vida e obra de rosália sandoval

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    Roslia Sandoval: histrias de um resgate Luciana Fonseca (UFAL)

    Concentrei o estudo biobibliogrfico em Roslia Sandoval (1876?-1956), com o objetivo de resgatar sua produo literria e confirmar sua participao intelectual em Alagoas. Em fases diversificadas, Roslia atuou como escritora e educadora. No que concerne teoricamente ao resgate historiogrfico, analiso sua escritura a partir da perspectiva feminista descrevendo os aspectos temticos e conteudsticos em seus livros didticos, literrios e educativos. Como tambm relaciono a importncia desse estudo no contexto intelectual participativo da mulher sob o olhar da nova histria.

    A pesquisa relatada ao longo da dissertao confirma sua produo atravs de peridicos, revistas literrias, almanaques, dirios, textos manuscritos, documentos que me permitiram registrar sua trajetria. Seis fontes foram consultadas: cinco acervos governamentais, a saber: Instituto Histrico e Geogrfico de Alagoas, Arquivo Pblico de Alagoas, Biblioteca Estadual de Pernambuco, Arquivo Pblico de Pernambuco e a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Dentre tantos alfarrbios procurados nos Estados de Alagoas, Pernambuco e Rio de Janeiro, apenas no Alfarrbio Nossa Senhora dos Prazeres, em Alagoas, foi possvel encontrar um dirio de 1906, com poemas reunidos de escritores da poca, inclusive um, manuscrito por Roslia Sandoval.

    No primeiro captulo, procurei relatar alguns dados biogrficos relacionados s fases de publicao de seus textos e livros, que estiveram ligados poca, traando, assim, um perfil da escritora nascida no sculo XIX. No segundo, dados histricos sobre o processo da educao em Alagoas, avaliando a reproduo de conceitos e valores diante do que a autora produziu para a mesma rea. No terceiro, observei Roslia na prosa literria curta e como crtica de arte, ao tomar um posicionamento mais crtico na evoluo de idias atravs de seus textos. No quarto, aponto Roslia como poeta e tradutora, recursos que penso terem sido utilizados como influncia do momento ou at para ser inserida e aceita no universo social. Por ltimo, algumas concluses sobre a importncia deste resgate no contexto histrico alagoano, onde levantei, mais uma vez, a questo da identidade da voz feminina dentro do contexto repressor no qual a mulher tem se encontrado to integralmente inserida.

    Na sociedade alagoana onde a mulher era/ tida como improdutiva ou inferior no seu intelecto e mundo artstico, Roslia Sandoval no s driblou o pblico acadmico ao abordar temas comuns de seu cotidiano e ao produzir livros didticos, como tambm conquistou seu espao, enfrentando o preconceito recebido por sua condio de assumir-se mulher, poeta, solteira, pobre e mestia, sobrevivendo, assim, s custas de seu trabalho, lutando com a linguagem no contexto tradicional.

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    Resgatar a vida e obra de Roslia Sandoval (1876?-1956), que produziu por quase meio sculo, no tem sido uma tarefa fcil. Ao falar de contextos que pudessem ser avaliados no processo de construo de sua histria de vida, foi preciso falar um pouco da histria desta pesquisa e apontar alguns fatos que se mostraram presentes: um deles, arraigado simplesmente na dificuldade de ter acesso s Bibliotecas e Arquivos Pblicos do Estado de Alagoas. Isso me alertou questo de que no poderia deixar de ir aos Estados de Pernambuco e Rio de Janeiro e coletar mais alguns dados pertinentes pesquisa. Observei, em Alagoas, que a liberdade artstica esteve presente para os/as poetas, embora, constantemente, a presena feminina se encontrasse margem do sistema social no qual todos se ancoravam. Com muita luta, esteve Roslia se entrelaando paralelamente beira de rios, como raiz tentando sustentar-se neles, ora publicando livros e colaborando com textos para jornais e revistas, ora projetando-se como escritora e estabelecendo-se enquanto educadora no contexto intelectual alagoano. Roslia tambm havia publicado textos em outros Estados e enfrentado um pblico indiscretamente desatencioso em relao produo feminina. Principalmente com relao a algumas personalidades do nosso Estado, mas precisamente o do professor e historiador Moacir Sant'Anna, diretor destas duas instituies alagoanas, que possui em mos documentos raros de Roslia Sandoval. Dessa forma, no tem sido possvel, infelizmente, traar um preciso percurso de Roslia Sandoval, porque no so muitas as informaes de que disponho sobre sua trajetria, embora tenha tido, a princpio, o propsito de fazer um perfil exato de sua vida e obra atravs de dados arquivados, como local exato onde morou, nasceu, onde ensinou, data exata de nascimento ou mesmo dados fornecidos atravs de cartas. No momento, o que foi possvel, a muito custo, conseguir foi poder alinhar sua existncia produo textual; foi poder vasculhar "alguns" jornais de poca; sem contar as possibilidades de encontrar, em registros escolares do Arquivo Pblico, dados sobre as escolas nas quais atuou como professora e diretora. O que se tornou triste nesta caminhada foi saber o valor desta pesquisa pela quantidade de textos da autora e detectar o desinteresse das bibliotecas pblicas deste Estado no tocante ao assunto. Sabemos que muitos livros se encontram ali, documentos, cartas e fotos possivelmente tambm, embora tenha encontrado boa parte dos dados que foram coletados em Pernambuco. Roslia produziu por quase meio sculo (de acordo com documentos datados entre 1899 e 1946), sendo nesta ltima data, a nica vez em que tenho conhecimento de textos seus publicados fora do Estado. (E, como afirmou Graciliano Ramos, ao defender a literatura de Roslia, ela estava fora da 'panelinha acadmica').

    As circunstncias, as atividades e pensamentos contriburam em sua formao para a construo temtica de sua trajetria literria. Por ter sido rf de pai ainda criana, ter perdido o irmo muito querido, cedo, e se transferido para o Rio de Janeiro, Roslia inscreveu-se nos textos. A escrita foi, para ela, a concretizao de um desejo que se fez presente. Pois, ao que parece, viveu parte de seu tempo sozinha e isolada de sua terra natal. Sobre sua me, no

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    houve muito a ser dito, muito menos textos ou poemas dedicados a ela, excetuando a ltima obra escrita em prosa, de carter religioso, intitulada Preces humanidade (1954). Ao que parece, para Roslia, sua me permanecia ainda na esfera do ser mito, santa, apenas me, no uma mulher de que pudesse falar alguma histria sua. Mas Roslia no esquecia o falecido irmo, Sebastio Abreu. Sobre ele, que tambm possua veia potica, havia sempre algumas palavras que precisavam ser ditas. Ao contrrio da relao que havia entre seu outro irmo chamado J. Rosalvo de Abreu.

    Foi atravs da literatura que a autora se questionou, aprimorou valores para ela essenciais, rompeu normas, subsistiu s regras, transgredindo-as ao que lhe foi estabelecido: manter-se, dentro do possvel, quase que imperceptvel quanto credibilidade de sua fala, mostrar-se incrdula ou subtrair-se desse poder. E, ao longo de uma carreira literria, percebemos que sua escolha se enraizava em conhecimento, essncia e poder.

    Em Alagoas, a ltima notcia que se teve um pouco antes de sua morte (1956), foi quando o crtico literrio Romeu de Avelar escreveu-lhe uma carta reconhecendo o livro traduzido por Roslia sobre escritores estrangeiros, Versos alheios (1930), que teve repercusso nessa dcada e, por conta dessa obra, fora includa como escritora no Dicionrio literrio brasileiro. Na carta, Avelar pede que lhe envie alguns de seus textos para que possam ser includos numa Coletnea de poetas alagoanos (1970). Mas Roslia, sentindo-se brutalmente esquecida, velha, cansada e sozinha, responde-lhe dizendo:

    Deve ser terrivelmente desagradvel a pessoa falar de si mesma e com lealdade que o caso exige. Pelo menos o que sinto no meu ntimo. No encontro, dentro ou fora de mim, algo para dizer que interesse ao pblico ledor. Dizer que sou velha? Que nasci no bairro mais pobre da capital alagoana? Que sou filha de pais pobrssimos e humildes? Tudo demasiado conhecido e no interessa a ningum muito menos s Musas.

    Contar o pouco como foi sua histria ou tentar enquadr-la nos critrios da tradio, tambm no uma tarefa simples. Roslia publicou um nmero razovel de livros, apesar das dificuldades da poca. Infelizmente, esses livros informam pouqussimos dados biogrficos. Alguns documentos, notas em revistas, dicionrios e peridicos registraram sua passagem em dispersos acervos. Sem a possibilidade de constatar claros elementos que fortemente marcaram sua trajetria, tentei configurar seu pensamento de acordo com o que publicava. Foi por esse vis que desenvolvi este trabalho: analisando o que foi dito e, quem sabe, permitido pela poca. O ineditismo de suas obras teve como propsito doutrinrio o ato de educar atravs de textos, utilizando esse meio informativo como instruo "mais propcia" para suas alunas (a quem seus livros vinham dedicados). Os aspectos religiosos, lendrios e a profuso de histrias por ela narradas so marcas que mostram o carter inerente postura ideolgica absorvida pela formao que teve - de

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    acordo com os valores do fim do sculo XIX. Ao reproduzir um discurso patriarcal, Roslia se caracteriza em uma projeo de conflitos que revelam desejos e expectativas diante de temas aparentemente sem importncia. como se o verdadeiro valor estivesse no hbito e processo de leitura ligados a temas prticos e cotidianos. O que se comprova ao longo das vozes tericas que a emancipao que a mulher esteve ligada diretamente ao alcance da palavra. Um exemplo est no que foi dito por Yasmin Yamin Nadaf, na apresentao de Sob o signo de uma flor:

    Seus escritos, vindos, grande parte deles, de mulheres simples e lutadoras - umas escritoras, outras professoras, funcionrias pblicas e autnomas, jovens e donas-de-casa - revelam-nos tanto o universo dessas mulheres que os escreveram como o daquelas a quem escrevem: um mundo recheado de criaes literrias, desejos, lutas, frustraes. Modo de ver e de viver a vida, e o dbio pensamento ideolgico conservador e de progresso. Suas correspondncias e o intercmbio cultural regional, nacional e com o estrangeiro, impresso em suas pginas e nos peridicos de outras localidades, testemunham-nos o alcance de suas palavras (p.19).

    A importncia no processo de resgate da escritura de autoria feminina vem sendo trazida por pesquisadoras em vrios Estados do Brasil, so elas Constncia Duarte, Elizabeth Siqueira, Izabel Brando, Luzil Ferreira, Yasmin Nadaf, Zahid Muzart e outras. Sobre Roslia, foi possvel encontrar textos seus em vrios jornais e revistas de outros Estados, tendo como exemplo a pesquisa realizada por Elizabeth Siqueira, Luzil Gonalves Ferreira e outras, em Um discurso feminino possvel (1995). As autoras, ao escreverem sobre as pioneiras da imprensa, mencionam Roslia Sandoval como colaboradora do jornal O Lyrio. Em Sob o signo de uma flor (1993), Yasmin Jamil tambm encontra alguns textos de Roslia publicados na imprensa do Mato Grosso.

    Mas o principal fato que Roslia, fugindo ao que exigia a sociedade, rompeu o cerco. Produziu uma literatura que pde ser vista. A proposta para a reconstruo da histria do cnone literrio alagoano e nacional no parece ser algo impossvel. Para Rita T. Schmidt, a recuperao da produo literria de autoria feminina do passado esteve sempre relegada por uma tradio crtica incapaz de assumir os preconceitos inerentes aos seus mtodos: "A reviso do discurso crtico busca deixar explcito os critrios de valor sob os quais aquele opera para produzir e manter certa definio de literatura que venha garantir a legitimidade de obras" (p.38). A autora faz compreender, tambm, que todo cnone uma forma institucionalizada que tenta definir ou referenciar textos que determinam na representao daquela cultura. Ainda, sob o olhar de Constncia Duarte, muitas mulheres "sofreram variadas formas de discriminao e no lograram obter aprovao social de seu trabalho. Muitas permanecem esquecidas nas cidades em que viveram e seus escritos

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    guardados em arquivos e bibliotecas". Diante do quadro e desse trabalho, estudar Roslia Sandoval foi mais uma confirmao de um desafio sociedade patriarcal. Dos valores sofridos em momentos importantes da histria. Poucas mulheres realmente ousaram. Muitas se intimidaram por sua forma de escrever, de pensar e no sabiam como agir. Atravs da literatura? - um meio. Atravs da palavra? - receio. Ento, o que ser, o que pensar, o que saber? Tudo esteve muito complacentemente relacionado sua condio de ser simplesmente mulher. Cabe a ns ceder, o mnimo que seja, um tempo de ateno quelas que cumpriram com seu papel. Roslia foi uma delas.

    Roslia Sandoval

    Textos: Cromo

    Na alfombra esmeraldina da laga Beijando a flor de golpho perfumosa, Corre a linda barquinha pressurosa Como as azas de um pombo que revoa

    Pela amplido azul do ar reboa Uma cano alegre, radiosa Bella, sadia, leda, vigorosa De alvo piloto que commanda proa.

    A branca vela desfraldada ao vento Arreia o marinheiro pachorrento De blusa azul e cala de riscado

    E a casquinha de noz foge mimosa Como um sonho garrujo, cor de rosa Que voa prazenteiro, ennamorado.

    PERIDICO: CORREIO DE ALAGOAS, 27 DE ABRIL DE 1905 TTULO: BORBOLETAS (ao poeta J. Eustachio de Azevedo)

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    AUTORA: ROSALIA SANDOVAL TIPO: SONETO

    Sahi de manh cedo. Pelo Prado havia um cheiro agreste de buninas, Ao frescor das aragens matutinas cantava alegre um trovador alado.

    E um bando eu vi garrido e delicado de borboletas louras e franzinas a se erguer da verdura das campinas, buscando o espao pelo sol dourado.

    E eu disse, vendo-as assim loucas nessa tentao de deixar a nossa esphera: - onde vo? Onde vo com tanta pressa?

    - Ah! ... a vida to curta! responderam e queremos gozar a Primavera ... E revoando ... e subindo ... se esconderam.

    PERIDICO: O ABC (rgo literrio e noticioso), 15 de dezembro de 1908

    TTULO: A MISS MARY AUTORA: ROSALIA SANDOVAL TIPO: SONETO

    Cantam as aves, riem-se as violetas, Palpita de prazer a brisa mansa, H no luar affluvios de uma esprana, Entoa o nauta alegres canonetas.

    Espelha-se noazul em co destio

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    O sorriso ideal da natureza, Sonha alegre e innocente camponeza, Coas crespas ondas do formoso rio.

    Rescendem os jasmins: os passarinhos Tambem sonham amor, gosam ventura. Na doce intimidade dos seus ninhos.

    Tudo goso, prazer e amenidade: S minhalma se estorce na amargura, E se envae no gemer duma sadade! ...

    PERIDICO: O DIRIO, 01 DE ABRIL DE 1931 TTULO: AMOR AUTORA: ROSLIA SANDOVAL

    Amae-vos uns aos outros _ disse Cristo, pregando s turbas suas leis de amor, E eu procurava a realidade disto ... Amor! eu o busquei por toda parte... _ Na alegria, na dor, nos domnios da Arte...

    Das flores na linguagem perfumada, dos ninhos na cano, na soledade, das estrellas no pranto ... Na borbleta alada, no inseto multicor, no crepsculo, na luz...

    Por toda a natureza o procurei, Tudo fallava do celeste encanto da fhrase de Jesus.

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    Mas, oh fatalidade! Amor! ... onde menos o encontrei! foi no corao da humanidade! PERIDICO: O DIRIO DE MACEI, 17 DE AGOSTO DE 1933 TTULO: NO FIM ... AUTORA: ROSLIA SANDOVAL

    Eu desejo morrer, quando o sol no ocidente Fingir de ouro e de Rosa a serrania longe, quando o angelus vestir de saudade o ambiente e o sino ressoar sua orao de monge.

    Que delicia morrer numa tarde de sol tendo junto do leito uma flor a morrer! a vida a se extinguir, como o louro arrebol que veste num fim da tarde, ao quasi anoitecer.

    Findar a vida assim, numa dolncia suave, num adeus sem tristeza, melhor que sonhar. Quem me dera morrer, Como um gorgeio de ave... sem chorar nem sorrir, s pensando em me alar.

    Morrer! ... oh que iluso! A morte reviver de um sonho que se quis e nunca se alcanou. o despertar da vida, o lindo alvorecer da verdade feliz que a vida nos negou. Vida: Nome: Roslia Sandoval Pseudnimo: Rita de Sousa

    Nascimento: Macei - data ignorada. Filiao: Filha do Major Felicio Santiago de Abreu e D. Epifnia de Pontes Abreu. Irm do poeta Sebastio de Abreu. Sua famlia era pauprrima. Idosa mudou-se para o RJ. Faleceu no Rio de Janeiro aos 80 anos, na Estao So Francisco Xavier, Sexta-feira da Paixo de 1956. Produo:Atravs da Infncia (1918) Quando as Roseiras Floriram (versos) Cingo (poemeto) e volume de tradues de Poetas Americanos.

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    Acima, mostro os dados tal como constam no Dicionrio Literrio de Letras, publicado em 1978 por Raimundo de Meneses, sendo estas as primeiras informaes sobre a vida dessa autora. Mesmo assim, no diz seu verdadeiro nome: Rita Roslia de Abreu, nem o ano de seu nascimento ou d a referncia completa do nmero de livros publicados de sua autoria. O nico dado extra sobre a data de aniversrio foi encontrado na Revista O Lyrio1[1] (Ano I, ano de 1902), em comemorao ao dia 18 de julho pelo natalcio da correspondente D. Rita Souza, seu pseudnimo.

    Roslia, dedicou sua vida produo literria e, como mulher, representou muito bem a sociedade alagoana. Chegou a publicar sete livros em tipografias e mais dois mimeografados, alguns deles de cunho didtico, como a gramtica infantil Curso elementar de portuguez (1921), com temas por ela desenvolvidos para a prtica de redao. Fez versos e escreveu contos, ensaios, crnicas, fbulas, anedotas, prosa potica intimista, crtica literria, histrias infantis, bem como tradues literrias. Teve por algum tempo, um espao conquistado, um relativo sucesso como poeta e tradutora, fugindo de um estilo definido. Ficou rf de pai ainda criana, e perdeu seu irmo que era poeta e patrono da Academia Alagoana de Letras, tambm muito cedo. Mudou-se para o Rio de Janeiro na dcada de 20 e faleceu em 1956, ano em que j se registrava algum tempo doente. Roslia viveu por mais de meio sculo (1876?-1956) em seu ofcio de professora, diretora de escola, "jornalista" e escritora na luta e conquista de seu espao. Infelizmente, morreu (e ainda ) desconhecida.

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    Gabriela Mistral

    "Soneto da Morte"

    (Trad. de Roslia Sandoval)

    Destinos a escolher eu tive. E, todavia,

    elegi um tristonho - ofcio de ternura

    -temerrio, talvez, sem luz, sem alegria,

    de fazer-me cipreste em tua sepultura.

    Uma linda cano toda feita harmonia

    os homens vo, cantando alegres, com doura,

    cano que hoje lascvia e que ser loucura

    amanh.., e, depois, misticismo. E eu, um dia,

    compus a que acalenta algum que foi alheio

    a todo o meu afeto, a todo o sonho meu,

    que gostou de outro lbio e dormiu noutro seio.

    Hoje morto. E nesta hora, austeramente larga,

    s de um lbio escravo e de um cipreste - eu -

    que lhe adoo o dormir dentro da terra amarga.

    A tradutora diz que, "como Auta (deve ser Rita) de Souza, a dolorida poetisa

    brasileira de "Horto",

    Ada Moreno conta suas iluses despedaadas pelo vento cruel de um desengano

    traidor".

    "Como olvid-lo?"

    Ada Moreno Lagos *

    (Trad. de Roslia Sandoval)

    Como olvid-lo? se na minha vida

    deixou o encanto do primeiro amor?

    E me deixou a estrada enflorescida

    e seus beijos minguar~i.m minha dor?

    Como olvid-lo, se a alma dolorida

    lembra seus olhos cheios de negror?

    Se o eco dessa voz enternecida

    vem recordar-me seu sorrir de amor?

    Olvid-lo? Impossvel. Seu ameno,

    seu meigo olhar ser a eterna histria. .

    Amar, sofrer!... Que a vida seu veneno

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    verta em minha existncia transitria,

    e minhas mos, se o meu olhar for mudo,

    ho de estender-se a perdoar-lhe tudo.

    Juana de Ibarbourou

    "Rebelde"

    (Trad. de Roslia Sandoval)

    Caronte, quando eu for em teu barco sombrio,

    que escndalo eu farei nessa triste romagem!

    Temerosas, talvez, do teu olhar to frio,

    outras sombras iro a rezar, como a aragem.

    Mas eu irei cantando, alegre pelo rio

    e em teu barco porei meu perfume selvagem.

    A brilhar me vers nesse arroio sombrio,

    como lanterna azul que ilumina a viagem.

    Por mais que faas tu, por mais gestos de horror

    desses dois olhos teus to destros no terror,

    Caronte, em tua barca, eu serei um escndalo.

    E, j farta de sombra e cansada de frio,

    quando fores deixar-me outra margem do rio,

    tu me fars descer, qual conquista de vndalo.