VIAJAR NO TEMPO E NO ESPAÇO COM O CAVALEIRO DA DINAMARCA

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Sophia de Mello Breyner Andresen Por Assunção Ribeiro

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Sophia de Mello Breyner Andresen

Por Assunção Ribeiro

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Uma viagem no espaço e no tempo com o Cavaleiro da Dinamarca

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PERCURSO DO CAVALEIRO: Extremo Norte da Dinamarca →

Palestina → Ravena → Veneza → Ferrara → Bolonha →

Florença → Génova → Bruges → Antuérpia → Extremo Norte da Dinamarca

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“A Dinamarca fica no Norte da Europa…”

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“Há muitos anos, há dezenas e centenas de anos […] no

extremo Norte do País, perto do mar […] morava com a sua família um Cavaleiro.”

N O R T E D A E U R O P A

D I N A M A R C A

E X T R E M O N O R T E

F L O R E S T A

C L A R E I R A

C A S A

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A noite de Natal era igual todos os anos. […] Até que certo Natal aconteceu naquela casa uma coisa que ninguém esperava. […] - Vou partir- respondeu ele. – Vou em peregrinação à Terra Santa e quero passar o próximo Natal na gruta onde Cristo nasceu. […] Mas passado o Natal regres-sarei aqui e, de hoje a dois anos estaremos , se Deus quiser, reunidos de novo.

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Na Primavera, o Cavaleiro (…) dirigiu-se para a cidade mais próxima (…) um porto de mar (…) embarcou, e chegou muito antes do Natal às costas da Palestina.

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Dali seguiu com outros peregrinos para Jerusalém [onde visitou] um por um os lugares santos…

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Rezou no Monte Calvário e no Jardim das Oliveiras…

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(...) lavou a sua cara nas águas do Jordão (…) e viu no luminoso Inverno da Galileia, as águas azuis do lago

de Tiberíade (…)

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Procurou nas ruas de Jerusalém […] o rasto de sangue e sofrimento que ali deixou o Filho do Homem perseguido, humilhado e condenado…

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E caminhou nos montes da Judeia…

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Quando chegou o dia de Natal, ao fim da tarde, o Cavaleiro dirigiu-se para a gruta de Belém. Ali rezou toda a noite.

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Passado o Natal o Cavaleiro demorou-se ainda dois meses na Palestina visitando os lugares que tinham visto passar Abraão e David…

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Depois, em fins de Fevereiro, despediu-se de Jerusalém e […] partiu para o porto de Jafa. Entre outros peregrinos havia um Mercador de

Veneza…

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Em Jafa foram obrigados a esperar pelo bom tempo e só embarcaram em meados de Fevereiro…

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Mas uma vez no mar foram assaltados pela tempestade. O navio ora subia na crista da onda ora recaía pesadamente estremecendo de ponta a ponta…

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Mas passados cinco dias o vento amainou […] puderam chegar ao porto […] de Ravena, na costa do Adriático, nas terras de Itália.

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A beleza de Ravena enchia-o de espanto. Não se cansava de admirar as belas igrejas, as altas naves, os leves arcos, as finas fileiras de colunas.

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Mas mais do que tudo admirava os mosaicos multicolores onde se erguiam figuras de rainhas e santos que poisavam nele o seu grande olhar.

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- Ouve – disse o Mercador ao Cavaleiro – […] Vem comigo até Veneza. Se Ravena te espanta , mais te espantará a minha cidade construída sobre as águas. […] O Cavaleiro aceitou o conselho do Mercador e seguiu para Veneza .

http://www.youtube.com/watch?v=e5qeTaIY5eQ

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Veneza, construída à beira do mar Adriático sobre pequenas ilhas e sobre estacas, era nesse tempo uma das cidades mais poderosas do mundo. Ali tudo foi espanto para o dinamarquês.

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As ruas eram canais onde deslizavam estreitos barcos finos e escuros. Os palácios cresciam das águas que refletiam os mármores, as pinturas, as colunas.

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Na vasta Praça de São Marcos, em frente da enorme catedral e do alto campanário, o Cavaleiro mal podia acreditar naquilo que os seus olhos viam.

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O Mercador alojou o Cavaleiro no seu palácio…

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À noite ceavam na grande sala de mármore azul e verde ao som da música dos alaúdes.

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Certa noite o veneziano e o dinamarquês ficaram a conversar na varanda . Do outro lado do canal via-se um belo palácio com finas colunas esculpidas.

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E assim, em conversas, festas, ceias e passeios se passou um mês. […] E daí a três dias, montado num belo cavalo que o Mercador lhe oferecera, o dinamarquês deixou Veneza.

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Abril enchia a terra de flores […]. E por planícies, vales, colinas e montes, seguia o Cavaleiro. Passou por Ferrara e Bolonha e viu as altas torres de São Giminiano. Dormia nas estalagens ou pedia abrigo nos conventos.

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E no princípio de Maio chegou a Florença. Vista do alto das colinas floridas a cidade erguia no céu azul os seus telhados vermelhos, as suas torres, os seus campanários, as suas cúpulas.

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O Cavaleiro atravessou a velha ponte sobre o rio, a ponte ladeada de pequenas lojas onde se vendiam […]

lãs, sedas, jóias de oiro.

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Depois foi através das ruas rodeadas de palácios , atravessou as largas praças e viu as igrejas de mármore preto e branco com grandes portas de bronze esculpido.

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Por toda a parte se viam estátuas. Havia estátuas de mármore claro e estátuas de bronze.

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E a beleza de Florença espantou o Cavaleiro tal como o tinha espantado a beleza de Veneza, Mas aqui tudo era mais grave e austero.

Estátua de Dante Alighieri em frente da igreja de Santa Croce.

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Procurou a casa do banqueiro Averardo [onde havia] uma biblioteca cheia de antiquíssimos manuscritos, e nas paredes estavam pendurados quadros maravilhosos.

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- Quem é Giotto? – perguntou o Cavaleiro.

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«(…) é um pintor do século passado que foi

discípulo de Cimabué.»

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De dia [o Cavaleiro] percorria as ruas e as praças e visitava os conventos, os palácios, as bibliotecas e as igrejas. À noite ouvia as sábias conversas dos amigos de Averardo.

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E passado um mês disse-lhe o banqueiro: - Associa-te aos meus negócios e estabelece a tua vida em Florença. Há no mundo cidades mais poderosas e mais ricas, mas é aqui que existe a maior ciência. […] - Agradeço-te o teu convite […], mas … dentro de três dias terei de partir.

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Viajava agora com pressa para embarcar no porto de Génova num dos navios que, no princípio do Verão, sobem da Itália para Bruges, Gand e Antuérpia. Mas já no fim do caminho, a pouca distância de Génova, adoeceu. […] Os frades que o recolheram tiveram grande trabalho para o salvar. [… ] Teve de esperar mais um mês no convento calmo e silencioso. […] ao cabo de cinco semanas de descanso, ele pôde despedir-se dos frades e continuar o seu caminho.

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Então dirigiu-se para Génova. Mas quando chegou ao grande porto de mar era já o fim de Setembro.

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O Cavaleiro ficou desesperado com estas notícias e durante dois dias não comeu nem dormiu. Mas depois recuperou o ânimo e resolveu seguir viagem por terra, a cavalo, até Bruges.

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Atravessou os Alpes, atravessou os campos, as planícies os vales e as montanhas da França.

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Mas quando chegou à Flandres era já Inverno e sobre os telhados e os campos caía a primeira neve.

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O Cavaleiro dirigiu-se para Antuérpia e aí procurou o negociante flamengo, para o qual o banqueiro Averardo lhe tinha dado uma carta.

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No dia seguinte o Cavaleiro disse ao negociante que queria seguir por mar para a Dinamarca. - Estamos em novembro – respondeu flamengo -. […] Nesta época do ano […] não há navio nenhum. […] Na noite do terceiro dia […] o negociante disse-lhe uma proposta a fazer-te […]. - Prometi chegar este Natal à minha casa […] partirei amanhã. […] E assim foi […] Caminhou durante longas semanas.

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Finalmente, na antevéspera de Natal, ao fim da tarde, chegou a uma pequena povoação que ficava a poucos quilómetros da sua floresta. Aí foi recebido com grande alegria pelos seus amigos, que já […] o julgavam perdido. Um deles hospedou-o na sua casa e emprestou-lhe um cavalo seu. […] E na madrugada seguinte o peregrino partiu.

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[…] depois de quase dois anos de ausência, a floresta parecia-lhe fantástica e estranha. […] O Inverno tinha despido as árvores, e os ramos nus desenhavam-se , negros, esbranquiçados, avermelhados . […]

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[…] depressa chegou à pequena aldeia dos lenhadores. […] Ele penetrou na cabana maior e sentou-se ao pé do lume enquanto os moradores lhe serviram pão com mel e leite quente.

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[…] seguiu o seu caminho. […] já não sabia há quanto tempo caminhava e a floresta era um labirinto sem fim…

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Então na massa escura dos arvoredos começou ao longe a crescer uma pequena claridade.

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A luz continuava a crescer e à medida que crescia, subindo do chão para o céu, ia tomando a forma dum cone. […] era ali a clareira de bétulas onde ficava a sua casa […] os anjos do Natal tinham enfeitado […] a maior árvore da floresta […] para guiar o Cavaleiro.

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Esta história, levada de boca em boca, correu os países do Norte. E é por isso que na noite de Natal se iluminam os pinheiros.

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Referências:

Excertos: Andresen, Sophia de Mello Breyner de (1964). O Cavaleiro da Dinamarca. Porto: Figueirinhas

Imagens recolhidas em diversos sites da internet.