios. O corpo sob a perspectiva do movimento, utilizando planos e eixos do movimento corporal, princípios biomecânicos conceituado nos princípios do treinamento e capacidades físicas.

A proposta é elaborar toda a estrutura de um treinamento de forma objetiva e organizada, pois devido à amplitude temática, muitos profissionais fazem a utilização, esquecendo-se dos princípios básicos do treinamento desportivo e do movimento corporal. O conteúdo programático foi elaborado sobre a visão assim citada, com a etimologia do treinamento funcional, anatomia, ativação do core, sistemas energéticos musculares, capacidades físicas: definição e prática, exercícios convencionais x funcionais, acessórios e equipamentos para a prática, método de treinamento do core, laboratório prático de exercícios.

TREINAMENTO FUNCIONAL

Prof. Esp. Marcelo Jamil Humsi

Instituto de Reabilitação Lucy Montoro – S.J.do Rio Preto

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Atualmente o corpo tem sido foco de uma era em que um simples toque pode abrir janelas que nos carregam para o desconhecido, um emaranhado organizado de frestas pelas quais podemos ver mundos totalmente diferentes e que nos possibilitam navegar no passado, em um presente compartilhado ou até mesmo em um futuro que anseia tudo isso com o mínimo de esforço. Podemos nos transportar em uma fração de segundo sem sair do lugar, um simples toque e temos o mundo na ponta dos dedos. Somos impulsionados então a abrir essas janelas, deslizar, tocar e compartilhar o nosso próprio universo. Há nisso tudo um movimento pouco percebido que nos acompanha desde que nos entendemos como forma e somos estimulados a nos mantermos, sustentados em uma estrutura. O desejo, a necessidade, o precisar é o impulso interno que nos move àquilo que nos faz buscar.

Acredito, a princípio, que não há como pensar criação, concepção e performance sem que se atente pelo desejo, aquilo que nos faz mover e então buscar algo que seja interessante e que de alguma forma nos faça sentido, satisfaça. Não há dança sem sensação, sem sentir, sem um estímulo, sem movimento. “O Homem se movimenta afim de satisfazer uma necessidade. Com sua movimentação, tem por objetivo atingir algo que lhe é valioso” (LABAN, 1978. p.19).

Nes ta def in ição de Laban, sobre o movimento, sempre me instigou a palavra “valioso”. Entendo valioso como algo importante, de valor, algo muito merecido, mas que também contém validade, um tempo de duração, um fim. O indivíduo então tem como objetivo o desejo, que pelo movimento, seja possível atingir esse “valioso”. Assim, o movimento torna-se um trajeto, uma ponte para conquista do mesmo. Esse entremeio, esse lugar de experimento é o local, como o próprio Laban intitula de uma cultura humanitária, na qual se compartilham desejos de se chegar a um “valioso” comum. Inge Baxmann afirma que “A dança desenvolveu-se numa arqueologia das maneiras de vida. Gesto, movimento e espaço são elementos de uma estética de atravessar fronteiras, que busca desenvolver uma nova maneira de perceber, em oposição a mundos prontos de imagens que adulteram nossas formas de ver (BAXMANN, 1990. p.60)”. Percebo que há mais coisas na dança do que somente a interpretação de certa corêutica, termo utilizado por Laban para descrever harmonia espacial, impulsos expressivos e atitude. Há muito mais dança dentro de cada um do que de fato imaginamos, mesmo que eu nunca tenha sequer dançado, o que considero quase impossível.

Imagem, espaço, objeto, contorno, forma. Pensar então nesse princípio básico que é ocupar e em como o meu corpo pode perfurar lugares tem sido um disparador para minha pesquisa em dança e nos processos criativos que tenho desenvolvido nestes anos de prática. O processo de criação é hoje, algo que não se restringe somente a coletivos profissionais

de dança e ou de teatro, chegando a uma boa parte de pessoas interessadas em pensar a dança e não apenas se movimentar. Abrir um leque de possibilidades, de ocupar um espaço com seu próprio corpo, é partir para a busca de resgate de memórias, possibilitar agentes criativos a uma matéria cuja essência é geradora de movimento. Como seres vivos temos por necessidade movimentar, gerar espaço, movimento, impulsos internos que consciente ou inconscientemente criam caminhos e percursos no nosso fazer vital. “As reflexões de um tal ser se efetuam e se exprimem dinamicamente. O pensamento é, para ele, um movimento interior, intercorporal; o espírito é, para ele, uma essência movimentada, talvez o próprio movimento (LABAN apud MIRANDA, 2008. p.17)”. Essa ideia de que o corpo possui uma forma e com essa forma pode ocupar um lugar ou até mesmo se ocupar pode despertar a consciência de ocupação e em consequência o espaço criativo. Um olhar para dentro fazendo reverberar no que está fora, lançar ou impulsionar movimento.

Possibilitar um espaço para criação coletiva ou individual é antes de tudo poder dar voz e refletir sobre sua própria trajetória, suas experiências e sua cultura de movimento que ao longo da vida colecionou. Partindo dos registros do arquiteto, filósofo e coreógrafo Rudolf von Laban sobre o estudo do movimento, tenho a honra de pensar e compartilhar desta pesquisa no “IV Congresso Brasileiro de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana”, apresentando uma parcela dos estudos dos quais ele formulou um sistema de observação, experimentação e análise de movimento complexo e poético. Poder chegar mais próximo dos conteúdos fomentando outras formas de gerar dança/movimento é conceder ferramentas para a busca desse valioso, de uma dança pura e criativa. O que é dança? Onde ela começa? É possível dançar sem uma “experiência” prévia? Onde moram os desejos?

Pensar essas possibilidades de criação coletiva ou individual da dança é estimular outros caminhos para que os professores sejam coorientadores de uma obra sem que para isso seja necessário passar somente pelos mesmos padrões ou estilos formais de escolas e academias de estudo técnico da dança, mas também gerar e fornecer opções, atividades que provoquem criações a partir do movimento interior, próprio, individual, autoral. De uma forma mais simples, a intenção é promover uma vivência, a experiência de uma linguagem próxima ao universo dos encontros, aulas e as peculiaridades de cada turma, podendo perceber e dar voz a esse coletivo. É compartilhar um trabalho artístico sem que pra isso seja preciso impor padrões e técnicas tradicionais que os façam perder sua essência e sua individualidade.

A dança criativa pode tornar-se um facilitador e um colaborador em matéria de pensar o corpo em suas funções básicas, não somente reproduzir ou

DANÇA: CRIAÇÃO, CONCEPÇÃO E PERFORMANCE

Prof. Frank Tavantti

Professor Especialista em movimento para o ator SESI-SP, Diretor e coreógrafo da KD Cia de Dança, Diretor Artístico do T.F.Style Cia de Dança, de São Paulo.

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gerar movimento, mas antes de tudo, sentir e poder criar algo que seja genuíno. Se pensarmos que a dança também pode ser gesto, esses movimentos corporais utilizados na vida diária, no processo criativo ele ganhará uma função estética, podendo ser estruturados, esti l izados e até mesmo coreografados. A dança então se torna uma linguagem simbólica podendo ser associada ao desenvolvimento humano físico e psíquico. Como afirma Jacques Lacan, "é também através da linguagem simbólica que o ego não apenas interage com o mundo, mas é em si mesmo construído física e psiquicamente, em sua imagem corporal (LACAN apud FERNANDES, 2000. p.29)”. Aproximar o movimento do universo cotidiano de cada indivíduo é trazê-lo para o mais simples, chegando mais facilmente ao seu contexto histórico e de sua realidade. A dança, assim, pode chegar mais facilmente a essa cultura humanitária de movimento, não privando qualquer interessado em praticá-la.

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ARTIGOS

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A INFLUÊNCIA DA PRIVAÇÃO VISUAL NAS RESPOSTAS PSICOLÓGICAS DE INDIVÍDUOS ADULTOS APÓS EXERCÍCIO EM LEG PRESS 45°

Luciana Botelho Ribeiro¹, Eric Francelino Andrade², Gustavo Puggina Rogatto², Priscila Carneiro Valim-Rogatto¹

1. Laboratório de Pesquisa em Psicologia do Exercício – UFLA2. Laboratório de Investigação e Estudos sobre Metabolismo e Exercício Físico - UFLA

RESUMO

O objetivo do presente estudo foi verificar se a privação visual interfere na percepção de capacidade física de jovens durante um teste de força máxima dinâmica. Participaram do estudo 14 homens saudáveis e praticantes de exercício resistido. Após a definição da carga, os indivíduos realizaram duas sessões distintas de exercícios nas cargas relativas a 50%, 75%, 90% e 100% de 10 Repetições Máximas em Leg Press 45º. Em uma das sessões foi feita a privação visual, enquanto na outra sessão os participantes visualizavam a carga deslocada. Em ambas as situações as cargas relativas foram selecionadas de forma aleatória. Ao final de cada sessão, os voluntários responderam à subescala “Capacidade Física Percebida” da “Escala de Autoeficácia Física”. Os dados foram analisados pelo teste de Shapiro-Wilk e para a comparação dos resultados utilizou-se o teste Wilcoxon (p<0,05). O valor mínimo da capacidade física percebida dos indivíduos vendados foi de 30 pontos enquanto que nos não vendados este valor foi de 32 pontos. O escore máximo dos indivíduos vendados foi 53 pontos e para os indivíduos não vendados 51 pontos. Observou-se melhor capacidade física percebida nos indivíduos que realizaram o exercício sem privação visual (Z = 1,73; p = 0,04). Concluiu-se que a visualização da carga durante o exercício de Leg Press 45º promoveu melhor percepção da capacidade física em relação à situação sem visualização da carga.Palavras-chave: Exercício resistido. Autoeficácia. Percepção da capacidade física.

ABSTRACT

The aim of this study was to examine whether visual deprivation interferes on physical ability perception of young people during a dynamic strength test. The study included 14 healthy men that were involved in resistance exercise training. After defining the load, subjects performed two different exercise sessions with intensity equivalent to 50%, 75%, 90% and 100% of 10 maximum repetition test load in Leg Press 45o. In the first session individuals were submitted to visual deprivation, while in the other session participants visualized the load shifted. In both situations relative loads were randomly selected. At the end of each session, subjects answered the "Perceived Physical Ability" subscale from "Physical Self-efficacy Scale". Data were analyzed by the Shapiro-Wilk test and means were compared by the Wilcoxon test (p<0.05). The minimum value of perceived physical ability of blindfolded participants was 30 points, while in non-blindfolded situation was 32 points. The maximum score of this variable was 53 points for blindfolded and 51 points for non-blindfolded condition. Perceived physical ability was higher when volunteers performed exercise without visual deprivation (Z = 1.73, p = 0.04). It was concluded that load visualization during Leg Press 45o exercise promoted better physical ability perception in relation to the situation without load visualization.Keywords: Resistance exercise. Self-efficacy. Perceived physical ability.

INTRODUÇÃOA autoeficácia, construto da Teoria Social

Cognitiva, descreve a convicção que o indivíduo apresenta para realizar determinada atividade com êxito para obter determinado resultado. Neste sentido, essa teoria valoriza as próprias capacidades dos indivíduos para executar uma tarefa em um determinado contexto, ou seja, a força que ele é capaz de fazer em determinada ação para alcançar seu objetivo (BANDURA, 1997; MCAULEY; MIHALKO; BANE, 1997).

A percepção de autoeficácia proporciona um mecanismo de ligação entre os fatores psicossociais e funcionais (CARDOSO, 2006). Assim, diversos fatores influenciam a autoeficácia, tais como, as realizações pessoais, a observação de experiências, a persuasão verbal e as respostas emocionais (SALVETTI; PIMENTA, 2007; BARROS; IAOCHITE, 2012).

As realizações pessoais são as fontes de informação mais importantes para expectativas de autoeficácia, sendo baseadas nas próprias experiências. A observação de experiências está relacionada à percepção do indivíduo quanto ao desempenho de outros na realização de atividades, podendo gerar no primeiro a expectativa de capacidade ou incapacidade dele próprio para realizar ou obter algum ganho de desempenho. Na

persuasão verbal as pessoas se sentem estimuladas a enfrentar situações que superem suas habilidades. Já nas respostas emocionais, as situações estressantes provocam respostas emocionais que podem interferir na percepção de competência pessoal (SALVETTI; PIMENTA, 2007). Dessa forma, tais fatores influenciam com relevância a autoeficácia, sendo que alguns exercem mais influência que outros (BANDURA,1997; BARROS; IAOCHITE, 2012).

Do ponto de vista das atividades motoras, a autoeficácia representa uma referência que explica as relações entre processos cognitivos e desempenho físico. Ela pode ser considerada tanto um fator determinante quanto uma consequência da atividade física (MCAULEY; BLISSMER, 2002).

A autoeficácia física vem sendo estudada levando em consideração seus dois principais aspectos: a capacidade física percebida e a percepção da autoapresentação física do indivíduo. Enquanto que a primeira diz respeito a avaliação das diferenças individuais de competência física diretamente percebida (e não somente de atitudes em relação a aparência do corpo), a segunda diz respeito à confiança do indivíduo em mostrar essas habilidades na presença de outras pessoas (Ryckman et al., 1982).

A capacidade física percebida influencia na execução das tarefas motoras que indivíduo pode

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realizar, envolvendo sua motivação e persistência diante das dificuldades encontradas.

Considerando o envolvimento entre aspectos emocionais e fisiológicos, o sistema visual é de suma importância já que está relacionado a aspectos como o equilíbrio corporal e a coordenação motora do indivíduo. Quando o indivíduo é privado de informações provenientes deste sistema, encerram-se as possibilidades de controle visual sobre o espaço durante as ações vinculadas ao movimento. Destaca-se que existe uma acentuada escassez de estudos sobre a avaliação de atividades envolvendo grandes deslocamentos de carga associados à privação visual (MAIOR et al., 2007).

A prática de atividades físicas é importante comportamento que envolve processos dinâmicos e complexos e envida esforço não somente do indivíduo mas também de fatores ambientais. Assim, quaisquer fatores que venham a interferir na realização da atividade, tais como informações visuais do ambiente ou da carga a ser utilizada, podem influenciar tanto na autoeficácia do indivíduo quanto na sua percepção de esforço (MCAULEY; GILL, 1993).

A percepção de esforço é um parâmetro para se predizer a intensidade em testes de exercício de resistência como é o caso dos testes de repetições máximas (SILVA et al., 2009; SILVA et al., 2011; ANDRADE et al., 2012; MIRANDA et al., 2013). Com relação às informações visuais fornecidas durante a atividade física, pouco foi investigado acerca dos efeitos da privação visual sobre a capacidade física percebida. O que se sabe até o momento é que a privação visual pode influenciar o desempenho durante o exercício, resultando em efeitos psicológicos que viriam a afetar a capacidade física percebida do indivíduo (ANISIMOVA e KURGANSKII, 2000). Assim, o objetivo do presente estudo foi verificar se a privação visual interfere na percepção de capacidade física de adultos jovens durante a execução de sessões de esforço com intensidade correspondente à carga de 10 Repetições Máximas (10RM).

METODOLOGIA DA PESQUISAParticiparam do estudo 14 indivíduos

saudáveis do sexo masculino, com média de idade de 25(±4,3) anos, que eram familiarizados com exercícios resistidos. Como critério de inclusão, os participantes deveriam ser fisicamente ativos e praticantes de exercícios resistidos por pelo menos seis meses antes do experimento. Foram utilizados como critérios de exclusão a presença de lesões articulares e/ou dor e a execução do movimento de forma errada durante o teste.

Após serem previamente esclarecidos sobre as intenções e procedimentos da pesquisa, os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) que autorizava sua participação no estudo. O TCLE também continha informações quanto à metodologia e os objetivos da pesquisa, garantindo a confidencialidade e a integridade dos voluntários, sendo que estes poderiam recusar ou desistir da participação no estudo em qualquer momento sem sofrer qualquer penalidade.

Cada voluntário compareceu ao local de coleta de dados em três momentos distintos com intervalo de 72 horas entre eles. Tal intervalo foi utilizado para que os indivíduos pudessem se recuperar adequadamente entre as sessões. Assim, no primeiro momento foi realizado o teste de 10RM, de forma a aferir a carga máxima para aquele número de repetições, de cada indivíduo no exercício Leg Press 45º. Este teste consiste no deslocamento de uma carga até o limite máximo de 10 repetições em regime de falha muscular concêntrica voluntária (RIBEIRO et al., 2007). Assim, foi estipulado o máximo de três tentativas com intervalo de três a cinco minutos entre elas para a aferição da carga máxima para 10 repetições. O indivíduo que ultrapassasse esse limite ou realizasse o movimento de forma incorreta seria excluído do estudo. Foi considerado movimento incorreto, a incapacidade de realizar a extensão completa do joelho, ou apresentar falhas concêntricas voluntárias (LOUREIRO et al., 2011).

Para aferição da percepção de esforço foi utilizada a Escala OMINI-RES (Resistance Exercise Scale). Este instrumento possui quatro figuras específicas relacionadas à intensidade de esforço, contendo também uma linha inclinada com graduações de intensidade distribuídas de 0 a 10, onde o valor “0” refere-se a “extremamente fácil” e 10 “extremamente difícil” (NAKAMURA et al., 2009).

No segundo momento, os indivíduos foram privados da visão, por meio de uma venda, e realizaram 4 séries de 10 repetições em Leg Press 45° nas cargas relativas a 50%, 75%, 90% e 100% de 10RM. A sequência das cargas foi determinada de forma aleatória com intervalo de um minuto entre as séries. Já no terceiro momento, para caracterização da situação controle, os indivíduos realizaram o mesmo procedimento descrito anteriormente, porém, sem privação visual.

Ao final de cada momento, os voluntários responderam à subescala “Capacidade física percebida” da “Escala de autoeficácia física” (Ryckman et al., 1982). A escala é composta por 22 itens, sendo 12 relativos à autoapresentação física e 10 itens referentes à capacidade física percebida. Cada item é quantificado de 1 (concordo fortemente) a 6 (discordo fortemente) pontos. Dessa forma, a subescala “capacidade física percebida” pode variar de 10 a 60 pontos, sendo que quanto maior a pontuação melhor a percepção de capacidade física.

Os dados foram analisados aplicando-se teste de Shapiro-Wilk inicialmente para verificação da normalidade e para a comparação dos resultados utilizou-se o teste Wilcoxon, considerando p<0,05 para todas as análises. Os cálculos foram realizados utilizando software livre Bio Estat (AYRES et al., 2012).

Resultados Na tabela estão apresentados os resultados

referentes à capacidade física percebida após a realização de exercício em Leg Press 45º em intensidades correspondentes à 50%, 75%, 90% e 100% de 10 RM. A privação visual resultou em valores de capacidade física percebida inferiores à condição com privação visual.

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Tabela 1: Valores médios, desvio-padrão (DP) e mediana (MED) da capacidade física percebida dos indivíduos após as sessões de exercício em Leg Press 45º com e sem privação visual.

O valor mínimo da capacidade física percebida encontrada nas situações com privação visual foi de 30 pontos e na situação sem privação visual foi de 32 pontos. Já o valor máximo na condição vendada foi 53 pontos e na condição não vendada 51 pontos (Figura 1)

Figura 1: Valores individuais da capacidade física percebida após a realização de exercício em Leg Press 45º com e sem privação visual.

DiscussãoDe acordo com Ryckman et al., (1982), quanto

maior o valor da pontuação que o indivíduo apresenta na escala de autoeficácia, maior será o seu empenho em realizar determinada atividade. Desta forma, o valor mínimo da pontuação para este parâmetro é “10” pontos, enquanto o máximo é “60” pontos. Assim, a partir dos resultados encontrados no presente estudo pode-se inferir que, em ambas as situações avaliadas, a capacidade física percebida dos indivíduos foi superior ao valor médio da escala, sugerindo uma elevada autoeficácia.

Ta l resu l tado demonst ra uma maior competência percebida com relação ao desempenho em tarefas que envolvem o uso de capacidades físicas (LUCENA et al., 2007). O fato de os voluntários do presente estudo serem praticantes regulares de atividades físicas confirma os efeitos benéficos da prática motora constante sobre este parâmetro (MORANO et al., 2011). Assim, quanto maior o nível de atividade física, maior a capacidade física percebida (MCAULEY;GILL,1983; KRÜGER,2012). Além disso, a melhor percepção da capacidade física após o esforço em Leg Press 45º pode estar associada ao fato dos indivíduos avaliados terem familiaridade com o exercício, uma vez que este já compunha parte de suas rotinas de treinamento (LEVY; EBBECK, 2005).

Os resultados de capacidade física percebida mais elevados na situação sem privação visual podem ter ocorrido devido ao fato dos indivíduos avaliados terem conhecimento da carga e possuírem a crença do quanto são capazes de realizar naquele exercício. Assim, indivíduos que já praticam atividade física podem apresentar melhor capacidade física percebida.

Ainda com relação à elevada capacidade física percebida em indivíduos praticantes de exercício, estudos prévios corroboram com os achados da presente pesquisa (LEVY; EBBECK, 2005; MCAULEY et al., 2005). A prática de atividade física promove melhorias fisiológicas e psicológicas que refletem no aumento da capacidade física percebida (COSTA; DUARTE, 2002). Desta forma, existem diversos fatores internos e externos que podem influenciar positivamente ou negativamente os indivíduos durante a atividade física. Dentre esses fatores, podem-se destacar os ambientais e os motivacionais (MADUREIRA; MADUREIRA, 2000). Além disso, aspectos sensoriais também podem desempenhar papel importante durante a prática da atividade física, sendo a visão um componente fundamental na recepção das informações ambientais (ALMEIDA et al., 2013).

A percepção que o indivíduo tem do ambiente oferece respostas que podem promover melhorias na orientação espacial e equilíbrio corporal (MARTINS; BORGES, 2012). Nesse sentido, a visualização das cargas durante o exercício resistido pode influenciar tanto os fatores fisiológicos relacionados ao esforço, quanto os aspectos psicológicos como a autoeficácia (COSTA et al., 2013).

Considerando que a capacidade física percebida é um componente importante na avaliação da autoeficácia, observou-se no presente estudo, que a percepção da capacidade física frente ao exercício realizado sem a privação visual foi maior em relação à situação onde houve privação. Tal fato pode ter ocorrido devido à visualização da carga promover no indivíduo a crença de que ele possui a capacidade de desempenhar a tarefa (WEINBERG; GOULD, 2001). Além disso, a informação visual prévia permite que o indivíduo module suas respostas físicas perante a carga, de forma a melhorar seu desempenho e consequentemente sua capacidade física percebida.

Os mecanismos que explicam a melhoria do desempenho na situação sem privação visual podem estar relacionados com o processamento das informações no sistema nervoso central. Neste processamento ocorre a transmissão da mensagem por vias eferentes à musculatura que será utilizada, permitindo assim uma maior eficiência no movimento e no gasto energético inerente à atividade. Esta eficiência está relacionada a uma maior percepção da capacidade física (TORRIANI et al., 2005).

Já o desconhecimento da carga pode fazer com que o indivíduo utilize outras informações sensoriais que demandam um maior tempo de processamento, podendo assim influenciar negativamente em parâmetros como a autoeficácia e a percepção da capacidade física (COSTA et al., 2013). Adicionalmente, alguns estímulos sensoriais durante o exercício podem contribuir de forma positiva, já que promovem pequenas distrações que tornam o exercício prazeroso e, consequentemente melhora a percepção da capacidade física (RAZON et al., 2013).

ConclusãoA visualização da carga durante o exercício de

10 RM em Leg Press 45° promoveu uma maior capacidade física percebida em jovens praticantes

Situação Média DP MED Z P

Com privação visual

Sem privação visual (controles)

44,21

45,21

6,43

5,13

45

44,51,7328 0,0416

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habituais de exercícios resistidos. Desta forma, a privação visual pode ser considerada como um interferente negativo sobre a percepção da capacidade física neste tipo de atividade.

A privação visual foi um fator que interferiu negativamente na capacidade física percebida dos indivíduos na realização do exercício de 10RM em Leg Press 45º uma vez que este parâmetro se mostrou mais elevado em indivíduos sem privação visual. Sabendo da necessidade do quanto o indivíduo precisa se empenhar para realizar qualquer atividade, esta privação visual quando imposta, influencia o fator psicológico aqui estudado.

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EFEITOS DE UMA SESSÃO DE DANÇA SOBRE A ANSIEDADE DE INDIVÍDUOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL LEVE

Eric Francelino Andrade¹; Lucimara Mendonça Zacaroni²; Gustavo Puggina Rogatto¹; Priscila Carneiro Valim-Rogatto²; Amanda Mayara do Nascimento-Cardoso²

1. Laboratório de Investigação e Estudos sobre Metabolismo e Exercício Físico - UFLA2. Laboratório de Pesquisa em Psicologia do Exercício – UFLA

RESUMO

Indivíduos com Deficiência Intelectual (DI) tendem a apresentar maior propensão à ansiedade devido às dificuldades em desenvolver estratégias para lidar com eventos estressantes. Assim, têm-se investigado diferentes formas de se evitar e combater a ansiedade, dentre elas a realização de atividades rítmicas. Desta forma, o objetivo do presente estudo foi avaliar os efeitos de uma sessão de dança sobre a ansiedade-traço (AT) e a ansiedade-estado (AE) de indivíduos com DI. Participaram do estudo oito indivíduos com DI leve. Os voluntários responderam ao Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) antes e depois de uma sessão de dança. Foi feita a classificação e comparação dos níveis de AE e dos escores de AT e AE referentes aos momentos que antecederam e que sucederam a atividade. Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (p < 0,05). Foi observado diminuição nos escores de AE depois da sessão de dança (p < 0,05). No entanto, a atividade não influenciou a AT. Antes da atividade 37,5% dos indivíduos foram classificados com AE elevada e 62,5% com AE moderada. Após a atividade, 100% dos participantes apresentaram ansiedade moderada, demonstrando a eficiência da dança sobre este parâmetro. Conclui-se que uma única sessão de dança foi suficiente para diminuir os níveis de AE de indivíduos com DI leve. Palavras-chave: Atividades rítmicas. Estados emocionais. Atividade Motora Adaptada.

EFFECTS OF A DANCE SESSION ON ANXIETY IN INDIVIDUALS WITH MILD INTELLECTUAL DISABILITIES

ABSTRACT

Individuals with Intellectual Deficiency (ID) tend to be more prone to anxiety due to difficulties in developing strategies to deal with stressful events. Studies have investigated different strategies to prevent and combat anxiety, among them the performance of rhythmic activities. Thus, the aim of this study was to evaluate the effects of a dance session on trait anxiety (TA) and state anxiety (AE) of individuals with ID. The study included eight individuals with mild degree ID. Volunteers answered the State-Trait Anxiety Inventory (STAI) before and after a dance session. AE levels and TA and AE scores were classified and compared before and after physical activity. Data were analyzed by analysis of variance (ANOVA) and means were compared by Tukey's test (p <0.05). AE scores decreased after the dance session (p <0.05). However, the activity did not influence the AT. Before activity 37.5% of subjects were classified with high AE and 62.5% with moderate AE. After the activity, 100% of the participants showed moderate anxiety, demonstrating the efficiency of the dance on this parameter. It was concluded that a single dance session was sufficient to decrease AE levels of individuals with mild ID.Keywords: Rhythmic activities. Emotional states. Adapted Motor Activity.

INTRODUÇÃOA ansiedade é um estado emocional que pode

ser definido como uma resposta que inclui sentimentos anormais de tensão, apreensão, preocupação, inquietação e medo acerca de situações incertas ou que ainda não aconteceram (SHAPIRO; CULP; AZULAY CHERTOK, 2014). Adicionalmente, a ansiedade pode interferir de forma negativa na concentração e nas formas que um indivíduo utilizaria para solucionar problemas. Assim, as causas de ansiedade podem ser tanto de ordem pessoal quanto situacional (CHAVES; CADE, 2002).

Neste sentido, foram definidos os conceitos de ansiedade-estado (AE) e ansiedade-traço (AT), que são características que permitem definir se o quadro de ansiedade é referente à situação ou à personalidade do indivíduo (BAPTISTA; BAPTISTA; TORRES, 2006). Desta forma, a AE está relacionada a um estado emocional, geralmente transitório, que é caracterizado por sentimentos subjetivos de tensão relativos a um determinado contexto, enquanto a AT refere-se a um estado emocional mais constante, sendo um traço da personalidade do indivíduo (LORICCHIO; LEITE, 2012).

De acordo com Wolitzky-Taylor et al. (2010), a direcionalidade da relação entre ansiedade e declínio cognitivo ainda não está clara. Um exemplo disso é que tem sido observada maior perda de memória em indivíduos com transtornos de ansiedade, o que levanta a questão de se saber se os sintomas e os déficits fisiológicos diretamente associados com o declínio cognitivo levam os indivíduos a se sentirem mais ansiosos, ou se anos de ansiedade podem contribuir para a degeneração neurológica e a déficits cognitivos. Em indivíduos com déficit cognitivo, a incapacidade de lidar com situações adversas e estressoras torna-se elevada, havendo uma maior necessidade de estratégias para lidar com estas adversidades (TAFARO et al., 2009). Além disso, considera-se que pessoas com déficit cognitivo utilizam as informações do meio de maneira inapropriada, conferindo a estes indivíduos uma maior susceptibilidade à ansiedade (HINDMARCH, 1998).

A prática de atividades motoras e rítmicas tem sido utilizada no controle da ansiedade em indivíduos com ou sem deficiência (LESTÉ; RUST, 1984; GUIMARÃES et al., 2011). Dentre as atividades

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utilizadas no controle da ansiedade destaca-se a dança, que tem sido considerada como uma terapia, já que promove uma integração entre os estados físicos e emocionais do indivíduo (LESTÉ; RUST, 1984). No entanto, poucos estudos investigaram os efeitos da dança sobre a ansiedade de indivíduos com Deficiência Intelectual. Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar os efeitos de uma sessão de dança sobre a ansiedade (AE e AT) de adultos com deficiência intelectual leve.

METODOLOGIA

ParticipantesParticiparam do presente estudo oito

indivíduos, quatro homens e quatro mulheres, participantes de um projeto social desenvolvido pela Secretaria de Esportes, Lazer e Turismo (SELT) da prefeitura municipal da cidade de Lavras, Minas Gerais, Brasil. A média de idade dos participantes foi 32 (± 12) anos, e o tempo de participação no projeto variou de três a dez anos. A deficiência mais prevalente observada nos integrantes do projeto é a deficiência intelectual (DI), sendo observados diferentes níveis desta deficiência no grupo em questão.

Desta forma, foram selecionados apenas indivíduos com DI leve, devido à necessidade de entendimento para responder às questões presentes no Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE). A seleção dos participantes, de acordo com o nível de deficiência, foi feita baseada na classificação realizada pelos coordenadores do projeto. Adicionalmente, diversos estudos utilizaram o IDATE para avaliar a ansiedade de indivíduos com DI, mostrando a eficácia deste inventário nesta população (CARRARO; GOBBI, 2012; DATTA, 2013).

Instrumento O IDATE é um instrumento desenvolvido por

Spielberger; Gorsuch e Lushene (1970) e posteriormente validado para a população brasileira por Biaggio; Natalício e Spielberger (1977). Este inventário, que estima os componentes subjetivos relacionados à ansiedade, é composto por 40 questões divididas em duas subescalas, sendo 20 relacionadas à AT e outras 20 questões relacionadas à AE (FIORAVANTI et al., 2006). Cada questão do inventário é composta por uma escala Likert de quatro respostas: “Muitíssimo”, “Bastante”, “Um pouco” e “Absolutamente não” que são pontuadas respectivamente com os pesos “4”, “3”, “2” e “1” (LORICCHIO; LEITE, 2012). A classificação no nível de ansiedade do indivíduo a partir do IDATE se dá por meio do somatório dos valores obtidos nas questões tanto para AE quanto para AT, sendo que valores mais altos denotam um maior nível de ansiedade (MALUF, 2002). Adicionalmente, de forma a evitar quaisquer tendências de respostas, algumas questões do inventário são pontuadas de forma invertida por apresentam questões relacionadas às sensações positivas (MALUF, 2002). Assim, nestas questões, “Muitíssimo” recebe o escore “1” ao invés de “4”; “Bastante” recebe a pontuação “2”; “Um Pouco” é pontuado com “3” e “Absolutamente não” tem o valor “4” (MALUF, 2002).

Ademais, além de maiores escores conferirem um elevado nível de ansiedade, Novaes; Romano e Lage (1996) adotaram classificações para AE que são atribuídas de acordo com o percentil encontrado na avaliação. Assim, um percentil até 25, foi classificado como “ausência de ansiedade”, de 26 até 35 como “ansiedade leve”, valores entre 36 e 65 foram classificados como “ansiedade moderada”, de 66 até 75 como “ansiedade elevada”, e acima de 76% foi considerada como “ansiedade severa”. Desta forma, tal modelo de classificação foi adotado no presente estudo de forma a traçar um perfil mais detalhado sobre o grupo avaliado.

Coleta de dadosInicialmente foi explicado aos voluntários que

e les real izar iam uma sessão de dança e responderiam a um questionário antes e depois da atividade. Além disso, foi deixado claro que a qualquer momento os participantes poderiam interromper a atividade sem sofrer penalidade alguma. A aplicação do IDATE foi realizada em forma de entrevista, de maneira que eventuais dúvidas com relação à interpretação das questões fossem sanadas pelo próprio avaliador. Deste modo, todas as entrevistas foram efetuadas no mesmo dia, sempre pelo mesmo avaliador.

Assim, após a primeira entrevista, os indivíduos realizaram uma sessão de dança seguindo uma coreografia demonstrada por um coreógrafo já familiarizado com os integrantes do projeto. Tal coreografia contou com uma sequência de movimentos simples já conhecidos pelos voluntários bem como de movimentos básicos do Frevo, de forma que não houvesse dificuldades com relação à realização destes movimentos. O frevo é uma dança brasileira originária do estado de Pernambuco que tem como base os movimentos da capoeira incorporando movimentos de marcha e do maxixe, muito presente nos dias de carnaval em Recife.

Inicialmente, os indivíduos realizaram a coreografia sem música, sendo orientados pelos pesquisadores. Em seguida foi realizado um aquecimento com música durante aproximadamente 4 minutos, sendo posteriormente realizada a coreografia utilizando-se como base a música “Banho de Cheiro” (interpretada por Elba Ramalho) com duração de 6 minutos e 20 segundos. Logo após realizar a dança os indivíduos foram entrevistados novamente e as respostas computadas. Em seguida, os resultados referentes aos dois momentos foram analisados e os valores foram comparados entre si. O tratamento estatístico foi realizado por meio de análise de variância (ANOVA) e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (p<0,05). Para tal utilizou-se o software BIOESTAT 3.0 (AYRES et al., 2003).

RESULTADOSObservou-se no presente estudo que todos os

indivíduos avaliados apresentavam algum nível de ansiedade, tendo sido classificados como “ansiedade moderada” ou “ansiedade elevada”. O escore médio de ansiedade obtido para os indivíduos antes da sessão de dança foi 50,1±4,0 para AE e 48,7± 4,5 para AT, sendo observado após a atividade escores de

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43,6±6,4 e 48,4±5,3 respectivamente para AE e AT. A comparação entre os valores mostrou diminuição (p < 0,05) na AE depois da dança (Figura 1).

Figura 1. Escores de ansiedade-estado (AE) e ansiedade-traço (AT) de indivíduos com deficiência intelectual leve antes e depois de uma sessão de dança. * Diferença significativa entre ansiedade antes de depois da dança (p < 0,05).

Observou-se predominância de indiv íduos classificados com ansiedade moderada tanto antes quanto depois da sessão de dança, sendo que 37,5% dos indivíduos foram classificados com AE elevada antes da atividade. Após a dança, nenhum voluntário apresentou nível de ansiedade elevado. Não houve indivíduos classificados “sem ansiedade”, com “ansiedade leve” ou com “ansiedade severa”. A análise dos dados pelo teste de Tukey mostrou diminuição significativa na intensidade de AE de “elevada” para “moderada” após a sessão de dança (p<0,05).

Figura 2. Intensidades de ansiedade-estado (AE) em indivíduos com deficiência intelectual leve antes de depois de uma sessão de dança. * Diferença significativa na intensidade de AE antes de depois da dança (p < 0,05)

DISCUSSÃOA alta prevalência de ansiedade em indivíduos com deficiência intelectual corrobora com estudos prévios (CARRARO; GOBBI, 2012; DATTA, 2013). Indivíduos com deficiência cognitiva ou com distorções cognitivas tendem a apresentar dificuldades sociais e de comunicação que podem levar a sentimentos ansiosos (SARALADEVI, 2013). Assim, a alta prevalência de ansiedade observada no presente

estudo pode estar relacionada a eventuais dificuldades em lidar com agentes estressores, o que é uma situação característica de indivíduos com DI (TAFARO et al., 2009). Ao avaliar adolescentes e adultos com coeficiente de inteligência (QI) entre 50 e 70, Datta (2013) observou altos escores de ansiedade. Os autores relataram que a ansiedade elevada neste grupo é devido ao fato de que eles interpretam falhas com muita frequência e que geralmente levam mais tempo para se prepararem para novas tarefas (DATTA, 2013). Desta forma, torna-se justificável a utilização de atividades que promovam a diminuição da ansiedade em indivíduos com DI, visto que estes geralmente apresentam altos níveis deste estado emocional (ESBENSEN et al., 2003; CARRARO; GOBBI, 2012). Neste sentido, a prática de atividades esportivas e corporais tem se mostrado eficaz para diminuição da ansiedade tanto em indivíduos com DI (CARRARO; GOBBI, 2012), quanto em pessoas sem DI (HERRING et al., 2011; JAYAKODY; GUNADASA; HOSKER, 2014).Assim, como observado no presente estudo, ao aplicarem o IDATE (na versão validada para população italiana) em indivíduos com DI moderada, antes e depois de doze semanas de participação em um programa de exercícios, Carraro e Gobbi (2012) observaram diminuição significativa nos níveis de AE. No entanto, diferente do observado neste estudo, os autores supracitados observaram diminuição significativa também com relação à AT. Tal discrepância entre os resultados pode estar relacionada ao fato de que a AT envolve características da personalidade do indivíduo, e apenas uma sessão de dança não seria capaz de modificar este aspecto. Contudo, os resultados observados no presente estudo, com relação à diminuição significativa da AE, mostram o potencial que atividades rítmicas têm de melhorar este aspecto psicológico de indivíduos com DI leve.Os efeitos que a atividade física tem sobre a ansiedade estão relacionados ao impacto que esta impõe sobre mecanismos psicológicos e fisiológicos, podendo exercer um papel importante inclusive na melhoria da neurogênese em humanos (ANDERSON; SHIVAKUMAR, 2013). Assim, os achados do presente estudo confirmam que mesmo uma única sessão de atividade rítmica pode promover melhorias consideráveis sobre a ansiedade de indivíduos com DI.Desta forma, a inserção de atividades rítmicas no cotidiano de indivíduos com deficiência pode trazer benefícios consideráveis sobre a ansiedade, bem como de outros parâmetros como a socialização e a qualidade de vida (CASTRO et al., 2013). Além disso, tais atividades promovem benefícios fisiológicos e imunológicos que refletem na saúde do indivíduo de forma a diminuir a propensão a doenças relacionadas à inatividade física tais como obesidade, hipertensão e distúrbios metabólicos (SANTANA; CORRADINI; CARNEIRO, 2011).

CONCLUSÃOA realização de uma sessão de dança foi suficiente para diminuir os níveis de ansiedade-estado de indivíduos com deficiência intelectual leve. A

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atividade não influenciou a ansiedade-traço possivelmente devido ao fato desta ser relacionada a características da personalidade do indivíduo. A partir dos resultados observados no presente estudo, sugere-se a inserção de atividades rítmicas em projetos e/ou instituições que atendem pessoas com deficiência intelectual.

AGRADECIMENTOSOs autores agradecem à Secretaria de Esportes Lazer e Turismo (SELT) da Prefeitura Municipal de Lavras e ao Núcleo do Grupo de Pesquisa em Inclusão, Movimento e Ensino à Distância da Universidade Federal de Juiz de Fora (NGIME-UFJF).

REFERÊNCIAS

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APRESENTAÇÃOEsta pesquisa segue a metodologia da

Pesquisa Qualitativa do Fenômeno Situado, Fenomenologia. Portanto, possui um procedimento diferenciado, ao expor inicialmente, o Mundo Vida do pesquisador, seu interesse pelo fenômeno, sua perplexidade e sua compreensão.

A pré-reflexão que é o que já existe produzido na atualidade e o conhecimento fundamental e

básico das artes orientais de movimento não serão apresentados por uma necessidade de cumprir as normas de espaço para um artigo. Os leitores poderão entender os objetivos da pesquisa nos tópicos Situando o Fenômeno e Interrogação, que contemplam a introdução deste trabalho.

MUNDO VIDACursando Educação Física interessei-me por

ARTES ORIENTAIS DE MOVIMENTOS: ALTERNATIVAS ÀS TERAPIAS DO CAMPO DA SAÚDE. UMA POSSIBILIDADE DE INVESTIGAÇÃO PARA A PSICOLOGIA DO ESPORTE. UM EXEMPLO DE PESQUISA

FENOMENOLÓGICA

Hebert Henrique Ohnishi Carabolante; Luiz Augusto Normanha Lima | UNESP – RIO CLARO

RESUMO

Esta pesquisa analisa discursos de professores de artes orientais milenares, a saber: Yoga, Tai Chi Chuan, Kung-Fu, Lian Gong, Qwan Ki Do, desvelando o sentido que os sujeitos possuem sobre quais são os benefícios à Saúde destas já consideradas pratica alternativas ao tratamento de saúde convencional. A pesquisa utiliza o método Fenomenológico especificamente o método do fenômeno situado. O método primeiramente apresenta uma pré-reflexão sobre as artes orientais, expondo de forma não sistemática, algumas curiosidades alterando entre as artes orientais aspectos sobre: históricos, principais métodos de ensino, estilos, o caráter de luta, o porquê estão ligadas a saúde, os benefícios de suas práticas, os movimentos, a filosofia, os conceitos, as formas de atuações, as raízes, os fundamentos. Neste artigo a pré-reflexão não será apresentada para cumprir as normas do congresso de limite de páginas. Preferimos nos concentrar no passo seguinte da pesquisa e apresentar o fenômeno situado na experiência de quem o vivencia no caso os professores das cinco artes acima citadas. O método realiza análises individuais ou análises ideográficas dos cinco discursos dos professores de cada arte oriental e posteriormente realiza a análise do geral ou nomotética. O resultado é apresentado numa análise das generalidades, convergências, divergências e individualidades de significados expressos pelo sujeito, para finalmente desenvolver uma discussão destes dados e tecer uma síntese. As análises revelam que as práticas orientais atualmente como algumas destas cinco aqui analisadas, as que envolvem aspectos de luta e concentração são excelentes aliadas ao desenvolvimento da saúde e bem-estar. A compreensão do aspecto filosófico é inerente à própria prática dos movimentos, apesar do caráter de luta, o que elas transmitem através do conhecimento de suas origens e raízes é um pensar o cotidiano atual que gera uma filosofia de vida de autoajuda, autoconhecimento possibilitando tranquilidade e preparo para superar as tensões, as disputas, os desafios do cotidiano. Os discursos revelam, também, que os aspectos psicofísicos das doenças são reais, porque as práticas de movimentos e a exercitação física destas artes orientais têm possibilitado visíveis melhoras da saúde por trabalhar o mental e o físico de forma integrada. Os Mestres devem possuir todos os conhecimentos para melhor atender a sociedade atual, preservando estas culturas, passando-as através das gerações.Palavras-Chave: Prática Corporal, Artes Orientais de Movimentos, Saúde, Fenomenologia

ABSTRACT

Ithis research analyzes the discourse of teachers of ancient oriental arts, namely: Yoga, Tai Chi Chuan, Kung Fu, Lian Gong, Qwan Ki Do, reveals the meaning that subjects have about what are the benefits to health of those already considered practical alternatives conventional treatment of health. The research uses the phenomenological method specifically the method of the phenomenon. The method first provides a pre-reflection on the oriental arts, exposing not systematically, some curiosities changing between aspects of oriental arts: historical, main teaching methods, styles, the character of struggle, why are linked to health, the benefits of their practices, movements, philosophy, concepts, ways of acting, the roots, the basics. In this article the pre-reflection does not appear to meet the standards of Congress page limit. Rather concentrate on the next step of the research and present the phenomenon situated in the experience of those who have experienced it in the case of the five arts teachers mentioned above. The method performs individual analysis or ideographic analysis of the five discourses of teachers from each oriental art and then conducts the general or nomothetic. The result is presented an analysis of generalities, convergence, divergence and individuality of meanings expressed by the subject, to finally develop a discussion of these data and weave a synthesis. The analyzes reveal that Eastern practices currently as some of these five analyzed here, those involving aspects of struggle and concentration are excellent allied health development and well-being. Understanding the philosophical aspect is inherent in the practice of the movements, although the character of the struggle, which they transmit through knowledge of their origins and roots is the current thinking routine that generates a life philosophy of self-help, self-enabling and tranquility preparation to overcome the tensions, disputes, everyday challenges. The speeches also reveal that the psychophysical aspects of diseases are real, because the practices of movements and the physical drilling of these oriental arts have enabled visible improvements in health by working the mental and the physical in an integrated manner. Masters must have all the knowledge to better meet today's society, preserving these cultures, passing them through the generations. Key words: Body Practice, Oriental Arts Movements, Health, Phenomenology

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algumas práticas orientais que são consideradas práticas holísticas por trabalharem o ser humano de forma integral. Interessei-me mais especificamente em saber como os professores (mestres) de determinadas terapias corporais orientais percebem as suas práticas na sociedade atual, que as definem como práticas alternativas.

Neste sentido, esta pesquisa revela os conhecimentos, a compreensão destas práticas, os seus benefícios, suas visões de mundo, de ser humano, de corpo, numa forma integral ou “holística”, na qual há a integração entre a parte física de seus corpos com algo imaterial, a mente, ou com seus sentimentos, seus humores e suas dimensões espirituais.

SITUANDO O FENÔMENOPara Martins e Bicudo (1989), o fenômeno

existe na experiência de quem o vivencia, no caso específico desta pesquisa, quem ensina uma prática conhecida com alternativa, os sujeitos desta pesquisa, trabalham o corpo de forma integral, ou seja, de forma holística.

INTERROGAÇÃOO objetivo da pesquisa é interrogar

professores das práticas denominadas alternativas no interesse de compreender o que são estas práticas e quais os benefícios que produzem.

Para tanto será dirigida uma interrogação para os professores das atividades alternativas, o que é a sua prática e como ela lhe beneficia.

DESCRIÇÃO METODOLOGICAO recurso utilizado nesta pesquisa é o da

trajetória metodológica da Análise Qualitativa do Fenômeno Situado. (MARTINS E BICUDO, 1989). A região de inquérito são as práticas alternativas na atualidade.

Ao interrogar o que são essas práticas para os professores dessa modalidade, espera-se obter significados que possibilitem a sua compreensão.

Ta l m e t o d o l o g i a a d o t a e m s e u s procedimentos duas análises, a saber, a ideográfica e a nomotética. (MARTINS E BICUDO, 1989).

CONSTITUIÇÃO DOS DADOS (AMOSTRA)A pesquisa fenomenológica qualitativa não

determina apriore uma amostra, ela inicia a coleta de discursos até que os dados existentes possibilitem as análises Ideográficas e a nomotética. Os dados serão constituídos a partir dos discursos dos sujeitos entrevistados no caso desta pesquisa, serão entrevistados professores das seguintes atividades: Yoga, Tai Chi Chuan, Kung-Fu, Lian Gong, Qwan Ki Do.

A N Á L I S E D E D A D O S ( P R O T O C O L O S UTILIZADOS)

A primeira etapa da trajetória metodológica será a coleta de dados a partir da gravação dos discursos dos sujeitos da pesquisa que vivenciam as práticas alternativas.

Nesta fase, o interesse é permitir que os sujeitos expressem de forma livre e espontânea seus significados para as práticas alternativas.

Após a coleta de dados, seguem as análises ideográficas de cada discurso, que foram descritos mantendo a fala original.

Depois da transcrição, o discurso será lido e relido até a sua familiarização e seu entendimento, a seguir ocorre a divisão do discurso em assuntos que os sujeitos expressavam.

A partir do conhecimento do discurso e das suas partes, o pesquisador extrai as unidades de significados para reduzi-las que quer dizer, apontar a forma essencial de seu significado, para em seguida interpretar a unidade em vista da interrogação da pesquisa.

Tal forma metodológica permite chegar à compreensão do estado de mente, a atribuição do significado das unidades vem do pesquisador (MARTINS E BICUDO, 1989).

A retirada de unidades de significado pode ser entendida como redução do discurso; não é um resumo ou síntese e sim a essência dos discursos, o real significado do pensamento a respeito das práticas alternativas.

A análise finaliza-se com a apresentação do que o pesquisador entendeu sobre a discurso do sujeito, essa interpretação não revela uma estrutura geral dos sujeitos pesquisados.

Inicia-se, então, uma análise geral ou nomotética, essa análise segundo (MARTINS E BICUDO, 1989) possibilita um mapeamento das unidades de significado e a oportunidade de descoberta das convergências, divergências e individualidades das unidades de significados encontradas em cada um dos discursos.

O quadro nomotético possibilitou uma compreensão da estrutura geral do fenômeno e conseqüentemente a construção dos resultados, como um movimento de rigor.

Neste artigo foram retiradas todas as tabelas de análises ideográficas e a nomotetica para adequar o tamanho solicitado para o artigo.

AS ANÁLISES PROPRIAMENTE DITAS

Análise Ideográfica – YogaO alternativo da prática da Yoga é mostrado

por ser uma atividade que trabalha com distintos domínios corporais ao mesmo tempo, possibilitando esta união à consciência do corpo todo, físico, psíquico, mente e corpo e o espiritual.

Na prática Yoga, nenhum destes domínios se sobrepõe uns aos outros, eles são desenvolvidos de forma única, isto é, configura uma prática como alternativa ou diferente de outras que privilegiam o físico em detrimento da mente e da consciência.

O todo pode ser percebido no Yoga por ser uma prática holística, começando com a respiração, a postura e a transformação da musculatura gerando benefícios ao ser humano atualmente.

É um ciclo onde a prática incentiva o conhecimento pela filosofia e esta remete o gosto pe la prá t i ca , conduz indo o ind iv íduo ao autoconhecimento, isto é, a torna uma prática diferente de outras que ficam apenas no superficial sem um despertar da consciência.

A tradição é adquirida aos poucos, a atenção do sujeito é despertada para a forma adaptada à

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modernidade e ao ocidente pelo fato da prática ter sobrevivido há mais de cinco mil anos.

A filosofia, apesar de possibilitar a união e aprofundamento dos domínios físicos, mentais e espirituais, não ocorre por si mesma, ela está incorporada à prática, que tem a função de unir esses elementos, o que a faz alternativa por este motivo.

Análise Ideográfica - Tai-Chi-ChuanO Tai-Chi-Chuan, é descoberto na infância

pela curiosidade da criança em descobrir novas possibilidades corporais com o seu tempo livre e na fase adulta pela busca de uma melhor qualidade de vida.

Sua prática é essencial para se ter uma vida saudável no qual é inerente a qualquer ser humano, ela prioriza a pré-consciência corporal observando os seus limites e sua espiritualidade.

Além dos benefícios para a saúde como qualquer outra atividade física gera ela também, alivia qualquer tipo de dor e cura doenças sem ou com pouco uso da medicação podendo chegar a cura, desde problemas psicológicos até o físicos.

Tal prática gera preconceito infelizmente, devido ao medo dos pais de iniciarem uma prática esportiva do gênero feminino em relação gênero masculino no qual os contextos anatômico, fisiológico e cultural estão inter-relacionados.

Nem sempre o que é novo e muito comentado, desperta interesse nas pessoas, para a prática corporal ser estimulada, é preciso buscar a conquista de méritos através de estratégias motoras com o sentimento de prazer.

Tentamos descobrir também, outras práticas ligadas com o que nós praticamos, como as outras artes marciais sem ou com a visão espiritualista.

O ensino de educação física antigamente, não atendia a todas as demandas que os estudantes desejavam para seus corpos assim, o profissional de Educação Física não tinha olhares de como lidar com os novos desafios pedagógicos, ele buscava outros caminhos para atender a essas necessidades.

A idealização de um sonho é muito importante para descobrir o que se deseja no futuro, buscamos ao longo do tempo o que não tivemos de oportunidade na infância no caso do sujeito, a dança, assim, devemos sempre evoluir os nossos objetivos de forma gradual em busca do nosso ideal.

A influência de alguém mais experiente na área nos estimula a sempre buscar mais o conhecimento como, por exemplo, a imagem de um líder que gera confiança para seus aprendizes que estão na busca de suas melhorias.

Temos como exemplo também os irmãos mais velhos ensinarem os mais novos e os pais que representam uma imagem para os seus filhos, até eles conseguirem a sua independência emocional e financeira.

O professor também teve um instrutor no qual ensinou todo o conhecimento necessário para ser transmitido nas futuras gerações, ele, além de transmitir os ensinamentos da técnica do movimento transmite também, o carisma e a afetividade para conquistar seus alunos.

Quando um mestre faz uma prática por um determinado tempo, muitas pessoas acabam

sugerindo outros nomes a ele e quando ele morre, sua missão é cumprida e lhe é feita uma homenagem.

Análise Ideográfica Kung-FuMuitas práticas corporais apesar de serem

antigas, perduram até hoje devido a sua contribuição para a sociedade, não só trazendo benefícios de sua prática, mas também, de sua filosofia e de sua meditação corporal.

A descoberta de uma atividade física pode se iniciar na infância através de simbologias que a representam como a presença de ação nos desenhos animados.

Na fase adulta, ela representa uma necessidade como a melhoria da capacidade física do ser humano e a superação dos desafios da vida conquistando cada vez mais saúde e o bem-estar consigo mesmo.

Devido a sua importância, o Kung-Fu acabou se disseminando para outras regiões da China chegando até o Brasil promovendo total integração do movimento corporal do Homem com o do animal encontrado na natureza.

Hoje, muitas pessoas não sabem diferenciar o seu valor religioso de seu benefício por isso, gera um desinteresse da população de uma maneira geral.

Porém, sua prática foi ganhando adeptos e sua filosofia se persiste até hoje com a criação da necessidade do ser humano em defender o seu templo tanto no quesito da simbologia espiritual (bem-estar) como material (moradia e peças valiosas como o ouro) e suas potencialidades em busca de seu autoconhecimento no quesito de suas metas, valores e crenças.

Com integridade de sua visão, ele nos favorece novas possibilidades para a sua realização através da observação dos fenômenos da natureza, sua criatividade vai além do que nós podemos imaginar.

Em seu método há a figura de um líder, que ainda representa uma dedicação e uma imagem importante para as pessoas, preservando o mais puro do conhecimento, o da transmissão de conhecimento familiar e do mestre para o aluno trazendo novas culturas para as próximas gerações.

O Kung-Fu prioriza também, a importância da não violência, que é uma evolução e uma nova visão das artes marciais atuais, a escolha de nossos amigos, a formação do caráter e a conduta do ser humano, que são valores muito importantes para a cidadania.

Análise Ideográfica Lian GongO Lian Gong utiliza métodos da medicina

tradicional chinesa com os conhecimentos das artes marciais.

Ele é praticado com perseverança utilizando 18 movimentos para melhorar e prevenir lesões com ênfase em ombros, coluna, pernas e pés.

Sua prática ao longo do tempo ganhou adeptos nos quais se espalharam para todos os países.

Ela se baseia na existência de uma energia (Tchi), que aumenta a circulação sanguínea, imunização, flexibilidade e sono.

Pela manhã, ela gera mais vitalidade e disposição para o dia.

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Sua prática acolhe a todos, porém, não deve ser praticadas por gestantes e pessoas com diagnóstico de câncer.

Análise Ideográfica Qwan Ki DoO Qwan K i Do faz i n teg ração dos

conhecimentos da China e do Vietnã para obter uma melhor visão de sua prática.

Seu aspecto se baseia na melhoria como um todo: exercício físico da parte comportamental (atitudes, postura, conduta, medos e decisões) e pedagógica, que a Educação Física utiliza como o ensino baseado no movimento humano.

O conhecimento teórico é importante, pois gera uma maturidade para saber qual caminho é melhor para se tomar uma decisão, bem estar e atitudes durante uma competição.

Os treinos são bastante diversificados chegando a ser teórico, físico e técnico, eles não se preocupam somente com a vitória, mas com a manutenção e evolução das habilidades adquiridas ao longo desse período.

Assim, o indivíduo se sente mais seguro ao realizar suas ações e isso gera a ele um bem-estar e autocontrole.

A competição é inerente a qualquer ser humano, nesse momento é onde testamos se nossas habilidades e maturidade intelectual foram coerentes com os nossos treinos.

Durante os treinos, a dor e o sofrimento não possuem sentido negativo quando se conquista algo a longo prazo.

C O N S T R U Ç Ã O O U D E S C R I Ç Ã O D O S RESULTADOS

No quadro Nomotético estão distribuídas as unidades de significado encontradas nas cinco práticas orientais: Yoga, Tai-Chi-Chuan, Kung-fu, Lian Gong e o Qwan Ki Do.

Há uma convergência predominante que os sujeitos expressam que é a união entre aspectos físicos e psíquicos.

A filosofia une as dimensões do corpo, no entanto, em todos os discursos os sujeitos sempre necessitam falar separadamente que há uma prática, no caso, os movimentos e que esta parte física proporcionará uma melhora em aspectos mais imateriais, como a mente e a consciência.

A respiração no Yoga gera a consciência corporal, há partes mais físicas como a postura que auxilia na musculatura e no equilíbrio, como, também, partes físicas que auxiliam em aspectos não físicos, como alívio para as dores e cura das doenças. A meditação interfere nos aspectos físicos e materiais do corpo e isso é entendido como uma evolução espiritual, neste ponto corpos, mentes e espíritos estão totalmente integrados, e isto se faz pela prática, pelos movimentos em si destas artes orientais milenares.

O Tai-Chi-Chuan gera inúmeros benefícios para seus praticantes desde o espiritual até o físico, a prática rompe os benefícios físicos do ser humano melhorando, também, o aspecto emocional.

As artes marciais aqui analisadas trazem além de suas praticas sua filosofia, a meditação é entendida como algo corporal.

Os movimentos possibilitam melhorar e prevenir dores do corpo, eles geram uma energia ou Tchi, que aumenta a circulação sanguínea e a força vital dos indivíduos.

O termo arte marcial, tem um significado de artes que foram utilizadas em guerras, princípios de defesa do ser e de sua integridade, no entanto, a luta e o aspecto de guerrear são entendidos na atualidade como uma defesa do templo que é a casa do ser, seu corpo espiritual e material, na busca de um autoconhecimento.

Esta ideia do entendimento da luta é expressa por outro sujeito que fala sobre a pregação da não violência que é uma evolução e uma nova visão das artes marciais de hoje em dia.

As artes marciais priorizam a formação do caráter e da conduta do ser humano que é muito importante para que o indivíduo se torne um bom cidadão nos dias de hoje.

Os discursos revelam uma forma educacional que é transmitida de geração para geração, os mestres destas artes orientais possuem papel fundamental na transmissão e na manutenção de suas tradições.

Todo professor deve cativar seus alunos, a influência de alguém mais experiente na área estimula a buscar sempre mais o conhecimento.

Algumas individualidades podem ser encontradas nas unidades provenientes dos discursos:

A questão das artes marciais serem práticas alternativas a Educação Física é salientado por um sujeito que cita que o professor de Educação Física muitas vezes não possuiu conhecimento de como lidar com os desafios pedagógicos que aparecem no cotidiano escolar. A faculdade por em si só não atendia as demandas que os estudantes desejavam para seus corpos, com isso muitos buscam outros caminhos.

Outra individualidade encontrada nos discursos é a de um sujeito que fala que a prática do Kung-fu, promove a integração do Homem com o animal, o que comprova a total integração com a natureza.

Há, também, uma individualidade que diz respeito ao Lian Gong que é uma prática oriental que concilia os métodos da medicina tradicional chinesa com 18 movimentos da arte marcial com outra expressão, o Thuiná.

Ainda com relação a esta prática, o Lian Gong, há uma individualidade expressa pelo sujeito que diz que sua atividade apesar de acolher a todos não deve ser praticada por gestantes e pessoas com diagnóstico de câncer.

Por fim, há uma individualidade do Qwan Ki Do que pode possuir um aspecto mais técnico de luta que este voltado à competição, ela é encarada como algo inerente do ser humano é onde se testam as habilidades e a técnica atinge a segurança para o indivíduo realizar suas ações e consequentemente atingindo o bem estar e a autoestima.

Os aspectos filosóficos, seus conhecimentos, melhoram as tomadas de decisões na busca de um bem estar e nas atitudes durante as competições.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

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Uma primeira discussão diz respeito aos discursos como um direcionamento da união entre as partes materiais e imateriais do ser humano, no entanto, o discurso em si de todos aqui analisados, conserva uma separação entre a prática dos movimentos algo material, concreto, físico do corpo e outra parte mais imaterial como a mente, o pensamento trabalhado através da meditação, a consciência e o espiritual.

Os exercícios, a parte física dos movimentos auxilia nas enfermidades, isto mostra que há mesmo uma possível cura da doença revelando seu aspecto psicofísico.

Para as artes marciais orientais, o físico une-se ao espiritual e isto que as tornam alternativas com relação a outras atividades físicas do campo da Educação Física que são meramente materiais, orgânicas, o corpo no sentido das artes marciais é entendido como um corpo próprio, um corpo que já é mente, já é espírito.

Aproxima-se, portanto das f i losof ias ocidentais fenomenológicas.

Para Merleau-Ponty (1945, p.93), o corpo é movimento espaço e fala. É expressão e nisto há uma união entre todas as partes do organismo com a mente. Para o filósofo há uma ordem física, uma ordem psíquica e uma ordem espiritual que não se contrapõem ou se sobrepõe uma a outra, todas são eqüiprimordiais.

Ainda que os discursos tragam uma separação entre o corpo que é a parte física, os movimentos geram um ganho para a parte imaterial a mente, a consciência. O que as artes marciais indicam é que mesmo se citando separadamente o corpo da mente, o que se percebe é que os sujeitos querem dizer que corpo e mente corresponde uma mesma ordem, ou seja, parece que uma ordem influencia na outra na fala dos sujeitos.

SÍNTESE-CONCLUSÃO A fenomenologia não procura conclusões. No

entanto, em caráter de síntese da análise realizada é possível inferir algumas afirmações.

Segundo a OMS, saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade.

Gozar do melhor estado de saúde, possível de se atingir, constitui um dos direitos fundamentais de todo o ser humano, sem distinção de raça, de religião, de credo político, de condição econômica ou social (GREGORI, 1946).

No século 21, com a globalização, os meios de comunicações estão cada vez mais sofisticados fazendo com que haja um contato maior de culturas dos povos (encontros e trocas).

As práticas corporais orientais estão propiciando no presente um suporte positivo para formação dos seres humanos, suas técnicas reforçam a segurança, mas, também, a saúde e o bem-estar.

Ainda que um dos sujeitos tenha salientado que sua prática possui um caráter competitivo, as práticas orientais aqui pesquisadas no geral estão relacionadas a aspectos técnicos que propiciam uma conscientização de seus significados filosóficos e da compreensão do mundo.

A construção de resultados revelou que a principal característica das artes marciais orientais é a de envolverem na atividade física e em cada ação motora executada uma melhoria das partes imateriais do corpo, obtendo-se consequentemente mais energia para fazer a prática corporal.

As raízes culturais sugerem ao praticante um autoconhecimento, na busca de sua própria história e origem.

O psicofísico possibilita perceber o que fazemos com o nosso corpo tanto fisicamente como emoc iona lmen te (men te ) , que a caba s e manifestando em nossa existência.

A utilização das práticas corporais orientais, cada vez mais amplia as possibilidades do que podemos fazer com os nossos corpos.

Os Mest res devem possui r todos os conhecimentos para melhor atender a sociedade atual, preservando estas culturas, passando-as de geração a geração.

ReferênciasObservação: As referências aqui apresentadas foram utilizadas na pré-reflexão desta pesquisa, as outras não foram apresentadas neste artigo por questões de espaço. Portanto, apesar de não estarem no texto acima aqui representam as referências utilizadas neste artigo.

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INTRODUÇÃO

A nova ordem de transformação na sociedade contemporânea, mediada pelo avanço exponencial do acesso à informação e a recursos cada vez mais aprimorados de comunicação, condiciona mudanças significativas na maneira com que os indivíduos se relacionam. Nos dias atuais, o modo com que as pessoas interagem entre si agora mediadas pelos r e c u r s o s t e c n o l ó g i c o s d i s p o n í v e i s e , consequentemente com a informação totalmente disponibilizada e de fácil acesso nos aparatos tecnológicos, resultam em processos de significância de valores sociais e comportamentais na medida inclusive do eminente risco de choques conceituais entre diferentes gerações.

A evolução das tecnologias digitais de informação e comunicação, principalmente nas três últimas décadas, tem afetado profundamente a sociedade em todas suas dimensões. Mediada pelas NTIC - Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, a formação do homem moderno é, em parte, c lassi f icada pelo nível de acesso e interatividade sobre as ferramentas tecnológicas ao qual fora submetido no decorrer de sua vida (CASTELLS, 2011).

Marc Prensky (2001), estudioso da área de tecnologia da educação, classificou os indivíduos nascidos após 1983 como uma geração distinta em muitos aspectos em comparação com as gerações anteriores. O autor a denominou como geração dos “Nativos Digitais”. Estes indivíduos caracterizam-se

EDUCAÇÃO FÍSICA E NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (NTIC): ATITUDES DE PROFESSORES IMIGRANTES E NATIVOS DIGITAIS FRENTE AOS RECURSOS TECNOLÓGICOS ALIADOS À

PRÁTICA DOCENTE

Douglas Aparecido de Campos¹; Anderson Bençal Indalécio¹,²¹Universidade Federal de São Carlos – UFSCar / ²Centro Universitário de Votuporanga – UNIFEV

RESUMO

O advento da Era da Informação provocou mudanças significativas no modo com que os indivíduos se relacionam entre si e com os recursos tecnológicos disponíveis na sociedade contemporânea. Traço característico do embate de gerações, a escola se vê no locus da convivência de sujeitos de distintos níveis formações, estes muito das vezes condicionados ao diálogo mantido com a tecnologia digital e suas ferramentas. Neste contexto, o presente estudo buscou evidenciar o posicionamento dos professores de Educação Física frente as Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTIC) a fim de estabelecer compreensão sobre a relevância de aliar à prática pedagógica do componente curricular em questão o uso de recursos tecnológicos sob o ponto de vista dos educadores. Para o levantamento dos resultados junto a população pesquisada composta por 32 professores de Educação Física efetivos em uma rede municipal de ensino do interior do Estado de São Paulo foi utilizado como instrumento metodológico um questionário estruturado composto por sete questões, que possibilitou a caracterização e classificação do grupo de educadores em Imigrantes e Nativos Digitais e posteriormente a aferição das atitudes destes frente as NTIC. Observamos a partir da análise dos resultados obtidos que em geral os professores manifestaram atitudes positivas com relação as NTIC, e de acordo com os valores percentuais encontrados vemos que os professores Imigrantes Digitais, na maior parte das respostas, apresentam maior índice de atitude positiva face ao uso de recursos tecnológicos em sua prática docente. Com base nos resultados concluímos que a compreensão sobre as demandas educacionais contemporâneas e a necessidade de se aliar as NTIC e o ensino da Educação Física por parte dos professores de Educação Física pesquisados tem se manifestado de forma positiva, sem diferença de opinião entre as distintas gerações investigadas.Palavras-Chave: Prática pedagógica. Tecnologia. Gerações.

ABSTRACT

IThe advent of the Information Age has caused significant changes in the way that people interact with each other and with the technological resources available in contemporary society. Characteristic feature of the clash of generations, the school sees the locus of interaction of subjects of different training levels, these very often conditioned to dialogue with digital technology and its tools. In this context, this study sought to demonstrate the placement of physical education teachers across New Technologies of Information and Communication (NTIC) in order to establish understanding of the relevance of combining the teaching practice component of the curriculum concerned the use of technological resources in the point of view of educators. To survey results to the population studied consisted of 32 physical education teachers effective in a municipal school in the state of São Paulo has been used as a methodological tool a structured questionnaire consisting of seven questions that enabled the characterization and classification of group of educators Immigrants and Digital Natives and subsequently the measurement of these attitudes across the NTIC. Observed from the analysis of the results obtained that teachers generally expressed positive attitudes to NTIC, and in accordance with the percentages we found that the Digital Immigrant teachers, most of the answers, have a higher rate of positive attitude towards use of technological resources in their teaching practice. Based on the results we conclude that the understanding of contemporary educational demands and the need to combine the new NTIC and the teaching of Physical Education by the physical education teachers surveyed has manifested itself in a positive way, without difference of opinion between the different generations investigated. Keywords: Pedagogical practice. Technology. Generations.

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por uma geração que passou grande parte de seu tempo interagindo com aparelhos de televisão, computadores, telefones celulares, câmeras de fotografia e de vídeo digitais, smartphones, tablet's, assim como sites, blogs, redes sociais, dentre outros recursos.

A geração dos “Imigrantes Digitais”, ou seja, os nascidos até 1983, é caracterizada por Prensky (2001) como uma geração cujos indivíduos são dotados de elementos formativos que não sofreram forte influência dos recursos tecnológicos enquanto jovens, porém em alguma época de suas vidas se fascinaram com o advento tecnológico adotando muitos recursos da nova tecnologia em suas vidas.

Nesta perspectiva, os reflexos desta nova ordem como não poderiam deixar de ser, estão presentes nas escolas e compõem nosso foco de atuação e de investigação. Tais instituições hoje são habitadas por indivíduos de cinco diferentes gerações, os baby boomers e a geração X, que são Imigrantes Digitais, e as gerações Y, Z e Alfa, os Nativos Digitais. Cada qual com peculiaridades no modo de se comportar, ensinar e aprender. Das diversas formas de se visualizar o fenômeno ins taurado, o locus dec id idamente a ser problematizado atualmente são os processos de ensino e de aprendizagem aplicados à singularidade destes “novos alunos”, e a maneira que estes sujeitos responderão à dinâmica educacional que vivenciam no cotidiano escolar (PRESNKY, 2001).

Partindo deste contexto fomos despertados à inquietude e, logo, conduzidos a investigação do cenário que se apresenta no ambiente escolar atualmente, ambiente este condicionado a distorções conceituais e formativas referentes ao convívio entre indivíduos de diferentes gerações, e consequente d i s t i n tas v i sões de mundo man i fe s tadas principalmente pela interação entre os sujeitos que part ic ipam dos processos de ensino e de aprendizagem.

Notadamente, o paradigma educacional hoje instaurado, em grande parte, ainda remete a educação tradicional, ou seja, o professor transmissor do conhecimento e o aluno mero receptor apesar dos cursos de formação continuada e de atualizações com outras metodologias. O fato de o professor durante seu processo de formação como indivíduo não ter tido contato com os mesmos recursos tecnológicos, estes oriundos da era da informação, quando posto em voga nas mediações dos processos de ensino e de aprendizagem junto aos seus alunos cria um embate de concepções sobre o alcance da informação e de mecanismos de interação humana, que contribui significativamente para a manutenção do modelo educacional já citado (FREIRE, 2011).

Constata-se também que esses processos aplicados dentro da instituição escolar, desde determinado período da história, obviamente sofreram interferência do materialismo técnico produzido pelo homem. Quadro negro, giz, cadeiras e carteiras enfileiradas, cadernos e materiais impressos, constituíam quase que exclusivamente o aporte físico instrumental do professor para o ato de ensinar até pouco tempo. Recentemente uma sociedade influenciada pelo progresso tecnológico

digital vê uma dinâmica cada vez maior de interação entre indivíduos e técnicas e/ou tecnologias inovadoras, aplicadas ao ensino. Computadores, tablet's, lousas interativas digitais, Internet, wireless, e outros recursos advindos deste fenômeno se configuram em um novo paradigma educacional. Diante disso, refletimos: basta o recurso tecnológico estar disponível na instituição escolar? Ou mesmo, basta um conhecimento técnico sobre a ferramenta para subsidiar a ação docente na construção do conhecimento?

Com base nesta reflexão e pautado no desenvolvimento da área de conhecimento e componente curricular “Educação Física” ao longo de sua história, que busca a construção do sujeito crítico-reflexivo e estabelece em sua práxis metodologias teórico-práticas atuais, este estudo é parte de uma pesquisa de mestrado que visa relacionar, investigar, analisar e discutir a formação docente mediada pelos recursos tecnológicos digitais e sua prática educativa.

Com vistas ao exposto surge a seguinte questão de pesquisa: quais atitudes frente as Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTIC) dos professores Nativos Digitais e Imigrantes Digitais são manifestadas pelos professores de Educação Física da rede municipal de ensino de um município do interior do Estado de São Paulo?

Neste sentido, o objetivo geral deste estudo compreendeu a investigação de como se manifestam a atitude docente frente às Novas Tecnologias da Informação e Comunicação na prática docente aplicada a Educação Física. De forma específica, objetivou-se analisar as diferenças entre atitudes negativas e atitudes positivas na percepção dos docentes (Imigrantes e Nativos digitais) quando estes têm em disponibilidade os recursos tecnológicos mais atuais e recentes em suas práticas pedagógicas.

METODOLOGIA

Com a intenção de alcançar os objetivos propostos neste estudo, realizamos uma pesquisa de campo por meio de coleta de dados evidenciando a real necessidade de situar e construir uma dinâmica de aproximação entre pesquisador, população investigada e o objeto de estudo, a fim de estabelecer melhor compreensão da apropriação das NTIC nas práticas educativas com foco na construção e formação histórica do indivíduo.

Comprometidos com a relevância social deste estudo e com vistas na descrição de pesquisa dada por Luna (2000, p. 15) afirmando que esta "visa à produção de conhecimento novo, relevante teórica e socialmente fidedigno", planejamos o traço metodológico empregado neste estudo condizente aos pressupostos epistemológicos de pesquisa com abordagem mista, compreendendo aplicação de instrumentos de coleta de dados referentes à abordagem quantitativa, em primeira instância; e, poster iormente o emprego de abordagem qualitativa, subsidiando neste sentido uma análise sistemática e ampla do objeto de estudo.

Nesse sentido, para caracterização dos professores que compuseram a população investigada e posterior verificação das atitudes

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manifestadas por estes, o presente estudo posiciona-se em aspectos metodológicos que se insere num paradigma epistemológico objetivista. Segundo Coutinho (2005, p.4) “a perspectiva quantitativa permite determinar uma realidade, frisa a racionalidade, a objetividade e permite realizar uma generalização dos dados”. Ainda segundo Coutinho (2005, p.4-5), a pesquisa quantitativa apresenta como principais vantagens a realidade sob avaliação é "objetiva", “uma vez que existe independentemente do sujeito; eventos acontecem de uma forma organizada, e, portanto, é torna-se possível determinar as regras que os regem, a fim de prevenir e controlá-los”.

Nesta pesquisa o método de levantamento de dados teve natureza transversal. Este tipo de método apresenta o conhecimento direto da realidade estudada, e possibilita a realização de uma descrição quantitativa de características, tendências, atitudes ou opiniões de um grupo ou de uma amostra, e a partir dos resultados o pesquisador faz alegações e anál ises acerca da população invest igada (CRESWELL, 2007; COUTINHO, 2005; GIL, 2008).

Para coleta dos dados foi utilizado aplicação de técnica de observação indireta, que de acordo com Quivy e Campenhoudt (2005) o investigador dirige-se ao sujeito para obter a informação procurada. Para tanto, a coleta de dados nesta etapa do estudo se efetivou por meio de um questionário. A escolha pela utilização de questionário se deu pelo fato deste tipo de instrumento permitir o acesso a um maior número de elementos, favorecendo a sistematização da coleta e gestão das informações, e também porque comporta uma metodologia rigorosa e um tratamento homogêneo dos dados. Para Quivy e Campenhoudt (2005), o questionário é uma das técnicas periódicas na constituição de pesquisas na área de ciências sociais, facilita o conhecimento de determinada população e a compreensão de alguns fatores sociais que, em outras circunstâncias, apresentariam maior complexidade no processo de avaliação.

A fim de estabelecermos mais fidedignidade ao presente estudo, o questionário elaborado para o diagnóstico da população investigada se baseou na pesquisa proposta por Paiva (2002), que delineou o panorama sobre a utilização das NTIC por professores portugueses, intitulado 'As tecnologias da informação e comunicação: utilização pelos professores', realizado no ensino básico e secundário de Portugal pelo Ministério da Educação. Este instrumento de pesquisa foi adaptado por diversos pesquisadores e direcionado a diferentes populações, com o intuito de observar a apropriação das novas tecnologias por professores no contexto educacional (SEBRIAM, 2009; SOBRINHO, 2007; ALVEZ, 2006; LOPES, 2006; ROLO e AFONSO, 2005; SILVA, 2004; VISEU, 2003; DALVI, PEREIRA e DIAS, 2003).

Cabe mencionar que, ainda que exista um questionário que alcance os objetivos estabelecidos por diferentes estudos com o mesmo foco temático, é recorrente e preciso adaptá-lo à nova realidade investigada. Hill e Hill (2005), afirmam que comumente é necessário adaptar um questionário já existente ao defrontarmos a uma população alocada em um universo distinto daquele para o qual este foi

desenvolvido, portanto, é de extrema relevância verificar a clareza e a compreensão das perguntas aplicadas aos indivíduos que compõe o universo novo.

Desta forma, após verificação da necessidade de adaptação do questionário original, e levando em consideração o contexto da população investigada, preferimos adaptar o questionário de Paiva (2002), composto originalmente por vinte e quarto questões fechadas, quanto as particularidades da educação brasileira, assim como a linguagem adotada, os recursos tecnológicos disponíveis atualmente, e ao seu direcionamento específico ao componente curricular Educação Física.

O questionário estruturado aplicado neste estudo, composto por sete questões fechadas, englobou duas diferentes dimensões, sendo: Dimensão 1: Caracterização profissional da população pesquisada e Dimensão 2: Atitude docente frente as NTIC. A primeira dimensão, 'Caracter ização prof iss ional da população pesquisada', buscou caracterizar a população investigada por meio de seis questões fechadas. Os e lementos observados nes te componente englobaram: gênero; idade; nível de formação; etapa educacional atuante; tempo de experiência enquanto professor em nível de Educação Básica; e carga horária semanal exercidas na função docente. Ressaltamos que a questão de número dois, deste componente, propiciou a definição dos professores Imigrantes e Nativos Digitais, dado de extrema relevância para o estudo. Já a segunda dimensão, denominada 'Atitude docente frente as NTIC', tenta mostrar por meio de uma questão de múltipla escolha, qual a visão dos professores em relação ao uso das NTIC nos processos educativos aplicados à Educação Física escolar.

RESULTADOS E ANÁLISES

A apresentação dos resultados do questionário aplicado está sob a forma numérica, paralelamente ao emprego da discussão dos dados levantados. Cabe informar que em alguns casos o somatório dos percentuais representados podem ultrapassar o resultado de 100%, dada a condição fornecida aos inquiridos na escolha de mais de uma alternativa de resposta simultaneamente em algumas das questões do questionário.

Dimensão 1: Caracterização profissional da população pesquisada

Verificamos com base nos resultados que existe certo equilíbrio entre gêneros na população investigada, com leve acentuação referente ao gênero feminino representando por 56,25% (n = 18) dos inquiridos, comparado aos professores do gênero masculino que correspondem a 43,75% (n = 14) dos respondentes. De acordo com o 'Estudo exploratório sobre o professor brasileiro' (2009), baseado nos resultados do Censo Escolar da Educação Básica de 2007, realizado pelo Ministério da Educação, existe

Tabela 1. Distribuição dos professores por gênero Masculino: 43,75% (n = 14) Feminino: 56,25% (n = 18)

Distribuição dos professores por faixa etária Baby boomers: 0% Geração X: 46,87%

(n = 15) Geração Y: 56,13%

(n = 17) Geração Z: 0%

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grande discrepância entre gêneros nos professores de Educação Básica no Brasil, com uma relação de oito professoras para cada dois professores homens. No referido censo foram computados total de 1.882.961 professores de Educação Básica em todas as etapas e componentes curriculares do ensino público brasileiro, destes, 1.542.925 são professoras e 340.036 professores (INEP, 2009, p.55).

Considerando as diferenças de gênero entre profissionais de Educação Física na educação pública vemos que alguns estudos internacionais apontam maioria de homens no campo de atuação. Capllonch (2005) verificou que 37% dos professores de Educação Física de Barcelona, na Espanha, eram mulheres. Yaman (2008) constatou que na Turquia as mulheres representam 25% dos professores de Educação Física, o mesmo percentual encontrado por Moreno (2005) na Venezuela.

Os resultados sobre o período de nascimento dos professores apresentaram certo equilíbrio com relação ao professores Imigrantes digitais 46,87% (n = 15) e, professores Nativos digitais 56,13% (n = 17). Notamos que os professores Imigrantes digitais em sua totalidade se enquadram dentro da faixa etária que caracteriza a geração X, não havendo ocorrências de professores da geração baby boomers, já os professores Nativos digitais compreendem em suma a faixa etária característica da geração Y.

Com base no Censo Escolar da Educação Básica de 2007, naquele ano, a educação pública brasileira possuía 114.364 professores nascidos a partir de 1983, em detrimento de 1.768.597 professores nascidos anterior ao referido ano (INEP, 2009, p.55). Os estudos exploratórios sobre o censo de profissionais da educação não tiveram versões atualizadas pelo Ministério da Educação, entretanto, estima-se que a discrepância entre professores de distintas gerações tenha diminuído em virtude da ampliação dos programas de formação de professores assim como o número de vagas para docência nos sistemas públicos de educação.

Para o presente estudo os resultados verificados nesta questão são de grande relevância dentro da perspectiva dos elementos que serão analisados posteriormente. A criação das categorias professores Imigrantes e Nativos digitais servirá de base para o foco do estudo favorecendo a verificação da influência do aspecto geracional e sua relação com as novas tecnologias e a prática educativa, respectivamente. Com base nos resultados podemos notar ainda que a maioria dos professores, tanto os Imigrantes quanto os Nativos Digitais, aprofundaram seus estudos por meio de cursos de especialização. No caso dos professores Imigrantes Digitais vemos que 73,33% (n = 11) indivíduos realizaram cursos de pós-graduação lato sensu, número bem próximo ao demonstrado pelo grupo de professores Nativos Digitais 70,58% (n = 12). Esta tendência parece-nos estar atrelada às diretrizes do Plano Nacional de Educação que enfatiza ou provoca uma busca à formação continuada de professores e sua respectiva valorização.

Tabela 2. Distribuição dos professores por nível de formação

*ID = Imigrantes Digitais / ND = Nativos Digitais

Marco importante da Era da Informação, a Educação a Distância (e-learning) também contribui para o fa to de os pro fessores buscarem aprimoramento prof iss ional em cursos de especialização. Motivados pela popularização dos recursos tecnológicos em especial os computadores pessoais nas últimas décadas, aliada com a facilidade de realizar cursos sem sair da própria casa, fez com que os indivíduos do século XXI vislumbrassem um meio efetivo de aperfeiçoamento. Nesta corrente, instituições de nível superior públicas e privadas oferecem cursos de graduação e de pós-graduação em grande medida no país. Os polos de apoio presencial da Universidade Aberta do Brasil, com unidades em todos os estados da união, garantem a disseminação e democratização do ensino superior no Brasil, o que colabora inclusive com o aperfeiçoamento dos professores em todo o país. Por fim, como percebido nesta questão do estudo, nenhum professor que compõe a população investigada possui titulação em nível de pós-graduação stricto sensu.

*ID = Imigrantes Digitais / ND = Nativos Digitais

O município estudado possui uma política educacional que valoriza a inclusão de professores especialistas desde a Educação Infantil. Os componentes curriculares Educação Física, Arte e Inglês são ministradas por professores com formação específica nas respectivas áreas do conhecimento.

Dentro de um contexto de municipalização do ensino neste município, professores licenciados em Educação Física foram efetivados por meio de concurso público a partir do ano de 2007, ministrando aulas em nível de Ensino Fundamental. Desde o ano de 2012, os professores de Educação Física tiveram a oportunidade de empreender suas práticas educativas aos alunos matriculados regularmente nas salas de maternal II, pré-escola I e pré-escola II, com duas aulas semanais. Esta perspectiva evidencia grande avanço para área da Educação Física, que muito das vezes ficou restrita aos níveis de Ensino Fundamental II e Ensino Médio.

Dos professores Imigrantes Digitais 33,33% (n = 5) atuam em nível de Educação Infantil, 93,33% (n = 14) atuam no Ensino Fundamental, e 6,66% (n = 1) no Ensino Fundamental II. Já 52, 94% (n = 9) dos professores Nativos digitais atuam na Educação Infantil, 82,35% (n = 14) no Ensino Fundamental I. Ressaltamos que alguns professores ministram aulas em mais de um segmento, o que justifica o percentual apresentado.

Tabela 2. Distribuição dos professores por nível de formação Ensino Superior Especialização Mestrado Doutorado

ID*: 26,66% (n = 4) ID: 73,33% (n = 11) ID: 0% ID: 0% ND*: 29,41% (n = 5) ND: 70,58% (n = 12) ND: 0% ND: 0%

Tabela 3: Distribuição dos professores por etapa de ensino que atuam

Educação Infantil Ensino Fundamental I Ensino Fundamental II ID: 33,33% (n = 5) ID: 93,33% (n = 14) ID: 6,66% (n = 1)

ND: 52, 94% (n = 9) ND: 82,35% (n = 14) ND: 0% Distribuição dos professores por tempo de experiência docente

Menos de 1 ano

1 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 15 anos

16 a 20 anos Mais de 20 anos

ID: 0% ID: 13,33% (n = 2)

ID: 46,66% (n = 7)

ID: 33,33% (n = 5)

ID: 6,66% (n = 1)

ID: 0%

ND: 5,88% (n = 1)

ND: 94,11% (n = 16)

ND: 0% ND: 0% ND: 0% ND: 0%

Distribuição dos professores por carga semanal na função docente Até 10 horas Entre 11 e 20

horas Entre 21 e 30 horas Entre 31 e 40 horas Acima de 41 horas

ID: 0% ID: 0% ID: 26,66% (n = 4) ID: 53,33% (n = 8) ID: 20% (n = 3) ND: 0% ND: 0% ND: 5,88% (n = 1) ND: 53,33% (n = 13) ND: 17,64% (n = 3)

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Em relação ao tempo de experiência dos professores, verificamos que os professores Imigrantes Digitais apresentam tempo razoável de experiência, sendo 13,33% (n = 2) de 1 a 5 anos; 46,66% (n = 7) de 6 a 10 anos; 33,33% (n = 5) de 11 a 15 anos e; 6,66% (n = 1) de 16 a 20 anos. Os professores Nativos Digitais demonstram menor tempo experiência, com 5,88% (n = 1) menos de 1 ano e, 94,11% (n = 16) de 1 a 5 anos. Estes dados são claramente evidenciados por estarem relacionados à idade dos indivíduos.

Tardif e Raymond (2000, p. 227) relatam que os primeiros cinco a sete anos da carreira docente concebem um período crítico de aprendizagem na vida dos professores, pois gera expectativas e sent imentos intensos e, mui to das vezes, contraditórios. Os primeiros anos na atuação como professores formam um período importante em sua história profissional, o que determina inclusive seu futuro e sua relação com o trabalho docente.

Segundo os autores, duas etapas marcariam os primeiros anos de profissionalização e atuação dos professores. A primeira delas, denominada fase de exploração, que ocorre do primeiro ao terceiro ano, é aquela em que o professor “faz uma escolha provisória de sua profissão, inicia-se através de tentativas e erros, sente a necessidade de ser aceito por seu círculo profissional (alunos, colegas, diretores de escolas, pais de alunos etc.) e experimenta diferentes papéis” (TARDIF e RAYMOND, 2000, p. 227). É ainda nesta fase que uma porcentagem importante dos novos professores questionam a escolha da profissão, a continuidade na carreira docente, e em alguns casos resolvem abandonar a profissão, influenciados pelo “choque com a realidade” (TARDIF e RAYMOND, 2000).

Do terceiro ao sétimo ano acontece a fase de estabilização e de consolidação, a qual o professor realiza investimentos profissionais a longo prazo e garante desta forma o reconhecimento de capacidade por outros membros da organização. Nesta fase se manifesta um melhor equilíbrio profissional, caracterizando maior confiança do docente em si mesmo, elevação do domínio dos vários elementos do trabalho, em especial nos aspectos pedagógicos, “em um interesse maior pelos problemas de aprendizagem dos alunos; em outras palavras, o professor está menos centrado em si mesmo e na matéria e mais nos alunos” (TARDIF e RAYMOND, 2000, p. 228).

Ao observarmos os resultados apresentados pela população investigada sob a ótica da tendência apresentada por Tardif e Raymond (2000) verificamos que a grande maioria dos professores Imigrantes Digitais apresentam uma maturidade profissional superior comparado aos professores Nativos Digitais por terem perpassado, no início de suas carreiras, pelos desafios que a fase de exploração empreende ao indivíduo, assim como reconhecimento e consolidação da carreira após alguns anos de atuação. Com base nos resultados estas experiências estão sendo vivenciadas pelo grupo de professores Nativos Digitais agora, que em sua maioria passam pela fase de estabilização e de consolidação de sua profissão, caracterizando um período gradual de equilíbrio e confiança em sua atuação docente.

Sobre a carga horária semanal na função docente os resultados apontam que tanto professores Imigrantes digitais como os Nativos, em sua maioria, dedicam entre 31 e 40 horas de sua semana à ação profissional. Assim, dos professores Imigrantes digitais, 26,66% (n = 4) possuem a carga horária de 21 e 30 horas, 53,33% (n = 8) entre 31 e 40 horas e, 20% (n = 3) acima de 41 horas. No caso dos professores Nativos digitais, 5,88% (n = 1) responderam que entre 21 e 30 horas da semana são dedicadas ao trabalho docente, enquanto 53,33% (n = 13) entre 31 e 40 horas, e 17,64% (n = 3) dos questionados apontaram trabalhar acima de 41 horas por semana como professores. Informamos que alguns professores possuem acúmulo de cargo com outras instituições de ensino, e em grande parte, os professores que apresentaram maior tempo semanal na função docente também são professores efetivos na rede estadual de ensino.

Dimensão 2: Atitude docente frente as NTIC.

Baseado no estudo original de Paiva (2002), neste trecho do diagnóstico sobre a apropriação das NTIC no contexto educativo, observamos a atitude dos professores frente as novas tecnologias por meio de dezoito afirmações instituídas. Os quadros abaixo representam as afirmações de acordo nas atitudes positivas e negativas dos indivíduos investigados.

Quadro 1. Atitudes positivas perante as NTIC. Fonte: adaptado de Paiva (2002).

Quadro 2. Atitudes negativas perante as NTIC. Fonte: adaptado de Paiva (2002).

Bush (2004), Ince (et. al, 2006), Tearle e Golder (2008), dentre outros estudos internacionais, enfatizam que professores devem manifestar o desejo de aplicar a tecnologia em busca de sua integração à proposta curricular. Sob esta ótica as atitudes dos professores frente as NTIC podem exercer um relevante papel na sua utilização.

A tabela 1 apresenta as frequências e porcentagens em relação as dezoito afirmações aplicadas aos professores pesquisados:

Atitudes positivas:Apresentamos a seguir um traço diagnóstico

frente as atitudes positivas dos professores Imigrantes Digitais e dos professores Nativos Digitais com relação ao uso das NTIC na prática educativa:

!100% dos professores das duas categorias declaram que as NTIC ajudam a encontrar mais

Atitudes positivas A Gostaria de saber mais a respeito das NTIC. C As NTIC ajudam-me a encontrar mais e melhor informação para a minha prática letiva. D Ao utilizar as NTIC nas minhas aulas torno-as mais atraentes para os alunos. F Manuseio a informação muito melhor porque uso as NTIC. G Acho que as NITC tornam mais fáceis a minha rotina docente. H Penso que as NITC ajudam os meus alunos a adquirir conhecimentos novos e efetivos. K Sinto-me apoiado(a) para usar as NITC. M As NITC encorajam os meus alunos a trabalhar em colaboração. O A minha escola tem uma atitude positiva relativamente ao uso das NITC.

! Ċ╜Ċĵ ŕ śℓ ■ś┼ĂĊ╜ōĂℓ . Os recursos tecnológicos assustam-me!

E Uso as NITC em meu benefício, mas não sei como ensinar os meus alunos por meio destes recursos.

I Nunca recebi formação na área de NITC e desconheço as potencialidades de que disponho.

J O uso das NITC, na sala de aula, exige-me novas competências como professor(a). L Encontro pouca informação na Internet para a minha disciplina. N A minha escola não dispõe de condições para usar o computador em contexto educativo.

P Os meus alunos, em muitos casos, dominam os recursos tecnológicos digitais melhor do que eu.

Q Não me sinto motivado(a) para usar as NITC com os meus alunos. R Não conheço a fundo as vantagens pedagógicas do uso das NITC com os meus alunos.

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e melhor informação para a prática letiva.!100% dos professores das duas categorias

pensam que as NITC ajudam os alunos a adquirir conhecimentos novos e efetivos.

!100% dos Imigrantes Digitais e 94,11% dos Nativos digitais gostariam de saber mais a respeito das NTIC.

!100% dos Imigrantes Digitais e 94,11% dos Nativos digitais alegam que sua escola tem uma atitude positiva relativamente ao uso das NITC.

!100% dos Imigrantes e 88,23% Nativos Digitais acham que as NITC tornam mais fácil a rotina docente.

!93,33% dos Imigrantes Digitais e 94,11% dos Nativos Digitais se sentem apoiados para usar as NITC.

!86,66% dos Imigrantes Digitais e 88,23% dos Nativos Digitais afirmam que ao utilizar as NTIC nas aulas as tornam mais atraentes para os alunos.

!86,66% dos Imigrantes Digitais e 76,47% dos Nativos Digitais creem que conseguem manusear a informação muito melhor com o uso das NTIC.

!86,66% dos Imigrantes Digitais e 76,47% dos Nativos Digitais dizem que as NITC encora jam os a lunos a t rabalhar em colaboração.

Observamos a partir da análise dos resultados obtidos que em geral os professores manifestaram atitudes positivas com relação as NTIC, e de acordo com os valores percentuais encontrados vemos que os professores Imigrantes Digitais, na maior parte das respostas, apresentam maior índice de atitude positiva face às afirmações estabelecidas.

Atitudes negativasSobre as afirmações que expressam atitudes

negativas sobre o uso das NTIC pelos professores Imigrantes Digitais e professores Nativos Digitais constatamos os seguintes resultados:

!100% dos Imigrantes Digitais e 88,23% dos Nativos Digitais afirmam que o uso das NITC na sala de aula exige novas competências como professor.

!66,66% dos Imigrantes Digitais e 35,29% dos Nativos Digitais assumem que seus alunos têm mais domínio dos recursos tecnológicos digitais que eles próprios.

!6,66% dos Imigrantes Digitais e 5,88% dos Nativos Digitais declaram não conhecer a fundo as vantagens pedagógicas do uso das NITC com seus alunos.

!6,66% dos Imigrantes Digitais dizem encontrar pouca informação na Internet que possa contribuir para a disciplina que ministra.

!6,66% dos Imigrantes Digitais dizem não se sentirem motivados para usar as NITC com seus alunos.

!5,88% dos Nativos Digitais declaram que os recursos tecnológicos os assustam.

!5,88% dos Nativos Digitais dizem nunca recebido formação na área de NITC e desconhecem as potencialidades de que

dispõem.Os valores apresentados não apresentam

índices estatísticos relevantes para comprovar atitudes negativas frente a relação NTIC e prática educativa nas duas categorias de professores. A afirmativa que demonstrou maior valor percentual, ao ser interpretada, pode expressar uma visão positiva dos professores ao declararem que o uso das NITC na sala de aula exige novas competências como professor.

Frente aos resultados coletados e dentro de uma perspectiva educacional que venha ao encontro às exigências que os educandos nascidos na Era da Informação compreendemos que o diálogo estabelecido entre o acesso a informação e a própria interpretação da informação, passando pelo sentido dado a ela, apresenta-se como uma outra demanda educacional contemporânea. Pelo fato de os Nativos Digitais possuírem maior capacidade de leitura do hipertexto, isto é: imagens, vídeos, sons, não significa necessariamente que estes indivíduos detém a capacidade de interpreta-lo a ponto de trazer condições para que este realize uma leitura crítica do mundo. Segundo Freire (2011, p. 68-69):

Em que medida a nova cultura, que tem à sua disposição meios eletrônicos de comunicação, não exigiria, por sua vez, um trabalho de “alfabetização” já não apenas centrado na palavra, na realidade impressa a ser lida e a ser escrita, mas numa alfabetização que significasse a assimilação e o domínio progressivo, pelo indivíduo [...] Uma nova linguagem que não a escrita poderia ajudar enormemente, do ponto de vista técnico, ao que eu chamo “leitura do mundo” e, portanto, “leitura da realidade”, não necessariamente através da palavra escrita. Não vejo nisso antagonismo nenhum.

A necessidade de uma “nova alfabetização” remete ao emprego de ações comunicativas legítimas entre professor e educando. Não se trata de uma alfabetização para saber interpretar uma imagem, ou um hipertexto, pura e simplesmente, e sim a criação de mecanismos que explorem a observação de novas fontes de registro de informação que vá além da superficialidade. Para tanto, ao refletirmos sobre a ação comunicativa do professor frente ao desafio de ensinar o aluno a interpretar o mundo de forma crítica, por meio de toda informação disponível e da qual este tem acesso, pensamentos também nas competências que colocam em prática todas as funções da linguagem, com o estabelecimento de relações interpessoais e de expressão de experiências subjetivas (HABERMAS, 2012) com vistas em acordo de significação que tendam a construção de saberes de forma fidedigna. Esta ação que potencializa uma aproximação da construção conhecimento, entre Imigrantes e Nativos Digitais, deve obrigatoriamente perpassar em relações interpessoais não hierárquicas tanto entre educador e educando, quanto nas relações estabelecidas com os recursos tecnológicos.

Com base nas reflexões podemos afirmar que não há máquina capaz de substituir o professor. A superação dos paradigmas relacionados as diferentes gerações na escola é fundada na leitura sobre dos desafios apresentados na própria formação dos atores que culminem na mudança da

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postura do professor, e nesta perspectiva o diálogo é a ferramenta mais preciosa. Uma simples mudança de tecnologia, para um mesmo conteúdo modifica-o, essa é uma das razões pelas quais não se pode substituir o professor por recursos tecnológicos. Outra razão para que isso não ocorra é que as novas tecnologias favorecem apenas a distribuição da informação, já o professor transmite condições de um saber (FREIRE, 2011). Neste sentido, o saber significa apropriação, a adequação em uma forma, sua estruturação, ou seja, a verdadeira mediação reside aí.

CONSIDERAÇÕES FINAISCom base nos resultados concluímos que a

compreensão sobre as demandas educacionais contemporâneas e a necessidade de se aliar as NTIC e o ensino da Educação Física por parte dos professores de Educação Física pesquisados tem se manifestado de forma positiva, sem diferença significativa de opiniões entre as distintas gerações investigadas. Tal perspectiva corrobora para o aprimoramento das práticas pedagógicas aplicadas ao ensino da Educação Física na escola, atendendo as demandas dos educandos nativos da Era da Informação e assíduos frequentadores do mundo digital.

Cabe ressaltar que de modo algum afirmamos que as NTIC devem substituir a prática da Educação Física ou modifica-la completamente, ou seja, descaracterizando-a. Vemos que os recursos da nova tecnologia podem contribuir para diminuição do sentido quase generalizado de “prática pela prática” que ainda vigora no contexto escolar, sendo relevante o desenvo l v ido dos con teúdos de fo rma contextualizada, problematizada e significativa. Deste modo, a integração das NTIC nos processos educativos da Educação Física na escola deve ser realizada de forma equilibrada, fruto da reflexão conjunta de educadores e educandos.

Neste sentido, as NTIC aplicadas ao componente curricular Educação Física podem favorecer uma mudança metodológica não exclusivamente no que se refere aos conhecimentos específicos da área, do planejamento das ações didáticas e condução pedagógica das aulas pelo do docente, senão, que também pode aumentar as possibilidades de realizar um aula mais participativa e ativa pelos dos educandos. Este novo contexto educativo e social necessita ser analisado e refletido pelo educador moderno, que dentro de uma vertente dialógica deve empreender práticas que venham ao encontro das demandas educacionais dos “novos alunos”, e por consequência, aperfeiçoe os processos de ensino e aprendizagem da Educação Física escolar.

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ASSOCIAÇÕES ENTRE HABILIDADE MOTORA GROSSA E DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM: RESULTADOS PRELIMINARES.

1,2 1 1 3Leonardo Trevisan Costa ; Anderson Bençal Indalécio ; Danilo Assis de Souza ; José Irineu Gorla

1 2Centro Universitário de Votuporanga, UNIFEV. Grupo de Pesquisa em Educação PARFOR - UNIFEV. 3Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP.

RESUMO

Recentemente, ressurgiu o debate referente à relação entre coordenação motora, composição corporal, atividade física e rendimento acadêmico. Em relação à associação entre coordenação motora e rendimento acadêmico, a literatura tem demonstrado que capacidades motoras bem desenvolvidas facilitam o funcionamento cognitivo de crianças. Entretanto, são escassas as investigações sobre esta temática em crianças brasileiras. Neste contexto, compreender as relações entre estas variáveis poderá fornecer informações úteis para implementação de programas de intervenção. Com isso, o objetivo deste estudo foi analisar as associações entre habilidade motora grossa e dificuldade de aprendizagem em escolares da rede regular do município de Votuporanga - SP. Para tanto, a amostra foi composta por 278 crianças de ambos os sexos, com idade média de 7,57±1,2 anos. Os avaliados foram divididos em dois grupos: o grupo controle (n=217) e o grupo experimento (n=61), composto por escolares com dificuldade de aprendizagem. Foram mensuradas medidas antropométricas de peso e estatura, para o cálculo do IMC, além da circunferência abdominal. Para as habilidades motoras, foi adotada a bateria de Teste de Coordenação Corporal para Crianças (Körperkoordination Test für Kinder – KTK). Para as análises estatísticas, recorreu-se primeiramente a informações descritivas. Posteriormente, foi utilizado o teste t para amostras independentes para comparação entre os grupos. Os resultados demonstraram diferença significativa de rendimento nas habilidades motoras grossas entre os dois grupos, sendo que, os escolares do grupo experimento apresentaram menores valores para todas as tarefas motoras avaliadas, resultando em menor quociente motor. Com isso, conclui-se que existe uma relação negativa entre habilidades motoras grossas e dificuldade de aprendizagem. Palavras-chave: Habilidade motora. Transtornos de aprendizagem. Desempenho psicomotor.

ABSTRACT

IRecently, there was resurged debate concerning the relationship between motor coordination, body composition, physical activity and academic performance. Referent the association between motor coordination and academic performance, the literature has shown that well-developed motor skills facilitate the cognitive functioning of children. However, research about this theme in Brazilian children are scarce. In this context, understanding the relationships between these variables may provide useful information for implementation of intervention programs. Thus, the aim of this study was to analyze the associations between gross motor skills and learning difficulties in the regular school city in Votuporanga - SP. Thereat, the sample consisted of 278 children of both sexes, mean age 7.57 ± 1.2 years. The subjetcs were divided into two groups: control group (n = 217) and the experimental group (n = 61), composed of students with learning difficulties. Anthropometric measurements of weight and height to calculate BMI were measured, in addition to abdominal circumference. To motor skills, the battery Body Coordination Test for Children (Test für Kinder Körperkoordination - KTK) was adopted. For statistical analyzes, we used the first descriptive information. Subsequently, the t test for independent samples for comparison between groups was used. The results demonstrated significant differences in gross motor skills between the two groups, and the school of the experimental group had lower values for all evaluated motor tasks, resulting in lower motor quotient. Thus, it is concluded that there is a negative relationship between gross motor skills and learning dificulty. Keywords: Motor skills. Learning Disorders. Psychomotor Performance.

INTRODUÇÃO

Habilidade motora é uma ação que exige movimentos voluntários do corpo e/ou dos membros para atingir o objetivo (MAGILL, 2000). Para Gallahue e Ozmun (2005), habilidade motora é um padrão de movimento fundamental realizado com precisão, exatidão e controle. Por conseguinte, habilidade representa a coleção de “equipamento” que uma pessoa tem ao seu dispor, determinando se uma tarefa motora pode ser bem ou mal desempenhada (SCMIDT, 1991; LOPES, LOPES, SANTOS et al., 2011).

Baseada em uma única dimensão, as habilidades motoras podem ser classificadas em: habilidades motoras grossas, finas, discretas, seriadas, contínuas, fechadas ou abertas (MAGIL, 2000). De acordo com a mesma autora, habilidades motoras grossas utilizam grandes grupos musculares

para produzir ações e requerem menor precisão quando comparadas às habilidades motoras finas.

De acordo com Gorla, Rodrigues, Brunieira et al. (2000), existem diferentes métodos para identificar e avaliar o desempenho coordenativo de crianças e adolescentes, entre os mais utilizados, destacam-se: o Movement Assessment Battery for Children (M-ABC), o Teste de Proficiência Motora Bruininks-Oseretsky, o Developmental Test of Visual-Motor Integration (VMI) e o Teste de Coordenação Corporal para Crianças (Körperkoordinations Test Für Kinder - KTK).

Dentre os testes citados, o que se concentra, principalmente, na habilidade motora grossa de crianças e adolescentes com desenvolvimento típico, bem como para crianças com distúrbios é o KTK, desenvolvido por Kiphard e Schilling em 1974 (VANDORPE et al., 2011), trata-se da versão

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r e s u m i d a d o t e s t e H a m m - M a n b u r g e r Körperkoordination Test für Kinder de Kiphard e Schilling (1974), e avalia a coordenação corporal grossa e coordenação motora, envolvendo, sobretudo, tarefas de equilíbrio dinâmico. Abrange a faixa etária de 5 a 14 anos, sendo necessários, aproximadamente, 20 minutos para avaliação de um sujeito (COOLS, MARTELAER, SAMAEY, 2009).

Recentemente, ressurgiu o debate referente à relação entre habilidades motoras, composição corporal, atividade física e rendimento acadêmico, baseado no decréscimo dos níveis de atividade física, aptidão física, habilidade motora e aumento da pressão de escolas e parentes para aumento do desempenho cognitivo dos escolares (LOPES, SANTOS, PEREIRA et al., 2013).

Em relação à associação entre habilidades motoras e rendimento acadêmico, a literatura tem demonstrado que capacidades motoras bem desenvolvidas facilitam o funcionamento cognitivo de crianças (PIEK, DAWSON, SMITH et al., 2008; WESTENDORP, HOUWEN, SMITH et al., 2011).

Entretanto, estudos nacionais que abordam associação entre coordenação motora, composição corporal, atividade física e rendimento acadêmico de crianças brasileiras são escassos. Neste contexto, compreender as relações entre estas variáveis poderá fo rnece r in fo rmações ú te i s pa ra implementação de programas de intervenção. Com isso, o objetivo do presente estudo foi analisar as relações entre dificuldade de aprendizagem e habilidades motoras grossas de escolares.

METODOLOGIAEsta pesquisa caracteriza-se como descritiva e

delineamento transversal (THOMAS, NELSON, SILVERMAN, 2007).

A amostra foi composta de escolares matriculados na rede regular de ensino fundamental do Município de Votuporanga – SP, com idade entre 6 e 10 anos, de ambos os sexos. Os avaliados foram divididos em dois grupos: grupo experimento, composto por escolares que realizavam reforço escolar e; o grupo controle, compreendido por escolares que não participavam do reforço escolar.

O estudo obedeceu às diretrizes e normas que regulamentam a pesquisa com seres humanos (lei 196/96) e um termo de consentimento livre e esclarecido foi apresentado aos responsáveis legais autorizando a participação no estudo.

Protocolos utilizadosPara as medidas de massa corporal foi

utilizada uma balança antropométrica (Welmy ®), com precisão de 100 gramas. Os avaliados foram pesados utilizando a mínima roupa possível não se descontando o peso das peças do vestuário, com o sujeito em postura ereta e eixo do olhar no sentido horizontal.

A estatura foi medida com o auxílio de um estadiômetro portátil (Welmy®), com escala de precisão de 0,1cm, onde um cursor determinou a estatura do avaliado. O avaliado foi medido com as mesmas vestimentas utilizadas na pesagem, em posição ereta, olhar no sentido horizontal, com os membros superiores pendentes ao longo do corpo, os

calcanhares juntos, as nádegas, o tronco e a cabeça encostados no plano vertical do estadiômetro.

Para classificar os sujeitos em relação à composição corporal, recorreu-se aos valores de referência para Índice de Massa Corporal determinados pela Organização Mundial da Saúde (2007), específicos para crianças e adolescentes de acordo com sexo e idade cronológica, construído a partir de dados de diferentes países, inclusive o Brasil.

Em relação à coordenação motora, foi utilizada a bateria de Teste de Coordenação Corporal para Crianças (Körperkoordination Test für Kinder – KTK) proposto por Kiphard e Schilling (1974).

O teste consistiu na realização de quatro tarefas motoras: equilíbrio em marcha à retaguarda, saltos monopedais, saltos laterais e transferência lateral. O KTK envolve todos os aspectos característicos de um estado de coordenação motora, que tem como componentes o equilíbrio, o ritmo, a lateralidade, a velocidade e a agilidade (GORLA, ARAÚJO, RODRIGUES, 2009).

Tarefa 1 - Trave de Equilíbrio: O avaliado realiza três tentativas de caminhar de costas sobre cada trave de diferentes larguras (6 cm, 4,5 cm, 3 cm) sem tocar o chão. Se o indivíduo tocasse o chão, o mesmo voltava para a plataforma no início e realizava a próxima tentativa. Pontuação: Cada passo que o sujeito realizava na trave equivaleu-se a 1 ponto. Foi contabilizado o número de passos até que o avaliado tocasse o solo ou atingisse oito passos (oito pontos).

Tarefa 02 - Salto Monopedal: Consistiu em saltar um ou mais blocos de espuma com 5 cm de espessura colocados uns sobre os outros, com uma das pernas. Foi contabilizada a quantidade de blocos de espuma saltados em cm. Por exemplo: se o avaliado saltasse 3 blocos, sua pontuação seria de 15 pontos.

Tarefa 03 - Salto Lateral: O avaliado saltita de um lado para o outro em uma plataforma de madeira (60cm de comprimento por 50cm de largura) com um sarrafo divisório ao meio, com os dois pés ao mesmo tempo, o mais rápido possível, durante 15 segundos. No total, foram executadas duas tentativas válidas, contabilizando a quantidade de saltos realizados pelo sujeito.

Tarefa 04 - Transferência lateral: Constitui em deslocar-se sobre plataformas de madeira (25 cm de comprimento por 25 cm de largura e 5 cm de altura) devidamente colocadas uma ao lado da outra sobre a qual o indivíduo se encontra. Foram duas tentativas com duração de 20 segundos cada, sendo contabilizada a quantidade de deslocamentos realizados durante os 20 segundos.

Posteriormente recorreu-se as normas para idade cronológica na forma de valores do Quociente Motor Geral para classificar a habilidade motora grossa em: coordenação mui to boa, boa coordenação, normal, perturbação na coordenação ou insuficiência na coordenação (GORLA et al., 2009).

Análises estatísticasInicialmente, recorreram-se as análises

descritivas de frequência e tendência central (valores médios, mínimos e máximos) e dispersão (desvio

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padrão). Posteriormente, adotou-se o teste t para amostras independentes com o intuito de comparar os resultados entre dois grupos. Para todas as análises foi adotado nível de significância menor que 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÕESForam avaliados 278 escolares com idade

média de 7,57±1,26 anos de uma escola pertencente à rede regular de ensino do município de Votuporanga – SP. Destes, 61 participavam de reforço escolar e foram classificados para o grupo experimento (idade média: 7,69±1,2), e 217 para o grupo controle, devido não realizarem reforço (idade média: 7,54±1,27). Não foram encontradas diferenças estatísticas de faixa etária entre os dois grupos.

A distribuição da amostra de acordo com o nível de escolaridade é demonstrada na tabela 1.

Tabela 1. Distribuição da frequência dos avaliados de acordo com a turma escolar.

Na tabela 2 é apresentado o perf i l antropométrico (estatura, peso corporal, IMC e circunferência abdominal) da amostra avaliada dividida em dois grupos: grupo experimento, composto por escolares que participavam de reforço escolar; e o grupo controle, composto por alunos que não realizavam de reforço escolar.

Tabela 2. Comparação dos valores médios e desvio padrão atingidos pelo grupo experimento e grupo controle nas variáveis antropométricas.

Observa-se que não há diferença estatística entre os dois grupos, demonstrando homogeneidade da amostra avaliada, reduzindo a interferência destas variáveis na comparação do desempenho das habilidades motoras.

Isso se torna relevante, pois diversos autores afirmam a existência de associações negativas entre parâmetros antropométricos e habilidades motoras. Em um estudo de Portugal, Lopes, Stodden, Bianchi et al . (2012) anal isaram a associação entre coordenação motora e IMC de 7,175 crianças e adolescentes de 6 a 14 anos, sendo 3,559 do sexo feminino e 3,616 do masculino. Os dados deste estudo foram combinados de diversos projetos conduzidos em quatro regiões portuguesas (Ilha dos Azores, Ilha da Madeira, região central e nordeste da área continental) entre o período de 2003 a 2009. Quando analisada a associação entre IMC e coordenação motora, foram observadas correlações negativas em todas as idades, variando de -0,05 a -0,49, demonstrando que maiores índices de habilidades motoras se relacionam com menores valores de IMC para ambos os sexos.

D'Hondt, Deforche, Vaeyens et al. (2011), investigaram possíveis diferenças nas habilidades motoras de crianças e adolescentes com peso normal, sobrepeso e obesidade. Para tanto, os autores avaliaram a habilidade motora grossa e o IMC de 500 meninas e 454 meninos de 5 a 12 anos matriculados

em instituições de ensino da Bélgica. Inicialmente, os autores analisaram as tarefas da bateria de teste KTK isoladamente, verificou-se que o grupo com peso normal atingiu estatisticamente maiores valores nas habilidades motoras específicas quando comparado aos sobrepesados e obesos. Posteriormente, ao analisar o quociente motor e sua relação com IMC, os autores relatam que houve uma relação inversa entre IMC e coordenação motora grossa. Ao classificar a coordenação motora da amostra, verificou-se que 18,9% do grupo com peso normal possuíam distúrbio moderado de coordenação motora, já o grupo com sobrepeso, 43,3% e obesos 70,8%.

Entretanto, na tabela 3, quando comparados os valores médios de habilidades motoras entre os grupos, nota-se que o grupo experimento atingiu menores valores com diferença estatística em todas as tarefas motoras: trave de equilíbrio (GE: 25,54±14,6; GC: 31,21±15,5), saltos monopedais (GE: 28,56±17,3; GC: 34,23±14,9), saltos laterais (GE: 37,92±12,8; GC: 42,35±12,7) e transferência lateral (GE: 24,08±6,5; GC: 27,95±6,0). Quando analisada o quociente motor, que representa a coordenação corporal, também ocorreu diferença estatística entre escolares participantes de reforço e alunos típicos, sendo que, o grupo experimento obteve resultados menores do que o grupo controle (GE: 99,72±13,8; GC: 107,39±11,4).

Estes achados sugerem uma associação negativa entre dificuldade de aprendizagem e habilidades motoras grossas, estando de acordo com a literatura.

Tabela 3. Comparação dos valores médios e desvio padrão atingidos pelo grupo experimento e grupo controle nas variáveis motoras.

Lopes, Santos, Pereira et al. (2013), avaliaram a associação entre coordenação motora e rendimento acadêmico de 596 crianças portuguesas de ambos os sexos, com idade de 9 a 12 anos. Foi adotado o teste KTK para mensurar a coordenação motora e o Exame Nacional de Português e Matemática de Portugal para avaliar o rendimento acadêmico. Os resultados demonstraram que crianças de ambos os sexos com baixa habilidade motora possuem maior probabilidade de atingirem baixo rendimento acadêmico. Este achado salienta a importância para a identificação precoce de distúrbios motores para a implementação de atividades que irão auxiliar o desenvolvimento motor, e, consequentemente, o rendimento acadêmico.

De acordo com os mesmos autores, melhores valores de habilidades motoras podem resultar em melhor estado de saúde (melhor nutrição, estilo de vida ativo e peso corporal adequado), que pode contribuir positivamente para aquisição de habilidades acadêmicas.

Asonitou, Koutsouki, Charitou (2010) avaliaram 42 escolares com idade média de 5 anos. A amostra foi dividida em dois grupos: grupo experimental, composto por 13 meninos e 11 meninas diagnost icados com dis túrbio do

1 ano 2 ano 3 ano 4 ano 5 ano Total

56 73 40 68 41 278

GE (n=61) GC (n=217) p

Estatura 131,18±10,1 129,33±9,0 0,169 Peso corporal 31,23±11,5 29,63±8,0 0,218

Índice de Massa Corporal 17,83±4,0 17,60±3,19 0,637 Circunferência abdominal 63,41±12,1 62,21±9,1 0,405

GE (n=61) GC (n=217) p

Trave de Equilíbrio 25,54±14,6 31,21±15,5 0,012 Salto Monopedal 28,56±17,3 34,23±14,9 0,012

Salto Lateral 37,92±12,8 42,35±12,7 0,017 Transferência Lateral 24,08±6,5 27,95±6,0 0,001

Quociente Motor 99,72±13,8 107,39±11,4 0,001

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desenvolvimento da coordenação e, o grupo controle, composto por 15 meninos e 03 meninas. Para a avaliação cognitiva, adotou-se o Sistema de Avaliação Cognitiva proposto por Naglieri e Das (1997), o qual prediz o desempenho acadêmico de crianças baseado em três domínios cognitivos: escala de planejamento, escala de atenção, escala de codificação simultânea. Através das análises dos resultados, os autores afirmam que o grupo experimental atingiu menores valores em todas as tarefas motoras e cognitivas quando comparado ao grupo controle. Os resultados dos valores discriminantes demonstraram que os dois grupos poderiam ser separados de acordo com o desempenho nas seguintes variáveis: desempenho de destreza manual, habilidades com bola, equilíbrio estático e dinâmico, corrida, planejamento, codificação simultânea e atenção. Com isso, os autores concluem que os distúrbios motores estão associados com déficits de planejamento, atenção e codificação simultânea, o que pode resultar em uma dificuldade de aprendizagem. Por fim, os autores sugerem a implementação de programas de intervenções com foco na abordagem cognitiva em conjunto com o desenvolvimento ou aprimoramento de habilidades motoras, que iria facilitar ou contribuir para a melhora do rendimento acadêmico dos alunos.

Através de um estudo de revisão, Strong, Malina, Blimkie et al., (2005) afirmam que o acréscimo de educação física no currículo escolar gera ligeiros ganhos no rendimento acadêmico e que, mesmo alocando mais tempo para a disciplina de educação física, isso não afeta negativamente a performance acadêmica. Observaram, ainda, uma relação positiva entre rendimento acadêmico, concentração, memória e comportamento da turma com a atividade física e aptidão física. Com isso, os autores sugerem a existência de efeitos positivos da atividade física no rendimento acadêmico de escolares.

CONSIDERAÇÕES FINAISDe acordo com o exposto, pode-se concluir

que escolares que apresentam dificuldade de aprendizagem também atingem menores valores de habilidades motoras grossas quando comparados a alunos típicos.

Como fatores limitantes, destacam-se o delineamento transversal, tamanho amostral e a metodologia adotada para classificar o grupo com dificuldade de aprendizagem.

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Leonardo Trevisan CostaRua Rio Grande, n.221115502-130, Chácara das PaineirasVotuporanga – [email protected](17)98138-1343

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FORMAÇÃO DE ATLETAS: UMA ANÁLISE SOBRE ANSIEDADE E A INTERFERÊNCIA DOS PAIS

Renato Henrique Verzani, André Aroni, Luis Fernando Gonçalves, Guilherme Bagni, Kauan Galvão Morão, Afonso Antonio Machado | LESPESPE – UNESP Rio Claro

RESUMO

Introdução. O futebol é uma modalidade esportiva que vem evoluindo nos últimos anos, exigindo novas atenções por parte dos profissionais envolvidos. A literatura em geral aponta para a possibilidade da ansiedade e a interferência dos pais prejudicarem o rendimento de atletas durante o período competitivo.Objetivo. Analisar os níveis de ansiedade traço e estado em jogadores de futebol e a interferência dos pais durante a Copa São Paulo de Futebol Junior. Procedimentos. Foi utilizado o questionário fechado IDATE em uma amostra de 137 atletas, durante a fase competitiva. Resultados. Na média das equipes, os níveis de ansiedade foram considerados adequados de acordo com a literatura, porém alguns itens mereceram destaque na análise. Quanto aos pais, alguns itens também demonstraram que os mesmos depositam certa pressão sobre os atletas, o que pode vir a ser um problema para os mesmos. Conclusão. Os temas analisados neste trabalho podem acarretar em prejuízos ao rendimento de atletas nas competições, sendo que os treinadores devem estar sempre atentos e estas e outras questões para possuírem chances de bons resultadosPalavras-chave: Desenvolvimento humano e tecnologias; Estados emocionais; psicologia do esporte.

ABSTRACT

Introduction. Soccer is a sport that has been evolving in recent years, requiring new attention from the professionals involved. The literature generally points to the possibility of anxiety and parental interference impairing the performance of athletes during the competitive period. Objectives. Analyze the levels of trait and state anxiety in soccer players and parental interference during the Copa São Paulo de Futebol Junior. Procedures. The closed questionnaire IDATE was used in a sample of 137 athletes during the competitive phase. Results. On average teams, anxiety levels were considered adequate according to the literature, but some items were highlighted in the analysis. As the parents, some items have also demonstrated that they deposit some pressure on the athletes, which might be a problem for them. Conclusion. The subjects discussed in this study may result in loss of income from athletes in competitions, and coaches should be alert and these and other issues likely to possess good results.

INTRODUÇÃOO futebol, como modalidade esportiva, cada

vez se destaca mais no contexto mundial através do aumento de praticantes e visibilidade através das mídias e meios de comunicação. Esta modalidade propicia aos praticantes uma interação social através da prática que é realizada por pessoas de diferentes culturas. Através da aprendizagem da modalidade, aliada as regras, existe a possibilidade de contribuir com a formação da conduta dos atletas e contribuir com o crescimento dos mesmos.

Com o passar dos anos, o futebol tem evoluído cada vez mais em busca de uma competitividade cada vez maior, que possibilite desta forma jogos mais atraentes ao público. Acompanhando esta evolução, a preparação de atletas deve contribuir para o desenvolvimento dos atletas levando em consideração diversos aspectos, como físicos, técnicos, táticos, psicológicos, nutricionais, dentre outros. Desta forma, a formação de atletas realmente vai corresponder com as necessidades impostas pela evolução desta modalidade.

Bertuol e Valentini (2006) afirmaram que a ansiedade (em especial a chamada de pré-competitiva) pode contribuir para alterações de rendimento dos atletas, influenciando inclusive no comportamento dos mesmos, fato este que deve ter uma atenção por parte dos profissionais envolvidos com o ambiente de formação destes atletas.

A prática esportiva em uma modalidade como o futebol, de acordo com Silva e Sponda (2009), pode levar a emoções e sentimentos diretamente relacionados com esta, como por exemplo a ansiedade, o medo, o estresse, etc. Este fato tem

relação com características do próprio atleta e demandas da competição, como o nível de importância da mesma.

Diversos fatores podem contribuir com alterações nos níveis de ansiedade, como por exemplo a influência de fatores como a torcida e a interferência dos pais. Segundo Machado (1997), a ansiedade é um fator psicológico que tem o potencial de provocar interferências no desempenho esportivo, visto que ela seria uma resposta do ponto de vista emocional do atleta a alguma situação que possa vir a ser ameaçadora, frustrante, desagradável, ou mesmo algo que a realização não seja de responsabilidade única da própria pessoa.

Esta resposta emocional, ainda de acordo com este autor, pode ocorrer antes, durante e até após as situações a que o individuo está exposto. Temos então que si tuações t idas como estressantes ou tensionantes, podem acarretar em medo de algo futuro, como o resultado de uma partida ou mesmo o desempenho em uma competição.

Segundo Weinberg e Gould (2001), este estado emocional é considerado negativo e tem relação com sentimentos como apreensão, nervosismo, preocupação e está ligado com a agitação e ativação do corpo. Existe uma divisão dentro deste estado, conhecida como ansiedade traço e ansiedade estado. Além desta, temos também a ansiedade cognitiva (pensamento) e ansiedade somática (ativação física percebida).

Já com relação ao traço e estado, temos que a primeira tem relação com a personalidade do indivíduo, representando certa tendência de comportamentos. Neste sentido, muitas vezes há

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uma tendência de compreender como perigosas circunstâncias que nem sempre são avaliadas como tal. Já com relação ao estado, temos que está em constante variação. Esta tem relação com as situações a que o atleta está envolvido naquele momento.

Através das contribuições de Brandão (2000), temos que os jogadores devem ser preparados para que possam enfrentar diversas demandas dentro do esporte de alto rendimento, visto que ocorrem muitas pressões que podem gerar, por exemplo, incertezas que prejudiquem o desempenho dos mesmos durante uma competição.

A literatura aponta para hipóteses que envolvem os níveis de ansiedade desejados para que um atleta possa ter um bom desempenho, sendo que uma delas é a do U invertido, que faz uma relação entre desempenho e ativação. Nesta, quando há níveis muito altos ou muito baixos de ativação, o desempenho tem uma tendência a diminuir, sendo que quando os níveis são medianos, possivelmente o desempenho seria mais próximo do considerado adequado.

Levando em consideração as questões que envolvem a ansiedade cognitiva e somática, Fleury (2005) aponta que no momento pré-competitivo, este estado emocional será alterado devido ao nervosismo e a preocupação, que surgem através dos pensamentos (cognitivo) ou por reações fisiológicas (somática).

Diversos fatores que envolvem os momentos anteriores a competição, de acordo com Weineck (2005), caso comecem a interferir de modo antecipado sobre o individuo, podem levar a decréscimos de rendimento devido a dificuldades em dormir ou mesmo devido a tensões que levam a uma fadiga nervosa considerável.

É necessário também destacar que o modo como cada sujeito recebe e interpreta o conjunto de informações a que o mesmo está exposto refletirá em como a ativação e a ansiedade podem se tornar positivas ou negativas dentro de determinado contexto. Isto é, nem sempre as interferências serão negativas, sendo que o atleta pode ser ajudado a compreender diversos tipos de situação e um plano de intervenção pode auxiliar na potencialização das chances de um bom rendimento.

Quando um atleta se encontra com os níveis de ativação muito altos, os prejuízos ao desempenho aparecem em forma de uma grande tensão muscular, que acaba gerando dificuldades de coordenação e também gerando dificuldades de concentração e atenção durante a prática na modalidade, exemplificando assim como é importante ter atenção quanto a estes fatores.

Bocchini (2008) afirma que a ansiedade pode ser considerada como um dos fatores que mais determinam se o atleta conseguirá atingir um desempenho ótimo dentro de uma modalidade, visto que quando o atleta se encontra muito ansioso, para de ter atenção a todos os sinais que seriam necessários, gerado por um “estreitamento” no campo de concentração, o que é prejudicial ao rendimento.

A respeito da idade de atletas e os níveis de ansiedade, foi constatado por Cratty (1983) que existe uma relação entre a idade dos praticantes e os níveis

de ansiedade, uma vez que este autor aponta que os maiores níveis se encontram no final da adolescência (em torno de 20 anos), quando começa a diminuir até os 30 anos. Uma questão que pode explicar este fato é a de que com a participação em competições e enfrentamento de diversas situações, o individuo passa a aprender a lidar com as emoções durante as mesmas.

Levando em consideração os aspectos culturais que estão presentes na modalidade e tem influências sobre os atletas, alguns pontos podem ser destacados. De acordo com o FIESP (2013), 1,9% do PIB brasileiro tinha relação direta com a prática esportiva no ano de 2010, o que representa 72 bilhões de reais. No ano de 2000, o futebol correspondia por 62% de todo movimento financeiro relativo ao PIB. Sendo assim, fica muito clara a importância desta modalidade no contexto nacional e nos faz refletir sobre todas influências que estes dados por gerar nos atletas, principalmente em formação, pois são estes que sofrem com toda a pressão durante a prática, inclusive de pais, dirigentes, patrocinadores e outros envolvidos no processo.

Desta maneira, a competição escolhida para analisar estas influências sobre os atletas foi a Copa São Paulo de Futebol Junior, visto que a mesma a maior competição nacional da modalidade e também conhecida por toda a pressão que as equipes são expostas em um mês de disputa, quando os atletas em sua grande maioria estão lutando pela ultima chance de serem contratados por equipes profissionais e/ou mesmo corresponderem aos investimentos que foram realizados, no caso das grandes equipes.

OBJETIVOSAnalisar os níveis de ansiedade (traço e

estado) em jogadores juniores que participam de competições nacionais de futebol e também avaliar questões que envolvem a influência dos pais nesta prática.

PROCEDIMENTOSAtendendo as normas do CONEP, o

questionário utilizado foi o IDATE, que conta com questões fechadas. Ele foi aplicado antes de partidas da competição. Este instrumento conta com duas folhas de auto-avaliação, sendo que a primeira é destinada a avaliação da ansiedade estado e a segunda folha a ansiedade traço. Nestas folhas, o jogador encontrava uma escala do tipo LIKERT, que variava de 1 a 4. Além disso, foi passada uma terceira folha em que foi analisada também através de questionário a interferência dos pais na prática esportiva. Participaram da amosta 137 atletas, todos inscritos na Copa São Paulo de Futebol Junior, durante a fase de grupos.

RESULTADOS E DISCUSSÃOAtravés da análise dos questionários aplicados

com os atletas, foi encontrada na soma das médias o valor de 42,36. Este valor, de acordo com Cheik (2003), representaria um nível mediano de ansiedade, visto que de acordo com o mesmo, o escore entre 10 e 30 representaria um baixo grau de ansiedade, acompanhado pelos valores de 21 a 49 por um grau mediano e acima de 50 como um nível

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alto de ansiedade. Com isso, quanto a soma das médias, os resultados demonstram que os resultados estão dentro do que a literatura apontou como valores adequados.

Desta forma, agora serão apresentados alguns gráficos com os maiores valores encontrados através dos questionários quanto a itens que correspondem a: ansiedade traço (itens positivos e negativos) e ansiedade estado (itens positivos e negativos). Logo em seguida, o último gráfico apresenta as respostas com relação a interferência dos pais na prática destes atletas.

Este primeiro gráfico apresenta questões relacionadas com a ansiedade traço dos atletas em questão, sendo que são os itens que obtiveram maior destaque dentro das respostas. Observa-se que a felicidade e o sentir-se bem apresentaram maior destaque e são fundamentais para os jogadores, pois mostra que os mesmos estão propíc ios a pensamentos positivos. Riemer (1995) aponta que o fato dos atletas sentirem-se bem pode funcionar como um “termômetro” no que se diz respeito à organização da equipe, indicando que tipo de sentimentos os mesmos tem com relação a mesma.

Além disso, os atletas se consideravam calmos e estáveis, o que caso realmente represente a realidade dos mesmos, é extremamente interessante e pode ser muito benéfico para os mesmos, podendo inclusive apontar para uma auto-confiança, que é fundamental para que os atletas desempenhem seus papéis em uma equipe.

O enfrentamento de problemas é uma questão fundamental e faz parte do cotidiano das equipes esportivas, sendo que existem inclusive estudos sendo realizados quanto ao coping e busca identificar e auxiliar os atletas no modo como os mesmos enfrentam problemas. Quanto ao segundo gráfico, que tem relação com o traço e itens negativos, vemos que o enfrentamento de problemas está relacionado com níveis altos frente as respostas dos atletas, que citam evitar problemas, não conseguir tirar desapontamentos da cabeça, dentre outros fatores. Este fato é importante e precisa de uma grande atenção por parte de quem está ligado com esses atletas, auxiliando-os nestas situações.

Quanto ao coping, há uma busca por estratégias que auxiliem em casos como estes, em que existe um enfrentamento quanto a demandas que podem ser do ambiente ou mesmo internas, podendo ser avaliadas pelo próprio atleta como além dos seus limites e possibilidades. Por isso é

importante ter como certo que é preciso um bom acompanhando com relação a diversos aspectos para colaborar com os atletas e possibilitar um bom desenvolvimento e desempenho.

Já no terceiro gráfico, temos os itens positivos com relação ao estado, visto que os mais altos números encontrados nos resultados mostram que o fato de sentir-se alegre obteve destaque, seguido logo pela confiança. Weinberg e Gould (2001) afirmam que isto é importante para a equipe. Há uma relação da mesma com a motivação, quando o atleta se compromete mais com os objetivos.

Quanto a sentir-se seguro e a vontade, os números sugerem que os ambientes em que os mesmos se encontram podem estar contribuindo para a pratica dos mesmos e favorecendo estes sentimentos, também contribuindo com a confiança dos mesmos e com o fato de que todos os esforços serão levados em consideração dentro daquele contexto. Uma boa preparação também faz com que o atleta apresente maior segurança durante sua prática, melhorando a autoconfiança e diminuindo as chances de valores muito altos de ansiedade.

O quarto gráfico apresenta os itens de maior destaque no que se diz respeito ao IDATE estado, sendo que o resultado que mais chama atenção é o “sinto-me ansioso”, visto que os próprios atletas demonstraram através desta resposta que estavam tendo alterações próprias da ansiedade estado que poderiam desencadear inclusive em um desempenho “desautomatizado”durante a competição, o que seria prejudicial para o mesmo, devido a questões como a tensão da musculatura e problemas de concentração, como foi citado anteriormente (BOCCHINI, 2008).

Quanto aos outros itens em destaque, como estar nervoso, agitado e tenso, exemplificam sentimentos que são comuns em atletas que estão com níveis de ansiedade um pouco alterados, devido a participação na competição, gerando certa impaciência e podendo inclusive alterar o sono do atleta e causar diversos outros incômodos.

Para Lavoura, Zanetti e Machado (2008), as competições que os atletas participam, sejam estas nacionais ou internacionais, podem proporcionar que os mesmos vivenciem emoções que são fundamentais para a carreira esportiva. Além disso, podem também conhecer novos ambientes, atletas e passar a se adaptar a diversos tipos de demandas. Para isso, devem ser devidamente preparados e acompanhados para que esta experiência se torne

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positiva.

A influencia dos pais na atividade esportiva dos filhos está evidenciada no gráfico 5, sendo que de acordo com Uva (2005), é normal que os mesmos interfiram na prática dos filhos, pois estão intimamente relacionados com esta (transporte, mensalidades, materiais esportivos, etc.).

Já Machado (1994) aponta que os pais, devido a sua aproximação afetiva, são os torcedores mais “ácidos” e cobram acima da média, gesticulando e insultando a cada erro. Porém, os pais mais silenciosos seriam mais perigosos, sendo que no ambiente familiar virão todas as cobranças e análises, sendo que os atletas acabam tendo que se defender ou aceitar as criticas frente as argumentações hostis. Nos resultados podemos observar que 46% dos pais sempre demonstram desagrado frente a um mau rendimento.

Além disto, outros resultados como os 46% que fazem planos para a continuidade na modalidade e os 61% que acham muito importante a continuidade dos mesmos no futebol apontam para pais que exercem cobranças, mesmo que disfarçadas, que podem ser prejudiciais aos atletas. Weinberg e Gould (2001) afirmaram que a cobrança excessiva pode ter efeitos negativos, que associada com a cobrança própria do atleta, tende a aumentar os níveis de perfeccionismo, direcionando para uma maior responsabilidade na busca pela vitória. Este é outro fator que pode interferir na ansiedade e provocar prejuízos ao rendimento.

CONCLUSÃOAtravés deste trabalho, foi possível observar

questões referentes a ansiedade e interferência dos pais em atletas juniores, durante uma competição muito importante para esta faixa etária. Foi possível observar que, apesar dos níveis medianos considerados adequados pela literatura, diversos itens obtiveram destaque nas respostas dos atletas e precisam ter um maior nível de atenção por parte dos profissionais envolvidos. É fundamental que todos os aspectos que envolvam a modalidade sejam devidamente trabalhados para que, desta forma, os atletas tenham reais condições de ter uma performance adequada nas competições.

Quanto ao envolvimento dos pais, foram encontrados alguns resultados que também se destacaram e, de acordo com a literatura consultada, podem ter resultados negativos no desempenho dos atletas, demonstrando desta forma que não basta agir apenas sobre o atleta, mas atuar sobre fatores extrínsecos como a interferência dos pais também devem fazer parte das intervenções de uma comissão técnica orientada para o sucesso.

Portanto, a ansiedade e a interferência dos pais podem interferir sobre o rendimento esportivo e todos os profissionais envolvidos com este processo devem estar atentos a todo o tipo de demanda a que os atletas são submetidos, para assim ter uma intervenção adequada e promover um desempenho dentro do planejado através dos treinamentos.

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GEOGRAFIA ESPORTIVA: QUESTÕES RELACIONADAS A EVENTOS ESPORTIVOS

Luis Fernando Gonçalves; Kauan Galvão Morão; Guilherme Bagni; Renato Henrique Verzani; Afonso Antonio Machado

Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte – LEPESPE | Universidade Estadual Paulista UNESP

É bastante compreensível a reação de estranhamento provocada em que se depara pela primeira vez com o “inusitado” casamento entre os esportes e a geografia. Para os geógrafos e demais profissionais que não lidam diretamente com a prática esportiva, os esportes evocam sobretudo questões relacionadas a performance dos atletas, preparação física (...). De fato, nada disso tem relação direta com a dinâmica espacial ou outras questões centrais em geografia. Por outro lado, muitos estudiosos do fenômeno esportivo tendem a ver a geografia como a velha disciplina escolar voltada à memorização entediante dos acidentes físicos e humanos na paisagem, além de outras preocupações pouco estimulantes como intermináveis listas de topônimos, índices pluviométricos, indicadores demográficos, extensas pautas de exportações, etc (MASCARENHAS, 1999, p 48).

RESUMO

As questões relacionadas ao movimento de pessoas em relação a um evento esportivo é uma das questões básicas apresentada nesse trabalho. Onde o pesquisador busca uma interação entre a ciência geográfica com a ciência esportiva. Analisando então um grupo de indivíduos através de uma rede social. As questões foram analisadas através de um grupo situado em uma rede social, sendo que a amostra foi composta através de um questionário e também de um grupo focal. Os dados foram categorizados em uma tabela e posteriormente em formato descritivo. Por fim fica uma especulação sobre as questões sociológicas e geográficas que regem ao redor de um evento esportivo.

ABSTRACT

The issues related to the movement of persons to a sporting event is one of the basic issues presented in this work. Where the researcher seeks an interaction between the geographical science and sports science. Then analyzed a group of individuals through a social network. The questions were analyzed using a group based on a social network, and the sample was composed through a questionnaire and also a focus group. Data were categorized into a table and then in descriptive format. Finally speculation is about the sociological and geographic issues governing around a sporting event.

IntroduçãoÉ crescente os estudos que envolvem os

espaços virtuais no campo acadêmico, pensando nesse aspecto procuramos buscar um entendimento entre os espaços formados por torcedores de um clube de futebol de campo no espaço cyber.

Foram analisados os movimentos que a torcida faz motivadas pelo clube tanto no espaço cyber quanto no espaço social territorial. A especulação existente no trabalho busca passar um paralelo entre o modo de vivencia no espaço virtual com o espaço real, caracterizando esses espaços, e suas formas motivacionais.

Ficam caracterizados também os movimentos existentes no mundo real porém baseados no espaço virtual, que foi a fonte de investigação. Assim, o foco de pesquisa tem por base um grupo de torcedores que tem acesso frequente as redes sociais e que usam desta para fazer uma interação com os demais torcedores.

A mídia e a interação esportivaAs novas mídias surgiram com os avanços

tecnológicos e na sociedade atual são utilizadas de maneira intensa, principalmente por meio da potencialização do uso das redes sociais (destaque para o facebook e twitter). De acordo com o que Rebustini (2012) aponta em seus estudos, pode-se dizer que novas dinâmicas de relacionamentos surgiram devido às redes sociais.

É válido ressaltar que, a priori, somente as regiões mais desenvolvidas do país e as pessoas com elevado poder aquisitivo dominavam o uso desses meios de comunicação, pois não eram todos que possuíam acesso. Entretanto, com o passar do tempo e diversas evoluções, facilitou-se a obtenção de

computadores, notebooks e aparelhos celulares (smartphones) que permitem o acesso às redes sociais em qualquer lugar que você esteja. Com isso, tornou-se inevitável acessar a internet e a maneira instantânea de obtenção, circulação e troca de informações a todo o momento por parte da população, fazendo com que houvesse maior exposição frente ao mundo virtual, resultando na intensificação e incentivo ao uso das novas mídias.

A dependência das novas mídias, nos dias atuais, é tão grande que até novos nomes de gerações foram criados para denominar essas pessoas que nasceram e estão crescendo em meio a tanta tecnologia e elevada velocidade de circulação de informação, é a chamada “geração Y”. Entretanto, engana-se aquele que pensa que somente os jovens estão vinculados e utilizam as redes sociais, pois esse campo acaba atingindo toda a população, rompendo com as barreiras de idade.

É constatado que o público alvo das redes sociais não é específico, pois visa abranger a maior gama de pessoas possível, sendo que atende todas as classes socioeconômicas, culturais e faixas etárias, porém a maior parte dos usuários do facebook se encontra entre a faixa de 18 à 25 anos (29%), sendo que a média de idade dos usuários dessa rede é de 38 anos. Esses dados foram retirados de um site especializado em monitoramento de comunidades online chamado Midiassociais.blog.br (2011).

No âmbito do esporte, a intensificação do uso das redes sociais implicou na aproximação dos torcedores com os atletas, com as equipes, comissão técnica e até mesmo com outros seguidores do mesmo time que estão localizados em outras regiões, resultando em maior facilidade de relacionamento entre fãs de uma equipe de futebol.

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De acordo com os apontamentos realizados por Rebustini (2012) e Machado (2014), no âmbito do esporte, os atletas vêm utilizando cada vez mais as novas mídias com diversos objetivos, sendo possível destacar como principais o intuito de divulgarem e promoverem seus próprios nomes e de suas equipes, aproximação com os torcedores e divulgação das marcas associadas a esses atletas em questão, muitas vezes devendo manter uma conta ativa em determinadas redes sociais devido a um contrato assinado com os patrocinadores. Esse processo ocorre pelo fato da aproximação entre mídia e esporte.

Devido ao surgimento das redes sociais, as dinâmicas padronizadas para a mídia televisiva, jornalística e do rádio sofrem alterações, pois o impacto dessas novas mídias é imediato e instantâneo. As informações postadas nas redes sociais podem variar entre acontecimentos, informações, fatos, mas também pode haver muita banalidade, prejudicando de certa maneira algumas pessoas que possuem acesso a esse meio e os atletas que possuem seus nomes citados de maneira negativa em matérias/notícias e acabam se abalando por conta disso (REBUSTINI et al., 2011).

A utilização massiva das novas mídias faz com que os atletas, clubes, comissão técnica e patrocinadores propaguem as ações que estão realizando, novidades, curiosidades, negociações, transferências, marketing e publicidade, dentre outras atividades que podem incluir brigas, discussões e exposição da privacidade, pois essa última passa a ser de domínio público, sendo c o m p a r t i l h a d a p e l o s s e u s s e g u i d o r e s , posteriormente pelos seguidores de seus seguidores em um processo que pode ser denominado de efeito cascata no ciberespaço (BLASZKA, 2011).

Futebol e o campo urbano social Quando pensamos em movimento esportivo,

ou mesmo em um movimento de pessoas em razão de um evento esportivo, logo vem em nossa cabeça as razões vinculadas ao futebol de campo. Essas questões ficaram explicitas nos jogos de Mundial de Futebol da FIFA 2014. Caracterizado pelo distanciamento das 12 cidades sedes dos jogos no mundial do Brasil.

A amplitude do espaço causado pelo futebol pode vir a fazer uma modificação no espaço urbano local, como citado por Mascarenhas:

São estádios, ginásios, pistas diversas, enfim, um amplo conjunto de equipamentos fixos na paisagem e geralmente de grande porte físico, o que resulta em maior capacidade de permanência. São também objetos de grande visibilidade na paisagem urbana, comparecendo assiduamente no repertório imaginético da sociedade, como por exemplo, nos mapas mentais, aquele que procuram sintetizar a percepção humana em uma cartografia subjetiva, calcada em sentimentos do homem comum diante dos lugares (MASCARENHAS, 1999, p.50).

Quando citada a modalidade esportiva de futebol de campo podemos também especular a questão que o mesmo é modificador não somente de espaço, mas também modificador de relações sociais de características identitárias. São esses pontos

descritos por Santos que ressalta:O espaço não é estático; pelo contrário,

encontra-se em constante processo de modificação e interação com o meio (...) o espaço constitui uma real idade objet iva, um produto social em permanente processo de transformação. O espaço impõe sua própria realidade; por isso a sociedade não pode operar fora dele. Consequentemente, para estudar o espaço, cumpre apreender sua relação com a sociedade, pois é esta que dita a compreensão dos efeitos (SANTOS, 1985. p. 49).

No âmbito geográfico essa questão de interação do homem com o meio acarreta na diversificação cultural, cena também exposta quando analisamos as interações sociais propostas pelas redes sociais conforme descrito em campos anteriores.

Considerando os aspectos esportivos também devemos observar as mudanças na paisagem causada pelo evento esportivo caracterizado pela economia local. Podemos analisar essas questões quando observamos as questões de merchandising considerando as questões que patrocinadores e direitos de imagem que são gerados ao redor do futebol.

JustificativaEm questão a sociedade brasileira, as

questões e interação são provocadas somente pelo contato pessoal, e com o avanço da web 3.0 este contato tem um estreitamento de regiões causado pela interação. Sobre as questões relacionadas ao pós-modernismo sobre o não lugar, não estar e não ser temos o trabalho, onde as barreiras regionais são quebradas em vista as ações em que o homem apresenta em uma rede social.

Fatores como os citados acima são pertinentes à relação social que o homem exerce perante a sociedade, causando a interlocução de fatores de uma sociedade para outra. Causando assim a quebra de fronteiras geográficas em virtude da aceitação do indivíduo as redes sociais, em especial voltado para o sujeito que acompanha os eventos esportivos, demonstrando que pode ocorrer uma interlocução entre a os eventos esportivos e a geografia.

ObjetivosEspecular as interações causadas por

indivíduos em virtude de um evento esportivo, demonstrando que pode de fato ocorrer uma maior interação entre a geográfica urbana cultural e a educação física.�

Metodologia O trabalho atende aos moldes de uma

pesquisa qualitativa descritiva exploratória, buscando uma maior interação entre o pesquisador e os sujeitos propostos. A coleta foi realizada através de uma página com hospedagem no facebook, então no grupo Palmeirenses, grupo este que é fechado e existem normas e regras para a participação, sendo que a principal delas é o fato do usuário ser torcedor da Sociedade Esportiva Palmeiras.

A amostra analisada é composta de 270 torcedores de idades distintas e ambos os sexos, todos esses participantes acompanham a equipe de

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futebol na rede social. De início foi montado um questionário através

da ferramenta disponibilizada pela empresa norte americana Google™. O Google docs. é uma ferramenta de coleta e armazenamento estatístico de dados onde o usuário pode montar qualquer forma de questionário e fazer a aplicação deste mediante a internet. A ferramenta disponibiliza um link sendo que através deste o indagado tem acesso ao questionamento e o responde virtualmente.

Também foi utilizada a questão relacionada à análise de observação baseada nos métodos de análise focal (GONDIM, 2003).

As questões relacionadas à interlocução e a conversação em rede, esta que Recuero (2012) define como conversação sincrônica e assincrônica. Esta que então esta relacionada ao tempo de acesso e resposta dos usuários as questões expostas na página em questão.

ResultadosHoje em dia a internet causa uma aproximação

maior de pessoas, essas que a utilizam diretamente ou indiretamente em seu cotidiano. Através da análise realizada em um único grupo da rede social facebook obtivemos os seguintes dados.

Tabela 1 - Origem geográfica

Em relação à tabela foi avaliada a região geográfica em que cada torcedor se encontra; os dados nos apontam que da amostragem de 270 torcedores, 185 são residentes da região sudeste, 45 são oriundos da região sul, 16 torcedores têm residência na região centro-oeste, 11 deles no norte e por fim 15 residem na região nordeste. Tabela esta que demonstra que por mais que o clube de futebol analisado seja oriundo da sociedade paulista sua torcida de estende em meio ao Brasil.

Foram analisados outros dados que constatam que 83 torcedores já saíram de sua região de origem para assistir um jogo da sociedade esportiva palmeiras, já os 187 torcedores restantes nunca saíram de seu domicílio para presenciar um jogo da equipe de futebol.

Ainda quando perguntados sobre a interação com as redes sociais 142 pessoas do total da amostragem consideraram o uso da rede social compulsivo para fazer o acompanhamento da equipe, também para a interação com o restante dos torcedores.

Na analise dos dados do gráfico 1, são postas em considerações a questão geográfica atual, e uma das divisões propostas, que então correspondem a Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Em segunda questão já no gráfico 2 são demonstrados os dados de pessoas que já saíram de sua região de origem para então acompanhar a equipe de futebol. Ainda foi colocada em questão o acesso desses

torcedores a página, seu acompanhamento em si.Através da análise focal foi constatado um

acumulo de postagem, referentes não só as questões que envolvem diretamente a competição esportiva, mas também as questões que giram em torno das questões. É comum alguns tópicos em que pessoas buscam se reunir em grupos para fazer viagens ou até mesmo interações sociais.

Também ainda sobre a análise focal constatamos que os sujeitos buscam uma interação presencial nos espaços públicos, sendo que também é observada a arquitetura local. Quando então esses sujeitos se reúnem em uma praça ou shopping próximo ao local do evento, fazendo o que podemos chamar de uma reunião pré ou pós jogo. Essa localidade também é observada para facilitar o escoamento da torcida em direção a praça esportiva. Sendo que todas essas informações são avaliadas por um grupo de pessoas dentro dessa rede social.

Discussão Ao viés da pesquisa qualitativa que estimula o

contato do pesquisador com os sujeitos participantes podemos descrever os quadros históricos e sociais que tivemos contato. Esses movimentos esportivos podem ser considerados um dos responsáveis pelo aumento no turismo de pessoas dentro de nosso espaço nacional? Dados do ministério do turismo mostram que em virtude dos eventos esportivos o número de turistas em determinadas regiões geográficas vem aumentando, ainda mais quando situamos um grande evento, como foi o caso da Copa do Mundo FIFA de Futebol.

Essas questões sociais também são descritas através desse aumento da interação social, fazendo com que ocorra uma maior aproximação cultural de pessoas, e esses contatos podem modificar as formas de identidade pessoal consistente em pessoas de uma determinada localidade. Fato que também é visualizado quando observamos nesse caso, os seguidores de atletas de futebol em redes sociais, quando muito deles tentam “ser iguais” a esses, através de postagens e fotos. Sendo descrita pela psicologia social de Ciampa (1987, p. 59) destacou o papel da relação com o outro, visto que "... a identidade do outro reflete na minha e a minha na dele."

ConclusãoPartindo do pressuposto da aproximação que a

internet nos proporciona, também pela questão dos grupos sociais interativos que temos dentro do ambiente virtual, neste caso especificamente do grupo “Palmeirenses” existente no Facebook, temos algumas questões norteadoras de conclusão.

A internet faz com que os espaços locais sejam quebrados, desta maneira mostra que não existe mais a figura do distanciamento de regiões, pois através de um único acesso seja este por qualquer aparelho que esteja ligado a internet o usuário de aproxima de pessoas de diferentes regiões em função da interação social.

Essa interação é reforçada ainda no momento em que visualizamos que mais da metade da amostragem não costuma sair de sua região de origem para acompanhar a equipe de futebol

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diminuindo o contato social pessoal. Através da observação também é possível ressaltar que o “grupo” social da internet tem uma maior movimentação durante as partidas de futebol da equipe, salientando ainda mais a quebra de distanciamento.

Em vista que mais de 50% da totalidade da amostra considera compulsivo o uso das redes sociais, é pertinente a aproximação que e a internet em razão das redes sociais nos proporciona. O que condiz que a sociedade em questão é sim uma sociedade relacionada à pós-modernidade onde o homem esta relacionado com a máquina, máquina esta que permite a aproximação do homem com o mundo da interação social.

Então fica notório a aproximação causada pelas redes sociais, em relação a um evento de grande porte, ou somente pelo fato de uma pessoa necessitar de um contato pessoal.

Também podemos citar as questões que envolvem a pré competição, sendo que essas são mais destacadas em relação ao pós jogo, pois é mais visível a aproximação de pessoas em um pré jogo, razões pelas quais podem ser destacadas em virtude da localidade das pessoas e os movimentos pendulares populacionais são constatados em relação ao evento.

É de valia ressaltar a forma de conversação que ocorre no grupo, buscando movimentos de massa, entrando em contato com o clube através das redes sociais, tal qual relacionado a interação direta com os agentes da competição esportiva, no caso do futebol de campo os jogadores de futebol. Lembrando que essas interações são causas com mais frequência através das redes sociais, mas também ocorrem em espaços comum urbano.

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O BULLYING NO AMBIENTE ESPORTIVO: IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA

Kauan Galvão Morão¹, Luis Fernando Gonçalves¹, Guilherme Bagni¹, Renato Henrique Verzani¹, Afonso Antonio Machado¹.

¹ Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte (LEPESPE) – DEF – IB – UNESP RIO CLARO

RESUMO

O bullying é um fenômeno social que ocorre geralmente em escolas, sendo muito destacada sua frequência nesse ambiente, entretanto o esporte não está isento da ocorrência desse mesmo fenômeno, podendo implicar em grandes perdas no âmbito esportivo. Sendo assim, a proposta de objetivo desta pesquisa é analisar a ocorrência de bullying entre os atletas da categoria de base de diferentes equipes de futebol e uma possível implicação no abandono esportivo. O instrumento adotado para a pesquisa foi a aplicação de um questionário adaptado, contendo questões de múltipla escolha. O estudo contou com uma amostra composta por 160 atletas de futebol, todos do gênero masculino, com média de idade de 17,2 anos (± 0,8). Analisando os dados obtidos, foi possível verificar que a maioria dos atletas indica já ter visto muitos casos de bullying no ambiente esportivo, porém ao responderem o quanto já sofreram ou praticaram esse fenômeno social, os valores são minimizados em relação ao que já viram outras pessoas praticarem. Outro ponto destacado é que grande parte dos sujeitos indicaram que não possuem medo de continuar no esporte devido ao bullying, enquanto uma pequena parcela da amostra aponta que já pensou em desistir da careira esportiva devido à ocorrência de bullying. Conclui-se que novos estudos devem ser realizados nessa área, abordando o âmbito do esporte e que a comissão técnica dos clubes deve estar atenta à certos casos que podem caracterizar o bullying dentro da equipe, dando suporte aos atletas e realizando atividades de coesão grupal com o elenco, o que pode acarretar influências no desempenho individual e coletivo.

Palavras-chave: Bullying, Estados Emocionais, Desenvolvimento Humano e Tecnologias, Psicologia do Esporte, Futebol.

BULLYING IN SPORTS ENVIRONMENT: IMPLICATIONS FOR PRACTICE

ABSTRACT

Bullying is a social phenomenon that often occurs in schools, their frequency being very prominent in this environment, however the sport isn't exempt from the occurrence of the same phenomenon, which may result in large losses in sports. Thus, the objective of this research is analyze the occurrence of bullying among athletes of basic category of different soccer teams and a possible involvement in sports abandonment. The instrument adopted for this research was the implementation of an adapted questionnaire with multiple choice questions. The study included a sample of 160 soccer players, all male, with a mean age of 17.2 years (± 0.8). Analyzing the data, we found that most athletes indicated that already have seen many cases of bullying in sports environment, but how to respond what they have suffered or practiced about this social phenomenon, the values are minimized if we compare what they saw other people practice. Another highlight is that most of the athletes indicated that they have no fear of continuing in the sport due to bullying, while a small portion of the sample shows that already thought about giving up sports career due to the occurrence of bullying. We conclude that new studies should be realize in this area, addressing the scope of the sport and the coaching staff of the club must be attentive to certain cases that can characterize bullying within the team, giving support for these athletes and performing group cohesion activities with the cast, which can cause influences on individual and collective performance.

Keywords: Bullying, Emotional States, Technologies and Human Development, Sports Psychology, Soccer.

INTRODUÇÃO:As modalidades esportivas, em geral, estão

utilizando trabalhos realizados pela psicologia do esporte e as ferramentas que essa área oferece, além do treinamento técnico, tático e físico, com o intuito de aperfeiçoarem a preparação global de seus atletas, tanto para uma competição específica, quanto para suas respectivas carreiras esportivas, dando auxílio para que os jogadores saibam lidar melhor com situações estressoras que podem enfrentar no cenário esportivo.

Algumas regiões e equipes não possuem contato com profissionais da área da psicologia do esporte, mesmo sabendo da importância que ela possui no cenário atual. De acordo com Weinberg e Gould (2001) o psicólogo do esporte possui o papel de identificar, entender e buscar a melhor solução

para as situações que os atletas praticantes de modalidades esportivas que atuam em qualquer nível (amador, profissional, iniciação, alto rendimento) e pertencem a qualquer faixa etária, possam vir a confrontar em suas vidas.

Sendo assim, a psicologia do esporte visa entender as alterações emocionais existentes nos jogadores, traçando estratégias que impliquem numa melhor preparação para lidar com essas diferenças nos níveis dos aspectos emocionais causadas diante de situações distintas, tendo como objetivo a manutenção ou evolução do rendimento em competições ou mesmo em treinamentos, evitando a perda da performance (LAVOURA; MACHADO, 2006).

Levando em consideração que nos esportes coletivos os atletas estão grande parte do tempo em

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contato direto (em treinamentos, concentrações, viagens, vestiários, jogos e campeonatos) é essencial que o ambiente dentro da equipe seja agradável para que os jogadores se sintam à vontade, ou seja, é indicado que o elenco tenha coesão grupal tanto nos momentos profissionais como em ambientes extra campo/quadra. Sendo assim, é essencial o trabalho da psicologia do esporte, para que os atletas saibam a importância do trabalho em equipe, saibam lidar com suas emoções e a intensidade que elas podem surgir durante as situações as quais são expostos.

Com isso, é evidente que o cenário futebolístico é propício para a emergência de maior contato entre os atletas, surgindo “brincadeiras”, muitas vezes consideradas como momentos de descontração, que podem ter caráter positivo e/ou negativo para o elenco. Entretanto, quando essas “brincadeiras” ultrapassam o limite do lúdico e passam a ser ofensivas, dirigidas a determinadas pessoas, podem ser consideradas agressões e tornam-se perigosas armas contra os seus respectivos alvos, prejudicando as vítimas das brincadeiras, seus rendimentos e podendo implicar na desistência da prática da modalidade em questão.

De acordo com o que foi descrito no parágrafo anterior, destaca-se que um fenômeno social foi se desenvolvendo nos últimos tempos e tem sido estudado com muita preocupação por parte de pesquisadores, principalmente, no ambiente escolar. Esse fenômeno trata-se do bullying, denominado por autores como Neto e Saavedra (2004) e Pearce e Thompson (1998) como a abrangência de atitudes agressivas de modo intencional e frequente (repetidamente), sem que haja um motivo em evidência. Essas atitudes são realizadas por uma ou mais pessoas contra outros, gerando sentimento de dor e angústia, destacando-se a relação de desigualdade quanto ao valor e poder que o agressor e a vítima possuem.

No Brasil, em meados do ano de 2011, o bullying foi considerado um dos principais assuntos tratados no mundo, pois vários casos eram retratados por meio das novas mídias, passando a ser um fenômeno considerado de alta incidência. Sendo assim, as atitudes agressivas que um autor de bullying pode realizar implicam em atos frequentes contra um alvo, utilizando palavras ofensivas, desmoralizantes, apelidos ou qualquer ação que tenha caráter depreciativo, podendo ser de natureza física ou moral, gerando desconforto psicológico nas vítimas.

As agressões correspondentes ao bullying podem ocorrer de forma direta (física ou verbal) ou indireta (como exclusões, por exemplo), sendo que em seu caráter físico as ações correspondem a socos, chutes, roubo de pertences, empurrões, dentre outros, enquanto no aspecto verbal o agressor utiliza apelidos ofensivos, comentários desmoralizantes e, até mesmo, preconceituosos (racistas, homofóbicos, de diferenças rel igiosas, f ís icas, polí t icas, socioeconômicas, morais e culturais, por exemplo). Além desses casos, a exclusão ocorre quando o grupo todo isola a vítima sem um motivo que esteja aparente, acarretando sentimento de mau acolhimento e ambiente desagradável para a mesma (ROLIM, 2008).

Devido ao surgimento das novas mídias, o bullying possui uma nova categoria denominada de cyberbullying, sendo caracterizada por Berger (2007) como ataques realizados pelos agressores por meio de mensagens instantâneas, chats, torpedos SMS, aplicativos que permitem comunicação direta, redes sociais, blogs, dentre outras maneiras que as novas mídias possibilitam a atuação dos agressores.

Caracterizando melhor o fenômeno do bullying, Neto e Saavedra (2004) afirmam que existe a vítima, o agressor, as testemunhas e, em alguns casos, a figura onde o sujeito que era considerado vítima passa a ser agressor com o intuito de desviar de si o foco do ataque. Geralmente, as vítimas são menos sociáveis, com uma aceitação pela sociedade menor que seu agressor, tendo menor poder em relação aos outros, tornando-se alvo frequente das agressões, tendo sua autoestima minimizada (DAWKINS, 1995; MIDDELTON-MOZ; ZAWADZKI, 2007).

Segundo estudo realizado por Rolim (2008), na maioria dos casos, as vítimas se omitem dos ataques por pensarem que logo tudo estará bem, sendo passivas a eles. Além disso, pessoas que são alvos de bullying, possuem três vezes mais chance de sofrerem com dores abdominais, dores de cabeça, cinco vezes mais chance de desenvolverem distúrbios como a insônia, maior chance de possuir enurese noturna, dentre outros fatores que geram alterações nas rotinas dos vitimados.

Quanto aos agressores, pode-se afirmar que costumam ser aceitos pelos colegas e buscam um papel de autoafirmação perante a sociedade, tendo características agressivas, e orgulham-se de seus atos, já que atraem a atenção de todos ao seu redor, desenvolvendo sentimento de força e poder O agressor tende a continuar atacando as vítimas caso a situação lhe proporcione sentimento de prazer e destaque no grupo, entretanto, pode acarretar pensamento de vergonha e culpa no futuro (ESLEA; REES, 2001).

O sujeito considerado vítima/agressor possui limitações para determinadas atividades, sendo exposto e sofrendo bullying quando realiza determinadas ações. Para não ser o alvo das “brincadeiras” e ter sua figura desmoralizada, acaba escolhendo outro sujeito e repassa as ofensas, fazendo com que o grupo foque a atenção para essa nova vítima. De acordo com Bandeira (2010), esses sujeitos estão mais propícios a apresentarem sintomas como depressão, ansiedade e outras formas de estresse.

Por fim, o último grupo abordado no bullying são as testemunhas, que estão presentes na cena de bullying, porém se isentam da ação de intervir no caso por medo de serem as próximas vítimas. O que deve ser levado em consideração é que as testemunhas devem agir com o intuito de minimizar as agressões, visando um ambiente agradável.

No e spo r t e , a s ag re s sões oco r rem frequentemente, principalmente em modalidades coletivas e provindas de um sujeito para com seu adversário. Entretanto, também existe a diferença entre os atletas de mesma equipe, podendo haver a criação de pequenos grupos entre os jogadores que são vistos como destaques e mais influentes,

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acarretando em possíveis agressões e exclusões de um grupo com o outro, podendo implicar em bullying contra algum alvo e gerar abandono precoce por parte do mesmo.

O bullying no cenário esportivo pode ser identificado em diversos momentos, porém é desqualificado como tal ação devido ao fato das pessoas pensarem que são ações de descontração e diversão que fazem parte do ambiente esportivo. No futebol, é comum que os atletas tenham apelido, principalmente internamente, que nem sempre são escolhidos pelos próprios apelidados, mas sim por seus companheiros. Outro fato que ocorre é a exclusão dos menos habilidosos em algumas atividades, deixando de ser incluído pelo grupo maior. Sendo assim, é necessário que o treinador saiba desenvolver técnicas, regras e estratégias que façam o elenco ser mais coeso e unido, deixando clara a importância de todos na equipe, buscando minimizar os possíveis casos de bullying.

Devido a grande diversidade de etnias, grupos sociais, religiões, culturas e raças, por exemplo, presentes no futebol atual, faz com que uma equipe tenha em seu elenco jogadores com características e perfis diferentes, sendo um fator benéfico por um lado e maléfico por outro. Entretanto, a comissão técnica deve prezar pelo respeito entre os atletas, buscando a união dos mesmos, visto que há grande contato entre eles durante toda a carreira esportiva.

Outro fator que pode influenciar no contexto esportivo é o papel que os torcedores exercem, principalmente no futebol, pois podem atuar com uma postura agressiva tendo um único alvo frequente, caracterizando o bullying. Esses atos são cometidos, por exemplo, por torcidas que possuem comportamentos nazistas, racistas, homofóbicos, dentre outros que acabam gerando discriminação e desmoralização da imagem de seus alvos.

A mídia também pode ser causadora do bullying por meio de matérias em jornais, revistas e web sites, que contenham conteúdos, direta ou indiretamente, preconceituosos ou ofensivos, mesmo que retratem a situação como uma brincadeira. Nunca se sabe o que o atleta que está em exposição está pensando ou sentindo observando aquilo que está sendo apresentado sobre ele. Sendo assim, é claro que a mídia é formadora de opiniões e pode influenciar diretamente no pensamento dos espectadores, que também são torcedores, possibilitando casos de bullying contra atletas, sem que seja algo sem grande evidência.

No contexto esportivo, é comum que atletas mais experientes saibam lidar melhor com situações estressoras em comparação com atletas em formação, por isso, é necessário que a psicologia do esporte pode ser uma ferramenta fundamental para auxiliar os jovens em estado de formação, para que tenham melhor apoio quando confrontados com situações como as agressões que caracterizam o bullying.

Uma alternativa para melhor conscientização dos jovens em formação para lidarem com o bullying é proposta por Filho e Sousa (2008) quando afirmam que a educação deve prezar pela formação de um cidadão, fazendo com que a população deixe os preconceitos de lado. Entretanto, no esporte alguns

atletas possuem pouca ou nenhuma formação educacional por parte da família e/ou mesmo do ambiente escolar, recriminando pessoas que consideram diferentes dos “padrões normais” julgados por eles.

Atletas que estão em formação são capazes de discriminar e excluir seus companheiros de equipe ou adversários por conta de qualquer diferença entre eles, por isso, é necessário muito cuidado e preocupação com esses sujeitos, principalmente quando estão em situação de competição como a Copa São Paulo de Futebol Júnior, criada para revelar jovens talentos futebolísticos que querem ser lançados à carreira profissional.

Sendo assim, a atenção que deve ser tomada com jovens atletas é de extrema importância, devendo ser trabalhada a coesão grupal e o trabalho em equipe, evidenciando a importância de todos dentro do elenco, como citado anteriormente, visando a união dos jogadores, criando um ambiente agradável para os atletas desenvolverem seus trabalhos da melhor maneira possível, atingindo o melhor desempenho e estando motivados à seguirem suas carreiras, enfrentando obstáculos comuns ao ambiente esportivo.

Portanto, fica claro que o ambiente esportivo é propício ao surgimento de brincadeiras que podem exceder os limites, tornando-se bullying. Entretanto, os treinadores e comissões técnicas devem se preocupar muito com essa questão, pois podem perder atletas que cometam abandono esportivo precoce devido ao bullying, pois não possuem apoio psicológico que lhes proporcione suporte para estarem motivados, confiantes, encorajado a continuarem naquele ambiente, equipe e/ou esporte.

OBJETIVO:Com o intuito de ter como destaque a

influência do bullying no cenário esportivo, esta pesquisa possui como objetivo analisar a ocorrência de bullying entre os atletas da categoria de base de diferentes equipes de futebol que disputaram a Copa São Paulo de Futebol Júnior, verificando e analisando a frequência do que já foi observado pelos atletas, sofrido pelos mesmos e praticado por eles. Além disso, verificar uma possível relação/implicação que o bullying possui no abandono esportivo.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOSComo instrumento para a coleta de dados, foi

adotado um questionário com perguntas de múltipla escolha, onde os jogadores poderiam assinalar várias alternativas sem que houvesse certo ou errado. Todas as instruções foram passadas aos atletas, que foram orientados a responderem as questões e a participarem do estudo de maneira voluntária. Os atletas preencheram um termo de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo que qualquer dúvida que os at letas possuíssem, poderiam indagar aos aplicadores do questionário, buscando adequar a explicação ao contexto do atleta.

O estudo contou com uma amostra composta por 160 atletas, sendo que todos eram do gênero masculino e compunham o elenco de oito equipes que disputaram a Copa São Paulo de Futebol Júnior no ano de 2013, nas regiões de São Carlos, Rio Claro

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e Araras, todas localizadas no interior do estado de São Paulo.

Para padronização na apl icação do questionário, a todos os clubes o instrumento de pesquisa foi aplicado aos atletas no momento que precedia o segundo jogo da primeira fase da competição, sendo que previamente era estabelecido contato com a equipe, podendo permitir ou não a realização do estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃOApós a análise dos dados, foram criados

gráficos e tabelas para melhor visualização dos resultados encontrados com a aplicação do questionário. Somente os fatores que obtiveram maior frequência foram destacados neste estudo. Sendo assim, o gráfico 1 indica os principais fatores citados pelos atletas, comparando três visões distintas, isto é, o que eles já praticaram em suas carreiras esportivas, o que já sofreram no âmbito do esporte e o que já viram outros companheiros de clube ou adversários realizando/sofrendo, sendo que todas as situações caracterizavam bullying.

Gráfico 1 - Ações de atletas: comparação de diferentes visões.

Por meio do gráfico previamente apresentado (gráfico 1) é possivel verificar as principais porcentagens demonstradas pelos at letas participantes da pesquisa por meio de suas respostas ao questionário aplicado com relação as ações realizadas, sofridas e observadas pelos mesmos no ambiente espotivo.

Nota-se que todas essas atitudes que caracterizam o bullying aparecem com certa frequência nas respostas obtidas por meio da análise dos dados, sendo possível destacar que os atletas colocam-se como autores praticantes e sofredores desses atos agressivos, entretanto, afirmam que agem muito mais como testemunhas dos mesmos atos que podem ser considerados bullying do que propriamente como vítimas ou agressores. Essa diferença é muito evidente quando verifica-se a porcentagem de cada um desses fatores (observou, sofreu, praticou) de maneira comparativa.

Analisando o gráfico, destaca-se que a maior parte da amostra indica que as principais atitudes e situações presenciadas relacionadas ao bullying dizem respeito à apelidação (colocar/sofrer apelidos), real ização de atos humilhantes desmoralizando a vítima, ofensas de qualquer categoria, exclusão em qualquer momento (treinamentos, vestiário, jogo, campeonato, atividade), ameaças contra o alvo do agressor, ignorar a vítima e, por fim, bater (qualquer ato de agressão física, como chutes e socos, por exemplo) com o intuito de intimidar a vítima e se sentir mais

poderoso dentro da equipe, ganhando “respeito” ou “destaque/atenção” de seus colegas. Além disso, fica evidente que o fenômeno social denominado bullying ocorre com certa frequência no ambiente esportivo, o que não é muito abordado em estudos e pesquisas.

Outro ponto interessante abordado no questionário é representado no gráfico 2, exposto logo abaixo, onde os atletas são questionados quanto aos ambientes que frequentam, quais eles gostam e quais não gostam. As porcentagens podem ser verificadas e comparadas, tendo ideia dos ambientes considerados mais agradáveis a eles e os menos agradáveis, onde possivelmente surgem agressões e casos de bullying.

Gráfico 2 - Opinião dos atletas quanto ao ambiente que frequentam.

O que pode ser destacado quanto ao gráfico anterior é que os atletas apontaram que o ambiente preferido por eles é o de jogo, sejam partidas amistosas ou campeonatos. Indo de encontro a isso, os ambientes que foram considerados mais desagradáveis pelos participantes da pesquisa, foram ônibus e alojamento, onde existe a maior parte das agressões e casos de bullting, entretanto não pode-se afirmar que seja apenas esse motivo, talvez os jogadores também tenham levado em consideração o cansaço e o tédio que encontram nesses dois espaços, tornando os locais menos agradáveis.

Com o intuito de verificar se os atletas sentiam medo de sofrer qualquer agressão na equipe em que a tuavam, fo i co locado aos mesmos esse questionamento: “Você possui medo de ser agredido na equipe?” sendo que as respostas estão expostas no gráfico 3. O que chamou atenção é que mesmo sabendo, observando e, até mesmo, participando de casos de bullying como eles próprios citaram nessa mesma pesquisa, poucos atletas afirmam sentir medo na equipe, enquanto a grande maioria aponta não ter medo de sofrer qualquer tipo de agressão no ambiente esportivo, deixando claro que mesmo sabendo da ocorrência de bullying, os jogadores não sentem repressão e medo no ambiente esportivo.

Gráfico 3 - Questão aos atletas: “Você tem medo de ser agredido na equipe?”.

Os fatores que podem influenciar um atleta a desenvolver o sentimento de medo de ser agredido dentro de uma equipe varia extremamente, pois em

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alguns jogadores ele pode surgir devido aos erros cometidos durante uma partida, pressão que sente diante de situações estressoras como campeonatos, se sentir inferior em relação a habilidade quando comparado aos outros, julgando que comprometerá a equipe, questões referentes à sexualidade, etnia, classe social, raça, dentre os mais diversos fatores.

Segundo estudos de Júnior e Melo (1996) os homossexuais desenvolvem sentimento de medo, devido ao fato de imaginarem que outras pessoas, outros atletas podem desconfiar de sua opção sexual e acabar excluindo os mesmos das atividades, dos a m b i e n t e s m a i s a g r a d á v e i s e s o f r e r preconceito/exclusão de todo o elenco. Além disso, possuem medo de serem agredidos tanto física quanto verbalmente por seus companheiros de equipe ou adversário, sendo perseguido por torcedores dentro e fora do ambiente de trabalho, ou seja, o âmbito do esporte.

A última questão analisada no questionário possui intuito de analisar se o bullying pode intereferir na carreira esportiva de um atleta, implicando no abandono da mesma. Sendo assim, foi colocada aos atletas a seguinte questão: “Você já pensou em parar de jogar por causa do bullying?”. As respostas estão expostas no último gráfico (gráfico 4) apresentado a seguir.

Gráfico 4 - Questão: aos atletas “Você já pensou em parar de jogar por causa do bullying?”.

Após a análise do gráfico é possível verificar que mesmo com a ocorrência de bullying no ambiente esportivo, a maioria dos atletas não pensa em abandonar o esporte, talvez por ser a única esperança de vida que julgam existir para o futuro de suas famílias e para si próprio. Entretanto, é necessário que se tenha atenção quanto a porcentagem de jogadores que afirmaram pensar em abandonar o esporte devido ao bullying, pois representam uma pequena parcela, mas que indica atletas que ainda estão inseridos na modalidade esportiva, ou seja, muitos já podem ter abandonado a carreira previamente e não constam nas estatísticas.

Sendo assim, é necessário que as equipes tenham cuidado e preocupação com esses atletas, podendo utilizar como alternativa para isso a prática da psicologia do esporte, pois um jogador em formação pode abandonar a carreira precocemente, deixando de ser detectado um novo talento para a modalidade devido às agressões que o mesmo pode sofrer durante a prática esportiva, causando incômodo e desconforto, podendo acarretar diversos distúrbios como citado por Rolim (2008), além de doenças ou maior propensão em tê-las, e um possível abandono da carreira esportiva, desistindo do esporte.

Muitas pesquisas são encontradas sobre bullying no ambiente escolar e nas aulas de Educação

Física, entretanto esse fenômeno não é muito estudado no âmbito do esporte, o que deveria mudar, pois também é um local propício para a ocorrência do mesmo. Com o intuito de confrontrar os resultados encontrados nesse estudo e o que consta na literatura, o estudo de Rolim (2008) aponta que em uma amostra de 178 jovens escolares, 84% admite ter sofrido bullying ou qualquer agressão que caracterize esse fenômeno. Esses valores podem ser comparados com o primeiro gráfico exposto nessa pesquisa onde, aproximadamente, 65% dos atletas afirmam que já sofreram bullying, porém no contexto esportivo. Além disso, poderia ser comparado com os casos que os jogadores afirmam já terem observado, chegando a um valor de 87%, aproximadamente, mostrando que a prática é frequente no futebol.

Sobre o abandono esportivo precoce, autores como Filho e Garcia (2008), afirmam por meio de seus estudos que ele pode existir por uma enormidade de fatores, sendo que alguns podem ser intrínsecos e outros extrínsecos. Sendo assim, nas pesquisas realizadas pelos autores citados anteriormente, foram encontrados valores que indicam que 24,9% dos homens abandonam o esporte precocemente devido a desmotivação somada com a falta de companheirismo, tanto dos outros colegas de equipe quanto da direção do clube, sendo esses considerados como os principais causadores da desistência da modalidade esportiva. Esses valores podem ser relacionados diretamente com situações de agressão e casos de bullying que os atletas já vieram a sofrer no ambiente do esporte, pois a falta de companheirismo pode estar intimamente ligada à ocorrência desse fenômeno social, resultando no abandono precoce da modalidade ou na implicação de pensamentos negativos e que façam o atleta refletir sobre a sua continuidade ou não no esporte, como verificado nesse estudo.

Caso seja notado pela direção do clube ou treinador que está ocorrendo casos de bullying na equipe, é interessante que algumas estratégias sejam tomadas para que os atletas se sintam mais seguros e descontraídos em seu ambiente de trabalho, não vindo a refletir no fato de desistir de sua carreira esportiva. Para isso, é necessário o desenvolvimento de atividades que tenham como objetivo a coesão grupal, o trabalho em equipe e a união do elenco, fazendo com que os jogadores compreendam as diferenças existentes entre as populações, apontando a importância e particularidades de cada uma delas.

Sendo assim, o ambiente de trabalho dos atletas se tornará mais adequado à prática do esporte e o respeito prevalecerá; Mesmo que surjam brincadeiras, elas serão aquelas consideradas “saudáveis” para o grupo, gerando diversão para todos e não desrespeito, evitando casos de bullying e qualquer tipo de agressão na equipe, seja ela física ou verbal. Com isso, será difícil haver qualquer caso de medo e exclusão no clube, prejudicando tanto a carreira de um atleta caso ele abandone a modalidade esportiva, quanto a performance de um único jogador ou do time todo em uma partida ou campeonato, onde um depende do outro para seguir em frente na competição.

CONCLUSÃO

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De acordo com a análise dos resultados e após a discussão dos mesmos, pode-se concluir que os atletas de futebol que atuam nas categorias de base do Brasil, ou seja, atletas em formação, afirmam que já observaram, sofreram e praticaram bullying dentro do ambiente esportivo. Entretanto, é nítido que os participantes desse estudo se colocaram muito mais como testemunhas, talvez pelo medo de se expor, quando comparados aos valores de vítima e de agressor, sendo que os maiores valores encontrados são referentes a ser espectador, vítima e, por fim, agressor, respectivamente.

Também fica evidente que os ambientes mais propícios para a prática do bullying ou de agressões são os ônibus e os alojamentos, visto que são apontados pelos atletas como os locais mais desagradáveis, enquanto as partidas, ou seja, os jogos em si, são considerados os espaços mais agradáveis e desejados pelos jogadores.

É nítido por meio desse estudo que poucos atletas possuem ou assumem o medo de sofrer qualquer tipo de agressão na equipe em que atuam, sendo que é um fator de muito importância, pois pode acarretar diretamente no pensamento e realização do abandono esportivo de maneira precoce, visto que são atletas que ainda estão em formação, dificilmente contando com apoio psicológico por parte de um profissional da área que venha trabalhando com isso.

A questão chave do estudo diz respeito a relação que o bullying possui com a reflexão sobre o ato de abandonar o esporte, sendo que poucos atletas afirmam que já pensaram em desistir do futebol por conta desse fenômeno, demonstrando que a maioria mostra-se como enfrentadora e talvez não veja outra alternativa em sua vida, devendo encarar qualquer obstáculo para alcançar condições melhores para si e para seus familiares.

Por fim, nota-se que poucos estudos são realizados sobre o bullying no ambiente esportivo, pois a maioria se preocupa somente com o âmbito escolar, visto que sempre são destacadas notícias sobre acontecimentos desses casos nas escolas, deixando de lado a preocupação com o esporte, o que é errado, pois o ambiente esportivo é extremamente propenso a possuir casos de bullying devido ao contato que os atletas possuem, portanto, além do que já foi citado anteriormente, sugere-se mais estudos nessa área. Além disso, é necessário que um trabalho psicológico seja estruturado para que a equipe saiba lidar com situações, não só de bullying, mas de qualquer outro aspecto que pode fazer com que o atleta cometa o drop out.

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WEINBERG, R. S.; GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. Trad. Maria Cristina Monteiro – 2. ed. – Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.

Kauan Galvão Morão.Rua Bayron Ortiz de Araújo, nº 211, apto: 32 C. CEP: 13567-230. São Carlos, SP.

[email protected](16) 3371-8153.

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PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA E O USO DAS REDES SOCIAIS.

Vivian de Oliveira; Guilherme Bagni, André Luis Aroni, Gustavo Lima Isler, Kauan Galvão Morão, Afonso Antonio Machado.

Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte

RESUMO

Com os avanços tecnológicos as fronteiras para o relacionamento humano estão expandidas, criando novas possibilidades para as relações interpessoais. Neste cenário, muitos professores e alunos têm sido estimulados a ampliar sua relação para além do ambiente escolar. O objetivo deste trabalho foi verificar como os professores de Educação Física têm utilizado as redes sociais. Para a realização desta pesquisa, foi criado um questionário na plataforma Google Drive®, que foi divulgado através de redes sociais e por e-mail, com o objetivo de atingir um maior número de participantes. Participaram do estudo 11 professores de Educação Física, com média de idade de 32,5 anos. Deste total, 10 possuem perfil em alguma rede social, sendo o Facebook® a mais utilizada. A maioria deles permanece conectada as redes o dia todo através de dispositivos móveis como celulares e tablets. Sobre o que motivou os usuários a se cadastrarem nas redes sociais, 60% revelou que foi o interesse pessoal. Sobre a relação dos professores com os seus alunos, 50% dos deles falam com os seus alunos dentro da sala de aula ou fora dela sobre o uso das redes sociais. Dos professores que responderam ao questionário, 60% deles não adicionam alunos em seus perfis de redes sociais, mas 70% dizem aceitar os convites enviados por alunos para fazerem parte de suas redes sociais. No total, 40% dos professores declaram postar em seus perfis conteúdos direcionados aos seus alunos. Pelos resultados encontrados neste estudo supõe-se que embora os professores estejam bastante familiarizados com as redes sociais, estes a utilizam principalmente para fins pessoais.PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento Humano, Tecnologia, Redes Sociais.

PHYSICAL EDUCATION TEACHERS AND THE USE OF SOCIAL NETWORKS.

ABSTRACT

With the technological advances the boundaries for human relationships are expanded, creating new possibilities for interpersonal relationships. In this scenario, many teachers and students have been encouraged to expand their relationship beyond the school environment. The objective of this research was to verify how the physical education teachers are using the social networks. For this research, a questionnaire in Google Drive® platform was created, and was disseminated through social networks and email, with the goal of reaching a greater number of participants. Study participants were 11 physical education teachers, with an average age of 32.5 years. Of this total, 10 have a profile on some social network, with the Facebook® being the most used. Most of them remain connected networks all day through mobile devices such as phones and tablets. About what motivated users to sign up on social networks, 60% revealed that it was the personal interest. About the relationship between teachers and their students, 50% of them talk with their students inside the classroom or outside about the use of social networks. Teachers who had responded this questionnaire, 60% of them do not add students on their social networking profiles, but 70% say that accept invitations sent by students to be part of your social networks. In total, 40% of teachers declare post on their profiles targeted content to their students. The results found in this study it is assumed that although teachers are quite familiar with social networks, these mainly to use for personal purposes.KEYWORDS: Human Development, Technology, Social Networks.

INTRODUÇÃO

Os recursos da internet, suas ferramentas e possibilidades de uso têm crescido e evoluído cada dia mais. Em paralelo a isso, o número de usuários também. Segundo dados do site IBOPE Media relativos a dezembro de 2012, o Brasil ocupa a terceira posição em quantidade de usuários ativos na internet (52,5 milhões). O primeiro lugar pertence aos Estados Unidos (198 milhões) e o segundo ao Japão (60 milhões). Porém, quando consideramos o tempo de acesso de cada internauta, o nosso país é o primeiro colocado. Em dezembro de 2012, os brasileiros gastaram em média 43 horas e 57 minutos navegando na internet (IBOPE Media). Outros dados importantes sobre os usuários ativos da internet no Brasil dizem respeito ao acesso as redes sociais. Este tipo de sites têm ganhado cada vez mais a atenção e o tempo dos brasileiros que navegam na rede (IBOPE Media). De acordo com dados do Netview, do IBOPE

Media, em janeiro de 2013, essas páginas e outras agrupadas na subcategoria comunidades (que incluem também blogs, microblogs e fóruns) atingiram mais de 46 milhões de usuários, o equivalente a 86% dos internautas ativos da internet no período.

A rede social pode ser considerada um espaço dinâmico onde ocorre um fluxo intenso de pessoas, com novas informações surgindo constantemente, trocas de conhecimento, ideias, contatos, além de outras funções (TOMAÉL et al., 2005). Para Recuero (2011), ao falar em rede social deve-se pensar nas mudanças das relações entre as pessoas que surgem e acontecem por meio da comunicação mediada pelo computador. A rede social pode proporcionar uma relação ou conciliação entre os atores e a conexão que existe entre eles, sendo que a qualidade desta relação será atribuída pelo uso que se faz destas tecnologias e pelas intencionalidades dos que as utilizam.

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Para Area (2014), o fenômeno das redes sociais ou comunidades virtuais está crescendo desde os últimos dois ou três anos, em paralelo com o desenvolvimento de serviços e ferramentas da Web 2.0. Para o autor, é possível identificar três tipos principais de redes: redes de uso geral ou de massa ou mega comunidades (por exemplo, Facebook®, MySpace®, Twitter®, entre outros.), redes abertas para o compartilhamento de arquivos (por exemplo, YouTube®, SlideShare®, Snips®, Flirck®, entre outros.) e redes temáticas ou micro comunidades com um interesse específico (por exemplo, Ning®, Elgg®, GROU.PS®, Grupos do Google, entre outros)

As tecnologias no contexto educativo devem responder a objetivos pedagógicos, visando à integração do aluno com os conteúdos curriculares. Os recursos tecnológicos devem permear o currículo construído no cotidiano escolar (SILVA; PENHA, 2011). Para Nascimento (2003), em uma sociedade da informação, educar é muito mais do que apenas treinar as pessoas para o uso das tecnologias de informação e comunicação.

Para Area (2014), os recursos da Web 2.0 como blogs, portais educacionais, salas de aula virtuais, espaços para a troca de arquivos multimídia (fotos, vídeos e apresentações), entre outros estão expandindo e tornando-se populares entre a comunidade de profissionais da educação. Em poucos meses, proliferaram a criação de várias redes sociais, especificamente destinados à educação. No entanto, Area (2014) acredita que muitas destas redes vão desaparecer ou serão reduzidas a endereços de web pouco visitados.

Para Comelli e Nascimento (2010), os métodos de ensino-aprendizagem considerados atuais podem já não satisfazer as necessidades dos estudantes de Educação Física e Esporte. Nascimento (2003) aponta que na formação do Profissional de Educação Física há um processo emergente de aprendizagem permanente, pois rapidamente os conhecimentos técnicos tornam-se ultrapassados, devido aos constantes avanços de todas as áreas de estudo. Porém, como em outras disciplinas escolares, a utilização das tecnologias na Educação Física escolar depende do grau de conhecimento do professor.

O uso das redes sociais pelos professores vai de encontro com o ponto de vista de Sebriam (2009), pois a autora defende que a utilização de recursos tecnológicos significa uma ferramenta para aproximação entre professores e alunos no acesso ao conhecimento. Para ela, as TIC disponíveis para esta tarefa contribuem como material a disposição do professor para sua pratica pedagógica e as novas tecnologias serão utilizadas “de modo crescente como meio de comunicação a serviço de informação, ou seja, como uma mais valia no que concerne o processo ensino e aprendizagem” (SEBRIAM, 2009, p. 34).

OBJETIVOSO objetivo deste trabalho foi verificar como os

professores de Educação Física têm utilizado as redes sociais, seja durante a aula ou fora dela.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta é uma pesquisa de caráter qualitativa, do tipo descritiva, na qual foram utilizadas ferramentas netnográficas para a coleta dos dados. Participaram do estudo 11 professores de Educação Física, sendo 8 do sexo feminino e 3 do sexo masculino, com média de idade de 32,5 anos. Para a realização desta pesquisa, foi criado um questionário na plataforma Google Drive®, com questões que permitissem entender melhor a relação dos professores com as redes sociais e assim, atingir os objetivos deste estudo. O questionário foi divulgado através de redes sociais (em especial o Facebook®) e por e-mail, com o objetivo de atingir um maior número de participantes. Após obtidas as respostas dos participantes, os dados apresentados foram tabulados, categorizados e interpretados com base em uma metodologia qualitativa, apoiada pela estatística descritiva.

RESULTADOS E DISCUSSÃOSobre as características dos professores, foi

encontrado que a maior parte deles possui entre 1 e 5 anos de experiência profissional (54,5%), enquanto 45,5% deles possuem mais de 5 anos de experiência. Sobre a formação profissional, 36,3% são graduados, 27,2% possuem especialização e outros 36,3% são mestres. Dos professores entrevistados, 5 deles (45,4%) disseram trabalhar com crianças de 6 a 10 anos, enquanto nas faixas etárias de 11 a 14, 15 a 17, 18 a 21 e acima de 21 anos tivemos 6 professores (54,5%) que disseram atuar em cada uma delas.

Sobre o uso das redes sociais, foi constatado que dos professores pesquisados, apenas um não está cadastrado em nenhuma rede social. Os outros 10 professores (90,9% dos participantes) possuem perfil em alguma rede social. Deste total, 100% deles possuem uma conta no Facebook®, 70% no WhatsApp®, 50% no Instagram®, 50% no YouTube®, 40% no Orkut®, 30% no LinkedIn®, 20% no Twitter® e 10% no Google +®.

Gráfico 1: Porcentagem de usuários de cada uma das redes sociais entre os professores pesquisados.

Quando perguntados qual ou quais destas redes sociais os professores mais utilizavam, o Facebook® continua maioria, sendo citado em 100% das respostas, seguido de outras também bastante utilizadas como WhatsApp® citada por 60% da amostra, Instagram® com 40%, YouTube® com 30% LinkedIn® e Twitter® com 10% cada. As outras redes sociais apontadas anteriormente não foram citadas como mais utilizadas. Segunda artigo publicado por Vitor Caputo no site da Revista Exame em fevereiro de

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2014, o Facebook é a rede social mais famosa do mundo, dado que vai ao encontro a realidade desta pesquisa. Em dezembro de 2013 o Facebook® possuía 1,23 bilhões de usuários ativos, sendo que deste total, 83 milhões são brasileiros. O valor de mercado do Facebook® é de 151 bilhões de dólares e esta rede recebe em média 4,5 bilhões de curtidas por dia.

Sobre a frequência com que estes professores acessam as redes sociais, a maioria deles (40%) permanece conectada o dia todo através de dispositivos móveis como celulares e tablets. 30% revelou acessar as redes sociais de 1 a 5 vezes ao dia, 20% disse acessar de 5 a 10 vezes ao dia e um dos professores (10% da amostra) disse acessar por volta de 4 vezes na semana.

Gráfico 2: Porcentagem de respostas sobre a frequência com que os professores pesquisados acessam suas redes sociais.

Sobre o que motivou os usuários a se cadastrarem nas redes sociais, 60% revelou que foi o interesse pessoal. A influência dos amigos foi o que levou 20% dos professores pesquisados se cadastrarem, sendo que 10% declararam a influência da família e 10% indicaram que entraram nas redes sociais para manter contato com a família.

Em seguida, quando perguntados sobre o que os motiva para continuar usando as redes sociais, 30% deles citaram a facilidade e a rapidez na comunicação. Do total, 40% citaram o contato com as pessoas como um estímulo para continuar nas redes sociais, 20% declararam sobre a facilidade de receber informações e 10% versou sobre fazer amizades.

Iniciando uma parte mais específica, sobre a relação dos professores com os seus alunos por meio das redes sociais, perguntamos se os professores falam com os seus alunos dentro da sala de aula ou fora dela sobre o uso das redes sociais e 50% declararam que sim, enquanto 50% disseram que não. Quando perguntados sobre os motivos que os levam a falar sobre este assunto, foram citadas a facilidade de comunicação que a rede social traz, a oportunidade de uti l izá-las como meio de exemplificar ou passar conteúdos discutidos em sala de aula, mas também foi citada a necessidade de alertar os alunos sobre os perigos que as redes sociais podem trazer. Dentre as respostas dadas, houve também quem declarou que as redes sociais fazem parte do dia-a-dia dos alunos, e por isso é um assunto que deve ser falado. Um dos professores que responderam ao questionário disse que nunca falou

sobre este assunto com os alunos porque não teve oportunidade. Porém devemos lembrar que oportunidades são criadas e que esta é uma das possibilidades no trabalho do professor: criar espaço para discussão de determinados assuntos. Segundo Sancho e Hernández (2006), para que o uso das TIC signifique uma transformação educativa, muitas coisas terão que mudar. Para eles, muitas dessas coisas estão relacionadas com as esferas da direção da escola, da administração e da sociedade. Porém, uma boa parte delas está nas mãos dos professores, que terão que redesenhar seu papel e sua responsabilidade na escola atual.

Dos professores que responderam ao questionário, 60% deles não adicionam alunos em seus perfis de redes sociais. Por outro lado, 70% deles dizem aceitar os convites enviados por alunos para fazerem parte de suas redes sociais.

Gráfico 3: Porcentagem de professores que adicionam e aceitam convites de alunos em suas redes sociais.

É interessante notar como, apesar de não adicionarem os alunos, os professores costumam aceitar o convite feito por eles. Será que existe, no pensamento dos professores, alguma diferença entre estas duas atitudes? Dentre os que responderam que adicionam ou aceitam os convites de seus alunos nas redes sociais, somente 20% dizem possuir menores de 18 anos em suas redes sociais. Interessante notar que um dos participantes enfatizou que jamais adiciona crianças. É importante percebermos que mesmo a maioria dos professores tendo alunos em suas redes sociais, uma boa parte deles não fala sobre o assunto com os estudantes, tanto dentro quanto fora do contexto escolar.

Foi perguntado em qual das redes sociais os professores se lembravam de ter adicionado ou ter aceitado convite de alunos e, neste caso, o Facebook® continua sendo maioria, com 70% das respostas. Em seguida vem o Instagram®, WhatsApp® e Orkut® com 20% cada, e logo após LinkedIn®, Twitter® e Google +®, com 10% de respostas cada.

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Gráfico 4: Redes sociais nas quais os professores pesquisados responderam ter alunos adicionados.

Sobre a atividade destes professores nas redes sociais, 40% deles declaram postar em seus perfis conteúdos direcionados aos seus alunos, enquanto 60% responderam que não. Quando perguntados se os seus alunos postam conteúdos voltados para eles (os professores), os valores se inverteram, pois 60% dos participantes responderam que sim enquanto 40% responderam que não.

Gráfico 5: Porcentagem de respostas que indicam a existência de postagens específicas para os alunos e para os professores.

CONCLUSÃOPelos resultados encontrados nesta pesquisa

podemos supor que embora os professores estejam bastante familiarizados com as redes sociais, estes a utilizam principalmente para fins pessoais. No geral, os professores pesquisados não demonstram se importarem com o potencial das redes sociais para serem trabalhadas durante as aulas. Apesar de uma boa parte deles admitir que é importante falar sobre o uso das redes sociais com os estudantes, metade dos entrevistados nunca abordaram este assunto com seus alunos.

É importante que o assunto redes sociais esteja presente no dia-a-dia dos professores e na relação com seus alunos, não só nas aulas de Educação Física escolar, mas também em outras disciplinas. É importante que os alunos saibam dos potenciais das redes sociais para a comunicação, a informação e também o ensino, mas é necessário que sejam alertados também sobre os perigos da rede, cujos exemplos podem ser o cyberbullying, a invasão de privacidade, a divulgação de dados indesejados, o aliciamento de crianças e jovens, entre outros. É preciso também que o professor tenha conhecimento sobre estes conteúdos para passá-los aos seus alunos de uma maneira mais convincente e eficaz.

Porém, segundo Sancho e Hernández (2006),

esta introdução das TICs no contexto do ensino e aprendizagem não ocorrem de repente. É necessária uma mudança geral de mentalidade para que as TICs e, dentro delas, as redes sociais, sejam integradas de forma eficaz ao dia-a-dia das escolas, dos alunos e dos professores.

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NASCIMENTO, R. J. Uso das tecnologias de informação e comunicação na formação de professores de educação física e desporto: es tudo exper imenta l num módulo de basquetebol. Tese (Doutorado em Ciências da Educação) - Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa, 2003.

RECUERO, R. Redes sociais na internet. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2011.

SANCHO, J. M.; HERNÁNDEZ, F. Tecnologias para transformar a educação. Porto Alegre: Artmed, 2006.

SEBRIAM, D. C. S. Utilização das tecnologias da informação e comunicação no ensino de educação física. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Mídias para a Educação) – Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa, Université de Poitiers/Universidad Nacional de Educación a Distancia de Madrid, Lisboa/Madrid, 2009.

SILVA, A. M. C.; PENHA, M. G. O uso das tecnologias no ensino fundamental: novos desafios para o professor de educação física em uma escola pública

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de Goiânia. Polyphonía, v. 22, n. 2, jun./dez., 2011.

TOMAÉL, M. I.; ALCARÁ, A. R.; DI CHIARA, I. G. Das redes sociais à inovação. Ciência e Informação. v.34, n.2, p. 93-104, maio/ago, 2005.

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O MOODLE COMO FERRAMENTA DE ENSINO DA PSICOLOGIA DO ESPORTE: VISÃO SOBRE OS PONTOS NEGATIVOS DO CURSO

Guilherme Bagni; Vivian de Oliveira; Renato Henrique Verzani; Kauan Galvão Morão; Luis Fernando Gonçalves; Afonso Antonio Machado.

Laboratório de Estudos e Pesquisa em Psicologia do Esporte, Departamento de Educação Física, UNESP – Rio Claro.

RESUMO

A tecnologia vem sendo usada cada vez mais para apoiar o ensino e a internet contribui para o crescimento dos cursos online. Este trabalho tem por objetivo relatar a experiência do uso da plataforma moodle na criação de um curso online de psicologia do esporte e análise dos pontos negativos destacados pelos alunos referentes à participação em um curso online de psicologia do esporte. Metodologia Esta pesquisa, de caráter qualitativo, foi realizada utilizando método netnográfico para obtenção dos dados e teve, como instrumento de pesquisa, um questionário estruturado para coleta de informes, criado exclusivamente para esta investigação, por meio do Google Drive® e as respostas foram exportadas para o computador num arquivo no formato Excel®, sendo em seguida categorizadas e analisadas por meio de análise de conteúdo proposta por Franco (1994). Resultados: Como pontos negativos apontados pelos alunos, destaca-se que a maioria dos alunos identificou que não houve aspectos que prejudicassem o andamento do curso, seguido por vídeos/material didático e design/plataforma. Conclusão: Conclui-se que a experiência resultou positivamente, sendo esta metodologia de construção conveniente para outros cursos e deve ser reaplicada, em outras temáticas e versões.Palavras-chave: Tecnologias; Curso Online; Psicologia do Esporte; Desenvolvimento Humano.

ABSTRACT

The technology is being increasingly used to support teaching and internet contributes to the growth of online courses. This paper aims to report the experience of using the Moodle platform in creating an online course in sport psychology and view analysis of negative points highlighted by students who participated in this online course of sport psychology. Method: This qualitative research, was performed using netnographic method for obtaining data and had as a research too, a structured questionnaire to collect reports, created exclusively for this research, through Google Drive ® and responses were exported to the computer in a file in Excel ® and then categorized and analyzed using content analysis proposed by Franco (1994). Results: It is observed that as negative points most students identified that there were not aspects that interfere with the progress of the course, followed by videos / teaching materials and design / platform. Conclusions: It is concluded that the experience resulted was positively, with this methodology construction convenient to other courses and must be reapplied in other themes and versions.Keywords: Technologies; Online Course; Sport Psychology; Human Development.

INTRODUÇÃO

A inserção das tecnologias no processo de ensino-aprendizagem traz diversos benefícios tanto para alunos, quanto para professores, Porto (2006) entende tecnologias como os produtos das relações estabelecidas entre os indivíduos com as ferramentas tecnológicas, que acarretam a produção e disseminação de informações e conhecimentos, já Oliveira Júnior e Silva (2010) afirmam que as tecnologias têm como finalidade facilitar a vida dos seres humanos e levá-los ao progresso e, a parceria entre professor capacitado e novas tecnologias, é essencial para a evolução da educação no Brasil.

O crescente aumento da utilização das tecnologias no processo educacional está diretamente relacionado com as melhorias relacionadas ao acesso à Internet e a sua expansão. Outro fato que contribui para essa expansão são os softwares de fácil utilização que às vezes também são gratuitos e tornam possível a criação e edição de páginas na web, vídeos, comunicação por meio de fóruns e mensagens, dentre outros aspectos os quais tornaram possível à afirmação das TIC's (Tecnologias de Informação e Comunicação) dentro deste processo educacional. Sendo assim, acontece uma espécie de “extensão virtual da sala de aula presencial”

(GOMES, 2005, p.230). Porto (2006) ressalta algumas características positivas das tecnologias no que diz respeito ao potencial educativo, destas destaca-se: rapidez, recepção individualizada, interatividade e participação, hipertextualidade e realidade virtual.

No contexto da educação física, as TIC's ainda não são exploradas como deveriam e os tipos de atividades que são desenvolvidas estão aquém do potencial oferecido pelos seus recursos. A pesquisa de Sebriam (2009) revela que apenas 16% dos professores de educação física do universo pesquisado utilizam as TIC junto aos alunos, considerando o contexto pedagógico. Resultados ainda mais pertinentes revelam que, no geral, os docentes não se sentem preparados para utilizar as TIC em contexto educativo, e que somente 26,7% dos professores de Educação Física receberam formação para utilização das TIC junto aos alunos. Apesar disso, a maioria dos professores manifesta uma atitude positiva em relação às TIC, admitindo a importância da sua relação como ensino de Educação Física (SEBRIAM, 2009).

As TIC's também facilitam a educação a distância, visto que as tecnologias possibilitam a transmissão dos conteúdos transpondo as barreiras de tempo e espaço, que são muitas vezes empecilhos

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que acabam por di f icul tar ou até mesmo impossibilitar a interação entre professores e alunos. Para Mota (2013) uma instituição de ensino superior se torna menos competitiva quando não oferece educação a distância e não se preocupa de que modo pode levar o conhecimento produzido à sociedade.

Antes do ano 2000, o ensino a distância enfrentou a síndrome do isolamento e as suas consequências, como: desmotivação, dificuldades de compreensão, gestão do tempo e desvalorização do meio de ensino. Esses fatores causavam problemas como baixa qualidade da aprendizagem e abandono do curso. Porém, esses riscos são minimizados atualmente, pois os materiais pedagógicos são mais interativos, o que faz do processo de aprendizagem mais motivador, prático e eficiente (NASCIMENTO, 2003).

Neste cenário do ensino a distância, nos deparamos com o termo e-learning, Joce (2002) afirma que ele está relacionado com: “a utilização das novas tecnologias multimídia e da Internet, para melhorar a qualidade da aprendizagem, facilitando o acesso a recursos e a serviços, bem como a intercâmbios e colaboração a distância” (JOCE, 2002).

O e-learning também pode estar associado a um complemento das atividades presenciais com atividades virtuais, isto é como uma extensão das salas de aula, isso possibilita o surgimento de um método que é misto na formação, isto é, há momentos presenciais e virtuais, podendo ser designado como blended-learning (GOMES, 2005).

Outra possibilidade do e-learning é criar uma estratégia que propicie um ensino eficiente por meio de um processo colaborativo. Isso pode ser utilizado com a interação entre as partes envolvidas neste processo, tanto entre “tutor X alunos” quanto em “alunos X alunos”.

A ligação essencial entre o e-learning e a Internet possibilitam uma grande facilidade na disponibilização e acesso aos conteúdos, mesmo levando em consideração questões de localização ou mesmo de tempo. A atualização é rápida e o contato com o conteúdo pode ser instantâneo, sendo que as ferramentas são diversificadas e possibilitam a comunicação entre os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.

De acordo com Paiva et al. (2004), o e-learning possui uma serie de virtudes, como: flexibilidade, acessibilidade, centralidade no aluno, convergência com as necessidades do aluno, interatividade, dentre outros aspectos que favorecem ao acesso e aprendizagem dos envolvidos com esta modalidade.

Em um estudo realizado por Benta, Bologa e Dzitac (2014) que teve como objetivo comprovar a importância do uso de plataformas de e-learning no ensino superior, verificou-se que essa utilização estimulou a criatividade e a responsabilidade dos alunos, considerando que para este caso, o principal objetivo era que os alunos resolvessem e submetessem na data correta os respectivos trabalhos propostos. Outro fato interessante é que os alunos se mostraram mais dispostos a resolver tarefas mais complexas e o uso da plataforma Moodle facilitou a gestão da classe por parte dos

professores (BENTA; BOLOGA; DZITAC, 2014).Além do e-learning, outra experiência

educacional interessante são os MOOC's (Massive Open Online Courses), ou em tradução livre, Cursos Online Abertos e Massivos. Os MOOC's possuem duas características essenciais: são abertos e permitem escalabilidade. Isso significa que, mesmo estudantes que não estão regularmente registrados na instituição promotora podem participar, sem cobrança de taxas, e que o desenho do curso é apropriado para atender crescimento exponencial de matrículas. Não há nenhum pré-requisito, além do acesso a internet (MOTA, 2013).

A principal diferença entre um MOOC e um curso convencional é que, no primeiro, as atividades acontecem online e é possível explorar vídeos, fóruns, chats, redes sociais, ferramentas de avaliação online, entre outras ferramentas da web. Guerreiro (2013) define dois tipos de MOOC's. Os conectivistas (ou cMOOCs), prezam pela interação entre os participantes, no compartilhamento e na construção cooperativa do conhecimento e dos próprios recursos do curso. Já os behavioristas ou instrutivistas, (ou xMOOC's), focam na transmissão ou na replicação do conhecimento. Exemplos desse tipo de MOOCs são os cursos ofertados pelos grupos de Stanford, do MIT, Coursera, edX e Udacity (GUERREIRO, 2013).

Ng (2013), co-fundador da plataforma de MOOC's Coursera, relata que este tipo de plataformas de aprendizado tem o potencial de levar uma experiência de aprendizado de alta qualidade para um grande número de pessoas. Segundo ele, no ano em que o Coursera foi fundada, seus cursos alcançaram mais de três milhões de pessoas em mais de 190 países pelo mundo, sendo que muitos desses usuários jamais teriam acesso a qualquer tipo de educação elevada por outros meios. Ainda de acordo com Ng (2013), o tradicional modelo que conhecemos, de um professor de pé diante duma classe, enquanto os estudantes tomam notas, faz menos sentido no mundo atual, já que a internet proporciona um meio muito mais eficiente para difundir conteúdos.

Hew e Cheung (2014) destacam que os MOOCs podem auxiliar no processo da educação ficar acessível a um maior número de pessoas e permitir que os professores experienciem a pedagogia no ensino de cursos on-line, por outro lado existe o risco de cortes de gastos, já que essa possibilidade atinge um maior numero de pessoas com um custo menor do que a educação presencial, por exemplo. Ressalta-se aqui que o curso analisado neste trabalho tem como objetivo apenas a difusão dos trabalhos e estudos produzidos e analisados pelo laboratório e, portanto, é gratuito e utiliza os recursos humanos e materiais disponíveis no laboratório e na universidade.

Uma das formas de realizar a integração entre educação e internet é por meio dos ambientes virtuais de aprendizagem (AVA's). De acordo com Mozzaquatro e Medina (2008) os AVA's podem servir de apoio a atividades presenciais e em diferentes ambientes com o auxílio da internet. No referido curso online analisado, a plataforma escolhida foi o Moodle. O AVA “Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment” (Moodle) foi desenvolvido

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pelo australiano Martin Dougiamas em 1999 e é um software livre que possibilita gerenciar o aprendizado e realizar trabalhos colaborativos, permitindo a criação e administração de cursos online, grupos de trabalho e comunidades de aprendizagem (RIBEIRO; MENDONÇA; MENDONÇA, 2007; MOZZAQUATRO; MEDINA, 2008).

Em relação ao sistema de gestão de ensino e aprendizagem, o moodle apresenta funcionalidades com forte componente de participação, comunicação e colaboração entre formandos, formadores e pares. Dentro dessa plataforma são oferecidas ferramentas de avaliação das mais diversas atividades, entre as mais fundamentais estão fórum, trabalho, chat, referendo, diálogo, glossário, l ição, teste, questionário e wiki.

O Moodle representa uma ótima plataforma no que se refere ao quesito ensino-aprendizagem, auxilia a interação entre professores e alunos, facilita o desenvolvimento de trabalhos, suas apresentações, correções e entrega em sala de aprendizagem virtual, que pode estar disponível em qualquer hora e potencialmente em qualquer lugar se a internet estiver ao alcance do usuário. Os alunos reconhecem melhorias em relação à aprendizagem, no ritmo dos trabalhos e também na sua organização, na escrita e na compreensão dos conteúdos propostos.

OBJETIVOO objetivo deste trabalho foi analisar os

aspectos positivos destacados pelos alunos concluintes do curso online de psicologia do esporte na Educação Física escolar.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOSEsta pesquisa, de caráter qualitativo, foi

realizada utilizando o método netnográfico para a obtenção dos dados (KOZINETS, 2014).

SUJEITOS E PROCEDIMENTOSOs sujeitos da pesquisa foram os participantes

do segundo curso online, realizado pelo LEPESPE (Laboratório de Estudos e Pesquisa em Psicologia do Esporte), denominado “Psicologia do Esporte na Educação Física Escolar”. Os participantes concluintes do curso foram 198. Todos estes foram convidados a participar da pesquisa por meio de um e-mail enviado a eles contendo um link, o qual direcionava as pessoas para um questionário armazenado no Google Drive®, e as explicações tanto sobre o questionário quanto sobre a pesquisa. Deste total, 121 responderam o questionário, sendo, portanto, estes os participantes do estudo (n=121).

INSTRUMENTO O questionário é composto por algumas

questões sociodemográficas, perguntas fechadas com respostas dadas em escala do tipo Likert, visando a avaliação de questões pontuais do curso (satisfação e motivação) e 2 perguntas abertas: 1) Quais pontos positivos você destacaria no curso? e 2) Quais pontos negativos você destacaria no curso? Para este trabalho serão analisadas as respostas das duas perguntas abertas e os dados sociodemográficos.

ANÁLISE DOS DADOS

As respostas ficaram armazenadas no Google Drive® e foram exportadas para o computador em um arquivo no formato Excel®, sendo em seguida categorizadas e analisadas por meio análise de conteúdo proposta por Franco (1994). A análise dos dados sociodemográficos foram feitas por meio do programa estatístico S.P.S.S. versão 22.0.

RESULTADOS E DISCUSSÃOInicialmente é interessante destacarmos que

462 pessoas se inscreveram neste curso online, segundo o que consta na plataforma Moodle, como 198 concluíram o curso, isso corresponde a aproximadamente 43%, Hew e Cheung (2014) afirmam que apesar da atração que os MOOCs apresentam, aproximadamente cerca de 10% dos alunos inscritos conseguem concluir os cursos. Esses dados sugerem então que o curso apresentou uma grande aderência de part ic ipantes que se inscreveram no curso e realizaram todas as atividades propostas, demonstrando por meio de sua aderência que possivelmente a estrutura do curso foi interessante para os objetivos de cada aluno.

Em relação aos dados sociodemográficos, dos 198 concluintes do curso, 121 responderam ao questionário e destes indivíduos, 63 eram do sexo feminino e 58 do sexo masculino, com idade entre 18 e 58 anos. Participaram do estudo indivíduos de 15 Estados do Brasil e residentes no exterior, sendo que 74 eram do Estado de São Paulo e 8 do Estado de Minas Gerais.

Acerca da formação acadêmica o número de indivíduos foi respectivamente: ensino superior completo (n=57), ensino superior incompleto (n=37), pós-graduação completa ou em andamento (n=23), ensino médio completo (n=4). A maioria dos indivíduos afirmou já ter participado de algum curso online anteriormente (n=79), enquanto o restante afirmou ser a primeira experiência em um curso online (n= 42). Destaca-se também que 43 afirmaram serem graduados em Educação Física ou estudantes da mesma área, 30 professores e 23 estudantes, os quais não destacaram sua área de formação e 6 psicólogos ou estudantes da mesma área.

A s r e s p o s t a s f o r a m o r g a n i z a d a s e categorizadas de acordo com a frequência. Segue abaixo o gráfico que apresentam os resultados com suas respectivas descrições.

Gráfico: Pontos negativos destacados pelos alunos.

Pode-se perceber pelo gráfico que, na

Interação/Chat/ Fórum

14%

Design/ Plataforma

14%

Vídeos/ Material Didático

15%Nenhum

25%

Avaliação9%

Duração do Curso

4%

Tema5%

Outros14%

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categorização dos pontos negativos da avaliação do curso, a categoria que obteve a maior porcentagem foi nenhum (25%), isso sugere que o curso não apresentou aspectos negativos na opinião da maioria dos indivíduos que responderam o questionário. Já na categoria vídeos/material didático (15%), percebe-se que alguns participantes do curso não ficaram satisfeitos com a qualidade dos vídeos produzidos para o curso e/ou com os resumos didáticos elaborados no Prezi. Na categoria design/plataforma (14%) os participantes do curso destacaram como aspecto negativo a plataforma Moodle e o design nela utilizado, cabe aqui destacar que na elaboração do curso, não houve qualquer tipo de modificação da plataforma, apena houve a inserção dos conteúdos nela.

A categoria interação/chat/fórum (14%), foi apontada pelos alunos devido a falhas em algumas questões pontuais como o horário do chat, pouca participação, falta de interação entre os participantes do curso e entre os tutores e os participantes, Zani e Nogueira (2006) também tiveram como aspecto negativo do curso, destacado pelos alunos, a falta de interação entre os participantes do curso.

A categoria outros (14%), contempla alguns pontos negativos isolados como contato com o administrador do curso, existência de artigos em inglês, mesmo que a leitura destes não fosse obrigatória, falta da indicação de filmes, dentre outros. As outras categorias identificadas nas respostas são, nessa ordem, avaliação (9%), tema (5%) e duração do curso (4%).

CONSIDERAÇÕES FINAISA análise dos resultados apontam que o curso

apresentou poucos pontos negativos, os que foram apontados pelos alunos devem ser revistos de modo a aprimorar uma próxima versão do curso online.

Sugere-se a realização deste curso em outras plataformas e também com algumas modificações visando aprimorar o curso de modo a garantir o principal objetivo deste curso que é a difusão de alguns estudos e leituras que o LEPESPE vêm realizando.

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MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DE MASSA E A AGRESSIVIDADE DO ESPECTADOR DE FUTEBOL

Claudinei Chelles¹; Mauro Betti²

UNESP – Universidade Estadual Paulista | Programa de Pós-Graduação em Educação, Presidente Prudente, SPDoutorando¹; Orientador²

RESUMO

Os meios de comunicação de massa têm um papel decisivo na formação da opinião e conduta da população. Dentre esses, a televisão é um veículo com grande poder de disseminação da informação. Esse estudo tem por objetivo analisar a influência da mídia sobre as ocorrências referentes à agressividade por parte dos participantes envolvidos no evento futebol, enquanto espectadores. A atitude do sujeito é determinada por fatores predominantes, dentre eles as influências do meio social e cultural em que vive, bem como, das influências educacionais e esportivas que o afeta. O problema da violência no esporte, no caso do futebol, não pode ser direcionado para a responsabilidade total da mídia. Porém, sua colaboração é imprescindível, para o aspecto positivo e/ou negativo, dependendo do interesse em questão. Os modelos de comportamento na televisão poderiam influenciar o comportamento do espectador por um processo de aprendizagem, por exemplo, pelo o uso da linguagem. Por isso, é imprescindível repensar as vias da televisão, suas condutas éticas e discutir o sentido filosófico da crise. Pois, rejeitar os meios de comunicação de massa é negar a realidade e as transformações sociais. O âmbito da Educação Física, sobretudo na escola, é um espaço fundamental para o professor intermediar o significado do esporte, neste caso, o futebol-espetáculo, no contexto social e suas relações com a mídia, ampliando o processo civilizatório, tanto dentro quanto fora de campo.Palavras Chave: meios de comunicação de massa, agressividade, futebol

MASS MEDIA AND THE SOCCER SPECTATOR´S AGGRESSIVENESS

ABSTRACT

The mass media have a decisive function in formation of opinion and conduct of population. Among those, the television is a vehicle with great power of spread of information. The objective this study is to analyze the influence of media on occurrences regarding the aggressiveness some participants involved in event soccer, while spectators. The subject's attitude is determined by predominant factors, among them the influences of social and cultural way in that lives, as well as, of the education and sporting influences that it affects. The problem of violence in the sport, in the case of soccer, it cannot be addressed for total responsibility of media. However, collaboration is indispensable, for aspect positive and/or negative, depending on the interest in subject. The models of behavior in television could influence the spectator's behavior for a learning process, for example, the use of the language. Therefore, it is indispensable to rethink the roads of television, their ethical conducts and to discuss the philosophical sense of the crisis. Because, to reject the mass media is to deny the reality and social transformations. The extent of the Physical education, above all in the school, is a fundamental space for the teacher to intermediate the meaning of the sport, in this case, the soccer-spectacle, in social context and their relationships with the media, enlarging the process civilization, so much inside as out of field.Keywords: mass media, aggressiveness, soccer

IntroduçãoOs meios de comunicação de massa

desempenham um papel decisivo na formação da população, atuando verdadeiramente como potenciais educadores coletivos. Dentre esses meios a televisão é um veículo que monopoliza as atenções, além de exercer uma liderança entre esse meios. Sua vantagem reside no apelo multissensorial - combinando visão e audição, mas também despertando o tato e o olfato pelos efeitos das imagens em movimento. Além disso, seduz desde crianças em idade pré-escolar aos jovens e adultos que pouco frequentaram ou foram excluídos da escola. Pois, estes podem dispensar o domínio do alfabeto para ter acesso ao conteúdo transmitido (MELO, 1999).

De acordo com Moraes & Moraes (2012) o futebol é uma expressão da sociedade brasileira e merece ser estudado como tal, por consentir por meio dele que o povo se apresente e se desenvolva numa manifestação que interage emoção e beleza, fascinando as pessoas em todo o mundo. Mesmo com

a violência verbal e/ou física observada, tanto nos estádios, dentro e fora de campo, como em outros espaços ou enquanto espectador, pode ser considerado parte essencial desse esporte, tornando o futebol um evento ainda mais admirado.

Assim, este texto foi elaborado levando-se em consideração uma revisão de fundamentação teórica que nos transfira subsídios sobre a temática, e a partir daí, tem como objetivo analisar e argumentar sobre a influência da mídia na vida das pessoas podendo proporcionar interferências. E, no caso específico desse estudo, direcionado para o futebol e as ocorrências referentes à agressividade por parte dos participantes envolvidos no evento.

Compreendemos por participantes do evento, tanto os atletas, como os espectadores, já que as influências ocorrem em todos os sentidos, com retroalimentação das partes. Ou seja, o que ocorre dentro de campo pode estimular o desencadeamento da agressividade para fora de campo. Assim como o caminho inverso. Podendo existir mais estímulos se houver constante ênfase nos incidentes analisados,

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como acontece em transmissões televisivas no futebol espetáculo.

Surge a expressão “esporte-espetáculo”, complementando a expressão “alto rendimento”, já que esta acolhe a característica central desta manifestação, ou melhor, sua tendência mais marcante, qual seja, a transformação do esporte em mercadoria veiculada pelos meios de comunicação de massa (BRACHT, 1989).

Atualmente observadores da Sociologia e Psicologia do Esporte estão cada vez mais preocupados com os incidentes que ocorrem no esporte devido sua transformação em mercadoria, tornando-se desta maneira a agressividade cada vez mais instigada e colocada à prova (SATO, 1998).

Provavelmente, a transformação do esporte como mercadoria vá ao encontro da necessidade da criação, por parte da mídia, dos ídolos que vendem notícias e produtos vinculados com os programas e emissoras que os patrocinam mantendo-os no ar. Ou seja, paralelamente considera-se o estabelecimento de interesses, principalmente econômicos.

A televisão, por exemplo, utiliza o esporte em grande parte da sua programação. São noticiários e programas esportivos, “mesas redondas”, telejornais e reportagens especiais. A falação informa e atualiza sobre vitórias e derrotas, contratações, salários, contusões; conta a história das partidas, lutas, corridas, campeonatos; cria expectativas, faz previsões, explica, justifica, promete, cria polêmicas e constrói rivalidades. Essa falação garante a coerência e a sequência do debate promovido. Deste modo a programação esportiva sempre poderá continuar no dia seguinte (ECO apud BETTI, 1999).

Agressividade: conceitos, definições e teorias

Um dos principais problemas, na pesquisa sobre agressividade, é justamente a falta de consenso na sua definição como conceito. Também aumenta a confusão quando a investigação da agressividade no esporte invariavelmente emprega o uso de termos como: agressão, violência, hostilidade, firmeza e virilidade (DUDA, 1999).

Para Roffé (1999) a “agressão” é diferente da “agressividade”. Tomamos um esportista qualquer, de uma modalidade qualquer; a agressividade, que necessitamos cada dia para despertarmos pela manhã; essa agressividade para encarar a vida é a que tem que ter o esportista como atitude para encarar a competição e alcançar os objetivos que se propõe. Enquanto que a agressão supõe como objetivo e intenção de ferir ou prejudicar o adversário, no esporte, por exemplo. Então, às vezes a agressividade se canaliza mal e se transforma em uma agressão, porém são duas coisas distintas.

TEORIAS DA AGRESSIVIDADE: Há vários enfoques psicológicos da conduta humana ou da c o n d u t a v i o l e n t a . E x i s t e m t r ê s t e o r i a s fundamentalmente, e são excludentes entre si, e não se superpõem (ROFFÉ, 1999):

1) teoria biológica de Lorenz e Freud, que trata da tendência da conduta agressiva como o homem tendo uma parte boa e outra má, e que dentro da parte má temos mais tendência para a hostilidade e para a agressão. Em uns está mais

reprimida e em outros mais canalizada, e isto é inato, vem com o ser humano. Então, vemos que essa agressão deve canalizar-se de maneira aceitável e que o esporte pode desempenhar um papel destacado. Isso é uma velha crença. Assim, vamos dizer que o futebol amador serve para canalizar a violência, mas no futebol profissional, onde se ganha dinheiro como objetivo, acredita-se que muitas vezes desperte a agressão;

2) teoria da reação emocional que surge como consequência de estímulos indesejados, por exemplo: a frustração (DOLLARD, 1939), e isto leva a uma conduta agressiva. Outro fator é o social: vivemos momentos de violência em todos os setores e o esporte não é mais que uma parte da sociedade. Surge a frustração ou impotência social e então ocorre a situação de violência;

3) teoria da aprendizagem social (BANDURA, 1973) que destaca a aprendizagem da agressão através da observação e do reforço externo. Por exemplo: os meios de comunicação. Vendo muita televisão e que permanentemente tem seguramente ações de violência, então isso transmitiria o reforço pela violência.

A pe r sona l i dade de uma pe s soa é determinada por diversos fatores, entre os principais estão a sua constituição biológica e psicológica, e principalmente, as influências do meio social e cultural em que vive, como também, das influências educacionais e esportivas que recebe (HOKINO, CASAL, 2001).

Para Kremer & Scully (1998), o esporte representa meramente o cultivo ou refinamento do instinto agressivo. Sendo que o esporte de qualquer tipo representa uma aceitação social para exibir nosso instinto destrutivo básico.

Lorenz numa entrevista para Evans (1979) apresenta sua visão sobre a agressividade. A seguir trechos deste diálogo:

LORENZ: “Se as crianças se acostumam a ver guerras, assassinatos e lutas na TV, suas inibições contra cometer estes atos violentos podem diminuir. Não é que você esteja aumentando o potencial agressivo, mas é que você está baixando as inibições, criando um clima social que tolera atos agressivos”;

LORENZ: “(...) Não me surpreendo que a criança se torne mais agressiva, mas me surpreenderia se o fato de eliminar todos os fatores que produzem estímulos agressivos produzisse uma criança não agressiva. (...) As crianças são muito agressivas em ambiente permissivo e não frustrador. De outro lado, você pode encorajar a agressão reforçando-a pela aprovação social.”

EVANS: “Isso é uma forma de aprendizagem social que chama-se de modelagem (BANDURA). Agora, aplicando isto à violência na televisão, é possível que tal violência venha a ser um modelo que reforça padrões de violência. Eu deduzo que o senhor concorda.”

LORENZ: “Sim, de fato. Quando a violência dos modelos é recompensada, a criança fica muito disposta a imitá-los. (...) Em On Aggression escrevi outra coisa que eu gostaria de modificar, se fosse escrever de novo. Atualmente tenho sérias dúvidas, entre outras, sobre se, assistir a comportamentos agressivos, mesmo sob o pretexto do esporte, tenha

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qualquer efeito catártico no final.”Na vida, como nos esportes, muitas vezes o

progresso e a realização dependem de uma agressividade adequada. Por isso a agressividade não é necessariamente um atributo indesejável da personalidade, basta que ela seja usada de maneira construtiva e positiva, de acordo com as regras esportivas e culturais, inerentes ao esporte praticado (HOKINO, CASAL, 2001).

Partindo do princípio que a agressão representa algo inato, espontâneo e cumulativo, o qual provoca no organismo humano uma acumulação continua de energia agressiva, esta deve ser descarregada de vez em quando (SAMULSKI, 1992).

Ao proporcionar oportunidade para a liberação e canalização desta energia precisamos analisá-la com cuidado. Pois, situações favoráveis para tais ocorrências surgirão com determinada frequência. O problema consiste em perceber o limite para essas atuações de modo que não prejudique outras pessoas.

Ao observar uma atitude violenta, seja na televisão, nas arquibancadas, no cinema, no esporte ou em qualquer outro lugar, as pessoas podem projetar-se no papel daquele que está atuando e liberar suas emoções. O termo catharsis descreve esta situação. O problema se instala quando o observador de ações hostis aproveita a ocasião para liberar seus impulsos agressivos. A partir desse raciocínio, o espectador que torce e grita durante a competição, está se beneficiando desta situação. Um ponto de vista contrário é de que aquele que assiste a uma atividade violenta se torna mais hostil. Ao invés de propiciar uma liberação emocional satisfatória, a experiência se torna tal que inflama agressões existentes (SINGER, 1982).

A influência da mídia no comportamento agressivo

O futebol em si não é uma prática esportiva violenta, embora nos deparamos, com relativa frequência diante de práticas de violência, tanto dentro, quanto fora do campo de jogo. A rotina de veiculação da violência na mídia reforça a banalização no tratamento do tema, arrefecendo assim as possibilidades de um tratamento mais crítico do fenômeno. De tal modo que a violência vem ganhando parte significativa na agenda social, em especial nos veículos de comunicação de massa (MURAD, 2007; SANTOS, 2010).

Helal (2001) menciona que em qualquer cerimônia tribal, os espetáculos também necessitam de testemunhas, na função de espectador, para legitimar seus eventos. Mais do que meros agentes que atuam passivamente, estas testemunhas são parte integrante da 'cerimônia espetacular'. Assim, mídia, público, ídolos, fãs, indivíduos anônimos e audiência, ao mesmo tempo coexistem e fazem parte um universo integrado onde uma parte não faz sentido sem a outra.

Ou seja, o indivíduo quando participa de determinada modalidade esportiva, mesmo que inconsciente, tem a chance de executá-la com certo grau de exibicionismo já que aí está uma

oportunidade para mostrar seus atributos para esta atividade, traduzida pela sublimação. Portanto, a presença de outros pode motivar o executante em sua realização. É o que acontece, se por acaso nesse evento encontrar-se a presença de câmera de televisão, seja no esporte espetáculo ou amador.

O problema da violência no esporte, no caso do futebol, não pode ser direcionado para a responsabilidade total da midia, aqui específico para a televisão, através do jornalismo esportivo, que ocupam grande tempo na grade das emissoras. Porém, sua colaboração é imprescindível, para o aspecto positivo e/ou negativo, dependendo do interesse em questão.

A reprodução do modelo profissional competitivo é impulsionada pela indústria do esporte e do entretenimento e por diversos outros interesses. A Interferência das mídias nesse processo aumenta dia a dia e pressupõe cenografias para convencer o público que a assiste. O avanço tecnológico da comun i cação ab r i u a s po r ta s pa ra uma comercialização sem precedentes da mercadoria futebol (MELANI, 1999; SILVA, 2012).

Embora a sociedade faça tentativas para suprimir e combater as ações agressivas com leis rigorosas e com punições através do sistema penal, no caso especifico do esporte, este está inserido em um contexto onde o jogo agressivo é muitas vezes recompensado e os jogadores agressivos são vistos como um verdadeiro exemplo de espírito esportivo (DUDA, 1999).

Para Lovisolo (1998) na proporção em que o futebol torna-se crescentemente empresarial e internacional, múltiplos ganhos dos profissionais e lucros dos investidores, por seus meios, induziriam ou provocariam as condutas transgressoras.

Os modelos de comportamento na televisão poderiam influenciar o comportamento do espectador por um processo de aprendizagem. Especialistas em crimes acreditam que devido aos muitos programas violentos surgiriam as decisões insensatas na juventude. Essas cenas poderiam causas traumas em quem as assiste e permitiriam a essas pessoas, quando tomada por cólera, repetirem atitudes violentas já vistas ou ouvidas. Assim, haveria uma predisposição à violência (SINGER, 1975).

Como mencionou Betti (1997), os jornalistas são capazes de influenciar as ações dos atletas e espectadores mediante o uso da linguagem. Na mídia brasileira, o recurso às faltas, muitas vezes, é justificado como válido para obter a vitória em partidas decisivas. Por exemplo, um locutor assim se referiu à jogada de Maradona, que resultou na desclassificação do Brasil na Copa do Mundo de 1990: “(...) quando ele driblou o primeiro tinha que tomar uma varada e jogar ele ao lado de fora do campo, aí ele não fazia mais nada disso. Eles dão no nosso!”.

Um acontecimento mostrado tantas vezes pela TV como ocorre hoje, dá, para quem assiste, a impressão do fato ter uma dimensão muito maior do que realmente e. Portanto, também deve ser considerado que pode estabelecer-se outro nível de consciência. Ou seja, o espectador pode começar a banalizar o conjunto desses fatos, considerando-os como normais ou afastando-os da condição humana.

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Betti (1998) afirma que a massificação e a comercialização do esporte têm sido marcadas como a origem estrutural de comportamentos desviantes no esporte, tais como a violência, doping, fraude, etc., e r e p e t i d a m e n t e a r r o l a d o s c o m o p a p e l desempenhado pela mídia esportiva. De tal modo, a mídia forma uma hierarquia de valores que produz em grande medida a atitude do consumidor, tendo grande efeito na prática do esporte em si: “os fins justificam os meios”, e, deste modo, se levar ao sucesso pela violência é permitida.

A mídia, interesses e consequências

A definição da notícia é um ato de decisão consciente dos profissionais da mídia. Essa é a realidade dos meios de comunicação de massa. Mas nem sempre a imprensa acerta no seu papel social. Por isso, é imprescindível repensar as vias da televisão e rever suas condutas éticas. “Norma respeitada é garantia de prestígio, mas norma descumprida é o itinerário mais curto para a perda do maior capital de um meio de comunicação: a credibilidade” (TOLEDO, 1999).

Roldão (1999) afirma que influência da televisão já ultrapassou em muito o alcance que a escola, a igreja e já começa a ir além da família, nas decisões do cotidiano das pessoas. Porém, não se pode afirmar qual o grau das reações que ela provoca, desencadeia ou enfatiza, porque é notório que essa interferência depende de diversas condições, que vão desde a produção da grade da programação, indo em direção do espectador, com envolvimento multifatorial.

Não é real crermos que a transmissão esportiva apenas nos transmite o que é essencial no evento, pois conta com a opinião pessoal de um narrador, que de certa forma interpreta as ações da partida sobre sua ótica. Aquilo que assistimos está pressuposto sobre diversas óticas. Produz uma dúbia realidade do que realmente acontece, sem comprometer-se em educar quem assiste o espetáculo esportivo. Encontra-se o paradoxo a ser trabalhado antecipadamente por quem tem a possibilidade de educar: ao comunicarmos, num diálogo, temos a oportunidade de apontar caminhos, visualizar entrelinhas. No entanto, ao informar, a mídia não dá espaço para o questionamento, produzindo a sensação de que apoia-se em uma verdade universal, formando uma nova hierarquia de valores, a qual determina em grande medida a atitude do consumidor (SANMARTIN, 1999).

Roldão (1999), citando Bourdieu, se dirige aos comentaristas esportivos como pequenos diretores de consciência que se fazem, sem ter que forçar muito, como legít imos porta-vozes de uma moral tipicamente pequeno-burguesa, que ditam, para os espectadores da programação, o que se deve pensar sobre os fatos.

A coparticipação da mídia na diminuição da agressão

O propósito não é o de mostrar uma visão derrotista dos meios de comunicação e da sociedade. Ao contrário, o objetivo é alertar para o sentido

filosófico de crise, isto é, a capacidade do ser humano reconhecer seus próprios erros e defeitos e lutar para corrigi-los, esperando sempre o melhor (FALASCHI, 1999).

Autores, inclusive jornalistas esportivos, reivindicam e sugerem, dentre outras, a utilização da mídia como agente coparticipante na contenção da agressão e violência no esporte, neste caso no futebol:

“Cuidando da educação, dentre outros, com campanhas pelos órgãos de imprensa – especialmente com as emissoras de televisão na transmissão dos campeonatos, a obrigação de colocar no ar campanhas educativas, promover mesas redondas sob o tema violência entre as torcidas. (AQUINO, 1996, p.59)”;

“(...) Também a imprensa deveria avaliar seu trabalho evitando abordagens que tratam eventos esportivos como verdadeiras batalhas sangrentas (NOGUEIRA, 1996, p.117)”;

”Os meios de comunicação também têm papel fundamental, seja moderando o linguajar bélico com que costumam tratar os jogos de futebol, seja se policiando na dosagem de violência que costumam transmitir (KFOURI, 1999, p.64)”.

Deve ser cobrado aos clubes, às torcidas que remanescerem, à imprensa, à sociedade em geral, campanhas massivas contra a violência. A cada espetáculo de futebol, algo deve ser feito, como requisito da apresentação esportiva, contra a violência e pela volta da alegria. Esse processo educativo vai exigir a reflexão de quantos conviverem com a prática esportiva (SANTOS JR., 1996; HELENA JR., 1996).

Considerações finaisO controle da agressão requer a inclusão de

algumas ações, como reconhecer possíveis situações de ocorrência, ensinar as pessoas como proceder nessas si tuações, ensinar comportamentos apropriados e modificar os comportamentos agressivos (WEINBERG, GOULD , 2001).

O ser humano se apresenta com agressividade para sua sobrevivência, por diversos aspectos. Conforme se acrescenta aos seus valores a necessidade de consumo para sua existência na sociedade do espetáculo, ele adquire os produtos estipulados pela mídia para usufruí-los. Surge, então, a oportunidade de estimular sua agressividade na tentativa de se manter participante no meio em que vive.

De acordo com CAGIGAL (1995) , o autocontrole é o primeiro grande princípio da convivência humana. Assim, quanto mais elaborada for a capacidade de entendimento do indivíduo em determinadas situações, maior será a possibilidade dele responder de forma civil.

Quanto maior for a profissionalização do esporte, maior é a ênfase na vitória como meta dos esforços. O mais interessante é que a mesma mídia que apela pelo fair play é a mesma que acende o desejo de violência no esporte, já que esta patrocina e aloca muito dinheiro em eventos esportivos. Entretanto, não podemos simplesmente assumir uma posição moralista e condenar a televisão e o esporte que ela retrata. Apesar de que a própria mídia quer

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nos fazer acreditar que uma maior severidade nas punições será suficiente para resolver o problema da violência no esporte (BETTI, 1998).

Os meios de comunicação de massa expressam o próprio dinamismo do homem, suas contradições e atitudes com relação aos fatos. Rejeitar os meios de comunicação de massa e, particularmente, a imprensa é negar a realidade, a compreensão humana, as transformações sociais (TOLEDO, 1999).

Concluímos que é necessário analisar potencialmente a força da imagem. Porém, é necessário proporcionar, aos que não tem a possibilidade da reflexão sobre os fatos, a oportunidade para tal. Isso deve ocorrer na competência do âmbito da Educação Física, em todos os seus campos de atuação, principalmente na escola. Requerendo ao professor que vislumbre e interprete o que representa o esporte, neste caso, o futebol-espetáculo, no contexto social e suas relações com a mídia.

Consequentemente, é necessário aparecer o repasse aos alunos com a criação da discussão e assimilação sobre a essência do tema. Sempre considerando que o aluno é o telespectador e praticante, seja no lazer, no clube e principalmente, na própria escola – local de aprendizagem para posterior aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos. A partir daí, surge a convicção do estabelecimento de uma sociedade mais liberta e conhecedora de sua cultura.

Portanto, há necessidade de constante discussão sobre a forma como os fatos são colocados e transmitidos pela mídia. Esta atitude deve ser estimulada pelos responsáveis tanto da própria mídia como do sistema educacional. A partir daí agregar com as atitudes do judiciário elaborando uma grande frente no controle da violência no futebol, ampliando o processo civilizatório, tanto dentro quanto fora de campo.

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O JOGAR SOB UMA INVESTIGAÇÃO PSICANALÍTICA

Claudinei Chelles¹; Mauro Betti²

UNESP – Universidade Estadual Paulista | Programa de Pós-Graduação em Educação, Presidente Prudente, SPDoutorando¹; Orientador²

RESUMO

Para Freud o conjunto da atividade psíquica tem por finalidade a busca do prazer e a fuga ao desprazer, e disso deriva que os aspectos associados às lembranças de experiências desagradáveis têm por tendência o afastamento do nível da consciência. O inconsciente se repete no sujeito, no seu modo de ser e por onde ele vê o mundo. Essa repetição se manifesta também na prática do jogo. Este estudo se apoiou na análise da metapsicologia freudiana do jogar/brincar. Pois, independente da esfera em que esteja atuando, a atividade do jogo é realizada, predominantemente, sob um ambiente predominantemente prazeroso. O jogo pode propiciar situação para que ocorra a sublimação das forças pulsionais, possibilitando sua ocorrência, de modo aceitável socialmente, contribuindo para a realização da satisfação. Assim, este estudo teve como objetivo refletir, a partir da leitura de trechos da obra freudiana, sobre o desejo e o prazer de jogar. Para a elaboração desse texto foi realizada revisão bibliográfica pertinente ao jogo, na relação com a psicanálise a partir de Freud e outros autores.Palavras-Chave: Jogar/Brincar, Desejo, Psicanálise

TO PLAY UNDER A PSYCHOANALYTIC SEARCH

ABSTRACT

To Freud the group of the psychic activity has for purpose the search of pleasure and escape to the displeasure, and of that drift that the aspects associated to memories of unpleasant experiences have for tendency the removal of level of conscience. The unconscious repeats in subject, in way of being and through where he sees the world. That repetition also shows in practice of game. This study leaned on in analysis of Freudian work to play. Because, independent of sphere in that it is acting, the activity of the game is accomplished, predominantly, under an atmosphere predominantly pleased. The game can propitiate situation so that it happens the sublimation of drive forces, making possible occurrence, in an acceptable way socially, contributing to accomplishment of satisfaction. Like this, this study had as objective contemplates, starting from the reading of passages of Freudian work, on desire and the pleasure to play. For the elaboration of that text pertinent bibliographical revision was accomplished to the game, in relationship with psychoanalysis starting from Freud and other authors.Keywords: To play, Desire, Psychoanalisys,

IntroduçãoO princípio do prazer é uma tendência cujo

encargo é liberar o aparelho psíquico de excitações, manter a quantidade de excitação constante, ou ainda mantê-la a mais baixa possível. As pulsões de vida têm muito mais relação com nossa percepção interior, surgindo como desestabilizadores da quietude e frequentemente elaborando tensões cujo alívio é sentido como prazer, enquanto que as pulsões de morte parecem executar sua função com discrição. O princípio do prazer procede do principio de constância, que ocorre pela tendência a preservação constante da excitação (FREUD, 1920).

Conforme Valas (2001), Freud utiliza dois termos, em alemão, para designar o desejo: Wunsch, que significa desejo, e Lust, que se traduz como prazer. Ali, o Wunsch é o desejo inconscientemente recalcado, e ao mesmo tempo é realização de desejo. O desejo inconsciente tende a realizar-se na elaboração onírica pela qual uma experiência de prazer ou de desprazer foi retida no aparelho psíquico. Assim, ele comenta a sua teoria a respeito do sonho como consumação de desejo.

Há que se considerar que a libido é, para a psicanálise, a circulação de uma energia psíquica. A libido, a priori, é produzida inicialmente no corpo e consequentemente se transforma em energia psíquica. O corpo produz constantemente muita energia. Sendo que uma porção dela é consumida

para a manutenção do próprio corpo. Sempre resta um pouco de libido, que vai se acumulando. A realização de alguma atividade que descarregue essa energia é a vivência do prazer. O outro lado, ou seja, quando a libido se acumula demais e não é descarregada, é que em vez de prazer sentimos ansiedade, nervosismo, irritação, insônia... Assim, as atividades culturais humanas são a expressão da libido na luta pela sobrevivência (FREUD, 1920).

Este estudo tem como objetivos refletir e compreender o desejo e o prazer do sujeito no ato de jogar tendo como referencial alguns momentos da obra freudiana. E, a partir daí, analisar alguns mecanismos psicanalíticos da prática do jogo. Isso devido à observação que a experiência da prática do jogo transita em vários espaços, com diferentes intencionalidades: lazer, saúde e educação escolar. De tal modo, analisar o jogo como fenômeno sociocultural implica conectá-lo à formação cultural dos grupos e indivíduos praticantes.

Justificamos que essa investigação ocorre pela importância da necessidade dos envolvidos que utilizam do jogo, em seu processo pedagógico, sobre o imprescindível valor de sua fundamentação teórica, a f im de proporcionar subsídios quanto a possibilidade do jogar/brincar como atividade realizada com prazer, util izando-se da via psicanalítica do desejo para explicá-la.

A criança que brinca inventa um mundo de

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fábula ao qual se sujeita, porém também mantém uma separação entre ela e a realidade. Há um suave equilíbrio que somente pode ser mantido por uma atividade simbólica. Assim, a relação com a realidade é conflitava. Existe aí algo que se torna impenetrável, que não fala e foge de todo discurso. É a impossibilidade. Pelo jogo se pode perceber o desejo que não vai ser satisfeito e, assim, tenta corrigir uma realidade insatisfatória; mostra a impossibilidade e seu retorno (VIDAL, 1999b). Podendo a partir dessa perspectiva, discutir-se às razões da compulsão à repetição na relação com o vício do jogo, por exemplo.

Portanto, é importante investigar o significado do termo jogo do ponto de vista psicanalítico, que ele é uma parte da realidade social, que este momento se desenvolve e se transforma, que não há apenas esse termo, mas sim uma grande multiplicidade de distintas atividades que surgem de diferentes configurações e que são cumpridas com diferentes intenções.

Foram utilizados, dentro da obra freudiana, os textos “Gradiva de Jensen e outros trabalhos” (1906/1908) e “Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros trabalhos” (1920), disponíveis na Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, sendo realizada leitura e fichamento sobre aspectos da conduta humana em s i tuações do jogar/br incar, com enfoque psicanalítico. A escolha dos textos deu-se a partir da maior frequência do tema verificada no índice analítico e remissivo da edição supracitada. Porém, consideramos que na própria obra há muito material pertinente à discussão desse tema. Assim, determinados que aqui estamos lidando com um enfoque sobre o jogar/brincar.

Também, foram considerados art igos publicados em revistas especializadas, bem como livros apresentados como resultado do levantamento bibliográfico e revisão. O acesso utilizado com cruzamento dos temas/palavras para levantamento bibliográfico e revisão de literatura realizados a partir da base de dados ligada a rede Parthenon e Scielo com acesso a busca dos temas “jogar/brincar” e “Freud”.

O que mobiliza o prazer de jogar no ser humano

Para Nasio (2007), temos fantasias por que temos desejos que nos agitam no mais profundo de nós mesmos, por que temos desejos agressivos e sexuais que querem se satisfazer imediatamente sem levar a realidade em consideração. Pois bem, a fantasia é isto: um instante mental catártico que encena a satisfação do desejo e descarrega sua tensão. Então, a fantasia é a encenação no psiquismo da satisfação de um desejo imperioso que não pode ser saciado na realidade. Porém, observa-se que a fantasia pode, ao contrário, desempenhar o papel de estimulador do desejo, reavivá-lo e aumentar sua intensidade.

Ainda para o mesmo autor, a fantasia tem como papel suprir uma satisfação real impossível por uma satisfação idealizada possível. Por conseguinte, o desejo é então parcialmente satisfeito sob a forma

de uma fantasia que, no reservado do inconsciente, reproduz a realidade. A fantasia é uma defesa do eu para conter o desejo e assim descarregamos nossa tensão: diante da veemência do desejo, o eu é obrigado a se defender de duas formas: seja tentando recalcar o desejo sem nunca consegui-lo de fato; seja criando uma fantasia, isto é, imaginando um alívio possível que supra o alívio completo e impossível clamado. Uma fantasia inconsciente é a figuração plástica de um desejo inconsciente.

Ou seja, realizar o desejo é obter prazer, por exemplo, o prazer da prática do jogo/brincar. Ou o prazer de exercer atividades que não podem ser realizadas. Muitos desejos não podem ser realizados na forma em que aparecem. Eles precisam ser recalcados para não incomodar a consciência. São mandados para o inconsciente e os desejos refreados não perdem sua libido. Estão presentes e em alguns momentos realizam mobilizações, promovendo sonhos, pesadelos, acessos de raiva, sintomas físicos, etc . Todavia, há poss ib i l idades de outras interferências do inconsciente. Ou seja, “agredir alguém não é permitido. Mas, atitudes dentro da regra do processo civilizatório, como por exemplo, do jogo, sim”.

Em “Além do Princípio de Prazer”, Freud (1920) discute o fato de que a pessoa não pode recordar a totalidade do que nele se acha reprimido, e o que não lhe é possível recordar pode ser exatamente a parte essencial. Dessa maneira, a pessoa não adquire nenhum sentimento de correção da construção teórica que lhe foi comunicada. É obrigada a repetir o material reprimido como se fosse uma experiência contemporânea. Também diz que as resistências da pessoa originam-se do ego e então, imediatamente perceberemos que a compulsão à repetição deve ser atribuída ao reprimido inconsciente.

No “princípio do prazer” e a constatação da ação deste princípio é fácil de ser aceita, pois é o que nos faz tentar resolver tudo o que nos incomoda e buscar o que é agradável. A fome, a sede e o sono são necessidades básicas, sentidas como incômodo. Resolvê-las é sentido como prazeroso. Nesses casos a resolução é recolocar algo que está faltando: comida, água e repouso. E também rege ações que não estão ligadas a necessidades básicas, o que nos coloca diante de situações mais complexas e sutis.

Ainda na sequência, Freud (1920) discorre a sua teorização acerca do princípio de prazer e prossegue em suas elaborações no que concerne à pulsão. Por meio de suas verificações, ele começa a perceber que há algo de pulsional que conduz o sujeito no sentido de certa destrutividade, que vem acompanhada de sensações desprazerosas. Em outros termos, o sujeito extrai algo relacionado ao prazer de tais sensações desprazerosas. Percorrendo esse caminho ele vai chegar ao conceito de pulsão de morte, estabelecendo assim o dualismo pulsional: pulsão de vida versus pulsão de morte.

O jogar/brincar e o sujeito

A diferença entre as principais línguas européias (onde spielen, to play, jouer, jugar significam tanto jogar como brincar) e a nossa nos obriga frequentemente a escolher um ou outro destes

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dois, sacrificando assim à exatidão da tradução uma unidade terminológica que só naqueles idiomas seria possível. Também em português a palavra divertimento é apenas a maneira menos inadequada de exprimir esse conceito, que para o autor corresponde à própria essência do jogo, e está ligado também a noções como as de prazer, agrado, alegria, etc (HUIZINGA, 1999).

Uma característica no conceito de jogo enfatizado por Huizinga (1999) é sobre a agradável sensação de arrebatamento possibilitada por seu ritmo e harmonia extremamente cativantes, ou seja, a presença da alegria no ato de jogar. Entretanto, ao mesmo tempo em que gera alegria é seriamente encarado por seus praticantes, pois somente essa seriedade é que garante o acesso ao jogo. Geralmente, se o jogo perde sua seriedade, ele deixa de ser jogado pelos seus praticantes.

O brincar da criança é apontado pelo desejo que ajuda o seu desenvolvimento -, o desejo de ser grande e adulto. A criança está sempre brincando 'de adulto', imitando-o sem razões para ocultar. Sobre o adulto se tem a expectativa que não continue a brincar ou a fantasiar, mas que aja no mundo real. O adulto envergonha-se de suas fantasias por serem infantis e proibidas (Freud, 1908).

O jogo propicia situação para que ocorra a sublimação das forças pulsionais, tanto de dominação, quanto de agressão inerentes ao entendimento da psicanálise, possibilitando sua ocorrência, de modo aceitável socialmente, contribuindo para a realização parcial direta da satisfação.

Sublimação é o termo postulado por Freud para explicar certas atividades humanas que aparentemente não guardam relação com a sexualidade, mas que encontram sua energia na força da pulsão sexual. Ele descreveu como atividades com finalidades principalmente direcionadas para habilidades artísticas e para a investigação intelectual (LAPLANCHE; PONTALIS, 2004).

De acordo com Vidal (1999a) a criança expressa suas fantasias, seus desejos e suas experiências de um modo simbólico por meio dos brinquedos e jogos. Se desejamos compreender corretamente o jogo da cr iança devemos desentranhar o significado de cada símbolo separadamente.

Moura (2007) menciona que em O criador literário e a fantasia de Freud, ao brincar, ou jogar, as crianças criam um mundo próprio ajustado ao seu desejo, distinguindo-o, perfeitamente da realidade. É justamente o que faz o escritor criativo ao produzir um mundo de fantasia através da arte, pois, apesar de investir uma grande quantidade de emoção neste mundo, mantém uma separação nítida entre este e a realidade. Portanto, esta conexão é o que diferencia o brincar do fantasiar.

Freud (1908) menciona que: “A ocupação favorita e mais intensa da criança é o brinquedo ou os jogos. Seria errado supor que a criança não leva esse mundo a sério; ao contrário, leva muito a sério a sua brincadeira e despende na mesma muita emoção. A antítese de brincar não é o

que é sério, mas o que é real. Apesar de toda a emoção com que a criança catexiza seu mundo de brinquedo, ela o distingue perfeitamente da realidade, e gosta de ligar seus objetos e situações imaginados às coisas visíveis e tangíveis do mundo real. Essa conexão é tudo o que diferencia o 'brincar' infantil do 'fantasiar'”.

O termo fantasia se estabelece para a psicanálise, segundo Laplanche (2004), como um roteiro imaginário que o sujeito está presente, e que representa, de modo mais ou menos deformado pelos processos defensivos, a realização de um desejo e, em última análise, de um desejo inconsciente.

O universo do brincar e do fantasiar das crianças, para Freud, é seguramente uma das afirmações que melhor destaca a dimensão criativa da ilusão. Pois, enquanto a criança brinca, ela cria um espaço que é próprio e que habita com as invenções de sua imaginação, que não são outra coisa senão realizações de seu desejo narcísico, o qual se acredita ser onipotente (ROCHA, 2012).

Ao abandonar as brincadeiras, as crianças mais crescidas, assim como os jovens e adultos passam a utilizar-se dos devaneios ou sonhos diurnos, as chamadas fantasias conscientes. Para isto é criada toda uma situação que é fortemente investida imaginariamente, mas que o sujeito, para se resguardar das exigências da realidade externa, a oculta (MOURA, 2007).

Assim, Freud (1908) afirma: “Ao crescer, as pessoas param de brincar e parecem renunciar ao prazer que obtinham do brincar. Contudo, quem compreende a mente humana sabe que nada é tão difícil para o homem quanto abdicar de um prazer que já experimentou. Na realidade, nunca renunciamos a nada; apenas trocamos uma coisa por outra. O que parece ser uma renúncia é, na verdade, a formação de um substituto. Da mesma forma, a criança em crescimento, quando pára de brincar, só abdica do elo com os objetos reais; em vez de brincar, ela agora fantasia. Acredito que a maioria das pessoas construa fantasias em algum período de suas vidas.”.

Freud se refere ao jogo da criança em alguns trabalhos sendo entendido como um discurso onde o inconsciente produz seus efeitos. Trata-se então, não de criar técnicas, mas de escutar nesse discurso particular que a criança sustenta as formações do inconsciente. Assim, analisa-se aí um sujeito que se manifesta nos seus desenhos, sonhos, relatos, e dentre eles, os jogos (VIDAL, 1999a).

“Pude, através de uma oportunidade fortuita que se me apresentou, lançar certa luz sobre a primeira brincadeira efetuada por um menininho de ano e meio de idade e inventada por ele próprio. Foi mais do que uma simples observação passageira, porque vivi sob o mesmo teto que a criança e seus pais durante algumas semanas, e foi algum tempo antes que descobri o significado da enigmática atividade que ele constantemente repetia” (Freud, 1920).

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Para Freud existe na vida psíquica uma disposição irresistível à repetição, uma tendência que se afirma sem levar em conta o princípio de prazer, situando-se acima dele, atribuindo ao sujeito a prova de uma sa t i s fação doent ia , cu jo cará te r incompreensível necessita ser interpretado. Trata-se de explicar esses fatos sofríveis, cuja repetição é aparentemente contraditória na relação com o princípio do prazer. Necessita-se conferir a influência praticada por essa disposição repetitiva, tanto esses fenômenos recursivos e dolorosos quanto às brincadeiras repetitivas da criança, fontes de prazer para ela. Dentre essas brincadeiras, temos o exemplo do Fort-Da, e são comuns elaborações simbólicas com frequência tendo sucesso, cuja função é tamponar os efeitos desprazeroso de experiências penosas do passado.

Segundo Vidal (1999b) a partir do ensino freudiano sustentamos que é no jogo e pelo jogo que o sujeito "elabora sua situação penosa" e se inscreve na ordem da linguagem. Esta situação penosa está implicada na natureza humana. Quando o neto de Freud brinca de estender o carretel com sua recuperação, algo se operou, para passar de sua posição de objeto dependente e se aventurar no domínio da perda do objeto, imaginá-lo como faltante.

“Acabei por compreender que se tratava de um jogo e que o único uso que o menino fazia de seus brinquedos, era brincar de 'ir embora' com eles” (Freud, 1920).

Para Adami (2006) ressalta-se que o Fort-Da é uma possibilidade de acesso ao sublimatório que o menino utilizou para expressar os seus desejos e fantasias, já que sem esses recurso lúdico, seus afetos poderiam percorrer outras vias que fossem menos prazerosas e saudáveis. Sendo que sem a simbolização pode-se pensar na instalação de uma estrutura mais comprometedora como a psicose.

O jogo ocupa um lugar no contexto contemporâneo, dado que, no seu espectro de expressões, que não se trata apenas um espetáculo esportivo, mas presente também em outras possibilidades de ação. Ou seja, no andamento da sua existência, o jogo tem sido praticado, treinado e investigado por diferentes perspectivas as quais deixam perceber concepções diversas a propósito de seu conteúdo e das características que o seu ensino deve assumir.

O jogo se apresenta pela repetição de ações que visam à superação do que está sendo colocado em aposto no momento, e também o sujeito se impõe a busca da auto-superação. Fica evidente que a investida de auto-superação se direciona para o prazer em consequência do jogo e, também proporciona liberdade na manifestação do sujeito evidenciando seu caráter lúdico.

Outra característica no conceito de jogo enfatizado por Huizinga (1999) é a agradável sensação de entusiasmo possibilitada por seu ritmo e harmonia extremamente cativantes, ou seja, a presença da alegria no ato de jogar. Entretanto, ao mesmo tempo em que gera alegria é seriamente encarado por seus praticantes, pois somente essa seriedade é que garante o acesso ao jogo. Geralmente, se o jogo perde sua seriedade, ele deixa

de ser jogado pelos seus praticantes.

Considerações finais

Por intermédio dos desejos e dos prazeres, ou não prazeres, que o sujeito se institui. Uma criança constantemente exige algo que vai além de sua necessidade orgânica. Há sempre algo que vai organizá-la em torno do que ela é e irá autenticar sua subjetividade, o desejo é sempre inconsciente e será sempre almejado ao longo de sua existência, para realizá-lo. Aquilo que movimenta o psiquismo e a vida, ele é constituído pelo que faltou a criança; e por ser proveniente desta falta não há realização completa, mas sempre haverá busca.

A partir do apresentado, pode-se considerar que alguns aspectos do brincar/jogar, nos remete ao posicionamento de Freud sobre sua importância no desenvolvimento da criança e que suas ocupações prediletas se davam com grande intensidade pelo desejo dessa prática. E, também, o brincar através do jogo para a criança permite o resgate histórico dos processos inconscientes, bem como de seu desenvolvimento emocional a partir de sua autoestima no relacionamento com o outro e consigo mesma, estabelecendo um controle interno que é elaborado e que pode se manifestar a partir do princípio do prazer.

A compreensão e a descrição sobre a ocorrência denominada agressividade que vem à tona na forma de atuação inconsciente e que em outro extremo brota na reação do sujeito com um sentimento de compaixão, tem como possibilidade da compreensão a busca de referenciais psicanalíticos que se amparam na descrição dessas determinadas emoções vivenciadas por um tipo de pulsão que preserva a vida e que, também, a destrói e que a denominamos pulsão de morte, que pode vir a se manifestar da situação de jogo quando o sujeito tem contato mais ríspido com seu oponente.

Ou seja, Freud mencionou que há algo de pulsional que remete o sujeito para certa destrutividade. Percorrendo nesse caminho ele vai culminar na fundação do dualismo pulsional: pulsão de vida versus pulsão de morte. Ou seja, pode-se propiciar situações “artificiais” para que ocorra a sublimação das tensões pulsionais, tanto no que se refere à dominação, quanto da agressão, que são próprios ao entendimento da psicanálise, mas autorizando sua ocorrência, em circunstâncias aceitáveis socialmente, como no jogo.

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CARACTERIZAÇÃO TEÓRICA DA FILOSOFIA SAIKOO DE JIU-JÍTSU E DAS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA DESPORTIVA NA PERFORMANCE DOS ATLETAS

1 2Autor: Marcelo de Carvalho Spolzino; Orientador: Claudemir Gomes

1 Professor de educação física, psicólogo clínico e esportivo e especialista em fisiologia e performance humana

2 Docente no Curso de Psicologia, da FAC-FEA.

[email protected]

RESUMOO propósito deste estudo foi buscar os aspectos teóricos que compõe a arte marcial Jiu-Jítsu enquanto modalidade esportiva, e avaliar os aspectos biopsicossociais em praticantes ou lutadores deste tipo de luta. Foram realizadas buscas bibliográficas em periódicos e artigos eletrônicos, além da pesquisa de campo nas academias de Jiu-Jítsu pertencentes à equipe saikoo no município de Araçatuba-Sp. De modo geral, os estudos revelam que todas as dimensões relacionadas à perspectiva biopsicossocial e espiritual na amostra coletada nas academias supramencionadas, a menor pontuação foi observada no aspecto negativo, salientando um pequeno desequilíbrio dentre as quatro dimensões. Mas em contrapartida, os aspectos positivos apresentaram maior pontuação, onde se pode concluir que a modalidade desportiva Jiu-Jítsu faz com que seus praticantes ou lutadores mantenham um maior equilíbrio e harmonização das quatro dimensões que são: corpo, psiquismo, meio social e cultural e também espiritual. O modelo biopsicossocial e espiritual nos apresenta a imensa complexidade que são as pessoas, afirmando que o comportamento e as ações psicológicas do ser humano são originados pelas quatro dimensões: biológico, psicológico, social/cultura e espiritual.Palavras chaves: Psicologia Desportiva. Jiu-Jítsu. Biopsicossocial.

ABSTRACTThe purpose of this study was to find the theoretical aspects that make up the martial art Jiu-Jítsu as a sport, and assess the biopsychosocial aspects of fighters or practitioners of this type of fight. Literature searches were carried out in journals and electronic items, as well as field research into the Jiu-Jítsu academies on the team in the city of Araçatuba saikoo-SP. In general, studies reveal that all aspects related to the biopsychosocial and spiritual perspective in the sample collected above the gym, the lowest score was observed in the negative, noting a slight imbalance of the four dimensions. But in contrast, were more positive score, where it can be concluded that the sport Jiu-Jítsu practitioners makes their fighters or maintain a better balance and harmonize the four dimensions are: body, psyche, social and cultural environment and also spiritual. The biopsychosocial model and spiritual presents the immense complexity that is the people, saying the behavior and psychological actions of human beings are originates by four dimensions: biological, psychological, social/cultural and spiritual. keywords: Sport Psychology. Jiu-Jítsu. Biopsychosocial

INTRODUÇÃOEste artigo, baseado na pesquisa realizada

sobre a prática do Jiu-Jítsu, teve a finalidade de estudar os fatores biopsicossociais dos praticantes ou lutadores de Jiu-Jítsu que afetam o desempenho físico dos lutadores da equipe saikoo, no município de Araçatuba. Buscou-se conhecer o cotidiano de treinamento e as expectativas de vida nos comportamentos demonstrados. Foram pesquisados diversos implicativos, com a intenção de apresentar ao treinador as sugestões resultantes das observações, visando um maior aperfeiçoamento no desempenho físico e psíquico dos esportistas.

Com relação aos praticantes de Jiu-Jítsu, esta pesquisa buscou compreender os comportamentos de estresse e de ansiedade.

A intervenção do autor que se deu por meio de aplicação de formulários e realização de entrevistas na equipe Saikoo de Jiu-Jítsu, tinha como objetivo o levantamento de situações possíveis que viessem a caracterizar demandas de necessidade da existência de um profissional psi para o atendimento de demandas que favorecessem um desempenho melhor dos atletas. Um profissional psi que desse conta de produzir cursos na área cognitiva para que fosse produzido um melhor equilíbrio tanto físico quanto mental; que promovesse maior percepção do corpo e da mente, resultando assim o aumento da concentração durante as competições; que ajudasse

ao atleta a diminuição do estresse, automatização de cuidados básicos e, velocidade cognitiva para a produção de melhores respostas durante a competição.

Este artigo está composto de duas partes. Na primeira buscará, por meio de uma investigação literária, saber das questões históricas que deram origem à filosofia Saikoo de Jiu-Jítsu. Na segunda parte, o artigo se ocupará em descrever as mudanças biopsicossociais que ocorrem nos atletas durante e após os t re inamentos , carac ter i zando as possibilidades de intervenção da psicologia desportiva para o aumento do desempenho no esporte, focando a motivação, a autoconfiança, a agressividade e a ansiedade.

O artigo ainda destacou a diferença entre o desporto e o esporte, onde a primeira refere-se diretamente aos atletas de alto desempenho e a segunda para pessoas com finalidade de melhorar a sua qualidade de vida. Como forma de comunicação, este artigo sintetiza a tradução dos resultados de uma pesquisa (empírico-quantitativa) de campo, que se utilizou de formulários de pesquisa em uma amostra de 30% do total de praticantes ou lutadores da equipe Saikoo, em um levantamento de dados realizado nas academias pertencentes da equipe saikoo da cidade de Araçatuba-SP.

Como ferramenta de medida, foi utilizado as análises de observação nos treinamentos, entrevista,

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buscando dados dos aspectos físico, psicológico, social e espiritual dos praticantes ou lutadores.

A coleta de dados para os es tudos compreensivos ocorreu durante os treinos, no próprio local de treinamento (Academia Saiko de Jiu-Jítsu), no segundo semestre de 2011.

As etapas planejadas para coleta de dados se deram da seguinte forma:

a) Seleção dos competidores de Jiu-Jítsu: a amostra da pesquisa foi constituída por praticantes ou lutadores do gênero masculino e feminino, em quatro academias de Jiu-Jítsu da equipe saikoo, no município de Araçatuba.

b) Aplicação dos questionários: as questões foram do tipo múltipla escolha, enfatizando principalmente os aspectos biopsicossociais e espiritual dos praticantes

c) Tabulação dos dados: tiveram a função de quantificar e revelar as informações.

d) Análise dos resultados: buscou caminhos, modelos, relações e conclusões. Foi realizada de forma quantitativa e qualitativa, sendo que na primeira foram apresentados os valores percentuais e, na segunda o comportamento dos praticantes ou lutadores durante o período de treinamento.

e) Apresentação e divulgação dos resultados: após a realização da análise dos dados coletados, os resultados obtidos e demonstrados, por meio de gráficos, foram compartilhados com o orientador da pesquisa, para possíveis correções e discussões, e logo depois foi encaminhados aos professores responsáveis de cada uma das academias da equipe saikoo, para que pudessem tomar ciência dos resultados e decidissem se eles apresentam ou não indicativos positivos a serem discut idos em novos planejamentos desta modalidade marcial.

Os recursos materiais e eletrônicos utilizados na pesquisa foram: material de consumo: 01 caneta, cartucho de tinta para impressora, 100 folhas tamanho A-4 e material permanente: netbook , impressora e carro.

2 DESENVOLVIMENTO 2.1 Considerações iniciais

A pesquisa, traduzida neste artigo, buscou estudar os aspectos teóricos que constituem o Jiu-Jítsu enquanto modalidade desportiva e levantou indicativos de pesquisa de campo sobre os aspectos biopsicossociais e espirituais vivenciados pelos lutadores da equipe Saikoo de Jiu-Jítsu.

A pesqu i sa cons iderou re levan te a participação do psicólogo desportivo como elemento de atuação na promoção e conservação dos estados motivacionais da equipe de luta. Destaca que é o psicólogo desportivo, quem promove o bem estar psicológico e espiritual dos atletas ou praticantes desta modalidade desportiva, auxiliando-os a alcançar as melhores marcas nos treinamentos e nos períodos de competição, o melhor desempenho.

2.2 O Jiu-Jítsu Etimologicamente Jiu-Jítsu, Ju-Jitsu ou Ju-

Jutsu, independentemente da grafia, (ju ou jiu –

significa suavidade, brandura, e jutsu ou jitsu- arte, técnica), quer dizer exatamente, “arte doce” ou “arte suave”. A Ju Jitsu International Federation (JJIF), que atualmente conduz está modalidade esportiva no mundo, considerou a grafia Ju-Jitsu em 1987, pelo fato de mais aproximar do original e também por ser o ideograma JU o mesmo utilizado em JUDÔ, mas por uma questão de pronúncia a Confederação Brasileira de Jiu-Jítsu (CBJJ), admite que as três formas estejam certas, não interferindo nas regras da modalidade e não impede a participação de atletas no mundo inteiro em torneios internacionais.

O Jiu-Jítsu é uma arte marcial japonesa que se utiliza de técnicas de alavancas, pressões, estrangulamentos e imobilizações, junto com o uso de partes duras do corpo contra pontos vulneráveis do antagonista para derrubar, dominar e submeter o oponente, sem a utilização de golpes traumáticos.

Todos que estão ligados a esse esporte sabem que, como luta, ele é considerado um dos mais completos.

Como qualquer outra arte marcial, o Jiu-Jítsu tem suas regras de combate e, o lutador usa roupa apropriada, e também o local do combate deve ser dentro dos regulamentos estabelecidos pela Ju Jitsu International Federation (JJIF).

De acordo com o autor Duarte (2000) no Jiu-Jítsu assim como no Judô é baseado, segundo no princípio japonês de “ceder para vencer”, utilizando a não resistência para controlar, desequilibrar e vencer o adversário com o mínimo de esforço, dando como exemplo uma árvore que recebia muita neve.

Equipe saikoo de Jiu-JítsuSegundo os irmãos, professores, mestres e

fundadores desta equipe, etimologicamente saikoo significa “O mais supremo de todos”, não por uma questão de força, mas por formar pessoas de bem, prevalecendo o respeito, humildade e a disciplina com todos em sua volta.

Daniel Sinkai, um dos fundadores da saikoo Jiu-Jítsu, declara em uma breve entrevista que a filosofia da “arte suave” torna os seus praticantes ou lutadores, pessoas mais seguras e auto-confiantes, possibilitando eles vencerem os oponentes mais fortes, expandindo para vários momentos da vida, onde está força seja também conduzida para o bem, proporcionando ao meio do qual vivem um local mais saudável, com bons amigos, retirando-os de um estilo de vida prejudicial a saúde, como a bebida e as drogas, que atualmente é muito comum entre os jovens. Em 1994, os irmãos Daniel e Massao Sinkai já moravam no Japão por volta de 10 anos e, foi nesta época que tiveram o primeiro contato com a arte marcial Jiu-Jítsu.

No ano de 1997, depois de se entusiasmarem pelo Jiu-Jítsu, os irmãos Sinkai iniciaram seu treinamento e graduação na Gracie Japan, l o c a l i z a d a e m T ó k i o - J a p ã o . A p ó s v i v e r aproximadamente uma década no Japão, os irmãos Sinkai retornaram ao Brasil em 1999, já com projetos de trabalhar com a arte do Jiu-Jítsu, trazendo para junto deles o seu mestre de faixa preta 6º grau.

No ano seguinte, em 2000, surge oficialmente à primeira academia de Jiu-Jítsu da equipe saikoo na cidade de Penapólis-SP, e consequentemente nas

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cidades de Araçatuba, Avanhadava, Valparaiso e Promissão, todas no interior de São Paulo.

A filosofia saikoo tem como funcionamento esclarecer que a ideologia da arte Jiu-Jítsu como uma arte violenta é ultrapassada, onde no tatame eles lutam para vencer, obedecendo às normas ou regras da Federação Internacional de Jiu-Jítsu, e que na rua quem luta não briga.

Daniel Sinkai relata em sua entrevista, que o Jiu-Jítsu não trabalha somente com o corpo, mas também com a mente e o espírito, sendo nesse último iten como um dos requisitos principais para ser um grande lutador de Jiu-Jítsu, independentemente de qual seja sua religião. Segundo os irmãos Sinkai, a pessoa que treina na equipe saikoo, não utiliza a arte do Jiu-Jítsu para cometer violência física em seu meio, mas com o propósito de introduzir a paz e o respeito, pois o verdadeiro lutador não briga, mas luta.

De acordo com os criadores da equipe saikoo, o Jiu-Jítsu trabalha em cima do que o corpo pode proporcionar a pessoa, ensinando o caráter, a honra e o saber valorizar e respeitar as pessoas ao seu redor. O Jiu-Jítsu na filosofia da equipe saikoo, salienta o respeito à hierarquia, no caso da academia o mestre, e também o núcleo familiar como os pais.

As pessoas quando procura à academia de Jiu-Jítsu da equipe saikoo, tem como finalidade: perder peso, defesa pessoal, disciplina (no caso das crianças), melhorar a capacidade de concentração, melhorar a auto-estima, melhorar a coordenação motora e também para diminuir o estresse do dia-dia. Durante a entrevista o mestre Daniel Sinkai relata que as técnicas utilizadas no Jiu-Jítsu utilizam-se de sistemas de alavancas, resultando ao praticante ou lutador vencer seus adversários.

Os professores e mestres, Daniel Seiji Sinkai e o seu irmão Massao Sinkai, estabeleceram os seguintes critérios para a pessoa praticante de Jiu-Jítsu se tornar um atleta profissional: se possível, seguir uma religião, independentemente qual seja ela, pois lhe ajudará trazer um equilíbrio espiritual, e sentir uma paz interior; está bem no meio familiar, principalmente entre os pais, esposo(a) e filhos; obedecer às regras da equipe e respeitar a hierarquia; humildade – virtude importante que caracteriza as próprias limitações; reverenciar ao mestre e também o tatame, pois este último é considerado um local sagrado, devido ser uma área aonde ocorre o desenvolvimento integro das pessoas que praticam a arte do Jiu-Jítsu.

Com relação ao fator fisiológico, o(a) futuro(a) atleta deverá seguir os seguintes itens: treinar duas vezes ao dia, durante cinco dias por semana; ter uma alimentação balanceada; disciplina, seguindo tudo o que seu mestre orientar; controle da respiração; preparação cardiorrespiratória.

2.3 As contribuições da psicologia desportiva no desempenho dos atletas ou das equipes

A psicologia desportiva é uma ciência embrionária na área de humanas, mas já é considerada uma disciplina importante na grade dos cursos de graduação de Educação Física e acredito que também no curso de Psicologia e, se não existe, deveria ser oferecida como uma disciplina optativa.

Segundo os autores Penna, Holanda e Jacovilela (2006), está área começa a surgir em meados do século XIX, mas particularmente no Brasil os primeiros registros de trabalho nesta área surgem no final da década de 50, antes mesmo de a Psicologia ser oficialmente regulamentada como profissão.

De acordo com Becker (2000), a Psicologia Desportiva se refere aos fundamentos psicológicos, as ações e as causas da regularidade psicológica das atividades em relação ao esporte, individual ou coletivo, onde o ponto para o qual converge os estudos está nas mais diversas dimensões psicológicas do comportamento humano como a afetividade, ações cognitivas e sensório-motor. É considerada um dos campos da psicologia que analisa e estuda os aspectos dos pensamentos, emoções e comportamentos de atletas ou até mesmo da própria equipe, afetável na condição física ou performance do(s) competidor(es), com finalidade de manter o estado de satisfação plena das exigências biopsicossocial do atleta.

De acordo com o Conselho Regional de Psicologia Sp (CRPSP) em meados de 1945 a 1975, João Carvalhaes foi o primeiro a introduzir a Psicologia Desportiva no Brasil. No ano de 1958 foi convocado como psicólogo da equipe que disputaria o Campeonato Mundial de Futebol (Seleção brasileira), onde ganhamos o primeiro título mundial. Diante desta vitória, a Psicologia Desportiva é uma área em ascensão de atuação do profissional psicólogo.

Para Weinberg e Gould (2008), a Psicologia Desportiva é uma área que tem como objetivo a aplicação de técnicas e princípios psicológicos que resultem no rendimento e o bem-estar físico e psicológico em contexto desportivo de atletas, melhorando suas capacidades e habilidades, tendo total controle de suas competências psicológicas como a ansiedade e até em certos momentos à agressividade, para que, no momento da disputa da competição sigam as regras da modalidade desportiva, mostrando ética como um bom profissional desportivo.

Conforme os autores Antunes e Carvalho (2001) e Vieira, Fernandes, Vieira e Vissoci (2008), a Psicologia Desportiva tem como função: identificar e analisar comportamentos e pensamentos de atletas no momento de treinamentos ou durante jogos; avaliar comportamento de toda a equipe; realizar um trabalho de conscientização diante as situações e problemas do atleta; analisar fatores hereditários, ambientais e psicossociais na sua dinâmica intra e inter-psíquica e suas relações sociais; constituir protocolos de avaliação, para mensuração de resultados para que se possam ser realizados estudos e projetos; proporcionar suporte emocional para atletas lesionados ou com problemas emocionais, auxiliando-os na elaboração de enfrentamento de suas crises; propor mudanças em situações que envolvam a possibilidade de humanização do contexto desportivo; participar ou realizar reuniões com multiprofissionais da equipe, discutindo casos dos atletas e soluções de problemas existentes; dar suporte emocional para atleta e equipe técnica em situações extremas e conflituosas.

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2.3.1 A tabulação dos dados

Na tabela 1, apresentada logo abaixo, é possível visualizar os dados de pontuação percentual e em quantidade total nas quatro dimensões: Biológico, com a contabilização das questões 1 a 8 / Social, com a contabilização das questões 9 a 16 / Psicológico, com a contabilização das questões 17 a 24 e / Espiritual, com a contabilização das questões 25 e 26. Na parte da análise geral, esta definida a pontuação geral dos aspectos positivos, negativos e intermediários obtida no formulário de pesquisa

Tabela 1. Pontuações por dimensões e aspectos obtidos pela aplicação de formulários em porcentagem

Dentre todas as dimensões relacionadas à perspectiva biopsicossocial e espiritual nesta amostra, a menor pontuação foi observada no aspecto negativo, salientando um pequeno desequilíbrio dentre as quatros dimensões das quais o biológico mesmo com um percentual baixo, mas com certo grau de importância destaca que alguns dos praticantes ou lutadores de Jiu-Jítsu relatam que as dores interferem um pouco no desempenho da suas atividades de trabalho, e que alguns sentem dores de uma ou próximo de três vezes por semana em média, onde talvez seja necessário que os professores ou mestres desta nobre arte devam se atentar em realizar uma atividade que minimizem o nível de dor dos seus praticantes ou lutadores após a prática de Jiu- Jítsu como um trabalho de relaxamento e alongamento, ou classificar estes por categorias (iniciantes, intermediários e avançados) que possa assim dosar o ritmo dos treinos. Outro fator importante que se destaca é que existem praticantes ou lutadores de Jiu-Jítsu que possuem algum tipo de problema físico, desde problemas em alguma articulação como ombro, joelho e braço, até hérnia de disco e outros que alguns destes não queriam identificar, tendo como necessidade que os professores ou mestres elaborem e apliquem uma anamnese para identificar se alguns dos seus praticantes possuem algum tipo de patologia que a impede de realizar está luta, ou se devem fazem parte exclusivamente de alguma categoria conforme

supracitado no parágrafo anterior.Já com relação à dimensão social, o que se

destaca é que quase metade dos praticantes ou lutadores de Jiu-Jítsu (48,6%) não recebe algum tipo de apoio no âmbito familiar, talvez por estarem mal informados ou uma incompreensão sobre a arte marcial Jiu-Jítsu, ou também por serem críticos, menosprezando esta modalidade esportiva, podendo talvez nos praticante menores de idade provocar estresse ou algum distúrbio emocional. Para que este índice diminua talvez seja necessário que os professores ou mestres de Jiu-Jítsu apresente a sociedade que está modalidade de arte marcial não é apenas uma luta, mas também uma filosofia de vida conforme supracitado neste trabalho.

Na dimensão psicológica, o que se sobressai mais com relação aos aspectos negativos, é que alguns dos praticantes ou lutadores de Jiu-Jítsu, mesmo com a prática desta arte marcial, ainda possuem algum tipo de transtorno de ordem emocional como depressão, ansiedade, estresse, etc, onde poucos destes utilizam medicamentos psicotrópicos como antidepressivo e TDAH. Outro fator importante nesta dimensão, mesmo com baixo índice percentual é referente à estética dos praticantes ou lutadores de Jiu-Jítsu que relatam que a orelha deformada os incomoda, porque apresenta uma má aparência de seu rosto, e não para apresentar as pessoas em sua volta seu orgulho em ser um lutador de Jiu-Jítsu, onde anos atrás era muito comum entre estes para levantar sua a auto-estima, chegando ao ponto de alguns quebrarem sua própria cartilagem da orelha. O ideal e para evitar a deformação da orelha durante a prática do Jiu-Jítsu é utilizar um protetor auricular próprio para lutadores de artes marciais.

E para concluir os pontos referentes aos aspectos negativos, na dimensão espiritual seria o ateísmo entre alguns praticantes ou lutadores de Jiu-Jítsu, como qualquer tipo de crença não sendo um fator importante na vida destes. Neste ponto cabe ao professor ou mestre desta arte marcial respeitar suas crenças e não crenças.

Em contrapartida, os aspectos positivos apresentaram maior pontuação, onde grande parte

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dos praticantes ou lutadores de Jiu-Jítsu relata que não sente dor pelo corpo, que melhora nas noites de sono, devido ao aumento da produção do hormônio endorfina estimulada pela prática desta arte marcial, despertando uma sensação de bem estar.

A prática do Jiu-Jítsu também apresentou resultados significativos para a saúde social dos praticantes, melhorando o relacionamento com as pessoas ao seu redor, mantendo um nível muito bom nas relações sociais, e também na saúde psicológica onde relatam a diminuição de sentimentos negativos, e um aumento dos sentimentos positivos como empolgação, felicidade de viver, tornando-se pessoas mais controladas, tolerantes e confiantes, onde o importante é que a grande parte dos participantes não faz uso algum de medicamentos psicotrópicos.

A arte marcial de Jiu-Jítsu proporcionou segundo os relatos da maioria dos praticantes e participantes da pesquisa, um aumento da capacidade de concentração e cognição, ocorrendo assim à diminuição do déficit de atenção e um aumento da plasticidade cerebral.

Outro fator importante que apresentou entre os praticantes ou lutadores de Jiu-Jítsu foi com relação à fé ou a crença em algo que é verdade, sem que seja mensurável, mas que seja de extrema confiança na qual todas as pessoas depositam sua vida, pois é um sentimento que alicerça a vida de todo ser humano.

Diante a análise e estudo desta pesquisa, pode se concluir que a modalidade desportiva de arte marcial Jiu-Jítsu faz com que seus praticantes ou lutadores mantenham um maior equilíbrio e harmonização das quatro dimensões que são: corpo, psiquismo, meio social/ cultural e também espiritual.

O modelo biopsicossocial e espiritual nos apresenta a imensa complexidade que são as pessoas, afirmando que o comportamento e as ações psicológicas do ser humano são originados pelas quatro dimensões: b iológico, ps icológico, social/cultura e espiritual.

Considerando que a modalidade esportiva Jiu-Jítsu é uma arte marcial que se utiliza de sistemas de alavancas e estrangulamentos, porém é uma atividade física onde seus praticantes procuram obter uma melhor qualidade de vida, tendo a necessidade dos mestres ou professores desta arte conhecimento sobre o método ou tipo de treinamento que está sendo aplicado em determinados grupos - atletas ou esportistas.

Conclui-se que a prática do Jiu-Jítsu tanto profissional quanto esportivo, desenvolvido com adolescentes, jovens e adultos, influencia nos fatores biopsicossociais que afetam significativamente na performance dos praticantes ou lutadores, elaborado e conduzido por mestres ou professores desta arte marcial da equipe saikoo de Araçatuba.

Outro fator importante reconhecido pelos praticantes e lutadores desta arte marcial, foi à importância do profissional psi fazendo parte integrante da comissão técnica, promovendo uma melhor qualidade de rendimento que o atleta ou lutador possa oferecer nos treinamentos e principalmente nas competições, fazendo com que corpo e mente destes entre em comunhão para que consigam alcançar uma alta performance.

Como dizia Aristóteles, não se pode separar o homem em corpo e alma, pois é um ser indivisível.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo encontrou dificuldades de

encontrar materiais literários e pesquisas científicas dentro da área de psicologia desportiva. O motivo disto se deve ao fato de ser a psicologia uma ciência nova.

Este estudo despertou interesse nos pesquisadores face à necessidade e importância de se ter nas equipes de luta um profissional psi, para auxiliar os praticantes ou lutadores a encontrarem equilíbrio durante e após as competições, fazendo com que o corpo e a mente trabalhem juntos, alcançando assim um alto rendimento.

O modelo biopsicossocial e espiritual, adotado na pesquisa da qual este artigo é a sua forma de comunicação, permitiu conhecer os praticantes ou lutadores de Jiu-Jítsu de uma forma ampla, em um todo proporcionando uma visão integral do ser.

A psicologia desportiva ainda é uma área embrionária, mas de muitas conquistas já realizadas e novos estudos para serem realizados. Dentro deste aspecto, fazer com que o atleta encontre um ponto de equilíbrio físico e mental, determinará o aumento de sua capacidade de concentração durante as competições, diminuindo assim o nível de ansiedade e estresse.

A partir dessas considerações busca-se auxiliar os técnicos ou mestres de equipes desportivas, que ministram treinamentos esportivos ou desportivos, a importância do profissional psi para auxiliar os atletas competidores a criarem estratégias ou técnicas que resultem em uma melhor performance esportiva, considerando os fatores biológicos, psicológicos, sociais/culturais e espirituais.

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RESUMOS

TEMA LIVRE

E PAINÉL

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AMBIENTAÇÃO À CIDADE SEDE NA COPA SÃO PAULO DE FUTEBOL JÚNIOR: UMA NOVA

PROPOSTA

1,2 1Lucas Ribeiro Cecarelli , Carlos José Martins , 1,2Afonso Antonio Machado

1. UNESP/IB/DEF - Rio Claro; 2. LEPESPE

No Brasil o futebol aparece como principal modalidade esportiva para jovens que sonham com uma mudança de vida por meio do esporte, uma espécie de caminho para obter melhores condições financeiras, reconhecimento e sucesso. A Copa São Paulo de Futebol Júnior, é reconhecida como a maior e mais disputada competição de futebol para atletas juniores do Brasil. Pelo grande destaque no cenário do futebol brasileiro, recebe cobertura dos diversos meios de informação e a atenção de grandes clubes e empresários do país e do mundo. Neste sentido, a realização deste estudo torna-se interessante ao destacar o que Cecarelli (2011) aponta: a “adaptação à cidade sede” é um dos principais fatores que influenciam na diminuição da ansiedade o que possivelmente melhora o desempenho destes jovens atletas. O objetivo geral deste estudo é o de contribuir para a compreensão de quais estratégias podem ser realizadas pelo Psicólogo do Esporte (além das comumente realizadas no trabalho do dia a dia) visando a ambientação ao local sede de disputa da competição. Para identificar qual estratégia pode ser adotada pelo Psicólogo do Esporte, foi realizada entrevista via redes sociais com membros da comissão técnica de 5 equipes que participaram da competição. Entre os resultados obtidos pela pesquisa identificou-se um método de trabalho distinto dos demais, onde: foi designado aos atletas que buscassem em grupos informações sobre a cidade sede, local de alojamento, pontos turísticos, local de treino e estádio onde os jogos seriam disputados, principalmente utilizando-se de ferramentas tecnológicas, sites, softwares, entre outras ferramentas. Em momento posterior isto foi apresentado pelos grupos de atletas, utilizando-se das ferramentas tecnológicas, e discutido conjuntamente com membros da comissão técnica e demais atletas visando uma organização do cronograma de modo a facilitar a adaptação aos locais. Observa-se então a importância do profissional de psicologia do esporte que como membro da comissão técnica tem que estar preocupado com a adaptação dos atletas e elaborara estratégias para que esta seja realizada da melhor forma possível para o grupo em questão.

Órgão de fomento: CAPES

Autor: Lucas Ribeiro CecarelliEndereço: Avenida 32, n°1728 Jardim Bela Vista, Rio Claro –SP, CEP 13500-560.

E-mail: [email protected]: (19) 99396-6997

O CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO E A ORIENTAÇÃO SOBRE OS RISCOS E PREJUIZOS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Mayara Arina Bertolo, Letícia Fernanda Feitosa Masson

UNILAGO

O estudo tem por objetivo conhecer de maneira mais detalhada a relação existente entre adolescentes, consumo de bebidas alcoólicas e a conscientização por parte dos professores. A escolha pelo público, parte do pressuposto de que a adolescência se converte em uma etapa facilitadora para o início de condutas de risco, por conta das ofertas e as inúmeras mudanças fisiológicas e emocionais. Nesse sentido o consumo de bebidas alcoólicas é apontado como um dos fatores da tríade por ser considerado atualmente um problema de grande importância para a sociedade, tanto pela magnitude do fenômeno, oferta das bebidas e pelos riscos e prejuízos atrelados ao uso. O estudo verificou qual o consumo de bebidas alcoólicas dos alunos do ensino médio de duas escolas públicas de S.J.do Rio Preto. Foi realizada uma pesquisa de campo com utilização do AUDIT, questionário que permite verificar qual o grau do consumo de álcool . Foram apl icados 194 questionários, no qual, do total de participantes, 14,9% tem 15 anos, 49,5% 16 anos, 26,3% 17 anos e 9,3% tem 18 anos. Com relação ao consumo de bebidas alcoólicas, seja ele, semanal, mensal, anual ou que tenha sido feito uma vez na vida foi de 76,3% dos entrevistados que informaram consumir ou ao menos ter provado a bebida. Do total de pesquisados, 12,4% tiveram a pontuação entre 8 e 15 no AUDIT, que segundo a OMS, é considerado um consumo de risco. O uso de alto risco foi de 2,6% que se refere a pessoas que pontuam entre 16 e 19 e os alunos que apresentaram provável dependência tendo pontuado 20 ou mais, foi de 2,1%. No entanto ao fazermos o cruzamento entre faixa etária e consumo de bebidas alcoólicas os dados nos chamam a atenção por conta da baixa idade dos pesquisados. Concluímos que se faz necessário desenvolver diferentes práticas educativas nas aulas de educação física e um trabalho de conscientização dos alunos por parte dos orientadores físicos sobre as possíveis consequências do uso e abuso do álcool. Contudo, é evidente a ampliação do papel educativo para ir além da escola formal, com possibilidade de desenvolvimento pessoal e social. Palavras Chave: Ensino Médio, álcool, consumo e prevenção

A INFLUÊNCIA DO CONSUMO REGULAR E DELIBERADO DE ÁLCOOL NO RENDIMENTO

FÍSICO

Giordano Bruno Teixeira Medrado – UNIP JK

INTRODUÇÃO: O consumo de álcool hoje está associado a diferentes formas de lazer do brasileiro, seja em casa, no “barzinho” ou logo depois de um “racha”, um jogo, disputado entre amigos.

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Culturalmente existe uma relação entre prática esportiva como lazer e a ingestão de álcool, entretanto, deve-se questionar se as pessoas têm informações a respeito das consequências e dos efeitos do álcool se ingerido em excesso ou os benefícios se ingerido regulamente em moderação. OBJETIVO: especificamente este trabalho tem por objetivo analisar se o alto consumo de álcool associado à atividade física prejudica o rendimento físico e, ainda, verificar se a ingestão regular e moderada diminui o risco de doenças cardíacas PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS : na tentativa de encontrar informações a respeito do problema de pesquisa, este trabalho tem como base a pesquisa qualitativa, descritiva, e como foco a r e v i são de l i t e ra tu ra . DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS: O material bibliográfico consultado indica que o fato do álcool não estar associado a proteínas e gorduras, pode levar à desnutrição por diminuir a ingestão alimentar e reduzir a absorção de nutrientes. CONSIDERAÇÕES FINAIS: ao final do levantamento de informação na literatura disponível, verificou-se que a ingestão de álcool em excesso prejudica o rendimento físico por interferir no metabol i smo prote ico e na ut i l i zação de carboidratos. Isso indica que se ingerido regularmente, sem exagero, não causa danos ao organismo, mas sim uma qualidade melhor na função cardiovascular. Vale a pena lembrar que só as bebidas fermentadas promovem uma melhora nesse sistema.

Palavras chave: Atividade Física. Ingestão de álcool. Saúde.

ASPECTOS MOTIVACIONAIS E INSATISFAÇÃO CORPORAL DE MULHERES PRATICANTES DE

ACADEMIA DE GINÁSTICA

1 2Geovana Ferreira da Silveira; Ana Carla Ferreira 3Silveira; Caciane Dallemole Souza

1 2 3FAMERP, UNIP, UNIFEV

Está cada vez mais notável o aumento da procura de mulheres por academia de ginástica, e existindo uma maior preocupação delas com a aparência física. Havendo uma busca eterna por um corpo ideal, muitas das vezes influenciada por meio da mídia que acaba por colocar um padrão físico para mulheres, assim tornando o corpo um bem de consumo. Sendo, assim cada vez mais mulheres acabam procurando a prática de exercício físico para modificar seu corpo. A presente pesquisa teve por objetivo verificar qual o motivo que as mulheres buscam ao frequentar academias de ginástica. Foram investigadas 21 mulheres, com faixa etária de 20 a 40 anos, com tempo de prática de no máximo dois anos, sendo todas atualmente praticantes de aula de treinamento funcional numa academia na cidade de Frutal/MG. Foi realizado um questionário de múltipla escolha, onde as alunas foram questionadas por qual motivo elas praticavam exercício físico, e as mesmas poderiam assinalar duas opções. Os dados foram tabulados e apresentados em porcentagem. Constatou-se que, 31% delas buscam por estética, 21,4% por qualidade de vida, 19% pela saúde, 14,3%

por condicionamento físico e 14,3% buscam bem estar. Juntamente foi verificado a insatisfação de imagem corporal, por meio teste de escala de silhueta proposto por Kakeshita et al. (2009). Para tanto foram coletadas medidas antropométricas, e assim calculado o índice de massa corporal (IMC). Posteriormente comparou-se as silhuetas com o IMC e assim verificou-se a insatisfação corporal. Foram perguntadas duas questões, como elas se vêem e como elas gostariam de ser. Notou-se que 52,4% se veem obesas, 33,3% com sobre peso e 14,3% se vêem como realmente são. A presente pesquisa notou uma acentuada insatisfação corporal em mulheres que frenquentam academia, sendo que a maioria delas possuem distorção de imagem corporal e como consequência elas procuram a prática de exercício físico prioritariamente para fins estéticos.

Palavras-chave : Aspectos motivacionais; insatisfação corporal; mulheres; academia de ginástica.

OS BENEFÍCIOS DO KUNG-FU PARA AS PESSOAS QUE SOFREM COM O ESTRESSE

André Luis Bueno; Thiago Cassiano da Rocha; Ednei Sanches

UNILAGO

O presente trabalho objetivou-se em verificar, através de pesquisa bibliográfica, se o Kung-fu diante das suas praticas de exercícios físicos, posturas corporais e exercícios de respiração tem a função de aliviar o estresse que o individuo sofre no decorrer das suas atribuições que a vida lhe impõe. De acordo com algumas literaturas pode-se dizer que o kung-fu vai provocar reações benéficas, onde toda essa carga estressora sofrida pelo individuo na vida em sociedade se aliviará, melhorando assim sua saúde física e mental. “Lida com o treinamento e aplicação de energia cósmica para nossas inúmeras necessidades, particularmente a saúde, força interior, o desenvolvimento mental e o crescimento espiritual”. (Wong Kiew Kit 1984, p.11 - Grão Mestre – Shaolin Wahman Chi Kung Institute). Doenças cardiovasculares, Distúrbios Psicológicos, Afecções Muscoesqueléticas, Acidentes no local de trabalho, Suicídio, Câncer, Úlceras e Distúrbios no Sistema Imunológico, são as doenças mais comuns que agridem o ser humano, causando desconforto e intranquilidades na maioria das pessoas, isso se pode chamar “estresse”. Neste propósito, podemos verificar que o Kung-fu e suas atividades físicas globais nos levam a adquirir, força e disciplina melhorando assim a estrutura mental, ampliando a qualidade de vida, que é regida por três dimensões, dimensão física, dimensão psicológica e dimensão social, que quando trabalhados de maneira adequada e atividade física orientada o organismo reage nas três dimensões citadas acima e envolvem os três eixos fisiológicos, que são, Neural (Sistema n e r v o s o s i m p á t i c o e p a r a s s i m p á t i c o ) , Neuroendócrino (aumentando a atividade da espinha e glândulas suprarrenais) e por fim o sistema E n d ó c r i n o ( c o n t r o l a n d o a l i b e r a ç ã o d e

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glicocorticoides). Portanto, com a prática do kung-fu como atividade física pode se observar uma melhora significativa na redução dos níveis de estresse, já que o exercício físico aciona o sistema endócrino liberando hormônios como a serotonina e a endorfina, possibilitando um controle melhor sobre o estresse e proporcionando uma sensação de bem estar para o praticante.

André Luis BuenoE-mail:[email protected]

A MÍDIA NOS MANIPULOU DURANTE A COPA DO MUNDO?

André Luis Aroni, Kauan Galvão Morão, Renato Verzani, Raphael Moura, Guilherme Bagni, Afonso

Antonio Machado

INTRODUÇÃO A televisão é imagem e fala, fala e imagem. Não somente a imagem, como se diz algumas vezes quando se trata de denunciar seus efeitos manipuladores, mas imagem e fala numa solidariedade tal, que não se saberia dizer de qual das duas depende a estruturação do sentido (CHARAUDEAU, p.109, 2011). OBJETIVO O objetivo deste estudo foi comparar o tipo de notícia veiculada por dois telejornais da região de Campinas/SP, no período que antecedeu, e durante a Copa do Mundo de dois mil e catorze. PROCEDIMENTOS Este estudo se caracterizou como qualitativo, uma pesquisa descritiva. Os objetos de análise foram dois telejornais de canais abertos da região de Campinas/SP, cada um com sessenta minutos de duração total. Como instrumentos, utilizamos um cronômetro para contabilizar o tempo de cada notícia, e um caderno de campo para a anotação do tipo de notícia. COLETA E ANÁLISE DE DADOS Realizamos a categorização, que segundo Richardson (1999), é o agrupamento de dados em unidades que permitem uma representação do conteúdo, seguindo regras específicas. Para tal, escolhemos duas categorias: a) Notícias sobre a Copa do Mundo e b) Notícias e informações gerais da região. Conforme os te le jo rna i s apresen tavam suas maté r ias , contabilizávamos o tempo total das notícias para cada uma das duas categorias. RESULTADOS No período que antecedeu o megaevento, o tempo total de notícias sobre a Copa do Mundo foi de cinquenta e dois minutos, enquanto as notícias e informações gerais da região de Campinas apresentaram o tempo de sessenta e oito minutos. Durante o megaevento, o tempo total de notícias sobre a Copa do Mundo foi de oitenta e seis minutos, enquanto as notícias e informações gerais da região, apresentaram um tempo total de trinta e quatro minutos. DISCUSSÃO Charaudeau (2011) destaca as contradições das práticas midiáticas e as suas transgressões às regras de informação. Neste estudo percebemos que o apelo de um megaevento no país causou grande direcionamento no tipo de notícia veiculada, na época da coleta, a região de Campinas sofria com a falta de água e um surto de dengue, e essa notícias foram pouco veiculadas durante a Copa do Mundo.

Palavras-Chave: Desenvolvimento humano, tecnologias, mídia, esportes.

INÍCIO E ADESÃO À PRÁTICA ESPORTIVA: O QUE TE MOTIVA A PRATICAR VOLEIBOL?

1,2 1,2Gustavo Lima Isler ; Mauro Klebs Schiavon ; ,2 2Vivian Oliveira ; Afonso Antonio Machado

1 2 Claretiano – Faculdade – Rio Claro/SP; LEPESPE – IB/UNESP – Rio Claro/SP

A motivação, segundo a Teoria da Autodeterminação (TAD), é um fenômeno complexo que varia em um continuum, no qual se encontram a desmotivação, a motivação extrínseca e a intrínseca. Atualmente é a teoria motivacional mais aceita e tem sido amplamente utilizada nos estudos referentes a prática esportiva e de exercício físico. Objetivando verificar a relação entre a teoria da autodeterminação e os motivos de adolescentes para o início e a aderência à prática do voleibol, a coleta de dados desta pesquisa qualitativa foi realizada através de uma anamnese e do Inventário de Motivação para a Prática Esportiva de Gaya e Cardoso (1998). Envolveram-se neste estudo 46 adolescentes do sexo feminino, com idade média de 15,24, residentes na cidade de Limeira/SP. Os dados coletados foram analisados com base na estatística descritiva. Sendo que esta análise apontou que a motivação para iniciar a prática do voleibol se baseou na vontade própria (80,43%), no incentivo de amigo já praticante (21,74%), na influência da mãe (10,87%), no incentivo do professor e na influência do pai (8,7%). Quanto aos motivos para aderir à prática do voleibol, predominaram os relacionados à competência desportiva (2,54 ± 0,28), seguidos pelos motivos relativos à saúde (2,36 ± 0,38) e amizade e lazer (1,75 ± 0,26). Na subescala competência desportiva destacaram-se os motivos, gosto pela prática (2,93 ±0,33) e o desenvolvimento de habilidades (2,87 ±0,34). Na subescala saúde foram importantes a necessidade de se exercitar (2,80 ±0,45) e a importância da prática na manutenção da saúde (2,76 ±0,52). Quanto à amizade e lazer, os mais referenciados foram “para me divertir” (2,11 ±0,77) e “para fazer novos amigos” (1,89 ±0,64). Portanto, a vontade e o gosto por praticar o voleibol foram os principais motivos. No entanto, cabe destacar os motivos extrínsecos com regulação externa (influência de amigos, pais e professores) que influenciaram a iniciação. Confirmando o presuposto pela TAD, para a aderência à prática esportiva destacaram-se os motivos extrínsecos (regulação introjetada e integrada) e os motivos intrínsecos, considerados os mais autodeterminados. Devido às constantes variações do processo motivacional, cabe destacar a necessidade de reavaliação periódica e da não generalização destes dados.

Palavras-chave: Desenvolvimento Humano; Teoria da Autodeterminação; Motivação; Voleibol; Psicologia do Esporte

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ANÁLISE DO PERFIL DEMOGRÁFICO E MOTIVOS QUE LEVAM A PARTICIPAÇÃO DAS PESSOAS NOS EVENTOS DE CORRIDA DE RUA

NA CIDADE DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Marlon Souza Freitas, Pedro Alex Carniato, Mayara Bertolo.

UNILAGO

Atualmente grande parte da população, vem sendo incen t i vada , pe la m íd ia , po r p rogramas governamentais e até mesmo por instituições privadas a praticarem atividade física, por conta do sedentarismo e as patologias associadas, além da constante busca pelo corpo perfeito. Sendo assim, dentre as várias modalidades esportivas existentes, optou-se em mencionar a corrida de rua por conta do fácil acesso e por sua prática trazer inúmeros benefícios para a saúde e auxiliar nos fatores corporais, psicológicos e sociais. Nesse sentido devido a estes pontos positivos, o número de adeptos a modalidade tem aumentado significativamente e por consequência a oferta de eventos direcionados a esse público estão cada vez mais atraentes. O estudo tem por objetivo analisar o perfil demográfico e os motivos que levaram as pessoas a praticarem a corrida de rua. Esse estudo foi realizado através de uma pesquisa bibliográfica que partiu de uma análise interpretativa e crítica de conteúdos obtidos através do acervo da UNILAGO e sites acadêmicos e pesquisa de campo, na qual foram aplicados questionários que abordavam o contexto social e os motivos da escolha da modalidade. Os dados foram coletados nos eventos, no período de dois meses no ano de 2014. Foram aplicados 71 questionários, nos quais, verificou-se um maior predomínio de participantes do sexo masculino 78% com idade entre 45 a 59 anos. O peso da maioria dos participantes 45% era de 61 a 75 Kg. 93% começaram a praticar a corrida de rua por vontade própria, enquanto, 7% foram por prescrição médica. 40% buscam por saúde, 14% melhor desempenho e 46% ambas. Na opinião dos participantes, o aumento da adesão se deve a busca da qualidade de vida 40%, socialização 4% e o baixo custo 10%. Portanto conclui-se que a necessidade da população por uma vida mais saldável e social, contribui para que as pessoas procurem cada vez mais a corrida de rua. Pois além da prática, as pessoas comungam de momentos agradáveis, trocam informações e experiências sobre a corrida, além de vários outros fatores que justificam o aumento do número de adeptos.

Palavras chaves: corrida de rua, motivação da prática de corrida e treinamento de corrida.

ALTERAÇÕES POSTURAIS E LESÕES NA CORRIDA EM ATLETAS PROFISSIONAIS E

AMADORES

Willian Lopes Da Graça – UNIP JK

INTRODUÇÃO: É sabido através de relatos científicos que o desequilíbrio muscular induz a alterações posturais como meio de compensação,

afim de, se adaptar a essa nova condição. A prática de atividade física é um fator importante na prevenção de determinadas doenças, porém a prática de atividade física intensa, com gestos específ icos, sobrecarga exagerada ou sem orientação profissional em longo prazo podem desencadear processos lesivos ao praticante. Desse modo, as corridas por serem atividades praticadas com posições e gestos específicos do esporte juntamente com erros na técnica de execução dos movimentos, podem aumentar a prevalência de lesões em atletas de alto nível ou corredores amadores. OBJETIVO GERAL – Analisar as alterações posturais provocadas pela corrida em atletas e não atletas. OBJETIVO ESPECÍFICO – Investigar possíveis lesões decorrentes de posturas i n a d e q u a d a s . P R O C E D I M E N T O S METODOLÓGICOS: Este trabalho é de abordagem qualitativa, tem como base a pesquisa bibliográfica a partir de uma revisão de literatura nas principais referencias das bibliotecas físicas e virtuais. CONSIDERAÇÕES FINAIS – Considerando a revisão de literatura foram constatados que o grupo de atletas apresentou posturas específicas como hiperlordose lombar, anteversão pélvica e protusão de cabeça, decorrentes de desequi l íbr ios retracionais. Entre os corredores adultos e idosos houve um comportamento de movimento diferente por parte dos idosos, apresentando menor excursão de flexão de joelho e de rotação medial da tíbia. Os desequilíbrios musculares retracionais, déficit de força muscular, variação do tônus e trofismo muscular, dominância lateral, entre outros fatores, a médio e longo prazo podem ocasionar lesões agudas ou crônicas que comprometem em demasia o rendimento do desportista Ramos e Netto (apud Neto, 2004, p.197).

Palavras Chave: Desequilíbrios musculares. Corridas. Gestos específicos. Lesões.

O NÍVEL DE CONHECIMENTO DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO SOBRE A MODALIDADE ESPORTIVA BASQUETEBOL NA ESCOLA

¹,²Anderson Bençal Indalécio; ²Henrique Ribeiro Carrasco; ¹,²Higor Thiago Feltrin Rozales Gomes¹UNIFEV – Centro Universitário de Votuporanga /

²SME – Secretaria Municipal da Educação de Votuporanga/SP

RESUMO: O presente estudo teve como objetivo principal identificar o conhecimento dos alunos do ensino médio sobre a modalidade esportiva basquetebol, alunos estes matriculados em uma escola estadual do município de Riolândia/SP. Essa importante modalidade esportiva trabalhada na escola tem vários benefícios ao aluno. Nesse sentido, as prát icas das aulas de educação f ís ica proporcionam, além do desenvolvimento das qualidades físicas, a possibilidade de aumentar a capacidade de adaptação social e também de desenvolver a habilidade na prática de próprio basquetebol. Para atingir tais propósitos, foram entrevistados 63 alunos do ensino médio da escola

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E.E Clarinda Machado de Souza, consultados através de um questionário contendo 10 questões. Verificou-se que apesar do Basquetebol ser muito conhecido no Brasil, ele é pouco praticado na escola pesquisada, excluindo os alunos da pratica e conhecimento dessa modalidade. Apesar do baixo conhecimento dos alunos entrevistados, há uma grande vontade entre a maioria de aprender mais sobre a modalidade esportiva Basquetebol, o que mostra que o professor de Educação Física deve dar uma maior atenção para essa modalidade esportiva, apesar do pouco tempo que há para se trabalhar com ela. Desse modo não privar o aluno das diversas possibilidades de aprendizagem que esse esporte possibilita levando em conta a importância da aplicação dessa modalidade esportiva na escola. A qualidade de transmissão desses valores vai depender da prática desta modalidade esportiva e também pela importância dada pelo(a) professor(a) de Educação Física que tem um papel importante na facilitação da aprendizagem e transmissão dos valores agregados ao basquetebol.

Palavras-chave: Basquetebol. Ensino Médio. Saberes.

ESTUDO SOBRE APLICABILIDADE DOS JOGOS PRÉ-DESPORTIVOS AO ENSINO DO VOLEIBOL EM DOZE ESCOLAS DO MUNICÍPIO DE VOTUPORANGA/SP

¹,²Anderson Bençal Indalécio; ²Henrique Ribeiro Carrasco; ¹,²Higor Thiago Feltrin Rozales Gomes¹UNIFEV – Centro Universitário de Votuporanga /

²SME – Secretaria Municipal da Educação de Votuporanga/SP

O presente trabalho pretende demonstrar a utilização do Voleibol na Educação Física escolar no Ensino Fundamental e, por meio da pesquisa de campo analisar quais os reais valores que são passados ao voleibol na instituição escolar. Os objetivos destacados foram estudar e analisar o voleibol em escolas públicas da rede municipal de ensino por meio de análise e pesquisa, assim como verificar a utilização do conteúdo jogos pré-desportivos ao ensino do Voleibol sob a visão do professor nas aulas de Educação Física. A metodologia foi embasada em um questionário aplicado aos professores das escolas púb l i ca da rede munic ipa l de ens ino de Votuporanga/SP. Foram entrevistados 26 professores, e após a coleta dos dados verificou-se por meio das informações levantadas e discussão mediante a prática desta atividade nas escolas públicas (12) do município de Votuporanga, assim como da tabulação dos dados coletados direcionado ao objetivo proposto. O trabalho realizado possibilitou observar que os professores têm condições de explorar o Voleibol distinguindo-o como relevante conteúdo no processo de ensino-aprendizagem e como ferramenta pedagógica para a Educação Física escolar. Na pesquisa efetuada os professores demonstram ter preocupação em planejar as aulas para a turma, e estão engajados no desenvolvimento dessa atividade como inserção na sociedade e no grupo, pois é uma atividade em grupo, não isolado,

desmembrado de responsabilidades com a formação dos indivíduos. Assim a Educação Física deve ser compreendida como fundamental no processo de ensino aprendizagem no Ensino Fundamental e que faz parte da vida escolar do aluno de corpo inteiro, pois o Voleibol, assim como os outros esportes, tem grande importância se bem trabalhado pode ser um rico instrumento pedagógico como conteúdo nas aulas de Educação Física com o objetivo de transmitir ao aluno o conhecimento além do esporte e não apenas para condicioná-lo.

Palavras-chave: Voleibol. Educação Física. Ensino-aprendizagem.

O COMPORTAMENTO DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO SOBRE A OBESIDADE E A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

¹,²Anderson Bençal Indalécio; ²Henrique Ribeiro Carrasco; ¹,²Higor Thiago Feltrin Rozales Gomes¹UNIFEV – Centro Universitário de Votuporanga /

²SME – Secretaria Municipal da Educação de Votuporanga/SP

RESUMO: O presente estudo teve como objetivo principal verificar o comportamento do aluno com obesidade nas aulas de Educação Física e sua relação quanto as atividades propostas pelo professor assim como sua relação com os colegas durante as aulas em duas escolas estaduais de Votuporanga/SP. Para realização deste trabalho foi elaborado um questionário com questões fechadas e observações. Colaboraram com a entrevista 211 alunos obesos e não obesos. Durante as observações realizadas nas escolas “E.E. Uzenir Coelho Zeitune Prof.ª” e “E.E. Maria Nívea Costa Pinto Freitas Prof.ª”, os alunos obesos tinham dificuldade de participar das atividades proposta pelo professor e também apresentavam sua relação com os colegas de sala. Após as observações realizadas nas duas escolas de Votuporanga/SP, podemos verificar como é o comportamento do aluno obeso do ensino médio durante as aulas de Educação Física, e a relação desse aluno com os colegas de sala. Durante as aulas verificamos que o professor passava algumas atividades praticas e o aluno obeso se negava a fazer tal atividade, pois ele mesmo acabava se limitando e se auto excluindo dizendo que não conseguia fazer tal exercício devido sua característica física. Quando esse aluno não se auto excluíam, os colegas de sala acabavam fazendo isso por ele, por muitas vezes não quererem ele no time/equipe, ou deixavam ele para ser escolhido no final como uma ultima opção. Porém a relação do aluno com obesidade e dos demais colegas fora das aulas praticas é uma relação saudável e satisfatória. Após essas observações e a pesquisa aplicada com os questionários chegamos à conclusão de que os alunos obesos são excluídos durante as aulas praticas devido à falta de habilidade, coordenação e agilidade, e durante as aulas teóricas eles são tratados normalmente e sempre são incluídos nos trabalhos em grupo.

Palavras chaves: Obesidade. Ensino Médio. Educação Física escolar.

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OS ASPECTOS SOCIAIS RELACIONADOS AO VOLEIBOL NA ESCOLA

¹,²Anderson Bençal Indalécio; ²Henrique Ribeiro Carrasco; ¹,²Higor Thiago Feltrin Rozales Gomes¹UNIFEV – Centro Universitário de Votuporanga /

²SME – Secretaria Municipal da Educação de Votuporanga/SP

RESUMO: Este artigo tem como intuito mostrar como a modalidade esportiva voleibol pode influenciar e melhorar o convívio entre professores e alunos e, alunos e alunos e como isso pode refletir diante ao convívio social dentro e fora da escola. Desta forma foi realizada uma pesquisa, com os alunos de uma escola estadual localizada no Município de Iturama- MG, a fim de desvendar junto aos alunos como eles veem essa modalidade e saber como Voleibol pode influenciar em sua qualidade de vida e quais as mudanças alcançadas ao desenvolvê-la. Os alunos que praticam o esporte, mostram que sentem uma grande diferença, com relação a interação, cooperação, e que o convívio entre os alunos, amigos e familiares melhora muito dentro e fora da escola. Com isso a postura dos alunos é diferenciada com a prática do esporte. O Voleibol contribui na autoestima, no desenvolvimento intelectual nos valores éticos, sociais e morais dos alunos. Com isso a prática do esporte além de trazer benefícios à saúde, influenciar nas decisões do cotidiano, tendo atitudes mais eficazes que influencia nos atos sociais, as modalidades esportivas de caráter coletivo influencia para uma postura não preconceituosa e discriminatória perante aos grupos étnicos e sociais, desta forma o voleibol vem contribuir de forma significativa no bem estar dos alunos promovendo melhor condição vida em seu cotidiano.

Palavras Chaves: Voleibol. Aspectos Sociais.

Escola.

PROPRIOCEPÇÃO PARA A PRÁTICA DE MUSCULAÇÃO: MÉTODO DE PREVENÇÃO DE

LESÕES

Frederico Gonçalves da Costa – UNIP Campus JK

INTRODUÇÃO: Há um grande aumento no número de praticantes de musculação atualmente, e, por se tratar de uma atividade com elevado risco de lesões, há uma preocupação por parte dos profissionais da área para preveni-las. Este estudo visa encontrar nos métodos proprioceptivos uma forma de prevenir as principais lesões decorrentes da musculação, pois, segundo Pinheiro (1998 apud Domingues, 2008) permite que o indivíduo estabeleça relações com o meio, fornecendo informações sobre a posição dos segmentos anatômicos e padrão de movimento, sendo que é um fator decisivo na correção gestual, estabilidade dinâmica e prevenção de lesões. OBJETIVO: Analisar a eficácia do treinamento proprioceptivo para a prática segura de musculação, identificando as lesões mais recorrentes e as

propostas para a sua prevenção. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: Este trabalho está baseado na pesquisa bibliográfica, com uma revisão de literatura de literatura nas principais bases de dados das bibliotecas virtuais. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Foi constatado que muitas lesões decorrentes da prática de musculação têm origem na instabilidade e imaturidade articular e músculo-esquelética de seus praticantes. Isso advém da ansiedade por resultados quase imediatos. Para tentar sanar essa lacuna, as propostas dos métodos proprioceptivos visam fortalecer e preparar essas estruturas para o impacto específico do treinamento resistido, nas áreas articular, muscular e tendinoso. Os métodos adequados devem atender a estímulos com o “máximo de informações aferente, estimulação reflexa da contração muscular, treino excêntrico da musculatura estabilizadora, estímulo da co-contração muscular (SILVA; RODRIGUES, 2005 apud DOMINGUES, 2008. p)”.

Palavras Chave: Musculação. Lesões. Métodos proprioceptivos.

ANÁLISE HISTOLÓGICA DE FIBRAS MUSCULARES APÓS EXERCÍCIO RESISTIDO NA

NATAÇÃO ASSOCIADO A INGESTA HIPERPROTEICA

Karina Duque Amantini; Jerônimo Augusto Galvão; Wilson Mancini Neto

UNIRP

O objetivo do presente estudo foi o de analisar através de técnica histológica, se o exercício de natação induziria alterações nas fibras musculares do músculo Tibial Anterior, associado a ingesta hiperproteica. Foram utilizados 30 ratos adultos, machos, da linhagem Wistar, divididos em seis grupos: dois grupos controle e quatro grupos treinados, sendo que dentre os treinados, dois foram com resistência. Ainda com relação aos seis grupos, três grupos receberam dieta normal e outros três dieta hiperproteica. Após 45 dias de treinamento de natação, amostras do músculo foram coletadas e coradas pelo método HE, para análise histológica. Verificou-se por essa análise que os grupos controle não apresentaram alterações celulares significativas. As diferenças morfológicas observadas nas fibras musculares, mostraram-se muito mais em conseqüência da atividade física ( citoplasma maior, maior densidade vascular, vasos mais calibrosos e núcleos maiores, hipercorados ), que indicam maior atividade celular e maior demanda de oxigênio. Isso torna-se evidente pela semelhança histológica encontrada entre os grupos com e sem dieta hiperproteica.

Palavras-Chave:Nutrição, natação, hábitos alimentares, atividade física.

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A RELEVÂNCIA E EFICÁCIA DA ATIVIDADE FÍSICA NO TRATAMENTO E PREVENÇÃO DA

DEPRESSÃO

Pamella Natally Figueiredo Marzochi e Mayara BertoloUnilago

O presente estudo tem como objetivo descrever qual a relação existente entre a atividade física e a depressão, grande aliada na prevenção, tratamento e reabilitação de pacientes depressivos. Verifica-se a relevância dessa discussão, pois segundo dados da Organização Mundial da Saúde a depressão é uma das causas pioneiras de incapacidade no mundo e os números de suicídio associado a essa doença, vitima cerca de 850.000 pessoas por ano, Who (2006). No Brasil, dados do Ministério da Saúde, sobre a Política da Saúde Mental referentes aos anos de 2003 a 2005, mostram que 3% da população sofrem com transtornos mentais severos e persistentes e 12% da população necessita de algum atendimento referente à Saúde Mental. Entre as doenças neurológicas e mentais, a depressão vem representando a maior parte da carga. As associações entre suicídios e transtornos mentais são de mais de 90%, entre os transtornos mentais associados ao suicídio, a depressão se destaca. Estudo realizado pela UNICAMP, relacionando suicídio e depressão, revelou uma taxa alarmante de 150 tentativas de suicídio para cada 100.000 habitantes. Nesse sentido a prática de atividade física pode proporcionar aos seus adeptos, autoestima, autoeficácia, controle do estresse, aumento do estado de humor, liberação da tensão, reaquisição e manutenção do equilíbrio psíquico. O método utilizado nesse trabalho é de âmbito bibliográfico realizado a partir do acervo da UNILAGO e sites acadêmicos através de uma analise critica e interpretativa das palavras chave: atividade física, depressão, benefícios, reabilitação e tratamento. Portanto conclui-se que a atividade física além de ocasionar o bem estar emocional ou psicológico, representado pelo predomínio do afeto positivo sobre o negativo, pela satisfação com a vida e a capacidade de apreciá-la, aumenta a resistência do indivíduo frente ao estresse psicossocial. Promove a interação social, que naturalmente têm função ansiolítica e antidepressiva, através do sentimento de prazer pela interação em grupo e do reforço social recebido pelas pessoas do seu convívio nas atividades. No entanto mesmo com toda a discussão levantada nesse trabalho, verifica-se a necessidade de mais estudos sobre essa tríade, atividade física, depressão e seus benefícios.

A CULPA É DO ESPORTE: educação por meio do jogo

Fernando Ferreira da SilvaGraduando em Educação Física – UNIP / Campus

JK - S.J. Rio Preto

INTRODUÇÃO: Alguns estudos demonstram a importância do jogo na construção de regras, valores morais e condutas pessoais de crianças/adolescentes.

Nesse sentido o trabalho com as atividades recreativas deve ser contextualizado nas dimensões procedimentais, conceituais e atitudinais, utilizando o jogo como agente de transformação pessoal e com poder de implantação de objetivos comportamentais e disciplinares. Como hipótese, o indivíduo poderá desempenhar um pape l soc ia l com mai s solidariedade, respeito, altruísmo, visando a construção do Ser como Ser Social, que pode se tornar apto a perceber o jogo e suas dimensões educativas. OBJETIVO: Apresentar a experiência obtida por meio do projeto social desenvolvido no núcleo “PROJETO CIDADÃO – PLANALTO” e “PROJETO ESCOLA VIVA II”, nas intervenções realizadas nas de Educação Física ( R e c r e a ç ã o ) . P R O C E D I M E N T O S METODOLÓGICOS: Inicialmente foi realizado um Inventário Cultural a fim de determinar uma raiz antropológica local para, a partir deste diagnóstico, definir as atividades e planejar o trabalhar com as crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social de maneira democrática e participativa. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Em toda intervenção prática, independente das características da população, o professor deverá estar atento para não perder o objetivo central da dimensão atitudinal, que é a educação integral do aluno, especialmente na educação de valores. Deste modo, foi possível notar mudanças na conduta de alguns alunos no cotidiano escolar e no desenvolvimento das aulas. Percebeu-se que assimilaram determinados valores e condutas cooperativas para o trabalhado nos jogos. Resta saber se estas atitudes são transferidas em suas ações diárias alterando positivamente o modo de reagir aos problemas que ocasionalmente enfrentam. Deste modo, é significativo que os professores atuem na perspectiva das dimensões procedimentais, conceituais e atitudinais, tendo em vista que as aulas de Educação Física podem apresentar o esporte e o jogo aos alunos como instrumento para a competência de vida.

Palavras chave: Dimensões dos conteúdos. Educação Física. Esporte-Educação. Educação de valores.

O PADRÃO DE BELEZA CORPORAL PARA PRATICANTES DE ATIVIDADES FÍSICAS.

1 1,2Francieli Pires Barbosa, Marcelo Callegari Zanetti, 1Deivison Luis Corrêa

1Unip – São José do Rio Pardo – SP; 2LEPESPE/IB/UNESP - Rio Claro

(Introdução) Final do século XX e início do século XXI momento em que o culto ao corpo tornou – se uma verdade i ra obsessão. A soc iedade c lama determinados tipos de constituição corporal, sendo o corpo malhado o ícone da sociedade brasileira (PEREIRA; KEHL, 2004). Matsudo (1990) também aponta a importância do corpo ser definido e de se conquistar massa muscular. Dentre os diversos modelos de corpos ditos como padrões corporais contemporâneos, a magreza também se faz dominante em nossa sociedade, o que faz com que muitas pessoas busquem a prática de atividades

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f í s i cas , às vezes de fo rma desen f reada , principalmente dentro de academias de ginástica e musculação. (Objetivo) Pensando nisso, esse trabalho teve como principal objetivo identificar o padrão corporal almejado por tais praticantes. (Procedimentos metodológicos) A coleta de dados ocorreu entre os meses de outubro a dezembro de 2013 em três academias de ginástica e musculação da cidade de Santa Cruz das Palmeiras. A amostra foi composta por 100 (cem) sujeitos, sendo 50 homens e 50 mulheres, com idades variando entre 18 a 38 anos (± 24,32 anos/DP: 5,72). O instrumento utilizado foi 1 (um) questionário aberto contendo diversas questões, porém, nesse trabalho foi utilizado apenas a questão: “Descreva qual tipo de corpo você gostaria de ter?”. (Resultados) A partir dos resultados verificamos que: 33,3% (42 pessoas) relataram querer um corpo definido; 18,2% (23) estão satisfeitos com seu próprio corpo; 9,6 (12) querem medidas pequenas; 8% (10) massa muscular; 7,1% (9) ter um corpo musculoso; 7,1% menos gordura corporal; 7,1% outros; 4,8% (6) malhado e 4,8% (6) for te. (Conclusão) Diante dos resul tados encontrados foi possível perceber que os praticantes de atividades físicas buscam padrões corporais dos tipos: corpo definido com massa muscular e medidas pequenas, sendo estes os padrões corporais mais propagados pelas mídias e aceitos pela sociedade como ideais. Faz-se necessário uma atenção diante desta busca, já que muitas vezes os exercícios são realizados com grande intensidade, duração e frequência que poderão provocar lesões musculares, por excesso de atividade física, além de possíveis distúrbios que podem surgir tais como: anorexia, bulimia e compulsão por exercício.

Palavras–chave: Corpo ideal. Beleza. Distúrbios de imagem corporal.

BRASIL, PAÍS DO FUTEBOL. VERDADE OU MITO?

Bruna Garcia, Laila MullerCentro Universitário de Rio Preto - UNIRP

INTRODUÇÃO: O Futebol, esse magnífico e apaixonante esporte está muito além das habilidades que os craques demonstram dentro das quatro linhas.Envolve investimento, administração, torcedores, emoções, sentimentos, respeito, entretenimento, marketing, popularidade, enfim, uma enorme gama de atributos quepodemser explorados pelas grandesempresas esportivas. É de a cultura brasileira,todos os setores da sociedade,dar muita ênfase ao futebol, preenchendo aspectos sociais, políticos, econômicos, psicológicos e emocionais do seu dia a dia. Entretanto, como é de conhecimento geral o Bras i l é o país da desigualdade, e isso, não é diferente no esporte. Financeiramente o que se aplica somente no futebol é o equivalente ao gasto com dez modalidades olímpicas. A derrota histórica para a Alemanha pode serum aspecto positivo, na medida em que o Brasil deixe de ser visto apenas como país do futebol e exp lore melhor out ros e lementos de sua

identidadeesportiva. OBJETIVO: Investigar as conquistas de seleções brasileiras de diferentes modalidades e, comparativamente, analisar comoo futebol não pode ser considerado o número um do país.PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: Foi realizadauma busca do quadro de medalhas dasseguintesmodalidades: Futebol feminino e masculino, Vôlei feminino e masculino e Basquete feminino e masculino nas seguintes competições: Jogos Olímpicos, Campeonatos Mundiais e Jogos Pan-americanos. O total de medalhas do futebol masculino soma vinte e uma medalhas, o futebol feminino, somam sete medalhas. No Vôlei Masculino vinte e quatro medalhas, o Vôlei feminino soma quinze medalhas. No Basquete Feminino dezesseis meda lhas e no mascu l ino 22 meda lhas . CONSIDERAÇÕES FINAIS: Em síntese, se comparado os investimentos no futebol com as demais modalidades olímpicas, o futebol deveria aparecer em primeiro lugar em conquistas internacionais. Entretanto, é difícil afirmar que somente investimentos financeiros poderiam levar outras modalidades a conquistar mais medalhas, especialmente em competições importantes, como os Jogos Olímpicos, por exemplo. Acredita-se que outros fatores estejam diretamente ligados à transformação do Brasil em potência olímpica. Mas é certo que, em número de conquistas, outros esportes aparecem à frente do futebol, mas não lhes garante a mesma popularidade.

Palavras Chave: Futebol, Investimento, Conquistas.

O ENSINO DOS JOGOS COLETIVOS ESPORTIVOS POR MEIO DE JOGOS NA

INICIAÇÃO

Souza, V. V.; Gomes, G. M.; Buffo JunioR, L. E.; Pavan, P. H. B.; Zanetti, M. C.

Universidade Paulista – São José do Rio Pardo – São

Paulo – Brasil [email protected]

(Introdução) Um dos grandes desafios do professor é ministrar suas aulas de jogos esportivos coletivos utilizando o modelo de aulas à partir de jogos, de modo que o aprendiz desenvolva de forma motivada todas suas competências essenciais, potencializando um ambiente de aprendizagem significativo, descartando o modelo de ensino tradicional utilizando como ponto de partida o ensino do jogo através do jogo. (Objetivos) Por esse motivo, o objetivo do presente estudo foi verificar como o professor pode trabalhar suas aulas substituindo o modelo de ensino tradicional pelo método de ensino pelos jogos. (Metodologia) Como proposta metodológica optamos por uma ampla revisão de literatura nacional e internacional. (Resultados) Como principal resultado constatamos que esse método de trabalho parece possibilitar maior entendimento sobre a lógica do jogo, além de maior envolvimento dos componentes do treinamento (físico, tático, técnico e psicológico) de forma integrada, ampliando os processos de tomada de decisão, leitura das jogadas, comunicação por meio da ação e uma eficaz relação com a bola a fim de

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executar as jogadas com maior êxito. Na iniciação em um primeiro momento o método procura desenvolver a lógica do jogo deixando o aluno descobrir na imprevisibilidade o que fazer e como fazer de modo a desenvolver ações inteligentes dentro do contexto. (Considerações Finais) Apesar de muitos professores ainda utilizarem o modelo de ensino tradicional (analítico) onde o ensino é simplificado para a sistematização de movimentos, esse método tende a proporcionar uma maior amplitude de desenvolvimento gradativo de capacidades essenciais ao iniciante e ao mesmo tempo proporcionar um ambiente prazeroso, mantendo os alunos mais envolvidos e motivados durante as aulas.

Palavras-Chaves: Iniciação por meio de jogos, Jogos Coletivos, Motivação.

A RELAÇÃO ENTRE JOGOS ELETRÔNICOS E A DEFICIÊNCIA MOTORA APRESENTADA EM

CRIANÇAS PRATICANTES DE NATAÇÃO

Chafic Chaves dos Santos; Victor Reia PinheiroAcquática Escola de Esportes

Considerando o avanço tecnológico nos últimos anos, e a praticidade que os pais encontram em manter seus filhos entretidos com tais eletrônicos, aliado ainda à falta de estímulos de vivências motoras, todos esses variáveis tem refletido em uma grande dificuldade no desenvolvimento de habilidades motoras das crianças envolvidas nesse processo. Com o objetivo de resgatar brincadeiras tradicionais que sirvam como estímulos para desenvolver e aprimorar habilidades motoras é que relatamos as experiências vivenciadas enquanto professores de natação na Aquática Escola de Esportes, com crianças de 5 a 12, de classe média alta, que frequentam duas aulas semanais. Durante um período de seis meses foi desenvolvido um trabalho de consciência corporal que consistia em executar brincadeiras tradicionais tais como, pular corda, amarelinha, barata no ar, pique-bandeira, e pega-pega, durante o trabalho de aquecimento em solo, além de exercícios de deslocamentos, saltos, agachamentos e trabalho em equipe, com duração média de 20 minutos, com finalidade recreativa, além de fornecer estímulos que contribuem para a melhora de capacidades e habilidades físicas individuais, tais como; equilíbrio, controle motor, força, tomadas de decisões rápidas, lateralidade, entre outras. O resultado dessa intervenção foi muito positivo, pois foi percebida uma melhora significativa no aumento da consciência corporal, além de notório aumento de acervo motor dessas crianças. Isso consequentemente refletiu numa maior naturalidade na execução dos movimentos utilizados na natação, tornando os movimentos mais eficientes dentro de uma técnica de nado mais aprimorada e refinada. As melhoras também foram percebidas nas tomadas de tempo aferidas mensalmente, em tiros de 25m e 50m. Considerando as circunstâncias vivenciadas, concluímos que quanto maior o tempo que essas crianças passam entretidas com jogos eletrônicos, maior é a dificuldade em execução de movimentos, e

menor o acervo motor apresentado pelas mesmas, e essa problemática pode ser amenizada com o resgate de brincadeiras e jogos que até certo tempo atrás eram tradicionais, e que hoje em dia perderam espaço para o avanço da tecnologia e os cyberjogos.

Palavras-chave: Natação, jogos eletrônicos, crianças.

ATLETAS INTELIGENTES: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA

¹Guilherme, Silva, ¹Deivison, Correa, ¹José 1,2Guilherme, Carvalho, ¹Luan, Lopes, Marcelo,

Callegari Zanetti.1UNIP- São José do Rio Pardo – SP – Brasil

2LEPESPE/I.B./UNESP – Rio Claro - SP – Brasil

(Introdução) Em todo e qualquer esporte, coletivo ou individual, a busca por atletas inteligentes deveria ser uma constante, pois, esses indivíduos parecem ser capazes de superar as dificuldades impostas a eles com mais naturalidade e facilidade. Porém, mais importante que encontra-los deveria ser formá-los, utilizando técnicas que visem aperfeiçoar a capacidade cognitiva dos mesmos. Dentre os vários componentes cognitivos, destacamos a Tomada de Decisão (TD), que parecer ser importante mecanismo de percepção-ação na formação de atletas inteligentes. (Objetivos) Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi pesquisar métodos de trabalho que possam contribuir para o aprimoramento daTD de atletas. (Procedimentos Metodológicos) Adotamos como estratégia metodológica a revisão de literatura nacional e internacional sobre a temática proposta. (Resultados) Após a revisão, constatamos que um dos métodos mais eficaz no desenvolvimento da TD parece ser a Abordagem Baseada nos Constrangimentos (ABC), que visa criar situações próximas às existentes em competição, o que pode aumentar o repertório de ações técnico/táticas, contribuindo na formação de um atleta autônomo, inteligente, capaz de decidir por si, e não um atleta mecanizado, engessado e que só executa aquilo que seu treinador lhe ordena, prática muito comum no esporte. (Considerações Finais) Fica claro que, no atual contexto esportivo que vivemos, parece imprescindível a formação de atletas inteligentes, para tanto, professores e treinadores devem lançar mão de estratégias que permitam o alcance desse objetivo. Nessa linha, nossa proposta foi a Abordagem Baseada nos Constrangimentos (Individuo, Tarefa e Envolvimento) como uma ferramenta para tal, porém, faz-se necessário maior entendimento dos aspectos cognitivos que envolvem o treinamento esportivo.

Palavras Chave: Tomada de Decisão, Abordagem Baseada nos Constrangimentos, Psicologia do Esporte.

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OBESIDADE INFANTIL, ATIVIDADES FÍSICAS E SEDENTARISMO EM CRIANÇAS DO 1º CICLO DO

ENSINO INFANTIL DA CIDADE DE MOCOCA

¹Luan, Lopes, ¹Leticia, Bertasso, ¹Paula, Cardoso, ²Pedro, Coelho, ¹Graziela, Feltran.

¹UNIP - São José do Rio Pardo - SP – Brasil²UNIFAE - São João da Boa Vista – SP - Brasil

(Introdução) O Índice de Massa Corporal (IMC) é uma medida utilizada para medir a obesidade, hoje em dia, o IMC é utilizado como forma de comparar a saúde de populações na identificação das pessoas obesas; neste estudo, o diagnóstico e avaliação da obesidade infantil. Quanto mais cedo for realizado este diagnóstico e avaliação da obesidade em crianças, mais cedo se pode intervir e prevenir as futuras complicações. (Objetivos) O objetivo do presente estudo foi descrever a prevalência do sobrepeso e obesidade entre as crianças de uma escola publica do município de Mococa, para que possamos com o diagnostico precoce intervir e prevenir futuras complicações que essas crianças podem desenvolver como: doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, alguns tipos de cânceres, diabetes, sedentarismo, além de distúrbios sociais. (Metodologia) O mater ial ut i l izado para mensuração do (IMC) foi uma balança e um estadiometro da marca Welmy ambos aferido pelo IMETRO. Os protocolos utilizados foram: para (IMC) peso em quilogramas dividido pela altura em metros quadrados (kg/m²) categorizado pela classificação da Organização Mundial da Saúde. A amostra foi composta por 239 alunos com idade media de 8,35 anos, sendo máxima de 12 e mínima de 06 anos, onde o professor coletou os dados, após explicar os objetivos da pesquisa e realizar as devidas aferições. (Resultado) Na avaliação do IMC 54,81% é da amostra do sexo masculino e 45,18% do sexo feminino. Sendo que na amostra do sexo masculino 11,45% estão no sobrepeso e 13,74% obesos, já na amostra do sexo feminino 15,74% estão no sobrepeso e 10,18% obesas. (Conclusão) Considerando esses dados em comparação ao gráfico de IMC por idade e sexo identifica-se que a prevalecia de crianças que apresentam excesso de peso foi na amostra do sexo masculino. Sendo assim, faz-se necessário aumentar a atividade física para prevenir o aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade entre crianças e adolecentes.

Palavras-Chaves: IMC, Obesidade, Sobrepeso, Atividade Física, Sedentarismo.

RISCOS SOBRE O USO INDEVIDO DE ANABOLIZANTES ESTEROIDES POR

PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO

Raphael Magosso – UNIP – Campus JK

Os esteroides anabolizantes são hormônios sintéticos que utilizados de maneira incorreta podem vim a causar um grande prejuízo a saúde. O uso indiscriminado deste produto vem crescendo cada vez mais dentro das academias do país. Este estudo teve como objetivo a coleta de dados que ajudam a comprovar que em muitos usuários de esteroides

anabolizantes ocorre alterações de personalidade, sentem nervosismo, alterações de humor e falta de vontade de praticar exercícios físicos decorrente do uso de anabolizantes, além dos efeitos apresentados, estudos clínicos têm demonstrado uma associação entre o uso de EAA e uso de opiáceos e/ou outras substâncias psicoativas, como maconha, cocaína, anfetaminas ou de LSD (Dietilamida do Ácido Lisérgico). Foi realizada uma revisão de literatura baseada em artigos com estudos em academias de São Paulo e Bahia. Entendemos que o uso prolongado de anabolizantes pode vir a prejudicar a saúde de maneira grave causando problemas não somente físicos mas também psíquicos, em jovens que buscam por um corpo perfeito ou que praticam musculação apenas por lazer.

Palavras chave: Musculação. Anabolizantes. Saúde.

FATORES MOTIVACIONAIS PARA A PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA DOS HABITANTES DO

MUNICÍPIO DE TABAPUÃ-SP

Gabriel Bossolani da Guarda, Gabriela BlasquezUNIP - Universidade Paulista

INTRODUÇÃO: A cidade de Tabapuã é uma pequena cidade do interior do estado de São Paulo, pertence à região de São José do Rio Preto e tem cerca de 11.363 habitantes (IBGE 2010) , dentro da cidade, os esportes mais difundidos são musculação, futebol e handebol. OBJETIVO: Diagnosticar quais são os fatores que motivam ou impedem a pratica de atividade física dos habitantes de Tabapuã-SP. P R O C E D I M E N T O S M E T O D O L Ó G I C O S : Participaram do estudo 73 pessoas com idades entre 15 e 69 anos, sendo 26 do sexo feminino com uma idade média de 24,15 anos e 47 do sexo masculino com uma idade média de 26,55 anos. A pesquisa foi realizada em locais como academias de musculação, pista de caminhada, praças e ginásio de esportes. Para se verificar os motivos que levam as pessoas a aderirem à prática de atividade física realizou-se uma entrevista estruturada composta por vinte questões, agrupadas em cinco categorias: estética e performance, saúde física, divertimento, socialização e auto-estima, para cada resposta pontuava-se a alternativa em uma escala de 1 a 4 pontos. As alternativas possíveis eram: Não sei responder=1; Sem importância=2; Razão secundária=3 e Razão principal=4. Para justificar motivo da pessoa não praticar atividade física foram elaboradas seis respostas: Falta de tempo, Situação econômica, Não gosta, Timidez, Orientação médica e Outros motivos. RESULTADOS: Das 73 pessoas entrevistadas, 17 não praticavam atividade física, o principal motivo relato de não praticarem é a “falta de tempo” (10), seguido por “outros” (3), ”não gosta” (2) e “situação econômica” (2), timidez e orientação médica não foram escolhidos por nenhum individuo. Dentre os 56 que praticam atividades físicas, a categoria com maior media foi “divertimentos” (3,32±0,53) seguido por “saúde física”(3,23±0,39), “auto-estima” (3,11±0,56), “socialização” (3,08±0,55) e “estética e performance” (2,96±0,49). Os esportes mais praticados entre os entrevistados são: Musculação,

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futebol, corrida e caminhada. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Observamos uma maior prevalência de praticantes de atividade física na amostra estudada (73.71%), e os resultados sugerem que o principal motivo para a prática é o divertimento. Por outro lado, as pessoas que não praticam atividades físicas, relataram que o principal motivo é a falta de tempo.

Palavras-chave: Atividade física; Tabapuã-SP; Fatores motivacionais.

IMAGEM CORPORAL DE PRATICANTES DA TERCEIRA IDADE DE ATIVIDADES FÍSICAS DA

CIDADE DE MOCOCA

¹Leticia, Bertasso, ¹Luan, Lopes, ²Pedro, Coelho, ¹Graziela, Feltran.

¹UNIP - São José do Rio Pardo - SP – Brasil²UNIFAE - São João da Boa Vista – SP – Brasil

(Introdução) A imagem corporal é uma ideia que se tem sobre a forma, tamanho e imagem do corpo, envolvendo as atitudes perceptuais e emocionais. Esse distúrbio apresenta uma prevalência na população mais jovem, mais atualmente tem se apresentado na terceira idade. A imagem corporal ultimamente tem envolvido um complexo de fatores como: psicossociais, culturais e biológicos que determinam como os indivíduos se vêem e como acham que são vistos. O envelhecimento, enquanto fenômeno, desperta de forma significativa o interesse de pesquisadores em di ferentes áreas do conhecimento, entre elas, a educação física. (Objetivos) O objetivo do presente estudo foi descrever a auto - percepção da imagem na terceira idade entre mulheres praticantes de atividade física de um ginásio da cidade de Mococa. (Metodologia) Participaram deste estudo 30 mulheres de 48 a 70 anos, que praticam atividades físicas, rítmicas e expressivas. O material utilizado para a avaliação foi um questionário sobre imagem corporal, Body Shape Questionnaire (BSQ), este questionário verifica o grau de preocupação com a forma do corpo e do peso, auto - depreciação relacionada à aparência física e alguns componentes adotados em função desta auto-depreciação durante os últimos meses. (Resultado) A terceira idade 10,14% é ausente de distorção de imagem, 17,33% tem distorção leve, 69,17% tem distorção moderada e 3,35% tem distorção grave. (Conclusão) Conclui-se que 69,17% das mulheres da terceira idade avaliadas nesse estudo possuem uma distorção da imagem corporal moderada. Tal fato sugere que a influencia de um padrão de beleza imposto pela sociedade está induzindo até a classe da terceira idade, onde elas necessitam se manter nesse padrão de beleza para serem aceitas pela sociedade. O s r e s u l t a d o s d e s t e e s t u d o i n d i c a r a m preliminarmente que as atividades físicas podem ser uma importante aliada para que os idosos tenham uma melhor compreensão de suas individualidades fisiológicas, psicológicas e sociais, o que deverá se configurar em uma melhor percepção da imagem corporal.

Palavras-Chaves: Atividade Física, Terceira Idade, Imagem Corporal, Distorção de Imagem.

A INFLUÊNCIA DA ANSIEDADE NO DESEMPENHO ESPORTIVO

Patrícia Tais de Oliveira; Aline Luzia Perez; Ednei Previdente Sanches - Unilago

A ansiedade atualmente é um dos objetos de estudos mais investigados pelos profissionais da área desportiva, por suas características ameaçadoras e preocupantes dentro do ambiente competitivo. Está inserida e atua constantemente no cotidiano de cada atleta, seja de uma forma facilitadora ou debilitante. Este estudo objetivou revisar a literatura acerca das relações entre a ansiedade e o desempenho esportivo. Destacando suas causas e consequências, e mostrando a importância da preparação psicológica para os atletas, evidenciando o valor do controle emocional para o aperfeiçoamento das práticas desportivas vivenciadas pelos jogadores em ambientes competitivos. Esta pesquisa se caracteriza como sendo bibliográfica, de caráter qualitativo com vistas à compreensão do fenômeno em estudo. A literatura revisada demonstrou que a preparação psicológica é uma característica importante a ser desenvolvida pelos jogadores. Nesses casos, os atletas que possuem um maior controle emocional têm a possibilidade de alcançar resultados favoráveis na hora da competição. Para que o desempenho esportivo tenha bons resultados, é preciso haver interação entre preparação física, tática, técnica e psicológica. Demonstrou também, que a ansiedade está inserida e interfere constantemente no cotidiano dos atletas. Destacando a importância da relação entre comissão técnica e atletas, afim de, identificar a ansiedade de cada atleta, e assim, trabalhar seu controle emocional.Palavras-chave: Ansiedade. Desempenho Esportivo. Preparação Psicológica.

ANSIEDADE NA ESTREIA ESPORTIVA: ANÁLISE POR MEIO DE DEPOIMENTOS MIDIÁTICOS

Matheus de Oliveira Martins; Afonso Antônio Machado

Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho“, Departamento de Educação Física – Instituto de Biociências – Laboratório de Estudos e Pesquisas

em Psicologia do Esporte.

Introdução: O presente trabalho é de importância

para a psicologia do esporte, pois se trata de uma

analise do momento especifico da vida de um atleta:

a estreia em uma competição, quando todos os olhos

estão voltados para aquele exato individuo e todos os

seus gestos esportivos. O uso das mídias para a

análise permitirá uma visão distanciada e séptica do

investigador e acreditamos justificar o tema o fato da

singularidade do momento de estudo, o uso de

recursos midiáticos e a correlação com a ansiedade

presente na ocasião. Objetivo: o objetivo foi analisar

se os participantes da copa do mundo 2014

(jogadores, técnico e arbitro) disseram em seus

depoimentos se estavam ou não ansiosos na estreia

da copa do mundo. Metodologia: O método da

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presente pesquisa se deu por uma breve investigação

em portais de internet por depoimentos de

jogadores, árbitros e técnicos que atuaram na estreia

da Copa do mundo, foram analisadas entrevistas

coletivas que tinham como tema principal uma

provável ansiedade na estreia. Resultados: Dentre

os 12 depoimentos analisados, todos disseram estar

ansiosos pelo fato de estrearem em uma competição

de alto escalão como a Copa do Mundo, não houve

distinção pelo fato de os indivíduos serem de

nacionalidades diferentes e nem por ocuparem

responsabilidades igualmente diferentes dentro

dessa competição, um ponto interessante foi que a

grande maioria dos depoimentos destacou a

importância da disputa de jogos dessa grandeza.

Conclusão: Ao analisar os depoimentos chegamos a

conclusão de que a ansiedade pode estar presente

em qualquer atleta que disputa uma competição que

este considera de grande importância. Outra

importante conclusão é que a autoconfiança e os

treinamentos preparatórios foram destacados como

possíveis fatores que podem amenizar o fato dos

entrevistados estarem ansiosos.

Palavras- chave: Ps i co log ia do espor te , desenvolvimento humano e tecnologias, estados emocionais. COGNIÇÃO E AÇÃO TÁTICA NO BASQUETEBOL

Renan Franco – UNIP Campus JK

INTRODUÇÃO: O basquetebol, assim como outras modalidades esportivas coletivas, possui elementos estruturais que o caracterizam como tal. Espaço, objeto, alvo, equipes e regras formam o contexto geral desta modalidade esportiva. Contudo, são as ações táticas que promovem o dinamismo e a imprevisibilidade do jogo. A ação tática tem origem nos aspectos cognitivos pertinentes a cada jogador e inerentes à capacidade motora, resultando no gesto técnico, dentro do contexto de jogo. OBJETIVO: Verificar a relação dos aspectos cognitivos e as ações táticas no basquetebol a partir de uma abordagem bioecológica de aprendizagem. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, e de revisão de literatura. DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS: as dinâmicas executadas pelos jogadores refletem a integração e a consolidação dos processos cognitivos, táticos e técnicos. Assim, a relevância da cognição para o resultado tático parece ser inquestionável nas praticas esportivas coletivas. CONSIDERAÇÕES FINAIS: De acordo com os autores consultados, algumas estratégias metodológicas podem dar me lho r supor te no p roces so de ens ino -aprendizagem-treinamento em modalidades esportivas coletivas, entre elas a abordagem baseada na dinâmica ecológica. Em suma, a dinâmica ecológica sugere que o comportamento de cada indivíduo deverá se adaptar as interferências do ambiente e as relações deste com o praticante. Sendo assim, a inteligência tática é o resultado, principalmente, das interações cognitivas, motoras e

ambientais.

Palavras Chave: Basquetebol; Tática; Cognição.

CAPOEIRA E BRINCADEIRA: OS DESAFIOS DE SE ENSINAR DE FORMA LÚDICA

1 1, 2Maria Jose de Matos Laurentino, Marcelo Callegari Zanetti

1UNIP - São José do Rio Pardo - SP – Brasil, 2LEPESPE/I.B./UNESP – Rio Claro - SP - Brasil

e-mail: [email protected]

(Introdução) Atualmente podemos observar a presença de atividades culturais e esportivas nas escolas, sendo uma destas a Capoeira. A modalidade se difere das demais lutas por utilizar o ritmo de instrumentos e cânticos para a execução da luta. A Capoeira passou por mui tas adaptações, enfrentando resistência de alguns praticantes mais antigos, que parecem fechados diante destas adaptações alegando o risco da perda de aspectos tradicionais da arte. (Objetivo) Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi empregar uma metodologia de aula pautada em aspectos lúcidos e posteriormente identificarmos a eficácia desse m o d e l o d e a u l a n o p r o c e s s o d e ensino/aprendizagem. (Metodologia) Como proposta metodológica optou-se pelo emprego de uma pesquisa-ação com crianças de 6 a 13 anos da escola SESI da cidade de Mococa – SP durante os meses de agosto de 2013 a agosto de 2014. Dentre as principais alterações na estrutura da aula, foi a do posicionamento do professor (mestre), que tradicionalmente ensina a Capoeira à frente dos alunos dispostos em fileiras, com separação dos mais graduados na frente e iniciantes atrás. Esse posicionamento foi banido, buscando agregar o lúdico e transmitir conhecimentos básicos da luta considerando a espontaneidade natural das crianças. (Resultados) Após o período de investigação foi possível perceber a evolução dos alunos quanto à desenvoltura em realizar a capoeira e também em identificar os toques dos instrumentos. Tal posicionamento parece também colocar todos em posição de igualdade, devido principalmente à utilização de jogos e brincadeiras adaptados para a transmissão dos golpes da Capoeira. Atividades essas facilmente adaptáveis como: pega-pega da Capoeira, a Capogincana, etc., sendo estas atividades uma junção da recreação e da Capoeira. Também houve utilização dos instrumentos musicais da Capoeira (berimbau, pandeiro, atabaque, agogô e reco-reco), as cantigas, além dos golpes da luta, no qual, o mais importante parecia ser a diversão. (Conclusão) Por meio dos resultados dessa pesquisa-ação espera-se consolidar a proposta de que o trabalho de forma lúdica pode contribuir para a transmissão de elementos tradicionais da Capoeira, contribuindo para a manutenção das tradições e ainda promover maior satisfação e envolvimento dos pequenos praticantes, já que tal metodologia parece promover o protagonismo desses indivíduos.

Palavras Chaves: Capoeira, Lúdico, Pesquisa-ação.

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A IMPORTÂNCIA DA COMPREENSÃO DA CULTURA CORPORAL DO MOVIMENTO PARA A

VISÃO DE UMA NOVA EDUCAÇÃO FÍSICA.

Arthur Santana Santos da Silva; Mara Rosana Pedrinho

Centro Universitário de Rio Preto - UNIRP

RESUMO: Na atual conjuntura esportiva midiática, a exposição do homem e seu corpo por meio das práticas corporais, requerem do professor de Educação Física uma compreensão contextualizada da Cultural Corporal do Movimento e da sua influência sobre as práticas corporais. Esse estudo foi baseado em revisão de literatura que consiste em busca de informações bibliográficas, seleção de documentos relacionados com o problema da pesquisa e o respectivo fichamento das referências para que sejam posteriormente utilizadas de fatos. Tem como fatores principais desta pesquisa ressaltar a importância do conhecimento do Professor de Educação Física a questões externas que influenciam as práticas corporais nos dias atuais, auxiliando com informações que podem ser usadas para contribuir amplamente na relação mídia-indivíduo, oferecendo subsídios com relação a exercícios físicos, saúde, qualidade de vida entre outros, propondo uma discussão aprofundada sobre o tema, para que ocorra uma maior e real conscientização dos indivíduos sobre a Cultura Corporal do Movimento.

Palavras Chaves: Cultura Corporal, Mídia, Compreensão.

ANÁLISE DOS RESULTADOS DO BRASIL NA COPA DO MUNDO: A VERGONHA NA MÍDIA.

MAS QUE VERGONHA?

1, 2 1 Arlete Guisso Scaramuzza Portilho Nicoletti, 3 Afonso Antônio Machado, Lucas Portilho Nicoletti.

1 2 3 LEPESPE | Faculdade Dom Bosco | UERR

Introdução: Segundo Machado (2013), ao vermos o desempenho de um atleta de alto nível, não pensamos, em todo processo vivenciado por ele para alcançar tal patamar e quais as dificuldades sociais, físicas e psicológicas que passou. Tantas variáveis aumentam os fatores estressantes e motivantes, dos atletas, em especial em um jogo de copa. Após a “vergonha” de um resultado tão ruim em Alemanha 7 X Brasil 1, como ficam esses profissionais? Justificativa Fez-se necessário olhar e investigar o assunto com seriedade, através de estudo e pesquisa diante de tantas notícias e comentários na mídia após o fatídico resultado. Objetivos: Realizar uma análise do uso da palavra “vergonha”, e seus derivados, nos comentários e postagens nos blogs de três jornalistas esportivos, direcionada ao resultado do jogo Brasil e Alemanha, aos atletas e/ou a equipe brasileira de futebol. Metodologia: Realizou-se uma pesquisa qualitativa, de cunho descritivo, que procurou diagnosticar opiniões de uma população específica. Houve uma busca em três blogs de comentaristas da Jovem Pan, rede de emissoras de rádio brasileira direcionada ao jornalismo e à transmissão esportiva. Resultados: Foram selecionadas várias postagens

para análise, dos comentaristas Fábio Seródio, Luis Carlos Quartarollo e Vanderley Nogueira, nos três dias consecutivos ao jogo nos quais usavam a palavra “vergonha” referindo-se ao desempenho e/ou resultado da seleção brasileira de futebol no jogo. Discussão: Com relação ao uso da palavra vergonha e seus derivados os comentaristas a usaram no sentido de constrangimento, humilhação, desonra considerando tanto o resultado do jogo, quanto a atuação da equipe brasileira de futebol como ato falho. A ansiedade dos jogadores e de toda a equipe brasileira em apresentar resultado tão negativo em um jogo de semifinal, possibilita o surgimento de sentimentos que envolvem sintomas fisiológicos e psicológicos, que podem prejudicar a atuação dos atletas em jogos futuros e em toda sua vida profissional. Conclusão: Esse estudo possibilitou a investigação de um fenômeno atemporal, a vergonha, e estimulou a reflexão sobre a atuação da mídia no favorecimento do sentimento de fracasso ou de sucesso de um sujeito ou grupo social. Ele pode contribuir como passo fundamental para que novos estudos possam ser realizados em relação à atuação de nossos comentaristas na mídia, colaborando de forma construtiva para a compreensão do fenômeno.

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Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade HumanaVolume 4 . Número 1 . Outubro 2014

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