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2 v e to re s & p ragas

Esse artigo propõe o conceito da Habitação Saudável (HS)

como método no controle de vetores e pragas urbanas (V&P).

A partir da apresentação desse conceito, analisa-se a adequa-

ção da HS no contexto teórico dos métodos de controle e no contexto

da estratégia de manejo integrado de praga (MIP), suas vantagens,

desvantagens e perspectivas. Por fim, como exemplo, são apresentadas

as bases de HS para o controle da dengue e das baratas.

O que é uma habitação saudável?

“Habitação Saudável é a concepção da habitação como um agente da

saúde de seus moradores. Implica em um enfoque sociológico e técnico

de enfrentamento dos fatores de risco, e promove uma orientação para

a localização, construção, moradia, adaptação e manuseio, uso e ma-

nutenção da habitação e do seu ambiente. .... O conceito de ambientes

saudáveis incorpora o saneamento básico, espaços físicos limpos e estru-

turalmente adequados e redes de apoio para obter recintos psicosociais

sanos e seguros, isentos de violência (abuso físico, verbal e emocional)”

(OMS/OPAS 1998).

É um conceito de habitação capaz de oferecer a segurança da vida obje-tivando prevenir, controlar, reduzir ou eliminar a vulnerabilidade aos riscos que podem comprometer a saúde, física e mental, dos seus habitantes bem como a saúde do meio ambiente. O conceito da HS não é restrito aos cômodos internos das residências e se estende a todo o ambiente exter-no envolvendo o entorno, a rua, o quarteirão e até o bairro. Também não se aplica somente às residências, mas também aos locais de trabalho, escolas, hospitais, fábricas, etc.

Vários são os riscos que devem ser observados em uma HS como, por exemplo, o risco biológico traduzido pela probabilidade de exposição a microrganismos, parasitas e vetores; o risco químico que é a probabilidade de exposição a compostos químicos ou o risco físico ou a probabilidade de exposição a agentes físicos tais como, som (conforto sonoro), calor

vetores e pragas urbanas e habitação saudável

A relação entre

Eduardo Dias Wermelinger*

Meio Ambiente

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(conforto térmico), frio, umidade, radiação. Outros riscos devem tam-bém ser observado como os riscos de acidente, risco ergométrico e risco psicossocial.

O que é uma HS para V&P?

Uma HS para V&P representa uma estratégia de controle preventiva com objetivo de elaborar o ambiente urbano inapropriado à invasão, per-manência e proliferação dos V&P e reduzir ou eliminar a vulnerabilidade ao risco biológico de exposição a esses V&P bem como os microrganismos e parasitas transmitidos por esses animais.

Adequação teórica da HS para V&P:

A partir das décadas de 60 e 70 do século passado, foi proposto e desenvolvido o conceito de Manejo Integrado de Pragas (MIP) que con-siste na escolha ou utilização conjunta e racional dos diferentes métodos de supressão populacional. Devido às restrições legais e toxicológicas e à resistência à praguicidas, o MIP foi pensado com princípios ecológicos buscando um meio ambiente ade-quado ao controle das pragas. Desde então, entende-se o MIP, ou controle integrado de vetores, como sendo a melhor estratégia de controle de V&P.

Os métodos de controle de V&P disponíveis em um MIP são apre-sentados e classificados com poucas diferenças na literatura e podem ser entendidos da seguinte forma:

Controle químico• : tem sido o método mais usado e consiste no uso dos inseticidas e raticidas. Consideraremos aqui também o uso de repelentes embora podem ser vistos na literatura como um

método de proteção pessoal;Controle biológico• : método que utiliza organismos vivos, ou seus produtos, para fins de controle tais como predadores inimigos natu-rais (ex. peixes para mosquitos) ou bioinseticidas à base de micror-ganismos entomopatogênicos (ex. Bacillus thuringiensis);Controle mecânico• : consiste na redução populacional através da retirada mecânica dos indivíduos seja pela simples catação (ex. Acha-tina fulica), uso de aspiradores (ex. para Ae. aegypti) ou seja pelo uso de armadilhas (ex. armadilhas adesivas, de eletrocussão ou de oviposição para Aedes aegypi);Manejo ou controle cultural• : con-siste na implementação de hábitos que não favoreçam a proliferação do V&P. É um método indispensá-vel e fundamental para o sucesso de praticamente todos os progra-mas de controle em V&P. Exemplo de manejo cultural é não deixar o lixo exposto ao ataque de pragas, não deixar restos de comida enci-ma do fogão ou na pia durante a noite para o ataque de formiga e baratas, etc;Manejo ambiental• : é um método que visa manejar, alterar ou man-ter o ambiente com objetivo de dificultar o acesso e proliferação dos V&P. Exemplos: o uso de dre-nos, aterro, telas e mosquiteiros (também vistos como método de proteção pessoal); o uso de emba-lagens resistentes na proteção dos alimentos, o manejo adequado do lixo, etc.;Controle comportamental• : méto-do que usa semioquímicos (sinais químicos) usados pelos insetos para fins de controle como, por exemplo, o uso de armadilhas im-pregnadas com feromônios;Manipulação genética• : consiste na liberação de indivíduos gene-

ticamente alterados para fins de controle como, por ex, a liberação de machos estéreis de Cochliomyia hominivorax (Calliphoridae) nos EUA.

Algumas técnicas possuem a pre-sença de dois métodos ao mesmo tempo como, por exemplo, a maioria das boas práticas preconizadas no manejo cultural que visam manter o meio ambiente inapropriado para os V&P (manejo ambiental). Outros exemplos: o uso de armadilhas adesi-vas com feromônios (controle mecâ-nico com controle comportamental) ou o uso de telas ou mosquiteiros impregnados com inseticidas (manejo ambiental com controle químico).

No MIP, o conceito da HS repre-senta o manejo ambiental dando uma dimensão maior para esse método. Na prática, o manejo ambiental tem sido pensado a partir das ocorrências das infestações sendo pouco pensado como prevenção. Da mesma forma, em geral os MIPs são pensados e aplicados a partir das ocorrências das infestações (inspeção) das pragas e epidemias ou quando se está diante de um histórico que dá certeza de futuras infestações e epidemias como, por exemplo, na dengue. Além disso, os principais métodos de controle só podem ser executados a partir des-sas ocorrências porque são métodos essencialmente de supressão popula-cional. Não se pensa usar inseticida, químicos ou biológicos, inimigo natural, armadilhas, repelentes ou mesmo construir drenos sem que haja ocorrência de algum V&P.

O conceito da HS é essencialmente concebido como uma estratégia de prevenção e propõe pensar o contro-le dos V&P antes da ocorrência das infestações e surtos endêmicos e pode trazer esse diferencial no MIP não enfatizado até então. A HS para V&P pode também ser pensada e aplicada como solução depois das ocorrências

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das infestações e epidemias. Entretan-to a HS deve ser pensada e executada antes dessas ocorrências observando as características do meio ambiente, os fatores ecológicos, socioeconômi-cos (ex. poder aquisitivo) e o histórico dessas ocorrências.

O método da HS não inviabiliza, rivaliza, tampouco dispensa nenhum outro método do MIP, contudo apre-senta uma estratégia preventiva nova e holística no cenário do combate aos V&P sugerindo que o melhor momento para realizar o controle ou a prevenção da ocorrência de V&P é na construção das edificações ou antes nos projetos arquitetônicos.

Vantagens e Desvantagens

Vantagens É um método eficaz e de caráter duradouro. Em muitos casos pode reduzir ou mesmo suprimir a necessidade de aplicação dos outros métodos de controle, exceção so-mente, do controle comportamental, sempre imprescindível.

Ambientalmente seguro, não polui o ambiente e não é tóxico para o ho-mem e animais.

Soluciona ou reduz bastante o problema da resistência dos V&P aos inseticidas porque pode eliminar ou reduzir muito a pressão seletiva dos inseticidas nas populações de V&P.

O conceito HS, em essência, é holístico que pode oferecer soluções para vários V&P ao mesmo tempo. Muitas alterações vão servir simulta-neamente para o controle de vários V&P. Por exemplo, lixeiras que prote-gem adequadamente o lixo evitam o ataque de roedores, moscas, baratas e mosquitos, estes, pela acumulação da água das chuvas; paredes lisas sem frestas, fendas e rachaduras vão im-pedir o abrigo de baratas, formigas, barbeiros e outros insetos; o uso de telas impede a entrada de mosquitos, morcegos, moscas, flebótomos e ou-

tros insetos. Dos métodos de controle é o que

pode oferecer o melhor custo benefí-cio a médio e longo prazo porque a eficácia da HS pode ser obtida com alterações que, em sua maioria, são fáceis de baixo custo, principalmente, se essas alterações forem pensadas e planejadas no momento da constru-ção dos imóveis.

Desvantagens Exige planejamento. Em muitas cidades brasileiras, em especial nos grandes centros urbanos, testemunhamos uma cultura da falta de planejamento, do descaso com as normas e da ocupação desordenada incompatíveis com essa estratégia.

FuturoVivemos numa época de crescen-

te preocupação com a preservação do meio ambiente, como, por ex., na pre-servação dos corpos hídricos; uma época que buscar cada vez mais estratégias não tóxicas para preservar alimentos e produtos que consumimos; uma época de crescente apelo para uma medi-cina preventiva e que mostra uma evidente necessidade de, cada vez mais, planejar o es-paço urbano na busca de ambientes saudá-veis em todas as suas vertentes (violência, transporte, conforto, etc).

Todo esse cenário é compatível com a estratégia da HS para V&P. Até então as prá-ticas usadas nos con-troles dos V&P tem sido mais “curativas”

que preventivas e raramente plane-jadas previamente. A HS para V&P também pode ser aplicada de forma “curativa” mas sua concepção é es-sencialmente preventiva. O conceito da HS para V&P atende ao desejo de reduzir a dependência e uso dos inse-ticidas tóxicos ao homem e ao meio ambiente e representa uma ferramen-ta útil de promoção da saúde pública nos planejamentos urbanos.

Para o desenvolvimento e imple-mentação da estratégia de HS para V&P será preciso definir normas técnicas e exigências legais específicas de HS para V&P para os projetos, construções, concessões de habite-se e alvarás com fiscalização permanen-te do poder público. Essas normas incluiriam também pragas que não te-nham interesse direto à saúde pública como, por exemplo, a recomendação

Figura 1: exemplos de captação e proteção de água das chuvas (extraído de Ronzendaal 1997)

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de pré-tratamentos no solo para a prevenção de cupins subterrâneos. Pode ser uma boa opção de política urbana oferecer incentivos fiscais (ex. redução de IPTU) aos proprietários dos imóveis já existentes que promo-verem alterações que atendam a essas normas técnicas. Nesse sentido, as empresas controladoras podem atuar na orientação e promoção das ade-quações necessárias nos imóveis com objetivo de atender as essas normas.

Exemplo de HS

HS para Dengue Provavelmente hoje o Aedes aegypti seja o vetor mais importante em nosso país. Uma HS para a dengue deve construir um ambiente desfavorável para sua proliferação o que consiste basicamente em construir um ambiente que evite

o acúmulo de água, principalmente, das chuvas e proteja a água nos reser-vatórios.

Proteger a água e o saneamento Muito se aponta, com certa razão, a enorme carência de saneamento e do fornecimento de água como um obstáculo no controle da dengue. Contudo devemos observar que é possível acumular água sem que ela sirva de criadouro como também é possível estar ligado a um excelente sistema de abastecimento de água e oferecer boas ofertas de criadouros. O problema em evitar a proliferação dos criadouros não está em como a água é fornecida ou captada nem na necessidade de armazenar água. A solução é proporcionar uma proteção à água fornecida ou armazenada. A rigor, uma HS para dengue não ne-

cessariamente precisa estar ligada a um sis-tema de abastecimen-to de água, mas sim, possuir reservatórios capazes de proteger a água armazenada, seja ela oriunda da rede de abastecimen-to, de um sistema de captação pluvial (Fig.1), fluvial ou de um caminhão pipa.

O Acesso aos cria-douros Um problema que deve ser observa-do nas edif icações são as dificuldades de acesso aos possíveis criadouros, em par-ticular, os acessos às lajes e caixas d’água (Wermelinger et al 2009). De uma forma geral uma HS para V&P deve oferecer acesso fácil a todos

os locais da residência onde podem ocorrer focos para proporcionar a realização de inspeções e limpezas em sótãos, telhados, lajes, calhas, caixas d’água, casas de máquinas, poços dos elevadores, cisternas e afins.

Nos telhados o acesso deve ser fácil, seguro e com pontos de luz por-que é comum precisarem de reparos depois de fortes chuvas ou ventos propiciando o acúmulo da água das chuvas e a entrada de outros animais (ex. morcegos e pombos).

Nos edifícios normalmente o acesso aos poços dos elevadores é perigoso e difícil. Esses poços devem ser pensados para não acumularem água.

Em comunidades de baixa renda é comum encontrar matérias e entulhos tais como sobras de obras, peças de automóveis, eletrodomésticos e ou-tros objetos guardados e mantidos no lado de fora, freqüentemente, desprotegidos da chuva acumulando água e podendo servir de criadou-ros. Entretanto são difíceis de serem inspecionados para identificar pos-síveis criadouros (Wermelinger et al 2009). Se não for possível cobrir esses entulhos, devem ser evitados ou arrumados para que não acumulem água e possam ser inspecionados periodicamente.

Os acessos às galerias pluviais devem ser protegidos (gradeados) a fim de evitar que sirvam de depósito de entulhos e lixo. Esses entulhos podem ficar escondidos, esquecidos e servir de permanentes criadouros. Entretanto, mesmo protegidas as ga-lerias precisam ser periodicamente inspecionadas e limpas.

A produtividade dos criadouros – os principais criadouros Estudos demonstram os grandes reservatórios como os mais produtivos, os que po-dem produzem um maior número de pupas. Recipientes tais como caixas d’água, tonéis, bombonas, cisternas e Figura 1: exemplos de captação e proteção de água das chuvas (extraído de Ronzendaal 1997)

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afins devem receber especial atenção para proteger a água do acesso das fêmeas. Esses reservatórios devem ter bom acabamento e boas tampas e o acesso deve ser fácil para realizar inspe-ções, limpeza e eventuais consertos.

Entretanto, o cuidado com os gran-des reservatórios mais produtivos não elimina a importância dos reservatórios menores. Dados da vigilância entomo-lógica realizada em Parati (RJ) mostram que mais de 70% do total de pupas de Aedes aegypti e Aedes albopictus coleta-das foram obtidos de garrafas, latas, pneus, vasos de plantas e ralos (dados não publicados). Embora esse estudo aponte falhas na vigilância com os reservatórios mais produtivos mostra também que os pequenos reservatórios não devem ser negligenciados.

As lixeiras e o lixo reciclado De uma forma geral, uma HS para V&P o lixo deve ser sempre protegido do acesso de qualquer animal até ser recolhido. Para o Ae. aegypti o lixo exposto à chuva pode oferecer uma grande possibilidade de criadouros. Portanto o lixo deve sempre ser colo-cado em lixeiras cobertas ou estar em sacos evitando a exposição da água das chuvas.

O lixo hoje representa fonte de renda para muitas famílias sendo comum a guarda temporária de latas e garrafas, mas que podem acumular água caso não haja um local propício que proteja esse lixo da chuva.

O escoamento das águas O escoa-mento da água, em especial da chuva, deve ser observado nos terrenos, entorno, lajes, calhas, ralos e canais. Os terrenos não devem ter vegetação alta e densa que esconda o lixo, os entulhos e as poças.

O ideal é que os ralos não acumu-lem água ou possuam tampas que possam vedá-los.

As calhas devem estar livres do

acúmulo de folhas estando, o mais possível, longe da copa das árvores. Se não for possível evitar o acúmulo das folhas, essas calhas tem que ter fácil acesso para que sejam periodi-camente inspecionadas e limpas para garantir o escoamento da água.

O manejo comportamental Como mencionado anteriormente nenhuma estratégia de controle de V&P vai ser bem sucedida se não for acompanha-da de boas práticas comportamentais. Uma HS para dengue depende dessas práticas como, por exemplo, não dei-xar garrafas desprotegidas da chuva, vasos acumulando água, não jogar lixo nos terrenos e encostas ou não tratar adequadamente as piscinas.

HS para baratasCertamente as baratas são uma das principais responsáveis pelas deman-das nos serviços das empresas contro-ladoras mostrando a importância da estratégia de uma HS para baratas. Adicionalmente, muitas das medidas visando uma HS para baratas também servirão para outras pragas como escorpiões, formigas, ratos, barbeiros e moscas.

A adoção de boas práticas, em es-pecial, no trato com o alimento, é fun-damental para qualquer estratégia de controle, inclusive a estratégia da HS.

Uma HS para baratas deve eliminar os esconderijos e, principalmente, proteger os alimentos e resíduos or-gânicos como o lixo.

Os locais de processamento e guarda do alimento (cozinhas, despensas) Os locais onde o ali-mento é processado ou armazenado como cozinhas e dispensas devem receber especial atenção em uma HS para V&P. Preferencialmente os projetos devem reservar o espaço mais apropriado e adequar esses locais. Nesses locais as paredes, pra-

teleiras, armários e bancadas devem ser resistentes sempre sem frestas, rachaduras, fendas ou vãos, com superfícies brancas ou, pelo menos, claras. Deve-se evitar os granitos de-corativos, em especial, nas bancadas. Esses granitos muitas vezes facilitam a camuflagem de pequenos grãos, restos de alimento, sujeiras e mesmo a presença das baratas. Deve-se esco-lher as bancadas de azulejo, desde que bem rejuntados, mármores ou aço inox. Não usar madeiras e portas ocas. A luminosidade deve ser boa. A cor branca bem iluminada denuncia facilmente um início de infestação nos alimentos.

As despensas devem estar em local seco e, o mais possível, afastadas do chão, porta, janela, fogão, pia ou tan-que (para evitar umidade). Se possível os gêneros devem estar dentro de armários com portas que possam im-pedir a entrada das baratas. Os gêne-ros, por sua vez, devem ser guardados em recipientes com boa vedação para

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evitar o acesso das baratas além de formigas e carunchos.

O lixo Os locais de destinação do lixo devem também ser projetados e definidos nos projetos arquitetônicos. Inicialmente o lixo deve ser colocado em lixeira com boa tampa, alta, ter base larga, superfície lisa e lavável (Fig 2). Especial atenção também aos locais das lixeiras. O local deve ter boa iluminação, ralo com vedação, superfícies brancas, lisas, sem fres-tas, fendas, vãos e um ponto d’água (torneira) para permitir periódica lavagem. O local deve estar no lado de fora, preferencialmente, em um recinto fechado com porta resistente vedada no vão inferior. As janelas devem ter telas.

Figura 2: exemplo de lixeira.

Importantes adequações:

São adequações que precisam ser periodicamente observadas e, se necessário, refeitas tais como: eli-minar qualquer vazamento na rede hidráulica; usar ralos com tampas que possam evitar a passagem das baratas pelos canos; vedar os vãos inferiores das portas externas e assegurar boa vedação nos tetos rebaixados e pisos falsos.

Os alimentos e higiene dos animais domésticos:

Os alimentos oferecidos para os animais domésticos bem como os de criação deve também ser protegidos das baratas, em especial à noite. A escolha dos alimentadores bem como seus locais devem dificultar ao máximo o acesso das baratas e outros insetos. Estes devem ser suspensos em paredes lisas e afastados do chão. Os mesmos cuidados para a proteção

dos alimentos nas despensas deve ser observados com os alimentos dos animais.

O manejo comportamental:

Como mencionado anteriormente, é imprescindível a adoção de boas práticas diárias em especial para o controle das baratas devido a sua versatilidade. Dessa forma é preciso observar práticas tais como:

Ter disciplina diária com a higiene, em •

especial, com os restos de comida nos

pratos, panelas e embalagens vazias

tais como latas, garrafas e sacos. Esses

restos devem ser removidos e coloca-

dos no lixo. É aconselhável fazer uma

pequena lavagem nas embalagens que

vão ser descartadas para assegurar não

haver restos de alimento;

Limpar cuidadosamente após o uso os •

eletrodomésticos usados no trato com

alimentos tais como liquidificadores,

batedeiras e afins;

Antes de dormir deixar limpas e se-•

cas a louça, pia e fogão; lavar e secar

pratos e panelas; amarrar (proteger)

o saco do lixo; guardar os gêneros em

recipientes lacrados; atenção ao açúcar,

mel e doces e guardá-los na geladeira

ou em recipientes bem lacrados e/ou

com base adesiva;

Ter cuidado e atenção com a higiene •

dos locais e as excretas dos animais

domésticos.

Inspecionar os produtos vindo dos •

mercados porque são fontes constantes

de infestação para as residências. As

embalagens desses produtos precisam

ser vistoriadas e, se possível, descar-

tadas.

Referências

Rozendaal JA. 1997. Vector Control.

Methods for use by individuals and com-

munities. WHO, Geneva.

Wermelinger ED, Cohen SC, Thaumatur-

go C., Silva AA, Ramos FAF, Souza MB,

Souza MB. 2009. Avaliação do acesso aos

criadouros do Aedes aegypti por agentes

de saúde do programa saúde da família

no município do Rio de Janeiro. Revista

Baiana de Saúde Pública, 32: 151-158.

OMS/OPAS. 1998. Saúde das Américas.

In: Espaços saudáveis – conceito. Extraído

de (http://www.opas.org.br), acessado em

maio 2009.

Agradecimentos: à Lucy Ramos Fi-

gueiredo pela leitura crítica e valiosas

sugestões.

Eduardo Dias Wermelinger : ENSP /

FIOCRUZ, Rede Brasileira Habitação

Saudável

www.ensp.fiocruz.br/rbhs [email protected]