Viana do Castelo

191

description

Projecto Cultura visual

Transcript of Viana do Castelo

Page 1: Viana do Castelo
Page 2: Viana do Castelo
Page 3: Viana do Castelo
Page 4: Viana do Castelo

004

Índice006008

016

026

030

034036038040042044046048050052054056058

EmbarquePrefácioVIANAForal de Viana do CasteloORIGEMOrigemHISTÓRIAHistóriaPATRIMÓNIOPonte Eiffel, Casa dos CunhasIgreja da CaridadeEstação de Caminhos de Ferro, Casa dos Melo AlvimCasa dos Távoras, Casa dos Alpuins, Casa dos MonfalimChafariz da Praça e Capela das MalheirasCasa das Varandas, Igreja da MisericórdiaCasa da Praça e Capela das MalheirasIgreja Matriz, Casa dos ArcosMuseu do Traje, Casa da VedoriaPalacete dos Barbosa Macieis, Convento de S. Domingos e Igreja de Sta CruzIgreja Nossa Senhora da AgoniaCastelo Santiago da Barra, Gil EannesFunicular, Santuário de Sta Luzia

Page 5: Viana do Castelo

060064

068072074

078080082084

088090092094096

100102104106

Convento São Francisco do MonteLocalizaçãoECONOMIAViana e o MarViana e Outras ActividadesFábrica de Chocolates “Avianense”, Vianagrés, Vi Ana.OURO VIANÊSOuroCordãoArrecadas, Argolas Carniceiras, Brincos à Rainha, Colar de Contas, CruzesMemórias, Laças, CoraçãoARTESANATOOrigem ArtesanatoOs Bordados, AventaisTrajes à Lavradeira ou de Festa, Palmitos ou Ramo, ChinelosLenços dos Namorados ou de AmorPirotécnia, Vela VotivaTRAJESPequena HistóriaTraje de Trabalho ou CaioTraje de Domingar ou Lavradeira, Traje de Meia Senhora ou MorgadaTraje de Mordoma ou Morgada, Fato de Noiva ou das “Velhas”

Page 6: Viana do Castelo

006

108

112

118120122

126128130132134136138

144146150152156162

Traje de SargaceiroGASTRONOMIAGastronomiaFESTAS TRADICIONAISPáscoaConsoada, MaiosReis ou “Reises”, Reis AntigosLENDAS, TRADIÇÕES & SUPERSTIÇÕESLenda do Rio Lima, Lenda de VianaLenda da Serra D’Arga, Origem da MulherTradiçõesTradições RuraisDesfolhadas, Cultura do LinhoMatança do PorcoTradições Religiosas e CrendicesFESTAS & ROMARIASFestasFesta de Nossa Sra das NevesFesta das RosasPreparação do CestoFesta da Sra da AgoniaSão João D’Arga

Page 7: Viana do Castelo

166

170

176180182

184

Nossa Sra do Minho, Feiras Novas - Ponte de LimaCANCIONEIROCancioneiro PopularREGIONALISMOSRegionalismosAgradecimentosResumo, Cultura VisualViana do Castelo - Símbolo de Cultura Visual, O Porquê do ProjectoViana do Castelo - OrigemProjecto

Page 8: Viana do Castelo

008

EmbarqueEntre sombras misteriosasEm rompendo ao longe estrelasTrocaremos nossas rosasPara depois esquecê-las

Se o meu sangue não me enganaComo engana a fantasiaHavemos de ir a VianaÓ meu amor de algum dia

Ó meu amor de algum diaHavemos de ir a VianaSe o meu sangue não me enganaHavemos de ir a Viana

Partamos de flor ao peitoQue o amor é como o ventoQuem pára perde-lhe o jeitoE morre a todo o momento.

Ciganos, verde ciganosDeixai-me com esta crençaOs pecados têm vinte anosOs remorsos têm oitenta.

Pedro Homem de Melo

Poema de Pedro Homem de Melo, com o título de Embarque, contudo é con-hecido por “Havemos de ir a Viana”, fado que Amália Rodrigues, mordoma e madrinha das Festas d’Agonia, tornou famoso, e que hoje é tocado e cantado por todos, durante as festas, e não só.

Diga-se a propósito, que Pedro Homem de Mello, embora não fosse natural de Viana do Castelo, pois nasceu no Porto, tornou-se Vianense ao adoptar o lugar de Cabanas em Afife, como sua terra de adopção. Aí viveu e retratou os costumes e tradições do Minho. Foi talvez o que melhor cantou em verso, a alma boa, simples e alegre das gentes minhotas. Através dos seus poemas, “sentimos”o som, ritmo e cores desta região.

Cantou a alegria do vira e de todas as outras danças. Como ele escreveu, nas palavras de abertura de “Folclore” em Cabanas da Editora Mello em 1970:

“Tudo aquilo que, até hoje escrevi e mostrei, resultou, apenas, do que sentiram durante meio século os meus olhos, os meus ouvidos, os meus pés (e o mesmo será dizer o meu corpo e a minha alma), de bailador”.

Page 9: Viana do Castelo
Page 10: Viana do Castelo

010

PREFÁCIOViana do Castelo. Fidalga, elegante, colorida! A paisagem vianesa não tem igual. «É a porção de céu e de solo mais vibrantemente viva e alegre, mais luminosa e mais cantante, do nosso país», assim a descreve Ramalho Ortigão no seu romance “As Farpas”. Cidade situada a Noroeste do país, no chamado Alto Minho, capital de distrito, jardim de Portugal, nobre e muito antigo. Terra de pescadores, rica em cultura e tradições, capital do folclore nacio-nal. Tem história e património. É das poucas cidades, que manteve o seu centro histórico preservado, mantendo a sua traça original. Em qualquer rua ou viela, existem casas com história e vestígios de outras eras.

Muitos livros, estudos e obras mais ou menos exaustivos têm sido publi-cados. Uns temáticos, versando o ouro, o traje, as tradições, outros sobre a parte sócio-económica, escritos por outros abalizados para tal. Não sendo inovador, nem original, o tema do meu trabalho, assenta em tudo o que me tem sido contado, com tudo o que tenho visto e sentido, tem contribuído para que eu veja esta cidade e seu distrito de um modo dife-rente. Pretendo com este projecto dá-la a conhecer como eu a vejo e sinto.Vou assim mostrar os vários aspectos do Alto Minho, especialmente da zona de Viana do Castelo.

Por isso, e sendo daqui naturais a minha Mãe, tias e tios, pedi-lhes a título de prefácio, me «contassem», o seu amor a esta cidade princesa, sempre menina e bonita!

Page 11: Viana do Castelo

Ao responder ao pedido do André, para relatar o que “sinto” por Viana, é com emoção, alegria e até com alguma surpresa que o faço. Vejo, que consegui com bom resultado, incutir-lhe o amor e carinho que tenho por ela, sendo ele um “bichinho” da cidade grande!

Quanto a mim é recuar no tempo, às minhas raízes e lembranças, aos aromas e vivências da minha infância e juventude. Os «alfacinhas» que me perdoem, sendo a minha Mãe de Lisboa, mas é mais forte a minha ligação a Viana, já que lá passei a minha infância e adolescência, saindo fisicamente de lá quando vim estudar para Lisboa, e depois casei. Vivi, cresci e estudei num berço de história, onde desde cedo, fui «alimen-tada», pelas origens, tanto do país, como de Viana, no colégio (bem perto da Igreja de S. Domingos) e no liceu, assim, como das tradições, através do meu Pai, tios e mais pessoas que tanto amavam a sua terra.

Toda a cidade me abrigou, como um berço de carinho acolhedor. Todos praticamente se conheciam, o que transformava as fugas do colégio para “matar as aulas” em algo logo apercebido pelos pais. Nessa altura éramos bem controlados! Em todas as ruas e vielas se respira história e histórias, e, onde convivem

estilos clássicos e Arte Nova, com aberrações, como o famoso prédio do «Coutinho», construído no local do antigo mercado, e à mais recente, a es-tátua do Caramurú, posta, não em sossego em plena Praça da República!!!

Como falar de tudo? A gastronomia imensa a despertar todos os sentidos!? E os farnéis que se levavam para as romarias! Os bolos; manjericos, os sidónios da Brasileira, o pão-de-ló, as bolas de Berlim do Natário, a torta de Viana, as empadas de pato ou lampreia, um sem fim de água na boca! As desfolhadas, que corriam pela noite dentro, as vindimas com meren-deiro pelo meio, só terminando à tarde, com os cachos transportados em vagarosos carros de bois.

As feiras semanais, onde todos se abasteciam, e onde eu ainda vi mulheres vestidas com o seu traje de «ir à feira», onde a venda de gado se realizava também, e os fogareiros, onde se fritava bacalhau, para alimentar quem quisesse, porque o dia era longo e a feira acabava à tardinha... O Natal e a Páscoa? Na primeira, enquanto a minha Mãe e Avó, confec-cionavam os doces de Natal, depois da Missa do Galo, nós jogávamos ao rapa (rapa, tira, deixa e põe) a feijões com o meu Pai e Avô, enquanto se ouviam histórias, esperando pelo Menino Jesus e as ditas prendas.

Page 12: Viana do Castelo

012

Mais tarde as janeiras, que se ouviam na entrada da porta! Pela Páscoa, ansiosos para receber o Compasso (visita da Cruz), onde se misturavam os cheiros de alecrim e flores que atapetavam as entradas das casas. As romarias então, eram uma delícia! Procissão com muitos anjinhos, alguns, já desasados, a banda de música, as bancas forradas de lindas e brancas toalhas de linho, onde se vendiam enchidos, regueifas, pão que as mulheres transportavam como se fossem pulseiras, «engalhadas» nos pulsos, bolos brancos de gema, peras com marmelada, rosquilhos, papudos e bei-jinhos. Isto tudo exposto ao pó dos passantes! Também ainda não existia a ASAE!

E a chieira (vaidade) de vestir aqueles trajes e ourar-me para o cortejo das Festas d´Agonia. E o dia do meu casamento, com aquele vestido preto de «luxo» sem igual! Nos dias das festas, basta vestir agora, uma camisa bordada com calças de ganga, porque o moderno convive bem com a tradição, pôr uns brincos à rainha, um colar de contas, uns chinelos bordados e... Estou pronta para a festa! As festas eram um corrupio, difícil era por vezes a escolha; Festa das Rosas, das Neves, S. João d´Arga pela serra acima, Nossa Senhora do Minho, as Feiras Novas em Ponte de Lima, estas entre outras, que eram muitas.

Viana chama sempre por mim. Revê-la, seja em que altura do ano for, é aconchegar-me a alguém muito querido, e à medida que Agosto se aproxi-ma, há uma ansiedade nova que se instala., para a ver nas Festas d’Agonia. É repôr em mim a luz, cor alegria e hospitalidade. E é trazer comigo o som do vira nos pés. Ao vir embora, tenho a mesma sensação como Maria Emí-lia de Vasconcelos escreveu:

Tem sete espadas no peitocomo a Virgem d’Agoniaquem Deus casa com Vianae lhe diz adeus um dia

O amor que tenho a esta terra, que, embora estando longe, está sempre presente, faz com que a entendas e a queiras dar a conhecer.

Mãe

Page 13: Viana do Castelo

Ai por volta de 1958 numa manhã de fim de Setembro fez-se a vindima na Ínsua, campo de vinha na margem direita do Rio Neiva, em Barroselas.

Toca a levantar, quando começámos a ouvir o chiar das rodas do carro de bois, a descer a “ avenida de cima “ para em correria, aparecer na adega, onde se preparava a ida, não sem antes comermos papas doces de farinha de milho amarelo, que a D. Maria, minha Avó, fazia à moda da Serra da Estrela, de onde era natural. Ah!... Ela também as fazia com nabos e suas folhas verdinhas, para uma refeição rápida, saborosa e substancial.

Bom, voltando à adega, tudo estava em rebuliço…Os cestos grandes enca-fuados uns nos outros, os mais pequenos, com um gancho de ferro para os pendurar na vinha à beira das mãos, esses, guerreavam o lugar pendurados na dorna (recipiente onde seriam transportados os cachos de uva), que estava a ser subida por uma rampa para o carro de bois. Já alguém mexia nas cordas grossas para a prender, e nuns pedaços de ma-deira para trancar esse aperto. Eram colocados também no carro de bois os escadotes “da casa”, e uma cesta com os utensílios para o jantar (no Minho o jantar era o almoço, sendo a ceia a última refeição do dia). Até que, o Sr. Moreira o encarregado de organizar esta labuta, disse na sua voz alta e

rouca, para o filho do Sr. Tiago Lima, caseiro que tratava do terreno: “Toca a andar”…então o pequeno, pegou na vara , batendo com ela nas costas dos bois, dizendo: aaaouou!

Os grandes animais de pêlo amarelo, (eram mais altos que eu) começavam a andar e tudo rugia e chiava. Num barulho que me mata de saudades! Os bois olhavam-me com uns meigos e doces olhos grandes de castanho dou-rado, pacíficos, e cúmplices. Pareciam estar a dizer-me: vá, não demores, nós vamos andando devagarinho…

Claro, nós íamos logo atrás deles, com o rancho de pessoas que acompan-havam o Sr. Moreira; Tia Teresa, Mãe dele, outra mulheres com as crianças, a Minha Avó “capataz”, o meu Avô Herculano que levava, seguramente al-guns jornais de há uma semana (andava sempre atrasado com a sua leituras, pois lia-os de fio a pavio) e claro eu e a Zezinha, minha irmã e o Miguinho, apelido do nosso cão rafeiro que se chamava “Vem Comigo”.

O Sr. Moreira homem alto e magro, usava um chapéu todo amarrotado. Se calhar era do meu Avô, pois ele muitas vezes sentava-se em cima dele, e, já não havendo remédio para o chapéu, era para quem precisasse dele.A Tia Teresa era a nossa lavadeira.”Lavava no tanque lavava”, e do tanque,

As Vindimas da minha Vida

Page 14: Viana do Castelo

014

de onde via todo o quintal, tal qual como um vigia, avisava se alguém estava no portão de baixo ou se as meninas (éramos nós) estavam penduradas no muro.

Ás vezes, estávamos á conversa com outras crianças que passavam no caminho que ladeava em todo o comprimento o nosso quintal. Avisava se o depósito de água estava cheio. Este, está no forro do telhado, em cima da cozinha, e tem um cano, chamado de “ladrão” que avisa quan-do está cheio), fazia “xôôô!” aos pardais que poisavam em cima da sua roupa branquinha a corar no coradouro ao lado do tanque… Enfim tinha uma série de “casos” a controlar simultaneamente.

Vestia-se sempre de preto, com a saia até meio da perna, de socos, que faziam um delicioso “toc-toc” pelo cimento dos nossos pátios e usava um grande chapéu de palha de abas largas, atado com umas fitas debaixo do queixo. É que, se fazia vento, ou com o entusiasmo de lavar e bater a roupa, se ele fosse para a água, era um sarilho para o apanhar. E não ficava bem usar um dos chapéus amolgados do Meu Avô, Sr. Herculano!!!

Quanto a chapéus. O Papá usava o seu, sempre preto. Para ir a Viana, visitar alguém, em casamentos baptizados e funerais. No dia a dia, quando saia para o “Laranjal”, “o seu menino dos olhos”, pois teve quatro filhas...

Usava um chapéu branco, tipo colonial, que usara no Congo Belga, para onde foi muito jovem com o pai. E foi, com esse chapéu, que ele nos apa-receu mais tarde na Ínsua.... Sempre a fumar os seus cigarros “20-20-20”.

Na Ínsua, o nosso grupo, arregaçou as mangas e juntou-se ao grupo do Sr. Tiago Lima, que chegara mais cedo, tendo já os seus cestos grandes cheios de belos cachos, de apetitosas uvas pretas pequeninas à espera.

As mulheres vindimavam nos escadotes, os homens, que eram poucos acartavam em cima dos ombros os cestos para dentro da dorna, que per-manecia imponente no alto do carro de bois. Quem não estava sereno, eram os bois, sabendo do trabalho esforçado, que dentro em breve teriam ao carregar as uvas para a adega.

O rancho de crianças, filhas das mulheres que estavam a trabalhar e nós incluídas, enquanto as mais pequenas corriam e brincavam, as maiores, tinham por tarefa cuidar das mais novinhas e apanhar os bagos de uva que caíam no chão. Por volta das 11 horas o carro de bois, já cheio, gemia pelo caminho em direcção a casa, de onde voltava mais tarde com o jantar, composto de bacalhau cozido com batatas e couves.

Page 15: Viana do Castelo

Só eu e a Zezinha é que ficávamos na Ínsua, pois a Avó, o Avô e o Papá iam para casa. Adorávamos comer junto de tantas pessoas e com os seus filhos, sendo eles mais ou menos da nossa idade. A Sra. Cândida, tratava de nós.

Era costume as pessoas juntarem-se à volta da travessa e comerem directa-mente de lá, mas na nossa casa não era assim; havia pratos para todos e também copos e malgas para beber.

A responsável pela distribuição do almoço era a Sra. Cândida que trabal-hava também durante o ano inteiro no nosso quintal, e que jeito tinha ela para as flores! Então estendia uma grande toalha à sombrinha de uma ár-vore, punha as panelas ao lado e servia o bacalhau e seu acompanhamento em várias travessas que dispunha à roda.

No meio, havia uma grande broa. O garrafão do vinho passava de mão em mão e cada um servia-se à vontade.

As conversas entre eles e elas eram divertidas, respirava-se alegria e boa dis-posição. No final do jantar, a cantar lá subiam de novo para os escadotes…De repente vemos o Miguinho passar a correr atrás de um desgraçado gato preto, que com o medo subiu para um arbusto e caiu ao rio. O meu furibun-

bundo cão atirou-se também… Foi uma confusão daquelas. Nós tínhamos medo que o nosso cão desaparecesse e o gato morresse afogado…”e foi assim Sr. Miranda, tivemos de ir buscar o Miguinho já perto da linha do comboio, e lá ficou com as meninas!

Ao chegarmos perguntou o meu Pai:“Oh Cândida,o almoço chegou?” “Chegou sim Sr. Miranda. Era o comer a acabar e as pessoas a acabarem de comer.”

Tia Belinha

Page 16: Viana do Castelo

016

A Afonso devo o berço, devo os foros,Ao rei afortunado o nobre escudo,A ti Senhora, as honras de cidade,E a glória de te ver, que é mais que tudo.

As frescas margens do LimaVem gozar perfume novo,Se deixas galas do paço,Recebes bênçãos do povo.

Quadras colocadas nos arcos festivos a quando da vis-ita de D. Maria II à cidade, em 8 de Maio de 1852.

Page 17: Viana do Castelo
Page 18: Viana do Castelo

018

FORAL DE VIANA DO CASTELOEm nome de Cristo e com sua graça. Porque a memória de dos homens tem seus termos limitados e he fraca, nenhuma cousa foi mais acertada para a conservar que o remédio da escritura para que os feitos e obras dignas de memória dos homens ficassem permanentes, firmes em seu vigor e ainda para os vindouros: pella qual rezão,eu Afonso, por graça de Deos Rey de Portugal e conde de Borgonha, juntamente com minha mulher, a Rainha D. Brites, filha do ylustre Rey de Castela e Leão, quero fazer hua povoação nova no lugar qu e se chama Átrio em a foz do rio Lima, à qual povoação dou de novo e ponho o nome Viana e dou a vós todos os povoadores de Viana assi aos que agora são como os que a adiante pello tempo nella viverem, por vossa herança própria, convem a saber, do rio pequeno de Biturinho, até o termo que parte com o lugar de Meadella e com Mealde, assi e da maneira que eu devo ter e aver no mesmo lugar de Meadella e em seu termo, e dou-vos e outorgo-vos por vosso couto e por vossso termo, convém a saber, assi como parte com o rio dito de Biturinho (Podre) e entra no Lima, e dahi pello mesmo rio Lima e da maneira que descarrega as suas águas, e correntes no mar e dahi pella marinha e praia do mar até a foz do Âncora e dahi assi como vai (o) Âncora com suas voltas pela terra dentro, assi como vay partindo com a terra de São Martinho e com Caminha, e dahi como vai demarcando com a Montaria e com Arga, e dahi assi como vai direito ao Rio Podre, e depois esse mesmo rio até entrar no Lima, de

sorte que tudo o que jaz dentro destes termos, assi divisados, e eu nelles tenho, e direito posso ter e aver, vos dou e outorgo, assi aos que agora fordes como aos que depois de vos vierem, isto por herdade e herança para sem-pre, salvo, que reservo para mim e para meus sucessores todo o direito aos padroados de todas as igrejas dessa vossa Villa e de seus termos, da maneira que vo-los agora demarquei, assi feitas como as que adiante se fizerem, as quaes igrejas reservo para minha pessoa e para os reis que depois de mim vierem, e mando, e hei por bem, que os povoadores de Viana usem do monte deArga para pasto de seus gados, e de maneira que nelle houver, assim como uzão os outros vizinhos que vivem ao pé do dito monte. Dou-vos mais a vós povoadores de Viana, e outorgo, assi aos que agora sois como aos que adiante vierem, por foro, o foral de Valença do Minho, o qual é este. Primeiramente, hei por bem que não deis nem pagueis por nenhu homicídio, de qualquer sorte e qualidade que seja, mais de trezentos sol-dos, por cada hu, que servirá de estimação geral, e desta quantia se pagará a septima parte a minha chancellaria geral por ordem do juis da terra. Item mais, em toda a cauza que se mover, ou denunciação que se der, não conhecerá nenhua minha justiça, senão o juis eleito por vós. A terceira parte dos homens da vossa villa e termo hirão rondar e velar ao estremo em as ocasiões de guerra, e as duas partes fiquem na dita villa, e aquelle da repartição da terceira parte, que não for rondar pagará por pena, que se

Page 19: Viana do Castelo

chama de fossadeira, cinco soldos, e não hireis a rondar em companhia de nenhua pessoa senão do eleito entre vós, ou do senhor da terra se ahi ouver, e isto será hua vez no anno, se não for por vosso gosto e beneplácito. Os clérigos e piães não hirão a rondar pera recado e ordem de algum homem de Viana. Todo aquelle que no termode Viana furtar filha alheia, contra sua vontade, pague na chancellaria real trezentos soldos. E se algum entre vós, moradores de Viana, ou na feira ou na igreja ou no paço do concelho, contando que a septima parte delles será para a chancel-laria real, pagos por ordem do juiz da terra. De qualquer furto, o senhor a quem se fizer, receberá o que lhe couber, e as outo partes se dividirão e partirão com o juiz da terra. E todo aquelle que alevantar caza ou vinha ou herdade por sua e della estiver de posse por um anno, e querendo-a vender que a possa fazer livremente, e aforar pello foro de Viana. E todo o homem de Viana que contratar com outros homens de outras terras será segundo o seu foro. Item mais todo o fidalgo e cavaleiro de es-poras douradas de Viana goze de preheminencias, foros e liberdades de que gozão os infanções de todo o Reino, assi em toda a acção que mover, como na forma e modo de jurar e de lhe tomarem seu depoimento e em juízo será ouvido com dar em seu abono duas testemunhas. O pião gozará de foro de fidalgo priviligiado como o lavrador das terras reguengas, todas as vezes que for chamado a juízo ou se lhe der juramento,

dando, porém duas testemunhas em seu abono e defesa. Os homens que saírem de suas terras, por rezão de algum homicídio ou por forçarem mol-her ou por qualquer outra culpa e malefício, tirando quando não tirarem a molher alheia das bençoens, estando-se velando e quando alguma pessoa se fizer criado e vassalo de algum homem de Viana, seja livre e em todas as suas couzas e acçoens será ouvido e defendido pello foro de Viana. Item se algum homem de qualquer outra terra vier por rezão della algua couza, este tal depois de entrar no termo de Viana, se o inimigo, vindo em seu seguimento, se entregar do penhor ou peça que lhe tinham tomado ou lhe fizer algum mal, pagará ao senhor da terra quinhentos soldos e o penhor em dobro àquele a quem o tomar e todas as mais querelas que fizer. E todo aquele que fizer penhora em home de Viana, não lha demandando primeiro no juízo ordinário, pagará na minha chancellaria sessenta soldos e dobrada a penhora àquele a que se tomou. E todo o homem de qualquer outra parte que fizer descer de seu cavalo a qualquer cavaleiro de Viana, pague sessenta soldos. E todo o home de Viana que fizer o mesmo a cavaleiro de outra parte pague cinco soldos. E se qulquer home de outra terra lançar mão de home de Viana e o poser em prizão e em ferros, pague trezentos soldos.E se qualquer home de Viana fizer o mesmo a qualquer home de outra terra, pague cinco soldos.

Page 20: Viana do Castelo

020

E se qualquer home de Viana ficar por algua fiança e não for requerido por espaço e tempo de meo anno, fique livre da fiança, e se quiserem obrigar a sua mulher e filhos, seião também livres della. E os homens de Viana não paguem nenhuma penhora por aquelle que for senhor da terra, nem pello meirinho ou qualquer justiça, nem lhe faça penhora por rezão de algum meirinho. E os cavaleiros de Viana não darão aposentadoria pello foral de Viana, se não os peães por ordem do juiz ordinário da terra, e isto por três dias e não mais. E os homes moradores no termo de Viana, ou que seião de fora della, de qualquer outra terra, os quais estando actualmente nas vossas herdades ou em vossos solares, e os seus senhorios não estiverem ahi, recorrerão ao juiz e darão fiança para que responda por elles em juízo quando vierem seus amos ou senhores, e se lhes fizerem algua injuria ou mal, pagarão a seus senhores e a septima parte a minha chancellaria, e estes não servirão a outra nenhua pessoa mais que a seus senhorios, estando em seus solares, e se tiverem searas, passaes ou vinhas del-Rey sua, e tenhao na pello foro e lei das vossas searas e vinhas. E todo aquelle que matar a seu cidadão e fugir para sua caza, aquelle que o seguir e matar dentro della, pagará trezentos soldos. E todo aquelle que forçar mulher e, dando doze gritos, se não se puder livrar delle, pague trezentos soldos.

E todo aquelle que ferir mulher alhea, pague a seu marido trinta soldos e a septima parte delles a minha chancellaria.E todo o home de Viana que quizer dar caução e fiança de qualquer acção que lhe for posta e der dous homes abonados, e com ele são três, se aquelle que lhe põem acção ou demanda quizer tomar os fiadores e o matar, pague o homicidio a seus parentes e a minha chancellaria, e toda a Villa goze de hu foral. E todo o home de Viana que, sendo fiador, entrar em juízo e não livrar da fiança, paggue por elle, e avendo contendor, lance-se da fiança para que o autor corra com ella, com pagar dez soldos, jurando pello menos com hu vezinho qual achar, e dê dez soldos jurando com dous vezinhos. E todo o home morador em Viana que se quizer acostar a outro senhor que lhe faça bem a sua casa, herdades, mulher e filhos serão livres e izentos e pagarão pello foro de Viana. Dou-vos mais por foro que não tenhais outro senhor se não a Nós e a Rainha, minha mulher, e a meus filhos. E todo o home de Viana que escolher mulher até ao tempo das bencoens e de se velar e a deixar, pague hu dinheiro ao juiz ordinário, e se a mulher deixar ao marido, tendo já as bençoens, pague trezentos soldos, a metade para a minha chancellaria e a outra para seu marido. E aquelle que romper casa e a entrar com lanças e escudos das portas a dentro, pagará trezentos soldos, a metade ao senhor da casa e a outra a chancellaria. Todo a aquelle que ferir a seu vezinho com espada, pagará

Page 21: Viana do Castelo

corenta soldos e a septima parte à chancellaria. O que ferir a seu vizinho com lança e andar à solta, de hua parte para a outra, pagará vinte soldod, a septima parte a chancellaria, e se não for para algua parte, pagará dez soldos; e ferida de que sahirem ossos, por qualquer osso, pagará dez soldos, a septima parte à chancellaria, e de qualquer outra ferida, sinco soldos, a septima parte à chancellaria; e por toda a penhora que se fizer assa por parte da Coroa como por parte do concelho recebão fiadores segundo o foro.Item mais lhes concedo que não tenhão deveza, nem monte particu-lar, nem viveiro no rio ou pego particular para isso, se não que seja tudo comum e do concelho, e nenhua pesssoa receberá nem levará montado dos gados de Viana. Item mais os homens de Viana não pagarão portagem em todo o meu Re-ino, e mando que levem por portagem em Viana, convem a saber, de cada carrega de peão três mealhas, de cada carrega hu soldo e de mulo hu soldo, e de carro de bois seis dinheiros e toda a portagem, digo, e de tudo o que vier de carreto a Viana, o estalajadeiro onde pouzar receberá a terça parte e o porteiro as duas. Todo o vizinho de Viana não acudirá em suas queixas se não diante dos juízes ordinários, os quaes julgarão todas as cauzas por suas cartas e por arbítrio de homes bons. E eu assima dito Dom Afonso, por graça de Deos, Rey de Portugal e conde de Bolonha, juntamente com minha mulher, a Rainha Dona Brites, dou e

concedo a vós povoadores de Viana pera que seja melhor a dita Villa po-voada e enobrecida que o meu rico home não entra nessa vossa villa ne no concelho e que pelo dereito da portagem, querelas e por todas as mais rendas, foros e dereitos assima referidos da dita villa de Viana e de todos os seus termos, vós e todos os vossos subcessores me deis e a todos os meus subcessores em cada hu anno mil e cem maravedis velhos, às terças do anno, a primeira será pela festa de S. João Baptista, a outra aos outo das callendas de Novembro e a outra aos outo das callendas de Março, e, alem destas couzas, reservo pera mim e pera todos os meus subcessores os padroados de todas as igrejas assi dessa vossa Villa como do termo, assi as que estão já feitas como das que daqui por deante se fizerem. Reservo também pera mim e pera todos os meus subcessores toda a dizima de todas as couzas que entrarem por foz do Lima a qual me pagarão. E, bem assi, reservo pera mim e todos os meus subcessores a portagem das couzas que entrarem e sahirem por foz do Lima e os pescadores que não forem vezinhos nem moradores de Viana, me darão, e a meus subcessores, Na-vaon, assi como o tinhão por estilo e costume de o dar na mesma marinha. E os vizinhos de Viana não darão nenhua dizima a el- Rey se não daquelas couzas que vierem dos portos de França e da terra dos Mouros. E os pesca-dores vizinhos de Viana não darão dizima do pescado, nem de seus navios.

Page 22: Viana do Castelo

022

temunhas. Domingos Peres notário da Corte a fez.E os vezinhos de Viana não darão ahi portagem nem em todo o meu reyno. Dou-vos mais e outorgo que o concelho de Viana tenha passagem do dito porto de Viana do rio Lima assi de hua parte como da outra. Foi feita esta carta em Guimarens aos dezoito dias do mês de Junho, por mandato de el-Rey, na era de mil duzentos e noventa e seis, achando-se presentes Dom Gonçalo Garcia, alferes-mor do Reyno, e Dom Gil Mar-tins, mordomo-mor, e Dom Martim Afonso, tendo a praça e a fronteira de Bragança, e André Fernandes, a de Riba-Minho, e Dom Afonso Lopes, a de Lamego, e Dom Pedro Ponce, a de Bajão, e Martim Gil, aquella parte de Trás-os-Montes, e Gonçalo Mendes, aquela parte da terra de Panojas, aonde é Villareal, Dom Martinho, Arcebispo de Braga, Dom Ayres bispo de Lisboa, Dom Egas bispo de Coimbra, Dom Julião bispo do Porto, Dom Rodrigo bispo da Guarda, Dom Martinho bispo de Évora, Dom Matheus eleito de Vizeu, Dom Pedro eleito de Lamego, Dom Estêvão Anes chance-ler-mor,. Assistirão por testemunhas Dom João d´Aboim, Dom Mem Soares, Dom Egas Lourenço, Dom Rodrigo Peres, Pêro Martins desem-bargador dos agravos, Petarinho Fernandes, digo, Pêro Martins Petarinho desembargador dos agravos, Fernan Fernandes Petarinho desembargador dos agravos, Fernan Fernandes Cogominho, Mestre P o dajão de Lisboa, Mestre Matheus mestre-escola de Lisboa, Rodrigo Anes mestre escola de Tuy, Lopo Rodrigues vice-mordomo, João Fernandes vice-chancelario, tes-

«O qual foral da Villa da Foz de Lima estava escrito em hu pergaminho do tempo del-Rey Dom Duarte e delle, de verbo ad verbum, eu, escrivão abaixo nomeado, converti em português o latim em que estava, acomodando as palavras daquelle tempo às correntes do prezente, e vai tudo na verdade, dado em minhas pouzadas junto a Igreja de Santiago desta cidade de Lisboa, aos quinzew dias do mês de Novembro de mil e seiscentos e vinte e cinco, diz à margem da primeira cauda/devo, vai escrito em três folhas com esta, a entrelinha dis verbum».

Gaspar Alvares Louzada

«Esta tradução deste foral feita por Gaspar Alvares Louzada, reformador dos Padroados e mais couzas da Torre do Tombo, do latim em nossa linguaje, se deve guardar muito e andar cozido no mesmo pergaminho pera declaração delle e se entender o que monta, porque custou muito trabalho traduzir-se tam bem.»

Francisco Portocarreiro Pitta (Vereador Municipal)

1

Page 23: Viana do Castelo

Dom Affonso pella graça de Deos Rey de Portugall, a vós Joham Gonçalves meu povoador e aos alcaydes e ao concelho de Viannna saúde e amor e mandovos que poboredes bem essa villa e façades hy chegar todolos vez-inhos e aduzer seo pam, seu vinho aa villa e correr todolos camynhos do couto pela villa: e mandovos que nom lexedes crear filho de cavaleyros no couto de Vianna, nem em aqueles lugares hu nunca foi usado, nem dyreito de os crearem e se per ventura hy houver alguns tan ousados que os criem em aquelles lugares hu nom for dyreito mandovos que esses pinhoredes pello em couto que hy hé posto.E mandovos que non lexedes fazer casas a nenhum cavalleiro em esse couto de Vianna nem em aquelles lugares hu nunca foi usado nem de dyreito de as fazerem e mando que esses foros das herdades de que ante soyas per dyreito a mym façom que todos esses foros façom a vós asy como manda vosso foro e salvo os meos dyreitos de mar e de ryo que ey daver e mando a esse meu porteiro que os constranja por esse dreitos que ante amym soyam adar e todos aquelles que forem de dyreito de hos darem em guisa que os dem avós asy como he contheudo em vosso foro salvos todos meos direitos de mar e de ryo.E sabede que amo muyto essa villa de Vianna asy como huma das villas do meo Reyno que muyto amo cá comecei por mym e quero lhe dar cima em meu tempo se quizer Deos onde vos mando que vos façades meu mandado firmemente asy como desuso dito he.Onde all nom façades se nom bem crede que me peytaredes porem

quinhentos soldos. E mando que esse meu tabelliam de Vianna tenha esta mynha carta aberta em testemunho para ver em como fazedes meu man-dado. Dada em Coymbra primeiro de Agosto El-REY ho mandou. Paio Garcia a fez. Era de mil trezentos e três annos.

Carta de D.Afonso III a João Gonçalves, povoador de Vianna1265, Agosto, 1 – Coimbra

2

Page 24: Viana do Castelo

Se o meu sangue não me engana,Como engana a fantasia,Havemos de ir a VianaÓ meu amor de algum dia!

Pedro Homem de Melo

Page 25: Viana do Castelo
Page 26: Viana do Castelo

026

O Minho e a sua estrutura social, reflectiu-se na afirmação das linhagens a que deram origem, e que entroncam em algumas das mais antigas e podero-sas famílias portuguesas. Estas tiveram grande influência na vida política e social no início da nossa nacionalidade. É nesta zona, a noroeste do país, que Viana do Castelo se situa, rodeada por verdes montes, o rio Lima, e o Oceano Atlântico. Situada originalmente no sopé do Monte Tarrujo (Santa Luzia), na Pré-História era frequentada por grupos nómadas, de caçadores recoletores. Viu chegar as primeiras comunidades sedentárias agro-pastoris, no perío-do neolítico, com hierarquização social, que acompanhou a descoberta dos metais.

Surge então um castro de origem celta, povoação fortificada com habita-ções de planta circular rectangular e elíptica, protegidas por um sistema defensivo de três ordens de muralhas. Os romanos chegaram aqui na idade do ferro. Por altura da queda do Império Romano, no sec.V, este castro sofreu as invasões dos suevos e visigodos , dos bárbaros no sec.XIII. Os povos do castro do Monte Tarrujo, ocuparam os terrenos baixos das terras férteis do vale, procurando peixe e marisco na costa marítima, e com a ligação a nascente com a Vila de Figueiredo, nasceu a paróquia de Santa

Maria da Vinha. Formada pelas «vilas» de Figueiredo (Areosa), Adro (nú-cleo) e Castro (Abelheira).

Esta vila e igreja foram doadas à Sé de Lugo a 1 de Setembro de 915. Mais tarde foram oferecidas por Afonso IV de Leão ao bispo de Tui, que se recolheu ao mosteiro de Labruja, na Serra d’Arga, sendo o rio Lima, por esta altura o limite do território de Tui. Foram então doadas estas terras a Nuno Soares, que ao falecer as dividiu pelas filhas, como se fossem bens pessoais. Foram restituídas á igreja por Payo Vermudas.

D. Afonso Henriques em 23 de Junho de 1130, criou por doacção o cou-to de Átrio ou Adro, aos frades beneditinos do convento de S. Salvador da Torre, fundado pelo Frei D. Ordonho. Comprometiam-se os frades a ajudar D. Afonso Henriques, nas suas lutas de conquista. Cedeu-lhes o Rei:« Paio Pais, Soeiro Goterres e Pedro Goterres, dois magníficos cavalos, outro de menor valor, uma mula e um copo de prata», em troca da ajuda dos frades. D. Afonso III chega à povoação de Átrio, quando ia em peregrinação a Santiago de Compostela, em 1253, estando então localizada a mil metros para nascente, e aí se atravessava a ponte e pagava portagem. Nesse local estava construída a Igreja de S. Salvador do Adro, ou S. Salvador das Almas,

3

Page 27: Viana do Castelo
Page 28: Viana do Castelo

028

e foi a primeira igreja matriz de Viana. É de estilo românico, e D. Afonso III, autorizou que o seu adro servisse de cemitério. Foi reedificada e aumen-tada em 1719, pelo padre Domingos Campos Soares, em estilo barroco.

Actualmente sobressai um frontão quebrado com volutas, e um cam-panário de dupla arcaria, nicho com retábulo das Alminhas, cruzeiros a norte do Sr. do Pão dos Pobres, a sul do Sr. da Boa Lembrança, com alpen-dre datado de 1646, e o arcossólio. No interior existe uma cruz bizantina, no altar- mor, da época de D.Sancho. No seu solo, estão à vista vários patamares de antigas civilizações e ossadas. Existem pinturas policromas em madeira dos Reis Magos datadas de 1771.

D. Afonso III pelo contrato assinado em Ponte de Lima declara: «Entrego a terra de Vinea e seu padroado, bem como o Casal de Figueiredo e a bouça da Foz, com todas as suas pertenças. Quero fazer uma povoação nova, no lugar que se chama Átrio, em a foz do Lima, à qual povoação dou de novo e ponho o nome de Viana. O primeiro foral foi concedido em 18 de Junho de 1258 em Guimarães, confirmado por outro em 1262. Naquele foral D. Afonso III comprometeu-se a proteger a vila de Viana,

cedendo-lhe todas as rendas, reservando apenas para o poder real, os pa-droados, as igrejas, a dízima, e as portagens do que entrasse pela Foz do Rio Lima.

O concelho ficou obrigado a pagar ao rei o foro anual de 1100 maravedis velhos, e para governador foi nomeado a João Provedor. Comprometiam-se os habitantes de Viana, a muralhar a vila, e foi construída, junto á barra uma torre defensiva, a Roqueta.

4

Page 29: Viana do Castelo
Page 30: Viana do Castelo

Dancei a Góta em Carreço,O Verde Gaio em Afife,(Dancei-o devagarinho,como a lei manda dançar!)Dancei em Vile a TiranaE dancei por todo o Minho.E quem diz Minho, diz Viana…Ó minha terra vestidaDa cor da folha da rosa!Ó brancas saias de PerreVermelhinhas na Areosa!

Pedro Homem de Melo – Canção de Viana Pecado

Page 31: Viana do Castelo

História

Page 32: Viana do Castelo

030

As muralhas foram construídas entre 1263 e 1374, já durante as guerras fernandinas, e, con-cluídas sob a direcção do Mestre Lopo Lopes de Lyra. Mediam 10m de altura, 2,20m de largura e as torres tinham a altura de 15m, apresentavam um perímetro ovaloide de 685m.

O caminho da ronda era protegido por merlões ponteagudos. A Torre de Menagem erguia-se no local mais alto e as muralhas tinham quatro por-tas: do Postigo ou S. Crispim a sul, era a princi-pal, do Forno ou São Tiago a norte, a de S. João ou da Ribeira a poente e a das Atafonas ou de S. Pedro ou da Piedade a nascente.

No sec XVI, foi aberta um nova porta a de S. Brás ou da Vitória, por aqui existir uma capela com esse nome. Foi demolida em 1911, para aí serem construídas as cavalariças da Guarda Civil! O seu rico altar de talha dourada encontra-se na Igreja da Meadela. A imagem da Sra. da Piedade

encontra-se na Igreja Matriz. D.Sebastião man-dou construir o Forte de S. Sebastião da Barra, entre 1566 e 1569, e concedeu a Viana o título de notável. Foi artilhado em 1572, trabalho con-cluído já no reinado de Filipe I, por Pêro Bermu-das de Santisso.

É um forte de forma poligonal, abaluartado, conservando ainda a norte, um revelim. Entre 1602 e 1638, foram chapeadas as portas e colocados ferrolhos, sob a ameaça dos ataques das armadas francesa e inglesa.

Em 1695, algumas pedras foram retiradas das muralhas, para reedificar a sacristia da Igreja Ma-triz. A 21 Julho de 1791, D. Maria autorizou, que se retirassem mais pedras para serem utilizadas na construção do cais. Em 1816 foram pavimentadas as ruas da Bandei-ra e S. Sebastião, com as pedras da muralha. Ac-tualmente existem vestígios da antiga muralha,

junto à Praça da República. A rainha D. Maria, reconhecida, pela contri-buição dada pelos vianenses à sua causa, durante as lutas da Patuleia, decreta em 20 de Janeiro de 1848, que a vila de Viana do Lima, seja elevada a cidade, com o nome de Viana do Castelo.

Por curiosidade diga-se, que desde a sua origem, foi Átrio, Viana da Riba do Minho, Viana do Lima, Viana de Caminha, Viana da Foz do Lima. Dentro das muralhas, existiam duas ruas prin-cipais, a da Praça Velha e a do Hospital, atraves-sadas por sete ruas, R. do Cais, Viela Cega, R. Grande, Judiaria, Tourinho, Poço e Forno. A Praça da Erva e o Penedo da Praça de Armas eram os dois largos existentes. Na R. do Poço, existia um que abastecia toda a população. Per-to era o mercado, D. Dinis em 11 de Março de 1286, criou a primeira feira de Viana a realizar-se quinzenalmente à quinta-feira.5

Page 33: Viana do Castelo
Page 34: Viana do Castelo

Viana foge ao incessante beijoQue o Lima vejo a tentar de pôr,E a montanha, na materna costaA face encosta com gentil pudor.

Sebastião Pereira da Cunha

Page 35: Viana do Castelo
Page 36: Viana do Castelo

036

Ponte Eiffel Casa dos Cunhas A ponte férrea do Lima, devido à construção da via férrea, e à necessidade de substituir a velha ponte de madeira, iniciou-se a construção de uma nova ponte.

Com projecto de Gustave Eiffel, foi inaugurada em Junho de 1878. Esta ponte possui duplo tabuleiro, com rampas de subida, assente em nove pegões graníticos de 22m de altura. Aí, circulam os carros no tabu-leiro superior, e os comboios no inferior.

Foi Sebastião da Cunha Sotto-Maior, «capitão de companhia de sessenta cavalos armados e selados à sua custa», quem construiu esta casa senhorial nos primeiros anos do Séc. XVIII.

De inspiração setecentista, com a conjugação harmoniosa de elementos Joaninos e Neoclá-ssicos. Este palacete, foi ocupado pelo Liceu de 1855 a 1911. Mais tarde funcionou ali, a Junta Geral do Distrito e a Polícia. A partir de 1973 é sede do Governo Civil.

1 2

Page 37: Viana do Castelo
Page 38: Viana do Castelo

038

Igreja da Caridade Esta igreja e o edifício anexo, pertencem ao Real Mosteiro de Sant’Ana, das freiras beneditinas.

Criado em 1510, para Albergar as filhas e paren-tes dos nobres, que “ficavam sem tomar estado”. O templo primitivo era gótico, obra do mestre Pêro Galego, media nove metros de altura, por dez de comprimento.

Nos finais do sec.XVII, sofre obras de ampliação da casa conventual, com novos dormitórios e o mirante, mas é a partir de 1707, que se cuidou das obras da nova igreja, com o alargamento dos coros, edificação da nave, capela-mor e fronta-vria, em estilo barroco joanino, demolindo-se o antigo templo, com o aproveitamento de algu-mas cantarias.

Com a extinção do antigo convento, passou para a Congregação de Nossa Senhora da Caridade, para assistência de pobres, idosos e entrevados,

tendo obras de remodelação, sendo nesta altura o campanário mudado para junto do claustro.

O seu património, merece visita demorada. Nos exteriores, salienta-se a torre da primeira igreja quinhentista, com o seu remate em forma de pirâmide cinzelada, com platibanda rendilhada e insígnias manuelinas.

O portal da capela, transferido para a entrada do horto, em estilo manuelino de inspiração gótica, onde consta o vulto de Jesus Cristo ladeado de anjos, e enriquecido com peças retiradas da an-tiga sala do capítulo.

A frontaria da nova igreja, caracteriza a época de D. João V, conjugação do “claro-escuro” barroco, com a disposição simétrica das aberturas, cartel-as, pilastras e platibanda vazada, sobressaindo da parede rectilínea e branca da parede. Por sua vez o pórtico, é imponente, de frontão curvilíneo,

aletas, imagem da Virgem com o Menino, res-guardado por um dossel de sanefas e cortinas, e o escudo de D. João V, amparado por anjos.

O seu interior, de nave única, tem tecto de mas-seira apainelado e pintado, existindo duplo coro, na zona poente.O coro superior, tem tecto de cas-tanho, em caixotões lavrados, e o subcoro, tem pinturas a imitar charão e talha dourada com pinturas em tela e madeira, que representam Pas-sos da Vida de Cristo. O corpo da igreja, é em talha dourada, (arco da capela-mor, retábulos dos altares e face exte-rior dos coros). Tem belas peças de imaginária, e azulejaria.

De salientar ainda, algumas preciosidades ex-istentes na sacristia, antiga sala do capítulo: relicário de madeira dourada, retábulo de S. Do-mingos de Gusmão, tecto policromo, nichos en-talhados e arca tumular das primeiras abadessas.

3

Page 39: Viana do Castelo
Page 40: Viana do Castelo

040

Estação de caminho de ferro Casa dos Melo AlvimO caminho de ferro não era para passar por Vi-ana, mas devido à sua localização, apresentava menor investimento construí-lo, passando por aqui, em vez de seguir a lógica das vias romanas, partindo de Braga em direcção a Ponte de Lima.

Construída nos terrenos do antigo Convento de S. Teotónio ou dos Crúzios, fundado em 1631. De imponente arquitectura sob projecto do en-genheiro Alfredo Soares.

Sobre ela, Fontes Pereira de Melo disse ser “quase tão grande como a vila”, que incluía uma elegante escadaria virada a sul. Subsiste a obra dos alçados em cantaria, com a gare e coberturas laterais em ferro fundido. A coroa real sobrepuja a frontaria.

É um dos palacetes mais antigos de Viana, da primeira metade do séc XVI, com grande quin-tal, confinava com o Convento dos Crúzios, que foram expropriados a quando da construção, em 1876, da estação dos Caminhos de Ferro. Era seu proprietário Pêro Pinto, o Velho, almox-arife da cidade.

Em estilo Manuelino, com janelas de mainel, duas frentes simétricas pré-renascentista, e com merlões de inspiração exótica. Tem na frontaria e fachada ocidental dois brasões.

Está convertida em estalagem, respeitando e va-lorizando a sua traça arquitectónica, assim como o seu património.

4 5

Page 41: Viana do Castelo
Page 42: Viana do Castelo

042

Casa dos Távoras Casa dos Alpoins Casa dos Monfalim É uma das mais belas casas senhoriais de Viana. Palácio urbano, começado a ser construído em 1519, quando veio viver para esta cidade Fernão Brandão, conhecido pelos seus feitos em Cafim e Azamor.

De inspiração quinhentista com janelas e por-tais ricamente lavrados, com fachada corrida de dois pisos, alternando o ritmo das janelas de sacada e de peito, no andar superior, com os vãos do piso inferior.

A disposição regular e simétrica dos vãos da fron-taria, tem a forma clássica quinhentista, reser-vando a ondulação dos arcos polilobados e dos encordoamentos, ao estilo manuelino.

No início do sec.XVIII, Mestre Vila Lobos res-taura o palacete, e a capela, e inclui elementos barrocos. Na frontaria, está o brasão dos Abreu Lima, que substitui o dos Távoras, destruído du-rante a vigência do Marquês de Pombal.

Em 1970 foi restaurada, abrindo-se nesta altura, uma abertura interna para o palacete contíguo, mas respeitando a antiga traça, e aí funciona desde então a Câmara Municipal.

Deve a sua origem ao seu fundador, Godofredo de Puy em 1553. Passa mais tarde para a posse de Cristóvão de Alpuim da Silva.

De estilo neomanuelino, com uma torre ameada setecentista. A sua frontaria é encimada por uma cornija com merlões, as suas portas são rectangu-lares de verga em arco abatido, as janelas de arco bilobado, com moldura de colunelos e cornija encimada por volutas.

No topo da fachada, tem um brasão rococó, com cinco flores-de-lis. Funciona aqui a Biblioteca Municipal.

Última casa que completa este magnífico quar-teirão. Dela pouco se sabe, apenas que perten-cia ao Arcipreste Ruy Anes em 1531. Mais tarde pertenceu à família de António Jácome do Lago.

Tem um estilo mais simples, de linhas sóbrias, mas senhoriais, com torreão ameinado. Aí esteve instalado o Hotel Central em 1878, o seu dono era o Caroça, que tivera uma hospedaria no Lar-go do Pombal.

Nele esteve hospedado Guerra Junqueiro, en-quanto foi secretário do Governo Civil. Aí, entre muitos, escreveu o poema A Molei-rinha, inspirado numa moleira de Carreço. Fun-ciona aqui, hoje em dia a Repartição de Finanças.

6

Page 43: Viana do Castelo
Page 44: Viana do Castelo

044

Chafariz da Praça Casa da Câmara Chafariz da Praça ou “da Vila” construído sobre placas de granito circular, de dupla taça, com quatro carrancas de onde jorra água para uma taça, obra executada pelo canteiro João Lopes, o Velho e concluído em 1559.

A sua coluna fusiforme, termina com vários ele-mentos fitomórficos e zoomórficos e é encimada por uma esfera armilar em ferro. Inclui figuras de índios, lembrando os descobrimentos. Substitui, no abastecimento público de água, a antiga cis-terna medieval da R. do Poço.

Casa da Câmara ou antigo Paços do Concelho. Tem estilo manuelino, mas de raiz gótica. A sua construção foi iniciada no reinado de D. Manuel e concluída já no reinado de D. João III.

Casa sobradada. Primeiro andar sobre lógia, com cinco arcadas de ponto subido. No primei-ro andar existem três portadas rectangulares na frontaria, rodeadas pelo símbolo hierárquico de Viana (nau de dois mastros com dupla vela re-donda e mezena de velas latinas, a esfera armilar e a Cruz de Cristo. Recorte ameiado, com mer-lões chanfrados.

O piso térreo, servia de abrigo a pessoas e a es-cribas, que redigiam os documentos endereçados à Câmara.

No antigo Campo do Forno, hoje Praça da República, e que já foi Praça da Rainha, está lo-calizado o antigo centro cívico de Viana. A norte, fica a rua onde residiam os nobres, enquanto que para sul, a burguesia se instalava.

Fazem parte deste conjunto, o Chafariz, Casa da Câmara e Casa das Varandas.

7

Page 45: Viana do Castelo
Page 46: Viana do Castelo

046

Casa das Varandas Igreja da Misericórdia Ou antiga Casa dos Quesados, considerada por alguns historiadores, a construção quinhentista mais original e única da Europa, e atribuída a João Lopes o Moço A sua construção foi iniciada em 1520 e prolongou-se até finais do século.

Estilo maneirista, com elementos tardo-rena-scentistas, de influência italiana: lógia aberta sobre a praça constituída por cinco arcos com colunas jónicas. Nas varandas alpendradas de influência fla-menga, com colunas profusamente esculpidas, com caríatides adossadas a pedestais invertidos. Estas assentam numa arcaria de volta redonda com colunas jónicas. A encimar a fachada tem um frontão triangular, com a representação do sol no tímpano, a cruz de Cristo no vértice e duas imagens de devotos nas extremidades.

No lado poente está o Portal das Chagas, que dava acesso ao cemitério, à sacristia da igreja e ao hospital que se manteve aí até 1983.

À Casa das Varandas, pertence ainda esta Igreja.

O acesso ao interior faz-se através de um pórtico de arco pleno quinhentista, com coroamento já de influência barroca.

Do templo primitivo restam algumas precio-sidades como, os azulejos (azuis sobre fundo branco), de autoria de Policarpo de Oliveira Bernardes, zimbório da capela-mor, corredor da Porta das Chagas e o claustro que foi o antigo cemitério da Misericórdia. As obras decorreram nos finais do Sec XVII sob o risco do engenheiro Manuel Pinto Vila Lobos.

A sobriedade exterior, contrasta com a profusão de azulejos, talha e pinturas interiores, a capela-mor, é de planta rectangular e coberta por uma cúpula com lanternim, e aberto à nave por meio de um arco triunfal com painel de azulejos. De estilo barroco , com elementos rococó nos re-tábulos de talha dourada.

7

Page 47: Viana do Castelo
Page 48: Viana do Castelo

048Casa da Praçae Capela das Malheiras Construída na segunda metade do Séc. XVIII, é um dos melhores testemunhos da arquitectura barroca no nosso país.

A fachada principal, de dois pisos, tem grande simetria, fazendo corresponder as portas do piso inferior, com as janelas de avental, no piso supe-rior. Foi-lhe acrescentado um mirante em 1823.

A capela deste palacete, é uma verdadeira joia em estilo Rococó, atendendo à interpretação vigorosa dos elementos rocaille, que existem no pórtico e envolvendo o fenestrão.

No seu interior destacam-se a pia de água benta, talhas policromadas, sendo as colunas e pilas-tras de tons marmóreos, envolvidos de ornatos a ouro.

Parte do seu património, paramentos, peças sacras e imagens, devem-se a D. António do Des-terro, bispo do Rio de Janeiro. Está instalado aqui o restaurante A Cozinha das Malheiras.

8

Page 49: Viana do Castelo
Page 50: Viana do Castelo

050

Igreja Matriz Casa dos Arcos Devido à construção das muralhas, a Igreja Matriz original ficou fora delas, e tornou-se necessário construir-se uma nova, localizada no sítio da Torre de Menagem, no período que decorreu entre 1400 a 1483.

De estilo Romano-Gótico, com duas torres ameiadas e quadrangulares, que ladeiam o corpo principal onde se abre o pórtico e a rosácea. Inte-rior de planta de cruz latina, constituída por três naves, cruzadas por um transepto de 45 metros.

Tem diversas capelas no seu interior, de várias épocas, portanto de vários estilos: neoclássico, barroco, gótico-final, rococó e manuelino.

Lateralmente a esta igreja, está a Casa dos Arcos ou dos Velhos, onde residiu o navegador João Velho.

De estilo gótico, com primeiro andar sobreposto a uma lógia, definida por três arcos de aresta bo-leada, com escadaria exterior de acesso ao andar nobre. No piso superior, abrem-se duas janelas quadradas de caixilhos de pedra cruciformes ladeados por colunelos.

Na fachada principal está o escudo de João Vel-ho. O alpendre integrava-se no conjunto de arca-das que envolviam a Praça Velha. É uma das raras casas de habitação urbana de pedra, em estilo gótico, existente no país.

9

Page 51: Viana do Castelo
Page 52: Viana do Castelo

052

Museu do Traje Casa da Vedoria Construído entre 1954 e 1958, sob traço de Sousa Araújo, José Cabral e Moura Alves, em arquitectura típica do “Estado Novo”.

Foi edificada de raiz, para aí se instalar o Banco de Portugal, que foi encer-rado no início da década de 90.

Adquirido pela Câmara Municipal de Viana, depois de obras de remod-elação, reabriu como Museu do Traje.

Tem várias exposições temáticas, mantendo uma permanente, “A lã e o linho no traje do Alto Minho”, onde se pode acompanhar as várias fases, por que passam estes produtos, até chegarem às mãos das lavradeiras, que teciam e bordavam os seus trajes, interpretando a sua cultura regional.

Concluída em 1691, sob projecto de Manuel Pinto de Vilalobos, é de com-posição clássica na sua frontaria, com frontões triangulares, falsas aduelas, molduras rectangulares nas portas e janelas e nas pilastras.

Esteve aqui instalada a Vedoria Militar, hoje depois de obras de restauro, alberga o Arquivo Municipal.

10 11

Page 53: Viana do Castelo
Page 54: Viana do Castelo

054

Palacete dos Barbosa MacieisConvento de S. Domingose Igreja de Sta Cruz

Mandado construir pelo cónego António Fel-gueira Lima, entre 1724 e 1726.

A fachada é imponente, rematada por uma balaustrada oitocentista. Tem trabalho em grani-to rectilíneo e interligado nos dois pisos.

As janelas do piso superior têm varandas e frontões triangulares. No piso inferior, está o portal encimado pela pedra de armas.

O rodapé, as pilastras e as padieiras apresentam almofadas à romana. Aqui está instalado o Mu-seu Municipal.

Fundado no Séc. XVI por Frei Bartolomeu dos Mártires, arcebispo de Braga, cujos restos mortais foram transladados para Viana em 1609. O autor do risco foi o frade dominicano Frei Julião Romero, e executado por João Lopes o Moço.

Templo imponente de estilo renascenço-maneirista, tem fachada retábulo em granito moreno, de composição maneirista. O pórtico é delimitado por colunas caneladas, assentes em plintos rect-angulares e coroadas por capitéis cinzelados, com as figuras de apóstolos.

Por cima, existem três nichos, ocupados por estátuas, por último uma grande janela oval, rematada por um frontão triangular. Na parte lateral esquerda está a torre sineira setecentista.

Interior austero, de uma só nave, com planta cruciforme, com capelas lat-erais intercomunicantes, separadas por arcaria de ordem jónica, tem cobe-rtura de madeira apainelada, e forrada de azulejos de finais do sec XVII.

Tem valioso recheio artístico, onde se destacam dois retábulos, Um de talha maneirista datado de 1613, outro em estilo rocaille.

12

Page 55: Viana do Castelo
Page 56: Viana do Castelo

056

Igreja Nossa Sra. D’Agonia Num morro onde estivera localizada a forca, e de onde se via a barra, foi construída uma capela, em 1674, pelo Frei João Jácome do Lago, dedicada ao Bom Jesus do Santo Sepulcro. Mais tarde, os frades franciscanos, levan-taram uma via-sacra em Viana, e esta ermida passou a chamar-se Bom Jesus da Via-Sacra.

Existindo no seu interior, uma imagem de Nossa Senhora da Soledade, depressa os pescadores lhe dedicaram devoção, pedindo-lhe protecção para a faina do mar, passando a chamar-se Senhora d’Agonia, nome por que já era conhecida em 1744.

Templo setecentista, com adro pitoresco, com três ramos de escadarias, a sua torre sineira, encontra-se nas traseiras, de remate bolboso. No por-tal, apresenta um frontão entrecortado e invertido, que lembra as asas de morcego (muito em voga nos fins do Séc. XVIII). No óculo, com desenho sinuoso, está sobreposto um nicho de estilo rocaille, com a imagem da padroeira. O seu remate, tem empenas de perfil ondulado em “S”, e nos flancos, pirâmides ligadas por platibandas.

Toda a iconografia está relacionada ao tema da Paixão, com a represen-tação dos Sete Passos da Vida de Cristo, e as imagens no altar mor da Deposição de Jesus no Túmulo. À entrada da nave, existem dois oratórios em talha neoclássica. As pinturas, são atribuídas ao mestre Pascoal Parente, pintor italiano, que viveu em Portugal.

O púlpito rococó é único, em Viana, com dos-sel e tribuna adornados com volutas e pequenos frontões, tendo composições de conchas espar-gadas com algas marinhas, sobre molduras con-vexas. Tem um pedestal em granito lavrado, da autoria do mestre João de Brito. Deste autor, é também a talha do órgão, assim como ao grade-amento de balaústres do coro e capela-mor.

Num dos altares, o da Flagelação, estão as relíquias de S. Severino, transladadas para aqui em Setembro de 1783.Toda a igreja, possui rica talha dourada, que interliga os retábulos e fecha o arco da capela-mor. O tecto abobadado do cor-po da igreja tem pinturas a óleo sobre estuque.

A imagem de roca de Nossa Senhora d’Agonia, é setecentista, apresenta-se envolta em manto e túnica.

13

Page 57: Viana do Castelo
Page 58: Viana do Castelo

058

Castelo Santiago da Barra Gil EannesRemonta ao reinado de D. Afonso III a con-strução da Roqueta, primeiro sistema defensivo da cidade e foz do Lima.

Mais tarde no reinado de D. Sebastião, foi ini-ciada a construção do forte, sob projecto de Filip-po Terzi e obras do mestre Pedro Bermudes de Santisso em 1567, sofrendo obras de ampliação, principalmente sob o domínio de Filipe I.

Tem planta pentagonal, com um sistema de baluartes à italiana, conservando ainda a norte, um revelim.

Navio hospital construído nos Estaleiros Na-vais de Viana, foi lançado ao mar em 1955, para apoio à frota pesqueira do bacalhau.

Está ancorado junto ao Lima, depois de res-gatado em boa hora à sucata, pelo empenho da Câmara Municipal, outras entidades, escolas e pelo povo.

Hoje é museu, para honrar e recordar os humil-des pescadores, que se afoitaram pelos mares da Terra Nova.

Vale a pena apreciar a requalificação da cidade e da zona ribeirinha, com projecto do arquitecto Fernando Távora, onde está situada a nova Bib-lioteca Municipal, enquadrada numa bela zona de lazer.

14 15

Page 59: Viana do Castelo
Page 60: Viana do Castelo

060

Funicular Santuário de Sta. Luzia Situa-se na encosta meridional do monte de Santa Luzia, ligando a cidade ao Santuário.

Sob o projecto do engenheiro Bernardo Abrun-hosa, foi construído por Brown Boveri em 1923.

Tem 664m, é do tipo funicular de cremalheira, com tracção eléctrica. A estação interior, é um pequeno edifício revivalista, composto por um corpo central com três portas, tendo de cada lado torreões poligonais copulados.

Já na idade média, existia uma ermida no Monte de Santa Luzia, uma ermida, cuja padroeira era Santa Águeda. Em 1712, esta ermida foi ampliada, e consagrada à Senhora da Abadia, e num altar lateral ficou a imagem de Santa Luzia, advogada da vista.

Vem de longa data a devoção ao Coração de Jesus em Viana, e em 21 de Agosto realizou-se uma peregrinação ao monte de Santa Luzia, e resolveu-se a construção do santuário. O templo ergue-se sobre vestígios castrejos da Idade do Bronze. As obras, com projecto de Miguel Ventura Terra, iniciaram-se em 1904 prolongando-se pela década de quarenta.

É de raiz neo-românica, de planta em cruz grega, com alçados bem ritmados e harmónica distribuição dos espaços. Na fachada principal, a imagem do Sagrado Coração de Jesus está abrigado num nicho. Coroando o conjunto, eleva-se a cúpula assente em pendentes.

No interior há pilastras adossadas na cabeceira ,e rosáceas de pedra nas paredes laterais. É todo executado em cantaria de granito. Tem um zimbório até à torre, que é rematada por uma cruz. Daqui, em dias abertos consegue-se avistar a Póvoa de Varzim e o Sameiro em Braga.

Por volta de1918, espalhou-se pelo mundo uma epidemia conhecida pela Pneumónica, tendo morto cerca de 20 milhões de pessoas, estando todos assustados, pois a zona de Viana do Castelo, foi tam-bém duramente atingida, tendo até morrido famílias inteiras.

No dia 10 de Novembro de 1918, houve uma procissão em Viana, com missa, e o Padre Manuel Lopes pro-meteu, em nome de todos, que se a dita epidemia parasse de atormentar a região, todos se comprometiam ir, em romaria, agradecer ao Coração de Jesus, em Santa Luzia.O que é certo, é que, se na véspera, tinham morrido 24 pessoas, naquele dia 2, a partir da tarde desse dia, não mor-reu mais ninguém. Desde então, todos os anos se realiza, uma peregrinação a Santa Luzia, lembrando esta promessa.

16 17

Page 61: Viana do Castelo
Page 62: Viana do Castelo

062

Convento S. Francisco do Monte Situado na base e a nascente do monte de Santa Luzia, no meio de arvoredo. Próprio para a medi-tação e contemplação, foi aqui criado o primeiro convento existente, nos arredores de Viana do Castelo. O seu fundador, frei Gonçalo Marinho, cavaleiro galego, que depois das guerras de Castela, mandou construí-lo em 1392, quando se tornou frade franciscano.

Era de construção de rés-do-chão e térrea, muito pobre, vivia de esmolas, tendo, a Câmara de Viana, por incumbência real, de fornecer, semanalmente, uma arroba de carne ou peixe, até ao Séc. XVI. Em 1584, a expensas de benfeitores, sofreu uma grande reforma, com a construção de um segundo piso.

Vale a pena a visita a este local, embora em ruínas, pois, apesar de construção pobre é lindo pela sua arquitectura. Chega-se lá através de uma calçada, e encontra-se um cruzeiro, e mais acima um magestoso pórtico seiscentista em granito, com as estátuas de S. Francisco, Santo António e S. Pedro de Alcântara.

Do interior da Capela, pouco existe, pois o seu valioso património em talha barroca, como o retá-bulo-mor e imagens, levaram outros destinos, por incúria das entidades responsáveis. Restam dois brasões, um do fundador do convento, outro da família de Rego de Meresse (Calvelo), sepulturas, a arcaria do claustro, e alguns frescos muitos danificados.

Imagem do Senhor dos Passos, e Santa Madalena ou Sra. de Boa Morte e o Senhor da Prisão, muito visitado por romeiros e gente da Ribeira, que ainda levam azeite e velas, em pagamento de promessas. Nas traseiras, e também muito danificada a imagem em granito do Santo Taumaturgo.

18

6

Page 63: Viana do Castelo
Page 64: Viana do Castelo

064

Muito mais havia a dizer sobre outras casas de Viana. Em qualquer rua ou viela estreitinha, se encontram casas brasonadas, com história, ou outras, com simples apontamentos arquitectónicos. Limitei-me somente a algu-mas, as mais “vistosas”, mas não deixem de as procurar. Aguço assim a curiosidade de futuros visitantes.

Neste distrito, convivem casas humildes, com a austeridade dos solares que se podem encontrar um pouco por todo o lado, surgindo ao dobrar de cada curva de estrada, no meio de alguma aldeia, como o solar de Bertiandos em Ponte de Lima, e o solar da Brejoeira nos arredores de Monção.

Em louvor de Viana escreveu Frei Luís de Sousa: «Terra de gente rica e muito nobre, de grande trato e comércio, por parte com as conquistas de Portugal, ilhas e terras novas do Brasil, por outra com a Flandres, Inglaterra e Alemanha, donde e para onde recebia de ordinário muitos géneros de mercadorias, e despedia outras; para os tais tratos traziam os moradores no mar grande número de naus e caravelas com grossas despesas, a que respondiam iguais retornos e proveitos que tinham a vila florentíssima e em estado de uma nova Lisboa.»

Por isso, proponho uma visita demorada a esta cidade, onde até sobre pedras da muralha, caminhamos nalgumas ruas.

Sobre a História, apreciamos a História.

Viana foge ao incessante beijoQue o Lima vejo a tentar de pôr,E a montanha, na materna costaA face encosta com gentil pudor.

Sebastião Pereira da Cunha

Page 65: Viana do Castelo
Page 66: Viana do Castelo

066

4

3

5

6

7

1

2

9

8

PonteEiffel

Casa dos Cunhas(Governo Civil)

Igreja da Caridade

Estação Caminhos de Ferro

Casa dos Melo Alvim

Casa dos Abreu Távora (Câmara Municipal); Casa dos Alpoins;Casa dos Monfalim (Antiga Biblioteca Municipal)

Praça da República (Casa das Varandas e Igreja da Misericórdia;Casa da Câmara ou Antigo Paços do Concelho; Chafariz)

Palacete Malheiro Reymão ou Casa da Praçae Capela das Malheiras

Igreja Matriz eCasa dos Arcos ou dos Velhos

Museu do Traje

Casa da Vedoria

Palacete dos Barbosa Macieis; Convento de S. Domingose Igreja de Sta Cruz

Igreja Nossa Sra D’Agonia

Castelo Santiago da Barra

Gil Eannes

Funicular

Santuário de Sta Luzia

Convento S. Francisco do Monte

12

13

14

15

10

11

16

17

18

Page 67: Viana do Castelo

4 3

5

6

712

1

13

14

15

10

2

16

17 18

9

118

Page 68: Viana do Castelo

Porque será que nós temosNa frente, aos montes, aos molhosTantas coisas que não vemosNem mesmo perto dos olhos?

António Aleixo

Page 69: Viana do Castelo
Page 70: Viana do Castelo

068

Viana e o Mar

Subi a Santa LuziaE vi espelhado no marUm outro mar de alegria:Viana inteira a cantar.

A história de Viana e de Portugal, entrecruza-se, desde sempre. Vem desde cedo a sua ligação ao mar, devido à sua proximidade tanto do rio como do mar, à pobreza das terras de cultivo, e ao exemplo dos marinheiros galegos, que desde cedo aportavam a Viana.

Primeiro a pesca, depois o comércio de cabota-gem, marcaram-na desde o reinado de D. Afon-so III. Mais tarde D. João I, mandou construir a alfândega, D. Afonso V, mandou edificar os primeiros molhes do cais. No início do Séc. XVI, D. Manuel I, incentiva a construção naval, sendo assim que Viana se vai desenvolvendo, quer a nível comercial, quer socialmente.

Como já foi referido, os primeiros mareantes a chegarem a Viana, foram os galegos, que nessa altura eram conhecedores profundos das águas do Canal da Mancha e Mar Cantábrico. Aporta-vam trazendo sardinha e ferro e levavam vinho, sal, doces e frutas.

Entre os Sécs. XV a XVII, houve três fases impor-tantes no desenvolvimento do comércio naval:

Séc. XV, comércio entre o Mediterrâneo e o Atlân-tico Norte, comercializava-se trigo, sal e frutos;

Séc. XV, comércio entre o Mediterrâneo e o Atlântico Norte - comercial-izava-se trigo, sal e frutos;

Séc. XVI, existe a chamada rota triangular, unindo o Continente, Europa Central, Madeira e Açores, transaccionavam-se rendas e panos da Flandres e Inglaterra, branqueta francesa (tipo de tecido), e exportavam sal e pão. Séc. XXII, época áurea de Viana. Daqui parte João Álvares Fagundes em direcção aos bancos da Terra Nova, trazendo bacalhau, comercializado em Viana pelos ingleses. Comércio de ferro com as Astúrias e Biscaia. Expor-tação de linho para o Brasil, França e Países Bálticos. Época do transporte e venda do açúcar vindo do Brasil. Nesta época, existia uma frota naval de setenta navios de alto porte, segundo Frei Luís de Sousa. Nesta mesma al-tura, instalaram-se em Viana, famílias de mercadores flamengos, alemães, ingleses e franceses.

Gradualmente, deu-se a derrocada, tanto do porto, como do comércio via-nense. Deveu-se principalmente à emigração dos mareantes para o Brasil e outras zonas do nosso país. Por sua vez, a burguesia vira-se para o cultivo das suas quintas ou propriedades rurais.

A exploração do milho e vinho verde, através do Tratado de Methuen (1703), fez com que o porto de Viana servisse de ponto de escoamento. Por pouco tempo, pois com a criação das companhias monopolistas criadas pelo Marquês de Pombal, o escoamento passou a fazer-se noutros portos. Aliado a tudo isto, o assoreamento da barra, devido ao agravamento do clima, contribuiu para que o porto de Viana deixasse de ter importância a nível nacional.

Seguiram-se 200 anos de adormecimento…

Page 71: Viana do Castelo
Page 72: Viana do Castelo

070

Em 1944, retomou-se o sonho de reanimar a tradição antiga da construção naval, embora se atravessasse um período de guerra na Europa. Portugal «tendo estatuto de neutralidade», sentia os efeitos económicos desse conflito.

Nessa altura, os estaleiros, a laborar com duas docas secas, estava virado para a construção e reparação de navios para a pesca do bacalhau, activi-dade encerrada depois do 25 de Abril de 1974.

Em 1956 estabelece com a marinha portuguesa, um contrato para a con-strução de dois navios patrulha, e mais tarde, com o início da guerra colo-nial, mantém-se o contrato, para a construção de mais barcos. Esta activi-dade acaba em 1968.

No início dos anos setenta, os estaleiros consolidam-se e expandem-se, pela construção de novas instalações e pela compra de novos equipamentos. Construíram-se aqui navios para o transporte de produtos químicos. entre 1976 e 1993, navios de rio e de mar, com destino ao leste europeu.

Em 2002, e saindo de uma nova crise, provocada pela falta de mercado, reatam o contrato com a marinha portuguesa, com a construção de novos navios.

Hoje em dia mantém uma actividade constante, com a construção de navios para todo o mundo. Saíram destes estaleiros, navios patrulha, lanchas fluviais, tais como o Corubal e Formosa, e o navio escoltador oceânico Almirante Magalhães Coutinho.

Uma actividade marítima importante a que Viana está ligada, e que trouxe grande movimento comercial é a pesca do bacalhau.

João Álvares Fagundes, achou as terras da Gro-nelândia, e deu a conhecer esse peixe tão apre-ciado pelos portugueses.

Do porto de Viana, em meados do Sec. XIX , saíram equipados cem barcos, para a pesca do bacalhau. Existiram duas secas de bacalhau, um em Darque outra na Meadela, de onde saía o famoso bacalhau de cura amarela.

Aqui foram construídos os famosos lugres: Santa Luzia, Gaspar e Rio Lima, e os navios ba-calhoeiros Senhor dos Mareantes, Senhora das Candeias e Gonçalinho.

A gentinha da Ribeira,é fidalga e altaneira

e de bairrista se ufana…Neste canteiro do Minhoé o Bairro mais velhinho

desta tão linda Viana!

Page 73: Viana do Castelo
Page 74: Viana do Castelo

072

Viana e Outras Actividades Nos campos e veigas da Ribeira Lima, o povo dedicou-se sempre à agricultura. Terras de minifúndio, aproveitadas, até em mín-imos pedaços, para cultivo de árvores de fruto, batatas, milho a que eles chamam “pão”, e cultura do vinho verde, que hoje em dia está em grande expansão.

Existiram vários moinhos nas margens dos rios, hoje em ruína, para moerem farinha. Com ela preparava-se a broa, cozida em fornos de lenha.

Viana sempre teve indústrias; pirotecnia, cor-tumes, serração de madeiras, olarias, taman-queiros, e muitas mais, hoje encerradas por di-versas causas, a que não é alheio o progresso. Algumas com métodos artesanais e muito anti-gas, como a extracção do barro e o fabrico de tel-has, de que a Freguesia de Alvarães é a pioneira. Embora o seu fabrico tenha sido desactivado, permaneceram aqui até meados do Séc. XX.

Existiam aqui fornos desde o Séc. XVI, embora se pense serem anteriores, pois há indícios de terem sido aqui fabricadas, parte das telhas que cobriu o Mosteiro da Batalha. Há hoje um forno, recuperado, para fins turísti-cos e pedagógicos.

É das barreiras do finíssimo caulino desta freguesia que sai a matéria para a Fábrica de Loiça de Viana. Desde sempre a faiança de Viana se distinguiu pela qualidade e valor artístico, e para os coleccionadores, uma das mais conceituadas. Desde o início da sua existência, além de louça utilitária, se fabricaram, ricamente pintados à mão, utensílios para farmácias, igrejas e mosteiros.

Esta fábrica foi fundada em 1774, por João Araújo Lima e Carlos de Araújo Lemos, de sociedade com João Rego e António Alves Pereira Lima, estando localizada no outro lado do rio, em Darque, passando, em 1947, para a Me-adela, com o nome de Fábrica de Louça Regional de Viana.

Ao caulino, junta-se barro e areia e apura-se o “grés fino”, que depois de co-zido, é pintado à mão. Cada peça é, rigorosamente pintada à mão, portanto única. O mesmo artista, não tem a mesma “personalidade”, de manhã e à tarde, portanto cada peça é individual.

Os motivos foram buscá-los aos bordados regionais, e não ao contrário, como muitos pensam. A cor, azul, começa no tom mais intenso, diluindo-se em vários outros tons, lembrando as águas que banham Viana, para as peças utilitárias. Out-ras peças, as decorativas, têm as cores azul, verde, amarelo e cor-de-vinho. Existem também outras, exclusivamente para coleccionadores, de edição limitada a 500 exemplares.

Page 75: Viana do Castelo
Page 76: Viana do Castelo

074

Fábrica de Chocolates “Avianense”

Vi a Ana

Vianagrés A mais antiga de Portugal, fundada em 1914, fabricando chocolate em barra, chocolate e cacau em pó, napolitanas e os famosos bombons “Im-peradores”. A barra de chocolate Nº 5, excelente, para a confecção de bolos e mousse, era vendido aos quadrados, que se comiam com pão. Conta a minha mãe que à hora da merenda, era uma delícia!

Em 2004, devido ao decreto de falência da sociedade, encerrou, retoman-do a sua actividade, na freguesia de Durrães, em Barcelos, onde continua a laborar.

É um produto inteiramente nacional criado pelo GAF, com o objectivo de dinamizar o conceito de lembranças e souvenirs regionais. Conciliando a história, as lendas e os valores regionais, enquadrando-os no território e no tempo. E dessa forma valorizar o gosto pela história e pela região , quer por parte dos turistas, quer por parte dos habitantes locais... Vi a Ana! Os amores na história, e a história com amor.

Tipo de Artesanato: Cerâmica Empresa de média dimensão, situada no lugar de Algares, freguesia de Car-voeiro, Viana do Castelo.

Constituiu-se há cerca de dez anos, sob a forma de uma sociedade por quotas, com sete sócios que ainda hoje se mantêm, e emprega cerca de sessenta pessoas.

Dotada de uma estrutura comercial e administrativa organizada, a produção tem características industriais, uma vez que a louça é produzida com meios industriais (máquinas etc).

Há, todavia, grande quantidade de operações de fabrico manuais que lhe conferem, também, características artesanais- a pintura manual, o vidrado, a cozedura.

A matéria prima das peças é o grês cerâmico, formado por areia siliciosa e areia fina de que resulta uma pasta muito resistente e sonora, mas difícil de trabalhar, pela sua dureza.

A pasta usada na Viana Grés, de fundo beige claro é o suporte de motivos diversos-folhas, flores, desenhos geométricos ou de mão livre- com pinturas de cor predominantemente azul, cor emblemática da fábrica.

As peças fabricadas, que se destinam a uso doméstico e (ou) a decoração, são de diversos tipos, com saliência para os pratos, as jarras, as terrinas, as canecas, os serviços de chá ou café.

Page 77: Viana do Castelo
Page 78: Viana do Castelo

078

Peixeirinha de Viana,São dois peixes do teu seio,Que eu pesco mesmo sem cana,Durante o Fogo do Meio.

Quadras e contos da Agonia

Page 79: Viana do Castelo
Page 80: Viana do Castelo

078

Georges! Anda ver o meu país de romarias e procissões!Olha essas moças, olha estas Marias!Caramba! Dá-lhes beliscões!Os corpos delas, vê! São ourivesarias, Gula e luxúria dos Maneis!António Nobre in Romaria Senhora d’Agonia 2009.

Arte ornamental muito antiga, pois já no Séc.XVII, a.C. se trabalhava o ouro. Brincos e colares, muito parecidos aos que hoje se vêm, foram encon-trados nos trabalhos arqueológicos, realizados em Afife. São de influência Fenícia e Celta e contêm significados ocultos sagrados, míticos e supersticiosos.

Para que a vida de um recém-nascido fosse repleta de venturas, a mãe, no primeiro banho, colocava uma peça de ouro dentro da água. Pelo sim, pelo não, e mantendo a tradição, a minha mãe deu-me assim o primeiro banho!

Tudo terá começado então na Pré-História, onde o ouro era usado por quem tinha mais poder. Segundo Estrabão, autor romano (65 a 25 a.C.), na época dos castrejos Galaicos, as mulheres, no Noroeste da Península, eram donas de proprie-dades. Sendo a matriarca da família, todos os bens, tal como o ouro, eram transmitidos pela linha feminina. Perdem contudo esse poder, sob o domínio Romano e Árabe, incidindo na religião. Nessa altura, passou a adorar-se um deus masculino e criador da vida. As mulheres, contudo privilegiaram a adoração a entes femininos, transformando o sentido de sacrifício em festa e alegria.

Mais tarde, por altura dos descobrimentos, os homens partem, e elas, to-mam outra vez o poder das propriedades. A princípio, o ouro não era usado como riqueza, mas como algo sagrado, como um talismã, para a sua própria fecundidade. Sendo elas o sustento da família, investiam no ouro, riqueza usada, quando havia grande dificuldade na família.

Erradamente chamado ouro de Viana, pois a “capital” é na Póvoa de La-nhoso, é contudo nesta região, que a mulher faz, através do seu peito ou-rado, a sua melhor montra. Como já foi dito, o ouro está ligado a símbolos, assim ele não é colocado ao acaso. É preso no vestuário, para que todo o peito fique coberto, de forma triangular, com o vértice voltado para baixo, nunca podendo ultrapassar a linha da cintura, simbolizando o sexo feminino pela semelhança à púbis e ligado à fertilidade.

Os botões eram a primeira peça de ouro que as meninas tinham, oferecidos pela madrinha, quando nascia. Se a criança morresse, eram vendidos para pagar o funeral, se não, eram trocados pela madrinha, à medida que ela crescesse, até ter os Brincos à Rainha. Não se sente “ourada” a mulher de Viana, que traz o seu colar de contas e os brincos no dia-a-dia.

Em caso de necessidade, as arrecadas eram as últimas peças a “pôr no prego”, e mesmo assim era uma de cada vez, pois eram chamadas de “fana-das”.Ocultavam essa situação besuntando a orelha com unguento ou pintando-a de alvaiade.

6

Page 81: Viana do Castelo
Page 82: Viana do Castelo

080

Cordão Ás raparigas namoradeiras era oferecido pela madrinha o primeiro cordão, usado no traje de domingar e no de ir à feira. Quando fosse mordoma, a mãe oferecia-lhe outro que era usado com o traje de festa ou de luxo. Era a mãe que escolhia, se o cordão era gros-so (soga) ou fino (linha), nunca a lavradeira usava o oco.

Nesses cordões, com dois metros ou mais, para poder dar várias voltas ao pescoço, tinham já várias peças: libras ou meias libras, borboletas (corações invertidos, mais uma vez lembrando a fertilidade), laça, a custódia.

Nas orelhas, os brincos à rainha. Era esta ofer-ta feita pelo S. João, altura em que ela colocava também, ao pescoço da filha, o amuleto das três moedas de vintém, ou de um conjunto de três moedas furadas.

Por estes orifícios passava um fio de linha, com as pontas unidas, com três nós sobrepostos. A filha, por sua vez, prometia-lhe não mostrar este amuleto a ninguém, e que só lho tiraria quem lho colocou.

Antes de sair para a igreja, para casar, era tam-bém a mãe, que o tirava. Dizem aqui, que aquela expressão popular “tiraram-lhe os três”, não era mais que o resultado deste acto.

No dia do casamento, o marido oferecia-lhe outro, e, nesta altura ela já podia ter um trance-lim. Peça mais trabalhada, que pode ser chamado de lampião, de rodilhão ou de losangos, con-forme o formato das peças que o formam.

Quando eram mais velhas, sendo morgadas, si-nal de casa farta e boa lavoura, passavam a usar a Gramalheira, o Gramalhão ou a Bicha, peça que

é a mais trabalhada e expoente do ouro no Min-ho. Tem estes nomes, pois associam-nos às cor-rentes que sustentavam os potes à lareira ou às escamas da pele da cobra.

Trazer ouro no pescoçoBrinquinhos a dar a dar,

É bonita, gosto delaTem olhos de namorar.

Cancioneiro Popular

Page 83: Viana do Castelo
Page 84: Viana do Castelo

082

Arrecadas

Cruzes

Colar de Contas

Argolas Carniceiras

Brincos à Rainha

Conhecidos também por de Bambolina ou Peli-canos, são brincos usados pelas mulheres mais humildes. De origem castreja, de forma lunar. A bambolina representa o filho, tendo estes brincos a virtude de afastar espíritos maléficos.

Podem ser de canovão, de resplendor, barrocas e de malta.

De origem Etrusca e Fenícia, produzidas tam-bém pelos gregos, sendo as contas primitivas em ouro maciço. Ainda hoje, qualquer rapariga gos-ta de ter o seu colar de contas.

Antigamente, as raparigas compravam-nas, uma a uma, à custa da venda dos ovos, dos produtos da horta e das galinhas, enfiadas depois num fio de correr rematado por dois pompons.

Não tinham número certo, mas iam até meio do pescoço, aumentando o seu tamanho, conforme a necessidade, através do nó corrediço. Ainda hoje o preço de uma conta pequena é equivalente ao valor de uma galinha do campo.

Argolas ocas, de influência castreja, assim chamadas, por serem usadas pelas mulheres de donos de talhos.

De inspiração rocaille, do período de D. Maria II. São amuletos de fecundidade, arredondados e com o vértice para baixo.

Page 85: Viana do Castelo
Page 86: Viana do Castelo

084

Memórias Coração

Laças

Peças ocas de abrir, redondas, ovais ou quadran-gulares e que podem conter: madeixas de cabe-los, frases, orações, fotografias, normalmente lembrando alguém.

Foi oferta de D. Maria I, como ex-voto, ao Co-ração de Jesus, para obter a graça de ter um filho varão, e mandando-o timbrar nas condecorações nacionais: Ordem de Cristo, Avis e Santiago.

Hoje é a peça que, no ouro, melhor espelha o Amor de Viana. O ouro no Alto Minho é usado, ainda hoje, em-bora de forma inconsciente, como forma de rito e de louvor à vida.

Atribuída a D. Maria Ana da Áustria, a célebre “laça de esmeraldas”, sendo a primeira jóia, verda-deiramente do Minho. Tem este nome, pela existência de uma argola co-locada na parte de trás, para ser usada com uma fita de seda.

Page 87: Viana do Castelo
Page 88: Viana do Castelo

Muito bem parece o ouro,No peito de uma donzela,Menina se quer ter honra;Menina faça por ela.

Cancioneiro Popular

Page 89: Viana do Castelo
Page 90: Viana do Castelo

088

O lema da cidade é: VIANA É AMOR. Nada mais apropriado para a qualificar, assim como ao seu artesanato, muito rico em qualidade e cor, e sem dúvida alguma feito com muito amor.

As rendas, foram os primeiros trabalhos conhecidos a ser comercializados com a Flandres no Séc. XVI. Pode-se dizer que o artesanato nasce por acção da mulher. Desde tem-pos ancestrais, a mulher do Alto Minho tem grande importância na vida económica familiar. A ela cabia o cuidar da educação dos filhos, cuidar dos campos e gerir o património. Ausente o marido, emigrante ou pescador, era ela que tomava as rédeas do governo da casa, sendo também mais arreigada à terra e aos costumes locais.

D. António Costa em 1874 observava que: “ao contrário do que em toda a parte sucede, a mulher, no Minho, é que toma verdadeiramente o lugar do homem, e o homem não passa de acessório”. È ela, que depois dos trabalhos do campo feitos, a lida da casa realizada, para quebrar a monotonia das noites, fiava, tecia e bordava, fazendo os fa-tos que vestia.

Ramalho Ortigão escreveu que “a camponesa de Viana é donairosa, fértil, hos-pitaleira e coquette, que quando traja à vianesa atinge o auge do encanto e está dos pés à cabeça, ricamente vestida pelo trabalho que ela só executou”. Bordava o enxoval das filhas, bordando também por encomenda para vender, obtendo assim, um dinheirinho extra, que amealhava.

No campo cultivava o linho, que “dá muitos tor-mentos”, como diz o povo, e buscava a inspira-ção, que transportava, para toalhas, camisas de romaria, aventais e, para os lenços de amor que ofereciam ao seu amado. Alguns estudiosos, crêem, que talvez a origem das cores, viessem, de povos nórdicos, que po-voaram a zona de Afife e Areosa.

Ainda há poucos anos, se encontravam mu-lheres e meninas, já que as mães cuidavam em ensinar-lhe o “regional”, nas escadas das casas, ao sol a bordar.

A indústria dos bordados surgiu a partir de 1917. D. Geminiana Abreu Lima, recolheu bordados feitos pelas mulheres das aldeias, e fundou o primeiro atelier com três bordadeiras.

7

Page 91: Viana do Castelo
Page 92: Viana do Castelo

090

Os Bordados São em lã e fio de algodão sobre linho, meio lin-ho, tule e veludo. Os bordados a lã nasceram, para uso no traje re-gional, e a lã empregue era tingida em casa, por meio de infusão em corantes vegetais.

Os de linha, são para bordar em linho, nas to-alhas, camisas e lenços de amor, sendo os de ve-ludo, para os aventais do traje de noiva. Usavam também fios de ouro e prata, mas só em-pregue em paramentaria.

As cores tradicionais dos bordados regionais são o azul, vermelho e branco. Os pontos empregues são vários; crivo, caseado, pé-de-flor, cadeia, recorte, o de formiga simples ou duplo.

Os motivos como já foi referido, são essencial-mente florais; rosas, uvas, gavinhas de videira, ca-mélias, etc. Nas toalhas bordam-se os cantos, orla e centro, raramente se enche toda a superfície.

Aventais Os aventais assim como as saias, são tecidos em lã. Originalmente os motivos eram geométricos, que só depois de dominarem a arte de tecer, pas-saram a ter motivos florais como rosas e japonei-ras (camélias). No traje de mordoma, o avental é em veludo bor-dado a vidrilhos “cor de luar”, que é o mesmo do fato preto ou de noiva.

Esse “abantal aos cadradosÉ cortina coloridaDa fonte dos nossos sonhos,Da porta da nossa vida.

Cancioneiro Popular

Page 93: Viana do Castelo
Page 94: Viana do Castelo

092

Trajes de Lavradeira ou de Festa Chinelas O traje de lavradeira e as sacas de romaria são mais berrantes na cor e aplicações. Pode ter mis-sangas, lantejoulas e palhetes, no forro e nos coletes, e os motivos são contornados a trena, cordão formado por vários fios dourados.

Nos coletes, as costas são as mais ornamentadas, pois a frente, já tinha o peito para ser mostrado. Nas camisas de mulher, borda-se o colarete (pre-ocupação erótica), para atrair os olhares para a zona do pescoço.

Borda-se o tufado das ombreiras, que sugeria mulher farta (gordura era formosura) e a silva que orna o forro (orla da saia), atrai os olhos para os tornozelos, pois nenhum traje era comprido, tapando os pés.

São também confeccionadas manualmente. Podem ser de verniz, com um laço de fita preta, utilizadas com o traje de mordoma ou de noiva, as outras são bordadas a lã, e são utilizadas com os fatos à lavradeira.

A lã, deu-lhe a ovelhinha brancaO linho, esse, nasceu no seu linharDepois, foi trabalhar com perseverança:Fiar, dobar, tecer, coser, bordar...

Alfredo Reguengo in Guião da Festa do Traje 1953.

Chinela dos meus desejosCalça pezinhos de fadaE faz subir meus desejosP’la linda meia rendada.

Cancioneiro Popular

Palmitos ou Ramo Símbolo cristão, usado na Quaresma e benzido no Domingo de Páscoa. São feitos de folha de palmeira natural, trabalha-da. Entrançada e encanastrada, é depois decorada com flores de cera, pano ou papel e fios de trena.

Não são de palha, embora pareçam, mas a folha de palmeira, depois de seca, fica com este aspecto. São usados pelas mordomas, no dia de festa do padroeiro da terra, e o ramo era oferecido pela noiva como homenagem e jeito de pedido de protecção a Nossa Senhora.

Fazem-se palmitos, em folhas douradas, prateadas, formando flores, sendo os centros em espelho.

Page 95: Viana do Castelo
Page 96: Viana do Castelo

094

Lenços dos Namorados ou de Amor Na sociedade rural pobre, dos fins do Séc. XIX e princípio do Séc. XX, eram objectos carregados de um grande peso simbólico. Confeccionados em linho fino bordados a ponto cruz, a vermelho e muito raramente a preto, eram testemunhos de amor. Peças únicas para amores únicos, eram usados nos bolsos, preso à cintura ou escondido no seio ou punhos e nas mãos.

Eram um penhor de amor e fidelidade em dramáticos momentos de despe-dida, por isso também lhe davam o nome de Lenços da Tropa. A rapariga que o recebia, usava-o só em momentos especiais: em dia de festa do santo padroeiro, quando era mordoma, para segurar a vela votiva ou palmito, no dia do casamento, em que ele abraçava o seu ramo de noiva, e aquando da sua morte para lhe cobrir o rosto.

Por sua vez, o rapaz, se aceitasse o compromisso, usava-o em público, no bolso esquerdo do casaco, e daí o tirava para o pôr no ombro onde apoiava a vara do andor, em dia de procissão. Quando oferecidos pela namorada ao rapaz do seu encanto, ela exprimia os seus sentimentos em verso, com expressões de amor, fidelidade e dedica-ção. No centro do campo figura sempre o escudo real, igual ao do avental, do

seu fato de mordoma, que mais tarde será o mesmo do fato de noiva. A simbologia dos motivos empregues estão todos relacionados com o amor. Corações enlaçados, amor, chaves, para abrir ou fechar os corações, cães fidelidade, trevos, sorte, fortuna, pombas, ternura de namorados. Por vezes aparecem também as custódias ou os relicários, pois considera-vam que o amor que os unia era sagrado.

Algibeiras:Ó meu amor; ó MariaMeu carinho e meu enleio,És fogo nesta Agonia.No começo, fim e meio.

Peça de pequenas dimensões, carregada de profundo simbolismo, quer pela sua forma de coração, quer pela colocação, quer à esquerda ou à direita da saia, que revela a existência ou não de namorado.

No dia do casamento passa definitivamente para a esquerda, pois era já casada. Nela prendia o lenço, e na pequena bolsa que tem no interior, es-condia os bilhetes do namorado.

Meu lenço recorda o diaQue um amor feliz deixou,Ou abafa a agoniaDe quem sofreu, porque amou um dia..

Cancioneiro Popular

Page 97: Viana do Castelo
Page 98: Viana do Castelo

096

Vela Votiva Vela usada pelas mordomas no dia da festa do padroeiro da aldeia, era sím-bolo de pureza exigida às jovens. Oferecida pela madrinha, à rapariga que fosse mordoma, segurando-a acesa durante a missa. Se ela se apagasse, pun-ham em causa a pureza da mordoma. Contam até, que os rapazes, também mordomos, que assistindo à missa por de trás delas, por malandrice, passavam o tempo todo tentando apagar a vela.

Também são executadas manualmente, em linha de algodão as meias renda-das que usam, ou as de lã grosseira, para os trabalhos do campo. Os motivos são empregues em todo o tipo de artesanato, caixas em forma de coração, tabuleiros, álbuns de fotografias, carteiras. Com o aparecimento de novos designers, modernizou-se o artesanato, não perdendo contudo a cor e o encanto do tradicional. Desta forma eram tam-bém feitas as flores que enfeitavam os andores, no dia da procissão. Também são executadas manualmente, as meias, em algodão para os dias festivos, em lã grosseira, para os trabalhos do campo.

Mordoma, vela pela vela.Não a deixes apagar;Se a vela se vai à vela,Podes ficar por casar!

Cancioneiro Popular

Pirotecnia Para o minhoto, romaria que não meta foguetes e lágrimas e um vira geral não é festa. São verdadeiros espectáculos de luz e cor, que deixa a todos boquiabertos e de cabeça no ar, para ver o rebentar das bombas, das bichas e serpentinas de fogo! Viana sempre teve pirotécnicos famosos como José de Castro e Manuel da Silva & Filhos conhecidos aqui e no estrangeiro.

Trabalho artesanal perigoso, provocando por vezes acidentes terríveis e até mortais, não deixam por isso de obter verdadeiras obras de arte, que nas Festas da Agonia atingem o esplendor máximo na Serenata sobre o rio.

Muitos outros artesãos existiram, mas que se foram perdendo, pois o pro-gresso e a melhoria de vida assim levaram que acontecesse.Foi o caso dos tanoeiros, funileiros, latoeiros e tamanqueiros, sendo estes últimos, os únicos, que ainda fazem tamancos para os ranchos folclóricos. O plástico, o metal e a loja dos chineses acabaram com estes tipos de artesanato!

Este fogo é da SantaQuem havia de dizer?

A minha farra foi tanta,Que me botei a perder.

Cancioneiro Popular

Page 99: Viana do Castelo
Page 100: Viana do Castelo

Minhas mãos, tão pobrezinhas,P’ra se aquecer, não tem meios;Na Agonia, coitadinhas,Aninham-se entre os teus seios.

Quadras e contos da Agonia

Page 101: Viana do Castelo
Page 102: Viana do Castelo

100

Pequena HistóriaO povo aldeão, naturalmente artista,Imitador dos dons da natureza,Criou a maravilha coloristaQue hoje se chama o Traje à Vianesa

Reproduziu as cores que viu nos prados,Nas folhagens, nas flores ornamentaisE estilizou-as todas em bordadosE no tecido em floridos aventais…

Lançou depois estrelas em seus brilhosJunto às linhas de cor das bordadeiras,Na refulgência estranha dos vidrilhosQue ornamentam coletes e algibeiras.

A lã, deu-lha a ovelhinha branca e mansa,O linho, esse, nasceu no seu linhar;Depois, foi trabalhar com preserverança:Fiar, dobar, tecer, cozer, bordar…

E desse imaginar de artista natoE desse trabalhar em sonho e beleza,Nasceu a maravilha desse fato- o inimitável Traje à vianesa.

Alfredo Reguengo in “Guião da Festa do Traje 1953”

Comentou Ramalho Ortigão aquando uma visita ao Alto Minho, em 1885: “Prezo-me de ter visto mulheres e de ter reparado nelas em vários locais, e eram a legenda da formosura: Pois bem! Eu acho-me hoje na obrigação de declarar que nunca, em parte alguma, vi mulheres mais bonitas do que algumas das que vi a vender na feira de Viana”.

Durante as festas cruzamo-nos constantemente com esta beleza e cor, vesti-das de lavradeira, onde é rainha. Como dizia Felipe Fernandes, “as raparigas de Viana são donas das bocas mais lindas do mundo, bocas sangrentas, moldadas pelo inventor do beijo, bocas que sa-bem beijar.” Confirma também já em 1934, que as mulheres de Viana são: “de olhos so-nha-dores, bocas rubras a prometerem carícias loucas, corações ardentes palpitando de amor”.

São sedutoras, mas é na Festa do Traje, a sua festa, que melhor estão repre-sentados os seus costumes, tradições, e os trajes, que só ela soube tão bem executar e preservar, num espectáculo de cor e alegria.

Pelos nossos olhos passam: o namoro junto ao cruzeiro, o casamento, o baptizado, o morgado, o malhar do milho, o velório mais as carpideiras, e os ranchos, com os seus cantares e dançares. É no traje que as atenções se prendem.

O vermelho, o azul, o verde, o preto, o bordado das camisas, os aventais, a graça das algibeiras, as chinelinhas de verniz, o ouro ao peito? Não há olhos que cheguem para ver tudo!

8

9

10

Page 103: Viana do Castelo
Page 104: Viana do Castelo

102

O traje à Lavradeira nasceu do traje de trabalho ou de cotio. Pode variar de aldeia para aldeia, mas a sua origem está no traje da Areosa. Explicam-se estas diferenças pela situação geográfica das várias aldeias.

Por um lado, as povoações do litoral, eram menos fartas embora com mui-to trabalho, de que só as mulheres se encarregavam, pois os homens, ou eram pescadores, ou estucadores, o que os fazia sair da terra. Não sobrava tempo à mulher para se dedicar à parte estética do seu traje.

Por outro lado, nas aldeias da Ribeira Lima, os homens estavam ligados à lavoura, eram mais caseiros, e as mulheres tinham mais fartura de meios e mais tempo para se dedicarem ao seu trajar.

Cláudio Basto definiu-o bem ao escrever: “Se, dos trajes à lavradeira o de Afife é o mais simples, o vermelho de Santa Marta de Portuzelo é o mais complexo na riqueza de ornatos e de cores, e o da Areosa o mais vermelho e o mais “à vianesa” dos trajes.” Quero dizer com isto que é o mais “conservador”, ou antes o mais “conservado”.

x

Traje de Trabalho ou Cotio Também conhecido por “traje da erva, de ir ao monte ou fato do mato”, usado nos trabalhos do campo, na veiga, na monda.

Tem saia de riscas brancas e pretas e forro (faixa de 30 cm, que remata a saia) aos quadrados pre-tos e brancos, apertada na cintura por fitas de algodão, com que se faz um laço deixando uma abertura chamada de “bichaneira”.

O avental é de lã; camisa de linho grosso, sem bordados; colete de barra preta e tecido de fanta-sia, sem enfeites. Na cabeça, lenço vermelho com ramagens ou ch-apéu grande de palha; nos pés socos, sem meias, podendo andar descalças. No caso de irem “ao mato”, usavam umas canelei-ras de lã grosseira, para não se arranharem com os picos.

Menina da mordomia,Não sejas tão altaneira!

Lembra-te bem que um diaJá te entrei p’la bichaneira!

Cancioneiro Popular

11

12

Page 105: Viana do Castelo
Page 106: Viana do Castelo

104

Traje de Domingar ou Lavradeira Traje de Meia Senhora ou Morgada Destinado a ir à missa, ao terço, para namorar, e para fazer os pequenos trabalhos de Domingo. Varia conforme o colorido do “forro” da saia: saia branca com forro azul, liso.

Avental de cós e listas horizontais, com motivos geométricos em “puxados” de lã de várias cores; camisa branca de linho, bordada a branco, nas ombreiras e punhos. O colete com cinta preta, sendo a parte superior em azul com aplicações em zig-zag em fio de al-godão. Lenço na cabeça apertado atrás, e nos pés, meias brancas de algodão e socos.

Neste grupo existem também em azul ou roxo, chamado de “nojo” ou luto. O traje verde pertence só às terras de Geraz do Lima, na margem esquerda do Rio Lima, que foi buscar a cor ao verde das terras fartas das mar-gens do rio.

Surgiram em 1848, havendo quem diga ter sido criado em homenagem à rainha D. Maria II, aquando da sua visita à cidade de Viana.

Fato “copiado” às senhoras da sociedade de Vi-ana, embora com interpretação própria.

Este fato diz-nos que, a lavradeira, mesmo com o casamento, não atingiu o estatuto de “senhora”, conforme as distinções sociais da época. Contudo era significado de casa farta, boa lavou-ra, soalhos encerados e criadagem.

Larga o avental símbolo de trabalho, os taman-cos por botinhas, mantendo no entanto o lenço na cabeça, que desta vez é de seda. Um saco de algodão na mão substitui a algibeira e a saia passa a ser em tecido leve de cores, lavrado ou florido, e, na mão um guarda-sol.

Page 107: Viana do Castelo
Page 108: Viana do Castelo

106

Traje de Mordoma ou Morgada Fato de Noiva ou das “Velhas” Tem saia de fazenda preta, com forro de veludo bordado a vidrilhos. Avental de veludo, com a coroa real e outros mo-tivos bordados a vidrilhos e com guarnições de cetim. A casaca é preta, também bordada a vidrilho, com renda nos punhos e colarinho. A algibeira, è preta, também bordada.

Na cabeça, lenço de seda natural, franjado. Me-ias brancas de algodão e chinelas pretas, borda-das a branco. Na mão, segura a vela votiva envolta no lenço de amor.

Este traje de mordoma, existe também em azul cobalto, com a diferença de ter camisa branca de linho bordada a azul, e colete bordado a retrós e vidrilhos Indica que a casa é “farta”, tendo possi-bilidade de fazer um traje para cada ocasião.

O outro mostra que a “casa”, já não è tão abas-tada, e que mais tarde este fato era usado no dia do casamento.

Hoje em dia já há quem não desdenhe de vestir es-te fato, no dia de “cruzar o arco” da igreja, o dia do casamento. É em tudo igual ao de mordomia, difere apenas na substituição do lenço, que é branco de tule (balbinete), delicadamente bordado.

Nas mãos, o ramo de noiva. Os chinelos são em verniz guarnecidos a cetim.

O trajar do homem é mais simples. No trabalho, é de tecido grosseiro, camisas de cor bege, e tamancos nos pés, distinguindo-se o fato de morgado, que por ser o filho do dono das terras, é todo em linho.

Nos dias de festa, os fatos são em fazenda preta, as camisas, em linho bordadas a vermelho. No casa-mento, a camisa passava a ser bordada a branco.

Page 109: Viana do Castelo
Page 110: Viana do Castelo

108

Traje de Sargaceiro Característico de Castelo de Neiva empregue na apanha do sargaço, que servia, depois de seco, para adubar as terras.

Este traje é muito simples, além de andarem des-calços, pois andavam sempre dentro de água. É feito em branqueta (fazenda que não transmite ao corpo a sensação de molhado).

Por isso, tanto o homem, como a mulher se metem na água do mar sem qualquer outra peça de vestuário.

Nos homens é uma espécie de casaco comprido, com roda que chega aos joelhos, justo ao peito, apertado na cintura por uma correia.

As mulheres usam uma saia curta, pouco rodada e uma casaca, apertada ao lado por botões, na mesma branqueta. Na cabeça, em vez de um carapuço em lã, usam o sueste (chapéu de oleado, influência dos usados nos bacalhoeiros da Terra Nova).

A festa faz-se, acompanhada de muita música. O toque dos ferrinhos e o trilho dos cavaquinhos misturam-se com a melodia das braguesas.

À ordem do mandador para “virar” as chinelas delicadas batem no chão, e rodam com os bailadores, dando-nos também a nós a vontade para dar as voltas do malhão e da cana verde. E depois há o Vira Geral, onde todos, forasteiros e bailadores, se envolvem neste bailar de encanto!

Calam-se os últimos foguetes. As últimas lágrimas da Serenata apagam-se no sereno Lima.

Emudeceram os sons da festa, deixando-nos no coração uma imensa saudade. Todos partem... Com a certeza de que dia em que se encontrarão outra vez!

E com Viana? Ficarei sempre com ela...

Page 111: Viana do Castelo
Page 112: Viana do Castelo

Deixa o gado, anda bailar,Maria dos meus desejos...Anda para a roda dançar,Juntar os teus, aos meus beijos.

Cancioneiro Popular

Page 113: Viana do Castelo
Page 114: Viana do Castelo

112

Qual gavião esfaimado,Pairando sobr’Agonia,Meu olhar voa picadoP´ro decote da Maria!

Ao falar da gastronomia, não nos podemos es-quecer da hospitalidade franca e amiga dos min-hotos, onde todos são bem recebidos, com sim-patia, fartura e alegria!

As refeições, são em geral demoradas, onde há tempo e se come devagar, e há sempre qualquer iguaria nova a experimentar, ou a recordar o sa-bor, como a marmelada com queijo à sobremesa. É difícil falar dela, não que não haja do que falar, a dificuldade está na escolha.

Desde o arroz de lampreia, lampreia à bordalesa, o bacalhau à Margarida da Praça, o sável de es-cabeche, ou assado no forno, onde as espinhas se separam completamente, o cabrito à Serra d´Arga, os rojões e papas de sarrabulho, o arroz pica no chão, o arroz de feijão com pastéis de bac-alhau, o arroz de pato! Nos doces é um sem fim: Arroz doce cremoso, leite creme à Prior de Vila Franca (com pinhões), mexidos de amêndoa, que antigamente só se faziam pelo Natal, formi-gos, migas doces, sopa dourada, torta de Viana,

pão-de-ló, cozido em formas de barro tapadas e forradas de papel cavalinho, bolo obrigatório nas mesas, no Domingo de Páscoa.

Em Viana, quem nunca provou os Sidónios e Jesuítas da Brasileira, os manjericos de ovo do Zé Natário, as meia luas, massa tenra recheadas de gila e amêndoa receita do antigo convento de Santiago, as empadas de lampreia, as bolas de Berlim e o pão-de-ló do Manel Natário, tão gabados por Jorge Amado, não conhece o doce vianês!

Aguço-vos o apetite com a receita de alguns pe-tiscos:

Rojões para 6 pessoas1,500 kg de perna de porco, mas com gordura500 g de chouriço de verde1 kg de belouras1 kg de tripa enfarinhadaMeio litro de vinho branco, aproximadamente

Cortam-se os rojões em bocados grandes, que se marinam em vinho branco verde, sal, pimenta, louro e cominhos e alho. Levam-se ao lume numa panela, de início só na marinada, juntando a banha necessária para acabar de cozinhar e alourar os rojões, somente quando o vinho branco ficar consumido.

No fim, adiciona-se um pouco de colorau dis-solvido em vinho, só para dar cor ao molho.

À parte, numa frigideira, fritam-se as tripas en-farinhadas, a chouriça de verde e as belouras. Servem-se com batatinhas alouradas na gordura onde se fritaram os enchidos.

Page 115: Viana do Castelo

Papas de Sarrabulho para 6 pessoas Meia galinha gorda500 g de costeletas de porco frescas e magras125 g de presunto500 g de carne de vaca500 g de sangue de porco¼ kg de miolo de pão de regueifaSal, pimenta e cominhos q.b.

Põe-se a cozer em 2 litros e meio de água fria a galinha, costeletas, presunto e a carne de vaca ,fi-cando tudo bem cozido, para que se possa desfiar à mão todas as carnes. A espuma que se forma à superfície, deve ser toda retirada. Retiram-se as carnes e côa-se o caldo, a que se junta o miolo do pão e as carnes já desfiadas e volta ao lume, mexendo sempre, até ficar uma açorda consistente. Num tacho à parte coze-se o sangue de porco num litro de água com sal, até ficar cozido por dentro. Quando o sangue estiver cozido, retira-se da água, espreme-se muito bem e esfarrapa-se à mão, juntando-se então na panela onde já está o pão e as carnes. Deixa-se levantar fervura em lume brando, tendo o cuidado para não pegar ao fundo da panela. Se necessário, acrescenta-se água de cozer o sangue. Rectifica-se de sal e pimenta, e juntam-se os cominhos. Tanto estes, como a pimenta devem sentir-se bem.

Sopa DouradaTorta de Viana Partem-se fatias de pão-de-ló da grossura de um dedo, que se embebem, numa calda de açúcar com canela em pó, em ponto de pérola. As fatias são retiradas da calda e espremidas, an-tes de se colocarem numa travessa de ir à mesa.

Quando se esgotarem as fatias, fazem-se os ovos moles, com meio quilo de açúcar, coberto ape-nas de água, e faz-se atingir o ponto de fio. Nessa altura, misturam-se doze gemas de ovos, apenas cortadas, não batidas,e vai ao lume a engrossar.

Deitam-se os ovos moles em cima do pão-de-ló, que se cobre de canela.

10 gemas de ovo4 ovos inteiros200 g de açúcar170 g de farinhaRaspa de limão ou laranja

Batem-se as gemas com o açúcar, e junta-se a raspa de laranja ou limão. Batem-se as claras em castelo, que se juntam também à massa. A seguir, deita-se a farinha, já peneirada, e bate-se levemente. Vai a cozer num tabuleiro forrado de papel vege-tal, não se deixando cozer de mais, para ser mais fácil de enrolar.

Faz-se um creme com 4 gemas e 100g de açúcar. Desenforma-se a massa sobre um pano humede-cido e polvilhado de açúcar. Recheia-se com o creme, e enrola-se cuidadosa-mente.

Page 116: Viana do Castelo

114

Leite de creme à Prior de Vila Franca Mexidos à moda do Neiva Água de Unto250 g de açúcar1 litro de leite2 colheres de sopa de farinha maizena8 gemasCasca de limãoPinhões

Batem-se as gemas com o açúcar e a casca de limão, até estarem bem fofinhas, junta-se então o leite a que se misturou a farinha.

Vai ao lume até levantar fervura, tendo o cuida-do de mexer sempre, para não se pegar ao fundo do tacho. Juntam-se então, os pinhões a gosto, retira-se a casca do limão, e deita-se em travessas.

Queima-se com o ferro próprio de queimar o açúcar, depois de frio.

Era uma sobremesa de Natal, feita pelas famílias menos abastadas. Os ingredientes, existiam em casa, e a sua con-fecção, não requer dotes culinários.

Água, mel ou açúcar, sal, pingue d’unto (gordura de porco),canela e petim (como é chamado o pão das rabanadas). Numa panela de barro deita-se a água, depois o pão em pequenos pedaços, junta-se uma colher de pingue d’unto, adoça-se com mel ou açúcar e acrescenta-se uma pitada de canela.

Estando bem fervido, põe-se em travessas, e en-feita-se com canela.

As famílias de maiores posses, juntavam vinho do Porto, amêndoas, nozes e pinhões.

50 g de unto (gordura da barriga do porco)1 cebola2 colheres de sopa de azeite200 g de broa3 ovos

Põe-se ao lume 1,5 l de água com o unto, o azeite e a cebola, cortada em rodelas muito finas. Tem-pera-se de sal.

À parte, batem-se os ovos, que se juntam à sopa, só na altura de servir, deixando-os cozer. Distribuem-se por malgas (tigelas), onde se deita a broa esfarelada.

No tempo da guerra, quando o açúcar faltava, substituía o café e o leite, na primeira refeição da manhã.

Page 117: Viana do Castelo

Vinho QuenteCaldo dos Pobres6 ovos250 g de açúcar2,5 dl de vinho verde tinto2,5 dl de vinho Moscatel ou Madeira2,5 dl de vinho do PortoPão duro1 l de água temperada de sal

Batem-se os ovos com o açúcar, até fazer gemada. Leva-se ao lume o litro de água com sal, deixan-do levantar fervura, juntando nesta altura os vinhos, menos o vinho do Porto, que voltam a ferver. Fora do lume, e lentamente, junta-se à ge-mada, levando novamente ao lume brando até ferver, para cozer as gemas.

Fora do calor, junta-se o vinho do Porto, mexe-se, e, se necessário, junta-se mais um pouco de açúcar. Na altura de servir, aquece-se o vinho, em banho-Maria, e serve-se em chávenas, com bo-cadinhos de pão, fazendo sopas.

É tradição servir-se este vinho, com os fritos de-pois da Missa do Galo.

Por curiosidade, dou a seguir duas receitas, que embora estejam em desuso, há ainda quem se lembre de as tomar, quando os tempos eram de maiores necessidades.

200 g de toucinho entremeado8 folhas de couve-galegaMeia chávena de chá de arroz, e meia chávena de arroz de massinhas1 colher de sopa de azeiteSal

Põe-se ao lume o toucinho com bastante água. Quando estiver quase cosido, junta-se a couve cortada em tiras largas, o arroz e as massinhas.

Tempera-se com azeite e sal, e deixa-se apurar. Pode também juntar feijão canário, neste caso, o feijão coze ao mesmo tempo que o toucinho.

Vulgarmente, a gente do campo, retirava o con-duto, que comiam separado do caldo. Esta sopa, era muito importante no meio rural. Fazia-se todos os dias, em quantidade suficiente, para a refeição do meio-dia, e da ceia.

Page 118: Viana do Castelo

Ó meu São João BaptistaDe que quereis as capelas?De crabos e mais de rosas,Com crabinas amarelas?

Cancioneiro popular

Page 119: Viana do Castelo
Page 120: Viana do Castelo

118

Páscoa Na Primavera, quando tudo começa a estar florido e verde, chega a Páscoa, depois de um tempo de Quaresma bem cumprido. Todos se empenham nas limpezas de Primavera, e se as casas precisam de pintura, faz-se, para se celebrar o Domingo de Páscoa. Depois do Sábado de Aleluia, com os sinos a anunciar a Ressurreição de Cristo, todos se pre-param para a visita do Compasso, como é chamado ao grupo que acom-panha a cruz.

Normalmente o dia é de sol, embora, em certos anos a chuva estrague a festa, que não deixa de fazer-se, e depois de uma missa bem cedo, todos vão ultimar os preparativos para a chegada da cruz. Formam-se tapetes de flores à entrada das casas; alecrim, rosmaninho, erva doce, pétalas de flores, fol-has de palmeira, que depois de pisadas, exalam um perfume doce, põe-se a mesa com pão-de-ló (é tradição do Domingo de Páscoa), amêndoas, queijo, bolos brancos, rebuçados da Páscoa e vinho do Porto.

Acompanhado pela banda de música, chega o “Compasso”. À frente vem o rapaz da campainha, que anuncia a chegada da Cruz, o rapaz da caldeira da água benta, o Sr. Abade, o juiz da Cruz e os mordomos da cesta, para recol-herem o folar, e os visitantes que desejam beijar a Cruz naquela casa.

Ao entrar diz: Aleluia! Aleluia! Aqui entra Jesus Cristo ressuscitado, alelu-ia, aleluia! Salpicando de água benta todos os presentes, e dá a cruz a beijar, todos respondem; Aleluia, Aleluia.

Depois é uma correria pois temos os vizinhos e amigos para visitar, e repete-se a mesma cerimónia. Á noite, entre o repicar dos sinos, cânticos e a presença da banda de músi-ca, a Cruz recolhe à igreja, com a bênção do Sr.Abade.

Há no lugar das Neves, que pertence a três freguesias; Barroselas, Mujães e Vila de Punhe, a mesa dos três abades, onde estes se encontram no fim da visita Pascal, para confraternizar.

Page 121: Viana do Castelo
Page 122: Viana do Castelo

120

Consoada“Há só um banquete português que desbanca todos os jantares de Paris, mas que os desbanca inteiramente, é a ceia da véspera de Natal das nossas terras do Minho”, assim dizia Ramalho Ortigão.

A Ceia de Natal ou Consoada é motivo de grande alegria. Todas as chami-nés fumam com o cepo de madeira de carvalho, com as pinhas a abrirem para soltarem os pinhões, envolvendo todos no mesmo espírito, aquecendo a noite fria. Geralmente é na casa dos avós ou dos pais que todos se reúnem.

Na mesa há bacalhau, que deve ser de lasca de lombo grosso, batatas, que para além de serem grandes, não se devem esfarelar, cebolas cozidas e couve-galega, tudo cozido no ponto, polvo cozido e bem temperado de bom azeite. Tudo isto bem acompanhado por bom vinho verde tinto, en-corpado, negro, que deixa marca na malga e nos dentes.

Os doces são muitos: filoses (filhoses), rabanadas ou fatias paridas, mexi-dos, formigos, arroz doce, leite-creme, aletria, sonhos de abóbora menina. Também há nozes, castanhas, avelãs, amêndoas e pinhões, que vão saindo das pinhas, que estão a abrir, com o calor da lareira.

Conversa-se, joga-se às cartas ou ao rapa, esperando a hora de abrir os pre-sentes. E chegando a meia-noite vão à Missa do Galo.

No Alto Minho, há a tradição, de se pôr um lugar a mais na mesa, em memória de todos os que já faleceram.

Maios Festa de origem pagã, representa a chegada da Primavera, o início do ano agrícola, o rito da fecundidade, com o desejo de boas colheitas.

Conta a lenda que, Herodes, soube que a Sagrada Família, na sua fuga para o Egipto, passaria a noite em certa aldeia. Por isso, resolveu matar todas as crianças do sexo masculino desse local. Alguém lhe disse não ser necessária tal mortandade, e, embora não lhe dis-sesse onde dormia o Menino Jesus, lhe disse que iria colocar, um raminho de giesta no local onde ele estivesse. Na manhã seguinte, com grande surpresa dos legionários, todas as portas das casas da aldeia, tinham o tal raminho de giesta, impedindo-os de fazer o que lhes tinha sido ordenado.

Nos tempos mais antigos o Maio, era um homem ou rapaz, coberto de flores, que seguido de moços ou crianças, em procissão, percorria outrora as ruas das nossas vilas e aldeias.

Antes do nascer do dia 1 de Maio, põem-se raminhos de giesta em flor, nas portas, janelas e no linho, para afastar a fome, doenças, feitiços… e a entrada das bruxas!Dizem que nesse dia o diabo anda à solta, e, que não entra onde houver o Maio. É para o “burro” não morder o gado, ou dar cabo dos cereais, burro é um bichinho que sobe pela palha dos cereais.

No Alto Minho, não é só nas casas que se põe o raminho de giesta, o gado, os carros de bois, e também se ornamentam os tractores e automóveis. O Maio não é retirado no dia a seguir, deve murchar, e há quem o deixe ficar até ao ano seguinte.

13

Page 123: Viana do Castelo
Page 124: Viana do Castelo

122

Reis ou “Reises” Reis antigos Realizam-se a 6 de Janeiro. Um ou mais grupos de pessoas, vão de casa em casa cantar versos alusivos aos Reis Magos, e de saudação às pessoas da casa, depois da Ceia de Reis. Antigamente, eram cantadas por grupos de rapazes, que ensaiavam as quadras, e que tinham por acompanhamento tudo o que servisse para marcar o ritmo. Ferrinhos, pandeiros, por vezes um cavaquinho, mas também serviam as latas, tampas de panelas e até pinhas.

Hoje em dia, é um pouco diferente, são grupos adultos que se esforçam para que a tradição não se perca, e servem os “Reises”, para recolher fun-dos para alguma associação necessitada. Ganha-se em qualidade, mas perde-se o improviso e a genuinidade.

Em Barroselas, uma vila do distrito de Viana do Castelo, e através do grupo Cantadeiras do Vale do Neiva, muitos desses cantares foram recolhi-dos e preservados:

Aqui estão os Reis à portaDispostos para os cantar.Se os Senhores nos dão licençaNós os Reis vamos cantar.Entrai pastores entraiPor esses portais sagrados,Lá vereis o Deus MeninoNumas palhinhas deitadoQue menino será aqueleQ’inda há pouco foi nascido.É o verbo feito homemO Messias prometido.Depois dão-se vivas aos donos da casa.Ai viva lá o Senhor ( nome da pessoa)Ai raminho de laranjeira.Ai Deus queira que para o ano,Ai esteja da mesma maneira.

Se os patrões da casa, não ofereciam nada aos cantadores, saía logo esta:

As Janeiras que aqui cantamosAs tornamos a descantarEsta alma do diaboNão tem nada p’ra nos dar

Ou então em tom de troça:Esta casa cheira a unto, aqui mora algum defunto!

14

15

Page 125: Viana do Castelo
Page 126: Viana do Castelo

Porque será que nós temosNa frente, aos montes, aos molhosTantas coisas que não vemosNem mesmo perto dos olhos?

António Aleixo

Page 127: Viana do Castelo
Page 128: Viana do Castelo

128

Lenda do Rio Lima Um dia, nasceu numa serra galega um rio calmo azul e liso, que foi de-scendo curioso até encontrar o mar e uma povoação tranquila no seu labor diário, cultivando as terras ou pescando.

De repente, esta tranquilidade desaparece, com a chegada de soldados es-tranhos, que invadiram à força das suas lanças, dos escudos e do tropel dos cavalos a tranquilidade daquelas gentes.

Chegados que foram à margem sul deste rio, estacaram deslumbrados!

Os soldados julgaram tratar-se do Rio Lethes, o rio do esquecimento, de que falavam as lendas do seu país, que diziam que, quem se atrevesse a atravessá-lo, se esqueceria da pátria, família e do seu próprio nome. Em vão os comandantes os mandavam avançar, ameaçando-os com a prisão e a morte. Ninguém se movia!

Então Décio Júnio Bruto, apeando-se do seu cavalo, atravessou a vau o rio, e chegando à outra margem, chamou pelo nome cada um dos seus legion-ários, mostrando-lhes não lhe faltar a memória. Desta forma, mostrou a seus homens, que este rio, apesar de ser lindo e exercer fascínio sobre eles, não era o Lethes. Então todos atravessaram as águas claras e tranquilas sem receio.

Esse rio tem hoje o nome de Lima, e continua a encantar pela sua beleza, a todos os que dele se abeiram.

É também conhecido pelo rio das três senhoras: Senhora da Peneda, da Guia e d’Agonia.

Deixa agora o teu penarRio Lima trovadorE diz-me no teu cantarOnde pára o meu amor.

Cancioneiro pupular

Lenda de Viana Havia na povoação de Átrio, terra de pescadores, uma linda rapariga, de seu nome Ana, alegre, de feições delicadas e rosadas, que se dedicava à ven-da do peixe, que seu pai trazia para terra, sempre com uma canção nos lábios.

Escutava-a deliciado, um barqueiro de água-arri-ba, que descarregava sal, milho, vinho, madeiras, ali no cais, ou transportava lavradores e merca-dorias pelo rio acima até Ponte de Lima.

De tanto olhar e ouvir Ana, começou o barqueiro a apaixonar-se pela linda rapariga. Amor esse, que ia aumentando dia a dia, e que fez com que compartilhasse com os seus companheiros de lida, o que lhe ia na alma.

Estes sorriam, quando o moço barqueiro regres-sava de Átrio lhes gritava feliz da vida:- Vi Ana! Vi Ana!

Passaram os dias, e não satisfeito de só olhar para ela, resolveu falar-lhe, ficando a saber que era também amado pela linda rapariga. Casaram, sendo aplaudidos no dia da boda, com brados de Vi Ana! Vi Ana!, por amigos e convidados.

Quem sabe se não teriam contado, a D. Afonso III, esta história de amor, pois ao dar foral a Átrio lhe mudou o nome para Viana.

Quero viver a sorrirQuero viver a cantar

Viana a mais linda terraQue é beijada pelo mar.

Cancioneiro popular

Page 129: Viana do Castelo
Page 130: Viana do Castelo

130

Lenda da Serra D’Arga Um rei visigodo Evígio de seu nome, governava na altura a Península Ibéri-ca. Tinha uma filha única, Eulália, muito bela, e prometida em casamento, por seu pai ao valente guerreiro Regismundo.

Mas, Eulália, amava Egica, nobre de sangue real, mas que o rei não desejava para marido de sua filha. Resolveram fugir para encontrarem a felicidade juntos, sendo perseguidos pelos soldados do rei. Procuraram ajuda no mo-steiro de Frei Gondemaro, amigo de Egica, que os acolheu e deu dormida, situado no monte Medúleo.

Na manhã seguinte, dia de sol radioso, os enamorados puderam apreciar uma paisagem esplendorosa, de densos arvoredos, de campos cultivados, rebanhos e animais bravios. Eulália, sugeriu que se chamasse Agro em vez de Medúlio, uma vez que as terras eram tão prósperas. Tendo casado nesse mesmo dia, partiram para um reino bem distante do rei ofendido. Mas sofria de saudades Eulália de seu pai, que por meio de Frei Gondomaro lhes fez saber, que os perdoava se lhe dessem um filho varão, para lhe herdar a coroa.

Teve a princesa um filho, e pensando regressar, desejaram passar pela serra onde tinham casado, chamada agora Serra d`Arga, pelo povo, que detur-para a palavra Agro (raiz da palavra agricultura).

Até hoje é assim chamada, mantendo o mesmo esplendor doce, agreste e fecundo, onde quem sobe até ao alto, e a volta a descer pode maravilhar-se com cavalos selvagens, nascentes de água e uma paisagem sem igual.

Abaixa-te, ó Serra d´Arga,Q´eu quero ver S. LourençoQuero ver o meu amorAcenar-me com o lenço.

Cancioneiro popular

A pombinha já morreu,Já num tenho portador;

Já num tenho quem me lebeAs cartas ao meu amor.

Cancioneiro popular

Origem da mulher Dizem na aldeia de Outeiro, nos arredores de Viana do Castelo, que Deus fez a mulher a partir do rabo de uma raposa.

Tirou Deus a costela a Adão e, quando ia para fazer a mulher, veio uma raposa e roubou-lha, fugindo com ela. Correram atrás da matreira e agarraram-na pelo rabo. Porém este rebentou e, para não correrem mais, resolveu Deus fazer dele a mulher.

Assim explica o povo a “manha” da mulher.

Page 131: Viana do Castelo
Page 132: Viana do Castelo

132

Tradições É rico em tradições o Alto-Minho, que se vão mantendo, umas, porque estão fortemente en-raizadas, outras, devido à boa vontade de muitos que procuram preservá-las, mostrando-nos como se vivia noutros tempos.

Na vila de Barroselas realiza-se semanalmente uma feira, ás quarta-feira, e não há muitos anos, era famosa a Feira de Cinzas, logo a seguir ao Car-naval. Era muito concorrida e festiva, embora fosse já tempo de Quaresma.

Vinha gente de todo o lado, com os seus fatos domingueiros, e até o gado, estava enfeitado com flores, uma fita vermelha ao pescoço com um chocalho, e os cornos eram limpos para irem bem reluzentes. Levar o gado enfeitado era chieira (vaidade) dos lavradores, que levavam sempre a melhor junta de bois para venda. Esses bois, geralmente, eram

para abater na Páscoa. Os feirantes, é que não ficavam muito satisfeitos, porque nessa feira as pessoas conviviam mais do que feiravam.

Era também dia de troca de namorados, quem não estava satisfeito com o que tinha, trocava-o. Outra tradição desse dia, tanto na feira como em todas as casas da terra, era a de se comer arr-oz doce, feito de véspera.

Aqui fica a receita, dada por uma pessoa da terra:

Leite, uma pitada de sal, açúcar (q.b.), casca de limão e ovos. Abre-se o arroz, em água a ferver temperada com uma pitada de sal. Deixa-se o leite levantar fervu-ra, deita-se o arroz, escorrido da água, a casca de limão e quando estiver já meio encalido (cozido), tira-se p’ra trás e deita-se o açúcar e as gemas ba-tidas, muito lentamente, mexendo sempre para não “emberbeter”, não esquecendo de tirar a casca do limão! Vai recozendo, tira-se para pratos ou travessas, e fazem-se feitios com canela.

“Lembrei-me com olhos humedecidos, da minha aldeia do Minho. Do seu adro sombreado de carvalheiras, a venda com o ramo de louro à porta, o alpendre do ferra-dor, e os ribeiros tão frescos onde verdejam os linhos...”

Eça de Queiroz, “O Mandarim”

Page 133: Viana do Castelo
Page 134: Viana do Castelo

134

Antoninho pede e querEu não tenho que lhe dar.Darei-lhe um cachinho d’uvasQuando o meu pai vindimar.

Cancioneiro popular

Tradições Rurais A actividade rural do Minho enaltece a natureza. Em sistema de entre ajuda, num ambiente de alegria, realizam os trabalhos que exigem mais braços e animais, recorrendo também a alguma máquina agrícola quando necessário.Todas as parcelas são aproveitadas para a produção de tudo aquilo que irá abastecer-lhes a mesa: alfaces, cenouras, tomate, ervilhas, feijão verde, couve-galega, batatas, ocupando os cam-pos maiores e as veigas, para a cultura do milho, linho e a vinha.

Na Primavera, com as lavradas e sementeiras, do milho, melões, melancias, batatas, necessitando mondar as ervas daninhas, e as primeiras sulfa-tadas às vinhas, o trabalho aperta. Depois, “em Junho foucinhas em punho”, com as primeiras col-heitas, do centeio, batatas e cebolas.

A seguir, as malhadas e as desfolhadas, a prepara-

ção das vasilhas para as vindimas, a incubação do vinho, a apanha da lenha, para estar seca para a lareira no Inverno.

De resto, não é preciso pensar em datas, porque os adágios populares ajudam:

- As favas devem ouvir o vinho a cantar no lagar.- Até S. Pedro tem a vinha medo- Bácoro de Janeiro com seu pai vai ao fumeiro.- Barra preta de Caminha a Fão, chuva na mão.- Chovendo no dia da Ascenção, todas as beiradinhas dão pão.- Dos Santos ao Natal, um salto de pardal.- Em Janeiro põe os presuntos ao fumeiro.- Fraco é o Maio em que o boi não bebe no rego- Janeiro fora mais uma hora.- Janeiro molhado, se não é bom para o pão, não é mau para o gado.- Não é bom ano de pão e de vinho, se não caírem sete camadas de neve no Minho.- Natal a assoalhar, Páscoa ao mar.- O cuco a recucar, pega na cestinha, vai semear.- O frio em Março, leva o pelo e o pelaço.- Onde alhos há, vinho haverá.- Os alhos… Pelo Natal bico de pardal.- Pela Santa Marinha pinta a vinha e pelo Santiago pinta o bago

- Pelo S. João pinga a sardinha no pão.- Pelo S. Martinho abatoca o teu vinho.- Pelo São Lourenço, vai à vinha e enche o lenço.- Pelo São Mateus, pega no arado e lavra com Deus.- Pelo São Vicente, alça a mão da semente.- Quem em Abril não varre areia e em Maio não sacha a leira, anda todo o ano de canseira.- Santa Justa com touca (nevoeiro), temos chuva e não é pouca.- Vermelho ao mar, pega nos bois e vai lavrar.- Vermelho ao nascente, chuva de repente.

Page 135: Viana do Castelo
Page 136: Viana do Castelo

136

Desfolhadas Cultura do Linho Hoje em dia, já poucas desfolhadas se fazem, escolhendo os lavradores, desfolhar o milho no campo, mas eram uma festa. Começava-se de vé-spera, com o corte do milho, que era transporta-do para a eira, espalhado em redor, à espera de quem vier.

Na manhã da desfolhada, coze-se a broa, e as sardinhas são amanhadas, e esperam a sua hora de serem fritas. Pela tardinha, começam a chegar os vizinhos e amigos, que vêm ajudar, com o seu desfolhador na mão, para facilitar o trabalho.

O vinho roda de vez em quando, para refrescar as gargantas, pois as cantorias e as gargalhadas são muitas, e quando aparece uma espiga vermelha, é um delírio de abraços e gargalhadas, principal-mente da parte dos rapazes. As maçarocas vão em cestos para o espigueiro, e a palha é amontoada, em palheiros, que servem mais tarde para “fazer a cama ao gado”, no Inverno.

Só quando o milho acaba, há ordem de levantar, chegando a altura de comer as sardinhas fritas, a broa, sempre regadas do bom vinho verde, e can-ta-se, e dança-se, pelo resto da noite fora.

A sua cultura já vem de tempos muito remotos.Já poucos o cultivam, pois dá muito trabalho, mas, como dele vive uma parte do artesanato do Alto Minho, e qualquer moça casadoira gosta de o ter no enxoval, aqui estão as várias fases, por que passa o linho até chegar às nossas mãos.

De linda flor azul, fica transformado em baganha de cor castanha escura, é colhido, passada pelos ripos, para retirar as sementes, atado em molhos, que são levados ao rio, onde fica de molho. Estende-se a secar no paul soalheiro e vai para o engenho (fulão).

Mais tarde é espadelado, para retirar alguma aresta que reste, passado pelos dentes do rastelo ou sedeiro, e posto em estrigas até ser fiado. Entra nas rocas, que as mulheres, ,à conversa nas longas noites de Inverno à volta da lareira, faziam deslizar o fuso por entre os dedos.

Passa a meadas nos sarilhos, a novelo nas doba-douras, o caneleiro leva-o para as lançadeiras e o tear transforma-o em lindas toalhas, colchas, camisas, lenços, etc.

Enquanto desfolham a espigaSardinhas vão a fritarP´rá ceia de toda a genteCom verdinho a acompanhar.

Cancioneiro Popular

As voltas que o linho dáAté chegar ao tear!

Não são tantas como aquelas,Que por ti me fazes dar!

Cancioneiro Popular

Page 137: Viana do Castelo
Page 138: Viana do Castelo

138

Matança do Porco É motivo de grande alvoroço, a matança do porco, depois de alguns tempos de engorda. De véspera, lavam-se os alguidares, o pote com água, aguarden-te, e bastante lenha, e alinham-se os temperos; sal, pimenta, colorau, alhos, louro, cominhos, cebolas, vinho verde, e claro as tripas para os chouriços.

Pela madrugada chega o matador, que mata o animal, que depois é, “esqueimado”,(chamuscado), de preferência com palha, para lhe retirarem todos os pelos. É então lavado, com água a escaldar, e depois é aberto ao alto, retirando-lhe todas as miudezas, é pendurado para escorrer, de cabeça para baixo, ficando assim até ao dia seguinte.

Então, bem escorrido o sangue, começa o desmancho do bicho, separando os presuntos, as barrigas, cabeça, orelheiras, tudo bem passado por uma mistura de vinho verde tinto, alho, pimenta e louro, bem esfregados com sal, e guardado na salgadeira, ou ficando no alguidar, para outros fins. Vem sempre gente de fora da casa para ajudar, e ao almoço, é o sarrabulho. Pedaços de bofe, verde (sangue cozido), e outras carnes, e rojões no pingue. Pela tarde e noite fora continua o trabalho, arrumando as carnes, e enchen-do-se os farinhotos e chouriças: de carne e de verde (cebola e sangue). Põe-se entretanto no fumeiro, para começarem a secar.

Nas pessoas mais antigas, fica na memória, a vida difícil, penosa e des-gastante, mas onde tudo se fazia a cantar, tocar e dançar. Recordam as lavra-das, sementeiras, as ceifas, malhadas, desfolhadas, vindimas e os serões, onde tudo servia de motivo, para contar ‘histórias ‘de antigos namoricos, novas anedotas, e até algumas bisbilhotices.

Meu lindo lençol de linhoTanto trabalho me deuDesde o campo onde crescesteAo tear que te teceu.

Pelas minhas mãos passasteDesde a ripada ao tearEu te arranquei e embrulheiEu te juntei para atar.

Nas águas do rio LimaFoste então mergulhadoTrinta dias lá passasteSem que me desses cuidado.

Tirei-te então do rioNo terreiro te sequeiDaí foste para o engenhoE a faina continuei.

Foste então repartidoE depois espadeladoDia a dia ensedadoDia a dia ensarilhado.

Só depois da cozeduraTe levei à dobadouraDeixaste de ser meadaBelo linho de cor loura

Foste então ao caneleiroEm canelas te enrolouE o tear que te esperavaEm bom pano te tornou.

Os fatos do nosso grupoSão a prova mais seguraQue a cultura do linhoNa nossa terra perdura.

Cantiga do Grupo de Lavradeiras de Vila Franca do Lima

Page 139: Viana do Castelo
Page 140: Viana do Castelo

140

Tradições Religiosas e CrendicesNo Alto Minho, o povo, é por natureza religioso. A fé e a mística de milénios, obrigaram à cons-trução de mosteiros, santuários e capelas, dedi-cados a imagens milagrosas, corpos incorruptos como o Santo Aginha, ou, aparições como a No-ssa Senhora do Minho.

Baptizam-se os filhos, pouco depois do nasci-mento, vão depois à catequese, assistem à mi-ssa, e ninguém falta à desobriga (confissão pela Páscoa).

Pelas estradas e caminhos existem cruzes, oratórios e alminhas que recordam, no imagi-nário, mortes e assassínios, que todos lembram e pedem bênçãos, através de orações.

Em todas as cidades e aldeias há igrejas e capelas, e no meio dos montes muito verdes, as ermidas branquinhas, destacam-se na paisagem. Cumprem-se as promessas com voltas ao san-tuário, muitas vezes de joelhos, com dádivas ao santo.

Podem ser de várias espécies:

Santa Justa – frango branco e estrigas de milhoSanto António – pernis e orelheiras de porcoSão Bento – cravosSão Cristóvão – bolos, galinhas e vinhoSão João d’Arga – sal e telhas, se roubadas melhorSão Mamede – leiteSenhora da Agonia e Senhora da Bonança - mortalhasSenhora de Saúde e Senhora da Boa Morte – caixões de “vivos”, como agradecimento por te-rem escapado da morte.

Todos reforçam a presença junto ao santo da de-voção, comendo e até dormindo junto à igreja, sendo as merendas de primeira qualidade!Por outro lado contam-se histórias de lobiso-mens, do diabo, e de bruxas, e muitos afirmam ter visto tais criaturas. O meu avô contava que uma pessoa que ele con-hecia, viu a procissão dos defuntos, a passar à noitinha; Uma outra pessoa que ainda estava viva,

ía no caixão, acompanhado por familiares e ami-gos, já falecidos, todos com uma vela acesa. Sabia de quem se tratava, mas não podia dizer quem era, pois se contasse, era ele que falecia.

Há rezas, mezinhas, e também benzedeiras ou “mulheres de virtude”, que por vezes ainda de-sempenham o seu saber. Defumam quem se en-contra tolhido de algum susto, dando três voltas em redor do doente dizendo: Assim como Nossa Senhora defumou o Menino para cheirar, assim eu te defumo para sarar.

Para curarem pulsos abertos, usam água a ferver, um púcaro, um alguidar, tesouras, um novelo de linhas, uma agulha, um dedal, e a fórmula:

- Eu que coso?

O doente responde: - Pulso aberto e fio torto.

Page 141: Viana do Castelo
Page 142: Viana do Castelo

142

Para curar uma borbulha infectada, fazem uma mis-tura de azeite, alecrim e um dente de alho, espalhan-do-a com um raminho de alecrim, por cima do local infectado, dizendo:

Se és de sapo, sapãoSe és de saramela, saramelãoSe és de salagata, salagetãoSe és de cobra, cobrãoSe és de porco chiaSe és de gato mia,E pelo poder de Deus e da Virgem MariaUm Padre Nosso e uma Ave Maria.

Fazia-se isto durante nove dias, o tempo necessário para as borbulhas desaparecerem.

Para que uma peladura (queimadura) não lavrar (em-polar), pega-se em três pontas novas de mato, silva e rosa e diz-se:

A água não tem cabelos,O lume não tem raízesE assim como isto é verdade,A peladura que não lavre.Diz-se isto várias vezes, mas tem que ser pernão (número impar), 3, 5, 7 ou 9 vezes.

Se uma criança, está magrinha e apática, dizem que está «augada» (aguada), e só pode curar-se com o bolo das sete massas, ou bolo da madrinha, pois só poderá ser feito por ela, não podendo a criança dar nenhum bocado a ninguém e comendo-o atrás de uma porta para ninguém ver.

Ainda se recorre às mezinhas, para tratar males menores, como o vinho quente com açúcar, se há tosse. Aguardente queimada com açúcar até ficar em xarope, para as constipações. Para as dores das pedras na bexiga, chá de barbas de milho.

Há pessoas que fazem mal só com o olhar, deitam o «mau olhado», a pessoas ou aos animais. Contra isso, defendem-se com amuletos, ferraduras e figas, prega-das nas portas ou nos carros de bois, cruzes presas nas roupas das crianças.

E existem várias superstições:

- Entrar com o pé direito na casa nova, ou novo emprego, é importante para o sucesso da nova vida.- Sentarem-se 13 pessoas à mesa, ou entornar azeite, dá azar.- Quando mochos vêm piar perto de casa, quer dizer que vai morrer alguém em breve.- Quando se vê uma estrela cadente, diz-se logo: Deus te guie.

- Se o galo canta à meia-noite, quer dizer que quer o patrão fora, isto é, morto.- Uma borboleta que anda à volta da luz, pode ser sinal de boas notícias se for branca, ou luto se for escura.- Uma aranha que se passeia por uma pessoa, è sinal de dinheiro se for pequena, ou è desgosto se for preta.- No dia de São Pedro de Rates, não cangar gado, nem pegar em agulha ou sachola, principalmente se em casa houver mulher grávida, ou animal.- Não se deitar galinha a chocar, senão em quarto crescente ou lua nova, colocando sempre ovos em número ímpar. Ao pô-los no cesto, dizem: Em louvor de São Gonçalo, todas galinhas e só um galo.- Ninguém conte as estrelas, porque nascem cravos nos dedos das mãos.- Burro velho não toma andadura (puxar a carroça) e se a toma pouco dura.

Para quem dá ordens, sem que para isso ter autori-dade, ouve logo:- Hom´ela! (Hom´essa!). Vá lá mandar porcos na feira.- Se a orelha direita ficar vermelha, é porque estão a dizer mal de nós. Costumava-se atirar uma manada de sal para o lume e dizer: Assim rebente quem está a dizer mal de mim. - Se uma visita já está a aborrecer, põe-se uma vassoura, com o cabo virado para baixo, atrás de uma porta, e logo ela se vai embora.

Page 143: Viana do Castelo

Muito haveria para dizer sobre crendices e su-perstições, que se vai esbatendo com o aumento da instrução, mas nunca fiando. Como dizem os espanhóis: «Eu não acredito em bruxas, mas que há, há!».

Há orações para todas as ocasiões. Quando se vê um raio, numa trovoada:- São Jerónimo, Santa Bárbara Virgem!

Caso a trovoada se torne mais forte:S. Jerónimo se levantou,Seu sapatinho calçou,Nossa Senhora encontrou, e lhe perguntou:- Aonde vais tu Jerónimo?- Vou espalhar esta trovoada, que por cima de nós está armada. Espalha lá para bem longe, onde não haja nem eira nem beira, nem mulher nem menino, nem vaca nem bezerrinho, nem pedrinha de sal, nem coisa a que fazer mal. Amén.

Ao ver o arco íris:- Arco-da-velha, sai-te daí, que as moças bonitas não são para ti.

Se a chuva é desejada:- Chuvinha vem, vemQue te dou um vintémPor cima do telhadoQue te dou um cruzado.

Se ela incomoda:- Chuvinha passa, passa, pró lado de Cortegaça.

Se alguma coisa ou animal está perdida, reza-se a Santo António:- Santo António se vestiu, - Santo António se calçou,Na sua cajeirinha (cajado) pegou,Nosso Senhor encontrou:- Tu António onde vás?- Eu? Senhor, convosco vou- Tu, António não virás,Por esse mundo ficarás,Toda las coisas perdidas, a todas acharás,Pai Nosso, Ave Maria.

Ao deitar:- Com Deus me deito, com Deus me levanto,Divina Graça e Espírito Santo

Nesta caminha me deitei,Sete anjinhos nela achei,Quatro aos pés, três à cabeceira,Nossa senhora à dianteira.

Ao acordar:Bendita seja a luz do diaBendito seja quem a cria,Bendita seja a Virgem Maria,Bendito seja o Anjo da GuardaQue anda em nossa companhia.Assim como nos livrou dos p’rigos da noite,Assim nos livre dos do dia.

Quando se amassa o pão:São Vicente te acrescente,São Mamede te levede…Em louvor de São GonçaloNem insosso, nem salgado.

Quando se mete o pão no forno:Deus te acrescente,Dentro do forno, fora do forno,Para pobres e ricos,Todos os que baterem ao portal.

Ao acabar as refeições:- Graças a Deus para sempre, como eu estou, esteja toda a minha gente!

Page 144: Viana do Castelo

São as cadeias mais fortes,As tuas tranças, Maria...Que prendem meu coração,Quando ando na Romaria.

Cancioneiro Popular

Page 145: Viana do Castelo
Page 146: Viana do Castelo

146

É por natureza, alegre e folgazão o povo do Alto Minho. Onde quer que haja uma capela ou ermi-da, por perto ou longe, com acesso difícil, ou lá se chegue facilmente, há com certeza festa, e da rija!

O sol caloroso, e o luar de sedução, convidam a que as romarias tenham um cunho muito espe-cial. E mal se ouvem os ferrinhos e os cavaquin-hos, há cantorias ao desafio, forma-se uma roda e dança-se. Cumpre-se a parte religiosa, e depois é folgar, com muito ruído e alegria.

Começam cedo, logo em Janeiro, com o Santo Amaro, o S. Brás logo a seguir, Senhora das Boas Novas e do Crasto, pela Pascoela. O Maio Flori-do; Festa das Rosas, Festa da Santa Cruz. São João em Junho. Em Agosto as festas da Senhora das Neves, Me-adela, Santa Marta e Senhora da Agonia, a Sen-hora do Minho e São João d’Arga.

Em Setembro as Feiras Novas de Ponte de Lima, que fecham o ciclo. Estas são algumas das muitas que se realizam, pois no mesmo fim-de-semana pode haver mais do que uma romaria.

Em todas elas se mistura o lado religioso com o pagão, com as suas procissões, pagamento de promessas, as bandas de música, folclore e arraial, e não podendo falar de todas, vou “mostrar” o que de mais característico têm algumas delas.

Page 147: Viana do Castelo
Page 148: Viana do Castelo

148

Nossa Sra das NevesNo lugar das Neves, confluência de três freguesias; Barroselas, Mujães e Vila de Punhe, com um vasto largo, ergue-se a capela de Nossa Senhora das Neves. Mandada erigir, em cumprimento de uma promessa por João Pires Ramalho, primeiro morgado da Casa da Torre, em 1554. Foi votada ao abandono e, só em 1862, depois de obras feitas pelos mora-dores locais, foi autorizada pelo Papa Pio IX.

É na praça, em torno de uma antiga quinta e de um antigo souto, que se realiza todos os anos, no dia 5 de Agosto, o popular Auto de Floripes, en-cenação popular guerreira, representada desde o Séc. XVI. Não há guiões escritos, pois tudo era transmitido oralmente, de geração em geração e a representação é toda em verso e dançada. A sua representação faz-se no exterior, e a sua origem crê-se que esteja nos autos cavalheirescos, elaborados a partir de lendas, romances e narrativas épicas.

Relata a luta entre turcos e cristãos. Os comediantes são pessoas do povo, sem preparação teatral, que neste dia, se transformam em Carlos Magno e nos Doze de França ou nos terríveis e ferozes turcos do exército do Almi-rante Balaão, e na formosa Floripes. A representação faz-se em cima de um estrado, e aí se recita o drama de Ferrabraz e Floripes.

Neste auto, representa-se a rivalidade e desejo de guerra entre cristãos e mouros, neste caso substi-tuídos por turcos.

Começa com a chegada de quinze cavaleiros (conta sempre fixa), escarranchados nos seus “cavalos”, fazendo-os girar meia dúzia de vezes, alinhados em campos opostos, acompanhados de bandas de música que tocam as Contradanças. Uma das linhas representa os Doze de França, entre os quais se encontra o Conde de Oliveiros, com o seu chefe Carlos Magno.

A outra é de turcos, às ordens de Balaão, e Fer-rabraz, seu filho e rei de Alexandria.

Ferabraz soube que Carlos Magno se encontrava com o seu exército em Mormionda, e arrogante para lá partiu, sozinho, para desafiar os Doze de Inglaterra.

Nossa Senhora das Neves,Quando era o seu dia:A cinco do mês de AgostoQuando a calma caía.

Cancioneiro Popular

16

18

17

Page 149: Viana do Castelo
Page 150: Viana do Castelo

150

Do lado dos cristãos:

Eu sou o nobre cristãoDas terras mui generoso,Venço em todas as terrasCom meu braço generoso.

Vinde cá, ó meus vassalosCom prazer e alegria,Defender o nosso reino,Aqui, hoje neste dia.

Do lado dos turcos:

Eu sou o rei da TurquiaA quem o respeito inclina;Sou eu que tenho o poderNesta terra argelina.

Vinde cá, ó meus vassalosCom prazer e alegria,Defender o nosso reino,Aqui, hoje neste dia.

Lutam, cabendo a vitória aos cristãos. Sobem ao palco, desenrolando-se aí o resto da representação, onde aparece Floripes, filha do Almirante turco e namorada de Guy de Borgonha.

Esta, atraiçoa o pai, dando a liberdade aos prisio-neiros cristãos, assim como ao seu amado, fugin-do para junto de Carlos Magno. Há uma grande batalha, que ocupa grande parte do auto e termina com a rendição dos turcos.

Termina com cânticos a Nossa Senhora das Neves:

Nossa Senhora das Neves, Principiemos um baile,Sois guia de toda a terra, Adeus, adeus regalar,Já se renderam os turcos, Dai-nos licença senhores,Já se acabou toda a guerra. Agora vamos dançar.

Nossa Senhora das Neves, Demos fim a este baile,Quando era o seu dia: Pois que assim nos convém;A cinco do mês de Agosto, Regalem-se meus senhores,Quando a calma caía. Até ao ano que vem!

Ao som das Contradanças, retiram-se do palco, para regressarem ao local de onde partiram para a representação, não sem antes fazerem uma vé-nia, em frente da capela da padroeira, Nossa Se-nhora das Neves.

Page 151: Viana do Castelo
Page 152: Viana do Castelo

152

Festa das Rosas Ainda no início do século passado era vulgar a confecção de cestos de flores, no dia da festa, em muitas freguesias da Ribeira Lima: em Santa Mar-ta, Perre, Meadela Outeiro, Darque e Mazarefes. Coube a Vila Franca do Lima a conservação deste costume, em grande parte devido ao entu-siasmo e incentivo do Padre António Quezado, colocado aqui como Prior.

No segundo Domingo de Maio, realiza-se nesta freguesia, do lado esquerdo do rio Lima, uma fes-ta em honra de Nossa Senhora do Rosário, desde o princípio do Séc. XVII. Velho voto beneditino, que obrigava as raparigas a oferecerem flores a No-ssa Senhora, transfor-mados mais tarde em belos e ricos cestos flori-dos, das mordomas jovens que nesse ano comple-tam os 18 anos. Todos na freguesia se compenetraram da beleza dos cestos que já são conhecidos em todo o mundo.

A arte floral tem aqui o seu apogeu, feitos com arte e principalmente com muito amor. É uma mistura de cor e de cheiros, dado pelas mordomas que os transportam, e pelas flores de que são feitos.

São confeccionados em segredo, em casa de cada uma, durante uma semana, com a ajuda de fa-miliares e amigos, cerca de vinte pessoas, a quem ela alimenta, por noites e dias até o trabalho es-tar concluído.

Primeiro colhem as flores, faça chuva ou sol, no meio de muita alegria, correndo os campos das aldeias vizinhas, até mais longe, e a beira-rio à procura do necessário.Cegudas, soagens, pampilhos, marcela, trevo, sementes do mato, línguas de coelho, olhos-de-freira, bucho. As outras, colhem-se nos jardins: chorões, perpétuas roxas e brancas, sardinheiras,

pampilhos, malmequeres, e é claro rosas. Umas são agrupadas em pequenos molhos, outras irão singelas ou desfolhadas, para contornarem e encherem os desenhos, com paciência e carinho, pelos “bordadores”, e metem-se ao trabalho!

A estrutura ou “miolo” do cesto é feito com ramin-hos de cegudas, sendo em seguida pregado o de-senho escolhido, é então tempo de o preencher. Trabalho delicado, este de bordar os cestos!

Folhas de japoneira (camélia) dão cor aos telha-dos, junco e palha formam cunhais de portas e colunas de monumentos. Folhagem de giesta e folhas de oliveira são efeitos de mar, as ilhas são de musgo, o céu, de flores de bálsamo ou sardinheiras, emprega-se feitilha dos rios ou ribeiros, a cal das paredes, nasce da corola do milho. A completar o cesto vêm as rosas!

A mordoma atarefada,anda em brasa a compilar,botões das flores mais formosas,para no dia das Rosas,o seu cestinho bordar.

Excerto do Hino das Rosas

19

Page 153: Viana do Castelo
Page 154: Viana do Castelo

154

Preparação do cesto

Page 155: Viana do Castelo
Page 156: Viana do Castelo

156

Page 157: Viana do Castelo
Page 158: Viana do Castelo

158

Nada é pintado. São necessários vários quilos de flores, pregadas com cerca de três quilos de alfinetes, que originalmente eram pedacinhos de gravalha (caruma dos pinheiros), e os cestos che-gam a pesar cerca de 70 Kg. Os motivos são diversificados, já que cada mordo-ma quer o seu cesto mais bonito que o das outras.

Na década de 30, os motivos eram geométricos, passando depois a representar motivos eucarísti-cos. Hoje, os motivos são variados, desde retra-tos, paisagens minuciosas ou monumentos lo-cais e outros. Todos os cestos têm as iniciais das mordomas, sendo transportados à cabeça, desde as suas casas até à Igreja, entre música e foguetes, aí, ficando junto ao altar da Senhora do Rosário.

No Domingo seguinte à Festa, e transmitindo esta tradição aos mais novos, as meninas, entre os quatro e doze anos, fazem também os seus ces-tinhos, que oferecem também na Igreja.

Festa da Sra Da Agonia Rainha das festas em Portugal! Onde as mulheres são as rainhas, tal como escreveu Elina da Palma Carlos em 1979: «é a beleza das mulheres minhotas e os seus trabalhos que mantêm aceso o fogo das Festas de Viana do Castelo sendo elas a sua mola real.»

Tem origem, na capela particular dedicada ao Bom Jesus do Santo Sepulcro, bem perto de out-ra, situada no “Cerro dos Enforcados”, dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Só em 1744 passou a ter como padroeira a Senhora d’Agonia, em vez de Nossa Senhora da Soledade, pertencente, nessa altura aos Frades Franciscanos.

Erguia-se a capela num morro, de onde se via a barra, suscitando desde logo a devoção de pesca-dores, mareantes e suas famílias, que a ela recor-riam em horas de aflição.

O Rei D. José, por Provisão Régia, de 15 de Julho de 1772, autorizava a realização de três dias de fei-ra, denominada já nessa altura Feira da Agonia.

Anda comigo Maria,Ver as Festas d’Agonia,Esse famoso arraial!Que maior não viste ainda;É a romaria mais lindaDas terras de Portugal.

Francisco Silva

Page 159: Viana do Castelo
Page 160: Viana do Castelo

160

Em 1783, a Congregação dos Santos Ritos concedeu a licença para a cel-ebração de uma Missa Solene, no dia 20 de Agosto, dia da padroeira, que mais tarde se tornou feriado Municipal.

Em 1865, a festa resumia-se a três dias, onde: “se ouvia música sacra em redor da capela, ao cuidado de Mestre Francisco Fernandes, a outra, a profana, tocaria no campo e nas ruas da cidade e seria dos artistas da terra. Vinte peças de fogo divididos por dois mestres: José Araújo Soares Viana e José Rodrigues Silva. As iluminações: dois arcos vistosos e iluminados à entrada do adro da igreja”.

Havia novena, procissão, barracas e tendas de comércio e pouco mais. Naquele tempo, mil pessoas que se juntassem era um assombro! Uma notícia curiosa, relatada no jornal “A Aurora do Lima“ em 1872, conta que até de Espanha vinham à feira, alguns com certa esperteza. É o episódio de um certo galego que alugava rebuçados! “Eram do tamanho de ovos de pomba e custavam dez reis por chuchar 5 minutos; vinte reis por 10 minu-tos e um pataco o rebuçado inteiro”. Conta o repórter como assistiu “embatocado” (envergonhado) ao espectá-culo de três labrostes, a passarem o rebuçado uns aos outros, depois de esportelarem dez reis por chuchar cinco minutos, contados

no cebolão (relógio) do espanhol! Vinha gente das aldeias, a pé, de carro e pelo rio, para negociar, mas também para se divertirem, chegando em gru-pos, com os seus trajes, rusgas e tocatas.

A afluência de pessoas aumentou, com a criação do Caminho de Ferro, foi fixado o calendário das Festas, fazendo-as coincidir numa sexta, sábado e Domingo. Por essa altura e daí em diante, estipulado que o dia do meio, o da feira, com o “fogo da Santa”, seria o mais importante, não podendo ocor-rer a romaria antes do dia quinze nem depois do 25 de Agosto.

Vai aumentando a importância das festas, até que surgiu a “era prodigiosa”. Nas duas últimas décadas do Séc. XIX, com o aparecimento da serenata (fogo no rio), a procissão, percorrendo todas as ruas da cidade e o apare-cimento dos Cabeçudos, ideia importada da Galiza que, acompanhados pelos Zés Pereiras, anunciavam as festas.

Em 1907 acrescentam um dia à festa, que chega aos nossos dias. Em 1908, há a primeira Parada Agrícola, transformada, mais tarde em cortejo et-nográfico, onde todas as aldeias do distrito estão presentes e mostram os seus costumes.

20

Page 161: Viana do Castelo
Page 162: Viana do Castelo

162

A Festa do Traje, realizada pela primeira vez no Jardim público em 1931, é o resultado etnográfico e social das gentes do Alto Minho. Afonso do Paço, Abel Viana, Manuel Couto Viana, entre outros, dedicar-am-se a estudar os usos e costumes, trajes e cancioneiro regional, dando-os a conhecer, incentivando e classificando o traje à vianesa.

Viana torna-se então na capital do folclore, e a Romaria da Agonia no seu expoente máximo, passando a ser a mais variada e deslumbrante montra da tradição do Alto-Minho. Em 20 de Agosto de 1968, realizou-se pela primeira vez a Procissão ao Mar da Senhora da Agonia, a estátua viva da dor. Festa das gentes da Ribeira, que a ela recorrem em horas de aflição.

Durante toda a noite, dedicam-se com empenho e carinho a desenhar ta-petes de sal em todas as ruas do bairro da Ribeira. Por aí passará a procissão da sua Padroeira. Da Capela vai em direcção ao cais, onde é recebida pelos silvos de todas as embarcações, entre orações, cânticos, foguetes e palmas de onde sai de barco, acompanhada por todos os pescadores, pelo rio acima e até à barra, abençoando o “campo” do seu trabalho, de onde lhes vem o sustento, mas também é o cemitério de tantos que se choram.

Há lenços brancos no ar e até lágrimas nos olhos de muitos. Romaria de sonho, que leva muitos forasteiros a Viana, que aí chegam de carro, camioneta, de comboio e até a pé. Ansiosos, que o movimento é mui-to, a festa está aí, e os olhos gulosos têm pressa de ver tudo!

O trilho dos cavaquinhos e das braguesas mistura-se com o toque dos fer-rinhos e as chinelas batem no chão, enquanto as raparigas dançam. A con-certina chega a todo o lado, e o rufo dos tambores dos Zés Pereiras esse, vai directo ao coração do povo: “Eh, gaitas! Eh, zabumbagens! Tocai e rufai na praça! Sois vós a sonora imagem. Deste povo a sua raça”. Mesmo que não se saiba, é contagioso, e todos dão o seu pézinho de dança…

Há fogos de artifício; o preso, do campo ou da Santa e a Serenata, sobre o rio, com a famosa cachoeira de fogo. Chega ao fim todo este encantamento! É como escreveu no programa das Festas de 1996, o Conde d’Aurora:“Ah! Minhas festas d’Agonia: alegres, sadias, cristãs. Todos nos conhecemos, até os estranhos, os estrangeiros são nossos velhos amigos… Calou-se o último foguete e foram mudar de fato os músicos escarlates da aldeia. Viana, linda, deslumbrante de encantos, começa o toucado maravilhoso dos seus coloridos outonais: Viana a Bela, envolta em silêncio e na sua eterna beleza, seguindo o ditame daquele filósofo gaulês com todo o rigor e exactidão: sois belle e tais toi! Que saudades! Até ao ano.”

Page 163: Viana do Castelo
Page 164: Viana do Castelo

164

São João D’Arga No alto da serra, fica a capela dedicada a S. João d’Arga, também conhe-cida por Montanha Sagrada. Dão-lhe este nome porque, semeadas ao acaso, outros santos de devoção das gentes do Neiva e Vale do Lima, e os vestígios de anacoretas e ermitéri-os, os leva a afirmar como tal: Santa Justa, Senhora da Serra, Santo Aginha, Santo Antão e a capela de S. Paulo Eremita ou Santo do Chocalho, que, por ter um na mão, acredita-se ser o padroeiro dos leprosos, pois consta que era para aqui que se retiravam os doentes deste mal.

A sua imagem, de tão rústica e tão feia que é, deu origem ao dito popular: “Não te rias do santinho, que o teu mal vem pelo caminho”. Vários moste-iros beneditinos existiram, sendo o Mosteiro Máximo fundado no séc.VII, o mais antigo de que há memória. No local chamado Fonte dos Frades, existe ainda um cano de pedra, que vai até ao adro da capela, que conduzia a água para este convento, que se-gundo a tradição local, serviria para albergar frades castigados. A própria lenda da Serra d’Arga está repleta de segredos e enigmas, muitos relaciona-dos com este mosteiro Celebra-se esta festa em 29 de Agosto. Mantém esta romaria o aspecto típico de outrora, que se faz em grupos, pela serra acima a pé, por locais de difícil acesso, como diziam a cantar os ro-

meiros: “Ó meu Senhor S. João, Dai-me a mão pela janela, Que eu venho cansadinho, De subir a vossa serra.” Tem esta serra paisagem rude mas belíssima, onde se podem ver ainda cavalos bravos águias e açores. Não há programa das festas. No dia todos aparecem!

Partem os grupos com merendas e horas marca-das: os de Barroselas às 22h da noite do dia 27, os de Mazarefes às 23h e os de Nogueira e Santa Marta às 24h, atravessando sete serras para lá chegarem. O Santo, advogado contra males de toda a espécie, em especial de quistos, verrugas e doenças da pele, era pago em sal, que se car-rega às costas, por galinhas, cravos, e telhas que se forem roubadas melhor. Os que prometem ir em silêncio, e para que to-dos saibam, levam um cravo ou um raminho de oliveira trilhado nos dentes.

Ó meu rico S. João d’ArgaCasai-me, que bem podeis.

Já tenho teias de aranhaNaquilo que bem sabeis…

Cancioneiro Popular

Page 165: Viana do Castelo
Page 166: Viana do Castelo

166

Pelo caminho, passam pelo Penedo do Gatanhal ou do Casamento. É um grande penedo com uma cova no cimo, onde as raparigas solteiras lançam uma pedra. Se a pedra ficar no cimo, casam nesse ano, se não, têm de esperar tantos anos, quantas tentativas fizeram até acertar. Ao chegar, paga-se a promessa, dando três voltas à capela, entrando depois para “cumprimentar” o santo, através de uma cruz em madeira, com que os romeiros tocam no santo e depois beijam, pois S. João, está no altar-mor, num sítio onde eles não chegam.

Existe na capela uma imagem de S. Gabriel dego-lando o demónio, chamada erradamente de ima-gem do diabo, à qual dão também esmola. Dizem os romeiros: “que nem de mal com o santin-ho, nem com o demónio; por isso dá-se aos dois e assim não temos problemas”.

Há pessoas, que chegam com antecedência e acampam nas cercanias da capela, onde pela noite fora há concertinas a tocar ao desafio, mui-tos petiscos, e uma bebida que è uma mistura de bagaço e mel, que aquece a alma e entorta as per-nas aos foliões. É uma das romarias onde se mantém o que é genuíno e verdadeiramente popular.

21

Page 167: Viana do Castelo
Page 168: Viana do Castelo

168

Nossa Senhora do Minho Feiras Novas de Ponte de Lima Igreja situada na Chã Grande da Serra d’Arga, a 700 metros de altitude, com uma paisagem es-plendorosa. A devoção a Nossa Senhora da Con-ceição do Minho é relativamente recente. Surgiu devido à acção de dois sacerdotes de Pon-te de Lima, que desejavam erguer um cruzeiro no alto da serra. A imagem da Senhora do Minho tem a particu-laridade de estar vestida com traje à lavradeira..

Por altura do São Miguel, em Setembro realizam-se as “Feiras de Ponte”, como é costume chamar-lhe. Feira e festa, encerra o ciclo de romarias da Ribeira Lima. Continuam a tradição das “feiras velhas”, que se realizavam quinzenalmente por foral de D. Teresa, em 4 de Março de 1125. D. Pedro IV, por provisão régia de 5 de Maio de 1826, autoriza a realização de uma feira anual. A sua padroeira é Nossa Senhora das Dores e a festa dura três dias e três noites.

Foram evoluindo, mantendo contudo o teor genuíno popular e tradicio-nal de outros tempos. Tem como cenário o Rio Lima e o areal, onde ondas de gente se comprimem para viver o arraial. Há bandas de música por entre a gente, há ritmo e cor com as danças, des-garradas com cantares ao desafio, tocatas...

O ritmo das concertinas e cavaquinhos atraem qualquer um, e a cor dos fatos dos ranchos, enfeita ainda mais as ruas engalanadas. Todos se encon-tram nas tasquinhas, onde, entre petiscos e a verdadeira cozinha minhota, há um convívio são entre todas as classes sociais, não esquecendo o vinho verde tinto, bebido pela “maurguinha” (malga, tigela). Naturais e forasteiros sentem o ambiente, pois não podem ficar indiferen-tes ao que os rodeia. Nesta festa canta-se, bebe-se, dança-se, namora-se e sonha-se. É preciso ir às Feiras Novas, para “provar” as mais castiças festas populares do país.

Nossa Senhora do MinhoÀ vianesa vestida,Veste de lã e de linho,A nossa Mãe tão querida

Duas espigas de milho,Seguras na tua mão.Nossa Senhora do Minho,Abençoa o nosso pão

Do cimo da Serra d’ArgaTendes olhar maternal.Protegei o nosso MinhoCantinho de Portugal

Saúdas do teu altarCom um gesto de carinho,Quem a teus pés vem rezarNossa Senhora do Minho.

Se soubesses o que sãoAs Feiras Novas do Minho,Vinhas ver a tradiçãoE também dar ao pezinho.

22

Page 169: Viana do Castelo
Page 170: Viana do Castelo

Quem abala de VianaLeva no peito a Agonia;O Lima a correr no sangue,Nos olhos Santa Luzia.

Canioneiro Popular

Page 171: Viana do Castelo
Page 172: Viana do Castelo

170

Sou do Minho, sou do MinhoDe Viana natural.Quem não conhece Viana,Não conhece Portugal.

Não me ponha a mão na cinta,Não me suje a romaria:Quero rezar de alma limpaÀ Senhora d’Agonia.

Não me ponha a mão na cinta,De longe diga o que quer;Não perde você, que é homem,Perco eu que sou mulher.

Meu olhar é um passarinhoNum’agonia sem jeito:Só quer poisar o biquinhoNos biquinhos do teu peito.

Teus seios são limõezinhosNa Agonia a bailar;À noite já cansadinhos,Aos meus lábios vêm parar.

N’Agonia esses teus olhosLembram o bico de um gaio:Picam corações aos molhosComo cerejas de Maio.

Mordoma vela pela vela,Não a deixes apagar;Se a vela se vai à vela,Podes ficar por casar!

Menina da mordomia,Não sejas tão altaneira!Lembra-te bem que um diaJá te entrei p’la “bichaneira”!

Os olhos da minha sograSão duas sardinhas fritas;Em eu vendo o raio da velha,Té me revolvem as tripas.

O teu pai diz que não quer,Tua mãe diz que não gosta.Metam-te numa vidraça,Andem contigo de amostra.

Minha boca é uma rolinhaNuma agonia sem jeito,

Por querer dormir, coitadinha,C’o as rolinhas do teu peito.

Ó meu amor, se te viresNo tribunal das formosas,Apega-te ás trigueirinhas,

Que as brancas são enganosas.

Coitadinho de quem dormeÀ porta do seu amor;

Das pedras faz travesseiro,Das estrelas cobertor.

Quatro castanhas assadas,Duas pingas de água-pé,

Quatro beijos d’uma moça,Fazem pôr um velho a pé.

Eu mandei um passarinhoProcurar-te n’Agonia

Enganou-se coitadinho,Poisou na Virgem Maria!

Minha sogra tem um filhoQue parece um general;

Minha mãe tem-me a mim,Rainha de Portugal.

Tenho carta no correioAi, Jesus! De quem será?!

Se é do António não a queroSe é do José traga-a cá.

José amo, José quero,José trago no sentido.

Por causa de ti JoséTrago o meu sono perdido!

Por António dou a vida,Por José peixes do mar,

Por Manuel, a mim mesmaQue não tenho mais que dar.

Abaixa-te Serra d’ArgaDonde o penedo caiu;

Ninguém diga o que não sabe,Nem afirme o que não viu.

O povo, é alegre por natureza, e aqui no Alto-Minho não foge à regra, cri-ando quadras a propósito de tudo, algumas com certa malícia e brejeirice.

Page 173: Viana do Castelo

Meu rico São João d’ArgaOnde vos vieram pôr!No meio de duas serrasCom pinheiros ao redor.

Eu prendi o sol à lua,As campainhas ao sino,O meu coração ao teuCom correntes de ouro fino.

Hei-de deixar ao relentoUma folha de figueira,Se S. João a orvalharHei-de encontrar quem me queira.

As voltas que o linho dáAté chegar ao tear!Não são tantas como aquelasQue por ti me fazes dar!

Eu hei-de ir pendurar-meNo arco que tem a lua,Para ver o que o meu amorAnda a fazer pela rua!

Uns olhos negros bonitosDe luar sobre os cabelos

Lábios vermelhos, castiçosQuem me dera conhecê-los!

Sapato branco, bicudo, Não entra no meu quinteiro.

Que o meu pai é lavradorNão quer genro caloteiro.

Cantando VianaÒ minha Mãe, vem aí o gaiteiro,andam do vira os acordes no arjá enxergo o bombo e o tamborileiro...abra-me a porta que eu quero passar.

Tenho no canto da arcaminha chinela bordadap’ra que a quero, senão p’ra bailar?

Tenho uma saia de riscastecida no meu tear,A minha saia rodada,p’ra que a quero senão p’ra bailar?

Tenho camisa de foledo linho que eu quis fiar,Minha camisa enfolada,p’ra que a quero senão p’ra bailar?

Tenho dois lenços de coresque ainda ontem fui mercar,E o meu avental de flores?p’ra que os quero senão p’ra bailar?

Ó minha Mãe! Pela sua saúde!Que andam do vira os acordes no ar.

Maria Manuela Couto Viana - Romaria d’Agonia 1942

Page 174: Viana do Castelo

172

Quadrinhas de Agosto De Alma de Viana...Viana é bruxa: todos sabemQue, no chafariz da praça,Os fios de água são cordaQue prende o passo a quem passa.

Viana é frívola e vaidosa...Mas há desculpa talvez:Tem tanto sino a gabá-laE o rio sempre a seus pés!

Há festa rija em Viana,Crepitam socos... foguetes...E crepitam coraçõesDentro e fora dos coletes!

O lenço branco bordadoDe que a mordoma se ufana,Lembra-me as velas dos barcosSaindo a barra de Viana...

No riso aliciante dos “ferrinhos”que o eco , pelos caminhos,leva em estranhas toadas...Naquele tic tac harmonioso,compassado e harmonioso,das chinelinhas bordadas...

Nas vozes dos harmónios, alcateiaque leva aos cantos da aldeiaos domingueiros bons-dias...Nos cantares de timbre doce, argentino,dançando num desatinoem boda de sinfonias...

Na quente melopeia das violas,no sorrir das castanholasdiscreto e ameninado...No gargalhar vaidoso e divertido,do cavaquinho atrevidobrincalhão e agaiatado...

Viana escreve a lã:V-I-A-N-A, nos aventais.

Viana marca a fogo presoViana, na alma dos mortais!

Perdi um brinco em Viana:Que o guarde bem quem o tem...

Sem achá-lo, não abalo,E estou por cá muito bem.

Tem sete espadas no peito,Como a Virgem d’Agonia

Quem Deus casa com VianaE lhe diz adeus um dia...

Maria Emília de Vasconcelos

No meigo trinar da água das fontes,ou a balada que os montes

se não cansam de rezar...Naquele tom de festa que se aposta

subir a íngreme encostaboieiro carro a cantar...

Em tudo, enfim, que é graça e harmonia,por feitiço, por magia

sonho que em sonhos delira,Nasceu o rodopio apaixonante

do bailado alucinanteque tomou por nome: O VIRA!...

José Figueiras – Romarias Portuguesas

Page 175: Viana do Castelo

P’ra RomariaAnda comigo Maria,Ver as Festas d’Agonia,Esse animado arraial!Que maior não viste ainda;É a romaria mais lindaDas terras de Portugal.

Vais ver troféus e bandeiras,Descantes, danças, Zés Preiras,Uma alegria infinita.Faço questão que tu vás,A mais o nosso rapazVer a festa mais bonita.

Depois de Santa Luzia,Iremos ver a magiaDa paisagem surpreendente.As casas muito branquinhas,As remotas ermidinhas,O rio manso, dormente.

Dançaremos uma roda,Lembraremos nossa boda,Pois a vida é um sopro, é um ar!Quem vier que feche a porta,Depois de a gente estar mortaÉ que não pode folgar.

Vais, pois, comigo, MariaVer as Festas d’Agonia,Esse animado arraial!Que maior não viste ainda;É a romaria mais lindaDas terras de Portugal.

Francisco Silva – Os Meus Cantares

E o mar? A espuma parece,Que no seu ondular tece

De noiva o fino véu!E se vai de encontro à praia

À hora que o sol desmaiaConfunde-se com o Céu!

Verás como esse tratante,Numa loucura de amante

Que abrasa todos em desejos,Se lança à linda Princesa,Dando-lhe toda a pureza

Dos seus românticos beijos.

Vais ver o fogo do ar,A maravilha sem par,

Dum estranho encantamento:Tu vendo o espaço a arder,

Maria vais - te benzerCom tanto deslumbramento.

Page 176: Viana do Castelo

Uns olhos negros bonitosDe luar sobre os cabelosLábios vermelhos, castiçosQuem me dera conhecê-los!

Cancioneiro Popular

Page 177: Viana do Castelo
Page 178: Viana do Castelo

176

No Alto-Minho, o falar é muito característico, simples e cheio de expressões populares.

Com a troca do v pelo b, pela entoação, meio cantada, e com certas pala-vras, que lembram outras tais de origem galega, como: dês que, razon, sabedes, fermusura, e tantas outras, fazem-na muito própria e genuína..

Pessoas mais antigas, acrescentam o prefixo “a” às palavras como:alembrar, ajuntar, arrebentar, ou a letra l a outras, como, aquilho (aquilo), bilha (vila). É também muito empregue o sufixo eiro/eira:Milheiro - milho, «deita aí um milheiro às galinhas»Cisqueiro - cisco, poeira, «entrou-me um cisqueiro para o olho»Palheira - palha, «ainda não levantou uma palheira», quer dizer que não fez nada.Empregam-se também muito, os diminutivos: milhinho, binhinho (vinhinho).

Engraçados são certos termos muito em uso:À beira - junto; vem para a beira de mimAboado - intervalo entre duas chuvadas; vou a casa neste aboadinho.Adeus Viana que vou p’ro norte - exclamação de enfadoAdvertir - divertirAmeina-te - mexe-teAndar pelo beicinho - estar apaixonada/o.Aninhar - abaixarAviar - mexer

Borracheira - bebedeiraCabaneira - pessoa que fala da vida alheia.Cadrar - calhar; se cadrar, também vou.Caruma - gravalha Chegou e disse, pôs o chapéu e foi-se - se alguém dá uma opinião com sentidoChieira - vaidadeDeitar o barco ao rio - arranjar o primeiro namorado.Doutor da mula ruça, tira o chapéu põe a carapuça - expressão de desdémEnrodilhadeira - pessoa que arranja intriga.Fiquei como a noite - ficar triste.Fiquei que nem um cuco - estar contente.Frigir - fritarLevar o arco ao cruzeiro - é levar a noiva á igreja, no dia do casamento.Peleiro - cabeloPelo visto e pelos altos, andam as pulgas aos saltos - expressão de gozo, quando al-guém se arma “aos cucos”.Pôr a careca ao léu - contar segredos de alguémPrantado - parado; estás prantado a fazer o quê?Pró’mor - razão, motivo; agasalha-te, pro’mor do frio.Quando a calma cai - entardeceQue de - quantidade; Ih! Que de gente!Quem te fez que te ature - quando alguém está a aborrecerTalheiro - atalhoTer lei - ter respeito; tenho muita lei ao meu home.Topar - encontrar; topas os meus óculos?Trago a alma num sino - estou alegre.

Page 179: Viana do Castelo

Transcrição de uma passagem do romance «Transviados», de Francisco Pit-ta, em que um criado de lavoura, conta uma aventura, em puro linguarejar do Alto Minho:

«Quer atom oubir, tia Carlota, uma para si? Habia, na minha terra, um sítio, onde toda a gente tinha medo de passar, de noute, porque deziam qu’apar’cia lá a cousa má.

Pois eu, um dia, fiz uma aposta im como era capaz de ir lá sozinho, à meia-noute. E... Bai, lá me ponho a caminho - um bô lode (pau) na mão, dous alhos porros no borso e um terço ò pescoço. Berdade, berdade, lá munto assossegado da bida num ia eu, porque, reaurmente o sítio era munto feio – uns caminhos fundos e scuros, entre pinheiros e aquelipes, sirbados (silvados) enormes, onde nem caijo (quase) de dia pas-saba bib’aurma (alma).

Ora, ia eu seguindo, a assoviar, q’ando bejo, lá muito ao loins (longe) umas luzes. Pus-me a olhar prà’quilo e sempre me arrepiei um bocado. Mais (mas), tinha aposta-do e… claro, foi dezendo comigo: Pois bortar (voltar) pra trás é que num borto. E lá foi (fui) prá frente. Mais, ó som (maneira) qu’eu ia andando, as luzes apar’cium cada bez mais bibas e par’cia-me ber umas abantesmas munto negras, munto grandes, mesmo de pôrim medo. Bem q’ria continuar, mas bai, começum-me as pernas a tremer, a tremer, e é que num fui capaz. Pego, biro pra trás, mais inda fiquei mais tolo. Tinha dado meia dúzia de passos e ouço um barulho terrible, como dum vurro (burro) que fugisse a trote. Era o lobisome!, pensei c’os meus betões. E desbiei-me munto pra um canto, pró deixar passar.

E assim foi, ele lá passou, aquele burro preto e enorme! Nisto, oubi dar a meia- noute! Caramba! Que faz arrepiar os cavelos, isto de oubir dar a meia – noute, assim num sítio! Lá o lobisome inda era o menes (menos)...

Ele lá passou…Ia na figura dum vurro belho (velho), saurbo seja (salvo seja) com’ó vurro do Ti Bento Moleiro, que parece que num come há mais de um ano. Num m’importei munto. Já o tinha bisto e bem savia que s’a gente num se metesse co’ele num fazia mal.

Benho atom pra vaixo e, ó chigar a um regato, onde há uma presa chamada das Feiticeiras, bejo uma sere (série) de figuras brancas, c’um rapaz de barrete bermelho na cabeça e ouço uma grande balbúrdia de vozes, com palabras qu’eu num entendia. Reaurmente elas cá andum!

Num me assustei tamém (também); ia até pra passar, muito sorrateiro. Mais q’ando tal, o rapaz atrabessa-se-me na frente, elas fechum-me naquela roda e... Lá bou eu, no meio daquilo tudo, a pisar matos e sirbas, pró monte arriba. Bem sabia que, pra me ber libre daquela alhada, bastaba prenunciar o nome de Jasus, falar em cruzes ou auga-benta. Mais, lá eu m’alumbrava disso!

Lá ia eu aos tropegões, o pau nunca o larguei de mão! Ia sempre à mão, para mano-brar, se fosse preciso. Mais não! Elas nunca se chigaram a mim. Ora, íamos todos lá pró pico do monte, os penedos a impedir-nes a passage, a carreira a apertar-se munto, antre penedos e sirbas, qu’ando tal eu bou, atropeço numa pedra e lá se me sai esse nome vendito: Ai Jasus! E, minha tia Carlota, num te digo mais nada!... tudo botou somisso!»

Page 180: Viana do Castelo

Ó meu amor, quem te dissequ´eu a dormir suspiraba?Quem to disse num mintiu,que eu por ti suspiros daba.

Cancioneiro popular

Page 181: Viana do Castelo
Page 182: Viana do Castelo

182

Agradecimentos Muito mais havia a dizer sobre o carinho, o amor e a amizade que sinto por Viana e suas gentes, gentis como ninguém, que prontamente se disponibilizaram a ”mostrar-me” o que lhes estava na memória de outros tempos. Ao Professor Fernando Oliveira, percursor no acompanhamento de todo o projecto. Á minha mãe, pelo carinho respeitoso, dedicação e paciência, com que acompanhou cada passo deste projecto. Aos meus tios pela disponibilidade de me cederem o seu tempo, material e informa-ção. Aos tios Alfredo e Anabela, esta última, médica, e “Meia Senhora” no Rancho das Lavradeiras de Vila Franca do Lima, e ao mesmo grupo, devo agradecer terem-me cedido, cantares do Alto Minho. Ao Sr. Floriano Lima e D. Elvira grandes entusiastas da Festa das Rosas, explicações sobre a mesma, provérbios e ditos populares. Ao Grupo de Cantadeiras do Lima, através da recolha de antigos can-tares. Sra professora Doutora Maria Cecília moura da Silva (Professora de estatistica no ISEL). Joa-quim Rodrigues Ribeiro (Secretário Geral da Viana Festas). Manuel Freitas, Proprietário do Museu do Ouro em Viana.

A todos eles a minha sentida gratidão, por me terem ajudado a ver com outros olhos, uma região, amada por todos, e que cada vez mais sinto como minha. Não é de Viana quem quer! É preciso vivê-la, percorrer aqueles lugares, “beber” das águas do manso Rio Lima, para, como pensavam os romanos, esquecermo-nos, de toda a vida de correrias e sentirmo-nos acarinhados.Para melhor a conhecerem, é irem lá, e verem com os vossos olhos e coração, o que aqui vos mostrei.

APAREÇAM! QUE VIANA AGRADECE...

E eu também!

Page 183: Viana do Castelo
Page 184: Viana do Castelo

184

Resumo Cultura Visual No âmbito do estudo da cidade de Viana do Caste-lo e seu distrito, situado no Alto Minho, a área de in-vestigação para fundamentar o meu projecto, cinge-se à sua Origem, História, Tradições, ao Folclore, rico em cor e único no País e às festas e romarias.

O nosso País é rico em História e tradições, que por vezes se vão desvanecendo na memória, em-bora, pessoas dedicadas a mantenham, trans-mitindo-as às novas gerações.

O principal objectivo deste projecto, estará assen-te também, nesse combate ao esquecimento, prin-cipalmente aos que ainda apreciam as suas raízes.

Cultura visual é tudo aquilo que nos rodeia. Quase tudo do pouco que sabemos sobre o con-hecimento, chega-nos através dos meios de infor-mação e comunicação. Estes, constroem imagens do mundo, que por sua vez definem a nossa cul-tura visual.

Page 185: Viana do Castelo

Viana do Castelo - Símbolo de cultura visual O Porquê do Projecto e sua importância Os elementos mais importantes para o desen-volvimento deste projecto, são a Cidade de Vi-ana do Castelo, a sua Cultura e Tradições.

A Cidade, é caracterizada pelas festas, e pelas tradições que conseguiu manter preservadas até aos dias de hoje.O Folclore, as Romarias, o artesanato, são elemen-tos que distinguem a cidade, e a tornam única.

A sua cultura, o ouro, os trajes, o centro Históri-co, são elementos que tornam a Cidade um Sím-bolo da Cultura Portuguesa.

Como foi referido anteriormente, Portugal é um País rico em Cultura. São as tradições do povo, que marcam a a História de um País. Contudo, existem cidades e locais, onde estes elementos vão desaparecendo, muitas vezes por causa de pessoas que não se interessam pelo nosso passado, pela origem das coisas.

Com o envelhecer da População, há hábitos que se perdem, há Histórias que se apagam, e com elas vai o que caracteriza o nosso país. Não existe a vontade de querer conhecer, nem de explorar o que é nosso.

No entanto, a Cidade de Viana, conseguiu, até aos dias de hoje manter os traços mais importantes da sua Cultura, e transmitir aos habitantes mais novos, os hábitos e costumes do passado.

Com isto, o objectivo deste projecto tende a contrariar este desvanecimen-to de uma das mais importantes Culturas Portuguesas, tentando mantê-la viva aos olhos de todos.

Em suma, a criação deste projecto vai ser um factor importante para a divulgação e enaltecimento da Cidade de Viana do Castelo, tanto para os próprios habitantes, como para a dar a conhecer aos Portugueses.

Page 186: Viana do Castelo

186

Viana do Castelo - Origem

A sua origem data da Pré-História, com grupos Nómadas de caçadores a frequentá-la, assistiu mais tarde, na Idade do ferro, às primeiras comuni-dades agro-pastoris, que se instalaram e se dedicaram também à pesca e ao comércio com a Galiza. Contudo, é no Reinado de D. Manuel I, no início do Século XVI, que Viana se desenvolve, quer a nível comercial, quer socialmente, devido à sua prox-imidade com o Oceano, onde teve grande importância a construção e inter-câmbio de mercadorias entre esta Cidade e Países como Inglaterra e o Brasil.

Na cidade, são de extrema importância duas vertentes; uma que retrata a estrutura social dos seus habitantes, a outra, a vivência de outras eras e as tradições mantidas. Falar de Viana do Castelo é falar do Minho e da sua estrutura social que se reflectiu na formação das linhagens a que deram origem, e que entroncam em algumas das mais antigas e poderosas famílias Portuguesas, de grande influência na vida política e social, no início da nossa Nacionalidade.

A essência desta cidade está na Agricultura, no Comércio, na Indústria e no Turismo. O Património, a História, as Tradições, a Gastronomia, as festas, fazem da cidade um potencial ponto de Turismo. O seu reconhecimento Internacional, pela distinção como Capital do folclo-re Português.

Em todas as ruas e vielas se respira História, e onde convivem estilos Clás-sicos e Arte Nova. Foi das poucas Cidades que conseguiu manter o seu centro Histórico preservado, mantendo o seu traço inicial.

Com o passar dos anos e das transformações tecnológicas, alguns dos cos-tumes do dia-a-dia foram desaparecendo, ficando na memória e nos cos-tumes das suas gentes. No entanto, as Tradições, a Cultura, o Regionalismo e a História, são passados aos mais novos.

O projecto apresentado tem como principal objectivo dar a conhecer a Cidade, demonstrar a sua importância Cultural e Histórica, incentivando o Turismo na Região.

O levantamento dos dados está baseado na pesquisa bibliográfica, na con-sulta de documentos Históricos e através de depoimentos orais de habitan-tes locais.

Page 187: Viana do Castelo

Projecto - “Livro Viana”

O emissor do projecto, será uma peça editorial, um livro e packaging. Está será a principal referência para a divulgação da Cidade de Viana do Castelo.

A origem do livro e do seu nome está directamente relacionado com tudo o que envolve a Cidade e o seu distrito. A História e a Cultura de um Povo, são a chave para o desenvolvimento do mesmo, pois são estes os traços que marcam a Cidade.

Será dividido por capítulos, nos quais estarão os elementos mais importantes, tanto da Cidade antiga, como da dos dias de hoje. Origem, História, Pat-rimónio, Festas Tradicionais, Lendas, Tradições e Superstições, Trajes, Gas-tronomia, Ouro Vianês, Artesanato, Cancioneiro Popular e Regionalismos.

Serão utilizadas 4 cores no projecto, estas irão ser baseadas nas cores tradi-cionais da Cidade. O Azul, das loiças e artesanato, O Amarelo, do ouro, o Vermelho, dos bordados, e o Preto, dos trajes.

A Tipografia utilizada para o texto, a font Goudy Old Style, para os Títulos, a Font Cochin, com alterações. Os títulos dos Capítulos estão personaliza-dos conforme o nome dos mesmos, e por elementos alusivos à Cidade e ao capítulo em questão. O final de cada capítulo é encerrado com uma quadra Regional alusiva ao tema.

O Livro contará ainda com um packaging, um saco em linho branco, bordado a ponto de cruz vermelho, simbolizando o comércio de Artesanato da Cidade.

“Viana”, será o nome pelo qual tudo o que está relacionado com a região de Viana do Castelo, será divulgado, numa tentativa de apelar ao Turismo da Cidade, e cativar o interesse de todos. Mostrando a importância das Culturas e Tradições do nosso País.

Page 188: Viana do Castelo

188

BibliografiaPAÇO, Afonso de. (1994) - Etnografia Vianesa, Viana do Castelo. (1925) - Notas do Folclorismo Minhoto. Lisboa, Revista Lusitana.

COELHO, Adolfo. (1993) - Festas, Costumes e outros materiais para uma etnologia de Portugal, Vol. I. Lisboa: Publicações D.Quixote.

VASCONCELOS, Maria Emilia Sena de. (1984) - Sobre os trajes do Minho e da Galiza. In Actas del II Colóquio Galaico-Minhoto, II. Compostela.

SAMPAIO, Francisco (1986) - Alto Minho - Região de Turismo. Viana do Castelo.

ESCALEIRA, José e LOUREIRO, José Carlos. (2001) - Feiras e Mercados de Viana, GDCTENVC. (1997) - Viana: Cidade e Circunstância. Viana do Castelo.

FERNANDES, Francisco José Carneiro. (1999) -Tesouros de Viana. Viana do Castelo

GONÇALVES, Albertino, MARTINS, Moisés e PIRES Helena. (2000) - A Romaria da Senhora da Ago-nia, GDCTENVC. Viana do Castelo.

CARVALHO, António. (2001) - Viana do Castelo Século XX. Viana.

MACEDO, Maria de Fátima. (1993) - Raízes do ouro Popular, no Noroeste Português, Porto.

VIANA, António Manuel Couto. (2002) - Lendas do Vale do Lima, Ponte de Lima.

RIOS, Euclides. (2003) - Quadras e contos da Agonia. Viana Festas.

VIEIRA, Carlindo. (1984) - Barqueiros do Lima. Viana do Castelo.

SAMPAIO, Gonçalo. (1944) - Cancioneiro Minhoto, 2ª Edição. Livraria Educação Nacional, Porto.

Page 189: Viana do Castelo

COUTINHO, Artur. (1997) - Mosaicos da Serra D’arga. Viana do Castelo.

MALAFAIA, Dores. (2006) - Feiras Novas Meus Amores. Ponte de Lima.

Catálogo do Museu Municipal e do Traje de Viana do Castelo, 2005.Brochura da Festa do Traje

Martins, Moisés Lemos, Meira, Gonçalo F. (2004) - Os Estaleiros Navais e a sociedade Vianense, GDC-TENVC.

IPPAR. (1993) - Património Arquitectónico e Arqueológico. Lisboa.

Moreira, Manuel António Fernandes. (1985) - O Município e os Forais de Viana do Castelo, Braga.

Pereira, Manuel Delfim (2007) - Memórias do Nosso Povo. Barroselas.

Abreu, Alberto A. (2001) - Auto da Floripes.Viana do Castelo.

Junta da Freguesia das Neves (2008) - Festa das Neves 1 a 6 Agosto 2008. Viana do Castelo.

Coutinho, Artur (1998) - A Cidade de Viana no Presente e no Passado. Viana do Castelo.

Pitta, Francisco. (1987) - Lendas e Tradições do Alto Minho. Viana do Castelo. (1987) - Barqueiros do Lima. Viana do Castelo.

D’Alpuim, Maria Augusta e Vasconcelos, Maria Emilia (1983) - Casas de Viana Antiga. Viana do Castelo.

Basteo, Cláudio. (1991) - Traje à Vianesa. Viana do Castelo.

Câmara Municipal de Viana do Castelo - Os Bordados de Viana do Castelo. Viana do Castelo, 2005.

Page 190: Viana do Castelo

190

Notas Bibliográficas1. Manuel António Fernandes Moreira, “O Município e Os Forais de Viana do Castelo”, 1986, pp. 235-2412. Manuel António Fernandes Moreira, “O Município e Os Forais de Viana do Castelo”, 1986, p. 2613. GPCTENVC, “Viana: Cidade e circunstância”, 1997, pp. 29.4. António Carvalho, “Viana do Castelo Século XX”, 2001, pp. 8-10.5. Maria Augusta d’Alpuim e Maria Emilia Vasconcelos, “Casas de Viana Antiga”, 1983, pp. 20-246. Declaração oral Manuel Freitas, Conhecedor do Ouro Português7. Moisés Martins, Albertino Gonçalves e Helena Pires, “A Romaria da Senhora da Agonia - Vida e Memória da cidade de Viana”, 2000, p. 668. Francisco Samapaio, “Programa da festa do Traje”, 20089. Idem 810. Idem 8.11. GPCTENVC, “Viana: Cidade e circunstância”, 1997, pp 133.12. Declaração oral de Manuel Freitas, Conhecedor do Ouro Português.13. Programa das Festas, 198614. Manuel Delfim Pereira, “Memórias do Nosso Povo: Para Uma Etnografia do Vale do Neiva”, 2007.15. Grupo de Cantadeiras do Vale do Neiva16. Luís Alberto Dias Franco, “Auto de Floripes”, 200917. Alberto A. Abreu, “Auto da Floripes”, 2001, pp 13 - 2518. Comissão das Festas de Nossa Senhora das neves, “Festas das Neves - A Romaria das Três Fregue-sia”, 200819. Declarações orais Sr. Floriano Lima, Grupo de Lavradeiras de vila Franca do Lima e ARVF.20. Moisés Martins, Albertino Gonçalves e Helena Pires, “A Romaria da Senhora da Agonia - Vida e Memória da cidade de Viana”, 2000, p. 21 - 2321. Artur Coutinho, “Mosaicos da Serra D’Arga”, 1997.22. Declarações orais Passadas por Familiares

Page 191: Viana do Castelo