Vida Do Arquiteto Gaudí

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Arquivo contendo pesquisas na internet da vida de Gaudí e período histórico em que viveu

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  • 044.03ano 04, jan. 2004

    Gaud e a sntese naturalista do sagrado (1) Fbio Mller

    A cincia aprende-se com princpios e a arte com exemplos. Em lugar de consultar os

    catlogos de formas mumificadas () procedia a uma reviso da plstica e da esttica dos estilos arquitetnicos, assinalando os erros (estruturais nos antigos, e artsticos no gtico) extraindo, no entanto, o sentido da composio e a modulao peculiar, e assim pude faz-los evoluir no sentido moderno e valer-me de uma liberdade e um acento pessoal

    Antoni Gaud Preldio O arquiteto catalo Antoni Gaud ocupa posio sui generis no cenrio arquitetnico da

    primeira modernidade pela sntese poderosamente cerebral e emocional, ao mesmo tempo equilibrada e visionria, que exala de suas obras. No estilo altamente pessoal inimitvel e inclassificvel esto condensadas, retrabalhadas e intensificadas as questes de fundo e de forma levantadas ou experimentadas a partir de meados do sculo XIX, na busca da imagem e da representatividade necessrias ao tradicional programa do templo cristo no dessacralizado sculo XX.

    Nos dois edifcios sacros que projetou e construiu parcialmente a Igreja Expiatria da Sagrada Famlia (i. 1883), em Barcelona, e a Capela na Colnia Gell (1898-1916), em Santa Coloma de Cervell, perto de Barcelona esto tanto a admitida influncia do racionalismo estrutural de Viollet-le-Duc, substanciada por original reavaliao estilstica do gtico, no uso naturalista dos novos materiais e na explorao emptica das formas sugerida por Ruskin (2), quanto o acerto romntico da verticalidade das igrejas medievais, enquanto figurao mxima do ideal religioso, algo onipresente no imaginrio popular.

    preciso que, s vezes, os sonhos rebentem, talvez pensasse Gaud, e essas duas obras, cada a sua maneira, evidenciam isso claramente, como sustenta mesmo breve anlise.

    Sagrada Famlia - obsessiva sinfonia inacabada A notvel Igreja da Sagrada Famlia sinfonia inacabada , uma das sonatas maiores da

    cidade de Barcelona, destacando-se na paisagem pela plstica irreparvel e pela fora imagtica das quatro torres suspensas, verticalmente, na silhueta urbana da capital catal. O trabalho, ao qual Gaud dedicara-se com obsesso nos ltimos anos de vida, iniciou em 1883, quando aceitou o encargo de prosseguir o projeto neogtico, j em construo, feito pelo arquiteto Francisco de Paula Villar. Seguiu sem interrupes at 1914, reiniciando em 1919, aps a primeira Guerra Mundial, mas ficou inconcluso com o falecimento de Gaud em 1926, embora prossiga, lentamente, desde ento.

    A parte mais importante que pde terminar, a elevao lateral do transepto chamada Nascimento (ou Natividade), foi projetada e construda, em grande parte, entre 1893 e 1904. Nela, Gaud rompe, drasticamente, tanto com a cripta neogtica construda por Villar, quanto com a prpria direo tomada na execuo da cabeceira da igreja. A elevao apresenta duas faces distintas: a voltada para a rua tem os portais de acesso em disposio genericamente gtica e est parcialmente povoada de esculturas, enquanto o restante do plano parietal tem carter floral e abstrato sumamente original, que pela escala e pelo aspecto massivo, tridimensional, transcende a gramtica Art Nouveau; a outra, voltada ao interior do templo, mais audaz e revolucionria, mesclando geometria e arquitetura em estruturalismo gtico, de formas empticas. As quatro torres-campanrio, que tornam muito conhecida e admirada essa fachada as duas centrais mais altas que as duas laterais expressam a mesma nfase simblica do gtico, na desproporo vertical em relao altura do corpo do transepto que, todavia, tambm restou inconcluso.

    Importante considerar que a feio naturalista da obra explica-se menos pela via do Art Nouveau europeu, do que pela busca romntica do fantstico e do onrico, aliado ao desejo de reviver aspectos da tradio construtiva catal e mediterrnea, prprias do estilo maduro de Gaud (3). Isso se exemplifica pela inspirao formal das torres, provinda de certas construes nativas que Gaud parece ter visto na frica, assim como pelos arremates fantasiosamente plsticos de

  • superfcies multiplanas e policromas da parte superior, diferente de tudo o que Horta ou Guimard j tinham feito, ou algum dia viriam a fazer, na Blgica ou na Frana.

    Por outro lado, a reinterpretao das formas gticas, usando a tecnologia moderna para superar as conquistas dos construtores medievais, reclamada por Viollet-le-Duc, comea a ser ensaiada na obra da Sagrada Famlia pela aplicao feita por Gaud do arco parablico, estrutura um tanto mais complexa que o tradicional arcobotante e sem precedentes na histria da arquitetura, a qual ele experimenta aqui, mas desenvolve, em pleno sentido mecnico e esttico, na Capela Gell. Isso porque, na Sagrada Famlia, o mpeto estrutural relegado em favor da criao de um monumento repleto de referncias tradio catal e passional religiosidade do povo e do prprio Gaud uma imagem-smbolo da fabulosa casa divina na Terra, da igreja como uma rocha, de Pedro, o apstolo, e da Montanha Sagrada, posterior, dos expressionistas.

    Mesmo no tendo sido concluda, o estado atingido to latente de significado mstico e carga emocional ao ponto de Hitchcock apontar que a Sagrada Famlia provavelmente seja o monumento religioso mais importante dos ltimos cem anos (4), transcendendo toda a arquitetura sacra ligeiramente anterior que a seu lado, um exemplo de neogtico monumental to afvel como a Catedral de Liverpool comeada por Giles Gilbert Scott em 1903, carece de vitalidade e originalidade de expresso, ainda que no de nobreza de escala (5).

    Capela Gell trunfo mecnico-naturalista Afirmava Gaud que todo o estilo havia nascido em torno do templo e que toda a nova arte

    deveria fazer o mesmo. Partindo das conquistas formais e estruturais que fazia na Sagrada Famlia, de 1898 em diante, o arquiteto catalo passaria a conceber aquela que seria sua obra eclesistica mais significativa do ponto de vista litrgico, ao mesmo tempo que arquitetonicamente revolucionria, pelo original aporte mecnico-estrutural, paradigmtico para muitos arquitetos no sculo XX: o encargo que recebeu para construir um templo na colnia txtil de propriedade do industrial Eusbio Gell. Iniciado em 1908, quando terminados apenas a cripta e o trio, em 1914, os trabalhos comearam a elanguescer, tanto pela decadncia econmica de Gell, quanto pela carga voraz de trabalho que representava a obra da Sagrada Famlia. No entanto, como possvel apreender dos expressivos desenhos que ainda se conservam, se a capela tivesse sido inteiramente construda, seguramente representaria sntese mais substancial do pensamento gaudiniano que a Sagrada Famlia, com a qual guarda relao simblica, mas avana no sentido funcional e construtivo estrutural.

    O templo foi pensado enquanto composio de espao principal de assemblia, ungido a uma cripta semi-enterrada, a ocupar o cume de uma colina, algo isolada do ncleo de habitaes e das fbricas que formavam a colnia. grande massa do templo chegar-se-ia atravs de um caminho sinuoso, proporcionando vistas diversificadas do edifcio, que estaria colorido em diferentes tons de azul, roxo e verde; elevado sobre as copas das rvores do bosque circundante e dominante sobre as chamins da fbricas, o templo deveria figurar como smbolo mximo do conjunto caput mundi, local social de reunio e vida tal como as catedrais gticas, ou a Stadtkrone, proposta por Bruno Taut anos mais tarde, nos escritos visionrios da passagem dos anos 10 para os anos 20.

    Configurativamente, a cripta raz do conjunto monumental , ovide irregular formada por espao central, definido por quatro suportes inclinados de grande espessura, terminado em parede absidal e circundado por deambulatrio. Dessa ordenao, intui-se o desejo de Gaud de que o espao fosse lido desde um centro, algo que, na realidade, a geometria naturalista no permite, assim como qualquer intento de regularidade, tambm, fica relativizado pelas paredes inclinadas, pelos suportes heterogneos e pelas incomuns tomadas de luz. No entanto, a articulao, aparentemente desordenada, dada pela irregularidade geomtrica do espao, nada tem de aleatria como um grande organismo que se ajusta at encontrar posio mais favorvel e onde, como na mquina vital, cada parte preenche no apenas um espao, como desempenha uma funo importante. Por exemplo, o prtico exterior constri-se por onze colunas de formas e texturas dspares que arrancam, inclinadamente, do solo, como se dele buscassem, poderosamente, desvelar-se.

    Necessrio compreender, para assimilar a singularidade do espao da cripta e todas as inovaes com ela inauguradas, que para Gaud, a essa altura, no mais interessava a geometria cartesiana, mas uma que seguisse lei natural, mecnica; ao mesmo tempo, importante dar-se conta de que Gaud considerava superiores as formas puras s hbridas. Sem que isso represente paradoxo, no eram as formas platnicas as que passara a explorar em sua arquitetura, mas as

  • curvas que, simultaneamente plstica, resolviam as exigncias da gravidade e no aquelas arbitrrias, sem derivao geomtrica, apenas ao sabor esttico, em voga, internacionalmente, anos mais tarde. Essas eram as formas puras, para Gaud.

    Tal foi o fundamento que o permitiu materializar as preocupaes racionalistas de Viollet-le-Duc em um sistema construtivo que, seguindo as linhas naturais de fora, resolvesse as presses horizontais da estrutura e, solucionando, assim, os problemas de carga, eliminasse os arcobotantes, em favor de suportes oblquos e arcos parablicos, do que exemplo magistral a cripta da Capela Gell. Admitido que Gaud evitou toda deciso sistemtica (6), assim como nada h de aleatrio no conjunto, conclui-se que seu mtodo processo inteligentemente emprico, que se utiliza tanto do clculo matemtico, quanto da intuio e da experincia construtiva, para ser (r)evolucionrio.

    Alm da resoluo estrutural brilhante, sinal da prodigiosa capacidade de projetista e construtor, a religiosidade ardorosa, quase mstica, de Gaud, lega expressivas chaves simblicas na representao do templo. Nesse sentido, a cripta semi-enterrada pode ser lida enquanto representao da caverna crist primitiva ou como figurao, quase literal, das razes que unem a terra ao universo, ou que prendem aqui o homem, na busca incessante pelo paraso. Se o espao no est escavado na colina, como era de se imaginar, porque Gaud no imita, diretamente, a natureza; como Ruskin, parece interrogar pelas formas e razes internas que a originam e, escutando as respostas, traduz seu sentido geometricamente livre em colunas inclinadas e retorcidas, e em arcobotantes e abbadas aparentemente desordenadas ao senso clssico, brutalmente materializadas, quase ao acaso, pela liberdade de talhe dada ao operrio que as edifica.

    Legado para a posteridade Bem como afirma Ochs, Tais obras no so criadoras de um estilo, mas libertadoras. Gaud

    nos livra da monotonia dos imitadores, dos sem-idias que obstruam o horizonte (7). Sua abordagem indita guarda relao com as obras eclesisticas do esloveno Josef Plecnik, pelo fervor religioso e furor mstico na definio de linguagem ao mesmo tempo pessoal e tradicional, assim como, pela justeza entre smbolo e estrutura, sintetiza experincias e aponta caminhos paradigmticos posteridade, exercendo forte influncia desde os expressionistas alemes, passando por Le Corbusier, Aalto e Michelucci, at chegar Amrica Latina, especialmente nos notveis trabalhos de Candela, no Mxico, Dieste, no Uruguai, e Niemeyer, no Brasil.

    Notas 1 Excerto do trabalho O templo cristo na modernidade: permanncias simblicas e conquistas figurativas; indito. 2 John Ruskin antecipou em seus textos o valor do geometricamente anmalo na vinculao do trabalho manual, necessariamente imperfeito, natureza. 3 Como explicita FRAMPTON, Kenneth. Histria Crtica da Arquitetura Moderna. So Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 69, Os escritos de Viollet-le-Duc, Ruskin e Richard Wagner foram parte do cabedal cultural adotado por Gaud. parte essas influncias extramediterrnicas, sua obra parece ter-se originado de dois impulsos um tanto antitticos: o desejo de reviver a arquitetura indgena e a compulso de criar formas totalmente novas de expresso. 4 HITCHCOCK, Henry-Russel. Arquitectura de los siglos XIX y XX. Madrid: Ediciones Ctedra, 1993, p. 437. 5 Idem.

  • 6 Assinala GIL, Paloma. El Templo del Siglo XX. Barcelona: Ediciones del Serbal, 1999, p. 190, ratificando Carlos Flores, que uma pessoa enamorada da ordem natural como Gaud devia considerar inadmissveis os delineamentos estruturais tacitamente aprovados desde a antigidade, nos quais as tendncias naturais viam-se de certo modo contrariadas. 7 OCHS, Madeleine. Uma Arte Sacra para nosso Tempo. So Paulo: Flamboyant, 1960, p. 58. Sobre o Autor Arquiteto e urbanista, professor das reas de Teoria e Histria e Projeto de Arquitetura na ULBRA Santa Maria/RS e na URI Santiago/RS.

    http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.044/619

  • Antoni Gaudi i Cornet Arquitecto espanhol de finais do sc.19 e princpios do sc. 20. Nasceu em Reus, Catalunha,

    Espanha, em 25 de Junho de 1852; morreu em Barcelona, em 10 de Junho de 1926. Arquitecto cujo estilo distinto se caracteriza pela liberdade de forma, cor e texturas voluptuosas e na

    unidade orgnica, Gaud trabalhou quase sempre em Barcelona ou nos seus arredores. Grande parte da sua carreira foi ocupada com a construo do Templo Expiatrio da Sagrada Famlia, que ainda no estava concludo quando morreu.

    Gaud nasceu numa localidade costeira da Catalunha. De origens humildes, era filho de um latoeiro que iria viver com ele no fim da vida acompanhado de uma sobrinha, nunca tendo casado. Mostrou desde cedo interesse pela arquitectura, tendo ido estudar em 1869 para Barcelona, ento o centro poltico e intelectual da Catalunha, sendo tambm a cidade a mais moderna de Espanha. S acabou o curso oito anos mais tarde, tendo os estudos sido interrompidos pelo servio militar e outras actividades intermitentes.

    O estilo de Gaud atravessou diversas fases. Quando saiu da escola provincial de arquitectura de Barcelona, em 1878, comeou a projectar de acordo com um estilo Vitoriano bastante florido, que j era evidente nos seus projectos escolares, mas desenvolveu rapidamente uma maneira de compor por meio de justaposies de massas geomtricas, at a nunca usadas, cujas superfcies eram animadas com pedra ou tijolo modelado, painis cermicos de cores vivas, e estruturas de metal utilizando motivos florais ou repteis. O efeito geral, embora os detalhes no o sejam, Mourisco - ou Mudjar, como a mistura especial da arte muulmana com a crist conhecida em Espanha. Os exemplos de seu estilo Mudjar so a Casa Vicens, de 1878-80, e El Capricho construda entre 1883 e 1885, assim como a Propriedade e o Palcio de Gell, de finais dos anos 80 do sculo XIX. Todas as obras, excepto o El Capricho esto localizadas em Barcelona. Mais tarde, Gaud experimentou as possibilidades dinmicas de vrios estilos arquitectnicos: o gtico no Palcio Episcopal de Astorga, obra realizada entre 1887 e 1893, e na Casa de los Botines em Leo, construda entre 1892 e 1894; o barroco na Casa Calvet em Barcelona (1898-1904). Mas aps 1902 os seus projectos deixam de poder ser atribudos a um estilo arquitectnico convencional.

    excepo de alguns edifcios em que clara representao simblica da natureza ou da religio, os edifcios de Gaud transformaram-se em representaes da sua estrutura e dos materiais que os constituem. Na sua Vila Bell Esguard, de 1900-02, e no Parque de Gell, de 1900 a 1914, em Barcelona, e na igreja da Colonia Gell (1898 - c. 1915), a sul daquela cidade, chegou a um tipo de estrutura que veio ser chamada equilibrada - isto , uma estrutura projectada para se apoiar sobre si prpria sem apoios internos ou suportes externos - ou, como Gaud afirmava, exactamente como uma rvore se ergue. Gaud aplicou seu sistema equilibrado a dois edifcios de apartamentos de vrios andares edificados em Barcelona: a Casa Batll, de 1904-06, uma renovao que incorporou novos elementos equilibrados, sobretudo a fachada; e a Casa Mil (1905-10). Como era frequente nele, projectou os dois edifcios, tanto nas suas formas com nas superfcies, como metforas do carcter montanhoso e martimo da Catalunha.

    Arquitecto admirado, mesmo que considerado um pouco excntrico, Gaud foi um participante

    importante na Renascena catal, um movimento artstico revivalista das artes e dos ofcios que se combinou

    com um movimento poltico de feies nacionalistas que se baseava num fervoroso anti-castelhanismo.

    Ambos os movimentos procuraram restabelecer um tipo de vida na Catalunha que tinha sido suprimido pelo

    governo centralista de Madrid, ao longo do sculo XVIII e XIX. O smbolo religioso da Renascena em

    Barcelona era a igreja da Sagrada Famlia, um projecto que ocupou Gaud durante toda a sua carreira.

    Contratado para construir a igreja desde 1883, no viveu para a ver terminada. Ao trabalhar nela tornou-se cada vez mais religioso, e aps 1910 passou a trabalhar quase exclusivamente na construo da Igreja, tendo mesmo passado a residir nos estaleiros. Aos 75 anos, foi atropelado por um trolley-car, tendo morrido dos ferimentos.

    Ignorado durante os anos 20 e 30 do sculo XX, quando o estilo internacional era o estilo arquitectnico dominante, foi redescoberto nos anos 60, sendo reverenciado tanto por profissionais como pelo pblico em geral, devido sua imaginao transbordante. A avaliao do trabalho arquitectnico de Gaud notvel pela sua escala de formas, texturas, e policromia, e pela maneira livre e expressiva como estes elementos da sua arte se conjugam. A geometria complexa de um edifcio de Gaud coincide com a sua estrutura arquitectnica em que o todo, incluindo a sua fachada, d aparncia de ser um objecto natural conformando-se completamente com as leis da natureza. Tal sentido da unidade total informou tambm a vida de Gaud, j que a sua vida pessoal e profissional eram indistinguveis.

  • Fontes: Enciclopdia Britnica Internet: Gaud 2002 - Espao oficial das comemoraes do 150. aniversrio do nascimento de Antoni Gaud, da responsabilidade da Generalitat de Catalunya e do Ajuntament de Barcelona, em ingls, castelhano, catalo e japons. Gaud Central - Espao de um antigo estudante da universidade da Pennsylvania, criado em

    1997 e terminado em 1998.

    http://www.arqnet.pt/portal/biografias/gaudi.html

  • Antoni Gaud arquiteto catalo Mal Carvalho

    So tantas as exuberantes obras, que fica difcil saber por onde comear a falar desse grande arquiteto. Smbolo de Barcelona, Antoni Placid Gaud i Cornet, ou simplesmente Gaud, destacou-se por sua forma autntica de criar. Quem nunca ouviu falar da Sagrada Famlia? Quem nunca quis visitar o Parque Gell, ao saber das maravilhas que o esperavam?

    Gaud nasceu em 25 de junho de 1952, na provncia de Tarragona, e faleceu em 10 de junho de 1926, aos 73 anos. Arquiteto catalo, passou a maior parte da sua vida em Barcelona. Estudou arquitetura na "Escuela Superior de Arquitectura de Barcelona", e ainda estudando, comeou a trabalhar para ajudar seu pai a pagar o seus estudos. Com o fim dos seus estudos, que muitos dizem ter tardado para acontecer, Gaud comeou a realizar obras cada vez maiores e significativas.

    Na sua primeira fase, ele foi influenciado pelo arquiteto francs Eugene Vollete-le-Duc, com o estilo marcante gtico. Depois, ao conhecer o seu futuro parceiro e cliente de obras, Eusebio Gell, a quem dedicou vrias obras, ele comea a mostrar os princpios e tcnicas da arte nova. Ao concretizar-se no ramo da arquitetura, adotou um estilo prprio, alm de criar sua marca: um arco parablico catenrio. Uniu vrias tendncias e as resumiu em formas fantsticas e estruturas complexas.

    Dentre suas vrias obras, a maioria se encontra em Barcelona. As mais conhecidas s a Casa Batll, assim chamada porque era de prioridade do industrial emergente Josep Batll, que contratou o arquiteto Gaud para reformar um prdio j existente; Casa Mil (La Pedrera), com um estilo prprio e diferenciado; Parque Gell, considerado pela UNESCO um Patrimnio Mundial; e a mais exuberante de todas, a Sagrada Famlia, ainda no conluda. Grande parte de sua vida foi dedica construo dessa igreja. Dizem que ela s ser terminada em 2030, passando ainda por algumas geraes.

    O fim de sua carreira se deu aos 73 anos, vtima de um atropelamento por um bonde. Devido aos seus trajes simples, muitos acreditavam que se tratava de um mendigo, assim, ele foi levado a um hospital para pobres. Somente depois, reconhecido por amigos, foi transferido para um quarto particular. Apesar das tentativas, ele no resistiu aos ferimentos e faleceu trs dias depois. Seu corpo foi enterrado em um cripta na igreja da Sagrada Famlia.

    Desse modo, percebe-se que dedicou sua vida arquitetura, mantendo-se solteiro por toda ela. O ano de 2002, no 150 ano de nascimento do arquiteto catalo, foi escolhido para celebrar o Ano Internacional Gaud. Houve exposies, conferncias, novidades editoriais, visitas monitoradas,

    espetculos em locais gaudianos, sries de desenhos animados, peas de teatro, pera, ou seja, um verdadeiro caldeiro de cultura em homenagem a esse grande artista. Atualmente, est em andamento o seu processo de beatificao no Vaticano.

    Ano aps ano, suas obras continuam sendo o centro das atenes da grande Barcelona. A pergunta no : "Quem nunca ouviu falar da Sagrada Famlia? Quem nunca quis visitar o Parque Gell, ao saber das maravilhas que o esperavam?". A verdadeira pergunta : "Quem nunca ficou extasiado com a exuberncia, criatividade e autenticidade de Gaud?" Porque, no importa qual seja a sua obra ou onde ela esteja, todas elas so a prova da existncia de um grande arquiteto, incompreendido na sua poca, mas ovacionado pelas geraes futuras e tido como um dos verdadeiros mestres da arquitetura.

    http://www.espanhol.com/espanhol/contenido/articulos/articulo.asp?Id=32

  • A potica do Art-Nouveau na arquitetura

    Na Alemanha chamou-se Jugendstil. Na Inglaterra chamou-se Liberty Style, devido a uma loja

    de objetos de arte. Na Itlia chamou-se Stile Liberty. O nomeArt Noveau advm da Maison de lArt Nouveau, loja de mveis, tapearia e objetos de arte do colecionador e comerciante Samuel Bing. Importantes arquitetos do final do sculo XIX e incio do sculo XX, como Hector Guimard, Victor Horta, August Endell, Joseph Hoffmann entre outros, aderiram ao estilo e o divulgaram com sua obra.

    Originrio das artes grficas e industriais, o Art Nouveau foi um movimento de inspirao romntica que se opunha ao classicismo acadmico e ao ecletismo, dominantes na arquitetura do sculo XIX. Suas formas tinham profunda ligao com a pintura simbolista e os artistas pre-rafaelistas como Dante Rosseti e Edward Burne-Jones. Uma das mais marcantes caractersticas grficas do estilo, o seu aporte tipogrfico inconfundvel, unindo letra e imagem por meios de uma profuso de linhas curvas naturais. Esta combinao foi utilizada em capas de livros, anncios, cartazes etc.

    Diferentemente da potica clssica, que se baseava nas relaes visuais, o Art Nouveau buscava uma ligao com a potica da empatia (einflung), segundo a qual o prazer esttico que um espectador experimenta ao contemplar uma obra de arte vem do fato de ele estar recuperando as emoes do artista ao fazer a referida obra, a qual estaria impregnada daqueles sentimentos. Ope-se esttica da pura-visualidade (Sichtbarkeit), para a qual o prazer esttico objetivo, e refere-se apenas a relaes formais.

    No pode ser desprezada a influncia do Movimento Neogtico, do qual assimilou uma de suas principais caractersticas, o culto da linha, que o vai destacar de outros movimentos arquitetnicos. De fato, a linha, no o volume, a cor, ou o efeito de massa, vai se tornar a marca do Art Nouveau. Entretanto a linha vai desempenhar um papel diferente da linha fora, que desenhava os esforos das estruturas gticas. Agora ser o desenho figurativo o que vai ser buscado. A linha ser curva, buscando a representao da natureza, qual a antena de um inseto, o caule de uma flor, o panejamento de um tecido, o contorno das ptalas de uma flor, ou as curvas geradas pelo estalar de um chicote. Os motivos florais, as folhagens, a fertilidade da natureza, sero os temas preferidos, mas no faltaro mistrios, duendes. Diferentemente da potica clssica, para a qual a simetria era um das caractersticas fundamentais, muitas vezes na assimetria que vai buscar sua maior diferenciao.

    O Art Nouveau propunha-se a ser um estilo total, expressando-se em diferentes escalas de design arquitetura, design de interiores; artes decorativas, incluindo joalharia, mobilirio, txteis, prata e utenslios e objetos de iluminao, De acordo com a sua filosofia, a arte deve ser um modo de vida.

    Muitos historiadores e crticos tendem a registrar o incio do Art Nouveau no movimento Arts and Crafts, por volta dos anos 1880, na Inglaterra. O desenho de Arthur MacKmurdo para a capa do livro sobre as igrejas de Christopher Wren, publicado em 1883, alguns desenhos florais planos em tapearias, e trabalhos em ferro fundido, assinados por filiados ao movimento ingls de artesanato, so apontados como o primeiro incio. Na Esccia, particularmente em Glasgow, desponta o nome de Charles Rennie Mackintosh, e sua obra cannica, a Escola de Artes de Glasgow. Outros nomes so do pintor e ilustrador Walter Crane e Arthur Lasenby Liberty, que emprestou o nome ao movimento na Inglaterra (Liberty Stile) atravs de sua loja de tapearia e objetos, na Regent Street, Londres, a Liberty & Co.

    Bruxelas foi tambm um grande centro e, na arquitetura. A Blgica experimentava grande prosperidade devidos aos ganhos da Revoluo Industrial e a expanso colonial na frica. O Art Nouveau representava esta transformao e forneceu prestigiosos nomes como Victor Horta, Gustave Serrurier-Bovy e Henry van de Velde, cujo nome se ligaria Deutcher Werkbund e, mais tarde, Bauhaus. O Teatro Werkbund, um dos pontos altos da Exposio da entidade no Reinpark, em Colnia, 1914, de sua autoria. Do primeiro temos as obras cannicas do Hotel Tassell, de 1893-4, considerado patrimnio mundial pela Unesco em 2000, e da Maison du Peuple, sede do partido operrio belga, construda de 1896 a 1899, lamentavelmentre demolida em 1965, entre tantos outros.

    Paris, o mais importante centro cultural da Europa, foi um outro bero, dando a esta tendncia seu nome mais conhecido atravs da Maison de lArt Nouveau, gerenciada na poca por Samuel

  • Bing. Na Cidade Luz, desponta o nome de Hector Guimard, que assinou as conhecidas entradas do Metro, e uma numerosa obra que se tornou emblemtica do estilo.

    Na Alemanha, o estilo era conhecido como Jugendstil (estilo joven) devido ao semanrio Jugend, cujos padres grficos estavam ligados ao estilo e serviram para divulg-lo. O grande pioneiro Peter Behrens, cujo nome est muito mais ligado ao Movimento Moderno, no pode se furtar aos seus laos com o movimento Art Nouveau. Sua grande criao, a Deutcher Werkbund, em que pesem as diferenas, foi inspirada no movimento Arts and Crafts ingls, que lhe passou um pouco do romantismo que transparece em suas casas. E alguns objetos claramente ligados ao Art Nouveau. Alis, a construo de sua casa um marco da virada do Jugendstil para austeridade classicizante do MoMo. August Endell outro notvel do movimento autor do marcante Atelier Elvira. Munique foi o grande centro do estilo, destacando-se os nomes de Otto Eckmann e Hermann Obrist, produzindo testeis, tapearia e objetos de arte.

    Os arquitetos vinculados a este pensamento romntico buscaram interpret-lo e trazer suas figuras e linhas sinuosas dos objetos e das artes grficas e linhas sinuosas para os edifcios. Para tal, foi importante o uso do ferro batido e fundido, que permitiam o volteio necessrio para as formas novas. Isso ensejava a exposio das estruturas e a separao desta dos elementos vedantes, uma importante inovao que ligava o novo material busca de uma alternativa romntica para o classicismo dominantes. A outra teria sido o uso de formas assimtricas, que confrontava os ditames da potica clssica.

    Na Espanha, Barcelona foi outro grande centro, no qual o movimento experimentou grande originalidade. H certa ligao com o Modernismo catalo, embora a amplitude deste ltimo seja muito maior e s vezes esta simplificao conduza at mesmo a contradies. Llus Domnech i Montaner, Josep Puig i Cadafalch so alguns epgonos do Modernismo, em cuja obra encontramos traos da arte nova. A obra de Antonio Gaudi muito prxima do Art Nouveau, pelo uso que faz dos motivos naturais, florais e formas orgnicas. Entretanto sua obra to pessoal e subjetiva que talvez no caiba em nenhum estilo. Ela ultrapassa os limites do Art-Nouveau, na medida em que possui alm do simbolismo e do lirismo ornamental desta, caractersticas de expressionismo e um trabalho intenso com a lgica estrutural e elemental da arquitetura. Certamente, para um entendimento melhor desta personalidade singular e sua obra, faz necessrio um estudo isolado.

    Na Austria acontece uma abordagem muito particular, representada pelos artistas ligados Secesso Vienense, que se inicia com a fundao, em 1897 da Unio de Artistas Vienenses. A idia era confrontar a orientao conservadora e historicista vigente. Gustav Klimt, Koloman Moser, Josef Hoffmann, Joseph Maria Olbrich, entre outros participaram do movimento de ruptura, que divulgava seus trabalhos nas pginas da revista Ver Sacrum. No que se refere arquitetura, sua feio muito particular consistiu-se em uma forte influncia que sobreviveu ao Art Nouveau e chegou Expo Art Dco de Paris, em 1925.

    ma vez que o Art Nouveau tem origem nas artes grficas e industrias, ela mantem, nessas reas, uma identidade muito maior, relativamente amplitude geogrfica do movimento. Na arquitetura, as interpretaes locais admitem uma diversidade que no aparece nas outras reas. Isso talvez explique as diferenas entre o Art Nouveau na Frana e Blgica, das realizaes escocesas ou vienenses.

    Na arquitetura, o movimento, como um todo, compartilha do propsito de acabar com a imitao dos estilos do passado, prtica dominante na academia, colocando em seu lugar uma inspirao das formas naturais, explorando o artesanato e os materiais. e entendendo a relao superfcie ornamento de uma maneira nova, e buscando. Suas contradies internas reproduzem aquela de sua inspirao inicial, o movimento Arts and Crafts: progressista pelo lado esttico, porm conservador em sua ligao com a burguesia em crise. Estas contradies, unidas ao fato de ter a linha com motivo principal, vo estabelecer um vida curta para o movimento.

    BIBLIOGRAFIA GSSEL, Peter e LEUTHUSER, Gabriele. Arquitetura no Sculo XX. Colnia: Taschen,

    2001. LAMPUGNANI, Vittorio. Enciclopedia de la arquitectura del siglo XX. Barcelona, Gustavo

    Gili, 1989.

  • LINKS

    http://en.wikipedia.org/wiki/Art_Nouveau

    http://en.wikipedia.org/wiki/Vienna_Secession

    https://coisasdaarquitetura.wordpress.com/2011/07/09/a-poetica-do-art-nouveau-na-

    arquitetura/#more-2516

  • Os fundamentos do sculo XX: arquitetura

    VOLTAIRE SCHILLING O sculo XX, no qual a modernidade foi assumida na plenitude, entendida essa como uma

    poca com estilo, valores e programas ideolgicos prprios, inteiramente rompida com a tradio anterior, tem como seus smbolos mais expressivos o arranha-cu, a arte abstrata, o cinema, o automvel, o avio, a psicanlise, a teoria da relatividade e o radicalismo ideolgico , todos eles responsveis pelas mais profundas transformaes que a humanidade conheceu nos ltimos sculos. Todas essas novidades surgiram ao redor de 1900, marcando definitivamente o sculo com sua presena.

    O arranha-cu considerado a expresso de uma nova civilizao criada no Novo

    Mundo Foto: Divulgao SAIBA MAIS 1883: Nasce arquiteto Walter Gropius, fundador da Bauhaus Atingindo os cus A ambio dos homens de tentarem por meio de uma monumental construo alcanarem os

    cus remonta ao Gnese bblico, quando os descendentes de No lanaram-se numa plancie da Babilnia, a erguer com pedras e tijolos uma fantstica torre que os possibilitasse tornarem-se ntimos de Deus. Na Idade Mdia essa ousadia materializou-se na construo de uma srie de estupendas catedrais, pirmides da f, construdas em Milo, em Colnia, em Reims, e at nas cidades do Novo Mundo, cada uma delas tentando alongar ainda mais suas torres para poderem receber, antes das demais, assim pensavam seus construtores, as graas divinas.

    Na verdade pode-se entender a magnificncia daquelas obras como uma projeo dos anseios coletivos da religiosidade dos povos daqueles tempos e tambm uma demonstrao da exuberncia tcnica das corporaes de ofcio que colaboravam na construo daqueles colossos de pedra.

    O arranha-cu "A arquitetura a vontade de uma poca transladada para o espao" Mies van der Rohe Pode-se considerar o arranha-cu, por ter sido um genuno produto da Amrica, como a

    expresso de uma nova civilizao criada no Novo Mundo. Aqueles imensos edifcios longilneos, aparentando equilibrar-se precariamente em bases muito estreitas, eram antes de tudo uma celebrao do homem moderno em favor do Progresso, o deus da modernidade, ao mesmo tempo em que marcava uma significativa ruptura com a tradio arquitetnica europia.

    O arranha-cu quer tambm celebrar a era da nascente tecnologia, um mundo novo, prprio que foi desconsiderado em tempos passados, mas que agora, para os grandes tericos da arquitetura moderna, passaram a ser o centro da preocupao do homem contemporneo. Como disse Meis van der Rohe "a tecnologia mais do que um mtodo, um mundo em si mesmo." O ferro, o ao, o vidro e a terracota, foram os materiais bsicos com que os engenheiros contaram para poderem erguer prdios de alturas e dimenses desconhecidas em qualquer outro tempo da histria da humanidade ( Nova Iorque hoje possui 2.692 edifcios, os maiores deles oscilam entre 226 a 417 metros de altura).

  • Poemas de pedra A competio individual e a rivalidade corporativa da moderna sociedade industrial se espelha

    em inmeras construes que comearam a aparecer no eixo Chicago-Nova Iorque nos finais do sculo XIX, seguindo pelo sculo XX a diante. Inicialmente capitaneada pela Chicago School (A Escola de Chicago), liderada pelo arquiteto William Le Baron Jenney , o "pai dos arranha-cus", falecido em 1907, que teve em Louis Sullivan, um notvel arquiteto nascido em Boston, o seu principal seguidor quando este mudou-se para Chicago.

    Os recursos tcnicos colocados disposio da arquitetura foram tamanhos que ele acreditou que "o arquiteto que combinasse na sua essncia os poderes da viso, da imaginao e do intelecto, acrescentados pela simpatia para com as necessidades humanas e o poder de interpret-las numa linguagem vernacular, ser capaz de criar poemas nas pedras".

    Peculiaridades

    O arranha-cu, smbolo arquitetnico mais exemplar da paisagem urbana do sculo XX, nasceu como expresso do movimento modernista que tinha como sua caracterstica mais marcante sua total ojeriza ao ornamento, enfatizando que a arquitetura antes de tudo devia servir funo (funcionalismo). Segundo Mies van der Rohe, um dos seus expoentes europeus, "a forma a funo".

    Este estilo - que nos anos de 1920 foi denominado de International Style - no se apegava a nada do que fora feito no passado (pois anti-historicista), visto que a arquitetura clssica greco-romana era horizontalista (a extenso predominando sobre a altura) e sustentada por colunas com capitis decorados, enquanto que a arquitetura das catedrais exibia um excesso de decorao (particularmente nos perodos gtico e barroco) vide nos.

    O arranha-cu moderno diz a que veio, elimina ou reduz ao mnimo o acessrio, recorrendo a formas e materiais para por em p um prdio que nico (exclusivismo). A extraordinria massa de ferro, vidro e demais elementos, espelha a arrogncia do sucesso de algum homem notvel ou da sua empresa ( Rockefeller Center , Palmolive building , etc.), ao mesmo tempo em que livremente expe-se admirao pblica para que de alguma forma participem coletivamente daquela ascenso.

    Walter Gropius e a Bauhaus No mesmo ano em que a recm fundada Repblica alem assinava o humilhante Tratado de

    Versalhes, assinado em Paris em 1919, o movimento modernista germnico dava um importante passo para a consagrao internacionalmente. Naquela ocasio, em sintonia com uma poca inaugurada por revolues, golpes e tumultos de toda ordem que se estenderam pelos anos vinte, um reduzido grupo formado por profissionais das mas variadas atividades artsticas e tcnicas, liderado pelo o arquiteto Walter Gropius lanou na cidade de Weimar, a Atenas da Alemanha, o Manifesto da Bauhaus , em abril de 1919.

    A ao de vanguarda deles iria provocar uma alterao duradoura na histria da arquitetura e das artes plsticas em geral. No era para menos visto que a ambio do movimento era "a nova construo do futuro". Comeava ento uma das mais importantes transformaes do sculo 20: a aliana entre a esttica e a tecnologia, entre o artista e a indstria.

    O sol e a bigorna Desde tempos imemoriais artistas e artesos ocupavam espaos distintos no universo das

    artes em geral. Os primeiros, os artistas, sempre se viram como um espcie de aristocracia das belas artes, os favoritos das musas, os eleitos de Apolo, o deus-Sol que tudo alumia, enquanto os arteso, humildes, tinham como inspirador a Hefesto, o deus corcunda da forja que, infeliz, malhava o ferro incandescente na bigorna numa oficina nos subterrneos da Terra, suando por todos os poros em meio s labaredas e s ferramentas ardentes.

    Um dos primeiros propsitos da fundao da Bauhaus, em abril de 1919, foi a superao desse estigma histrico-corporativo pela educao do artista-arteso, algum to hbil com as mos como enfronhado na concepo mais elevada da arte, um ser capaz de conceber um objeto qualquer, esteticamente relevante, e, ao mesmo tempo, hbil em execut-lo em conjunto com os demais colegas da construo. Fazer, enfim, com que o belo Sol de Apolo entrasse em harmonia

  • com a fornalha do torto Hefesto. Ou ainda, metaforicamente, promover a simbiose da esttica cosmopolita de Goethe com o ao alemo dos Krupp.

    Para levar tal concepo prtica, Walter Gropius, ento jovem arquiteto promissor, transferindo-se de Berlim para Weimar, determinou a juno das duas escolas que l existiam: a Escola de Artes e Ofcios ( a Kunstgewerbeschule) e a Escola de Belas Artes ( a bildende Kunst): que vieram a formar a clebre Staatliches Bauhaus, ou simplesmente Escola da Bauhaus, instalada no edifcio de Van der Velde.

    A formao do artista-arteso Apesar das proposta modernista da Escola, o processo de admisso dos pretendentes ainda

    respeitava uma liturgia comum s antigas corporaes de ofcio da Alemanha medieval. O candidato, aps submeter-se a uma srie de exigentes provas, terminava sendo avaliado pelo Conselho de Mestres, dando incio ento sua formao que o conduzira, em crculos concntricos, a obteno do diploma de Mestre da Bauhaus.

    A esttica ideolgica do primeiro momento da escola, o Perodo de Weimar, entre 1919-1923, estava marcada pelo Expressionismo (*) e pelo lirismo de uma sociedade libertria identificada, ainda que distncia, com a Revoluo Bolchevique de 1917 e com o Levante Espartaquista de janeiro de 1919, no qual sucumbiram Rosa Luxemburgo e Karl Liebcknecht, lderes da organizao extremista.

    Num primeiro momento do processo de aprendizagem, tendo como objetivo a derrubada da "parede de arrogncia" que separava o artista do arteso, os alunos-aprendizes passavam pela fase do contanto direto com os elementos do mundo material, botnico e zoolgico, como uma iniciao sensibilizao. A escola propunha-se a reagrupar todos os trabalhos criativos da arte aplicada: a escultura, a pintura, o artesanato e os ofcios em geral.

    Na verdade os integrantes da Escola da Bauhaus constituam um tipo de nova ordem monacal, ainda que secular, composta por mestres e aprendizes, erguida para, em conjunto, construir a modernidade, a partir do que Johannes Itten, um dos gro-pedagogos da escola, denominou de "estado criativo primitivo".

    Superado o primeiro contanto com as formas elementares, saltavam eles ento para o aprendizado da construo, da composio das cores e dos tecidos, dos instrumentos-ferramentas e, por fim, do estudo geral sobre a natureza.

    Familiarizam-se nesta etapa com a argila, a pedra, a madeira, o metal, o txtil, as cores e o vidro. Literalmente metem a mo na massa, estando ento aptos para a construo graas aos conhecimentos de engenharia recebidos na derradeira etapa do processo educativo. Nesta fase a formao do aluno da Bauhaus reduzia-se muito "a rea de atrito entre o artesanato e a indstria, entre arte e tcnica". A confiana de Gropius no resultado levou-o a dizer :

    "o esprito das pequenas comunidades deve conduzir-nos vitria, a vitria das pequenas e fecundas comunidades, os conjurados e as confrarias que, em silncio, guardam o segredo inexplicvel e libertaro a bandeira da arte por cima da imundcie quotidiana..."

    (*) O termo Expressionismo foi usado pela primeira vez na Alemanha em 1911 por Wilhelm Worringer para definir as novas tendncias na literatura ( W.Laqueur - Weimar 1918-1933, Paris, 1978, p.156).

    A questo da tecnologia Os efeitos devastadores e mortferos que a Grande Guerra de 1914-18 provocara, causaram

    um profundo abalo na confiana otimista que o positivismo do sculo 19 depositara na tecnologia. O otimismo engendrado pelas conquistas obtidas pela mquina viu-se ento obscurecido pelo pessimismo sombrio que tomou conta das perspectivas sobre os dias futuros. A intelectualidade alem da poca dividiu-se radicalmente entre os que passaram a abomin-la ( Oswald Spengler, Martin Heidegger, Ernst Jnger), definindo-a como "iablica" e os que procuraram aceit-la como parte integrante da paisagem do mundo moderno contra a qual era intil e sem sentido lutar. A Escola Bauhaus alinhou-se junto a este ltimo grupo, dos que consideravam que as novas catedrais a virem ser erguidas o seriam com ao, com cimento e vidro.

    No s isso. Tratou inclusive de propor uma esttica que melhor expressasse o domnio da tecnologia, inspirando-se na geometria euclidiana e nas formas mecnicas ( os oposicionistas acusaram-na de Amerikanismus, de importar uma esttica no-germnica ).

  • Posicionamento que levou a que a Escola Bauhaus se deixasse fascinar pelas linhas retas, pelas formas cbicas, triangulares ou circulares e pelo total despojamento decorativo. Segundo a ambio do projeto social-utpico dos tericos da Bauhaus, - profundamente hostil ao passado Barroco e Art Nouveau, mais recente - o desenho fortemente geometrizado do edifcio presente no novo cenrio urbano, resultado do encontro da cincia com a tcnica, causaria um impacto racionalista na sociedade, imunizando-a e afastando-a das paixes extremadas ( por exemplo, do patriotismo e do nacionalismo chauvinista exacerbado pela guerra de 1914-18). O clmax dessa tendncia cubista foi alcanado na Grande Exposio da Bauhaus de 1923, com conferncias de Gropius e Wassily Kandisnky, o pintor modernista russo que havia se transferido para a Alemanha.

    Feita a devida ruptura com o passado, tudo, do design dos mveis aos prdios, dos materiais aos projetos urbanistas, devia ser claro, transparente, funcional e adequado aos novos tempos igualitrios e democrticos que emergiam do mundo aps a Grande Guerra. A esttica baseada no "despojamento proletrio", oposto ao decorativismo aristocrtico-burgus, anunciava a nova era de um mundo dominado pelos trabalhadores espelhava-se na racionalidade e na planificao geral da vida.

    Mudando de lugar: de Weimar Dessau Passando os primeiros anos em Weimar, local onde tambm realizara-se a Assemblia

    Constituinte de 1919 que lanou os pilares da Repblica, a Repblica de Weimar, a Escola da Bauhaus mudou-se em fevereiro de 1925 para Dessau, a convite do governador do estado de Anhalt, tomando l, em 1927, a denominao de Hochschule fr Gestaltung, Instituto Superior da Forma.

    O principal motivo desta transferncia deveu-se a que o governo regional da Turngia (estado onde Weimar ficava), nas mos de partidos direitistas, mostrou-se abertamente hostil aos propsitos estticos da Escola e ao que ela representava. A direita nacionalista (precursora do nacional-socialismo) associava o movimento modernista na literatura, nas artes em geral e na arquitetura, ao Kulturbolchevismus, isto , ao Bolchevismo Cultural.

    A pretenso nada modesta dos vanguardistas de "irem ao povo e transformarem o mundo", como fora anunciado pelo Conselho dos Intelectuais, de 9 de novembro de 1918, pareceu-lhes algo abominvel, um despropsito insano totalmente estranho germanidade, uma traio aos valores nacionais e Alemanha. O Modernismo era o malfico Mesfistfeles insinuando-se para desvirtuar a boa alma alem, uma degenerescncia enfim. Como ento registrou um funcionrio do governo da Turngia No se deve permitir que um pequeno ncleo de interessados, que em grande parte so estrangeiros, sufoque a massa saudvel dos jovens artistas alemes..(K.Nonn - Deutsche Zeitung , abril de 1924).

    As ameaas Escola no vinham somente de fora. Duas correntes comearam a cindir-se no interior da prpria direo da instituio. Uma delas, a do escultor e gravurista Gerhard Marcks, por exemplo, em nome do purismo e contra "a explorao econmica", defendia a continuidade da ligao estreita da Bauhaus com o estado, enquanto Gropius procurava aproxim-la da industria privada para que ela pudesse libertar-se dos condicionamentos oramentrios. O desenlace deu-se em dezembro de 1924, quando a Escola foi fechada pelo governo direitista da Turngia.

    Em Dessau, por fim, surgiu a oportunidade de Gropius erguer um edifcio smbolo das ambies da Escola, uma construo que abrigasse, ligado ao prdio principal onde se dava o ensino, uma srie de outros edifcios (oficias e habitao dos estudantes) formando um conjunto arquitetnico sntese da integrao arte-artesanato .

    Foi l, por igual, que Gropius projetou a construo do bairro modelo de Trten-Dessau, um conjunto habitacional que serviu politica da planificao urbana obediente uma linha de montagem previamente elaborada. Guardava, o projeto, a expectativa de servir como modelo sociedade igualitria do futuro, toda ela organizada em espaos geomtricos amplamente arejados, totalmente contrria aos cortios a que os trabalhadores estavam confinados na maioria das grandes cidades industriais daquela poca.

    Enquanto isto, dos seus ateliers, surgiam os novos mveis inspirados no design futurista, feitos de couro, plstico, madeira e ao, obedientes ao estilo funcionalista que a Escola da Bauhaus adotara desde os seus comeos por seus principais mestres. (*)

    Em 1928, Gropius deixou a Bauhaus, sendo que Hannes Meyer e, em seguida, em 1930, Mies Van der Rohe, que viria a torna-se um dos maiores arquitetos do sculo 20, tomaram-lhe o lugar. Entremetes avanava a crise poltico-social da Alemanha fazendo com que a Repblica de Weimar

  • comeasse a soobrar . O partido nazista de Dessau chegou a propor, junto ao Conselho Municipal, a demolio do prdio da Bauhaus, denunciada como "centro artstico hebraico-marxista", ou ainda como "Catedral do Socialismo".

    Por fim, em 5 de outubro de 1932, o contrato da cidade de Dessau com a Escola foi rescindido, forando a que Van der Rohe tratasse da transferencia para Berlim. Pouco adiantou o trabalho. Em 20 de julho de 1933, seis meses aps a ascenso de Hitler ao poder, ela fechou definitivamente suas salas e oficinas. No dia 20 de abril daquele ano, 200 policias a haviam invadido Escola, providenciando-se em seguida um inqurito contra ela na Procuradoria Geral da Repblica.

    No exlio A nica porta que ento se abriu aos integrantes da Bauhaus foi a do exlio. Como tantos

    outros artistas, cientistas e homens de letras anti-nazistas, eles tambm partiram para longe da Alemanha. Gropius e Van de Rohe foram recebidos de abraos abertos nos Estados Unidos, pas onde a maioria deles iria dar continuidade a uma carreira brilhante. Gropius, por exemplo, afamou-se ainda mais com seu empenho em favor do International Style , movimento arquitetnico sntese do estilo Bauhaus com o funcionalismo norte-americano que, alm dos alemes emigrados, contou com arquitetos como Phillip Johnson e Richard Neutra. Expulso pela Alemanha Nazista, o estilo Bauhaus, atravessando o Atlntico, facilmente aclimatou-se no Novo Mundo, dando ainda mais ousadia revoluo modernista do sculo 20.

    (*) Ncleo difusor de novas tendncias, a Bauhaus foi composta por um corpo docente formado por diversas profisses: eram engenheiros, arquitetos, pintores, desenhistas, gravuristas, decoradores e artistas industriais, grupo este que causou profundo impacto na arte do sculo XX. Entre eles encontrava-se, alm de Walter Gropius, que foi diretor at 1928, Johannes Itten, Lyonel Feininger, Gehard Marcks, George Muche, Gertrud Grunow, Lothar Schreyer, Adolf Meyer, Oskar Schelemmer Lszl Moholy-Nagy, Paul Klee, Wassily Kandinsky , Herbert Bayer, Hinnerk Scheper, Gunta Stlzl, Joost Schmidt, Hannes Meyer, Ludwig Hilberseimer, Alfred Arndt, Ludwig Mies Van Der Rohe, Lily Reich e Walter Peterhans.

    O Manifesto Bauhaus "O fim ltimo de toda a atividade plstica a construo. Adorn-la era, outrora, a tarefa mais

    nobre das artes plsticas, componentes inseparveis da magna arquitetura. Hoje elas se encontram numa situao de auto-suficincia singular, da qual s se libertaro atravs da consciente atuao conjunta e coordenada de todos os profissionais. Arquitetos, pintores e escultores devem novamente chegar a conhecer e compreender a estrutura multiforme da construo em seu todo e em suas partes; s ento suas obras estaro outra vez plenas de esprito arquitetnico que se perdeu na arte de salo.

    As antigas escolas de arte foram incapazes de criar essa unidade, e como poderiam, visto ser a arte coisa que no se ensina? Elas devem voltar a ser oficinas. Esse mundo de desenhistas e artistas deve, por fim, tornar a orientar-se para a construo. Quando o jovem que sente amor pela atividade plstica comear como antigamente, pela aprendizagem de um ofcio, o "artista" improdutivo no ficar condenado futuramente ao incompleto exerccio da arte, uma vez que sua habilidade fica conservada para a atividade artesanal, onde pode prestar excelentes servios. Arquitetos, escultores, pintores, todos devemos retornar ao artesanato, pois no existe "arte por profisso". No h nenhuma diferena essencial entre artista e arteso, o artista uma elevao do arteso, a graa divina, em raros momentos de luz que esto alm de sua vontade, faz florescer inconscientemente obras de arte, entretanto, a base do "saber fazer" indispensvel para todo artista. A se encontra a fonte de criao artstica.

    Formemos, portanto, uma nova corporao de artesos, sem a arrogncia exclusivista que criava um muro de orgulho entre artesos e artistas. Desejemos, inventemos, criemos juntos a nova construo do futuro, que enfeixar tudo numa nica forma: arquitetura, escultura e pintura que, feita por milhes de mos de artesos, se alar um dia aos cus, como smbolo cristalino de uma nova f vindoura.

    Walter Gropius (Weimar, abril de 1919) http://noticias.terra.com.br/educacao/historia/os-fundamentos-do-seculo-xx-

    arquitetura,850890da9a2ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html