viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se...

348
1

Transcript of viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se...

Page 1: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

1

Page 2: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

2

CAPITULOS

1 A família Fadel------------------------------------------------------------4

2 Derik no exercito------------------------------------------------------21

3 A viagem para a África---------------------------------------------35

4 O reencontro-----------------------------------------------------------52

5 O ataque das leoas----------------------------------------------------66

6 Derik e a feiticeira----------------------------------------------------71

7 piratas------------------------------------------------------------------87

8 Naufrágio na ilha dos pigmeus-----------------------------------111

9-Sereias------------------------------------------------------------------129

10 Suelem é oferecida em sacrifício ao deus Netuno-----------144

11 O ninho das sereias------------------------------------------------148

12 A fuga da ilha-------------------------------------------------------159

Segunda parte

13 O resgate-------------------------------------------------------------185

14 A casa da madame Dolores--------------------------------------208

15 O sacrifício de Derik----------------------------------------------234

16 Na aldeia lycan-----------------------------------------------------241

17 Derik no mundo dos mortos------------------------------------247

18 Vampiros e lycans, a batalha final----------------------------252

19 O Alquimista chinês ---------------------------------------------265

20 Derik é levado a presença de Hades-------------------------281

21 Suelem é lançada no inferno---------------------------------- 287

Page 3: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

3

22 Suelem a matadora de demônios---------------------------294

23 A derrota de Hades-------------------------------------------320

24 Jardim do Éden------------------------------------------------328

Page 4: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

4

VIAJANTES

EM TERRA DE DEUSES

Capitulo 1

A família Fadel

Século xv, um navio de quatro mastros está ancorado em um porto na costa da África, no seu porão, preso a correntes estava um jovem rapaz, usando uniforme de soldado inglês, seu nome é Derik, preso injustamente, condenado por um crime que não cometeu. As noites na África são iluminadas pela luz pálida da lua e das estrelas que brilha no céu, no porão do navio a pouca luz da noite não penetra e, a escuridão é total, a não ser pela fraca luz de lampião que denunciava que existia uma porta a sua direita, pois a luz a contornava pelas frestas. Derik estava sentado em um canto da parede acorrentado por uma perna, só podia fazer uma coisa, pensar no que aconteceu e o que fazer para mudar essa situação e, aquele enorme dente de um leão que estava em seu bolso machucando-o enquanto ele tentava achar uma posição mais confortável naquele assoalho sujo entre as caixas de madeira, Derik queria jogar fora aquele amuleto que até agora não lhe deu sorte alguma, alias toda sua vida foi só azar e sofrimento, era o que Derik achava, ele queria jogar o amuleto, mas o medo de que isso lhe desse mais azar o deixava com mais medo ainda, lembrou-se de como entrou no exercito, e como foi parar naquele navio, e se não fossem as correntes em sua perna ele teria achado graça, mas como achar graça com um leopardo de dentes afiados olhando para ele mostrando seus poderosos dentes, era o que Derik podia ver, os dentes brancos e os olhos brilhando como duas brasas amareladas sempre olhando para o assustado rapaz e, quando ele estava quase conseguindo dormir a fera o acordava com um ronco que mais parecia um leve trovão, baixo e longo. Nessa época a Europa se lançava em uma corrida pelos mares, em busca de novas terras e novas riquezas, uma corrida de caravelas que

Page 5: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

5

se espalhavam por toda costa europeia, alcançando os mares inexplorados de águas perigosas e cheias de lendas, seus marinheiros eram homens corajosos e muito supersticiosos, grande parte deles eram criminosos, homens que perturbavam a paz, bêbados sem família que brigaram em bares, ou que deviam dinheiro a homens importantes e poderosos e não podiam pagar, então eram condenados a prisão ou a morte, julgados por juízes influenciados por grandes comerciantes influentes na corte, mas acabavam vendidos como escravos para os ricos proprietários de frotas de navios que distribuíam dinheiro para conseguir seus objetivos, corrompendo as autoridades desvirtuando a lei que eram ditadas pelos condes, príncipes e reis. Havia um francês dono de uma frota de navios comerciante no maior porto de comercio europeu, de onde chegam e saem navios de toda parte, comercializando todos os tipos de coisas, desde grãos, como arroz da Ásia, até ouro e prata vindos dos novos continentes, tributos das colônias para seus reis, esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e sessenta de altura, obeso com dificuldade para andar, por causa do peso e por ter sofrido um acidente em uma tempestade em um dos seus navios, dono da grande frota marítima Delevai, prestava serviços secretos aos reis, seus navios se espalhavam por todos os mares, em todos os continentes, Jack era um homem temido por todos os marinheiros que um dia já navegou em um dos seus navios. O rei da França lhe ofereceu uma colônia em solo Africano para governar, mas Jack preferiu ficar em seus navios, era onde ele passava a maior parte do deu tempo, viajando de uma parte para outra, descendo de um navio e embarcando em outro da sua frota, em todos os seus navios havia uma cabine especialmente para ele. As viagens eram perigosas, e muitos marinheiros morriam no mar, por doenças ou por falta de pratica, sentiam enjoou e muitos acabavam caindo na água morrendo afogados, os verdadeiros homens do mar eram poucos, pela grande quantidade de navios que eram lançados no mar ficou difícil encontrar marinheiros, então se recrutavam homens sem pratica, mas ficava mais barato seqüestrar imigrantes bêbados e homens sem família que achavam perambulando pelas ruas durante as

Page 6: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

6

noites perto do porto. Jack Delevai tinha outros métodos para conseguir novos recrutas, Jack era amigo de alguns poderosos franceses, eles eventualmente trocavam favores, Jack os presenteavam com caixas de fumo da África e outras coisas que ele achava interessante, e os franceses lhe concediam os prisioneiros das masmorras francesas para lhe servirem no mar e repor os mortos em todos os navios de sua frota que atracarem em qualquer porto na Europa. Os reis deixaram as guerras, mediam suas forças pelas suas riquezas, construindo castelos cada vez maiores e melhores, sustentados pelo ouro que vinha de suas colônias na maioria em solo africano, seus tesouros viajavam em navios em águas patrulhadas por piratas, cessaram as disputas por terras e pararam de expandir seus territórios em solo europeu agora as disputas eram no mar e em outros continentes, o rei da Inglaterra, Eduardo segundo, um velho e poderoso rei, casado com a linda e jovem Elisabete filha do conde Carlos, e sobrinha do rei da França, o conde era o governador de uma grande cidade portuária ao sul da França e, controlava uma importante passagem para o mar e um dos maiores portos onde navios de todo o mundo atracam para carregar e descarregar suas mercadorias, pagando altíssimos impostos, isso atraia negociantes de toda parte e, também atraia ladrões, assassinos e todas as espécies de criminosos, falsários e jogadores, criando grandes cassinos onde as pessoas eram enganadas e roubadas e muitas vezes assassinadas, mas apesar disso era o maior e melhor porto de toda Europa, era uma grande cidade portuária conhecida como porto do ouro, por lá passavam a maior parte dos carregamentos de ouro e tributos dos reis e a maior parte dos contrabandos de pedras preciosas. Os homens mais ricos e os nobres da Europa costumavam embarcar e desembarcar dos navios no porto do ouro sempre que precisavam viajar, preferiam esse porto pela estrutura que a cidade oferecia, com luxuosos aposentos construídos especialmente para receber os nobres e as pessoas mais importantes de toda a Europa, os ladrões e piratas eram tratados com rigor, após serem capturados eram julgados condenados e executados em menos de dois dias em praça

Page 7: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

7

publica, isso dava uma sensação de segurança aos visitantes e comerciantes e, de temor para os ladrões e corsários. O casamento do rei Eduardo com a filha do conde Carlos foi uma estratégia para controlar, com mais força a entrada dos navios e de todo comercio na Europa, dividindo entre eles os enormes lucros, alem de ficarem com todas as mercadorias que os capitães de alguns navios tentavam passar sem pagar os impostos, muitas vezes alguns navios conseguiam passar com seus contrabandos com ajuda de oficiais e funcionários corruptos, mas quando eram pegos toda carga era apreendidas o navio confiscado e o capitão e todos que estavam envolvidos eram presos, freqüentemente eram julgados como ladrões e tinham o mesmo destino. A frota de navios de guerra ingleses eram os mais rápidos e destrutivos, seus soldados eram treinados para guerra e faziam isso com extrema eficiência, os navios de combate ingleses eram conhecidos por serem imbatíveis, são chamados de tubarões. A paz era aparente em toda Europa os reis evitavam se encontrar mandavam seus ministros como representantes para selarem acordos comerciais, mantendo as relações entre as nações, o rei Eduardo tinha um homem em quem confiar, seu nome era Wesley, um amigo de infância, apesar de Wesley não ter nascido em família de nobres cresceu junto ao filho do rei da Inglaterra, comia e bebia na mesa com os reis, sempre ao lado do príncipe, cresceram juntos morando no mesmo palácio, Wesley era querido pelo rei da Inglaterra. O rei Eduardo morava em um exuberante palácio cercado por muros altos e vigia por todas as partes, seu palácio ocupava uma grande área com um bosque com animais de caça. A margem do bosque havia varias propriedades de pequenos agricultores, que tiveram suas terras reduzidas sempre que o rei decidia aumentar seu bosque, um desses agricultores era o senhor John Fadel, casado com a senhora Helena tinham dois filhos, Suelem a mais velha com quinze anos e Derik com treze anos, a família Fadel eram donos dessa terra por gerações e viram suas propriedades encolher varias vezes, possuindo apenas a metade do que um dia já foi.

Page 8: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

8

Um dia, deram um banquete no palácio, o rei e seus convidados celebravam uma nova conquista comercial feitos pelo conde Wesley, o rei quis lhe dar um presente, aconselhado por seus amigos nobres a dar ao conde as mais produtivas terras em volta do palácio, assim o conde ficaria feliz com o presente e estaria perto da proteção do palácio, o rei concordou e mandou desapropriar as terras nos limites do bosque, assim quando saíssem para caçar eles teriam um lugar para descansar no campo de caça, no dia seguinte o rei mandou seus soldados levarem o conde para conhecer suas novas terras, de dentro da carruagem ele viu a jovem Suelem filha do John Fadel que se preparavam para deixar sua casa sob os olhares dos soldados que sob as ordens do rei foram despejar a família que viveu ali por gerações, Suelem apesar de ter apenas quinze anos, era formosa, corpo bem delineado, alta demais para sua idade, usava um vestido marrom com bordados feito pela sua mãe, seus cabelos eram vermelhos assim como o da Helena, magra e alta com olhos azuis como o pai, o conde não reparou nas outras pessoas que estavam perto da jovem, como seu irmão que a ajudava a por sobre uma carroça um enorme baú velho amarrado com cordas para não se abrir e despejar todas suas roupas e objetos que guardava. O conde chamou um dos soldados que estava mais próximo dele e mandou que desse um recado ao capitão dos soldados que observava a mudança da família Fadel, o soldado desceu correndo a colina em direção a casa, falou ao ouvido do capitão que olhou em direção a carruagem do conde voltando-se rapidamente ao senhor John Fadel e gritou para que todos ouvissem. _ Podem descarregar a carroça e voltar para sua casa, não precisam mais sair dessas terras. –falando isso se virou para seus soldados, que eram dez homens montados a cavalo e gritou novamente, como se não soubesse falar mais baixo que aquilo. _ Vamos embora. Saíram todos sem olhar para trás, passando perto da carruagem do conde, marchando em linha de pares, sem olhar para os lados apenas foram de volta ao palácio a espera de outra missão.

Page 9: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

9

John Fadel não entendeu o que estava acontecendo, por algum tempo ficou parado com sua família olhando para a colina, aquela carruagem negra permanecia parada e alguém lá dentro os observava escondido atrás da cortina de veludo vermelho, John Fadel não sabia quem era, mas sabia que era alguém importante, pela carruagem e pela escolta e, por dar ordem aos soldados do rei, então a carruagem foi embora devagar com seus soldados. John Fadel descarregou a carroça, mas sabia que em breve aquela carruagem voltaria então saberiam o que aconteceu e, algo lhe dizia que não seria nada de bom para ele e sua família, o soldado que lhe trouxe a ordem de desapropriação não lhe contou o motivo do despejo, apenas mandou que saíssem, caso não obedecessem seriam presos por traição. Tudo estava calmo na propriedade da família Fadel, como se nada tivesse acontecido, eles trabalhavam como de rotina, alimentando os porcos e as galinhas, colhendo milhos e plantando batatas cuidando do vinhedo, já se passaram três meses desde que tiveram a visita dos soldados do rei e quase perderam suas terras, mas o susto ainda era recente, a impressão de que não tinha acabado naquele dia, várias propriedades vizinhas foram desapropriadas nesses últimos dias sem a compaixão do rei ou do desconhecido da carruagem, todos eram amigos do senhor Jonh. Era quase meio dia quando uma carruagem branca surgiu na mesma colina pela mesma estrada que estivera há três meses, mas dessa vez não tinha escolta, apenas o cocheiro conduzindo os cavalos, a família Fadel se reuniu na frente da humilde casa coberta com telhas de madeira e uma chaminé que lançava fumaça, John se adiantou para receber o visitante, a senhora Helena abraçou seus dois filhos como se estivesse protegendo-os de algum mal que poderia sair daquela carruagem, a carruagem parou em frente ao senhor John Fadel, o cocheiro, um homem gordo de baixa estatura com bigodes compridos e negros, usando uma cartola preta assim como seu casaco novo e bem arrumado, um verdadeiro criado de nobres, ele disse a John Fadel. _ Quem é John Fadel?- sua voz era rouca e seu olhar dizia que ele já sabia que aquele era o homem que procurava, mas perguntou para evitar qualquer engano.

Page 10: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

10

_ Sou eu. _ O conde Wesley mandou que o senhor me acompanhasse. _ Mas, pra que? Pra onde? –o senhor John ficou apreensivo com esse convite. _ O senhor conde Wesley me mandou apenas para levá-lo. John Fadel não fez mais perguntas, olhou para sua família que estava logo atrás, com olhar desconfiado, meteu as mãos nos bolsos da calça, querendo recusar o convite, mas Helena balançou a cabeça como quem diz, - é melhor ir. Diante da aprovação da esposa John tirou as mãos dos bolsos, bateu a poeira das roupas abriu a porta da carruagem, então o cocheiro disse. _ Por favor, suba aqui, o senhor vai aqui comigo. John estava sujo, ele era um homem simples que nasceu no campo e não estudou em nenhuma escola, não sabia ler e nem escrever, mas aprendeu tudo que sabia na escola da vida, era um excelente agricultor, conhecia a terra como ninguém, as épocas certas de plantar e de colher, conhecia as doenças dos animais e como curá-las, negociava seus produtos e nunca tinha prejuízo, mas não sabia como se comportar diante dos nobres ou de qualquer pessoa mais importante do palácio, nem mesmo dos criados que se vestiam como aquele cocheiro, isso o deixava constrangido, subiu na carruagem perto do cocheiro que se afastou do John evitando se sujar com tanta terra que caia da roupa do camponês. O cocheiro conduziu a carruagem pela estrada esburacada e estreita, entre as árvores do bosque ao som dos cantos dos pássaros que saltavam entre os galhos dos pinheiros, o dia estava claro, apesar de que o sol estivesse no centro do céu sem nuvens e o calor intenso o vento soprava esfriando o ar na sombra das árvores, John Fadel começou a sentir frio pelo medo do que encontraria ou do que o conde queria com ele, se esforçando para não tremer, ele usava apenas uma camisa longa e calças sujas de terra nada recomendável para se apresentar a um nobre do palácio, os cavalos corriam ao som do chicote que estalava sobre seus lombos sem tocar em suas peles, eram dois enormes cavalos negros, enfeitados com cordas vermelhas e

Page 11: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

11

arreios brancos, usando elmos dourados em suas cabeças com penachos balançando ao vento. A viagem durou alguns minutos, em silencio, o cocheiro não falou uma só palavra durante toda viagem, se limitou a falar apenas com os cavalos, dando ordens e elogiando-os quando faziam o que ele mandava, de longe John Fadel avistou os portões do palácio, em pouco tempo estavam adentrando as muralhas, sempre bem guardada pelos soldados do exercito do rei, passando por um enorme jardim com flores de todas as cores e arbustos pequenos e grandes, tudo muito limpo e perfumado, os soldados estavam em todas as partes, olhando a carruagem que corria pelo jardim em direção a uma casa grande ao norte do palácio, que também era vigiada por soldados armados com rifles e espada na cintura, em fim a carruagem parou em frente à porta da casa grande, um serviçal se aproximou e chamou o senhor John pelo nome. _ Senhor John Fadel? Por favor, me acompanhe. –disse o serviçal com cara de pouco caso ao ver o camponês sujo cheirando a porcos, deu uma olhada para o cocheiro e um sorriso de deboche, mas o cocheiro não retribui o sorriso e olhou para o serviçal com ar de quem não gostou da atitude nem do sorriso, o serviçal vendo que o cocheiro não aprovou sua zombaria fechou a cara e saiu andando na frente do John, mostrando o caminho em que deveria seguir. Andaram por um jardim com árvores e muitas flores amarelas, em um canto havia algumas mulheres sentadas em bancos brancos se aquecendo ao sol, todas de longos vestidos brancos conversando e rindo, mas pararam de falar ao ver o homem magro e sujo andando apresado atrás do serviçal, chegaram em frente a uma porta de madeira, de frente ao jardim onde as moças observavam cochichando e rindo, o serviçal mandou que esperasse onde estava, andou em direção a porta, antes de bater na porta ela se abriu e saiu um homem trajando um casaco vermelho com camisa branca e um lenço amarelo enrolado no pescoço, calça branca agarrada nas pernas, meias também brancas e sapatos vermelhos como o casaco, em sua cabeça ele tinha uma peruca branca com cachos nas pontas, a pele do seu rosto era igual a de todos os nobres que já tinha visto, os homens se

Page 12: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

12

encontraram do lado de fora da porta e cochicharam alguma coisa, logo o homem que saiu voltou para dentro deixando o senhor John Fadel na companhia do serviçal esperando. Na casa do fazendeiro John Fadel, sua família estava preocupada e ansiosa pelo retorno de John, eles queriam saber o porquê dessa viagem, o que estava acontecendo, Derik fingia não estar interessado, mas não tirava os olhos da estrada por onde seu pai se foi na carruagem, Suelem ficou perto de sua mãe, embora ela estivesse aflita tentava encorajar a senhora Helena que sentada em frente à porta da casa esperava pelo retorno de seu esposo, Derik andava de um lado para outro levando comida para os porcos e trazendo um frango nos braços, então voltava com um cesto na mão, e retornava com ovos no cesto, andava apresado como se só ele trabalhasse, mas seus olhos continuavam procurando a carruagem que levou seu pai, Helena às vezes olhava para Derik e até soltava um leve sorriso ao ver que seu filho já não era mais aquela criança como ela sempre achou que nunca cresceria, Derik apesar de ter apenas treze anos era um jovem muito alto, tinha um metro e oitenta de altura, magro andava quase encurvado, com cabelos loiros e curtos em baixo do chapéu, Suelem se irritava com aquela correria que seu irmão fazia sem se preocupar com a situação, pelo menos era o que ela achava, mas sua mãe via nos olhos do rapaz que ele estava mais preocupado do que parecia. Suelem usava uma camisa masculina muito larga, era do seu pai, e calças também larga, também era do seu pai, Suelem era tão alta quanto seu pai, mas era mais magra, com seus cabelos longos e vermelhos escondidos dentro do enorme chapéu. Passaram seis horas desde a partida de John Fadel na carruagem com o cocheiro, a ansiedade da família Fadel se transformou em angustia e medo de perderem para sempre a casa e tudo que construíram durante toda a vida, para onde iria com seus filhos, o que dariam para eles comerem, onde poderiam se abrigar do frio da noite, seus parentes não tinham como se sustentar e muito menos sustentar mais quatro pessoas, Helena começou a chorar, então Derik se aproximou da mãe e a abraçou com os olhos cheios de lagrimas.

Page 13: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

13

Então do alto da colina surgiu à carruagem, os cavalos a galope sob o som do chicote, parando no mesmo lugar onde o tinha pegado antes, John desceu da carruagem e ficou do outro lado esperando que partisse, quando a carruagem se foi deixou uma nuvem de pó que cobriu John, sua mulher estava esperando que ele contasse o que aconteceu e onde ele tinha ido, mas John estava com a cara feliz e pediu água, a cara de John intrigou a família, o que poderia ser tão bom assim que deixou John com tanta felicidade? Após fazer mistério por alguns minutos John resolveu falar. _ Nossas preces foram ouvidas, Suelem tem um pretendente. – falou John com orgulho para todos ouvirem. Suelem quase desmaiou, Derik ficou pasmo sem palavras, olhou para sua irmã que também estava estarrecida com a novidade, quem poderia querer se casar com aquela menina feia? Pensou Derik. Helena Fadel arregalou os olhos e caiu sentada na cadeira que estava atrás e falou. _ O que você está falando homem? _ O conde Wesley, um nobre, ele quer se casar com a nossa Suelem. Derik olhou para seu pai e depois olhou para Suelem de baixo a cima e deu uma gargalhada dizendo. _ O pobre homem está bêbado. Mas seu pai o repreendeu mandando que calasse a boca e disse. _ Sua irmã é tão bela quanto qualquer mulher no palácio do rei ou do conde, é mais bonita até do que a rainha Elisabete, estou dizendo isso por que eu vi a rainha e falei com ela cara a cara, fiquem vocês sabendo. Todos ficaram de boca aberta não acreditando no que ouviam, mas John Fadel não era homem de brincadeiras, e raramente mentia Helena ficou pensativa, ela já tinha ouvido falar nesse homem, e na má reputação que o precedia, falam por ai que o conde era um homem cruel e que matou suas esposas, a última delas era uma jovem mulher, que acusada de adultério foi queimada viva pelo próprio conde em um ritual macabro da inquisição, mas uma mulher que trabalha no palácio disse que ouviu de alguém que o conde acusou sua esposa de adultério

Page 14: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

14

e pagou para um bispo condená-la e queimá-la na fogueira, mas seus ciúmes não eram pela moça, e sim pelo rapaz que era o amante do conde e o rapaz sumiu por uns tempos, mas retornou ao palácio dois meses depois, então o pobre rapaz também apareceu morto na cocheira, o conde arrumou outro copeiro para servi-lo. John Fadel sabia dessas historias, mas preferiu não acreditar, apesar de que nunca acreditou em nenhum fidalgo, mas dessa vez algo tinha acontecido para ele expressar tanta felicidade, isso assustava Helena, ela disse. _ John, mas..., É que..., Como pode? Ele não..., E as historias que contam sobre ele? _ São apenas historias, fique calma, nossa filha será uma condessa e nós... - John Fadel não terminou de falar. _ E nós o que John? _ Nós ficaremos bem e, muito orgulhosos da nossa filha, afinal não era isso que sempre sonhamos para ela? Por que essa aflição agora? _ Alguma coisa não está certa, eu posso sentir, eu sou mãe, eu posso sentir quando algum perigo ronda meus filhos. Suelem ouvia tudo em silencio e tremeu quando sua mãe falou sobre seu pressentimento, Suelem sentia a mesma coisa, Derik parou de rir e viu que a coisa era seria, até John se conteve na sua euforia ao ver que sua esposa olhava fixamente para Suelem que retribuía o olhar com a mesma intensidade, John continuou a falar. _ Vocês não acreditam em mim? Eu estava no jardim do palácio com o conde Wesley quando a rainha se aproximou cercada por dezenas de damas conversando com uma senhora velha, parecia ser uma mulher muito importante para estar conversando com a rainha, então ela veio até mim, quero dizer até o conde, sorriu e perguntou o meu nome, o conde deve estar de partida, porque ela perguntou quando ele partiria com seus serviçais o conde disse, - logo -, então ele me disse que a menina deveria se preparar para partir amanhã bem cedo. Helena Fadel não se conteve diante dessa noticia, abaixou a cabeça e chorou em voz alta, Suelem a abraçou com força soluçando,

Page 15: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

15

Derik não sabia se ficava contente como seu pai, afinal teria um casamento e eles e seus parentes poderiam conhecer o palácio do rei Eduardo, pois todos seriam convidados para a cerimônia, Derik não via a hora de sair correndo contando para todos que sua irmã seria uma fidalga e, certamente seriam convidados a morar no palácio e sair daquela choupana, e poderia até ser amigo do rei Eduardo, afinal o rei não tinha filhos e poderia levá-lo para morar com ele e ensinar a ser um rei e levá-lo para toda parte onde ele for, e poderia até, um dia, ser rei da Inglaterra, era o que Derik achava, mas seu devaneio se desfez com seu sorriso ao ver que sua mãe e sua irmã não estavam tão animadas assim, talvez a noticia não fosse tão boa quanto parecia, sua irmã sempre foi mais inteligente que ele e percebia as coisas antes que ele pudesse ver e sua mãe não parava de chorar, John tirou o chapéu da cabeça olhou para o Derik e saiu de perto das mulheres indo para a pocilga examinar os porcos, no fundo ele sabia que aquilo não era nada bom para sua jovem filha. Naquela noite apenas Derik conseguiu dormir, Helena chorou a noite inteira, John não ousou falar com ela, ele queria que a noite nunca passasse, Suelem tinha medo que amanhecesse e que o conde viesse e a levasse para longe de sua mãe, mas o dia finalmente raiou, Derik foi o primeiro a se levantar, foi até seus pais que ainda estavam deitados, Suelem estava arrumando suas coisas para a viagem, então sua mãe se levantou para ajudar a menina, já não chorava mais, não tinha mais lagrimas para chorar. A manhã estava fria, o sol brilhava no céu sem nuvens, o vento soprava deliciosamente balançando as folhas das árvores causando um ruído gostoso de ouvir, uma sinfonia das árvores acompanhadas pela melodia dos pássaros, o dia realmente estava esplendido, digno de um casamento de nobres, Derik, apesar do frio, estava de calça e segurava a camisa nas mãos, se deliciando com a brisa que acariciava seu corpo, acompanhando a sinfonia da natureza que se desenrolava com o vento, encostado na porta olhando para fora evitando olhar para dentro da casa onde o clima era oposto, não se ouvia mais choro, o silencio era mais dolorido, era como se anunciasse uma despedida sem volta,

Page 16: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

16

eles não sabiam, mas o pressentimento de Helena Fadel se realizaria, esse seria o ultimo dia que ela via sua filha. Derik estava na porta, de repente ele olhou para sua mãe, sabendo do sofrimento dela, e disse em voz baixa, mas que deu para Helena ouvir. _ Tem uma carruagem se aproximando. Helena não esboçou nenhuma reação, Suelem apenas olhou para o rosto dela, John Fadel correu para a porta empurrando Derik para fora da casa, à carruagem se aproximava rápido, mas não era a mesma que o tinha lavado no dia anterior, essa carruagem era menor, totalmente negra e puxada por um único cavalo também negro, o cocheiro era um homem magro e velho, cabelos curtos escondidos em baixo da cartola preta e curta, dava para ver que seus cabelos eram da cor de suas barbas, brancos, a carruagem parou em frente á porta, John estava parado sem se mexer, com os olhos arregalados arrependido do que fez, talvez ele não tivesse escolha, talvez devesse disser não ao conde, mas agora já não sabia o que fazer, se sentia um covarde, entregando a sua própria filha á um homem desconhecido, talvez Helena tivesse razão, ou talvez essa fosse a melhor coisa a ser feita para a felicidade de Suelem. A porta da carruagem se abriu uma velha senhora com um longo vestido negro saiu de lá, ela usava um véu preto cobrindo a cabeça, tinha a cara mais feia e mal humorada que John já tinha visto, a velha senhora, gorda, saltou da carruagem, com pouca dificuldade, se dirigiu ao John Fadel. _ Meu nome é senhorita Liremiz, - Falando com uma voz fina e objetiva-, sou governanta do conde Wesley, ele me mandou buscar a sua jovem futura esposa, onde está a menina? Nem acabou de falar a velha empurrou John para o lado e foi entrando na casa, sem esperar respostas ou comentários do homem que estava á sua frente, olhando para os lados fazendo caretas e limpando as mãos com um lenço de seda branca fazendo cara de nojo, como se estivesse entrando em uma pocilga, se aproximou da Suelem e disse. _ Vamos menina o conde á espera.

Page 17: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

17

Então a velha se virou e saiu sem sequer notar que havia mais gente na casa, a mãe de Suelem ajudou a menina a levar o baú para fora, a senhorita Liremiz já tinha se metido na carruagem deixando um espaço para Suelem se sentar, quando viu que traziam um baú a velha gritou. _ O que é isso? _ Minhas roupas. – disse Suelem com a voz tímida e assustada. _ Por Deus, jogue isso fora menina, isso não é roupa, isso são trapos, nem as criadas do castelo do conde vestem esse tipo de roupas, entre logo, o conde está esperando, ele não gosta de esperar. Helena segurou a mão de menina como se fosse a ultima vez, a moça sorriu enfeitando o seu belo rosto rosado, seus cabelos vermelhos estava desgrenhados, amarrados com uma velha fita azul e disse para sua mãe. _ Isso não é um adeus, eu venho visitar vocês assim que puder, com meu marido. Ela falou isso apenas para acalmar sua mãe, Suelem realmente tinha esperança de um dia voltar, se apresou ao ouvir a senhorita Liremiz gritar outra vez, as mãos de sua mãe deslizaram das suas e ela finalmente entrou na carruagem, que mal fechou a porta e o cocheiro estalou o chicote gritando com o cavalo dando ordem de partida, Derik, John e Helena ficaram assistindo a carruagem se perder no horizonte. Desde a partida da Suelem Helena chorou todos os dias, se lastimando por ter deixado sua filha partir daquele jeito sem ter feito nada para impedir, ela não acusava ninguém, mas mudou a maneira de falar com seu marido, ela não olhava mais nos olhos de John, cuidava dos seus afazeres domésticos, mas estava sempre olhando no horizonte, esperando ver a carruagem trazendo sua filha viva, o tempo passava e Helena adoecia, Derik não se conformava com aquela situarão, ele não culpava seu pai, não achava que Suelem estivesse sofrendo, alias ele achava que agora Suelem estava sendo tratada como rainha, só não aceitava o fato de sua irmã estar morando em um castelo e ele em uma choupana, por que Suelem teria se esquecido de sua família?

Page 18: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

18

Meses se passaram e John não suportava mais a indiferença de sua mulher e a falta de noticias da sua filha, então decidiu procurá-la trazer noticias para acalmar Helena, talvez conseguisse até trazê-la de volta para ver a mãe, assim Helena o perdoaria e poderia até melhorar da sua doença que a matava aos poucos. O castelo do conde ficava a quilômetros do palácio do rei Eduardo, John teria que viajar a pé, não podia levar o único cavalo que tinham, Derik poderia precisar para alguma emergência, quando John disse á Helena que iria procurar Suelem e que iria trazê-la de volta Helena recebeu um fôlego de esperança, depois de meses ela sorriu, John partiu na manhã seguinte, Derik, agora era o responsável pela casa e por sua mãe, que não se agüentava m pé. Depois de trinta dias, John Fadel retornou para casa, era noite quando ele entrou pela porta jogando o chapéu sobre uma mesa sob o olhar atento de Derik, Helena estava acordada e em um sussurro ela disse. _ Onde está a minha filha? _ Ela não pode vir, mas eu tenho noticias dela, uma criada do conde me disse que Suelem está muito bem, ela está sendo tratada como rainha e que... John não terminou de falar, Helena fechou os olhos e morreu ao lado de Derik, John se sentou em uma cadeira e chorou, Derik ficou abraçado ao corpo da mãe, mas não chorou, na manhã seguinte enterraram o corpo no bosque do rei, onde um dia foi parte de suas terras. Os dois voltaram a trabalhar na terra, dia após dia, não falavam sobre Suelem nem sobre a morte de Helena, na verdade raramente conversavam sobre qualquer assunto, ambos se culpavam pela desgraça que pousou em suas vidas, pareciam dois estranhos trabalhando lado a lado, morando na mesma casa, a falta que elas faziam era muito grande, era como se tivessem arrancado às pernas e os braços dos dois, com o passar dos meses John começou a freqüentar a taberna da cidade onde negociavam seus animais, passou a trocar porcos por bebidas, logo não tinham mais nenhum porco na propriedade as plantações morreram por falta de cuidados as galinhas

Page 19: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

19

desapareceram roubadas ou devoradas pelas raposas, John passou a mendigar bebida, por varias vezes Derik foi buscá-lo caído nas ruas ou preso por perturbar a paz ou em prostíbulos, passava dias sem voltar para casa dormia em qualquer lugar onde caia, Derik estava só, trabalhava tentando manter a propriedade, um dia quando Derik estava levando seu pai embriagado de volta para casa eles conversaram por alguns minutos, John falou. _ Quero ti contar o que aconteceu com a nossa família, você já é um homem, quantos anos você tem mesmo? _ Estou fazendo quinze hoje. – falou com lagrimas nos olhos. _ É, você já é mesmo um homem, eu fui enganado pelo conde, ele me prometeu que nos deixaria ficar nessa maldita terra e nos daria salário para continuar trabalhando aqui, como se fossemos seus criados, em troca eu deveria deixá-lo levar Suelem, ele me disse que queria se casar com sua irmã e daria a ela a vida que nunca teria aqui, mas quando ela se for ninguém poderia saber que ela é filha de camponeses, ele daria a ela um titulo de condessa e diria a todos que ela é uma parenta distante que veio morar em seu palácio, eu sabia que Suelem nunca mais voltaria para ver sua mãe, mas eu achei que fosse melhor para ela afinal ela iria se tornar uma condessa e poderia tirar sua mãe dessa vida dura que vivemos, até tirar você daqui e levar com sua mãe para morar com ela no palácio do conde e lhe dar tratamento medico que ela tanto precisa, mas quando eu fui procurar pela sua irmã eu não pude nem chegar perto do palácio, os soldados não me deixou nem falar e me expulsaram aos socos e chutes como se eu fosse um ladrão ou coisa pior, eu não tive coragem de voltar para casa sem noticias de Suelem eu sabia que sua mãe não iria aquentar e agora ela está morta. Derik apenas ouviu calado, ficou olhando enquanto seu pai voltava para a taberna mendigar mais bebida essa foi a ultima vez que Derik o viu. Um ano depois, um coletor de impostos passou pelas terras, que um dia foi da família Fadel e doada ao conde Wesley, Derik estava sozinho, sua família estava perdida para sempre e a propriedade estava abandonada, Derik se alimentava de peixes que conseguia pescar e

Page 20: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

20

raízes que ele encontrava no bosque, todos os animais que tinham foram consumidos, ele não tinha tempo e nem vontade de limpar a casa e nem a propriedade, o rapaz estava sujo, e não tomava banho há muito tempo, já estava cheirando mal, a beira da loucura estava ficando doente. A noticia do abandono das terras pela família Fadel chegaram aos ouvidos do conde através dos coletores de impostos, Wesley mandou soldados para expulsar o rapaz da propriedade e demolir a casa onde um dia foi o lar de uma família feliz, em uma manhã enquanto Derik dormia em uma cama empoeirada e fria, bateram na porta com violência, Derik não teve tempo de se levantar e arrombaram a porta, eram os soldados enviados pelo conde, assustado com a inesperada visita Derik esfregou os olhos e passou a mão pela cabeça desarrumando os cabelos, seu cheiro se confundia com o cheiro da casa, dois soldados o pegaram pelos braços e o arrastaram para fora fechando a porta, Derik caiu de cara no chão, se levantou e viu um soldado em sua frente, era um capitão que abriu uma folha de papel que estava enrolado em sua mão e leu para o rapaz ouvir, assim como fizeram da outra vez que estiveram lá e falaram com seu pai, ao acabar de ler o papel, que Derik não prestou a menor atenção, o soldado lhe falou. _ Muito bem rapaz, você entendeu o que eu ti disse? Então é melhor não voltar mais aqui. Derik não teve tempo de pegar nada, e nem quis pegar, apenas se pôs em pé e saiu caminhando pela estrada, a casa ficou para trás com seus sonhos e planos, seu passado e seu futuro, sua família, tudo tinha ficado para trás, faminto e desolado, Derik estava andado pela estrada quando os soldados que o tinha expulsado passaram por ele montados em cavalos, Derik andava cambaleando, de repente o capitão deu uma ordem e pararam á sua frente, o capitão voltou e falou para o rapaz. _ Você é Derik Fadel, filho de John Fadel? Eu conheci sua família, seu pai era um grande amigo depois que sua irmã foi levada e sua mãe faleceu o John passou a freqüentar a taberna... - o capitão não sabia o que dizer e fez uma pausa antes de continuar a falar, - você tem para onde ir rapaz? – Derik continuava andando em silencio, passando

Page 21: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

21

pelos soldados, _ você já pensou em entrar para o exercito? –falou o capitão, - lá o trabalho é pesado, mas tem três refeições por dia, roupas limpas e um lugar para dormir, quando você acostumar vai ver que é um bom lugar. O capitão parou de falar diante do silencio do rapaz e continuou o seu caminho pela estrada, Derik não tinha para onde ir, o exercito era uma opção viável se dirigiu a caminho da cidade, teria que se alistar o mais rápido possível, então Derik apresou os passos. CAPITULO II

Derik no exercito

Derik se alistou e foi enviado para uma tropa que servia na costa protegendo a Inglaterra de invasões pelo mar, dando apoio às tropas que protegiam o porto, sob o comando do capitão Johnson, um homem alto e forte honesto muito correto e rigoroso, tratava os soldados com autoridade e disciplina, não tolerava falta e nem brincadeiras por parte dos soldados, mas tinha que tolerar, pelo menos por parte, dois soldados, o sargento condecorado por bravura em duas guerras, seu nome era Tom Gregori, o outro era um assassino que foi condenado à morte, mas lhe deram a oportunidade de escolher entre a morte ou ir para a guerra, ele tinha uma esplendida capacidade de matar pessoas, não se podia desperdiçar um talento como aquele com o país em guerra, e recebeu varias medalhas por bravura, seu nome era House Taner, House liderava um grupo de soldados que praticavam pequenos delitos nas redondezas do acampamento, nesse grupo de criminosos estava um solado boxeador, Big Jô, campeão por vários anos seguidos no campeonato interno de boxe no exercito, House organizava torneios anuais de luta de Box contra outras tropas, e ganhava muito dinheiro com as apostas que ele sempre ganhava, de um jeito ou de outro, Big Jô sempre lutava sob o olhar do general Ferguson, que ficava com parte do lucro das apostas e dava imunidade para House Taner e seus amigos, isso deixava o capitão Johnson furioso, mas de mãos atadas.

Page 22: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

22

House Taner e três dos seus seguidores, o pugilista Jonas Trever conhecido como Big Jô, o sargento Tom Gregori, e um jogador de pôquer Ernesto Kennedy um soldado conhecido como rato, ganhou esse apelido por causa da sua cara redonda e os dentes salientes como de um roedor, e suas orelhas enormes de abano que se destacavam na cabeça de poucos cabelos sempre de boné do exercito, mas dizem que o apelido é porque ele é um exímio ladrão, esse é o grupo de House Taner. Em uma noite, eles escaparam do acampamento com a ajuda de uma sentinela, estava chovendo muito e não foi difícil para eles saírem pela estrada principal, a sentinela e todos da tropa tinham medo de House Taner, muitos acidentes poderia acontecer por ali, embora todos soubessem que sempre tinha a mão do grupo do House, assim eram chamados, ninguém ousava desafiar ou delatar esses homens, as mortes costumavam ser esquecidas facilmente, e ninguém era punido, ficava como acidente, nessa saída do grupo eles foram para uma pequena vila de pescadores a poucos quilômetros do acampamento, eles tinham nos olhos o brilho do demônio, e suas intenções eram mesmo a do demônio, dois dias antes sua tropa saiu em patrulha pela praia e chegaram a esse vilarejo, House viu uma jovem que limpava a frente de sua casa, ele fez um gracejo para a moça, mas ela era casada e seu esposo, um jovem pescador, viu e chamou House de soldadinho desgraçado, House não iria deixar essa ofensa passar desse jeito; arquitetou seu plano, nessa noite tempestuosa pôs em ação, convocou o seu grupo correram até o vilarejo a cada passo aumentava seu ódio e o desejo de matar o pescador e sua jovem esposa, chegaram a pequena choupana, armados com espadas, o ritual estava para começar, a choupana era pequena e o casal estava dormindo em um pequeno quarto, o grupo de assassinos entraram pela porta, o ruído da forte chuva facilitou a invasão, quando o pescador percebeu já estavam em cima do casal com as espadas encostadas em sua garganta, eram profissionais na arte da emboscada, o pescador não teve tempo de reação só entendeu o que estava acontecendo quando House acendeu uma vela e o pescador o reconheceu, então House falou.

Page 23: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

23

_ Agora você vai ver quem é soldadinho desgraçado. Um soldado segurou o rapaz, enquanto dois agarraram a moça com força tampando-lhe a boca impedindo que gritasse amarrando-a com cordas, voltaram-se para o rapaz amarrando-o, House pegou uma faca afiada e com a ajuda dos outros abriram a boca do rapaz e House cortou-lhe a língua, em seguida tiraram as roupas da moça e os quatro a violentaram usando de muita violência, o terror vivido por esse casal durou a noite inteira, quando largaram a moça ela estava morta, o final do ritual liderado por House era a empalação do casal que ficaram expostos no lado de fora de sua casa ate o amanhecer, quando foram vistos pelos pescadores que saiam para o mar. Quando a noticia chegou ao acampamento o capitão Johnson se lembrou do acontecido dias antes, interrogou todos os soldados, mas todos juraram que ninguém deixou o acampamento no dia do crime, isso aumentou o pavor que tinham do grupo do House. Derik chegou nesse acampamento no dia da investigação da morte do casal de pescadores, a tropa estava agitada, o capitão estava tenso, mas foi receber Derik, o capitão falava alto como se quisesse intimidar o recruta, chamou um soldado e mandou que mostrasse o forte para Derik e logo depois se prepararam para o almoço, Derik estava faminto e comeu sua refeição muito rápido, um dos soldados que estava ao seu lado observou Derik comer e lhe ofereceu o seu prato, Derik estava magro dava para se ver que ele não comia algo a muito tempo, e se apresentou. _ Eu sou Fred, você é novo aqui não é rapaz? Fred era um rapaz de uns trinta anos, um experiente soldado que já participou de algumas missões e dava as boas vindas ao Derik. _ Meu nome é Derik, - falou de boca cheia. _ Quando você acabar de comer vou ti mostrar tudo por aqui. Assim Derik fez sua primeira amizade dentro do quartel. O quartel era em um pátio cercado por muros de dois metros de espessura, e um metro e oitenta centímetros de altura, o forte foi construído no alto de um morro com uma visão ampla do mar, no centro do pátio tinha uma casa onde funcionava o centro de comando do forte, a casa era usada pelo capitão e pelo general quando os visitava em inspeção de rotina,

Page 24: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

24

com vários canhões espalhados em torno do muro, pelo pátio se espalhava as tendas dos soldados, muitos dos soldados não ficavam muito tempo nos lugares aonde iam, estavam sempre a caminho do próximo acampamento, onde ficavam por cinco meses, nesse forte já estavam á um mês. Fred não tinha muito que mostrar ao Derik, o local era pequeno e alem da casa de comando só havia tendas e mais tendas, Derik recebeu uma, com a ajuda do seu amigo Fred ele encontrou um lugar e armou sua tenda, perto do seu novo amigo, quando terminaram de armar a tenda um jovem soldado chegou correndo e disse ao Derik. _ O capitão esta chamando o soldado Derik Fadel, ele está na casa de comando. _ É melhor você ir correndo o capitão não gosta de esperar. –disse o soldado Fred. Derik correu o mais rápido que pode, ele já sabia onde ficava a casa de comando, Fred já tinha lhe mostrado, ao chegar à porta estava aberta e o capitão estava sentado em uma cadeira atrás de uma mesa, de frente para ele estava, em pé, o sargento Tom Gregori, ambos esperavam pelo soldado Derik Fadel, Derik parou em frente à porta, tirou o chapéu da cabeça e esperou ser convidado a entrar, mas em vez disso Derik ouviu um grito do capitão. _ porque está sem sua farda, volte para sua tenda e vista sua farda. – gritou o capitão. _ Sim senhor. - respondeu Derik e voltou correndo para se vestir, mas não passou nem dez minutos e ele já estava de volta na porta da casa olhando para o capitão. _ Você é muito rápido rapaz. –disse o capitão. _ Rápido demais. –falou impressionado o sargento Tom Gregori. _ Já sei aonde vou por você, - falou o capitão ao sargento, - ele será o mensageiro da tropa, e ficara ao seu comando, podem se retirar. O sargento saiu e chamou Derik para acompanhá-lo, foram para a tenda do sargento, a tenda era grande, cabiam dez homens de pé e tinha uma mesinha com uma cadeira pequena atrás, o sargento se sentou na cadeira pegou alguns papeis deu ao mensageiro Derik. _ Leve isso para o forte princesa Margareth. –falou o sargento.

Page 25: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

25

_ Senhor, eu não sei onde fica o forte Princesa Margareth. - respondeu Derik. _ Se vira rapaz, você agora é o mensageiro, vai. Derik correu com o papel na mão, foi procurar seu novo amigo e perguntar onde ficava esse forte, Fred deu os parabéns ao rapaz pelo cargo que tinha conseguido e lhe deu a direção correta que acabou de ouvir e saiu correndo pelo portão do forte. Seis horas depois Derik estava de volta, já era noite quando ele chegou e se pôs em frente à tenda onde o sargento dormia, chamou pelo sargento que acordou assustado e perguntou. _ O que você quer? Quem é você? _ Sou o mensageiro, senhor, trouxe uma mensagem do general Ferguson para o capitão, eu não sabia se devia entregar para ele ou para o senhor, então eu vim aqui primeiro. -respondeu Derik, cansado da viagem que fez a pé. _ Pode deixar que eu levo para ele de manhã, agora vai dormir. O forte Princesa Margareth ficava a trinta e cinco quilômetros dali, Derik apesar de fraco e com fome, correu sem parar todo o caminho, agora ele estava exausto, foi para sua tenda, que era pequena, feita de lona leve impermeável, com uma abertura para ele entrar de joelho e se deitar, a tenda tinha apenas dois metros de comprimento, o suficiente para apenas um homem, cobrindo o chão tinha uma lona impermeável e uma sacola com um uniforme limpo e um cobertor, tudo pequeno e leve que cabiam em uma mochila grande, para que um soldado pudesse carregar em suas caminhadas, Derik caiu sobre a sacola cheia de roupas e adormeceu. Derik dormiu por apenas duas horas, acordou com o som de uma trombeta que acordava todos os homens, acordou contra sua vontade seus olhos ainda teimavam em permanecer fechado, mas Derik se levantou, ele ainda estava de uniforme só precisou se apresentar na fila com os outros e receber as ordens do dia com um fuzil nas mãos, Derik foi para um lado do muro, sua missão era vigiar o lado norte do forte que dava para o mar, o dia estava nascendo e Derik pode ver o sol surgindo no horizonte, vermelho aquecendo a manhã fria de outono, ele estava cansado e com sono, tentando ficar acordado e

Page 26: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

26

manter os olhos abertos, andando de um lado para o outro, então seu amigo Fred apareceu ao seu lado e disse. _ Vou ficar aqui, você vai tomar café. – falou com um sorriso largo. _ Muito obrigado amigo. – respondeu Derik. Ainda estava com a caneca de café quente na mão quando o sargento apareceu com um envelope na mão e disse. _ Pegue isso e entregue ao capitão Robert Willian no porto. Derik largou a caneca de café pegou o envelope e saiu correndo pelo portão do forte, dessa vês não perguntou nada para ninguém ele sabia onde ficava o porto, só precisava achar o tal capitão Robert Willian, o porto não ficava muito longe, ele foi e voltou antes do almoço, Derik estava com muita fome quando chegou foi direto falar com o sargento e entregar a resposta do capitão Robert Willian, o sargento Tom Gregori olhou nos olhos do Derik e o levou para a tenda onde serviam as refeições e perguntou. _ Você almoçou soldado? _ Não senhor. Então o sargento deu ordem ao cozinheiro para dobrar a refeição do mensageiro e deu o resto do dia para que ele pudesse descansar nesse dia Derik pode relaxar e recuperar suas forças. Os dias se passaram e Derik continuava com suas missões, às vezes duas ou três por dia, quando não tinha mensagens a ser enviadas Derik fazia trabalhos no forte, como sentinela no muro olhando para o mar, ou saia em patrulha nos vilarejos à beira mar, em busca de criminosos e piratas que se escondiam por lá, os soldados eram também a policia local, saiam sempre em grupo de cinco soldados, em seu grupo estava o seu amigo Fred, o simpático Mike, o gigante e gordo Big Palmer, o velho senhor Donald que chefiava o grupo com seu uniforme negro de botões dourados e um chapéu de abas largas e botas brilhantes, em sua cintura tinha uma longa espada de cabo prateado, bem diferente dos outros soldados que tinham os uniformes azuis bonés também azuis, botas marrom de couro, suas espadas eram igualmente longas, mas com o cabo escuro e sem brilho, visivelmente gastas com o tempo, herança de soldados mortos em batalhas, e seus inseparáveis fuzis com uma baioneta na ponta, os soldados traziam no ombro um alforje

Page 27: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

27

com munição e mais uma arma curta, em geral uma pistola, igual a que levavam na cintura ao lado de um cantil cheio de água, caminhavam desde a amanhã até a noite se alimentavam de pão que traziam em uma sacola pendurada no outro ombro. Um dia ao voltar para o forte Derik teve uma surpresa, o sargento o chamou e lhe deu uma égua baia, alta e esquia de pernas compridas e pelos brilhantes, crina curta e uma longa calda, Derik ficou encantado com o seu animal, o sargento lhe disse. _ De agora em diante você fará as entregas a cavalo, essa será sua responsabilidade. –disse isso e saiu satisfeito. Derik ficou horas escovando a égua, dando água e feno, não via à hora de aparecer uma mensagem para entregar. No dia seguinte Derik acordou com o chamado do sargento, o sol ainda não tinha surgido no horizonte, era uma missão. _ Levante-se mensageiro, sele seu cavalo e vá à casa de comando. –disse o sargento. Mais que depressa Derik se levantou, afinal ainda não tinha dormido, selou sua égua e foi depressa a casa de comando, lá estava o capitão e o sargento esperando por ele. _ pegue isso e leve o mais rápido possível a Londres, entregue no palácio do rei Eduardo. –disse o sargento ao Derik, entregando para ele um alforje parecendo estar vazio. Derik pegou o alforje montou na égua e saiu em disparada em direção a Londres, Derik não sabia que a égua era tão rápida, ele não estava acostumado a montar e logo sentiu as conseqüências, mas não diminuiu a velocidade, isso estava emocionante demais para parar por causa de um desconforto qualquer. Foram horas de cavalgada, Derik queria chegar rápido ao palácio e retornar para o forte e ser elogiado pelo sargento, quem sabe receber uma condecoração por bravura como aqueles velhos soldados cheios de medalhas, era o que Derik pensava. Cinco horas depois Derik se aproximava de Londres, atravessando as ruas empoeiradas, torcendo para que algum dos seus amigos o visse em seu uniforme de soldado, montado em uma bela égua baia a serviços do rei Eduardo, gritando com a égua fazendo o animal

Page 28: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

28

galopar com mais velocidade, a dor que o rapaz sentia era tanta que parecia que seu corpo iria rachar ao meio, ao chegar ao portão do palácio freou a égua com tanta força que quase caíram frente ao enorme portão fechado. _ Quem vem lá, soldado. –gritou uma sentinela parado com um fuzil na mão achando que o cavaleiro não conseguiria parar a sua montaria. _ Mensageiro, vim do forte Rei Charles, tenho uma mensagem. –mas Derik não sabia para quem era a mensagem, não se lembrava se o sargento lhe tinha dito para quem era. Outra sentinela que estava parado no portão se aproximou pegou o alforje e entrou pelo portão. Derik se esforçou para descer da égua, fazendo careta e quase caiu de lado. _ Você é novo nesse trabalho não é? –disse o soldado que ficou montando guarda. _ É, ainda estou tentando me acostumar com o trabalho. _ Meu nome é Willian. _ O meu é Derik. Quando o soldado entrou e abriu o portão Derik viu uma coisa que o fez arrepiar, era uma carruagem, a mesma que estivera na sua casa anos atrás, Derik perguntou. _ O conde Wesley esta no palácio? – o que ele queria saber mesmo é se sua irmã estava no palácio, mas não teve coragem de perguntar. _ A noticia ainda não chegou aos fortes? _ Que noticia? _ Do casamento do conde com sua sobrinha Sophie. Derik ficou confuso, será que sua irmã teria sido dispensada e o conde arrumou outra mulher? Ou será que sua mãe estava certa e o conde matou a pobre Suelem? _ O casamento será aqui no palácio, na semana que vem. –falou Willian. Derik ficou calado esperando que o outro soldado voltasse com uma resposta.

Page 29: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

29

Já eram seis horas de tarde, o sol estava se pondo, escondendo-se no horizonte avermelhado, passou-se quatro horas desde que o soldado entrou com seu alforje pelo portão, de repente o portão se abriu e o mesmo soldado estava de volta com o alforje, dessa vez parecia que tinha muita coisa dentro, estava pesado, Derik olhou para o céu, queria se assegurar que poderia voltar ao forte na escuridão, ao sul formou nuvens escuras, era um prenuncio de tempestade, e a idéia de montar de novo não era muito boa. Mesmo com dor ele montou na égua, mas dessa vez foi mais de vagar a dor não permitia que fossem mais rápido, a caminhada de volta durou o dobro do tempo era madrugada quando ele chegou ao forte, foi direto a tenda do sargento que acordou com cara de poucos amigos pegou o alforje sem falar nada e voltou a dormir, Derik esperava pelo menos um muito obrigado, mas saiu desapontado para tirar a sela da égua e dormir um pouco, quando estava tirando a sela começou a chover, agora ele estava com muita dor no corpo e estava ficando molhado, não parava de pensar na sua irmã, o que será que aconteceu com a Suelem? No dia seguinte Fred se aproximou de Derik e contou às novidades que aconteceu no dia anterior na sua ausência. _ Rapaz, ontem a coisa ficou feia aqui, o capitão chamou o House Taner e o ameaçou de prendê-lo, por causa de um assassinato que aconteceu antes de você chegar aqui, o capitão disse que o House não escaparia dessa com facilidade, mesmo com a proteção de algumas pessoas, o capitão falava serio. Derik não respondeu, ainda estava com a cabeça e o corpo dolorido e sua irmã ainda estava tirando seu sossego, o que será que aconteceu com ela? – pensou -, ele se lembrou do pressentimento que sua mãe teve no dia que seu pai trouxe a noticia do casamento de Suelem, será que sua mãe estava certa? O dia foi calmo para Derik, apesar do tumulto que virou naquela tropa com House Taner e seu grupo cochichando pelos cantos conspirando contra o capitão, mas Derik seguia sua vida rotineira, o que ele não sabia é que fazia parte do plano de vingança do grupo do House contra o capitão. Dois dias depois, em uma manhã, Derik

Page 30: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

30

recebeu uma missão, levar uma mensagem para o general Ferguson, coisa de rotina o relatório que o capitão fazia todas as semanas, dizendo que estava tudo bem, relatando alguma novidade ou pedindo provisões para os soldados, mas nessa manhã estava para acontecer algo que mudaria a vida de Derik para sempre. Derik estava preparando sua égua para partir com o alforje pendurado no ombro, quando um soldado surgiu em sua frente com um papel na mão, o soldado estava visivelmente nervoso e preocupado, olhava para os lados assustado com medo de alguém o ver falando com o mensageiro. _ O capitão esqueceu esse papel e mandou que você o colocasse junto com as outras cartas. – disse o jovem soldado, entregando o papel na mão de Derik e saiu disfarçadamente evitando chamar a atenção das pessoas. Derik pegou o papel o colocou no alforje e montou na égua, seu corpo ainda doía, mas estava se acostumando com a dor e com a sela, cavalgar não era tão divertido assim como parecia, ao sair pelo portão Derik olhou para trás e viu o soldado que lhe entregará o papel conversando com House Taner e o boxeador Big Jô, no momento não deu muita atenção parecia normal, mas Fred já havia alertado Derik sobre as artimanhas do grupo de House. House Taner deu inicio a sua vingança contra o capitão Johnson, Derik era apenas uma pedra desse tabuleiro de tramas. Cinco horas depois Derik estava no palácio do rei entregando o envelope à sentinela do portão, não eram os mesmos soldados que estiveram ali da outra vez, esse que ficou com Derik não falava, era serio e mal humorado, como se não gostasse do que estava fazendo, Derik achou melhor ficar em silencio, dessa vez a resposta demorou mais pra chegar, Derik ficou mais de seis horas esperando no portão, por varias vezes o portão se abriu e muitas pessoas entravam e saiam, o movimento era intenso Derik queria conversar com a sentinela que o vigiava, mudo como uma árvore, mas era claro que havia algo de anormal no palácio, não apenas pela demora em lhe darem a resposta da mensagem, mas também pelo movimento excessivo no portão, ele nunca demorou tanto em uma missão, os mensageiros tinham que

Page 31: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

31

voltar rápido para seu ponto de origem, e todos sabiam disso, ele lembrou-se do papel que o jovem soldado lhe entregará antes de partir, o que será que tinha nesse papel? Será que era mesmo do capitão? Finalmente a sentinela voltou acompanhado por um homem vestido de vermelho, o homem de vermelho se aproximou e entregou o alforje, parecia estar cheio de pedras de tão pesado que estava, entregou ao rapaz e voltou para dentro sem dizer uma só palavra. Montado em sua égua Derik galopou de volta ao forte chegando ao amanhecer. O sargento Tom Gregori estava em pé na porta da casa de comando, ao ver o mensageiro chegar entrou na casa, Derik foi até lá e bateu na porta que estava fechada, ouviu a voz do sargento mandando entrar, Derik entrou e entregou o alforje ao sargento e saiu, estava muito cansado e com sono e sabia que não poderia dormir durante o dia, e por isso depois de tirar a sela da égua e levá-la ao estábulo junto dos outros animais ele voltou e ficou por perto da casa a espera de ordens, mal chegou perto da casa a porta se abriu e o sargento o chamou com um grito, sem saber do que se tratava, mas sabendo que era sobre a demora no palácio, Derik herdou o sentido de premunição de sua mãe. _ Quem lhe deu esse papel aqui rapaz. –falou o capitão Johnson com a voz calma. Derik olhou para o sargento e pensou antes de falar, sob os olhares atento do capitão. _ Um soldado me entregou antes que eu saísse do forte. –respondeu Derik. _ Que soldado? – interrogou o sargento. _ Não sei o nome dele senhor. _ Venha comigo vamos procurar esse soldado. - disse o sargento saindo da casa com Derik ao lado, o capitão ficou na casa escrevendo em uma folha de papel branco. Ao saírem da vista do capitão o sargento pegou Derik pelo braço e disse. _ Escute bem rapaz, você não teve culpa nenhuma no caso, mas sugiro que fique calado e responda somente o que lhe perguntarem e,

Page 32: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

32

cuidado com o que vai responder, não seria bom ter inimigos nessa tropa entendeu o que eu disse? Derik ficou calado como mandou o sargento, sem saber o que faria daqui a diante, por um minuto andou sem destino dentro do forte, até encontrar com House Taner, que o olhou com um sorriso maligno e virou de costa para Derik, então se lembrou do que Fred havia lhe dito que não deveria de maneira alguma atravessar o caminho de House Taner e seu grupo, se quisesse viver, ninguém deu ordens ao Derik naquele dia, era como se ele não existisse naquele lugar, ele se sentou para comer com os soldados, bebeu e ficou andando de um lado para o outro sem nada para fazer, conversava com alguns soldados, mas ele não podia se sentar e nem dormir, assim o dia passou e a noite chegou, os grupos de patrulhas retornaram fizeram mais uma refeição e foram todos dormir. Antes do amanhecer, todos estavam de pé ao chamado da trombeta, Derik dormiu bem, apesar dos acontecimentos do dia anterior, ao sair da tenda se pôs na fila para receber instruções como fazia todos os dias, o sargento mandou que preparasse a égua, pois tinha mensagens a ser entregue, ele obedeceu achando que tudo estava resolvido, afinal como disse o sargento ele não tinha nada a ver com aquilo, bastava ficar calado e tudo se resolveria, ficou parado ao lado da égua bem alimentado e com o cantil cheio de água, a égua também estava pronta e ainda mastigava um punhado de feno, dessa vez Derik pegou um bocado a mais de comida para levar consigo, não queria passar fome de novo não sabia pra onde seria mandado. Então chegou a ordem, o sargento chegou sorrindo e disse. _ Você vai levar essa mensagem de volta para o palácio e entregar pessoalmente ao general Ferguson, - depois de uma pausa enquanto Derik montava o sargento falou baixinho-, não se esqueça de ficar calado, só fale se perguntarem e cuidado com o que vai falar. Sob essas ordens Derik saiu devagar com sua égua, na porta da casa de comando o capitão o observava de pé, Derik desviou o olhar para o portão a sua frente e saiu aumentando a velocidade do animal batendo com o calcanhar nas virilhas da égua baia, - o que será que o sargento quis dizer com não falar nada só responder o que lhe

Page 33: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

33

perguntarem e tomar cuidado com o que falar -, pensou com um nó na garganta, estava muito confuso, agora teria que voltar para o palácio, desta vez parecia que o caminho estava mais curto, talvez por estar com medo do que iria acontecer com ele no palácio, o que iriam perguntar para ele que deixou o sargento com tanto medo do que ele poderia falar? logo se viu diante do portão do palácio, as sentinelas eram os mesmos do outro dia, mas dessa vez o soldado que pegava as correspondências leu um papel colado no alforje que Derik nem tinha percebido que estava colado ali, mandou abrir o portão e mandou que o rapaz o seguisse, aquilo foi estranho, saltou da égua e seguiu o soldado que ia a sua frente com o uniforme igual ao seu passando por jardins em direção a uma casa comprida e branca, então Derik viu algo que o fez parar, em um grupo de mulheres vestidas de branco havia uma jovem sorridente vestida de azul, em sua cabeça um chapéu também azul enfeitado com flores pequenas de varias cores se aquecendo ao sol, era Suelem, sua irmã, o soldado que estava a sua frente o pegou pelo braço e disse. _ Você está maluco? Não pare e não olhe para as mulheres, você sabe quem são? É a rainha Elizabete, a princesa Débora e a condessa Sophie, a condessa Sophie se casou ontem com o conde Wesley e se alguém te vir olhando para elas desse jeito você pode ser preso, continue a andar em silencio. Agora Derik estava cada vez mais confuso, aquela não era condessa Sophie e sim sua irmã Suelem, por que ela estava sorrindo enquanto sua mãe está morta seu pai se desgraçou na bebida e seu irmão passava fome, como sua irmã poderia ser tão insensível, de repente um homem se aproximou, o mesmo que lhe trouxe o alforje da ultima vez, o soldado que o levará até lá cochichou no ouvido do homem de vermelho que com um gesto mandou que Derik o seguisse, estava ficando cada vez mais estranho, o soldado disse. _ O animal fica comigo. Então Derik acompanhou o homem, entraram na casa branca comprida, tinha um corredor que atravessava toda casa, com portas em toda sua extensão, o homem bateu em uma das portas, em seguida entraram por ela, lá estava um grupo de homens sentados em torno de

Page 34: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

34

uma mesa, parecia ser alguma coisa importante, todos de uniforme negro e todos eram velhos, o mais moço deveria ter uns cinqüenta anos, o homem de vermelho mandou que Derik esperasse na porta, pegou o alforje pedindo licença, Derik olhou para o homem que pela primeira vez falou com ele, parecia que o homem estava receoso em pegar o alforje das mãos do mensageiro, Derik gostou disso, parecia que finalmente alguém demonstrou um pouco de respeito para com ele, o homem levou o alforje para um velho que se sentava na ponta da mesa, o velho pegou e abriu olhando desconfiado para Derik que aguardava em pé na porta, o silencio se apoderou da sala, enquanto o velho general lia com paciência as folhas de papel sem esboçar nenhuma reação, ao terminar de ler pegou uma folha de papel em branco e começou a escreve, ele escrevia rápido, folha após folha, Derik contou sete folhas, pôs tudo no alforje e entregou ao homem de vermelho que aguardava atrás dele sem sequer olhar para trás, o homem entregou o alforje nas mãos do mensageiro e o levou de volta a sua montaria, que por sua vez foi escoltado pelo soldado que o levará até lá, de volta ao portão, Derik procurou pela condessa para tirar a duvida de que era ou não sua irmã, mas não viu nada e logo o portão se fechou atrás dele. Montado em sua égua Derik retornou ao forte, aliviado por ninguém ter perguntado nada e ele não ter se complicado mais do que já estava, tudo parecia estar bem. À tarde Derik chegou ao forte, com menos dor e menos cansaço, entregou o alforje ao sargento sob o olhar do capitão, o sargento imediatamente levou-o para a casa de comando, Derik foi cuidar da égua que pingava suor, aliviado por tudo ter dado certo e ninguém ter gritado com ele dessa vez. Passaram-se dois dias com aparente tranqüilidade, quando em uma manhã o sargento mandou chamá-lo na casa de comando, ao entrar, pensando ser mais uma mensagem, Derik se viu no meio de outros soldados, eram House Taner, Big Jô, o jogador Rato, sargento Tom e o capitão, então o capitão disse. _ Senhores tenho ordens para enviar soldados para uma missão especial, o conde Wesley vai partir em uma viagem a África e

Page 35: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

35

precisam de soldados para tripular o navio de escolta, estou enviando os senhores para essa missão, vocês serão coordenados pelo sargento Tom Gregori que os acompanhará nessa missão, partirão agora mesmo, o sargento dará as instruções. Acabando de falar todos se retiraram da casa e foram desmontar suas tendas e arrumar suas mochilas, Derik não podia acreditar no que estava acontecendo, de repente perdeu seu cargo de mensageiro que ele considerava importante, perdeu os passeios a cavalo e principalmente perdeu sua adorada égua. CAPITULO III A viagem para a África Suelem estava casada, mas com outro nome, agora ela se chamava Sophie, a condessa Sophie, esse é o nome que o conde escolheu para ela, escondendo a origem pobre de sua mulher, dizendo para todos que a menina era filha de um primo distante que morreu em um ataque de ladrões, deixando a menina aos seus cuidados e que o casamento era para assegurar o futuro da menina, mas o que acontecia ali era mais terrível que um casamento com um velho de maus hábitos. No dia em que Suelem foi levada da casa dos seus pais, pela governanta, senhorita Liremiz, começou o sofrimento da moça, dentro da carruagem a caminho do castelo do conde Wesley Suelem foi agredida com tapas na cara e ofendida pela governanta que alimentava uma paixão pelo conde e descarregava o seu ciúme em cima da moça, já que o conde jamais se interessaria pela velha e mal humorada governanta, alias o conde não se interessava por mulher nenhuma, seus casamentos eram simplesmente para encobrir seus verdadeiros desejos. Suelem e a governanta chegaram ao palácio Wesley dois dias antes do conde, que permaneceu no palácio do rei Eduardo, assim a governanta teve tempo para lavar, arrumar roupas elegantes, perfumar e ensinar algumas coisas para Suelem, então o conde poderia apresentá-la aos seus amigos e levá-la aos banquetes que regularmente

Page 36: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

36

ofereciam a ele por questões diplomáticas, forçada a permanecer presa no palácio sem ter contato com ninguém, qualquer estranho que se aproximasse de Sophie e conversasse com ela poderia perder a vida, e ela era vigiada por duas meninas que eram suas damas de companhia, uma de cabelos cor de ouro se chamava Cristina e tinha treze anos, a outra com cabelos mais escuros se chamava Laura com quinze anos, eram irmãs e, a governanta que entre outras coisas especializou em torturar as meninas com agressões e terror psicológico apoiada pelo conde, seu dever era manter as jovens longe dos copeiros que o serviam em todos os sentidos. Suelem, que agora se chamava Sophie, ficou dois anos aprendendo a ser uma condessa, até que um dia foi anunciado o seu casamento, a festa foi no palácio do rei, mesmo contra a vontade da rainha, que conhecia o futuro da jovem noiva, a morte da outra esposa do conde ainda não tinha sido bem explicada, a rainha sabia quais foram as circunstancia, mas como rainha não podia fazer nada, já que tudo aconteceu sob a aprovação do rei, mas ela não perdoava o conde e lhe deu um aviso no dia do anuncio do seu casamento falando ao seu ouvido enquanto o cumprimentava na presença do rei, ela disse. _ Eu não espero que essa moça seja feliz, pois sei que isso seria impossível casando-se com um pervertido como o senhor, mas peço a Deus que não aconteça o mesmo que aconteceu com a minha amiga Margareth, pois se isso acontecer eu darei um jeito de que o senhor pague pelos seus crimes, isso eu juro. O rei Eduardo estava muito perto e ouviu o que a rainha disse, ela não se esforçou para que o rei não ouvisse, alias, ela fazia questão que o rei ouvisse o que tinha pra dizer ao conde, assim a rainha mostrou que o rei não a impediria de cumprir sua promessa, o conde apenas ria e fingia que estava tudo bem, mas por dentro ele tinha medo da rainha, ele conhecia a influencia que ela tinha sobre o rei Eduardo, o rei a amava mais que tudo na sua vida e, a rainha também o amava, embora o casamento tenha sido arrumado pelos seus pais sem que eles se conhecessem e mesmo não podendo ter filhos por causa de um acidente que o rei sofreu quando era criança, ele caiu de um cavalo enquanto aprendia a montar e teve os testículos esmagados em uma

Page 37: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

37

cerca de madeira, foi socorrido pelo seu amigo Wesley que aprendia a montar com o jovem príncipe, agora rei da Inglaterra tinha que se casar, mas como explicar a rainha que ele não podia ter filhos, e nem assumir seu papel de homem com uma mulher, mas Elizabete era uma mulher educada em escolas freqüentada por filhos de reis e nobres de toda Europa, aprendeu a ser uma perfeita companheira para seu marido a respeitar suas decisões e seus problemas, ela o amava com todas suas forças e daria a vida pelo rei Eduardo seu marido, o conde jamais se atreveria a enfrentar a rainha mesmo sendo o melhor amigo do rei, isso poderia lhe custar o titulo de conde o palácio que morava e todo seu poder prestigio e toda sua fortuna, afinal tudo isso foi presente do rei por uma amizade de infância e um juramento que fizera ao Wesley antes de ser coroado, a influencia de Wesley sobre Eduardo durou até que o rei se casou. Depois de cumprimentar o conde a rainha foi conversar com Sophie que estava ao lado do rei, mas não ouviu o que a rainha disse ao ouvido do seu futuro esposo, elas conversaram por horas com outras mulheres que participavam da festa de anuncio do casamento, as outras mulheres eram muito mais velhas que a rainha que tinha apenas vinte anos, Sophie tinha dezessete, e a mais nova das senhoras tinha cinqüenta e era esposa de um Lorde de setenta anos de idade, todos que estavam na festa eram muito velhos com cabelos brancos e, mesmo assim usavam perucas brancas enfeitadas com adornos e diamantes por todo vestido, exibindo suas falsas grandezas, Sophie não usava peruca, seus cabelos, naturalmente vermelhos brilhava sob a luz dos lustres espalhados por todo o salão, realçando sua jovialidade beleza, ela chamava a atenção também por causa do que aconteceu com a última esposa do conde e começaram as apostas sobre quanto tempo a nova esposa duraria nas mãos do conde, chamado discretamente de o matador de esposas. O casamento aconteceu cinco dias depois da festa de anuncio, isso fez com que os convidados não fossem embora, ficaram no palácio até a cerimônia de casamento, ao convite do rei, e depois que a cerimônia acabou a festa durou mais dois dias, o rei presenteou o casal com uma viagem a África em seu navio, o Perola do rei, escoltado pelo navio de

Page 38: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

38

guerra, Espada do mar, o mais temido navio de guerra de toda a Europa, comprido e estreito armado com sete canhões de cada lado, quatro mastros e levava vinte e cinco homens, todos experientes em navegação e em batalhas no mar, o Perola do rei era um navio branco construído para o conforto do rei e seus convidados, não tinha canhões, a tripulação era o mais reduzida possível para dar espaço e privacidade ao rei, com apenas o capitão, cinco marinheiros experientes na vida no mar e de confiança do capitão, que por sua vez era amigo do rei e, mais três soldados que faziam a proteção pessoal do rei, dois criados e um cozinheiro que era o mesmo do palácio. Era de manhã quando Derik e seu grupo se puseram a caminhar em direção ao porto, andando sob a ordem do sargento, assim que saíram do forte o sargento falou para o seu amigo House Taner. _ Viu o que você nos arrumou dessa vez? Eu não disse para não fazer isso? Respondeu House. _ Foi o mensageiro que nos entregou. _ Não seja estúpido, - falou o sargento se virando para encarar House Taner-, você achou mesmo que o general acreditaria naquelas coisas que você escreveu? Que o capitão era um bêbado e vendia as provisões que mandavam para nós? _ House tem razão, foi o mensageiro que nos entregou. –disse Big Jô. Então o pugilista Big Jô se voltou contra Derik tentando atingi-lo com um soco, mas o sargento Tom Gregori se pôs na frente impedindo o golpe que acertaria em cheio a cara do rapaz, que já estava tremendo de medo. _ Ninguém vai bater em ninguém aqui, a culpa não foi dele, isso foi burrice de todos vocês. –disse o sargento-, vamos andando temos muito para andar, temos que chegar ao porto ainda hoje. Derik se sentiu aliviado por ter um defensor durante essa missão, mas House olhou para ele e fez um gesto com a mão passando pela garganta, Derik engoliu em seco, não estava totalmente seguro com esses homens ao seu lado.

Page 39: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

39

A caminhada durou horas andando sem parar, se alimentava de pão que trouxeram na mochila e bebiam a água do cantil, não falavam em voz alta, apenas cochichavam e riam baixinho, testando a paciência do sargento que tentava achar uma maneira de reverter à situação, mas não tinha mais saída, tinham que obedecer às ordens do capitão, enfim chegaram ao porto, o navio estava em plena agitação com carregadores subindo a bordo com caixas de madeira e animais vivos, como porcos, galinhas, cabritos e muitos sacos de grãos, o carregamento durou por mais duas horas e os soldados ficaram no meio da agitação ate que o sargento encontrou o capitão do navio Espada do mar, após alguns minutos de conversa com o capitão Martim Mac Fel o sargento voltou para os soldados e com um gesto mandou que entrasse no navio, sob o olhar de descontentamento do capitão que visivelmente não aprovava aquela decisão do general Ferguson. O capitão Martim embarcou atrás dos soldados, chamou o seu primeiro imediato mandando que mostrasse aos soldados onde ficariam o primeiro imediato pediu que eles o acompanhassem desceram uma escada ao porão do navio onde a tripulação se alojava. O navio Espada do mar era dividido em três compartimentos, um porão a baixo do nível do mar onde ficava o alojamento da tripulação, o segundo porão acima tinha os canhões e o deposito de pólvora, acima tinha o convés a cabine de comando do capitão e a cozinha, as provisões e os animais vivos ficavam em um compartimento junto da cozinha na proa do navio, com seu formato de uma espada, com a proa alta e fina cortava a água sem muita resistência, os mastros altos com velas largas e resistentes faziam do navio Espada do mar o navio mais rápido dos mares, Derik e os soldados se alojaram no porão, lá havia redes penduradas no casco do navio, o porão era iluminado por um lampião a óleo de baleia, a tripulação tinha a mesma opinião do seu capitão, não gostavam de soldados de primeira viagem em seu navio e deixaram isso bem claro aos novatos do mar, os soldados House Taner e o Big Jô resolveram sair do porão para ver a tripulação trabalhando e ficaram encostados no para-peito observando os homens correndo de um lado para outro que propositalmente esbarravam nos

Page 40: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

40

dois soldados olhando com ódio, isso causou uma irritação no capitão Mac Fel, que levava a serio a disciplina dos seus comandados. À noite a tripulação e os soldados se reuniram no porão, conversavam em tom baixo, não queriam chamar a atenção do capitão em sua cabine acima, House Taner se levantou falando mais alto que todos, querendo comandar a tripulação, mas seu gesto foi reprimido por um homem de quase dois metros de altura de braços largos e voz grossa. _ Nós sabemos quem são vocês e porque estão aqui, se não andarem direito vocês vão se arrepender de terem entrado nesse navio. - falou o grandalhão. O sargento Tom Gregori olhou para House e sorriu achando graça da cara do soldado que não estava acostumado a ser confrontado dessa maneira por um soldado qualquer, mas aquele soldado não era qualquer um, ele era chamado de comandante, não por ser comandante de alguma coisa, mas por ser um homem durão responsável pelos canhões, recebia ordens do capitão, mas era ele que fazia as coisas funcionarem no navio, respeitado pela tripulação não por seu tamanho, mas sim pelo carinho que ele tinha pelo navio e pela tripulação, Derik percebeu que para ter uma viagem tranqüila longe de confusão teria que conseguir a amizade da tripulação e, em especial do comandante, o navio balançava ao sabor da maré, mesmo ancorado fazia o movimento das águas, Derik sentiu esse movimento, estava enjoado e com dor de cabeça, se lembrou da primeira vez que montou na égua do regimento, deitado em sua rede o balanço parecia ser pior que realmente era, pensando na viagem que fariam ao amanhecer na quantidade de água que teria que enfrentar, ele não gostava muito de nadar, alias, ele não sabia nadar, quando era criança quase morreu afogado ao cair em um lago, agora não chegava perto de represas ou rios, mas teria que aprender a superar esse medo sem que ninguém soubesse, não seria bom ter que passar por esse vexame no meio da tripulação que ele queria conquistar. Acostumado a acordar antes de o sol nascer, Derik se levantou na escuridão, não havia luz, ele se esqueceu que estava no porão de um navio, mesmo que estivesse com o dia claro do lado de fora dentro do

Page 41: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

41

porão estava sempre escuro, ao perceber que nada se movia ele voltou a se deitar na rede, mas não conseguiu dormir, ficou pensando que sua sorte não poderia piorar, mas nada é tão ruim que não possa ficar pior, abriu-se uma porta no teto do porão, uma rajada de luz invadiu o porão enfumaçado com cheiro de tabaco, uma voz rouca penetrou os seus ouvidos que se acostumava com o som da água batendo no casco do navio, então os soldados saltaram de suas redes sob o comando do homenzarrão que incentivava brincando com todos. _ Vamos lá senhoras, está na hora de levantar, temos um navio para cuidar e um oceano para desbravar. -dizia ele em tom de brincadeira. Todos os soldados entravam na brincadeira, cada um zombando do outro, sem pressa de subir ao convés, alguém acendeu o lampião e começaram a se vestir, calçando as botas, e alguns foram se barbear em uma tigela de água que eles tiraram de um barriu no canto do porão perto de um espelho pendurado, àquilo era diferente de tudo que Derik já tinha visto no exercito, sem correria sem atropelamento sem presa, todos saiam conforme ficavam prontos, Derik se apresou em sair com o seu grupo, porque o sargento acostumado com o rigor da disciplina do exercito e o horário de levantar-se foram os primeiros a sair e se apresentarem ao capitão Martim Mac Fel em sua cabine, mas o capitão não estava lá, nem o seu imediato, esperaram por alguns minutos em frente à porta da cabine, então o homenzarrão chamado de comandante surgiu pela porta do porão com mais um grupo de soldados que ainda terminavam de abotoar o uniforme azul, arrumando o chapéu de abas dobradas nas laterais, o comandante olhou para os soldados que pareciam estar desorientados, e disse. _ A cozinha é por aqui senhores, antes de trabalhar temos que comer, a comida pode não ser tão boa quanto à do exercito, mas dá pra engolir. House Taner e o Big Jô acompanharam o comandante entrando por uma porta acompanhada pelo seu comparsa Rato, Derik ficou ao lado do sargento, indeciso esperando que o sargento tomasse a iniciativa, o sargento Tom Gregori se deu por vencido, tudo àquilo era diferente do exercito que ele conhecia, já que teria que passar um bom tempo nesse

Page 42: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

42

navio era melhor acompanhar o ritmo e o costume dos marinheiros, fez um sinal para o Derik que ainda esperava seu comando e seguiram para a cozinha enquanto a tripulação saia com um copo e um pedaço de algo parecido com bolo escuro, quando pegaram sua porção eles viram que o sabor era pior que a aparência, o liquido do copo deveria ser café, mas era uma água negra amarga e fria, o bolo amargo e queimado ninguém sabia do que era feito, duro como pedra e gosto de peixe podre, o cozinheiro era um homem gordo bem barbeado com o uniforme limpo, mas a cozinha tinha o cheiro de estábulo, talvez por causa da dispensa estar tão perto dos animais berrando e grunhindo, Derik falou para o sargento que ainda examinava o suposto bolo. _ Se o café é assim imagina o almoço. _ Já sei por que o capitão e o imediato saíram tão cedo, eles devem ter ido tomar café em outro navio, tenho certeza que lá a comida é boa. –disse o sargento. Depois que todos comeram a tripulação estava toda no convés, sem que ninguém os ordenasse sabiam o que fazer, nem todos usavam uniforme azul, a maioria estava com camisas brancas e calças largas e pretas, uns limpavam o chão, outros escalaram os mastros usando escadas feitas de cordas e arrumavam as velas, desamarravam umas cordas e amarravam outras, no chão o movimento era parecido sem correria todos faziam alguma coisa, ninguém disse o que o grupo do sargento deveria fazer, por isso ficaram parados esperando ordens do capitão, mas o capitão ainda não apareceu no navio, House Taner, Big Jô e o Rato se sentaram, vendo que o sargento não tinha muita autoridade no navio nem sobre eles, Derik permanecia ao lado do sargento em pé como um soldado treinado, então um marinheiro se aproximou deles com um objeto na mão e disse. _ É a primeira vez que vocês entram em um navio? _ Sim senhor. –respondeu o sargento. _ É melhor vocês saírem da frente dos homens, podem ficar na porta da cabine do capitão. –falou e saiu. House se divertia com a atitude do sargento, então o capitão e o imediato entraram no navio e foram direto para a cabine, olharam para o sargento e para os outros soldados que permanecia sentados rindo de

Page 43: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

43

alguma coisa, o capitão entrou na cabine e chamou o sargento para conversar. _ Acho que estamos no mesmo navio não é sargento? _ Sim senhor. _ Fui informado que vocês viriam e porque viriam infelizmente eu tinha cinco vagas e resolveram preencher essas vagas com vocês, mas esta tudo bem, não que eu fique feliz, mas parece que o senhor também não está nada satisfeito com isso, mas vamos arrumar algo para os senhores fazer nesse navio, - então o capitão chamou o imediato e disse, -de algo para eles fazerem. O imediato reuniu os novatos, com um papel nas mãos com os nomes dos soldados, e disse. _ House Taner, Jonas Trever, vocês serão os responsáveis pela limpeza do navio, - então chamou um soldado que esfregava o convés e mandou que ensinasse tudo que deveriam saber, o imediato continuou-, senhor Ernesto Kennedy, o senhor ajudará a manter as velas limpas e em ordem, - outra vez chamou um soldado e mandou que o ensinasse-, senhor Derik Fadel, o senhor será o ajudante de cozinha, - mandou que um soldado o levasse para a cozinha e o apresentasse ao cozinheiro-, por fim sargento Tom Gregori, o senhor ficará responsável pela vistoria de tudo que entrar e sair desse navio devera fazer um relatório de tudo e apresentar esse relatório para o seu imediato, que sou eu, - entregou uma prancheta com vários papeis e uma pena com uma tinteira nas mãos do sargento e o levou para dentro dos porões e lhe mostrou tudo. Derik foi apresentado para o cozinheiro Sherman Wilkom, um homem velho com a cara enrugada, simpático veterano na marinha inglesa, não era cozinheiro de verdade, mas por ser tão velho e não ter família o capitão o colocou pra trabalhar na cozinha, estava ocupando esse cargo á meses naquele navio, para o desespero da tripulação, por mais que ele se esforçasse não conseguia preparar uma refeição comestível, ao receber o novo ajudante ele falou. _ Bem vindo rapaz, que bom que você veio, eu estou com muita dor na costa, já não sou mais tão jovem e temos que preparar alguma coisa pra esse bando de gulosos.

Page 44: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

44

O soldado que levou Derik até a cozinha falou ao cozinheiro. _ Jesus o que será que você vai fazer hoje, Deus nos ajude. O cozinheiro respondeu ao soldado. _ Não reclama, vocês sempre comeram as minhas comidas e sempre vão comer, e nunca morreram. Então um soldado entrou na cozinha e disse. _ Legal temos mais um para tentar nos envenenar, vamos temos que nos apresentar lá fora, todos de uniforme e de chapéu na cabeça, o conde está chegando com sua esposa e nós vamos recepcionar a nobreza. O cozinheiro, que estava sentado por causa da dor se levantou e passou na frente do Derik indo para a cabine dos soldados se preparar, logo todos se uniram fora do navio, os soldados fizeram uma linha em frente ao navio Espada do Mar, com as armas em mãos, o casal passou em frente a eles, o conde passou sem olhar para os soldados, logo atrás vinha a condessa, vestida de branco com um chapéu branco com um véu escondendo o seu rosto, quando passou em frente à Derik ele teve certeza de que se tratava mesmo de sua irmã, mas se conteve, reprimindo as sua emoções, logo atrás do casal vinham os criados que viajariam no mesmo navio, Perola do Rei. Em seguida todos embarcaram em seus navios, cada um em seus postos cuidando dos seus trabalhos, Derik voltou para a cozinha atrás do senhor Shermam, que foi dando ordem, limpa ali, esfrega ali, trás isso, leva aquilo, Derik viu que o dia seria terrível, então o velho deu um gemido e se sentou. _ Minha costa, ai que dor. –disse o velho cozinheiro. _ É melhor o senhor ficar sentado e não se mover, minha mãe sofria de dores na costa e eu aprendi a cuidar disso, é só relaxar que a dor passa o senhor vai ver. - disse Derik ao velho. _ E quem vai cozinhar pra esse bando ai fora? _ Eu aprendi também a cozinhar, minha mãe me ensinou, se o senhor permitir. O cozinheiro olhou nos olhos do rapaz e disse. _ É, pior do que já é não pode ficar mesmo.

Page 45: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

45

Com um aceno permitiu que Derik assumisse a cozinha, o rapaz sabia onde ficava tudo na pequena cozinha, cada tempero cada vasilha, todos os talheres, e começou a preparar a comida, cozinhando as batatas que já estavam descascadas, acrescentou temperos, coisa que tinham em abundancia, só que o cozinheiro Shermam não sabia para que serviam, limpou e picou uns pedaços de carne em fatias finas e pôs tudo no caldeirão, o cheiro da comida se espalhou pelo navio, que ainda estava ancorado, os soldados estendiam as velas e puxavam a ancora, todos queriam saber o que o velho Shermam estava preparando, não acreditando que esse cheiro vinha mesmo da cozinha desse navio, eles se lembraram da vez que sentiram um cheiro desse e pensaram que fosse do seu navio, mas era de outra embarcação que estava ancorada perto deles, o navio estava se afastando do cais e era mais de duas horas da tarde, normalmente eles passavam o dia inteiro sem sentir fome, mas esse cheiro estava fazendo suas tripas dar nós, o capitão fez uma visita a cozinha para se certificar de que aquele cheiro realmente vinha do seu navio, então viu Derik cozinhando e o cozinheiro sentado sobre um saco de batatas contando historias sobre as guerras que passou a muito tempo atrás, quando Shermam viu o capitão tentou se levantar com gemidos de dor se desculpando por entregar a cozinha a um aprendiz, o capitão se aproximou da panela e deu uma boa aspirada na fumaça que saia da panela borbulhante, Derik se afastou temendo levar uma bronca, mas o capitão lambeu os lábios e disse em voz alta. _ Cozinheiro Shermam, se o senhor está com dores pelo corpo eu sugiro que permaneça em repouso, e só se levante quando tiver certeza que está tudo bem com o senhor. O capitão saiu da cozinha com a mão na barriga esfregando de fome, ao abrir a porta havia cinco soldados na porta com cara de quem está esmolando comida, o comandante que também estava na porta disse ao capitão. _ Senhor será que não está na hora de comer? O capitão estava parado em pé na frente da porta, ameaçou entrar de novo, mas se recompôs e disse aos soldados que esperavam com os chapéus nas mãos.

Page 46: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

46

_ Quando estiver pronto o cozinheiro vai avisar. –falou em voz alta para que todos ouçam principalmente o Derik. _ É o novato que está cozinhando? –perguntou o comandante. _ Graças a Deus. –comentou outro soldado. Então Derik apareceu na porta e disse. _ Está pronto. Então todos correram para a porta da cozinha, tentando entrar todos de uma vez, mas o capitão gritou. _ Parem com isso. –todos obedeceram e pararam no mesmo instante. O capitão ajeitou o chapéu na cabeça, com as mãos afastou os soldados que se amontoaram na porta e entrou sozinho sob os protestos dos demais, foi preciso organizar uma fila para que todos pudessem comer, até acabar com toda a comida, esse foi o primeiro dia em que esses soldados se alimentaram bem naquele navio desse dia em diante Derik, alem de ser o melhor amigo de todos, era também o protegido de toda tripulação do navio cada refeição era um motivo pra paparicarem o novo cozinheiro, na esperança de que Derik lhe desse uma porção maior que a dos outros nas próximas refeições. No navio Perola do Rei, a tripulação trabalhava ritmada, sob as ordens do capitão Antonio Dela Maqua, um velho capitão de navios que assumiu o comando do Perola do Rei com a morte do antigo capitão e o desaparecimento do imediato em uma tempestade em alto mar a caminho das Índias, então o rei Eduardo o nomeou capitão do navio Perola do Rei, Antonio Dela Maqua era o único marujo dos navios do rei que não era inglês, quando criança ele foi encontrado escondido no porão de um navio de cargas carregado de madeira vinda do novo continente, o menino tinha embarcado no navio holandês clandestinamente e só foi descoberto em alto mar, o velho capitão do navio holandês o acolheu e ensinou como ser um bom marujo, o tempo passou e o jovem Antonio se tornou um grande marinheiro adotado pelo capitão a quem ele chamava de pai, com a morte do capitão Antonio assumiu o posto de comando se auto intitulando capitão, entrou em algumas guerras como mercenário, pondo seu navio e seus homens a disposição de quem lhe pagasse mais,

Page 47: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

47

eventualmente praticava crimes como pirataria, mas um dia ele e sua tripulação foram presos e julgados por um juiz que lhe concedeu anistia para delatar outros piratas, mas a sua tripulação pereceu na forca do carrasco, Antonio ficou preso por alguns anos em uma masmorra na França e lhe foram amputadas a mão e a perna esquerda, ao ser liberto voltou a trabalhar em navios e com a ajuda de antigos amigos importantes chegou ao navio Perola do Rei onde chagou ao comando com a morte do antigo capitão. O Perola do Rei era menor e mais largo que o espada do mar, com três pavimentos, o primeiro porão no nível do mar era o alojamento da pequena tripulação o segundo pavimento era para armazenamento de mantimentos e a cozinha, os mantimentos ocupavam uma boa parte do espaço, o Perola não transportava armas nem pólvora, o que fazia dele muito mais leve e mais rápido do que o Espada do Mar, no convés havia uma porta que era a cabine do capitão, e outra porta que dava acesso a um corredor, essa porta era guardada por dois soldados armados com fuzis espadas punhais e pistolas, um soldado ficava do lado de fora guardando a porta, o outro do lado de dentro da porta igualmente armado, esse corredor tinha três portas, uma de frente a outra e uma no fim do corredor, as duas do corredor eram os camarotes dos criados, uma era das damas de companhia da rainha, e o outro dos copeiros do rei, mas agora estavam sendo usados pelos copeiros do conde, e o outro pelas damas da condessa, o camarote dos fundos era o aposento real, espaçoso e luxuoso com escotilhas que davam visão ao mar a frente do navio, e estava sendo ocupado pelo conde e a condessa, os criados do conde eram dois moços de vinte anos de idade eram copeiros e seguiam o conde em todas as partes, um se chamava Tomas Dromo, e o outro Everaldo Jackson, eles foram entregues pelos seus pais quando eram crianças em troca de dinheiro e de promessas, mas os rapazes eram molestados desde a infância pelo conde e se tornaram afeminados e dispostos a atender os desejos libertinos do seu amo com o maior prazer. _ Hoje o mar está tranqüilo, vamos ter uma boa viagem. –disse o capitão Antonio ao conde na proa do navio Perola do Rei.

Page 48: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

48

_ Espero que toda a viagem seja assim capitão. –respondeu o conde Wesley. A condessa raramente saia de seus aposentos, estava sempre acompanhada pelas irmãs Formam com seus vestidos brancos, só saiam de vez em quando para tomar o sol da manhã por alguns minutos e a tarde antes do anoitecer, o conde não queria que os marinheiros a vissem, os copeiros assim como as mulheres passavam a maior parte do dia trancados em suas cabines, saiam apenas quando o conde os chamavam para servi-lo, os rapazes evitavam conversar com as damas da condessa e até com a própria Sophie, eles sabiam que o seu senhor os observava, nada passava desapercebido aos olhos do conde, seus soldados e os criados eram obrigados a contar tudo que viam e ouviam a respeito da condessa, era proibido se aproximar das moças, quando elas saiam do camarote o soldado que ficava do lado de dentro da porta as acompanhavam. Na terceira noite no navio, o conde entrou no camarote acompanhado por seus copeiros, como de costume as criadas da condessa saiam assim que ele entrava os copeiros não entravam com o conde, os moços acompanhavam somente até a porta, assim que o conde entrava em seu aposento eles voltavam para seus camarotes, mas nesse dia os copeiros entraram assim que as irmãs Formam saíram, a condessa não entendeu o que se passava, mas não se importou, ela sabia que não se devia questionar o conde, então o conde se virou para ela e disse. _ Hoje você vai dormir em outro lugar, eu preciso da cama. O conde fez um sinal, um dos copeiros pegou um cobertor grande e pôs no chão, era para a condessa dormir, ela previu o que estava por vir na sua cama, a condessa sabia das aventuras sexuais do conde, das suas preferências por rapazes, e da relação que tinha com seus copeiros, mas ele nunca fez isso na sua presença, o conde sempre se preocupou com a discrição para proteger seu nome e a posição que ocupava na corte junto ao rei, embora essas libertinagens eram conhecidas por todos no palácio do rei Eduardo e em toda Inglaterra, mas Sophie nunca pensou que um dia teria que assistir uma cena como aquela, então ela pegou seu cobertor no chão e foi até a escotilha o

Page 49: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

49

mais longe possível da cama onde eles tiravam as roupas e se beijavam em gemidos e risos, Sophie simplesmente virou-se de costa e passou a observar a escuridão da noite no mar, a luz da lua e as estrelas não clareavam o suficiente para que ela pudesse ver alguma coisa, ela ficou acordada em pé enquanto durou a orgia, onde deveria ser a câmara nupcial com seu recém esposo, mesmo sendo ele o conde Wesley, agora era uma câmara de horrores. Os soldados da guarda do conde eram três, mas a noite ficava apenas um do lado de fora da porta do corredor, e faziam revezamento de quatro em quatro horas, assim os três podiam dormir e estar acordado durante todo dia, e tinha a guarda que os soldados do navio faziam durante toda a noite olhando para o mar e para o outro navio que os seguia a poucos metros a bom bordo, durante o dia eles podiam até se comunicar um com o outro, e os capitães faziam isso com freqüência. Depois de horas os três amantes estavam cansados e dormiram na cama, Sophie se sentou em uma poltrona enorme e confortável e dormiu. De manhã Sophie acordou com um raio de sol que entrava por uma escotilha, os raios de sol batiam em seu rosto ofuscando seus olhos que não conseguiam permanecer abertos, então ela se levantou se espreguiçando sentindo as conseqüências de ter dormido sentada em uma poltrona, seu corpo doía em cada junta, em cada músculo, um dos moços acordou olhou para Sophie que estava de pé olhando para a mesma escotilha que observava a noite, ao perceber que o rapaz tinha acordado ela virou os olhos em sua direção sem virar o corpo, o jovem Tomas ainda estava deitado na cama e se virou na direção da condessa olhando nos olhos dela, o olhar frio e penetrante da condessa condenando aquela situação, o rapaz imediatamente se levantou tentando esconder o rosto e escapar do julgamento da esposa traída, enquanto se vestia apressadamente ele cutucava o Everaldo sem acordar o conde, Everaldo acordou assustado, viu a mulher parada junto a escotilha, a luz que entrava iluminava o seu rosto branco e sedoso demonstrando sua expressão, seus olhos eram puro desprezo,

Page 50: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

50

Everaldo se levantou devagar para não acordar o conde, mas se apresou em se vestir, ambos saíram do aposento sem fazer ruído sem olhar para trás, passaram pela porta do camarote das criadas da condessa que estavam esperando que o conde saísse para que elas pudessem fazer companhia para a condessa, e viram os rapazes entrarem apressados em seus camarotes ainda se vestindo. Os navios seguiam deslizando pelo oceano calmo ensolarado, o Perola do Rei na frente seguido pela escolta a curta distancia. No navio Espada do Mar o dia do Derik começou cedo, levantou-se antes dos outros para preparar o café, agora ele era o encarregado da cozinha, e o Shermam era o encarregado em controlar a dispensa, com o novo cozinheiro os soldados estavam sempre com fome e poderiam comer todo o estoque que era para três meses em apenas duas semanas, então o capitão fez um racionamento de comida e água, Derik fez o café e levou uma caneca para o capitão Martim em sua cabine. _ Obrigado rapaz, você já pensou em permanecer na marinha para sempre? –disse o capitão ao Derik. _ Não sei se conseguiria capitão, a minha missão é de acompanhar na escolta apenas até a viagem do conde acabar. –respondeu Derik. _ Mas se você quiser pode-se dar um jeito. Derik não respondeu, pediu licença e voltou para a cozinha, ele tinha outros planos em sua cabeça, queria falar com sua irmã e resolver essa questão do abandono de sua mãe a deixando morrer de tristeza e nem sequer deu noticias, e também ele adorava o seu cargo de mensageiro na sua tropa, e tem a sua égua que ele chamava de Deyse. _ Será que estão cuidando dela enquanto eu estou nessa missão? – dizia Derik falando sozinho enquanto servia café aos soldados que pegavam a caneca e davam tapinhas na costa e no ombro do Derik, isso deixava House Taner furioso. _ Enquanto limpamos o chão ele fica no bem bom naquela cozinha sendo paparicado por todos. –dizia House para seu companheiro Big Jô.

Page 51: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

51

_ Se soubéssemos que o rapaz cozinhava tão bem teríamos posto ele na cozinha da tropa, em vez de ficarmos comendo aquela porcaria que o Locke fazia pra gente, que café delicioso. –disse Big Jô ao House. _ Você esta do lado dele também? –esbravejou House. _ Você sabe que o rapaz não fez nada, como o sargento disse a culpa de estarmos aqui é só nossa, nós é que somos burros. _ Fale por si só. –House disse isso e saiu de perto do Big Jô, nervoso ele derramou o café de sua caneca no mar. Big Jô não se abalou, continuou a tomar o café quente e saboroso, com cara de quem acabou de se livrar de um peso em sua cabeça, na verdade ele se sentia aliviado por não ter o House ao seu lado. Três meses se passaram, e os navios chegaram à costa Africana, era uma manhã de domingo quando um homem do Perola gritou. _ Terra a vista. O capitão do Perola foi à proa e viu o continente africano, minutos depois o conde se apresentou ao convés e acompanhou o capitão com os preparativos para se aproximarem da terra e encontrar o porto onde os navios atracariam, o Espada se aproximou mais do Perola ao avistarem um navio de bandeira Francesa passando ao longe, mas pela luneta pode ver que era um navio Delevai que se afastava da costa Africana indo para alto mar, já era quatro horas da tarde quando o capitão do Perola avistou o porto do rei, um porto na colônia Inglesa em terras Africanas, onde todos os navios Ingleses atracavam, é era por lá que escoava a maioria das riquezas exploradas na África por seus colonizadores, pedras preciosas, peles de animais, marfins e outras riquezas que julgavam serem importantes, os colonizadores saqueavam a África com a ajuda dos nativos, mão de obra barata e, quando conquistados um forte aliado nas batalhas por território contra Franceses e holandeses que tentavam invadir as terras já conquistadas pelos Ingleses, o sul da África pertencia quase totalmente a Inglaterra, e o rei Eduardo controlava essa região com mãos de ferro, eram centenas de soldados

Page 52: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

52

armados espalhado por todo o território colonizado liderados pelo governador Frank. _ Senhor governador, o navio Perola do rei se aproxima escoltado pelo navio Espada do Mar. - disse um soldado que entrou correndo na casa do governador pegando-o de surpresa quando ele tomava um cálice de vinho com um Francês que o visitava naquela tarde de domingo. _ O rei? Santo Deus devo me preparar e é melhor que ele não ti veja aqui. –falou o governador ao visitante Francês. _ Tem razão, é melhor eu ir embora, afinal eu também não quero ver a cara daquele bufão, o meu navio está me esperando à gente se encontra na França, como combinado. –disse o Francês saindo pela porta da frente montando em um cavalo e partiu em galope. CAPITULO IV O reencontro Uma hora depois os navios ancoraram no porto, o governador os esperava no cais com seus soldados para recepcionar o que ele achava ser o rei em pessoa, mas ao ver o conde descendo pela rampa com sua esposa e seus criados ele ficou surpreso e curioso, o que o conde faz aqui? O que será que o rei está planejando com isso, pensou o governador sorrindo e dando as boas vindas ao conde e sua bela esposa. _ Que bela surpresa senhor conde Wesley, e quem é essa bela dama?- perguntou o governador ao conde pegando na mão da condessa beijando-a. _ Minha esposa, - respondeu o conde ao governador com um tom de rispidez-, estou em viagem de núpcias, me casei há pouco tempo e o rei me presenteou com essa viagem em seu navio. _ Eu soube o que aconteceu com a condessa Margareth, fiquei muito triste ela era adorável.

Page 53: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

53

O conde franziu a testa e fez cara de quem não estava interessado nas comoções do governador. _ Agora ela é minha mulher, seu nome é Sophie, ela está cansada e gostaríamos de descansar em um quarto que não balance, o navio é confortável, mas não estamos acostumados com viagens longas, presos em um navio. _ Já mandei preparar um quarto para vocês, os seus criados poderão ficar em um quarto próximo, a casa é grande tem muitos quartos. Depois das apresentações entraram na casa que ficava a poucos metros do cais, fugindo das picadas dos mosquitos que começavam a voar em busca de alimento. _ Ainda é cedo podemos tomar um cálice de vinho assim que o senhor estiver mais disposto. –disse o governador Frank. _ Um cálice de vinho seria ótimo, essa terra é muito quente, espero não ficar por aqui mais que o necessário. –disse o conde batendo as mãos no ar contra os mosquitos que zumbiam em seus ouvidos. Enquanto isso no navio Espada do mar, os soldados ainda estavam atarefados na ancoragem do navio, recolhendo as velas e amarrando o navio no cais, os soldados e os marinheiros dos dois navios tinham muito trabalho pela frente. Os marujos do Perola do Rei desembarcaram os pertences do conde e levaram para a casa, o conde, após verificar os seus baús de roupas e pertences pessoais tomou um banho em uma grande banheira de bronze e trocou de roupas, então disse a condessa. _ Chame as criadas e mande-as te darem um banho, troque de roupas e vá até a sala onde eu e o governador estiver, fique por um pouco de tempo e se retire, diga que está com sono e muito cansada, e volte para o aposento, e não saia mais daqui. O conde foi para a sala falar com o governador, Sophie seguiu o que seu esposo lhe mandou, chamou as irmãs Formam que estavam na porta esperando por ordens, elas entraram e deram um banho na condessa, depois de vestida se apresentou na sala.

Page 54: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

54

_ Que bom que veio nos dar a honra da sua presença. –disse o governador Frank assim que viu a condessa entrar pela porta que estava aberta. A senhora Liremiz ensinou bem a condessa a se comportar nessas situações, então a condessa disse ao governador. _ Meu esposo me pediu para descansar, mas eu achei que seria melhor vir dar boa noite pessoalmente, agora se me permite preciso dormir, como o conde disse, a viagem foi muito cansativa, boa noite. _ Boa noite senhora condessa. –disse o governador com um sorriso malicioso. O conde olhava para a condessa com um falso sorriso, esperando que ela não cometesse nenhum deslize, mas a condessa o surpreendeu com aquela representação, parecia que desse jeito a estadia dele na África poderia ser mais tranqüila que ele pensou que fosse. Mais tarde no quarto o conde falou com a condessa. _ Meus parabéns, você foi fantástica com o governador, nós não nos falamos muito na viagem, eu sempre ti achei muito burra para perder meu tempo conversando com você, mas agora vejo que não é tão burra assim, e isso me deixa nervoso, não sei até onde vai a sua esperteza, a senhorita Liremiz não lhe ensinou isso, só pode ser coisa da rainha ela me odeia, mas isso não importa, de agora em diante eu ficarei de olho em você. Ao amanhecer o conde se levantou bem cedo, o sol ainda estava nascendo. _ Acordou cedo conde. –disse o governador ao se deparar com o conde entrando em seu escritório. _ Como se pode dormir com tantos mosquitos e esse calor infernal. _ O senhor se acostuma com o clima da África, e com os mosquitos. _ O que um homem tem que fazer para conseguir uma bebida por aqui? –disse o conde. O governador sorriu e chamou alguém por um nome estranho, um homem negro magro e muito alto entrou na sala com uma bandeja na

Page 55: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

55

mão, trazia xícaras de um tipo de chá e um pedaço de bolo, os homens se serviram e o governador Frank disse. _ Mandei que uma mulher levasse chá e bolo para sua esposa e seus criados em seus aposentos. –disse Frank. O conde não gostou daquela atitude, ele queria ser avisado antecipadamente sobre tudo que envolvesse seus criados e sua esposa, mas preferiu ficar em silencio por enquanto, o governador perguntou. _ Mas me diga, conde Wesley, a sua visita é meramente para lazer ou tem alguma questão do rei? _ Como disse estou em núpcias e o rei me deu essa viagem para descansar um pouco, mas eu gostaria muito de conhecer a colônia e tudo que nela há principalmente as minas de diamantes e de ouro. _ Imaginei que quisesse, por isso mandei preparar uma caravana para o senhor e sua esposa, vocês vão conhecer o que a África tem de melhor, os animais e todas as riquezas naturais. No navio Espada do Mar os soldados estavam desamarrando as velas e estendendo para consertos, o mesmo acontecia no Perola do Rei, o dia seria de muito trabalho, House se aproximou do Rato o único amigo que lhe restou no navio e falou. _ Nessa aldeia deve ter mesas de pôquer, acho que dá pra ganhar algum dinheiro desses soldadinhos idiotas. _ Não, dessa vez eu não vou trapacear no jogo, alias eu não vou jogar. _ O que você está falando? Você é um jogador, você é um ladrão, e isso não vai mudar só porque está a quilômetros de casa. _ Você ainda não entendeu, House, nós só estamos nesse fim de mundo por que você achou divertido brincar com o capitão Johnson. _ A culpa não foi minha nem sua, foi daquele moleque o Derik. -falou House espumando pela boca. _ Errado House, chega de fazer tudo que você manda, eu matei um homem inocente só por que você mandou, eu não consigo dormir desde aquela noite, eu vivo ouvindo os gritos da mulher pedindo pra

Page 56: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

56

parar, o rosto do pescador implorando pela vida dela, e nós os matamos como um animal, eu estou ficando louco... _ Cala a sua boca, nunca mais fale sobre isso, nem pense sobre isso eu estou ti ordenando, ouviu? _ Eu vou ficar quieto sim, mas é porque eu não quero ir para a prisão e ser condenado à forca, mas se me matarem talvez eu tenha um pouco de sossego, mas você nunca mais me dará ordens. O rato saiu de perto do furioso House e foi ajudar os outros a esticar os panos de uma vela para reparos, House estava sozinho, mas ainda mais perigoso, o dia estava quente e seco, o céu estava limpo sem nuvens, era a temporada da estiagem, á meses não chovia naquela região, os campos estavam áridos, os animais selvagens se aproximavam cada vez mais das casas espalhadas pela colônia, os nativos se juntavam perto do porto para comercializar seus animais, frutas e pedras preciosas que eles achavam ou roubavam das colônias, o governador Frank fazia vista grossa para o comércio ilegal das pedras preciosas e cobrava uma porcentagem sabendo que eram furtadas dos franceses e holandeses e muitas das vezes das próprias minas inglesas, o contrabando era crime, mas até os soldados compravam pequenas quantidades de diamantes para levar a Inglaterra quando voltassem para casa, se um desses soldados fosse descoberto poderiam ser enforcados em praça publica como piratas, por isso pagavam ao comandante da tropa com diamantes para não serem delatados ao governador, e o governador também levava uma parte do comandante fechando o circulo de propina, por isso a visita do conde o deixava perturbado, ele sabia que o rei desconfiava de alguma coisa, os ataques de piratas contra os navios mercantes que levavam os tributos da Inglaterra e da França, que levou os dois reis a tomar atitudes drásticas contra esse tipo de crime, colocaram navios armados patrulhando toda rota dos navios mercantes, mas mesmo assim não foi o suficiente, os piratas parecia saber onde os navios estavam e os atacavam, os navios desapareciam com sua tripulação, os navios de patrulha nunca conseguiam impedir os ataques. _ Mandou me chamar? –disse lorde Edgar entrando pela porta da casa do governador logo após a saída do conde.

Page 57: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

57

Edgar era um lorde Inglês que recebeu a incumbência de comandar os trabalhos nas minas de ouro e todos os tipos de pedras preciosas dentro da colônia inglesa, era o homem de confiança do rei Eduardo, e todos os tributos enviados para a Inglaterra passava pelo lorde Edgar, Frank e Edgar eram mais que amigos, eles eram sócios em uma frota de navios mercantes, os navios eram comprados com ouro desviado das minas e nem sempre faziam transporte honesto, praticavam pirataria desapareciam com as cargas que deveriam ir para os palácios Europeus e culpavam os piratas. _ Mandei sim meu amigo, temos um convidado, o rei Eduardo mandou o conde Wesley para passar uns dias conosco. –disse Frank ao Edgar. _ Você acha que o rei está desconfiado de alguma coisa? _ O conde Wesley disse que está de viagem de núpcias, mas eu não acreditei, o rei é esperto e deve ter mandado Wesley para nos investigar. _ O que faremos, falta tão pouco para sairmos desse inferno que o rei nos meteu. _ Devemos agir como sempre agimos, vamos dar o que o conde quiser e não deixar que ele saiba mais do que precisa. _ E se ele tropeçar em alguma coisa que não deva? _ Ele não pode sofrer nenhum acidente aqui, senão o rei virá com um exercito e tomará conta de tudo, ai meu amigo, é que teremos problemas de verdade. _ Está bem, enquanto o conde estiver aqui eu farei o que for preciso para protegê-lo. _ Ótimo, agora ele quer conhecer as minas. Frank e Edgar ficaram na casa esperando pelo conde que foi se encontrar com o capitão Antonio, a condessa acabará de acordar e estava na sala com suas criadas, Wesley permitiu que Sophie saísse do quarto, mas que permanecesse na casa, Edgar a viu com as meninas e perguntou ao Frank quem era as moças, o governador o apresentou a condessa e as meninas, ele as cumprimentou com má intenção, o conde voltou para a casa se juntar com a condessa e o governador

Page 58: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

58

Frank que o esperava para lhe apresentar ao lorde Edgar, assim que o conde entrou na sala Sophie se levantou e disse. _ A conversa deve ser de homens, então devo me retirar. Saindo com suas criadas foram para o quarto, os copeiros do conde permaneceram em outra sala a vista do conde, a espera de ordens. _ Conde Wesley, quero lhe apresentar lorde Edgar, responsável pelas minas de ouro. –disse o governador ao conde. _ Prazer em conhecer o senhor. –disse Edgar ao conde. _ Já ouvi falar sobre lorde Edgar. –disse o conde ao lorde. _ Também ouvi muitas historias sobre o senhor. –disse Edgar. O conde tinha uma maneira arrogante e felina de se expressar com as pessoas que estavam abaixo do seu poder, parecia que ele realmente estava lá para investigar alguma coisa, e que o lorde era o objeto de suas investigações, mas se isso for verdade então o lorde não seria o único afetado, o lorde jamais poderia fazer alguma coisa sem a ajuda do governador, e todos eles sabiam disso, o conde deixou mais claro suas intenções ao perguntar ao lorde sobre a quantidade de minas que tinham nas terras colonizadas e o volume de pedras e ouro extraídas de cada mina, e achar estranho o fato de que a quantia do tributo ter diminuído. _ Será que não está na hora de procurarmos outras minas para restabelecer o fornecimento à coroa inglesa? O rei está preocupado com a escassez de ouro na colônia, temos informações que os Franceses e os holandeses estão aumentando a quantidade de ouro e de outras pedras, principalmente de diamantes, - o conde sorriu e continuou - os nossos diamantes alem de serem inferiores em tamanho e qualidade está ficando escasso, talvez seja melhor procurarmos outro lugar para escavarmos outra mina, ou encontrar quem está roubando a Inglaterra. De repente todos ficaram sérios, a visita do conde tinha ficado clara, não era um passeio, era uma missão do rei Eduardo. Na manhã do terceiro dia, os soldados saíram dos navios, uma parte deles foi designada para acompanhar o conde em uma viagem pelas savanas Africana em direção as minas de ouro, na companhia do

Page 59: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

59

lorde Edgar e o governador Frank, a caravana formada por vinte soldados armados e preparada para uma guerra, todos montados em cavalos, aos pares andando uns atrás dos outros em fila, na frente ia à carruagem puxada por dois cavalos brancos, dentro da carruagem estavam os três fidalgos, o conde Wesley, o governador Frank e lorde Edgar, falando sobre os animais africanos e os perigos que eles representam aos homens sem experiências que ousavam desbravar essas terras selvagens, quantos homens já morreram nas garras dos leões e nos dentes das serpentes que infestavam toda a África, serpentes que os ingleses jamais ouviram falar, mas matavam mais gente do que todas as doenças conhecidas em toda Europa, mas que o conde não precisava se preocupar, os africanos tinham remédios para quase todas as doenças. _ O senhor não vai acreditar, mas eu já vi um curandeiro curar um homem que foi picado pela mais venenosa das serpentes, o homem vive até hoje. –disse lorde Edgar. _ Curandeiro? O que a África está fazendo com vocês senhores? –disse o conde Wesley. A carruagem seguia por uma estrada estreita e empoeirada, mantendo distancia dos elefantes e dos leões, que fugiam ao ver a caravana armada que se aproximava levantando poeira, os animais selvagens já tiveram encontros anteriores com os ingleses e suas armas, e isso os deixavam apavorados. As minas de ouro ficavam a duas horas do porto, e o conde sentia o desconforto dos solavancos das rodas da carruagem nos muitos buracos da estrada, manter as estradas em perfeito estado não estava nos orçamentos do rei, o desconforto deixava o conde irritado e o calor da África era quase insuportável, o conde derramava suor como se estivesse derretendo, isso satisfazia seus anfitriões acostumados com o clima africano e as estradas ruins. Na casa do governador, a condessa e suas criadas saíram da casa para andar e conhecer o lugar, acompanhada por dois dos soldados que os acompanhavam no navio, o terceiro foi com o conde na caravana, Sophie teve permissão para passear pela aldeia, os nativos

Page 60: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

60

lhe ofereciam animais vivos, comidas estranhas e bijuterias feitas de pele e dentes de animais, uma mulher africana, alta e gorda se aproximou das moças se pôs na frente das criadas da condessa e ofereceu um objeto feito com um crânio de babuíno a Cristina, o crânio branco tinha enormes dentes caninos, a condessa disse para a moça. _ Cristina, aceite o presente, ele não é uma graça? Cristina ficou horrorizada com aquilo, não sabia se devia obedecer a condessa ou vomitar só em pensar que teria que por as mãos naquele crânio, então um soldado que as acompanhava e vivia há muito tempo na colônia se aproximou e falou. _ Na África costuma-se criar objetos para cada deus de suas inúmeras religiões, o crânio do babuíno representa uma deusa pagã responsável por levar os mortos à terra dos espíritos, de acordo com a crença de algumas aldeias africana a terra dos mortos é um lugar bonito e claro, cheio de ouro e guardada por uma mulher branca como os ossos dos mortos com os cabelos feitos de fios de ouro, e quando essa mulher branca andava entre os vivos era para comer a carne dos cadáveres. Quando essa mulher passava pelas aldeias, os nativos que tinham uma pessoa doente em casa deveriam lhe dar uma caveira de babuíno para que ela não comesse o doente por engano, essa velha africana deve achar que você é a deusa por causa da sua pele muito branca e os cabelos cor de ouro. Cristina não teve alternativa senão pegar o presente depois que foi advertida das conseqüências se recusasse, por brincadeira o soldado disse que ela poderia ser apedrejada até a morte. Enquanto as moças caminhavam pela colônia Cristina carregava o seu presente macabro nas mãos evitando olhar para ele, sua irmã Laura e a condessa riam sem parar da sorte da moça, que por sua vez derramava lagrimas de raiva e desprezo, quando viram que Cristina estava chorando elas pararam de rir e consolaram a menina. Derik havia deixado o navio para passear com o veterano soldado Berny um amigo tripulante do navio Espada do Mar, estava deslumbrado com os animais que ele viu na aldeia, tinha um filhote de

Page 61: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

61

elefante preso por uma perna em um tronco cravado no chão, seus donos estavam tentando vender o animal para um grupo de caçadores de outra tribo que estavam na colônia em busca de alimento, a seca tinha acabado com as caças em todo território dessa tribo, a colônia era um porto seguro para as tribos aliadas dos ingleses, ali eles conseguiam comida e podiam trocar e vender todos os tipos de coisas. Derik e seu amigo andaram entre os acampamentos de diversas tribos e etnia, alguns grupos se levantaram ao ver os soldados passarem, não por medo ou respeito, mas por que eram guerreiros e não gostavam de ser incomodado pelos ingleses, o governador tolerava sua presenças na colônia por serem fortes e destemidos, nos combates a maioria dos inimigos fugiam ao ver os guerreiros daquela tribo correndo aos gritos em sua direção, todos queriam tê-los como aliados, lorde Edgar teve que pagar muito bem para conseguir essa amizade valiosa. Uma pantera chamou a atenção de Derik, ele nunca tinha visto um animal tão bonito e tão mortal armado de garras afiadas como o punhal que carregava na cintura, seus dentes eram grandes facas feitas para matar, uma visão deslumbrante e ameaçadora. _ Ainda bem que está enjaulado. –disse Derik ao Berny, saíram de perto daquela jaula de ferro que acomodava o perigoso e impaciente animal que encarava Derik com ódio no olhar, isso deixou os soldados muito nervosos. Então Derik avistou sua irmã pela primeira vez em terra, ela estava escoltada pelos soldados e suas criadas, no momento ele queria correr para falar com ela, Berny não percebeu quando Derik se afastou e caminhou na direção da condessa, com o olhar fixo na moça, mas foi barrado por um homem africano com mais de dois metros de altura e gordo, trazendo nas mãos um martelo de ferro de um metro de comprimento e parecia ser muito pesado, mas o homem segurava com apenas uma das mãos e não parecia ser nada pesado pra ele, Derik olhou pra cima para ver o rosto do gigante com uma pele de leão cobrindo sua costa com as pernas dianteiras amarradas no pescoço, Derik ficou paralisado diante do homem que olhava para baixo encarando o pequeno soldado, Berny se aproximou e disse.

Page 62: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

62

_ Você está em cima do tapete do homem, sai daí agora. - sussurrou no ouvido do Derik. Então Derik olhou para onde estava pisando e viu um tapete de pele de zebra estendido no chão, em um salto saiu de cima do tapete, seu coração batia com tanta força que parecia que ia sair do seu peito esquecendo-se da sua irmã, Berny o segurou pelo braço e o levou para longe do gigante e seu martelo, quando se recuperou do susto Derik conseguiu falar. _ Santo Deus, você viu aquilo? Será que ele iria me matar? Você viu o tamanho do martelo que ele carrega? Você viu o tamanho daquele homem? _ É, eu acho que ele iria mesmo ti matar, e talvez ti comer. –falou o amigo de Derik deixando o rapaz ainda mais nervoso. Depois disso eles evitaram andar entre os grupos de acampantes, a condessa se foi sem notar a presença do seu irmão, já era meio dia o sol estava a pico o calor era infernal, Sophie voltou para a casa com suas amigas e sua escolta, Derik, apesar do calor não quis voltar para o navio, se abrigou em uma varanda de uma casa onde estava outros soldados conversando, logo Derik e Berny estavam fazendo parte da animada conversa, eles falavam das aventuras que passaram na África e os animais que viram e mataram o que mais gostavam de falar era sobre os ataques de leões, Derik ficava ouvindo, maravilhado das lendas africanas contadas pelos soldados e tudo estava ali tão perto que até ele poderia passar por aquelas aventuras, embora fosse assustador encontrar com um animal que come homens, Berny já esteve na África outras vezes e participou de alguns safáris em missões, por isso até ele tinha o que contar. Após duas horas o conde e sua caravana chegaram à mina Onguwa, nome dado pelos nativos trabalhadores das minas, a mina Onguwa era a principal de oito, as outras sete eram menores e mais novas, ficavam a dois quilometro de distancia uma das outras, foram abertas em linha próximas a um rio, e mais duas estavam sendo abertas ao sul na mesma linha que as outras, Onguwa era a mais profunda e a mais lucrativa, as minas eram um buraco vertical com uma abertura de dois

Page 63: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

63

metros de diâmetro e dez metros de profundidade dali se estendiam na horizontal em túneis de dois metros de diâmetro estendendo-se para todas as direções, a mina Onguwa tinha mais de quinze metros de profundidade com ramificações a cada cinco metros. As minas eram movimentadas, com cinco casas ao redor de cada entrada, uma casa de tijolos pintada de branco era a casa de comando do lorde, com uma sala grande mobiliada com uma mesa com cadeiras uma janela que dava pra ver o buraco por onde entravam e saiam homens a todo o momento, na borda do buraco outros homens trabalhavam sem parar, retirando pedras e levando para serem analisadas em busca do precioso metal, perto da casa do lorde tinha um barracão de tijolos, sem pinturas, com uma porta larga no meio da parede da frente e varias janelas abertas, ali era o alojamento dos soldados que protegiam a mina, em cada mina tinha cinqüenta soldados, mas só a mina Onguwa tinha uma forja para transformar as pepitas em barras, e dali eram levadas para a colônia embarcadas em navios e levadas para a Inglaterra, pelo menos parte do carregamento. Os outros dois barracões eram depósitos de ferramentas usadas nas minas, e o deposito de munição e pólvora usadas para explodir as rochas para abrir os túneis. O conde desceu da carruagem e foi direto para a casa do lorde Edgar, entrando na casa que estava com a porta aberta, logo atrás vinham o lorde e o governador se divertindo com aquela situação, o conde estava acostumado com frio e neve, mas não com o calor Africano, o conde se abanava com uma folha de papel que ele achou em cima da mesa, o lorde se sentou em sua cadeira e passou a olhar os papeis que alguém deixou sobre a mesa, eram anotações e relatórios, talvez estivesse apenas tentando impressionar o conde ou talvez realmente estivesse trabalhando, o conde não o interrompeu, foi até a porta se abanando tentando afugentar o calor, mas seu corpo derramava suor com mais intensidade, os trabalhadores africanos pareciam não se importar com a temperatura, pareciam nem sequer estar soando, isso só irritava ainda mais o conde que se levantou e disse.

Page 64: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

64

_ Parece que está tudo em ordem, vamos ver a mina? – disse o lorde que só queria levar o conde para fora e vê-lo assar ao sol. O conde olhou pra fora tremeu só em pensar em sair naquele forno, até os lagartos procuravam a sombra nas pedras e arbustos, só os homens continuavam trabalhando carregando pedras e levando ao rio para serem lavadas e depois era jogado em uma pilha enorme de cascalhos ao lado do rio, retirando algumas pepitas que de vez em quando vinha com o cascalho, o conde tomou coragem e saiu na frente dos seus colegas parando no meio do pátio a vinte metros do buraco aberto no chão onde cinco homens estavam parados esperando às pedras que subiam em baldes de ferro puxado por uma corda em uma carretilha, lorde Edgar e o Frank saíram atrás do conde e se puseram entre ele e a mina. _ Na verdade eu gostaria que o senhor visitasse primeiro a forja e todo ouro que tiramos nessa semana. –disse lorde Edgar ao conde Wesley. Os três foram até o barracão onde funcionava a forja, lá havia um homem ocupado em manter o fogo aceso, trabalhando com um fole do tamanho de um homem, abaixando e levantando o instrumento feito de madeira coberto com couro de antílopes, o fole soprava golfadas de ar em um buraco da parede do forno, mantendo as brasas em estado de incandescência, o fogo se mantém aceso, no meio das brasas havia uma panela de trinta centímetros de diâmetro onde se colocavam as pepitas de ouro para serem derretidas, havia outro homem trabalhando na frente do forno, ele abastecia o forno com carvão e também a panela com as pepitas para serem derretidas, era trabalho de esse homem tirar o ouro derretido e derramá-lo nos moldes, um terceiro homem esperava o ouro esfriar no molde e o desenfornava no chão em um monte de areia branca, o ouro saia em forma de barras retangulares pesando aproximadamente um quilo cada, depois de limpa e fria era levada a um carrinho de madeira de uma roda na frente, quando tivesse trintas barras de ouro no carrinho um quarto trabalhador africano transportava o ouro para um quarto na casa do lorde, três vezes ao dia um homem entrava no barracão com um carrinho

Page 65: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

65

trazendo pepitas para os fornos, eram aproximadamente cem quilos de pepitas por dia vindo das oito minas. O conde passou o resto do dia visitando as instalações da mina Onguwa, quando chegou à noite o calor deu lugar ao frio e o conde se sentiu mais a vontade, alojado na casa do lorde passaram boa parte da noite trocando informações sobre os piratas que atacavam os navios nas rotas mercantes roubando suas cargas, ninguém sabia onde os piratas escondiam os navios saqueados, houve um sobrevivente que disse que os piratas os levavam para algum lugar entre as colônias Francesas e holandesas. _ Não é possível que os homens dos navios estejam trabalhando com os piratas, - disse o conde -, pois todos eles aparecem mortos após os ataques, mas é possível que tenha pelo menos um espião nos navios para facilitar os ataques, agora senhores, precisamos descobrir quem é esse homem, então poderemos pegar seu líder e levá-los a forca. Edgar e Frank ficaram em silencio por alguns minutos, até que o governador disse. _ Bem senhores o dia foi exaustivo e precisamos dormir um pouco, já temos muita coisa para nos preocupar e sonhar essa noite, amanhã visitará as minas e temos o dia inteiro para tentar encontrar uma solução para esse problema. O conde assentiu balançando a cabeça, ele também estava exausto e depois de se despedirem foram para seus quartos. A casa do lorde Edgar foi arquitetada para receber hospedes, tinha vários quartos alem da sala onde o lorde deferia ordens aos seus subordinados de todas as minas, e uma sala onde estocavam o ouro antes de serem transportados para a casa do governador e de lá para os navios com destino a Inglaterra. Os soldados trabalhavam em turno de doze horas, vinte e cinco de dia e vinte e cinco à noite, protegendo a mina com canhões e todo tipo de armas de fogo e espadas, os trabalhadores africanos moravam em uma vila a duzentos metros das casas na mina, a vila dos trabalhadores eram de casebres típicos na África, moravam com suas famílias, mulheres e filhos, alguns dos africanos tinham mais de uma esposa e

Page 66: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

66

muitos filhos, e quase todos trabalhavam nas minas, as mulheres cozinhavam para todos os homens, inclusive os soldados o lorde e para os visitantes, o lorde as ensinou a fazer pratos típicos ingleses ao invés de comida típica das aldeias, que muitas vezes eram de gosto ruins para o paladar inglês, mas as frutas eram deliciosas, tarefa das crianças procurarem e apanhar esses frutos servir aos soldados e aos homens que trabalhavam no calor escaldante na mina, a vila dos trabalhadores eram cercadas com galhos cecos e espinheiros para manter as feras do lado de fora, depois de alguns ataques de leões matando e ferindo alguns soldados o lorde mandou cercar toda a mina com esse mesmo aparato, deixando apenas uma entrada larga, os soldados ficavam em torres de madeira a sete metros do chão, os canhões ficavam no chão em pontos estratégico do lado de dentro da fortaleza de espinhos. Derik, depois de preparar o jantar dos soldados e limpar as tigelas onde os homens comiam foi se deitar em sua rede, se afastando das conversas dos homens que insistiam que o rapaz participasse das brincadeiras, o soldado Berny que esteve com Derik na vila da colônia falou sobre o encontro de Derik com o gigante, todos riram fazendo piadas e zombando do rapaz, mas ele não estava prestando atenção em nada, só pensava em sua irmã que esteve tão perto e não pode falar com ela, mas assim que ele puder sairia do navio e se encontrar com a condessa ele iria dizer algumas verdades, por ter deixado sua mãe morrer sem dar noticias, por deixar seu pai acabar como um bêbado incapaz de trabalhar, e de tê-lo deixado passar fome, isso ele não podia perdoar. CAPITULO V O ataque das leoas Ao amanhecer o conde e seus anfitriões partiram subindo o rio, a manhã estava fresca, o sol ainda não tinha alcançado sua plenitude, mas o vento que vinha do oceano levantava poeira da estrada fazendo

Page 67: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

67

roda moinhos que em uma ponta tocava o solo e a outra tocava o infinito no céu, criando um tubo de poeira e palhas secas cintilando no ar formando uma imagem fantasmagórica naquele ambiente árido, alguns antílopes pastavam o que restava de capim verde disputando espaço com duas zebras, ao longe no meio de uma moita seca, invisível aos olhos de todos havia uma leoa a espreita, esperando para atacar o pequeno rebanho que dedicava toda sua atenção à pequena caravana de soldados e a carruagem que passava, o conde também os observava, encantado com a beleza dessas criaturas selvagens, quando de repente a leoa saiu em disparada sem ser percebida, o conde viu quando a leoa se projetou sobre a desavisada zebra que só percebeu o ataque quando era tarde demais, os outros animais, em puro reflexo, correram sem rumo cada um para um lado sem saber de onde partiu o ataque, então a outra zebra, desorientada, correu sozinha para o campo aberto as margens do rio, mas outras duas leoas já estavam ao seu encalço percebendo que a zebra mancava de uma perna, talvez devido a um ataque de leões ou de hienas, a zebra estava perdida, as leoas a alcançaram com facilidade e a abateram, o conde olhava com assombro a ferocidade em que as leoas agarravam o pescoço de suas presas, matando-as sufocada, enquanto os poderosos machos se aproximavam para estraçalhar e devorar, a carruagem não parou, continuou seu trajeto rumo às minas para serem vistoriadas pelo conde que agora tinha outra visão sobre a África, o conde engolia seco ao pensar que se não estivesse na carruagem poderia ter o mesmo fim que as zebras, pensou nos soldados que estavam a cavalo, o que impediriam os leões de atacarem os soldados e os derrubarem e os devorasse sem piedade, não era de se surpreender o temor que os habitantes locais tinham dessas feras cercando as vilas com tanto cuidado, na noite anterior o conde riu da falta de engenhosidade desse povo que deveria construir cercas com pedras e cimento e não de galhos espinhentos, aquilo não deteria o inimigo, mas agora ele viu que o inimigo não era homens e sim algo muito pior, eram leões devoradores de homens, só uma cerca de espinhos para deter um inimigo tão formidável, a África mereceu o respeito do conde.

Page 68: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

68

Durante todo dia o conde passou de mina em mina, olhando tudo com atenção, vistoriando e anotando, fazendo cálculos e falando pouco, para o desespero de Edgar e Frank que não sabia o que o conde estava pensando ou escrevendo, poderia ser algo sobre eles, as contas poderiam não bater com as contas que eles faziam antes de mandar o ouro para a Inglaterra, isso quando o ouro chegava à Inglaterra, quando não eram roubados por piratas, no final do dia eles retornaram para a mina Onguwa, de onde haviam partido, ao passar pelo lugar onde as zebras foram abatidas o conde procurou pelos restos dos animais, tinham uns poucos abutres com as asas abertas e uma mancha vermelha no chão, não havia nem um osso sequer, tudo foi consumido pelos animais. _ Na África não se desperdiça nada, couro ossos cascos e até os chifres são consumidos pelos animais, os leões comem a carne, os chacais limpam onde os leões não alcançam, os abutres limpam os ossos e as hienas comem tudo que sobrar, ossos cascos e chifres isso em questão de horas, não sobra nada. –disse Edgar ao conde. Ao anoitecer a caravana chegou à segurança da mina Onguwa, o conde se despediu e foi direto para seu aposento, depois de três horas ele saiu para jantar, à mesa foi posta por uma mulher jovem, filha de um dos mineiros, acompanhada por um jovem, o rapaz tinha uns quinze anos, era forte e alto, musculoso demais para sua idade, um típico guerreiro africano, o conde se prendeu com os olhos no corpo do rapaz, enquanto o governador seguia a moça com os olhos como um caçador examinando cada movimento de sua presa esperando o momento certo de atacar, lorde Edgar percebeu os olhares dos dois e antes de se servirem ele disse. _ Os dois são filhos do líder da vila, seu nome é matador de leões, porque ele mata leão com as mãos limpas, e isso não é historias eu já o vi fazer isso, todos aqui o respeitam e sua família, até os nossos soldados tem medo dele e de sua tribo, foi difícil trazer-lo para o nosso lado e eu não gostaria de perder sua amizade, ninguém gostaria de ter sua tribo como inimigos, de ter que lutar com um homem como aquele, que mata e devora seus inimigos.

Page 69: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

69

Depois dessas palavras todos comeram em silencio, depois do jantar foram para seus aposentos, o conde estava deitado na cama pensando no longo dia que teve no ataque dos leões como eles arquitetaram a caçada e executaram com tamanha perfeição, a maneira em que a primeira leoa se aproximou da zebra, sorrateiramente sem levantar suspeita, enquanto as zebras se distraíram olhando para a carruagem, como a leoa saltou sobre a zebra batendo com as patas dianteiras nas costas da caça dando impulso e se projetando para frente direto para o pescoço abocanhando-o antes de cair agarrada nas costas da indefesa vitima, enterrando suas garras no couro listrado caindo com o peso da enorme fera, enquanto os outros animais se dispersavam apavorados sem olhar para trás, e a leoa com seu abraço mortal segurava a zebra que esperneava tentando se soltar dos dentes que esmagavam sua traquéia, a segunda zebra que foi atacada por outras duas leoas parece que teve mais sorte, assim que foi derrubada por uma das leoas a outra quase que imediatamente quebrou o pescoço da zebra com uma mordida e um rodopio no ar, essa zebra não teve tempo nem de sentir dor. O conde já viu muita gente morrer, de diversas maneira, forca, guilhotina, fuzilamento, espada, punhal, espancamento, apedrejamento, queimadas vivas e nenhuma dessas mortes o apavorou mais do que essa que ele viu nessa manha, o conde sempre foi um caçador, um grande espadachim, atirava como ninguém, experiente em combates, mas ali, na África, ele estava com medo, ali ele era a caça e os leões estavam lá fora arquitetando uma emboscada para destruí-lo, percebeu que deveria pensar antes de falar alguma coisa para o Edgar e o Frank, mesmo sabendo que eles estavam escondendo algo a respeito dos roubos do ouro do rei, seria fácil para eles deixar o conde em uma área cheia de leões, forjar um ataque e dizer que foi um acidente e que o conde morreu nas garras de um desses formidáveis matadores, por alguns minutos o conde se viu no lugar daquela zebra, e não restaria nada alem de uma mancha de sangue no solo arenoso da África, que logo o vento o apagaria, mas o conde tinha outras questões para pensar e resolver, então pegou um papel e desenhou algo nele, logo depois foi dormir.

Page 70: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

70

No dia seguinte o conde acordou com um barulho de tiro de fuzil, levantou-se rápido se vestiu e foi para a sala do lorde Edgar. _ O tiro o acordou? Sinto muito, vou mandar preparar algo para comer, há, o tiro foi para afugentar um bando de hienas, que estava chegando perto demais. – disse Edgar ao conde. _ Ontem o conde ficou impressionado com os leões, mas as hienas são muito piores, os leões matam e depois comem, as hienas derrubam sua vitima e as comem ainda vivas, dilaceram carne e ossos com o animal vivo respirando e gritando diante de tamanha dor, - disse Frank que entrava pela porta com um fuzil nas mãos olhando para o conde que estava em pé ao lado da mesa do lorde Edgar. O conde vestia suas roupas espalhafatosas de tecidos caros feitos pelos melhores alfaiates da Inglaterra, Edgar e Frank estavam sempre de calças de tecidos forte e resistente e camisas de tecidos finos para suportar o calor da África. A menina que serviu o jantar na noite anterior entrou pela porta atrás do governado, esbarrando em sua costa, ela trazia uma bandeja com frutas e um mingau de leite de cabra com farinha de uma raiz doce que os nativos usavam em sua culinária, o conde Wesley comeu o que lhe ofereciam, as palavras do governador o fez lembrar-se das leoas e as zebras, isso visivelmente o perturbava, ainda comendo o conde pôs um papel sobre a mesa do lorde Edgar, o governador e o lorde olharam o papel sem entender o que significava, o conde engoliu o que estava na boca e disse. _ Eu desenhei esse tridente e essa tiara, porque eu quero levar um presente para o rei e para a rainha, evidentemente o tridente é para o rei e a tiara para a rainha, o tridente será de ouro cravejado com todo tipo de pedras preciosas, a tiara deve ser de ouro fino e diamantes, eu quero esse tridente com trinta quilos de puro ouro, eu levarei pessoalmente esses presentes ao rei Eduardo e a rainha Elisabete, vou antecipar minha viagem de volta à Inglaterra, devo voltar em cinco dias. _ Os presentes ficarão prontos em dois dias. – disse Edgar, com um sorriso de felicidade, olhando disfarçadamente para o governador.

Page 71: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

71

_ Ótimo, devo voltar para a colônia hoje, agora vamos falar com o artesão da forja, é importante que ele entenda bem o que quero, tudo tem que estar perfeito. –disse o conde. Os três saíram e foram para o barracão da forja, lá estava o africano Edu, responsável pela forja, o conde explicou tudo como deveria ser, o fato de que o senhor Edu falasse inglês facilitou muito, ele entendeu e deu algumas sugestões, deixando a peça ainda mais bela. _ Na parte mais larga, onde nascem os dentes quero a mais bonita das jóias que tiverem por aqui. –disse o conde para o artesão Edu. _ Sei exatamente o que o senhor quer, - respondeu Edu-, na semana passada foi encontrada, nas minas de diamante uma pedra azul do tamanho do meu punho, ela poderia ser o que o senhor está procurando. O conde olhou para Edgar que o encarou de volta. _ O senhor não me falou nada a respeito disso. –disse o conde para o lorde. _ A pedra está no deposito, bem guardada, ela seria levada junto com o ouro para a casa do governador e embarcada no próximo carregamento para Inglaterra. -respondeu o lorde. O governador ficou calado olhando para o lorde, Frank não sabia sobre a pedra, até pensou em perguntar ao Edgar porque lhe escondeu essa preciosidade, quando iria lhe contar? Ou se iria lhe contar, Wesley achou melhor não falar nada, voltou-se ao homem da forja e continuou a explicar como que deveria ficar a tiara da rainha, mas o diamante azul não sai de sua cabeça essa era a prova que ele procurava contra os dois, mas no momento seria melhor não fazer nada, seria melhor esperar e falar pessoalmente com o rei, o conde não se sentia seguro na África na companhia do governador Frank e do lorde Edgar, Wesley temia pela sua vida. CAPITULO VI Derik e a feiticeira

Page 72: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

72

Derik, após terminar de servir o almoço saiu do navio, já era mais de meio dia o sol estava muito forte e a condessa havia voltado para a casa com suas criadas e os soldados, Derik estava acompanhado por dois amigos, Robert e Henrique, eles se divertiam contando historias e rindo, distraídos entrando novamente nos acampamentos dos refugiados nativos que formavam grupos na periferia da vila da colônia, viram dois pescadores carregando um grande tubarão pendurado em uma vara para dentro de um grupo de tendas armadas perto da vegetação do lado de fora da cerca de espinheiros, mesmo vendo que estavam se distanciando da segurança da colônia os rapazes continuaram seguindo a certa distancia, quando deram por si estavam dentro da pequena aldeia, os nativos os observavam de pé, ao perceberem que estavam sendo observados por toda a aldeia a curiosidade pelo tubarão acabou e resolveram se retirar o mais rápido possível, não foram muito longe, os guerreiros os cercaram, Derik e os seus amigos estavam armados, mas o que fazer contra vinte homens com lanças e tacape pesados que os cercavam a menos de dois metros de distancia, nesse momento Derik se lembrou do encontro com o gigante e do juramento que fez a si mesmo de nunca mais entrar no meio de uma tribo africana sem ser convidado, um juramento que parece ter esquecido completamente, agora ele e os dois soldados estavam novamente em apuros, e dessa vez não sabiam como sair dessa encrenca, os rapazes começaram a se apavorar, olhando para os lados eles viram uma fogueira acesa perto de uma cabana afastada do agrupamento de cabanas, lembraram-se das historias que ouviram dos veteranos no navio que conheciam a África, sobre as tribos canibais que assavam suas vitimas em fogueiras como aquela, uma enorme fogueira com estacas com forquilhas nas pontas cravadas nas extremidades do fogo com um grande pedaço de carne assando, será essa gente os temíveis canibais? Os ossos jogados pelo chão não pareciam de animais de caça, pareciam mais de humanos, o soldado Robert cutucou seu amigo Henrique com o cotovelo, apontando com o dedo para uma cabana ao lado da fogueira no canto escuro perto de um grande tronco seco, Henrique cutucou Derik apontando o mesmo lugar com um aceno de cabeça, Derik quase desmaiou quando viu o

Page 73: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

73

que estava pendurado sobre a porta da cabana de barro com telhado de palha coberta pela fumaça que subia da fogueira e entrava pela porta, quando a fumaça se dispersava momentaneamente pelo vento dava para ver duas cabeças humanas em decomposição com os olhos esbugalhados e a boca aberta com os dentes brancos a mostra, talvez as cabeças fossem de homens africanos de tribos rivais, ou fossem homens caçados e devorados por essa tribo que se estabeleceu aos arredores da vila, talvez os ossos que eles viram espalhados pelo chão fossem dos corpos que um dia fizeram parte daquelas cabeças, Derik, Roberto e Henrique sentiram náuseas, se viram na situação das cabeças penduradas na soleira da porta da cabana, por um minuto sentiram vontade de chorar, gritar, sair correndo atirando para todos os lados, olharam uns para os outros e com olhares pareciam ter planejado o que fazer no próximo segundo, mas antes de moverem um só músculo os guerreiros se afastaram automaticamente como se tivessem recebido uma ordem que os soldados não perceberam, os guerreiros saíram reunindo-se em um grupo do lado direito dos soldados olhando para a cabana perto da fogueira, os soldados olharam para lá e viram um vulto pequeno saindo das sombras da porta em meio a fumaça, o vulto se aproximou de vagar, percorreu os cinqüenta metros apoiada em um cajado de madeira seca, um galho retorcido e fino com um crânio humano parecendo ser de criança pendurada no cajado, aquele vulto se aproximou e os homens puderam ver que se tratava de uma velha enrugada e arqueada, uma vitima do passar das décadas, ela se pôs na frente dos soldados que tentavam se mover, mas seus pés pareciam estar enraizados no chão, uma estranha força os prendia os paralisavam evitando que saíssem correndo, a velha estava nua e falava sem parar em uma língua estranha, eles não entendiam nada, mas a velha falava olhando e apontando para Derik, os três ficaram calados olhando para a velha. _ Ela está dizendo que você é o escolhido, - disse um homem de barbas longas que se aproximou sem ser notado pelos soldados, ele era um inglês de meia idade, com roupas sujas, uma calça de tecido grosso e camisa de manga longa feita do mesmo tecido, um chapéu largo de couro e usava botas longas que cobriam até os joelhos e um

Page 74: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

74

lenço vermelho em torno do pescoço-, ela está dizendo que você tem a marca do deus do mar e seu destino esta nas águas frias que se encontram com o fogo. _ Quem é você? – perguntou Henrique ao homem de barba longa. _ Meu nome é fantasma, eles me deram esse nome por eu ter a pele tão branca. A velha continuou a falar rápido e em sussurros, mal se podiam ouvir as suas palavras mesmo com o silencio que faziam quando a velha falava e o homem, chamado fantasma, traduzia tudo que ela falava nas pausas que a mulher dava para tomar fôlego. _ Ela disse, -continuou a tradução -, que você terá que passar por um vale de fogo antes de cair nas águas frias do mar, e fará uma escolha entre o sangue e o ouro, e que terá a vida de um deus em suas mãos, mas seu destino será morrer no trono desse deus, e será sepultado no fogo. Derik sentiu um arrepio percorrer sua espinha, as palavras da velha franzina entravam em seus ouvidos como flechas em chamas, o homem chamado fantasma estava traduzindo, mas de alguma forma Derik parecia estar entendendo cada palavra que saia da boca pequena e desdentada da anciã, de repente parecia que não existia nada mais ao seu redor, era como se estivesse hipnotizado, seu mundo agora se torno8u em trevas, só existia apenas duas pessoas nesse mundo, ele e uma mulher que falava sem parar, mas não era a velha que estava falando, era uma linda mulher negra, de olhos esverdeados, sem um único fio de cabelo pelo corpo, estava nua, era uma mulher jovem esguia, uma gigante de mais de dois metros de altura, uma guerreira africana pronta para um combate, apesar de tamanha imponência sua voz era doce e forte, não o sussurro que a velha se esforçava para arrancar da garganta, as palavras soavam em seus ouvidos em uma língua que mais parecia com sons de instrumentos musicais em voz de anjos, a voz da mulher o envolvia, o seduzia, como se estivesse chamando-o para satisfazer seus desejos mais antigos, mais promiscuo, a voz era como favos de mel, doce e suculento, de repente a vida deixou de ser má e dolorosa e passou a ser somente flores sopradas ao vento, Derik queria abraçar a mulher beijá-la e amá-la

Page 75: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

75

para sempre, se embriagar na melodia da sua voz, então a voz se calou e o rapaz despertou da hipnose, se viu frente a frente com a velha calada olhando para seus olhos, ela tirou um colar que enfeitava seu cajado, e do colar ela tirou um enorme dente amarelado, uma presa de leão, e deu a Derik como presente, o homem chamado fantasma lhe disse. _ Ela está lhe dando um amuleto para ti proteger dos demônios, pegue você vai precisar. Então os soldados se viram livres saíram andando rápido sem olhar para trás, mas Derik continuou parado com a velha a sua frente com um braço estendido esperando que Derik pegasse o amuleto, o rapaz ainda estava tentando entender o que estava acontecendo, mesmo sem querer como por impulso ele pegou o presente, a velha voltou para sua cabana desaparecendo em meio a fumaça entrando nas sombras do interior da cabana, Derik acompanhou-a com os olhos até que ela sumisse, só então ouviu os seus amigos chamando-o de longe, Derik olhou para o senhor fantasma, que ainda estava parado com um sorriso escondido no meio da longa barba grisalha, depois de ouvir os rapazes implorarem para que Derik saísse dali ele conseguiu se mover e saiu lentamente, olhando para a cabana da velha feiticeira e para o fantasma que também se afastava se dirigindo para um grupo de nativos que cortavam o corpo do tubarão. Derik pôs o amuleto no bolso e voltou para o navio com seus amigos, Robert e Henrique riam da velha nua feiosa e do seu interprete sujo de mau hálito, mas Derik se manteve calado, o que ele viu não era o mesmo que seus amigos. A noite todos dormia no navio Espada do Mar, Derik deitado em sua rede tinha sonhos terríveis, em seu sonho ele estava lutando contra o gigante africano, o mesmo que ele viu na aldeia, e viu uma boca enorme com dentes pontiagudos surgindo no ar engolindo o gigante, de repente a terra se abriu em baixo dos seus pés e o rapaz, em sonho, caiu no mar tentava nadar para se salvar, então ouviu uma melodia suave que o envolveu apagando todos seus sentidos, ele começou a afundar na escuridão das profundezas do oceano, quando estava preste a se afogar uma mulher o pegou pelo braço e o tirou das profundezas das águas, essa mulher

Page 76: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

76

era a mesma que ele viu quando estava na aldeia em estado de hipnose, a mesma mulher negra gigante, a guerreira imponente, nadando como um peixe, seu rosto negro de pele macia tinha tons de azul e vermelho brilhantes, eram como escamas que cobriam parte do seu rosto e a testa estendendo-se por toda cabeça cobrindo as costas se estendendo até as pernas que era totalmente coberta pelas escamas que mudavam de cor conforme ela se movia, de azul para vermelho e às vezes amarelo, a mulher e a melodia eram uma só e o levava a uma estranha terra submersa cheia de prazeres e delicias, Derik se deixava levar ao encontro dessa terra, atendendo a voz da guerreira negra prometendo a felicidade sem fim. O sonho parecia ser tão real que Derik podia sentir o corpo da sua amante junto ao seu, o calor de sua pela escura e sedutora, ela se deitava ao seu lado, seus lábios quase se juntando, aquela imensa mulher de olhos atraentes e corpo quente como a própria África, quente sedutora e mortal, sua boca contava os segredos da vida, seu hálito doce destilando o perfume do mar, seu corpo forte radiava luz, uma luz que Derik se esforçava para poder ver e tocar, um corpo proibido intocável, aquela mulher era parte do próprio oceano pertencia ao deus do oceano, e não poderia ser corrompido por um simples mortal, mas Derik estava apenas sonhando e por ser um sonho talvez pudesse violar as leis dos mares, talvez pudesse tocá-la mesmo que o próprio oceano o condenasse a morte, valeria à pena morrer por um segundo de êxtase, no fundo do mar Derik pertencia ao mar, conseqüentemente pertencia à deusa que o levou a esse paraíso submerso, Derik não sabia se estava vivo ou morto, apenas estava lá, vendo e ouvindo tudo que a mulher lhe mostrava lhe contava, levantou a mão tentou alcançar os lábios afrodisíacos da sua amada que estava tão perto, tão próximo ao seu, de repente sentiu que seu corpo não respondia ao seu comando, seus sentidos se perdiam seu corpo esfriava, se ainda não estava morto logo estaria, isso se aquilo fosse a morte que o consumia de vagar, então seus olhos tornaram a se abrir, e lá estava a mulher, sentada ao seu lado com o mesmo sorriso que o atraiu para o fundo do mar, cantando a mesma melodia que o convidava para a morte, Derik ainda estava com o braço estendido e

Page 77: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

77

finalmente tocou nos lábios da sedutora deusa do mar, fazendo com que ela se calasse, quando ela se calou foi como se o encanto se quebrasse e ele acordou, olhou ao redor e se levantou assustado ao ver que estava deitado no chão em uma cabana de barro com teto de palha, mas como poderia ser isso se ele estava no navio, como poderia acordar em uma cabana, já era dia a luz penetrava a cortina de fumaça entrando pela porta aberta, ao seu lado estava a velha nua ajoelhada olhando para uma tigela de barro cheia de água, Derik se levantou assustado com as roupas molhadas como se tivesse nadado para chegar até ali, o gosto de água salgada em sua boca tossindo vomitando água, estava confuso, aquele sonho não poderia ser real, a guerreira negra não poderia ser real, mas como foi parar na cabana da velha feiticeira? _ Acordou? -Disse o homem chamado fantasma. Derik olhou para ele achando que ainda estava sonhando, que logo acordaria na sua rede no navio e tudo voltaria ao normal. _ Você parece estar meio confuso. - continuou a falar sentando-se ao lado do Derik. _ Isso é um sonho? – perguntou Derik. _ Não, isso é real. –respondeu o fantasma. _ Não é real, eu estou no navio dormindo e isso é um sonho. _ Você chegou aqui pela manhã acompanhado pela velha feiticeira e se deitou ao seu lado, eu vi quando você chegou. A velha continuou calada olhando para a tigela. Derik se levantou rápido correu para fora da cabana seguido pelo fantasma, que visivelmente estava bêbado. _ Calma rapaz, eu vou ti contar algumas coisas, - disse o fantasma segurando-o pelo braço -, existem coisas na África que não tem explicação, feitiçarias que podem matar ou dar vida as pessoas, essa velha na cabana é uma dessas feiticeiras, dizem que ela é mais velha que a própria África, os mais velhos da tribo dizem que quando eram crianças essa mulher já estava na tribo e já era velha, dizem que ela é imortal, que ela é uma deusa que foi expulsa do seu mundo e agora vive entre nós, você não veio aqui por vontade própria, ela o atraiu, tem algo em você que ela precisa muito e por isso você foi encantado,

Page 78: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

78

já ouvi falar que ela poderia fazer isso, mas é a primeira vez que eu vejo acontecer, dizem que ela pode cantar como as sereias, que ela ensinou as sereias a cantar e atrair os homens para o fundo do mar e devorá-los. _ Essa historia não me interessam, se eu não estou sonhando então preciso voltar rápido para o navio antes que alguém sinta a minha falta. Derik caminhava apresado atravessando o acampamento dos refugiados se afastando da cabana da velha feiticeira com as roupas encharcadas sem entender o que estava acontecendo com o homem bêbado falando atrás dele. _ Você não está dando a devida importância para o assunto, mas um dia você vai cair na realidade e... _ Para com isso, - gritou Derik se voltando para trás olhando fixamente nos olhos do fantasma que lutava para se manter em pé -, santo Deus, nós somos homens civilizados, somos ingleses, eu não acredito em feitiçarias ou em magia ou em bruxas, por favor, eu não sei como fui parar aqui, mas sei como vou sair. Voltou a caminhar apressadamente em direção ao navio então o homem chamado fantasma gritou. _ Não se esqueça de guardar bem o dente de leão, o seu talismã, ele pode salvar sua vida, ele salvou a minha, - então parou de gritar e começou a falar baixinho -, salvou a minha vida varias vezes, um dia você vai precisar pode crer, você vai precisar. Derik passou pela entrada da colônia, uma entrada larga vigiada por dois soldados armados, ao passar pelos soldados, com as roupas pingando água, as sentinelas olharam para o rapaz e um deles gritou apontando o enorme fuzil. _ Soldado Derik Fadel? Derik voltou-se para o soldado que tinha chamado pelo seu nome, o soldado tornou a gritar. _ O senhor é o soldado Derik Fadel? _ Sim sou eu. _ O senhor está preso.

Page 79: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

79

As sentinelas se aproximaram com as armas apontadas para o rapaz que não entendia o que estava acontecendo, então um deles soprou um apito e logo apareceram outros soldados correndo em direção aos dois que mantinham Derik sob vigilância, os outros soldados chegaram com as armas em punho apontando para Derik como se ele fosse um fugitivo perigoso, tudo aconteceu tão rápido que ele não teve tempo de fazer perguntas, sua cabeça estava rodando era tanta coisa acontecendo que ele não sabia se tudo aquilo era real ou um pesadelo interminável, o cheiro de fumaça o gosto amargo em sua boca a mulher negra dos seus sonhos, agora estava sendo preso, Derik já havia caçado fugitivos criminosos e sabia que quando os soldados ingleses aprisionavam alguém eles não hesitavam em atirar, por isso era melhor fazer tudo o que eles mandavam mesmo atordoado pelos acontecimentos daquele dia, Derik seguiu os soldados em silencio com as mãos algemadas, parecia que ele estava entrando em transe outra vez, como se tivesse tomado alguma droga, seus olhos ficavam pesados com muito sono, como se tivesse passado a noite inteira acordado, sentiu seu corpo esmorecer até seus sentidos sumiram, novamente estava mergulhado no mundo das ilusões, arrastado pela gigante negra que cantava uma melodia apaixonada, mas dessa vez ele não estava no fundo do mar e sim nas areias de uma praia, mas o gosto do sal do mar estava em sua boca e na pele, a mulher guerreira andava pela praia procurando alguma coisa, então ela se abaixou e pegou uma pedra levando para o moço que estava deitado nas areias finas e branca da praia, ele pegou a pedra como se fosse um precioso presente, em sua mão a pedra se transformou em um dente de leão, o mesmo que ele tinha no bolso, a mulher se abaixou encostou seu rosto no dele e falou. _ Nunca se separe desse amuleto, ele pode salvar sua vida. De repente Derik recuperou os sentidos, ele estava deitado no convés do navio Espada do Mar, ao seu redor estava o capitão Martim Mac Fel, o comandante e dois soldados armados, os soldados o pegaram pelos braços levantando-o para que não caísse então o capitão falou.

Page 80: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

80

_ Você está preso sob a acusação de assassinato de um soldado inglês. Então o capitão deu ordens para que levassem o rapaz para o porão e o prendesse até que o conde chegasse para julgá-lo e o enforcar por assassinato. Depois de uma hora Derik recuperou todos seus sentidos e se viu acorrentado no porão perto das redes de dormir, o soldado que mantinha guarda era o House Taner, que sorria e sussurrava dizendo que dessa vez tinha se vingado e Derik iria morrer. O conde havia voltado para a colônia no dia anterior estava na casa com sua esposa e o governador quando foi chamado por um soldado enviado pelo capitão Martim do navio Espada do Mar. _ Senhor, o capitão Martim pediu que o senhor fosse ao navio, foi capturado um assassino, ele está esperando que o senhor vá para fazer o julgamento. _ Diga ao seu capitão que traga o assassino aqui hoje à tarde, eu farei o julgamento antes do anoitecer. O soldado correu para avisar ao capitão, já era tarde e o conde não esperaria o anoitecer, rapidamente Derik foi levado para a casa, escoltado por quatro soldados o capitão e a testemunha que viu Derik praticar o crime e fugir, a testemunha era House Taner que viu quando Derik saiu à noite e saltou no mar, vendo a chance de se vingar do rapaz inocente, House pegou o punhal que Derik deixou para trás e golpeou um soldado que Derik havia discutido na mesma noite por ter zombado dele por causa do amuleto, incriminando-o injustamente, a pena para assassinato era a forca. Chegaram a casa e foram direto para a sala do governador, onde o governador costumava realizar os freqüentes julgamentos na colônia, que na maioria das vezes culminava em forcas ou fuzilamentos, assim o governador mantinha os seus amigos e inimigos sob controle, enquanto Derik esperava na sala a condessa passou por ele e viu o rapaz sentado na cadeira de madeira esperando pelo julgamento, ela reconheceu seu irmão assim que o viu, parando no meio da sala surpresa por rever seu irmão naquelas circunstanciais, mas não pode fazer nada nem sequer falar com ele, suas criadas a empurraram para

Page 81: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

81

dentro de um corredor, o conde estava chegando acompanhado pelo governador, lorde Edgar ficou em Onguwa para preparar o presente do rei e a rainha, Sophie andava devagar olhando para trás, queria saber o que estava acontecendo com seu irmão, como ele foi parar naquele lugar, o conde entrou na sala sentou na cadeira do governador de frente ao acusado, House Taner se pôs em pé ao lado do réu, os soldados armados ficaram em pé atrás deles, o julgamento começou assim que o conde Wesley se sentou, o capitão contou o que tinha acontecido, o conde perguntou se tinha testemunha, House contou sua historia fantasiada acrescentando fatos que ele acabará de criar, os homens falavam alto possibilitando que a condessa ouvisse tudo do quarto mais próximo que ela se alojou para ouvir o julgamento. O conde estava exausto e queria acabar logo com aquilo, mas seus desejos lascivos afloravam a pele, o conde julgava o rapaz, mas seus olhos estavam no corpo esguio e musculoso que o rapaz desenvolveu no exercito parado em pé diante do conde como um objeto exposto em uma vitrine de uma loja sendo avaliado cobiçado por um comprador, Wesley viu uma oportunidade de desfrutar dos prazeres que o rapaz poderia lhe oferecer, já que sua vida estava em suas mãos, depois de ouvir o que todos tinham a dizer o conde Wesley deu seu veredicto, que já estava preparado desde o inicio, e disse. _ O que você fez é grave demais para ser julgado assim e aqui, nesse fim de mundo longe da Inglaterra, por ser um soldado inglês devera ser julgado em solo inglês, por isso devera ser acorrentado no porão do navio Perola do Rei, onde ficará preso até chegar a solo inglês, lá terá um julgamento de acordo com as leis inglesas. O conde Wesley se levantou e se dirigiu a outra sala da casa onde estava antes de ser chamado para aquele julgamento, acompanhado pelo governador que não entendeu o porquê não enforcar um assassino inglês na colônia inglesa em solo africano, mas o governador preferiu não contestar o veredicto e irritar o conde nas vésperas de sua partida, retornaram aos seus copos de aguardente, uma bebida feita de álcool de cana de açúcar, destilada e fermentada, mas que agradava o paladar do conde que apreciava bebidas fortes, uma das poucas coisas que ele gostou na África e que levaria um bom estoque para seu palácio.

Page 82: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

82

Com a decisão do conde de poupar o réu, pelo menos por instantes, e de mantê-lo preso no Perola do Rei deixou House Taner frustrado, já que seu plano não teria dado o resultado esperado, até o capitão Martin não entendeu o que havia acontecido, como um soldado inglês não poderia ser julgado fora da Inglaterra? Ele já tinha visto varias execuções de soldados ingleses fora da Inglaterra, em vários países, até mesmo no navio em alto mar já foram feitos enforcamentos e decapitações e por motivos muito menores do que um assassinato, às vezes por um simples roubo de comida, não pelo crime de roubar comida, mas por disciplina e exemplos para os outros soldados, essa decisão incomodou o capitão, os soldados do navio Espada se dividiram sobre o assunto, alguns queriam que Derik permanecesse preso no navio Espada do mar no cargo de cozinheiro, e que aquele assunto fosse esclarecido com uma punição administrativa como chicotadas ou prisão por alguns dias e logo tudo teria acabado em esquecimento e a vida voltaria ao seu ritimo normal, se Derik morrer eles teria que voltar a comer a comida do velho Sherman Wilkom, a outra parte dos soldados achava que por mais que desagradável que fosse a idéia de ter o velho cozinheiro de volta Derik teria que sofrer as conseqüências do seu crime, entre os soldados que pensava assim estava o capitão do navio Espada do Mar. Derik foi levado para o navio Perola do Rei, escoltado por soldados do conde, logo estava acorrentado no porão do navio, estava anoitecendo e não havia luz no porão, era um deposito de cargas onde havia algumas caixas, mas com muito espaço ao seu redor, o rapaz ainda não tinha comido nada e seu estomago se retorcia de fome, mas Derik não teve tempo de pensar em comida, o dia foi tenso e cheio de novidades, ele ainda tentava entender o que estava acontecendo, afinal ele não se lembrava de nada do que tinha acontecido desde a noite anterior, tudo que se lembrava era que tinha acordado na cabana da velha africana e, agora estava acorrentado no porão de um navio a espera de sua execução. A noite chegou rápido, como sempre na África, o porão ficou escuro como o breu, a fome estava se tornando insuportável, Derik estava sentado no assoalho de madeira com uma corrente presa em uma de suas pernas, de repente sentiu uma forte

Page 83: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

83

náusea, ele achou que fosse por causa da fome, mas já tinha sentido isso antes, a melodia hipnotizante soou em sua cabeça, seus olhos ficaram pesados e desmaiou novamente, se encontrou no mundo dos sonhos ao lado da gigante negra, nua e dessa vez ela estava no porão do navio junto ao rapaz acorrentado, apesar da escuridão Derik pode ver a mulher em detalhes, ela se pôs em pé ao seu lado trazia nas mãos um cajado, o mesmo cajado que a velha feiticeira carregava se apoiando na aldeia, com um crânio na ponta e um colar de dentes amarrado logo abaixo, mas isso não importava, a melodia que ela cantava apagava toda dor, toda tristeza, enchendo seu coração de paz e alegria, levando-o á outros mundos, ele estava consciente que estava acorrentado, mas isso também não importava ele estava na companhia da sua amada que o enfeitiçará como a luz atraindo um inseto para a morte. Hipnotizado pela canção Derik ficou horas ouvindo e admirando a sua estranha visão, quando despertou do seu transe o porão estava claro com a luz do sol que entrava pela porta aberta e um homem descia pela escada, era Everaldo o copeiro do conde, ele trazia comida para o prisioneiro, o jovem Everaldo estava calado pôs a comida ao lado do Derik e esperou que ele comesse para recolher os utensílios e retornar a casa onde alguém o esperava, Derik acabou de comer, o rapaz recolheu tudo e antes de sair voltou-se para Derik e disse. _ A condessa disse que esta feliz em ti ver, e que fará de tudo para ti ajudar a sair dessa confusão. Acabou de falar e saiu rápido do navio, acompanhado por um soldado que o escoltava. Na casa o conde e o governador conversavam sobre os costumes de algumas tribos como os canibais que atacavam os soldados matavam e comiam suas carnes, que o rei mandou caçar e exterminar essas tribos, mas essas tribos vivem no meio de florestas e montanhas, e sempre que tentava atacá-los os soldados, apesar de estarem bem armados, sempre levavam a pior, e sempre perdiam alguns corpos para os nativos. _ Então vocês iam até lá para servir de refeição aos monstros. – disse o conde Wesley ao governador Frank, ambos caindo na risada.

Page 84: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

84

_ No fim acabamos fazendo amizade com os canibais, é bem melhor ter eles como amigos do que como inimigos, os franceses e holandeses disputam territórios na África e estão se aproximando de nossas fronteiras, os nossos soldados por mais bem preparados que estejam não suportam o clima quente por muito tempo, precisamos dos nativos para lutar por nós, alem de eles conhecerem bem essas terras eles também conhecem os animais e seus hábitos, isso é de grande ajuda para nós, e tem o fato de que todas as tribos da África ter medo da tribo de canibais. –disse Frank ao conde. _ Usar os nativos para guerrearem as nossas guerras foi um golpe de mestre, mas os franceses também descobriram essa força barata e os holandeses acompanharam, agora temos uma corrida para ver quem consegue mais nativos ao seu lado, seja para lutar ou para trabalhar, arregimentar os canibais foi sem duvida uma bela estratégia de guerra. –disse o conde. Everaldo entrou pela sala com um alforje na mão, passou pelo conde e fez um discreto sinal que o governador não percebeu, foi direto para a cozinha onde estava cinco mulheres fazendo a limpeza dos utensílios que acabaram de usar no preparo da refeição do meio dia, Everaldo pôs o alforje em cima de uma mesa e se sentou em uma cadeira, logo o seu amigo Tomaz se juntou a ele e passaram a conversar em voz baixa para evitar que alguém os ouvisse, as irmãs Cristina e Laura, criadas da condessa, entraram na cozinha se aproximaram dos rapazes, Cristina usava um longo vestido amarelo e um pequeno chapéu cobrindo parte do seu cabelo cor de ouro, Laura usava um vestido branco e chapéu azul, Laura olhou toda cozinha como se estivesse procurando algo, as mulheres que trabalhavam ali pareciam ter mudado de assunto ao ver a jovem Cristina entrando, ficaram mais seria e pararam de cantarolar isso se tornou freqüente na vida de Cristina, sempre que ela saia com a condessa e encontrava com os nativos de certa etnia, ela era reverenciada como uma deusa ou um espírito mal reencarnado no corpo da pobre moça, até mesmo na casa ela tinha que passar por essas situações, os criados da casa eram todos da mesma etnia, Cristina colecionava crânios de babuínos que ela escondia em um canto do quarto, Laura tinha pesadelos com esses

Page 85: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

85

crânios Sophie achava graça e contou ao conde sobre a sorte da menina, o conde esboçou um breve sorriso e contou a condessa sobre os leões que ele viu matando as zebras e, que aquela visão o abalou profundamente, por isso resolveu antecipar o retorno para a Inglaterra, disse que não se sentia seguro naquela terra selvagem, o que estava acontecendo com a criada era apenas uma amostra do perigo que corriam no meio daquele povo pagão, embora Sophie detestasse o conde e o conde a via como um móvel em sua sala eles tinham momentos de conversas animadas, por varias vezes se sentavam para contar historias e até riam juntos, com algumas restrições, a condessa não podia falar sobre sua vida antes de conhecê-lo, era como se ela não tivesse existido antes disso, para preencher esse passado foi criado outra historia que Sophie teve que aprender e decorar, sempre que alguém perguntasse sobre sua família ela dizia que era filha de um lorde parente do conde e, que seus pais morreram deixando ela aos cuidados do conde já que era seu único parente vivo, no inicio parecia terrível ter que abandonar sua família e renegar seus pais e seu irmão, mas o tempo passou e tudo pareceu ficar mais fácil, viver na mentira esperando uma oportunidade de voltar pra casa e ajudar seu pai na lida diária do campo, uma sonho que desaparecia com o passar do tempo, depois de dois anos sua volta para casa parecia ficar mais difícil, agora só restava a esperança de pelo menos um dia poder ter noticias dos seus parentes. Cristina saiu da cozinha levando uma fruta que achou em uma cesta, Laura ao passar pelos rapazes olhou discretamente para o jovem Everaldo e sorriu com um canto da boca, Tomaz percebeu a troca de olhares entre os jovens, um clima de paixão impregnou o ar da cozinha, a pele do rosto dos jovens apaixonados ficou rosada quando os olhos azuis se encontraram em um olhar tão ardente que parecia ser um beijo, Everaldo era um amante por profissão, só agora se envergonhava de ser um amante do conde, Laura sabia das condições que seu amado fazia aquilo, ele era obrigado a satisfazer as libertinagens do velho conde Wesley, mas tudo o que os dois queriam era se encontrar longe dos olhos do conde, já tiveram essa oportunidade antes quando o conde estava nas minas, mas tinha que se

Page 86: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

86

esconder do invejoso Tomaz, que sem duvida contaria ao conde sobre a infidelidade do Everaldo, para que esses encontros acontecessem à condessa se esforçava em ajudar e, prometeu a Laura que daria um jeito de que o conde deixasse Everaldo ter sua própria vida ao lado de uma mulher, por isso a condessa conquistou a confiança do rapaz apaixonado. _ O conde não vai gostar de nada disso, você sabe do que ela é capaz. –disse Tomaz ao seu amigo. _ Disso o que? –respondeu Everaldo levantando-se e saindo da cozinha, Tomaz sentia medo de perder seu único amigo e ter que passar por tudo sozinho nas mãos do conde, para impedir que esse romance desse fruto ele estava disposto a fazer qualquer coisa e, não media as conseqüências dos seus atos. À noite, Derik continuava acorrentado no porão do navio Perola do Rei, durante o dia recebeu apenas uma refeição e estava com fome, nesse momento o jovem Everaldo entrou no porão com uma lamparina na mão e um alforje na outra, Everaldo pôs o alforje no chão perto do prisioneiro, Derik abriu o alforje e pegou um pão e um cantil com água fresca, começou a comer e a beber, então Everaldo disse. _ A sua irmã, Suelen, pediu para lhe dizer que fará de tudo para ti proteger junto ao conde e se for preciso pedira a rainha Elisabete pela sua vida, você não precisa se preocupar. Everaldo falou rápido e baixo para que os soldados não os ouvissem, antes de sair ele disse ao Derik que o conde disse que partiriam em dois dias. Derik se ajeitou para dormir no chão desconfortável, tirou o amuleto do bolso e passou a observá-lo, a pouca luz que penetrava no porão se extinguiu como um sopro em uma vela, ele pôs o amuleto de volta no bolso e tentou dormir pensando no que o rapaz tinha falado, procurando na escuridão a silhueta da sua guerreira negra que viria lhe visitar a noite, mas nada acontecia nada se ouvia alem das pequenas ondas que batia sistematicamente no casco do navio embalando seu sono, nessa noite ela não veio visitá-lo, a noite foi tranqüila e ele teve

Page 87: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

87

tempo de pensar no que tinha acontecido com ele nesses últimos dois dias. CAPITULO VII Os piratas Dois dias depois ao amanhecer abriram a porta do porão, homens começaram a entrar carregando caixas de madeira, sacos de mantimentos e animais vivos, trouxeram dez pequenos porcos selvagens, dez cabras com os úberes cheios com seus cabritinhos ao lado, dezenas de sacos com farinhas, grãos e raízes diversas, caixas de diversos formatos e tamanhos, o cheiro de temperos forte típicos da África e dos animais que antes de embarcar deram-lhes banho para livrá-los de pulga carrapatos e de todos os tipos de parasitas afim de não infestar o navio com pragas, o carregamento durou toda a manha, o porão ficou cheio, Derik estava espremido com as caixas, os animais estavam separados do prisioneiro por alguns sacos de tabaco perto da porta, então Derik ouviu um barulho estranho, um rosnado e homens falando alto entraram pela porta, quatro homens trazendo uma jaula de ferro com uma pantera grande e gorda, amarela com manchas negras, os dentes a mostra avisando que mataria o primeiro que se aproximasse mais que o permitido, os carregadores pularam as caixas que estavam na frente e puseram a jaula a um metro de Derik escondida dos animais, mesmo que os animais não puderam ver a pantera eles podiam sentir seu cheiro e ouvir seu rosnado, isso deixava os bichos muito impaciente, Derik ficou apreensivo com tão pouco espaço entre ele e a pantera mal humorada, já era mais de meio dia e um soldado jogou um alforje pela porta perto do Derik, o alforje caiu perto da jaula irritando ainda mais a pantera, era sua comida que antes era entregue pelo Everaldo, mas o que será que aconteceu com o jovem Everaldo para que um soldado viesse trazer a comida hoje? Será que o conde descobriu alguma coisa? Mas não dava para pensar muito com o felino olhando para ele e rosnando daquele jeito, cuidadosamente esticou o braço e pegou o alforje, tinha um pedaço

Page 88: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

88

grande de carne assada um pão e um cantil com uma bebida forte parecendo ser vinho, mas o sabor era mais doce que o vinho, talvez fosse de alguma fruta nativa, a pantera se agitava com o cheiro da carne e deixava os animais mais agitados ainda, por varias vezes a pantera tentou por as patas armadas para fora da jaula com garras parecidas com adagas, prontas para agarrar e despedaçar suas presas, ao lado de Derik penduraram algumas gaiolas, com aves coloridas e uma grande gaiola com galinhas que serviriam de comida durante a viagem, apertando ainda mais o porão, as caixas estavam empilhadas uma sobre as outras, os animais ficavam do outro lado do porão por ultimo puseram uma caixa comprida perto da jaula da pantera ao lado do prisioneiro. Horas depois de terminarem de carregar o navio, quando tudo parecia estar calmo antes do anoitecer o conde entrou no porão com o governador Frank e lorde Edgar, eles falavam descontraídos e animados se espremendo entre as caixas se deparando com a jaula e o prisioneiro acorrentado sentado no chão, voltaram sua atenção para a caixa comprida mantendo distancia da pantera, Edgar abriu a caixa com uma ferramenta, os homens ficaram admirando o conteúdo da caixa, Derik viu quando o conde tirou da caixa um tridente de ouro com uma pedra de diamante encravado na base do dente do meio, o conde disse. _ Meus parabéns lorde Edgar, a peça está perfeita. Lorde Edgar sorriu tirando da caixa uma tiara de ouro de seis pontas, em cada ponta havia uma esmeralda, na frente da tiara tinha uma pedra de diamante, o conde olhou para a tiara e disse. _ Perfeita, perfeita, ficou melhor do que eu esperava, o seu artesão é o melhor que eu já vi. _ Essa caixa tem exatamente oitenta quilos em peças de ouro, tiaras, coroas, anéis, correntes medalhões e o tridente. – disse o governador Frank. _ E tem outras três caixas com barras de ouro, somando trezentos e oitenta quilos de ouro e pedras como diamantes esmeraldas e safiras, o rei Eduardo ficara feliz. –disse Edgar.

Page 89: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

89

_ Sem duvidas nenhuma, o rei ficara muito feliz. –respondeu o conde. _ E esse homem aqui? – perguntou Edgar referindo-se ao Derik. _ Não se preocupe, ele será julgado e executado assim que chegarmos à Inglaterra. – respondeu o conde Wesley olhando para o prisioneiro. _ Enquanto estiver preso aqui você será o guardião do tesouro, depois que for executado levará esse segredo com você para a cova. - disse Edgar olhando para o prisioneiro. A pantera rosnou e tentou atacar o lorde Edgar que se aproximou de mais da jaula enquanto saiam do porão, Derik ficou na companhia do felino ouvindo os homens falando alto bebendo e contando historias. Derik estava sentado em um canto da parede, acorrentado por uma perna, só podia fazer uma coisa, pensar no que aconteceu, e o que fazer para mudar essa situação, com aquele enorme dente de leão que estava em seu bolso machucando-o enquanto ele tentava achar uma posição mais confortável naquele assoalho sujo entre as caixas de madeira, Derik queria jogar fora aquele amuleto que até agora não lhe deu sorte alguma, alias, toda sua vida foi só azar e sofrimento, era o que Derik achava, ele queria jogar aquele amuleto, mas o medo de que isso lhe desse mais azar o deixava com mais medo, lembrou-se de como entrou no exercito e como foi parar naquele navio, se não fosse a corrente em sua perna ele teria achado graça, mas como achar graça com uma pantera de dentes afiados olhando para ele mostrando seus poderosos dentes, era o que Derik podia ver, os dentes brancos e os olhos brilhando como duas brasas amareladas e as vezes ficava azulada, mas sempre olhando para o assustado rapaz, e quando ele estava quase conseguindo dormir a fera o acordava com um ronco que mais parecia um leve trovão, baixo e longo. No convés, depois de horas de bebedeira Edgar e Frank se despediram do conde, a condessa e todos os criados estavam a bordo com todas suas malas e pertences, o navio partiria com os primeiros raios de sol, o navio Espada do Mar também estava preparado para zarpar carregado com mantimentos para meses de viagem em alto mar, o conde entrou no seu aposento, Sophie estava com suas criadas

Page 90: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

90

conversando, assim que o conde entrou as moças se retiraram desejando boa noite ao casal o conde não respondeu, as irmãs foram para seus aposentos onde passaram toda noite, as sentinelas voltaram para o esquema de revezamento, enquanto um ficava de guarda do lado de fora dos aposentos os outros dois iam dormir em suas redes no porão do navio, então o conde trocou de roupas e saiu do quarto sem dizer nada para sua esposa, foi para o quarto dos moços, a condessa ficou deitada tentando se acostumar com a situação, mas no fundo ela estava passando a admirar o conde, talvez até amá-lo. Edgar e Frank saíram do navio do conde voltaram para a casa do governador, entraram em uma carruagem escoltada por soldados a cavalo e seguiu por uma estrada a beira mar indo em direção a um porto abandonado onde havia um navio que estava ancorado no mar a quilometro do porto do rei atrás de uma formação de rochas, o capitão desse navio esperava seus convidados com uma garrafa de rum e três copos no convés do navio de três mastros, quando entraram no navio o capitão os serviu e se cumprimentaram como velhos amigos, o navio pertencia a frota do governador Frank e do lorde Edgar, e no momento estavam prontos para um trabalho sujo, pirataria. O temor do conde estava a se realizar, naquele navio pirata estavam planejando a morte do conde e toda sua tripulação, o seqüestro do navio Perola do Rei com toda sua carga e isso deveria acontecer em alto mar, longe do porto e das vistas dos soldados em terra. _ Muito bem senhores vamos levantar ancora, vamos trabalhar. – gritou o capitão do navio pirata, para os seus subordinados. O navio pirata zarpou sob o comando do capitão Jeffrey que trabalhava para o Frank e o Edgar, uma dupla que não media esforços para alcançar seus objetivos, de maneira nenhuma eles deixariam que o conde Wesley os denunciasse ao rei Eduardo, isso certamente os levaria a forca ou a guilhotina. _ E o navio Espada do Mar? –perguntou o capitão Jeffrey ao governador Frank -, nós sabemos que não podemos confrontar o navio Espada, aquele navio é muito mais rápido e mais armado que o nosso navio.

Page 91: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

91

_ Não se preocupe com isso, eu garanto que o navio Espada do Mar não será um problema para nós, eu já tomei providencias para que nada dê errado nessa emboscada. – respondeu Frank ao capitão. _ E o senhor poderia compartilhar conosco esses seus planos? – falou lorde Edgar. _ Calma senhores, se eu contar tudo agora vai estragar a surpresa, agora temos que pensar em outras coisas, como por exemplo, a divisão do ouro. _ Eu gostaria muito de possuir o tridente, eu não fiz aquela peça para enfeitar o palácio de um rei, eu a fiz para ser minha, eu abro mão do resto do tesouro, quero apenas o tridente. – disse lorde Edgar. _ Eu não sei como é esse tridente, mas fiquei curioso. – disse Jeffrey. _ É uma obra de arte. –respondeu Edgar. _ Nesse caso o resto da pilhagem será dividido entre nós dois, certo capitão? - disse Frank. _ De quanto estamos falando? – perguntou Jeffrey. _ Uns duzentos e cinqüenta quilos, entre barras de ouro diamantes e outras pedras preciosas. – respondeu Frank. _ O navio Perola do Rei vai direto para a frota. – disse Edgar. _ Me corrige se eu estiver enganado, - disse Jeffrey-, o lorde fica com o tridente, o tesouro será dividido entre mim e o governador Frank e o navio irá para a frota, será que ele vai aceitar só o navio, ou já está tudo certo entre todos? _ Seria muito perigoso tentar enganar aquele homem, nós sabemos do que ele é capaz, - disse Edgar-, ele não sabe a quantia de ouro que tem no navio, seria prudente entregar uma parte nem que seja uma pequena parte. _ Uma pequena parte seria o suficiente, já que ele vai levar o Perola do Rei, um belo navio, e da minha parte terei que pagar os homens desse navio, esses homens não trabalham de graça, o que restará pra mim? – disse Jeffrey. _ Tem mais um detalhe, - disse Frank sorrindo cheio de entusiasmo-, no Perola tem três mulheres, eu as quero vivas, o conde também deverá viver, diga aos seus homens que não matem o conde, nem as

Page 92: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

92

mulheres, eu quero me divertir um pouco e quero que o conde veja o que farei, podem matar todos os outros. _ Nós sabemos que o conde não se importa com as mulheres, nem com a condessa, acho que ele se importaria mais com os seus copeiros. – disse Edgar. _ Não tenha tanta certeza disso caro amigo, tenho percebido algo de novo naquele velho safado. – disse Frank. _ Bom senhores, já é tarde e temos que dormir um pouco, de manha vamos nos divertir muito, temos que estar descansado e pronto para uma luta. - falou Jeffrey. _ Não haverá luta senhor Jeffrey, mas mesmo assim vou dormir, estou bêbado demais para continuar acordado. - falou Frank. Durante todo o dia a condessa e as meninas arrumaram as malas e os objetos que ganharam na colônia, Cristina deixou uma pilha de ossos de babuínos no quarto da casa, passaram a tarde inteira no navio pondo as malas em ordem na cabine e tinha um baú grande fechado com um enorme cadeado, o baú era pesado e as moças não conseguiram movê-lo do lugar onde os carregadores o tinham deixado, quando chegou à noite ela queriam deitar-se e dormir, era tarde da noite quando o conde voltou para seu aposento levando consigo um dos rapazes era Tomaz, o conde parecia aborrecido, olhou para a condessa, que percebeu as intenções do seu esposo, ele queria que ela saísse da cama para se deitar com o rapaz, a condessa se levantou e sentou-se na poltrona virando-se para uma janela olhando para a escuridão do lado de fora, mas o conde ficou sentado na cama olhando para o rapaz que se despia e se deitou perto do conde, o conde não se sentia bem, algo o incomodava, a presença da mulher de costa pra ele era como se ele estivesse praticando um crime, Tomaz esperou que o conde tomasse a iniciativa como sempre fizera, mas dessa vez ele se deitou e dormiu ao lado do rapaz, o silencio dos dois fez com que Sophie olhasse para eles, Tomaz a olhou com desprezo e virou-se de costas para a condessa abraçando o conde, mas o conde tirou o braço do rapaz de cima de seu corpo com violência e fechou os olhos, Tomaz ficou imóvel, de certa forma ele amava o conde Wesley, e não queria perdê-lo para a condessa, talvez não quisesse perder a boa vida

Page 93: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

93

que o conde lhe oferecia sendo seu amante, mas agora Wesley o desprezava. Everaldo ouviu uma conversa do conde e o governador Frank em que o conde contava sobre o medo que tinha de contrair uma dessas doenças que os soldados ingleses contraiam na África e o estado que ficavam, então Everaldo teve a idéia de simular uma doença, com a ajuda da condessa e da jovem Laura eles prepararam algumas marcas pelo corpo do rapaz, para isso tiveram que distrair Tomaz que não se separava do amigo, quando o conde viu o rapaz com manchas vermelhas pelo corpo e feridas na boca sangrando, que ele se auto infringiu, se afastou do Everaldo temendo a doença, o plano da condessa estava dando certo o conde não tocaria no rapaz durante toda a viajem e certamente o dispensaria dos seus serviços assim que chegassem ao palácio, Everaldo e Laura poderiam partir para algum lugar distante dos olhos do conde e viver suas vidas em paz, na colônia os encontros do jovem casal era sempre preparado pela condessa e duravam apenas poucos segundos, as vezes quando se encontravam pela casa os jovens se esbarravam tocando-se nas mãos sorrindo disfarçadamente para não chamar a atenção das pessoas, em cada olhar uma promessa de amor, em cada toque, por mais leve que seja em cada sorriso era um motivo para viajarem nos sonhos mais lindos que um ser humano poderia ter, os sonhos de quem ama não conhece limites não obedecem fronteiras não respeitam as leis, apenas seguem os desejos da natureza, bailam sob a melodia do amor, se esquecem que existem outras pessoas ao seu redor, a condessa os advertiu sobre os olhares que estavam ficando evidentes, por isso resolveram evitar se encontrarem na casa e no navio de volta para a Inglaterra, se seus planos derem certo logo estariam juntos para sempre, Laura teve a promessa da condessa que também seria dispensada de seus serviços, assim poderia se unir ao amado. A noite foi longa e cansativa para a condessa, mas Sophie não reclamava consentia em silencio, sem saber ela estava mudando o coração do conde, por mais que ele tentasse negar a si mesmo ele estava sentindo algo que á muito tempo não sentia por uma mulher, desde que foi traído e humilhado por uma jovem filha de um príncipe

Page 94: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

94

prima do rei Eduardo, isso aconteceu quando eram jovens adolescentes, o jovem Wesley amava a jovem Diana que freqüentemente se juntava aos meninos para se divertirem, Diana era filha de um tio do príncipe Eduardo, mas Eduardo era o próximo na sucessão ao trono da Inglaterra e Diana se interessou por ele, mas Wesley se apaixonou pela jovem princesa achando que era por ele que ela suspirava, mas um dia Wesley viu quando Diana e Eduardo se amavam em um dos quartos do castelo de verão do rei. Nesse dia Wesley chorou e se lastimou por amar tanto assim uma mulher, arquitetou um plano, levado pelo ódio ele queria matar a jovem princesa Diana, se ela não fosse dele então não seria de ninguém, em uma noite Wesley chamou Eduardo e disse que Diana pediu que ele fosse ao seu quarto depois da décima segunda badalada dos sinos da igreja, e falou para Diana que Eduardo pediu para lhe avisar que depois da décima badalada dos sinos ele iria ao seu aposento escondido e passaria a noite com ela, à moça ficou animada com a possibilidade de um dia ser rainha da Inglaterra, Wesley manteve Eduardo ocupado para não se encontrar com Diana antes do horário combinado, naquela noite havia uma festa no salão do castelo com muitos convidados e Diana se retirou ao seu aposento então o sino bateu dez vezes, Wesley se esgueirou pelos corredores até o quarto da menina Diana, usando as roupas do príncipe e uma mascara bateu na porta, ela silenciosamente abriu uma leve fresta e olhou, o quarto estava escuro conforme o pedido, Wesley entrou rapidamente abraçando a moça e se jogaram na cama, Wesley tentava apagar a única vela acesa no quarto e deixar na completa escuridão, mas a princesa tirou a mascara antes que ele pudesse impedir, ao ver que se tratava de Wesley e não do príncipe Diana o esbofeteou dizendo que o odiava rindo quando ele lhe disse que a amava chamando-o de sangue suga parasita do príncipe e que um dia teria o prazer de matá-lo, antes que ela pudesse gritar e denunciar sua invasão no quarto da princesa ele se jogou em cima dela apertando-lha a boca com a mão apunhalando-a com uma faca que ele apanhou na cozinha cortando-lhe a garganta, Wesley ficou deitado sobre o corpo ensangüentado olhando para seus olhos verdes que permaneciam abertos perdendo o

Page 95: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

95

brilho, o pavor tomou conta do jovem apaixonado, suas roupas estavam ensopadas de sangue com a arma do crime na mão, agora ele teria que sair dali antes que alguém chegasse, Wesley saiu do quarto da Diana e foi direto para o seu quarto que ficava no andar superior ao lado do quarto do príncipe Eduardo, tirou as roupas sujas e se limpou o mais que pode, correu para a cozinha e chamou um dos criados dizendo que alguém derrubou bebida na ala norte na segundo andar no corredor, exatamente onde ficava o quarto de Diana, o criado foi rápido Wesley foi na frente, quando o criado chegou encontrou a porta do quarto aberta e havia bebida derramada escorrendo para dentro do quarto escuro, inocentemente o criado bateu na porta que estava aberta, como não responderam ele entrou para fazer a limpeza, então encontrou uma faca suja de sangue no chão, o criado era um homem idoso e trabalhava no castelo desde criança com seus pais, conhecia cada canto do castelo e já tinha visto muita coisa estranha acontecendo por ali, e dessa vez ele viu um corpo de uma mulher estendido atrás da cama, ingênuo ele se aproximou do corpo com a arma na mão, de repente tocou a décima segunda badalada, Eduardo entrou pela porta aberta flagrando o velho empregado do castelo em pé ao lado do corpo da princesa com a faca na mão, Wesley observava tudo escondido no fim do corredor Logo o quarto estava cheio de gente e os soldados levaram o criado para a prisão, o pobre homem tinha problemas mentais e não falava, foi julgado e condenado a forca, Wesley escolheu bem um culpado para encobrir seu crime, e agora estava livre e se vingou da jovem ambiciosa Diana. Desde então Wesley não amou nenhuma mulher, se entregando aos amores de outros homens. De manha o navio Perola do Rei e o Espada do Mar levantaram âncora e zarparam rumo ao mar, o Perola na frente seguido de perto pelo Espada, o conde estava dormindo, ele não costumava acordar cedo tinha bebido demais na noite anterior, Sophie acordou com o balanço do movimento do navio, na cama o conde roncava ao lado do rapaz que também dormia, a condessa voltou a olhar pela janela, aos

Page 96: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

96

poucos a terra ficava para trás sumindo no horizonte, passaram-se três horas e o barulho no convés havia diminuído, aquela correria dos marinheiros e os gritos do imediato havia cessado, só se ouvia as pancadas das ondas batendo no casco da navio enquanto avançava deslizando sobre as águas impulsionado pelo forte vento da manha, Sophie desejou sair da cabine ir até o convés, ou pra cabine das irmãs Forman, mas ela não podia sair do aposento antes do conde, já estava ficando com fome e o silencio estava ficando perturbador, era como se o navio estivesse vazio, mas em baixo, no nível inferior onde ficava o deposito e o alojamento dos marinheiros havia muito movimento, então ela ouviu um grito de dor vindo do alojamento, que logo se calou, Sophie sentou-se na poltrona e voltou a contemplar o mar calmo e ensolarado. De repente bateram na porta, duas leves batidas e chamaram pelo conde, Sophie olhou em direção ao conde, o rapaz acordou e se virou para a porta, ele viu a condessa que o olhava com um olhar de desprezo, Tomaz se cobriu, mas não se levantou, o conde continuava dormindo, bateram na porta mais uma vez e chamaram novamente pelo conde Wesley, a condessa se levantou assustada, seus pressentimentos estavam se tornando reais, algo estava errado, aquele rapaz lá fora parecia estar bastante nervoso, ninguém bateria na porta do conde assim se não fosse algo muito serio, tornaram a bater, dessa vez com mais força e por varias vezes, chamando pelo conde aos gritos, Sophie levou um susto e se sentou na poltrona, Tomaz arregalou os olhos e se sentou na cama olhando para o conde, o conde acordou e se sentou na cama, olhou para o rapaz ao seu lado, parecia ter levado um susto ao ver Tomaz na sua cama, procurou por Sophie pelo quarto, lá estava ela sentada na poltrona, seu olhar se desviou dos olhares da mulher, visivelmente envergonhado pelo que tinha feito, mas não teve tempo de mandar Tomaz se vestir e sair de sua cama, bateram na porta outra vez com tamanha violência que quase a derrubou, o conde gritou com raiva. _ O que você quer? _ Perdão senhor, mas o capitão pediu para que o senhor fosse até o convés, é muito importante.

Page 97: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

97

O conde voltou-se para sua esposa que permaneceu quieta, Tomaz se levantou estava se vestindo, o conde não falou nada, levantou-se e saiu para ver o que o capitão queria o que poderia ser tão importante para que o tirasse da cama daquele jeito, pela escotilha se podia ver que o mar estava calmo, mas tudo estava para se tornar um pesadelo. _ O que houve capitão, por que mandou me chamar? _ Tem um navio sem bandeira vindo em nossa direção, já mudamos a direção, mas o navio também mudou e continua se aproximando. _ Capitão estamos em uma rota comercial, é normal encontrar navios por aqui. _ Essa não é a rota comercial, o governador Frank me aconselhou a seguir essa rota, pra evitar ataques de piratas, esse navio não deveria estar aqui, essas águas são muito rasas o Perola é leve poderia passar com relativa segurança, mas um navio de carga teria problemas nessas águas. _ Mande o capitão do navio Espada do Mar tomar à dianteira, nos vamos diminuir a velocidade, se aquele navio for inimigo o Espada o deterá antes que nos alcance. - disse o conde. _ Temos mais um problema, os homens desse navio, estão ficando doentes acho que foi algo que comeram hoje de manhã. _ Espero que não seja nada. -respondeu o conde retornando ao seu aposento. O capitão do Perola do rei deu ordem ao seu imediato que desse sinal ao capitão do navio Espada do Mar que tomasse à dianteira e interceptasse o agressor antes que pudesse causar algum problema. O capitão Antonio não saiu do convés, observando pela luneta a rota daquele navio, o Perola do rei recolheu as velas principais, reduzindo a velocidade, o navio Espada passou tomando a dianteira, dentro de poucos minutos estaria ao lado do navio desconhecido, o conde voltou ao convés, ele estava apreensivo com aquela situação, mas confiava inteiramente no poder de destruição do seu navio de guerra, resolveu permanecer no convés para ver os canhões do Espada do Mar dispararem contra o inimigo, o conde sabia que aquele navio estava ali por causa do tesouro que levavam, e só uma pessoa poderia estar por trás dessa emboscada, suas suspeitas estavam se confirmando

Page 98: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

98

sua vinda a África não teria sido em vão, as suspeitas do rei seriam confirmadas, alguém realmente estaria roubando os tributos da colônia Inglesa o rei só não sabia quem, mas seja quem for seria enforcado por traição. Tudo parecia estar bem, apesar do nervosismo do capitão Antonio por não gostar de batalhas, o Espada do Mar se aproximava do navio que também estava mais próximo do Perola, o conde preferiu não mudar mais sua rota, só esperava que o Espada fizesse seu trabalho para que eles pudessem seguir seu caminho, mas dessa vez seguiriam a rota mercante, o conde não quis falar nada naquele momento, mas não gostou que o capitão tomasse a decisão de mudar de rota sem antes lhe comunicar, a seu ver isso também seria traição, o capitão Antonio sabia que o conde não havia gostado da sua atitude, e se apressou em explicar. _ A mudança de rota foi uma decisão minha, o governador me contou sobre os constantes ataques de piratas nessas águas e me deu essa rota, os navios mercantes não podem navegar por aqui, as águas são muito rasas e os piratas costumam atacar muito longe daqui a grande quantidade de ouro que trazemos nesse navio poderia chamar a atenção desses corsários. _ O governador me contou que vários navios carregados de ouro do rei já foram roubados por piratas, estranho não é capitão? Veja só, os tesouros saem das minas vão para os navios protegidos pelo governador, são colocados em navios de cargas nem a tripulação sabe da carga nem o capitão dos navios deveriam saber, tudo é posto em caixas de fumo ou de especiarias, mas assim mesmo são descobertos, havia um traidor e agora está claro de quem se trata, vamos deixar que o Espada do Mar acabe logo com isso. O conde ainda estava falando e o navio Espada do Mar se preparava para atacar quando uma explosão seguida de varias outras incendiou o Espada partindo o navio ao meio em chamas, homens mortos espalhados no mar, outros ainda vivos tentando nadar se agarrando aos destroços do navio que afundava lentamente.

Page 99: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

99

_ O que houve? – perguntou o capitão Antonio -, eu não vi o navio pirata disparar nem um tiro, eles estão muito longe um do outro para dispararem os canhões. O conde gritou. _ Sabotagem, o Espada do Mar foi sabotado, temos que sair daqui rápido, eles estão vindo em nossa direção. _ Levante as velas vamos dar a volta temos que sair daqui, rápido homens. - gritou o capitão Antonio. Seu imediato veio em sua direção e falou ao capitão e ao conde. _ Senhor, os homens estão caindo doentes não temos homens suficiente para fugir dos piratas, nem para lutar. O conde, irritado falou. _ Você disse que comeram alguma coisa de manha, eu estava dormindo por isso não comi. O capitão interrompeu dizendo. _ O cozinheiro serviu frutas hoje de manha, eu não comi por que estava enjoado por causa da bebida de ontem. O imediato de pronto respondeu. _ O cozinheiro deixou um barril cheio dessas frutas no convés, todos os homens se serviram. O conde, como quem já tinha a solução falou. _ Então busquem o cozinheiro. O imediato respondeu. _ Já procuramos por ele em todo o navio, o cozinheiro simplesmente sumiu, não temos soldados para procurá-lo agora. _ Maldições, chamem os homens que temos e vamos sair daqui, eles logo nos alcançarão, temos que fugir volte ao porto do rei. -falou o conde. _ Não dará tempo, temos apenas cinco homens e eles também estão caindo doentes, - disse o capitão Antonio-, vamos em direção a ilha, quanto mais perto da ilha mais as águas ficam rasas, com sorte conseguiremos passar e com mais sorte ainda os piratas ficarão encalhados, essa é nossa única chance de escapar. Enquanto isso no navio do governador.

Page 100: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

100

_ Meus parabéns governador, eu não esperava por isso, o senhor me surpreendeu com aquela explosão, sem o navio Espada do Mar para proteger o Perola do rei eles ficarão totalmente indefesos. – disse lorde Edgar. _ Mas como vamos alcançar o Perola, aquele navio é muito mais rápido que o nosso, eles poderão fugir facilmente. – disse o capitão do navio pirata. _ Já tomei as providencias necessária, logo o Perola estará em nossas, mãos. - respondeu o governador-. _ Olha estão tentando fugir indo em direção a ilha do diabo, eles não sabem que existem pedras por toda parte e se baterem em alguma delas irão afundar. –falou o capitão. _ Temos que nos apresar, se baterem em alguma pedra teremos pouco tempo para saquear o Perola, isso antes que aquela tempestade nos alcance. –falou o governador. Todos olharam em direção a uma ilha ao longe, uma tempestade se formava no horizonte. O governador Frank calculou bem o ataque ao Perola, ele sabia que poderia alcançá-los facilmente, isso se o seu sabotador trabalhasse direito dentro do navio Perola do Rei, mas a tempestade não estava nos seus planos, isso o incomodava muito, agora ele deveria mudar suas estratégias e correr antes que a tempestade os alcançasse, eles tinham que sair dessas águas rasas, senão os ventos fortes poderiam jogá-los contra as pedras. No Perola, o capitão Antonio falou para o conde. _ A tempestade esta vindo muito rápida, temos que sair do seu caminho ou senão. _ Se enfrentarmos a tempestade podemos afundar, se fugirmos dela os piratas nos alcançarão e roubarão tudo e sem duvida nos matarão, eu prefiro enfrentar a tempestade a dar a esses corsários todo esse tesouro vai em frente capitão. - falou o conde. De repente um barulho nas velas do mastro principal e o imediato gritou. _ As velas do mastro principal se soltaram, capitão, as velas do mastro principal se soltaram.

Page 101: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

101

Todos correram para ver o que havia acontecido. _ As cordas não se romperam, alguém as cortou. –falou o capitão para o conde. _ Onde estão todos os homens. –falou o conde. _ Hei você, vá até o porão e mande que todos os homens doentes se apresentem no convés agora. - gritou o capitão. Logo o soldado voltou com cara de assustado dizendo. _ Capitão, eles estão todos mortos, só restaram eu e poucos soldados. _ Onde está aquele maldito cozinheiro, eu vou matá-lo com minhas próprias mãos, onde ele está. - gritou o conde. _ Os piratas vão nos alcançar e não podemos fazer nada, estamos perdidos. –falou o capitão. _ Temos que abandonar o navio, - gritou o soldado -, vamos deixar a carga para eles, que façam bom proveito nossas vidas valem mais que tudo isso. _ Eles não vão se apoderar desse navio e nem da carga, vamos explodir tudo, mandar tudo para o fundo do mar. - disse o conde. O capitão Antonio olhou para o conde e falou. _ Não podemos explodir o Perola, não temos pólvora pra isso, e se abandonarmos o navio para onde iríamos, pra ilha? Morreríamos nas mãos dos nativos, eu prefiro ficar aqui e enfrentar meu destino, se vocês quiserem fugir podem ir, eu fico aqui. O conde irritado com a situação agarrou o capitão pela camisa pondo uma lamina de navalha em seu pescoço, ameaçando-o. _ Eu venho me perguntando, por que será que o senhor vem me escondendo tantas coisas, vem tomando decisões sem me consultar agora quer ser um bom capitão querendo afundar com seu navio, pois eu acho que é uma desculpa para nos tirar do navio, já que não comemos as frutas que o senhor mandou servir aos meus soldados, me diga capitão, por que eu deveria não ti matar antes que seus amigos me matem? _ O senhor não sabe o que está falando senhor conde, eu não tenho nada a ver com isso eu só quero viver, mas se não for possível então eu vou morrer como homem, lutando, e não fugindo, eu nunca fugi da

Page 102: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

102

morte e não será agora que vou começar, se o senhor quer me estrangula que faça agora, pra mim tanto faz, na lamina da sua navalha ou na dos piratas. O conde largou a camisa do capitão, sem saber o que fazer ficou andando de um lado para o outro tentando achar uma saída, o Perola do rei estava parando a deriva o imediato e um outro homem que ainda estavam em pé correram para um bote lançando-o ao mar. O conde se recolheu ao seu aposento, a condessa estava com as suas criadas no quarto, assim que o conde entrou as meninas saíram, o conde disse. _ Algo terrível está para acontecer, estamos sendo atacados por piratas e temos um sabotador nesse navio, o navio Espada do Mar foi destruído e os homens desse navio estão mortos ou morrendo, não temos como nos defender desses corsários, a vela do mastro principal foi cortada e não podemos fugir, logo eles nos alcançarão, quero que você vá para o quarto das suas criadas e fique por lá, só Deus sabe o que eles farão com as mulheres desse navio. O conde voltou para o convés, o capitão Antonio estava em pé na polpa do navio olhando o navio pirata se aproximar rapidamente. _ Já sabemos quem é o sabotador. –disse Antonio. _ E quem é? – perguntou o conde. _ Veja, o bote de fuga não foi pra ilha, está indo para os piratas, o imediato atirou no soldado que estava com ele, com certeza o cozinheiro também está morto. O conde suspirou e disse. _ Então, só restou nós dois, três soldados que ainda nã0 morreram um soldado na minha cabine e as mulheres. _ E os dois rapazes, seus criados. –disse Antonio. Os dois ficaram em pé na polpa do navio esperando que os piratas os alcançassem, Everaldo se juntou a eles e perguntou. _ É verdade? Estamos sendo atacados por piratas, e os soldados desse navio estão mortos? O conde não respondeu, olhou para o rapaz magro alto de cabelos vermelhos e voltou a observar o mar, atrás deles chegou Tomaz com uma fruta na mão que pegou no barril deixado no convés, já tinha

Page 103: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

103

comido uma e mastigava a segunda, o capitão Antonio viu e deu uma tapa na mão do menino, jogando a fruta para longe, Tomaz assustou-se com a reação do capitão e falou aos gritos. _ Vamos todos morrer e o senhor se preocupando com uma fruta, me deixe morrer de barriga cheia. O conde respondeu em tom baixo. _ Essas frutas deixadas no barril estão envenenadas, por isso os soldados estão mortos, todos eles comeram dessa fruta. Tomaz tentou forçar um vomito, mas não adiantou, ele se sentou no chão e começou a chorar e falar descontroladamente. _ O senhor está vendo esse rapaz ai na sua frente? Conde Wesley, o seu preferido o seu amado, ele está traindo o senhor, ele a condessa e as criadas da condessa, todos traíram o senhor, o belo Everaldo iria fugir com a Laura criada da condessa assim que pusessem os pés na Inglaterra, e a condessa iria ajudar, todos ti odeiam, mas eu ti amo conde eu sempre ti amei. Everaldo de cabeça baixa e olhos fechados temia a reação do conde, esperando por um soco ou coisa pior, mas o conde não se moveu, nem tirou os olhos do navio pirata que estava muito próximo, já era possível ver o governador Frank em pé na proa do navio com uma caneca na mão acenando para o conde e o capitão Antonio, o conde retribuiu o gesto e acenou para o governador. O capitão Antonio falou. _ Governador Frank, ele é o pirata dos mares. _ Senhores preparem-se para morrer. - disse Wesley olhando para os rapazes e voltou para seu aposento-, Everaldo é melhor você ficar ao lado da bela Laura, essa será sua ultima chance de beijá-la, antes que os piratas a peguem. Everaldo imaginava o que os piratas fariam com as mulheres, principalmente com sua amada que estavam em sua cabine inocentemente sem saber o que estava acontecendo e qual seria seu destino nas mãos dos corsários que se aproximava, o conde permaneceu em seu aposento sentado em sua cama esperando o inevitável em silencio sozinho, a condessa estava com as criadas apavoradas com a situação.

Page 104: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

104

No porão do navio Derik não sabia o que estava acontecendo, ele ouviu os gemidos dos soldados envenenados, a movimentação no alojamento dos homens, e a correria do imediato arrastando algo para dentro do porão, jogando-o atrás das caixas, esquecendo-se da presença do prisioneiro, a pantera estava com fome e ansiosa com o cheiro de tantos animais tão perto, mostrando os dentes para o Derik ameaçando-o constantemente, seus instintos de caçadora lhe aflorava a pele, agora tudo ficou calmo, só se ouvia o ranger da madeira das caixas que se movimentava com o balanço do navio nas ondas que se elevavam com a aproximação da tempestade. Não demorou muito para que os piratas alcançassem o Perola do Rei, a tempestade se aproximava na mesma velocidade, sem oferecer resistência o navio do governador encostou-se ao Perola, os piratas se apresaram em amarrar os dois navios unindo-os para a invasão, mas as ondas dificultavam o trabalho dos homens, o governador estava nervoso e gritava para que andassem logo antes que a tempestade chegasse, embora estivessem todos armados não encontraram resistências, não tinha ninguém para defender o Perola, o capitão Antonio estava em pé esperando indefeso no convés Everaldo correu para a cabine das mulheres na intenção de protegê-las com o soldado que ficou guardando a cabine do conde, Tomaz permaneceu sentado no chão ao lado do capitão Antonio, os olhos do capitão Antonio tremiam de raiva diante do governador que acabara de subir no convés do perola na frente dos piratas, atrás subiu lorde Edgar, dois homens agarraram o capitão Antonio e o amarraram com o rapaz Tomaz, Frank e Edgar se puseram ao lado dos prisioneiros, Edgar continuava bebendo em uma garrafa, Frank estava muito nervoso e dava ordens aos piratas apresando-os, começou a chover o mar estava cada vez mais furioso, as ondas se levantavam fazendo com que os navios batessem os cascos. Os piratas correram pelo navio Perola, arrombaram a porta que leva a cabine do conde matando a sentinela, entraram e vasculharam todos os aposentos do navio, encontraram a condessa as criadas o rapaz Everaldo e o conde, as moças apavoradas choravam sem saber o que estava por vir, já ouviram muitas historias de piratas, como tratam

Page 105: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

105

suas vitimas especialmente se for mulher, Derik foi tirado do porão, mas estava amarrado, assim como os outros. O governador olhou para o conde e disse _ Olá senhor conde, eu disse que iríamos nos ver muito em breve. O conde respondeu. _ Não pensei que fosse tão breve, afinal as suspeitas do rei eram verdadeiras, havia mesmo um traidor, como eu gostaria de ti ver enforcado em um poste. _ Sinto muito isso não será possível, mas eu poderei ti ver enforcado nesse mastro, cada um de vocês. –disse Frank. _ Vamos logo com isso eu quero pegar o meu premio antes que a tempestade chegue aqui. –disse Edgar. Um dos piratas falou ao seu capitão Jeffrey. _ Esse homem estava preso no porão, o que faremos com ele? – referindo-se a Derik. _ Ele é um prisioneiro como todos os outros. - respondeu o capitão. Então surgiu no meio dos piratas o senhor House Taner, chegando perto de Derik olhando surpreso com um sorriso macabro dizendo. _ Ora, ora o que temos aqui, o jovem Derik, como a vida nos trás surpresas agradáveis, se o governador me permite, eu quero matar esse rapaz com minhas próprias mãos, mas antes eu vou ti bater muito, você vai sentir muita dor, podem desamarrá-lo. O governador pôs a mão na costa do House e disse para o conde. _ Quer saber o que aconteceu com o seu navio, o indestrutível Espada do Mar? Como o senhor mesmo disse nada que venha de fora poderia destruir aquele navio, e foi por isso que pensei em destruí-lo pelo lado de dentro, para isso precisei encontrar o homem certo, e encontrei o senhor Taner, que por um bocado de ouro reduziu o seu poderoso navio em um monte de cinzas. _ Falando em rato, - falou o capitão Antonio ao ver o seu imediato tentando se esconder no meio dos piratas -, olha só quem apareceu, o imediato traidor sujo. _ A sim, um rato na cozinha, - falou o governador-, que melhor lugar para se por um rato senão na cozinha, a propósito, gostaram das frutas que eu mandei para os seus homens? Existem milhares de tipos

Page 106: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

106

deferentes de venenos na África, eu me tornei um especialista nisso, nunca se sabe quando vai precisar de um deles, um envenenando, e o outro explodindo tudo. _ Não foi difícil com tanta pólvora amontoada em um só lugar. –disse House partindo para cima do Derik que acabava de ser solto desferindo um soco em seu rosto jogando-o ao chão. Em sua fúria House não deixou que Derik se levantasse, chutando sem parar, Derik rastejando tentando fugir dos chutes caiu dentro do porão de onde havia saído, os piratas empolgados com a luta abriam caminho para que House continuasse a bater no rapaz, Derik caiu em meio às caixas, seu agressor pulou atrás, Edgar gritou lá de cima. _ Vamos acabar logo com isso, já começou a chover, matem os outros soldados. Os soldados que estavam amarrados foram imediatamente executados, então House puxou uma faca que carregava em sua bota e disse. _ Que pena, vou ter que interromper a diversão e te matar agora, mas não se preocupe você sentirá muita dor, eu prometo. Derik estava caído atrás da jaula da pantera que assustada com a luta estava mostrando os dentes rosnando, Derik, desarmado e indefeso, se lembrou de quando puseram a jaula da pantera perto dele um dos carregadores ameaçou libertar o animal puxando uma pequena trava na porta da jaula, não pensou duas vezes, puxou a trava e se escondeu atrás da jaula, a porta estava de frente com o senhor House Taner, a pantera impulsionada por seu instinto selvagem pulou sobre o homem rasgando-lhe a garganta e o peito, ao ver a porta do porão aberta se atirou para fora atacando todos que estavam em sua frente, com a gritaria os homens tentavam fugir do animal em fúria, a pantera pulou de um navio para o outro, já que estavam unidos por cordas, os homens do governador correram atrás do animal tentando capturá-lo, o governador, vendo seus planos mais uma vez saindo do seu controle e nada podia fazer senão esperar. Edgar, embriagado, gritava. _ Matem essa fera, eu quero a pele desse bicho, matem, matem, há, há, há, há.

Page 107: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

107

A pantera, a bordo do navio pirata procurando um lugar para se esconder achou uma porta aberta, se atirando para dentro, indo se esconder no porão, sete dos quinze piratas perseguiam a pantera encurralando-a no porão, a pantera se escondeu atrás de um barril de pólvora, os homens armados com pistolas e espadas estavam com mais medo que o animal, quando um deles se aproximou demais a pantera o atacou, o corsário não teve tempo de reagir, atirando com sua pistola atingiu o barril espalhando pólvora por toda parte, na confusão dentro do porão vários tiros foram disparados causando fagulhas de fogo que atingiram a pólvora que estava esparramada no chão causando uma pequena explosão atingindo outros barris ocasionando uma explosão grande o suficiente para matar todos que estavam dentro do porão do navio pirata, seguida por outras destruindo o casco e o convés. O governador e seus comparsas que estavam no Perola foram arremessados ao chão, juntamente com seus prisioneiros, Everaldo se abraçou a Laura tentando protegê-la o governador se levantou rapidamente olhando para o seu navio em meio a densa nuvem de fumaça negra que se convertia em chamas, pedaços de madeira caiam do céu, Edgar parecendo se curar da bebedeira levantou-se devagar se protegendo dos estilhaços do navio, se voltou contra o governador e gritou ao seus ouvidos. _ Isso tudo é culpa sua, você arquitetou esse plano dizendo que era perfeito, olha só a sua perfeição, até aquela pantera foi idéia sua dar de presente ao rei, tomara que o coma vivo, não foi isso que você disse? Olha só o seu presente. O governador não agüentou mais os insultos do lorde Edgar e desferiu um golpe com um punhal na barriga do homem que agonizando caiu se agarrando nas vestes do Frank, o capitão Antonio se livrou das amarras, pegou uma espada que um dos piratas deixou cair na explosão, se levantou rapidamente tentando golpear o governador que estava de costa para ele, mas um pirata que estava caído com uma pistola na mão atirou contra o senhor Antonio atingindo sua cabeça.

Page 108: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

108

A explosão do navio pirata foi tão forte que abriu um grande buraco no casco do Perola, Derik ainda estava no porão e viu a água entrando, não sabia se ficava ali ou se ia ao encontro de sua irmã, enquanto isso no convés o governador sacou a espada encostou no peito do conde e disse. _ Filho da mãe, o senhor deve estar se divertindo com tudo isso, não? Pena que não vai ver mais nada. _ Basta saber que seus planos deram errados, pra mim já é o bastante. -falou o conde. Então Frank enterrou lentamente a espada no peito do conde, olhando fixo nos olhos do governador ele sorria, mas estava com expressão de muita dor. O capitão Jeffrey não se levantou, ele estava com um corte profundo no pescoço causado por um pedaço de madeira atirado pela explosão, restaram apenas seis dos piratas incluindo o governador, um dos seus piratas foi até o parapeito do Perola e gritou. _ Senhor governador, tem um buraco no casco desse navio. Todos correram para ver o estrago feito pela pantera, nesse instante a chuva chegou com força, às ondas aumentavam balançando o navio, a água entrava pelo buraco, o Perola começou a pender para o lado, uma coisa era certa, tinham que abandonar a embarcação, Derik vendo a água entrar correu até a porta, ouviu os gritos de sua irmã que estava sendo arrastada pelos piratas com suas duas criadas para um bote, Everaldo pegou uma espada tentando salvar as mulheres, mas foi rapidamente derrotado e ficou caído com um ferimento no peito, Tomaz permaneceu deitado fingindo-se de morto na esperança de se salvar depois que todos saíssem do navio, o governador ia na frente, Derik tomou coragem pegou uma pistola que tirou de um pirata morto, e outra que estava no chão, mirou no homem que segurava sua irmã e disparou, o tiro foi certeiro derrubando mais um pirata, mas os outros reagiram atirando contra Derik que disparou a outra arma, mesmo sem fazer mira acertou o pescoço de outro, os piratas largaram a condessa e a Cristina e pularam em um bote que estava sendo solto ao mar quando uma onda enorme atingiu o Perola lançando o bote com violência ao mar, o governador, três piratas e a Laura caíram no mar,

Page 109: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

109

Sophie e Cristina foram arremessadas para perto de Derik, os homens no mar nadaram para o bote salvando suas vidas deixando a jovem Laura se debatendo na água tentando salvar-se lutando contra as ondas. Sophie abraçou seu irmão, chorando muito não conseguia falar, desde o dia que o conde a levou sua vida se tornou um pesadelo, agora o conde estava morto, ela pensou que esse dia seria um dia feliz, mas agora ela viu que o ódio havia se transformado em amor, Sophie chorava a morte do seu esposo. Derik sempre sonhou em encontrar sua irmã, mas nunca imaginou que seria dessa forma, pensou em tudo que passou até ali se lembrou das palavras da velha negra na aldeia pôs a mão no bolso e pegou o dente de leão que ganhou como talismã, a tempestade se enfurecia, Derik sabia que não adiantava nada ficar ali sentado sem fazer nada, do que adiantava encontrar sua irmã e perdê-la novamente, mas dessa vez seria para sempre, o navio afundava lentamente castigado pelas ondas, havia mais um bote de fuga, Cristina correu e abraçou o jovem Everaldo que estava caído com um corte no peito sangrando. _ Vocês duas ficam aqui, eu vou por um bote na água pra gente sair, - disse Derik. Do outro lado do navio o imediato traidor estava tentando desamarrar o bote sozinho com um saco cheio de ouro no chão, ele viu Derik se aproximar e atirou com uma pistola contra o rapaz, mas errou o alvo, o navio estava sendo açoitado pelas ondas e pelo vento, inclinando-se mais um pouco para o lado contrario onde Derik e o imediato estavam então Derik gritou. _ Sozinho não vai dar pra sair daqui, precisamos trabalhar juntos. _ Não, você vai me matar porque eu sou um traidor, eu sei que vocês vai me matar. –falou o imediato com uma espada na mão. _ Esse bote é o ultimo, tem duas mulheres ali e precisamos desse bote senão vamos todos morrer, eu não vou ti matar, por favor, nos ajude. O imediato abaixou a espada e com um gesto concordou em ajudar, mas só para poder sair dali antes que o Perola afundasse levando todos para o fundo com ele.

Page 110: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

110

Derik chamou as mulheres, Cristina chorava procurando por sua irmã negando-se a partir, Tomaz vendo que seria a única chance de se salvar levantou-se rapidamente oferecendo-se para ajudar, a condessa ajudou Cristina a carregar o jovem Everaldo, juntos conseguiram descer o bote até a água, lutando contra as marés as mulheres entraram no bote que batia de um lado para o outro, o imediato e o Tomaz desceram antes de Derik recusando levar Everaldo com eles, Cristina e a condessa gritavam para que Derik carregasse o jovem que não conseguia ficar em pé, então Derik não vendo alternativa pegou Everaldo pelo braço e desceram até o bote sob criticas do imediato e do Tomaz. Tomaz viu o pequeno saco com pedras preciosas e ouro na mão do imediato, com o açoite das ondas sob a tempestade que aumentava cada vez mais o bote balançava ameaçando virar, todos se seguravam como podiam Cristina continuava a gritar o nome de sua irmã então Tomaz arquitetou um plano de se livrar de todos no bote e ficar com aquele ouro e o bote, em um momento de distração Tomaz chutou a cabeça do imediato derrubando-o no mar, mas antes que o velho traidor caísse Tomaz agarrou o saco de ouro, mas o imediato não largou ficando agarrado se segurando para não se separar do bote e do seu tesouro, Derik viu o homem gritando pedindo por socorro, mas não se moveu para ajudar, a condessa estendeu a mão para fora do bote tentando segurar o braço do imediato, mas ele não queria ser salvo só queria o seu saco de tesouro, Tomaz se esforçava para não largar o saco dizendo que estava tentando salvar a vida do homem, na verdade ele estava tentando fazer com que o imediato soltasse e morresse afogado, até que uma onda virou o bote, as mulheres se seguravam no casco e gritavam pelos homens que desapareceram nas águas agitadas, as ondas afastava o bote cada vez mais para longe do navio que afundava lentamente açoitado pela tempestade, Derik era jogado em direção ao navio se segurando nos destroços desesperado nadando tentando encontrar o bote e as mulheres que desapareceram na tempestade.

Page 111: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

111

A tempestade passou, a noite cobriu o mar agitado, Derik estava à deriva agarrado a um mastro do navio que explodiu, as ondas diminuíram o mar se apaziguando e o navio Perola do Rei desapareceu no fundo do mar, Derik adormeceu, apesar do frio, o cansaço o venceu. CAPITULO VIII Naufrágio na ilha dos pigmeus Pela manha Derik acordou sobre sua jangada improvisada, o mar estava de bom humor tão calmo que se podia ver a ilha a sua frente, mas ele procurava sua irmã nas águas tranqüilas em meio aos destroços, mas só encontrou restos do naufrágio por toda parte, os destroços estavam todos juntos vindo de todas as partes arrastados por correntes marinhas atraindo tudo em um único ponto como um imã gigante, até os corpos aparecia no meio dos destroços. _ Talvez ela tenha chegado à ilha, tenho que chegar até lá. - pensou o rapaz tentando conduzir sua jangada para a praia, mas para isso precisou encontrar um remo, talvez um pedaço de madeira, afinal havia muitos na água. A ilha era grande com um vulcão no centro que expelia fumaça negra, ao lado da grande ilha verdejante havia uma ilha menor a poucos quilômetros, mas essa menor não tinha árvores, ela era branca feita de areia e rochas. Derik pensou em nadar até um desses pedaços de madeira e retornar a sua jangada, foi quando viu um enorme tubarão saltando da água com um corpo de um homem entre os dentes, então percebeu as barbatanas que rasgavam a água ao seu redor brigando uns com os outros pelos despojos que boiavam, os cadáveres usavam uniformes azuis, eram os soldados do navio Perola do Rei que jazia nas profundezas com sua tripulação e seu tesouro, mas pelo que parece até a tripulação fantasmagórica do Perola também estava abandonando o navio, talvez os corpos tenham saído pelo buraco feito pela explosão do navio pirata e agora servem de alimento aos carniceiros dos mares,

Page 112: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

112

Derik se apresando em tirar os pés da água e se equilibrar sobre sua precária jangada, agora só podia contar com a sorte, por horas contemplou o balé furioso dos tubarões, que às vezes chegavam muito perto, aquelas correntes marinhas costumam fornecer banquetes a cada tempestade, mas não era apenas os tubarões que se alimentavam nessa área, as profundezas tinha seus habitantes particulares muito maiores e mais perigosos que os tubarões, criaturas que só existem em historias de marinheiros, nesse momento um polvo gigantesco vasculhava os porões dos navios com seus tentáculos recolhendo os corpos que ficaram presos. Ao entardecer a maré alta começou a levar tudo para a praia, inclusive à jangada de Derik, os tubarões continuavam suas patrulhas em busca de alimento, ainda se podia ver suas barbatanas riscando a água tranqüila do mar, quando Derik chegou à praia o céu estava avermelhado anunciando uma noite tranqüila com o céu limpo sem nuvens, ao ver que estava em águas rasa Derik se apresou em sair de cima do mastro e correu para terra se atirando na areia sem forças para se levantar e faminto, por alguns minutos se esqueceu de procurar pela sua irmã Sophie, ainda estava surpreso por ter passado por tantos problemas e ainda estar vivo, pôs a mão no bolso e pegou o amuleto, talvez esse dente tenha mesmo poder mágico, permaneceu ali deitado na areia quente olhando para o céu enquanto a noite se aproximava e as estrelas começaram a enfeitar a noite escura. Exausto Derik imaginou ter ouvido uma melodia que ele já conhecia, a doce melodia envolveu sua alma apagou seus sentidos e desmaiou, era como se seu espírito estivesse fora do seu corpo, vagando pela areia da praia, então ela surgiu sobre uma onda com o corpo coberto de escamas reluzindo sob a luz do luar, trazendo nas mãos um cajado retorcido de madeira coberto de musgos e conchas do mar, a gigante negra saiu das águas frias e caminhou em direção ao rapaz que a esperava na praia, a melodia era sua voz e ela não parava de falar não queria quebrar o encanto, Derik se deliciava na companhia da mulher que contava historias sobre o mar e a terra, sobre os deuses e os homens, a noite se

Page 113: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

113

estendeu às horas se passaram e Derik continuava ali deitado na areia em transe profundo. Acordou com o sol queimando seu rosto, levantou-se e saiu à procura de comida no meio dos destroços na praia, olhando para o mar tentando ver alguma coisa que o salvasse, talvez um navio ou caixas de mantimentos boiando no mar ou encalhadas na praia, olhou para a floresta que tinha atrás de si, só ai que Derik percebeu que a ilha estava viva, o ruído das ondas confundiam com a dos animais, então Derik se lembrou dos animais no porão do Perola, as aves que ele achava fascinante, coloridas e barulhentas, a poderosa pantera que o assustava, com certeza estavam no fundo do mar agora. Então Derik resolveu permanecer no mesmo lugar talvez fosse mais seguro, ainda com muita fome, mas a fome poderia esperar, olhou para todos os lados em busca do bote de fuga das moças, na esperança de que elas estivessem por ali, nesse momento ele não estava muito preocupado com as mulheres e sim em encontrar o bote e ter um meio de fuga da ilha, mas não viu nada, o único jeito seria andar pela praia, não que a idéia lhe agradasse por que poderia encontrar outra coisa, talvez um animal selvagem como aquela pantera que lhe fez companhia no porão, Derik se lembrou de como a pantera atacou o senhor House Taner, rasgando-lhe a garganta deixando-o sangrar até a morte, aquela imagem ficaria assombrando seus pensamentos para sempre e, se os piratas também estivessem na ilha poderiam querer se vingar matando-o ou coisa pior, Derik estava sem saída, procurar por sua irmã ou ficar parado na praia, mas mesmo que fique parado no mesmo lugar poderia ser encontrado tanto pelos animais ou pelos supostos piratas, então ele olhou para a floresta logo atrás e falou. _ Qualquer lugar nessa ilha é igualmente perigoso, é melhor andar talvez eu encontre algo para comer. Seu desejo de encontrar sua irmã já não era tão forte assim, primeiro ele queria assegurar sua própria sobrevivência, andou pela areia evitando a floresta sem se afastar muito do lugar de onde foi jogado pela maré, pôs a mão no bolso da calça segurando o amuleto que não dava sorte, mas era melhor deixá-lo no bolso, o dia passava e

Page 114: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

114

ele não encontrou nenhum bote, ou caixas de comida, ou sobreviventes, talvez elas não tivessem chegado à ilha, talvez à tempestade tivesse matado a todos e os tubarões as tivesse devorado e o bote estivesse destruído, ou quem sabe elas entraram na floresta em busca de alimentos, Derik se lembrou de quando eram crianças ele e sua irmã brincavam no bosque e Suelem sempre encontrava comida nas raízes das árvores e frutas que ele não sabia que podia comer, ela era uma sobrevivente no bosque, mas Derik não queria entrar naquela floresta sozinho, o dia passou a noite estava clara com a luz da lua, dava para ver com clareza a floresta que se estendia até a linha da areia branca, Derik se afastou das árvores, estava quase pisando na água, mas não deixava de olhar para as árvores com seus animais barulhentos, com medo de que alguma coisa saísse de lá, ao mesmo tempo tentava não tirar os olhos do mar, com medo de que algum tubarão viesse nas ondas espumadas e o abocanhasse, a noite estava se tornando terrível para o jovem Derik, sem noção de tempo a noite parecia interminável, pisando nos destroços que a maré trouxe com ele machucando os pé, já que estava descalço por ter tirado as botas para poder nadar mais rápido, agora que estava em terra quem sabe poderia encontrar as botas na areia, afinal as ondas trouxeram tantas porcarias por que não suas botas, agora Derik tinha três preocupações, não ser devorado ou assassinado por ninguém, encontrar sua irmã, já que a outras moças não eram sua prioridade e, encontrar suas botas e comida no meio dos destroços espalhados pela areia. Depois de muito andar, Derik avistou um bote na areia perto das árvores, o desejo de encontrar um bote deu lugar ao medo do que poderia encontrar com ele, então ficou parado ali mesmo, o bote poderia ser dos piratas alem disso estava muito perto da floresta, seja lá quem for o dono deveria estar por perto, seria melhor esperar o dia raiar assim não correria tantos perigos, sem saber o que fazer ou para onde ir ficou parado em pé olhando para o bote na esperança de que as mulheres aparecessem e viessem ao seu encontro, mas nada aconteceu, tomou um pouco de coragem, devagar esfregando as mãos se aproximou do bote, ao chegar perto das árvores sentiu os vapores quentes que saia de dentro da floresta, foi um alivio por que estava

Page 115: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

115

com muito frio, pelo menos já estava ficando aquecido, o problema do frio estava resolvido, agora precisava achar algo para comer, procurou por perto do bote sem se aproximar muito das árvores, estava com medo de animais que estivessem de tocaia, mas não se afastou muito para não perder o calor que dissipava a poucos metros da margem da floresta, acabou se deitando dentro do bote e mesmo com fome adormeceu. O sol estava alto no céu quando Derik acordou, a fome estava forte demais a ponto de não ouvir os tambores que batiam em ritmo acelerado Derik demorou a distinguir o som dos animais a dos tambores, estava a caminho do mar em direção a um barril que ele viu boiando na água quando deu por si e percebeu que aquele som era igual aos que ele ouviu dos nativos na colônia, se lembrou do que os piratas falaram sobre os canibais que moravam nessa ilha, apavorado correu para dentro do mar se esquecendo do barril e dos tubarões, já estava com a água batendo no peito e as ondas batiam em seu rosto quando percebeu que não estava indo pra lugar nenhum, e se lembrou dos tubarões, voltou correndo para a praia ajoelhando-se na areia a beira mar quase chorando pensando na sua irmã no que poderia ter acontecido com ela. Não tendo muitas escolhas saiu andando na linha da água tentando fugir do barulho infernal, esquecendo-se da fome que lhe corroia o estomago, andou até chegar a um rio que descia no meio da floresta até o mar, enfim água doce para matar a sede, enquanto bebia ouviu alguém lhe chamar. _ Rapaz, hei você ai, hei rapaz. Derik voltou-se rapidamente para trás, a voz não era de mulher por isso só poderia ser de um dos piratas. _ Não tenha medo rapaz, sou um velho inofensivo. -falou o velho, vendo que o rapaz estava muito assustado. Derik não fugiu, não por querer desafiar seu medo, mas por que não tinha mais forças para continuar a fuga, suas pernas estavam fracas, não tinha como dar um passo, estava à beira de um desmaio, caiu sentado na água como quem desisti da vida a espera do golpe fatal do carrasco.

Page 116: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

116

O velho saiu do meio das árvores, desceu o barranco onde estava, chegou perto de Derik e disse. _ Você estava no naufrágio com os outros não é? Derik só conseguiu dizer. _ Quem é você? _ Meu nome é Pedro, sou um naufrago igual a você, mas não do seu naufrágio, estou aqui há muito tempo, tempo demais pra dizer a verdade. Pedro era um homem alto e magro aparentando ter mais de sessenta anos de idade, um metro e noventa de altura cabelos longos e grisalhos com a barba tão longa como os cabelos e igualmente grisalhos com olhos claros e olheiras roxas, como se estivesse doente, com poucos dentes na boca e os que tinham estavam cariados, roupas velhas e rasgadas, calçando velhas botas de soldado com a ponta arrancada deixando os dedos de fora, trazia nas mãos uma velha sacola de pano com alguma coisa dentro, e um cajado feito de um galho de árvore. Derik, diante daquela figura, levantou-se olhando ao seu redor e falou com voz tremula. _ Aqueles tambores, os canibais, como você conseguiu se esconder? _ Não existem canibais nessa ilha rapaz, os tambores são os nativos agradecendo aos deuses pelo presente que receberam do mar. _ Você disse os outros, por acaso tem uma mulher? _ Uma não, são três mulheres, encontramos as três em um bote pela manhã de ontem, sempre que uma tempestade passa por aqui os nativos saem pela praia pra ver o que o mar trouxe de presente pra eles, e dessa vez o mar foi muito generoso, os nativos nunca tinham visto uma mulher loira antes, pra falar a verdade fazia tempo que nem eu via uma mulher loira, todos os náufragos que vem parar aqui são homens, é a primeira vez que aparecem mulheres. _ E só encontraram as mulheres?-disse Derik. _ Não, o mar trás coisas boas, mas também trás coisas ruins, encontraram outro bote, mas esse estava vazio fora da água, seguimos suas pegadas pela floresta e os homens nos atacaram com tiros de

Page 117: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

117

pistolas e espadas, mas os covardes fugiram pelo mato, eles mataram três dos nativos guerreiros, mas nós conseguimos pegá-los durante a noite, dois morreram e três estão vivos. _ Eu posso ver as mulheres? _ Claro que sim, e aproveita para comer alguma coisa, você parece estar com fome. -disse o velho senhor Pedro. O senhor Pedro levou Derik para dentro da floresta rio acima, longe das margens do rio como se estivesse tentando evitar alguma coisa, para isso caminhava por uma trilha feita pelos nativos, o caminho era estreito o suficiente para passar uma pessoa de cada vez em fila indiana, as margens da trilha havia lanças de madeiras fixos no chão com as pontas para cima voltadas para o rio, nas margens do rio também tinham muitas dessas lanças, Derik ficou nervoso com aquilo e perguntou ao senhor Pedro. _ Vocês estão em guerra com outras tribos? _ Não, por que pergunta? _ Essas lanças, parece que querem se defender de alguém. Ignorando o comentário de Derik o senhor Pedro nem olhou para as estacas pontiagudas, e falou. _ Essa ilha é diferente de tudo que você já viu antes, existem coisas que fogem a compreensão das pessoas, espere aqui já volto. Falando isso o senhor Pedro se afastou saindo da trilha entrando no mato deixando Derik sozinho, mais uma vez sozinho dessa vez no meio da floresta, apesar do calor intenso e as roupas molhadas de suor ele passou a sentir calafrios, o medo voltou a dominar o seu corpo, as árvores pareciam deitar-se sobre ele, o barulho dos animais pareciam estar mais alto quase ensurdecedor, então ele fixou seu olhar nas estacas ao seu redor e tudo parecia estar rodando, a fome e o cansaço se mostraram mais forte que o menino de corpo franzino, minutos depois o senhor Pedro reaparece entre os arbustos quase matando Derik de susto, trazia nas mãos algumas raízes e insetos enrolados em uma folha e disse. _ Me desculpe, eu não queria ti assustar, trouxe comida. _ Trouxe o que?

Page 118: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

118

_ Não se deixe levar pela aparência da comida, feche os olhos e coma, vai ver que é bom. _ Mas são insetos, e são nojentos, e o que é isso, é mato? _ Em primeiro lugar, sim são insetos, sim são nojentos, em segundo lugar, não, não é mato, são raízes e são muito bons, não é muito saboroso, mas é o que se come nessa ilha, alem de peixes, por isso meu amigo é melhor comer, ou morre de fome. Então o senhor Pedro pegou uma parte e comeu para mostrar que era comestível e deu o resto ao Derik que não teve alternativa senão fechar os olhos e comer tudo, pelo menos saciou sua fome. _ Viu, não é tão ruim assim, a floresta tem tudo que precisamos. -disse Pedro. _ Eu não me sinto muito á vontade, no meio da floresta tem os leões, panteras, elefantes. –disse Derik. _ O maior animal que você vai encontrar nessa ilha é um lagarto que os nativos chamam de teu, e ele é do tamanho do braço de um homem. Derik ficou aliviado, não seria mais devorado por animais. _ Vamos me conte o que aconteceu com o seu navio, a tempestade pegou vocês não foi, mas o que faziam tão longe da rota mercante? _ Eu não sei ao certo o que aconteceu, eu estava preso no porão do navio. _ Você era um prisioneiro? _ Eu não cometi nenhum crime, foi um engano, um mal entendido. _ Sei, tudo na vida da gente é um mal entendido, olha eu, por um mal entendido vim parar nessa ilha, e por outro mal entendido ainda estou vivo. _ Fui acusado de assassinato e condenado a ficar acorrentado no porão do navio, ao chegar à Inglaterra eu seria enforcado. – disse Derik. _ E você não matou ninguém? _ Eu não me lembro de nada, eu só me lembro de ter me deitado no navio e acordar na cabana de uma velha feiticeira em um acampamento na colônia inglesa na áfrica.

Page 119: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

119

_ Você foi acusado de assassinato e não foi enforcado? Os ingleses estão ficando bondosos em outros tempos você seria enforcado na primeira árvore que eles encontrassem. _ Talvez a minha irmã tenha intercedido ao meu favor, ela é a mulher do conde. _ Sua irmã é uma condessa? _ É, por isso que ainda estou vivo, senão o conde teria mandado me matar. O senhor Pedro olhou para o rapaz como quem não estava entendendo nada, mas preferiu deixar como estava. _ Isso não explica o que faziam tão longe do caminho, a tempestade não poderia trazer vocês de tão longe. - disse Pedro. _ Pelo que sei estávamos fugindo de piratas. _ Então aqueles homens que estão presos na aldeia são piratas que escaparam da tempestade? _ Não sei, eu não sei quantos homens conseguiram escapar. _ E as mulheres, uma delas é a condessa sua irmã? _ Uma delas é minha irmã, as outras são suas criadas. _ A propósito, ao chegar lá os nativos poderão não ficar muito felizes com a sua chegada. Derik parou de andar, engoliu seco ainda com o gosto de insetos com raízes na boca, e disse. _ Como assim podem não gostar? _ Os seus amigos não foram muito amistosos com o chefe da tribo, um dos guerreiros que eles mataram era filho do chefe. _ Eles não são meus amigos. _ Diga isso para os guerreiros da tribo, porque até as mulheres estão presas. _ Então eles vão me prender. –falou Derik ainda parado no mesmo lugar. _ Você parece ser um bom rapaz, eu posso ver isso ao olhar para uma pessoa, é um dom, vou interceder por você e as meninas, e você pode me ajudar com uma das meninas, não precisa ser a sua irmã condessa. Derik mais aliviado começou a andar gaguejante falou.

Page 120: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

120

_ Você disse que eles não são canibais, então eles não vão matar os prisioneiros? _ Eles não comem as pessoas, mas por aqui tem um terrível habito de sacrificar gente pra um deus deles e seus amigos são sérios candidatos ao próximo ritual. Derik novamente parou de andar, já não tinha mais tanta vontade de encontrar sua irmã, falou baixinho. _ Eu deveria ter ficado na praia, ela esta perdida mesmo, é melhor eu voltar agora antes que os nativos me encontrem. _ Não tenha medo rapaz, eu disse que falaria ao seu favor com o chefe, se você voltar pra praia você não sobreviveria mais um dia, alem disso os nativos patrulham a ilha todos os dias, só não ti encontraram antes por que estavam ocupados com aqueles homens. _ Esta bem, eu vou com você. Quanto mais próximos da aldeia mais o numero de estacas aumentava eram centenas espalhadas por toda parte, agora com as pontas para todos os lados, como se esperassem um ataque de qualquer direção em meio às árvores. Finalmente chegaram à aldeia no centro da ilha aos pés do vulcão, cabanas suspensas nas árvores feitas de galhos e troncos cobertas com folhas secas presas nos troncos grossos, amarradas com cipós a sete metros do solo, algumas mais alto que isso, em algumas árvores com mais de uma cabana, pequenas feitas em círculos ao redor dos troncos com cinco metros de diâmetro e um metro e oitenta de altura, e uma única abertura que era a porta, a abertura era tão pequena e estreita que mal podia passar um homem, construídas nas sombras das copas das árvores recebendo poucos raios de luz do sol, no chão da floresta em baixo das cabanas tinham algumas fogueiras apagadas com muita fumaça, como se alguém a tivesse apagado com pressa, o cheiro da aldeia fez Derik se lembrar dos acampamentos do exercito, lembranças que ele preferia esquecer, mas diferente dos acampamentos aqui não havia ninguém, a aldeia estava totalmente vazia, será que aconteceu alguma coisa com os moradores? O senhor Pedro, que caminhava na frente de Derik, repentinamente parou e falou.

Page 121: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

121

_ Não se mova, e não tente correr e acima de tudo, fique calmo. De trás das árvores surgiram os guerreiros se esgueirando entre as estacas pontiagudas saindo de trás das moitas e arbustos, homens de baixa estatura, pigmeus armados com arcos e flechas, lanças pontiagudas e zarabatanas cercando o visitante aos gritos parecendo estar furiosos, tentando intimidá-lo. O senhor Pedro, com as mãos para o alto, falava algumas palavras no dialeto dos nativos na tentativa de acalmá-los, aos poucos foram se acalmando, os gritos cessaram e um só homem falava gesticulando muito e o senhor Pedro respondia parte em palavras parte em gestos, Derik sentiu vontade de correr gritando, mas suas pernas não obedeceram, sentiu náuseas e vomitou, o senhor Pedro olhou para ele e disse. _ Tudo bem rapaz, esta tudo bem, eu disse que ti ajudaria então eu ti ajudei, eles não vão ti prender, vamos vou ti levar até sua irmã condessa, a propósito como é mesmo seu nome? _ Derik, meu nome é Derik. Entraram na aldeia, o senhor Pedro na frente mostrando o caminho Derik atrás preocupado com os pigmeus que caminhavam ao seu redor olhando para ele até chegarem a uma árvore no centro da aldeia, tão grande como grossa, com três construções em níveis diferentes na mesma árvore, Pedro falou. _ A primeira casa é do chefe da tribo, a segunda é das mulheres do chefe a terceira esta sua irmã condessa e as outras duas mulheres, eu disse ao chefe que você é irmão de uma das moças e ele permitiu que você as visse, é só subir até lá. Para subir nas cabanas havia uma escada, um longo cipó com nós por toda sua extensão, em cada cabana da aldeia havia pessoas olhando pela pequena e única abertura existente, mulheres seminuas com suas crianças, mas não estavam espantadas, já receberam náufragos antes, tinham experiência com essa situação, sabiam o que fazer com essas pessoas, de certa forma era presentes dos deuses e deveria comemorar a sua chegada. Derik ficou em pé diante da árvore, reunindo forças para iniciar a escalada de quinze metros, cinco dos guerreiros pigmeus se

Page 122: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

122

adiantaram na escalada, Pedro e o chefe dos pigmeus se afastaram e continuaram suas conversas, mas dessa vez em tom mais baixo, Derik não conseguia ouvir o que falavam só via os intermináveis gestos com as mãos, então alguém o puxou pela camisa oferecendo o cipó pedindo que subisse, Derik olhou para o pequeno guerreiro que continuava a puxá-lo com uma das mãos e com a outra segurava a precária escada, agora quase forçando o rapaz a subir, diante de tanta insistência ele pegou o cipó e iniciou a subida, empurrado por outros dois pequeninos que também subiam atrás apresando a escalada. Chegando ao terceiro nível, onde estavam às mulheres, já havia dois dos que subiram na frente, parados em pé olhando para as moças que se escondiam tentando se cobrir com as mãos estavam nuas, quando Derik as viu desviou seu olhar, envergonhado por ver sua irmã nessa situação, Suelem ao ver seu irmão sorriu de alegria por ver que ele não morreu na tempestade, envergonhada gritou. _ Derik não olhe, estamos nuas. _ Por favor, entregue nossas roupas. –falou uma das criadas. Os pequenos guardiões não entendiam nada, mas achavam graça do jeito que as meninas falavam e choravam, falava um com o outro e riam empurrando-as com as mãos, admirados com a tonalidade da pele das moças que de tão branca era possível ver seu sangue correndo por suas veias, isso fazia as meninas chorarem ainda mais, desprotegidas com medo do que podiam fazer com elas só lhes restavam implorar por suas vidas. Derik não sabia o que fazer ficar ali parado não adiantaria nada, só podia fazer uma coisa, pedir ajuda ao seu novo amigo Pedro, desceu pelo cipó empurrando os homens que estavam atrás, sua pressa era tanta que perdeu o equilíbrio caindo de uma altura de seis metros, os pigmeus olharam sem se mover para socorrer o rapaz no chão macio de folhas secas, Derik gritou de dor, Pedro estava por perto veio ao seu socorro. _ Você se machucou rapaz? _ Meu nome é Derik, e as mulheres estão presas lá cima estão nuas, esses depravados tiraram todas as roupas delas, esses selvagens

Page 123: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

123

não tem o mínimo respeito o que querem fazer com as mulheres, por acaso isso faz parte de um desses rituais profanos? _ Calma, Derik, se você ainda não percebeu todos eles estão nus, eles tiraram as roupas das mulheres por que são prisioneiras, assim como os cavalheiros que estão logo ali, é para o caso de terem arma escondida em baixo das roupas. _ As mulheres não usam armas e nem escondem armas mande que devolvam suas roupas. _ As coisas por aqui são diferentes da civilização, por aqui as mulheres são tão perigosas quanto os homens, sabem usar uma flecha e uma lança e não tem medo de furar alguém, por isso eles tratam as mulheres do mesmo jeito que tratariam um homem. _ Mas eles estão importunando e tocando nelas. - retrucou Derik. _ Quando elas chegaram aqui foi bem pior, - falou o senhor Pedro com um sorriso-, quando tiraram as roupas delas você precisava ter visto, eles acharam que elas não tinham pele. _ Você é um homem civilizado, como pode deixar que façam isso com elas? _ Parece que você ainda não entendeu, eu falei que os nativos fazem sacrifícios para os deuses e quem você acha que será sacrificado, eles não vão sacrificar um membro da tribo com tantos cordeirinhos que o mar lhes deu de presente, primeiro será os homens depois as mulheres um de cada vez, é melhor ninguém se meter na vida deles, não se deixe levar pela estatura desse povo eles são capazes de derrotar homens bem maiores do que você, eu estou dizendo isso porque eu já presenciei uma luta dessa. O senhor Pedro segurou Derik pela mão ajudando-o a levantar-se, pôs a mão em sua costa e caminharam pela aldeia em passos lentos, os nativos voltaram as suas atividades, quase que ignorando a presença do intruso no meio da aldeia, Pedro continuou a falar. _ As moças estão seguras, por enquanto. Derik interrompeu as explicações do senhor Pedro, mas agora em tom mais baixo. _ Se você sabe que todos serão sacrificados por que não fugimos daqui?

Page 124: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

124

_ Fugir pra onde, os pigmeus conhecem essa ilha melhor do que todos nós, não temos para onde fugir seriamos encontrados em uma hora, todos os anos na temporada das tempestades o mar trás um grupo de náufragos, muitos tentaram lutar achando que poderiam vencer os pequenos guerreiros, esses anões lutam feito o diabo, outros tentaram sair da ilha usando canoas, mas nesse período de chuva as ondas formam uma barreira, os barcos pequenos são jogados de volta a praia, os nativos acreditam que se o mar deixar que se vá é porque o mar não os quer, mas se o mar os devolver é porque devem ser os primeiros a serem sacrificados. –disse Pedro. _ Ha quanto tempo o senhor esta nessa ilha? –perguntou Derik. _ Por que pergunta? _ O senhor disse que viu vários naufrágios e todos os náufragos foram sacrificados, por que o senhor não foi sacrificado como os outros? _ HÁ sete anos meu navio foi apanhado por um ciclone e arrastado até essa ilha, batemos em uma pedra e o navio partiu ao meio, nós caímos no mar e acordei no dia seguinte com os pigmeus me carregando para a aldeia, tiraram toda a minha roupa e me jogaram em uma gaiola com os outros que escaparam do naufrágio, éramos nove homens sem poder mover as pernas, os nativos usavam um veneno tirado de plantas que paralisa os músculos, eu sentia dores por todo o corpo meus amigos gemiam de dor como eu, e ninguém conseguia ficar em pé, na manha do dia seguinte o curandeiro da tribo estava agitado, veio uma mulher nos trazer comida e eu perguntei o que estava acontecendo, ela não entendia nada do que eu falava, mas eu aprendi a falar algumas coisas nesse dialeto na minha estadia na África, então conseguimos nos comunicar, o filho do chefe estava muito doente tinha sido mordido por uma aranha venenosa, eu convenci a mulher que eu podia curar o menino e ela foi contar ao chefe que eu era um poderoso feiticeiro, o chefe me deixou tentar me levaram até o menino e eu curei com muita água e ervas que conheci enquanto visitava as tribos Africanas. _ O senhor esteve na África?

Page 125: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

125

_ Eu sou um estudioso das culturas Africanas em busca de remédios que possam curar as doenças que matam milhares de pessoas em toda Europa, eu sou um medico, usei meus conhecimentos científicos e as coisas que aprendi com os feiticeiros africanos, o menino tinha apenas febre e o corpo estava paralisado pelo veneno da aranha ele ficou bom em dois dias, o chefe então me deu o cargo de feiticeiro da tribo, o velho feiticeiro foi deixado de lado, desse dia em diante não precisei mais voltar pra gaiola, fiquei solto pela aldeia podia ir para onde eu quisesse, o veneno que paralisava nossas pernas foi perdendo o efeito, já que não ejetavam mais essa droga nas minhas pernas, então eu fui aprendendo os costumes da tribo e seu dialeto, vi um dos homens ser tirado da gaiola e ser arrastado pelo caminho que vai pra praia, ele foi amarrado em uma estaca e ficou lá durante toda tempestade, no dia seguinte o chefe da tribo foi ver o que aconteceu, o corpo sumiu como se alguma coisa o tivesse levado. Derik se apavorou com a historia do senhor Pedro, principalmente a parte do sacrifício e achou melhor mudar de assunto e descobrir um meio de fugir da ilha com sua irmã, então ele falou. _Fora das épocas de tempestades o mar fica mais calmo, por que o senhor não foge. _ Eu vi os deuses dos pigmeus. _ O que? _ É, eu os vi, e quase desmaiei com o que vi, são fantásticas, criaturas monstruosas, incríveis. _ Do que o senhor está falando? _ Já é tarde, pela manhã eu ti mostrarei por enquanto fique calmo e não se preocupe com as mulheres, elas ficarão bem. Derik ficou tão envolvido com as historias contadas pelo senhor Pedro que não percebeu que estavam parados em frente a uma gaiola, dentro da gaiola estavam o governador Frank e mais dois piratas sentados no chão completamente nus, as pernas estavam machucadas parecendo estar quebradas, os três homens olharam para Derik e o governador disse.

Page 126: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

126

_ Rapaz, nos ajude tire-nos daqui precisamos fugir antes da próxima tempestade, venha aqui eu tenho um plano eles vão matar a todos nós. Derik, assustado com os ferimentos exposto no corpo dos homens, se aproximou da gaiola e disse. _ Governador o senhor se lembra quando deixou que o House tentasse me matar? _ Isso não importa mais o que interessa é que temos que sair daqui escuta, todos nós corremos perigo, não confie nesse velho ele é maluco, ele não ti contou o que fazem com os visitantes? Seremos mortos com a primeira nuvem de chuva. Derik sabia do que falavam, sabia que todos seriam sacrificados, mas tinha esperança de poder salvar sua irmã, e depois fugir da ilha, para isso teria que conquistar a confiança do velho senhor Pedro, Derik começou a arquitetar seu plano de fuga, o senhor Pedro disse que em cada tempestade os nativos sacrificam uma pessoa, então teria cinco pessoas para morrer antes de sua irmã, o senhor Pedro disse que o ajudaria para que não fosse sacrificado, esse era todo o tempo que ele tinha. Pedro estava parado perto da gaiola em silencio, apenas olhava para os prisioneiros e para Derik, então ele disse. _ Eu falei sobre a luta com os pigmeus, esses homens mataram alguns dos guerreiros, por isso quebraram as pernas de todos, os baixinhos estavam com raiva, hoje você pode dormir na minha cabana é melhor não sair à noite, vou pedir para trazerem algo para você comer. Pedro mostrou-lhe uma cabana construída no chão, construídas com galhos e folhas de palmeiras, grande o bastante para abrigar um homem alto como o senhor Pedro, Derik a examinou minuciosamente, a cabana parecia ser resistente apesar da precariedade do material utilizado na construção. _ Você não achou que eu fosse morar em árvores, não é? Esses ninhos de passarinhos não me agüentariam o chão é mais seguro e aqui cada um faz sua própria casa, ninguém ajuda ninguém, é cada um por si. –disse Pedro.

Page 127: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

127

Quando o senhor Pedro saiu os piratas o chamaram pra perto da gaiola e disseram. _ Nós temos um plano, mas precisamos de você. Derik não quis ouvir o plano, interrompendo a conversa dos piratas, irritado respondeu. _ Vocês precisam de mim para carregá-los, com as pernas quebradas vocês nem podem se levantar do chão. _ Você acha que está livre, que não será sacrificado como nós? Sua única chance de viver é se unindo a nós. –disse Frank. _ Errado senhor governador, se eu me unir a vocês eu morrerei mais rápido, eu sei que terei o mesmo destino que o seus, mas eu tenho meus próprios planos, mas antes terei o prazer de ver cada um de vocês morrerem. _ Desgraçado eu vou escapar daqui e eu mesmo matarei você com as minhas próprias mãos com as pernas quebradas, e se quebrarem as minhas mãos eu ti matarei com os dentes. Derik entrou na cabana do senhor Pedro, sentou-se em um canto no chão e ficou imaginando como poderia sair daquela ilha o mais rápido possível, levantou a cabeça ao perceber que alguém tinha entrado pela porta, era uma das mulheres da tribo que o senhor Pedro mandou para levar comida, Derik pegou o embrulho de folhas, estava quente, mas teve medo de abrir e ver o que tinha dentro, sua primeira experiência com os pratos locais não foi muito bom, mas como disse o senhor Pedro, aqui se come o que a ilha nos dá, com nojo Derik abriu as folhas e para sua surpresa tinha apenas peixe assado, e estava bem salgado, nessa noite ele não passaria fome. No meio da floresta a noite cai muito rápido, o ruído dos animais ficam muito fortes, sons assustadores, Derik foi até a porta da cabana, que ficava sempre aberta, não havia fogueiras acesas ou qualquer tipo de luz nas cabanas nas árvores, não se via nenhum movimento no chão ou nas casas, então um vulto surgiu repentinamente em sua frente, era o senhor Pedro que chegava apressado empurrando o rapaz para dentro da cabana, trazia na costa uma sacola cheia de folhas e galhos, sem dizer nada jogou tudo no chão sobre uma esteira que ele mesmo fez com folha de palmeira, acendeu uma lamparina pegou uma

Page 128: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

128

tigela feita de casca de coco, pôs as folhas dentro da tigela e começou a esmagar tudo com um pedaço de madeira, Derik, também sem falar nada, voltou a porta procurando pela cabana onde estava a condessa, sua cabeça não parava de trabalhar no plano de fuga da ilha. _ É melhor sair da porta Derik, você pode não estar na gaiola com seus amigos, mas está sendo vigiado de perto. –disse Pedro. _ Não tem ninguém, está tudo escuro todos foram dormir. –disse Derik. _ Não se deixe levar pela aparência desse lugar, tem sempre alguém acordado a noite, são os vigias, você não os vê, mas eles estão ti olhando. Derik olhou para as copas das árvores, afastando-se da porta chegando perto do senhor Pedro que continuava esmagando suas ervas iluminado pela pouca luz, Derik tentando se distrair começou a falar. _ O que está fazendo, algum remédio de plantas para curar os piratas? Pedro não respondeu. _ Ou então é mais uma das comidas típicas dos nativos?- continuou Derik. O senhor Pedro continuava em silencio. _ Me conte mais um pouco sobre essa ilha?- o rapaz insistia em puxar conversa. Sem respostas Derik se recolheu em um canto o mais afastado possível do senhor Pedro, embalado pelo som do soquete esmagando as ervas na cuia ouvindo os seus próprios pensamentos acabou dormindo. _ Acorda, quero ti mostrar uma coisa. –disse o senhor Pedro. Derik acordou, torcendo que tudo aquilo fosse apenas um sonho, se pôs em pé e foi até a porta, o dia estava claro o sol brilhava como um belo dia de verão, então se deu conta que tudo era real, e muito real, os pigmeus andavam de um lado para o outro, as mulheres nuas carregando seus filhos amarrados em seus copos com tiras de casca de árvores que elas trançavam tecendo uma espécie de rede, outras carregava potes feito de barro cheio de água, enquanto outras acendiam fogueiras, os homens eram poucos, estavam em pé parados

Page 129: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

129

nas entradas de suas cabanas observando, Derik estava saindo quando se lembrou do que o senhor Pedro lhe falou a noite, a poucos metros estava à gaiola com os prisioneiros pedindo socorro, mas Derik não esqueceu o que eles disseram, por um momento Derik congelou-se na porta da cabana, até que o senhor Pedro retornou com um sorriso no rosto e aquela sacola na costa. _ Está pronto rapaz, vamos você vai presenciar algo incrível. –disse o senhor Pedro. Agarrando Derik pelo braço levando-o para fora da aldeia rindo e falando sem parar, Derik não conseguia entender quase nada do que ele falava, mas não teve alternativa senão acompanhá-lo, Derik olhava para trás tentando encontrar sua irmã, mas cada vez ficava mais longe, até que a aldeia desapareceu no meio do mato alto, as estacas de madeira estavam por toda parte, todas com as pontas voltadas para o mesmo lado, aquilo intrigava Derik, mas não quis perguntar ao senhor Pedro qual a razão de tantas lanças espalhadas por ali, o senhor Pedro continuava falando Derik não prestava atenção em nada, já estava bastante confuso com seus próprios pensamentos. O caminho que eles seguiam era como o que os levou a aldeia no dia anterior, estreito e protegido por lanças em toda sua margem, o senhor Pedro andava em passos largos na frente, ainda segurando Derik pelo braço, quando Derik olhou pra trás viu um pigmeu andando apresado atrás deles, Derik falou. _ Senhor Pedro, tem um nativo correndo atrás de nós. Sem olhar para trás o senhor Pedro respondeu. _É um menino, eu o chamo de curioso, ele esta querendo saber quem é você, não se preocupe com ele logo ele some. CAPITULO IX Sereias O vulcão no centro da ilha começou a expelir fumaça deixando Derik preocupado, a fumaça negra do vulcão se misturava com as nuvens que anunciava uma nova tempestade, Derik teria que se

Page 130: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

130

apresar com seu plano de resgatar sua irmã e fugir da ilha, mas até o momento ele não tinha a menor idéia de como faria isso, precisava convencer o senhor Pedro a ajudá-lo, mas Derik não confiava nesse homem, como um homem civilizado poderia deixar que selvagens sacrificasse pessoas em nome de um deus pagão e não fazer nada para impedi-los, Derik só podia contar com ele mesmo. _ Chegamos, - disse o senhor Pedro depois de uma hora de caminhada, parando a beira de um penhasco de sete metros a beira mar. As ondas batiam com violência nas pedras que formavam uma barragem criando uma enorme piscina natural aquecida por vapores vulcânicos expelidos entre as rochas criando bolhas que subiam do fundo na água transparente, o senhor Pedro parou e ficou olhando a piscina, Derik não entendeu nada e perguntou. _ O senhor me trouxe aqui para ver o mar? _ O mar não, olhe para esse lado garoto. _ Só vejo água. _ Calma rapaz, temos que esperar um pouco logo eles virá, devem estar caçando eles sempre caçam pela manhã. Derik fixou os olhos na vegetação a sua frente do outro lado das rochas e disse. _ Os pigmeus? _ Não, os deuses. Derik olhou para o senhor Pedro, achando que o velho deveria estar maluco. _ Abaixe-se, olha eles estão chegando, olha lá do outro lado, nas pedras, eles estão entrando por um buraco em baixo das rochas. Derik viu algo enorme entrando na piscina por uma entrada submersa que dava acesso ao mar, parecia ser um peixe nadando sob a água dando voltas, um peixe com silhueta feminina com cabelos longos que se estendiam até a nadadeira com cores que brilhavam com a luz do sol. _ Que peixe estranho, parece que tem cabelo. -disse Derik. _ Não garoto, ela é divina. –disse Pedro.

Page 131: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

131

Enquanto a criatura nadava Derik tentava entender do que se tratava, que tipo de peixe era aquele, que tipo de criaturas existia naquela ilha, uma coisa era certa aquilo era muito estranho, então a criatura saiu da água e se pôs sobre uma grande rocha que recebia violentos açoites das ondas, Derik ficou mudo, ele viu uma mulher de cabelos longos e ruivos de rosto pálido olhos negros e redondos, sua pele lisa e molhada parecia estar coberta por pequenas escamas que fazia seu corpo reluzir ao sol, da cintura pra baixo era como um peixe, com a calda longa e fina, era uma sereia, uma linda e majestosa sereia. Logo outras criaturas entraram pelo buraco nas pedras, eram varias sereias nadando em direção as rochas na rebentação, algumas sereias menores continuaram nadando como se estivessem brincando, as outras se sentaram sobre as rochas banhadas constantemente pelas ondas que quebravam nas pedras, só então Derik pode ver com clareza a beleza das criaturas. _ Viu, é o que eu queria ti dizer, elas são lindas, eu dei nome a cada uma delas, mas a minha favorita e a mais linda de todas é a Rainha do fogo, é aquela de cabelos vermelhos, é assim que os pigmeus a chama, rainha do fogo. Derik soltou a voz. _ São sereias, aquilo ali, são sereias de verdade. –disse Derik. _ São sereias sim meu rapaz, incrível não é? –disse Pedro. _ Mas como pode ser, sereias são lendas isso não era pra existir. _ Quando eu descobri essas criaturas eu também não acreditei, mas é tudo real, eu venho aqui toda manhã pra admirá-las e estudá-las, você me perguntou por que eu não fui embora dessa ilha? Esse é o motivo, não posso abandoná-las, elas me enfeitiçaram não posso mais deixá-las. Derik se lembrou dos seus sonhos com a guerreira negra, de certa forma era muito parecida com as sereias, as escamas e o jeito que se movia na água, mas a guerreira não tinha calda de peixe, seus pés eram palmados como criaturas que vivem na água, será que seus sonhos eram reais? A cabeça do rapaz começou a rodar uma sensação que ele conhecia muito bem.

Page 132: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

132

Então surgiu pelo buraco outra criatura, essa era maior que as outras com o corpo mais forte e subiu em uma rocha entre as sereias, parecia ser um enorme macho com cabelos prateados que cobria toda a cabeça e o rosto com uma longa barba, tão longo que tocava em sua cintura, outros dois que o acompanhavam subiram nas rochas do outro lado da piscina longe das sereias e do prateado, um dos dois últimos era tão grande quanto o prateado, mas seu cabelo era negro e longo, também com uma longa barba negra, o outro era menor e seu cabelo, castanho, não era tão longo quanto os outros, e não tinha barbas, era um macho jovem. _ Aquele grande no meio das sereias, - disse Pedro -, se chama deus Netuno é o líder do bando, todos o respeitam pelo seu tamanho e força, antes eram três grandes, eles eram violentos brigavam muito, mas um deles sumiu e ficou só o Netuno, eu acho que o Netuno matou o outro, por que no dia em que ele desapareceu o prateado estava cheio de feridas sangrava muito, olha as marcas de luta que ele tem no corpo, ele é um guerreiro e nunca foi derrotado por ninguém, agora tem três machos onze fêmeas, e cinco pequenos, não da pra saber se os pequenos são fêmeas ou machos são todos iguais, aqueles dois separados, o de cabelos negros se chama Darkon e o menor é o Mago, eu o chamo assim porque ele sempre some quando as coisas ficam feias por aqui. Derik estava tentando se concentrar, esfregando os olhos, e disse. _ Aquelas três de cabelo claro são parecidas com as mulheres que estão presas na aldeia, pele branca, cabelo claro, a rainha do fogo se parece com a minha irmã. –disse Derik. _ Os pigmeus também acharam, quando as capturaram eles pensaram que fosse as sereias que saíram da água para atacá-los, depois que viram que não tinham caldas de peixe tomaram coragem e as prenderam, talvez isso salve a vida da sua irmã e das moças. _ E quanto a mim? _ Se você me ajudar talvez possamos sair daqui juntos, eu você e as moças. _ Ajudar em que?

Page 133: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

133

_ Me ajude a capturar uma dessas criaturas, a Rainha e o seu filhote, vamos levá-los para o continente e ficaremos ricos, nunca mais teremos de trabalhar, nosso nome entrará pra historia, seremos famosos. O céu se cobriu de nuvens escuras, uma tempestade se aproximava, ventos fortes começaram a soprar no mar levantando ondas enormes, as sereias voltaram para o fundo do mar saindo pelo mesmo buraco que entraram, os três machos ficaram sobre as rochas recebendo as ondas que batiam com fúria nas suas costas. _ É melhor a gente ir embora também. -disse Derik. _ Não vai chover aqui, a tempestade vai passar pelo mar. _ Como você sabe? _ Eu sei, sente-se ai, ainda tenho muitas anotações para fazer. Derik se sentou e ouviu com atenção tudo que Pedro falava. _Todos os outros homens que eu trouxe aqui para me ajudar no meu plano acabaram morrendo, acharam que fossem mais espertos que eu e tentaram me passar à perna, uns tentaram pegar a sereia sozinho, mas foram encantados e pegos por elas, outros tentaram fugir da ilha, mas também não conseguiram, outros eu mesmo matei, agora é você. Derik sentiu medo do senhor Pedro, pensou um pouco tomou coragem e falou. _ Como capturar uma sereia se elas podem nos encantar e nos comer? _ As sereias comem peixes, mas podem matar uma pessoa com suas garras, de longe elas são lindas, mas de perto são monstros horríveis, uma vez me escondi atrás da pedra que ela costuma ficar, cheguei cedo antes que elas chegassem, enchi os ouvidos com cera de abelha para não ser hipnotizado pela sua voz, já vi muitos homens serem atraídos para a morte pela canção das sereias, como sempre a Rainha chegou primeira, nadou em círculos pôs a cabeça fora da água viu que não tinha ninguém subiu na pedra, eu tinha que agarrá-la antes que as outras chegassem então pulei sobre ela, mas parecia que ela me esperava, antes que eu pudesse tocá-la ela se virou, as mãos dela não têm dedos só enormes garras parecidas com dedos, os cabelos se

Page 134: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

134

levantaram ficaram em pé se lançaram contra mim, não eram cabelos, eram tentáculos, e tentaram me alcançar, mas eu escorreguei na pedra e cai antes que ela conseguisse me pegar, eu ainda tenho pesadelos com aquele rosto, aqueles dentes, o jeito que ela me atacou, parecia uma leoa faminta, seu corpo era igual a um peixe magro, o cheiro de sua boca era horrível, mas eu ainda a amo, é difícil de explicar. Derik olhava para o senhor Pedro, estava assustado com o que acabou de ouvir, a idéia de sair da ilha e levar uma dessas criaturas parecia ser loucura, se são tão perigosas como poderiam capturar e colocar em um barco, mas por enquanto seria melhor seguir os planos do senhor Pedro, essa poderia ser sua saída da ilha. _ E como vamos pegá-la? –disse Derik. _ Na água não dá, temos que tirá-la da água, ai fica mais fácil, só que os pigmeus não vão deixar a gente tirar um dos seus deuses da ilha, eu acho que o prateado também não vai gostar nada da nossa idéia, mas não se preocupe quando chegar à hora nós dois vamos pegar dois botes um é pra sereia e seu filhote o outro será para nós e vamos sair dessa ilha. _ E as mulheres? _ É claro, as mulheres também vão. –disse Pedro. Derik percebeu que Pedro não falava a verdade sobre levar sua irmã, nem as outras duas mulheres e quando as sereias estiverem no bote e longe da ilha até Derik poderia ser descartado. Depois de tantos anos preso na ilha Pedro estava doente e sabia que não sobreviveria mais um ano nessas condições, estava determinado em voltar ao seu país de origem com um tesouro vivo que o tornaria famoso e muito rico. O senhor Pedro era um medico irlandês viciado em bebida e jogos, viu sua vida desmoronar sem clientes e sem dinheiro, saiu da Irlanda há vinte anos com o propósito de descobrir riquezas em outros continentes, ele embarcou em um navio de carga que partiu em direção as Índias, mas o navio parou na África para carregar mantimentos e o senhor Pedro entrou em um safári gastando tudo que tinha em expedições e em jogos de pôquer, quando já não tinha mais nada começou a viver com os nativos africanos aprendendo a

Page 135: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

135

conhecer e a usar plantas medicinais para cura e, para a morte, muito usados em rituais religiosos para entrarem em transe dizendo que os espíritos os estavam possuindo, criando visões com o efeito alucinante das plantas e serviam algumas dessas plantas aos caçadores nos safares pra terem coragem e resistência nas longas jornadas das caçadas. Um dia, um grupo de caçadores veio da França para caçar elefantes, Pedro era o guia do safári, no grupo havia um jovem rapaz franzino filho de um rico fabricante de navios, seu nome era Luís, ele estava com seus tios naquele safári e tinha no dedo um anel de ouro com uma enorme pedra de diamante, isso fez com que Pedro arquitetasse um plano para roubar a jóia do rapaz, em uma manhã fria na savana africana Pedro serviu café aos caçadores, mas na caneca de Luís havia mais do que café, Pedro adicionou gotas de seiva de uma árvore venenosa, essa seiva era usada pela tribo massae nas pontas das lanças para caçar animais de grande porte, o veneno não fazia efeito imediato, deixava os animais mais lentos e com dificuldade para respirar, facilitando a caçada, Pedro só queria que Luis ficasse zonzo por tempo suficiente para que ele pudesse roubar o anel, quando o rapaz começou a passar mal Pedro o levou para perto de um bando de leões sem que seus tios percebessem, tirou o anel do dedo do rapaz que estava atordoado com os sentidos embaralhados quase desmaiando, deixando-o para os leões. Pedro voltou com a noticia para os tios do menino, eles saíram à procura do sobrinho, mas só encontraram pedaços espalhados pela terra, esse foi apenas um dos assassinatos feito por Pedro em território africano, seu ultimo crime aconteceu em uma vila portuária na colônia Inglesa na África, em uma mesa de pôquer Pedro se embriagou perdeu algumas pedras de diamantes e matou a facadas um francês que roubava no jogo, o Francês trabalhava em um navio mercante ancorado no porto esperando para ser carregado com caixas de fumo, para não ser enforcado por assassinato Pedro fugiu e embarcou, clandestinamente, em um pequeno navio Inglês que estava carregado e zarparia na maré alta. O navio Inglês estava longe da costa quando os franceses furiosos descobriram a fuga de Pedro, zarpou atrás dele com o navio vazio, o

Page 136: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

136

que deu aos Franceses uma vantagem para poderem alcançar o navio Inglês, o homem que ele matou era o filho do capitão do navio, o navio francês alcançou os ingleses na rota mercante, Pedro estava escondido no porão amarrotado de caixas e sacarias, então um marinheiro inglês, que conferia a carga o viu deitado sobre os sacos de fumo, e o levou até o capitão. O navio Francês se aproximava rapidamente a uma distancia que poderia ser visto a olho nu, os Franceses acreditava que o assassino fosse um marinheiro inglês e que todos os ingleses estavam juntos nesse assassinato, assim que entraram em alcance de tiro dispararam varias vezes com canhões contra os Ingleses sem dar uma chance de se defender, o navio afundou rápido pelo peso que carregava. Poucos marinheiros conseguiram escapar da tragédia causada pelo senhor Pedro, ficaram a deriva por dias em botes, doze homens em um único bote, até serem apanhados por uma tempestade que os levou direto pra ilha. Seu desejo por riqueza era incontrolável, todos que se aproximavam do senhor Pedro se tornavam vitimas da sua ganância, sem se importar com as pessoas que o ajudavam ele estava disposto a matar se fosse preciso pra alcançar seus objetivos, assim ele fez com todos que tentaram ajudá-lo em seu plano de riquezas e fama. Agora ele estava velho, fraco e doente, precisava de ajuda para por em pratica sua ultima chance de conquistar seus sonhos, aquela sereia seria seu tesouro vivo. Os pigmeus habitavam a ilha a milhares de anos, sempre a sombra do vulcão que se mostrava presente, sempre mal humorado e rabugento, expelindo fumaça negra às vezes branca, às vezes pouca fumaça às vezes era tanta fumaça que deixava toda a ilha sob total escuridão por dias, havia pequenas erupções presente em toda ilha através de saliências entre as pedras, escapando vapores de água do mar que entreva pelas aberturas no subsolo encontrando com rochas derretidas que corriam por canais em toda a ilha, tornando-a um lugar muito quente e úmido, pelas manhãs a ilha fica coberta por uma densa neblina, deixando a floresta nas primeiras horas do dia molhada e

Page 137: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

137

quente, possibilitando que as sereias saíssem da proteção das águas do oceano e entrem na floresta através de um rio muito raso que nasce no meio da floresta. As sereias não tinham cabelos, tinham tentáculos que cobriam toda sua cabeça, esses tentáculos de um metro de comprimento ajudavam a agarrar suas presas quando caçavam golfinhos ou peixes, suas peles são finas com pequenas escamas e precisavam estar sempre úmidas senão alas ressecam com o calor causando serias rachaduras e ferimentos podendo levá-los a morte, para sair do mar e entrar na ilha tinham que sair à noite e com chuva. Uma jovem sereia aproveitou uma manhã nublada e úmida para subir o rio e dar a luz ao seu filhote longe dos agitados machos que lutavam entre si, a jovem fêmea foi muito longe e acabou chegando onde as mulheres da tribo dos pigmeus pegavam água para a tribo, as mulheres viram a sereia no rio raso que mal cobria a calda da criatura que se arrastava rio acima, a sereia começou a cantar, as notas altas da canção causava transe nas pessoas que a ouvia deixando-as confusas impedindo-as que fugissem, as pigméias encantadas pela canção deixaram que a sereia se aproximasse, quando os homens da tribo perceberam a falta das suas mulheres saíram a procura encontrando-as nas águas do rio, todas estavam mortas, estraçalhadas pelas garras afiadas da sereia. À tarde Netuno levava o grupo de sereias para caçar no mar enquanto a água estava quente, caçavam peixes nos recifes sempre perto das pedras e das cavernas submersas que dava acesso ao ninho e a piscina de águas quentes mantendo-se a distancia dos tubarões seus maiores predadores, prendendo a respiração por vários minutos as sereias caçavam agarrando suas presas com seus longos tentáculos. O Rei Netuno em uma dessas caçadas viu os tubarões comendo cadáveres de marinheiros que sofreram um naufrágio em meio à tempestade e experimentou a carne de um desses náufragos, desse dia em diante sempre que tinha uma tempestade Netuno saia à noite a procura dos náufragos nas praias, se não encontrasse nenhum corpo na areia ele retornava para o mar, mas se estivesse chovendo forte ele entrava mata adentro em busca das suas presas chegando até a aldeia

Page 138: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

138

dos pigmeus matando e comendo todos que conseguisse pegar, por isso os nativos fizeram suas casas nas árvores longe do alcance do enorme tritão, mas não foi o suficiente para impedir os ataques, depois de tantos ataques a aldeia os pigmeus passaram a deixar uma pessoa viva amarrada na praia para que o tritão não precisasse entrar na floresta em busca de carne humana, já que sempre que tinha tempestade e com a ajuda dos ataques dos piratas, que freqüentemente afundavam os navios espalhando cadáveres pelo oceano, sempre haveria náufragos ou cadáveres na ilha para serem entregue ao deus Netuno. A ilha estava se tornando cada vez mais quente, as erupções mais freqüentes, a ilha estava se partindo em pedaços abrindo rachaduras, pequenos tremores abalavam a ilha todos os dias, um prenuncio do seu inevitável destino. Derik e Pedro em meio a fortes ventos saíram de perto do lago das sereias e voltaram para a aldeia, o grande Rei Netuno e Darkon se preparavam para uma batalha que determinaria quem seria o líder do grupo de sereias, a luta começou com ameaças e demonstrações de força expondo as garras e os enormes dentes, com os seus corpos enormes eles se empurravam sem usar as mãos tentando derrubar um ao outro da pedra, batendo o peito um no outro com os tentáculos eriçados aumentando de tamanho, como nenhum deles caiu da rocha e nem se intimidou a luta evoluiu com golpes com as garras afiadas causando ferimentos forçando-os a continuarem com o duelo dentro da água, a piscina de água cristalina ficou vermelha de sangue dos gladiadores, as ondas que batiam nas rochas entravam com violência na piscina agitando-a ainda mais, os gigantes se mordiam e se cortavam, a luta estava se tornando de vida ou morte, Netuno era mais velho e mais forte, experiente em batalhas, o seu adversário embora seja tão grande quanto ele ainda lhe faltava experiência e Darkon viu que não poderia vencer aquela luta então fugiu da batalha afastando-se tentando desviar-se dos potentes golpes das garras de Netuno com seus tentáculos eriçado como se tivessem vida própria desviando-se dos golpes das garras do Darkon e ao mesmo tempo tentando agarrar-

Page 139: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

139

lhe os braços e imobilizar o oponente, Darkon tinha perdido muitos dos seus tentáculos, seu rosto sangrava, Darkon já fazia sinais de submissão desistindo da luta, mas Netuno estava enfurecido e não queria parar, continuou com o ataque sua intenção era de matar seu rival, as sereias e o jovem tritão sabiam que essa luta seria travada naquele lugar por isso saíram rápido, fugiram pela caverna antes que acontecesse a batalha, agora Darkon só tinha uma saída, fugir para o mar para não ser despedaçado palas garras do poderoso Rei Netuno, ao sair da piscina tomou a direção do oceano, com um rastro de sangue deixado na água, Netuno perseguia de perto ainda tentando acabar com a vida de Darkon que desesperado para salvar sua própria vida saiu dos recifes e foi mais para dentro do mar. Uma tempestade que se aproximava açoitava as ondas criando o cenário para a luta que se desenrolava abaixo da superfície, as ondas reviravam o fundo do oceano espalhando o sangue que corria dos corpos dos gladiadores, Darkon estava cansado e muito ferido e viu um navio branco submerso entre as pedras, nadou o mais rápido que pode para dentro do navio entrando por um grande buraco em sua lateral, era o Perola do Rei, Netuno entrou pelo buraco atrás de Darkon que a se ver encurralado por não poder sair pela pequena porta do porão pegou uma caixa para se defender das garras de Netuno que a estraçalhou com apenas um golpe deixando cair o conteúdo da caixa, era o tridente de ouro, Darkon pegou o tridente para se defender, quando Netuno desferiu um golpe com as garras bateu o braço nas pontas do tridente rasgando-lhe a pele parando o ataque, Darkon viu o que o tridente fez e atacou o Rei Netuno desferindo golpes ferindo-o varias vezes com as pontas afiadas do tridente, agora era Netuno que estava encurralado sem poder dar as costas para Darkon apenas se defendia dos golpes sem poder se aproximar e revidar, então Netuno encontrou uma ancora presa a uma corrente, Netuno pegou a pesada ancora para se proteger dos golpes do tridente e lançou-a contra Darkon enrolando a corrente em sua calda prendendo-o, Netuno conseguiu sair do navio seguido pelo Darkon, com a corrente esticada Darkon não alcançava mais o seu oponente e Netuno ficou parado a uma certa distancia procurando uma chance de atacar, mas o sangue

Page 140: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

140

dos lutadores atraiu os tubarões, Netuno ao ver os tubarões se aproximarem fugiu deixando Darkon preso ao navio, a uma distancia segura ficou olhando Darkon lutar contra os tubarões com seu tridente, mas os tritões precisam respirar fora da água mesmo que possam prender a respiração por muitos minutos, e Darkon já estava ficando sem fôlego e muito cansado pela luta e pelo peso da ancora que o puxava para baixo, antes de morrer afogado ainda matou dois tubarões com o tridente, Netuno viu o que aquele objeto poderia fazer com os tubarões e viu quando Darkon morreu e foi estraçalhado, Netuno subiu a superfície para respirar, entrou em uma caverna voltando para a ilha quente para a proteção do ninho das sereias. À noite na aldeia, Derik olhava para o céu, com medo da tempestade que se aproximava os pigmeus já haviam se recolhido em suas cabanas nas árvores, na pequena gaiola os prisioneiros sofriam com as fraturas nas pernas implorando por socorro tentando convencer Derik a ajudá-los a fugir, Derik ignorando o aviso de não sair da caba na foi falar com Frank. _ Como está sua perna? –disse Derik. _ Não muito bem. _ Mas será que dá para andar? _ O que você tem em mente? –disse Frank. Então o senhor Pedro chegou e o chamou. _O que está acontecendo, o que estão falando? –disse Pedro. Derik não respondeu, levantou-se e voltou para a cabana acompanhado de perto pelo senhor Pedro que voltava da floresta com uma sacola cheia de folhas e ramos, e disse. _ Se eles pudessem me ajudar eu já os teria posto em liberdade, mas são inúteis com as pernas quebradas, assim eles só poderão nos atrasar. Nessa noite Derik teve um sonho com a guerreira negra, dessa vez ela estava nadando com as sereias segurando um homem morto com as mãos arrancando-lhe pedaços de carne com os dentes devorando deixando um rastro de sangue na água, seus olhos perderam o tom negro e ficou vermelho como o sangue do homem que ela devorava,

Page 141: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

141

pela primeira vez Derik teve medo da mulher, mas não deixou de amá-la, na verdade ele queria experimentar a carne do homem, no sonho ele nadava ao lado das sereias de pele clara algumas de pele avermelhadas e da sua amada de pele escura, o que lhe dava um destaque entre as outras, parecia que as sereias eram submissas a grande negra que não tinha calda de peixe, tinha duas pernas com pés espalmados, nadando pela imensidão dos mares, Derik acompanhava nadando como se fosse um tritão, como se fizesse parte daquele mundo mágico de criaturas lendárias e fascinantes, criaturas que causavam medo aos marinheiros e paixão aos que ouviam suas canções, um mundo em que Derik se sentia muito a vontade ao lado de sua amada, nos sonhos Derik se sentia forte, destemido, diferente de sua vida real que era fraco e covarde, por isso ele gostava dos sonhos e da companhia da mulher guerreira. No dia seguinte, pela manhã, Netuno retornou ao navio, curioso procurou pelo tridente, os restos da calda de Darkon estava preso na ancora, o tridente estava repousando nas areias no fundo do mar, Netuno voltou com o tridente às sereias estavam perto de uma entrada nas rochas que dava acesso ao seu ninho a espera do seu líder e foram caçar nas pedras próximos do abismo onde um monstro também caçava, uma lula gigante que se alimentava de peixes e de sereias, Netuno perseguia um pequeno tubarão quando ouviu os gritos de um dos seus filhotes, ele estava sendo atacado pela lula que o tinha agarrado pela calda, por mais que o filhote lutasse e gritasse a lula o prendia cada vez mais, enrolando seus tentáculos no corpo da jovem sereia, as outras sereias fugiram para a proteção dos túneis, Netuno estava na entrada do túnel e olhou para trás, viu a lula segurando a pequena sereia que se debatia tentando se livrar dos dentes do monstro que se alimentava da sua calda ainda viva, Netuno lembrou-se do que Darkon fez com os tubarões e em um ato de coragem subiu á superfície encheu os pulmões de ar e mergulhou em direção a lula, a lula estendeu seus tentáculos agarrando-o com força sem largar a jovem que já não se movia mais, Netuno cravou suas garras nos tentáculos da lula mordendo-a conseguindo apenas ferir um dos

Page 142: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

142

tentáculos, se sentindo mais confiante continuou a morder e a rasgar a lula que largou a primeira vitima se concentrando no grande tritão com todos os tentáculos levando-o até a sua boca, Netuno segurava com força o tridente, ao chegar perto do olho do monstro ele cravou com força o tridente no olho da fera que o largou imediatamente, livre dos tentáculos Netuno passou a atacar com golpes de tridente em todo corpo macio da lula que não podia mais se defender, cega a lula levantava seus tentáculos procurando seu agressor que furioso atacava com o tridente garras e dentes arrancando pedaços da lula, encurralada entre as rochas o monstro sucumbiu ao Rei Netuno, o tridente então se tornou símbolo do seu poder sobre as criaturas dos mares, emergindo saltando como um golfinho para fora da água empunhando o tridente dourado, com a metade do corpo fora da água ele gritava emitindo um som agudo se declarando senhor de todo oceano. No inicio da manhã, Derik e o senhor Pedro voltaram para as pedras da piscina das sereias para mais uma vez planejarem o que fazer com o dinheiro e a fama que terão na exposição das sereias ao publico pela Europa e Ásia, as nuvens voltaram a se formar no céu, no horizonte uma tempestade ameaça desabar sobre a ilha, Pedro falava sem parar sobre seus sonhos, Derik ouvia deixando se levar por suas historias chegando ás vezes a acreditar que poderia dar certo e que Pedro levaria sua irmã para a Inglaterra e, dividiria a fama de exploradores. Havia novas rachaduras na terra resultado de um tremor à noite, exalando fumaça negra e vapores super aquecidos, os tremores eram mais constantes e mais fortes, quando a fina neblina se dissipou sobre a água da piscina a primeira sereia entrou, logo atrás veio as outras com as mais jovens, cada uma ocupando seus lugares, Derik esperava que os enormes machos entrassem pelo buraco entre as pedras, mas eles não apareceram, mais um tremor sacudiu a ilha causando pânico ente as sereias que já estavam assustadas pelo ataque da lula e a luta dos tritões, o vulcão explodiu em demonstração do seu poder fazendo que as sereias voltassem para a proteção da água, desaparecendo pelo buraco.

Page 143: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

143

Atravessando o túnel submarino às sereias chegam ao seu ninho, uma gruta na ilha com acesso ao mar, o tremor da noite abriu um buraco no teto da gruta deixando entrar a luz do dia, o teto agora ameaçava desmoronar por completo com os terremotos que estavam cada vez mais potentes. Pedro sabia que seu tempo estava se esgotando, precisava por seu plano em pratica o mais rápido possível, saíram pela floresta à procura de plantas para prepararem um anestésico para as sereias, mas a ilha não tinha tantas espécies de plantas como no continente Africano e Pedro testou cada planta da ilha. _ Só precisamos de uma oportunidade de apanhar a sereia e seu filho sem sermos atacados pelo grandão. –disse Pedro. _ E como vamos fazê-la tomar o seu suco paralisante? –disse Derik. _ Com zarabatana, os dardos são mergulhados no suco de folhas, quando forem atingidas ficarão paralisadas por horas, tempo suficiente pra gente dar o fora dessa ilha com a sereia. _ E as mulheres? –disse Derik. _ Temos que pegá-las. - respondeu Pedro. _ E os pigmeus? _ Não haverá pigmeus. _ Como não haverá pigmeus? Pedro olhou para Derik e disse. _ Nesse dia eles estarão mortos, e mortos não dão trabalho. Derik ficou em silencio, Pedro mostrou ser mais louco que presumirá, a tempestade chegava mais perto, o céu estava coberto com nuvens negras confundindo-se com a espessa coluna de fumaça expelida pelo vulcão, as cinzas do vulcão caiam como chuva cobrindo toda ilha espalhando-se com o vento que soprava cada vez mais forte, já se passava da metade do dia quando os tambores começaram a tocar em ritímo frenético chamando a atenção do rapaz. _ Os pigmeus estão agitados, será que estão com medo do vulcão?-disse Derik.

Page 144: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

144

_ Olha, aquela tempestade vai passar sobre a ilha, e pode durar toda à noite, teremos um sacrifício hoje, é por isso que estão agitados, estão homenageando os deuses. -disse Pedro. CAPITULO X Suelem é oferecida em sacrifício ao deus Netuno Depois de colherem varias espécies de plantas retornaram para aldeia, embora ainda não fosse noite já estava escuro e o vento forte não dava trégua, ainda se podiam ouvir as batidas dos tambores, mas a aldeia estava vazia as batidas vinham da praia na direção do lago das sereias, Pedro disse. _ Já começou, levaram a oferenda pra praia logo terá acabado. Passando perto da gaiola Derik notou que os prisioneiros estavam todos presos, não faltava nenhum dos piratas, rapidamente olhou para a cabana das mulheres cativas e correu em sua direção, lutando contra o vento e com os olhos cheio de cinzas vulcânicas subiu pela escada de cipó, chegando à porta da cabana pode ver apenas duas mulheres, encolhidas no canto, Derik não conseguiu ver quem estava faltando, chamou por Suelem, mas um pigmeu que guardava as moças se lançou contra o rapaz derrubado-o, Derik se agarrou como pode no cipó antes de atingir o chão amortecendo a queda, desesperado correu em busca de ajuda, chamando pelo senhor Pedro na cabana. _Senhor Pedro, levaram a minha irmã, ela será sacrificada essa noite precisamos salvá-la agora. _ É melhor deixar como está garoto, não devemos arrumar confusão com os nativos, isso poderá arruinar o nosso plano. _ Como arruinar o nosso plano, ela faz parte do nosso plano devemos salvá-la agora. Derik saiu correndo pela floresta pela trilha que levava a praia, Pedro saiu atrás gritando.

Page 145: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

145

_ Espera ai rapaz, se você for lá eles vão ti prender e eu não poderei mais ti ajudar, eles vão ti servir no próximo sacrifício, volte aqui. O senhor Pedro estava velho e doente não conseguia alcançar o moço com todo aquele vento com cinzas no rosto e começou a chover, Derik saiu da trilha e se perdeu na floresta não sabia para onde ir, não enxergava nada, a chuva estava muito forte e o calor da ilha o desorientava, ele tentou se orientar pelas batidas dos tambores, mas se confundiam com o barulho da chuva nas árvores e os trovoes que tremiam a terra, o vulcão não parava de lançar cinzas que com a chuva estava virando lama, de repente os tambores se calaram e Derik parou de correr sem direção, o senhor Pedro parou de gritar só se podia ouvir os trovoes e a chuva que caia no vendaval que castigava a ilha, o barulho das ondas se tornaram mais nítidos, Derik se orientou por esse som e começou a andar em direção a praia fora da trilha tropeçando nas estacas pontiagudas espalhadas por toda floresta, então viu em um relance de luz de um relâmpago os pigmeus correndo de volta á aldeia, Derik se abaixou para não ser visto e continuou correndo até a praia, quando saiu da floresta pode ver as enormes ondas que invadiam a ilha, sem as sombras das arvores Derik viu uma mulher amarrada pelas mãos com uma corda curta a um tronco enterrado na areia na praia a uns trinta metros de distancia, deitada e inconsciente com os braços estendidos pela corda, ela ainda estava nua, sua pele branca se destacava na areia coberta de cinzas, uma condenada a espera do seu assassino, Derik correu até a moça, era Suelem. Perto dali nos rochedos as ondas batiam violentamente, logo a baixo da superfície tinha uma entrada de um túnel, uma das passagens das sereias que dava acesso ao mar, na gruta as sereias esperavam que a tempestade passasse lá elas estavam em segurança contra os seus predadores. Netuno estava impaciente, com seu tridente na mão ele grunhia e se agitava impulsionado pela tempestade, o desejo de comer carne humana aflorava em seu corpo, os tentáculos em sua cabeça se mexiam para todos os lados dando ao Netuno uma aparência pavorosa, as sereias se afastavam protegendo seus filhotes da

Page 146: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

146

ameaçadora arma que Netuno trazia na mão que ele agitava e brandia contra as sereias, subiu em uma pedra e de lá saltou na água se esgueirando pela passagem que dá ao mar. Na praia Derik se esforçava para soltar sua irmã, não percebeu quando Pedro chegou por trás e o empurrou impedindo que soltasse a mulher, Derik caiu na lama de areia com cinzas limpando os olhos com as mãos para ver o que o tinha derrubado, achando que fosse o tritão, mas em vez de limpar ele só conseguia sujar mais ainda os olhos, então Pedro gritou. _ Deixe-a aqui, você não vai destruir os meus planos, de novo não. Derik viu que era o senhor Pedro, então se levantou atirando-se contra ele derrubando-o no chão iniciando uma luta. Em meio às ondas emerge uma criatura saindo da água devagar, se arrastando como uma pesada morsa, os homens ainda rolavam na areia medindo forças, um clarão de um relâmpago iluminou a praia e Pedro viu a imensa criatura saindo da água com o tridente na mão e disse para Derik. _ Para, para, para, ele esta aqui. Derik viu apenas o vulto do monstro que se aproximava. _ Fique quieto, ele ainda não nos viu. –disse Pedro. A escuridão e o fato de estarem sujos de lama fizeram com que se camuflassem com a areia e cinzas, mas a pele branca da Suelem ficava fácil de ver e Netuno se aproximava lentamente da sua vitima, com os relâmpagos o tridente de ouro reluzia chamando a atenção de Pedro que largou Derik na areia e disse baixinho. _ O que é aquilo na mão do Netuno? Derik olhou e disse. _ O tridente de ouro do rei Eduardo. _ Tridente de ouro? _Estava no navio era para ser um presente do governador para o rei, mas eu achei que estivesse perdido para sempre com o naufrágio. _ Isso tem que ser meu. –disse Pedro. Rapidamente Pedro pensou em um plano para roubar o tridente, ele tinha que ser rápido, então gritou. _ Temos que tirar a moça daqui, rápido rapaz me ajude.

Page 147: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

147

Levantaram-se rapidamente e correram para soltar a mulher que ainda estava inconsciente, mas Netuno os viu e tomou posição de ataque com os tentáculos levantados garras e dentes a mostra, em terra Netuno se movia devagar por ser tão pesado, mas se apresou para o ataque, Derik tentava desamarrar Suelem Pedro se pôs à frente de Netuno, correndo de um lado para o outro tentando confundir o tritão na esperança que ele deixe o tridente cair, assim Pedro poderia pegar e correr para as árvores, mas Pedro tropeçou e caiu, Netuno foi mais rápido, com um golpe do tridente atingiu a costa do Pedro que permaneceu caído. Derik já tinha soltado sua irmã das amarras e a puxava pela areia fugindo para as árvores, Netuno ignorando o corpo de Pedro foi atrás de Derik e da Suelem, entrando na floresta Derik se escondeu atrás de um arbusto permanecendo em silencio, a tempestade não dava trégua, Netuno se aproximava rastejando lentamente, abaixado no meio do arbusto Derik pode ver a criatura de três metros de altura parado em sua frente, Suelem estava acordando, levantou a cabeça e viu seu irmão de costa para ela, então ela se sentou, nua e com frio tentou cobrir a nudez antes que seu irmão a olhasse, ela notou que Derik olhava fixo para alguma coisa atrás da vegetação, ela olhou entre o arbusto e viu o enorme monstro com o clarão de um relâmpago, instintivamente soltou um grito agudo que se destacou do barulho da tempestade dando um susto em Derik que a agarrou tentando fechar a boca da moça com as mãos, Netuno ouviu o grito e com um golpe do tridente varreu o arbusto que eles se escondiam atingindo o braço do rapaz, Suelem caiu e continuava a gritar, Derik estava com o braço ferido não podia reagir paralisou-se diante do Netuno, Suelem estava nas mãos do monstro. Netuno levantou o tridente na intenção de golpear Suelem, mas ao ver aquela mulher de pele branca de cabelos vermelhos assustada e gritando parou com o ataque, seu rosto mudou, seus tentáculos abaixaram, pôs o tridente no chão e a pegou nos braços pondo seu rosto perto do rosto dela sentindo seu cheiro tocando-a com os tentáculos analisando todo o seu corpo, Suelem já não gritava mais, seu corpo estava tremulo já não tinha forças para se defender se

Page 148: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

148

entregou ao cansaço e desmaiou, Derik assistia tudo caído no chão entre as folhas do arbusto apavorado achando que sua irmã seria devorada ali mesmo na sua frente, o Rei Netuno olhou para os lados viu o rapaz entre a vegetação, então pegou o tridente e lentamente voltou para o mar com Suelem em uma das mão. CAPITULO XI O ninho das sereias A tempestade estava aumentando, Derik estava sozinho sabendo que mais uma vez foi incapaz de salvar sua irmã, só lhe restou chorar. Netuno entrou no mar atravessando as ondas com a moça nos braços inconsciente, levando-a para a gruta das sereias, Netuno sabia que não poderia entrar com a mulher pelo túnel submerso então ele a levou por outro caminho, um caminho que as sereias não usavam que dava acesso ao ninho, era um longo túnel estreito com pedras afiadas acima do nível do mar, para um tritão do tamanho do Netuno seria muito difícil se arrastar por ali, mas não tinha outro caminho, Netuno chegou à entrada da caverna acima do nível do mar, a entrada era muito estreita e para entrar precisaria escalar uma parede de pedra íngreme e lisa, grande e desajeitado Netuno ainda tentou uma escalada, mas ficou ainda mais difícil com o tridente em uma mão e a mulher na outra, uma onda grande atingiu o tritão e o jogou para perto do estreito buraco, agora ele só tinha que se arrastar até a gruta, tateando com seus tentáculos pelas paredes da gruta escura Netuno se arrastou por vários metros. Chegando à gruta Netuno surgiu pelo buraco a cinco metros do chão com a mulher nos braços, ela estava tossindo consciente levantou a cabeça, estava muito escuro e não pode ver onde estava ou o que estava acontecendo, só se ouvia os grunhidos de varias criaturas que se aproximava cada vez mais, Netuno se lançou ao chão quase caindo sobre uma das sereias, Suelem soltou um grito, dentro da gruta Netuno se pôs o mais ereto possível levantando a moça com uma das mãos e a

Page 149: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

149

outra mão ele segurava sua inseparável arma de combate, seus tentáculos se eriçaram e ele deu um grunhido afastando todas as sereias, levando-a a um ponto mais alto da gruta a colocou no chão e se pôs ao seu lado, Suelem permaneceu deitada, assustada com os grunhidos das sereias que olhavam para ela com os olhos brilhantes na escuridão como olhos de felinos, todas com os tentáculos eriçados fazendo com que a moça passasse a noite acordada olhando para aqueles pontos de luz azuis que a observava como animais famintos encurralando uma presa. Ao amanhecer, Derik ainda estava no mesmo lugar, deitado com a cara na lama, então alguém o chutou de leve na costa, e disse. _ Levanta Derik, levanta. Era o senhor Pedro tentando despertar o rapaz. _ Aquele monstro matou minha irmã, eu prometi que cuidaria dela e agora ela está morta. _ A culpa não é sua, ninguém poderia salvá-la, nós tentamos, mas não conseguimos. Pedro se sentou ao lado de Derik, viu seu braço ferido e perguntou. _ Aquele tridente estava no seu navio, e onde o navio afundou? _ Em que isso poderia ajudar agora? _ Alem do tridente o que mais tem nesse navio? –insistiu Pedro. Derik pensou um pouco e disse. _ Caixas de barras de ouro, diamantes, rubis, esmeraldas e muita prata. Pedro sorriu entusiasmado com o grande tesouro no fundo do mar. _ Um tesouro digno de um rei, - disse Pedro. Derik percebeu o interesse de Pedro pelo tridente e pelo navio, a morte de sua irmã não significava nada para Pedro que voltava sua atenção para o tesouro do navio Perola do Rei, um novo plano começou a se formar na cabeça do ambicioso senhor Pedro. _ Eu pensei que o senhor estivesse morto, eu vi quando o monstro o golpeou com o tridente. –disse Derik. _ Aquela sardinha crescida não enxergava nada, golpeou a areia. Pedro ria da sorte que teve, embora estivesse ferido seu desejo pelo tesouro falou mais alto que a dor que sentia.

Page 150: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

150

Derik se levantou e foram para a aldeia, estava tudo calmo os nativos estavam levando a vida pacificamente, Derik foi em direção a casa onde estavam as moças, parou diante da árvore olhando para a cabana agora com apenas duas mulheres, um pigmeu com uma lança na mão aproximou-se de Derik falando algo em seu dialeto parecendo estar irritado com alguma coisa que Derik teria feito, logo vários pigmeus se aglomeraram ao seu redor, todos falavam ao mesmo tempo agitando suas lanças, Pedro tentava acalmar os nativos, mas o chefe parecia estar muito irritado com o senhor Pedro, a confusão durou por alguns minutos com empurrões e cutucões com as pontas das lanças chegando a sangrar, Derik já estava se apavorando então o chefe deu um grito e todos pararam de falar, se afastaram do rapaz e se aglomeraram em torno do senhor Pedro, logo deixaram os dois em paz e retornaram as suas vidas rotineiras Pedro chamou Derik e disse. _ Não vou mentir para você rapaz, eles querem ti prender com os piratas e quebrar as suas pernas pra você não fugir outra vez, eu disse pra você não sair à noite da cabana, aquele baixinho ali era o seu guarda e não gostou nada de você ter fugido. _ Mesmo que eu tente fugir pra onde eu iria? –disse Derik. _ Não se preocupe, eu já ajeitei as coisas, mas você vai ter que colaborar, nunca mais saia de perto de mim e faça tudo que eu mandar, eles ficarão de olho em nós dois. Passando pela gaiola o senhor Frank o chamou e disse. _ Sacrificaram uma das mulheres não foi? Eu vi quando a levaram, ela estava desmaiada e parecia ser um lanche delicioso pro monstro. _ Você sabe sobre o monstro? O senhor Pedro ti contou? -disse Derik. _ Eu já ouvi algumas historias sobre os monstros dessa ilha, mas eu nunca acreditei que fosse verdade, eu sei que somos os próximos do cardápio alem disso eu falo a língua deles. _ O que o senhor não sabe é que o monstro esteve no navio Perola, e pegou uma coisa que você queria o tridente de ouro. _ O tridente está na ilha, e o resto do tesouro, você os viu? –disse Frank.

Page 151: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

151

_ Não, mas eu e o senhor Pedro vamos encontrá-lo, mas antes matarei o demônio. Frank olhou para Derik e disse. _ Você falou para o velho sobre o tesouro no navio? _ O navio está perdido, só queremos o tridente e uma das criaturas. _ Escuta rapaz, o Perola não está perdido, eu sei como encontrá-lo, antes de deixarmos o navio eu marquei onde ele afundou talvez ele tenha se movido por alguns metros jogados pela tempestade, mas não é impossível achá-lo, pode até demorar um pouco, mas podemos achá-lo, mas pra isso preciso da sua ajuda, olha as minhas pernas não estão tão ruins assim, eles não as quebraram só estão machucadas, esses dois aqui talvez possam ajudar, mas precisamos de você. Pedro ouvia a conversa de dentro da cabana e saiu para falar com o senhor Frank _ Se o senhor tiver um trato para fazer com alguém então faça comigo. Impondo-se entre Derik e Frank Pedro ficou em pé esperando uma resposta. _ Está bem, talvez o velho seja a pessoa certa para se fazer negócios por aqui. –disse Frank. _ Isso mesmo, pode tratar comigo eu sou o homem certo. –disse Pedro. Os outros dois piratas que estavam presos riram vendo que havia uma chance de escaparem da prisão, Frank, com um sinal mandou que eles se calassem e fez o trato com Pedro. _ O trato é o seguinte você nos liberta e nós te levamos ao navio do tesouro, meio a meio. _ E se eu ti tirar daqui, como posso confiar em você? –disse Pedro. _ Terá que confiar em mim assim como eu terei que confiar em você. Pedro olhou para Derik e disse. _ Agora somos três. Os outros dois piratas com as pernas feridas olharam um para o outro com cara de assustados com o que o senhor Pedro disse e falaram ao senhor Frank.

Page 152: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

152

_ Três? Somos cinco. O senhor Frank respondeu baixinho _ Não, o senhor Pedro está certo, somos apenas três. Então os três piratas riram dentro da gaiola. Na gruta Suelem passou a noite vigiada por um grupo de sereias que não entendiam porque Netuno a trouxe para o ninho, ele nunca trouxe seu alimento pro ninho antes, sempre se alimentava no mar, a sereia de tentáculos vermelho ocupava uma posição de destaque no grupo repousava em uma pedra alta junto do Netuno todas as noites, mas nessa noite a pedra pertenceu a Suelem, as sereias estavam agitadas com a presença da mulher e não saíram como de costume, para caçar no mar. Netuno ficou ao lado da moça grunhindo afastando as sereias que se aproximavam, mas ele tinha que sair ainda não tinha se alimentado, antes se dirigiu á sereia ruiva que era a mais próxima, grunhindo e gesticulando ele se afastou atirando-se na água e desapareceu pelo túnel submerso, logo todas as sereias eriçaram seus tentáculos e foram para cima da moça que não dormiu a noite toda, apavorada deu um grito muito agudo, a sereia ruiva se pôs entre a moça e as sereias furiosas, isso causou agressividade entre elas simulando ataques com as garras e mostrando os dentes para a sereia vermelha, por fim se acalmaram e todas foram para a água deixando Suelem sozinha na gruta chorando inconformada com a sua sorte, Suelem tentava achar uma saída daquela gruta, ao se virar na pedra, onde foi deixada pelo Rei Netuno, escorregou até a areia que formava uma pequena praia dentro da gruta, se levantou e examinou o lugar agora iluminado por raios de sol que penetravam por frestas nas pedras do teto, afastando-se da água com medo que as criaturas voltassem, então correu para o outro lado da gruta procurando outra saída, mas se deteve a poucos metros ao se deparar com uma grande fenda que atravessava a gruta, a fenda estava cheia de lava fumegante e borbulhante aquecendo toda a gruta, ao seu redor vapores de água superaquecida espiravam por rachaduras enchendo a gruta com vapores quente forçando Suelem a voltar pra trás, viu o buraco por onde entrou e tentou escalar a parede

Page 153: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

153

de cinco metros, a rocha estava molhada e muito lisa, a jovem se sentou de novo na pedra encolhida esperando que alguém a Salvasse antes que as sereias voltassem. O ninho das sereias era um grande salão de mais de dez metros de altura era largo e comprido, com uma pequena praia com areias escuras banhada por um lago profundo que atravessava as rochas em um túnel submerso de sete metros de diâmetros e quarenta de extensão que dava acesso ao mar, dentro do ninho havia uma enorme pedra lisa e plana, para subir nessa pedra havia uma rampa, havia um buraco no teto de um metro de diâmetro, por onde entrava um pouco de luz resultado do ultimo tremor e ficava em cima da pedra onde Netuno fez seu trono e reinava com sua companheira a sereia vermelha, através desse buraco Suelem podia ouvir o mar e o som dos tambores dos nativos. Netuno e as sereias reuniram-se perto dos túneis na parede rochosa no fundo do mar, afastaram-se da ilha e saíram para mais uma caçada, subiram para a superfície saltando sobre as ondas em busca dos cardumes, ao avistarem os pássaros mergulhando na água saíram em disparada em sua direção saltando sobre a água como golfinhos, aproximando-se mergulharam dividindo-se em grupos de dois, cercando e capturando quantos peixes pudessem com suas garras e com seus tentáculos atacando o cardume em todas as direções impedindo-os que fugissem, as sereias jovens aprendiam as habilidades dos grandes acompanhando e observando as caçadas. Netuno ajudava a cercar os peixes forçando-os a subir a superfície assim eles poderiam caçar e respirar com facilidade, os pássaros mergulhavam ao lado das sereias pegando sua parte dos despojos logo chegaram os golfinhos aproveitando a fartura de alimento pelo tamanho do cardume, nesse momento não existia rivalidade entre os grandes caçadores todos se concentravam e se ajudavam em um único propósito, sereias pássaros e golfinhos e até alguns tubarões se convidaram para o banquete. Depois do frenesi da caçada as sereias estavam satisfeitas e voltaram para a piscina das sereias a fim de se aquecerem aproveitando o sol entre as nuvens escuras e fumaças do vulcão, as

Page 154: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

154

cinzas caiam em maior quantidade nessa manhã, Netuno não se juntou a elas na piscina, ele voltou para o ninho sozinho, Suelem estava sentada na pedra encolhida quando Netuno surgiu nadando pela entrada submersa, saindo da água foi em direção a mulher que diante da criatura de três metros se contorcia de medo, Netuno trazia peixes presos em seus tentáculos deixando-os cair no chão aos pés da Suelem que enojada se afastou, Netuno pegou um dos peixes e comeu incentivando-a a comer. Na piscina as sereias estavam nas pedras se aquecendo no vapor quente que saia das pedras, mas a sereia vermelha estava inquieta, Netuno não apareceu discretamente ela mergulhou e saiu pelo túnel voltando para o ninho. A sereia vermelha entrou na gruta e encontrou Netuno parado perto da Suelem, que ainda estava deitada no chão tentando se proteger do tritão, a sereia se aproximou e ficou olhando aquela moça amedrontada, com estalidos as criaturas pareciam se comunicar, e ambos retornaram para a água deixando Suelem novamente sozinha com os peixes jogados aos seus pés. Netuno levou a sereia para o mar, nadando nas profundezas foram em direção ao navio Perola, entraram no navio vasculhando o seu interior, a sereia por ser menor que o tritão pode entrar na cabine que o conde usava com a condessa, havia um grande quadro da rainha e o rei, a rainha usava um longo vestido branco e muitas jóias nos braços e pescoço e uma tiara, a sereia encontrou um enorme baú cheio de vestidos, e outro menor com muitas jóias, presente que o conde levaria para a rainha, arrastaram os baús para fora do navio e levaram para o ninho, ao entrar na gruta todas as sereias estavam lá, fugindo da tempestade que começou a cair na ilha, as sereias estavam na areia observando a mulher encolhida em um canto da gruta, Netuno entrou com o baú de roupas e a sereia com o baú de jóias, Suelem reconheceu o baú onde ela guardava suas roupas, se levantou apreensiva foi até o baú, Netuno e a sereia se afastaram, Suelem abriu o baú e pegou um vestido vestindo-se rapidamente, então enfiou a mão dentro do baú e tirou do fundo um punhal que ela escondia, pegou um dos peixes que estava no chão lavando-o, com o punhal ela limpou o peixe e comeu

Page 155: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

155

fatiado, ainda comendo não tirava os olhos das sereias e de Netuno, foi até o outro baú, abriu e tirou uma tiara de ouro cravejada com muitos diamantes, se aproximou da sereia vermelha e levantou os braços para por a tiara na cabeça da sereia que se esquivou e levantou os tentáculos se protegendo, Suelem pôs a tiara em sua própria cabeça mostrando o que queria fazer, todos na gruta estavam ansiosos para ver o que aconteceria, então a sereia se abaixou, baixou os tentáculos e permitiu ser coroada, as sereias passaram a dar fortes estalidos se aproximando da sereia vermelha como se estivessem adorando uma verdadeira rainha, até Netuno a adorava, então a sereia se abaixou, com os tentáculos tirou a tiara de sua cabeça e a colocou na cabeça de Suelem Netuno subiu na pedra e deitou-se, a sereia vermelha deitou-se ao seu lado e as outras serias recolheram-se em um canto na areia afastadas dos jovens que deitaram mais próximos da água, Suelem ficou em pé no meio da pequena praia, a sereia vermelha, através de gestos, chamou a moça para se deitar ao seu lado com Netuno, Suelem deitou-se perto da cabeça da sereia que com seus tentáculos gelados acariciava o rosto da mulher, pela primeira vez desde que chegou na ilha Suelem se sentiu protegida e pode dormir. A tempestade açoitava a ilha com furiosos ventos, a chuva irritava ainda mais o furioso vulcão, que insistia em chacoalhar a ilha, o momento parecia ser propicio para a execução dos planos do senhor Pedro, em matar os nativos soltar os prisioneiros capturar a sereia com seu filhote e resgatar o tesouro no navio afundado, tudo era muito simples para o senhor Pedro. Pedro e Derik se preparavam para por em pratica os planos, Pedro saiu camuflado pela tempestade, foi até o deposito de água onde todos bebem e despejou um dos seus líquidos venenosos tirado de cascas de uma árvore e voltou para sua cabana esperando que a chuva passasse. Na gaiola o senhor Frank arquitetava seu próprio plano. _ Como está suas pernas? – perguntou Frank aos piratas. Um dos piratas que estava melhor respondeu. _ Dá pra andar.

Page 156: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

156

_ Ótimo, vou precisar de toda ajuda que poder, aquele idiota pensa que vai ficar com o meu tesouro, quando ele nos tirar daqui temos que correr pra floresta, pegamos as armas que escondemos pegamos o bote e saímos da ilha, vamos ter que remar um pouco mas é melhor que ficar aqui esperando a morte, depois que nos resgatarem a gente volta e resgata o tesouro, até lá ele ficará escondido no perola. Mas os planos de Pedro também não incluíam os piratas. _ Quando o senhor Frank nos levar até o navio e pegarmos o tesouro temos que nos livrar deles, antes que eles se livrem de nós. – disse Pedro. Derik não confiava em nenhum deles, sabia que qualquer um poderia matá-lo assim que colocassem as mãos nesse tesouro. _ Eu só quero matar o monstro. – disse Derik. _ Quando os homens saírem para pescar beberá a água envenenada, as mulheres ficarão sozinhas na aldeia, elas morreram em pouco tempo, os homens levaram mais tempo para morrerem, então subiremos na cabana do chefe e pegaremos todas as espadas que ele guarda, soltaremos os piratas e com a ajuda deles mataremos os que ainda estiverem vivos, emboscaremos os outros pigmeus na floresta e mataremos todos, então pegaremos os botes que estão guardados seqüestramos a sereia e o tesouro, e você poderá matar o Netuno. – disse Pedro. Naquela tarde ainda chovia muito, Derik ouviu os gritos de uma das mulheres, foi até a porta para ver o que estava acontecendo, os pigmeus tiravam da cabana uma das prisioneiras nua gritando e lutando contra vários homens, Derik apenas assistia quando o chefe bateu na cabeça da moça com um pedaço de madeira atordoando-a, desacordada foi arrastada pela floresta adentro ao som de tambores, o senhor Pedro disse. _ Não vai se meter de novo. Derik não respondeu apenas se virou e voltou para dentro da cabana e deitou-se. Na floresta os pigmeus carregavam à jovem, era Cristina, menina de apenas treze anos, loira de cabelos na cor de ouro com o nariz sangrando pelo golpe na cabeça, fraca por não se alimentar direito por

Page 157: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

157

vários dias, seu coração batia mais forte que os tambores, sua morte estava próxima, ela sabia que seria sacrificada assim como sua senhora. Chegando a praia as ondas variam a areia, os nativos não conseguiram prender Cristina ao tronco de palmeira no meio da praia, as ondas estavam muito fortes arrastando os homens pequenos, mas eles insistiam em amarrar a moça que agora se debatia e gritava como um animal ferido. Os gritos da Cristina ecoavam pelo ninho das sereias, misturado com o barulho da tempestade e os tambores, Suelem distinguiu o grito de pedido de socorro, ela se levantou em meio à escuridão, viu a silhueta do Netuno entrando na água clareado por fleches dos relâmpagos. A gruta ficava a poucos metros do local do sacrifício, em uma formação rochosa entre as árvores, os pigmeus evitavam passar por ali, as erupções de vapores causticantes e as inúmeras crateras e poços de lama fumegante afastava todos que se aproximasse, temiam serem atraídos pela canção das sereias, nem mesmo o senhor Pedro gostava de passar por lá. Enquanto os pigmeus lutavam para prender Cristina, que lutava pela vida, Netuno surgiu nas ondas e se aproximava sem ser visto, então um dos pequenos notou a presença do monstro que já estava perto, camuflado pela escuridão e as enormes ondas, o pigmeu soltou um grito de desespero, logo toda aquela confusão com a moça teve fim e deu inicio a correria, cada um correu para um lado, uns foram levados pelas ondas, outros foram para a mata, Cristina não gritou, o susto foi tão grande que ficou muda, Netuno, confuso com a correria dos pigmeus não notou a menina caída a poucos metros, ela se aproveito do momento de distração do gigante e se arrastou devagar para a floresta se cobrindo de folhas de palmeiras que a tempestade arrancou das arvores, ficando imóvel, Netuno procurou por alguma possível vitima, mas os tremores da ilha o fez retornar para a gruta. Os pigmeus em correria retornaram para a aldeia assustados subindo em suas cabanas, Pedro estava na porta da sua cabana viu os pigmeus entrando na aldeia como se estivessem sendo caçados por

Page 158: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

158

leões, Pedro esperou para ver quem os perseguia, mas não apareceu ninguém. _ O que será que aconteceu com esses malucos? Minutos depois entrou pelo mesmo caminho uma jovem e pequena mulher, de pele branca correndo mais rápido que os pigmeus procurando a árvore em que estava, ao identificar a árvore se apressou em subir pelo cipó, entrando na cabana foi se abraçar com sua irmã. Pedro falou sozinho. _ Mas o que é isso? O que está acontecendo? Essa floresta não é mais a mesma. No dia seguinte não chovia mais, embora o céu continuasse fechado de nuvens e fumaça, o vento se acalmou, mas o vulcão continuava muito instável e temperamental, ameaçando explodir com a ilha a qualquer momento, os nativos pareciam que não o levava a sério acostumados com os resmungos desse gigante mal humorado, mas os piratas Derik e Pedro sabiam que era hora de sair daquela ilha, mas não sem seus tesouros. Suelem acordou, na gruta, e se deparou com uma surpresa que Netuno e as sereias prepararam para ela, logo de manhã elas saíram para o mar em busca não de comida, mas de algo especial, vasculharam o mar em busca de navios naufragados, e recolheram seus tesouros, dezenas de baús, grandes e pequenos, todos cheios de pedras preciosas, ouro e prata objetos de metal reluzentes, castiçais, taças, moedas, tudo de ouro tudo esparramado pelo chão da gruta, diamantes refletindo a luz do dia que entrava na gruta, formando pequenos arcos íris, ajudando a iluminar o ninho, Suelem sonolenta apesar de ter dormido muito bem toda a noite, se levantou e caminhou entre os baús, abrindo alguns deles, colares de perolas negras e brancas, correntes de ouro, anéis de diamante e de todas as pedras preciosas que existem, então uma pequena sereia se aproximou e estendeu um dos seus tentáculos e deixou cair um peixe aos pés da moça que com um sorriso sem graça olhou o peixe que se debatia no chão, logo todas as sereias se aproximaram, todas elas lançaram peixes vivos para Suelem se alimentar, Netuno foi o ultimo, mas foi o que trouxe mais peixes, o chão da gruta ficou repleto de peixes se

Page 159: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

159

debatendo lutando para voltar pra água em meio ao tesouro oferecido pelos seus novos amigos. Nesse dia as sereias não voltaram para o mar, ficaram na gruta se limpando e se acariciando umas as outras, formando um grupo só de fêmeas, os pequenos se agruparam dentro da água onde podia brincar, o macho jovem se afastou de todos, ficou sozinho sem seu amigo Darkon que foi morto pelos tubarões, Netuno voltou pra água, com ímpeto se lançou contra os filhotes que brincavam despreocupados causando pânico momentâneo entre eles, Netuno mais uma vez mostrou seu poder e força entre o grupo, ninguém ousaria desafiar seu poder com o tridente de ouro em punho, Netuno agora era invencível e demonstrou isso ao derrotar o mostro que apavorava a colônia de sereias e o seu rival Darkon o único macho capaz de desafiar seu reinado. As sereias trouxeram Suelem para o meio do grupo de fêmeas acariciando os cabelos finos vermelhos da jovem, logo Suelem fazia parte do bando, mas ainda era uma prisioneira naquela gruta quente e instável, a terra continuava a tremer causando pequenos deslizamentos de pedras nas paredes da gruta alargando o buraco no teto. CAPITULO XII A fuga da ilha Derik acordou com os gritos dos homens, os guerreiros se reuniram no centro da aldeia para discutirem o que fazer com a moça que voltou para a aldeia na noite anterior, ela deveria ter ficado na praia e ser devorada como a outra, mas ao retornar ela trouxe consigo a fúria de Netuno, e por isso o vulcão estava furioso, alguns dos homens queriam que Cristina fosse executada e seu corpo fosse jogado no lago das sereias para ser consumido por todas as criaturas, assim o deus Netuno se acalmaria e com ele o vulcão, outros homens e o chefe queriam que a moça fosse amarrada na praia nessa noite e deixar que Netuno a matasse, já que ele não atacaria a aldeia durante o dia.

Page 160: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

160

Derik não sabia o que estava acontecendo, então Pedro se aproximou e disse. _ A menina conseguiu escapar, mas a idiota voltou pra aldeia, ela quer mesmo morrer. _ Do que você está falando? –disse Derik. _ A menina não morreu e voltou sozinha à noite. Derik sorriu aliviado, se sentindo menos culpado. _ Mas de hoje ela não passa, eles vão matá-la. –disse Pedro. Derik pensou. _ Não se eu puder impedir. No centro da aldeia os homens pareciam ter chegado a um acordo, eles se levantaram e foram para a floresta, dividindo-se em grupos de cinco homens desapareceram entre as arvores. Pedro coçou a cabeça, os homens beberam da água envenenada, logo o veneno faria efeito, o senhor Frank estava tremendo de frio, nu deitado no chão da gaiola com seus comparsas esperando para serem libertados por Pedro. _ Hei, acordem. –disse Frank. _ Estamos acordados. –resmungaram os piratas. _ Como está a sua perna? –disse Frank. _ Dói, mas eu acho que dá pra andar. _ Andar não, vamos ter que correr. –disse Frank. _ Posso tentar. _ Eu não sei qual é o plano do velho, mas quando ele nos soltar teremos que correr, e correr muito. –disse Frank aos piratas. _ Pra escaparmos daqui só tem um jeito, matando todos os nativos, - disse um dos piratas-, não adianta sairmos daqui e ser perseguidos e mortos. _ Eu prefiro morrer lutando que ficar aqui e morrer feito um porco. –respondeu o outro pirata que estava menos ferido. Na cabana ao lado Pedro e Derik observavam as mulheres e os poucos homens que ficaram na aldeia, tudo parecia estar bem, ninguém parecia estar passando mal, Derik perguntou ao senhor Pedro. _ Tem certeza que isso vai matá-los?

Page 161: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

161

_ Se o veneno não matá-los isso vai. –Pedro pegou um facão que ele escondia enterrado no chão da sua cabana. Quando Pedro saiu da cabana com o facão na mão ouviu um estrondo parecendo ser um trovão, era o vulcão que entrará em erupção despejando magma encostas abaixo, com a explosão pedras foram lançadas para o alto e uma chuva de cinzas cobriu o céu sobre a ilha caindo como neve, uma neve escura quente o suficiente para queimar a pele, fina e sufocante, o chão tremia mais que de costume, as mulheres nativas pegaram seus filhos e correram para a floresta em direção a praia, Pedro ficou confuso então Frank e os piratas viram a oportunidade de fugir, e gritaram. _ Tire-nos daqui, tire-nos daqui. Frank se pôs em pé, apesar da forte dor nas pernas, os dois piratas tentaram fazer o mesmo, mas só um conseguiu, o outro caiu gritando de dor com sua perna fraturada. Pedro olhou para os piratas que já estavam destruindo a gaiola com as próprias mãos, a terra se abriu aos seus pés, formando pequenas fendas pela aldeia, Pedro correu para salvar os piratas, ajudando-os a destruir a gaiola gritando. _ Afaste-se. Golpeou a gaiola feita de madeira amarrada com cipós, Derik correu para a árvore onde estavam às meninas subiu até a porta da cabana, mas não teve tempo de falar nada, assim que pôs a cabeça para dentro da cabana recebeu um chute na cabeça, derrubando-o. _ De novo? – praguejou Derik. Deitado no chão olhou para cima e viu uma das mulheres com um pedaço de madeira na mão olhando para baixo com cara de quem fez besteira, então viu Pedro subindo pela árvore, mas entrou na cabana do chefe que estava vazia, ele queria as armas que o chefe guardava em sua cabana, Pedro jogou as armas pela porta, facas espadas e pistolas, Frank e um dos piratas que conseguiu se por em pé recolheram as armas ainda nus, Derik se levantou e foi pegar uma espada, mas se viu com a ponta de uma espada na sua garganta, o pirata empunhava a espada, Frank pôs a mão no braço do seu lacaio,

Page 162: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

162

abaixando a espada, Derik olhou para Frank, tremendo de medo e de dor pela queda e a pancada na cabeça. _ Força do habito. –disse Frank ao Derik. Pedro desceu da árvore com duas espadas, uma na mão e a outra na cintura. _ Vamos rapaz, - disse Pedro ao Derik -, pegue uma espada. Derik pegou uma espada e um punhal olhando para o pirata que o ameaçou, o pirata retribuiu o olhar ferozmente, esse era um verdadeiro assassino, saíram correndo pela floresta em busca dos pigmeus, começaria o massacre, seus planos eram simples atacar os pigmeus que estavam em pequenos grupos pegando-os de surpresa, antes de saírem da aldeia Derik olhou para a cabana das prisioneiras, elas estavam na porta com medo de descer assustadas de mais para tentarem fugir, Derik deu a costa para as moças e seguiu os homens. Pedro os levou a uma trilha que levava a uma praia do lado sul da ilha, uma trilha que Derik ainda não conhecia do lado oposto ao ninho das sereias, chegando à praia se esconderam nas árvores, todos os nativos estavam agrupados em torno dos botes que chegaram à ilha com os náufragos, o senhor Pedro ficou surpreso e falou. _ É por isso que eles guardavam os botes, eu pensei que fosse para usarem pra pesca, mas eles nunca tinham usado antes. _ Melhor assim, - respondeu Frank -, eles guardaram os botes pra nós. Derik deu um passo para trás e falou. _ E agora o que vamos fazer? Eles são muitos não podemos atacar todos de uma só vez. _ Não vou ficar aqui esperando que eles fujam com os botes. –disse o pirata. _ Está bem, vamos atacá-los. –disse Pedro. _ Espere, precisamos de um plano, ou nos mataram antes que possamos matar um deles. –disse Frank. _ Você tem algum plano? – perguntou Pedro. _ Tenho, vamos nos dividir, um para cada lado, quando atacarmos os pigmeus terão que se dividir, serão menos homens para cada um de nós.

Page 163: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

163

Todos olharam para o senhor Frank, mas sem alternativa puseram o plano em andamento, Derik foi para um lado sozinho se escondeu entre as árvores esperando o medo passar, então começaram os gritos, Derik saiu do seu esconderijo e correu para a praia com a espada na mão sem saber o que realmente aconteceria, viu o pirata decepar a cabeça de uma criança pigméia com um único golpe de espada, o sangue corria pela areia com o sangue de sua mãe caída ao seu lado, os guerreiros lutavam desesperadamente tentando salvar suas crianças e mulheres, quando começou o ataque mais da metade dos pigmeus já havia deixado a praia com os botes, só restando dois botes com crianças e mulheres e seis homens, que estavam entrando na água, os atacantes puxaram os botes de volta para a praia matando seus ocupantes, Derik ficou paralisado no meio da praia assistindo o massacre, o mar estava revolto, o vulcão enfurecido vomitava fogo queimando tudo ao seu redor como fizera outras inúmeras vezes no passado, assustado Derik correu pela praia sem olhar para trás, correu em meio as cinzas que cobriam toda ilha entrou na floresta se escondeu, a ilha tremia com violência, o vulcão expelia magma incandescente incendiando a ilha sob uma chuva de pedras, Derik se segurava nas árvores tentando se manter em pé. Na gruta as sereias estavam agitadas, as pedras caiam do teto com o tremor, o magma estava invadindo a gruta, o calor e a fumaça estava se tornando insuportáveis as sereias e o Rei Netuno se preparavam para abandonar o ninho, Suelem estava apavorada vendo as sereias fugirem pela água, Netuno ficou com Suelem tentando retirá-la da gruta chamando-a para sair pela passagem por onde entraram, um deslizamento fechou parte da passagem, Netuno era grande e desajeitado para andar sobre as pedras soltas e alcançar o túnel de fuga, o desmoronamento pôs parte do teto a baixo, uma rocha gigantesca se soltou separando Netuno da Suelem, deixando-a sozinha no inferno que a gruta estava se transformando, Netuno ficou no lado da água com acesso ao túnel submerso, Suelem ficou do outro lado da rocha onde havia um lago de fogo que aumentava rapidamente ameaçando inundar a gruta, a moça tentou escalar a enorme pedra e fugir, se ficasse ali morreria queimada, do outro lado Netuno batia na

Page 164: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

164

rocha com seu tridente tentando removê-la e salvar a condessa do seu destino cruel, Suelem já estava quase sobre a rocha quando ouviu uma voz chamando pelo seu nome. _ Suelem, - gritou Derik do alto da gruta pelo buraco do deslizamento -, Suelem, você esta viva. Suelem olhou para cima e viu seu irmão gesticulando chamando sua atenção, ela gritou. _ Derik, Derik, - ela estava vibrando de alegria com a possibilidade de sair da gruta com seu irmão. _ Eu vou tirar você desse buraco. –disse Derik. Netuno viu Derik descendo pela pedra íngreme para salvar sua protegida, tomado por um ataque de fúria Netuno começou a grunhir e a lançar pedras na direção do rapaz, brandindo seu tridente, Derik ainda não tinha notado a presença do tritão seu inimigo, mas ao descer mais um pouco pela parede nas pedras soltas Derik viu o grande monstro furioso tentando chegar até a sua irmã. Derik achou que Netuno queria atacar Suelem e desceu mais rápido para chegar antes do tritão, Suelem desesperada via a lava chegando aos seus pés, o calor estava insuportável, Derik já estava perto e Netuno se desesperava do outro lado das rochas, então outro tremor sacudiu a gruta abrindo ainda mais o teto, Derik caiu com as pedras do lado que estava sua irmã, mas a parede que ele desceu agora ficou mais íngreme impossibilitando qualquer escalada, as pedras que separavam Suelem de Netuno se moveram ficando na altura da cabeça do tritão que olhava para Derik, ele não queria que Derik se aproximasse da moça, por isso grunhia e arrastava as pedras tentando alcançar o rapaz, Netuno se lembrou da ultima vez que viu Derik, quando o rapaz tentou tirar a moça das suas mãos na praia, isso ele não deixaria acontecer de novo. Suelem abraçou Derik que estava caído entre as pedras, ele se levantou assustado com a lava que se aproximava de um lado e o tritão furioso do outro, sua única saída era para cima. _ Eu pensei que você estivesse morta, mas como você escapou como você veio parar aqui. –disse Derik.

Page 165: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

165

_ Eu ainda não morri, mas se não sairmos daqui agora logo nós dois estaremos mortos. –disse Suelem. _ Como podemos sair daqui? – perguntou Derik. _ Tem uma passagem atrás das pedras, podemos chegar lá antes do monstro, ele é muito grande não pode passar pelo buraco, mas nós podemos. Os dois subiram pelas pedras fugindo do Netuno, seu corpo pesado dificultava seus movimentos nas pedras soltas e estava ferido pelas pedras que caíram em seu corpo. Chegando à entrada da passagem Derik levantou Suelem e a colocou no túnel, Netuno se aproximava tentando alcançar o rapaz com as pontas do tridente, Derik entrou no túnel olhou para trás e viu do outro lado da parede de pedras coberta de rochas do deslizamento vários baús, Derik se deteve por alguns segundos tentando focalizar o conteúdo dos baús. _ Derik, venha logo, o túnel vai desabar. –gritou Suelem. _ Já estou indo. - respondeu Derik relutante. Netuno se lançou na água, ele sabia onde os dois sairiam. Caminharam por quarenta metros dentro da caverna que ameaçava desabar sobre os dois, correndo para salvar suas vidas, do outro lado se podia ver a claridade do dia e as ondas batendo nas pedras. _ Mais rápido, - gritou Derik para sua irmã-, estamos quase chegando. Suelem se movia o mais rápido possível, com as pedras caindo em sua cabeça que já estava ferida e sangrando, ao chegar à saída da caverna Derik olhou para fora, calculou a altura a força das ondas e disse. _ Vamos pular. Antes que se lançasse no mar Netuno surgiu saltando entre a espuma das ondas se projetando para fora da água quase agarrando Derik pelo braço, com o susto Derik perdeu o equilíbrio e caiu nos braços da sua irmã, Suelem o segurou e o arrastou para longe do alcance do Netuno que escalou as pedras olhando para dentro da caverna, mas os tremores o impediam de se equilibrar nas pedras que rolavam pra dentro da água.

Page 166: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

166

_ Monstro, - gritou Derik-, Suelem eu vou retornar e ver se encontro outra saída. A caverna era grande o bastante para que os dois andassem em pé em seu interior, Netuno estendida às mãos para dentro da caverna implorando que Suelem saísse do túnel que desmoronava, a moça sentiu vontade de correr ao encontro do tritão, ele já demonstrou que não faria mal a ela queria salvá-la, do outro lado estava seu irmão, correndo procurando um meio de salvar a si mesmo e sua irmã, ela sabia que deveria ter ido com Derik. Derik chegou à gruta, uma boa parte estava coberta por pedras e cinzas a lava escorria por uma fenda levando consigo tudo que estava em sua frente, na pequena praia de areia negra estavam os baús abertos os tesouros estavam cobertos de cinzas, Derik antes de procurar uma saída se deteve diante dos baús, ele tinha que descer até lá, era preciso ver o seu conteúdo, nem mesmo o forte abalo que derrubou a outra metade do teto o faria desistir de olhar, ele desceu e olhou de perto, era o que ele imaginava um tesouro de valor incalculável, pegou o que pode enchendo os bolsos com diamantes e pequenas jóias de ouro e outras pedras preciosas antes de sair pegou um cálice de ouro que estava no chão, correu para a parede da gruta escalando-a, o deslizamento enterrou parte da praia enchendo o lago com pedras fechando a entrada das sereias. Com o cálice de ouro nas mãos e sem o teto sobre sua cabeça Derik encontrou uma saída, um tronco de palmeira seca que desabou para dentro do buraco formando uma escada para a liberdade, mas o túnel também estava bloqueado com as pedras, Derik tentou remover as pedras, mas parecia ser inútil, era muitas pedras e quando tiravam outras deslizavam em seu lugar, a atenção do rapaz não estava em sair e salvar sua irmã, mas sim nos baús a poucos metros, as pedras que cobriam os baús pareciam mais fáceis de remover do que as que fechavam o túnel, por alguns minutos Derik parou de tentar se salvar e se pegou andando em direção aos baús. _ Não, primeiro eu tenho que salvar Suelem, meu Deus ela ainda está com o monstro. –disse Derik.

Page 167: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

167

Subiu pelo tronco, na superfície Derik se orientou e correu para um despenhadeiro onde estava a saída do túnel, olhou para baixo e viu Netuno com a metade do seu enorme corpo dentro do túnel, os tremores pararam, o vulcão derramava lava pelas fendas em sua cratera, o céu estava mais escuro que antes quase não se podia ver nada entre as cinzas que formavam um manto escuro, Derik gritou para chamar a atenção de Netuno, mas foi em vão, atirou pedras em sua calda, mas Netuno estava decidido em pegar Suelem, Derik se desesperou, mais uma vez ele se sentiu inútil ao tentar salvar sua irmã, Netuno já estava com o corpo todo dentro da caverna. _ Meu Deus o que eu faço agora. –disse Derik. Derik teria que descer cinco metros pelo precipício e entrar atrás do monstro, pelo menos teria a chance de matar o tritão, só precisava de uma arma, mas onde encontrar uma arma, as suas ele deixou cair na gruta, voltar lá e pegá-las não daria tempo, certamente ao retornar o tritão já teria partido para o mar, a ilha continuava a se despedaçar, o pensamento de Derik em parte ainda estava no tesouro. No túnel Suelem se deparou com Netuno que se arrastava pela caverna na esperança de resgatá-la, Suelem chamou pelo seu irmão, mas não teve resposta, então a caverna começou a desmoronar com um novo e violento tremor, a moça se entregou aos braços do tritão, protegida sob o robusto corpo de Netuno saíram da caverna, Derik estava na beira do precipício quando viu Netuno cair na água com a barriga pra cima com Suelem nos braços, nadando contra corrente rompendo as ondas Netuno se afastou da ilha. Derik perderá, mais uma vez. Desanimado e praguejando pela sua inseparável falta de sorte Derik se lembrou que deveria sair da ilha, retornou correndo pra praia onde estavam os botes, talvez tivesse sobrado um e a matança tivesse acabado, ao chegar só havia corpos de pigmeus espalhados pela areia, à maioria eram mulheres e crianças, entre os pigmeus estavam Frank e o seu pirata com vários cortes de espada e flechas cravadas em seus corpos, Derik procurou pelo senhor Pedro, mas não o achou, ainda havia um bote na praia, correu pra se salvar, empurrou o bote pra água sem olhar para trás, antes de entrar no bote Derik viu um vulto branco

Page 168: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

168

correndo pela praia em sua direção em meio às cinzas e pedras que caiam como chuva embaçando sua visão, mas se deteve tentando focalizar o vulto que se aproximava cada vez mais era Suelem com seu enorme e pesado vestido branco molhado e sujo de lama. _ Derik espere. –gritou Suelem. _ Como você escapou do monstro? _ Depois falamos nisso, o que aconteceu aqui? Os pigmeus estão mortos. Derik tinha posto o bote na água e estava tentando passar pelas ondas, Suelem pulou para dentro do bote enquanto Derik empurrava para dentro do mar. _ Eles abandonaram a aldeia? – perguntou Suelem. _ A ilha vai explodir, todos fugiram antes que... _ E as meninas, elas também conseguiram sair? _ Eu acho que não... _ Elas estão na ilha? -gritou Suelem, Derik arrependeu-se de ter dito isso a sua irmã. _ Os pigmeus abandonaram a aldeia e deixou às mulheres na cabana, ninguém podia fazer nada, eu tentei salvá-las, mas estava tudo pegando fogo... Antes que Derik terminasse de falar Suelem se atirou na água, voltou pra praia correndo pra floresta. _ Suelem, Suelem. –gritou Derik. A jovem corajosa entrou na floresta, desviando-se das pedras fumegantes tentando respirar com a nuvem de cinzas, Derik no bote não sabia se corria atrás da moça ou se fugia de uma vez por todas, depois de alguns minutos se decidiu, remou para a praia e sem muita presa foi atrás da sua irmã, com medo de encontrar as meninas e que elas contassem a Suelem sobre sua covardia. Suelem chegou à aldeia, estava tudo em chamas, a cabana das moças também ardia em chamas, Suelem gritava chamando pelas meninas, no chão havia varias pequenos rios de lava que descia da montanha queimando a aldeia, Suelem correu por outra trilha que levava para outra parte da praia, chamando por Cristina e Laura, então ouviu um grito.

Page 169: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

169

_ Condessa, condessa. –era Cristina com sua irmã que estavam escondidas entre os arbustos, nuas no meio da fumaça. _ Cristina, Laura, vocês estão bem? As meninas começaram a chorar, abraçando Suelem. _ A senhora esta viva. – disse Laura. _ Eu trouxe vestidos pra vocês. –disse Suelem que tirou dois vestidos mais finos que usava por cima do seu vestido. As meninas se vestiram rapidamente. _ Vamos temos que correr meu irmão esta na praia nos esperando. As meninas acompanharam Suelem sem dizer nada, olhando uma para a outra, não acreditavam que aquele covarde que as abandonará antes estivesse esperando naquele inferno. Quando chegaram à praia procuraram pelo bote, mas era difícil ver alguma coisa com tantas cinzas caindo do céu. _ Derik, estamos aqui. - gritava Suelem, mas não teve resposta. _ Acho que ele foi me procurar. –disse Suelem correndo pela praia a beira da água com as meninas. Acharam o bote na areia, quase sendo levado pelas ondas. _ Fiquem aqui, eu vou procurar o meu irmão. –disse Suelem para as meninas. Mas não precisou ir muito longe, Derik surgiu correndo pela areia em direção ao bote, já tinha desistido de procurar pela moça e decidiu partir sozinho. _Graças a Deus você encontrou as meninas, agora temos que partir. – disse Derik a Suelem. Todos ajudaram a empurrar o bote de volta pra água, partindo da ilha, sem direção ou destino, afastando-se o mais que podiam até que as cinzas e as pedras não pudessem mais alcançá-los, a ilha ficou longe, agora podiam parar de remar, o mar estava calmo, as ondas estavam baixas, era hora de relaxar. _ Olha outro bote. –gritou Laura. Era um bote com um homem remando. _ Senhor Pedro. –gritou Derik.

Page 170: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

170

As mulheres ficaram paradas olhando com medo, a primeira vez que elas o viram foi com os pigmeus, e Pedro havia tentado molestá-las por varias vezes. _ Derik, você está vivo, onde diabos você se meteu, eu ti procurei na batalha, mas você tinha sumido, olha só você encontrou as meninas. Suelem se juntou com as meninas abraçando-as, Derik viu o medo que estavam sentindo ao ver o senhor Pedro que se aproximava cada vez mais. _ O que ouve na praia com o senhor Frank? – perguntou Derik. _ Aquele desgraçado, já tinha conseguido um bote, ai ele tentou me matar. –disse Pedro. Mas Derik sabia que as coisas poderiam não ser como o senhor Pedro contava, tinha algo de sinistro nos olhos daquele homem, talvez se tivesse ficado na praia e lutado o senhor Pedro teria matado ele também. _ Aquele tridente ainda está naquela ilha, junto das minhas sereias, e o tesouro ainda está em algum lugar nessas águas, só temos de saber onde procurar, amigo. –falou Pedro. As mulheres se encolheram ainda mais quando Pedro olhou pra elas e sorriu com um olhar malicioso, Pedro estava sem camisa com o corpo sujo de sangue e algumas feridas, magro com as costelas a mostra talvez por estar tão doente, a pele pálida como um papel, e as constantes tosses que não o deixava em paz. O medo das meninas pelo senhor Pedro começou quando Suelem, Cristina e Laura chegaram à praia no dia do naufrágio levadas pelas ondas, era noite quando o bote ficou preso na areia, as mulheres passaram a noite no bote chovia e elas estavam com os enormes vestidos encharcados, com frio Suelem chorava de tristeza por ter perdido seu irmão no mar ainda assim consolava as meninas que choravam de medo sozinhas naquela ilha, ao amanhecer se viram no meio de nativos que falavam uns com os outros em uma língua estranha, eles não tocaram nelas apenas falavam como que admirados por ver aquelas mulheres ali encolhidas dormindo, então surgiu o

Page 171: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

171

senhor Pedro, arregalando os olhos ao vê-las passando as mãos na longa barba e coçando os cabelos, então ele falou algo para os pigmeus que se calaram e pareciam ter ficado ainda mais perplexos com as moças, mas Pedro continuou a falar com eles, foi ai que um deles deu um grito e todos o acompanharam na gritaria, tiraram as moças do bote com violência e arrancaram-lhes as roupas deixando-as completamente nuas, Pedro segurou Cristina pelo braço e a arrastou tentando levá-la para um lugar longe das outras, mas um pigmeu correu atrás dele e a trouxe de volta, eles discutiram por um tempo, mas o pigmeu não a devolveu ao senhor Pedro, que furioso voltou até as moças tentando tocar em seus corpos, mas uma vez foram salvas pelo mesmo pigmeu que com uma lança expulsou o senhor Pedro para longe das mulheres, mas Pedro não desistiu, tentou novamente conversar com o pigmeu e convencê-lo a lhe conceder a jovem menina Laura, dessa vez ele chegou a tocar na menina, ela chorava com medo do homem pedia socorro para a condessa que nada podia fazer senão implorar para que o homem a deixasse em paz, então apareceu um pigmeu de cabelos brancos ele aparentava ser muito forte e respeitado pelos outros, quando ele chegou todos pararam com o que estavam fazendo abrindo caminho para ele passar, até Pedro se calou e saiu da frente do velho pigmeu, ele se aproximou das meninas e acariciou suas pele nua e branca, como se as estivesse examinando, se concentrou em Laura tocando em seus cabelos tão claro que pareciam branco, então parou diante da condessa, que tinha os cabelos mais vermelhos olhando para seu rosto ele sorriu e falou em seu dialeto alguma coisa que parecia ter alegrado a todos, pois todos riam e dançavam em volta das meninas, o senhor Pedro se afastou em silencio. Em seguida elas foram levadas para a aldeia, os pigmeus não tocaram nelas, apenas fizeram um cerco em torno das meninas e praticamente as empurrou para dentro da aldeia, quando chegaram todos vieram para ver o que os guerreiros trouxeram, o velho que acabara de salvá-las contou aos outros cantando como as encontraram, agradecendo aos deuses os presentes e isso deixou todos da aldeia muito felizes, as levaram para uma árvore grande no centro da aldeia,

Page 172: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

172

amarraram um cipó em torno de suas cinturas e as içaram até uma cabana pequena no alto da árvore, as moças não tiveram outra alternativa senão obedecer, pedindo pelas roupas chorando com medo sob o olhar malicioso do senhor Pedro que observava tudo de longe, então apareceu aos gritos outro pigmeu correndo com cara de assustado falando rápido e apontando para a floresta, logo vários guerreiros pegaram suas armas e correram por uma trilha na floresta seguindo o pequeno e impaciente guerreiro, assustadas elas se encolheram no fundo da cabana esperando pelo seu destino, Pedro ao ver que suas chances de ter uma das mulheres tinham sido reduzidas pegou uma lança que ele mesmo fez e foi atrás dos guerreiros para ver o que estava acontecendo, quando deu por si estava no meio de uma caçada humana, ouviu um tiro de pistola, e os gritos dos nativos furiosos atirando suas lanças e flechas em alguém, no meio do caminho tinha um pigmeu deitado com um buraco no peito sangrando muito, ao seu lado havia mais dois tentando reanimá-lo, mas era em vão, o jovem pigmeu estava morto com um tiro no peito, a caçada continuou mata adentro, o senhor Pedro não conseguia acompanhá-los na correria entre árvores e pedras chegando aos pés do vulcão, os fugitivos entraram em uma caverna brandindo suas espadas tentando intimidar os seus perseguidores, pequenos guerreiros que atacam em grupos, valentes e furiosos, de baixa estatura, mas com muita força. A caça eram cinco homens, o governador Frank e quatro dos seus piratas que conseguiram escapar do naufrágio, os pigmeus os encurralaram em uma caverna aos pés do vulcão, os piratas gritavam tentando parecerem ferozes diante do inimigo, mas de nada adiantou. Entre as pedras, em uma caverna sem saída os piratas se reuniram e planejaram o contra ataque, sob zumbidos de flechas e lanças que de vez em quando passavam sobre suas cabeças, ao lado do Frank um dos seus comparsas caiu no chão com a costa encharcada de sangue e uma flecha enterrada entre suas costelas, o homem não agüentou a perda de sangue e morreu, os outros piratas não se importaram com a perda do companheiro para eles isso era um fato normal em suas vidas, ver homens morrendo estava em seus cotidianos, mas agora tinham um homem a menos para lutar, armados apenas com espadas

Page 173: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

173

teriam que se aproximar para lutarem em um combate corpo a corpo, só assim poderiam fazer alguma coisa, mas como se aproximar sem ser atingido pelas flechas que parecia nunca acabar, então pararam de atirarem as flechas e começaram a gritar incomodando os piratas que não sabiam o que estava acontecendo, por um instante eles acharam que as flechas tivessem acabado, mas eles estavam enganados, de trás deles saíram vários pigmeus por um buraco camuflado por uma rocha, com os gritos dos pequenos que ecoavam na caverna distraindo os piratas os guerreiros se aproximaram sem serem notados, quando os piratas perceberam já estavam sendo golpeados por tacapes pesados e desarmados imediatamente sob a mira de lanças e flechas, não tiveram chance de reação, os pigmeus os amarraram e os levaram para a aldeia, junto com o jovem guerreiro morto em combate, os quatros piratas foram expostos no centro da aldeia onde foram chutados e furados pelas lanças, suas roupas foram arrancadas dos seus corpos feridos e sangrando. Os pigmeus trouxeram o cadáver do pirata que morreu na caverna, jogaram o corpo ao lado do senhor Frank e começaram a perfurá-lo com a sua própria espada, os guerreiros vinham correndo com suas lanças em punho gritando enterravam-na no corpo do homem já morto na presença dos prisioneiros que estavam amarrados deitados no chão com lanças encostadas em seus pescoços, o chefe dos pigmeus pegou uma velha espada que carregava consigo e decapitou o cadáver, embora os outros já tinham visto muita gente ser decapitado antes o senhor Dom, um dos piratas presos, se enfureceu e tentou atacar o pigmeu, não teve chance de dar um passo foi perfurado por varias lanças ao mesmo tempo, os nativos fizeram o mesmo com ele, correndo e enterrando mais lanças e flechas no seu corpo muito próximo dos presos que se comportaram com mais cautela, o senhor Dom ainda estava vivo enquanto era despedaçado, só morreu ao ter a cabeça decepada, o senhor Frank e os dois piratas foram espancados mais uma vez, bateram em suas pernas provocando fraturas para que não fugissem e os colocaram em uma precária gaiola de galhos de árvores amarrados com cipó, os botes dos piratas e das mulheres

Page 174: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

174

foram recolhidos para dentro da floresta, onde as ondas não alcançavam. Há séculos os pigmeus habitam essa ilha, e de tempo em tempo o vulcão entra em erupção espalhando lava cinzas e pedras, os nativos então tinham que abandonar sua aldeia esperando que o vulcão se acalmasse isso poderia durar dias ou semanas, eles mudavam para uma ilha vizinha a poucos quilômetros da ilha do vulcão. A ilha vizinha era chamada de ilha dos velhos, vazia sem nenhuma árvore ou qualquer planta verde, somente areia e pedras, seus únicos habitantes eram pássaros migratórios que faziam seus ninhos entre as pedras, quando estavam nessa ilha os pigmeus passavam o dia pescando como os pássaros, seus antepassados construíram jangadas para fugir dessas violentas erupções, mas o tempo passou e agora os pigmeus se aproveitam dos botes deixados pelos náufragos, os botes alem de serem mais fortes eram também maiores e não precisavam ser construídos, deixando mais tempo livre para os homens pescarem e cuidarem de suas famílias, a ilha do vulcão não era muito grande e os pigmeus adotaram uma maneira cruel de controle de natalidade para não encherem a ilha e evitar futuras brigas por espaço e comida, era preciso uma permissão do conselho da tribo para que as crianças pudessem nascer, as mulheres eram obrigadas a praticar o aborto nos primeiros meses de gravidez, se alguma criança da tribo morresse por qualquer motivo era dado permissão a duas mulheres a engravidar e ter seus filhos, se a criança que morreu fosse um menino a mulher que tiver um menino poderia criar seu filho para substituir o morto, se as duas tiverem meninos só um dos recém nascidos poderia viver, então escolhiam o mais forte o outro seria sacrificado mesmo sob o protesto da mãe, mas se nascesse duas meninas as duas seriam sacrificadas e outras duas mulheres teriam o direito de engravidar, se a criança morta fosse uma menina se faria o mesmo, só uma menina poderia substituí-la, só era permitido o nascimento quando alguém morresse ou estivesse preste a morrer, as mulheres escolhidas para engravidar era as mais fortes e saudáveis e os homens nem sempre eram seus companheiros, o conselho escolhia os guerreiros mais fortes de

Page 175: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

175

destaque na tribo, os velhos, com exceção do chefe e dos homens e mulheres do conselho, quando ficavam muito fracos e não podiam mais pescar e nem ajudar nas tarefas da tribo eram exilado da ilha do vulcão e deixados para morrer na ilhota vizinha, se esses velhos conseguissem sobreviver sozinhos por um ano na ilha deserta eles poderiam retornar à tribo, mas não lhe era deixado nenhuma provisão ou embarcação para o retorno, depois de meses os pigmeus voltavam para a ilha para ver o que aconteceu com os exilados, mas nunca houve um sobrevivente, todos estavam mortos, seus ossos ficavam espalhados pela areia fina e branca confundindo-se com a paisagem da ilha. _ Onde estão os pigmeus? –perguntou Derik. _ Devem ter fugido para a outra ilha. –respondeu Pedro sem tirar os olhos das moças. Derik percebeu que Pedro estava com segundas intenções olhando daquele jeito, mas ainda tinha muito medo do senhor Pedro. _ Esse barquinho está cheio e eu estou sozinho aqui, parece que vamos passar um bom tempo no mar esperando para voltar pra ilha, deixe uma das moças passar pra cá, assim dividimos o peso em dois barcos. –falou Pedro com a cara de um lobo olhando para uma ovelha. Derik já estava concordando quando olhou para sua irmã que o encarava com um olhar de desaprovação, o olhar que Suelem lançou sobre Derik o fez lembrar-se de quando moravam na pequena fazenda junto ao muro do palácio do rei Eduardo, Suelem dominava seu irmão, Derik fazia tudo que ela mandava, mas Suelem também o defendia contra os meninos mais velhos e mais fortes, ela sempre foi boa de briga, batia em todos os meninos, não importava o tamanho ou a idade deles, a menina era respeitada por todos, sempre vestida como homem, com os longos cabelos vermelhos e crespos amarrados escondidos em baixo do chapéu, ela já tinha tentado cortar os cabelos varias vezes porque ela achava muito difícil penteá-los e sofria quando era dia de ir a capela nos dias de sermão e sua mãe a pegava a força desembaraçava toda aquele emaranhado cor de fogo aos protestos da menina, mas sua mãe a fez prometer que nunca cortaria seu cabelo,

Page 176: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

176

sua mãe dizia que um dia a menina, que já tinha corpo de mulher escondido sob toda aquela roupa masculina teria um belo casamento com um bom homem rico e nunca mais teria que trabalhar feito homem no campo, mas para que isso aconteça ela teria que se vestir como uma mulher e não como homem, mas a menina nem ligava pra essa coisa de casamento, ela preferia ajudar seu pai na lida diária da propriedade, ela se sentia na obrigação de ajudar em tudo. Quando sua mãe deu a luz ao Derik ela teve complicações no parto, as parteiras conseguiram salvar mãe e filho, mas Helena teve uma forte hemorragia, fraca contraiu algumas doenças que a deixou debilitada demais para trabalhar lavrando a terra com seu marido, e não pode mais ter filhos, por varias vezes ela tentou trabalhar recolhendo lenha quando seus filhos e seu marido estavam na cidade, quando eles chegavam encontravam Helena desmaiada na terra fria no meio dos gravetos que ela tentava levar pra casa e, quando acordava, dentro de casa, caia em prantos se chamando de invalida e inútil, isso fazia com que Suelem e Derik também chorassem, Suelem chorava abertamente não conseguia se conter, Derik corria pra o bosque e chorava em silencio, se achava culpado por essa situação, seu pai não falava nada, apenas ficava ao lado de sua esposa e a abraçava, ele era um homem duro aprendeu a nunca chorar, mas amava sua esposa, Helena sonhava em casar Suelem com um rapaz que a tratasse com respeito e lhe desse uma vida tranqüila de esposa e mãe e nunca precisasse se ferir no trabalho pesado do campo assim como ela trabalhou ao lado do seu marido, mas Helena nunca reclamou da sua vida, ela apenas trabalhava fingindo estar feliz, pelo menos enquanto tinha saúde, agora não se conformava em ver sua filha ter que trabalhar em seu lugar, por isso ela tentava vestir a menina com alguns vestidos velhos que ela tinha guardado em seu pequeno baú, foi em uma dessas vezes que Suelem vestiu-se como mulher e penteou os cabelos que o conde a viu e a levou para longe de sua família. O senhor Pedro aproximou-se na esperança que uma das moças entrasse em seu bote, com um remo Derik empurrou o bote de Pedro para longe do seu, Pedro olhou para o rapaz indignado pela atitude que Derik tomou então Derik começou a remar se afastando cada vez

Page 177: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

177

mais do velho senhor Pedro que começou a remar perseguindo-os, Derik remava sem se afastar muito da ilha, ele não tinha noção sobre navegação e ficar perto da terra parecia ser mais seguro, as mulheres não ficaram tão seguras assim, com o senhor Pedro ao seu encalço gritando para que Derik parasse, mas o senhor Pedro estava muito doente e a luta na ilha o deixou muito cansado, ele começou a tossir ficou sem fôlego tentando respirar ruidosamente, largou os remos dentro do bote e caiu de cara no assoalho quase desmaiando com fortes dores no peito ficando a deriva. As moças viram o senhor Pedro cair no fundo do bote ficando para trás, elas sabiam que havia acontecido algo de mal ao velho homem, mas se sentiam aliviadas por terem se livrado dele. _ Condessa, para onde estamos indo? – perguntou Laura. _ Não sei, vamos ficar calmas. – respondeu Suelem. Derik olhou para as mulheres e parou de remar, o senhor Pedro ficou para trás e não oferecia perigo e falou para as mulheres. _ Não podemos sair para o mar aberto, não temos água e nem comida, podemos ficar nesse bote por vários dias até que um navio nos encontre, podemos morrer de fome e sede, por isso vamos ficar por perto da ilha, os nativos se foram e assim que o vulcão acalmar vamos voltar pra lá e pegar comida e água, então podemos partir de uma vez dessa ilha maldita. As moças assentiram e se acalmaram, não havia mais nada a fazer senão torcer para que tudo desse certo mesmo que a idéia de voltar à ilha não as agradasse muito. Estavam a pouco mais de dois quilômetros da ilha e se podia ver, em segurança, o vulcão que rugia e expelia fumaça pelo ar, aos poucos o dia se passava e as moças dormiram, Derik vigiava o horizonte contemplando o por do sol, atento para que o senhor Pedro não os pegasse de surpresa, a noite caiu sobre o mar, o céu estava repleto de estrelas, nuvens carregadas vinham no horizonte cobrindo o céu com fleches de relâmpagos reluzindo entre as nuvens, a noite se tornava cada vez mais escura, os relâmpagos não tinham luz suficiente para clarear a escuridão e as moças estavam acordando. _ Derik, parece que vai chover. – falou Suelem.

Page 178: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

178

_ Talvez. – respondeu Derik. Suelem se lembrou do naufrágio em meio à tempestade, de que quase perdeu seu irmão e de como conseguiu resgatar a jovem Laura das águas frias quando a menina se agarrava a um pedaço de madeira que flutuava no mar, assim elas foram parar na ilha, Derik começou a remar em direção a ilha e disse. _ Vamos voltar pra ilha, se cair uma tempestade eu não quero estar no meio do mar, será mais seguro ficar em terra firme. Derik remou para um ponto longe de onde ocorreu à luta com os pigmeus, para evitar ver os corpos espalhados pela praia, foram para perto de onde faziam os sacrifícios, de onde ficava a gruta do ninho das sereias e, do grande tesouro que esperava para ser resgatado, a noite estava escura, as chamas que consumia as árvores foram o suficiente para que ele se orientasse, o mar agitado dificultava o controle do bote, as ondas os empurravam para frente e logo as correntes os levavam de volta para trás, Derik se esforçava para manter o bote rumo a ilha e a cada remada parecia que se afastavam mais da praia, os ventos começaram a soprar forte, por um breve momento Derik achou ter visto um rosto humano se formando nas nuvens em meio ao clarão de um relâmpago, isso o fez lembrar do rosto da mulher negra de seus sonhos, olhando para as nuvens teve a impressão de que uma rajada de vento vinha daquela nuvem em forma de rosto, pôs a mão no bolso da calça e segurou o amuleto, o vento mudou de direção repentinamente empurrando-os rapidamente para a ilha, Derik se segurou, as meninas se agarraram umas nas outras para não cair pela força do vento que aumentava cada vez mais, o bote rompia as ondas sem a ajuda dos remos, Derik apenas controlava o bote mantendo-o com a proa para frente. Em poucos minutos chegaram à ilha, o bote literalmente foi jogado na praia por uma grande onda que os deixou na areia, Derik e as moças saíram do bote e o arrastou para longe das ondas que invadiam a praia, a chuva começou a cair lavando as folhas das árvores que estavam cobertas por cinzas do vulcão, as chamas do incêndio apagaram-se formando uma coluna de fumaça misturando-se com a fumaça do vulcão, o cheiro se tornou insuportável, quase não dava

Page 179: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

179

para respirar, os olhos ardiam e lacrimejava, Laura começou a chorar o pânico tomou conta da menina que abraçava sua irmã com o rosto entre seus seios, a condessa se deitou no chão e mandou que todos fizessem o mesmo, com a cabeça baixa era mais fácil respirar, a ilha ficou coberta pela fumaça, o vulcão parou de expelir cinzas e pedras, mas a fumaça tóxica ainda saia da sua cratera ajudando a matar os animais que tinham escapado do fogo. A chuva aumentava, Derik pegou o bote e o virou de casco para cima e entraram em baixo, suas roupas estavam molhadas e sentiam frio, mas protegidos do vento e da fumaça, a chuva passou durante a noite, assim como a fúria do vulcão, que agora estava calmo com pouca fumaça, as cinzas foram lavadas pela chuva e se transformaram em lama no solo arenoso da ilha, o incêndio consumiu parte das árvores deixando a floresta com um forte cheiro de madeira queimada misturado com o cheiro de enxofre que ainda saia das fendas nas rochas com o vapor causticante, por toda parte havia árvores com galhos quebrados e sem folhas, resultado de um dia de chuva de pedras e cinzas fumegantes, a ilha estava em total destruição, não se ouvia sons de animais, os que puderam partiram antes da catástrofe e os que não puderam fugir estavam mortos ou feridos escondidos em alguma parte da ilha que não foi incendiada. Derik virou o bote, as moças estavam acordadas e se levantaram para ver o que restou da ilha, Cristina se preocupava com os nativos e com o senhor Pedro que a assustava mais do que o vulcão, a condessa se pôs em pé despreguiçou com as mãos na cintura com dores pelo corpo por ter passado a noite encolhida debaixo do bote com mais três pessoas, Laura olhava para o mar buscando encontrar uma esperança de salvação, esperando que o jovem Everaldo apareça em um navio para resgatá-la daquela ilha, Laura era uma jovem apaixonada e sonhadora, seu amor pelo copeiro do conde ainda era forte em seu peito, ela não acreditava que seu amado estivesse morto, mesmo que tenha visto o rapaz sendo atingido por um golpe de espada, seu coração dizia que Everaldo estava vivo em algum lugar por perto. Derik andou para dentro da ilha a procura do buraco feito pelo desmoronamento sobre a gruta, ele queria chegar antes do senhor

Page 180: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

180

Pedro e encontrar os baús do tesouro, deixou as mulheres sozinhas na praia junto ao bote sentadas olhando para o mar, havia uma cortina de fumaça branca entre as árvores, acima das árvores uma densa nuvem de fumaça negra que cobria toda ilha, carregada de poeira pairando no ar impedindo a passagem do sol, estava quase impossível respirar naquele ambiente. Derik encontrou a gruta que desabou e começou á descer se apoiando nos troncos de árvores que caíram no desmoronamento até chegar ao fundo do buraco, o túnel por onde as sereias passavam estava coberto por pedras, seria impossível alguém passar por ali as cinzas e pedras não cobriram todos os baús, tinha vários deles aberto cobertos apenas por poeira, Derik tirou o conteúdo de um dos baús, eram colares de perolas e objetos de ouro, em outro baú tinha pedras preciosas e em outro estava cheio de moedas com palavras espanholas gravadas em ambos os lados das moedas, eram muitos baús e havia mais enterrados sob as rochas, Derik pegava as peças que ele achava mais valiosas e limpava a poeira dando brilho com sua camisa molhada e suja, ele queria levar tudo para o bote, tentou fazer uma sacola com suas roupas e encheu com os objetos de ouro, o peso foi tanto que a sacola improvisada se rasgou esparramando tudo pelo chão da gruta, então pegou o que pode nas mãos e achou melhor voltar para o bote e pedir que as mulheres o ajudasse a recolher o tesouro, então Derik tentou escalar as paredes do buraco, com as mãos ocupadas não seria tarefa muito fácil, teve que desistir dos objetos que carregava nas mãos, subiu a parede e olhou para baixo com medo de que quando voltar o tesouro não esteja mais ali, respirou fundo engolindo fumaça e poeira causando-lhe uma tosse tão forte que parecia que seu pulmão iria saltar pela garganta, deitou-se no chão onde não havia fumaça e pode respirar com mais facilidade passando a crise de tosse, permaneceu deitado até se sentir melhor, se pôs de pé e voltou para a praia com as mãos sobre o nariz e a boca se protegendo da poeira. A ilha tremeu, um ruído abafado saiu da terra, como se estivesse avisando para que saísse da ilha o mais rápido possível, o tremor era diferente do dia anterior, parecia que a ilha se movia como um navio nas ondas do mar, isso deixou Derik com náuseas, a ilha subia e

Page 181: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

181

descia em movimentos constantes, uma pequena explosão no subsolo fez com que as pedras saltassem e Derik sentiu o solavanco em seus pés fazendo com que perdesse o equilíbrio e quase caiu tirando a mão do nariz se apoiando em uma árvore queimada que estava mais próxima correu para o bote, outra explosão e mais uma e pareceu que a ilha tinha afundado um pouco, Derik parou de correr, algo estava muito estranho, ouviu um grito era das mulheres no bote, Derik correu o mais rápido que pode, ao chegar à praia às mulheres estavam dentro do bote, o mar tinha chegado até eles invadindo a ilha, então Derik percebeu que as mulheres não estavam sozinhas, o senhor Pedro estava ao lado delas com uma espada na mão e o cálice de ouro na outra esperando que Derik retornasse. _ Porque demorou tanto rapaz, eu estava impaciente, veja só o que eu encontrei um lindo cálice de ouro, espero que você não esteja tentando me passar à perna e fugir com o tesouro que você encontrou um tesouro que me pertence. – disse Pedro. Derik ficou mudo de medo, ao ver que o senhor Pedro estava tão perto de sua irmã, com ódio nos olhos e uma espada na mão ameaçando as meninas, então Derik falou. _ Eu encontrei o tesouro, eu iria ti contar, mas não tive a oportunidade venha eu ti mostro onde está o tesouro, esta aqui na ilha. _ Como na ilha, eu andei por toda ilha e não encontrei nada, como pode ter tesouros na ilha? – disse Pedro. Suelem viu que o senhor Pedro não estava acreditando no que Derik falava então ela disse. _ Existe uma gruta aqui perto onde as sereias ficam a noite, onde fui presa, as sereias trouxeram tesouros dos naufrágios para lá, é isso que Derik está falando. _ São dezenas de baús, repletos de ouro como este que o senhor tem na mão. – disse Derik. A água estava cobrindo a praia e Pedro percebeu o que estava por vir quando um novo abalo aconteceu então ele disse. _ Eu sei onde fica a gruta, mas como podemos chegar até lá? _ Houve um desmoronamento o teto da gruta cedeu, podemos entrar por lá, eu estava lá. - Disse Derik.

Page 182: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

182

Pedro pegou a jovem Laura pelo braço e disse.

_ Vamos rápido, ela vai comigo, se for alguma armadilha eu mato ela e depois mato as outras e mato você também rapaz. Derik foi á frente, seguido por Suelem, logo atrás Pedro arrastando Laura ao lado de sua Irmã de volta para a floresta tentando acompanhar Derik que se perdia no meio da fumaça, em poucos minutos todos estavam na beira do enorme buraco olhando para dentro tentando ver alguma coisa no meio da fumaça e da poeira, Derik começou a descer Pedro largou a menina e correu atrás do Derik, quando ambos chegaram no fundo Pedro viu os baús semi cobertos pelas pedras, as peças de ouro estavam espalhadas, Pedro pegou o ouro e encheu a sacola que carregava no ombro e os bolsos da calça e da camisa correu para um baú cheio de moedas e tentou arrastá-lo para fora do buraco pedindo ajuda ao Derik. A ilha tremeu e houve um novo estrondo no subsolo, de repente em um solavanco a ilha afundou mais um pouco, a água do mar invadiu a ilha, a água da gruta estava subindo rápido enchendo o ninho das sereias, Derik viu o que estava acontecendo e correu para a árvore subindo rapidamente, o senhor Pedro gritava e ria descontroladamente dizendo que todo aquele ouro lhe pertencia e fazia planos de como gastaria toda aquela fortuna, não notou a água que subia cobrindo os baús chegando aos seus Joelhos, quando deu conta do que estava acontecendo já estava sozinho no buraco, mas não tentou fugir, Pedro queria pegar os baús e tirá-los da água de qualquer jeito, sua ganância era tanta que sua vida ficava em segundo plano, corria de um lado para o outro com a água batendo em sua cintura, cantando e rindo empunhando as peças e as moedas que pode pegar, a loucura e os delírios de um homem doente incapaz de raciocinar com lógica, se tornaram escravo da sua própria ambição e isso o levaria a morte. Derik e as mulheres voltaram para o bote que boiava preso em um tronco de palmeira, a ilha estava sendo engolida pelo mar eles tinham que sair dali, entraram no bote e remaram o mais rápido que puderam, Cristina viu o bote do senhor Pedro boiando a frente, remaram em direção do outro bote e o resgataram, Suelem e Cristina entraram no outro bote e seguiram Derik para longe da ilha.

Page 183: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

183

Em toda parte nos recifes ao redor da ilha surgiram gigantescas bolhas de água que escapavam com força do fundo do mar, causando verdadeiros chafarizes que espiravam a vários metros acima da superfície, eram as cavernas subterrâneas que estavam desmoronando, cavernas gigantescas, o lar das lulas gigantes que habitavam os alicerces da ilha. Esses alicerces já estiveram acima do nível do mar, com seus milhares de metros de cavernas espalhadas por toda parte, mas agora estavam a vários metros abaixo do mar, com o passar dos séculos as cavernas foram abaladas pelos inúmeros terremotos, e agora tudo estava ruindo e a ilha estava condenada a desaparecer para sempre nas profundezas das águas frias do oceano, em baixo dos botes os recifes estavam rachando e se abrindo, soltando golfadas de água, os botes se encontraram no meio das gigantescas bolhas, virando o bote que estava Suelem e Cristina, lançando-as no mar, a força das bolhas as afastaram do outro bote, por mais que Derik tentasse se aproximar das moças sempre surgia outras bolhas criando uma barreira separando-os, as bolhas eram impossíveis de serem transpassadas, do outro lado da barreira as mulheres eram jogadas para cima com a força das golfadas de água, se segurando ao bote que tombou. De repente as bolhas aumentaram de intensidade e de tamanho, o mar em torno da ilha estava borbulhando, as rachaduras sobre a ilha esguichava água a mais de trinta metros de altura, o vulcão tremeu e a fumaça negra deu lugar a um denso vapor branco e a ilha afundou lentamente enquanto seus alicerces desmoronavam, em poucos minutos o vulcão estava submerso e tudo que se podia ver era a fumaça que brotava da superfície do mar em meio às bolhas que surgiam onde há poucos minutos atrás existia uma ilha verdejante, restando agora muito troncos, terra e folhas boiando entre as cinzas. Os botes eram jogados de um lado para o outro, Derik se segurava para não tombar, as mulheres se agarravam ao bote virado para não afundarem com a ilha. As bolhas cessaram, o mar se acalmou, onde havia uma ilha agora só restou uma mancha escura de terra e folhas secas queimadas em meio à espuma de cinzas, Derik viu o bote com Suelem e Cristina

Page 184: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

184

agarradas, remou em sua direção com a jovem Laura ao seu lado no bote, a menina estava assustada com o que aconteceu com a ilha e pensava o que poderia ter acontecido com eles se não tivessem saído de lá a tempo, o que poderia ter acontecido com o senhor Pedro, talvez ele tenha sido engolido pelo mar com a ilha e nunca mais volte para atormentar as pessoas, talvez o pesadelo da jovem Laura tenha desaparecido no fundo do oceano e jamais volte, Derik se aproximou das moças, elas largaram o bote e se seguraram na mão dele que puxou primeiro a Cristina que caiu de costas no fundo do bote, então com um sorriso segurou nas mãos da sua irmã e estava puxando-a quando Netuno saltou da água com seu tridente de ouro na mão, seus tentáculos eriçados mostravam sua fúria, batendo na água com o tridente grunhindo desafiando o rapaz que novamente estava em seu caminho, Derik ficou petrificado com o tritão a sua frente, mas não largou sua irmã, Cristina se levantou e abraçou Laura que gritava horrorizada com o monstro que se erguia assustadoramente, mas Suelem olhou para Netuno e devagar soltou as mãos de Derik, que só percebeu que Suelem tinha se soltado quando ela estava deitada de costas no mar olhando para seu irmão sorrindo se despedindo o ultimo sacrifício pela vida do seu irmão. Netuno aproximou-se da mulher deitada na água, com uma mão ele a tomou e sem olhar para trás nadou mar adentro, perto do bote varias sereias saltaram do mar como golfinhos e seguiram o seu líder, Derik ainda estava em estado de paralisia, sem entender o que Suelem fez, por que se entregar nos braços do monstro, então ouviu a melodia que o acalmou, sem pensar se atirou na água ignorando os pedidos das mulheres que ficaram no bote, Cristina e Laura assistiram Suelem ser levada por um tritão e Derik mergulhar nas profundezas das águas frias, no fundo do mar uma sereia negra de calda longa e esguia cabelos brancos, longos e finos o pegou pelo braço seguindo na mesma direção que o tritão e suas sereias desaparecendo. Sozinhas no bote a deriva as meninas choraram.

Page 185: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

185

SEGUNDA PARTE CAPITULO XIII O resgate

_ Capitão, tem um bote à deriva a bom bordo, - gritou um marinheiro em um navio que passava por perto de onde um dia existiu uma ilha. O capitão do navio mandou que recolhessem o bote, dentro dele estavam às irmãs Cristina e Laura, elas estavam à deriva por dois dias, desmaiadas no bote não perceberam que foram salvas, acordaram em uma cama confortável na cabine do capitão Jack Delevai, ao lado da cama havia um velho homem de barba longa e branca com uma caneca na mão, assim que elas acordaram ele as fez beber um líquido escuro e amargo, embora elas tentassem recusar a bebida foram forçadas a tomar até a ultima gota, então Laura olhou para os lados e viu que estavam em um navio e estavam vestidas com roupas secas e limpas, se assustou porque não viu nenhuma mulher por ali para terem tirado seus vestidos molhados e vestido-lhes essas roupas masculinas, Laura levantou-se rapidamente e se afastou do velho, chamando a sua irmã para que ela se levantasse, o velho levantou-se e se retirou da cabine, Laura perguntou a sua irmã como estava se sentindo, Cristina embora estivesse acordada ainda estava fraca incapaz de sair da cama, então a porta da cabine se abriu e um homem velho baixo e gordo entrou, com um chapéu de capitão na cabeça e roupas brancas, era o capitão Jack Delevai. _ Me sinto feliz em ver que estão bem. –disse o capitão. _ O senhor é o capitão desse navio? –perguntou Laura. _ Sim, deixe me apresentar, sou o capitão Jack Delevai. _ Meu nome é Laura Formam, e essa é a minha irmã Cristina. _ Vocês são muito jovens para estarem perdidas nesse fim de mundo, em que navio estavam?

Page 186: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

186

_ Estávamos em um navio chamado Perola do Rei, fomos atacados por piratas e acabamos presos em uma ilha, agora estamos aqui, _ E o que aconteceu com o navio Perola do Rei? _ Afundou. – respondeu Laura. _ E os piratas, o que aconteceu com eles? _ Acho que estão todos mortos. Laura estava achando estranha a curiosidade do capitão na historia dela e do navio Perola, o jeito como ele perguntava era mais um interrogatório do que simples curiosidade, então o velho de barba branca que estava na cabine voltou com uma caneca na mão e deu para Laura beber e dar a sua irmã, Laura recusou, mas o velho disse. _ É água, beba e de para a menina. _ Esse é o meu medico, na minha idade tenho que viajar com um médico a bordo. –disse Jack. Laura pegou a caneca e bebeu um pouco e deu o resto para Cristina que bebeu tudo, a jovem Cristina não estava bem e Laura sabia disso, o medico saiu outra vez e o capitão voltou a fazer perguntas sobre o naufrágio do Perola e o que aconteceu com os piratas, mas a menina não sabia de muita coisa e estava preocupada com sua irmã, o capitão percebeu que não adiantava continuar com o interrogatório e saiu da cabine deixando as duas em paz. Dois dias depois que a ilha afundou, Derik acordou do transe em uma caverna em algum lugar na África, estava sozinho deitado sobre uma esteira de juncos, estava nu suas roupas estavam estendidas sobre uma rocha ao lado, secas e limpas, Derik levantou-se e se vestiu, de dentro da caverna ele podia ouvir o mar, a caverna era pequena parecia ser a casa de alguém, tinha uma fogueira acesa na entrada, talvez para afugentar os animais, havia utensílios de barro no chão perto da fogueira com água algumas frutas e inúmeras cabaças penduradas nas paredes, no fundo da caverna tinha vários crânios de animais e de humanos empilhados uns sobre os outros, Derik foi para a entrada da caverna o sol brilhava com a intensidade do meio dia, do lado de fora estava uma velha Africana sentada assando peixes sobre uma rocha no meio de brasas incandescentes, Derik reconheceu a

Page 187: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

187

velha, era a feiticeira que lhe deu o amuleto na colônia inglesa, a velha olhou para ele e disse. _ Sente-se coma um pouco. A voz da velha era a mesma da sereia negra, Derik podia entender cada palavra, mesmo que a velha feiticeira africana falasse em um dialeto totalmente estranho, a voz da velha era doce e suave em forma de melodia, essa voz o acalmava e lhe dava confiança, o rapaz se sentou pegou um peixe e comeu, a velha sorriu, sua boca era toda sem dentes seu rosto representava a idade avançada, mas Derik não via a feiúra da velha, seus olhos estavam enfeitiçados pela melodia que a mulher entoava, ele só podia ver beleza e paixão, mesmo onde não havia nenhuma formosura ou delicadeza. A velha contava historias sobre sua vida e seu passado, Derik estava em transe, podia ver as cenas acontecendo na sua frente como se estivesse presente no dia e na hora dos fatos, a melodia levava Derik para dentro da cabeça da velha Africana. Derik viu desenrolar em sua frente o dia em que uma linda sereia negra nadava no fundo do mar caçando caranguejos entre as pedras, em sua cabeça havia tentáculos que entravam nas frestas entre os corais apanhando suas presas, ela era feliz ao lado de outras sereias jovens e lindas umas eram vermelhas, outras cinzas e outras coloridas como o arco íris, e todas caçavam em conjunto, um pouco mais distantes das sereias havia vários grandes machos, também coloridos e muito fortes, viviam em harmonia como uma família, mas a sereia negra era diferente ela era maior que as outras e suas escamas brilhavam mais do que as outras, seu corpo era mais esguio e mais forte, uma deusa entre as sereias, a água do mar parecia ter vida formando grandes mãos para acariciar a deusa negra e olhos para observá-la por onde quer que ela esteja essas mãos e olhos que se formavam era o próprio espírito das águas que a amava mais que qualquer outra coisa nos mares, a deusa negra foi criada pelo espírito para ser sua esposa e dela descenderia todas as sereias do mar e povoaria os oceanos, o espírito a chamou de Calypso. Por séculos o espírito e sua deusa Calypso reinaram absolutos nos mares, a deusa se manteve fiel ao espírito que a protegia dos

Page 188: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

188

monstros marinhos, mas um dia Calypso foi até a superfície e viu um jovem homem Africano em um barco pescando com uma rede, o jovem era um negro alto forte e muito belo, Calypso se apaixonou pelo rapaz, todos os dias ela voltava para ver o seu amado que vivia em terra seca, o espírito do mar viu que sua deusa estava apaixonada pelo habitante da terra e quis se vingar. No dia em que o rapaz foi para o mar pescar Calypso o estava esperando escondida para não ser vista como sempre fazia, mas o espírito também estava esperando para ver quem era o rapaz que roubou o coração da sua Calypso, o jovem rapaz lançou a rede no mar e estendeu o corpo para fora do barco, Calypso ao ver o rosto do rapaz sorriu e se deixou ver pelos pescadores, os homens gritaram apavorados tamparam os ouvidos para não serem atraídos pela canção da sereia, mas o jovem pescador sorriu para a sereia negra e não teve medo, apesar de já ter ouvido muitas historias de homens que foram atraídos para a morte pela canção desses seres marinhos, mas o jovem apaixonou-se por ela assim que a viu, o espírito enfureceu-se e criou ondas gigantescas no mar, a canoas dos pescadores viraram e os homens morreram afogados, Calypso segurou a canoa do seu amado evitando que ela também virasse, nadou para a praia e deixou o rapaz em segurança, voltou para se encontrar com o espírito do mar e tentar acalmá-lo. O espírito estava furioso, consumido pelo ciúme planejando matar o rapaz que a sereia salvou do mar, Calypso procurou pelo espírito, mas ele se escondeu em um rio perto da aldeia do jovem pescador, observando a vida do rapaz, aumentando sua raiva e maldade, mas o espírito ainda amava sua criação chamada Calypso. A sereia negra procurou por seu criador por dias e não o encontrou, o espírito se escondeu na água doce e rasa dos rios, assumindo a forma e a cor da água, invisível dentro do seu elemento água, Calypso podia sentir sua presença antes mesmo que ele se tornasse notado pelas outras sereias, mas dessa vez o espírito entrou onde Calypso não podia chegar e nem sentir a presença do seu criador, a água doce era proibido para as sereias, elas não podiam experimentar ou tocar na água que corria pela terra e servia de bebida

Page 189: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

189

aos homens e nem os homens podiam beber a água do mar, na água doce o espírito estava seguro e distante dos sentidos da Calypso, a espera de uma oportunidade de matar seu rival. A ausência do espírito aumentava a vontade de Kalypso de rever seu amado pescador, então ela foi até a praia onde um dia deixou o rapaz em segurança, ficou escondida atrás de uma rocha, o rapaz veio a praia para ver o por do sol como fazia todas as tardes, Calypso não se conteve e saiu de trás da rocha deixando-se ver pelo rapaz, ele estava com o rosto iluminado pelo sol vermelho do entardecer, seu corpo se destacou a luz do sol e Calypso quis sair da água e tocar no corpo do rapaz paralisado com a visão da sereia com a metade do corpo fora da água, ele também estava apaixonado pela sereia negra de olhos da cor do mar, ficaram horas olhando um para o outro até o sol se por e a escuridão tomar conta do cenário, o jovem pescador voltou para casa e a sereia ficou ali esperando que o rapaz voltasse pela manhã, escondida na rocha. No dia seguinte pela manhã o rapaz voltou e lá estava Calypso no mesmo lugar suspirando de tanta paixão, o pescador entrou na água e foi ao encontro da sereia, então Calypso começou a cantar com a voz doce e suave, sua voz era uma melodia que encantava as pessoas controlando suas vontades, mas dessa vez Calypso entoava uma melodia diferente em vez de atrair o rapaz ela queria que ele saísse da água o mais rápido possível, sem entender o rapaz voltou para a areia da praia, Calypso tinha sentido a presença do espírito se aproximando, ela pode sentir as intenções do seu criador, mesmo com o rapaz em terra o espírito tentou agarrá-lo e afogá-lo, levantando-se sobre a superfície da água como um homem gigante feito de água o espírito ergueu os braços na direção do rapaz e lançou um jato forte de água que atingiu o rapaz no peito e no rosto, jogando-o em terra quase o afogando, de repente uma enorme barreira de areia e pedras surgiu formando uma parede protegendo o pescador da onda gigante que se levantou, a parede tomou forma de uma mulher feita de terra e rochas, era o espírito da terra protegendo seu filho, o espírito da terra ficou tão grande quanto uma árvore e falou. _ Por que está tentando afogar o meu filho?

Page 190: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

190

O espírito da água falou em voz rouca e furiosa. _ O seu filho corrompeu a minha filha, e deve morrer. _ O seu reino é o mar não ouse matar meus filhos fora do mar. O espírito do mar parou de atacar o rapaz e disse. _ Enquanto ele estiver na terra ele estará a salvo, mas no dia em que ele entrar no mar ele morrerá. O espírito da terra disse ao espírito do mar. _ Desde o inicio dos tempos temos um acordo, em que os meus filhos pescarão e comerão do fruto do mar, entraram no mar para se banhar, beberam das águas doces que correm pela terra, em troca não sujaremos a água do mar e nem cuspiremos nas suas águas e respeitaremos suas leis vivendo em paz. _ Não farei mal aos outros humanos já que só esse homem desrespeitou as minhas leis, a esse homem dei uma sentença de morte, ele não poderá entrar na água nem comer do fruto do mar e nem beber da água doce que corre nos rios sobre a terra, pois no dia em que ele entrar na água eu o matarei afogado, no dia em que comer do fruto do mar morrerá engasgado, no dia em que beber água doce dos rios morrerá asfixiado. O espírito da terra concordou com o espírito do mar e ambos desapareceram deixando o rapaz em terra e a sereia no mar, a tristeza tomou conta dos dois, separados para sempre. Todas as manhãs eles se encontravam no mesmo lugar seus olhares espremiam seus corações, a cada dia o amor entre eles cresciam e já não podiam mais suportar tanta paixão, a sereia não podia sair da água o rapaz não podia pisar nem tocar na água, passou a beber a água do orvalho das folhas pelas manhãs e comia o fruto da terra, os seus amigos traziam água dos rios para que ele pudesse se banhar, mas nunca deixou de ir à praia pelas manhãs. O tempo passou e Calypso viu seu amado envelhecer, mas não deixou de amá-lo, nem por um dia deixou de ir a praia vê-lo, até que um dia ele não apareceu, a idade lhe pesava no corpo e estava doente demais para poder andar, Calypso continuou a visitar a praia na esperança de rever seu amado que não apareceu mais, os dias se tornaram semanas e as semanas viraram meses e os meses se tornaram

Page 191: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

191

anos, Calypso visitava a praia fielmente todas as manhãs e as tardes. A tristeza da sereia encheu o mar, seu canto era tão melancólico que todas as sereias choravam com ela, o espírito do mar contemplava a distancia, desde o dia em que o espírito tentou matar o rapaz ele não falou mais com a Calypso, seu ódio se transformou em pena. Em uma manhã, como sempre fazia, Calypso foi à praia esperar pelo seu amado, há muito tempo que ela não se escondia das pessoas, os humanos evitavam passar pela praia com medo do canto da sereia que permanecia muda com a metade do corpo dentro da água rasa e a cintura para cima exposta fora da água, então o espírito da terra se levantou da areia em forma de mulher se aproximou o máximo que pode da água contemplou o sofrimento da sereia e disse. _ Por que chora? O seu amado já não existe mais, ele morreu a terra já reclamou seu corpo e nada restou senão ossos. _ Tenho vindo aqui todos os dias e vi seu corpo envelhecer, o meu desejo sempre foi de um dia poder abraçá-lo e viver com ele em terra aprender seus costumes e ser feliz com ele ao meu lado. O espírito da terra respondeu. _ Você é uma imortal e ele é um humano, a vida dos humanos passa como uma brisa suave, passa despercebido e logo a terra reclama seus despojos, quanto a você minha eterna jovem sereia, seu lugar é o mar e seu deus é o espírito do mar, você não tem nada aqui na terra e nem com os habitantes da terra. Calypso suspirou e disse. _ Eu daria a minha juventude e a minha eternidade para poder ver o meu amado nem que seja só por um momento e, poder tocá-lo uma única vez mesmo que seja só os seus ossos, mas parece ser impossível para mim. O espírito da terra pensou e disse. _ É possível sim, você pode sair da água e andar pela terra, mas tem um preso a pagar, se você me der sua juventude e sua beleza eu poderia te dar um corpo para que você viva entre os homens, mas não poderá mais voltar a viver na água com seus iguais. A sereia animou-se com as palavras do espírito da terra, um espírito traiçoeiro que só queria roubar a beleza e a juventude da

Page 192: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

192

sereia, na esperança de poder abandonar esse corpo de terra e poder viver os amores entre os homens, um amor que um dia todos os espíritos sentiram na terra e tiveram filhos com os homens e as mulheres da terra, até que um dia os espíritos fizeram guerra entre si e envolveram toda a humanidade em sua guerra matando quase toda vida da terra, então um feiticeiro conjurou um feitiço sobre todos os espíritos lançando cada um em seu lugar perdendo a forma humana que tanto se orgulhavam assumindo a forma do seu meio ambiente, terra, água, fogo e vento, impedidos de tocarem uns nos outros ou nos humanos, mas o feiticeiro fez uma profecia, os espíritos voltariam a assumir a forma humana e andar entre os humanos quando um homem virgem filho de todos os espíritos for sacrificado pelas mãos de alguém que muito lhe ama e seu sangue for oferecido aos espíritos, assim cada espírito receberia seu próprio sangue misturado com o sangue humano dando-lhes carne e ossos humanos. _ Eu daria qualquer coisa para poder andar na terra e ver onde está o meu amado. –falou Kalypso. O espírito da terra estendeu os braços e chamou pela sereia convidando-a a sair da água e pisar em terra, Calypso se arrastou pela areia e tocou na areia seca, quando seu corpo estava totalmente fora da água o espírito a pegou pela mão e a pôs em pé, sua nadadeira se fendeu em duas formando duas pernas com pés, as escamas entraram na sua pele causando enorme dor, a pele queimava com o sol os tentáculos finos de sua cabeça caíram na terra quente e queimou, a sereia se tornou uma mulher alta magra com seios volumosos e quadris largos, uma negra de pele sedosa sem um único fio de cabelo pelo corpo, mas sua voz continuava como melodia, uma melodia triste e suave. O espírito da terra a levou onde estava sepultado o rapaz, com um gesto a terra do tumulo se revolveu e descobriu os ossos brancos, então o espírito levou Calypso para a aldeia e lhe mostrou a casa onde ele morava e lhe disse. _ De hoje em diante será aqui que você viverá. O espírito tocou na cabeça da jovem Calypso, a força da sereia passou para o corpo de terra do espírito, o corpo da sereia Calypso secou como uma fruta exposta ao sol ficou enrugada perdendo a

Page 193: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

193

maciez de sua pele seus olhos perderam a cor das águas do mar ficando escuros e sem brilho como se fossem cegos, conforme o espírito sugava a juventude e a beleza da sereia o corpo da Calypso diminuía de tamanho ficando com um metro e meio de altura, velha como realmente era, feia como a tristeza que sentia, seu corpo tinha o cheiro dos mortos, o espírito ganhou o corpo que queria, estava com o corpo da Calypso, o feitiço duraria apenas algumas horas para o espírito, mas seria eterno para a sereia, então o espírito disse a sereia. _ Tirei de você toda a juventude e toda a beleza, mas não tirei a eternidade, você viverá para sempre com esse corpo e nunca mais poderá voltar para o mar, viverá para sempre na terra e sofrerá todos os dias a tristeza que está no seu coração. A sereia gritou porque queria morrer e se juntar ao seu amado no mundo dos mortos e não ficar na terra para sempre, o espírito, com o corpo da Calypso, saiu pela aldeia rindo exibindo o corpo nu acariciando e amando os homens e as mulheres da aldeia, Kalypso ficou sozinha na cabana que um dia foi do jovem pescador e agora pertencia à velha imortal. O espírito andou de cabana em cabana daquela aldeia, lançou um feitiço sobre todos que viviam ali, e durante todo aquele dia e noite houve orgia, no dia seguinte o feitiço se desfez, o espírito voltou a ter o corpo de terra e seus poderes sobre os homens e mulheres se desfez como o seu corpo soprado pelo vento espalhado pelo solo, à orgia acabou e todos acordaram do sonho que durou um dia e uma noite, estavam todos nus, correram para suas cabanas tentando cobrir-se envergonhados do que tinham feito com medo de sair das cabanas, a velha sereia estava deitada em um canto da sua cabana, pela primeira vez em décadas ela sentiu sono e dormiu pelo cansaço que o corpo velho e dolorido sentia. No dia seguinte a velha mulher saiu da cabana e foi à praia, chegou perto da água e ficou imóvel, o espírito do mar se levantou de uma onda com a água do mar formando seu corpo e disse a sua amada. _ O que você fez Calypso? Ela estava com a voz de uma velha cansada e tremula, mas ao falar com o espírito sua voz se tornou mais uma vez como melodia, a linguagem dos seres do mar.

Page 194: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

194

_ Eu escolhi ficar em terra perto do lugar onde um dia viveu o meu amado, agora não posso mais voltar para o mar. _ O espírito da terra ti enganou... _ Não, eu escolhi viver na terra, e viverei aqui para sempre, por que eu escolhi. _ Se você escolheu viver na terra e não no mar então eu devo deixar como está, mas o feitiço que o espírito da terra fez pode ser revertido e você poderá voltar para o mar junto das suas filhas e filhos, basta entrar no mar e parte de você retornará ao que você sempre foi, enquanto você estiver vivendo como humana eu não poderei mais vir ti visitar. _ Eu escolhi viver aqui e aqui vou viver. –disse Kalypso voltando para sua cabana sob os olhares dos habitantes da aldeia. O espírito se desfez em água e sumiu levando as sereias e os tritões para longe da África, deixando Calypso sozinha entre os homens que a tinham como uma feiticeira, cuidando e alimentando-a, o tempo passava todos morriam, mas a velha continuava viva e continuaria para sempre, na cabana com os ossos do seu amado ao seu lado, para sempre. Derik entendeu o que havia passado com a velha feiticeira, mas não podia entender o que ela queria com ele, então a melodia recomeçou e ela falou. _ Naquele dia de orgia varias mulheres engravidaram, inclusive a espírito da terra que deu a luz a um filho de cada homem que a possuiu, foram vários bebes nascendo de um único parto em um só dia nas entranhas da terra, todos os bebes eram meninos, desse parto surgiram homens fortes e valorosos, gigantes sobre a terra, guerreiros indestrutíveis que se espalharam pela terra e geraram filhos, mas seus filhos eram fracos e morreram apenas um desses guerreiros pode dar continuidade a sua espécie, seu nome era Cherses, ele se mudou para as terras mais ao norte e fundou cidades, mas o tempo passou para o grande rei Cherses e ele morreu, o ultimo dos filhos do espírito da terra agora estava morto e seus descendentes eram fracos e não puderam manter as cidades como seu pai fazia com braços de ferro

Page 195: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

195

através do medo e da tirania com seu grande exercito os cães de guerra assassinos e mercenários, com o enfraquecimento do império os mercenários partiram, o grande exército se desfez e os soldados se foram para as terras mais quentes e mais produtivas com suas famílias, as cidades entraram em ruínas, logo as noticias de que o império estava fraco se espalhou e seus adversários os atacaram e saquearam seus tesouros, tribos de todas as partes do mundo vieram buscar seu quinhão e deixaram à destruição e a morte aos que resistiam na cidade, os filhos de Cherses eram três homens e cinco mulheres, os homens eram corcundas e deformados, doentes e asquerosos, as mulheres eram igualmente repulsivas, as mulheres do rei Cherses morriam no primeiro parto, não resistiam às dores, a ultima das suas mulheres, uma mulher de descendência asiática filha do espírito do fogo deu a luz a uma menina de corpo e mente saudável, elas eram as mulheres mais bonitas de todo oriente, e a mãe pode amamentar sua filha por dez anos, o leite da mulher era quente como o fogo, a mulher asiática se chamava Fugi, e sua filha se chamou Agni, a menina cresceu forte e saudável, os seus irmãos a invejavam por seu pai amá-la mais do que aos outros e por ela não ser repulsiva como eles. O império já estava destruído quando foram atacados pelos guerreiros que vieram dos mares gelados chamados de vikins, os vikins mataram os homens e raptaram às mulheres que depois também foram mortas, os filhos do rei Cherses foram assassinados a golpes de espadas e o palácio foi destruído e queimado, Fugi e Agni foram levadas como troféu pelo rei das terras geladas, no caminho de volta as terras frias Fugi ficou doente e morreu, Agni ficou sozinha nas mãos dos bárbaros, mas eles não tocaram nela com medo do calor que emanava do seu corpo, os homens achavam que ela era um demônio e que daria muito azar levá-la com eles para suas terras e tinham medo de matá-la então puseram-na em um barco com um guardião escolhido por eles e a levou para as terras mais quentes ao sul. Ao chegar a uma ilha quente e verdejante o bárbaro construiu uma cabana a beira mar próxima as casas dos pescadores, o bárbaro não tocou na menina, o tempo passou a menina se tornou uma mulher, sua beleza era tamanha que todos os pescadores da ilha se apaixonaram por ela, mas ninguém se

Page 196: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

196

aproximava com medo do calor do seu corpo achando que ela fosse filha do demônio, um dia o seu guardião morreu e a jovem mulher passou a viver sozinha na cabana, as pessoas passaram a trazer oferendas para a jovem Agni tentando agradá-la e designaram um jovem e forte rapaz para ser seu guardião, um dia Agni resolveu ir para o mar com esse rapaz para ajudá-lo na pesca, o barco virou e ela caiu no mar, o espírito do mar viu a beleza da mulher e se apaixonou por ela, o espírito sabia que Agni era filha da deusa da terra e do deus do fogo e a salvou das águas frias e lhe deu uma marca, mas antes de devolver a mulher para a terra o espírito da água se apossou da mulher que ainda era virgem, e pôs nela um filho, passado o tempo de gravidez a mulher deu a luz a um menino, o pescador cuidou da criança como se fosse dele e o amou como se fosse seu filho, o menino cresceu e se tornou homem, vivendo as margens do mar como se o mar fosse sua verdadeira casa, um dia o mar o chamou e ele obedeceu ao chamado, entrou no mar e nadou até se encontrar com seu verdadeiro pai de lá ele foi para outras terras mais longe e se tornou pescador. Ele se casou e teve uma única filha, que cresceu e também teve uma única filha e assim foi à geração de mulheres dessa família até chegar a sua mãe, que deveria ter uma única filha, mas você nasceu o único descendente homem do espírito do mar do fogo e da terra, a profecia da união dos espíritos está em você. Derik sentou-se, tudo aquilo era muito fantasioso para que ele pudesse acreditar, mas já tinha visto coisa de mais para não acreditar que era descendente dos espíritos que regem o planeta, a velha continuou a falar. _ Sua irmã foi levada para um lugar distante, onde vive o espírito do mar, um lugar que eu não conheço, mas já ouvi falar. _ Que profecia é essa que você está falando – perguntou Derik. _ Durante a guerra entre os espíritos um feiticeiro lançou uma maldição sobre os espíritos tirando deles o poder de usar o corpo humano e viver no meio dos homens como homens, desse dia em diante os espíritos passaram a viver somente em seu ambiente natural, mas no mundo dos espíritos tem sempre uma forma de reverter um

Page 197: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

197

feitiço, essa é a regra, a profecia foi feita e não há volta – disse a velha. _ Como você sabe de tudo isso sobre a minha vida? _ HÁ muito anos atrás eu encontrei com o espírito do mar e ele me contou tudo o que eu ti contei, e me disse que você viria para cá e que eu deveria ti ajudar a completar seu destino, e que eu ti reconheceria assim que eu ti ver. Derik ficou calado tentando digerir a historia que acabou de ouvir, então disse. _ Essa pessoa que você está falando não pode ser eu, porque você disse que sou descendente do espírito do mar, do fogo e da terra, e não do vento. _ A profecia ainda não está completa, e eu não sei como vai acabar, só sei que devo ti proteger até que se complete. A velha feiticeira se levantou andou até a praia e disse. _ Os espíritos estão chamando, eles vão se reunir em breve em um lugar muito distante precisou ir até eles. A velha, que andava nua, pagou um saco e tirou roupas de seda e se vestiu, pegou outras sacolas de pano e de pele de animais jogou sobre os ombros e saiu caminhando pela praia as margens do mar seguida pelo rapaz que corria para acompanhá-la. Chegaram a um porto onde havia um navio ancorado e seu capitão estava na rampa de embarque do navio esperando por seus passageiros, ao ver a velha que se aproximava ele tirou o chapéu e fez reverencia deixando que ela entrasse sem nada perguntar, como se a estivesse esperando, Derik viu o poder da valha negra sobre as pessoas, ou seria o poder dos espíritos sobre os homens. O navio zarpou na mesma tarde, os únicos passageiros eram a velha Calypso e o jovem Derik, alem da tripulação e o capitão em uma viagem que duraria dias. No navio Francês do capitão Jack Delevai, as moças estavam confinadas nos aposentos do capitão, à noite o capitão Jack entrou no aposento com dois pratos de sopa nas mãos, pôs os pratos sobre uma mesa ao lado da cama, sentou-se em uma cadeira ao lado de Laura que

Page 198: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

198

ainda cuidava de sua irmã na cama, Cristina estava acordada, mas ainda fraca e doente não podia se levantar, Laura pegou o prato de sopa e tentou por um pouco de comida na boca de sua irmã, mas ela se recusou a comer, a doença parecia estar mais forte que a moça, Laura estava chorando com medo de perder sua irmã, Jack se levantou da cadeira e sentou-se na cama perto de Laura, pegou o prato das suas mãos apoiou a cabeça da Cristina no travesseiro e a pôs sentada na cama, a menina estava coberta com um lençol, Laura a cobriu até o pescoço evitando que o capitão visse o corpo da jovem, Jack não tinha o menor interesse na menina, seus interesses eram em conseguir a confiança da Laura e obter as informações que ela ainda não lhe deu, com paciência e determinação o capitão Jack fez com que Cristina comesse toda a sopa que tinha no prato, mesmo querendo vomitar, não teve outra alternativa senão comer tudo. Laura ficou feliz e aliviada, pelo menos Cristina estava alimentada, agora ela podia relaxar e tentar dormir um pouco, então o capitão disse. _ Ela vai ficar bem, o medico me disse que ela só precisa descansar, me conte o que houve na ilha e o que houve com certo homem chamado Frank e o seu navio. Laura estava cansada, mas em retribuição ao que o capitão Jack fez pela sua irmã ela concordou em falar tudo que sabia, contou como o navio Perola do Rei afundou e como foram parar na ilha, como o navio pirata explodiu e sobre os pigmeus que capturaram o senhor Frank e o mantiveram cativo na ilha, a explosão da ilha e que ficaram a deriva no bote, o capitão acreditou em tudo que ela falou, mas não tinha nada que ele pudesse aproveitar então o capitão se levantou disse boa noite para a moça e para sua irmã e ia saindo do aposento quando Laura viu que nada que ela falou foi útil ao capitão, então ela se lembrou do que o senhor Pedro tinha falado ao Derik, sobre um tridente de ouro que estava na ilha e ela viu nas mãos do rei Netuno quando raptou a condessa no mar. _ O senhor não quer saber sobre o tridente de ouro? – falou atraindo a atenção do capitão. O homem parou na porta virou-se rapidamente e disse.

Page 199: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

199

_ O que você sabe sobre o tridente de ouro? _ Eu o vi. – respondeu Laura. _ No navio? _ Não, na ilha. _ Então ele foi parar na ilha, alguém o levou pra ilha? _ Não sei, mas não esta mais lá, foi levado para outro lugar assim que a ilha afundou. _Quem o levou? E pra onde o levaram? Laura pensou antes de responder, o que ela viu não se podia sair falando, ninguém iria acreditar e iria chamá-la de louca, era preciso inventar uma estória para que pudessem ficar no navio, e que o medico continuasse a cuidar de sua irmã. _ Um homem chamado Derik pegou o tridente e fugiu em um bote, não sei para onde ele foi. – disse Laura. O capitão fez cara de zangado, e sorriu satisfeito com a conversa e saiu fazendo reverencia para as moças. O capitão Jack foi ao convés, chamou o seu imediato e traçou uma rota, de volta ao porto na África, não adiantava mais ficar procurando pelo governador Frank no meio do mar, se alguém sobreviveu deveria estar em algum porto na África, e como o senhor Jack tinha navios em todas as partes logo ele saberia se alguém chamado Derik esteve em um porto à procura de navios. No dia seguinte as moças foram acordadas por um marinheiro que batia na porta com força, dizendo que elas deveriam se levantar e sair, o navio estava ancorado, Laura se levantou e levantou Cristina da cama a jovem estava fraca, mas podia andar, saíram do navio abraçadas uma a outra, um marinheiro que estava com elas lhe disse. _ O capitão Jack Delevai mandou vocês entrarem naquele navio, - apontando um navio ancorado a cinqüenta metros de distancia-, esse navio vai levá-las a Inglaterra, ele parte amanhã bem cedo. O marinheiro deixou as moças sozinhas no meio da confusão que era o porto em pleno dia de carregamento dos navios que estavam ancorados no agitado porto Africano, homens carregando sacos e barris sobre a cabeça, animais puxando carroças com canhões e barris com pólvora, o barulho das pessoas falando ao mesmo tempo cada

Page 200: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

200

qual em seu dialeto, confundindo ao som de animais mugindo, berrando, grunhindo, guinchando, urrando e o som das ondas do mar que batiam nos cascos dos navios que a cada saco, a cada barril, a cada caixa colocada em seu interior afundava um pouco mais nas águas do mar, logo as velas estariam infladas com o vento que os impulsionariam para o seu próximo destino, uma rotina que os marinheiros conheciam bem e executavam como zumbis sob a ordem do seu dono, sem questionar, apenas faziam o que lhes eram ordenados a fazer. Cristina caminhava apoiada nos ombros de Laura, andando de vagar levando esbarrões dos carregadores que não tinham tempo de desviar das moças em meio a multidão, chegando ao navio, que o marinheiro lhe mostrou, elas ficaram paradas no pé da rampa, dando passagem aos carregadores que entravam e saiam do navio pela rampa larga de madeira, no meio dos carregadores surgiu um homem usando roupas verdes parecendo ser um uniforme qualquer, ele se aproximou das moças e disse. _O capitão Delevai disse que vocês viriam, eu vou lhe mostrar o caminho. O rapaz falava com sotaque Francês, magro com cabelos pretos e pele queimada pelo sol, um marinheiro que aspirava ser comandante de um navio e, levava as coisas muito a serio, ele levou as mulheres a uma cabine que parecia ser igual a que elas estavam antes, bem mobiliadas com uma cama grande e confortável perto de uma escotilha grande que dava para ver o mar mesmo deitada na cama, tapetes vermelhos e quadros na parede pendurado sobre a cama o mesmo quadro com o retrato que havia no outro navio, o retrato do capitão Jack Delevai, com certeza esse navio também era do capitão Jack, Laura pôs Cristina na cama e sentou-se ao seu lado, um rapaz entrou na cabine com um cesto de frutas nas mãos, sem dizer nada colocou o cesto sobre uma mesa e saiu tão rápido quanto entrou, Laura pegou uma fruta sem saber o que era e comeu a metade e deu a outra metade a sua irmã que mesmo sem vontade comeu apenas para não entristecer a sua irmã que cuidava tão bem dela, seguindo as

Page 201: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

201

recomendações do marinheiro que as conduziu no navio elas não saíram da cabine. No dia seguinte o navio partiu rumo à Inglaterra com as meninas a bordo, um marinheiro levou um baú cheio de vestidos limpos a pedido do capitão Jack, Laura estava aflita com o estado de Cristina que não melhorava, sua única chance era chegar a Inglaterra e procurar um medico, mas a viagem duraria dois meses talvez Cristina não tivesse todo esse tempo. Sete dias depois de partirem da África o navio estava em alto mar longe de qualquer continente ou ilha, tudo que se podia ver era o mar infinito, os marinheiros sabiam da doença da jovem Laura e conheciam bem essa doença, já tinham visto muita gente morrer assim, e Cristina piorava a cada dia, um velho marujo entrou na cabine para levar comida às moças e vendo os cuidados que Laura tinha com sua irmã ele não se conteve e falou. _ Eu conheço bem essa doença, já vi muitos marinheiros passarem por isso, e todos morreram, não tenha esperanças com essa jovem ela está condenada. Laura estava se contendo para não chorar, mas depois dessas palavras ela se entregou ao desespero, deitou-se sobre Cristina que estava desacordada há dois dias e chorou, mas antes de sair da cabine o velho disse. _ Mas existe uma maneira de a menina se curar, eu ouvi dizer que tem um homem que pode curar qualquer doença, com ervas e magia, ele é um bruxo e vive em uma ilha perto da França, por acaso nós vamos passar por lá, se a menina estiver viva até lá talvez você possa encontrar o velho bruxo. Cristina recuperou o fôlego olhou para o marujo que se virou e saiu da cabine deixando a comida em cima de uma mesa. _ Eu não vou deixar você morrer minha irmã, eu não vou. Pegou um prato de comida e comeu, precisava estar forte para que pudesse ajudar Laura na longa viagem. Em outro navio chamado Maria Eduarda, estava viajando a velha feiticeira e Derik, se dirigindo a uma terra desconhecida, lá os espíritos se reuniriam, e lá poderia estar Suelem, a viagem era muito

Page 202: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

202

longa e Derik pensava em como as sereias poderiam nadar para tão longe e levar uma mulher com eles, isso seria impossível, então a velha lhe falou com sua voz rouca e baixa. _ Ela viajou como se estivesse sonhando, como se fosse uma sereia nadando com os peixes do mar. Derik assustou-se com a velha falando em seu idioma em vez de usar o idioma das sereias em melodia, a voz da sereia era muito mais doce e relaxante, a voz da velha era como um instrumento desafinado rouco e grave, Derik perguntou a velha. _ Você sabe falar minha língua ou estou enfeitiçado? A velha não respondeu a pergunta do rapaz e continuou com o que estava fazendo, ela jogava vários ossos de aves no chão e depois lia o que os deuses queriam lhe dizer, uma espécie de feitiçaria para ver o futuro e o passado, algo estava deixando a velha muito apreensiva algo que ela não sabia dizer o que era, e por isso passava horas jogando os ossos no chão, e às vezes ficava olhando para o mar em busca de respostas para suas perguntas, Derik percebeu a aflição da velha e lhe perguntou. _ O que está acontecendo com você? Faz dias que você está agitada olhando para o mar e consultando esses ossos, tem alguma coisa errada acontecendo por aqui? A velha continuou muda, nem olhava para o rapaz, os marinheiros passavam pela velha com muito respeito e evitavam falar com ela, o capitão do navio fazia o mesmo, e quando precisava falar com a velha ele falava com muita reverencia e respeito chamando-a de senhora, evitando olhar nos olhos dela, Derik não entendia como que a velha conseguiu que esse navio a levasse para onde ela queria, será que ela enfeitiçou o capitão e sua tripulação? Os poderes da velha se tornaram sem limites para o seu jovem acompanhante, depois que ela lhe mostrou a visão de sua vida Derik a adorava como se fosse uma deusa, mas ainda se preocupava com a profecia sobre sua vida, o que teria que passar pela frente, o que o estava esperando naquelas terras selvagens que ele tanto ouviu falar dos marinheiros do navio, o rapaz sabia que foi loucura embarcar naquele navio, mas se Suelem estiver

Page 203: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

203

viva e se a velha estiver certa ele poderia encontrar sua irmã e fugir para a Inglaterra. Depois de dias a bordo do navio Maria Eduarda, Derik conquistou a amizade do capitão do navio trabalhando com os marinheiros e ajudando na cozinha, logo todos do navio eram seus amigos, assim a viagem seria menos desagradável, já que a velha não era uma boa companhia, sempre muda presa em seu próprio mundo distante de todos, apenas olhava o mar e o horizonte como se quisesse se lançar nas águas e nunca mais voltar, há muito tempo que não falava com Derik em sua língua de sereia, e nem na língua humana, a muito tempo que não pronunciava uma só palavra, seu rosto triste e desconfiado em meio as inúmeras rugas, uma pequena e frágil velha negra, com medo do futuro, um futuro que ela mesma escolheu para si, que agora não parecia ter a mesma segurança que antes, a segurança que tinha quando seu coração transbordava de paixão e a vida era mais do que o mundo podia oferecer, nem o oceano era grande o suficiente para conter seu amor pela vida, esse amor que agora foi reduzido e trancafiado no corpo raquítico de uma velha milenar. Derik percebeu que o navio não levava carga, embora fosse um navio cargueiro, em seu porão havia apenas mantimento para a viagem, algo incomum para um navio acostumado a viajar carregado pelos mares visitando os continentes, essa viagem era muito longa para que fizessem com os porões vazios, então Derik perguntou ao capitão por que estavam viajando sem cargas no porão, e o capitão lhe respondeu. _ Pelo que a senhora está nos pagando eu daria a volta ao mundo com ela. Derik não sabia que a velha estava pagando pela viagem e isso o deixou perturbado. _ E quanto que ela está pagando pela viagem? _ Diamantes rapaz, muitos diamantes, para mim e para cada homem desse navio, diamantes suficiente para vivermos como reis para o resto de nossas vidas.

Page 204: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

204

O capitão sorria a vontade demonstrando sua felicidade e a dos seus marinheiros que compartilhavam a riqueza, o navio seguia em frente com as velas infladas sem descanso sem paradas dia e noite, o tempo estava passando e a velha feiticeira precisava chegar ao seu destino antes dos espíritos, a profecia deveria ser realizada. Em uma noite, quando os marinheiros estavam dormindo e só ficava um homem acordado no leme mantendo a direção do navio ouviu-se um canto, uma melodia doce e tranqüila vindo de algum lugar no oceano, Derik conhecia bem a melodia, embora essa melodia não contasse nada pra ele como a melodia da sereia negra que lhe contava historias apaixonadas e lugares onde somente os sonhos podem chegar, essa melodia que estavam ouvindo era diferente, não falava nada simplesmente era linda de ouvir, Derik levantou-se e foi para a amurada do navio onde os marinheiros já estavam procurando de onde vinha a canção, enquanto outros tentavam tapar os ouvidos com as mãos ou com panos dizendo que eram as sereias que queria matá-los, Derik percebeu o que estava acontecendo, havia sereias no mar, mas não para matar os marinheiros e sim para falar com a velha Calypso que debruçada sobre a amurada cantava na língua das sereias, os marinheiros pareciam não perceber o que estava acontecendo, todos estavam perturbados demais para notar que a velha estava falando com as sereias, mas Derik percebeu, de repente a canção parou e o silencio tomou conta do navio, não se ouviu nem um só som dos marinheiros ou das sereias, apenas o mar continuava com seu resmungo manso e calmo sob a luz da lua cheia que clareava o navio, os marinheiros retornaram para seus aposentos olhando uns para os outros como se não estivessem entendendo nada, Derik ficou no convés com a velha olhando para o mar vazio. _ O que elas estavam dizendo? – perguntou Derik. A velha respondeu em linguagem humana, com a voz ainda mais rouca que antes. _ Elas disseram que falta pouco para que os espíritos cheguem e que devemos nos apresar. Derik notou algo de estranho na voz da velha Calypso, ela não falava mais na língua das sereias, parecia que ela estava tentando

Page 205: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

205

esconder alguma coisa do rapaz, o que poderia ser, será que era sobre a profecia ao seu respeito? A viagem não estava mais tão calma quanto antes, os marinheiros estavam apreensivos e temiam pelo que encontrariam no mar dali para frente, o canto das sereias naquela noite os deixou com muito medo, as historias que ouviram sobre essas criaturas eram pavorosas, o que antes eram lendas agora se tornou realidade. Dois dias depois, ao meio dia depois de comerem suas refeições, todos os tripulantes do navio estavam parados conversando contando o que fariam com suas partes do pagamento que receberam da velha feiticeira, o mar estava calmo, o vento estava fraco e o navio reduziu muita a velocidade, o capitão do navio estava analisando um mapa náutico quando ouviram uma melodia que já tinham ouvido antes, era uma sereia, todos correram para ver de onde vinha o canto, foram para a amurada vasculharam o mar em busca das sereias, mas a melodia vinha de dentro do navio, os marujos viram a velha em pé na proa com as mãos levantadas olhando para o céu, a melodia acalmava os corações dos homens e todos ficaram olhando parados hipnotizados enquanto a velha cantava sua melodia, Derik estava como os outros, ouvindo sem falar nada, então as velas se inflaram com violência e o navio foi arremessado para frente jogando os homens no chão, então a velha parou de cantar e os homens saíram do transe, caídos no convés eles não se levantaram, ficaram olhando para a mulher em pé diante deles, encurvada pelo tempo se segurando, para não cair, apoiada em seu cajado de madeira enfeitado de colares de dentes de animais e um crânio na ponta superior. Então o capitão gritou para que todos se levantassem e tomassem seus lugares, pois o navio estava se movendo rápido demais, o capitão percebeu o que a velha feiticeira fez, ele estava em pé na porta da sua cabine tão assustado quanto os outros, mas como era um homem acostumado ao comando de navios ele não podia deixar que situações, por mais estranhas que fossem desviassem a atenção dos marinheiros e tirassem seu comando sobre os homens, os marinheiros obedeceram ao comando do capitão, a situação do navio era mais importante do que a velha que cantava como uma sereia, o capitão fazia o que podia

Page 206: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

206

para que todos se ocupassem com seus trabalhos e não pensassem no ocorrido na proa do navio, mas isso era quase impossível, a mente dos marinheiros estava dividida entre o que estavam fazendo e o que estava acontecendo no navio, a viagem ficou muito tumultuada a beira de um motim, uns queriam jogar a velha no mar com o Derik com medo do que viria pela frente e para onde ela os estavam levando, outros achavam que se a lançassem no mar ela poderia enfeitiçar os homens e matar a todos, eles acreditavam que ela era uma sereia amaldiçoada, os outros marinheiros achavam que ela era apenas uma bruxa que levaria o navio para a destruição, portanto seria melhor matá-la e voltar pra casa com os diamantes em segurança, o capitão viu a situação que tomava conta do navio e resolveu intervir antes que algo pior acontecesse, chamou todos os marinheiros no convés e disse. _ Senhores, nos temos um trabalho a fazer, somos marinheiros e conheço alguns de vocês há muitos anos, já fizemos várias viagens com cargas estranhas, e sempre entregamos as cargas nos portos certos, nunca perguntamos o que estávamos carregando, simplesmente carregamos o navio nos portos e descarregamos em outros portos, se nos pagarem pelos nossos serviços nos temos o dever de entregar a carga em segurança, já lutamos com piratas e vencemos, já passamos por tempestades e sobrevivemos, agora temos uma carga a entregar e eu pretendo entregar no porto que nos pagaram para entregar, eu como seu capitão espero que todos os senhores cumpram com seu dever, e trabalhe como sempre trabalhamos. O discurso do capitão fez com que os marinheiros recobrassem a razão, e pôs fim a contenda entre os homens, todos voltaram ao trabalho em silencio, mas passaram a vigiar a velha kalypso e ao Derik. O vento forte que empurrava o navio continuou a soprar por toda viagem, que durou menos tempo que esperavam, depois de duas semanas um marinheiro avistou terra e chamou o capitão, Calypso se aproximou e lhe mostrou o caminho que deveria seguir, foram em direção a uma ilha com uma montanha com formato de uma cabeça de cachorro, o dia estava claro com o céu limpo, a ilha era pequena e verdejante, de longe se podia ver uma caverna ao pé da montanha

Page 207: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

207

entre as árvores, o capitão levou o navio com destreza entre as pedras até a parte mais rasa do mar, onde o navio não podia mais navegar, então o capitão ordenou que baixassem um bote e puseram a velha dentro e depois Derik também desceu ao bote com mais dois marinheiros com os remos nas mãos, remaram em direção a ilha levando os passageiros até a praia povoada por pássaros barulhentos que aninhavam entre as pedras que formavam a pequena praia, deixando-os na ilha os marinheiros voltaram para o navio, Derik ficou olhando o bote se afastar e subir de volta ao navio, agora a velha era sua única companhia, alem dos pássaros que davam vôos rasantes para defender seus ovos nos ninhos. Kalypso e Derik permaneceram na praia sentada na areia olhando o navio dando a volta e tomou o mar aberto com as velas infladas rumo ao horizonte e sumir na linha imaginariam. Durante aquele dia Kalypso permaneceu sentada sobre seus calcanhares olhando para o mar, Derik sentou-se nas pedras protegendo-se dos pássaros raivosos, depois de horas sentados ali a velha se levantou e caminhou em direção a montanha que ficava a poucos quilômetros da praia, Derik a seguiu sem falar nada, no fundo ele estava com muito medo do que haveria de encontrar, a lembrança da outra ilha que esteve antes ainda perturbava seus pensamentos, a velha andava com rapidez entre as árvores e pedras, Derik teve dificuldade em segui-la, parecia que ela conhecia bem a ilha, seus passos eram firmes e calculados não escorregava nem perdia o equilíbrio, ao contrario de Derik que escorregava e caia tentando acompanhá-la até que chegaram ao pé da montanha em frente à boca da enorme caverna escura, estava anoitecendo e os morcegos saiam para suas caçadas noturnas, eram milhares de morcegos voando para fora da caverna ao mesmo tempo com muito barulho de bater de asas e seus guinchos, Derik se desviava da rota dos morcegos, Calypso não se incomodava e continuava entrando apoiando-se no cajado, Derik se deteve na entrada por uns segundos, apreensivo com a escuridão olhando a velha que sumia caverna adentro, Derik se apressou para acompanhar a velha e escorregou mais uma vez caindo de boca em uma pedra que machucou e começou a sangrar, de repente a velha

Page 208: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

208

apareceu ao seu lado Derik levou um susto ao vê-la, há um segundo ela estava sumindo na escuridão da caverna e de repente ela aparece ao seu lado como um fantasma, mas o que mais o assustou foi a cara que ela fez ao ver o sangue escorrendo nos lábios do rapaz, ele limpava com as mãos deitado no chão olhando para a velha que se abaixou quase tocando na boca de Derik com o nariz, cheirando o sangue esparramado pelo rosto e escorrendo pelo pescoço molhando a gola da camisa branca, então algo aconteceu, a velha aspirou fortemente o cheiro do sangue e por um segundo seu corpo se transformou na sereia negra de corpo esguio olhos claros como as águas salgadas do mar, enquanto ela prendia o fôlego permaneceu naquela forma, alta e jovem, o perfume que seu corpo exalava era doce como o aroma que o vento fresco matinal trás dos oceanos, em nada lembrava a velha enrugada com cheiro de cadáver, não podendo mais prender o fôlego ela aspirou, de vagar retomou o corpo da frágil velha maltratada, de cabeça baixa com vergonha do seu corpo horrível ela se levantou e continuou a andar caverna adentro, triste e zangada não falou uma só palavra, Derik levantou-se rapidamente e a seguiu com a boca ainda sangrando em meio a revoada dos morcegos. CAPITULO XIV A casa da madame Dolores Cristina e Laura desembarcaram do navio em um porto na França, seguindo o conselho do capitão do navio foram em direção a uma taberna onde poderiam conseguir abrigo e comida por um tempo e, de acordo com o velho marinheiro o curandeiro frequentava essa taberna. A taberna era frequentada por marinheiros, viajantes, jogadores de pôquer, bêbados e criminosos, as únicas mulheres no local eram as prostitutas que serviam as mesas, ao verem as meninas entrando os homens pararam de falar e jogar, olharam para as meninas entusiasmados com a chegada de mulheres novas e bonitas, Cristina apoiada no ombro da irmã estava lúcida e com medo de entrar naquele

Page 209: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

209

lugar, alguns homens se levantaram e foram recepcioná-las na porta, as prostitutas olharam uma para as outras e para as meninas, então uma senhora loira com os cabelos soltos e longos, usando um vestido branco com um laço vermelho em volta da larga cintura e um decote que deixava a mostra parte dos pequenos seios, aparentando ter uns cinqüenta anos com o vigor de uma adolescente, a maquiagem tomava todo seu rosto tornando sua pele mais jovem que realmente era, alta e gorda, se levantou do colo de um marinheiro pequeno e magro que se sentiu aliviado ao ver o peso que saiu de cima de suas pernas, essa mulher era a senhorita Dolores cafetina e dona da taberna, ela correu na frente dos homens que se levantaram e se pôs entre eles e as meninas, com as mãos na cintura encarou as meninas e disse. _ Ou estão perdidas ou querem trabalho, acho que posso aproveitar duas pombinhas tão jovens e bonitas e se forem virgens será melhor, mas se não querem trabalho então caiam fora daqui. _ Nós não queremos trabalhar, o capitão do navio Delevai nos mandou aqui para falar com uma mulher chamada senhorita Dolores, ele me disse que essa mulher poderia nos dar abrigo e comida até podermos viajar para a Inglaterra e se alguém puder me dar uma informação sobre um homem que pode curar todas as doenças, um curandeiro Francês, a senhora já ouviu falar dele? A senhorita Dolores viu a fragilidade da menina Cristina que estava apoiada em sua irmã, olhou para os homens ao seu redor e o silencio da taberna, então gritou para que as suas serviçais continuassem a tocar as rabecas e que todos continuassem a se divertir, a musica tocou e encheu o lugar de vida, todos voltaram aos seus afazeres e se esqueceram das meninas, Dolores convidou as irmãs a entrar e subiram as escadas largas enfeitadas com flores e as levou para um quarto, o quarto era todo enfeitado com cortinas de veludo vermelho, a cama era grande rodeada de um véu de seda também vermelha, os travesseiros os lençóis e o cobertor eram de um veludo azul brilhante, havia um quadro com a imagem da cafetina gorda pendurado na parede.

Page 210: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

210

_ Eu sou a senhorita Dolores, ponha a menina na cama, de onde vocês são? O que fazem na França? O que houve com a menina? Qual o seu nome? Dolores falava sem parar, não dava chance para que Laura respondesse, Cristina sorria olhando a mulher falando, mas ainda não tinha força para andar sozinha e os degraus da escada a deixou cansada, Laura a pôs na cama e sentou-se ao seu lado, Dolores parecia preocupada com a saúde da jovem, mandou que Laura pegasse uma jarra que estava em cima da mesa e uma toalha na gaveta ao lado da cama, Laura obedeceu, Dolores molhou a toalha e colocou sobre a testa de Cristina que ardia em febre, Dolores continuava a falar. _ Vocês estão com fome? Vou mandar trazer uma sopa quente pra vocês duas, como é mesmo o seu nome menina? _ Meu nome é Laura e ela é minha irmã seu nome é Cristina. _ Oi Cristina oi Laura, que bom que vocês vieram parar aqui, esse não é o melhor lugar para que duas meninas entrassem, mas eu não vou deixar que nada de ruim aconteça com vocês vou cuidar de vocês duas. Dolores cobriu Cristina com o cobertor azul pediu que não saíssem do quarto, e disse. _ Tenho que voltar para o salão tenho um show para fazer, sou cantora e canto muito bem, vocês vão ouvir daqui, logo alguém trará comida para vocês não se preocupem com isso. Dolores se levantou e tirou o vestido branco, pegou um longo vestido negro de um armário e vestiu, o vestido negro era longo na frente e muito curto atrás, por ser gorda quando abaixava deixava as nádegas a mostra, mas não tinha decote na frente, sorrindo ela se despediu das meninas e foi ao encontro do seu publico, Cristina e Laura ficaram sozinhas no quarto, rindo do que viram quando Dolores ficou de costas para elas, horas depois uma mulher tão maquiada quanto à senhorita Dolores entrou no quarto e chamou pelas meninas para que a acompanhasse até outro quarto, Laura pegou sua irmã e seguiram a mulher que fumava um longo cigarro e andava com uma das mãos na fina cintura, ela se chamava Vivi, as irmãs seguiam atrás olhando o jeito engraçado de a mulher andar, rebolando como se seu

Page 211: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

211

quadril estivesse solto do resto do corpo, tudo isso era muito diferente de tudo que já tinham visto antes, e as meninas se divertiam com aquilo, se alojaram em um quarto menor e menos enfeitado, havia apenas uma cama com lençóis brancos e travesseiros sem fronhas, mas estava tudo muito limpo, trouxeram uma tigela de sopa quente e elas se serviram e passaram a noite na taberna da senhorita Dolores ouvindo a música e os gritos no salão, e as risadas de homens e mulheres no corredor, a noite foi longa a diversão da casa da senhorita Dolores costuma durar a noite inteira apesar de tanto barulho elas adormeceram. No dia seguinte Laura acordou com a luz do sol entrando pela janela batendo em seu rosto, eram oito horas da manhã e a casa estava em silencio, Laura deixou Cristina dormindo e saiu do quarto para procurar pela senhorita Dolores, Laura queria encontrar o curandeiro e curar sua irmã daquela doença, o corredor estava vazio em nada parecia com o corredor da noite e o barulho constante que durou quase toda a noite, chegou à porta do quarto da senhorita Dolores e se preparou para bater quando ouviu uma voz falando. _ Eu não faria isso se fosse você. Era uma mulher de meia idade com uma vassoura e uma balde nas mãos, usando um avental e lenço na cabeça cobrindo parte dos seus cabelos grisalhos. _ A senhora também trabalha aqui? – perguntou Laura. _ Sim, mas não do jeito que você está pensando, eu só faço a limpeza pelas manhãs. _ Eu queria falar com a senhorita Dolores, esse é o quarto dela não é? _ É, mas ela não gosta que a acordem antes das três da tarde, alias ela não gosta que a acorde hora nenhuma. _ Eu queria perguntar se ela sabe onde posso encontrar o curandeiro. _ Quem é esse curandeiro? _ É um homem que tem a cura para todas as doenças, ele pode curar minha irmã que está doente.

Page 212: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

212

_ Não seja tola menina esse homem não existe, você está procurando por uma lenda. _ Um marinheiro me disse que conheceu esse homem aqui nessa taberna, e que eu deveria falar com a senhorita Dolores, ela podia me ajudar a encontrar o curandeiro. _ Pobre criança, você foi vendida, esse marinheiro ti trocou por favores que a senhorita Dolores pode oferecer a ele, não é a primeira vez que fazem isso com meninas à procura de ajuda e longe de casa, você foi enganada. _ Não pode ser a senhorita Dolores cuidou de mim e da Cristina ela não pode estar fingindo. _ Quando você acordar me avise. A faxineira pegou a vassoura e foi para o salão cantarolando uma canção em francês, Cristina voltou para o quarto e sentou-se ao lado da irmã acariciando seus cabelos loiros, Cristina ainda estava adormecida, seu corpo estava frio e ela suava muito, Laura não sabia o que fazer, se o que a mulher falou for verdade como poderia tirar Cristina da casa, e agora como poderiam voltar para a Inglaterra se não tinha dinheiro para pagar a passagem dela e de sua irmã, como encontrar a cura para Cristina que parecia não melhorar. As horas passaram e as meretrizes começaram a acordar, ruídos de passos arrastando os pés pelo corredor, vozes de mulheres rindo enquanto outras reclamavam de alguém, Laura saiu mais uma vez do quarto, ao abrir a porta deparou-se com a senhorita Vivi que estava parada na porta esperando que as meninas acordassem, o estado de Vivi era lastimável, com os cabelos desgrenhados e a maquiagem toda borrada com o batom vermelho esparramado pelo rosto e um borrão de sombra dos olhos que escorreu pelas faces levada pelas lagrimas, visivelmente a mulher chorou muito nessa noite, Laura notou que havia uma mancha de sangue no seu espartilho de cor vinho, a única peça de roupa que ela estava usando cobrindo apenas o bojo dos seios com os mamilos a mostra, Vivi olhou para Laura com os olhos semi cerrados de cima para baixo, já que Vivi era muito maior que Laura, e falou.

Page 213: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

213

_ Você precisa descer e comer alguma coisa, depois vai trabalhar para pagar sua estadia e da sua irmã. _ Nós não vamos ficar aqui, eu só quero uma informação e vamos embora. _ Vocês dormiram e comeram aqui, então tem que pagar pelo que comeu e pelo quarto que dormiram, vamos logo. _ Está bem, eu vou trabalhar para pagar pelo quarto e pela comida e iremos embora. Laura seguiu a senhorita Vivi pelo corredor, chegaram ao salão no piso inferior, lá havia muitas mulheres sentadas comendo bebendo e falavam muito, umas tomavam café e outras bebiam conhaque, Laura se sentou em uma cadeira e logo a faxineira apareceu com uma caneca de café e um pedaço de pão oferecendo a moça acanhada e com medo lembrando-se do que a faxineira lhe disse horas atrás, em uma mesa ao seu lado uma mulher velha e gorda chorava descontroladamente com as mãos cobrindo o rosto, a faxineira se aproximou e disse. _ Essa é a senhorita Durval, ela sempre chora pela manhã, ela diz que é para esticar a pele do rosto, pra mim ela é louca. Então Vivi se aproximou e sentou-se ao lado da Laura com uma caneca de conhaque e um pedaço de pão, sua maquiagem continuava borrada igual às outras vinte e cinco mulheres do lugar, todas com o rosto sem lavar, mas o cheiro de perfume impregnava o salão, eram tantos aromas fortes misturados pelo ar que Laura sentia náusea, o café estava forte sem açúcar ideal para curar a ressaca das meretrizes, algumas preferiam se curar com mais bebida alcoólica, a senhorita Vivi terminou de beber seu conhaque pôs o pedaço de pão sobre a mesa e se levantou, chamou Laura e a levou para a cozinha da taberna, a faxineira estava lá, em pé, limpando o chão, Vivi mostrou um monte de copos sujos sobre uma mesa, e disse a Laura. _ Lave todos os copos e não deixe cair nem um a senhorita Dolores não gostaria que isso acontecesse, e se quebrar você pagará. Laura não teve alternativa senão obedecer passou a metade do dia lavando copos, depois dos copos lavou os pratos, depois arrumou as cadeiras e as mesas do salão, já estava escurecendo quando Laura pediu para levar comida para sua irmã, Vivi falou.

Page 214: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

214

_ Não se preocupe ela já foi alimentada e cuidamos da sua higiene pessoal, mas se quiser pode levar alguma coisa pra ela e volte logo a senhorita Dolores acordou e quer falar com você. Laura subiu e levou uma tigela de sopa quente para Cristina, a menina estava acordada sentada na cama, Laura sentou-se ao seu lado e disse. _ Soube que ti alimentaram e ti deram banho, é verdade? _ Aquelas malucas me ameaçaram se eu não comesse tiraram minhas roupas e me deram um banho, quase me esfolaram de tanto me esfregar com uma bucha dura, onde você esteve o dia todo? –perguntou Cristina. _ Trabalhando e perguntando pelo curandeiro. _ Eu chamei por você e uma mulher entrou para mi ver, ela me ajudou e me disse que você estava limpando o chão para pagar a minha comida, isso é verdade? _ É, nós temos que pagar pelo que comemos isso é justo, não se preocupe nós sairemos daqui pela manhã. Então bateram na porta, era a senhorita Vivi, agora sem maquiagem havia saído do banho enrolada em uma toalha branca e os cabelos molhados. _ A senhorita Dolores está esperando no salão. – disse Vivi. Laura mandou Cristina se deitar e a cobriu dizendo que logo voltaria para fazer companhia a ela, saiu do quarto acompanhando Vivi, descendo pelas escadas, Dolores estava sentada em uma cadeira de madeira forrada de tecido de veludo azul com detalhes em dourado, parecendo fios de ouro, a mulher gorda usava um roupão da mesma cor da cadeira, seu rosto estava tão maquiado quanto na noite anterior, seu perfume era mais forte do que das outras mulheres, com o cabelo bem arrumado e o sorriso generoso, olhou para Laura e disse. _ Olá criança, como vai sua irmã? _ Ela esta muito doente, eu trabalhei o dia todo para pagar a comida e o quarto, agora acho que posso ir embora de manhã. _ Mas ainda não discutimos o valor da sua comida e da sua irmã, e nem o valor do quarto por duas noites. Dolores falava com a calma e a paciência de uma mãe amorosa.

Page 215: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

215

_ Então vamos discutir o valor que tenho que pagar pela nossa estadia. –disse Laura. _ Amanhã a gente discute isso, agora já está anoitecendo e os clientes logo estarão entrando por aquela porta, as mulheres precisam de ajuda para se arrumarem, por favor, ajude-as a se maquiarem, elas são tão lerdas, só conseguiram se aprontarem quando os clientes já estiverem perguntando por elas. Vivi levou Laura para um quarto onde havia quatro moças se vestindo, Vivi entrou depreca pegou um vestido em uma gaveta trocou-se rapidamente falando sem parar com as outras que também falavam muito, Laura estava em pé olhando procurando algo para fazer, então uma das moças pediu, com delicadeza, para que Cristina a ajudasse a pentear os longos cabelos negros lisos e brilhantes, Laura estava acostumada a pentear as nobres do palácio do conde e a penteou com facilidade, os cabelos da mulher chegavam ao quadril, outra mulher pediu que Laura a ajudasse a apertar seu espartilho forçando a tornear a cintura, enquanto apertava o espartilho Laura viu uma tatuagem na costa da mulher, eram letras feitas a ferro quente como as marcas em animais, Laura parou de apertar e olhou aterrorizada para a mulher, a meretriz olhando no espelho viu a cara da menina, sorriu e disse. _ O que foi menina, nunca viu uma mulher marcada antes? Laura se lembrou de uma cena que viu na cocheira do palácio do conde Wesley, quando soldados do conde seguraram um homem que lhe devia dinheiro enquanto o conde o marcava com um ferro incandescente que ele usava para marcar os cavalos. _ Me desculpe, eu não queria te ofender. – disse Laura. _ Ganhei isso do meu pai quando ele descobriu que eu estava grávida, ele disse que era para que todos saibam que eu sou uma prostituta e, fui expulsa de casa. _ Você tem um bebê? Onde ele está? – perguntou Laura tentando descontrair. _ Não está aqui, aqui não é lugar para se criar um bebe, eu tenho que trabalhar e ganhar meu dinheiro e sustentar meu filho alem disso tem homens que gostam de mulher que está amamentado.

Page 216: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

216

Vivi estava se maquiando e falou em tom de deboche. _ São uns depravados degenerados. As outras mulheres que se arrumavam no quarto começaram a rir, a mulher marcada continuou. _ Vocês têm inveja só porque eu sou a mais bonita da casa. Laura ainda tentava amarrar as tiras do espartilho, então Vivi lembrou-se de apresentar as mulheres para Laura. _ Deixe-me apresentar essas doidas para você, a cabeluda ali é a senhorita Edna, a peituda bonitona é a senhorita Mastranja, a loira de olhos azuis ali é a senhorita Mary, e a outra, não menos doida, é a senhorita Eduarda. Todas riam com as brincadeiras da senhorita Vivi o clima entre as mulheres da casa da senhorita Dolores era de paz e harmonia, as divergências eram resolvidas no quarto da cafetina, às vezes com muito rigor, surras de chicotes e prisão no porão da casa faziam parte das punições, quase todas as mulheres da senhorita Dolores, como eram conhecidas pela população local, já tinham experimentado o peso das mãos e a força do chicote no quarto da senhorita Dolores. Alguém passou correndo pelo longo corredor batendo em todas as portas, era o sinal para que todas se apresentassem no salão, os clientes estavam chegando, a noite estava para começar para as meretrizes da taberna do porto Francês Marques Jean Pierre, as mulheres se apressaram atendendo ao chamado da senhorita Dolores que esperava no salão sentada em seu trono com seu roupão azul, sorrindo para os homens que vinham até ela para cumprimentá-la e oferecer-lhe presentes, em poucos minutos todas as mulheres da casa estavam bebendo e rindo entre os homens tirando todo dinheiro que podiam dos clientes que só queriam diversão e prazeres, Laura voltou para o quarto para ficar ao lado da Cristina, contou tudo o que viu tentando distrair a menina, a conversa estava tranqüila e animada até adormecerem. No meio da madrugada Vivi entrou no quarto e discretamente chamou pela Laura sem acordar Cristina. _ A senhorita Dolores pediu que você descesse ao salão. – disse Vivi.

Page 217: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

217

Laura se levantou e novamente acompanhou Vivi, o salão estava vazio, todos os clientes tinham partido e a senhorita Dolores estava sentada em uma cadeira em companhia das suas mulheres, ao ver Laura descendo pela escada Dolores sorriu e estendeu os braços chamando a menina para perto de si. _ A minha criança, vem pra perto da velha mãe Dolores, vem me dar um abraço minha querida flor perfumada. Laura ficou confusa com a atenção que Dolores estendia a ela, ao mesmo tempo cobrava pela hospedagem e pela comida, Dolores continuava a sorrir se levantou para abraçar Laura com seus braços grandes e fortes, ela ainda estava com o roupão azul, mas o roupão estava desamarrado, ao levantar-se o roupão abriu-se, Dolores estava nua abraçando a pequena menina quase a sufocando apertado-a contra seu corpo perfumado e volumoso. _ Está na hora de trabalhar querida, arrume as mesas e as cadeiras, deixe tudo no lugar para que quando a mulher da limpeza chegar possa encontrar tudo no lugar certo, e faça a limpeza sem quebrar nada. - Disse Dolores a Laura. _ Senhorita eu gostaria de saber quanto eu preciso trabalhar para pagar pelo que usei na sua casa? _ Agora não querida à noite foi cansativa, eu e as meninas precisamos descansar depois a gente fala sobre isso. Dolores subiu as escadas e entrou em seu quarto, trancou a porta e não saiu mais de lá, as outras mulheres ficaram conversando e bebendo o resto do que encontravam nos copos deixados na mesa, todas estavam bêbadas e dificultavam o trabalho da menina que estava acreditando que tinha caído em uma armadilha, mas precisava sair dali, aos poucos as mulheres foram para seus quartos e Laura ficou sozinha no salão, quando terminou o sol estava nascendo e ela foi se deitar ao lado da Cristina e dormiu, Laura acordou com Cristina sentada ao seu lado na cama olhando para a janela, Laura se levantou e disse. _ Bom dia, o que está olhando? _ Um pássaro que pousou na janela, ele é livre para ir para onde quiser quando quiser, enquanto nós estamos presas nessa casa.

Page 218: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

218

_ Quem disse isso para você? – perguntou Laura. _ Eu vou levantar e ajudar você no trabalho. _ Não, você ainda está doente, eu faço tudo sozinha. _ Eu estou bem melhor já posso trabalhar pela comida que comi e pela cama que dormi. Cristina se levantou com muito esforço e caminhou até a porta, Laura a acompanhou com medo que ela caísse, Cristina sorriu e disse. _ Você está vendo? Eu posso trabalhar... Não acabou de falar e desmaiou, Laura tentou segurar, mas não teve tempo, Cristina caiu batendo a cabeça no assoalho de madeira, Laura a levou de volta para a cama a cobriu com um lençol e saiu do quarto, foi buscar algo para a sua irmã comer, a cozinha estava cheia de gente, já era mais de meio dia e o cheiro de comida estava no ar, Daisy a cozinheira, tinha feito ensopado de carne de carneiro, Laura tirou um pouco para ela e pôs um pouco em uma tigela para sua irmã, Vivi apareceu por trás da Laura e disse. _ Enche a tigela querida, você e a menina vão precisar de força para continuar vivas, sem comer não se pode viver. Laura olhou para trás e viu Vivi da mesma situação que no dia anterior, Vivi pegou a tigela da mão da moça encheu com muita carne e caldo, e disse. _ Assim está bom, vai e leva pra sua irmã, e coma bastante também, a senhorita Dolores quer você bonita e forte para trabalhar hoje à noite. Laura tremeu de medo, o que será que a senhorita Dolores queria com ela nessa noite, que tipo de trabalho ela estava falando, no momento era melhor levar a comida para Cristina e depois pensar sobre isso, horas depois, a senhorita Vivi entrou no quarto sorrindo e sem maquiagem no rosto, ela parecia ser bem mais velha sem a maquiagem, vestindo apenas as roupas de baixo, com os cabelos lavados preso debaixo de uma toalha, e um suave cheiro de jasmim. _ Olá como vão às meninas? Laura se ajeitou na cama esperando uma punhalada no peito, Cristina estava sentada e sorriu para Vivi. _ Estamos bem, obrigada. –respondeu Cristina.

Page 219: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

219

Cristina realmente parecia estar bem, estava corada e falante seu sorriso de menina inocente brilhava em seu rosto, Vivi parou em frente as duas e disse. _ Aquele cozido faz milagres, mas temos que ir Laura, hoje é a sua grande noite, vem comigo vamos ti transformar em uma princesa, depois você pode vir se mostrar para sua irmã. Laura se levantou com um falso sorriso beijou Cristina e novamente acompanhou Vivi pelo corredor, entraram em um quarto onde havia uma enorme tina cheia de água morna perfumada com pétalas de rosas e outras flores aromatizantes, a senhorita Mastranja entrou no quarto e disse. _ Olá senhoritas, prontas para transformar a bela em uma princesa? Mastranja e Vivi estavam apenas com as roupas de baixo, e tiraram toda roupa da Laura. _ Vamos menina entre na tina, a água esta morna vamos ti dar aquele banho. –falou Mastranja. Laura passou a vida dando banho em outras mulheres, primeiro sua mãe que ficou doente quando era criança, depois em sua irmã que era filha de seu pai com outra mulher que ele se casou quando sua mãe morreu, e por ultimo na condessa Sophie, mas agora era ela que seria lavada por outras mulheres, Laura estava gostando da idéia de ter alguém para lhe dar banho, afinal fazia tempo que não tomava um bom banho, entrou na tina, a água realmente estava morna e agradável, as meretrizes sabiam como dar banho em alguém e falavam sem parar, contavam coisas que aconteceu na noite anterior, das brigas que a senhorita Dolores tinha que intervir, com sorrisos e caricias ela conseguia acabar com qualquer desavenças entre os homens, Laura ouvia com atenção achando graça das aventuras que as mulheres da senhorita Dolores passavam a cada noite, tudo parecia mágico e fascinante uma vida paralela onde não havia ninguém para dar ordens ou castigar, onde se é respeitada e protegida. _ Chega de banho, agora venha. –falou Vivi. Laura saiu da tina e as mulheres a enrolaram em uma toalha enxugando seu corpo e seus cabelos, a puseram em uma cadeira em frente a uma penteadeira com um enorme espelho, Mastranja a

Page 220: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

220

penteou com cuidado desembaraçando os cabelos que há muito tempo não era penteado enquanto Vivi preparava a maquiagem e o vestido, certamente Laura não iria lavar copos ou arrumar as mesas, nervosa ela imaginava o que a senhorita Dolores preparou para ela nessa noite. _ Não chore menina senão vai borrar a maquiagem. –disse Vivi. Mas Laura estava nervosa demais pensando no que iria acontecer com ela, Mastranja viu o nervosismo da moça e disse. _ Por que esse choro? Não vai acontecer nada com você. _ Então por que estão me arrumando desse jeito? – e começou a chorar derramando lagrimas. Vivi parou de maquiar Laura e sentou-se na penteadeira olhando para o rosto da menina e sorriu com um ar tranquilizador. _ E o que você acha que vai acontecer com você hoje? Laura desviou o olhar dos olhos da senhorita Vivi e não respondeu à pergunta, Mastranja também parou de arrumar os cabelos da moça e sentou-se do outro lado da penteadeira e também sorriu achando graça do sofrimento da menina, então Vivi disse. _ Preste muita atenção no que eu vou falar, a senhorita Dolores quer que você fique muito bonita hoje porque ela vai ti apresentar a uns homens especiais, você viu aqueles homens bêbados no salão, brigando e cheirando mal, marinheiros, mercadores viajantes e camponeses sujos que parece que nunca tomaram um banho na vida? Nas noites de quinta a taberna recebe visitantes ilustres, são homens ricos e poderosos, eles se reúnem em uma sala reservada longe dos bêbados e do barulho, só as mulheres mais jovens e bonitas podem entrar lá, e você será a estrela da noite, por ser virgem e bonita. Então a senhorita Mastranja interrompeu Vivi. _ A senhorita Dolores vai leiloar sua virgindade, mas não vai ti entregar a nenhum deles. _ Não vai me entregar a nenhum deles hoje, mas e amanhã? – protestou Laura. _ Eles só vêm as quintas, a não ser que a oferta seja muito grande, você tem a oportunidade de ser exclusiva de um só homem nesse caso ninguém poderá tocar em você, somente o homem que te comprar, você nunca terá que lavar um copo na vida não precisara descer ao

Page 221: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

221

salão, só descerá quando o seu comprador te chamar, as vezes eles viajam e ficam meses sem aparecer, você terá uma vida de rainha até que apareça outra jovem mais bonita que você, e virgem, e ele se interessa e a compre, então você será devolvida a senhorita Dolores. –respondeu Mastranja. _ Eu prometi a minha virgindade a um homem. _ Não seja tola menina, esse é um sonho que acabou a realidade agora é outra, você tem a oportunidade de sair daqui com um homem rico. –disse Vivi. _ Isso não está certo, eu não nasci para essa vida, eu não sou uma meretriz e a minha irmã, como ela vai ficar? – falou Laura entre lagrimas. _ Escute bem, - falou Vivi -, eu sou meretrizes sim, não me orgulho disso, mas essa é a vida que eu levo que nós levamos quem você acha que nos estendeu as mãos quando estávamos na rua da amargura, quando ninguém mais nos aceitava por motivos que não tínhamos como contornar, assim como você e a sua irmã, aqui vocês acharam cama quente e comida boa, agora faça o que a senhorita Dolores mandar e tudo acabará bem para vocês duas. Mastranja voltou a penteá-la, Vivi pegou um lenço perfumado e limpou as lagrimas do rosto da moça, Mastranja soluçou e disse. _ Quando eu engravidei o pai do meu bebe me ameaçou dizendo que me mataria se eu contasse para alguém que ele é o pai, ele é casado e é um homem muito importante, o meu pai bêbado e os meus irmãos, quando descobriam a gravidez, me agarraram me bateram tiraram as minhas roupas me marcaram a ferro, eu implorava para que não matassem a mim e o meu bebê, minha mãe assistia tudo da porta da casa gritando me chamando de prostituta mandando meus irmãos me baterem mais, então me jogaram para fora de casa, eles não queriam passar a vergonha de ter uma filha solteira com uma criança nos braços, meu pai e a minha mãe diziam que eu nunca casaria com um homem descente e que eu sou uma vergonha para eles, eu fiquei nua jogada na rua com o corpo sangrando com dores na barriga, uma mulher que passava me deu um vestido velho e ma ajudou a vestir, um dia eu estava em frente de um armazém mendigando um pedaço de

Page 222: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

222

pão para quem passasse por ali, uma das meninas da senhorita Dolores estava comprando farinha no armazém me viu pedindo comida com a barriga enorme, me convidou para vir falar com a senhorita Dolores, ela não me fez perguntas, me deu um quarto e comida, me deram um banho vestidos limpos, na noite me apresentaram aos homens e logo foi aceita por todos, e aqui estou eu, quando meu filho nasceu eu tive que levá-lo para uma casa de uma mulher conhecida da senhorita Dolores, pago para ela cuidar do meu filho como se fosse filho dela, duas vezes ao dia eu vou visitá-lo para amamentar e dar o dinheiro da mulher isso já faz oito meses, quando ele crescer eu não quero que saiba o que eu fiz e faço para sustentá-lo. Em uma noite eu encontrei o pai do meu filho aqui na taberna e ele se tornou um cliente meu, mas agora ele me respeita e me dá o que eu quero, jóias dinheiro, ou a senhorita Dolores acaba com ele. _Ele adora leite e paga caro por isso. – falou Vivi. Laura continuava tensa, mas parou de chorar, ao acabar a maquiagem ela vestiu um longo vestido branco sem decotes, cobrindo todo o corpo, com luvas nas mãos e sapatilhas nos pés, usava um véu fino cobrindo o rosto e um pequeno chapéu enfeitado com flores, Vivi e Mastranja se vestiram e saíram do quarto, Vivi levou Laura para que sua irmã a visse, Cristina estava na companhia de outra mulher que tentava alimentá-la, com a boca cheia Cristina levou as mãos ao rosto e sorriu engolindo forçadamente a sopa e disse. _ Você esta linda. Laura sorriu, mas Vivi a puxou pelo braço e disse. _ Agora chega, vamos logo à senhorita Dolores esta nos esperando. No corredor encontraram a senhorita Mastranja que corria dando um nó na fita que amarrava na cintura prendendo o roupão que vestia, Vivi ainda não havia trocado de roupa, levou Laura a sala onde estava à senhorita Dolores, desceram a escada, mas não atravessaram o salão, passaram por outro corredor, evitando os homens que enchiam o salão com risos e gritos nas mesas de jogos de baralhos, Vivi abriu uma porta, mas não entrou, mandou que Laura entrasse sozinha, lá dentro Dolores esperava em pé ao lado de um homem bem vestido fumando

Page 223: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

223

um charuto, Dolores foi recepcionar a moça na porta sob o olhar dos homens na sala mobiliada com moveis de luxo e muito bem limpo, no centro da sala havia uma mesa de mogno lustrada com cadeiras também de mogno trabalhada pelos melhores artesões franceses. _ Essa é a jóia rara do meu baú de tesouro de quem eu falei, agora os senhores podem ver que eu não mentia, mas não pode tocá-la, ela é virgem como uma criança que acaba de vir ao mundo, algo que os senhores não encontraram em nenhuma casa de diversões em toda França, hoje só poderão ver, no próximo encontro vamos saber de quem ela poderá ser, qual dos senhores será o primeiro a possuir esse corpo inviolado. Os senhores elegantes na sala se aproximaram da menina, observando-a como quem analisa uma pedra preciosa antes de comprá-la, procurando imperfeições que desmereça o seu valor, Dolores mandou que Laura se sentasse em uma cadeira no centro da sala, onde poderia se apreciada com mais calma pelos seus supostos compradores, o medo se apoderou do corpo da menina que tremia se encolhendo para não ser tocada, mas as ordens foram claras, poderiam olhar, mas não tocar, as outras mulheres na sala sabiam o que fazer para conter os mais afoitos, distraindo-os ao mesmo tempo em que falavam dos dotes da jovem, a noite seguiu tranquilamente, Laura permaneceu sentada ao lado da grande senhorita Dolores que usava um vestido amarelo cheio de babados e fios de ouro contornando a larga cintura, o vestido era muito curto na frente e longo atrás, com os cabelos soltos e lisos, Dolores era uma mulher singular, impetuosa e inteligente, sabia como fazer ser respeitada pelos homens e por toda população da grande cidade portuária. Os homens na sala jogavam fumavam charutos e bebiam acompanhados pelas mais belas e mais jovens mulheres da taberna, conversavam discretamente contemplando a jovem em seu trono aveludado ao lado da cafetina Dolores, diferente do grande salão onde se reuniam os bêbados e jogadores que fazia muito barulho, na sala reservada apenas se ouvia cochichos, os poderosos homens da cidade e de toda região que se reuniam no local para se divertirem eram muito discretos, suas

Page 224: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

224

passagens pela taberna da senhorita Dolores eram mantidas em segredo. Ainda de madrugada a senhorita Vivi entrou na sala, se dirigiu a Laura e a pegou pelo braço levantando-a da cadeira que tinha ficado sentada ali por horas, Dolores apenas sorria abraçada a um homem de barbas negras e longas vestido com uma capa preta e cartola, antes que Vivi saísse da sala Dolores falou em alta voz. _ Senhores, dêem uma ultima olhada, agora só um homem dessa sala poderá voltar a vê-la. Então Vivi e Laura saíram da sala e foram para o quarto onde Cristina a esperava sentada na cama, ao entrar no quarto Vivi a ajudou a tirar o vestido apertado levando-o consigo, Laura se sentiu aliviada e correu para abraçar sua irmã, ambas choravam, Cristina não sabia o que tinha acontecido imaginando o pior, afinal estavam em uma casa de prostituição sob o domínio da ambiciosa senhorita Dolores, quando Laura parou de chorar falou para Cristina. _ Temos que sair daqui temos que fugir hoje mesmo, não podemos esperar, assim que todos forem dormir nos vamos fugir. _ O que aconteceu com você? O que obrigaram você a fazer? _ Hoje nada, mas a senhorita Dolores vai me oferecer para o homem que pagar mais pelo meu corpo na semana que vem, temos que sair daqui hoje. As irmãs correram para a janela planejando fugir por lá, mas a taberna era vigiada por homens do lado de fora, funcionários da senhorita Dolores. Laura arquitetou um plano de fuga, iriam esperar que amanhecesse e que os corredores ficassem vazios, então sairiam pela porta do fundo à mesma porta que a faxineira entrava todas as manhãs esperando que ninguém as visse sair, esse era o seu plano, passou o resto da noite acordada pensando em cada detalhe nada podia sair errado ou a senhorita Dolores podia trancafiá-las. Enfim o sol estava nascendo e o som que vinha do salão e dos corredores tiveram fim, logo a faxineira chegaria para seu trabalho diário, Laura acordou Cristina, elas se vestiram e se prepararam para sair escondidas, Cristina ainda estava fraca se levantou com certa dificuldade, Laura

Page 225: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

225

foi até a porta para se certificar que não havia ninguém acordado, mal chegou à porta e ouviu uma voz que vinha do corredor, ela abriu uma fresta da porta e viu a senhorita Dolores em pé usando apenas meias com ligas e um espartilho apertando a cintura, ao seu lado havia uma das mulheres fumando um cigarro negro usando um vestido longo verde muito decotado abraçada com um velho homem baixo e magro com longas barbas e sem bigode, ele usava roupas pretas e cartola, no chão tinha uma bolsa de couro marrom, a senhorita Dolores viu que Cristina a observava pela porta e disse. _ Olá criança, nós ti acordamos? Dolores abriu a porta empurrando Laura para dentro e entrou acompanhada pelo homem, a mulher que estava abraçada a ele ficou do lado de fora que depois de um beijo se despediram e a mulher se foi pelo corredor entrando em um quarto. _ Esse distinto homem é o doutor Jean Pierre, ele é o melhor medico de toda a cidade, e se dispôs a cuidar da jovem Cristina até que ela fique totalmente curada. – disse a senhora Dolores sorrindo com a mesma calma e gentileza que sempre mostrava ter com as pessoas. Laura viu seu plano de fuga desaparecer no sorriso da senhorita Dolores, o medico se apressou em examinar Cristina sentada na cama, Laura e Dolores observavam em silencio esperando o diagnostico do doutor Jean Pierre, depois de minutos de silencio o medico se levantou e disse. _ Muito bem, a menina está fraca precisa se alimentar e descansar, mas eu preciso de mais tempo para estudar que doença causou essa fraqueza. Dolores mais uma vez sorriu em alta voz e disse. _ Eu disse que não era nada de grave senhorita Laura, o doutor Jean vai acompanhá-la em sua recuperação e logo ela estará de pé com muita saúde. Então a senhorita Dolores e o doutor Jean Pierre saíram do quarto e se despediram no corredor, a senhorita Dolores foi para seu quarto e o medico desceu a escada sozinho indo para a porta da frente, o sol ainda estava surgindo no horizonte e havia poucas pessoas na rua,

Page 226: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

226

logo depois a mulher da limpeza entrou pela porta do fundo e subiu as escadas para limpar o corredor como sempre fazia todas as manhãs. Laura se deitou na cama ao lado de sua irmã pensando nas palavras do medico, talvez fosse melhor esperar um pouco para o bem da Cristina, afinal para onde iriam e como iria cuidar da sua irmã nas ruas, Laura passou a noite acordada e agora estava com muito sono e cansada, logo as duas estavam dormindo. À tarde no mesmo dia a senhorita Mastranja entrou no quarto das meninas e as chamou para comer um bolo que acabaram de assar, Laura se levantou para buscar um pedaço de bolo e água para sua irmã, desceu as escadas e foi até a cozinha seguida pela senhorita Mastranja, ao retornar ao quarto Cristina não estava na cama, nem no quarto, Laura saiu pelo corredor procurando pela irmã chamando-a, desceu as escadas apressadamente com um prato na mão e uma caneca com água na outra, todas as mulheres que estavam na casa pararam para ver o que estava acontecendo, Laura estava ficando desesperada por não encontrar a menina, então depois de gritar por Cristina a senhorita Dolores apareceu na porta do seu quarto e disse. _ Por que essa gritaria na minha casa? _ Eu não encontro a minha irmã senhorita Dolores, ela não está em nenhum lugar nessa casa. _ É claro que não, eu a mandei para outro lugar, longe desses homens que visitam a casa, onde ela possa ser tratada e curada. _ Pra onde a senhorita a mandou? _ Não se preocupe com isso minha querida, ela foi para um lugar seguro. Laura percebeu a intenção da senhorita Dolores em prendê-la na casa e forçá-la a servir aos seus propósitos, em um momento de pânico ao ver que poderia perder sua irmã para sempre se lembrou da consulta com o medico pela manhã, o doutor Pierre, algo não estava certo aquele homem não agia como medico, agora Laura entendeu o que havia acontecido, a senhorita Dolores tinha vendido Cristina assim como vez com ela, para um homem devasso e pervertido, aquele homem que se dizia ser medico era na verdade um comprador

Page 227: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

227

que estava examinando uma mercadoria antes de comprá-la, e agora estava levando Cristina para algum lugar longe da sua proteção. Laura correu para a porta da frente, essa era a única passagem que poderiam ter usado para levar Cristina já que pela porta do fundo ela não passou, Laura tinha pouco tempo para tomar uma decisão não havia muito tempo que Cristina havia sumido e poderia estar por perto, então ela saiu correndo em direção a porta do grande salão, a porta não estava trancada e a senhorita Dolores gritou. _ Tranquem a porta, tranquem a porta. Mas Laura foi mais rápida que as mulheres que correram para obedecer às ordens da senhorita Dolores, uma das mulheres tentou segurar Laura pelo braço, mas sua mão estava molhada e escorregou deixando que Laura passasse pela porta semi aberta, a menina correu sem olhar para trás tomando a direção do porto que ficava perto da taberna da senhorita Dolores, o dia estava quente e a rua estava repleta de pessoas que caminhavam apressadas em seus afazeres diários, os carregadores andavam em direção aos barcos e navios que estavam sendo carregados com caixas e sacos, enquanto outros barcos eram descarregados, Laura corria procurando por sua irmã, ela parou em frente a um navio com o nome Delevai escrito em letras enormes que tomava toda a lateral do navio, lembrou-se de que foi em um navio do senhor Delevai que foram resgatadas no mar e foram parar na França, vendidas como escravas, Laura precisava encontrar Cristina e fugir da França antes que os lacaios da senhorita Dolores a encontrasse. Andou entre as pessoas apressadas olhando tudo ao seu redor, ela tinha o pressentimento de que Cristina estava por perto, as pessoas falavam as mais variadas línguas, Laura perguntava em inglês e francês para as pessoas se tinham visto uma menina com vestidos azuis, que era o que ela usava quando sumiu, mas ninguém tinha visto, ou não queriam dar informações, então Laura viu um homem conhecido, um dos homens que freqüentava a casa da senhora Dolores, ela tentou se esconder para não ser reconhecida, passando por ele com o rosto virado para o lado, mas os homens que estavam conversando acompanharam seus passos com os olhos, mas não a reconheceram, ao olhar para o mar viu um pequeno bote que se afastava com três pessoas a bordo, uma menina

Page 228: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

228

com vestido azul e dois homens, um de roupas pretas e cartola na cabeça e o outro era um marinheiro que remava o bote em direção a um navio que estava ancorado a um quilometro do porto, Laura procurou um meio de chegar até o navio e resgatar sua Irmã, mas ninguém parecia querer ajudá-la, Laura gritava pedindo ajuda, então dois homens a seguraram pelo braço e um deles disse. _ A senhorita Dolores quer falar com você. Laura se viu fortemente segura pelos homens, olhou para o bote que se afastava cada vez mais chegando mais perto do navio, os homens arrastavam a moça que se negava em dar um passo, pequenina entre os enormes lacaios da senhorita Dolores, ela arquitetou um plano ousado e suicida, depositou toda sua força nas pernas e deu um forte pisão no pé de um dos grandalhões que a largou imediatamente e chutou a perna do outro antes que ele desse conta do que tinha acontecido com seu comparsa, momentaneamente eles afrouxaram as mãos dando tempo para que ela se livrasse e corresse em direção ao cais e se atirou no mar ao lado de um navio ancorado, os homens se atiraram atrás dela, Laura estava determinada a fugir dos homens mesmo que tivesse que morrer para isso. Mergulhou o mais fundo que pode nas águas sujas e escuras, os homens ficaram na superfície esperando que ela subisse para tomar ar, Laura mergulhou por baixo do navio indo para trás do navio ancorado surgindo debaixo da rampa de embarque, ela tinha que se livrar do vestido que a arrastava para o fundo e nadar para o navio ancorado no meio do mar, antes que conseguisse desabotoar o vestido Laura ouviu uma voz chamando pelo seu nome. _ Laura é você que está ai? Laura olhou assustada para trás e viu um rapaz em cima da rampa com os braços estendidos para tirá-la da água, por um minuto seu coração quase parou ao ver que se tratava do seu amado Everaldo, ela disse. _ Não pode ser, é você mesmo você está vivo, mas como, eu vi você morrer, eu estou sonhando, isso é impossível, não pode ser verdade.

Page 229: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

229

_ É verdade, eu estou vivo e muito feliz em ver que você também está, venha vou tirar você da água. Everaldo tirou Laura da água e a abraçou com força, por um momento ela esqueceu-se dos seus perseguidores e de sua irmã, por um momento só existiam os dois em todo mundo, por um momento não existia mais dor, só paz e alegria nos braços do homem que ela amava e imaginava ter perdido então Everaldo disse. _ Eu vi você no meio da multidão e tentei chegar perto para ver se era mesmo a minha Laura, então os homens se aproximaram e ti pegaram pelo braço, eu não sabia o que estava acontecendo até que você pulou na água e os dois pularam atrás, o que está acontecendo? Laura olhou para o mar e disse. _ Cristina está naquele navio eu tenho que chegar até lá antes que eles vão embora. Everaldo olhou para o navio que Laura apontava com a mão e disse. _ O que você está falando? Como que a Cristina foi parar naquele navio? _ Depois eu ti conto, agora tenho que pegar minha irmã antes que aquele navio vá embora. _ Não se preocupe aquele navio não vai a lugar nenhum, ele é um navio da guarda francesa protegendo o porto de piratas e ladrões, ele ficará ancorado ali por muitos dias. _ Mas um homem levou a Cristina para aquele navio, mesmo que não vá embora ainda ela esta nas mãos daquele homem, ainda eu tenho que salvá-la. _ Espere um pouco, nós acabamos de nos encontrar não posso ti perder de novo. Everaldo segurou Laura pelo braço e a puxou para perto do seu peito aproximando sua boca da boca da moça, mas Laura recuou e pôs a mão na boca do rapaz impedindo-o de beijá-la. _ Por favor, eu tenho que salvar minha irmã depois a gente se encontra e eu... e nós... Cristina não terminou de falar, abaixou a cabeça e olhou mais uma vez para o navio ancorado no mar.

Page 230: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

230

_ Aquele navio é apenas um dos cinco navios da guarda francesa, eles estão armados até os dentes e se defenderão de qualquer pessoa que se aproximar tem mais quatro espalhados por ai, ninguém pode chegar perto, eles atirarão para matar. – disse Everaldo. _ O homem que levou a minha irmã me conhece talvez ele me deixe entrar. _ Eu não sei o que aconteceu com vocês duas desde o naufrágio, mas eu não consigo entender nada do que você está falando. _ Quando eu voltar explico tudo. _ Se eles deixarem você entrar talvez não a deixem sair mais. _ Se for assim então assim será. Laura se soltou das mãos do Everaldo e foi em direção ao mar para se atirar nas águas e seguir nadando, então Everaldo tornou a segurá-la pelo braço e disse. _ Pelo menos me deixe levá-la em um bote. Laura assentiu sorrindo, Everaldo pegou um bote que estava amarrado perto de um navio entraram nele e remou em direção ao navio da esquadra francesa, os lacaios da senhorita Dolores estavam saindo da água e viram a moça e o rapaz no bote fora de seu alcance. O bote estava a duzentos metros do navio quando um bote foi lançado do navio ao mar com quatro soldados armados dentro, os soldados remavam com força e logo estavam a menos de dois metros do bote dos jovens, Everaldo se viu na mira de vários fuzis dos soldados, enquanto um deles gritava. _ A moça deve vir conosco, você vai voltar pra terra com seu bote e não volte mais senão vamos atirar em você. Laura entrou no bote dos soldados e foram para o navio, Everaldo voltou olhando para a moça que se distanciava cada vez mais e a viu subir no navio ajudada pelos soldados, o homem que se fez passar por medico veio recepcionar Laura na proa do navio, ele era o comandante do navio seu nome era comodoro Pierre, com um sorriso ele disse. _ Não acredito que a senhorita Dolores tenha deixado você sair da taberna, não sei como foi chegar aqui, mas seja bem vinda a bordo do meu navio, creio que está à procura da menina, deixe-me levá-la até ela.

Page 231: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

231

O comodoro levou Laura para um camarote que ele usava como aposento, Cristina estava sentada na cama, ao ver sua irmã ela se levantou e correu para abraçá-la, o comodoro observava tudo com interesse, fechou a porta do camarote e tirou o casaco, então Laura percebeu que o vestido da Cristina estava desabotoado nas costas, e estava soluçando com os olhos vermelhos derramando lagrimas, Laura perguntou. _ O que ele fez com você? O comodoro respondeu. _ Apenas eu a examinei, não gosto de comprar nada sem antes examinar, e como não pude fazer isso de manhã eu fiz agora, e gostei muito do que comprei, vou voltar hoje na taberna e pagar pela mercadoria e, talvez eu nem precise pagar, quando devolver você a senhorita Dolores eu serei muito bem recompensado, afinal você vale muito mais que essa menina doente, ou talvez eu não devolva e fique com as duas, seria uma experiência excitante. Laura se agarrou a Cristina com força apavorada, o comodoro se aproximou das duas e acariciou os cabelos de Cristina, com a outra mão tocou na costa desabotoando mais um dos botões do seu vestido, Laura largou Cristina e empurrou o homem contra uma mesa que estava próxima, o comodoro caiu em cima da mesa quebrando-a, os soldados que estavam do lado de fora bateram na porta e perguntaram se estava tudo bem, o comodoro Pierre caído sobre os pedaços da mesa gritou. _ Não me incomodem seus imbecis, me deixem em paz. Levantou-se tirou a camisa e foi pra cima de Laura agarrando-a pelo pescoço caindo sobre a cama, Laura estava sendo sufocada deitada na cama com o comodoro sobre ela, então Cristina pegou um pedaço da mesa que se quebrou e golpeou a cabeça do homem, mas sem muita força, o comodoro largou Laura sentindo o golpe fraco, mas dolorido, ele se atirou sobre Cristina possesso de ódio agarrando-a pelo pescoço com as duas mãos e a levantou do chão, a menina estava vermelha sem fôlego segurando os braços do comodoro tentando respirar, Laura atacou o homem dando-lhe socos nas costas, então as mãos do comodoro se afrouxaram deixando Cristina cair no

Page 232: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

232

chão virou-se lentamente para trás Laura se afastou caindo novamente na cama, então Cristina viu um punhal entre os destroços da mesa junto da camisa que o comodoro tirou e jogou no chão, mesmo debilitada ela pegou a arma e a enterrado entre as costelas da costa do homem enfurecido, o sangue escorria pela costa nua molhando de vermelho a calça escura, o punhal que ele usava para se defender acabou tirando sua própria vida. Laura viu o homem cair ao seu lado na cama ensangüentado, Cristina caiu de joelhos no chão horrorizada com o que acabou de fazer e falou com as mãos na boca. _ E agora, o que vamos fazer, ele morreu. _ Por enquanto não se preocupe, os soldados não entraram aqui, temos que pensar em um meio de sair do navio sem ninguém nos ver, vamos esperar a noite chegar, na escuridão teremos mais chances de fugir. As horas se arrastaram e ninguém ousou bater na porta para incomodar o comodoro, a noite finalmente chegou, Cristina abriu a escotilha grande o suficiente para passar uma pessoa pequena, perfeita para as duas meninas, rasgaram vários lençóis e fizeram uma corda lançando para fora do navio, tiraram os longos vestidos e fizeram uma trouxa para levar com elas, seria mais fácil nadar sem os pesados vestidos e vestiram as roupas pretas do comodoro para se camuflar na escuridão, desceram pela corda improvisada até a água levando a trouxa com seus vestidos, nadaram sem serem vistas pelos sentinelas, o porto estava longe e levaram varias horas até chegarem em terra. Chegaram ao porto, não havia muita gente por lá, apenas bêbados e marinheiros que vinham da taberna da senhorita Dolores reclamando por terem perdido seus dinheiros nas mesas de jogos e roubados pelas mulheres habilidosas, Laura saiu primeiro da água e puxou Cristina para fora, tiraram as roupas negras e vestiram os vestidos molhados, descalças e com frio elas saíram caminhando perto dos navios ancorados, as meninas sabiam que quando amanhecer os soldados descobririam o corpo e saberiam que elas eram as culpadas, seriam caçadas e enforcadas, tinham que se esconder o mais rápido possível,

Page 233: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

233

uma voz soou de cima de um pequeno navio, Laura virou-se reconhecendo a voz, era Everaldo. _ Você conseguiu. Everaldo desceu do navio e correu ao encontro das meninas que tremiam de frio com o corpo molhado abraçadas uma a outra. _ O que houve com vocês?- perguntou Everaldo. Cristina viu que era mesmo Everaldo e disse. _ Você está vivo, olhe Laura ele está vivo. Laura sorriu e disse. _ Eu o encontrei aqui hoje quando ti procurava, mas agora não temos tempo temos que fugir. _ Eu sei, quando voltei àqueles homens me prenderam e perguntaram sobre você, eles me disseram que você é uma fugitiva e que queriam ti prender. – disse Everaldo. _Você não entendeu nada, eu estava fugindo da casa da senhorita Dolores, mas agora as coisas ficaram muito pior, eu matei um homem naquele navio e temos que fugir agora. - disse Laura. _ O que? Você matou um homem? Laura olhou para o rapaz, com lagrimas nos olhos virou-se para fugir, antes de sair ela disse. _ Adeus. _ Não, - respondeu Everaldo-, se vocês tiverem que fugir eu irei com vocês. _ Se pegarem você com a gente você será executado com a gente. – disse Laura. _ Viver sem você seria o mesmo que a morte. Everaldo roubou um bote e fugiram para longe do porto, sem entrar muito para dentro do mar, pela manhã ele ainda remava, mas estavam longe da cidade, ao ver uma foz ele entrou entre o mangue escondendo-se na vegetação nas sombras das árvores onde puderam descansar, ali passaram o resto do dia esperando a noite para poderem continuar a fuga, sue destino era incerto.

Page 234: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

234

CAPITULO XV O sacrifício de Derik Na ilha no meio do mar perto das terras gregas, Derik e a velha Kalypso entraram na caverna, penetraram nas profundezas escuras até um salão iluminado por tochas de fogo postas em linhas paralelas formando um corredor que levava a uma mesa de pedra no centro do salão, atrás dessa mesa havia outra com lenha seca, atrás dessa segunda mesa havia quatro altares feito de pedras, em um canto do salão havia um poço de cinco metros de diâmetro cheio de água que dava acesso ao mar através de um túnel, atrás dos altares havia uma escultura macabra feita de ossos humanos, a velha se ajoelhou perto da primeira mesa manchada de sangue, o salão era enorme com cheiro de morte, as estalactites que se uniam às estalagmites ligavam o teto ao solo criando colunas brancas como uma catedral, o som que se ouvia era das gotas de água que caiam do teto em tigelas escavadas no solo pelo gotejar constante que atravessaram os séculos, tudo indicava que esse lugar era usado para sacrifícios. _ Quem ascendeu às tochas? – pensou Derik-, será que quem as ascendeu ainda está por aqui? A cada minuto Derik se apavorava mais, no lado de fora já era noite e a escuridão tomou conta da ilha, Derik se sentou em uma pedra olhando com atenção a velha que se deitou no chão e dormiu, mas Derik não conseguia dormir, passou a noite acordado, ele tinha a sensação de que estava sendo observado e não eram pelos poucos morcegos que permaneceram pendurados no teto como sentinelas silenciosas, uma brisa entrava pela caverna balançando o fogo, o calor insuportável fazia com que Derik suasse da cabeça aos pés, insetos rastejantes subiam pelas suas pernas atraídos pelo cheiro do suor, a caverna parecia o estomago da terra e Derik era o seu alimento sendo digerido lentamente, Calypso dormia sem se incomodar com os

Page 235: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

235

insetos que corriam sobre o seu corpo, na verdade ela parecia estar morta, não se mexia apesar do calor infernal. Depois de horas, que pareciam serem dias, Calypso acordou com um sussurro que encheu toda a caverna, um som suave que entrava com o vento chamando pelo nome da velha feiticeira. _Calypso, Calypso, Calypso, Calypso. Derik olhou para os lados procurando de onde vinha o som, de repente um vulto se formou sobre um dos altares, e outros três vultos se formaram cada um em um altar de pedra, eram apenas vultos sem forma, de dez metros de altura quase tocando o teto do salão, Calypso se levantou apoiada no cajado, então uma voz disse. _ Calypso é chegada à hora. A velha se aproximou da mesa de pedra com lenhas, tirou da sacola de couro uma garrafa e jogou um liquido escuro sobre a lenha, com duas pedras batendo uma na outra ela ateou fogo, então colocou seu cajado na fogueira que fez com que o fogo crescesse assustadoramente de cor azul e amarela, Derik observava tudo com atenção maravilhado com os espíritos parados em sua frente, a fumaça verde da fogueira subia entre os espíritos dando forma aos seus corpos, todos eram muito parecidos, o primeiro era o espírito do mar, seu nome é Poseidon, ele tinha cabelos longos não tinha barbas, com sobrancelhas finas e desenhadas, lábios finos e pequenos, seu corpo estava nu, mas não tinha órgãos genitais, era muito musculoso, muito parecido com os outros três ao seu lado, o que estava ao seu lado também tinha cabelos longos e não possuía órgãos genitais, seu corpo não era musculoso como os outros três, porem tinha seios como de uma mulher seu nome é Afrodite, ao seu lado estava o espírito do fogo Hades, ao lado do Hades estava o espírito do vento Mercúrio, Derik já tinha visto muita coisa em sua viagem a África, mas nada se comparava a isso, os espíritos estavam ali a sua frente parados e vivos olhando para a velha Calypso enquanto ela preparava a mesa do sacrifício, então Derik se deu conta que alguém seria sacrificado naquele lugar, se lembrou da profecia, o rapaz tremeu de medo levantando-se da pedra, ao ver que Derik estava tentando fugir o espírito falou com a voz doce e calma, mas o voz parecia ter saído de

Page 236: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

236

todos os espíritos pois todos falavam ao mesmo tempo e o som parecia ser um só. _ É chegada à hora. – falou os espíritos. Derik virou-se rapidamente para a entrada da caverna preparando-se para correr, mas se deteve imediatamente ao ver uma jovem mulher entrando iluminada pela luz das tochas e da fogueira, nua com cabelos longos vermelhos encaracolados e pele branca, andava como se estivesse em transe, era Suelem, com os olhos fixos na mesa do sacrifício não reconheceu seu irmão apenas andava em direção ao altar de pedra, Derik tentou acordá-la e fugir com ela, mas ela não o respondeu, Derik gritou. _ Suelem o que aconteceu com você? A moça não respondeu, parou em frente ao altar e ficou imóvel em pé, a velha pôs a mão na mão da moça e lhe deu um punhal, então a velha Calypso começou a cantar uma melodia e Derik caiu de joelhos com as mãos tampando os ouvidos evitando ser hipnotizado pela velha Calypso, mas não foi suficiente, logo ele tirou as mãos dos ouvidos e se levantou andando em direção a pedra do sacrifício, em transe Derik se deitou na pedra na frente da Suelem, os espíritos falaram. _ Está próximo. Calypso continuou a cantar sua melodia então Suelem levantou o punhal e desferiu um golpe no peito do seu irmão, o punhal atravessou o corpo de Derik e cravou na pedra, o sangue escorria por uma ranhura na mesa derramando em uma tigela de barro que estava no chão, Calypso pegou a tigela e foi até a fogueira para derramar o sangue, os espíritos se preparavam para receber o sangue na fumaça e reconstituir os seus poderes assumindo a forma humana e andar entre os homens. Antes que Calypso derramasse o sangue um quinto vulto se apresentou na fumaça a sua frente, tinha a forma de uma mulher, também nua sem os órgãos sexuais, com pequenos seios escondidos sob os longos cabelos cacheados, era Minerva o espírito da guerra justa e diplomática. _ Calypso não faça isso.

Page 237: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

237

Calypso parou imediatamente olhando para o espírito Minerva, os outros espíritos olharam para Calypso e disseram. _ Não há mais tempo Calypso faça agora. Minerva continuou a falar. _ Se você fizer isso os homens estarão condenados, ninguém estará seguro, a guerra terá inicio, tudo será destruído mais uma vez, a extinção da vida em todo o planeta terá inicio. Enquanto Minerva falava outro espírito se formou na fumaça, era o espírito da ninfa das florestas em forma de mulher, a ninfa disse. _ Calypso você amou um homem mortal com tamanha intensidade que deixou o reino dos mares e toda sua beleza para viver esse amor, não permita que os homens sejam destruídos para que os espíritos se banhem em seus sangues. Os espíritos do altar estenderam os braços e disseram. _ Calypso faça agora. A ninfa continuou a falar. _ Você foi condenada a viver nesse corpo na terra junto aos homens mortais, aprendeu seus costumes e viveu suas paixões, viu seus filhos nascerem e morrerem compreendeu o amor que eles têm pela vida, os homens são jóias raras preciosidades sobre a terra, o que eles sentem não se pode ser comparado a nada nesse mundo, nem os deuses são tão grandes quanto esses pequeninos.. Calypso parou e olhou para Poseidon com o olhar de velha triste e se afastou da fogueira com a tigela de sangue nas mãos, então os quatros espíritos olharam para o poço de água no canto da caverna de lá saiu em um salto o grande tritão Netuno com seu tridente na mão, rastejou-se até Calypso e tirou a tigela de suas mãos, a velha de um metro e meio não era páreo para o tritão de três metros com os dentes salientes na mandíbula, Netuno tinha as mãos enormes as garras do tamanho dos dedos e não conseguiu segurar a tigela com facilidade derramando um pouco de sangue na mão da velha, o sangue teve reação imediata, a mão da velha rejuvenesceu então a velha lambeu o sangue em sua mão se transformando na sereia negra esguia e forte, em um reflexo ela se atirou na frente do tritão impedindo-o de jogar a tigela na fogueira, Netuno a golpeou com o tridente arremessando-a

Page 238: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

238

para longe, mas Calypso era muito rápida, ao ser arremessada conseguiu tirar a tigela da mão do tritão, ao cair no chão ela bebeu o resto de sangue que ainda havia na tigela, de repente seu corpo ficou muito forte cheio de cores vivas como era quando foi criada. A sereia tinha a fúria de um monstro, suas mãos tinham garras afiadas em sua cabeça saíram tentáculos como de águas vivas, finos e venenosos, os olhos claros transmitiam a fúria das tempestades dos mares, seu corpo era pura explosão de energia, mas não tinha a calda das sereias, tinha pernas e pés palmados como nadadeiras, toda coberta de escamas brilhando sob a luz do fogo, Netuno se atirou sobre Calypso com seu tridente, mas Calypso era muito rápida desviando-se saltando sobre o tritão agarrando-o por trás caindo em sua costa cravando as garras em seu enorme corpo, o sangue escorria nas costas do enorme tritão que tentava agarrá-la sem sucesso, Calypso não o soltava e começou a mordê-lo arrancando pedaço de couro e gordura deixando buracos brancos que logo tomava o tom vermelho de sangue, Netuno se arrastou para o poço com Calypso agarrada em sua costa, o mar seria sua única chance de derrotar Calypso, na terra ele era lento e pesado demais para enfrentar a esguia sereia negra, Netuno caiu na água com violência nadando pelo túnel que dava acesso ao mar batendo e espremendo Calypso nas paredes com pedras afiadas do túnel, ao saírem do túnel a sereia largou o tritão e nadou pelo mar, apesar das batidas no túnel Calypso não tinha ferimentos, suas escamas eram duras como uma armadura, Netuno estava muito ferido e sangrava deixando uma mancha vermelha na água, antes que ele pudesse se recuperar do ataque da sereia Calypso retornou nadando tão rápido como uma flecha atravessando a água, com as garras prontas para um novo ataque, Netuno não teve tempo de reação recebendo o golpe na cabeça abrindo seu rosto deixando a carne exposta e o sangue se misturando com o mar, de repente ele sentiu as garras da sereia entrar em seu peito, ela o tinha abraçado por trás e suas garras estavam rasgando seu peito, Netuno tentou se defender com os tentáculos de sua cabeça agarrando Calypso pelo pescoço, a sereia alfinetava os tentáculos do tritão com seus tentáculos finos ejetando veneno no corpo do rei do mar, Netuno estava quase

Page 239: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

239

sucumbindo aos ataques violentos e mortais, então ele segurou o tridente com as pontas para trás atingindo a barriga da sereia, Calypso para não ter a barriga perfurada largou imediatamente o tritão e fugiu para longe do seu tridente, Netuno teve tempo para se recuperar emergindo para respirar, com a cabeça fora da água ele soltou um grito de fúria e voltou para as profundezas procurando Calypso, a sereia não precisava ir a superfície para respirar, ela era uma criatura perfeita criada pela mãos do próprio Poseidon, agora ela estava escondida esperando para dar um novo golpe, mas enquanto Netuno tiver aquele tridente ela precisava tomar muito cuidado, ao ver uma chance ela saiu do deu esconderijo e se atirou sobre o tritão, mas ele estava atento e novamente tentou feri-la com o tridente, Calypso se desviou a tempo de não ser ferida, com a violência do golpe Netuno bateu com o tridente em uma pedra arrancando o diamante que estava incrustada no tridente, o diamante caiu no fundo do mar entre as pedras, o tritão não percebeu o que estava acontecendo e Calypso não atacou mais, depois de alguns minutos ele teve que retornar a superfície para respirar, então Calypso foi ao fundo pegou a pedra de diamante azul e retornou para a caverna onde estavam os espíritos. Calypso entrou pelo túnel submerso, andou em direção aos espíritos, os quatros no altar e os outros dois ao lado, todos estavam em silencio, quando Calypso parou diante deles Minerva falou. _ Desde o inicio da humanidade na terra quando os espíritos podiam andar entre os homens e assumir a forma dos humanos e de todos os animais da terra houve discórdia entre os espíritos, e isso causou varias guerras, os homens foram envolvidos nessas disputas lutaram e morreram, queimaram os bosques as florestas e mataram os animais, toda vida na terra estava condenada com a fúria dos espíritos, então eu e as ninfas das florestas e dos bosques criamos um feitiço e ensinamos a um homem, esse homem tirou de todos os espíritos o poder de andar entre os homens e assumir a forma humana, nós lhe demos forças para lutar e vencer os espíritos, nós nos sacrificamos para que os homens da terra pudessem viver agora o único homem que poderia devolver os poderes aos espíritos está morto a profecia foi quebrada.

Page 240: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

240

A ninfa tomou a palavra e disse. _ O seu corpo foi recuperado, volte para o seu reino com seus semelhantes e seja feliz. Calypso levantou a cabeça e falou para os espíritos. _ Uma vida foi perdida nesse lugar em nome dos espíritos, isso nunca deveria acontecer e jamais voltará a acontecer, vou encontrar uma maneira de devolver a vida para esse rapaz e concertar o que eu fiz. Minerva e a ninfa falaram ao mesmo tempo. _ Esse é o ultimo filho homem dos quatros espíritos, agora ele está morto, ele deve continuar assim, não devolva a ele a vida, ele não pode viver. Calypso estendeu uma mão e a abriu, nela tinha o diamante azul, ela fez um gesto em direção a água e uma onda se levantou e saltou do poço sobre a fogueira apagando-a e arrastando as cinzas para dentro do poço, os espíritos sumiram devagar sobrando apenas os vultos que logo sumiram no ar, Calypso olhou para trás e viu Suelem caída sobre o corpo do irmão sem vida, ela estava saindo do transe deparando-se com o corpo do irmão. _ Derik, eu não pude resistir eu não conseguia resistir eles eram mais forte do que eu, eu juro que não pude fazer nada me desculpe. _ Ele viverá outra vez. - Disse Calypso. Suelem se deparou com a sereia negra magra e cansada, mesmo com medo Suelem não se afastou do corpo do seu irmão abraçando-o com força. _ Existe um alquimista chinês que descobriu uma maneira de devolver a vida aos mortos, ele escondeu o feitiço em uma terra gelada ao norte, você tem que chegar lá e devolver a vida ao seu irmão, depois... Então Calypso se calou pegou Derik nos braços e o levou para fora da caverna seguida por Suelem, Calypso pôs o rapaz na areia da praia, Suelem se sentou ao seu lado, então Calypso mandou que Suelem se afastasse, estendeu a pedra de diamante para o mar e disse algo na língua das sereias, então uma brisa se transformou em redemoinho envolvendo o corpo do rapaz criando uma pedra de gelo

Page 241: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

241

envolvendo seu corpo, Suelem vestiu as roupas que a velha trouxe na sacola, roupas velhas de couro de antílope, então Calypso disse. _ Espere aqui eu vou buscar um navio para levá-los ao norte. Calypso saltou da areia a uns quinze metros da água caindo dentro do mar e desapareceu em um mergulho, o dia estava claro era manhã e os pássaros estavam atônitos em revoada. Duas horas depois Kalypso alcançou o navio Maria Eduarda que seguia seu rumo para a Espanha onde os marinheiros pretendiam comprar cada um seu próprio navio, de repente os homens sentiram um impacto como se o navio tivesse batido em alguma coisa, todos os marinheiros correram para a proa para ver no que tinham batido, mas não viram nada e voltaram para seus postos, o capitão voltou para sua cabine, mas ao tentar abrir a porta algo impedia que a porta se abrisse completamente, ele olhou e viu um baú atrás da porta, ao entrar encontrou vários outros baús espalhados por toda a cabine, ele fechou a porta e de repente Calypso surgiu atrás do capitão empurrando a porta fechado-a, o capitão levou um susto tentou pegar uma arma sobre a mesa cheia de papeis e instrumentos náuticos, Calypso falou. _ Não tenha medo capitão, sou Calypso, preciso dos seus serviços novamente. Calypso contou tudo que o capitão precisava saber e se foi, os marinheiros não tiveram outra escolha senão obedecer às ordens da sereia, não pelo ouro que havia em todos aqueles baús, mas por medo de desobedecer a um ser tão poderoso, retornaram a ilha, no dia seguinte o navio ancorou na ilha e levaram Suelem e o corpo dentro da pedra de gelo para dentro do navio, partiram no mesmo dia rumo ao norte. CAPITULO XVI Na aldeia lycan Dias depois Suelem desembarcou em uma terra coberta de gelo ao norte da Ásia longe da rota de comercio dos navios mercantes, estava nevando no mar quando o capitão Álvares ancorou seu navio o mais próximo possível da terra, um grupo de marinheiros

Page 242: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

242

desembarcaram acompanhando a jovem Suelem na busca do alquimista, seguindo em caravana pela neve chegaram a uma estrada quase invisível no gelo usada pelos moradores de uma aldeia próxima, a estrada margeava o leito congelado de um rio que em alguns pontos ficava tudo coberto pela neve formando uma larga planície branca, as árvores gigantescas margeavam a estrada formando uma muralha branca escondendo os segredos de uma terra desconhecida e seus perigos, aqueles fortes homens estavam acostumados à vida no mar e aos perigos do mar, esses corajosos marinheiros foram pagos para serem os carregadores e o capitão Álvares o guia e protetor da menina pequena e frágil por essas terras estranhas cheias de lendas, caminharam pela floresta de pinheiros centenários morada de animais famintos em busca de suas próximas refeições, os marinheiros não estavam acostumados com o trabalho duro de transportar mochilas pesadas nas costas por caminhos cobertos de neve, e o pesado caixão de madeira com um bloco de gelo com o corpo de Derik dentro, eles faziam isso com a promessa de serem recompensados com seu peso em ouro para levarem Suelem com seu irmão até uma aldeia aos pés de uma montanha onde, de acordo com as lendas, estaria o castelo do alquimista e o segredo da vida. A caravana de quinze homens penetrava a terra gelada deixando o navio com o resto de sua tripulação ancorado a quilômetros de distancia no mar, castigados pelos ventos frios e as tempestades de neve que os açoitavam sem piedade, Suelem caminhava ao lado do capitão sem perder de vista o sarcófago de madeira em meio às rajadas de vento e neve, seu coração estava determinado a encontrar o alquimista. Depois de um dia de caminhada o grupo de viajante chegou a uma aldeia de pescadores as margens do rio congelado, os mantimentos da caravana estavam congelados e os carregadores precisavam de descanso em algum lugar quente onde possam recuperar suas forças, a aldeia era o único lugar onde poderiam descansar e era também a única aldeia entre o mar e a montanha que ficava a poucos quilômetros das casas dos pescadores, o rio de gelo descia da montanha, mas até onde se podia ver estava tudo congelado,

Page 243: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

243

enfim chegaram à entrada da aldeia as casas estavam com os telhados cobertos de neve, parecia que a aldeia estava abandonada, o que denunciava a existência de gente no local eram as fumaças brancas que saiam das chaminés e logo eram dispersas pelo vento forte a caravana liderada pelo capitão Álvares entrou pela rua principal esperando encontrar alguma pessoa que lhes pudesse oferecer alguma coisa quente para beber, os homens estavam com muito frio e muitos deles estavam doentes perdendo a sensibilidade nas mãos e pés, mas a rua coberta de neve continuava deserta, então Suelem gritou por ajuda. _ Tem alguém ai? Precisamos de ajuda, alguém pode nos ajudar? Os carregadores pararam e puseram à caixa e as mochilas no chão, tudo que se podia ouvir era o uivar do vento, um dos carregadores caiu de exaustão sendo amparado pelos seus companheiros, o capitão, seguindo o exemplo da moça, também gritou. _ Precisamos de abrigo podemos pagar a hospedagem. Ninguém apareceu, o capitão olhou para a moça e se afastou do grupo sendo acompanhado por dois dos seus marinheiros, foram em direção a uma casa mais próxima e quando se preparavam para bater na janela ouviram uma voz que vinha de trás deles. _ Quem são vocês? E o que querem aqui? O capitão olhou para trás e viu um homem coberto com um casaco de pele branca cobrindo a cabeça, com uma arma de cano longo nas mãos apontando para sua cabeça. _ Meu nome é Álvares sou capitão do navio Maria Eduarda estamos em caravana e precisamos de abrigo e comida e talvez alguma coisa quente para beber, meus homens estão congelando, posso pagar por tudo que usarmos enquanto estivermos em sua aldeia. O aldeão armado olhou para o grupo e o homem deitado na neve, e disse. _ Vocês são marinheiros e não carregadores, o que querem tão longe do mar? _ Estamos procurando o alquimista. – respondeu o capitão.

Page 244: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

244

_ Isso é apenas uma lenda, muitos outros estiveram aqui procurando por essa lenda e voltaram de mãos vazias, outros não voltaram, morreram procurando, isso por que vieram no verão, vocês são os mais tolos de todos, porque vieram no inverno, olhem ao seu redor não poderão nem chegar perto da montanha com esse tempo ruim, conheço tudo por aqui, nunca vi nenhum alquimista, já andei por toda essa montanha, se eu fosse vocês voltaria para o seu navio antes que todos morram nessa jornada inútil. _ Mas será que poderiam nos dar abrigo até passar a tempestade? – falou o capitão Álvares. O homem abaixou a arma e tirou o capuz que cobria o rosto, era um velho com barbas e cabelos brancos com o rosto marcado pelo tempo, seu casaco era grosso feito de pele, bem diferente do casaco da Suelem e dos marinheiros que usavam roupas de tecido não tão grosso quanto os de pele de animais, impróprio para aquela região e aquele clima. _ No inverno temos muitas tempestades de neve, tudo se congela por aqui, escurece rápido nessa época do ano, é melhor a gente entrar logo. –disse o velho com um sorriso. Foram para uma casa grande no final da rua, parecendo ser uma igreja, com uma porta enorme que se dividia em duas, ideal para a entrada de muita gente ao mesmo tempo, o grupo de homens carregando o caixão de madeira entraram levando com eles uma corrente de vento e neve para dentro da casa que estava aquecida por uma lareira com uma panela pendurada sobre o fogo cozinhando alguma coisa, o velho entrou por ultimo fechando a porta ruidosamente assustando a Suelem, o velho passou entre os homens que se sentaram nas cadeiras de madeira, foi até a mesa no centro da grande sala cercada pelas cadeiras pegou uma caixa e tirou de lá uma garrafa e canecas servindo uma bebida escura e forte para os homens que beberam em goladas esvaziando a garrafa em pouco tempo. _ Meu nome é Arnold, sou o padre e o chefe da aldeia, esta é a minha igreja, fiquem a vontade. Os marinheiros se juntaram perto da lareira para se aquecerem, Suelem sentou-se perto da caixa do sarcófago de gelo, o

Page 245: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

245

padre Arnold se aproximou da moça e lhe ofereceu uma manta de pele para se aquecer, já que ela não se afastava da caixa, o padre já havia recebido vários viajantes que se aventuraram por essas terras a procura da lenda do alquimista e o seu invento em busca da vida eterna ou ressuscitar seus mortos, o padre se sentou ao lado do capitão Álvares pegou outra garrafa e uma caneca para beber com os marinheiros o capitão puxou conversa perguntando sobre a aldeia. _ O senhor parece ser o único ser vivo nessa aldeia, não encontramos ninguém quando chegamos, as casas pareciam estar vazias e não tinha animais pela rua. _ No inverno as pessoas da aldeia não saem de casa, é muito frio para ficar andando por ai, estão todos em frente as suas lareiras com seus filhos. – disse o padre. _ Eles estão certos se eu pudesse também estaria no meu navio navegando em águas quentes com o vento quente batendo no meu rosto. – disse o capitão tirando risadas dos marinheiros. _ Hoje vocês ficaram com o meu povo como nossos convidados, comeram e beberam em nossas casas. O padre Arnold saiu da igreja sorrindo cantarolando uma canção em uma língua que os marinheiros não conheciam deixando todos em torno da lareira se aquecendo e bebendo, o capitão Álvares olhou para a jovem Suelem e seu sarcófago de gelo, as palavras do padre diziam que não havia alquimista, mas o que fazer com a Suelem e seu irmão morto, Suelem não acreditava nas palavras do padre e estava determinada a prosseguir mesmo sem a companhia dos homens, ela não disse nada, mas o capitão podia ver isso nos olhos dela. Uma hora depois a porta da igreja tornou a abrir entrando por ela cinco homens e três mulheres trazendo panelas com comida e garrafas com bebidas, um dos homens tirou o capuz e disse. _ O padre nos mandou trazer comida e levar o homem doente para ter cuidados médicos, e pediu para acompanhar a jovem mulher para a casa onde possa ter cuidados femininos. Suelem olhou para o capitão Álvares fazendo sinais com a cabeça dizendo que não deixaria o corpo do seu irmão, o capitão se aproximou da Suelem pôs a mão sobre seu ombro e disse.

Page 246: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

246

_ Não se preocupe eu cuidarei do seu irmão. Suelem não teve alternativa senão acompanhar os homens até uma cabana, o marinheiro doente foi para uma casa grande onde tratavam os doentes da aldeia, colocado em uma cama com lençóis limpos e uma grande lareira acesa aquecendo toda a casa, duas mulheres que o acompanhava tiraram suas roupas molhadas e o enrolaram em um cobertor de lã e pele de urso, lhe deram comida e bebida, Suelem foi para a casa de uma mulher chamada Atenea, esposa do padre Arnold, na casa havia duas crianças sentadas em cadeiras em torno de uma mesa, Atenea correu para recepcionar a Suelem que ficou parada na porta, o homem que a levou até lá se despediu a voltou para sua casa desaparecendo na tempestade de neve. _ Não tenha medo minha filha, posso te chamar de filha? – falou Atenea amorosamente. Suelem sorriu sentando-se ao lado das crianças, um dos meninos olhou para Suelem e falou. _ Meu pai disse que vocês vieram em um navio, quando eu crescer serei marinheiro e conhecerei o mundo inteiro. _ Deixe a moça descansar, - disse Atenea-, de um pouco de carne para ela, ela deve estar com fome. Suelem comeu a carne saborosa olhando para as crianças se lembrando de sua infância com seu irmão e costumavam sentar-se a mesa com seus pais nas horas de refeições, então se lembrou que Derik estava no bloco de gelo esperando para ser liberto, talvez a viajem fosse em vão e o alquimista fosse uma lenda, mas a serei a mandou procurar pelo alquimista, a sereia não poderia estar errada, Suelem estava decidida a subir a montanha carregando o pesado sarcófago mesmo que tenha que fazer isso sozinha,Atenea falava sem parar impedindo as crianças de fazer qual quer comentário ou falar com a moça. Na igreja os homens cantavam eufóricos sob o efeito da bebida, alguns homens da aldeia se juntaram a eles e riam contando historias, logo vieram as mulheres trazendo mais bebidas e passaram horas cantando e rindo, o capitão ficou de lado conversando com o padre, mas bebia tanto como os outros, no dia seguinte a tempestade passou,

Page 247: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

247

os marinheiros caminhavam pela rua se misturando aos aldeões, o capitão Álvares se tornou amigo do padre e passavam muito tempo juntos, Suelem saiu da casa e foi à igreja ver o seu irmão acompanhada pelos filhos da senhora Atenea, o marinheiro doente estava se curando sob os cuidados de uma jovem e doce mulher. CAPITULO XVII Derik no mundo dos mortos. _ Derik levante-se. – ouviu-se um grito na escuridão. Derik se levantou meio atordoado e se viu em meio a uma intensa escuridão, um vazio gelado e angustiante, a voz tornou a chamar pelo seu nome e perguntou. _ Derik você sabe o que aconteceu com você? _ Não. _ Você está morto. _ Onde estou? _ Você não deveria estar aqui, vou te levar para outro lugar. _ Quem é você? _ Sou o guardião dos mortos. _ Então eu estou no inferno? _ Esse lugar tem vários nomes, pode chamar como quiser. _ Eu não vejo nada nessa escuridão. _ Não precisa ver eu te levo pra onde precisa ir. O guardião se calou segurou Derik pelo braço, mas logo o soltou e desapareceu deixando Derik sozinho no mundo escuro e silencioso, então Derik viu uma luz azulada e fraca na escuridão, era um pequeno ponto de luz que se movia em sua direção deixando um rastro, a luz brilhava de maneira tímida pulsando como um coração que luta para não parar de bater, Derik não tinha medo e nem esboçava reação alguma diante daquela aparição fantasmagórica, o ponto se transformou em uma esfera aumentando de tamanho

Page 248: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

248

conforme se aproximava, chegando a ficar do tamanho da cabeça do Derik, então Derik ouviu uma voz que saia de dentro da esfera chamando-o pelo nome, uma voz fraca de mulher, Derik se esforçava para ouvir o que a voz queria dizer com aqueles sussurros, duas outras vozes diferentes se juntaram a primeira formando uma só voz, ficando mais nítido o que queriam dizer. _ Derik viemos ti buscar. _ Não posso ir com vocês. _ E por que não? _ O guardião me disse que deveria ir com ele. _ Você está morto e não pode ficar aqui. _ Quem é você?- perguntou Derik. _ Somos as guias dos espíritos que desencarnam, nos devemos levá-lo ao seu lugar, onde você estará seguro. Havia alguma coisa se movendo dentro da esfera, vultos que tremulavam e às vezes se transformavam em enormes bocas quando falavam, Derik se aproximou da esfera para ver melhor o que estava dentro viu os rostos de três mulheres velhas de olhos brancos como se estivessem cegas, eram as guias dos mortos. _ Siga-nos vamos ti levar para onde você deve ficar. –falou as guias. _ Vocês não entendem. _ Chega de conversa vamos logo estamos perdendo tempo aqui, temos mais mortos para guiar, você não é o único que morreu nesse mundo. A luz envolveu o rapaz e mesmo relutante foi arrastado para onde as guias queriam levá-lo, então se abriu uma janela no ar e entrou luz como a luz do dia, Derik atravessou a janela envolvido pela luz azulada das guias, do outro lado da janela havia um mundo cheio de luz e cores, com rios e lagos, árvores frutíferas e animais pastando na grama verdejante, Derik se pôs sobre uma colina e sentiu a paz que emanava daquela planície, um verdadeiro paraíso, de repente Derik achou que estar morto poderia ser bom, viver naquele lugar tinha suas vantagens.

Page 249: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

249

A esfera desapareceu enquanto Derik admirava seu novo lar, desceu a colina e foi em direção a uma zebra que pastava ali perto, outros animais também pastavam por ali, alces, elefantes e diversos outros animais de pasto, logo adiante Derik viu leões e tigres deitados juntos à sombra de uma árvore cheia de pássaros que cantavam os mais lindos cânticos parecendo ser instrumentos musicais na mais perfeita harmonia uma orquestra sinfônica afinada sem seu maestro. Derik andava entre os animais sem se preocupar, ele não tinha medo e nem motivo para sentir medo diante de tamanha paz, então uma gazela tocou em sua costa e lhe disse. _ Olá Derik como vai você? _ Você fala? _ Todos nós falamos, estávamos esperando por você. _ Vocês sabiam que eu viria? _ Sim, Flora nos disse que você viria se juntar a nos. _ Quem é Flora? _ Veja você mesmo. Derik olhou para trás e viu uma mulher vestida com pétalas de flores que cobria todo seu corpo, o perfume que ela exalava era doce e suave, seu rosto era como de uma criança sorridente e feliz, Flora realmente estava feliz com a vinda de Derik em seu reino de paz e harmonia, por onde Flora passava as flores desabrochavam aos seus pés deixando um caminho de flores coloridas _ Olá Derik estávamos a sua espera. – disse Flora. Todos os animais se juntaram ao redor da Flora e de Derik, e todos o cumprimentaram ao mesmo tempo, os leões estavam ao lado dos antílopes, Derik viu que todos viviam em total paz, os pássaros se juntaram sobre os animais maiores como os elefantes e girafas, e todos cantavam festejando a chegada do rapaz, tudo estava perfeito aos olhos de Derik que já não pensava mais em seu corpo ou no que o guardião lhe tinha dito, Derik estava se esquecendo de tudo que havia acontecido com ele antes de encontrar o paraíso dos mortos, quanto mais ele cheirava o perfume das flores e do campo que exalava da mulher mais ele queria ficar em sua companhia mais ele se esquecia da sua vida mortal, os animais o acariciava e falavam das coisas que

Page 250: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

250

tinha naquele lugar, a paz enchia e alimentava seu espírito, Derik sorria e acariciava todos que se aproximava das suas mãos, os pássaros menores pousavam em sua cabeça e ombros e falavam ao seu ouvido, Flora apenas sorria em meio aos animais, os festejos duraram muito tempo e o tempo parecia não passar, no paraíso da Flora não havia noite, o sol brilhava para sempre,não havia morte e nem cansaço, nem raiva e nem guerra, só havia paz. Flora estava sentada em seu trono construído de cipós e ramos floridos coberto de flores perfumadas, então se abriu no ar uma fenda escura e fria, um buraco negro em frente do seu trono, mas os animais pareciam não notar a passagem aberta no ar tão próximo da deusa Flora e nem quando um espírito passou pela passagem. _ Olá Flora, - disse o guardião. _ O que quer aqui? _ Vim buscar algo que me pertence. _ Não há nada que lhe pertença aqui no meu mundo. _ Não tente escondê-lo de mim Flora, as guias me contaram que você mandou trazê-lo para cá. _ Você sabe que não se devem confiar nas guias, elas mentem o tempo todo. _ Mas você não pode mentir, não você, então me diga Flora aquela alma perdida está aqui ou não? _ Sim está, mas você não vai levá-lo, todas as almas que entram no meu reino me pertencem, e você não poderá tirá-lo de mim. _ Eu não posso tirá-lo daqui, mas o balanceiro pode, alias será que ele sabe que uma alma entrou no mundo dos mortos sem passar por ele? _ Quem vai responder por isso serão as guias, foram elas que deveriam levá-lo ao balanceiro, e depois você terá que responder como uma alma veio parar aqui se ainda está ligada ao seu corpo. O guardião ficou em silencio olhando para o rosto da Flora procurando uma resposta para aquela situação, mas achou melhor medir suas próximas palavras antes do confrontá-la outra vez, então Flora falou.

Page 251: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

251

_ Ele ficará aqui no meu mundo até que se desligue do corpo então eu o devolverei ao balanceiro, até lá é melhor que ninguém saiba disso, cabe a você manter as guias caladas senão você poderá perder mais do que eu nas mãos do balanceiro. _ Você acha que poderá destruir o corpo? Eu sabia que alguém poderia tentar me deter, mas não imaginei que seria você, minha própria irmã. _ No momento meus servos estão tentando destruir o sarcófago de gelo que o Poseidon criou, logo descobriremos um jeito de atingir o corpo, então ele será queimado e suas cinzas serão jogadas ao vento e a alma será liberta. _ O seu bando de animais não poderão me deter, eu passarei por eles como fiz outras vezes. _ A guerra ainda não acabou meu irmão, foram apenas batalhas que se não me engano eu venci da ultima vez, isolando suas criaturas horríveis na montanha, na próxima batalha eu e meu exercito liquidaremos de uma vez sua pequena tropa de sangue suga. _ A minha, pequena tropa, está se dirigindo para a aldeia para reclamar o que me pertence, logo veremos quem vencerá a guerra. _ E a moça, o que faremos com ela, de que lado ela estará quando a batalha começar? _ Ela não é importante, no final servirá de pasto para qualquer lado. _ Não podemos nos esquecer de quem ela é filha. _ Ele a abandonou quando seu irmão nasceu. _ Esse menino nunca deveria ter nascido, assim continuaria como sempre foi na casa do Hades, uma menina e nunca um menino. _ As profecias tem que se realizarem, nós não podemos impedir, por mais que tentamos não se pode lutar contra o destino. _ Talvez você tenha razão, mas não me peça para ver meu reino ser destruído por um capricho dos grandes espíritos. _ Vai começar a batalha, mais uma vez vai começar a batalha. –disse o guardião. Flora levantou as mãos e fez um gesto sobre as flores que cobriam a grama verde aos seus pés, as flores se transformaram em

Page 252: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

252

um enorme espelho criando a imagem da aldeia onde estava Suelem e o corpo do Derik congelado em seu sarcófago, Flora e o guardião assistiam cada movimento das suas marionetes no campo de batalha movendo-os como se fossem peças de um jogo de xadrez. CAPITULO XVIII Vampiros e lycans, a batalha final Dois dias depois da chegada dos viajantes na aldeia, em uma manhã ensolarada o grupo de marinheiros e a jovem Suelem se preparavam para partir, o padre se aproximou do capitão Álvares e falou sorrindo. _ Vejo que estão prontos para partir. _ Vamos aproveitar a melhora do tempo para seguir com nossa jornada. – respondeu o capitão. _ O senhor pretende subir a montanha? – perguntou o padre desfazendo o sorriso. _ Sim, mas acho que não vamos demorar muito, pretendo voltar ao anoitecer, preciso que o senhor cuide do homem doente até voltarmos, então pagarei por tudo. _ Claro cuidaremos de tudo por aqui, nós sempre cuidamos. - respondeu o padre com um sorriso sinistro. Os marinheiros pegaram parte das mochilas o sarcófago de gelo e seguiram o capitão, Suelem andava ao lado do corpo do seu irmão satisfeita com a decisão do capitão Álvares em subir a montanha, enquanto o grupo se afastava o padre Arnold se reunia com três dos homens mais velhos da aldeia, ao saírem da aldeia e entrarem na floresta de pinheiros por uma trilha estreita sob a sombra das copas das árvores os carregadores conversavam descontraídos, Suelem se afastou do sarcófago de gelo e estava caminhando ao lado do capitão conversando tentando se esquecer do medo que a atormentava quando todos ouviram um lobo uivando, o capitão Álvares não deu muita atenção ao som dos animais nativos, mas Suelem ficou apreensiva, os

Page 253: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

253

marinheiros pegaram em suas armas assim que ouviram o segundo uivo mais próximo, em pouco tempo podiam ouvir os rosnados dos lobos correndo entre as árvores, todos pararam de andar se posicionado para atirarem no primeiro animal que aparecer, o capitão mandou que continuassem andando para saírem do meio das árvores, de repente os lobos começaram acorrer em torno do grupo entre as árvores forçando-os a parar, os animais corriam batendo nas árvores com violência derrubando neve sobre os homens, no meio da neve que caia surgiram os grandes lobos rosnado atacando os marinheiros não dando tempo de reação, os lobos rasgavam e destroçavam os homens sem piedade, Suelem levou um golpe na cabeça caindo na neve fofa, o capitão disparou com sua pistola errando o alvo, os lobos continuavam a atacar manchando a neve com o sangue dos homens que gritavam pedindo por socorro, vários disparos foram feitos sem atingir os lobos, então tudo ficou em silencio, os homens estavam todos caídos na neve esquartejados, o capitão estava sem um dos braços e tentou se levantar olhando para os lados, então ele pode ver um grande lobo branco se aproximando de vagar e abocanhou sua cabeça decepando com uma única mordida. Na aldeia o marinheiro que estava doente ouviu os disparos de pistolas e tentou se levantar assustado, a enfermeira olhou para ele e disse. _ Aonde você vai? _ Ouvi disparos preciso ver o que está acontecendo. - respondeu o marinheiro. _ O seu capitão mandou que eu cuidasse de você. – falou a enfermeira. _ Fique aqui e não saia, eu te protejo. – respondeu o marinheiro afastando-a da porta. Assim que o marinheiro virou de costa para a enfermeira sentiu as garras de um animal entrando entre suas costelas, ao virar-se pode ver o rosto da enfermeira se deformando com enormes dentes caninos brancos salivando, os olhos amarelos com um ponto negro no centro, a enfermeira abocanhou o pescoço do homem arrancando parte de sua jugular, ele ainda estava vivo quando ela começou a devorá-lo.

Page 254: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

254

Horas depois, Suelem acordou em uma cama de peles ao lado de uma lareira, o padre Arnold estava sentado ao seu lado fumando um cachimbo, ao ver que Suelem acordou pôs a mão sobre sua cabeça e disse. _ Você está bem? Suelem arregalou os olhos e gritou. _ Os homens foram atacados por lobos temos que ajudar O padre pôs um dedo na boca dela e falou com voz calma. _ Não podemos fazer mais nada, estão todos mortos, os lobos matou a todos só você sobreviveu. Suelem voltou a se deitar inconformada com a sorte dos seus amigos e chorou, o padre acariciava os cabelos da moça perguntou. _ O corpo no gelo, quem é? _ Meu irmão. _ Que mágia o prende naquele sarcófago? Por mais que tentamos quebrar o gelo uma nova camada se forma no lugar. _ Você não vai acreditar eu ainda não acredito, só sei que devo encontrar o alquimista, ele pode devolver a vida ao meu irmão. _ Já vi muitas coisas estranhas acontecerem nessas terras esquecidas por Deus, posso perfeitamente acreditar em qualquer coisa que você possa me contar, o alquimista que você procura não pode devolver a vida a ninguém, ele transforma as pessoas em monstros, mortos vivos sangue suga. _ Mas você disse que o alquimista não existe. _ Eu menti, o alquimista é real, o que não é real é o poder que todos pensam que ele tem, vou te contar a historia desse velho chinês, a centenas de anos atrás houve uma guerra na china, o alquimista viu sua mulher e sua filha serem mortas e resolveu procurar uma cura para a morte, ele trouxe os corpos para essa terra gelada a fim de preservar os corpos enquanto fazia suas experiências, anos depois ele encontrou em um poço nos porões do castelo um livro antigo escrito nas profundezas do inferno pelo próprio demônio, o livro tinha receitas de feitiços e encantamentos proibidos aos homens viventes, o chinês traduziu a linguagem dos demônios e conseguiu devolver a vida para as duas mulheres, mas elas não eram humanas normais elas

Page 255: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

255

necessitavam de sangue para sobreviver, no inicio era pouco sangue que ele conseguia em animais, mas logo elas precisavam de mais quantidade e com mais frequência, o chinês vivia caçando animais para suprir a necessidade delas, um dia elas fugiram do castelo e vieram para a aldeia, mataram e beberam o sangue de cinco homens, quando voltaram para o castelo o chinês trancou as duas em uma cela e passou a procurar a cura para a sede delas, o tempo passou e ele ficava cada dia mais velho estava perdendo as esperanças enquanto elas continuavam jovens e com sede de sangue, o alquimista tomou uma decisão mergulhou no tanque que dava a vida e se transformou em um vampiro, assim ele teve tempo para continuar com as experiências, passaram-se cem anos sem sucesso nas pesquisas, ele tinha sede de sangue, mas nunca atacou um ser humano ele não era como as mulheres, ele tinha consciência e controlava sua sede, um dia um grupo de caçadores invadiram o castelo e libertaram as mulheres, elas mataram os caçadores e beberam todo o sangue, desceram a montanha e atacaram a aldeia matando doze crianças, os aldeões as perseguiram até o castelo para matá-las, o chinês tentou impedir que elas fossem mortas, mas ele também foi ferido e se escondeu nas câmaras secretas nos corredores, as mulheres não tiveram tanta sorte, foram capturadas e queimadas até que só restou as cinzas, o chinês jurou vingança e desde esse dia ele vem arregimentando soldados para atacar e destruir a aldeia e todos os seres humanos na terra, uma deusa criou um exercito de lobos que vivem ao redor da montanha para impedir que os vampiros desçam e se espalhem pela terra, esse é um jogo que os deuses do inferno gostam de jogar onde os vivos na terra não passam se peças descartáveis de um tabuleiro, agora chegou você com esse corpo, o que devemos fazer? O padre se levantou olhando para sua esposa e saiu da casa. A noite chegou rápido, a luz da lua refletia no branco da neve deixando o ambiente claro a ponto de poderem ver a muitos metros de distancia entre as árvores que rodeava a aldeia e revelava a silhueta da montanha com uma construção no seu topo, um velho castelo construído a centenas de anos atrás por um rei que se estabeleceu na região depois de seu exercito ter conquistado essa parte do mundo,

Page 256: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

256

mas sua ruína veio em pouco tempo depois com a morte dos seus filhos durante uma rebelião dos conquistados, o rei foi decapitado e seu exercito, fraco e doente, foram dizimados. De repente todos os moradores da aldeia correram para fora das casas e olhavam em direção a montanha, crianças e velhos, homens e mulheres assustados farejando o ar, a lua estava sozinha no céu limpo sem nuvens, o ar gelado cortava as narinas dos habitantes da aldeia, todos estavam em silencio pressentindo o perigo que descia a montanha correndo como se estivessem indo para a guerra, o silencio pairava no ar, os aldeões sabiam que o que vinha de lá era o mal em pessoa, e o que ele queria estava em uma das cabanas, escondido e protegido enquanto um homem forte e hábil na arte de criar ferramentas na forja tentava destruir o bloco de gelo que protegia o corpo. Tocou um sino na igreja da aldeia, era o sinal de alarme, todos correram para lá, esse sino só era tocado em caso de extrema necessidade, em caso de ataque e de catástrofes, o padre Arnold estava na porta da igreja e começou a falar. _ Todos sabem o que está acontecendo, mais uma vez temos que lutar contra nossos inimigos das montanhas, mais uma vez somos chamados pela nossa deusa Flora para banir de uma vez essas criaturas da face da terra, hoje alguns de nós talvez não volte pra casa pro aconchego do nosso lar, pra companhia de nossa família, mas se não lutarmos não teremos casa e nem família para voltarmos, sem duvida eles destruirão tudo que encontrarem no seu caminho, e se espalharão pela terra, nós somos a única defesa do mundo contra essas coisas e não vamos falhar. Todos os aldeões que estavam ouvindo deram um grito de fúria diante do inevitável combate que se aproximava, Suelem acordou com os gritos e os sinos tocando e foi até a janela para ver o que estava acontecendo, quase caiu de costa quando viu os homens e mulheres, crianças e velhos se transformando em criaturas monstruosas, eles arrancaram as roupas, uivavam para a lua, de suas bocas saiam vapores, suas mãos tinham garras e seus corpos eram cobertos de pelos alguns eram negros e outros eram brancos, outros marrons, mas

Page 257: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

257

todos eram ferozes e demonstravam isso exibindo os enormes dentes salivando espumas pela boca. O padre Arnold transformou-se em um lobo branco peludo como um urso polar, ele era o líder do bando e continuava a gritar ordens aos seus comandados, mas sua voz se tornou mais um rugido do que uma voz humana, Suelem estava apavorada se afastando da janela com as mãos apertando a boca para não gritar e chamar a atenção dos monstros furiosos, então uma mão tocou em seu ombro quase matando a moça de susto, Suelem olhou para trás soltando um grito de terror, era a senhora Atenea que a acolheu em sua casa, seus filhos em forma de pequenos lobos correram pela porta, dois lobinhos negros correndo de quatro rosnando um para o outro, Suelem caiu no chão aos pés da Atenea que começou a tirar a roupa, seu corpo se transformava aos poucos na frente da Suelem que gritava apavorada, Atenea transformou-se em uma loba cinza de garras negras e longos dentes brancos, ela era como todos os outros, não tinha calda e era arqueada para frente, as pernas longas e fortes cobertas por pelos longos e finos, seus braços eram do mesmo comprimento das pernas, embora estivesse quase de quatro ela não tocava o chão com as mãos, Atenea abaixou-se até tocar o rosto da Suelem com o focinho gelado e úmido, Suelem já não gritava mais estava paralisada de terror sentindo o hálito quente da boca do monstro, então o grande lobo branco entrou na casa andando em passos largos e rápidos em direção a jovem caída no chão aos pés da Atenea, o lobo branco falou. _ Não tenha medo, não vamos machucar você, mas você precisa se proteger caso um deles passe por nossa tropa e venha pra aldeia, é melhor você se esconder, deixarei alguém aqui pra cuidar do corpo e de você. A loba cinza se afastou e pôs as mãos no chão ficando de quatro, ao lado do seu companheiro correram para a rua na neve se reunindo aos outros, preparando para a batalha que se aproximava com as orelhas atentas aos movimentos dos inimigos farejando seus movimentos que desciam a montanha com estrondos de cascos de cavalos que faiscavam nas rochas, o padre Arnold levantou a cabeça e disse.

Page 258: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

258

_ São mais do que esperávamos, ele arregimentou mais escravos durante esse tempo em que ficamos distantes, mas de onde veio tanta gente, como puderam passar por nós?e esse som de casco de cavalos, de onde vieram os cavalos, que cheiro é esse? Não havia tempo para indagações os inimigos se aproximavam rapidamente e a batalha deveria acontecer longe da aldeia, então o lobo branco ficou em pé levantou a cabeça e uivou dando ordem de ataque aos demais lobos que saíram em disparada em direção a montanha ao encontro do inimigo, os lobos corriam pela floresta rosnando e uivando com as garras e os dentes prontos para destroçar qualquer coisa que se meter em seu caminho, o lobo branco corria na frente liderando o grupo seus passos eram mais fortes e firmes seu corpo era maior e mais forte que os outros, seus dentes eram maiores e terríveis, acostumado a batalhas contra os filhos do alquimista, o padre Arnold era o primeiro dos lycans o fundador da aldeia e pai de todos os lobisomens. Na aldeia Suelem ficou na cabana caída no chão gelado da casa da Atenea mulher do padre Arnold, então entrou pela porta um homem com um longo casaco de pele cinza, ele se curvou para ajudar Suelem a se levantar, mas ela se afastou do homem, com um sorriso ele disse. _ Não precisa ter medo de mim, eu estou aqui para te proteger dos vampiros do chinês alquimista. Suelem encostou-se na parede encolhendo-se o mais que pode, o seu guardião se sentou em uma cadeira ele era um rapaz aparentando ter não mais que vinte anos de idade, com cabelos longos e castanhos, seus olhos eram verdes lábios vermelhos e carnudos, seu nome era Piter o caçador, então ele disse. _ Você nunca viu um lobisomem antes não é? Eu também não até que vim parar aqui por um acaso, eu me perdi do meu grupo de caçadores, quando eu os encontrei eles tinham sido atacados pelos vampiros, os vampiros me perseguiram e quando me alcançaram eu cai, dois dos vampiros estavam prestes a me morderem quando um animal branco surgiu do nada e estraçalhou os dois vampiros me protegendo, o animal branco era o padre Arnold, foi difícil para eu

Page 259: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

259

acreditar nessa historia de lobisomens e vampiros, mas desde então eu estou aqui, isso aconteceu a mais de cem anos. _ Mais de cem anos?- perguntou Suelem. _ Quando cheguei aqui o padre Arnold e sua mulher Atenea me receberam com carinho como faz com todos que vem parar nessa aldeia, me convenceram a ficar para me vingar dos vampiros que mataram os meus amigos, principalmente o meu irmão e meu pai, quando voltamos para procurar os corpos não encontramos três deles, os outros corpos foram despedaçados e queimados pelos homens da aldeia, os três corpos que sumiram eram do meu pai do meu irmão e do meu melhor amigo, agora eu sei que eles se transformaram em vampiros, deixei que me transformassem em lobo para poder ficar e encontrar minha família e matar os que os atacaram, mas o padre Arnold nunca me deixa ir com eles nas patrulhas ou nas lutas, eu tenho que ficar na aldeia para ajudar na reta guarda, eu não sou o único a ficar na aldeia temos outros vinte homens espalhados por ai, acho que estou falando demais, esse é o meu maior problema eu falo demais, me fale um pouco sobre você moça. _ Eu não tenho nada pra falar de mim e estou muito assustada para me lembrar de alguma coisa interessante sobre minha vida. Nesse mesmo momento o bando de lycans se deslocava em linha correndo entre os pinheiros carregados de neve, passando pelos postos de vigias em torno da montanha aumentando o contingente em cada posto, embora os lycans fossem em maior numero em relação aos vampiros eles tinham que se precaver, os vampiros atacavam por instinto e não tinham coordenação nos ataques, eles investiam contra qualquer coisa que se movia com fúria e sem piedade rasgando-lhes o corpo para beber o sangue que escorria dos diversos ferimentos que causavam com golpes de espadas e outras armas de guerra deixando suas vitimas totalmente mutilada tirando cada gota de sangue do seu corpo, o chinês chamado de alquimista, o criador da horda de mortos vivos, se escondia atrás da linha de ataques de vampiros estudando uma forma de romper a barreira de lobisomens, mas sempre acabavam

Page 260: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

260

recuando para a montanha se escondendo no castelo onde os lobisomens não podiam entrar. O lobisomem branco parou no ultimo posto de vigia depois de correr em torno de toda a montanha passando por cinquenta postos e deixar duas novas sentinelas em cada um deles, acompanhado por mais quinze lobisomens incluindo sua esposa e os dois filhos, as crianças costumavam ficar com seus pais nas lutas aprendendo a arte de matar vampiros. Os postos de vigias eram casas ocupadas por famílias formadas por cinco ou mais lycans, cada casa ficava a cinco quilômetros uma das outras, espaço suficiente para que os lobisomens pudessem detectar o som ou o cheiro dos vampiros, caso eles ousassem sair da montanha, assim podiam ser detidos antes de chegarem às trilhas que leva a aldeia, os vampiros não passavam de cinquenta mortos vivos, os lycans eram pessoas vivas que nasciam lycans e cresciam, amavam e se casavam e tinham filhos, não eram imortais, mas podiam viver por séculos, as mulheres só podiam ter filhos em três períodos fértil em sua mocidade, depois disso se tornavam inférteis, na aldeia havia homens e mulheres com mais de mil anos, velhos que nasceram com o surgimento dos primeiros vampiros, criados para serem os guardiões da montanha, entre esses velhos estava o padre Arnold, o líder e pai do bando de lycans. Arnold, o lobisomem branco, sentia que algo estava errado, normalmente os vampiros eram lentos e levavam horas para descerem a montanha, por terem o corpo deteriorado e muitos deles atrofiados, eram fracos e não ofereciam muita resistência aos lycans, ha mais de cinquenta anos que não apareciam nem para caçar animais como faziam com frequência, nessas caçadas às vezes se tornavam caça dos lobisomens, que quase os levou a extinção por completo restando poucos deles, mas dessa vez eles estavam descendo a montanha com rapidez e já estavam a meio caminho, dava para se ouvir os estrondos dos seus passos. O bando de lycans estava assustado com o novo comportamento dos seus inimigos eles nunca viram os vampiros se moverem tão depressa, e o cheiro também estava muito estranho,

Page 261: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

261

havia mais de um odor no ar, um diferente que os lobisomens não conheciam, era um cheiro de carne podre, embora o cheiro dos vampiros também fosse de carne humana apodrecida, os lycans olhavam entre si procurando uma explicação para esses fatos novos, Arnold não tinha tempo para tentar encontrar uma explicação e deu à ordem de avançar aos seus soldados lycans que obedeceram imediatamente, movidos pelo instinto de caça os lobos avançaram em direção aos vampiros, uivando latindo como cães selvagens subindo pelas trilhas coberta de neve cercada de pinheiros, uns se embrenharam entre as árvores aumentando a linha de ataque, quanto mais corriam mais aumentava a adrenalina seus instinto de animais e o desejo de destroçar suas vitimas, o vento gelado entrava em suas narinas saindo em baforadas de vapores pela boca, estavam com os pelos molhados pela neve suas patas enterravam na neve fofa, mas nada os impediriam de continuar a caçada. O líder do bando de lycans, que corria a dez metros na frente dos outros, parou de repente obrigando o bando a fazer o mesmo, derrapando na neve fofa desviando-se das árvores, o silencio traduzia o medo e o espanto que se apoderou dos lobisomens, os vampiros se aproximavam cavalgando em criaturas horrendas parecidas com cavalos, de longe se podia ver os monstros se aproximando com os vampiros pálidos e sem roupas gritando ao sentirem o cheiro dos lobisomens e sede de sangue que os atormentavam, os lycans poderiam ser uma boa fonte de alimento para esses mortos vivos que há anos não se alimentavam presos no castelo acorrentados pelo alquimista. _ O que é aquilo? – disse o padre Arnold. Os outros lobisomens estavam inquietos, as criaturas estavam pertos o bastante para que todos pudessem ver, eram animais negros, parecia não terem pelos sobre a pele, tinham feridas abertas e estavam em carne viva, esses animais estavam em estado de decomposição assim como os que os montavam, suas cabeças era pele sobre osso, seus olhos eram negros e opacos, não tinham calda e eram magros como um esqueleto, os vampiros se equilibravam sobre as criaturas usando celas de peles de animais que fediam tanto quanto as criaturas

Page 262: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

262

e seus montadores, os vampiros não pararam como fez os lobisomens, continuaram em disparada atravessando a coluna de lycans atacando com espadas e lanças, os vampiros eram fracos e muitos deles não tinham dentes nenhum na boca usavam armas para caçar e retalhar suas vitimas, na luta contra os lobisomens essas armas era suas únicas defesa e as usavam muito bem, agora montados sobre as criaturas eles tinham mais uma arma, as criaturas fedidas mordiam se alimentavam de carne,. Os lobisomens saltavam sobre as criaturas atacando os vampiros derrubando-os no chão, mordendo-lhes arrancando-lhes a cabeça como sempre fizeram nas batalhas contra esses sangues sugas, as montarias continuavam a correr e voltavam para atacar os lycans, atraídos pelo calor do corpo dos lobisomens e o cheiro de carne e sangue fresco. O padre Arnold vendo que tinham mais um inimigo para lutar coordenou uma nova estratégia de defesa, os lobisomens corriam na frente dos demônios e seus cavaleiros, com um salto os lycans subiam nas árvores fugindo das mandíbulas das criaturas demoníacas e das armas dos vampiros, as criaturas não conseguiam parar a tempo derrapando na neve e colidiam nos troncos dos pinheiros, então os lobisomens saltavam sobre os vampiros derrubando-os de suas montarias, montados nas costas das criaturas os lobisomens mordiam-lhes o pescoço decapitando-os enquanto os vampiros tentavam se levantar e lutar no meio da chuva de neve que caia dos pinheiros com os impactos dos lobisomens e das criaturas. Um velho ancião da aldeia dos lycans travava uma batalha isolada após ter perseguido um vampiro que tinha conseguido passar pelas linhas de defesa, o ancião se chamava Bittar, um lobo negro como a noite caçador hábil de temperamento explosivo, mas muito respeitado por toda a aldeia por ter salvado a vida de muitos dos habitantes. Bittar, o lobisomem negro, perseguiu a criatura com um vampiro montado em sua costa, a criatura corria em direção à aldeia desviando-se dos troncos dos pinheiros, o vampiro olhou para trás e viu o enorme lobo negro em seu encalço, sacou a sua espada e brandiu no ar cortando os galhos mais baixos dos pinheiros, então como se

Page 263: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

263

cavaleiro e cavalo estivessem em sintonia à criatura parou de repente e voltou-se para trás encarando o lobisomem que se aproximava rapidamente, o velho Bittar aproveitou a velocidade em que vinha e saltou sobre a criatura para atingir o vampiro, a criatura levantou as patas dianteiras e ficou em pé esticando a cabeça alcançando a barriga do lobo negro arrancando-lhe tufos da espessa camada de pelos e carne formando uma enorme ferida na barriga do velho soldado lycan, com o salto que a criatura deu o vampiro foi lançado para trás com sua arma em punho, o lobisomem negro caiu ao lado do vampiro e se levantou a tempo de não ser golpeado pela espada afiada do morto vivo, mas não adiantou se esquivar da espada a criatura já tinha se virado e estava em cima do lobisomem que mal teve tempo de tirar a cabeça do alcance da boca do monstro, mas a criatura era rápida e estava faminta, em um movimento rápido conseguiu abocanhar a perna do lycan, com seus dentes afiados e mandíbulas fortes destroçou os ossos e os tendões da perna do lobo chacoalhando o enorme lobo no ar tentando arrancar a pena do velho e cansado Bittar, por fim a perna do velho guerreiro não suportou mais tamanha agressividade e se soltou do corpo quente e dolorido, a criatura engoliu a perna inteira em questão de segundos e avançou em direção ao lobo que continuava caído manchando a neve com seu sangue vermelho quase negro, o vampiro se lançou sobre o lobo tentando tirar sua parte dos despojos do seu inimigo, a criatura apoiou as patas dianteiras sobre o peito do lobo vivo e tentou morder-lhe o pescoço, mas o lobo ainda lutava pela sua vida arranhando a cara ossuda da criatura, então a criatura mordeu a pata do lobo que tentava se defender, arrancando-lhe uma das patas engolindo-a sem o menor esforço, o vampiro enfiou a cara no ferimento na parte traseira do desafortunado lobisomem bebendo o sangue que antes se perdia na neve, sem defesa Bittar não pode mais lutar e foi devorado enquanto uivava tentando avisar aos outros que um vampiro havia passado e estava indo em direção a aldeia, mas seus uivos foram silenciados ao ter a metade da cabeça arrancado com uma mordida da criatura demoníaca. O lobo branco estava em meio do calor da batalha estraçalhando uma das criaturas enquanto segurava um vampiro com

Page 264: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

264

as garras traseiras para que não fugisse então o padre levantou a cabeça com a cabeça da criatura entre os dentes, e farejou o ar, suas orelhas ficaram em pé e se voltaram em direção à aldeia, os uivos do seu amigo Bittar chegaram até ele, tomado pela fúria o lobisomem branco esmagou a cabeça da criatura que estava entre seus dentes olhou para o frágil vampiro seguro no chão e o despedaçou com as garras fazendo do vampiro em pedaços pequenos espalhando-os pela neve, com um uivo outros dois lobos sua esposa e os dois filhos partiram correndo em socorro ao amigo, os outros ficaram incumbidos de destruir o resto dos vampiros e as criaturas que já não amedrontava os lycans. O lobisomem branco corria entre os pinheiros seguidos de perto pelos seus soldados lycans enfurecidos, quanto mais perto chegavam do local da luta entre o velho Bittar e o vampiro mais forte ficava o cheiro de um lycans morto, fato que não acontecia há muito tempo, raramente um lycans ficava ferido em uma luta contra os vampiros, e raramente os confrontos duravam mais que cinco minutos, sempre com a fuga dos vampiros de volta para o castelo onde os lycans não podiam ir por causa das armadilhas que o alquimista preparou para os visitantes indesejados, tornando o castelo o lugar mais seguro para os vampiros. O pequeno grupo de lobisomens chegou onde estava o lobo morto, Arnold parou e olhou para os lados, a neve estava vermelha tingida de sangue, não tinha restos do lobo negro, apenas tufos de pelos escuros presos no tronco de um pinheiro perto da mancha vermelha no chão, o fedo era forte, a criatura comia e defecava ao mesmo tempo, deixando uma massa vermelha escura espumosa no chão onde se alimentavam, um ser amaldiçoado pelos demônios criados no inferno para servirem de montaria para o próprio Hades em suas lutas particulares, Arnold não tinha tempo a perder, rosnou e partiu para a aldeia latindo correndo o mais que pode pressentindo o desastre que aconteceria se essa criatura chegasse primeiro, Bittar era o mais valente de todos os lycans, destemido e o mais forte de todos, Bittar foi o professor do padre Arnold ensinando a caçar e a superar seus medos, nenhuma criatura poderia matar o poderoso Bittar com

Page 265: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

265

tamanha facilidade e se essa criatura com um único vampiro conseguiram então era uma verdadeira ameaça aos que ficaram na aldeia, já que eram jovens e muitos deles sem experiência em combate contra os vampiros, o padre Arnold não sabia quantos deles poderia ter passado, os vampiros não eram muitos mas com aquelas criaturas ao seus comando tudo poderia acontecer. CAPITULO IXX O Alquimista chinês Suelem estava sentada em uma cadeira para ouvir as historias do seu jovem protetor, ela já não sentia mais medo apenas ouvia com atenção as historias das lutas dos lycans contra o alquimista, luta que ele nunca teve permissão para participar, sempre ficou na aldeia para defender a reta guarda, os vampiros nunca passaram das linhas de defesa dos lycans, de repente o rapaz ficou em pé, em um segundo ele estava se transformando em lobo e correu para fora da casa deixando Suelem sozinha, Suelem não teve tempo de se assustar com a transformação do jovem rapaz, nem com a saída repentina, sentada ela ouviu os urros, uivos e latidos no lado de fora da casa, sons de cães gritando de dor, a confusão durou poucos minutos e logo tudo estava calmo em total silencio, apenas o vento batendo na janela, Suelem estava sentada em uma cadeira quando a porta se abriu, o cheiro de carne podre entrou com o vento invadindo toda a pequena casa, Suelem caiu assustada. O padre Arnold com seu pequeno grupo chegou à aldeia parando em frente à igreja farejando o ar, o silencio imperava assustadoramente, o fedo era o mesmo da floresta e impregnava toda a aldeia, o grande lobo branco caminhou vagarosamente pelas ruas procurando algum sinal de vida, mas tudo estava quieto, até que um dos pequenos lycans, filho do padre e da Atenea, correu para uma das casas onde morava um dos seus amigos e parceiro de folias que tinha ficado com seus pais para proteger a aldeia, antes de entrar na casa o jovem lobo negro sentiu medo e parou na porta que estava aberta, deu

Page 266: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

266

dois passos para trás e rosnou como um cachorro que acaba de ver algo perigoso, antes de tomar qualquer reação ele foi atirado para longe com um golpe dado pela sua mãe afastando-o do perigo que se ocultava no interior da casa, nesse momento uma criatura montada por um vampiro saltou pela porta com a boca aberta pronta para abocanhar quem estivesse em seu alcance, mas antes de atingir a loba Atenea o lobo branco o agarrou pelo pescoço pegando de surpresa o vampiro que o montava, o vampiro raquítico usando um velho uniforme militar azul não teve tempo de se defender com sua espada, caindo longe da sua montaria, ao tocar no chão um dos lobisomens que acompanhava o padre Arnold o atacou arrancando-lhe o braço que segurava a espada, os dois pequenos lobisomens atacaram o vampiro desarmado e o fez em pedaços, o casal de lobos com a ajuda de um grande e velho lobisomem marrom atacou a criatura despedaçando-a com fúria sem controle, só pararam com o esquartejamento quando não havia mais nada para morderem, ao se acalmarem olharam para o fim da estrada em direção a igreja, não havia mais sinal de vida na aldeia, Arnold se lembrou do sarcófago que estava na igreja e correram pra lá, os lobisomens entraram pela porta que estava aberta, o fedo era mais forte dentro da igreja do que em qualquer outro lugar, as paredes estavam manchadas de sangue no assoalho havia vários montes de massa vermelha como a que viram na floresta, as criaturas haviam se alimentado ali, então o velho lobo Marrom entrou e olhou em volta, o gelo do sarcófago estava em pedaços e o corpo havia desaparecido, os lobos se transformaram em humanos e saíram andando pela rua vasculhando as casas em busca de sobreviventes, mas só encontravam montes de massas fedorentas em toda parte, os lobos que estavam na batalha estavam retornando saindo da floresta de pinheiro em meio a neve, o vento soprava espalhando o cheiro de morte, o padre Arnold os recepcionou em frente a igreja e contou o que havia acontecido com seus irmãos e irmãs na aldeia, mas uma coisa era certa, isso não foi trabalho de apenas uma criatura e um único vampiro, muitas das criaturas passaram pela linha de defesa dos lycans e invadiram a aldeia causando aquele massacre, então um jovem lycan que veio do sul correndo pela estrada de gelo se pôs na frente do padre e disse.

Page 267: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

267

_ Eu rastreei as criaturas eles vieram pelo sul da montanha pela área protegida pela família do Leonel Frank, e voltaram pelo mesmo caminho. O padre Arnold olhou para o sul da montanha, a floresta de pinheiro cobria toda a montanha e descia até a margem do rio congelado, por mais que o padre tentasse farejar o ar em busca das criaturas o cheiro da aldeia era mais forte, o rastro dos invasores foram cobertos pela neve e, eles se moviam mais rápido do que os que lutaram na floresta, na fuga levaram o corpo do Derik e a menina Suelem para o castelo do alquimista. _ Preciso de dois dos meus melhores lycans para me acompanhar, os outros ficaram aqui para limpar essa bagunça, vamos seguir os vampiros até o castelo e matar todos de uma vez por todas. – disse o padre Arnold. O padre partiu seguindo a trilha que leva ao posto de vigia ao sul da montanha que era a casa da família do senhor Leonel, acompanhado por dois grandes lobos marrons, em segundos eles desapareceram entre os pinheiros. Os vampiros chegaram ao castelo galopando pela ponte de pedras negras sobre o abismo com poças de água, o castelo era escuro e frio, os seis cavaleiros passaram pela enorme porta de madeira no fim da ponte carregando Suelem e o corpo enrijecido, passaram pelo longo corredor e entraram por outra porta do mesmo tamanho que a anterior e outro corredor estreito e mais longo com outra porta menor e mais baixa, as criaturas continuavam em seu galope frenético, entraram por mais uma porta saindo em um grande pátio aberto assim que eles passaram essa porta se fechou então eles pararam de correr e começaram a caminhar em direção a entrada do castelo onde o alquimista os esperava em pé parado no salão escuro e úmido, as criaturas se aproximaram do velho encurvado e pálido com roupas longas molhadas e sujas, sem pelos pelo corpo com olheiras negras e lábios escuros, um vampiro jogou Suelem no chão aos pés do alquimista, outro deixou o corpo do Derik cair no chão como uma pedra dura fria e sem vida, o alquimista deu ordens a três dos seus

Page 268: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

268

escravos vampirizados para levarem o corpo para o porão e a Suelem ficou sob seus cuidados, não se podia deixar uma mulher de sangue quente perto dos vampiros sem consciência e famintos, quando os escravos do alquimista viram a moça de imediato tentaram atacá-la, mas as criaturas totalmente dominadas pelo seu mestre os impediu, os vampiros que montavam as bestas se mantinham tão obedientes quanto as montarias, diferentes dos escravos, esses vampiros não eram esqueléticos e um deles tinha cabelo na cabeça, esses soldados pareciam não ter tanta sede de sangue quanto os escravos que ficaram no castelo, eles estavam bem alimentados e pareciam ser muito forte, depois que os escravos levaram o corpo do Derik para o porão os cavaleiros desmontaram de suas criaturas, um deles pegou Suelem no colo, já que ela estava desacordada e seguiu o alquimista que andava na frente, os outros cinco vampiros e suas criaturas foram para um outro salão onde havia varias mulheres presas a correntes esperando para servirem de alimento para os guerreiros demoníacos, os vampiros atacaram duas mulheres bebendo todo o sangue que podiam deixando a carcaça para serem devoradas pelas criaturas que despedaçavam e engoliam os pedaços inteiros defecando sob os olhares apavorados das mulheres que esperavam por sua vez aos gritos e choros. O alquimista levou Suelem para seus aposentos, mandou que o vampiro a deixasse em sua cama e saísse, ele se sentou ao seu lado esperando que ela recuperasse a consciência. Enquanto isso em uma sala no porão do castelo, os escravos preparavam o corpo para a ressurreição, a sala vazia e ampla com pouca claridade, no centro da sala havia um tanque redondo de cinco metros de diâmetro cheio de um liquido escuro que borbulhava enfumaçando o ambiente com um vapor de cheiro forte, os escravos jogaram o corpo dentro do tanque que afundou lentamente, os escravos sentaram ao lado do tanque e permaneceram ali montando guarda. No quarto do alquimista Suelem estava recobrando a consciência ao lado do velho vampiro, ele olhou para ela e sorriu ficando mais assustador que antes, a moça não deteve um grito de terror, o anfitrião

Page 269: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

269

ria sem parar achando engraçada a reação da moça em pânico encolhendo-se na cama grande e gelada. _ Não precisa ter medo de mim, eu não vou fazer mal nenhum a você. – disse o alquimista a Suelem. O velho se levantou afastando-se da moça que não parava de gritar, isso o divertia e ele continuava a rir descontroladamente, de repente assim como ele começou a rir ele parou e gritou. _ Basta, se não fosse o meu mestre eu já a teria matado lá na aldeia com aqueles lobisomens malditos, agora é melhor você se acalmar ou eu te mato mesmo contra a vontade do mestre. Das sombras em um canto do aposento um vulto se levantou, era uma sombra negra sem forma humana flutuando no ar, o alquimista viu a sombra se aproximando e fez cara de raiva e medo. _ Você não fará nada de mal contra ela velho tolo, não se esqueça de quem sou e o que eu posso fazer a você. – disse o vulto ao alquimista que se afastou em silencio de cabeça baixa praguejando o vulto. O vulto pairava no ar em frente à Suelem, a moça congelada e apavorada de olhos fechados tremia mordendo os lábios, quando ela abriu os olhos o vulto havia desaparecido, o alquimista estava em pé em um canto nas sombras olhando a mulher com ódio nos olhos amarelados, com um sorriso sinistro ele a chamou para acompanhá-lo saindo de vagar sem olhar para trás, Suelem levantou-se receosa e seguiu o velho que quase se arrastava pelo corredor largo e escuro do castelo, o silencio era interrompido por gritos de terror que ecoavam pelas paredes úmidas e mofadas, Suelem não sabia de onde vinham os gritos e gemidos, que apavorava o castelo. Na floresta os lycans corriam seguindo a trilha dos vampiros que atacaram a aldeia, o padre Arnold e os dois lobisomens marrons chegaram à casa da família do lenhador Leonel Frank, os rastreadores procuraram por vitimas como na aldeia, mas não havia sinal de luta no local, os vampiros passaram sem lutar, sem resistência, a família de lycans que morava ali havia desaparecido sem deixar rastros, os lobisomens eram peritos em não deixar rastros nem cheiro para não

Page 270: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

270

serem seguidos pelos inimigos, isso deixou os rastreadores desorientados, mas ainda podiam seguir o rastro dos vampiros e a trilha deixada por eles ia direto ao castelo seguindo entre os pinheiros escalando uma parte íngreme em um paredão na montanha, um lado da montanha jamais usado pelos vampiros, por terem o corpo debilitado eles não poderiam fazer tamanho esforço físico, as criaturas possibilitaram essa escalada pelas paredes com facilidade e rapidez, agora os lycans teriam que fazer o mesmo caminho e vingar-se da morte dos seus amigos destruindo todos os moradores do castelo inclusive o alquimista chinês. No castelo Suelem acompanhou o velho vampiro até o porão em uma sala onde dois vampiros raquíticos montavam guarda olhando para o tanque iluminado por uma tocha acesa pendurada em uma parede, os vampiros esqueléticos evitavam se aproximar da claridade e do calor do fogo se escondendo nas sombras, quando a moça viu os vampiros parados na porta pensou em fugir, mas para onde ir naquele castelo mal assombrado, os vampiros pálidos se contorciam de fome, mas o alquimista tinha total controle sobre suas criações e, os vampiros embora não tivessem consciência do que faziam agindo por instinto e guiado pela fome, ou sede de sangue, tinham a mente controlada por alguma força telepática, a mesma força que os guiavam nas lutas contra os lycans e, também usada para controlar as criaturas no ataque na aldeia, um ataque coordenado do castelo. Suelem entrou na sala atenta a qualquer coisa que se movesse em sua direção, ao lado do alquimista em frente ao tanque cheio de um liquido viscoso borbulhante soltando vapores negros no ar frio, ela olhou para o tanque tentando descobrir o que era aquilo, então o alquimista disse. _ É aqui que se faz a vida, aqui é a porta do inferno, por onde os espíritos e deuses passam para esse mundo causando destruição por toda parte, logo tudo estará terminado e eu estarei livre para ir para onde eu quiser, então terei a minha vingança contra todos que me fizeram sofrer por todos esses séculos, e me transformaram nisso que

Page 271: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

271

sou um monstro doente, essa raiva não vai acabar enquanto eu não matar todos. Suelem ouvia tudo em silencio tremendo de frio e medo diante de tenta raiva que exalava daquele ser pútrido, o ar que já era gelado ficou ainda mais frio Suelem se abraçou sentindo seus ossos estremecerem, ela não notou que o vulto que a visitou no quarto estava ao seu lado olhando para o tanque, o espectro tocou no liquido e o vapor que subia se concentrou em sua mão, como se ele estivesse sugando e experimentando a mistura que fervia no tanque, o alquimista não olhava para o vulto, mas sabia que ele estava ali, quando Suelem percebeu a companhia ao seu lado ficou paralisada, não de medo, mas por que estava com o corpo dominado pelo espectro, seu corpo não respondia ao seu comando, o ambiente ficou cada vez mais frio e apavorante, Suelem se lembrou da ultima vez que ficou assim, foi na gruta onde apunhalou seu irmão em sacrifício aos espíritos, como na ultima vez ela sentia muito frio, seus ossos pareciam estar congelados e se movia fora do seu controle, matando Derik em um altar de pedra. _ O que está acontecendo comigo? Quem é você? –perguntou Suelem ao espectro. O alquimista não se movia nem olhava para a mulher ao seu lado sendo dominada pelo espírito, Suelem levantou um braço baixando-o sobre a superfície do liquido escuro no tanque, mas não a tocou deixando a mão a dez centímetros da superfície. _ Agora falta pouco para que a profecia se concretize. –disse o espectro. Então uma mão se levantou daquela água suja trazendo um punhal, o mesmo que foi usado no sacrifício na caverna, o espectro pegou a lamina e a entregou a Suelem, ela reconheceu a lamina e chorou, os vampiros que montavam guarda saíram da sala ao verem o punhal, o alquimista mudou seu semblante, que era de raiva, ficou assustado olhando fixamente para a arma de cabo negro e lamina vermelha quente como o fogo do inferno, o espectro estendeu as mãos sobre o tanque e o corpo de Derik se levantou na superfície, o espectro analisou o corpo e ficou imóvel como se estivesse esperando por

Page 272: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

272

alguma coisa, mas nada aconteceu, o demônio se enfureceu e deu um grito que podia ser ouvido do lado de fora do castelo se atirando no tanque sumindo na sombra da água escura, a sala ficou um pouco mais quente e Suelem saiu do transe segurando o punhal sobre o corpo do seu irmão, ao se deparar com aquela situação tomando o controle do seu próprio corpo ela caiu no chão molhado e frio, o alquimista se afastou com um salto para trás evitando ser atingindo pela lamina do punhal, Suelem ficou sentada no chão segurando a lamina afiada, percebeu que o vampiro se afastou olhando para a mão que segurava a arma, ao se levantar apoiando-se na borda do tanque ela olhou para dentro procurando seu irmão, mas ele já tinha voltado para o fundo escuro do tanque, olhou ao seu redor, não havia mais ninguém por perto, o alquimista tinha desaparecido assim como seus escravos, a tocha de fogo que clareava a sala se apagou, a escuridão tomou conta da sala deixando Suelem perdida sem saber para onde ir, instintivamente ela segurou firme o punhal e o apontou para frente defendendo-se de qualquer coisa que eventualmente a atacasse, a lamina do punhal começou a emitir uma luz vermelha fraca, mas o suficiente para que ela pudesse ver para onde ir, quanto mais ela apertava o cabo do punhal mais a lamina brilhava, ela sentia que a força da lamina saia do seu próprio corpo, a lamina puxou a mão da Suelem como se tivesse apontando o caminho para onde seguir, sem opções Suelem seguia a ponta do punhal como um viajante perdido seguindo uma bússola. No lado de fora do castelo, os lycans chegaram ao enorme portão da entrada que estava aberto, cautelosamente eles entraram atentos a qualquer armadilha feita pelo alquimista contra ataques de lycans, o alquimista se escondia no interior do castelo furioso gritava e blasfemava contra os deuses e os guardiões do inferno, os lobisomens estavam sobre a ponte larga de pedras, a sua frente havia outra porta de madeira destruída pelo tempo, o lobo branco parou e os três grandes lobos rosnaram exibindo os dentes pontiagudos, a sua frente saíram das sombras oito lobos caminhando pela ponte ao encontro do trio, os oito lobisomens andavam de cabeça baixa com os dentes para

Page 273: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

273

fora em sinal de ataque em formação de batalha, na frente do grupo um grande lobo cinza como todos os outros indicando que eram da mesma família, os menores eram mais escuros, mas eram tão agressivos como os grandes. O grande lobo cinza que andava na frente chegou a três metros do lobo branco. _ Olá padre Arnold, eu estava esperando por você. –disse o lobo cinza. _ Olá Leonel, eu não esperava te ver aqui, mas algo me dizia que isso poderia acontecer, de que lado sua família está? _ A minha família está do lado de quem poder nos oferecer mais, o que você pode nos oferecer? _ O que os vampiros te ofereceram? _ A chance de poder sair dessa aldeia e viver em outros lugares, onde vivem as pessoas normais. _Nós não somos normais Leonel, nem eu e nem você e nem sua família, nós somos o que somos e vivemos para caçar e matar os vampiros. _ Isso é o que você quer que acreditemos você nos transformou nisso que somos sem nos perguntar se queríamos ser isso, se queríamos caçar vampiros sob seu comando, o que você queria era criar novos soldados para seu exercito de monstros, nós não somos diferentes dos vampiros, o que eles querem é sair daqui e viver em paz em algum lugar nesse mundo, será que não existe outro lugar para vivermos fora daqui? Deixe-nos partir em paz ou nos ofereça algo para não lutarmos aqui. _ O que eu tenho para te oferecer é a morte, para você e sua família, você poderá escolher se quer ter uma morte rápida e sem dor ou se prefere lutar e morrer dolorosamente. Leonel deu um passo para trás juntando-se a sua família, o que antes parecia ser uma boa idéia agora perdeu o sentido diante do enorme lobo branco e os dois maiores e mais velhos lobos da aldeia de lycans, parecia suicídio atacar e lutar contra esses três assassinos de dentes pontudos e longos, o grupo comandado pelo Leonel era formado por três fêmeas, uma grande chamada Doroti que era mulher

Page 274: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

274

do Leonel, uma mais jovem que era irmã da Doroti e se chamava Cassandra, e a jovem adolescente Miriam filha de Doroti, e cinco machos, Leonel o chefe da família era o maior dos lobos rebeldes, Gustavo o irmão de Leonel era pouco menor, Gabriel esposo de Cassandra e moravam na mesma casa e não tinham filhos, Mauricio o irmão gêmeo de Miriam e, um outro jovem macho que acompanhava a família seu nome era Frank. Apesar da vantagem numérica Leonel não se sentia confortável diante da imponência dos três adversários, mas agora era tarde para voltar atrás ou fugir, os combatentes rebeldes rosnavam tentando intimida os três grandes, sem aviso Leonel saltou contra o padre Arnold com as garras e dentes prontos para esfacelar quem quer que entre na sua frente, Arnold saltou de encontro ao Leonel, essa não era a primeira vez que o padre Arnold enfrenta um de sua espécie em uma luta pela vida, a centenas de anos atrás muito antes de Leonel ter nascido, no inicio da era dos lycans quando os lobos eram contados em dezenas de centenas, vivendo em uma grande aldeia que se estendia em volta da montanha onde viviam centenas de vampiros fortes e sedentos por sangue, em um grande combate, os lobos derrotaram os vampiros reduzindo-os a poucos indivíduos aprisionado no castelo, privando-os de sangue humano que lhes dava força, então uma parte dos lycans se revoltou contra os lideres e tentaram sair da aldeia e povoar a terra com lobisomens, os lideres dos lycans foram contrários a idéia de ter lobisomens entre os humanos, temendo que os lycans começassem a caçar homens em vez de animais silvestres, isso deflagrou uma guerra que dividiu o enorme bando causando a morte de centenas de lobos, esses três grandes lobos que agora se preparavam para lutar contra a família do lenhador Leonel eram os lideres que destruíram os rebeldes a centenas de anos atrás e, agora estavam prontos para repetir o mesmo combate contra os novos rebeldes do bando, e como da outra vez não haveria piedade e nem sobreviventes, todos teriam que ser destruídos, homens mulheres velhos e crianças. O padre Arnold saltou mais alto que o Leonel evitando as garras e dentes, com um golpe de suas poderosas patas o lobo branco

Page 275: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

275

estilhaçou a espinha dorsal do seu oponente, o lobo cinza deu um urro de dor e caiu com violência sem poder se mover, mal acabou de tocar no chão o lobo branco rapidamente retornou, antes que o Leonel pudesse ver o que o tinha atingido já estava com a cabeça entre os dentes do padre Arnold, o lobo branco olhou para o resto da família que estava parada no mesmo lugar e não teve tempo de entender o que havia acontecido com o patriarca da família, então o padre Arnold esmagou o crânio da sua vitima mastigando e engolindo toda a cabeça, os dois lobos marrons saltaram sobre os lobos assustados esmagando e dilacerando os pobres e indefesos lobisomens jovens, ao ver que seriam destruídos assim como seu pai a jovem loba cinza Miriam se atirou da ponte de pedras caindo no precipício, o lobo branco se atirou atrás da jovem iniciando uma caçada entre as pedras do despenhadeiro, pedaços de lobos caiam da ponte, as gotas de sangue eram levadas pelo forte vento, espalhando pelas rochas tingindo-as de vermelho, a jovem Miriam se machucou na queda e mancava de uma perna, ela sabia que estava sendo seguida e tinha que fugir para salvar sua vida, como na ultima vez que o grande lobo branco teve que lutar contra rebeldes novamente ele teve que caçar os fugitivos e, como da última vez eram crianças assustadas que lutaram sob as ordens de seus pais e fugiram assim que viram seus genitores serem estraçalhados, na maioria eram meninas confusas e apavoradas. Arnold reviveu os velhos tempos de caçadas, o gosto de lutar e matar seus adversários comendo sua carne macia, engolindo os pequenos lobos inteiro, estuprando e esquartejando as jovens fêmeas fugitivas, saboreando-as depois de satisfazer seus desejos de macho canibal, Miriam a jovem loba se esgueirava entre as pedras tentando escapar do seu perseguidor e alcançar a floresta de pinheiros cobertos pela neve, ela sabia que suas chances de fugir eram zero, mas era questão de vida ou morte, Arnold estava excitado pela caçada e pelo cheiro da fêmea correndo com dificuldades, mancando deixando uma trilha de odor por onde passava, o lobo branco se levantou sobre as pernas traseiras ampliando seu campo de visão, ao farejar sua vitima ele uivou para o céu e deu inicio a caçada, mas a jovem também tinha seus truques para escapar de seus perseguidores e usava cada um deles

Page 276: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

276

na esperança de escapar, Arnold se viu inudibliado varias vezes ao encontrar pistas falsas se afastando cada vez mais da sua vitima, mas a caçada estava apenas começando e esses atrasos o deixou mais excitado, farejando o ar ele encontrou uma nova trilha de odor, rastejando pelo chão congelado encontrou o rastro da jovem loba, agora seu destino estava selado, uma vez que um lobisomem encontra o rastro ele a perseguiria até o fim. A jovem Miriam estava a poucos metros das árvores correndo o mais rápido que podia, apesar de estar ferida, quando parecia que estava segura sentiu um golpe de alguma coisa caindo sobre seu corpo, era o grande lobo branco se atirando em silencio sobre sua caça, em questão de segundos antes que ela pudesse revidar já estava imóvel de baixo do corpo peludo do lobo branco, o grande lobo rosnava expondo seus dentes grandes e fortes manchados de vermelho do sangue da sua ultima vitima, Miriam percebeu que estava tudo acabado, fechou os olhos esperando o golpe do seu carrasco, então ouviu um uivo que ecoou pelo ar vindo do castelo, os uivos se prolongaram e o lobisomem branco interrompeu o ataque olhou para o alto em direção ao castelo no meio da neblina, então ele levantou o braço para desferir o golpe fatal, mas o golpe foi em uma das pernas da loba, agora ela tinha duas pernas fraturadas, em um pulo ele saiu de cima da jovem e correu para o castelo subindo a encosta aos saltos desaparecendo na neblina. Miriam tentou se levantar, com fortes dores em duas pernas ela andou alguns metros na direção dos pinheiros, era inútil, logo o lobo branco voltaria, talvez não voltasse sozinho e o que fariam com ela poderia ser pior do que a morte, ela se transformou em mulher, estava nua no meio da neve sem o pelo de lobo para protegê-la ela sentiu frio, formando uma fina camada de gelo sobre sua pele branca e delicada com marcas de arranhões avermelhados e enormes manchas rochas em ambas as pernas, o frio ajudava a amenizar a dor, nesse momento ela não se preocupava de como iria morrer, de frio ou violentada e devorada pelos lobisomens, então ela fechou os olhos e se deixou cobrir pela neve que caia das nuvens, seu corpo nu logo foi enterrado e desapareceu aos pés de um pinheiro.

Page 277: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

277

O lobo branco alcançou a ponte subindo a encosta aos saltos a tempo de abocanhar e decapitar um vampiro montado em uma das criaturas, o poderoso Arnold se pôs no meio da ponte sacudiu a cabeça do vampiro em sua boca atirando-a no precipício, a criatura ainda corria com o corpo decapitado em seu lombo dando a volta e atacando o lobo branco, os lobos marrons já tinham esquartejado dois vampiros e uma criatura que se atreveu a chegar perto demais de suas garras, Arnold se levantou esquivando-se da mandíbula da criatura fedida golpeando-a nas costas com as garras longas e afiadas dividindo a criatura em duas partes, a criatura caiu e mesmo assim sacudia a cabeça tentando morder alguma coisa que estava próximo de sua boca. Sem tempo a perder Arnold correu rosnando para cima de outra das criaturas com seu cavaleiro vampiro, mas esse recuou fugindo para a segurança do castelo, dos seis vampiros só restaram dois e estavam galopando para a escuridão, Arnold se juntou aos outros dois lobos marrons, um deles ainda tinha as garras enfiadas no corpo de um vampiro que tentava escapar arranhando o chão, o outro lobo marrom apoiou a enorme pata sobre a cabeça do vampiro e a esmagou como se estivesse esmagando um ovo de casca frágil, Arnold olhou para os dois lobos, sem dizer nada seguiram de vagar para a porta, não seria a primeira vez que os lobisomens tentam entrar no castelo, as armadilhas e encantamentos nas paredes impediam a invasão, mas dessa vez eles estavam decididos a entrar, mesmo que isso significasse a morte de cada um deles. Em fila os três adentraram pelos corredores escuros, os lobos enxergavam muito bem na escuridão, mas por causa dos feitiços e encantamento nas paredes do castelo seus sentidos eram reduzidos a sentidos humanos, o vento entrava pelas janelas abertas uivando como gritos de terror ecoando pelos corredores, eles estavam apreensivos cautelosos se preparando para um possível ataque, em uma porta no fim do corredor havia uma luz vermelha que brilhava com intensidade, os lobisomens pararam rosnando, Suelem saiu pela porta com a faca iluminada na mão, ao ver os enormes lobos rosnando clareados pelo brilho avermelhado Suelem achou que eles fossem

Page 278: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

278

atacá-la, com medo ela deu um passo para trás, o lobo marrom, conhecido por Enoque, deu um passo para frente e disse. _ A lamina de fogo, onde você a encontrou? _ Me foi dada por um espírito. _ Se a lamina de fogo está aqui então à passagem também está. – falou o outro lobo marrom conhecido como feiticeiro Regis. Suelen pensou e disse. _ Havia um tanque cheio de uma coisa borbulhante e negra, meu irmão está dentro desse tanque... _ A passagem. - Falou os três lobos de uma só vez. _ Nos diga onde ela está. – falou o feiticeiro Regis. _ Eu posso levar vocês lá. – disse Suelem assustada com a curiosidade dos lobos. Andaram por corredores descendo escadas, os dois vampiros anêmicos que antes guardavam a porta agora seguiam os lobos pelos corredores mantendo uma distancia respeitável escondendo-se nas sombras, os lobos sentiam a presença das criaturas fantasmagóricas, mas os dois vampiros não significavam perigo aos lobos, o verdadeiro perigo estava escondido em algum lugar nesse imenso castelo. _ A lamina, parece que aumentou a luz. –disse Suelem. _ Esse punhal não é desse mundo. –disse o feiticeiro Regis com a voz parecendo um rosnado. O lobo branco se mantinha a distancia da moça com medo da lamina brilhante, os dois lobos marrons ficavam a dois passos atrás deixando que ela mostrasse o caminho, Suelem, às vezes parecia estar perdida apontando a faca para frente clareando as paredes na esperança de lembrar-se de qual corredor deveriam seguir, as paredes eram todas iguais, então ela viu uma porta que dava aceso a uma escada estreita que ia ao porão, eles desceram a escada e se depararam com uma sala ampla com um tanque no centro. _ A passagem. – disse o feiticeiro Regis. O lobo branco se aproximou do tanque ao lado da Suelem, ela se virou para falar com ele e apontou a faca em sua direção, o lobo instintivamente em defesa própria saltou para trás, um salto tão alto e

Page 279: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

279

longo que bateu a costa na parede da sala caindo no chão rosnando com os dentes e garras a mostra acuado no canto da sala. _ Não aponte essa lamina para mim. – gritou o padre Arnold com o olhar de raiva e medo. Suelem não entendeu o que havia acontecido, os lobos marrons se afastaram da moça olhando atentos para a lamina em sua mão, então Suelen entendeu que aquele punhal causava pânico nos lobos, lembrou-se que o velho vampiro também fugiu quando viu a lamina vermelha em sua mão e, o punhal parecia ter vida própria brilhando cada vez mais forte, principalmente quando era apontada para os lobisomens. _ Deixe a lamina fazer o que tem que ser feito. -disse uma voz que vinha do corredor por onde eles tinham passado, todos olharam para trás, era o alquimista falando em voz baixa e fraca. Os lobos olharam entre si ameaçando atacar o vampiro, mas os dois vampiros montados nas criaturas se puseram em sua frente para proteger o velho chinês. _ Você acha que esses vampiros podem defender sua carcaça? – disse o feiticeiro Regis. _ Está na hora de por um fim na nossa guerra, está escrito que tudo deve acabar aqui nessa sala na presença da faca e sua portadora. –disse o alquimista. Os lobos rosnaram prontos para atacar, mas o ataque foi interrompido no ultimo instante quando Suelem se pôs entre os vampiros e os lobos com a faca em punho, a faca brilhou com tanta intensidade que ofuscava os olhos de todos na sala, os vampiros e as criaturas se afastaram voltando para as sombras do corredor, os lobisomens se refugiaram no outro lado da sala protegendo os olhos, o velho alquimista continuou em pé no mesmo lugar protegendo os olhos com uma das mãos, Suelem percebeu o poder da faca, mas não entendia esse poder. O alquimista sorriu baixinho e disse. _ O poder da faca é demais para os poderosos lobisomens, essa faca que você tem na mão é a coisa mais poderosa que existe na terra no inferno e até no céu, ela pode destruir o mal somente tocando nele,

Page 280: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

280

e os lobos que se dizem protetores dos humanos não passam de animais caçadores e comedores de homens, não se deixe levar pela hospitalidade dessas criaturas peludas, logo você teria que escolher entre ser um deles ou ser o alimento deles, como todos tiveram que escolher, no principio a idéia de ser um lobisomem e não a comida de um lobisomem parece ser boa até descobrirem que são escravos desses três lobos ali, sem o direito de sair da aldeia ou de ver seus parentes, tem que se casar com quem eles mandam e ter a família que eles querem, suas esposas devem passar primeiro pelos quatro grandes lobos, mas agora só restam três, eles te contaram sobre o ritual de iniciação que fazem com os adolescentes, meninas e meninos são caçados por esses três respeitáveis anciões, então são estuprados e surrados, quem deve ser destruído são eles. Suelem ouvia as palavras do vampiro que há poucos minutos queria matá-la, não confiava no velho vampiro e nem nos lobisomens, o alquimista continuou a falar. _ Salve as pessoas da aldeia e suas crianças, mate esses três, e todos que eles transformaram voltarão a ter uma vida, uma vida que eles roubaram. _ Se eu matar os lobisomens os vampiros poderão sair à vontade sem ser incomodado por ninguém, já que os lobisomens são os únicos que podem deter vocês no castelo. – disse Suelem. _ As mesmas regras se aplicam aos vampiros, se matar o mais velho dos vampiros todos os outros que foram transformados por ele também morrerá, eu sou o que tem que morrer. – disse o alquimista. O alquimista se esforçou para se aproximar da Suelem chegando a um metro da ponta da faca, o braço da moça se levantou sob o domínio do poder da faca, sem o controle do próprio corpo Suelem lutava contra essa força desconhecida, os lobos, com os olhos fechados, se encolhiam temendo serem os próximos a sentirem a lamina, então de dentro do tanque, surgiu o corpo de Derik boiando sobre o liquido escuro, o alquimista vampiro foi arremessado para longe da faca antes de ser atingido pela lamina, um vulto saiu como fumaça negra do tanque borbulhante, flutuando e disse. _ Ainda não velho tolo, ainda preciso de você.

Page 281: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

281

Suelem retomou o controle do seu corpo abaixando a faca, o vampiro caiu perto da porta aos pés das criaturas demoníacas, o feiticeiro Regis se levantou e disse. _ Que espírito é você? _ Sou o mensageiro. _ Quem te enviou? – rosnou Regis. _ Eu te conheço, - falou o mensageiro -, você é o feiticeiro lycans, você passou uma temporada no inferno, o que achou da nossa hospitalidade? _ Jurei que um dia sairia de lá, e sai, mas você não deveria ter saído quem mais passou por essa porta? _ Por enquanto só eu, mas os outros virão assim que a profecia se cumprir. _ A profecia não se realizará, é para isso que estamos aqui. – disse o feiticeiro Regis. _ Vocês não podem lutar contra a faca, eu deixarei que vivam para assistir a vitória dos deuses sobre os homens. O lobo branco se levantou e disse. _ Vocês não são deuses, vocês são demônios. _ Padre Arnold, se somos demônios o que são vocês, já que foram criados por um de nós. _ Fomos criados para lutar contra vocês. –respondeu o padre Arnold. _ Ainda não está pronto, a faca tomará conta de vocês até eu voltar. – disse o mensageiro. O espírito voltou para o tanque e desapareceu, o alquimista ficou deitado aos pés das criaturas com seus dois vampiros montados sobre elas e, os dois outros vampiros raquíticos permaneciam nas sombras escondidos sem forças para lutar ou se defender dos lobisomens. CAPITULO XX Derik é levado a presença de Hades

Page 282: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

282

No mundo dos mortos, Derik estava deitado na grama rasteira e verde ao lado de um pássaro branco e um tigre, Derik se embriagava com o perfume que exalava do corpo da anfitriã Flora, um pássaro grande pousou ao lado de Derik e lhe ofereceu um fruto para comer, frutos de uma árvore que não existia no mundo dos vivos, o rapaz não se deu conta que seu corpo estava mudando, crescendo pelo por todo seu corpo, seu rosto estava se desfigurando tomando-se um felino, mesmo olhando para suas mãos ele parecia estar alheio às mudanças dos seus dedos e unhas, ele só queria sentir o vento e o calor que lhe dava tanto prazer, o cheiro o gosto dos frutos, a luz irradiada do trono da Flora, Derik estava esquecendo-se do que ele era e se tornando um habitante daquele mundo encantado. O guardião estava ao lado de Flora observando o que se passava no mundo acima, com seus soldados no jogo que tanto lhes divertiam, sentiam prazer em ver suas criações se destruírem se despedaçarem em uma luta sem sentido e sem ganhadores, onde o que importava era a diversão dos seus mestres observando tudo a distancia, em um jogo de passatempo, então o guardião disse a Flora. _ Eu venci, me de a alma do rapaz. _ Você acha que venceu, a alma do rapaz ainda é minha. _ O mensageiro está vindo buscar a alma, você tem me entregar agora. _ Ele já faz parte do meu mundo, veja você mesmo como ele está. _ Não me importa como ele está, vamos evitar o pior para nós dois, deixe-me levá-lo antes que o balanceiro descubra tudo, ele não vai nos perdoar. _ Não, ele é meu. –disse Flora com a voz doce e suave, mas que demonstrava estar irritada. Então o mensageiro entrou no mundo da Flora pela passagem aberta pelo guardião e se pôs ao lado dos dois e disse. _ Os três grandes não querem mais esperar, o tempo está acabando precisamos acabar logo com isso antes que nos descubram e se nos descobrirem os três não nos perdoarão.

Page 283: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

283

_ Errado meu querido irmão, - retrucou Flora -, os três grandes não perdoarão você, foi você que abriu a passagem, foi você que libertou os cavalos dos estábulos do Hades e os deu de presente aos seus vampiros, foi você que trouxe a alma do filho do Poseidon para o mundo inferior, eu apenas acolhi essa alma e a protegi de todos vocês. _ Tudo que fiz foi sob a ordem dos três grandes, você sabe disso. – respondeu o guardião. _ Eles nunca confessarão que mandaram você fazer essas coisas, quanto a mim, eu não sei de nada e fiz tudo pensando em proteger o filho do grande Poseidon, eu poderei até ser homenageada pelos grandes. – disse Flora. Outra passagem se abriu ao lado do trono e as guias entraram receosas e encabuladas, no reino da Flora. _ O que elas fazem aqui? – perguntou Flora. _Elas vieram concertar o que fizeram de errado. – respondeu o guardião. _ Elas não podem entrar no meu reino e pegar uma alma, isso é errado. _ Você pagou para elas trazerem a alma para cá sem o consentimento do balanceiro, eu duvido que você vá denunciar as guias por terem entrado no seu reino e resgatar uma alma. _ O que ele prometeu a vocês para virem até aqui?- perguntou Flora para as guias. _ Não estamos aqui a pedido do guardião e sim sob as ordens do Hades. As guias se acotovelaram dentro da esfera e discutiam entre si. _ Não era para falar nada sobre o Hades, sua linguaruda, ele mandou não falar nada sobre ele. – falou uma delas. _ Ele vai nos punir por isso. – resmungou outra. _ Vamos pegar logo essa alma e sair daqui. – disse outra. A esfera das guias percorreu o reino da Flora como um relâmpago, ao encontrá-lo elas o envolveram com uma luz azulada carregando-o para dentro da esfera e se dirigiram para a passagem aberta. Flora permaneceu imóvel assistindo as guias em seu reino.

Page 284: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

284

_ O que Hades te prometeu para ajudá-lo com essa missão? – perguntou Flora ao guardião. As guias estavam passando por perto entrando na passagem e ouviram a pergunta e se adiantaram a responder. _ Hades não ofereceu nada, ele nem estava no meio dessa confusão foi o guardião que envolveu Hades nessa luta para vencer você na guerra entre os lobos e os vampiros e o guardião ofereceu, alem da alma do rapaz, um milhão de almas que os vampiros ceifarão por toda a terra e essas almas servirão Hades no inferno, almas de homens, mulheres crianças e velhos de todo o mundo, – as guias falavam juntas e riam em ver o resultado da sua maldade, nem perceberam que falando isso tinham comprometido Hades. Flora viu que poderia tirar vantagem nesse comentário das guias, o guardião se manteve calmo. _ O que as guias falam não se deve levar em conta, ainda mais quando se trata de um deus como Hades. – disse o guardião tentando amenizar a situação. _ As guias são ótimas espiãs, elas podem ir para todos os lados e ouvem tudo que dizem por ai, pena que não se pode confiar nelas, mas elas nunca mentem elas não conhecem a mentira. – disse Flora ao guardião. _ Por acaso você pretende confrontar Hades? – continuou a falar o guardião com um sorriso na boca. O mensageiro que presenciava tudo em silencio entrou pela passagem sem dizer nada desaparecendo atrás das guias, Flora se irritou com o guardião, afinal ele tinha razão, não se deve confrontar um deus do tamanho de Hades, se acontecesse alguma coisa que levasse Hades a uma punição, por menor que fosse sem duvidas o causador dessa punição não ficaria em pune, ainda mais morando no mundo inferior onde o deus Hades controlava quase tudo, o guardião viu nos olhos da Flora que ela finalmente estava em desvantagens, aproveitando-se da situação ele se retirou lentamente como um lutador que acaba de vencer seu adversário com um nocaute, para a Flora restou apenas sentar-se em seu trono e pensar em uma nova estratégia.

Page 285: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

285

O mensageiro tentou acompanhar as guias pelas passagens no mundo inferior dos mortos, alas viajavam rápido, entrando por cavernas estreitas e escuras em um labirinto de túneis, caminhos que elas conheciam muito bem, não era fácil seguir as guias, elas riam e gritavam palavras de blasfêmia chamando os mortos que um dia elas guiaram por esses caminhos, usando palavrões para identificar cada um deles, contando o que eles fizeram enquanto eram vivos e o que estavam passando no inferno que foram jogadas, riam alto com zombaria dos demônios que foram punidos graças às fofocas que elas fizeram aos seus superiores, já que os demônios de baixo escalão não podiam se vingar delas, apesar de que as guias eram de mais baixo escalão do que os demônios que trabalhavam nos serviços mais penosos do mundo dos mortos, a vantagem das guias eram que elas podiam entrar e sair de qualquer lugar sem ser anunciada, coisa que os demônios não podiam fazer, eles estavam presos em seu pequeno mundinho chamado colônias, e eram governados por um líder chamados prefeitos, esses prefeitos podiam passar de uma colônia para outra através de passagens que só eles podiam abrir, esse poder também delegado as guias. Os gritos das guias eram ouvidos por toda parte, sem poder dizer de onde vinha, o que se podia dizer é que elas estavam planejando alguma maldade contra alguém, mas pior ainda era quando elas chegavam em silencio, quando eram notadas elas já estavam satisfeitas com o que tinham ouvido e se faziam de desentendidas como se acabassem de chegar ao local e não terem ouvido nada, mas só faziam isso quando era com algum dos prefeitos ou governadores, muitas vezes os prefeitos e outros lideres do inferno tentaram se vingar das guias, até mesmo Hades não gostava delas, mas elas são protegidas pelo deus supremo que sempre as absorvia impedindo que algum demônio fizesse mal a elas, apesar de que todos as odiassem dizendo que eram espiãs todos tiravam proveitos das informações que elas traziam de uma colônia para outra, o deus supremo, chamado Zeus, comandava tudo do alto do seu trono de ouro nas nuvens, Hades era submisso ao seu irmão Zeus, mas o odiava com todas as suas

Page 286: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

286

forças se sentia torturado e torturava seus subordinados no imenso reino das trevas, ou mundo dos mortos. _ Ele não vai te perdoar. – gritava uma das guias para a outra dentro da esfera. _ Eu não falei nada que mereça punição. –respondeu ela. _ Você fala demais, você precisa aprender a ficar de boca fechada. – gritava a outra com voz estridente. _ Ele não vai se vingar de nós, ele não sabe que sabemos dos planos dele contra Zeus. – então as outras duas gritaram para a faladeira. _ CALA A BOCA MARIA. _ O que foi o que é que há. –respondeu à velha. As guias pararam e olharam para os lados para se certificar que ninguém as ouviu, a esfera virou-se rapidamente de um lado para o outro subindo até o teto e descendo até o chão tocando na terra fumegante, de repente saiu em disparada, as três riam como se tivessem ouvido a mais hilária das piadas e gritavam juntas tentando entoar uma canção desafinada e sem ritmo que só elas entendiam com muitos palavrões e muitos gritos. O mensageiro se esforçava para acompanhá-las até que elas pararam diante de uma parede de rocha maciça e abriram uma fenda no ar, era uma passagem para outro mundo, entraram pela passagem estreita com um pouco de claridade que tremulava como luz de fogo ao vento, a fenda permaneceu aberta tempo suficiente para que o mensageiro conseguisse passar, fechando sem deixar vestígios, as guias seguiam rapidamente por um portão enorme de grades de ferro cravados na rocha escura queimada pelo fogo, o portão se abriu e fechou muito rápido, dando tempo apenas para as guias passarem sem precisar parar ou bater, quando o mensageiro se aproximou do portão um cachorro de três cabeças e dois metros de altura se lançou sobre ele do outro lado do portão latindo furiosamente espumando tentando arrebentar o portão e a corrente que o amarrava a uma coluna de rocha na entrada da passagem, quase que o mensageiro foi agarrado por uma das cabeças com olhos vermelhos faiscante que conseguiu passar entre as grades do portão de barras de ferro mastigadas e tortas, o imenso

Page 287: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

287

rottweiler esbravejava esticando a corrente grossa e pesada testando o que arrebentaria primeiro a corrente ou a coluna de rocha que o prendia, estava claro que o mensageiro não poderia passar dali, as guias tinham livre aceso a qualquer parte desse mundo sinistro de trevas, isso fazia delas fabulosas espiãs. CAPITULO XXI Suelem é lançada no inferno No castelo se havia passado apenas alguns segundos desde que o mensageiro entrou na passagem do tanque, Suelem ainda estava parada em frente ao tanque com a faca na mão olhando para o corpo do seu irmão dentro do tanque borbulhante, os lobisomens se levantavam de vagar se apoiando na parede, o alquimista ainda estava deitado aos pés das criaturas imóveis, de repente o tanque começou a borbulhar com intensidade lançando o liquido viscoso para o alto, o corpo do Derik mergulhou novamente no liquido negro, a faca parou de brilhar ganhando vida própria apontando para o tanque querendo mergulhar atrás do corpo, a força era tão grande que arrastou Suelem para dentro mesmo contra sua vontade, ela tentava soltar a faca, mas seus dedos estavam presos por uma magia que não a deixava abrir as mãos, aos gritos Suelem foi arremessada para dentro da passagem, as criaturas que serviam de montaria dos vampiros saíram do transe que as dominavam se enfureceram derrubando os vampiros que as montavam pisoteando o alquimista, correndo se lançaram para dentro do tanque atrás da moça. O feiticeiro Regis se levantou rapidamente correu em direção ao tanque e gritou. _ A PASSAGEM VAI FECHAR. O lobo marrom, feiticeiro Regis, atirou-se dentro do tanque antes que se fechasse por completo, de repente o liquido negro evaporou no ar, o tanque ficou seco como se nunca tivesse recebido algum tipo de liquido, o corpo do Derik e todos que entraram nele desapareceram.

Page 288: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

288

Em algum lugar em um mundo estranho, Suelem apareceu deitada sobre rochas seca de cor cinza escuro com a faca presa em sua mão, ela se levantou de vagar, olhou ao redor e viu uma terra seca quente e sem vida, o céu era vermelho, não tinha sol nem nuvens, mas era tão quente como em um deserto sob o sol do meio dia, ela tirou o casaco de pele que cobria todo o seu corpo ficando apenas com um fino vestido azul que ela usava sob o pesado casaco de pele, o vestido curto e leve cobria os braços até o cotovelo e descia até os joelhos, o calor intenso queimava a pele branca desprotegida da moça, ela não tinha saída a não ser andar por aquele mundo estranho. Suelem caminhou sem rumo à procura do corpo do seu irmão, com a faca na mão ela se sentia segura, nessa terra estranha havia muitas elevações rochosas, algumas eram altas e íngremes, outras eram mais baixas feitas de uma única rocha, Suelem subiu em uma que ela achou ser mais fácil, não era muito alta, mas dava para ver uma longa planície deserta de pedras e areia, o calor parecia aumentar conforme ela subia nas colinas, o chão de pedras estava tão quente que queimavam os pés, ela calçava as botas de couro que ganhou dos lycans em sua curta visita a aldeia, as botas eram para aquecer no frio da neve, mas agora seus pés estavam cozinhando em seu próprio suor, Suelem se sentou em uma grande pedra para tirar as pesadas botas, mas não pode ficar muito tempo sentada a pedra estava muito quente, não havia sombras por que não havia sol, apenas o forte calor queimando tudo e o céu vermelho dando um tom sinistro a paisagem que tremulava no Horizonte. Suelem caminhou poucos metros e já sentia o efeito do forte calor, estava desidratada, ela cambaleava tentando se manter em pé, então a faca começou a emitir um som como um zumbido e assumiu o controle do corpo da moça forçando-a a andar mesmo que ela estivesse quase desmaiando exausta, a faca a levou para uma parede de rochas, Suelem mal podia ver o que estava acontecendo, andando como um zumbi ela estava à beira da morte, a faca se ergueu e tocou na parede, uma fenda se abriu na rocha abrindo uma passagem para um mundo de luz clara, uma rajada de vento gelado atravessou a passagem, a faca mais uma vez atirou a moça para dentro da passagem

Page 289: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

289

antes que se fechasse, Suelem caiu sobre um tapete de grama verde, ela levantou a cabeça sem forças para se levantar sem a ajuda da faca, viu ao seu redor um mundo claro de árvores gramas verdes e vivas, aspirou o frescor do vento e o cheiro suave que impreguinava o ar, Suelem sentiu suas forças voltarem para seu corpo e ouviu uma voz doce e tranquila ao seu lado. _ Olá minha jovem, posso ajudar? Suelem se virou rapidamente e viu uma linda mulher vestida de pétalas de flores, o rosto de traços finos e sorriso simples e bondoso, era Flora que veio recepcioná-la em seu mundo de beleza e tranquilidade. _ quem é você? –perguntou Suelem com a voz tremula. _ Sou Flora, esse é o meu mundo. _ Que lugar lindo. – o cheiro daquele lugar hipnotizava qualquer um que o respirasse e Suelem sentia o efeito inebriante da presença da Flora. _Levante-se minha criança. – Flora estendeu as mãos para ajudar Suelem a se levantar. Suelem se levantou com a ajuda da linda senhora vestida de flores coloridas, olhava o vasto campo verde com árvores com flores de varias espécies, mas ela não pode reconhecer nenhuma das espécies de plantas daquele lugar, então Suelem perguntou a Flora. _ Esse lugar realmente é muito bonito, mas não tem ninguém aqui para viver nesse paraíso com você? _ Esse paraíso está cheio de vida, eu tenho muitas companhias por toda parte, eles falam comigo a todo instante, mas você não pode vê-los porque eles são espíritos e você é carne, assim da mesma forma eles não podem ver você. _ Esse lugar é o céu? _ Não, o céu é um lugar muito diferente daqui, lá é a morada do senhor Zeus, aqui é apenas um lugar de transição para os mortos, e você ainda não esta morta. Suelem olhou nos olhos da Flora e olhou para a faca grudada na sua mão e disse.

Page 290: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

290

_ Essa faca me atirou em um tanque no castelo e me trouxe para esse lugar, eu preciso encontrar o corpo do meu irmão Derik. _ O corpo do seu irmão eu não sei onde está, mas a alma dele esteve aqui. Suelem ficou calada sem saber o que dizer, tudo era muito confuso para ela entender. _ Vejo que você tem muitas perguntas vou te contar tudo o que você precisa saber. – disse Flora ao ver a moça desorientada, - essa faca que você carrega é uma criação do Hades, sua intenção era criar uma arma que pudesse matar outros espíritos imortais como nós, a fim de nos subjugar, mas a verdadeira intenção dele é destruir Zeus e dominar os três mundos, o céu a terra e o submundo, com essa arma nas mãos ninguém ousaria questionar o seu poder, a faca se alimenta da essência dos espíritos e ela está faminta e quer voltar par as mãos do seu criador, mas você não deve devolver a faca ao Hades, se isso acontecer ele terá o poder de começar a guerra, essa guerra se chamaria o Armageddon, a mãe de todas as guerras, o bem não venceria o mal, com a faca Hades venceria Zeus, mas não é tão fácil assim começar uma guerra dessa magnitude, essa guerra envolveria toda a humanidade, todos os anjos, todos os demônios e todos os deuses, os deuses teriam que entrar no mundo dos homens assumindo a aparência dos homens e manipular os lideres das nações para dar inicio ao conflito final, para isso os deuses teriam que conseguir carne e ossos. Existe uma profecia que diz que para que esses deuses possam ter carne teriam que beber o seu próprio sangue, o seu irmão é o único filho dos quatro deuses que ainda vive, durante milênios eu e mais dois espíritos tentamos eliminar todos os filhos de deuses na terra, só sobrou dois, você e seu irmão Derik, na primeira tentativa dos espíritos em sacrificar o seu irmão eu consegui detê-los, mas agora eu não posso fazer mais nada, o corpo e a alma do Derik estão em poder do próprio Hades em algum lugar em seu reino onde ninguém pode encontrá-lo, só os quatro grandes sabem onde está, eles estão esperando pela faca, então unirão o corpo a alma e darão vida ao morto, a faca tornará a feri-lo e a sangrar assim se cumprira a profecia, os imortais poderão ir para o mundo dos vivos.

Page 291: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

291

Suelem estava atônita com as palavras da Flora, nada fazia sentido, mas o que fazia sentido em sua vida? Desde que nasceu a vida da menina Suelem era um enorme conto de terror. Flora fez uma pausa para dar tempo à moça, então continuou com sua historia. _ Quando você foi jogada pela passagem eu desviei sua entrada no mundo inferior para outro destino, você deveria cair no reino do Hades, mas eu te mandei para um lugar onde eles não poderiam te encontrar, o mundo onde você caiu é um lugar esquecido e proibido para os demônios, você pensou que estivesse vazio, mas mesmo naquele mundo há vida, você não pode ver nem eles puderam te ver, são almas sem orientação sem líder sem alguém para corrigi-los, as almas daquele mundo são renegados e rejeitados até mesmo pelos demônios, são a escorias do inferno, Hades não se importa com eles e não da à mínima atenção para as suas necessidades às vezes não se lembra que essas almas existem, era o ultimo lugar em que ele iria te procurar, mas agora você está aqui e logo ele mandará seus lacaios para te buscar, por isso você terá que partir o mais rápido possível, a faca te levará para onde deve ir, até aqui eu pude controlá-la, mas daqui a diante você estará sozinha e deverá tomar suas próprias decisões. _ Eu não posso tomar minhas próprias decisões porque a faca me domina sempre que eu tento fazer algo, eu não posso soltá-la ela está grudada em minha mão. – disse Suelen aflita com a nova situação. Então Flora disse. _ Tem alguém aqui que pode te ajudar a dominar essa faca, ele ajudou a criá-la. Flora pegou uma flor no chão, com movimentos delicados no ar ela abriu uma fenda, por essa fenda ela chamou pelo guardião e ele passou rapidamente fechando a passagem logo atrás, o guardião olhou para Suelem e falou. _ O que você quer de mim Flora? Por acaso não sabe que já estão vindo buscar a mulher com a faca?

Page 292: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

292

_ Preciso que você ajude a moça a controlar a faca. – disse flora ao guardião. _ Se eu fizer isso o que ganharei em troca? _ Te darei o que você sempre quis ter o meu amor incondicional. _ Isso é muito tentador, mas acho que o Hades me daria algo muito melhor se eu entregar a faca e a moça para ele. _ O que você quer? –falou Flora irritada com o desprezo do guardião. _ Alem do seu amor incondicional, eu quero governar o seu mundo e fazer dele o que eu quiser e, você será minha escrava. _ Eu te darei o meu amor incondicional, mas nunca te darei o meu mundo, se quer entregar a moça e a faca para o Hades então faça então o que você terá de mim será o mais puro desprezo e ódio, os lacaios do Hades estão chegando, tome sua decisão agora. O guardião amava muito a Flora e não podia perdê-la, então ele abriu uma passagem para outro mundo, Flora mandou que Suelem o seguisse rapidamente, a moça obedeceu entrando na passagem na frente do guardião, antes de entrar na passagem o guardião olhou para Flora e disse. _ Eu voltarei para cobrar o que me deve. Logo que o guardião entrou a passagem se fechou e outra passagem se abriu imediatamente ao lado, por ela saiu às guias em sua esfera azul, cada rosto em um lado da esfera, rindo baixinho olhando para todos os lados no reino da Flora, atrás das guias saíram sete demônios deformados e corcundas, dois altos com três metros de altura e os outros baixos como anões, mal humorados olhavam fixo para Flora enquanto as guias vasculhavam todo o reino na velocidade de um raio, logo elas pararam perto da Flora e disseram em uma única voz. _ Ela não está aqui. – a voz estridente, desconfiadas olhando fixo para Flora. Os sete demônios que aguardavam na entrada da passagem estavam inquietos rosnando querendo sair daquele lugar ameaçando bater nos animais que se aproximava demais da passagem, os

Page 293: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

293

demônios eram criaturas infelizes e maldosas, serviam ao Hades caçando almas que tentavam fugir em seu reino para serem torturadas, não estavam acostumados a verem almas livres no mundo inferior, nem tanta beleza como no mundo da Flora, só conheciam o mundo asqueroso e fedido das prisões do Hades onde as almas dos homens cruéis e criminosos iam parar era a primeira vez que entravam no mundo da Flora e sentiam o perfume doce e a beleza incomparável que eles não sabiam que existia. As guias não se deram por satisfeitas e continuaram a encarar Flora esperando que ela dissesse alguma coisa, Flora sabia como lidar com as guias, devolvendo o olhar fixo ela sorriu para as guias deixando-as confusas, a esfera se tornou um imenso olho vermelho se aproximando do rosto da Flora, uma das guias, a que falava mais, deu um grito dizendo. _ Nós sabemos que a faca esteve aqui, onde você escondeu, fala, fala, fala. De repente a esfera se afastou da Flora e os três rostos de mulheres velhas e enrugadas se formaram em seu interior, dois dos rostos olhavam assustadas para a do meio, com os olhos arregalados e boca aberta, a faladeira permaneceu seria olhando para Flora esperando uma resposta, com um olho aberto e o outro cerrado com um canto da boca puxado para o lado aumentando as rugas em um lado do rosto, com o silencio das outras duas ela entendeu que havia falado demais, desfazendo aquela cara de inquiridora abrindo um sorriso sem graça de olhar submisso, e falou baixinho para as outras duas que continuavam a encará-la. _ O que foi? O que é que há? Os olhos das guias, que estavam vermelhos, voltaram a ficar brancos, as duas que estavam em silencio esbravejaram para a do meio. _ CALA A BOCA MARIA. A velha do meio calou-se e, sua imagem diminuiu entre as duas do lado, ficaram somente os olhos pequenos e esbranquiçados. Flora estava muito irritada com a ousadia da velha escrava do Hades, as guias não esperaram para ver a reação da Flora, entraram

Page 294: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

294

rapidamente pela passagem seguida pelos sete demônios mal humorados. CAPITULO XXII Suelem a matadora de demônios O padre Arnold se lançou contra os vampiros agarrando dois com as garras de sua enorme pata, o lobo marrom se lançou contra o alquimista abocanhando sua cabeça esmagando-a, enquanto o lobisomem branco rasgava os corpos dos dois vampiros soldados espalhando os seus ossos pela sala escura, os lobisomens saíram correndo pelos corredores farejando e matando os vampiros escravos que tentavam fugir, antes de saírem do castelo os lobos encontraram em uma sala os corpos das pessoas que serviram de alimento para os vampiros e suas criaturas, ainda havia duas jovens mulheres amarradas pela cintura com correntes presas ao chão, elas estavam desmaiadas sufocadas pelo cheiro forte dos excrementos das criaturas do inferno, os lobisomens se aproximaram das jovens, arrebentaram as correntes e as levaram para fora do castelo sobre a ponte de pedra longe do cheiro insuportável, esperaram que acordassem, mas as mulheres estavam doentes com um ferimento de mordidas de vampiros nos braços, os lobos cheiraram as feridas e as lamberam sentindo o gosto do sangue de humanos. A moça que estava ao lado do lobo branco acordou e viu o mostro ao seu lado, apavorada ela soltou um grito de terror acordando a outra moça que fez o mesmo, os lobos ergueram o corpo ficando eretos uivando para o céu com nuvens espessas derramando a neve branca, então se lançaram sobre as moças devorando-as destroçando seus corpos ainda vivos, comendo devagar saboreando a carne quente e bebendo seu sangue. O lobisomem branco se lembrou da jovem loba que deixou na floresta, o lobo marrom desceu a montanha correndo para a aldeia para dar a noticia aos outros lobos sobre a morte do alquimista e de todos os vampiros, a missão dos lobisomens havia chegado ao fim.

Page 295: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

295

O padre Arnold se lançou no abismo atrás da menina loba com as pernas quebradas, ele desceu a encosta aos pulos até chegar às árvores, abaixou e passou a farejar o chão e o ar a procura da sua presa, por mais de uma vez ele passou por onde deixou a menina, mas não a encontrou, Arnold cavou a neve com as patas até encontrar terra e, cavou em outros lugares ficando cada vez mais furioso, rosnando e latindo como um animal perseguindo uma presa que não pode alcançar a loba ferida não estava em nenhum lugar naquela floresta coberta de neve, o lobisomem branco correu entre as arvores olhando para toda parte tentando encontrar uma pista ou um leve cheiro pela corrente de ar gelada, tomado pela fúria o lobisomem golpeava as árvores com as garras arrancando lascas de cascas deixando as marcas de suas garras afiadas, então ele voltou ao mesmo lugar onde a deixou e sentiu um leve odor de algo que ele não conhecia um cheiro diferente de tudo que já sentiu antes e, estava sob a neve, com cuidado ele cavou e descobriu um circulo na terra, um circulo feito por fogo, de dois metros de diâmetro com rochas derretidas, o solo estava quente, mas a neve não derretia com o calor que emanava da terra causticada, o padre Arnold não sabia o que era aquilo, mas sabia que não era nada de bom, parado a um metro de distancia do circulo que fumegava o padre observava esquecendo-se da menina lobisomem que desapareceu, aquele circulo podia ter algo a ver com o desaparecimento da jovem ele só não sabia o que. No mundo inferior, o guardião levou Suelem para um mundo parecido com o mundo que ela conhecia, com casas, vilas, cidades e campos com árvores havia plantações de trigo e milho, mas não havia ninguém nas casas ou no campo colhendo o trigo maduro ou o milho amarelo em espigas enormes, nem colhendo as maçãs ou os frutos maduros pendurados nos galhos das árvores, então Suelem se lembrou do que Flora lhe disse que ela não podia ver os espíritos e nem os espíritos podiam vê-la. _ Você só precisa saber de uma coisa, - disse o guardião a Suelem-, a faca tem vontade própria e você agora é a sua hospedeira, a faca precisa de você para se alimentar ela vai te dominar sempre que sentir que você está em perigo e vai tentar te proteger, se você quiser

Page 296: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

296

controlá-la terá que aprender o que a faca sente e o que ela quer, você e a faca agora são um só, se você só ver o mal a faca também só verá o mal e tentará destruí-lo, se você tentar ver o bem, mesmo que seja na pior das criaturas do inferno a faca também verá e não tentará destruí-lo, assim você poderá subjugar a faca e seu poder, usando-a de acordo com a sua vontade, agora você terá que escolher entre a vida do seu irmão que significa a destruição da terra ou a morte do seu irmão que significa a salvação da humanidade, você já sabe como controlar a faca, encontre o corpo do seu irmão e faça o que seu coração mandar. _ Como poderei encontrar o meu irmão se não sei nem onde estou? – disse Suelem. _ Logo as guias chegarão aqui, só elas podem te levar onde está seu irmão, mas antes você terá que matar os demônios que estão com elas, e convencê-las a te ajudar. _ Como poderei convencê-las a me ajudar? _ Existe algo que elas querem muito e ninguém pode lhes dar, elas anseiam pelo dia em que se libertarão da escravidão que as prende nesse mundo, diga a elas que você sabe onde está a chave das correntes que prendem seus corpos. De repente uma passagem se abriu na frente do guardião e as guias passaram rapidamente seguidas pelos demônios, Suelem não teve tempo para pensar, em sua mente os demônios eram inimigos e a faca saltou contra os seres que tentavam passar pela abertura, as guias se esquivaram, mas os dois primeiros demônios que vinham atrás receberam o golpe da faca, os outros demônios não perceberam o que havia acontecido entrando apressadamente pela porta aberta, a faca com vontade própria atacou os demônios matando todos, as guias gritavam tentando voltar para dentro da passagem, mas a faca as perseguia na mesma velocidade que elas fugiam, não dando tempo para que elas abrissem outra passagem para fugir, então Suelem se lembrou do que o guardião lhe disse, de como controlar a faca, Suelem pensou em algo de bom nas guias, mesmo não as conhecendo ela tinha que pensar em algo de bom, pensou em que as guias seriam sua única esperança de encontrar seu irmão, e que elas deveriam ser boas, só eram almas presas nesse mundo de perversidades, então a

Page 297: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

297

faca parou de persegui-las e elas pararam de fugir, o guardião se aproximou da Suelem e disse. _ Muito bom você conseguiu. _ Eu estou vendo os espíritos. – disse Suelem. _ Essa esfera com essas senhoras dentro são as guias, você pode vê-las porque a faca quis assim. – disse o guardião. _ Como eu pude andar tão rápido quando a faca as perseguia? _ Como eu disse você e a faca são uma só, você pode fazer coisas que para um humano seria impossível, nesse mundo ou no seu mundo, você só teria que saber controlar esse poder e ninguém poderá te deter, nem mesmo o próprio Hades. _ Eu não quero ir lá, eu estou com medo da faca. –choramingou a guia Maria com os olhos amarelo, as outras duas estavam com os olhos azuis e estavam com um sorriso falso e malicioso no rosto, quando chegaram mais perto da faca a Maria fechou os olhos e abriu a boca mostrando os únicos três dentes molares do lado esquerdo da boca, as outras duas disseram. _ Não fique zangada conosco, nós só queremos te lavar para o mestre, ele está te esperando e... _ Eu quero que me levem ao seu mestre, mas sem que ele saiba que eu estou indo para lá, e vocês são as únicas que podem me levar até o corpo e a alma do meu irmão, esqueçam o seu mestre e sirvam a mim. –disse Suelem às guias. Em um ato de descontrole a guia Maria soltou uma gargalhada incontrolável e falava aos gritos. _ Esquecer o mestre, essa mulher é doidinha da cabeça, ela quer que esqueçamos quem é o mestre, doida, doida, doida. As outras duas soltaram a gargalhada que tentavam conter e acompanharam a Maria com a zombaria, então Suelem gritou. _ EU SEI ONDE ESTÁ A CHAVE. Duas das guias pararam imediatamente com as gargalhadas, mas a Maria continuou com os gritos incontroláveis até que as outras duas gritaram. _ CALA A BOCA MARIA. Maria parou de repente de rir e falou baixinho com a voz tímida.

Page 298: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

298

_ O que foi? O que é que há? Os olhos da Maria mudaram de cor, de vermelho para branco. _ Ela disse que sabe onde está a chave. –disse a guia da esquerda com os olhos brancos escondidos no meio das rugas, seu nome era Edvirgem. _ De que chave ela está falando? –perguntou Maria. _ De que chave você está falando menina? – perguntou a guia da direita, a única que tinha todos os dentes na boca e a que tinha o rosto redondo e olhos puxados parecendo ser oriental, seu nome era Marta. Suelem parou e pensou antes de falar com medo de não conseguir enganar as guias, então o guardião tomou a palavra antes que Suelem se complicasse as guias não são muito espertas, mas sabem ver quando alguém está mentindo e não toleravam que alguém tentasse enganá-las. _ Ela tem a faca e sabe controlar seu poder, a faca sabe onde o Hades escondeu a chave e os seus corpos, a mulher sabe como encontrá-la. – falou o guardião. As guias olharam uma para as outras e cochicharam por longo tempo, às vezes Maria dava um grito dizendo _NÃO, EU NÃO QUERO-, mas a Edvirgem acalmava a Maria fazendo pisssssssssiuuuuuuuu, Marta olhava para o guardião com um sorriso desconfiado e continuavam a cochichar de repente Maria soltou um grito. _ VAMOS PARAR COM ISSO... EU NÃO VOU FAZER ISSO... O HADES VAI NOS MATAR... _ CALA A BOCA MARIA. – gritaram as outras duas. _ O que foi? O que é que há? – respondeu Maria em voz baixa. _ Controle-se mulher. –falou Marta. As três voltaram a olhar para o guardião e para Suelem, os olhos amarelos e falavam todas ao mesmo tempo. _ Muito bem, se te ajudarmos a encontrar o que procura você vai nos ajudar a nos livrar da prisão do Hades, essa prisão que nos tortura há milênios, nós não aguentamos mais viver nesse mundo de podridão, nós queremos viver como as almas da Flora, no bem bom,

Page 299: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

299

poder beber água fresca, sabe quanto tempo nós não bebemos água? Desde que viemos parar nesse mundo e ficamos presas nessa bolha de gás. _ Graças a Marta que era uma glutona e foi presa e condenada a nunca mais poder beber nem comer nada, como foi presa com a gente nós também ficamos com a condenação dela. – disse Maria mostrando a língua para a Marta. Marta se irritou com o comentário da Maria e disse. _ E graças a sua condenação por ser uma fofoqueira nós fomos obrigadas a ter que ficar presa nessa bolha de gás. – disse Marta a Maria. _ E você Edvirgem, - gritou Maria-, por sua causa nós temos que viver juntas e transportar almas. _ O que Edvirgem fez? –perguntou Suelem. _ Ela matou as duas irmãs, enterrou os corpos no jardim da casa, mas Hades viu tudo e, como uma das irmãs dela era gorda e a outra era fofoqueira, tudo o que ela mais odiava no mundo ele nos prendeu com ela para sempre. – disse Maria. _ Edvirgem não é de confiança, - disse o guardião -, ela pode mudar de idéia a qualquer momento e trair você te entregando ao Hades. As três ouviram a advertência do guardião e sorriram maliciosamente olhando para Suelem, no entanto Suelem não se abalou com o olhar das guias e o perigo que corria na companhia das três prisioneiras da esfera, a faca era uma arma mortal naquele mundo e estava em sua mão, na verdade a faca estava dominando seus sentimentos e Suelem sabia disso, tentando controlar a vontade da faca e manter a consciência enquanto estivesse presa a ela. _ Muito bem, - disse Suelem -, então não vamos perder tempo, quero encontrar logo o corpo do meu irmão e sair desse mundo. As guias abriram uma passagem para um mundo diferente e entraram seguidas pela Suelem, era um mundo feito de areia branca ressecada com dunas baixas, menos de dois metros de altura, com luz de crepúsculo, um crepúsculo eterno, esse mundo era vasto com areia por todos os lados se perdendo no horizonte, e como os outros

Page 300: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

300

pareciam estar vazio, as guias se divertiam olhando para as dunas de areia, ou com alguma coisa que poderiam estar vendo sobre as dunas, Suelem sentiu a faca se mover em sua mão, ela olhou para a faca e viu que sua mão estava se fundindo ao cabo da faca, seus dedos e o cabo da faca se tornavam um só, porem ela não se assustou, apenas observava com atenção enquanto seus dedos entravam no cabo de osso branco e lamina brilhante, Suelem parecia satisfeita com a união macabra, ela podia sentir a vontade da faca e, já podia ver vultos se movendo sobre as dunas, mas não entendia o que podia ser aqueles espectros, as guias a observavam com os olhos amarelos com ar de satisfação esboçando um sorriso. _ Daqui por diante vamos a pé. –disse Edvirgem. _ Isso se tivéssemos pé. – respondeu Marta. _ É por ali. – falou Maria para Suelem olhando para o horizonte que sumia no céu avermelhado. Suelem olhou na direção que as guias mostravam e apontou com a faca assentindo. _ Talvez possamos encontrar alguns demônios pelo caminho, então você terá que matá-los para que possamos passar. – disse Edvirgem. Maria olhou para Suelem e disse com um sorriso maldoso naquele rosto estreito e enrugado. _ E toda vez que você matar um demônio você vai... _ CALA A BOCA MARIA. – gritou as outras duas. _ O que foi? O que é que há? – respondeu Maria se escondendo dentro da esfera ficando apenas os olhos brancos e pequenos. Suelem nem tentou entender o que a guia Maria quis dizer com aquilo e, por que as outras a interromperam, talvez fosse algo importante que ela precisasse saber, ou seria melhor mão saber de nada, de repente as guias saíram em disparada flutuando por cima das dunas, Suelem as acompanhava na mesma velocidade, as guias não olhavam para trás para ver se a moça estava acompanhando, apenas voavam em alta velocidade falando sem parar rindo e gritando. Suelem corria atrás das guias, mas não se cansava, podia sentir que se quisesse poderia até passar por elas, então ela viu que por mais que

Page 301: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

301

suas pernas se moviam correndo sem parar seus pés pareciam que não tocavam no chão, ela parecia flutuar como as guias, Suelem passou a prestar atenção ao seu redor e as vezes ela via vultos passarem por ela e ouvia os sussurros das guias em sua frente, mas não podia entender o que elas falavam, só entendeu quando as guias gritaram. _ CALA A BOCA MARIA. Então os rostos da Edvirgem e da Marta se voltaram para trás da esfera, elas estavam com os olhos vermelhos e com a boca aberta, olharam fixo para os olhos da mulher que as seguiam, então se voltaram para frente e as gargalhadas das guias tomaram conta de todo o mundo de areia. A esfera parou repentinamente a beira de um abismo profundo e escuro, era o fim do mundo de areia, as guias olharam para dentro do abismo e, apesar de flutuarem elas não se arriscaram em passar por cima, parando a poucos centímetros da beira, em silencio esperando por alguma coisa, Suelem permaneceu atrás da esfera, então Edvirgem gritou. _ VAMOS ENTRAR. A esfera se lançou no abismo deixando um rastro de luz azulada, Suelem se arremessou atrás das guias, não havia gravidade no abismo, mas elas caiam vertiginosamente na escuridão, até que as guias pararam de cair e Suelem, de alguma forma parou flutuando ao lado da esfera, a sua frente surgiu um demônio de dois metros de altura, apesar da escuridão Suelem pode vê-lo perfeitamente, ele tinha a cabeça de carneiro com longos chifres em espiral, mãos grandes e fortes segurando um bastão de ferro enferrujado tão grande quanto ele, o demônio era gordo se pôs no caminho da esfera e disse. _ Vocês não são bem vindas aqui, o que querem no meu abismo? Suelem atacou o demônio com fúria não dando tempo para ele falar mais nada, empunhando a faca tentando atingi-lo no pescoço, apesar da corpulência do demônio ele conseguiu se esquivar com facilidade do ataque, com a mesma velocidade Suelem desferiu outro golpe na altura da enorme barriga peluda gelatinosa, o demônio parecia esperar pelo ataque desviando-se com muita agilidade, os

Page 302: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

302

ataques não cessaram e o demônio se desviava de todos não perdendo a faca de vista, então o demônio estendeu o bastão e atacou Suelem na altura da cabeça, Suelem desviou-se e contra atacou atingindo o braço peludo que segurava o bastão abrindo uma ferida, dessa ferida saiu jatos de luz negra e o demônio se desfez em vapor, a faca aspirou todo o vapor, Suelem se sentiu forte seus olhos ficaram negros e a faca brilhou como um diamante banhado pela luz do sol. As guias estavam com os olhos azuis e disseram juntas com a voz doce e delicada apavoradas com o que viram. _ É por aqui querida. Mais uma vez saíram em alta velocidade para dentro do abismo escuro seguidas por Suelem, agora a escuridão parecia não fazer diferença aos olhos da portadora da faca, ela podia ver tudo como se a escuridão fosse seu ambiente e podia até ouvir com perfeição o que as guias falavam enquanto voavam, até os sussurros mais baixos podiam ser ouvidos, Suelem estava fria sem sentimentos, seus pensamentos estavam embaralhados ela não sabia mais o que tinha que fazer, qual era seu propósito naquele mundo, agora o que ela queria era encontrar Hades, por mais que ela quisesse pensar em outras coisas o seu pensamento era o de encontrar Hades. As guias mantinham os olhos no caminho que deveriam seguir, mas não tiraram a atenção da mulher que as acompanhava de perto, Suelem tinha os olhos negros e brilhantes, sua pele estava mais branca que antes, parecia que estava morta, com os lábios roxos, os cabelos, que eram ruivos, estavam mais claros, viajando no abismo escuro ela podia ver os espíritos flutuando no vazio, eram almas fracas implorando por clemência tentando se agarrar em alguma coisa, algumas delas podia ver Suelem passando com as guias, algumas tentavam fugir da presença da luz azulada da esfera e, outras tentavam se segurar nas guias ou na Suelem, eram almas desesperadas condenadas a vagar para sempre na escuridão sem chão e sem esperança, Suelem estava se transformando, mas em que? Na escuridão, logo à frente das guias abriu-se uma passagem no ar, Suelem viu um feixe de luz fraca sair da passagem aberta, era mais um vapor negro parecido com aquele que saia do tanque no castelo, as

Page 303: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

303

guias não diminuíram a velocidade passando pela passagem seguida pela Suelem, do outro lado havia um mundo com um pouco de luz, mas havia muita nevoa negra, as almas estavam todas caídas no chão de areia fumegando vapor, as almas daquele lugar estavam tontas como se estivessem embriagadas pelo vapor, rastejando como vermes com o rosto desfigurados sem os olhos, tinham a boca aberta e não podiam fechá-las, devoravam o pó negro respirando o vapor denso que cobria o solo, eram magras e pálidas, fantasmas alucinados. A guia Marta fechou os olhos vermelhos, não queria ver o que tinha naquele mundo, aquelas almas eram de pessoas glutonas condenadas a comer o pó da terra, Suelem, com os olhos negros, podia ver o que as almas viam as almas não viam areia, mas comidas suculentas e guloseimas saborosas, o vapor tinha o cheiro de carne assada, Marta via o mesmo que as almas, sentia o mesmo cheiro que elas sentiam, mas dentro da esfera ela não podia saciar-se como as almas daquele mundo, Maria e Edvirgem se divertiam com a situação da amiga, a esfera disparou novamente por aquele mundo de perversidade, Suelem continuava seguindo-as de perto, de repente elas pararam em frente a uma coluna de vapor e chamaram por um nome. _ CHERCHES. A coluna de vapor tomou a forma de um demônio, ele tinha um metro de altura e era gordo como uma bola, branco como a neve, estava nu e não tinha pelos pelo corpo, a gordura da cabeça cobria os olhos e as bochechas gordas quase cobriam toda boca, o demônio viu as guias e a Suelem que estava logo atrás da esfera e disse. _ O que querem aqui? Quem chamou vocês aqui? Suelem tomou a frente das guias antes que elas respondessem, com a faca na mão ela apontou para o demônio, sem falar nada ela desferiu um golpe no peito do Cherches, a faca entrou no corpo gorduroso do demônio, mas ele não se moveu nem falou nada, apenas se desfez em pó fino caindo no chão, Suelem ficou parada com a faca estendida, as guias sorriam baixinho zombando da ingenuidade da moça. _ Hiiiiiiiiiiiiiiiii, posso contar pra ela? –falou Maria. _ Pode Maria. –respondeu Edvirgem.

Page 304: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

304

_ Você não pode matar um espírito de vapor, agora ele se transformou em uma dessas almas, você terá que achar o coração dele e, não está com ele. –disse Maria a Suelem. _ Nós sabemos onde está o coração do Cherches. –falou Marta, ainda com os olhos fechados. _ Então me mostrem onde está. –respondeu Suelem. As guias mostraram um pequeno buraco por onde subia vapor, era um buraco muito pequeno de dois centímetros de diâmetro, não dava para a esfera entrar por ele muito menos Suelem que era muito maior que as guias. _ É aqui, o coração dele está dentro desse buraco. –disse Marta. Suelem ajoelhou diante do buraco e começou a cavar com a mão esquerda, já que a direita estava fundida ao cabo da faca, ela cavava, mas não aumentava o tamanho do buraco a areia que ela tirava retornava no mesmo instante que era removida, vendo que não tinha sucesso na escavação ela parou e olhou para as guias esperando uma sugestão para abrir o pequeno orifício, as guias riam desesperadamente com o trabalho inútil da mulher e com o sofrimento da Marta que continuava a sonhar com a comida lambendo os lábios, Suelem se irritou com as zombarias das guias e falou. _ Por acaso vocês sabem como abrir o buraco? _ Posso responder? – disse Maria. _ Pode. – respondeu Edvirgem. _ NÓS NÃO SABEMOS. – disse Maria aos gritos caindo na risada com sua amiga Edvirgem. _ Se não podem me ajudar então eu vou parar e vamos para outro lugar, vamos logo procurar meu irmão. –irritou-se Suelem com as guias. _ Não podemos sair daqui, só se você achar o coração e matar o Cherches. – Responderam as duas risonhas. _ Cherches é o guardião desse mundo ele é o demônio que cria a ilusão que tortura essas almas condenadas. –disse Edvirgem. Suelem parou para pensar, Cherches é o demônio da ilusão então ele faz tudo nesse mundo parecer verdade quando não é, as

Page 305: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

305

almas só viam o que ele quisesse que vissem, se lembrou do que Flora lhe disse, que por ser carne ela não podia ver as almas e as almas não podiam vê-la por que ela ainda não estava morta, talvez se Suelem voltar a ver como carne e não como espírito ela pudesse encontrar uma saída, já que não veria as ilusões do demônio Cherches. Suelem fechou os olhos e se concentrou o mais que pode ao abrir os olhos eles estavam azuis e ela voltou a ver como antes, de repente aquele mundo estava vazio e sem a nevoa negra, apenas a areia escura lisa e sem ondulações, em sua frente às guias na esfera riam baixinho, Suelem olhou para baixo e viu o buraco escavado, ela estava certa era uma ilusão do demônio, ela começou a escavar com mais força com uma das mãos logo encontrou um coração negro pulsando, ela pegou o coração com a mão e se preparou para golpeá-lo com a faca, mas seus olhos se tornaram negros com um piscar, subitamente ela se voltou para trás com a faca na frente do rosto, a tempo de bloquear o golpe de uma marreta de ferro que o demônio desferiu contra ela, o golpe não a atingiu, mas foi forte o suficiente para derrubá-la, a Maria falou. _ Ai essa doeu. _ Doeu nada, eu não senti nada. – respondeu Edvirgem. Então o demônio a chutou nas costelas arremessando-a para longe, o chute foi tão forte que ela deslizou pela areia fina abrindo caminho entre as almas que estavam em sua frente, às almas foram lançadas para longe com o choque na mulher, o coração negro que estava em sua mão foi atirado na areia negra, ela tentou pegá-lo de volta, mas ele se transformou em uma das centenas de milhares de almas que habitavam aquele lugar, Suelem estava atenta e tentou agarrá-lo, mas o demônio se desfez em nevoa e desapareceu de onde estava ressurgindo ao lado da Suelem antes que ela alcançasse o coração, o demônio era muito rápido deixando um rastro de nevoa que se desfazia no ar, ao materializar-se em suas mãos se formou uma espada de lamina negra, e atacou com um golpe violento na altura do pescoço, Suelem só teve tempo de se desviar do golpe, a lamina negra enterrou-se na areia com uma mecha de cabelos loiros, a guia Maria tornou a gritar.

Page 306: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

306

_ Essa passou muito perto, eu quase senti o vento da lamina na minha orelha. _ O bobinha você não tem orelha. –respondeu Edvirgem dando uma gargalhada estridente. Então Suelem desferiu um golpe com a faca na cintura do demônio, mas ele novamente se desfez em nevoa aparecendo do outro lado da mulher caída, dessa vez a arma escolhida era um machado de duas laminas, golpeando varias vezes contra a moça que se desviava tentando salvar sua vida, sem encontrar uma saída para derrotar o demônio ela tinha que usar o cérebro e não os músculos, primeiro tinha que encontrar o coração negro do demônio, para achá-lo ela teria que voltar a enxergar com os olhos carnal e não o espiritual assim as almas ficariam invisíveis aos seus olhos e seria fácil encontrar o coração, mas se ela fizesse isso o demônio também ficaria invisível quando se transformasse em nevoa e ela não saberia onde ele poderia aparecer, sua única saída seria ser mais rápida do ele e alcançar o coração antes que o demônio a alcançasse. Suelem golpeou o demônio mais uma vez e ele se desfez em nevoa, em uma fração de segundos ela se levantou, seus olhos ficaram azuis, sem olhar para trás ela correu com toda velocidade que podia procurando o coração naquele mundo vazio, lá estava ele pulsando tentando se enterrar na areia, Suelem não podia ver o demônio não sabia onde ele estava, mas o coração estava bem a sua frente, ela se atirou e o pegou, caindo de costa contra a areia com o coração na mão, enquanto caia ela piscou e seus olhos se tornaram negros e viu o demônio a poucos metros dela, ele tinha uma lança de ponta de ferro a poucos centímetros da sua garganta enquanto enterrava a faca no coração negro, de repente tudo ficou inerte, o demônio não se movia mais, a lamina da lança ficou a milímetros da sua garganta, e o coração parou de pulsar com a faca enterrada em seu corpo negro, então o demônio se desfez em areia fina caindo sobre o corpo da Suelem e o coração se transformou em nevoa e foi absorvido pela faca, Suelem se levantou sacudiu o pó do seu vestido e foi até as guias que agora estavam caladas, a moça nem percebeu que estava flutuando como as guias, então Marta abriu os olhos e disse.

Page 307: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

307

_ Que fedo é esse? Cadê a comida e a bebida? As guias olharam ao redor e viram que as almas estavam se levantando cuspindo a areia que tinham comido com as mãos na barriga, Edvirgem falou baixinho. _ Vamos embora daqui agora. Saíram em disparada no meio das almas que se contorciam e pareciam estarem bastante irritadas, as guias olharam para o alto e viram uma passagem se abrir com uma luz vermelha, elas e Suelem passaram rapidamente e caíram em outro mundo. Suelem observou o novo mundo com atenção, seus olhos estavam negros, o corpo sujo de pó escuro e os cabelos quase brancos, sua roupa estava rasgada na cintura e a alça do ombro direito se rompeu, o vestido se apoiava no seio, ela tentou se limpar com a mão, então viu que a faca havia desaparecido e a sua mão voltou ao normal, mas quando ela pensou na faca ela apareceu em uma nevoa negra na mão direita formando um punhal, então Suelem olhou para a outra mão e se concentrou em outra arma, uma espada longa, surgiu a nevoa em torno da mão e uma espada se formou presa em sua mão, ela sorriu e com um movimento muito rápido com a espada ela se virou contra a esfera apontando com a lamina vermelha como fogo para as guias, a esfera mudou de cor ficando roxa, as guias Maria e Edvirgem arregalaram os olhos brancos mordendo os lábios, Marta ainda se lastimava pela perda de tanta comida, quando viu que as outras estavam paradas assustadas ela falou. _ Credo parece que vocês viram o Hades. Então Marta olhou para frente e viu a ponta da espada a um centímetro da esfera, seus olhos ficaram cinza e abriu a boca o mais que pode para gritar, mas a voz não saia ela parecia estar engasgada quase tossindo, então Selem falou. _ Me disseram para não confiar em vocês, agora eu sei porque, vocês querem me matar. _ Não, nós não queremos matar você. –falou Edvirgem com a voz tremula. _ Então por que me fizeram lutar com aqueles demônios que quase me matou, e por que não me levam direto para o meu irmão?

Page 308: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

308

Edvirgem continuou a explicar. _ Não dá pra chegar à câmara dos mortos sem passar por esses mundos, cada mundo tem uma passagem e as passagens são guardadas pelos demônios e os demônios não permitiriam que um vivo passasse por eles sem a permissão do Hades, por isso que você teve que matar os demônios. _ E ainda faltam cinco mundos, - falou Maria com um sorriso amargo. _ Será que dá para abaixar essa espada, ela me faz lembrar o ultimo demônio que morreu. –disse Edvirgem. Marta continuava com a boca aberta e os olhos arregalados sem voz, paralisada olhando fixo para a ponta da espada, então a espada se desfez em nevoa negra e a mão da moça ressurgiu no meio da nevoa, Marta conseguiu relaxar fechando a boca e os olhos, aliviada a se ver fora do alcance da lamina que tremulava emitindo calor. _ Mas vocês terão que me responder algumas perguntas, - disse Suelem-, se tudo que acontecia naquele mundo era ilusão por que então parecia tão real a ponto de machucar? _ Foi de doer não foi? – disse Maria. _ Algumas coisas são ilusões, outras são bem reais, você só tem que saber o que é real e o que é ilusão, entendeu? –explicou Edvirgem. _ Não entendi nada. –falou Marta. Suelem continuou. _ E aquelas almas que estavam se alimentando com as ilusões do demônio, o que acontecerá com elas sem as ilusões? _ Provavelmente vão comer umas as outras. – disse Marta com ar de tristeza. _ Está bem, que mundo é esse? Quem eu terei que matar agora? – disse Suelem. _ Esse não será nada fácil, vamos. – disse Edvirgem. As guias desceram uma encosta íngreme e levaram Suelem para uma planície, havia centenas de almas em pé com os olhos fechados e sorriam satisfeita com alguma coisa, as guias

Page 309: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

309

permaneceram caladas, paradas no meio das almas, então Suelem parou ao lado da esfera e tudo mudou de repente. Suelem estava vestida com um lindo vestido longo vermelho em um campo verdejante e florido, ao baixo da colina onde ela estava havia uma choupana com uma chaminé espalhando fumaça branca pelo vento suave, o cheiro de pão assando se misturava com o perfume da grama macia, Suelem reconheceu a velha choupana, era seu lar, o lugar onde ela nasceu e viveu quase toda sua vida, então ela ouviu uma voz familiar, era a senhora Helena Fadel, sua mãe, chamando-a. _ Mas não é possível, é minha mãe, é minha casa. – falou Suelem descendo a colina aos pulos gritando de felicidade. Entrou na casa e viu a sua mãe na beira do fogão de costa para ela, sobre a mesa havia uma bandeja com vários pães quentes prontos para serem devorados e leite quente em um pequeno caldeirão de ferro polido, ela se lembrou de que esses pães eram os seus favoritos, Suelem não se conteve e abraçou sua mãe pela costa e falava sem parar que a amava e que estava com muitas saudades, à jovem senhora se virou para Suelem sorrindo e disse. _ Você está bem querida? _ Nunca estive tão bem em toda minha vida minha querida mãe. Helena sorria com ternura abraçando a filha, Suelem acariciava o rosto da mãe e a beijava, os cabelos ruivos de Helena presos em um lenço amarelo tinham o cheiro do campo, seus lábios pequenos avermelhados se abriam em um sorriso expondo seus dentes perfeitos branco como o marfim, as duas permaneceram abraçadas e rindo por um longo tempo. _ Parece que você não me vê a um século filha, tem certeza que está bem? _ Sim eu estou bem, mas e você, o que está fazendo fora da cama? _ Por que eu estaria na cama há essa hora? –perguntou Helena sorrindo. _ por causa da sua doença.

Page 310: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

310

_ Eu mal ma lembro de quando eu fiquei gripada pela ultima vez, tem certeza que está bem? Suelem se calou, estava tudo perfeito era melhor não estragar esse momento falando coisas desnecessária, Helena voltou aos seus afazeres sob o olhar vigilante da filha que mordia um pedaço de pão bebendo leite quente queimando a boca, Helena viu quando Suelem se queimou e falou. _ Cuidado o leite está quente. _ Já sei. - respondeu sorrindo com a mão na boca. _ Estou preparando o almoço para você, seu pai e seu irmão que estão trabalhando na cerca do curral, e aproveitando que você está tão alegre pode ir chamá-los para comer pão. Suelem saiu de costa para não perder a sua mãe de vista, ela queria aproveitar cada minuto daquele momento, ao sair pela porta ela se virou e correu para trás da casa em direção ao curral, a pequena fazenda estava diferente, parecia estar maior e muito mais bonita Suelem caminhava por uma estrada estreita feita para a carroça puxada pelo cavalo da propriedade, de um lado estava o campo de cultivo coberto de trigo maduro com os cachos dourados pareciam cachos de ouro banhados pelo sol no céu sem nuvens, do outro lado havia um curral de madeira nova com mais de dez bois comendo em uma cocheira, entre as vacas estava uma pequena e gorda novilha malhada, era a pequena Mucha, a vaquinha que ela ganhou do pai de presente de natal, as galinhas ciscavam por toda parte e eram dezenas delas, misturadas aos patos e perus, perto dali estavam o seu pai, John Fadel e o pequeno Derik, trabalhando no concerto de uma cerca de arame, a alegria inundou toda a alma da jovem Suelem, ela correu e abraçou seu pai e seu irmão, chorando e rindo ao mesmo tempo seus sonhos se realizaram tudo que ela sempre quis estava ali, abraçada ao irmão ela disse. _ Se isso for um sonho eu não quero acordar nunca mais. O senhor John olhou para sua filha assustado e disse. _ Você está bem Su. _ Ha, pai como eu queria ouvir o senhor me chamar de Su. – disse Suelem.

Page 311: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

311

_ Eu sempre te chamei de Su, você tem certeza que está bem? _ Agora eu estou. –respondeu a menina feliz. _ A mamãe está chamando. – continuou ela. Derik olhou com ar de sorriso e falou baixinho para seu pai. _ Essa menina está cada vez mais louca. _ Eu ouvi irmãozinho. –respondeu Suelem ao seu irmão. Os três voltaram para casa cantando uma canção folclórica, ao chegar perto da porta eles viram à senhora Helena carregando um balde de água que acabará de tirar do poço, Suelem correu para ajudar gritando. _ Mãe a senhora sabe que não pode carregar peso, o que está fazendo? _ Desde quando eu não posso carregar peso? – perguntou Helena a sua filha. _ Desde o dia em que ficou doente. – respondeu Suelem. _ E quando foi que eu fiquei doente? Suelem parou e ficou olhando para a mulher corada e forte que sorria para a jovem, então Suelem largou o balde e deixou que sua mãe carregasse, a família Fadel entrou pela porta e foram para a mesa Suelem ficou parada do lado de fora contemplando e admirando a sua nova família e a fazenda que sonhava quando era criança, então ela entrou na casa e juntou-se aos seus pais. _ E o rei Eduardo? Ele não tentou tomar a fazenda? – perguntou Suelem. _ Quem é esse rei Eduardo? – perguntou John. A senhora Helena parou de comer e olhou para sua filha e disse. _ O que está acontecendo com você minha filha? Ontem você estava brincando e contando historias, hoje você está desse jeito estranho falando coisas estranhas. Derik estava com a boca cheia mastigando pão, ele não parou para ouvir o que sua irmã falava, nem se importava com as perguntas, ele estava alheio a tudo que se passava naquela mesa, apenas devorava a comida como se estivesse com muita fome, seu pai olhou para ele e disse.

Page 312: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

312

_ Não é só ela que está estranha hoje, Derik também está muito estranho. Helena olhou para o menino que continuava comendo como se não tivesse ouvido os comentários do seu pai. _ O que houve? – perguntou Helena ao seu filho. Derik não respondeu, era como se ele não estivesse ali. _ Viu o que eu disse, às vezes ele se desliga do mundo e não me ouve, é como se ele estivesse em outro lugar. – disse John. Então a família terminou de comer em silencio, Suelem ria sozinha tamanha felicidade de estar ao lado dos seus pais e do seu irmão. Passou-se o dia e, Suelem ajudou sua mãe nas tarefas da casa, admirando a beleza da jovem senhora de cabelos ruivos e pele corada pelo sol, as duas eram grandes amigas e se divertiram muito, à noite John se reuniu com a família no lado de fora da casa e contou historias para animar os jovens, Derik ria e contava coisas que viu na cidade quando foi com seu pai vender queijos e doces, Helena sorria e seu sorriso encantava John e os filhos, a noite estava fria, e logo eles foram para a cama, Suelem se deitou na mesma cama que ela usava quando era criança, ela se lembrou do cheiro suave do travesseiro, sua mãe colocava um ramo de hortelã embaixo dos travesseiros da família para terem bom sono, a noite passou com um piscar de olhos. No dia seguinte Suelem acordou assustada, achando que tudo que passou no dia anterior fosse mais um dos inúmeros sonhos que já teve com a sua família, olhou para os lados, lá estava o teto de madeira, o armário, a cama, a cama do seu irmão, mas ele não estava nela, então ouviu uma voz doce falando ao seu lado. _ A minha princesa já acordou? Você esta se sentindo melhor hoje? –era Helena com seu rosto angelical. _ Sim. –respondeu a menina quase se derretendo ao rever o sorriso da mãe. _ Que bom, eu fiz pão de mel. _ PÃO DE MEL. –gritou Suelem se levantando e correndo para a mesa.

Page 313: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

313

_ Calma filha, tem o bastante para todos, acho que ela ainda não está bem. – cochichou Helena. Depois de comerem o pão de mel, John e Derik foram para o campo colher o trigo com alguns vizinhos, Helena e Suelem foram colher frutas e flores, o dia foi espetacular ao lado da mãe, os pássaros cantavam nidificando nas árvores, havia borboletas de todas as cores e tamanhos voando para todos os lados, na hora das refeições John falava sobre a colheita do trigo e que colheram mais do que esperavam, a chuva tinha sido boa e o sol ajudou na hora de colher, falou sobre os momentos em Derik parecia se desligar do mundo e isso o estava deixando preocupado, mas nesse momento o menino estava atento a tudo que se passava ao seu redor e discordou do pai. _ Eu só estou cansado pai. – respondeu Derik. Logo chegou a noite e a família Fadel se reuniu em torno de uma fogueira, mas dessa vez tinham companhia, era a família vizinha, o senhor Bernardo com sua esposa Joyce e suas filhas Amanda e Adelaide, gêmeas da idade de Suelem, ao vê-las chegando com seus pais Suelem se lembrou das meninas, o senhor Bernardo e sua família foram expulsos das suas terras pelo rei Eduardo meses antes de ela ser entregue ao conde, elas eram amigas quando crianças e, agora lá estavam elas de volta como se nunca tivessem saído de lá, as gêmeas estavam com vestidos iguais, brancos, com laços amarelos prendendo os longos cabelos negros e lisos, a senhora Joyce trouxe uma bandeja com bolo de milho. _ Esse bolo foi às meninas que fizeram. – disse a senhora Joyce ao entregar a bandeja à senhora Helena. Suelem e as meninas foram para o quarto conversar assuntos de meninas, Helena e Joyce foram para a cozinha trocar receitas que aprenderam com suas mães, Derik seu pai e o senhor Bernardo ficaram no lado de fora da casa falando sobre o dia e as expectativas para o amanhã. As horas passaram rápidas e a família do senhor Bernardo se foi depois da longa despedida e das promessas de retribuir a visita, mesmo que as famílias vizinhas se vissem todos os dias o clima de hospitalidade deixava um sabor de paz e confiança entre todos no

Page 314: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

314

mundo em que Suelem se encontrava. Assim foram os dias e as semanas, Derik continuava com as crises que se tornavam cada vez mais frequentes às vezes ele se sentava e se desligava completamente de tudo, deixando seus pais apavorados. Em uma manhã Suelem acordou com os gritos do seu irmão no lado de fora da casa, algo não estava bem, ela correu para fora e viu sua mãe parada na porta chorando com as mãos no rosto molhadas com as lagrimas, na colina o senhor John segurava Derik pelo braço com a ajuda de três homens grandes e fortes tentando colocá-lo em uma carroça em forma de baú com uma única porta estreita e pequena, puxada por um grande cavalo vermelho, os homens tentavam fechar a boca do rapaz, mas ele conseguiu se livrar da mordaça e gritou. _ Suelem você precisa acordar, esse mundo não é real, você precisa acordar e terminar com o trabalho... Antes que ele terminasse de falar os homens tamparam a sua boca com a mão impedindo que ele falasse, Suelem olhou para sua mãe tentando entender o que era aquela cena, Helena tirou as mãos do rosto, sua pele dourada estava vermelha e molhada, apesar de estar chorando ela ainda tinha o rosto perfeito, e angelical. _ Por que estão fazendo isso com o meu irmão? – perguntou Suelem com lagrimas nos olhos. _ É para o bem dele, tente entender, o seu irmão anda muito doente e agora se tornou agressivo, temos que protegê-lo de si mesmo. – respondeu Helena. Derik conseguiu se livrar mais uma vez antes de entrar no carroção e gritou. _ Você tem que encontrar o demônio e... Mais uma vez fecharam a boca do rapaz, mas suas palavras entraram na cabeça da moça e a fez pensar, ela se lembrou de tudo que passou antes de chegar nesse mundo perfeito, e essa vida que estava vivendo não era real, esse era o sonho, Suelem olhou nos olhos da sua mãe, de repente os olhos da jovem senhora perderam o brilho e seu rosto empalideceu, Suelem estava com uma adaga enterrada entre os seios da senhora Helena, o corpo de Helena se vaporizou e foi consumido pela lamina da adaga que logo depois também se

Page 315: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

315

vaporizou penetrando no corpo da Suelem, os homens que prendiam seu irmão se transformaram em pequenos diabretes com asas e cabeça de morcegos e longas caldas como de ratos que enrolavam no corpo do Derik segurando-o com as mãos de três dedos em forma de garras, ao verem que Suelem se aproximava eles largaram o rapaz e fugiram, o senhor John permaneceu no mesmo lugar parado imóvel, Derik correu ao encontro de sua irmã e a abraçou. _ Finalmente eu te encontrei, - disse Suelem-, eu vou te levar pra casa. _ Não, você tem que encontrar Hades e destruir os seus planos. –respondeu Derik. _ Eu só estou aqui para encontrar você, e já encontrei. _ Você não entende, agora você tem o poder de destruir demônios e o Hades quer esse poder, ele vai tentar dominar você, mas ele tem medo do poder que a lamina te deu, use isso para destruir os seus planos como fez antes. _ Eu não sei do que você esta falando. _ Sabe sim, e você não tem escolha, eu já não existo mais, o que você está vendo é apenas um fragmento de lembrança da minha alma que me trouxe aqui para te tirar desse mundo, agora vá e termine o que começou. Então a alma do Derik se desfez e Suelem fechou os olhos apertando as lagrimas que escorriam no seu rosto, ao abri-los ela se viu ao lado da esfera azul com os três rostos enrugados das guias que esperavam pelo seu regresso do mundo dos sonhos, de cabeça baixa Suelem soluçava reprimindo o choro sentindo a falta de sua família, principalmente de sua mãe, as guias saíram flutuando de vagar olhando para a moça que as seguia de longe. _ Foram vocês que mandaram o meu irmão para me tirar daquele mundo? –perguntou Suelem. _ Foi preciso. – respondeu Edvirgem. _ Eu estava feliz naquele mundo, pena que era tudo ilusão. _ Aquele mundo não era ilusão, ele ainda existe, mas esta no seu coração. –disse Marta.

Page 316: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

316

_ O espírito que controlava aquele mundo não criava ilusão, ele deixava as almas viverem os seus sonhos mais profundos para sempre, essas almas são felizes, porque vivem no mundo que sempre sonharam. – disse Edvirgem. _ Não entendo, se aqui é o inferno por que tem mundos em que as almas são felizes? Aqui não era para todos sofrerem? – perguntou Suelem. _ Todas as almas que vem parar aqui tem que passar pelo balanceiro, onde são medidas conforme suas obras na terra, nem sempre as almas que vem parar aqui são merecedoras de sofrimentos, talvez não sejam boas suficiente para ir para o céu, mas não são ruins para ir para o tormento, por isso Hades criou mundos alternativos onde essas almas possam passar a eternidade. – respondeu Edvirgem. _ Por que vocês o chamam de Hades? O nome dele não é Lúcifer? –perguntou Suelem. _ Ele tem vários nomes se quiser pode chamá-lo assim. – respondeu Marta. Suelem fez uma pausa e depois continuou a falar. _ Eu aprendi na igreja que Lúcifer é um anjo mal e, que só deseja matar roubar e destruir. _ Á muitas coisas que os sacerdotes ensinam que não correspondem com a verdade aqui em baixo. - retrucou Marta. _ Eu destruí mais um mundo, e agora o que será das almas que viviam felizes naquele lugar? – perguntou Suelem. _ Cada demônio ou espírito que você destruir será substituído por outro e o equilíbrio continuará, assim funciona esse mundo. – explicou Marta. Suelem ficou confusa, se ela matar Hades todo mundo inferior seria abalado e todas as almas ficariam perdidas sem um guia, então ela resolveu perguntar as guias. _ Se Hades morresse, o que aconteceria com esse mundo, ou será que ele também seria substituído? As guias olharam uma para as outras e olharam todas para Suelem.

Page 317: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

317

_ Ele é único, ele é o criador desse mundo, foi ele quem fez as divisões e os deu aos espíritos para cuidarem das suas almas, as almas que ele chama de rebanho, alguns mundos foram dados aos demônios e os demônios fizeram desses mundos verdadeiros infernos e as almas que foram parar lá foram porque mereciam, mas não espere encontrar Hades vivendo em um inferno. – disse Edvirgem. _ Veja a passagem se abriu. – falou Maria tentando mudar o assunto. Suelem olhou a sua direita e viu um buraco no chão claro com a luz azulado cor do céu, ela se aproximou com as guias e entraram na passagem, mas do outro lado elas não estavam caindo, mas sim subindo, do outro lado da passagem o buraco também estava no chão e, o azul que elas viram era o céu, a paisagem era fantástica com pinheiros, oliveiras e vinhas carregadas de cachos maduros, também havia estatuas de mármore de imagem de homens e mulheres nus, um templo com colunas de mármore branco coberto por uma enorme pedra chata e plana de mármore rosa, no centro do templo havia um trono de pedra, tudo era muito bonito e Suelem se maravilhou com aquele mundo. _ Eu terei que matar o espírito desse mundo também? – perguntou Suelem. _ Espírito? Olhe bem ao seu redor, você esta vendo alguma alma? – perguntou as guias. _ Esse mundo não pode ser de um demônio, tudo aqui é muito bonito. – disse Suelem. _ Nem todos os demônios gostam de viver no meio da destruição. – respondeu Marta, as guias olhavam para todos os lados procurando por alguma coisa. Suelem viu um pequeno lago de águas tranqüilas e cristalinas, ela foi até lá e viu seu reflexo no espelho da água clara, foi à primeira vez que ela se viu depois que entrou no submundo e ter lutado com tantos demônios, seus cabelos longos e quase brancos, sua pele branca como um fantasma, seus olhos totalmente negros, era uma visão bela e assustadora, ela não se reconhecia mais, então as guias se

Page 318: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

318

aproximaram da Suelem, a esfera flutuava baixo quase tocando na grama verde e sussurraram para a moça. _ O seu demônio chegou para te ver. As guias não estavam sorrindo elas estavam muito serias como nunca ficaram antes, o dono desse mundo poderia ser o mais poderoso dos demônios que Suelem já enfrentou e elas sabiam disso, Suelem olhou e viu um homem alto de cabelos brancos e olhos claros, ele se cobria apenas com um pano em torno da cintura, o abdômen bem definido e o peito musculoso nu, ele sorria e chamava Suelem pelo nome, ela se deixou seduzir pela aparência do anfitrião e retribuiu o sorriso, com um gesto ele a convidou para se aproximar do seu corpo, as guias não falavam nada apenas observavam os movimentos dos lábios do homem e os passos da moça e, a moça parecia aceitar o convite malicioso do homem parecido com um deus, de mãos dadas eles caminharam pelo campo verdejante entre as estatuas de mármore, o homem não falava nada, mas Suelem entendia tudo que ele queria falar e, ela estava adorando tudo que ele tinha para mostrar, as guias acompanhava o passeio dos dois, mas não entendia nada do que se passava entre eles, então com delicadeza ele tirou a roupa rasgada da Suelem deixando-a completamente nua e a beijou na boca, os lábios gelado do homem paralisou os músculos da moça, ela ficou imóvel, sua pele branca se enrijeceu, seus olhos perderam o brilho e aos poucos ela se tornou uma das estatuas de mármore do jardim. O homem virou-se de costa e saiu caminhando em direção ao trono de pedra, sento-se no trono e passou a admirar o seu reino, as guias permaneceram ao lado da estatua nua da Suelem, então o homem olhou para a esfera e disse. _ O que essas coisas horríveis estão fazendo no meu paraíso? Vocês já não fizeram seu trabalho? Então podem ir. Do lado das guias abriu-se uma passagem e a esfera passou por ela em silencio, não perceberam o que estava acontecendo com a estatua, à pele de mármore estava se rachando os olhos brancos ficaram negros, a passagem se fechou quando Suelem se fez em vapor escapando da sua prisão de pedra, o homem sentado em seu trono assistia a tudo sem mover-se do lugar, o vapor negro se materializou,

Page 319: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

319

na frente do trono em uma mulher nua com espadas formadas nas extremidades dos braços, as espadas de laminas vermelhas arrastavam as pontas no chão queimando a grama verde que a tocava o homem então disse. _ Não sou eu que você procura. _ Isso não importa, você irá morrer como os outros. –respondeu Suelem. _ Você não gostaria de saber a quem deve procurar? Suelem levantou as armas preparando-se para atacar, mas interrompeu o ataque esperando pelo o que ele tinha para falar. _ Você tem a arma mais poderosa desse mundo e, de todos os mundos, agora você pode dominar a terra o inferno e até o céu, nada pode te deter, isso é, se você quiser dominar esses mundos, e eu posso te ensinar a usar todo poder dessa arma, afinal eu ajudei a construí-la, você só deverá destruir o grande ditador e instituir um novo governante. _ Você está dizendo que eu devo matar Hades e ti nomear o novo governante desse mundo. _ Não somente desse mundo, mas de todos os mundos, por isso eu te deixei viver e não te transformei em pedra para sempre. _ Você sabia que eu viria aqui? Ou as guias me trouxeram para você sabendo dos seus planos? _ Enquanto você estava presa no mundo dos sonhos às guias me procuraram para pedir um favor, então eu mandei que elas me trouxessem você aqui para te conhecer, no fundo elas sabiam que eu iria te matar, talvez esse fosse o plano delas, mas eu não acreditei que elas te trouxesse tão rápido, o que aconteceu para elas tomarem essa decisão? _ Talvez elas não queiram que eu mate o Hades. _ Compreensivo, elas não querem ver esse mundo se desfazer como gás ao vento. Suelem permaneceu olhando para o homem sentado no trono, calmo e confiante, então ela disse. _ E se eu não aceitar sua proposta? E se eu te matar aqui? Ele mudou seu semblante se pôs de pé e disse.

Page 320: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

320

_ Você acha que pode me ferir? Eu te derrotei uma vez e posso fazer isso de novo, e dessa vez será para sempre. Os olhos da moça se tornaram azul como a céu que estava à cima dela, seus lábios esboçaram um sorriso e seu rosto se fez sereno diante da imponência do homem, ele aproximou seu rosto no dela e seus lábios estavam prestes a tocar nos dela quando os olhos da moça se tornaram negros e, os olhos do homem paralisaram, ele recuou de vagar Suelem estava com as laminas muito próximo do peito dele e ameaçava matá-lo. Ele voltou para seu trono e se sentou Suelem permaneceu com as espadas levantadas com as laminas refletindo sua própria imagem, seus olhos negros faiscavam e ela disse. _ Você está certo, eu tenho a arma mais poderosa desse mundo e de todos os outros só que eu não preciso da sua ajuda para controlar esse poder, mas eu não vou matar você agora, chame as guias. _ Você disse que não precisa da minha ajuda para controlar o poder da faca? – ele falou sorrindo -, se quiser ir para onde elas estão você mesma pode fazer isso, basta se concentrar nelas. CAPITULO XXIII A derrota de Hades As guias estavam tagarelando aos gritos e riam descontroladamente flutuando para algum lugar quando uma passagem se abriu na sua frente e Suelem surgiu em forma de nevoa negra e se materializou, ela estava com o seu vestido surrado e rasgado, a moça tentava cobrir um dos seios que o vestido não cobria pelo tamanho do rasgo que tinha no lado esquerdo, ela ficou em pé bloqueando o caminho da esfera, as guias pararam de repente e as três mulheres arregalaram os olhos dentro da esfera e disseram. _ Nós pensamos que você estivesse morta, nós vimos você virar pedra.

Page 321: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

321

_ Me desculpe se as decepcionei em não morrer como vocês queriam. _ Mas não queríamos que você morresse. – disse Maria. _ Então por que me levaram até lá? _ Ele disse que iria te ajudar a derrotar o seu inimigo. – disse Edvirgem. _ Hades? –perguntou Suelem. As guias ficaram mudas. _ Ele queria que eu matasse Hades. –continuou Suelem. _ O nome dele é Oriell, ele é o demônio da inveja, você o matou? –perguntou Maria. _ Não, eu não o matei. – respondeu Suelem. _ Pois devia ter matado. – falou com agressividade Edvirgem. _ Talvez eu tenha que matar vocês. – respondeu Suelem. _ Nós não somos suas inimigas. – choramingou Maria. _ Não se preocupe, eu não vou fazer isso, ainda preciso de vocês para me levar até meu irmão. – falou Suelem. _ Teremos prazer em te levar até seu irmão, mas ainda temos que passar por quatro mundos. Elas saíram em alta velocidade pelo deserto daquele mundo, acima das cabeças das almas que se amontoavam em grupos imóveis, até encontrar uma passagem com luz vermelha aberta no ar longe do alcance das almas, Suelem entrou logo depois das guias e a passagem se fechou, no novo mundo Suelem estava dentro de uma caverna iluminada pela luz de lavas incandescentes que escorria como um rio de fogo, a sua frente se estendia um labirinto de túneis escuro, Suelem apurou os sentidos e se desfez em nevoa negra e partiu sozinha por um túnel. Suelem chegou a um enorme salão onde se encontravam vários túneis, no centro do salão havia um lago de fogo e um demônio que se banhava nas lavas com vapores sufocantes, ao redor do lago havia varias almas se protegendo do calor escaldante carregando jarros de cobre nas mãos, as almas eram açoitadas por diabretes alados, como aqueles que ela viu no mundo anterior, os pequenos diabos usavam chicotes para torturar as almas trabalhadoras que gritavam de

Page 322: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

322

dor, os jarros estavam cheios de um liquido negro borbulhante que as almas derramavam no lago e corriam por um túnel e voltavam com os jarros cheios novamente derramando no lago assim sucessivamente sem descanso, o demônio magro esquelético vermelho mergulhava no lago rindo das almas e falava mal com palavrões, enquanto os diabretes repetiam suas palavras e batiam com o chicote e com o rabo grosso e longo, o demônio percebeu a chegada da moça e gritou. _ O que você quer aqui vá embora eu não te quero aqui, vá embora. Os diabretes pararam de bater nas almas, dando um alivio momentâneo as almas condenadas, olharam para Suelem repetindo as palavras do demônio tentando expulsar a nevoa negra que estava parada flutuando na entrada de um dos túneis, a nevoa negra passou da entrada para o centro do lago e se materializou, seus dedos se alongaram transformando-se em laminas de um metro cada uma, as dez laminas transpassaram o corpo do demônio, o ataque foi tão rápido que o demônio e nem os diabretes não tiveram tempo de reação, ao ver que o demônio estava morto, os diabretes fugiram desordenadamente colidindo com as paredes dos túneis escuro, o corpo do demônio foi absorvido pelas laminas que ficaram negras, as almas aprisionadas pararam com o que estavam fazendo e fugiram, Suelem permaneceu flutuando sobre o lago de lava, então uma explosão no lago cobriu a moça com fogo, ela não teve tempo de transformar em nevoa, mas depois de alguns segundos ela saiu lentamente do meio do chafariz de fogo, sua roupa fina e rasgada se fez em cinzas, mas seu corpo estava intacto, com esse novo demônio em seu corpo Suelem estava imune ao fogo, ao se ver nua ela se concentrou e uma nevoa a envolveu formando um vestido longo vermelho como o que viu no mundo dos sonhos cobrindo sua nudez. As guias estavam esperando em um dos túneis quando Suelem apareceu, elas ficaram curiosas ao ver o vestido da moça, Suelem sorria feliz exibindo sua nova vestimenta, então a nevoa negra tornou a envolvê-la, dessa vez ela fez um vestido longo rodado com mangas longas e justas com decote expondo parte dos seios igual as das

Page 323: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

323

mulheres do palácio do rei Eduardo, o vestido estava negro, então Suelem perguntou as guias. _ Que cor prefere? _ AZUL. –gritou Marta. _ NAO, VERMELHO A COR DO AMOR. – gritou Maria. _ Que amor o doidona, nos estamos no inferno, – disse Edvirgem-, tem que ser amarelo. _ Vocês não sabem o que estão falando e doidona é você ta. –disse Maria. Suelem se divertia com o entusiasmo das guias que sempre foram carrancudas, principalmente Edvirgem a mais serias das três, então elas fizeram silencio e olharam uma para as outras e todas olharam para Suelem, de repente deram um grito juntas. _ PRETO, A COR DA MORTE. E o vestido se tornou negro como a noite, a esfera partiu com as guias dando gargalhadas, mas dessa vez não era de zombaria, mas sim de alegria, Suelem continuava a segui-las, só elas sabiam onde estava cada passagem que levava para outros mundos escolhidos e lá estava à passagem aberta, elas passaram rapidamente, Suelem em forma de vapor percorreu o pequeno mundo a procura do demônio e o encontrou escondido camuflado nas paredes de rocha de um abismo, com golpes rápidos ela destruiu mais um demônio, tão rápido como entraram elas também saíram por outra passagem, esse outro demônio tentou lutar, mas Suelem estava muito forte e o derrotou com muita facilidade, ao se encontrar com as guias elas partiram para o sétimo mundo, mas dessa vez as guias não entraram na passagem, elas pararam na entrada, seus rostos mudaram seus olhos ficaram brancos e disseram para Suelem. _ Não podemos passar daqui, você terá que seguir sozinha e encontrar seu destino. – disse Edvirgem. _ Então me esperem que eu já volto. – disse Suelem se transformando em vapor antes de entrar pela passagem. _ Não vai dar, - disse Maria-, nós não vamos mais nos ver, isso é um adeus. _ Como um adeus, vocês ainda vão me levar ao meu irmão.

Page 324: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

324

_ Nós já chegamos criança, esse é o lugar onde está o ultimo demônio que separa você do seu irmão, passe por ele a encontrará seu irmão, você não precisa mais de nós. – disse Edvirgem. _ Vou precisar de vocês para sair desse mundo. – disse Suelem. _ Isso nós não podemos fazer, não conhecemos o caminho para fora desse mundo, só quem está atrás dessa passagem sabe esse caminho, só ele pode te ajudar. – disse Maria. Suelem estava em forma de nevoa, mas se materializou ao entrar pela passagem calmamente, do outro lado ela viu um mundo feito de pedras preciosas e muito brilho no chão, o mundo era bem iluminado e vasto, com campinas verdes que também brilhavam como se tivessem gotas de diamantes nas folhas, tudo ali brilhava, as árvores eram as mais belas que ela já tinha visto, as flores eram as mais perfumadas a mais coloridas, então um homem com um longo vestido branco se aproximou de vagar, ele tinha os olhos verdes e era alto e magro com, seus cabelos eram brancos e longos e brilhavam como tudo naquele mundo, no meio dos cabelos havia uma coroa de ouro, a coroa era fina e tinha algumas palavras escrita, mas não se podia ler, a coroa reluzia, ele era o esplendor do mundo inferior. _ Olá, o que procura? – disse o homem. Suelem engasgou, depois de alguns segundos ela conseguiu falar. _ Procuro pelo meu irmão. _ Ele não está aqui. _ E você sabe onde ele está? _ Sim eu sei. _ Quem é você? _ No Egito antigo me chamavam de Kebechet, ou Anúbis, os gregos me chamavam de Hades, os Hebreus me chamavam de anjo caído ou Satanás, o seu povo me chama de Lúcifer. Na aldeia dos lycans, o lobisomem branco voltou para a aldeia, frustrado com a perda na floresta de pinheiros ele não entendia como alguém podia sumir sem deixar rastro, ele nunca havia perdido uma presa e isso o deixou furioso, por onde passava ele deixava um rastro de destruição nas árvores, com galhos destroçados árvores com as

Page 325: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

325

cascas arrancadas, ao chegar na aldeia os aldeãos o esperava no pátio sob a chuva de neve, eram homens mulheres e crianças com seus casacos de pele, esperando pelo padre Arnold para lhes darem a noticia que tanto esperavam, o lobisomem entrou pela rua principal, os aldeões abriam caminho para que ele passasse, na porta da igreja o velho senhor Edgar o aguardava com um casaco branco de pele e calças grossas nas mãos, o lobo branco se transformou em homem e se vestiu, os aldeões esperavam por alguma palavra do padre sobre a morte de todos os vampiros e o fim da missão dos lycans, o padre olhou para aquela multidão que choravam pelas perdas que sofreram, o rosto do padre tremia sob a espessa barba branca, seu ódio ainda era visível e todos perceberam esse sentimento que fluía do corpo do seu líder, ninguém queria ser o motivo para que ele se enfurecesse ainda mais, todos conheciam a violência do padre Arnold, mas a situação era insustentável, o destino dos lycans estava nas mãos do padre Arnold, então ele ergueu a cabeça e disse. _ É verdade, os vampiros estão mortos, não existem mais nenhum deles sobre a face da terra, a nossa missão terminou, a deusa não precisará mais de nós, agora temos que esperar até que ela venha e nos diga o que devemos fazer. Um jovem aldeão no meio da multidão gritou. _ Então seremos libertos dessa maldição? O padre se controlou para não atacar o jovem rapaz, e disse. _ Ser um lobisomem não é uma maldição, é uma benção, nós somos imortais, poderosos... _ Somos prisioneiros dessa maldita floresta, graças a você padre Arnold, que nos transformou no que somos hoje. – falou aos gritos o mesmo jovem. Em outra oportunidade o padre teria destroçado o jovem rapaz, mas dessa vez ele não falou nada, aquele circulo na floresta ainda o deixava preocupado, mas a multidão ficou nervosa com o que o rapaz disse, embora todos sentissem a mesma coisa eles não tinham coragem de falar em publico, muito menos diretamente ao padre Arnold.

Page 326: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

326

_ Acho que não temos mais nada para falar, vamos esperar a deusa. –disse o padre. Todos voltaram a suas casas, o padre abaixou a cabeça e foi pra sua casa lá sua esposa e seus filhos o esperavam sentados em silencio, o padre tirou o casaco e ficou em pé em frente à lareira acesa, então Atenea de cabeça baixa falou ao seu esposo. _ Não fique nervoso com os aldeões, eles só querem sair dessa aldeia e terem suas vidas de volta e, agora não há mais nada para nos prender aqui, acho que podemos reencontrar nossas famílias. O rosto do padre voltou a tremer sem olhar para sua esposa ele falou. _ Você também quer ir embora? _ Eu estou presa aqui há muito tempo e quero ver o que há lá fora. _ Passaram trezentos anos e você acha que ainda tem família lá fora? _ Passaram trezentos anos e a saudade da minha terra só aumentaram, a cada dia a cada hora, essa é a maldição que o rapaz falou lá fora. _ Vocês são imortais graças a mim. _ E você perguntou se alguém queria ser imortal? O padre se irritou com sua esposa Atenea, virando-se bruscamente com o rosto desfigurado, os dentes enormes salivando ele atacou a mulher agarrando-a pelo pescoço derrubando-a no chão gelado apertando e sufocando a mulher, as mãos do padre ficaram enormes, suas unhas entravam na carne da Atenea sangrando-a, ele encostou a boca no rosto da mulher deitada e disse. _ Não me provoque mulher, eu ainda sou o líder do bando. _ Disse bem, homem, líder do bando, um bando de monstros assassinos. _ Não somos assassinos, nós tínhamos uma missão, a de matar os vampiros, eles são os verdadeiros assassinos. _ Não há diferença entre os vampiros e os lobisomens, todos sabemos que você e os outros anciões caçavam seres humanos para comerem.

Page 327: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

327

_ Nós não somos assassinos. – respondeu o padre com ódio nos olhos. O padre se levantou deixando a mulher com o pescoço ensanguentado deitada no chão, as crianças acostumadas com a violência do pai não se importaram com o que viram, permaneceram sentadas observando tudo. Arnold saiu da casa, o vento gelado carregado de neve açoitou seu rosto forçando a se cobrir com o capuz, a rua estava deserta os moradores da aldeia se abrigavam em suas casas, Arnold resolveu tirar o pesado casaco e se transformar em lobo, ele queria voltar para a floresta de pinheiros e estudar o circulo ao pé do pinheiro e, quem sabe encontrar a jovem Miriam, em silencio ele partiu desaparecendo em meio à nevasca. Aos pés da montanha no meio da floresta, Arnold sentiu uma presença diferente, de alguém que ele conhecia, mas á muito tempo ele não a via, saiu andando em círculos desorientado farejando o ar, então ele correu para a casa mais próxima de uma família que guardava a montanha, quanto mais perto ele chegava da casa mais ele sentia a presença enigmática daquele ser, chegando à velha choupana de madeira o padre teve medo de entrar, ele chamou pelos moradores da casa, mas não teve respostas, andou em redor da casa, mas não havia cheiro nem vestígio dos moradores, de vagar ele entrou pela porta que estava destrancada, no meio da sala havia um circulo igual ao que ele viu na floresta, o pânico invadiu seu corpo e o poderoso lobisomem branco tremeu de medo, virou-se e correu pela floresta em direção a aldeia, o caminho de volta parecia ser o mais longo que ele já percorreu, mesmo na velocidade de um lobisomem. Na aldeia as ruas continuavam desertas, as casas trancadas com as chaminés lançando fumaça em meio às rachadas de vento e neve, o vento uivava diferente, com um gemido desesperador como se estivesse chamando pelo nome do padre Arnold, a tempestade ficava mais forte já não se podia ver nada com tanta neve caindo, a neve girava e às vezes formava uma silhueta de mulher que duravam poucos segundos, o lobisomem branco nunca tinha visto aquilo antes, mas reconheceu a voz que o chamava parou na porta da sua casa,

Page 328: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

328

abriu a porta deixando entrar uma rajada de neve, ele entrou e fechou a porta, no centro da sala havia um circulo negro, sua família não estava lá, Arnold correu para a igreja, a porta estava fechada, mas ele a derrubou e entrou se escondendo em um canto, a tempestade entrava pela porta varrendo o salão, a neve entrava em roda moinho formando a mesma silhueta de mulher, mas dessa vez ela não se desfez, aquela visão permaneceu parada ao lado do assustado padre Arnold. _ Porque está com tanto medo? Você não sabia que eu viria? –saiu uma voz de dentro daquela formação de neve. _ Quem é você? – perguntou Arnold. _ Não sabe quem sou? O padre se levantou encarou aquele espírito branco, ele sabia quem era e o que queria, em baixo dos seus pés se formou um circulo negro e quente, mas não o queimava, do circulo levantava uma coluna de fumaça negra que envolveu o lobisomem, então o circulo engoliu a fumaça e, com a fumaça o padre Arnold desapareceu dentro do circulo. A aldeia ficou deserta, seus moradores que habitaram essas casas por século havia desaparecidos, a saga dos lobisomens chegou ao fim, assim como a crueldade do lobo branco. CAPITULO XXIV Jardim do Éden _ Bem vinda ao jardim do éden. –disse Hades a Suelem _ Hades? Mas você é tão bonito e esse lugar é o mais lindo que eu já vi nesse mundo, você deveria ter longos chifres pele vermelha e calda com um ferrão na ponta, e deveria morar em uma caverna cheia de fogo, mas isso é tão bonito. _ A religião me desenhou como o mal deveria ser, e o mal deveria ter a aparência monstruosa para assustar as crianças e mantê-las afastada do diabo e se apegarem a Zeus, mas eu sou um anjo como todos os outros, mesmo sendo um anjo renegado expulso do céu, muitos que caíram comigo não conseguiram controlar sua raiva e fúria

Page 329: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

329

e se tornaram nesses monstros horríveis que você matou, e o mundo de cada um é o retrato do seu dominador. Suelem ficou encantada com a beleza do lugar, e disse. _ Esse é o jardim do éden? _ Sim. _ Mas o jardim foi feito no inferno? _ Eu o trouxe para cá, para ser o meu lar. _ Então aquela historia de Adão e Eva era real? _ Parte dela foi real, outra parte foi inventada pela religião para encobrir a verdade vergonhosa da humanidade. _ Que verdade vergonhosa? _ Quando Zeus lançou os anjos rebeldes na terra muitos de nós se enlouqueceu de raiva e destruíram toda vida que havia nela, devastando plantas e animais, não deixaram nada vivo Zeus aprisionou esses anjos furiosos nas profundezas da terra onde não havia nada para destruírem e não poderiam escapar então Zeus fez o paraíso sobre a terra devastada, mas alguns de nós não se envolveu na destruição da terra e por isso fomos poupados e nos foi permitido viver sobre a terra mantendo a aparência de anjo, então Zeus resolveu criar o homem para viver no paraíso e do homem criou a mulher, , ela era a perfeição das criaturas de Zeus, seu corpo era mais belo do que a dos anjos, e tinha algo a mais um perfume que exalava de dentro do seu ser, eu a amei e a desejei desde o dia da sua criação, eu a seduzi e todas as tardes a encontrava em baixo de uma árvore e a amava, Zeus mandou que o homem e a mulher procriasse e enchesse a terra com a semente do homem que era filho de Zeus, a semente do homem era a semente do próprio Zeus, a mulher estava grávida esperando um varão, mas não era o filho do homem a semente de Zeus, era o meu filho, a semente do mal que foi expulso do céu, quando a criança nasceu Zeus viu a marca na testa do menino e expulsou a mulher do paraíso, mas o homem não a deixou partir sozinha e abandonou Zeus para viver com a mulher. _ O primeiro filho da mulher foi Caim? – perguntou Suelem. _ Sim, Caim era meu filho e a mulher o ensinou a me amar e a me respeitar assim como ela me amou por isso Zeus o desprezou e

Page 330: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

330

amou apenas sua semente, o segundo filho da mulher e do homem, então Zeus expulsou o meu filho da terra que seria dada aos descendentes do homem, Caim vagou pelos desertos longe do amor de sua mãe, mas eu não o desamparei, ele deu continuidade a minha linhagem espalhando a minha semente por toda aquela terra, formando tribos e cidades e se tornaram fortes e ricos, dominadores senhores da guerra, por isso Zeus tentou exterminar o meu povo, primeiro com água, depois com fogo e com terremotos, pragas e doenças, tentou matar os meus filhos com pestes e fome, formou exércitos numerosos com seus próprios filhos para caçar e destruir a minha semente, mas nós conseguimos sobreviver e hoje estamos por toda parte somos milhares de milhões, muitos se perderam esqueceram a suas historias e não sabem quem é seu pai e adotaram Zeus como pai adorando-o e servindo-o, mas no momento que descobrem sua verdadeira linhagem e me aceitam como pai eu os recolho como filho e dou a eles o melhor da terra, se tornam reis e príncipes senhores sobre os filhos de Zeus. Suelem ficou sem palavras diante de tal relato, olhando nos olhos do Hades que permanecia sereno, então ele disse para Suelem. _ Você é mais forte do que eu pensei, não imaginava que um ser humano pudesse suportar a fome da faca, mesmo sendo uma semideusa era para você estar morta e a faca alimentada, agora meus planos terão que mudar, e restabelecer a ordem natural desse mundo, também tenho que encontrar uma maneira de tirar a faca do seu corpo. _ Eu só quero encontrar o meu irmão e depois terei prazer em devolver a faca para você. Uma voz soou baixinho atrás da Suelem, ela se virou e viu seu irmão em pé parado olhando para ela, Derik falou ao seu ouvido. _ Você não pode fazer mais nada por mim, vá embora saia daqui agora, antes que você também fique presa no mesmo inferno que eu estou, vá agora e me deixe aqui. De repente o vulto se desfez Hades sorria para Suelem, ela levantou as laminas na altura do peito do Hades, ele não se esquivou apenas olhou com desprezo para as laminas e disse. _ Eu criei essa arma e você não pode me ferir com ela.

Page 331: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

331

Um buraco se abriu no ar entre Suelem e Hades, uma mão agarrou Suelem pelos braços e a puxou para dentro da passagem, Suelem foi levada para o mundo da Flora. _ O que está acontecendo, - gritou Suelem. Flora estava sentada em seu trono rodeada por flores perfumadas e respondeu a pergunta da moça. _ Conseguimos chegar bem a tempo, quase que você toca no Lúcifer com a lamina. _ Era exatamente o que eu iria fazer se não tivessem me tirado de lá. – esbravejou Suelem. _ A faca foi feita para matar espíritos e absorver seus corpos e todos os seus poderes e entregar ao seu criador, se você tocar nele com a lamina ele absorveria todos os poderes que a faca conseguiu armazenar inclusive o seu corpo e você morreria, por isso te trouxemos para cá. –disse Flora. _ Mas foram vocês que me mandaram para matar os espíritos e encontrar Hades. _ Nós não sabíamos, seu irmão conseguiu falar com as guias e contou sobre os planos do Lúcifer, quando ficamos sabendo corremos para te salvar e salvar a nos mesmos, se Lúcifer conseguir os poderes que está em seu corpo ele se tornara invencível subjugando todos que se opor a ele, isso inclui a mim e a todos os que não se tornaram demônios sob suas ordens, agora temos que proteger você das mãos do mal, você é a única arma que separa Hades do poder supremo. De repente um espírito apareceu ao lado da Flora, era o Guardião, ele estava serio e nervoso, com a mão no ombro da Flora, e disse. _ Espero que você saiba o que fez Flora, nesse momento Hades reuniu os seus generais e seus exércitos de demônio e virão para cá, eles destruirão o seu mundo e você não poderá fazer nada para impedir. _ Eu também tenho o meu exercito. – disse Flora. _ Não seja tola o seu exercito não pode vencer os demônios devastadores do Hades e eles são em maior numero.

Page 332: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

332

_ Por isso eu espero que você me ajude nessa batalha meu amigo. _ Você espera que eu lute contra o exercito do Hades? _ Sim, você sabe que ele te odeia tanto quanto a mim, depois de me destruir quem você acha que ele vai perseguir e eliminar. O guardião não respondeu, virou-se de costa e desapareceu em uma passagem atrás do trono da Flora, Suelem respirou fundo e disse. _ O que posso fazer para ajudar, já que não posso matar nem chegar perto do Hades, eu não quero fugir e te deixar sozinha. Flora sorriu e disse. _ A minha segurança não é importante, mas você deve se manter segura, a vida de todos na terra depende disso, a ordem natural das coisas não podem ser desfeita, Hades não pode alcançar seus objetivos, alem disso ele não pode me matar, ele apenas vai me aprisionar em algum lugar para me torturar, sem a faca ele ainda é um de nós. _ Então o que farei? – perguntou Suelem. _ Precisamos tirar você desse mundo e te levar para o mundo dos vivos, lá você estará a salvo das mãos do Hades, mas eu não posso abrir uma passagem como essa somente Hades pode fazer isso, mas eu soube que existe uma passagem secreta aberta em um lugar nesse mundo onde os demônios, sob as ordens de Hades, passam para fazer o trabalho sujo do inferno, você encontrará as guias e elas vão te mostrar o caminho, quando o exercito de demônios chegarem eu abrirei uma passagem que te levará até as guias, você tem que sair desse mundo o mais rápido possível. No mundo da Flora o horizonte se tornou escuro, formando nuvens de uma grande tempestade, a nuvem se movia rapidamente escurecendo o mundo claro e verdejante, do alto da nuvem surgiu um homem montado em um cavalo negro, era Hades com asas enormes e negras abertas assustadoramente, carregando na mão um cedro de ouro em chamas vermelhas, seu cavalo não tinha olhos nem boca nem narinas, a crina e a calda eram longas e brilhavam com a luz avermelhada das chamas do cedro, em pouco tempo todo o mundo da

Page 333: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

333

Flora estava sob a nuvem que escurecia tudo, o cavalo desceu para perto do trono florido, Flora abriu uma passagem pequena e Suelem entrou rapidamente por ela desaparecendo com a passagem, então Flora se viu diante do cavalo de três metros de altura negro como a noite assustador como a morte. _ Vim buscar o que me pertence. – disse Hades. _ Não há nada nesse mundo que te pertence. – respondeu Flora. _ Tudo nesse mundo me pertence, para onde você a mandou? _ Para um lugar seguro, longe de você. _ Nem um lugar no inferno é seguro, eu posso encontrá-la em qualquer lugar. Flora ficou em silencio, ela tinha que dar tempo para as guias chegarem à câmara da passagem, Hades ficou em silencio de repente uma passagem negra se abriu nas nuvens e o cavalo saltou em direção à passagem, mas foi interceptado por uma leoa que saltou sobre o robusto cavalo negro derrubando-o de volta ao chão com seu cavaleiro, Hades foi atirado para longe enquanto a leoa segurava o cavalo deitada sobre ele com as garras e os dentes enterradas no pescoço do cavalo, Hades se levantou com as asas abertas e gritou. _ VOCE NÃO PODE ME IMPEDIR. A nuvem negra se desfez em chuva, uma chuva de demônios que caiam em pé espalhando-se por todo mundo de Flora, eram homens deformados corcundas, uns com chifres e caldas, outros anões gordos e malévolos com garras, era o exercito de Hades invadindo o paraíso famintos por destruição, antes que pudessem desferir seu ataque contra Flora surgiu um grande numero de vultos entre as árvores e arbustos, eram criaturas meio homens meio animais como a leoa que atacou o cavalo negro, o exercito de Flora atacou os demônios saltando sobre eles com as garras afiadas estraçalhando e despedaçando, homens leões esmagando corpos com golpes de suas poderosas patas, mulheres leoas mutilando os invasores, homens e mulheres panteras unindo-se e saltando decepando cabeças de demônios, no meio da batalha um homem touro ficou em pé, era uma criatura gigantesca marrom de chifres longos, ele deu um mugido ensurdecedor e caiu com as patas de frente no chão ficando de quatro,

Page 334: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

334

disparou na direção de um grupo de demônios que atacavam uma mulher guepardo deitada tentando se defender com as garras, o homem touro antes de destroçar dois demônios que a atacavam ainda esmagou com os cascos mais três demônios que estavam em seu caminho, a mulher guepardo ao ver o numero de atacantes reduzidos se levantou e saltou sobre outro demônio magricela que permaneceu em pé após o ataque do homem touro, a batalha se estendia no vasto campo que antes fora verdejante, mas agora estava negro com as sombras da morte que modifica e transforma tudo que toca, o exercito da Flora lutava com suas armas ferindo os demônios que se desfaziam em vapor, o exercito de Lúcifer estava sofrendo uma terrível baixa, os demônios eram lentos e desajeitado e não ofereciam muita resistência aos animais furiosos e letais, Flora estava atenta ao combate, mas não tirava a atenção de Hades, esperando que Suelem tivesse tempo de encontrar a passagem, Hades sorria e disse. _ Você está jogando um jogo muito perigoso, não tem como vencer o meu exercito, e a mulher não poderá passar pela passagem, mesmo com a faca ela não poderá derrotar a Apófis. Ouve um trovão e as nuvens despejaram mais demônios enfurecidos sobre o campo de batalha sufocando o exercito da Flora, esses novos demônios carregavam machados foices e martelos de ferro, eram demônios magros esqueletos ambulantes com dentes salientes amarelados e olhos brancos dando a impressão de serem cegos, atacavam os homens animais transformando-os em vapor negro, agora a situação se inverteu, o grande numero de demônios estavam vencendo o exercito da Flora, quando tudo parecia estar pedido uma passagem se abriu no alto abaixo das nuvens, e dezenas de milhares de anjos de asas negras passaram por ela, todos armados com arcos e flechas atirando contra os demônios que estavam no chão e nos que estavam caindo das nuvens, os anjos de asas negras voavam sobre os demônios golpeando-os com espadas de laminas flamejante com chamas negras transformando os demônios em vapor escuro cobrindo o chão com uma nevoa espessa, Hades deu ordem e vários demônios que possuíam asas como morcegos levantaram vôo atrás dos anjos negros, a batalha aérea se intensificou com caçadas e

Page 335: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

335

malabarismos desvencilhando dos golpes de espadas e dos machados dos demônios, com voos rasantes e perseguições mortais os demônios alados gritavam palavras de blasfêmias esgrimindo com violência, golpeavam instintivamente o ar na esperança de atingir seu inimigo, o som dos golpes se perdiam em meio aos gritos de raiva, os anjos de asas negras tinham os olhos e os cabelos negros e lábios escuros, a raiva e a violência também estavam em seu ser, eles queriam destruir os seus inimigos, então surgiu pela porta um anjo diferente dos outros, ele também tinha as asas negras, mas ele era muito maior e mais belo com os cabelos brancos, seus olhos também eram negros e seu rosto era dourado, tinha o corpo coberto com um manto negro e uma coroa de ouro na cabeça, era Oriel, o exercito alado estava sob seu comando, Oriel tinha um arco com flechas em seu alforje pendurada na cintura, ele pegou o arco e armou com uma flecha atirando na costa de um demônio que atacava um dos seus anjos, a flecha e o demônio atingido se fizeram em vapor, Oriel atirou varias outras flechas todas certeiras, o exercito de Oriel era treinado para a batalha no céu, Hades o observava do chão ao lado da Flora enquanto Oriel se envolvia na batalha agora com uma espada em chamas, golpeando seus inimigos, então Hades gritou. _ ORIEL. Oriel desceu até Hades com a espada em punho e disse. _ Olá meu irmão, como sempre você está se escondendo da batalha, mas dessa vez você está se escondendo atrás de uma mulher? _ Eu sempre soube que um dia nos encontraríamos em outra batalha, mas não esperava que fosse dessa forma, um contra o outro. – disse Hades. _ Não seja mentiroso irmão, você sabe que nós dois não podemos viver no mesmo mundo e, que essa batalha seria inevitável. _ Sim eu sei, mas eu achava que você mandaria alguém para me enfrentar, afinal você sempre foi um covarde. – disse Hades. _ Covarde eu? Não fui eu que se escondeu atrás dos montes enquanto nossas legiões eram dizimadas pelos anjos do Zeus e, depois você foi se humilhar para não ser punido como todos nós, na verdade

Page 336: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

336

você não passa de um traidor e por isso deve ser eliminado. – disse Oriel a Hades. _ Então vocês dois se uniram para me eliminar? – disse Hades se referindo a Flora. _ Dois não somos três. – falou o Guardião que acabava de chegar seguido por suas legiões de homens correndo pela passagem aberta ao lado do trono da Flora. As legiões do Guardião eram homens fortes montados em criaturas parecidas com cavalos, eram os cavalos dos estábulos do inferno, os homens eram as almas dos gladiadores mortos nas lutas nas arenas na terra, vestidos com suas armaduras e elmos armados com lanças, redes de aço, espadas e machados, entraram na batalha golpeando os demônios que já estavam muito ocupados com os anjos de asas negras e os homens animais da Flora, atrás dos gladiadores vieram outros homens aramados de arcos e flechas atirando suas flechas negras para o alto, cada flecha atingia um demônio alado, mas a nuvem escura não parava de despejar demônios sobre os combatentes, mesmo que mais da metade deles não chegava a tocar o solo. SUELEM e as guias chegaram à câmara da passagem para o mundo dos vivos, a câmara era um salão alto com uma passagem parecida com uma enorme poça de água ondulando no teto brilhando com a luz do sol do mundo superior, a luz descia até o chão e se podiam ouvir as vozes das pessoas que passavam no outro lado, o chão do salão tinha vários buracos de dois metros de diâmetros espalhados, a passagem estava no centro. As guias pararam na entrada do salão olhando para os lados pressentido o mal que se escondia nos buracos, Suelem perguntou. _ O que houve? _ APÓFIS. – responderam as guias. _ O que é Apófis? – tornou a perguntar Suelem. Antes que as guias respondessem Suelem ouviu um chiado vindo de dentro de um dos buracos, as guias ficaram em silencio se afastaram escondendo-se atrás da mulher, a esfera tremia aparecendo

Page 337: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

337

apenas os olhos vermelhos brilhantes, Suelem estava com os cabelos longos totalmente brancos, usando um vestido negro de mangas curtas e longo cobrindo os pés, ao ouvir o chiado suas mãos se transformaram em laminas, esperando para ver o que sairia do buraco, destemida ela caminhou pelo salão entre os buracos em direção a passagem, o chiado se intensificou e encheu todo o salão, saiu um forte vento de um dos buracos esvoaçando os cabelos brancos, o vestido era soprado pelo vento se desfazendo em nevoa e se recompondo, as guias continuaram escondidas agora em um canto da entrada do salão, Suelem se preparou para atacar quem quer que seja que saia naquele buraco, as guias gritaram. _ APOPHIS. De repente uma serpente gigantesca saltou para fora do buraco, seu longo corpo deslizava pelo salão entre a moça e a passagem, a serpente levantou a cabeça triangular com os dentes em forma de serra exposto para fora da boca, sua respiração formava um vendaval, seus olhos eram brancos opacos a serpente era cega, capturava suas presas sentindo o cheiro e ouvindo seus movimentos, Suelem permanecia imóvel estudando aquele imenso animal parado em sua frente, a serpente virou-se rapidamente para as guias quando elas gritaram novamente. _ APOPHIS. As guias chamavam a atenção da serpente, mas ela não se movia, se mantendo entre Suelem e a passagem, farejando o ar lançando a língua bifurcada em movimentos frenéticos buscando a exata localização da sua presa que estava a poucos metros de distancia com as laminas brilhantes prontas para o combate, naquele mundo de almas geladas o corpo de carne quente da mulher logo foi localizado pela Apophis que desferiu o ataque inicial, Suelem se desfez em nevoa negra passando entre os dentes da serpente se materializando atrás da sua cabeça grande desferindo um único golpe com sua espada, mas a lamina não penetrou no corpo da serpente, nem sequer a feriu, Apophis levantou a cabeça bruscamente atirando Suelem para longe da passagem quase colidindo com a esfera na entrada do salão, Edvirgem olhou para a moça caída e disse.

Page 338: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

338

_ Ela é Apophis, você não pode feri-la com suas armas, Apófis não é um espírito como os outros, ela devora espíritos ela se alimenta de nós. _ E como posso destruí-la? – perguntou Suelem. Maria olhou para Apophis e falou. _ Nada pode destruir Apophis. _ Se ela se alimenta de espíritos então ela não vai me comer, eu não sou espírito. – falou Suelem levantando-se e se preparando para o ataque. _ Eu acho que ir lá não é uma boa Idea não, - disse Edvirgem-, eu ouvi dizer que uma vez um grupo de satanistas encontrou a passaram e veio parar aqui no mundo dos mortos e... _ Dizem que o Hades os convidou para receberem o pagamento por trabalhos prestados lá em cima. – falou Maria interrompendo Edvirgem. _ O fato é que, -continuou Edvirgem -, a Apophis arrancou a alma das pessoas que vieram aqui procurar pelo Hades. _ E comeu todas elas, quando chegamos aqui só tinha os corpos mastigados. – disse Maria. Diante dessa informação Suelem parou e avaliou melhor o que faria em seguida, a serpente continuava parada experimentando o ar com sua língua vermelha, as espadas se fizeram em vapor formando as mãos, Suelem caminhou de vagar ao encontro da serpente observando seus movimentos, a cada investida da Apophis Suelem se desfazia em nevoa escapando da boca aberta da serpente, assim ela conseguiu chegar perto da passagem, mas os olhos da Apophis se tornaram negros, a serpente aspirou e a nevoa negra foi sugada pelas narinas da serpente, sem conseguir escapar Suelem se materializou com um braço em forma de lança, antes de ser engolida Suelem enfiou a lança em uma das narinas da Apophis impedindo que continuasse a sugar, mas a serpente abriu a boca e as pernas da moça estava entre seus dentes, Suelem teve tempo suficiente para se transformar em vapor antes de ter as pernas esmagadas, se materializando novamente atrás da cabeça da Apophis agarrando-se o mais forte que podia, a serpente enfiou a cabeça em baixo do longo corpo esfregando-a nas escamas

Page 339: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

339

ásperas, duras como diamante cortantes como o vidro tentando esmagar a mulher agarrada a sua cabeça, ao ver que poderia morrer ali Suelem se desfez em nevoa e logo foi aspirada pelas narinas da cobra. As guias assistiram a serpente engolir a mulher guerreira e, se depararam com a fome insaciável da Apophis que agora cobiçava a esfera, Marta arregalou os olhos e abriu a boca em um grito ensurdecedor, Maria e Edvirgem acompanharam no grito, só que mais alto, a esfera virou-se para fugir e bateu na parede do túnel quase rachando a esfera, ao virar-se viu a boca aberta da serpente a poucos metros, as guias deram mais um grito coletivo e fecharam os olhos e a boca, nada aconteceu, a serpente não as engoliu, Marta abriu um dos olhos e viu que estavam dentro da boca ainda aberta, ela podia ver a garganta da Apophis e o hálito quente, Marta suava e abriu a boca, mas a voz não saiu, ela apenas conseguiu dar um sussurro engasgado, chamando pelas amigas. _ Maria, Edvirgem, olhem aquilo. As duas velhas abriram os olhos bem de vagar, a serpente continuava com a boca aberta com a esfera dentro, as guias saíram flutuando de vagar para fora da boca, gemendo e cochichando palavras que só elas entendiam, ao se verem longe da boca da serpente elas notaram que a Apophis estava imóvel, então começou a sair um vapor negro de dentro da garganta da serpente, o vapor ficou mais forte até se tornar um jato continuo de uma espessa fumaça escura, a fumaça entrou em um dos buracos e desapareceu, a Apophis se tornou uma casca vazia enrijecida de uma serpente que há muitos séculos aterrorizou as almas no inferno. As guias permaneceram paradas encostadas na parede de pedras tentando entender o que havia acontecido, então saiu um ultimo jato de vapor negro, e se materializou na frente da esfera, Suelem, nua com cortes nas pernas, na barriga, na costa e nos braços, sangrando pela boca e pelo nariz, seus olhos estavam azuis claros, seus cabelos brancos e longos manchados de vermelho pelo sangue que escorria do seu corpo, o vapor negro a envolveu novamente formando um vestido fino branco curto e muito justo, delineando a sua forma física, assim mesmo parecia que estava nua, até que o vestido ficou negro, as guias

Page 340: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

340

vibraram de alegria, por sua amiga estar viva e a serpente estar morta, agora Suelem poderia passar pela passagem e sair desse mundo de trevas, mas a idéia de deixar Derik para trás não á agradava por isso ela hesitou em partir, parou em frente à passagem olhando para o chão seu vestido mudou de cor, de preto para vermelho, a cor do sangue que continuava a sair de sua boca e nariz e dos cortes profundos em seu corpo, então ela desmaio. No campo de batalha os demônios se digladiavam, um gigante negro de aparência bizarra com pequenos chifres pontudos na testa orelhas parecida com a de um boi, olhos pequenos e vermelhos, sem nariz e uma barriga enorme, abria caminho esmurrando e esmagando todos que apareciam em sua frente não importava se eram amigos ou inimigos, ele esmagava todos com os punhos, os anjos de asas negras atiravam flechas no gigante, mas as flechas cravavam em seu corpo sem fazer efeito, o grandalhão continuava seu caminho de destruição com o corpo cravejado por inúmeras flechas dos anjos de asas negras e dos guerreiros do Guardião que lutavam no solo, o gigante negro se deparou com um homem touro quase da mesma altura que também esmagava suas vitimas, os dois se avaliaram e o homem touro partiu contra o gigante de quatro metros de altura, o gigante agarrou o touro pelos chifres e o atirou para o alto, o touro caiu a cinco metros de distancia sobre um demônio que se arrastava mutilado por uma mulher tigresa, o homem touro se levantou furioso esmagando com os cascos um demônio alado que foi alvejado por uma flecha e caiu aos seus pés antes de se transformar em vapor, o touro deu um mugido e disparou em direção ao gigante que estava de costa e o atingiu atirando-o ao chão, vários outros demônios e espíritos armados com espadas e lanças se atiraram sobre o gigante golpeando-o impiedosamente, em pouco tempo dezenas de animais saltaram sobre o gigante que não tinha mais espaço para tantos baterem, o grandalhão tentava se levantar, mas os golpe de espadas e lanças eram profundos então ele se desfez em vapor negro sucumbindo aos ataques.

Page 341: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

341

_ Guardião Maciel, - disse Hades -, já esperava por você, vocês sempre estiveram no meu caminho, eu tenho tolerado suas rebeldias, seus jogos infantis sem propósito manipulando os seres vivos para suas diversões, vocês escondem suas intenções achando que eu não vejo suas atitudes, eu sei o que querem, eu sei o que ambicionam, pensam que estão atrapalhando os meus planos, mas saibam que nada acontece sem minha aprovação, eu vejo tudo eu controlo tudo, esse é o meu mundo, agora eu porei fim a essa divisão no meu reino, eu eliminarei toda resistência, ou seja, todos vocês. Os braços do Hades se transformaram em espadas de fogo com chamas vermelhas intensas, Flora saltou para trás e o guardião pegou um machado de duas laminas negras que trazia em sua cintura desviando os golpes da espada flamejante, Oriel tinha em suas mãos uma espada com a lamina em chamas azuis, quando a espada do Hades atingiu a espada do Oriel houve uma explosão, Flora e o Guardião foram arremessados para dentro do campo de batalha onde foram atacados pelos demônios, o guardião lutava contra os demônios defendendo a si próprio e a Flora dos diabretes furiosos, no centro da explosão ficaram os dois gladiadores em pé medindo forças com as espadas em chamas, todos que se aproximavam acabavam vaporizados, nem Flora e nem o Guardião podiam aproximar-se com todo o poder que as espadas emitiam, Hades e seu irmão Oriel maneavam as espadas com habilidades de esgrimistas buscando uma chance de ferir seu adversário, o manto negro que Oriel usava se transformou em asas com esporas nas pontas e, com as asas ele tentava atingir Hades, mas Hades também tinha suas armas secretas, surgiram em sua costa uma calda com um ferrão na ponta, como a calda de um escorpião negro, o ferrão era peçonhento e podia ferir os espíritos com a mesma facilidade que feria os homens, Hades desferiu vários golpes contra Oriel, que se defendia se esquivando, ele sabia que bastava um arranhão daquele ferrão para imobilizá-lo. Flora estava em pé assistindo a luta entre os irmãos, um homem com cabeça de águia garras nas mãos e nos pés com penas brancas por todo o corpo se juntou a duas mulheres também com cabeça de águias para defender sua senhora Flora, as três águias se puseram ao redor da

Page 342: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

342

Flora lutando com as garras e o forte bico afiado protegendo-a dos ataques dos demônios, as águias estripavam qualquer um que se aproximasse, Flora continuava estática não sabia para quem deveria dar seu apoio, qualquer um que vencesse essa luta não seria diferente do outro, ambos tinham a mesma ideia de maldades e inveja ambos queriam ser o senhor do inferno e da terra, aquela luta poderia definir o destino da Flora e muitos outros espíritos do inferno que assim como Flora e o guardião não aceitavam as técnicas empregadas pelo Hades para dominar os homens na terra, Flora olhou para o lado e viu o guardião se preparando para arremessar uma lança de duas pontas, o guardião esperava uma oportunidade para não errar o alvo, então ele arremessou e a lança foi em direção a costa do Hades atingindo a calda grossa com escamas duras, a lança feriu Hades que deu um pequeno gemido, mas não podia desviar sua atenção do combate, Oriel era um especialista em estratégias e combates, só estava esperando que Hades se distraísse e cometesse um pequeno erro, assim Oriel poderia desferir um golpe que poria fim a luta e o reinado do maior líder do inferno, apesar do ferimento Hades continuava a esgrimir com habilidade, o ferimento só aumentou sua raiva e sua determinação de vencer essa batalha, Flora estendeu o braço e pareceu um arco e um alforje cheio de flechas na cintura, ela arqueou o arco com duas flechas se preparando para seguir o exemplo do guardião, mas oito dos anjos de asas negras se puseram entre Flora e os combatentes impedido que ela atirasse as flechas, um dos anjos se adiantou e disse. _ Essa luta deve ser travada entre os dois, sem interferências. Oriel desferia golpes de espada contra Hades que se defendia com sua espada enquanto tentava atingir Oriel com o ferrão envenenado da sua calda, a luta se estendeu para o meio do campo de combate, por onde passavam os demônios e as almas que estavam em seu caminho eram transformados em vapor pelo fogo das colisões das espadas, alguns demônios de corpo magro vermelhos de rosto alongados sobreviviam ao poder das espadas recuando dando passagem para não serem feridos, o mundo de Flora estava sendo devastado e ela não podia fazer nada, apenas observava as nuvens

Page 343: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

343

derramando demônios em grande quantidade, o seu céu que outrora foi azul e limpo, agora era cinza escurecido pelo vapor dos demônios caídos em combate em pleno ar, os vapores eram espalhados pelos anjos de asas negras e pelos demônios alados que cruzavam o ar em um alucinante duelo aéreo, Flora olhou para seu amigo Guardião sem dizer uma só palavra, parecia desanimada com aquele combate, e não sabia se Suelem tinha conseguido passar para o outro lado e se esconder, tudo que ela podia fazer era torcer para que tudo acabasse o mais rápido possível, com Suelem a salvo todos teriam mais tempo para se prepararem. Um demônio gordo com chifres em espiral e asas de couro passou em um voo rasante perto da cabeça da Flora seguido de perto por um espírito de olhos vermelhos e asas negras com uma espada de laminas brilhantes em punho, Flora só teve tempo de se abaixar tocando o chão com as mãos, o Guardião levantou seu machado para se defender das garras nas extremidades das asas, o demônio gordo esperou que o espírito o alcançasse e virou de barriga para cima cravando as longas garras dos pés no braço que empunhava a espada puxando o espírito para cima do seu enorme corpo, então o demônio fechou as asas e estraçalhou o espírito com as garras das asas e dos pés, quando o demônio abriu as asas caíram pedaços do corpo do espírito as asas negras caíram separada do corpo estavam sem as penas, logo as penas caíram como pétalas escuras sopradas pelo vento do bater das asas dos lutadores que passavam por perto, os pedaços do corpo do desafortunado espírito de asas negras se fizeram em vapor, gritos, latidos, uivos, grunhidos, berros, rugidos e risadas eram os sons que se podia ouvir naquele mundo sem esperanças. Oriel abriu as asas lançando-se para o ar, Hades o seguiu, a luta entre os dois continuaram, os golpes de espadas se tornaram mais poderosos, estrondos parecidos com trovões, às colisões das espadas estremeciam a terra, o fogo que saia das espadas queimava tudo ao seu redor, Oriel estava se cansando Hades era muito forte e não tinha misericórdia mesmo ferido, Oriel já não atacava apenas se defendia dos golpes, Oriel fechou as asas e caiu em pé no chão com as pernas tremulas se apoiando na espada, Hades caiu ao seu lado com as

Page 344: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

344

espadas levantada pronto para o golpe de misericórdia, mas seu corpo tinha sentido a força dos golpes da espada do seu irmão Oriel, então Hades cravou as espadas no chão abrindo uma fenda profunda e estreita, Oriel olhou para a fenda e disse. _ A zona dos perdidos. _ Não posso te destruir, mas posso te jogar na zona dos perdidos, - disse Hades-, lá você não me dará mais trabalho, nem você e nem os rebeldes, todos serão lançados na zona dos perdidos. Hades empurrou Oriel para a borda do precipício, de dentro da fenda se ouvia um zunido forte como se alguém estivesse respirando e tudo que passava sobre o abismo era sugado para dentro, Oriel ficou parado na beira da fenda assustado e tremulo, esse lugar era conhecido como o inferno do inferno, Hades se aproximou da fenda ele sentiu a sucção puxando-o para dentro, a força do abismo era mais forte do que qualquer coisa que ele já tenha visto, a zona dos perdidos foi criada para aprisionar os piores dos demônios, Zeus a fez e lá prendeu os demônios que destruíram a terra e deu às chaves do abismo nas mãos do Hades, só Hades podia abrir e prender quem ele quisesse, mas quem entrar na zona dos perdidos jamais sairia. Oriel estava exausto e cambaleava para na beira da fenda, Hades o empurrou com a espada e o ferroou com a calda de escorpião, Oriel perdeu o equilíbrio e escorregou para dentro da fenda, a se ver perdido Oriel se agarrou na ponta do ferrão da calda do Hades, para não ser sugado Hades enterrou as espadas no chão se segurando chacoalhando a calda tentando se soltar, mas Oriel estava decidido a levar seu irmão consigo, Flora viu a oportunidade de se livrar dos dois tiranos de uma só vez, deu ordem para um homem touro que estava por perto para golpear Hades e empurrá-lo para dentro da fenda, o homem touro obedeceu à ordem e partiu em direção ao abismo, mas um demônio alado o interceptou atirando uma lança de ferro em seu peito, então um homem leão e um homem urso se levantaram da multidão atendendo ao chamado da Flora e correram contra Hades que se segurava na borda da fenda, surgiram vários demônios correndo ao encontro deles, um dos demônios era magro e corria como um gato se atirando na costa do homem urso cravando as garras em seu pescoço,

Page 345: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

345

mas o homem urso era forte e não se deteve continuou correndo levando nas costas o demônio que o mordia, outros dois demônios agarraram as pernas do corpulento homem urso derrubando-o, o homem urso caiu na fenda e foi sugado com os demônios que o seguravam, um demônio alado lançava flecha envenenada contra o homem leão que corria em disparada rugindo, mas esse demônio foi detido por um anjo de asas negras que o agarrou em pleno voo, os dois caíram sobre o homem leão, logo vários demônios se jogaram sobre o anjo e o homem leão vaporizando-os, do céu vários anjos de asas negras atiraram uma saraivada de flechas sobre o Hades, mas os demônios que continuavam caindo da nuvem escura se puseram sobre seu mestre protegendo-o das flechas, vários deles foram sugados pela fenda e desapareciam no abismo aos gritos, enquanto uns eram atingidos pelas flechas outros se punha em seu lugar, de repente um vapor escuro passou entre os demônios materializando-se perto do Hades, era Suelem que voltou para ajudar Flora, os demônios fugiram ao ver a mulher com seu vestido negro e um punhal na mão direita, Hades olhou para Suelem e sorriu dizendo. _ Macária, minha filha. Suelem sabia que não podia usar suas armas contra ele, por isso ela pegou um machado com a lamina enferrujada que estava caída no chão e disse. _ Adeus, pai. Suelem levantou o machado para golpear Hades, então ele falou. _ Não deveria ser assim, antes que sua mãe nascesse seu destino começou a ser escrito pelos deuses do céu e do inferno, para eles você é apenas uma peça de um jogo, mas para mim você é a minha perfeita filha, eu a preparei desde o ventre da sua mãe para libertar o meu povo, os seus irmãos, tudo que eu queria é ser livre e ser adorado pelos meus verdadeiros filhos, mesmo que para isso eu tenha que destruir Zeus e todos os seus anjos, não confie em nenhum desses deuses ou espíritos que te cercam todos eles querem a mesma coisa e essa coisa está em você, eu queria poder te proteger, mas faça o que

Page 346: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

346

você veio fazer, um dia você verá a verdade e eu estarei ao seu lado agora eu quero te dar um presente. Hades soprou em direção ao rosto da sua executora de sua boca saiu uma pequena esfera brilhante que entrou na boca da moça, Suelem cravou o machado no pescoço do Hades, suas espadas que estavam cravadas no chão se transformaram em braços e mãos e ele foi sugado para dentro da fenda com seu irmão Oriel desaparecendo nas profundezas escuras, a fenda sugou todo o vapor que impregnava o mundo da Flora fechando-se de vagar, a batalha teve fim, todos os anjos de asas negras pararam de lutar e pousaram no chão perto da Flora, entre os anjos se adiantou um com um escudo e armadura dourada, ele levantou um cedro dourado abrindo uma passagem no ar, todos os anjos de asas negras passaram pela passagem, eram centenas de milhares abandonando o campo de combate, o anjo de armadura foi o ultimo a passar fechando a passagem. Os guerreiros do Guardião pegaram suas armas e voltaram para a passagem por onde tinham entrado, as nuvens que antes despejavam demônios se transformou em um ciclone e sugou os demônios que lutavam ao lado do seu líder Hades desaparecendo tão rápido como chegaram, os homens animais deitaram-se no chão como animais mansos, mas o mundo de Flora continuava destruído, a gritaria dos demônios deu lugar ao silencio da devastação, Flora andou até o seu trono, mas não pode se sentar, o trono foi destruído, as ervas e ramos que um dia foram verdes agora estavam reduzidas a cinzas, o longo vestido da Flora feita de flores coloridas e folhas estava salpicado pelo fogo das espadas, o Guardião se afastou em silencio e entrou na passagem atrás do seu exercito de almas e a passagem se fechou, Flora estava sozinha com seu exercito de homens animais, então a esfera entrou por uma pequena passagem que se abriu ao lado do trono e foi ao encontro da desolada Flora, sem dizer nada as guias saíram a procura da Suelem ao vê-la caída no chão elas falaram baixinho. _ Suelem você está viva? Flora estava longe da fenda e não viu quando Suelem entrou no meio da confusão de demônios, só percebeu a presença da moça quando a viu em pé ao lado do Hades com o machado na mão e não

Page 347: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

347

pode ouvir o que eles falaram, Suelem entrou em forma de nevoa e passou despercebida por todos, mas Flora viu quando Hades soprou no rosto da menina, Flora correu para ver o que as guias estavam falando, ela parou ao lado da esfera olhando para o corpo da moça com os longos cabelos esparramados pelo chão cobrindo seu rosto, Suelem estava desmaiada com o corpo nu sujo com as cinzas escuras misturado com o sangue que esvaia do seu corpo. _ Vocês deviam ter levado ela para fora desse mundo, - disse Flora para as guias -, mas eu estou feliz por não terem conseguido. _ E agora o que vamos fazer? – disse Edvirgem -, Hades está preso com o Oriel para sempre, será que teremos paz com as almas nesse e nos outros mundos? _ E os seguidores do Hades, - disse Maria -, eles podem tentar ocupar o seu lugar e do Oriel. _ O Edem ficará fechado para sempre, - disse Flora -, ninguém entrará, o corpo da Suelem repousará lá, não sabemos por quanto tempo ela ficará assim, o Edem é o lugar mais seguro para ela, eu porei guardas nos portões e nenhum dos seguidores de Hades poderá ocupar o seu lugar, por enquanto eu serei a líder desse mundo e todos me obedecerão. As guias se curvaram diante da Flora enquanto dois dos homens touros pegaram Suelem nos braços e entraram por uma passagem, foram para o jardim do Edem antigo lar do Hades, Suelem foi colocada em baixo de uma árvore sobre a grama verde, a grama cresceu e os ramos cobriram o corpo branco nu da moça, sepultando-a, nos portões do jardim Flora pôs o cão de três cabeças para impedir que os demônios entrassem, esse cão era temido até pelos demônios, e pôs um lacre selando o jardim. Flora, ao lado do Guardião e todos os que eram contra as ambições de Hades, reinou no inferno, mas nada mudou. Sentada no seu trono restaurado com ramos e flores ao lado dos animais no seu reino Flora falou. _ Que presente é esse que Hades te deu, me conte quando acordar estarei esperando.

Page 348: viajantes em terra de deuses - vassourasurbanas.com.br · ... era o que Derik ... esse francês se chamava Jack Delevai, um homem baixo de um metro e ... irmão que a ajudava a por

348

FIM JOSÉ DE SOUZA VIEIRA