Vida Intelectial

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_______________ * Professor auxiliar da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa. O jornalismo e a intelligentsia portuguesa nos finais da Monarquia Constitucional JOSÉ MIGUEL SARDICA * 1. Introdução: o público leitor e a imprensa no tempo da «vida nova» Nos meados da década de 1870, Eça de Queirós fechou um dos seus mais famosos romances – O Crime do Padre Amaro – com um episódio em que a fic- ção imitava a realidade. A cena passava-se nos finais de Maio de 1871, às portas da Casa Havaneza, no Chiado, na altura em que começavam a chegar a Lisboa as notícias dos acontecimentos da Comuna, que traziam Paris a ferro e fogo: «Pessoas esbaforidas chegavam, rompiam pelos grupos que atulhavam a porta, e alçando- -se em bicos de pés esticavam o pescoço, por entre a massa dos chapéus, para a grade do balcão, onde numa tabuleta suspensa se colavam os telegramas da Agên- cia Havas» 2 . A descrição da agitação da turba, da vozearia das opiniões e da ânsia de ler os telegramas que chegavam (e que os jornais logo imprimiam) reproduzia, muito possivelmente, o que o próprio Eça vira, em Maio de 1871, e serve como evocação literária do que era uma realidade sociocultural emergente no Portugal do tempo – o novo e acrescido poder das notícias, da informação e do jornalismo em geral na modelação das consciências e dos comportamentos dos portugue- Comunicação & Cultura, n.º 7, 2009, pp. 17-38 1

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  • _______________* Professor auxiliar da Faculdade de Cincias Humanas da Universidade Catlica Portuguesa.

    O jornalismo e a intelligentsia portuguesa nos finais da Monarquia ConstitucionalJos Miguel sardica *

    1. introduo: o pblico leitor e a imprensa no tempo da vida nova

    Nos meados da dcada de 1870, Ea de Queirs fechou um dos seus mais famosos romances O Crime do Padre Amaro com um episdio em que a fic-o imitava a realidade. A cena passava-se nos finais de Maio de 1871, s portas da Casa Havaneza, no Chiado, na altura em que comeavam a chegar a Lisboa as notcias dos acontecimentos da Comuna, que traziam Paris a ferro e fogo: Pessoas esbaforidas chegavam, rompiam pelos grupos que atulhavam a porta, e alando- -se em bicos de ps esticavam o pescoo, por entre a massa dos chapus, para a grade do balco, onde numa tabuleta suspensa se colavam os telegramas da Agn-cia Havas2. A descrio da agitao da turba, da vozearia das opinies e da nsia de ler os telegramas que chegavam (e que os jornais logo imprimiam) reproduzia, muito possivelmente, o que o prprio Ea vira, em Maio de 1871, e serve como evocao literria do que era uma realidade sociocultural emergente no Portugal do tempo o novo e acrescido poder das notcias, da informao e do jornalismo em geral na modelao das conscincias e dos comportamentos dos portugue-

    Comunicao & Cultura, n. 7, 2009, pp. 17-38

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    ses. Quarenta anos volvidos sobre o momento imaginrio em que o Padre Amaro deambulava pelo Chiado, Eduardo de Noronha haveria de recordar a Casa Hava-neza e toda a rea circundante como o grande ponto de encontro dos fazedores de opinio, dos polticos, literatos, janotas, aristocratas e bomios, para quem os ardinas berravam manchetes, aturdindo os transeuntes com os seus preges. Tudo isto era testemunho real de que o jornalismo se tornara, efectivamente, um poder sociocultural novo, um negcio rendoso, que esgotava rapidamente as gazetas vespertinas e nocturnas3.

    A Casa Havaneza, fundada em 1865, no mesmo ano que o inovador Dirio de Notcias, ficava no centro do centro (Lisboa): junto do Teatro de So Carlos, do Casino Lisbonense, do Grmio Literrio, da Livraria Bertrand, do Hotel Universal, do Caf Tavares, do Teatro da Trindade, no corao do elegante Chiado e s por-tas do bomio Bairro Alto, onde pululavam os clubes polticos e as redaces dos jornais4. Era esse o microcosmos da intelligentsia lisboeta (e portuguesa) no ltimo quartel do sculo xix: um pequeno mundo de jovens iconoclastas e de periodistas mais ou menos ambiciosos, que se educaram civicamente a desconfiar da paz podre do materialismo da Regenerao, sonhando operar uma grande revoluo cultural que transformasse as mentalidades, a sociedade e a poltica, e que final-mente sintonizasse o pas com um novo ideal de cidadania consciente, democrtica e participativa.

    Ea de Queirs era um dos rostos e das penas mais conhecidas dessa gera-o nova a Gerao de 70, que comeara a dar nas vistas alguns anos antes, em Coimbra, antes de se fixar na capital, onde atingiu a fama nesse mesmo ano de 1871, com a realizao da srie de conferncias do Casino Lisbonense5. O seu objec-tivo era o de aprofundar as estruturas liberais criadas em 1820, alargando a esfera pblica enquanto espao de debate e educao polticos, e democratizando o voto e a participao atravs de uma mobilizao ideolgica a que os intelectuais se habi-tuaram a chamar cultura, na acepo mais vasta da palavra6. Naturalmente, os vultos mais representativos desta intelligentsia j no eram os acadmicos, filsofos ou literatos romnticos de outrora, mas novos lderes de opinio massificada, que se mostravam nas ruas, que animavam conferncias ou comcios e que muito parti-cularmente enchiam as pginas dos jornais deste segundo liberalismo: dirios de grandes tiragens, baratos, de informao generalista e reportagem de quotidiano, vocacionados para o grande pblico das cidades (sobretudo Lisboa), que o fomento fontista j fizera crescer espacialmente e diversificar sociologicamente7.

    Nas ltimas dcadas do sculo xix e nos primeiros anos do sculo xx, a imprensa tornou-se o meio por excelncia para a reorganizao sociocultural da nao, e os jornalistas os grandes agentes construtores, intrpretes e porta-vozes

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    desse novo Portugal acordado para uma maior conscincia cvica, para uma parti-cipao mais exigente e para um renovado desejo de europeizao cultural8. Con-sequentemente, esse foi tambm o tempo em que o jornalismo mais se moder-nizou no estilo, nos contedos e at no grafismo9 , atingindo um volume de tiragens, vendas e influncia na vida social e nos centros decisores da poltica que se prolongaria at ao final da I Repblica, e que permanece at hoje inigualado10. Em 1886, num prefcio em que abordava o papel do escritor e a natureza da leitura, Ea de Queirs testemunhou a massificao do mundo da imprensa em Portugal. Um sculo antes, lembrava ele, Voltaire tinha tido cem leitores; em Paris, no ltimo quartel do sculo xix, o Petit Journal tinha oitocentos mil: o escritor, h cem anos, dirigia-se particularmente a uma pessoa de saber e de gosto, amiga da Eloquncia e da Tragdia, que ocupava os seus cios luxuosos a ler, e que se chamava o Leitor; hoje dirige-se esparsamente a uma multido azafamada e tosca a que se chama o Pblico11. A evoluo do leitor de elite para o pblico massificado era assim a novidade do tempo, e operara-se atravs da democracia, da instruo, da ilu-minao a gs, das mquinas Marinoni, dos clubs e da liberdade. Tudo isto fizera sumir o leitor, e em lugar dele o homem de letras viu diante de si a turba a que chama o Pblico, que l alto e pressa no rumor das ruas12.

    O ambiente evocado pelo escritor era o mesmo que Jlio Dantas recordaria nas suas Memrias, dcadas volvidas. Dantas estreara-se no jornalismo muito novo, amanuensado no Novidades. Segundo ele, no fim do sculo xix, os grandes jor-nalistas (Emdio Navarro, Antnio Enes, Mariano de Carvalho, Oliveira Martins e outros) eram a opinio pblica, a expresso viva da conscincia poltica da nao13. O poder era ento uma funo poltica e os que melhor detinham as qualidades requeridas para o seu desempenho eram os jornalistas, por serem indi-vduos de larga viso, de esprito empreendedor, de vasta cultura geral, habituados aos negcios pblicos, conhecedores dos mtodos do governo e da psicologia dos homens; por tudo isto, a imprensa aparecera ao jovem Jlio Dantas como o meio formativo por excelncia das capacidades do governo e um dos melhores campos de seleco do pessoal poltico14.

    Assim sendo, perante um espao pblico e uma opinio pblica em rpido processo de alargamento ao ritmo a que mais portugueses afluam s grandes cidades e mergulhavam, como multido desafiante, na masspolitik radical da cha-mada vida nova15 , a funo exercida pelos jornais e o papel dos mesmos na orientao da vida quotidiana das pessoas, das instituies e do prprio sistema monrquico tornaram-se tpicos de redobrada discusso. Por sua vez, a avaliao do lugar da imprensa no Portugal do tempo levou a uma vasta reflexo entre os jornalistas e homens de letras acerca da sua utilidade, virtualidades, defeitos e peri-

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    gos. Ora as cambiantes, muitas vezes maniquestas e contraditrias, dessa reflexo oscilando entre o maior entusiasmo e o mais profundo cepticismo ajudam em muito a perceber algumas das esperanas conjunturais e alguns dos estrangula-mentos estruturais do Portugal da transio do sculo.

    2. sacerdcio, apostolado e quinto poder: as imagens do bom jornalismo

    de novo a Ea de Queirs que til recorrer para tentar reconstruir a forma como os novos-escritores jornalistas concebiam positivamente o seu of cio e o seu papel, num Portugal em mutao e no qual eles queriam ser a vanguarda esclare-cida e motivadora.

    Em Janeiro de 1867, com 21 anos, o futuro escritor chegou a vora para ser o faz-tudo num pequeno jornal de oposio, o Distrito de vora16. O editorial do n. 1 deu o mote para a forma como a gerao do segundo liberalismo encarava a nova imprensa, ao mesmo tempo que desenhava uma protodeontologia para essa renovada actividade. O jornalismo comeava Ea na sua justa e verdadeira atitude, seria a interveno permanente do pas na sua prpria vida poltica, moral, religiosa, literria e industrial. Com que objectivos? Fazer conhecer o estado das coisas pblicas, ensinar ao povo os seus direitos e as garantias da sua segurana, estar atento s atitudes que toma a poltica estrangeira, protestar com justa vio-lncia contra os actos culposos, velar pelo poder interior da ptria [...] pelo pro-gresso que fazem os espritos, pela conservao da justia, pelo respeito do direito, da famlia, do trabalho, pelo melhoramento das classes infelizes. A actividade do jornalismo nunca devia ter repouso ou abrandamento, porque era necessrio todos os dias falar, discutir, convencer [...] revolver todas as coisas, em ordem a fazer triunfar o bem. Por isso os jornais eram simultaneamente o arquivo da opinio moderna, a repercusso de uma impresso geral, o motor dos espritos, que ensina, professa e alumia como grande construidor do futuro17.

    Ea no se demorou muito em vora, mas cimentou, desde logo, uma justa reputao de terico do jornalismo18, de intelectual activo, de instigador de debate e de observador realista do quotidiano, que cristalizaria nAs Farpas (em parceria com Ramalho Ortigo)19 pela mesma altura em que outro importante compagnon de route, Oliveira Martins, se estreava no Repblica, cujo significativo subttulo era Jornal da Democracia Portuguesa. Desde ento, e durante anos, a imprensa e o jornalismo foram repetidamente incensados e celebrados no espao pblico como os grandes instrumentos para toda a espcie de melhoramentos morais, sociais e polticos que urgia derramar sobre a rotina adormecida da nao.

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    Foi com idntico objectivo que os republicanos se lanaram conquista da opinio pblica, sobretudo a partir do surgimento dO Sculo, em 1880. Magalhes Lima, o seu fundador, era dos que acreditavam que a luta contra os defeitos da Monarquia e o triunfo, a prazo, da alternativa republicana passava por um tipo de combate diferente da pura luta armada o combate dos espritos, que havia que conquistar, doutrinar e orientar. O Sculo era apenas uma das peas de uma vasta poltica do esprito, onde se contavam tambm congressos, exposies, comemo-raes (como a camoniana, nesse mesmo ano), meetings, tudo actuando a favor da liberdade, da moral e da justia, pelo levantamento do esprito pblico, no sentido da criao de uma nova devoo cvica20.

    Alguns anos volvidos, seria Jos Dias Ferreira a elevar a imprensa a um pata-mar ainda mais nobre. Numa carta a Eduardo Coelho, o fundador do Dirio de Notcias, classificava a actividade jornalstica como nada menos que um quinto poder do Estado, que no precisa de estar reconhecido na Constituio, e que, talvez por isso, governa mais que os restantes quatro poderes reunidos21. Havia quase cem anos desde que, em finais do sculo xviii, o filsofo poltico Edmund Burke cunhara a expresso quarto poder para designar a influncia dos peri-dicos sobre a opinio do pblico. Dado que, na cultura poltica portuguesa de Oito-centos, quarto poder era a expresso usada para designar o poder moderador atribudo pela Carta Constitucional privativamente ao monarca, os radicais do final do sculo xix cunharam ento a expresso quinto poder, como que para realar que a influncia do jornalismo se exercia j sobre e para l da esfera da aco rgia, como rbitro supremo da vida pblica portuguesa.

    O poder meditico da imprensa instalou-se ento como barmetro e espe-lho de todos os acontecimentos, debates e reformas do final da Monarquia. A sua capacidade de fazer opinio, trazendo para a leitura camadas populacionais do pas real, e no apenas do pas legal, e de as movimentar, no espao urbano, transformou o jornalismo num contrapoder a que, algumas vezes, o sistema con-servador monrquico teve de responder com tomadas de posio mais ou menos censrias22 cujo efeito contraproducente era reforar ainda mais a centralidade e a importncia do mundo dos jornais. Era muitas vezes em reaco aos desen-contros e conflitos entre os poderes polticos e a imprensa que os profissionais da opinio pblica elaboravam a sua doutrina de defesa da utilidade e das virtualida-des da mesma. Em 1900, Frana Borges, o criador do dirio republicano O Mundo, queixava-se das suspenses e apreenses decretadas pelo Ministrio Pblico (lide-rado pelo famoso juz Francisco Veiga), argumentando que a questo do jorna-lismo extravazava em muito o simples eixo da poltica: era, na verdade, um tema de sociedade, porque era atravs dele que se vulgarizam as ideias e os factos que

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    interessam vida de um povo e vida da humanidade23. Csar da Silva ia mais longe, teorizando que o jornalismo era indispensvel ao poder qualquer poder, de qualquer partido ou regime na nova poca das massas e da democracia, por-que mediava o fluxo comunicacional entre a poltica e o povo e porque regulava a intensidade das reivindicaes deste. Assim, por um lado, num tempo em que a poltica era j bem mais do que o simples controlo de uma maioria parlamentar e de uma meia dzia de centros eleitorais de notveis, ler os jornais e reflectir sobre os seus contedos era fundamental para o poltico, porque era nas suas pginas que se colhia, cintilante, o pulsar das opinies que entre si se digladiam; por outro lado, ao dar publicidade s paixes polticas da massas annima, os jornais funcionavam sadiamente como os vulces, ou seja, como vlvula reguladora das indignaes populares, exteriorizando-as e amolece[ndo] a sua fora24.

    No auge da luta poltica contra o franquismo, e a propsito do projecto de lei de imprensa apresentado pelo governo na Primavera de 1907, Jlio de Vilhena (que sucederia a Hintze Ribeiro na chefia do Partido Regenerador) tambm ecoaria a viso essencialmente entusiasta e optimista dos jornalistas como peas funda-mentais na vida regular das instituies e da sociedade, evocando o seu lugar de mediadores na comunicao entre o topo e as bases: a imprensa que leva a sua [dos polticos] voz aos lugares mais distantes do pas [...] ela que propaga as suas opinies [...] ela que as lana na conscincia pblica e dos aplausos dessa conscincia provm a sua maior glria25. E se falava pelos polticos, tambm falava para os polticos: Quando a imprensa faz uma afirmao, ela supe interpretar o sentimento popular. Apresenta-se como seu rgo, repetindo a sua voz26.

    Alm dos intelectuais dissidentes, como Ea de Queirs ou Magalhes Lima, dos agitadores republicanos, como Frana Borges ou Csar da Silva, e dos polticos (des)alinhados face ao statu quo do rotativismo, como Dias Ferreira ou Jlio de Vilhena, o quinto poder era ainda tema de reflexo e elogio na obra de pedago-gos e de profissionais do of cio, mais ilustres ou mais obscuros. Sampaio Bruno estava entre os primeiros. Fiel tradio ideolgica republicana, entendia a pol-tica como demopaideia, como educao das massas para a elevao cvica, e a imprensa como demopedia, como veculo para desenvolver e popularizar essa mesma educao. Num artigo publicado em 1901, definiria o jornalista como o nico escritor pblico e como o verdadeiro procurador dos cidados na exacta medida em que se o jornalista no puder escrever, o cidado no poder falar em pblico27.

    Tendo a transio do sculo sido um perodo de intensa auto-reflexo da classe dos jornalistas conducente, alis, a uma progressiva construo e afir-mao do of cio como profisso liberal, dotada de formas de organizao interna

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    associativa28 abundaram tambm, nesses anos, escritos vrios, oriundos do seu interior, que constituam outras tantas defesas apaixonadas da misso de infor-mar. No congresso de 1909 da Associao dos Jornalistas e Escritores Portugueses, M. V. dArmelim Jnior foi relator de uma Memria que constitui um dos melhores exemplos da retrica encomistica com que os jornalistas se viam a si prprios.

    Armelim comeava por saudar a centralidade da aco e a influncia da imprensa na marcha ascensional e progressiva da civilizao e no universal concurso de todas as actividades, de todas as energias, de todas as superiores cele-braes e intelectualidades, de todas as ss e fecundas boas vontades; isto era assim porque os jornais tinham ganho uma inconcussa e extraordinria fora, em vista da altssima misso social e histrica de que se achavam revestidos nas sociedades modernas29. Na realidade, em face de eleitorados vastos e socialmente diversificados30, o jornalismo fazia as vezes de ponto de encontro, de posto de escuta e, por sua vez, de megafone retransmissor, assumindo-se como o defensor nato de uma causa, o apstolo devotado de um ideal, a bandeira sacrossanta de um partido, e sempre um agitador e propagador de ideias, sentimentos e aspiraes31. Desenvolvendo o seu raciocnio, Armelim atribua imprensa sete funes, dis-tintas mas complementares, atravs das quais se comprovava o seu lugar impres-cindvel na grande obra de regenerao nacional, perante um esprito pblico sempre e cada vez mais vido de notcias e ansiado por ser largamente informado com preciso e rigor: 1) a informao; 2) a vulgarizao (de conhecimentos teis); 3) a instruo; 4) a educao; 5) a crtica; 6) o servio econmico-social (no caso dos jornais angariadores de campanhas de assistncia e beneficncia pblicas); e 7) o exemplo, ou seja, a criao e defesa de um ambiente de moralidade, probidade e dignidade32. Exercidas em conjunto, estas sete virtualidades faziam da imprensa nada menos que um verdadeiro sacerdcio, um verdadeiro apostolado33.

    Sacerdcio e poderoso instrumento de civilizao eram tambm o mote geral para o longo encmio sua profisso deixado por Alberto Bessa, na sua conhecida obra de 1904, O Jornalismo. Esboo histrico da sua origem e desen-volvimento at aos nossos dias34. Bessa era um escritor, poeta e dramaturgo com uma larga folha de servios na imprensa fora redactor, entre muitos outros, dO Sculo, sob Silva Graa, e do Dirio de Notcias, sob Alfredo da Cunha , e a sua anlise surpreendentemente actual, mesmo tendo em vista as mais moder-nas teorias da comunicao. O seu pressuposto de base era o de que o instinto gregrio do homem e a sua decorrente necessidade de comunicao preexistia a qualquer arranjo social ou forma de regime poltico, como uma inclinao irre-sistvel do nosso esprito e do nosso corpo35. A partir daqui, era possvel definir sucessivamente a imprensa como palavra organizada em instituio, tornada eco

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    da multido annima, obscura, desvalida, paciente, irresoluta e murmurante, ser-vindo, com a sua voz, de vlvula de segurana providencial, e o jornalista como sentinela vigilante, a cujos ouvidos vo ter o pranto, as imprecaes e os lamentos das vtimas da injustia ou da prepotncia36.

    Mais interessante era a forma como Alberto Bessa descrevia a relao entre o jornal e a sociedade, entre o jornalista e os seus (muitos) leitores. Cada rgo de imprensa alcanava a multido annima e fazia dela um pblico, homogenei-zando indivduos e vozes, unidos pela leitura e por aquilo que esta trazia de cons-cincia mais ou menos ntida de que outros, mesma hora, esto partilhando sen-timentos iguais, iguais ideias37. Por isso competia ao jornal, e s ele o podia fazer, a construo e expresso das opinies, na medida em que s ele conseguia, pela sua circulao e leitura alargadas, dirigir a vontade, a resoluo e os actos; reflectir a impresso, o sentimento e as emoes; dirigir o protesto, a reclamao, a queixa; reflectir a agresso, a injustia, o sofrimento; dirigir a iniciativa, o movimento, a liberdade; reflectir a ameaa, a opresso, a tirania38. Eram estas as valncias que finalmente promoviam cada jornalista, per se, a figura cimeira da cultura, da socie-dade e da poltica, como mestre de primeiras letras, catedrtico de democracia em aco, advogado e censor, familiar e magistrado, e a imprensa suprema categoria de maior de todas as actividades humanas e sol da civilizao, que aquece, alumia e fertiliza (sic)39.

    3. Mercantilismo, injria e vaidade: as imagens do mau jornalismo

    O mundo dos jornais mudara muito quantitativa e qualitativamente da gerao liberal romntica para a gerao realista, e dos primeiros anos da Regenera-o para as ltimas dcadas do sculo. Todavia, se verdade que a evoluo fora em muitos aspectos positiva, tambm tivera aspectos mais negativos, que ensombravam o exerccio da profisso e a fama pblica de quem a ela se dedicava. A teorizao de Alberto Bessa um bom ponto de partida para complexificar um pouco mais a rela-o que a intelligentsia tinha com a imprensa, e para detectar, ao lado das luzes opti-mistas com que a generalidade dos discursos se referia ao jornalismo, uma face mais escura, que reconhecia e lamentava neste a existncia de defeitos e perigos vrios.

    O mau jornalismo era, para Alberto Bessa, uma realidade indesmentvel em muitas e muitas pginas da imprensa do seu tempo. Por mau jornalismo enten-dia ele, fundamentalmente, a concesso do estilo e contedos ao voyeurismo mais sensacionalista, que se demitia de realizar servio educativo, ou seja, que descia a satisfazer o gosto depravado do grande pblico, esquecendo o seu papel de guia

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    da opinio, preferindo publicar, a um artigo melhor escrito e melhor pensado, a notcia desenvolvida e ridiculamente pormenorizada de uma cena de facadas na rua Suja ou de um caso de adultrio na Baixa40.

    Num certo sentido, era inevitvel que isto tambm tivesse acontecido em Portugal. Quando a orientao editorial da maioria dos peridicos comeou, nas dcadas de 1860 e 1870, a afastar-se da alta poltica de Estado para um noticirio nacional e internacional multitemtico e mais virado para o quotidiano social, os jornalistas comearam a descobrir, e o pblico afeioou-se a ler, a realidade, tal como ela existia num pas que, malgrado o progresso econmico fontista, manteve sempre enormes bolsas de subdesenvolvimento, misria e conflitualidade social. por isso que Alberto Bessa, como muitos outros, raciocinava de forma circular, opinando que a m imprensa era causa, e tambm consequncia, do mau pblico, ou seja, de camadas e camadas de leitores novos, com pouca instruo, atirados para os arrabaldes da cidade e da civilizao sem os instrumentos mentais que permitissem aproveitar o melhor das pginas de jornal e recusar o pior, obrigando quem escrevia a refinar temas e registos. Se me disserem que da prpria imprensa a culpa escrevia ele no o negarei, porque no pode negar-se a evidn-cia dos factos. Mas h-de reconhecer-se que na prpria deficincia do mercado est a explicao desse facto condenvel [o mau jornalismo] mas lgico at certo ponto41.

    Os lamentos, avisos, denncias e crticas acerca da m imprensa e da pssima influncia exercida pela mesma na educao dos espritos para a ilustrao e para a cidadania constituam portanto a outra face, o reverso da medalha, dos encmios acima referidos, e enquadraram tambm, ao longo das ltimas dcadas do scu- lo xix e dos primeiros anos do sculo xx, toda a reflexo sobre o lugar e a impor-tncia do jornalismo na cultura, na sociedade e na poltica portuguesas do tempo.

    O mote comeou na ala mais conservadora da intelligentsia portuguesa, e na reaco desconfiada com que esta recebeu o sopro de novidade trazido pelo Dirio de Notcias, pelo seu estilo simples, pela sua abrangncia temtica, pelo seu pblico socialmente desfavorecido e pela sua estratgia de rentabilizar o jornal atravs da activa angariao de publicidade. Em 1872, Silva Pinto declarava deplo-rvel a escola de Eduardo Coelho, e arrasava j a reputao do DN referindo-se- -lhe como uma folha inconsciente, que oferecia o pungentssimo espectculo de um mercantilismo desaforado (sic)42. Alargando a anlise do DN ao geral da imprensa existente no incio da dcada de 1870, Silva Pinto era ainda mais custico: os jornais eram fontes impuras e os jornalistas apstolos da mentira e do erro. O retrato de conjunto no deixava dvidas: O elogio constante aos devassos de todos os partidos pelos rgos desses partidos; a explorao espirituosa dos delitos

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    de toda a casta; o sangue frio revoltante na enumerao dos crimes mais atrozes; o mercantilismo abjecto estabelecido como programa; a colocao da imprensa ao servio de vinganas pessoais; a escassez absoluta de competncia [...] eis o quadro43. Dois anos volvidos, Guimares Fonseca, um panfletrio admirador do velho jornalista-poltico Antnio Rodrigues Sampaio (uma das estrelas da gerao de Garrett, Herculano ou Jos Estvo), haveria de traar a diferena entre o que fora a imprensa antes da massificao e o que ela era agora. Nos gloriosos tempos em que o Sampaio dA Revoluo de Setembro era o maior orculo do diminuto espao pblico portugus, o jornalismo era arma de combate magnnimo, e no tela de discusso efmera, cdigo das liberdades e dos direitos do povo, e no estendal de injrias partidrias, pelourinho de afrontas e circo de represlias44.

    Se agora revelava estes defeitos e vcios, o jornalismo mais no fazia, na ver-dade, do que espelhar o que era a nova sociedade portuguesa. O fomento e a urba-nizao, a Gerao de 70 e as Conferncias do Casino, a Janeirinha, o iberismo, a Comuna e a propaganda revolucionria de socialistas e republicanos no tinham apenas acordado o pas para a participao cvica, para a aprendizagem da demo-cracia e para a leitura de massas; tinham, de igual passo, forjado um pas, parti-cularmente no espao urbano, que popularizara o desdm, a vaga hostilidade, a indisciplina nas camadas mais baixas45, um radicalismo retrico e uma exci-tabilidade anti-sistema que contaminavam os jornalistas (e muitos dos que iam chegando profisso eram oriundos destes estratos populacionais urbanos mais revolucionrios), e invadiam as pginas da imprensa. Estas, por sua vez e sobre-tudo na lgica dos grandes dirios republicanos sucessivamente criados, desde O Sculo e dA Vanguarda ao Mundo e Lucta , apostavam no registo verbal vio-lento, escandaloso e sensacionalista para atiar as massas contra o sistema, assim iniciando no jornalismo portugus a cultura justicialista e insultuosa de contrapo-der, de que eram mximos exemplos a yellow press norte-americana de William Hearst ou o new journalism britnico de Alfred Harmsworth.

    Era muito disto que se queixava, j em 1883, Duarte Gustavo Nogueira Soa-res, um alto-funcionrio pblico, fidelssimo a Fontes Pereira de Melo (o mais ins-titucional e institucionalizado poltico da segunda metade do sculo xix portu-gus). Nogueira Soares era um teorizador de largo flego, e a questo do valor e dos defeitos da imprensa interessava-lhe pela ligao que a mesma tinha com a poltica e a cidadania. Segundo ele, entre as principais escolas de educao poltica parlamentos, comcios ou reunies pblicas e imprensa era esta ltima a mais importante, pois acha-se colocada porta ou dentro da casa de cada cidado46. verdade que o jornalismo era um augusto sacerdcio, um santo apostolado, uma suprema magistratura, teoricamente ao servio do esprito pblico, e da

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    opinio pblica que ele cuidadosa e conservadoramente elevava da vontade popular inteligncia nacional47. O problema que no era na realidade isto que se podia observar no quotidiano dos jornais. Nogueira Soares era to ou mais crtico que Silva Pinto: A imprensa, que devia ser toda, sem excepo de um s jornal, a mais eficaz e benfica escola de educao e moralizao, , em grande parte, a mais perniciosa escola de perverso e desmoralizao poltica. A imprensa, que devia ser ampla arena de nobres e leais combates da inteligncia, muitas vezes uma encruzilhada em que os caluniadores de of cio e profisso, os sicrios da honra, vm colocar-se por detrs de um testa-de-ferro para agredirem covarde e impunemente homens48. Era por tudo isto que ela aparecia, tantas vezes, aba-tida e reduzida a praa de regateiras, a soalheiro de bisbilhotices, ou a palco de histries, redigida que era por homens sem conhecimentos, sem talentos, sem pureza nem elevao de carcter49.

    A questo era todavia mais complexa. Ao mesmo tempo que zurzia o jorna-lismo mais desbragado e violento, Nogueira Soares no esquecia onde radicava verdadeiramente o mal. Qualquer reforma dos hbitos e do tom da imprensa teria de passar prvia e necessariamente por uma reforma dos nossos costumes50, que produzisse um pblico mais exigente, mais esclarecido, mais selectivo, mais crtico da vulgaridade, e que recusasse contribuir com o seu bulo para o triunfo da injria poltica ou do escndalo social51. Ora esse pblico de qualidade era uma miragem, em face da persistncia de inveterados hbitos de indolncia entre os portugueses, que mal se compadecem com as exigncias do governo represen-tativo52. Que fazem os habitantes deste pas?, exasperava-se Nogueira Soares; dormem tranquilamente o sono da indiferena53. A concluso final da anlise era um negro diagnstico acerca do nimo cvico e do nvel cultural do Portugal tardo- -oitocentista: Se temos um jornalismo mau ou pssimo, porque o no merece-mos melhor [...]. Tempo j de nos desenganarmos: cada nao tem o jornalismo que merece; e enquanto no fizermos o que nos cumpre para merecer melhor jor-nalismo, claro est que no o podemos ter54.

    Nogueira Soares constatava o fracasso, mas no sabia (ou no queria, ele que era um adepto do fontismo, ou seja, do modelo de desenvolvimento em curso naquelas dcadas), diagnosticar-lhe todas as causas e sinais. Na realidade, as ima-gens maniquestas com que a intelligentsia olhava para o jornalismo portugus no ltimo quartel do sculo xix ora como espao de sacerdcio e apostolado, ora como palco de histries e mercantilistas eram o testemunho de profundos con-trastes e desequilbrios que estruturalmente marcavam (e marcam) a sociedade portuguesa, no obstante todos os saltos peridicos de progresso material e de esforo na qualificao dos recursos humanos que se sucederam na contempo-

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    raneidade nacional. verdade que o fontismo activou a circulao e as comuni-caes, rompeu isolamentos, engendrou cidades maiores, instruiu mais gente, multiplicou espaos de sociabilidade e consolidou um Estado liberal que foi habi-tuando as pessoas ao debate pblico e a uma maior consciencializao cvica sobre o valor do voto, da informao, da palavra e da participao. No entanto, se bem que indubitavelmente mais rico, desenvolvido e arejado em 1900 do que em 1851 (no comeo da Regenerao), Portugal no deixou de ser e por muito tempo continuaria a s-lo um pas pobre, rural, esmagadoramente analfabeto, onde a cultura, a crtica e a opinio permaneciam ilhas de civilizao da burguesia urbana, cercadas pelo mar de rotina social e de anomia cvica em que viviam os muitos para quem o poder no encarnava apenas a autoridade temida, mas a segurana pblica e o emprego economicamente remediado. Dito de outra forma, a imprensa e a militncia cvica dos jornalistas mais esclarecidos exigiam, para a manuteno de um debate de qualidade, densidade e nvel, um pas real que, na realidade, sim-plesmente no existia. Por isso, o mais das vezes, o que existia nas pginas dos jor-nais era a pequena luta partidria, de bastidores e caciques, e o relato da pequena misria quotidiana, tudo espelhos de um pas parco de vida cultural e cvica, onde a sociedade civil era exgua e fraca perante um Estado tambm ele sem grandes recursos. A tudo isto acresce que o jornalismo ele prprio, como profisso libe-ral, tardou a constituir-se em Portugal, e nunca verdadeiramente se autonomizou em relao poltica: e a contaminao entre os dois mundos, na figura tpica do poltico-jornalista, no s inflacionava, nas pginas dos jornais, a violncia verbal ad hominem em detrimento da grande informao mais objectiva, como, ao faz- -lo, prejudicava a funo propriamente formadora da imprensa junto dos pblicos que nela poderiam procurar veculo para a aprendizagem da cidadania.

    Mais gente, no fim do sculo, lia, aparecia no espao pblico e emitia opinies, ou guiava-se pelas opinies de outros; mas muita, a maioria, continuava arredada da cultura cvica e jornalstica, fugida dos apelos mais entusiastas da vida nova, e vtima dos agitadores de verbo insultuoso que a confundiam com os seus slogans e campanhas dirias. Em 1900, a populao urbana portuguesa, no obstante o alargamento das cidades como Lisboa e o Porto, no ultrapassava os 16% do total nacional55. A taxa de analfabetismo rondava os 78% de mdia nacional, provando que a escola era ainda um exclusivo dos mais ricos56. Quanto estrutura profis-sional da populao activa, a agricultura ainda absorvia cerca de 60% da mo-de- -obra nacional, enquanto os sectores da indstria e dos servios no empregavam mais do que uns 20% cada um57. No espanta, com estes indicadores, que todos os comentadores mais ou menos catastrofistas da crise que se abateu sobre Por-tugal no termo do sculo xix lamentassem a anomia cvica do pas, que depois se

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    repercutia nas fragilidades e nos defeitos da opinio pblica e do jornalismo que a ecoava.

    Para Silva Cordeiro, Portugal vivia mergulhado num marasmo de conscincia colectiva, no qual crescia e alastrava a legio dos indiferentes e uma opinio sem f, mbil e ftua, absolutamente discrio dos que a dirigem, sem ideal nem coragem58. Para Augusto Fuschini, no fundo do esprito portugus continuava, incorrigvel, a extrema ignorncia dos cidados, que um jornalismo essencial-mente partidrio no conseguia iluminar e educar: a agitao da curiosidade, o interesse pelos negcios pblicos, a actividade das opinies, todos esses elemen-tos que caracterizam a vida popular, ningum os sente no fundo do organismo social59. Para Sampaio Bruno, por ltimo, a ignorncia do povo portugus e[ra] infelizmente incontestvel; no era que o povo no existisse o que e[ra] preciso era educ-lo, atravs da actividade dos letrados, dos publicistas e dos pol-ticos60. Mais uma vez o crculo fechava-se: a imprensa devia fabricar e formar o povo; mas que imprensa de qualidade, de ilustrao, de doutrinao democrtica poderia existir, e para que pblico, se, na base e partida, no havia povo no sen-tido de comunidade cvica autoconsciente? Eis a quadratura do crculo em que morreram, afinal, todos os sonhos de renovao alimentados pela intelligentsia portuguesa.

    Em Junho de 1899, Emdio Navarro escreveu no Novidades que a m imprensa, a imprensa dissolvente, que vivia da licena desenfreada e que insti-gava profundas desordens sociais, era a que infelizmente abundava em Portugal, ameaando todos os dias transformar um crebro inculto ou doente num doido furioso61. O sempre custico Fialho de Almeida e o ltimo Ea de Queirs eram outras duas vozes que tambm alinhavam pelo retrato negativo da imprensa e do jornalismo na era em que aos mesmos se prescreviam as maiores venturas e rea-lizaes.

    Apesar de jornalista, Fialho de Almeida sempre expressou vrias reservas sua classe profissional. Olhando volta, em 1890, em pleno burburinho ps-Ulti-mato, quando em todas as esquinas aparecia um pasquim e um orador, achava que o jornalista era o tipo consumado do arrivista enrgico e pimpo, desa-busado de todas as crenas, batido de todas as misrias e esfomeado de todos os prazeres, pronto a fazer de uma actividade que se queria nobre e pura uma arvia de pulhastros e michelas, dbia e inviril, [...] que se vomita pelas enfrestaduras da vergonha, em vagalhes de inqualificveis grosserias (sic)62. A misso da imprensa era fomentar uma nova conscincia, lanar polticas e debates, renovar a literatura, popularizar a cultura; nada disso se via em Portugal. Em vez de sacerdcio e apos-tolado laico, o jornalismo era uma feira franca dos audazes, um stio de passa-

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    gem, destinado aerostao poltica de um nome, defesa dum sindicato ou a fazer ganhar dinheiro a um imbecil63. Assim mal servido, no admirava que o pas no reparasse nos bons livros ou nas exposies de arte que de quando em vez apareciam64.

    No final da vida, precocemente envelhecido, entristecido e cptico, Ea de Queirs encarnou na perfeio a dualidade de imagens que o jornalismo suscitava na intelectualidade, e a relao de amor/dio que ele, e muitos, nutriam em relao ao mundo da imprensa65. Num texto escrito para a Gazeta de Notcias do Rio de Janeiro, em Abril de 1894, o ento cnsul em Paris (posto diplomtico para que fora nomeado em 1888) comentou longamente o que lhe pareciam ser os vcios e defeitos do jorna-lismo que tinha diante de si66. No geral comeava por salientar a imprensa, quer a europeia, quer a americana, era superficial, linguareira e sectria, mais nociva do que benfica no seu conjunto, porque comunicava ao pblico estes defeitos e, em lugar de educadora, se tem lentamente tornado uma viciadora do esprito e dos costumes67. Desenvolvendo o quadro, a superficialidade geral do jornalismo era patente na maneira como contribua para dar ao nosso tempo o funesto e j irra-dicvel hbito dos juzos ligeiros, atravs de textos fragmentrios, escritos pressa, centrados apenas na espuma dos eventos mais ruidosos que desfilavam diante dos olhos68. superficialidade ligava-se a bisbilhotice, patente na indiscreta e desor-denada reportagem69. A ateno voyeurista ao que muitas vezes era acessrio e no essencial levava, por sua vez, a que as pginas dos jornais fossem montra e alento para o desenvolvimento da vaidade. O jornal hoje, com efeito, o grande assopra-dor da vaidade humana, escrevia Ea, por criar imerecida notoriedade a quem tinha a sorte ou o engenho de chegar a ser notcia70. Em plena Belle poque hedonista, aparecer nas pginas de um jornal, mesmo que pelas ms razes, era uma aspirao e uma recompensa como outrora a esperana do cu, com tudo o que isso signi-ficava de abastardamento da nobre misso do jornalista e de crise de valores entre a multido que os lia: para vir no jornal que os homens se arrunam, e as mulheres se desonram, e os polticos desmancham a boa ordem do Estado, e os artistas se lan-am na extravagncia esttica, e os sbios alardeiam teorias mirabolantes, e de todos os cantos, em todos os gneros, surge a horda sfrega dos charlates71.

    Tinha passado cerca de um quarto de sculo desde o entusiasmo de juventude expresso no Distrito de vora. Era um Ea de Queirs vencido da vida e rendido ao tdio e ao spleen dos ltimos anos de Oitocentos o que agora julgava to crtica e sarcasticamente uma actividade qual devotara grande parte da sua vida e obra72. O contraste entre os dois Eas o da dcada de 1860 e o da dcada de 1890 era afinal a materializao, num homem singular, do que fora o percurso do pas, desde o impulso renovador, que surgira como fasca com os jovens da Gerao de 70,

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    at ao definhar dessa chama, uma gerao volvida, quando as vozes mais lcidas da intelectualidade se renderam evidncia de que, pelas mais diversas razes e pelos mais persistentes estrangulamentos, culturais, mentais, de instruo, econ-micos, sociais ou polticos, a nao no conseguira captar a mensagem e agir em conformidade. Era neste fracasso revelador dos limites da chegada da moder-nidade massificada, democrtica e meditica a Portugal que entroncava o que uma autora descreve como a posio ambivalente dos homens de letras face s grandes mudanas operadas no universo jornalstico no final do sculo (e de que Ea a melhor expresso) se, por um lado, perspectivam os jornais como um bem imprescindvel que ensina a ler o mundo e permite a vivncia democrtica, por outro lado tambm captam os seus aspectos mais disfricos, nomeadamente o enfeudamento do jornalista nova fora crescente da massa dos leitores73.

    4. concluso: jornalismo que deve e jornalismo que pode

    Desde o impulso renovador da Gerao de 70 e da chegada a Portugal do jor-nalismo barato, noticioso, generalista, dirigido aos grandes pblicos urbanos, at transio do sculo, o espao pblico portugus, nele se compreendendo as cam-biantes da opinio pblica e a actividade, variada, de jornalistas e jornais, sofreu uma recomposio multifacetada, de que os principais vectores foram a acelerao (mais e mais rpida comunicao), a complexificao (de gneros, temas e grafis-mos), e o alargamento (de autores e pblicos)74.

    No centro dessa recomposio esteve o jornalismo, tornado progressivamente uma indstria cultural75 na sua tripla funo de informador, formador e divulga-dor de ideias, factos, fait-divers, modas, tendncias, rumores, livros, espectculos, personalidades e tudo o mais que preenchia a agitada vida quotidiana das multi-des no ltimo quartel do sculo xix e no incio do sculo xx. Aos olhos da intelli-gentsia, em tempos incertos, de rpidas transformaes, como eram aqueles, as potencialidades e virtualidades tericas da imprensa andavam de par com os seus desvios, perigos e vcios fazendo dos jornais o melhor, mas tambm o pior, dos instrumentos de clarificao do debate pblico, e revelando o quanto, no prprio interior da profisso, coexistiam apreciaes muito dspares sobre o of cio. Como Alberto Bessa explicava num passo do seu livro, em 1904, o jornalismo deve ser; mas o nosso jornalismo no pode ser o que deve e que a maior parte dos nossos jornalistas queria que ele fosse, precisamente porque a exiguidade do meio em que se desenvolve no o deixa actuar e antes o obriga a ser actuado se quiser existir. deplorvel por certo, mas assim76.

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    NOTAS

    1 Este texto uma apresentao preliminar de alguns resultados da pesquisa individual que levo a cabo como investigador do Centro de Estudos de Comunicao e Cultura (CECC) da Faculdade de Cincias Humanas da UCP, integrado no subprojecto Cultural Wars, Public Intellectualism and the Making of Citizenship, da linha de investigao Cultura e Conflito / Culture and Conflict. Agradeo a leitura atenta e as crticas e sugestes a ele feitas pelo Prof. Doutor Rogrio Santos; o produto final , naturalmente, da minha inteira responsabilidade.

    2 Queirs, 1876: 491. V., para uma evocao do significado deste episdio dO Crime do Padre Amaro, Bruno, 1906: 6-7.

    3 Noronha, 1911: 57-61 e 157-158. S no caso particular de Lisboa, a venda de jornais registou uma evoluo de cerca de 50 mil exemplares dirios nos finais da dcada de 1860 para cerca de 300 mil exemplares dirios no final da Monarquia (v. Tengarrinha, 1989: 227, e Ramos, 2001: 55).

    4 V. Dias, 2001: 39-51.5 V. Reis, 1990: 15-28 e 50-67.6 Ramos, 2004: 113-114 e 129.7 Entre 1864 e 1900, a populao urbana portuguesa quase duplicou, passando de cerca de 475 mil

    habitantes para perto de 810 mil; s a populao de Lisboa aumentou de uns 200 mil habitantes para cerca de 360 mil (Ramos, 2001: 36).

    8 O arco temporal deste texto dos finais da dcada de 1860 ao incio do sculo xx corresponde ao perodo que Jos Tengarrinha definiu como a fase industrial da imprensa, iniciada em 1865, com o lanamento do Dirio de Notcias (Tengarrinha, 1989: 211 e ss.).

    9 V. Dias, 2007: 314.10 De acordo com estatsticas da poca, em 1900 existiam em Portugal 592 jornais mais 52% do

    que em 1894 (data em que se contabilizavam 389 jornais), e mais 296% do que em 1880 (data em que existiam cerca de 200 jornais no pas) (Aranha, 1900: 45 e 47, e Coelho, 1881: 5-6). Dividindo o nmero de jornais pela populao portuguesa 5,5 milhes de habitantes em 1900 apura-se um ratio per capita de quase 1 jornal por cada 9300 habitantes, cifra nunca mais igualada desde a I Repblica at aos dias de hoje.

    11 Queirs, 1886: 6.12 Queirs, 1886: 10-11. Como Ea noutro passo sintetizava, a ideia de leitura, hoje, lembra uma turba

    folheando pginas pressa no rumor de uma praa (ibidem: 7).13 Dantas, 1968: 62.14 Dantas, 1968: 63. Nos termos actuais de Ana Teresa Peixinho, escrever nos jornais era uma forma

    de afirmao de uma autoridade, um modo de publicitar ideias, de divulgar obras, de defender ideologias, de travar polmicas diversas, enfim, de participar activamente na construo da esfera pblica (Peixinho, 2007: 19).

    15 Para o conceito de vida nova como postura intelectual iconoclasta e dissidente e programa de interveno poltica mais ou menos radical, v. Ramos, 2001: 171-179.

    16 V. Mnica, 2003: 11-14, e Peixinho, 2007: 23-26. 17 Queirs, 1867: 9-11. Em Maro de 1867, Ea precisaria que o povo tem trs coisas supremas que

    so a sua vida: a opinio das praas, que a sua ideia espontnea e sentida; a imprensa, que a sua opinio esclarecida e estudada; o direito de petio, que a sua apelao, o seu desagravo das injustias e das opresses. Se ele no tivesse estas coisas, era uma massa inerte, morta, material, sem importncia na vida pblica, sem unio com a ptria (ibidem: 86).

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    18 Na opinio de Ana Teresa Peixinho, desde muito cedo, o escritor [Ea] revela uma particular sen-sibilidade pela nova fora social e cultural que a imprensa representou na centria de Oitocentos. Com a sua capacidade de observao perspicaz, Ea rapidamente compreendeu o poder do jorna-lismo na transformao social da poca (Peixinho, 2007: 24).

    19 No fim da vida, recordando As Farpas, Ea diria: Elas eram ento como uma janela aberta, por onde entravam para o pas grandes rajadas de civilizao e de educao, irregulares e imetdicas, como todas as rajadas, mas varrendo os miasmas e trazendo sempre alguma boa semente (cit. por Bruno, 1906: 314).

    20 Lima, 1927: 133, 137-138. A partir de meados da dcada de 1890, quando Magalhes Lima foi subs-titudo por Silva Graa na liderana do jornal, O Sculo mitigou um pouco a sua filiao republicana para se afirmar como um grande rgo de informao essencialmente empresarial.

    21 Carta de 1885, cit. por Cunha, 1941: 121, nota 1. 22 V. Sardica, 2000: 35-37. Em todo o caso, contudo, mesmo com as formas de controlo administrativo

    ou censura experimentadas desde a lei de Lopo Vaz, em 1890, s leis de imprensa franquistas, de 1907, o jornalismo portugus nunca foi seriamente ameaado e nunca deixou de revelar uma fron-talidade combativa e um ardor retrico nicos na histria da imprensa portuguesa.

    23 Borges, 1900: 3.24 Silva, 1922: 269.25 Vilhena, 1916: 321.26 Vilhena, 1918: 287.27 Cit. por Pereira, 2007: 422-423.28 V. Vargues, 2003, e Santos, 2005.29 Armelim, 1909: 3-4.30 O maior alargamento do universo de votantes em Portugal ocorreu com a reforma eleitoral de 1878:

    antes dela, no mais do que 10% dos portugueses tinha direito de voto; com ela, o voto foi alargado a cerca de 70% da populao masculina adulta (Pinto e Almeida, 2000: 6).

    31 Armelim, 1909: 4.32 Armelim, 1909: 6-7.33 Armelim, 1909: 8.34 Bessa, 1904: 36 e 184. 35 Bessa, 1904: 41. 36 Bessa, 1904: 28-29.37 Bessa, 1904: 31-32.38 Bessa, 1904: 35.39 Bessa, 1904: 36, 181 e 183.40 Bessa, 1904: 178.41 Bessa, 1904: 179. O autor fazia questo de citar, em abono do seu argumento, uma carta escrita por

    Antero de Quental, possivelmente num dos ltimos momentos da sua vida, na qual o desiludido poeta aoriano dizia que labora[va] em iluso todo aquele que achasse ser possvel criar e fazer durar uma publicao superior em moralidade e ilustrao ao nvel moral e intelectual do pblico; por isso, em Portugal, para durar, o jornal [...] ser sempre e necessariamente o espelho lisonjeiro do pblico e no o seu mestre severo (ibidem: 180).

    42 Pinto, 1872: 8-9.43 Pinto, 1872: 14-15.44 Fonseca, 1874: 13. O autor completava o quadro dizendo que, no momento em que escrevia, mais

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    de trinta anos volvidos sobre a fundao do jornal A Revoluo de Setembro, a imprensa, com honestssimas e brilhantes excepes [...] negoceia as vulgaridades argentrias ou adula os dispen-sadores das graas rgias. No discute com a cincia dos factos, com a crtica dos acontecimentos; no agride o mal, no verbera o crime, no corta o rebento nocivo da rvore, no planta a vergntea prometedora de frutos (ibidem: 14).

    45 Teles, 1905: 61-62.46 Soares, 1883: 10.47 Soares, 1883: 218, 227 e 238.48 Soares, 1883: 10.49 Soares, 1883: 10 e 16.50 Soares, 1883: 275.51 Soares, 1883: 16.52 Soares, 1883: 19.53 Soares, 1883: 25.54 Soares, 1883: 285 e 295.55 Pinto & Almeida, 2000: 4.56 Pinto & Almeida, 2000: 4. O drama deste nmero surgia cristalino quando comparado com o estran-

    geiro: em 1850, ou seja, meio sculo antes da data da taxa portuguesa apontada, j a Gr-Bretanha no tinha mais do que 1/3 da sua populao analfabeta e a Alemanha 1/4 apenas (ibidem: 240-241). De acordo com o recenseamento populacional portugus de 1890, cerca de 74% das crianas com idades compreendidas entre os 7 e os 9 anos no sabiam ler nem escrever, e nem sequer frequentava a escola, mesmo quando a lei a isso j obrigava (Ramos, 2001: 33). E ainda em 1909, um relatrio da Inspeco-Geral das Escolas assinalava que apenas 14% (mdia nacional) do total de alunos que concluam a instruo primria ingressava no ensino liceal, tcnico e politcnico (Dias, 2007: 316).

    57 Ramos, 2001: 26.58 Cordeiro, 1896: 60, 138 e 234.59 Fuschini, 1899: 329 e 334. Noutro passo da obra, o autor seria ainda mais cptico: Em povo algum

    do mundo, ouso quase afirm-lo, se manifestou mais completa indiferena pelos actos da vida pblica e administrativa da nao (ibidem: 117).

    60 Bruno, 1906: 145 e 151.61 Cit. por Noronha, 1913: 265-266.62 Almeida, 1890: 211-212.63 Almeida, 1890: 214-216.64 Almeida, 1890: 219.65 V. Peixinho, 2007: 25.66 O contedo deste texto muito semelhante ao da carta xv dA Correspondncia de Fradique Mendes,

    uma publicao semipstuma de Ea, dada estampa apenas em 1900, mas que reunia cartas vrias, endereadas por essa personagem imaginria que ele criara, redigidas pelo escritor desde finais da dcada de 1880 (v. Queirs, 1900: 215-224). possvel, portanto, que o texto de 1894 tivesse sido, originalmente, uma dessas cartas, que permaneceu indita durante alguns anos, at Ea a reformu-lar para publicao no Brasil. V., sobre o texto de 1894, Peixinho, 2007: 31-33.

    67 Queirs, 1894: 355.68 Queirs, 1894: 355. Segundo Ea, os jornais ofereciam cada manh, desde a crnica at aos ann-

    cios, uma massa espumante de juzos ligeiros, improvisados na vspera, das onze meia-noite, entre o silvar do gs e o fervilhar das chalaas, por excelentes rapazes que entram pressa na redaco,

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    agarram uma tira de papel, e, sem tirar mesmo o chapu, decidem com dois rabiscos da pena, indi-ferentemente sobre uma crise do Estado, ou sobre o mrito de um vaudeville (Queirs, 1894: 356).

    69 Queirs, 1894: 357.70 Queirs, 1894: 357. Vir no jornal! Ter o seu nome impresso, citado no jornal! Eis hoje, para uma

    forte maioria dos mortais que vivem em sociedade, a aspirao e recompensa supremas (ibidem).71 Queirs, 1894: 358.72 Para um resumo das mltiplas ligaes de Ea ao universo jornalstico portugus da segunda metade

    do sculo xix, v. Mnica, 2003: 7-45, e Peixinho, 2007: 18-19.73 Peixinho, 2007: 33.74 Entre o ltimo quartel do sculo xix e o primeiro quartel do sculo xx [...] desenvolveu-se no

    nosso pas uma cultura urbana de massas num quadro histrico de efeitos multiplicadores nos pla-nos social e cultural que transformaram o espao pblico em Portugal (Dias, 2007: 309).

    75 O conceito de indstria cultural aqui utilizado numa acepo bastante genrica e retroactiva em relao sua entrada oficial no lxico da sociologia ou dos estudos culturais. Mas era, de facto, de uma indstria nova, e no de um passatempo amador de simples letrados ou escritores, que a conhecida Princesa Rattazzi falava, ao escrever, divertida, sobre a realidade jornalstica portu-guesa, em 1879: Realizou-se em Portugal o ideal do Sr. mile de Girardin. A liberdade absoluta de imprensa floresce nas margens do Tejo tanto como sobre as do Tamisa. No h ningum que no sopre na tuba da fama; a questo consiste em saber se sopra melhor ou pior (Rattazzi, 1879: 243).

    76 Bessa, 1904: 182 (itlicos no original).

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