Velhice e relacionamentos amorosos

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    Ano II, Ed. Esp, Agosto 2008

    Edio Especial

    O Amor no Processo de Envelhecimento

    Univers idade Snior Contem ornea

    RevistaTransdisciplinar de Gerontologia

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    FICHA T CNICA

    REVISTA T RANSDISCIPLINAR DE

    GERONTOLOGIAVOLUME 1 NMERO 2 - JANEIRO/JUNHO2008.

    EdioUniversidade S nior Conte mpo rneaDepartamento de Estudos Sociais

    Directores:Artur SantosMarta Lourei roVtor Fragoso

    Concelho editor ial/cientfico:

    Angel a Esc ada (Psicl oga Cl nica);Aquiles Martins (Educador Social / Docenteda USC) Artur Santos (Jornalista/Director da USC);Irene Gaeta Arcuri (PsiclogaClnica/Docente PUC-SP)Isabel Almeida ( Enfermei ra - Centro deSade da Foz);Jadir Lessa (Psiclogo Existencialista/SAEP- Brasil )Marli a Alv es (Enfermeira/DocenteUniversitria).Marta Loureiro (Jornalista/Directora da

    USC);Ruth Sampaio (Psicloga / DocenteUniversitria, ESE -Porto);Valri a Gomes (Psicloga / Doc enteUniversitria,ISMAI );Virginia Grnew ald (UFSC / NETI -Universidade Fed eral de Santa Catari na/Ncleo de Estudos da Terceira Idade -Brasil).Vtor Fragoso (Psiclogo/Docente da USC /IPNP);

    Propriedade: Universidade SniorContempornea

    Todos os direitos reservados

    Universidade Snior Contempornea: RuaNova do Tr onco, 504, 4250 Por to. Telfs.964068452 - 964756736.Web: http://usc.no.sapo.ptE-Mail: [email protected] da Revista Tr ansdisciplinar de

    Gerontologi a: r tg.u [email protected]

    ndiceEditorial

    Instrues para autores

    Apresentao

    Artigos

    "As (im)possibilidades afetivo-sexuais para a velhice frente aoNovo MilnioThiago de Almeida

    Qual sua gloriosa idade? O envelhecim ento de m ulheres iorubs(frica Ocidental) luz do dilogo entre Cristopher Lasch e LinYutangRonilda Iyakemi Ribeiro

    Fenomenologia do amor: mistura de psicologia, Adlia Prado ereligio

    Marli a Ancona-LopezAmor no processo de EnvelhecimentoIrene Gaeta Arcuri

    O Amor, Revelao do Divino no HumanoIvo Storniolo

    Artigos de Opinio

    O Tempo e o Am orMnica Guttmann

    O Amor no Processo de En velh ecimento: uma reflexoVtor Fragoso

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    Editorial

    Prezados Leitores

    como enorme satisfao que vos apresentamos mais uma Edio da Revista Transdisciplinarde Gerontologia RTG, trata-se de uma Edio Especial subordinada ao tema O Am or noProcesso de Envelhecimento elaborada em parceria com a Professora Doutora Irene Arcuri daPontifcia Universidade Catlica de So Paulo.

    Esta profcua parceria, surgiu de um convite efectuado pela Direco da RTG ProfessoraDoutora Irene, como forma de reconhecimento pelo trabalho desenvolvido no mbito do estudo do

    envelhecimento humano e como resposta natural a um convite anteriormente efectuado pelaProfessora Irene em Fevereiro de 2008 ao Dr. Vtor Fragoso (RTG/USC) para participar de um FrumVirtual no qual moderadora, promovido pelo Portal do Envelhecimento da Pontifcia UniversidadeCatlica de So Paulo.

    Esta Edio surgiu como forma de ampliar o debate iniciado nesse Frum do Portal doEnvelhecimento, neste sentido foi efectuado um convite a todos os participantes desse Frum, parapartici parem desta edio, cuja co laborao resultou na sua concretiza o.

    A RTG, congratula-se com a colaborao, empenho e dilogo estabelecido entre todos os fazedores deste nm ero.

    A RTG, gostaria de deixar presente o seu forte agradecimento e reconhecimento ProfessoraDoutora Irene Arcuri, pelo seu empenho e dedicao no estabelecimento desta parceria ecolaborao, sem a qual esta edio no teria sido possvel, este agradecimento estende-se a todos

    os restantes colaboradores, estamos gratos pelo empenho e profissionalismo demonstrado. Bem-haja a todos.

    Para terminar no poderamos deixar de salientar a nossa enorme satisfao em anunciar queProfessora Doutora Irene Arcuri passa a integrar o Conselho Cientfico e Editorial da RTG.

    A Direco,Artur Santos

    Marta LoureiroVtor Fragos o.

    Editorial

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    I-INFORMAES GERAIS

    Diretrizes

    A Revista Transdisciplinar de Gerontologia da USC prope-se a publicar artigos que se remetam aodesenvolvimento humano especificamente Terceira-idade, sejam centrados na pesquisa, nas prticasprofissionais ou s ejam artigos de reflexo crtic a sobre produo transd isciplinar do conhecimen to daPsicologia, Sociologia, Medicina, Educao Social, entre outras.

    II- ORIENTAES EDITORIAIS

    Os artigos sero submetidos a exame pela Comisso Editorial, que poder fazer uso deconsultores "ad hoc", a seu critrio, omitida a identidade dos autores. Estes sero notificados daaceitao ou no dos artigos. Caso sejam necessrias pequenas modificaes no texto ser solicitadopela Comisso Editorial aos respectivos autores a sua alterao.

    O edi tor reserva-se o direito de efec tuar alteraes recebidos para adequ-los s normas da revista,respeitando os contedos e o estilo do autor. Os autores sero notificados da aceitao ou recusa de seusartigos.

    III- APRESENTAO DOS TRABALHOS

    Os artigos devem ser env iados Revista Transdisciplinar de Gerontologia por e-mai l:[email protected]. Deve ser env iado res umo, em Portugus ou Espanhol contendo at 100 palavras,

    alm de trs ou quatro palav ras-chav e com respec tiv as "key words". Deve conter o t tulo do trabalho,nome completo do autor, biografia (profissional) e seu respec tivo endereo (e-mail). O texto propostodever ser enviado em formato Word letra Arial narrow, tamanho 12. O autor pode enviar material deilustrao como sugesto, este deve ser entregue em arquivos separados do texto, no programa em queforam criados (Excel, Corel Draw, Photo Shop etc.);

    As contribuies dos autores podero ser redigidas em duas lnguas, portugus e/ou espanhol.

    As opinies e os con ceitos em itidos so de inteira responsabilidade do(s) autor( es).

    IV- TIPOS DE TEX TO

    1.Estudos tericos/ensaios - anlises de temas e questes fundamentadas teoricamente;

    2.Relatos de pesquisa - investigaes baseadas em dados empricos, recorrendo a metodologiaquantitativa e/ou qualitativa. Neste caso, necessrio conter introduo, metodologia, resultados ediscusso;

    3.Relatos de experincia - relatos de experincia profissional de interesse para as diferentes prticas

    Instrues para Autores

    Instru o para Autores

    Instruo para Autores

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    transdisciplinares;

    4. Comunicaes - relatos breves de pesquisas ou trabalhos apresentados em reuniescientficas/ev entos cul turais;

    5. Ressonncias - comentrios complementares e rplicas a textos publicados em nmeros anterioresda revista.

    6. Artigos de opinio reflexes sobre temas relacionados com a gerontologia (de interesse geral) esuas politicas de actuao.

    7. Trabalhos Monogrfico s anlises de temas e questes fundamentadas teoricamente em forma deartigo com base em trabalhos universitrios ( monografias de curso, entre outros).

    8.Reflexes: temas gerais r elacionados com o existir humano.

    V - REFERENCIAS BIBLIOGRFICAS

    As referncias no texto a outras devem ser indicadas dos seguintes modos: Robinson (1978); (Guilly &Piolat, 1986); (Bronckar t, Papandropoulou & Kicher, 1976) ou (Bronckart et a l., 1976).

    No final do artigo devem ser listadas alfabeticamente as referncias bibliogrficas (apenas asobras referidas no texto), obedecendo ao s seguintes modelos:

    Capitulo de um livro - Bronckart, J.-P., Papandropoulou, J., & Kilcher, H (1976). Les Conduites

    Smiotiques. In M. Richelle, & R. Droz (Eds.), Introduction la Psychologie (pp. 286-302). Bruxelles:Dessart.

    Artigo de revista cientfica - Gilly, M., &Piolat, M. (1986). Psicologia da Educao, Estudo daMudana na Interaco Educativa. Anlise Psicolgica, 11 (1), 13-24.

    Livros - Carneiro, T. (1 983). Famlia: Diagnstico e terapia. Rio de Janeiro: Zahar.

    Tese de dissertao - McCloy, R. A. (1990). A New Model of Job Performance: An Integrat ion ofMeasurement, Prediction, and Theory. Unpublished doctoral dissertation, University of Minnesota,Minneapolis.

    Relatrio Tcnico - Birney, A. J., & Hall, M. M. (1981). Early, identification of children with writtenlanguage disabilties (relatrio N 81 - 1502). Washington, DC: Na tional Educational Assoc iation.

    Trabalho apresentado em congresso, m as no publicado - Haidt, J., Dias, M. G., & Koller, S.(1991). Disgust, disrespect and culture: Moral judgement of victimless violation in the USA and Brazil.Trabalho apresentado no Annual Meeting of the Society for Cross-Cultural Research, Isla Verde, PuertoRico.

    Instru o para Autores

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    Apresentao da Edio: Amor no processo de EnvelhecimentoIrene Gaeta Arcuri1

    O ramo do amor antecede a eternidadeE suas razes vo alm do eterno.Essa rvore no se apia no cu nem na terraNem sobre qualquer coluna.

    Enquanto sentires desejo,Sabe que cultuas um dolo.Quando se verdadeiramente amado,Cessa de vez o espao para as carncias do mundo.

    Rumi

    Por que amamos? Para que amamos? Como podemos amar? Desde sempre estas perguntas

    caminham conosco e nos remetem s profundidades da longa jornada da criatividade no interior de nsmesmos. No h privilgio ou limitao em qualquer que seja a idade as questes que dizem respeito ao

    1Psic loga cl nica de orientao ju ngui ana (at ende adolescentes , adultos e idosos), arteterapeuta, doutoranda em Psicologia

    Clnica pela PUC/SP. Mestre em Gerontologia. Especi alista pela USP prx is artsticas inte rfaces c om a sade. Docent e,coordenadora, do curs o de Gerontologia da UNIP SP - Brasil

    Apresentao

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    relacionamento amoroso, mas a qualquer tempo surge a possibilidade de uma essencial escolhaindividual: a possibilidade do desenvolvimento do amor, de sua transformao, de um caminhar humano junto com ele. Nas fases iniciais da vida somos geralmente orientados estruturao egica de formaincisiva, e, por vezes, a consolidao dapersona (relacionamento com o mundo exterior) pode obscurecerestas livres escolhas que nos aproximariam do verdadeiro amor. No que este no seja possvel nestafase da vida, mas, aparentemente, a liberdade pode ser um pouco menor. J na segunda metade da vida,ou naquilo que eventualmente se chama preconceituosamente de velhice, temos a possibilidade deintegrar e desenvolver nossa capacidade amorosa.

    Mas o fato que, independentemente da fase, o amor sempre ser uma construo do humano. Orelac ionamento amoroso uma construo literalmente, pedra sobre pedra, de uma casa humana interior.

    Por isto, nesta edio especial da revista Revista Transdisciplinar de Gerontologia

    (RTG),convidamos alguns estudiosos para dialogar sobre este tem a to fundamental em nossas vidas.

    Quando estamos centados no ego, construindo-o, necessitamos acreditar que somente nossaprpria consci nci a real; e, embora is to seja mesmo necessrio, faz inevitavelmente com que os outros eo mundo apenas existam como uma relao de ns mesmos, a partir de ns mesmos. Nessa medida, spodemos amar a partir de uma relao hierrquica, o que, no entanto, acaba identificando outrossentimentos e complexos com o amor, tais como o sexual e o de poder, e isto fatalmente conduz aoisolamento: amor que no amor.

    Mas a natureza humana sbia e o desconforto geralmente se instala. Assim, comeamos a nosperguntar: por que nos s entim os s s? Por que no nos s entimos amados? Por que, de fato, no nossentimos aptos a nutrir amor inc ondicional por outra pessoa?

    No temos a pretenso de oferecer uma receita. Mas sim de oferecer elementos para reflexo. Deacordo com Krishnamurti: A verdade uma terra sem caminhos.

    O sentimento uma das condies humanas mais impactantes, pois norteia as relaesinterpessoais assim como as relaes entre o homem e o mundo, possibilitando ou impedindointerlocues saudveis. Jung, considera a afetividade como uma funo psquica distinta, norteadora detoda a ao humana. De acordo com Pieri, o ser humano faz sempre apenas o que quer e o faznecessariamente; isto se deve ao fato de ele j ser o que ele quer, pois daquilo que ele seguenecessariamente tudo o que faz a cada instante. Mesmo admitindo que muitas decises da vontade sointermediadas ou ponderadas pelo i ntelecto, no devemos esquec er que todo elo de uma cadeia de idiastem determinado valor sentimental, que a nica coisa essencial para chegar deciso da vontade, e

    sem este valor sentimental, como fenmeno parcial, est por baixo das mudanas do todo (...). Resultaento que mesmo o processo intelectual mais puro s chega, portanto, deciso da vontade atravs dovalor sentimental. Por isso o primeiro motivo de qualquer ao anormal, supondo que o intelecto estejarelativ amente preservado, dev eria ser procurado no campo do sentimento (2002: 20).

    Jung afirma que a psicologia a nica cincia que precisa levar em conta o fator valor (isto ,sentimento), pois ele o elemento de ligao entre as ocorrncias fsicas e a vida. Por isso acusam-na

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    tanto de no ser cientfica; seus crticos no compreenderam a necessidade prtica e cientfica de se darao sentimento a devida ateno (2002: 99).

    Um dos grandes desafios da velhice a perda do sentido de ser que ocorre quando por fatoressociais, culturais ou familiares, o indivduo perde sua fluidez, sua mutabilidade, sua liberdade. E resgatar omodo prprio e singular de ser no mundo: habitar o mundo de forma prazerosa e confortvel implica numbom intercmbio de afetividade.

    A afetividade, no mbito da constituio psquica, descrita como estrutura elementar presentedesde o nascimento do indivduo, que preside o pensamento e a ao, o intelecto e a vontade. Nestesentido, o idoso pode ir em busca de sua identidade apoiado em seu prprio mundo interno.

    No fenmeno afetivo estaria inerente a possibilidade de uma transformao no nvel de adaptao

    ao mundo, alcanado pelo indivduo, ou mesmo de uma melhora na relao com o mundo. O sentimento considerado uma das formas que mais facilita o acesso do inconsciente ao consciente.

    Dado que entre sentimento e conscincia subsiste uma relao de circularidade, Jung convida aconsiderar as possibilidades que podem surgir exatamente na presena dessas manifestaes. Uma vezque momentos de afeto mostram involuntariamente as verdades do outro lado, aconselhvel aproveitaresses momentos para que tal aspecto tenha a ocasio de expressar-se. Por isso o indivduo deveriacultivar a arte de falar consigo mesmo numa situao de afeto e em seus marcos, como se o prprio afetofalasse, sem levar em conta a crtica razovel.

    Qual a frmula mgica capaz de oferecer ao homem que envelhece o seu estar no mundo deforma confor tv el, garantin do um bom intercmbio em suas relaes interpessoais?

    Desenvolvendo o mundo interno com amorosidade. Eros[1] precisa do esclarecimento de umaconscincia evoluda, a fim de atingir sua meta especfica que a conscincia (Jung apud Sanford, l986).Em ltima anlise, o Eros um grande mistrio, pois a conscincia s pode ser alcanada pelo amor.Jamais os valores da alma se realizam mediante a represso dos sentidos, porque, com freqncia,atinge-se o esprito atravs dos sentidos e por vezes do desenvolvimento espiritual. Procurando evitar oconflito dos opostos (aspectos racionais e emocionais) do ser pela negao de um lado da vida (o afetivo)prejudica-s e o esp rito, privando-o da plenitude e inteireza.

    A magia pode estar na capacidade de s aber o que s e es t sentin do e, mais q ue isto, a capacidadede ex press -lo no relacionamento.

    Refernci as Bibliogrfic as:

    JUNG, C. G. A Psicologia dos Proc essos I nconscientes. Rio de Janei ro: Vozes, 1988.JUNG, C. G. O Homem e seus Smbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.SANFORD, J.A. Os parceiros invisveis: O masculino e o feminino dentro de cada um de ns. So Paulo: Paulinias, l986.PIERI, P .F. Dici onrio J unguiano. So Pa ulo: Paul us, 2002.

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    [1] Eros a representao do amor no homem; a funo de relacionamento ligada afetividade, em oposio ao termo Logos (Animus). Eros e Logos so termos que Jung utiliza para desi gnar os aspectos que possibili tam o rela cionamento

    interno e ex terno. Logos se refe re ao aspecto racional, l gico, portanto muitas vezes f rio e rgido presente nos idosos que nodesenvolvera m o amor (Eros), cf. nota da autora.

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    "As (im)possibilidades afetivo-sexuais para a velhice frente aoNovo Milnio"1

    Thiago de Almeida2

    O amor vede se maior este o amor essencialmente unio, e quanto mais une ou procura unir os que se

    amam, tanto maiores efeitos tem, e tanto maiores afetosmostra de amor. Estar conosco assistncia de fora,

    estar em ns presena ntima; estar conosco estar

    perto, estar em ns estar dentro; estar conosco companhia, estar em ns identidade.

    (Pe. Antnio Vieira)

    Terceiro Milnio: como tantas fronteiras, tambm as que separam as geraes esto sendogradativamente eliminadas. O ciclo de vida organizado em etapas sucessivas parece no fazer maissentido, ou, pelo menos, faz-se necessria uma nova classificao (ALMEIDA & ACQUAVIVA, no prelo).

    At muito pouco tempo atrs a velhice no se constitua enquanto um objeto de preocupaosocial. Considerava-se o idoso como algum que existiu no passado, que realizou o seu percursopsicossocial e espera o momento fatdico para sair da cena do mundo (BIRMAN, 1995). Esta viso

    atrapalha o engajamento ativo do idoso nos processos afetivo-sexuais.Anteriormente, os idosos eram tratados com atitudes filantrpicas e benevolentes com o intuito de

    ocultar os verdadeiros valores negativos arraigados nestas atitudes que a sociedade que se modernizavalhes impunha. Atualmente, o panorama de uma genuna preocupao evoluiu um pouco de tal forma que oenvelhecimento est sendo mais bem compreendido enquanto um processo natural da vida humana, quetraz implcito uma srie de transformaes biopsicossociais, que modificam a relao do homem comomeio no qual est inserido. Dessa forma, o processo de envelhecimento, segundo Dantas et al (2005) muito pessoal, constitui uma etapa da vida com realidades prprias e diferenciadas das anteriores,limitadas unicamente por c ondies objetivas e subjetivas.

    Se a questo da afetividade e da sexualidade est presente em todos os momentos da vida, noser no processo do envelhecimento que estaria ausente. Contudo, percebe-se que ao investigarmos o

    processo de envelhecimento, que o conhecimento atual aquilatado a respeito do mesmo, em relao a

    1 Agradeo imensamente a bibliotec ri a Mari a Luiza Louren o pela cuidadosa leitura do tex to, por s uas opinies exp ress adasno mes mo e pela correo das referncias bi bliogrficas segundo as normas da ABNT.2 Psiclogo pel a Unive rsi dade F ederal de So Carlos (UF SCar ). Mestre pelo Departamento de Psicologia Ex perimental doInstituto de Psicologia da Universidade de So Paulo (IPUSP ) e douto rando e pesquisador pelo Departament o de Psicol ogiaClnica do Instituto de Psicologia da Unive rsidade de So Paulo (IPUSP ). Atua tambm como palestrante em assuntosrelacionados ao amor, relaci onamentos amorosos e qualidade de vida em ambi entes laborais e ac admicos. E-mailde contatocom o autor: thalmei da@us p.br

    Artigos

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    alguns temas como o estudo do amor e da sexualidade, carece de identidade, e constitudo porelementos de discursos teric os e ideolgicos fundamentados em legados herdados ultrapassados, muitasvezes, oriundos das cincias sociais e da medicina (NERI 1993). E quando nos referimos sexualidade,no estamos nos remetendo a sexo, mas ao produto final de um longo e natural processo dedesenvolvimento que comea no nascimento e envolve tudo o que somos, as nossas atitudes, comolidamos com as questes que nos circundam e como isso nos abala em uma relao afetiva interpessoal.O que a psicologia concebe por sexualidade no , em absoluto, idntica unio sexual entre um homeme uma mulher ou mesmo, teria o sentido exclusivo de sensaes prazerosas produzidas/comunicadaspelos nossos rgos genitais. Sexualidade muito mais do que o intercurso do penis vagina culminandocom o orgasmo masculino ou feminino. Tampouco sexo um a sinonmia de gnero, pois estes doisconceitos foram inseridos na literatura cientfica em pocas distintas e abrangendo aspectos diferenciadosda vida humana. Enquanto as diferenas entre os sexos so estabelecidas pelo aspecto fsico, asdiferenas de gnero s o explicadas e entendidas c omo socialmente c onstrudas.

    O conceito gnero foi in troduzido, no discurso terico, na dcada de 1970, por meio das pes quis asda antropologia. Desde ento, div ersos au tores apro fundaram o tema e a tualmente, em Psicologia Social,qualquer estudo sobre di ferenas ou semelhanas entre homem e mulher precis a ser evocado sob oprisma de gnero (STREY, 1999).

    Em suma, atualmente podemos considerar a palavra gnero despojada da biologia e integrada rede sociocultural, r epresentando a ex press o cultural da diferena sex ual. L ogo, um produto s ocial, que aprendido, representado, institucionalizado e transmitido ao longo de geraes, tal como nos aponta Sorj(1992).

    Certamente que a sexualidade e a afetividade perpassam todas as questes do envelhecer, namedida em que so a essncia de nossa atividade enquanto seres humanos. Entretanto, sabemos quesexualidade nunca pode estar desvinculada do corpo; nem do desejo inconsciente, esse componente

    aparentemente estranho que habita e age em nosso interior e do qual nunca estamos descomprometidos;e nem das conseqncias psquicas das diferenas anatmicas entre os sexos (COSTA, 1992).

    Segundo Neri (1993):

    Vrios elementos so apontados como determinantes ou indicadores de bem-estar na velhice:longevidade; sade biolgica; sade mental; satisfao; controle cognitivo; competncia social;produtividade; atividade; eficcia cognitiva; status social; renda; continuidade de papis familiarese ocupacionais, e continuidade de relaes informais em grupos primrios (principalmente rede deamigos). (p. 10).

    Se alm desses elementos acima, ainda a maturidade trouxer o afeto, a paixo, o namoro, o amor,o sexo, a cumplicidade, o companheirismo, dentre outros, o idoso pode estar certo que, poder ter uma

    satisfatria vida afetiva onde as possibilidades de relacionamento amoroso nesta etapa da vida, apesar dealgumas vezes serem difceis, so mais viveis do que muitas pessoas imaginam (ALMEIDA &LOURENO, 2007). Dessa forma, se o idoso permitir-se tais vivncias pode-se supor que ele ter umenvelhecimento positivo, ao contrrio, daqueles que somente daro vazo a um saudosismo passivo, ouainda, a quaisquer outras posicionamentos imobilizadores e negativos. Assim, existem vriaspossibilidades de envelhecer afetivo-sexualmente, desde as possibilidades mais negativas, que sedistanciaram de qualquer tipo de investimento desta natureza, s mais positivas, que se mantiveramarticuladas ao processo de desenvolvimento biopsicossocial no qual o afetivo-sexual comporta uma de

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    suas principais dimenses. Contudo, infelizmente o que tem predominado o aspecto negativo, velhocomo algo intil, deteriorado, obsoleto, assexuado.

    Ento, pode-se conceber o amor e a sexualidade, simultaneamente, como alguns dos principaiselementos da interao humana e, tambm, como uma das principais diretrizes na estruturao dasrelaes ntimas (ALFERES, 1996; DENARI, 1996; ALMEIDA, 2003) ainda que para diferentespopulaes. Dessa forma, o amor e os relacionamentos afetivos sexuais esto se tornando cada vez maisuma condio indispensvel para uma vida satisfatria e plenamente realizada, ao menos na concepodos que o buscam (ALMEIDA, 2008a). E expresso de maneiras diferenciadas, o amor sumamenteimportante para o desenvolvimento da personalidade e crescimento da humanidade. Entretanto, tendo emvista que a sociedade muitas vezes mina as expectativas de alguns segmentos sociais, como porexemplo, os idosos que querem firmar um relacionamento amoroso, estes atitudes podem causar umaparalisia nas motivaes, ao menos momentnea, alm de conflitos desnecessrios para as pessoas porelas prejudicadas (ALMEIDA, 2008b).

    O que se percebe, ento, que a escassez de informaes sobre o processo deenvelhecimento,assim como das mudanas na sexualidade em diferentes faixas etrias eespecialmentena velhice, tem auxiliado a manuteno de preconceitos 1e, conseqentemente, trouxemuitas estagnaes das atividades sexuais das pessoas com mais idade (RISMAN, 2005). E hoje em diah at um maior espao para discusses que abarquem a sexualidade. Entretanto, apesar da aberturasocial que h para discusso de assuntos desse mbito maioria da populao ainda apresenta-seconstrangida para discutir tais assuntos, principalmente quando questes relacionadas sexualidade naterceira idade se apresentam (SANTOS, 2003). Dessa forma, uma m compreenso da sexualidade e delegtimas manifestaes amorosas na Terceira Idade, talvez, leve a dificuldades desnecessrias desuperao para tais problemas, de forma tal, que um esclarecimento acerca das informaes distorcidasque se difundem em relao sexualidade e ao amor possa contribuir para a diminuio das crenas e

    tabus sobre um assun to to c heio de prec onceitos.Logo, a sexualidade na velhice um tema comumente negligenciado pelas diversas reas da

    sade, pouco conhecido e to pouco compreendido pela sociedade, pelos prprios idosos e pelosprofissionais da sade (STEINKE, 1997). Ao contrrio do que se pode pensar, a velhice uma idade tofrutfera como qualquer outra no que se refere vivncia do amor e a questo da prtica da sexualidade.Infelizmente, existem muitos mitos que dificultam a compreenso de como a vivncia do amor e dasexualidade que esto relacionadas com pessoas de idade avanada.

    O amor um conceito que possui uma extensa cadeia de significados e interpretaes distintas.Muito longe de ser meramente um impulso gregrio, amar ir ao encontro de algum e permitir a vindadeste ao encontro de quem o busca (ALMEIDA, 2003). O amor um sistema complexo e dinmico queenvolve cognies, emoes e comportamentos relacionados, muitas vezes, felicidade para o ser

    humano (ALMEIDA 2007 a e b). Desta maneira, amar algum, e conseqentemente expressar suasexualidade e erotismo e talvez consolidar um relacionamento amoroso, em primeira anlise, significareconhecer uma pessoa como fonte real, ou ainda, potencial para a prpria felicidade (ALMEIDA, 2008a).

    1 Chamamos de "Viejismo" as atitudes n egativas que a sociedade estabelece em rela o aos id osos,

    signif icando rejeio, marginalizao, medo, a gresso e discrimin ao. Ocorre com certa freqncia erelaciona-se s identif icaes que fazemos com os nossos velhos desde a inf ncia.

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    Segundo Vasconcellos et al (2004):

    Acuados entre as mltiplas exigncias adaptativas que as alteraes do envelhecimentocomportam, os indivduos enfrentam dificuldades para preservar a identidade pessoal e aintegridade de alguns papis e funes, sobretudo aqueles relativos sexualidade que asociedade atentamente vigia e sanciona (p. 414).

    Com uma viso restrita, tanto em relao sexualidade quanto velhice, a sociedade, muitasvezes, classifica este perodo da vida como um perodo de assexualidade e at mesmo de androginia.Beauvoir nos mostra (1990) que "a atitude dos idosos depende de sua opinio geral com relao v elhice (p. 350). Dessa forma, neste perodo, o indivduo teria que unicamen te assumir o papel de av, ouainda, de av, ao lhe ser delegado pelos filhos o cuidado de seus netos, na expectativa de que osmonitorem enquanto concomitantemente realiza atividades como o tric e assiste televiso e usufrui desua aposentadoria (RISMAN, 2005). E assim, Beauvoir (1990) aponta que o indivduo condicionado pela

    ati tude prtica e ideolgica da sociedade em relao a ele.Dessa forma, a falsa crena que relaciona inexoravelmente a idade e o declinar da atividade

    sexual tm contribudo de forma nefasta para que no se preste ateno suficiente a uma das atividadesque mais contribuem para a qualidade de vida nos idosos, como a sexualidade. Tanto o idoso bem comoas pessoas que esto a caminho do envelhecimento podem e devem ser auxiliadas por meio de algumasprovidncias prev entiv as capazes de melhorar sua sade, qualidade de v ida e tambm afetiv idade. Afalcia de que a velhice uma etapa assexuada da vida um desses pr-conceitos e exerce influnciaprofundamente na auto-estima, na autoconfiana, no rendimento fsico e social de adultos com mais idade,alm de contradizer a eterna capacidade de amar do homem.

    Para algumas pessoas, com a progresso da idade, h uma simultnea anulao do desejosexual, sobretudo a partir do desvnculo laboral, enquanto, para outras, h apenas uma modificao,

    entretanto, de modo geral, o que se evidencia que para uns e outros uma constante e cmodanegao do desejo do idos o pela soc iedade. As mudanas ocasionadas pela Terceira Idade produzemperturbaes no equilbrio desses indivduos e requerem adaptaes significativas, pois, o surgimento denovas situaes e experincias marcam indelevelmente a vida do idoso, trazendo sentimentos como adesvalorizao. Muitas vezes a sociedade contribui para que o idoso tenha este sentimento, pois, osidosos sempre foram imaginados como aqueles que esto se despedindo da vida: aposentou-se do seutrabalho, de sua funo, aposentou-se da vida (CARDOSO, 2008). Com essa negao, a sociedadesedimenta e reproduzem seus prprios medos e inseguranas, suas preocupaes no que diz respeito aoprprio futuro e sua possvel incapacidade para amar na medida em que envelhecem. Adicionalmente,pode-se referir a despeito desta negao dos afetos que suscitada pela cultura e desenvolvida pelaspessoas como uma forma de defesa psquica frente ao sofrimento gerado pelo fato dos mesmos seremconsiderados como desestabilizadores sociais, e conseqentemente, como uma ameaa constante, e que,

    dessa forma, ameaariam a coeso social no que concerne a moral e aos bons costumes.Outros fatores que tambm so partcipes para que as pessoas com o passar do tempo tenham umarrefecimen to, ou ainda, anulao do desejo afetivo-relacional e da atividade sex ual, diz respeito afatores religiosos, psic ossociais e morais. A soc iedade ocidental, geralmente, educada a partir dosmuitos paradigmas judaico-cristos, tem no fator pecado uma grande causa de anulao earrefecimen to para os seus desejos e prticas afetiv o-sex uais. Derivado dess a relao, as maneiraspelas quais as pessoas foram educ adas, as repress es v iv enciadas pelas mesmas ao longo de s euhistrico de vida, os apelos infligidos pela famlia e pela sociedade, contribuem para gerar pessoas

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    medrosas, ins eguras de seus prprios desejos e ati tudes, sobretudo, no que diz respeito ao domnioafetivo-sexual. Isso gera um crculo vicioso de pais que geram esses padres morais, ticos ereligiosos aos seus descendentes, e assim, sucessivamente, o que torna as pessoas com umpensamento cada v ez mais homogneo, se no reconhecerem e no rejei tarem certos legadosculturais. (ALMEIDA & LOURENO, no prelo)

    Outro aspecto relevante, diz respeito a haver certas dificuldades e a diminuio da freqncia nasrelaes sexuais entre parceiros na terceira idade, mas, deve-se levar em conta que existe tambm maiorqualidade nessas relaes. inegvel a existncia de patologias que, ainda que de forma secundria,possam prejudicar o desempenho e, por vezes, tornarem-se inibidoras, de um otimizar as prticas sexuaisdas pessoas em idade avanada, como as patologias respiratrias (que podem comprometer a energiacanalizada para o exercci o das prticas sexuais), as co mplica es osteo-articula res e as neoplsicas (quepodem comprometer a mobilizar por causarem dor), entre outras. No entanto, tornar as referidasdesvantagens sinnimo de incapacidade, perdas permanentes ou impossibilidades irrestritas , para alm

    de uma veleidade, impor limitaes desnecessrias, imprecisas, traumatizantes e prejudiciais aos seusacometidos.

    O sexo na Terceira Idade ainda est envolto em preconceitos, delrios de grandeza, complexos efrustraes, contudo a Terceira Idade no necessariamente uma barreira para uma vida sexual ativa,onde a assexualidade marca presena, dado o ostracismo social pelo qual muitas vezes os idosos soinfluenciados. Homens e mulheres devem estar conscientes das mudanas que esto ocorrendo em seucorpo, e os parceiros devem investir mais em caricias, toques, beijos e carinhos durante todo o dia e nos na hora do ato sexual (CARDOSO, 2008). s vezes, necessrio que se busque ajuda de carterpsicoterpico (psicoterapia individual, de casais, etc), ou ainda, a prescrio de uma intervenomedicamentosa para que esses consigam realizar seus desejos latentes, para perderem o medo, ainsegurana, e assim, assumirem perante a sociedade o direito que tm de exercer uma vida plena de

    seus direitos e de qualidade de vida.A caminho de solues

    A velhice assexuada um mito. O amor e a sexualidade so vivncias que no precisam sesujeitar corroso fsica do envelhecimento humanos. Para isso os idosos podem adotar algumasestratgias de enfrentamento para otimizarem este perodo da vida no qual esto inseridos.

    Os problemas decorrentes do prprio desgaste do organismo, doenas, problemas familiares,financeiros, dentre outros, podem causar dificuldades sexuais na velhice e o idoso tem que estar cientedas modificaes orgnicas que seu organismo sofrer, mas, tambm no dever se preocupar.Atualmente, as pessoas podem recorrer a intervenes medicamentosas, ou ainda, tratamentosteraputicos, dietas, exerccios para resolver esses impasses. Dessa forma, a vida sexual de um casal naterceira idade pode ser plena e feliz e eles podero encarar a velhice e o ato sexual com a mesmatranqilidade com que viveram na juv entude e ainda mantendo viv o o dese jo, mesmo a ps, seis, sete ouoito dcadas de vida, se isso for importante na vida da pessoa. Muitos idosos, infelizmente, deixam de terrelaes sexuais com suas parceiras, por medo, vergonha (dentre outras possibilidades), acreditando-seimpotentes. Segundo Vasconcellos et al (2004, p. 414), Com sua auto-estima baixa, ficam receosos deno conseguir uma ereo e acabam evitando ter relaes para no serem confrontados com afrustrao.

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    Atualmente, muitos remdios como, por exemplo, o Citrato de Sildenafil (Viagra) utilizado peloshomens e terapia de reposio hormonal para as mulheres so poderosos coadjuvantes nas relaes doscasais na terceira idade, que querem continuar vivenciando sua relao afetivo-sexual (REIS, 2000).Contudo, importante destacar que a motivao para o sexo depende mais da sade mental, dadisposio para o mesmo e da qualidade de vida dos componentes da relao, que da prpriamusculatura enrijecida (Viscardi ci tado por Reis, 2000).

    Os exerccios de contato e de acariciamento, entre os parceiros estimulam a funo sexualdespertando este instinto reprimido pela cultura, e reforando a identidade sexual do casal. Encontrarposies confortveis para evitar se deparar com problemas como artrites dentre outras; escolher osmelhores dias e horrios para ambos os parceiros para efetuares as atividades afetivo-sexuais, porexemplo, para aqueles casais que tm problemas com a falta de privacidade por terem ido morar com osfilhos, so alguns exemplos que podem ser seguidos por pessoas idosas para conseguirem se relacionarsexualmente. Tambm se aconselha a acei tar as limitaes e aprov eitar otimizando das funes que ainda

    permanecem. Quando o intercurso no possvel explorar outras prticas (beijos, carcias, pois somoscheios de zonas ergenas, estimulaes manuais, fantasias sexuais, massagens). Dessa forma, a outrapessoa torna-se um bom pretexto, pelo qual damos a nos mesmos a permisso para sentir amor. comessa vazo da perspectiva-vida que poderemos ir transformando os preconceitos que se acumularamsobre a velhice e conferindo o sentido e o valor do processo de Individuao at o final da vida. De formasimilar, conseguir lidar como o que recebe do outro, de uma maneira mais inclusiva, trazendo paradentro e para perto, sem tantos preconceitos nem rejeies a priori.

    Pessoas muito rgidas, com preconceitos e valores muito determinados antes do contato com assituaes reais da vida, esto mais sujeitas a no refletir sobre suas vivncias nem transpor o que tmcomo regras de vida, e acabam amadurecendo com mais dificuldade. Estas pressupem e concluem antesde uma ampliao de viso. Acabam conhecendo menos do mundo e, por conseguinte, provavelmente

    no s e des envolvem emocionalmente.E para onde vo os sessentes que querem paquerar? Acompanhando a lgica de que

    desapareceram os limites entre as idades, desapareceram tambm limites geogrficos entre as geraes.Os sessentes podem ir a todo lugar. H, verdade, muitos lugares em que determinadas tribos serenem e qualquer estranho malvisto. Mas o velho no est mais restrito ao territrio domstico, ondeesteve, em dcadas passadas. Tem poder aquisitivo melhor, agora que no tem mais filhos para sustentar(apesar do fen meno tam bm caracterstico deste momento histrico, no contexto brasileiro, em que sed a permanncia dos filhos at mais tarde em casa dos pais) e circ ula por onde quiser. No chama maisateno em lugar nenhum: na universidade, em casas noturnas, fazendo esporte, em espetculos demsica erudita ou popular. Em qualquer dessas situaes possvel paquerar, usando qualquer dasmensagens verbais ou no verbais j exploradas em outros textos. Em muitos lugares, as pessoas estaro

    abertamente para ver e serem vistas, p aquerar e serem paqueradas. J em ou tros lugares, ser exigidomaior habilidade na aprox imao, necessrio maior tato, maio r poder de seduo.

    O ambiente de trabalho ainda o lugar onde muito freqentemente as pessoas relatam tereminiciado uma relao. S que h mu itos sessen tes aposentados. Mais sessentonas do q ue sessentes, jque elas tm direito aposentadoria mais cedo. Alm de que, grupos de amigos de trabalho, saembastante no final do expediente e isso facilita a paquera e futuras relaes.

    Existe outro territrio da paquera que tambm est sendo ocupado pelo idoso: a rede internet.Como o anonimato deste meio protege os jovens, protege tambm os velhos que no dominam ainda os

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    cdigos e a arte da paquera. Este espao permite ainda em razo do anonimato uma aproximao maisdireta que no seria vivel em outra circunstncia sem risco. Que risco? Especialmente o risco do ridculo,de dar vexame, de pagar mico, que toda a pessoa teme ao ver-se exposta a situaes que no domina.Todos sabem que o melhor momento para aprender qualquer linguagem quando somos ainda muito jovens... O mesmo vale para a linguagem da paquera! Por outro lado, os cientistas dizem que nunca tarde para aprender, e que fazendo coisas novas as pessoas estaro exercitando e preservando seuscrebros por muito mais tempo.

    Ningum pode negar a importncia de alguns fatores como o amor e a vivncia da sexualidade navida do homem e se considera que estes so alguns dos principais construtos que colaboram para aquesto da qualidade de vida. Dessa forma, necessrio que as pessoas e aqui, especificamente osidosos, sintam-se produtivos, que tenham auto-estima valorizada, que faam amigos, viagens, passeios,que vivam bem com a famlia, que conheam novas pessoas, que amem e sejam amados.

    Segundo alguns autores, para uma pessoa enamorar-se de outra, deve-se levar em considerao,que, ela deve estar predisposta e disponvel para tal (Almeida, 2003; Biddulph; 2003). E isto no se reduza simplesmente estar atrado(a) por um(a) parceiro(a). Isto quer dizer que a pessoa deve ter umadisponibilidade, no s fsica, mas uma disponibilidade psquica para ir e vir ao encontro do outro. Idososque querem ser sedutores devem cuidar de nossa auto-imagem. Alm do mais, parece evidente que umapessoa que consegue vivenciar diversas situaes bem sucedidas de cortejamento, independentementedo fator idade, passa a ser favorecida em sua auto-estima e, como conseqncia, ocorre um aumento naprobabilidade de seleo de um parceiro que venha de encontro s suas expectativas e necessidadesamorosas. Se no estamos satisfeitos con osco, encontraremos muitas dificuldades na a rte da conqu ista afetivo-sexua l. De acordo comShinyashiki & Dumt: apenas a deciso racional de querer encontrar algum no suficiente parapossibilitar o encontro (Shinyashiki; Dumt, 2002, p. 166). Ainda os autores referem que na realidade,quem no encontra algum porque, internamente, no est predisposto a amar. No est disponvel

    para envolver-se e, erroneamente, pensa que est querendo compartilhar o amor (Shinyashiki; Dumt,2002, p. 166). E nisto consiste uma das principais razes do fenmeno amoroso: estar disponvel para ir aoencontro do outro (Almeida, 2004).

    A natureza da auto-imagem, conceito fundamental para auto-estima, reside no conhecimentoindividual de si mesmo e no desenvolvimento das prprias potencialidades, na percepo dossentimentos, atitudes e idias que se referem dinmica pessoal. Entretanto, a auto-estima no esttica, e apresenta altos e baixos, se revela nos acontecimentos psquicos e fisiolgicos, e emite sinaisem que podemos detectar seu grau. Considera-se que a auto-estima um dos principais construtos dapersonalidade humana. Diferente de auto-conceito, que se refere noo ou idia que fao de mim; e deauto-imagem que diz respeito como a prpria pessoa se v.

    A auto-estima o conjunto de atitudes que cada pessoa tem a respeito de si mesma. Este autor

    tambm acrescenta que auto-estima a percepo avaliativa sobre si prprio. um estado, um modo deser no qual participa a prpria pessoa, com idias que podem ser positivas ou negativas a seu prpriorespeito. O ponto nodal de tantos problemas relacionados busca desenfreada por uma busca pelaperfeio da aparncia que no existe o amor prprio. Como as pessoas com uma rebaixada auto-estima sentem necessidade de ser aceitas, valorizadas, freqentemente, estaro obcecadas com aaparncia, buscando no outro a aprovao que elas mesmas no se do, evitando assim no se sentirematraentes, como geralmente os idosos costumam se conceber. Em se tratando de contextos amorosos

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    para saber seduzi r essencial saber identificar as prprias carac tersticas (fsicas e psicolgicas) e us-laspara motivar o objeto de desejo de seus pretendentes.

    O apoio da famlia e dos amigos tambm fundamental para ajudar os idosos a fim de no sesentirem descriminados. A valorizao da pessoa como ser humano, pertencente a uma sociedadeatuante, faz com que as pessoas no sofram e demorem a sentirem-se acabadas, relegadas a uma funosocial inferior.

    Ningum, em seu perfeito juzo, negaria ao idoso todos os direitos e oportunidades que a vida lheconfere: comer, dormir, div ertir-se, trabalhar, enfim, ex ercer plena e conscien tem ente a v ida que pulsa. Porque lhes negar o direito ao amor e vivncia de suas sexualidades? Se isso fosse normal, certamenteesses desejos legtimos e saudveis se arrefeceriam com o passar do tempo. Se os desejos noarrefecem, com o passar dos anos, um dos motivos porque a sbia natureza reconhece sua validade. E,pelo que constatamos a libido no tem mesmo idade. Ela pede e grita no velho como pedia e gritava no

    jovem que ele foi. Logo, como aceitar uma restrio que lhe exterior? Como ceder presso e seenclausurar, renunciar a viver esse lado e direito exultante do eu?

    Em suma, a sociedade pode e deve ajudar as pessoas de maior idade a serem pessoasrealizadas e felizes, a terem ainda uma longa jornada a ser percorrida (a expectativa de vida aumentacada vez mais no mundo). A chamada Terceira Idade, tem todo o direito de serem pessoas felizes,realizadas, com qualidade de vida e que ainda podem continuar exercendo seu poder de seduo nosrelacionamentos afetivo-sexuais, sendo esses de vrios anos com a mesma pessoa ou com vriaspessoas ao longo da v ida.

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    Qual sua gloriosa idade?

    O envelhecimento de mulheres iorubs (frica Ocidental) luz dodilogo entre Cristopher Lasch e Lin Yutang

    Ronilda Iyakemi Ribeiro 1

    Resumo

    No mbito dos debates sobre envelhecimento e morte e sobre a questo feminina, o texto aquiapresentado rene informaes a respeito do modo iorub de envelhecer, particularizando dados sobre o

    envelhec imento feminino. Para melhor compreendermos ess e es tgio da v ida humana e melhor refle tirmossobre a concepo dos iorubs, grupo tnico da frica Ocidental (Nigria, Togo e Repblica do Benin), demarcante presena na vida scio-cultural brasileira, tecido um dilogo entre as idias de CristopherLasch e as de Lin Yutang. Lasch, autor de A Cultura do Narcisismo. A vida americana numa era deesperanas em declnio, realiza uma lcida anlise das relaes humanas nas sociedades industriais,enquanto Lin Yutang, autor de A importncia de viver. A arte de ser feliz revelada pela profunda sabedoriachinesa, tece consideraes sobre as diferentes representaes sociais do envelhecimento mantidas nassociedades industriais e nas tradicionais, como a iorub. Os ttulos dessas obras j refletem atitudesbsicas frente vida e morte, das quais decorrem formas de relacionamento familiar nessas sociedades,que definem de modos distintos o lugar do envelhecimento. Este estudo foi realizado com base nabibliografia de referncia e nos relatos biogrficos de mulheres iorubs, na cidade de Abeokuta (estado deOgum, Nigria) e brasileiras, na cidade de So Paulo (estado de So Paulo, Brasil). Comparando-se o

    lugar concedido morte na sociedade tradicional e na industrial constatamos que, naquela, a memriacumpre a funo de preservar vivos os j-idos. Nesta, porm, a morte necessariamente interdita portratar-se de soc iedades do tempo produtiv o, fundadas na lgica do lucro, que no deixam tem po nem lugarpara qualquer atividade que demande alguma energia, dada a necessidade de reverter toda a energiapossvel em benefcio do rendimento. Quanto ao envelhecimento, observamos que, enquanto associedades tradicionais mostram-se favorveis ao desenvolvimento de atitudes positivas ante oenvelhecimento e a morte, o mesmo no ocorre nas sociedades industriais, onde o horror aoenvelhecimento e morte tornam intolervel a presena e a perspectiva da velhice. O medo da velhicetem origem na estimativa racional do que acontece s pessoas idosas nessas sociedades, bem como,segundo Lasch, no pnico irracional das pessoas que, construdas nessas culturas do narcisismo, tm anecessidade de serem admiradas e temem que pouco possa s ustent-las quando a juv entude passa r.

    1 Ronilda Iyakem i Ribeiro possui graduao em Psicologia pela Universidade de So Paulo USP(1968), mestrado (1981) em Psicologia; doutorada (1987) em Psicologia pela USP e doutorado emAntropologia (da frica Negra) pela USP (1996). Pesquisadora do Instituto de Cincias Humanas daUniversidade Paulista e professora-orientadora no Programa de Ps-Graduao do Instituto de Psicologiada USP, atua principalmente nos seguintes temas: Herana Africana, Tradio Iorub, Relaes Raciais,Psicologia e Religio, Etnopsicologia, Responsabilidade Social e PsicoInformtica. membro da diretoriada ONG Instituto Guatambu de Cultura-Canto das guas. Email: [email protected].

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    Palavras-chave: envelhecimento, feminino, iorubs, herana africana.

    O continente africano, apesar de apresentar-se ao olhar menos avisado, como um bloco nico,guarda uma imensa diversidade cultural, lingstica, biolgica e poltica. E embora pelo menos 45% dosbrasileiros tenham ancestrais oriundos da frica, esta permanece at hoje um dos continentes menosconhecidos, comparativamente aos demais, que par tici param da formao do povo brasil eiro.

    No presente contexto trato de apresentar algumas informaes sobre o modo iorub deenvelhecer. Os iorubs integram um grupo tnico da frica Ocidental, de forte presena na vida scio-cultural br asileira.

    Falo na posio de mulher de valores negro-africanos e pele branca, me de um casal de jovensiorubs, nascidos no Brasil. Aprendi com os ancestrais africanos de meus filhos, por mim adotados comominha prpria ancestralidade moral e espiritual, que o ensinamento se d de boca perfumada a ouvidosdceis e limpos. Por isso, tratei de preparar, respeitosamente, a minha escuta e, buscando cumprir o queme compete na tarefa de sermos, cada um de ns, elos de uma corrente geracional, espero que assementes de sabedoria plantadas em mim pelos sbios iorubs encontrem terreno frtil tambm na almade jovens das geraes que sucedem a minha.

    Os iorubs ocupam grande parte da Nigria, no sudoeste do pas e, em menor proporo, parte doTogo e da Repblica do Benin (antiga Daom). Pertencem predominantemente aos estados do Ogun,Oyo, Ondo, Kwara e Lagos, na Nigria, onde convivem com outros grupos tnicos: anang, batawa, edo,efik, fulani, hausa, idoma, igbira, ibibio, ibo, igala, igbo, igbomina, ijaw, ijo, itsekiri, kanuri, nupe e tiv, cadaqual com sua prpria lngua, costumes e sistemas de administrao tradicional. Destes, os maisnumerosos so os hausa, iorub e ibo. A conquista daomeana de parte das terras iorubs favoreceu a

    miscigenao entre os grupos iorub e fon, tornando-se pouco ntida a linha divisria entre eles. Osiorubs associam-se em sub-grupos - Egba, Egbado, Oyo, Ijesa, Ijebu, Ife, Ondo, Ilorin, Ibadan entreoutros.

    Os relatos biogrficos que ouvi da boca de mulheres iorubs mostram que a morte, quando boa,no destri os laos familiares, pois alcanada a condio de ancestral, permanece o homem no seiofamiliar, cuidando dos interesses dos seus descendentes. Entre os iorubs a noo de corrente da vidatorna a imortalidade quas e visvel e palpv el. As mulheres io rubs, conv ictas da con tinuidade da vida apsa morte, percebem a si mesmas como elos da corrente geracional, expresso no presente, da conexoentre passado e futuro. Esse contexto sociocultural mostra-se favorvel ao desenvolvimento de atitudespositivas ante o envelhecimento e a morte. O culto aos ancestrais cumpre, entre outras, a funo depreservar relaes entre vivos e j-idos, ou seja, entre vivos e mortos-viventes. Quando os corpos

    envelhecidos estejam totalmente imobilizados pela morte, os j-idos permanecem presentes na memria enos movimentos de seus f ilhos, netos, bisnetos.

    Os iorubs percebem a famlia como um organismo composto de rgos mutuamentedependentes e a convivncia entre os familiares ocorre de modo anlogo ao das relaes entre os rgosde um corpo: Como nossos olhos, mos, ps, pernas, braos, ... preciosos auxiliares, com o passar dotempo vo se tornando cada vez mais debilitados, portanto, menos capazes de acorrer em nosso auxlio,os corpos jovens dos netos vm para substitu-los, diz uma mulher iorub. A identidade individual seconstri incluindo a percepo de si mesmo como parte de um organismo grupal - o familiar. Esse fato

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    fav orece atitudes p osi tivas ante o env elhecimento e a morte. A dinmica das relaes en tre c ada indivduoe seu grupo de pertena supe o reconhecimento de uma pertena, aqui-e-agora, a um grupo familiar euma pertena, no tempo, a um grupo constitudo pelos muitos elos da corrente geracional.

    Buscando compreender o modo africano de significar as relaes familiares, o envelhecimento e amorte, confrontemos duas formas distintas de representao das relaes familiares: a adotada pelachamada cultura do narcisismo e outra, adotada por sociedades tradicionais orientais. Para isso, podeser interessante retomar as falas de Cristopher Lasch e do filsofo e romancista chins Lin-Yutang pararepresentar cada uma dessas formas de representar tais relaes.

    Chris topher Lasch (1983), da Univ ersidade de Rochester, em s ua obraA Cultura do Narcisismo. Avida americana numa era de esperanas em declnio, realiza uma lcida anlise das relaes humanasem sociedades industriais, enquanto Lin Yutang (1963), tece consideraes sobre as diferenas culturaisque pde observar vivendo na China e nos Estados Unidos, em sua obraA importncia de viver. A arte de

    ser feliz revelada pela profunda sabedoria chinesa. Embora as obras desses autores tenham sidopublicadas h pelo menos duas dcadas, suas observaes mostram-se bastante teis a nossospropsitos. Observemos que os ttulos dessas obras j refletem atitudes bsicas frente vida e morte,das quais decorrem formas de relacionamento familiar nas sociedades tradic ionais e industriais.

    As sociedades industriais carregam a marca de valores da cultura do narcisismo, que exige asatisfao imediata das necessidades e coloca as pessoas em estado de desejo permanentementeinsatisfeito. Lasch refere-se ao fato de que nessas sociedades vive-se a busca da felicidade no beco semsada de uma preocupao narcisista com o eu. O narcisista no se interessa pelo futuro, em parte por terpouco interesse pelo passado; subestima a necessidade de interiorizar associaes felizes ou criar umestoque de lembranas amorveis, fonte psquica indispensvel para enfrentar a ltima parte da vida. DizLasch: Longe de consider-lo uma sobrecarga intil, vejo o passado como um tesouro poltico epsicolgico do qual extramos reservas que necessitamos para enfrentar o futuro. A indiferena de nossa

    cultura pelo passado ... fornece a prova mais palpvel da falncia dessa cultura ... Uma negao dopassado mostra o desespero de uma sociedade que no consegue enfrentar o futuro (Lasch, 1983:16). ,pois, na desvalorizao do passado que Lasch localiza um dos mais importantes sintomas da crise culturaldas sociedades industriais.

    Nessas sociedades, no interior de uma cultura do narc isismo, a paixo predominante viv er parasi e para o momento, o que determina a perda do senso de continuidade histrica. Nesse contexto, atmesmo a busca religiosa e de auto-desenvolvimento pode estar apoiada, e freqentemente est, sobre ointeresse de cultivar uma auto-ateno transcendental apenas com vistas a aumentar o prprio poder eaperfeioar a prpria performance, numa perverso dos princpios e finalidades de propostas religiosas oufilosficas que, em sua base, visam fins bem distintos para suas prticas, pois tm por norte a esperanaem maior justia soci al e almejam a comunho univ ers al. Peter Marin, citado por Lasch (1983:2 7),

    ressalta que o ponto de vista adotado centraliza-se unicamente no eu e considera como nico bem asobrevivncia individual.

    Simone de Beauvoir descreve um fenmeno freqente das sociedades industriais: As rvores queo velho planta sero abatidas ... o filho no recomear o pai e o pai sabe disso. Ele desaparecido, aherdade ser abandonada, o estoque da loja vendido, o negcio liquidado. As coisas que ele realizou eque fizeram o sentido de sua vida so to ameaadas quanto ele mesmo (1970:402).

    Por outro lado, Lin-Yutang refere-se ao fato de que na China tradicional cada indivduo

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    considerado, tambm, um membro da unidade famili ar, um elo da co rren te da v ida: inici almente cuidado,depois cuida e, na velhice, volta a ser cuidado. Inicialmente obedece e respeita, depois obedecido erespeitado. Uma vivncia profunda do sentido de continuidade histrica e a conscincia de si mesmoenquanto elo geraci onal favorecem o desenvolv imento de uma atitude de zelo pelo bem comum, ainda queseja, pelo menos, o do grupo familiar. Diz Lin Yutang: Cada av, ao ver o neto que parte para a escola,sente que est vivendo outra vez na vida do menino e quando lhe belisca as bochechas sabe que carnede sua carne e sangue de seu sangue. Sua vida apenas uma parte da vida familiar e da grande correnteda vida, que flui sempre e, port anto, ele feliz ao morrer(p.157).

    Lasch refere-se ao sentido de continuidade histrica e Lin Yutang corrente da vida. O primeirodescreve comportamentos e interaes humanas que refletem um embotamento da conscincia a respeitode haver um fluxo geracional. Um dos reflexos desse embotamento a atitude desfavorvel frente aoenvelhecimento e morte. No confronto da vida oriental com a ocidental Lin Yutang diz no haverencontrado diferenas absolutas, salvo nesta questo da atitude para com a idade, que clara e no

    admite posies intermedirias ... Na China, a primeira pergunta que se faz, por ocasio de uma visitaoficial, se j se conhece o nome e o sobrenome da pess oa, : "qual sua gloriosa idade?" O entusiasmo tanto maior, quanto mais avanada a idade. experincia de vida se atribui grande importncia e osvelhos podem dizer aos jovens: "mais pontes cruzei eu do que ruas tu cruzaste". E isso tem valor ...(p.163)

    Assinala, ainda, o fato de que os velhos do Ocidente tm vergonha de dependerem dos filhos e deque o individualismo extremo os mantm permanentemente atarefados e ativos. Compara-os a velhoschineses que, por no possurem o mesmo senso de independncia individual, uma vez que todo conceitode vida se baseia na ajuda mtua dentro de casa, no sentem vergonha alguma por serem servidos pelosfilhos no ocaso da existncia. Pelo contrrio, considera-se um homem de sorte aquele que recebecuidados dos filhos. Quanto a estes, diz Lin-Yutang, se so incapazes de tolerar os prprios pais quando

    v elhos e relativamente desamparados, a quem poderiam tolerar?Observa-se ento, que uma grave consequncia do individualismo na sociedade industrial a

    averso ao processo de envelhecer. Sendo a mercadoria mais valiosa que o homem, envelhecer implicaem tornar-se cada vez menos capaz de produzir, fato que determina uma perda progressiva de valor.Valor concedido fora fsica, destreza, adaptabilidade e no importncia da experincia. Oenvelhecimento, alm de representar um caminho para a morte, confere uma condio realmentelastimvel nesse contexto social.

    Sendo de razes profundas as causas sociais do status dos velhos, o simples uso de propagandaou a proposta de programas baseados em polticas mais humanas, no ser, segundo Lasch (1983),suficiente para aliviar seus destinos. Nada menos que uma completa reordenao do trabalho daeducao, da famlia, de cada instituio importante, tornar suportvel a velhice (p.254). Simone de

    Beauvoir (1970) da mesma opinio e afirma que a falta de sentido da vida do homem velho, inativo, apenas mais uma expresso da ausncia de sentido de toda a sua vida, sentido roubado pelo contexto dasociedade industrial. Segundo ela, a sociedade que permite que o homem permanea como um homemna velhice somente aquela em que ele tenha sido sempre tratado como tal (p.146).

    O horror ao envelhecimento e morte reflete mudanas objetivas na posio social dos maisvelhos bem como experincias subjetivas que tornam intolervel a perspectiva da velhice. O medo davelhice tem origem, em parte, na estimativa racional do que acontece s pessoas idosas na sociedadeindustrial, mas origina-se, tambm, segundo Lasch, no pnico irracional do narcisista, cuja necessidade de

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    ser admirado associa-se ao tem or de que pouco possa sustent-lo quando a juventude passar.

    No ocorre o mesmo com o processo de envelhecimento descrito por Lin-Yutang: As pessoas deidade madura esperam, na verdade, com impacincia a poca em que podero comemorar o 51 0aniversrio ... o 510 aniversrio, isto , o marco de meio sculo, ocasio de regozijo para pessoas detodas as classes. O 610 data maior e mais feliz que o 510 e, mais ainda, o 710. E o homem que podecomemorar o seu 810 aniversrio olhado como pessoa especialmente favorecida pelo cu (1963:161).

    Quanto ao lugar da morte na sociedade tradicional e na industrial constatamos sem dificuldadeque, naquela, a memria cumpre a funo de preservar vivos os j idos enquanto, nesta, a morte interdita. Na sociedade do tempo produtivo, fundada na lgica do lucro, no h lugar para rituais fnebresnem para o luto, muito menos para a lembrana viva do passado, uma vez que toda a energia poupadareverter em benefcio do rendimento.

    Quanto ao envelhecimento das mulheres iorubs, o dilogo que tive com elas tornou evidente o

    fato de que elas esto profundamente convencidas da continuidade da vida aps a morte e perceberem asi mesmas como elos da corrente geracional, expresso no presente, da conexo entre passado e futuro.Elos tambm, porque articulam entre si, num sistema orgnico de mtua dependncia, os vrioselementos integrantes da estrutura familiar. A convivncia das avs com os netos forma um corpo: Comonossos olhos, mos, ps, pernas, braos, ... preciosos auxiliares, com o passar do tempo vo se tornandocada vez mais debilitados, portanto, menos capazes de acorrer em nosso auxlio, os corpos jovens dosnetos vm para substitu-los, me disse uma mulher iorub. A prpria identidade inclui a percepo de sicomo parte de um organismo grupal - o familiar.

    Esse contexto sociocultural mostra-se favorvel ao desenvolvimento de atitudes positivas ante oenvelhecimento e a morte. O culto aos ancestrais cumpre, entre outras, a funo de preservar relaesentre os j idos e os ainda no-idos, ou seja, entre mortos-viventes e vivos. Quando os corpos das

    mulheres velhas estiverem totalmente imobilizados pela morte, permanecer ela viva na memria e nosmovimentos de seus filhos, netos, bisnetos.

    Dando expresso social aos arqutipos femininos de sua tradio cultural, a mulher iorub viveOxum, zelando por suas crianas pequenas, carregadas em seus ventres geralmente frteis, atadas ssuas costas, geralmente fortes, agarradas s suas saias, sempre muito coloridas. Vive simultaneamenteOy, a companheira corajosa, guerreira que enfrenta os embates difceis da vida africana, lado a lado,brao a brao com seu homem. Quantas vezes vive Ob, enciumada porque preterida, num sistemapoligmico de relaes geralmente tumultuadas e conflitantes, porm disposta a enfrentar todo e qualquerdesafio. No vigor de sua maturidade vive Iemanj, me de filhos adultos, por eles zelando atravs derecursos religiosos e mgicos. Viv e, finalmente, em sua velhice, Nan Buruku, a me de filhos j maduros,agora mulher sbia, muitas vezes misteriosa. E em todas essas etapas vive Iya-mi, compartilha o PoderAncestral Feminino, eternizando-se em funes procriadoras e nutridoras, guardando sementes efavorecendo o surgimento de belas flores e saborosos frutos.

    Referncias Bibliogrficas

    AWOLALU, J.O. & DOPAMU, P.A. - Wes t African T raditional Religion. Nigeri a, Onibonoje Press & Book Industries Ltd., 1979.

    FADIPE, N. A. - The Soci ology of the Yo ruba. Ibadan, Ibadan Univ ersity Press, 1970.

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    UNESCO, 1982. Pginas 181-218.LASCH,C. -A c ultura d o narcisis mo: a vid a americana numa era de esperanas em declnio. Rio de Janeiro, I mago Eds., 1983.

    LASCH,C. - O mnimo eu. So P aulo , Ed. Brasiliense, 198 6.

    LIN YUTANG -A importncia de vive r: a arte de ser feliz revel ada pela profunda sabedori a chinesa. Rio de Janeiro, Ed. Globo,

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    RIBEIRO, R. I.Al ma africana no Brasil. Os i orubs. So P aulo, Ed. Ouduwa, 1996.

    RIBEIRO, R. I. -A mulher, o tempo e a morte: um estudo sobre envelhecimento feminino no Brasil e na Nigria. Tese de

    Doutorado. So Paulo, IPUSP, 1987.

    SALAMI, S. -A Mit ologia dos orixs af rica nos . Col etnea de dr (rezas), i b (sa udaes), ork (evocaes) e orin (cantigas)

    usados nos cultos aos orixs na fric a. (Em iorub com traduo para o portugus). Vol. I - Sng/ Xang; Oya/Ians;

    sun/Oxum e Ob/Ob. So Paulo, Ed. Oduduwa, 1 990.

    SALAMI, S. - Cnticos dos orixs africanos. So Paulo, Ed. Oduduwa, 1992.

    SALAMI, S. - Ogun. Dore j bilo nos rituais de morte. So Paulo, Ed. Oduduw a, 1996.

    UNESCO - Histria Geral da frica. P aris/S o P aulo, UNESCO/tica, 1982.

    Principais Fontes Orais de In formao

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    Ago-Ijesha. Abeokuta. Ogun State, 1990

    BabalawoFabunmi Sowunmi

    Balogun dos Babalawo de Abeokuta. Ogun State, 19 93Prof. P. Ade Dop amu

    Ilori n. Kwara State, 1992

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    Ago-Ijesha. Abeokuta. Ogun State, 1994

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    Fenomenologia do amor: mistura de psicologia, Adlia Prado

    e religio

    Marlia Ancona-Lopez1

    Resumo

    Em uma perspectiva da psicologia fenomenolgica, o captulo apresenta a experincia do amor

    valendo-se de uma linguagem potica e metafrica. A apresentao da experincia do amor vale-se deconceitos da psicologia winnicottiana, em uma visada fenomenolgica, e mostra o seu transbordamentoatrav s das refernci as obra de Adlia Prado e das metforas de ordem religiosa. O objetiv o dalinguagem utilizada o de atingir v iv ncias simi lares nos lei tores possibilitando rev isitar experinci asamorosas e rever seus significados a partir do encontro com a poesia e com o sagrado.

    Palavras-chave: Psicologia Fenomenolgica; Experincias amorosas; Psicologia, poesia e religio.

    Encontro amoroso, experincia atemporal. Diante do amado o tempo se torna lento, ele se alonga.Aquele sorriso que se forma em seu rosto, eu o vejo segundo a segundo, a dilatao de sua pupila, sinto

    cada batida do corao. Seu toque em meu brao encontra nossas peles mais quentes. O tempo se dilatana possibilidade dos infini tos graus de calor que ao se expandirem pelo corpo provocam reaes que nodomino, s quais me entrego com prazer. Mas foi s um instante, apenas um toque de seus dedos emmeu brao.

    O amor... como se me tocasse,falava s para mim, ainda que outras pessoas est ivess em mesa.

    O amor... e arrastou sua cadeirapra mais perto

    No levantava os olhos, temerosada explicitude do meu corao.

    A sala aquecia-se

    do meu respirar de crepitao e luzes.O amor...Ficou s esta palavra do inconc lud o discurso,Alimento da fome que desejo perptua.Jonathan minha comida. 2

    A extenso do tempo v ivida no forte balano do avio em z onas de turbulncia. A instabilidade seinstaura e a possibilidade de morte prolonga cada minuto. O passado e o futuro da histria, todas as

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    geraes que me precederam e possibilitaram o surgimento deste aparato tecnolgico que me balanaacima dos rios e dos lagos, das montanhas e das cidades concretizando a geografia e nossa pequenez.

    Me aflige que escrevam:Foi em mi l oitocentos e tanto que apareceu a primeira bicicleta.Precis o que seja eterna.Deus ent ende o que digo3

    Todos eles morreram, milhes de pessoas que viveram antes de ns. Eu me agarro ao cinto desegurana, como me agarro sua mo, e ac redito na presena de um Anjo tal c omo na eternidade denosso amor.

    Quem me socorre Deus e toda corte celeste

    Com seus anjos e santos.Uma sensao que tive esfumou-se, ia causar espanto,To insolitamente potica afigurava-se.Tudo por causa da morte, a mgica,A forma provenal de el corazna mo desobturando o peito de seus ossose pinando o que em mim pura dor,corao.Ningum entender bem o que digo e bom que seja assim

    pra que os poemas no desapaream)4

    Milagres reais-irreais acontecem em minha alma, permitem enfrentar a possibilidade da morte

    com felicid ade. Assim descanso, na seg urana to inse gura da pol trona e dos seus braos:

    ...se resolvermos que o cu este lugar onde ningum nos ouve,

    quem poder salv ar-nos ?5

    Experincia interna que resulta de minha cultura, de minha histria, de minha estrutura.Parnteses no qual o presente-futuro nos liga ao que somos e ao que queremos ser, nos arrasta emondas de criatividade, nos afunda em abismos de angstia e nos apaga quando se perde na praia.

    Nunca fui sozinha. Despontei no tero, possibilidade de ser mamei em um seio, fui embalada.Como sou, como vivo, esta minha singularidade. No pede explicaes, vivemos como vivemos nomundo em que vivemos. O paradigma fenomenolgico d suporte, explica a impossibilidade de

    explicao. Teorias so produtos humanos, invenes que nos ajudam a significar o mundo. Soprovisrias, mutantes, sempre incompletas. Conscincia e objeto da conscincia, uma unicidade,indivisvel, este o primeiro pressuposto, a intencionalidade. No h pura objetividade, no h purasubjetividade, assim vivemos dentro e fora de ns, no mundo que criamos e no qual fomos criados.Husserl meu amigo:

    Mesmo aquele que clarificou para si o problema s com dificuldade pode manter continuamenteeficiente esta claridade, e na reflexo superficial sucumbe novamente s tentaes do modo

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    natural de pensar e julgar, bom como a todas as maneiras falsas e sedutoras de pr o problema,que crescem no seu solo. 6

    Preciso de compreenses, das palavras que do sentido vida, s experincias. Formei-mepsicloga, e, em meu modo de ser pergunto sobre ns, sobre o amor, busco significados.

    Quase acredito quando sbios colegas explicam o que somos e porque somos. Converso compsicanalistas kleinianos: introjetamos um seio bom, um seio mau, vivemos fases orais, anais, genitais,projetamos, introjetamos. Em que fase nos fixamos, quais as defesas, as patologias, as esquisofrenias, aspsicopatias ? Nos amamos, em nossa neurtica normalidade. Os humanistas so convidativos. Olham asade, os recursos, o auto conhecimento, as possibilidades. O ser humano em boas condies tende aocrescimento, ao desenv olv imento, integrao, atualiza o.

    O amor est sempre presente no atendimento psicoterpico. Na abstinncia do analista que abreespao para que o outro se faa presente. Na empatia humanista, quando o terapeuta deixa de lado os

    prprios sentimentos e se coloca disponv el ao outro, deix a-se afetar por ele na compreenso e acei ta o,condies primordiais do dilogo teraputico, na tolerncia liberdade de expresso do outro, no respeitopela pessoa. 7 Na crena fenomenolgica em uma estru tura comum que garante a intersubjetividade,possibilita a compreenso mtua. Permite que voc me compreenda, que eu o compreenda. Amorpresente na aceitao incondicional, inclusive das suas escolhas, muitas vezes diferentes da minha. Naproposta da Gestalt, to prxima do senso comum, to difcil de atualizar:

    Entrar na existncia do outro sem perder o prprio referencial. 8

    No sou a sua terapeuta. No posso aceit-lo incondicionalmente e no envolvimento do amorperco minhas referncias. Os sentimentos de inveja, cime, posse, surgem simultneos e te quero imagem do meu desejo.

    Jonatham chegou.E o meu amor por ele to dementeQue me esqueci de DeusEu que diuturnamente rezo.Mas no quero que Jonathan se demore.H o perigo de eu falar

    Na presena de todosUma coisa alucinada9

    Rogers 10 privilegiou a crena positiva no ser humano, contra a viso psicopatolgica, a sade maisdo que a doena. Assim quero o teu amor, para ser melhor, para me tornar melhor.

    Recebo Winnicott11 , ele apresenta o espao potencial, aquele da transicionalidade e diz que foi lque nos formamos. Recm nascidos, nem mesmo ramos sados de nossas mes, elas tambm seencontraram na fuso, fora dela ainda ramos ela, ela e ns ramos ns e ela. Nesse espao me-filhonossas necessidades foram recebidas, fomos cuidados, alimentados, acalentados, protegidos. E, sem quesoubssemos, o acolhimento possibilitou em ns a confiana. Confiana que vivo quando te encontro,mesmo sabendo que nem mesmo voc plenamente confivel. A me que estava l, que se fez presentequando necessitei dela, ofereceu-se para ser criada por m im. Voc que es t aqui e que posso criar como

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    ser amoroso ao qual me entrego, tal como ao meu anjo da guarda, que no vejo e que me protege. svezes confundo os dois, logo vejo que difcil para voc suportar tanta idealizao.

    Porque nos criaram podemos nos criar e criar o mundo na iluso. Iluso que se d em um espaotransicional vivido nos primeiros tempos. Nessa zona, nem interna nem externa, que no precisa decomprovao, concretizamos nossa possibilidade de crescimento, amadurecimento, integrao, domsagrado com o qual nascemos. Espao que se mantm em ns como espao potencial de criao. Real,irreal se fundem, no h paradoxo, no h contraponto, no h diferena. Vida anterior lgica. Na vidaadulta ocidental desenvolv i a raci onalidade. N a v ida acadmica c oloquei-me nos limites da coernc ia.Lgica, silogismos. Reviver no amor, na arte, na cultura, na religio. Abrir o tempo e o espao.Experincias de transcendncia. Boa a vida nascida do orgasmo, da fuso, da entrega, do amor.

    Amor, poes ia e religio se aprox imam, neles a v ida e merge:

    No uma vida de racionalidade apenas, mas, uma vida na qual a mgica

    primordial do pensamento, do gesto, da palavra, da imagem, emoo, fantasia est unida sexperincias cotidianas. 12

    O amor depende do encontro do outro de mim. O outro. Voc no um estranho, no est fora demim. Voc, o outro, uma exterioridade que ressoa p ossibilidades j v iv idas, inscritas no corpo e na alma.Cada amor concentra os primeiros amores, cada amor o ltimo, todos os amores.

    Os amores no se repetem. So fludos, passageiros, cambiantes. No se ama igual outra ou amesma pessoa, ou a si mesmo. Amor em que cognitivo e afetivo, consciente e inconsciente se aglutinam.Amor de conseqncias sempre violentas, porque modificam, transformam e no conhecemos a extensode seus efeitos. Perco energia na fuso, saio dela com mais energia. Sei que voc no voc. Eu li essafrase, no importa aonde: impossvel amar o outro tal como ele . No quero admitir. Para conhec-lopreciso destru-lo em mim. Os adolescentes atacam o pai, a me e a famlia, se contrapem, se opem

    para conseguir se libertar dos moldes e dos modelos, procurando ser quem so. Porm, no quero meliberar de voc, quero viv er na fus o, me desmanchar em seu amor.

    Um corpo quer outro corpo.Uma ama quer outra alma e seu corpo.Este excesso de realidade me confunde.Jonathan falando:

    Parece que estou num filme.Se eu lhe dissesse voc estpidoEle diria sou mesmo.Se ele diss esse vamos comigo ao inferno pass ear

    Eu iria. 13

    Corto pedaos meus. Este o paradoxo, tolerar suas diferenas e dis fara r as minhas. Nomostro meu ser. Diferenas no venham tona, no destruam, no derrubem. O tempo aponta o excessode es perana, confiana, expec tativas. Obriga a enfrentar realidades.

    Amar no olho no olho. O olhar contnuo sufoca. Contava uma paciente que ele a olhava otempo todo e ela no podia nem mesmo ler o jornal, no suportou sua presena. Para Merleau-Ponty 14 oolhar do outro levanta em mim possibilidades que nem eu mesma sabia existirem. O mesmo olhar no vo que sou, v o que eu poderia ser, ou a pessoa que quer que eu seja. Para Sartre 15 o olhar do outro me

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    mata, no v quem sou. As diferenas podem se tornar intolerveis, ou exigir mais amor, um amor quenem mesmo sabemos existir em ns.

    ... e tendo amado os seus que estavam no mundo amou-os at o fim. 16A me, ao chamado do pai, muda o seu olhar, e assim permite que a criana seja. Abandono e

    luto fazem parte do amor.Deixo de lado iluses. Voc apenas um homem. Sofro com suas fragilidades, suas doenas.

    Sofremos com o desamor. Continuamos na mesma direo. Amar no mais olhar um para o outro, olhar na mesma direo. J no sabemos do que se trata, de amor, de patrimnio, de submisso social,de comodismo. Cantou Erasmo Carlos: voc precisa de um homem pr chamar de seu, mesmo que essehomem seja eu. Volto a Adlia Prado:

    vem Jonathan,

    qualquer hora hora,o que vale ser feliz,mais vale um pssaro na mo,vem, galante, do que dois avoando,imploro-te,mas vem logo, desgraado,seno eu te furoe no tou nem a. 17

    A v ida se enc arrega de quebrar mitos de amor e outros mitos. O tempo que passa, as doenas, aspartidas, os erros.

    De vez em quando Deus me tira a poesia.Olho pedra, vejo pedra mesmo.O mundo, cheio de departamentos,No a bola bonita caminhando solta no espao.18

    O tempo afetivo parou. Tudo se torna novamente lento. Vejo o seu sorriso se formar segundo asegundo, sorriso que de to conhecido j no me sorri, carrega uma ironia, sinto cada batida do corao.Seu brao no me toca, sinto a pele mais fria um grau, pressinto os infinitos graus de frieza no vazio devoc. Revivemos paradoxos, amor-desamor, alegria-tristeza, esperana-desesperana. Estamos no outroplo.

    Amor e morte so cas ados

    E moram no abismo trevoso.Seus f ilhos,O que se chama FelicitasTem o apelido de Fel19 .

    No h surpresa, no h apelo, no h futuro. Em um filme, o personagem perguntadesesperado: o que voc quer, Maria ? que eu env elhea a seu lado ?

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    No quero mais amar Jonathan.Estou cansada deste amor sem mimos,Destinado a tornar-se um amor de velhos.! nunca falei assim um amor de velhos. 20

    Dar liberdade ao outro, deix-lo ser na sua diferena o preo da minha liberdade.

    Ainda bem que mentira.Mesmo que Jonathan me olvide

    E esta cano desafineComo um bolero ruim,Permaneo querendo a bicicleta holandesaE mais tarde a cripta gtica

    Pra nossos ossos dormirem., Jonathan,No depende de vocQue a cornuc pia invisvel jorre ouro.

    Nem de mim.Quero enfear o poema

    Pra te lanar meu desprezo,Em vo.

    Escrev e-o quem me dita as palavras,Escreve-o por minha mo. 21

    Escolhas resolv em contradies, mas no os paradoxos:

    Pode-se definir uma contradio como uma proposio compatvel com uma escolha,freqentemente dolorosa, mas possvel, como : Eu queria, ao mesmo tempo, comer esse doce eguard-lo. Embora de forma dolorosa, essa contradio ultrapassada comendo o doce, ouguardando-o. O paradoxo, ao contrrio, torna impossvel a prpria noo de escolha, pois os doistermos antinmicos que o compem incluem e excluem um ao outro. Assim toda proibio est proibida ou se voc me ama, voc no me ama(...) tem uma essnci a paradoxal e sair dess edilema exige mais do que uma escolha dolorosa. Quando esse tipo de comunicao paradoxal faz parte de uma experincia vivida repetida da qual o indivduo no consegue fugir, ela traz umasituao de duplo vnculo que pode dar margem ao surgimento da patologia. 22

    Amor paradoxo. Se voc vai, continua presente, se fica, continua ausente. Tempo de morte. Morte

    lenta, na qual nos acabamos paulatinamente, na dor sem fim, na decomposio ainda viva do nosso amorque c hega ao fim. Tempo de luto. A ambiv alncia dissolve o paradoxo, re-apresenta a escolha. Naambivalncia, no somos perfeitos, nem anjos nem mons tros. Reconhecidos na al teridade o amor se fazcompanhia, o melhor vinho Mas, a ressurreio um milagre.

    Procuro o melhor vinho, aquele que veio da transformao da gua, servido no final dosesponsais. O amor do incio, distribudo com largueza, alardeado, inebriado, tal como a paixo, termina nomeio da festa, pe em risco a prpria festa. Voc no me mais alegria. Resta a gua, bebida comum dodia a dia, j no sinto o seu gosto. No a gua viva. Cristo salva a festa de casamento, transforma a

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    Mandar mensagens de amorCom a fora do pensamento:

    Jonat han, escuta,Sou eu a mosca adejante:Junto s runas, em outubro.28

    1Marilia Ancona Lop ez. Doutora em Psicologia Clnica. Docente do Programa de Ps-Graduao em Psicologia Clnica da

    Pontifci a Universidade Catlic a de So Paulo, onde o rienta teses d e doutorado e diss ertaes de mest rado na i nterfac ePsicologia e Religio. Membro do Grupo de Trabalho Psicologia e Religi o da Associao Nacional de Pes quisa e Ps-graduao em Psicologia. Vice-reitora de Pesquisa e Ps-Gradua o d a Universi dade Paulista. Membro do Conselho Naci onalde Educao, Ministrio da Educao.

    1Prado, Adlia. Poesias Reunidas, So Paulo: Sicili ano, 1991. Santa Ceia, p g 403

    1Prado, Adlia. id. Histria, pg 3781Prado, Adlia. id. O Corpo Humano , pg 2861Prado, Adlia. id. O Encontro, pg. 3971Husserl, Edmund.A Idia da Fenomenologia. Lis boa: Edi es 70, 1986, pg. 66.1Rog ers, Carl R. & King et, G. Marian. Psicoterapia & Relaes Humanas. Bel o Horizonte: Interlivros. 1977.1Ciornai, Selma (org.) Gestal -Terapi a, Psicod rama e Te rapias Neo-Reic hianas no Brasi: 25 anos depois. So Paulo: Agora.1995, pg.20.1Prado, Adlia. id. Matria, pg. 3891Rog ers, Carl R.Client-centered therapy. Boston: Houghton Mif flin, 1951.1Winn icott, Don ald W. O brincar e a realidade. Rio de Ja nei ro: Imago, 1975.1Jones, James W. Terror and T ransformation.New York: Taylor & Francis. 2002, pg. 9 0. 1Prado, Adlia. id. Poema comeado do fim, pg. 3911Mer leau-Ponty, Maur ice. Fenomenologia da Perc ep o. So Paulo: Martins Fo ntes, 1994 .1Sartre, J ean-Paul. Os Pensado res-Sartre. So Paulo: Abril Cultural, 1978.1Bblia. So Paulo: Edies Loyola, s/d.1Prado, Adlia, id. Raiva de Jonathan, pg. 3541Prado, Adlia, id. Paixo , pg. 1991Prado, Adlia, id.A Seduzida, pg. 3961Prado, Adlia, id. Mais uma Vez, pg. 4001Prado, Adlia, id. Mais uma Vez, pg. 4001Alameda, Antoine. Les 7 pchs familiaux. Paris: Editi ons Odile J ac ob, 1998, pg. 105.1Bblia. So Paulo: Edies Loyola, s/d.1Prado, Adlia, id. O ensinamento, pg. 1161Grn, An selm. Se quiser experimentar Deus. So Paulo: Editora Vozes, 2001, pg 57.1 Wulff, David M. i n Marina Massimi e Miguel Mahfoud (orgs) Diante do Mistrio: psic ologia e Senso Religioso .So Paulo:Edies Loyola, 1999.1Arcur i, Irene e Ancona-Lopez, Marilia.Temas em Psicologia da Religio So Paulo: Vetor Editora, 2007 .1Prado, Adlia, id.Adivinha, pg. 398

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    Amor no processo de EnvelhecimentoIrene Gaeta Arcuri1

    Resumo:

    Jung aponta o caminho da individuao como possibilidade de crescimento e desenvolvimento durantetoda a nossa existncia. Principalmente na segunda metade da vida, ou seja, depois de termos construdouma base slida, uma famlia, uma profisso, temos a jornada interior. A integrao dos aspectosfemininos (anima) e masculinos (animus) da nossa personalidade para que possamos enfim descobrir eviver o amor verdadeiro

    Palavas chaves: anima, animus, individuao, metanoia, Self

    1 Psicloga clnica de orientao junguiana (atende adolescentes , adultos e idosos), artetera peuta, doutoranda em Psicol ogia

    Clnica pela PUC/SP. Mestre em Gerontologia. Especi alista pela USP prx is artsticas inte rfaces c om a sade. Docent e,coordenadora, do curs o de Gerontologia da UNIP SP - Brasil

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    1. Am or no processo de Envelhecim ento

    Como podemos amar? Esta indagao profunda remete jornada da criatividade interior. No privilgioda juventude ou da velhice a dificuldade no campo do relacionamento amoroso, mas em qualquer idadetrata-se de uma escolha pessoal o desenvolvimento do amor. Na primeira metade da vida, somoscondicionados ao desenvolvimento do ego, mas na velhice na segunda metade, da vida na metanoiatemos a possibilidade de integrar e desenvolver nossa capacidade amorosa. Mas sempre ser umaconstruo. O relacionamento amoroso uma construo tijolo sobre tijolo. .

    Quando somos centrados no Ego, vivemos acreditando que somente nossa prpria conscincia real; osoutros apenas existem em relao a ns. Nessa medida, s podemos amar do andar superior, ou seja,

    atravs de uma relao hierrquica. O que, no entanto, no pode ser identificado como amor e conduz aoisolamento. Assim, comeamos a nos perguntar: por que nos sentimos ss? Por que no nos sentimosamados? Por que, de fato, no nos sentimos aptos a nutri r amor incondicional por o utra pessoa? Deacordo com Krishnamurti: A verdade uma terra sem caminhos.

    2. Amor, encontro entre o fe minino e o masculino

    no