Veja Educaçao e Esporte

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Maio de 2010

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Mesmo que você não goste de futebol, a Copa vai mexer com a sua vida. O ano de 2014 repre-senta um marco para Fortaleza. Aguardado por muitos e planejado por tantos outros, o ano da Copa no Brasil representa uma série de avanços para a cidade, sobretudo do ponto de vista es-trutural. Fortaleza vai receber recursos da or-dem de R$ 9,2 bilhões, alocados em áreas como meio ambiente, transporte, segurança, saúde, energia e telecomunicações e turismo.De acordo com Felipe Araújo, gerente do pro-jeto Copa 2104 na Prefeitura de Fortaleza, esses investimentos estão sendo feitos através de uma parceria entre os governos municipal, estadual e federal, com recursos oriundos de convênios com o Banco Mundial, Prefeitura de Fortaleza, governos estadual e federal e Cooperativa An-dina de Fomento, além de emendas parlamen-tares. Pelo que se pode vislumbrar através dos proje-tos, a cidade vai ganhar novos ares e contornos, recebendo melhorias em vias urbanas, drena-gem pública, estádios, orlas marítimas e espa-ços públicos, além de novos equipamentos cul-turais e ambientais, como a Concha Acústica de Fortaleza e o Bioparque do Passaré. Mas, para além da cidade, o que fica de desen-volvimento humano e sustentável? Felipe adi-

anta que muitos desses projetos já existiam e foram adicionados ao projeto da Copa 2014. “Tudo está sendo pensado para deixar um le-gado para a cidade. Projetos que já existiam ganham um novo impulso com esse momento.” Muito mais que obras de infraestrutura que al-teram o cenário da cidade, a Copa 2014 já está mexendo com as pessoas: cursos de línguas com foco na interação e preparatórios para o trabal-ho no grande evento começam a ser oferecidos. Estabelecimentos particulares iniciaram a pré-seleção de funcionários, criaram cursos especi-ais e alteraram o conteúdo das aulas. O poder público também traçou estratégias para qualifi-car os trabalhadores que vão atender os turistas na Copa. O governo federal, por exemplo, lan-çou o programa “Olá Turista”, com cursos gra-tuitos a distância de inglês e espanhol. É a primeira vez que o País abriga um evento desse porte, realidade há um tempo muito dis-tante do Brasil. Nessas horas, todos querem ‘ser um jogador de futebol’. Não à toa, de acordo com organizadores de escolas, a procura por atividades esportivas nesse período aumenta muito. Mas cabe aos profissionais da área faz-erem os aspirantes a atleta perceberam que a contribuição do esporte na formação do indi-víduo vai muito além do corpo.

2014 é agora!

Texto: Isabelle Câmara | Direção de Arte: Aldiane Lima | Fotos: Elton Gomes/Local Foto

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Todos dos dias, Weskley Rocha Amaral, 13, bate o maior bolão. Integrante da escolinha de fute-bol do Fortaleza Esporte Clube, ele treina todas as segundas, quartas e sextas no seu time do coração e todas as terças e quintas no da escola onde estuda. Com tanto investimento, o garoto acredita que já aprendeu muito. “Antes eu não me dava bem com a bola, agora evoluí bastan-te”, comenta o menino que, desde o primeiro dia de vida, tinha roupas e acessórios do For-taleza, todos comprados pelo pai, torcedor fer-voroso do leão. Weskley conta que já teve problemas de com-portamento e desempenho na escola, todos su-perados, segundo ele, devido ao futebol. “Era muito inquieto, conversava demais. Hoje estou mais concentrado e minhas notas melhoraram.” E ele também que ser um jogador de futebol. Para Weskley, uma forma de aliar o trabalho ao prazer. “Em 2014, estarei com 17 anos. E meu sonho é estar no subprofissional da Seleção Brasileira. Estou sempre e m busca do melhor”, avisa. Weskley divide o campo com João Paulo dos San-tos, 10, que de tão louco pela bola assume que jogaria em qualquer time, “contanto que jo-gasse”. João também reconhece que os treinos o ajudaram no sucesso escolar. “Era bagunceiro mesmo. Agora estou mais calmo e minhas notas aumentaram.” Mas entre os livros e a bola, o tempo livre do menino é ocupado, segundo ele, com uma “pelada” entre amigos. “Adoro quando o professor faz os coletivos (simulação de jogos e competições) entre a gente.” Os talentos lapidados de Weskley e João Paulo para o esporte são obras do professor Francisco Valdecir Barbosa, mais conhecido como “Bibi”. Há seis anos nessa função, o professor explica que, mês a mês, dependendo das conquistas do time, cerca de 30 meninos batem nos portões do Fortaleza. “Em ano de Copa, essa procura aumenta bastante!”, avisa.

O Fortaleza Esporte Clube tem uma categoria de base com escolinhas e times subprofissionais para adolescentes de 12, 14, 16 e 18 anos. Hoje, o clube contabiliza cerca de 300 crianças e ado-lescentes, todos fazendo jus ao jargão “quem não sonhou em ser um jogador de futebol?”. “A maioria vem pela paixão pelo time, mas para ficar é preciso mais”, explica o professor. Iniciante paga uma taxa. Entre exigências como matrícula comprovada na escola, treinos e tria-gens, o professor ensina técnicas como chutar, dominar a bola, cabecear, marcar, correr e posi-cionamento dentro do campo, além de valores como respeito, cooperação, ética, integração e trabalho em equipe. Mas quem passa pelo “pe-neirão” ganha o direito de ficar sem pagar nada e ainda com vistas a integrar equipes competi-doras e representar o Fortaleza.E não “ir para a reserva” significa, literalmente, aprender a jogar: preparar-se fisicamente, cum-prir regras, ter disciplina e força de vontade, saber dividir. “Chega um monte de menino que-rendo ser o dono da bola. Temos que trabalhar isso. Se não, é melhor ser delgado de polícia”, brinca o professor. E finaliza: “Para ser um grande jogador, é preciso estudar, compartilhar e respeitar o próximo.” O jogo de futebol imita o da vida.

Aprendendo a jogar

Corre para um lado, pula para o outro, faz alongamento e abdominal, brinca de carimba e pega-pega, joga futebol, basquete e voleibol. A regra é mexer o corpo e as ideias. A disciplina Educação Física, antes uma prática distante da vida dos alunos, hoje busca um espaço mais im-portante na vida dos estudantes: o de contribuir com a formação corpórea, cognitiva e sensitiva do indivíduo. Mesmo tendo nascido sob o pensamento de médicos higienistas e a serviço do Estado Novo e da Ditadura Militar, o tempo se encarregou de apontar novos caminhos para a Educação Física, disciplina curricular amparada pela Lei de Dire-trizes e Bases, mostrando que as atividades cor-porais trazem benefícios que vão além do corpo. “A EF é a única disciplina do currículo escolar que tem como objetivo o trabalho dos aspectos cognitivo, emocional e corpóreo do estudante. Um programa de EF bem elaborado é fundamen-tal para que o estudante esteja pronto para as necessidades intelectuais demandadas pela es-cola, já que ele está sempre à frente de desafios cognitivos, por meio das disciplinas curriculares; emocionais, através do constante confronto com a necessidade de cooperação, com as vitórias

e derrotas e com as regras; e corporais, funda-mentais para o autoconhecimento e o cuidado com a saúde”, afirma Joamir Brito, mestrando em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e professor de Educação Física, com pós-graduação em Educação Física Escolar pela Universidade de Brasília (UnB). Essa perspectiva humanizada do esporte remon-ta a concepção clássica de educação, que teve na Grécia Antiga sua maior contribuição. Para os gregos, fundadores dos Jogos Olímpicos (cerca de 770 a.C), a estética, o físico e o intelecto faziam parte da busca pela perfeição, sendo que um belo corpo era tão importante quanto uma mente brilhante.Segundo Joamir, a EF tem um papel básico na formação do ser humano: formar seres capazes de conhecer seus limites e potencialidades; de interagir com as pessoas, respeitando-as; de construir uma consciência corporal baseada no autocuidado; e de reconhecer nas atividades esportivas meios de expressão da humanidade. “A EF pode ajudar a formar o cidadão crítico, com capacidade de colaborar para o desenvolvi-mento humano e de uma sociedade igualitária.”Para isso, é imprescindível que o educador físico acredite que o conjunto de posturas e movi-mentos corporais é constituído de valores rep-resentativos de uma determinada sociedade. Incluir elementos do dia a dia nas aulas de EF significa contemplar a experiência dos estu-dantes e incentivar a criatividade e capacidade de explorar o mundo. “De um modo geral, a EF tem aproveitado pouco as experiências dos es-tudantes. Os jogos populares, como pega-pega, carimba, dono da rua etc., são apenas repetidos e não são utilizados para conhecer as raízes da comunidade que os desenvolveu nem como eles podem ser importantes para estabelecer novos meios de interação do aluno com a família e a sociedade”, sugere o professor.

A função social do esporte

Kung Fu significa trabalho árduo. A arte marcial de origem chinesa, que surgiu por volta do sé-culo XXVII a.C. no norte da China, é um conjunto de exercícios disciplinares que visam ao desen-volvimento do corpo, da mente e do espírito. Mais: a prática regular e esforçada de exercícios e coreografias lutadas e das virtudes pregadas na filosofia oriental estimula o aprimoramento do caráter e da moral. Fisicamente, atua como medicina preventiva, na medida em que fortalece o corpo, aumenta a flexibilidade, a capacidade respiratória e a re-sistência, revigorando os órgãos internos e es-timulando a circulação. A arte marcial, que inclui formas com armas de madeira e lâminas, também oferece ao prati-cante um meio para se tornar uma pessoa mais tranquila, compreensiva e, sobretudo, autocon-fiante. “Com o tempo, o praticante de Kung Fu transforma a resistência aos exercícios em ca-pacidade de resistir às adversidades da vida”, atesta Cícero Gonçalves, praticante e professor de Kung Fu em Fortaleza há quase 30 anos. “O Kung Fu é uma arte marcial que exercita a disciplina do corpo, da mente e do espírito, através da prática de virtudes como a lealdade, a paciência, a perseverança, a disciplina e a dedicação. Por isso, acreditamos na influência positiva dessa arte e nos resultados da apren-dizagem nas relações humanas e na formação integral do praticante”, explica Cícero, que também é diretor da Associação Wu Dang, uma organização de instrutores que se dedica a transmitir os ensinamentos milenares das artes marciais chinesas, priorizando o aspecto filosó-fico, e desenvolve o ensino da arte em seus mais variados aspectos.Não à toa, a Wu Dang tem contabilizado diver-sos títulos nacionais e internacionais. Títulos conquistados por atletas como João Bosco, 28, desenhista. Professor formado por Cícero, ele já

contabiliza mais de 60 medalhas em campeona-tos locais e nacionais. Bosco admite que o Kung Fu ajudou-o a ser mais disciplinado e a estabel-ecer bons relacionamentos. Ele também recon-hece que o Kung Fu interferiu de modo bastante positivo na sua vida profissional. “Levo o con-hecimento da arte marcial para a arte da vida. Quando estou aperfeiçoando as formas do Kung Fu, uso essa mesma lição como metáfora para aprimorar meus desenhos. A prática também me ajuda a trabalhar sob pressão”, diverte-se. Chalanna Gonçalves, 16, decidiu praticar a arte marcial devido aos filmes de Jet Li e Jackie Chan e apaixonou-se logo nas primeiras aulas; até já participou de competições e saiu vitoriosa, con-quistando duas medalhas de ouro. “O Kung Fu me ensina a persistir sempre, a lutar por aquilo que quero e acredito. Essa prática é um modo de vida, que atua no corpo, na mente e no es-pírito. O Kung Fu está presente em toda a minha vida.” Francisco Barbosa Vilar, 60, tem outras buscas na prática. Segundo ele, fazer Kung Fu ao longo de 16 anos desenvolveu valores como discipli-na, humildade e respeito. “Busquei o Kung Fu porque ele trabalha a energia vital, a moral e a espiritualidade.”

A arte do corpo, da mente e do espírito

Existem vários estigmas que um surfista pode carregar: “boa vida”, “irresponsável”, “aluado”, entre outros. Mas na Academia de Surf Chandler nenhum deles é válido. Surfista formado pela escola tem que assumir uma contrapartida so-cial: tornar-se salva-vidas voluntário na Praia dos Diários (Av. Beira-Mar). E para salvar a vida do próximo, de acordo com Carlos Albuquerque, fundador da escola, surfista e engenheiro civil, o princípio é básico: “cuidar da própria vida”. A Surf Chandler foi fundada na Praia dos Diários há oito anos. E é nesse mesmo ponto que fun-ciona o posto fixo Salva Vidas Voluntário. “Essa é nossa forma de praticar o surf em prol do outro. Encaramos o esporte não só como o equilíbrio sobre uma prancha, mas uma atividade de lazer, formadora de campões e um modo de vida que considera valores como cidadania, solidarie-dade, paz, consciência ambiental e ética”, ex-plica Carlos. A escola funciona assim: logo quando chega, o aprendiz tem noções de equilíbrio, aprende a remar, sentar e virar na prancha. Depois, esta-belece uma relação de diálogo com o mar, pas-sando a entender a direção e a força dos ventos, tração, arrebentação, as marés e a influência da lua sobre o oceano. “O resto fica mesmo entre surfista e prancha.” Mas se o surfista quiser permanecer na escola, tem que fazer o curso “Surf Salva Vidas”, minis-trado pelo Corpo de Bombeiros, para atuar como salva-vidas. O curso de surfistas salva-vidas fei-to através da Chandler já formou mais de 150 voluntários, pessoas que atuam em todo litoral cearense.

A isso, a Chandler junta ações ecológicas nas praias em que vai, como campanhas para coleta de lixo, e sociais com crianças e adolescentes carentes, oriundas de favelas como Campo do América, Castelo Encantado, Tupiniquim etc. “Trocamos aulas de surf pelo comprovante de matrícula na escola”, avisa o surfista fundador da Chandler.

Na onda social

O surf começou a ser praticado pelos antigos reis havaianos com pranchas feitas de madeira, extraí-das de árvores locais. Os nativos possuíam um rit-ual religioso para a fabricação das suas pranchas: colocava-se ao pé do tronco um peixe vermelho chamado kumu e a árvore era cortada. Nas raízes fazia-se um buraco onde, após uma oração, era enterrado o kumu. Em seguida, era dado início ao trabalho de modelagem da prancha, no qual eram usadas ferramentas como lascas de pedras e pedaços de coral e aplicadas raízes de uma árvore chamada hili, para dar uma cor negra. No meio da população nativa havaiana o surf era intima-mente ligado às raízes culturais. Ao realizarem rituais religiosos, os nativos deixavam oferendas próximas à base dos coqueiros para crescer outro coqueiro. Isso expressava agradecimento pelos ali-mentos fornecidos pelos coqueiros, pelas palhas, utilizadas na construção de telhados, e pelas ma-deiras que viravam pranchas de surf. Era um ritual festivo, onde os chefes também agradeciam aos deuses as farturas do mar, das ondas e os prazeres de brincar nas águas.

Fique por dentro

Ainda faltam quatro anos para a Copa do Mundo chegar ao Brasil e, consequentemente, a For-taleza, mas as escolas de línguas já se preparam para receber alunos que pretendem se capacitar para trabalhar nos eventos ligados à Copa 2014.Os estabelecimentos particulares criaram cursos especiais e alteraram o conteúdo das aulas. Em paralelo, o poder público também traça estra-tégias para qualificar os trabalhadores que vão atender os turistas no grande evento esportivo. O governo federal, por exemplo, lançou o pro-grama “Alô Turista” com cursos gratuitos on-line de inglês e espanhol.A rede fortalezense de escolas de línguas Hil-pro está “preparando as chuteiras e correndo campo” para esse momento. De acordo com Kle-ber Gomes, coordenador pedagógico da rede, a Hilpro está com duas promoções: a matrícula premiada, na qual o novo estudante ganha uma camisa da Copa e concorre a prêmios; e meu amigo é 10!, que dá um desconto cumulativo de 10% para cada amigo que um aluno matriculado indique, podendo alcançar até 100%. Kleber adianta que o método da Hilpro dispensa a criação de cursos específicos para o trabalho ou intercâmbio na Copa. “Nas nossas salas de aula não se fala português de modo algum; des-de o primeiro semestre iniciante, o estudante aprende a pensar em inglês. Daqui a quatro anos, qualquer aluno Hilpro vai estar habilitado

a dialogar com os visitantes, seja a trabalho ao pela troca cultural propriamente dita.” A rede Fisk, com escolas em todo país, tam-bém montou estratégias e parcerias nacionais para atender ao maior número de interessados em aprender uma língua ou trabalhar durante o evento. Em Natal (RN), a Fisk assinou um convênio com a prefeitura local para dar aulas públicas, a serem ministradas em ginásios.Aqui em Fortaleza, de acordo com Andrea Co-lares de Carvalho, diretora da Fisk Aldeota, as equipes de coordenação das unidades Aldeota, Fátima e Seis Bocas estão trabalhando em um projeto conjunto de cursos específicos. “Vale salientar que os cursos regulares da Fisk têm a duração de dois anos e meio (língua espanhola) e três anos e meio (língua inglesa); desta forma, os cursos iniciados em agosto de 2010 e fever-eiro de 2011 serão concluídos em tempo hábil para o evento”, avalia. Já a Prefeitura Municipal de Fortaleza, através do Instituto Municipal de Pesquisas, Administra-ção e Recursos Humanos (Imparh), está montan-do duas estratégias de formação para o evento. Uma trata dos cursos voltados para a cooperação internacional. De acordo com a Assessoria Espe-cial da Presidência do Imparh, esse curso é para os gestores municipais e irá discutir conteúdos como legislação internacional, cooperação in-ternacional e cultura. Segundo a assessoria, o curso será oferecido nas línguas inglês e francês. Uma segunda opção é aberta ao público e será oferecida em inglês, francês, espanhol, italiano e alemão. Terá foco na profissionalização para o mercado de turismo e, em especial, para a Copa 2014.

Copa 2014 já provoca aumento de cursos de inglês na cidade

O Mundo na ponta da línguaMunira Rocha tem apenas 21 anos, mas já car-rega a experiência dos grandes. Designer de moda recentemente formada, credita o atual emprego ao intercâmbio informal que fez quan-do o Cirque de Soleil passou por Fortaleza, em agosto de 2009. Munira admite que conquistou a vaga no ‘embro-

mation’ (enrolando o inglês). Mas lá conviveu, durante 20 dias, com pessoas de várias naciona-lidades: russos, ingleses, espanhóis, húngaros, argentinos, italianos, chineses, franceses etc. “No primeiro dia, fiquei procurando a ‘legenda’ na fala de cada um!.” “Eu trabalhei na lavanderia do Circo”, revela.

“Fiz coisas que nunca tinha feito na vida, como lavar e passar roupas, pegar peso, ir atrás das roupas sujas, pintar sapatos...” Através dessa oportunidade, a moça conta que desenrolou a língua e retomou os estudos de inglês. Mais: e aprendeu a valorizar o dinheiro, o trabalho e a reconhecer os serviços de pessoas que executam tarefas mais árduas no dia a dia. “Foi uma ex-periência de 20 dias que transformou minha vida para sempre! Tivemos uma convivência intensa, criei laços afetivos com todos eles. Eles são parte importante da minha história. Ademais, tornei-me mais responsável, independente e corajosa.” Munira também alerta para a importância do aprendizado de uma língua. “O inglês abre mui-

tas portas e te salva de muitas situações. Abre um mundo de possibilidades. Através dessa ex-periência, acessei diversas culturas sem sair de Fortaleza.” Felipe Guedes, 16, teve uma experiência simi-lar, mas saindo do Brasil. O garoto viajou para Miami (EUA) para fazer um curso de línguas de dois meses na Universidade Internacional da Flórida. Lá chegando, conviveu com realidades e culturas bem diferentes das locais. “O Natal é comemorado no dia 25 mesmo, todo mundo acredita em Papai Noel e o mais velho da famí-lia se veste como o velhinho. Também passei a comer fast-food em todos os almoços e acordar tarde para só almoçar às 16h.” Felipe também diz que se tornou mais independente. “Lá, todo mundo toma conta de si. Os jovens fazem uma espécie de corrida contra o tempo, pois os pais não admitem filho com mais de 18 anos em casa.”

Formando formadoresAparentemente, ele é a ‘cria’ mais nova da Universidade Federal do Ceará (UFC), mas o In-stituto de Educação Física e Esportes, mesmo tendo sido inaugurado somente em dezembro de 2009, no campus do Pici, já vinha sendo gestado desde 1993 na Faculdade de Educação da UFC. Era à Faced que o curso de Educação Física es-tava vinculado. “Com isso, ganhamos um vasto aprendizado humanista e pedagógico, porém, em detrimento do físico, pois o espaço não acol-

hia maiores ousadias na área corpórea”, lembra Antônio Barroso Lima, diretor do IEFES e dou-tor em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto (PT). “Outro problema é que as aulas eram divididas entre o campus do Porangabussu, do Benfica e do Pici. Assistir às aulas já era uma verdadeira maratona.” Hoje, em pleno funcionamento, o espaço é dot-ado de quadra poliesportiva, do maior parque aquático do Estado, laboratório de brinquedos,

pista de atletismo, salas multiuso, salas de es-tudo, laboratório de fisiologia e de biomecâni-ca, sala de dança e, em breve, vai ganhar um ginásio e uma sala de musculação. O IEFES contabiliza 320 alunos matriculados, es-tudantes que estão sendo preparados para atuar física e pedagogicamente nas escolas e nos es-paços não formais, com vistas a forjar atletas de alto rendimento ou utilizar o esporte como fer-ramenta cidadã para a formação do indivíduo. E um diferencial na formação dos futuros profes-sores de Educação Física é a ioga, uma tendên-cia recente de integrar essa prática filosófica aos estudos do educador físico. A responsável pela introdução dessa disciplina no curso é Lúcia Rejane Barontini, vice-diretora do IEFES, douto-ra em Educação pela Universidade de Bologna e pela UFC, mestra em Bases Biomédicas da Edu-cação Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e terapeuta holística. Também iogue e formada em bioenergética, Lú-cia explica que a disciplina foi o primeiro passo para que a ioga encontre espaço nas escolas de Fortaleza. Atualmente, os coordenadores do Programa Mais Educação estão recebendo ca-pacitações na área e aprendendo práticas como respiração e posturas. “É o caminho para as cri-anças terem outro estado mental e espaços de relaxamento e silêncio”, avalia. A ioga é um conceito que se refere às tradicio-nais disciplinas físicas e mentais originárias da Índia. A palavra em sânscrito “yoga” tem diver-sos significados e deriva da raiz yuj, que significa “controlar”, “jungir” ou “unir”. Segundo ela, é

um sistema antigo de autoconhecimento e busca pela evolução espiritual; “Hoje temos 31 estu-dantes de EF matriculados; todos em busca de uma visão ampliada de tradição, filosofia, desc-oberta do ser e espiritualidade.” A vice-diretora salienta que o aspecto da ioga mais aceito no curso, assim como no Ocidente, é o hatha ioga, que fortalece o corpo e a energia sutil para que o praticante possa caminhar firme no processo de descoberta de si mesmo como um ser divino. “Simbolicamente, o hatha ioga transforma o corpo em diamante; equilibrado e forte. É uma busca pela quietude e pela saúde, para poder trabalhar em outros níveis do ser.” E sintetiza: “O iogue quer se descobrir como ser divino.”E o entorno também ganha com a inauguração do espaço. O IEFES tem nove projetos de exten-são e conta com escolinhas de prática esportiva para crianças e adolescentes. “Temos um con-vênio com a Federação de Triatlo e 100 adoles-centes participam dessa formação. Além disso, temos atividades de dança para idosos; atle-tismo e natação para portadores de deficiência e projetos de pesquisa para crianças obesas”, finaliza Antônio Lima.

O universo do corpo E o garoto que quer ser médico avisa: “Já estou me preparando para trabalhar na Copa 2014. Termino meu curso de inglês este ano, mas não quero parar. E vejo a Copa como uma forma de crescimento e aprendizado pessoal e profission-al.”

A Universidade de Fortaleza (Unifor) também possui uma forte atuação no campo esportivo, que une prática física, educação e responsabi-lidade social, visando a promoção da saúde, a inclusão social e o aprendizado da comunidade acadêmica e do entorno. É através dessa estratégia que os estudantes participam de competições estaduais e nacionais de atletismo, natação, voleibol, handebol, bas-quete, futebol de campo e futsal. Atualmente, a Unifor conta com 200 estudantes atletas, sendo que 72 são incentivados com bolsas pelo bom desempenho físico e acadêmico.A Unifor possui um parque desportivo de grande porte, dentro dos padrões das confederações brasileiras e internacionais: ginásio com três quadras poliesportivas, arquibancadas com capacidade para até 850 pessoas, academia, vestiários, sala multiuso e salas de aula, além de equipamentos como placar eletrônico, tabelas de basquete móveis e adaptação completa para portadores de deficiência. O parque também tem um complexo com qua-

Pedro Trengrouse é advogado, FIFA Master (Mes-trado em Humanities, Management and Law of Sports) e consultor da Fundação Getúlio Vargas e da ONU/PNUD (Organização das Nações Unidas/Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi-mento) na área de esporte. Atualmente, está a serviço do governo federal para a preparação da Copa 2014. Nesta entrevista, ele fala sobre como potencializar a influência do evento.

Qual a influência que um evento como a Copa exerce num país/estado/cidade anfitriã(o)?A Copa é um verdadeiro catalisador de investi-mentos públicos e privados, em diversas áreas, como estádios, aeroportos, mobilidade urbana, hotéis, serviços, segurança pública e capital humano. Segundo algumas estimativas, o inves-

timento total pode ultrapassar R$ 100 bilhões. Entretanto, a influência de uma Copa do Mundo depende muito da postura dos seus organiza-dores. Com planejamento é possível implemen-tar estratégias para utilizar seu enorme poder

Entrevista

Pedro Trengrouse:“O Brasil é o país do futebol e uma Copa do Mundo, onde quer que aconteça, tem lugar de destaque no imaginário popular brasileiro.”

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dras de tênis e de areia, campo society e estádio de atletismo - uma das estruturas mais moder-nas do Ceará e do País, com piso certificado pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) e Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF). A pista é uma das poucas do Brasil adequadas para a realização de com-petições internacionais de qualquer nível. Para o bom aproveitamento social desses es-paços, a Unifor realiza eventos locais e de al-cance nacional e internacional, como a Corrida de Rua Unifor, que integra o calendário esport-ivo da Federação Cearense de Atletismo; o GP Sul-Americano de Atletismo; e o Campeonato Brasileiro de Atletismo de Menores, competição que já passa da 30ª edição e beneficia dezenas de estudantes moradores de comunidades car-entes de Fortaleza. Com essa estrutura, ganham a comunidade acadêmica, premiada com a di-versidade de práticas esportivas, e a comuni-dade em geral, beneficiada com a inclusão por meio das atividades esportivas.

de mobilização para uma série de iniciativas, como integrar o esporte às políticas nas áreas de meio ambiente, saúde, turismo, educação etc. Cada edição da Copa é diferente e o país an-fitrião tem o desafio de realizar um evento com a sua cara, aproveitando suas próprias caracter-ísticas e potencializando ao máximo seu legado.

De que maneira esse anfitrião, no caso For-taleza, deve agir para que essa influência seja sustentável?O Estado e os organizadores devem ser proati-vos e é preciso um planejamento inteligente. Estabelecer metas claras, objetivas e concretas, dimensionando os investimentos, considerando realidades regionais e demandas locais. É impor-tante enxergar além da Copa. Com criatividade, inteligência e ousadia, Fortaleza pode planejar políticas públicas próprias para aproveitar o po-tencial da Copa e seus investimentos.

Como um evento como esse atua no imag-inário popular?O Brasil é o país do futebol e uma Copa do Mundo, onde quer que aconteça, tem lugar de destaque

no imaginário popular brasileiro. Trata-se de um evento histórico, único, com dimensões globais, audiência recorde e que atrai as atenções dos mais variados segmentos sociais e econômicos. A copa desperta paixões e toca o coração de mil-hares de pessoas. Como devem se preparar as pessoas que pre-tendem trabalhar na Copa 2014?A organização de uma Copa do Mundo requer capital humano muito bem preparado. A com-preensão do seu significado no plano global, o domínio de vários idiomas, o conhecimento in-terdisciplinar e experiências anteriores no es-porte, certamente, são diferenciais significati-vos para aqueles que desejam trabalhar nesse tipo de evento. A FIFA (Federação Internacional de Futebol), por exemplo, tem tanta preocupa-ção com a formação de mão de obra qualificada que financia um mestrado que já vem sendo ofe-recido há 10 anos e tem sido o celeiro de forma-ção de diversos profissionais para organizações esportivas, como a FIFA, a UEFA (União das Fed-erações Europeias de Futebol) e o COI (Comitê Olímpico Internacional).

Esporte de futuroTexto e Fotos: Clicia Cronemberger

Desde fevereiro, a Secretaria de Educação do Piauí colocou em campo o projeto Golaço. Es-pecial para ensinar o futebol arte, já congrega 6.200 jovens em torno da bola. Em cada uma das 62 cidades contempladas, cem jovens entre 8 e 18 anos são direcionados à formação de atleta profissional. A ideia é for-mar futuros jogadores de futebol para atuar nos clubes profissionais do Piauí e do Brasil.

De acordo com Manoel Otonio Batista, coorde-nador estadual de esporte escolar, os alunos que fazem parte do projeto recebem um kit contendo calção, meião e camiseta. Os núcleos recebem vinte bolas, três jogos de coletes para diferenciar os times de alunos. “Escolhemos o futebol porque já faz parte de nossa cultura, es-pecialmente neste ano de copa do mundo, quan-do muitos adolescentes sonham em ser jogador

de futebol”, disse. O projeto tem convênio com a ONG Esporte Mais, mantida por Zico. “A cada três meses os meninos são avaliados. Os que se destacam mais serão encaminhados para treinar no CFZ – Centro de Futebol Zico, no Rio de Ja-neiro, Brasília e Santa Catarina.”, disse. A ida dos futuros jogadores está prevista para fever-eiro do ano que vem.

Ampliando o dueto educação e esporte, a secre-taria de educação do estado também promove os Jogos Escolares. Há seis anos crianças e ado-lescentes da rede estadual de ensino procuram dar o melhor de si em competições coletivas – voleibol, futsal, handebol e basquete- atletis-mo, xadrez, tênis de mesa e natação. “É uma festa”, define Moacir Moreira da Cruz, supervi-sor de Educação Física da Gerência de Ensino Médio. Os alunos passam por três etapas que se

iniciam no município, passam pelas 21 regionais espalhadas no estado e culminam com os jogos realizados em Teresina. Em 2009, participaram dos jogos 5.192 alunos. Após a etapa estadual, a Fundação Estadual de Esportes organiza os jo-gos escolares piauienses, quando as melhores equipes representam o Piauí nos jogos estudan-tis nacional, organizados pelo Comitê Olímpico Brasileiro, que neste ano acontecem em For-taleza (CE) e Goiânia (GO). “Eles se sentem re-alizados em participar e, quando terminam já começam a se preparar para os próximos jogos”, disse Cruz. Tanta dedicação já rendeu bons re-sultados. Em 2008, o Piauí foi campeão nacional de handebol.

Mas o esporte vai além de vitórias. É um salto para o futuro. Através do projeto Aluno Atleta, alunos de uma faculdade particular podem con-tinuar praticando o esporte que escolheu sem ter que abrir mão do seu futuro. Com o fim da obrigatoriedade da prática de educação física para os alunos de ensino superior, a quadra de esportes ficou sem função para a instituição. A solução foi incentivar o aluno a praticar esport-es. De acordo com o diretor geral da faculdade, professor Honório José Nunes Bona, aliar saúde, aptidão para o esporte e educação foi a solução encontrada na implantação do projeto. O projeto foi criado em 2004 e dá apoio a alunos

que praticam futsal, judô e natação. Segundo Francisco Braz da Cruz Filho, coordenador de atividades esportivas da instituição, o projeto incentiva que o atleta invista em um ensino de nível superior. Os 17 alunos que participam do aluno atleta se beneficiam com uma bolsa de estudos que varia entre 20% e 100%. Alguns critérios são necessários para concessão do in-centivo: nível técnico do atleta, frequência e pontualidade, além do desempenho acadêmico. “É um projeto que deu certo. Estamos propor-

dediquei para chegar onde estou, com luta e garra”, finalizou.

Luta e garra levaram a judoca Sarah Menezes à olimpíada em Pequim. A moça já coleciona medalhas e se destaca no cenário internacional do judô. A medalha conquistada mais recente foi o ouro no Pan-americano Sênior, que acon-teceu em El Salvador em abril deste ano. Mas o judô começou na vida de Sarah em 1999, quando estava com 9 anos e houve uma apresentação de judô na escola dela. A escola já não existe, mas a semente plantada vingou. A partir daí, a dedi-cação da atleta a levou longe. Em 2005 passou a integrar a seleção brasileira de judô na catego-ria ligeira 44 kg. Desde 2007 integra a seleção brasileira de judô na categoria 48 kg. O que deu direito a integrar a comissão brasileira dos jogos olímpicos. A judoca também se preocupa com o futuro e faz faculdade de Educação Física. “Dá para conciliar as aulas com o esporte. Não acom-panho como os outros alunos porque dependo do calendário da federação. Quando está perto das competições, é difícil de acompanhar”, pon-dera. Hoje, Sarah é a única brasileira bicampeã mundial júnior na categoria 17-19 anos. Sobre o que a faz feliz no esporte, ela é simples: “É fazer as pessoas se interessarem pelo esporte e ser exemplo para a criançada”, finalizou.

cionando ao aluno o que a medicina indica para um cidadão saudável, a prática da atividade física”, finalizou Honório Bona. O resultado do incentivo à prática de esporte é visível. Na últi-ma edição da Copa Amazônica – Troféu Leônidas Marques, que aconteceu em abril, a estudante de enfermagem Camila Ravena Carmo Noronha, abiscoitou quatro medalhas, uma de ouro nos 50m livre, prata nos 50m nado borboleta e 200m medley, além de bronze nos 100m nado costa. A aposta da faculdade em esporte passa também para as salas de aula. A instituição é a primeira a oferecer pós-graduação em Jornalismo Es-portivo e Marketing do Esporte. Segundo o coor-denador da pós-graduação, professor Alexandre Henrique de Melo Azevedo, o objetivo do curso é unir as áreas de jornalismo e marketing para o planejamento e implementar ações de comuni-cação e marketing aliadas ao esporte. “Conteú-dos de mídia esportiva, realização de eventos esportivos, responsabilidade social e, principal-mente, a elaboração de projetos de marketing para potencializar marcas, produtos, imagens de atletas”, explica.

Ideias de longe e uma vontade de mudar o futuro das pessoas. Esta foi a motivação de Francisco Ferraz quando trouxe o badminton para o Piauí. Com pouco mais de cinco em nossas terras, o badminton, esporte originário da China, encanta crianças de 7 a 18 anos. Segundo Ferraz, o bad-minton é hoje a segunda modalidade mais forte no estado, só perdendo para o judô. “Na China, o esporte era praticado por nobres, mas eu senti que poderia ser um meio de inclusão das cri-anças e adolescentes de classes mais baixas”, disse. Hoje, quase mil crianças praticam o bad-minton. São 15 unidades espalhadas pela cidade de Teresina que atendem uma leva de crianças fadadas ao ócio. As unidades estão instaladas em escolas públicas, quase sempre próximas às áreas vulneráveis como favelas e bairros pobres. Para fazer parte dessa legião de esportistas, é preciso bom rendimento na escola, bom com-portamento em casa e na sala de aula e esforço em quadra.

O esporte é uma fábrica de campeões. Como os irmãos Fabrício Ruan Rocha Farias, de 9 anos – 4º no ranking nacional sub 11, e Francielton Renan Rocha Farias, de 13 anos – 3º no ranking nacional sub15. Francielton se mostra apaixonado pela raquete. “É o esporte que eu amo, que eu me