VIEIRA 2013 a Relação de Intermedicalidade Nos Índios Truká Em Cabrobó Pernambuco

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Hítalo Thiago Gomes Vieira Bacharel em Enfermagem. Endereço: Rua José Padilha, 108, cohab VI, Petrolina, CEP 56300- 000, Pernambuco, Brasil. E-mail: [email protected] Jacqueline Eyleen de Lima Oliveira Bacharel em Enfermagem. Endereço: Avenida Barão do Rio Branco, 799, ap.04, Centro, CEP 56300-000, Petrolina, PE, Brasil. E-mail: [email protected] Rita de Cássia Maria Neves Doutora em Antropologia Social. Professora Adjunta da Universi- dade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Endereço: Rua Dr. Otávio Maia, 2.554, Lagoa Nova, CEP 59077-060, Natal, RN, Brasil. E-mail: [email protected] 1 Projeto de pesquisa financiado através de edital da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE), processo no APQ-0840-7.03/08. Financiamento: Universidade de Pernambuco, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE). A relação de intermedicalidade nos Índios Truká, em Cabrobó – Pernambuco 1 The intermedicality relationship among Truká Indians, in Cabrobó – Pernambuco Resumo Introdução: Os conhecimentos tradicionais indíge- nas de saúde fundamentam-se em uma abordagem holística, cujo princípio é a harmonia de indivídu- os, famílias e comunidades com o universo que os rodeia. Um dos desafios que antecede a atuação dos profissionais de saúde é o respeito à diferença, em que os conhecimentos e tecnologias da Biome- dicina não devem ser transmitidos verticalmente, tornando-se imprescindível o reconhecimento da diversidade social e cultural dos povos indígenas. Objetivo: Identificar as práticas de autoatenção nos índios Truká e a relação dessa população com a biomedicina, constatando a ocorrência ou não de interrelação das práticas biomédicas com os sistemas tradicionais de cura. Metodologia: O es- tudo é caracterizado como uma pesquisa de cunho qualitativo. Para a realização dessa pesquisa, foram coletados os dados no Polo Base Truká, em Cabrobó e no Território Indígena, na Ilha de Assunção. A coleta de dados foi realizada durante os meses de novembro de 2010 e janeiro de 2011, quando foram realizadas entrevistas semiestruturadas aliadas ao método de Observação Participante e registro em Diário de Campo. Os sujeitos da pesquisa foram vinte e um indivíduos, incluindo índios Truká e profissionais da equipe multidisciplinar de saúde indígena. Resultados: Para os Truká, o processo de cura é polissêmico. Composto por posse do território, práticas rituais, tais como o Toré, rezas, além do uso de lambedor e garrafadas. Por sua vez, fazem uso dos medicamentos alopáticos, em um processo chamado de intermedicalidade. Palavras-chave: Interculturalidade; Índios sul-ame- ricanos; Política de saúde indígena; Saúde Indígena. 566 Saúde Soc. São Paulo, v.22, n.2, p.566-574, 2013

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  • Htalo Thiago Gomes Vieira Bacharel em Enfermagem.Endereo: Rua Jos Padilha, 108, cohab VI, Petrolina, CEP 56300-000, Pernambuco, Brasil.E-mail: [email protected]

    Jacqueline Eyleen de Lima Oliveira Bacharel em Enfermagem.Endereo: Avenida Baro do Rio Branco, 799, ap.04, Centro, CEP 56300-000, Petrolina, PE, Brasil. E-mail: [email protected]

    Rita de Cssia Maria NevesDoutora em Antropologia Social. Professora Adjunta da Universi-dade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Endereo: Rua Dr. Otvio Maia, 2.554, Lagoa Nova, CEP 59077-060, Natal, RN, Brasil.E-mail: [email protected]

    1 Projeto de pesquisa financiado atravs de edital da Fundao de Amparo Cincia e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE), processo no APQ-0840-7.03/08.Financiamento: Universidade de Pernambuco, Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), Fundao de Amparo Cincia e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE).

    A relao de intermedicalidade nos ndios Truk, em Cabrob Pernambuco1

    The intermedicality relationship among Truk Indians, in Cabrob Pernambuco

    Resumo Introduo: Os conhecimentos tradicionais indge-nas de sade fundamentam-se em uma abordagem holstica, cujo princpio a harmonia de indivdu-os, famlias e comunidades com o universo que os rodeia. Um dos desafios que antecede a atuao dos profissionais de sade o respeito diferena, em que os conhecimentos e tecnologias da Biome-dicina no devem ser transmitidos verticalmente, tornando-se imprescindvel o reconhecimento da diversidade social e cultural dos povos indgenas. Objetivo: Identificar as prticas de autoateno nos ndios Truk e a relao dessa populao com a biomedicina, constatando a ocorrncia ou no de interrelao das prticas biomdicas com os sistemas tradicionais de cura. Metodologia: O es-tudo caracterizado como uma pesquisa de cunho qualitativo. Para a realizao dessa pesquisa, foram coletados os dados no Polo Base Truk, em Cabrob e no Territrio Indgena, na Ilha de Assuno. A coleta de dados foi realizada durante os meses de novembro de 2010 e janeiro de 2011, quando foram realizadas entrevistas semiestruturadas aliadas ao mtodo de Observao Participante e registro em Dirio de Campo. Os sujeitos da pesquisa foram vinte e um indivduos, incluindo ndios Truk e profissionais da equipe multidisciplinar de sade indgena. Resultados: Para os Truk, o processo de cura polissmico. Composto por posse do territrio, prticas rituais, tais como o Tor, rezas, alm do uso de lambedor e garrafadas. Por sua vez, fazem uso dos medicamentos alopticos, em um processo chamado de intermedicalidade. Palavras-chave: Interculturalidade; ndios sul-ame-ricanos; Poltica de sade indgena; Sade Indgena.

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  • AbstractIntroduction: Traditional indigenous knowledge about health is based on a holistic approach, which in turn is founded on harmony between people, fami-lies and community and the universe that surrounds them. One of the challenges that precedes the work of health professionals is respect for differences, where the knowledge and technologies of biome-dicine cannot be transmitted vertically, showing that recognition of the cultural and social diversity of indigenous people is vital. Objective: To identify the self-attention practices of Truk Indians and this populations relationship with biomedicine, witnessing the occurrence or absence of an inter-relationship between biomedicinal practices and traditional healing systems. Metodology: This study is characterized as a qualitative research project. To conduct this survey, data were collected at the Truk`s central base in Cabrob and on indigenous territory, on Assuno Island. Data were collected between November 2010 and January 2011, when semi-structured interviews associated with the Participant Observation method were conducted, and a field diary was used. Twenty-one individuals took part in that research, including Truk Indians and professionals on a multidisciplinary Indian health team. Results: For the Truk Indians, the cure process is polysemic. It is composed of territory ownership, ritual practices such as the Tor ritual, prayers, and the use of homemade syrups and bot-tled herbal infusions. They use allopathic medicines in turn, in a process denominated intermedicality.Keywords: Intercultural Contexts; South American Indians; Indian Health Policy; Indigenous Health.

    IntroduoO modelo atual de ateno sade indgena no Bra-sil vem sendo gestado desde 1986, com a I Confern-cia Nacional de Proteo Sade do ndio e, mesmo aps todos esses anos ainda pode ser caracterizado como um processo em construo. Podemos incluir nessa conjuntura a prpria Constituio Federal de 1988, que reconhece a plurietnicidade do Estado Brasileiro, que atravs do artigo 215 3o item V, afir-ma a valorizao da diversidade tnica e regional brasileira.2 Alm disso, toda a dcada de 1990 rica em portarias, leis e regulaes referentes sade indgena. Em 1991, atravs do Decreto no 23, a res-ponsabilidade pela gesto da sade indgena no Pas passou a ser competncia da Fundao Nacional de Sade (FUNASA), rgo ligado ao Ministrio da Sade, que recebeu a misso de promover a ateno bsica aos ndios brasileiros. No entanto, apenas em 1999, atravs da Lei no 9.836 se viabilizou a implan-tao de Distritos Sanitrios Especiais Indgenas (DSEI), que organizam e efetuam os servios de ateno integral sade. De l para c os problemas no cessaram e em 2010, por meio do Decreto 7.336 SAS/MS, foi criada uma secretaria ligada direta-mente ao Ministrio da Sade: Secretaria Especial de Sade Indgena (SESAI), que passou a coordenar e avaliar as aes de ateno sade no mbito do Subsistema de Sade Indgena. A FUNASA teve at dezembro de 2011 para efetivar a transio da gesto para o Ministrio da Sade.

    Essas alteraes nas polticas pblicas de aten-o sade indgena apontam para a necessidade de se realizar uma discusso mais aprofundada sobre a inter-relao das prticas de cura tradicionais e as intervenes no campo da biomedicina3. O docu-mento da FUNASA intitulado Poltica Nacional de Ateno Sade dos Povos Indgenas datado de 2002 considera que s possvel compreender sade indgena a partir da diversidade cultural. Os grupos sociais dispem de vrios sistemas de interpretao sobre o significado de sade e doena, assim como

    2 Includo pela Emenda Constitucional n 48, de 2005.

    3 Adotaremos neste trabalho o termo biomedicina da mesma forma que Hahn e Kleinman (1983, p. 306) adotam o termo biomedicina em vez de medicina cientfica para designar a nossa tradio mdica, evitando, dessa forma, afirmar que outros modelos mdicos no so ou no possam ser cientficos.

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  • possuem compreenses especficas para prevenir e tratar as enfermidades.

    Ainda de acordo com a Poltica Nacional de Ateno Sade dos Povos Indgenas (Brasil, 2002), os conhecimentos e tecnologias da Biomedicina no devem ser transmitidos verticalmente. Torna--se imprescindvel, portanto, o reconhecimento da diversidade social e cultural indgena, bem como primar pelo respeito ao conhecimento tradicional de sade na prestao de uma assistncia diferenciada.

    nesse sentido que se fala da importncia de estreitar as relaes existentes entre os diferentes modelos de ateno sade. Como afirma Menendez (2003, 2009), a Biomedicina realizada por profis-sionais especializados, com prticas voltadas para o campo tcnico-cientfico, a partir de conceitos biolgicos, bioqumicos e genticos. Por sua vez, as prticas que Menendez chama de autoateno so amplas e consideram os aspectos sociais, culturais e econmicos, que influenciam a tomada de decises em relao ao processo de sade e doena, assim como o melhor caminho para a cura, procurando o equilbrio do indivduo como um todo.

    A articulao entre esses saberes e prticas deve ser estimulada para a obteno da melhoria do estado de sade dos povos indgenas. Um dos desafios que antecede a atuao dos profissionais de sade o respeito diferena. nesse sentido que se fala do processo de intermedicalidade, como uma zona de contato em que os saberes com base na cincia biomdica interagem com outros saberes no mdicos na teoria e na prtica, como o caso dos saberes tradicionais de sade indgena (Greene, 1998; Follr, 2004). Em geral, as intervenes na rea de sade so permeadas de preconceitos decor-rentes do senso comum sobre os ndios e realizadas sem o devido respeito aos aspectos socioculturais do grupo, dificultando a formao de vnculos entre os profissionais e a populao, comprometendo o xito do desenvolvimento das aes e servios de sade.

    Neste trabalho se procurou, portanto, compre-ender o processo relacional entre as prticas tra-dicionais de autoateno e o uso da biomedicina nos ndios Truk. importante destacar que no fez parte do objetivo da pesquisa o conhecimento especfico de receitas medicinais e rituais secretos. A pesquisa que originou este artigo se pautou pela

    compreenso da inter-relao das prticas biomdi-cas e os sistemas tradicionais de cura.

    MetodologiaUniverso populacional

    Os ndios Truk possuem uma populao aproxima-da de 6.065 pessoas, de acordo com dados do Sistema de Informao da Ateno Sade Indgena (SIASI), de 2010. O territrio Truk se situa no municpio de Cabrob, interior do Estado de Pernambuco e compreende a Ilha de Nossa Senhora de Assuno e outras oitenta ilhotas que denominam o Arquiplago de Assuno, no Submdio Rio So Francisco. Um grupo que em seu processo constitutivo permane-ceu em contato com a sociedade regional h mais de trezentos anos e que se compe historicamente dos ndios da antiga regio de Rodelas, como afirma Batista (2000, 2005a, 2005b).

    A principal fonte de renda dessa populao obtida atravs do cultivo de arroz e criao de peixes em viveiros. Alm disso, parte da populao trabalha na cidade de Cabrob. A pesca no rio So Francisco, comum no passado, no ocorre mais de-vido escassez de peixes e s transformaes por que passou essa etnia ao longo de todos os anos de contato permanente com os no ndios.

    Durante a pesquisa identificamos que os Truk possuam trinta aldeias, sendo que uma delas fica-va localizada em uma parte da ilha pertencente ao municpio de Oroc Pernambuco. H ainda ndios que moravam fora das aldeias, na cidade de Cabrob, denominados de desaldeados. Estes no recebiam assistncia primria sade na cidade de Cabrob. Eles se deslocavam para a Ilha e eram atendidos esporadicamente em unidades rotativas de sade instaladas nas aldeias, porm sem acompanhamento direto dos agentes de sade.

    Os Truk se encontravam assistidos na ateno bsica, por duas Equipes Multidisciplinares de Sade Indgena (EMSI), composta por trinta e trs profissionais de sade, sendo dois mdicos, duas enfermeiras, quatro tcnicos de enfermagem, dois dentistas, dois auxiliares de consultrio dentrio, onze agentes indgenas de sade, cinco agentes comunitrios de sade e cinco agentes indgenas de saneamento.

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  • Procedimento metodolgicoO estudo caracterizado como uma pesquisa de cunho qualitativo. Para a realizao dessa pesquisa, foram coletados dados no Polo Base Truk, em Ca-brob e no Territrio Indgena, na Ilha de Assuno. A coleta de dados foi realizada durante os meses de novembro de 2010 e janeiro de 2011, quando foram realizadas entrevistas semiestruturadas aliadas ao mtodo de Observao Participante e registro em Dirio de Campo. Os sujeitos da pesquisa foram vinte e um indivduos, incluindo ndios Truk e profissio-nais da equipe multidisciplinar de sade indgena.

    De posse desse material, realizou-se a leitura compreensiva atravs do mtodo de anlise de contedo (Bardin, 2009) na modalidade de anlise temtica transversal. Aps a transcrio das entre-vistas gravadas e leitura detalhada, os dados foram organizados em categorias temticas, formando um corpus analtico.

    Os passos adotados na anlise de todo o material foram: Categorizao, com anlise temtica trans-versal, ocasio em que se consideraram os objetivos da pesquisa e as falas das pessoas entrevistadas. Inferncia: Momento em que, retomado o dirio de campo e todo o material coletado sobre os Truk, foram levantadas premissas de acordo com os obje-tivos da pesquisa. Anlise Explicativa: De posse dos modelos explicativos e dos dados j tratados, foram feitas anlises referenciando a relao entre a medi-cina tradicional e a biomedicina nos ndios Truk.

    A pesquisa que originou este artigo obedeceu aos princpios da declarao de Helsinque, tendo sido aprovada pelo Comit de tica em Pesquisa da Universidade de Pernambuco, sob registro no 182/08. Todos os entrevistados aceitaram, livremente, par-ticipar da entrevista, sendo devidamente esclareci-dos e assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

    Resultados e discussoPara se pensar a relao de intermedicalidade entre os Truk e as Equipes Multidisciplinares de Sade Indgena (EMSI) imperativo discutir o que vem

    a ser medicina tradicional para os Truk. Alm disso, fez-se necessrio compreender de que forma as EMSI atuam ao considerar as especificidades culturais no mbito da sade.

    Medicina tradicional Truk

    Os Truk, por ser um grupo em contato permanente com os no ndios, encontram-se em uma situao de sade e sanitria semelhante aos grupos da regio. Mesmo assim, diferentemente da populao em torno, os Truk possuem especificidades que os in-serem em um contexto diferenciado de compreenso sobre sade, doena e processos de cura.

    Entre as especificidades, preciso considerar que essa populao sempre viveu em ilhas do Rio So Francisco. Alm da Ilha de Assuno, local em que atualmente vivem e produzem arroz e cebola, h in-dgenas habitando outras ilhotas do So Francisco.

    Alm disso, nas ilhas do rio So Francisco, os Truk realizam rituais chamados de Particular. Dessa forma, a compreenso de sade para os indge-nas da Ilha de Assuno mais ampla do que a cura do corpo, na perspectiva biolgica. Sade para os Truk possui significado polissmico e composto de Territrio - homologado e desintrusado4 - onde se pode plantar, e de um complexo ritual, base de um sistema xamnico-cosmolgico pautado em seres Encantados, na fora da Mata Sagrada, em Rezadores, Pajs, etc.

    tambm por esse motivo que os Truk se opem transposio do Rio So Francisco, bem como construo de barragens pela Companhia Hidro Eltrica do So Francisco (Chesf). Esses empreen-dimentos alteram o curso e a fora do rio, afetando o modo de vida dos Truk. Alm disso, as barragens podem fazer submergir ilhas que os Truk usam para rituais particulares, como a Ilha da Ona, inabitada por humanos, mas local de ritual e morada dos Encantados.

    o rio a coisa mais importante. Daqui se tira o sus-tento, daqui se povoa os encantados de luz. Daqui tem os ps de rvores, daqui tem os passarim, as lontra, os sinais de vida e de morte. Ns e o rio um s (Paj Truk5).

    4 retirar o intruso, expresso bastante utilizada no processo de retirada e pagamento dos posseiros que se encontram do territrio j homologado.

    5 RELATRIO de denncia. Povos Indgenas do Nordeste impactados com a transposio do Rio So Francisco. APOINME/AATR/ NECTAS/UNEB/ CPP/CIMI. 2008. 112p.

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  • Quando os Truk se referem sade, portanto, no se referem apenas sade fsica, do corpo, mas a todo esse sistema complexo. Dessa forma, creem no apenas na eficcia da biomedicina, mas tambm nos chs, nas rezadeiras, nos pajs e na fora do Rio So Francisco, atravs de seus Encantos. No seu sistema xamnico-cosmolgico, consideram a exis-tncia de doenas no curveis pelo modelo biom-dico, o que no significa que no adotem a conduta biomdica articulada simultaneamente s prticas de autoateno, como atesta a fala do ndio Truk:

    Eu passei a sentir algo estranho, meu corpo no

    tinha fora, eu comeava como se fosse ver alguma imagem, e ali eu comecei a ficar fraco, ficava indo

    para o mdico e nada de soluo. Quando eu fiquei dessa forma, a nica forma de encontrar a minha cura foi atravs da nossa mesa, nosso ritual. A

    gente tem a doena que mdico no cura e temos a doena que mdico cura. A doena que mdico cura

    aquela doena que pode ser tratada com remdios, com medicamentos e a doena que mdico no cura so aquelas em que a gente procura os nossos En-

    cantos de Luz, a nossa maneira de trabalhar com nosso ritual (ndio Truk 01, entrevista 2011).

    Isso no significa que haja uma separao bem definida entre os tipos de doena. O que verificamos na pesquisa que os Truk fazem uso das diversas prticas de sade que se encontram disposio da populao indgena. Ou seja, procuram seguir orientao biomdica aliada orientao dos pro-fissionais de cura tradicionais. Alm disso, os Truk vm, h alguns anos, sofrendo interferncia externa em seu territrio, atravs de empreendimentos p-blicos como a transposio do Rio So Francisco e a construo de barragens hidroeltricas afetando diretamente sade em sua acepo mais ampla.

    Entre os Truk foi identificada uma preocupao em valorizar a medicina indgena que, segundo re-latos, vem perdendo espao entre as geraes mais jovens. Tambm foi constatado que mesmo com todas as dificuldades e conflitos territoriais, o Tor se constitui como um ritual de cura, alm de ser um elemento cultural que os caracteriza e distingue dos no ndios da regio.

    ... os ndios aqui hoje eles j to muito civilizados, buscando mais alternativas, esquecem que tem as

    coisas boas que a natureza oferece e muitos nem buscam. Uns buscam, outros no buscam e a vai pro mdico mesmo... (ndia Truk 03, entrevista 2010).

    a gente tem nossa defesa tambm, com a nossa reza, nosso Tor para que a gente possa fazer a cura desse enfermo (ndio Truk 01, entrevista 2011).

    ...eu me sinto aliviado no sei se porque crena de famlia mesmo, mas quando eu vou l pra ele rezar eu me sinto bem. Hoje muita gente no acre-dita mais no rezador, s a saindo pra balada, curtindo por a e no quer saber dessas coisas, mas eu acredito muito (ndio Truk 02, entrevista 2010).

    Itinerrio teraputico e prticas de cura

    Em relao ao itinerrio teraputico e s prticas de cura, constatou-se que os ndios Truk fazem uso regular da biomedicina e da medicina indgena simultaneamente. O caminho percorrido desde o mo-mento em que se percebe a doena at o tratamento que varia bastante. Alguns iniciavam o processo com o uso de chs, lambedores, recorrendo muitas vezes aos curadores indgenas (paj, rezadores, etc.), outros, por sua vez, procuravam primeiramente o posto e o tratamento biomdico e, apenas quando ineficazes, procuravam outra forma de cura. Na verdade o mais importante ao se trabalhar com iti-nerrio teraputico e as vrias prticas de cura no apenas identificar por onde se inicia o processo teraputico, mas compreender a rede de articulao das prticas de sade tradicionais e biomdicas e o processo sociocultural de interao e negociao relativos ao que chamamos de mal-estar (Young 1976). Verificamos que, em ambos os casos, os Truk faziam uso da medicina tradicional a partir da in-terpretao e da dimenso considerada da doena.

    ...em muitos casos [os Truk] mandam rezar e a criana realmente fica boa, no toma remdio nenhum apenas reza, a a rezadeira orienta algum tipo de ch e ela chega em casa e faz e a criana melhora e nem precisa ir ao mdico (profissional 01, Agente Comunitrio de Sade, entrevista 2010).

    A dimenso da interculturalidade na sade repre-senta um fator importante quando consideramos a diversidade de prticas de cura nos Truk, princi-palmente por esta ser uma comunidade indgena e

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  • a legislao reconhecer a necessidade de articulao entre as diversas prticas de sade. Os Truk em muitas ocasies se queixavam de que os mdicos das EMSI no se interessavam pela comunidade. A relao mais prxima era com as enfermeiras, tcni-cos em enfermagem e agentes de sade, mas mesmo essa relao, muitas vezes foi alvo de problemas no cotidiano do trabalho junto populao Truk.

    Em trabalho de campo, ao observar um dilogo entre a agente de sade indgena e uma ndia Truk em atendimento na aldeia, percebemos a dificuldade de comunicao, mesmo considerando que ambas so indgenas. A agente indgena de sade afirmava que as lminas coletadas no exame preventivo de Cncer do Colo Uterino haviam sido extraviadas em Recife e que era preciso coletar novamente. A resposta da ndia Truk foi que o exame havia lhe causado mal--estar e que ela no iria repetir porque aps o primei-ro exame passou vrios dias com uma impacincia que, segundo ela, s dava vontade de sair correndo feito louca e, alm de tudo, sangrou por alguns dias. A agente de sade afirmou que era muito importante repetir o exame porque esse sangramento poderia ser resultado de alguma infeco, mas a indgena afianou que estava boa devido a um remedinho branco que a vizinha lhe dera, depois tomou ainda um banho de rio e foi rezada. Afirmou tambm, para a agente indgena de sade, que no iria arriscar ficar doente de novo por causa de um exame.

    Durante a pesquisa, observou-se que os ndios Truk acreditam nas formas de tratamento biom-dico desde que ocorra uma investigao coerente sobre as possveis causas da doena. Quando isso no acontece, ou quando a explicao no convence, a tendncia procurar outras formas de cura, tal qual a sociedade no indgena. Gil (2007) tambm identificou entre os ndios Yaminawa uma aprecia-o por remdios de farmcia, porm afirma que quando algum adoece a procura por esses remdios paralela ao uso de outras tcnicas nativas. Na verdade, essa uma realidade comum a ndios e no ndios. H uma necessidade imanente, por parte dos seres humanos, de compreenso do significado do mal que os aflige.

    tem que procurar o mdico se aquele remdio no servir, a eu vou saber deles, vai pedir uns exames pra ver o que que t acontecendo comigo, porque

    no normal, se voc t doente e voc toma um remdio e no fica bom, ento voc tem que tomar outras providncias, continuar na doena que no d pra ficar...ele [mdico] passa o remdio pra doena certa, vai depender do que eu falei, ele vai investigar a pessoa todinha... (ndio Truk 02, entrevista 2010).

    eu fui no mdico, a o mdico passou um remdio,

    um remdio que ele passa pra urina [...] que no

    serve de nada, a eu voltei a tomar a baga do coco e

    melhorei. Ele j passou vrias vezes pra outras pes-

    soas e no serve (ndia Truk 03, entrevista 2010).

    sempre eu tomo logo o remdio da farmcia, porque

    ele age na doena mais rpido, combate logo mais

    as dores (ndio Truk 04, entrevista 2010).

    Consideraes finaisPara debater a questo indgena, foram realizadas quatro conferncias nacionais de sade: a primeira em 1986, com o ttulo de I Conferncia Nacional de Proteo Sade do ndio, teve por princpio o reconhecimento dos saberes tradicionais sobre sade. Em 1993 aconteceu a II Conferncia Nacional de Sade para os Povos Indgenas que reiterou a defesa de modelo dos DSEIs. Em seguida tivemos a III Conferncia Nacional de Sade Indgena, em 2001, que buscou analisar os obstculos e avanos do SUS na implantao dos DSEIs e, por fim, a IV Con-ferncia Nacional de Sade Indgena, em 2006, que embora bastante criticada, enfatizou a necessidade de respeito s prticas tradicionais de cura. Apesar das dificuldades e problemas enfrentados ao longo desses anos, essas conferncias foram base para a estruturao de um modelo de ateno diferenciada.

    Essas conferncias, assim como a legislao que embasou a poltica nacional de ateno sade ind-gena, tambm definiram como importante o respeito medicina tradicional praticada pelas populaes indgenas. No entanto, no avanou na efetivao de uma poltica dirigida a esse campo de conhecimento. Durante a pesquisa, foi observado que muitas vezes os profissionais de sade incentivam a utilizao de prticas tradicionais de cura, porm sem uma preocupao maior de articulao. Na verdade o que se observou que no h, por parte da FUNASA,

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  • ao menos na realidade presenciada na populao Truk, uma preocupao em dirigir uma poltica de sade voltada para operar uma articulao entre as diversas prticas de sade. Isso fica a cargo de cada profissional. Quando ele se preocupa em estabelecer comunicao junto populao, a articulao feita, quando o profissional no se interessa, no h pre-ocupao dos rgos competentes em estabelecer aes voltadas para essa questo.

    Isso aponta para conceitos importantes tais como interculturalidade, muito citado nos documentos oficiais, e para o conceito de intermedicalidade ou pluralidade teraputica, como apresentado neste trabalho. Quando tomamos interculturalidade como prxis de comunidade, no sentido proposto por Oz-rio (2005), ns a percebemos no como realidades homogneas em si mesmas, rotuladas como medi-cina tradicional indgena, ou biomedicina, mas como espaos de trocas, recursos compartilhados, contestados, negociados.

    Em relao intermedicalidade, como utilizada por Follr (2004), o conceito pensado para apresen-tar a biomedicina interagindo com outros saberes na teoria e na prtica. Na intermedicalidade se pressupe que h pelo menos um elo entre os vrios discursos de conhecimento. Embora as lgicas da biomedicina e da medicina indgena faam uso de critrios diferentes para avaliar o desfecho ou con-cluso de um tratamento, atribuindo ou no eficcia, h certamente pontos de contato que interagem e estabelecem intercomunicaes.

    Os profissionais devem entender que os indiv-duos esto entrando em contato com outro sistema cosmolgico, com normas diferentes quando passam de um campo para o outro. A relao com outro siste-ma de significados e de normas pode no acarretar uma mudana expressiva, pois o indivduo pode ter tido uma experincia anterior com essa realidade, ou at mesmo os seus valores no serem extrema-mente diferentes daqueles que lhes foram propostos, como o caso dos Truk, porm mesmo assim, essa uma experincia exigente e difcil, ainda mais quando outros valores so impostos como algo que ele deve aceitar.

    Para Garnelo e Langdon (2005), importante conhecer as formas de organizao e as redes sociais que sustentam a existncia de uma multiplicidade

    de sistemas teraputicos. No se deve esquecer que todas as pessoas costumam utilizar diversas prti-cas teraputicas simultaneamente. Na populao Truk, essas formas de cura muitas vezes so alvo de preconceito, fazendo com que ocultem suas pr-ticas tradicionais, principalmente quando se refere a rituais e crenas.

    Entre as prticas de cura, o ritual do Tor um elemento cultural que identifica e caracteriza os ndios da regio Nordeste do Brasil. Tal qual a sa-de, o Tor polissmico: trata-se de uma dana de folguedo chamada de brincadeira de ndio, de um ritual privado e de um ritual pblico que consagra o grupo tnico, alm de estar totalmente incorporado ao movimento indgena como forma de expresso poltica. Os Truk utilizam o Tor na busca da cura e no processo de territorializao, como afirmado nas entrevistas e na literatura sobre o assunto (Oliveira, 1999; Grnewald, 2005; Athias, 2007).

    Menendez (2003, 2009) ao tentar compreender essa diversidade de processos de cura, utiliza para isso o conceito de autoateno, como citado anterior-mente. Ele constitudo pelas tcnicas utilizadas de forma individual ou coletiva para diagnosticar, explicar, controlar, aliviar, curar ou prevenir os pro-cessos que afetam seu bem-estar sem a interveno direta de profissionais especializados. Observa-se que os ndios Truk do muita importncia aos rituais, aos medicamentos caseiros e tambm aos remdios da medicina aloptica, assim como cos-tumam manter em casa um pequeno estoque de remdios para que possam recorrer a eles de forma emergencial.

    Os profissionais da sade, em sua grande maio-ria, no so capazes de reconhecer a diversidade de prticas de autoateno. Para Menendez (2003), a maioria da populao utiliza vrias formas de ateno no s para diferentes problemas, mas tambm para o mesmo problema de sade. Quando falamos em compreender as prticas de autoateno e as relaes estabelecidas entre a biomedicina e a medicina tradicional, temos em mente que esse mtodo deve ser pautado por um processo relacional de tratamento e dilogo.

    Como afirma Gadamer (2006) em O carter oculto da sade, na rea da medicina, o dilogo mais que uma simples introduo ao tratamento, o

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  • prprio tratamento. O problema que tratamento liga-se tambm noo de terapia, que em grego significa servio, ou seja, no campo da biomedi-cina, o tratamento determinado pela submisso (servio) e distanciamento do paciente em relao ao profissional mdico. Como falar de intermedica-lidade se a biomedicina se apresenta como superior aos demais saberes?

    Ainda de acordo com Gadamer (2006), o objetivo da arte (tcnica) mdica a cura e a cura no o pleno poder do mdico. H uma iluso da cincia mdica que nos induz a crer que seja possvel fazer tudo. Na verdade, a pergunta que se deve formular qual a parte que cabe cincia na arte mdica? Esta apenas uma parte. No devemos, portanto, tomar a biomedicina como sinnimo de cincia. S dessa forma podemos pensar em intermedicalidade ou pluralidade teraputica.

    Ao procurar compreender a relao entre tra-tamento e dilogo, obteremos instrumentos para avaliao do subsistema de sade indgena, princi-palmente em relao atual poltica de sade, que declara que as prticas tradicionais de cura devem ser respeitadas e no substitudas pelos servios biomdicos na ateno bsica, mas que pouco faz para implementar polticas de ateno voltadas para o problema da interculturalidade.

    Em relao ao profissional biomdico que traba-lha em reas indgenas, um cuidado especial com a sade requer desse profissional, ao trabalhar com ateno diferenciada, capacidade de entender no s o seu prprio sistema de sade, mas tambm respei-tar os saberes, estratgias, significados e tradies da populao com a qual interage, o que no significa instrumentalizar prticas tradicionais que podem ser testadas e verificadas pela biomedicina quanto sua eficcia (Langdon e Diehl, 2007, p. 31). Para finalizar apontamos a necessidade de que novas pesquisas sejam feitas com o tema da intermedica-lidade, principalmente porque, como vimos anterior-mente, a questo da sade indgena encontra-se em uma contnua estruturao e reformulao poltica. Alm disso, nessa nova configurao, com a criao da Secretaria Especial de Sade Indgena (SESAI), se faz necessrio olhar para as conquistas na sade indgena, mas tambm as falhas e deficincias da

    Fundao Nacional do ndio (FUNAI) e da FUNASA na conduo dessa mesma sade e considerar prin-cipalmente as propostas apontadas nos documentos, experincias e relatos que foram feitos nesse per-odo e que foram deixados de lado na estruturao do sistema. preciso, portanto, que se estabeleam medidas que valorizem a articulao das prticas de cura tradicionais com a biomedicina.

    AgradecimentosAgradecemos aos ndios Truk por terem dedicado seu tempo s pesquisas, em especial a Neguinho Truk e Yssor Truk por consentirem com a realiza-o da pesquisa na terra indgena. Aos profissionais das Equipes Multiprofissionais de Sade Indgena, aos Conselhos Local e Distrital, bem como aos ges-tores da Fundao Nacional de Sade. Nossos espe-ciais agradecimentos Maria de Ftima, Rosa, ao seu Wilson e a Jos Pedro, pelo apoio e colaborao durante a realizao da pesquisa.

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    Recebido em: 17/06/2011Reapresentado em: 29/09/2012Aprovado em: 19/10/2012

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