VIGILÂNCIA DA RAIVA, ATRAVÉS DE EXAMES LABORATORIAIS … · 2021. 8. 4. · mordeduras animais,...

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Foto 1: Amostras de encéfalos de cães e gatos. Centro de Con- trole de Zoonoses, Florianópolis, SC Foto 2: Extração de material nervoso de cão para monitora- mento da raiva. Centro de Controle de Zoonoses, Florianópolis, SC A raiva é uma enfermidade infecto-contagiosa causada por um RNA vírus, da família Rhabdoviridae e gênero Lyssavirus, que atinge o Sistema Nervoso Central (SNC) de mamíferos, provocando encefalomielite aguda e mortal. Classificada como uma antropozoonose, o principal mecanismo de transmissão ocorre pelo contato de um hospedeiro suscetível com a saliva de um animal infectado, através de mordedura, arranhadura e lambedura em ferimentos ou mucosas, por onde o vírus penetra. Após ser inoculado em um hospedeiro o vírus multiplica-se no local da lesão. Em seguida atinge os terminais nervosos por onde progride até chegar ao SNC. Depois, se dissemina de forma centrífuga para os nervos periféricos, propagando-se a diversos órgãos e glândulas salivares, por onde é eliminado (WARREL & WARREL, 2004). Devido à elevada letalidade, é considerada uma das zoonoses mais temidas pelo homem, exigindo constante vigilância. Em Santa Catarina, segundo informações da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVE, 2007), o último caso de raiva humana ocorreu em 1981. No entanto, exames laboratoriais de materiais encefálicos oriundos de animais revelaram que o vírus rábico ainda está presente em nosso meio, atingindo especialmente bovinos e eqüinos, demonstrando que é preciso manter cuidados permanentes. Os estudos epidemiológicos locais permitem estabelecer o nível de complexidade das enfermidades, sendo fundamentais na definição de estratégias operacionais (CORREA et al, 1998). Como esse vírus consegue manter-se na natureza através de diferentes ciclos de transmissão, adaptando-se em uma diversidade de hospedeiros, é um exemplo clássico de complexidade, necessitando permanente Vigilância nos campos epidemiológico e ambiental. Objetivou-se com este estudo monitorar a circulação do vírus rábico no município de Florianópolis, SC. No período entre janeiro de 2010 e janeiro de 2011, foram colhidas amostras de material encefálico de cães e gatos que vieram a óbito no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), apresentando sintomatologia nervosa, oriundos do município de Florianópolis, no Estado de Santa Catarina e examinados os cadáveres de três morcegos suspeitos, encontrados mortos em vias públicas. Para a colheita de encéfalos utilizou-se a técnica de necropsia descrita no Manual de Diagnóstico Laboratorial da Raiva do Ministério da Saúde (BRASIL, 2008). Após a extração, o material foi acondicionado em frascos plásticos estéreis, identificados, protocolados, congelados e enviados à CIDASC, para pesquisa de vírus rábico, através das técnicas padrões de Imunofluorescência Direta (IFD) e Prova Biológica. INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS RESULTADOS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONCLUSÃO DISCUSSÃO Foram colhidos fragmentos de tecido do Sistema Nervoso Central (SNC) de 147 mamíferos, que vieram a óbito apresentando sinais neurológicos de encefalite ou foram encaminhados ao CCZ pela Vigilância Epidemiológica por motivo de agressão a pessoas. Destas amostras, 134 eram de cães, 10 de gatos e 3 de quirópteros, da Família Molossidae, e todas apresentaram resultados negativos para raiva, nos testes de IFD e provas Biológicas. Das 147 amostras de encéfalos colhidas no CCZ de Florianópolis, todas resultaram negativas para pesquisa de vírus rábico. É importante salientar que essa quantidade está em conformidade com a meta anual de 120 amostras, pactuada na Programação de Ações da Vigilância em Saúde – PAVS, para monitoramento da raiva no município de Florianópolis, SC, e é concordante com SCHNEIDER (1990) que sugere o envio de 0,2% da população canina estimada para uma área sob monitoramento. De acordo com SILVA & FREITAS (2007) o Estado de Santa Catarina é considerado área controlada para raiva, ou seja, não apresenta circulação da variante canina do vírus em cães e gatos e não realiza campanha oficial de vacinação, com exceção de situações em que se configure necessidade de bloqueio de foco. Essa condição exige um monitoramento constante e eficaz de amostras de material nervoso, para manter uma boa vigilância epidemiológica (SCHNEIDER et al, 1996) porque mesmo constatando-se uma redução dos casos de raiva transmitidos por cães no meio urbano, o ciclo silvestre tem emergido no país, com detecção em morcegos e outros mamíferos silvestres possibilitando a circulação de diferentes variantes virais entre caninos e felinos (BRASIL, 2010). Segundo DEL CIAMPO et al. (2000) dentre os principais acidentes na infância destacam-se as mordeduras animais, atingindo a faixa etária entre um a quinze anos e uma das formas de reduzir esse quadro é através de intervenções educativas nas comunidades, priorizando a educação em saúde e ambiental para as crianças. Em Santa Catarina, o cenário não é diferente, pois o número de agravos por exposições e atendimentos anti-rábicos atinge a média de 12.000 notificações/ano (SILVA & FREITAS, 2007) reforçando a importância da colheita de material encefálico para realização de diagnóstico da raiva, quando não for possível a observação por dez dias de caninos e felinos agressores. Essa é uma medida sanitária essencial na escolha dos esquemas de tratamentos a serem adotados, de alto custo na assistência. Os resultados obtidos neste trabalho indicam que o monitoramento laboratorial da raiva urbana no município de Florianópolis, SC, tem sido eficaz, além de auxiliar na definição do protocolo vacinal, nos casos de agravos notificados. BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual de Diagnóstico Laboratorial da Raiva. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 108 p. 2008. BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Vigilância em Saúde. Evolução e controle da raiva canina e felina no Brasil. In: IV Seminário do Dia Mundial da Raiva-Instituto Pasteur. São Paulo. 2010. CORREA, G.L.B.; LAGAGGIO, V.; TROTT, A.M. et al. Participação de Médicos Veterinários na prevenção de zoonoses transmitidas por cães e gatos em Uruguaiana, RS: Importância em Saúde Pública. Hífen, v.22, n.41/42, p 29-36. 1998. DEL CIAMPO, L.A.; RICCO, R.G.; ALMEIDA, C.A.N. et al. Acidentes de mordeduras de cães na infância. Revista de Saúde Pública.V.34, n.4, 2000. SCHNEIDER, M.C. Estudo de avaliação sobre área de risco para a raiva no Brasil. Dissertação de Mestrado-Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, 230p. 1990. SCHNEIDER, M.C. et al. Controle da Raiva no Brasil de 1980 a 1990. Revista de Saúde Pública, 30(2), p. 196-203. 1996. SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDE DE SANTA CATARINA. Diretoria de Vigilância Epidemiológica. Informativo Epidemiológico Barriga Verde. Uma análise da situação das zoonoses em Santa Catarina-2003 a 2007. Florianópolis: Ano V- n. 01. 2007. SILVA, A.M.R.; FREITAS, S.F.T. Características do atendimento anti-rábico humano no Estado de Santa Catarina, área considerada sob controle para a raiva no ciclo urbano-2002 a 2007. Florianópolis. Trabalho de Conclusão de Curso. 2007. WARREL, M.J.; WARREL, D.A. Rabies and other Lyssavirus diseases. The Lancet.V.363.p.959-969. 2004. VIGILÂNCIA DA RAIVA, ATRAVÉS DE EXAMES LABORATORIAIS DE ENCÉFALOS, EM FLORIANÓPOLIS, SC Gilson Luiz Borges Corrêa*, Fábio de Melo Chaves Indá* *Médico Veterinário do Centro de Controle de Zoonoses da PMF

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Foto 1: Amostras de encéfalos de cães e gatos. Centro de Con-trole de Zoonoses, Florianópolis, SC

Foto 2: Extração de material nervoso de cão para monitora-mento da raiva. Centro de Controle de Zoonoses, Florianópolis,

SC

A raiva é uma enfermidade infecto-contagiosa causada por um RNA vírus, da família Rhabdoviridae e gênero Lyssavirus, que atinge o Sistema Nervoso Central (SNC) de mamíferos, provocando encefalomielite aguda e mortal. Classificada como uma antropozoonose, o principal mecanismo de transmissão ocorre pelo contato de um hospedeiro suscetível com a saliva de um animal infectado, através de mordedura, arranhadura e lambedura em ferimentos ou mucosas, por onde o vírus penetra. Após ser inoculado em um hospedeiro o vírus multiplica-se no local da lesão. Em seguida atinge os terminais nervosos por onde progride até chegar ao SNC. Depois, se dissemina de forma centrífuga para os nervos periféricos, propagando-se a diversos órgãos e glândulas salivares, por onde é eliminado (WARREL & WARREL, 2004).

Devido à elevada letalidade, é considerada uma das zoonoses mais temidas pelo homem, exigindo constante vigilância. Em Santa Catarina, segundo informações da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVE, 2007), o último caso de raiva humana ocorreu em 1981. No entanto, exames laboratoriais de materiais encefálicos oriundos de animais revelaram que o vírus rábico ainda está presente em nosso meio, atingindo especialmente bovinos e eqüinos, demonstrando que é preciso manter cuidados permanentes. Os estudos epidemiológicos locais permitem estabelecer o nível de complexidade das enfermidades, sendo fundamentais na definição de estratégias operacionais (CORREA et al, 1998). Como esse vírus consegue manter-se na natureza através de diferentes ciclos de transmissão, adaptando-se em uma diversidade de hospedeiros, é um exemplo clássico de complexidade, necessitando permanente Vigilância nos campos epidemiológico e ambiental. Objetivou-se com este estudo monitorar a circulação do vírus rábico no município de Florianópolis, SC.

No período entre janeiro de 2010 e janeiro de 2011, foram colhidas amostras de material encefálico de cães e gatos que vieram a óbito no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), apresentando sintomatologia nervosa, oriundos do município de Florianópolis, no Estado de Santa Catarina e examinados os cadáveres de três morcegos suspeitos, encontrados mortos em vias públicas. Para a colheita de encéfalos utilizou-se a técnica de necropsia descrita no Manual de Diagnóstico Laboratorial da Raiva do Ministério da Saúde (BRASIL, 2008). Após a extração, o material foi acondicionado em frascos plásticos estéreis, identificados, protocolados, congelados e enviados à CIDASC, para pesquisa de vírus rábico, através das técnicas padrões de Imunofluorescência Direta (IFD) e Prova Biológica.

INTRODUÇÃO

MATERIAL E MÉTODOS

RESULTADOS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CONCLUSÃO

DISCUSSÃO

Foram colhidos fragmentos de tecido do Sistema Nervoso Central (SNC) de 147 mamíferos, que vieram a óbito apresentando sinais neurológicos de encefalite ou foram encaminhados ao CCZ pela Vigilância Epidemiológica por motivo de agressão a pessoas. Destas amostras, 134 eram de cães, 10 de gatos e 3 de quirópteros, da Família Molossidae, e todas apresentaram resultados negativos para raiva, nos testes de IFD e provas Biológicas.

Das 147 amostras de encéfalos colhidas no CCZ de Florianópolis, todas resultaram negativas para pesquisa de vírus rábico. É importante salientar que essa quantidade está em conformidade com a meta anual de 120 amostras, pactuada na Programação de Ações da Vigilância em Saúde – PAVS, para monitoramento da raiva no município de Florianópolis, SC, e é concordante com SCHNEIDER (1990) que sugere o envio de 0,2% da população canina estimada para uma área sob monitoramento.De acordo com SILVA & FREITAS (2007) o Estado de Santa Catarina é considerado área controlada para raiva, ou seja, não apresenta circulação da variante canina do vírus em cães e gatos e não realiza campanha oficial de vacinação, com exceção de situações em que se configure necessidade de bloqueio de foco.Essa condição exige um monitoramento constante e eficaz de amostras de material nervoso, para manter uma boa vigilância epidemiológica (SCHNEIDER et al, 1996) porque mesmo constatando-se uma redução dos casos de raiva transmitidos por cães no meio urbano, o ciclo silvestre tem emergido no país, com detecção em morcegos e outros mamíferos silvestres possibilitando a circulação de diferentes variantes virais entre caninos e felinos (BRASIL, 2010).Segundo DEL CIAMPO et al. (2000) dentre os principais acidentes na infância destacam-se as mordeduras animais, atingindo a faixa etária entre um a quinze anos e uma das formas de reduzir esse quadro é através de intervenções educativas nas comunidades, priorizando a educação em saúde e ambiental para as crianças.Em Santa Catarina, o cenário não é diferente, pois o número de agravos por exposições e atendimentos anti-rábicos atinge a média de 12.000 notificações/ano (SILVA & FREITAS, 2007) reforçando a importância da colheita de material encefálico para realização de diagnóstico da raiva, quando não for possível a observação por dez dias de caninos e felinos agressores. Essa é uma medida sanitária essencial na escolha dos esquemas de tratamentos a serem adotados, de alto custo na assistência.

Os resultados obtidos neste trabalho indicam que o monitoramento laboratorial da raiva urbana no município de Florianópolis, SC, tem sido eficaz, além de auxiliar na definição do protocolo vacinal, nos casos de agravosnotificados.

BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual de Diagnóstico Laboratorial da Raiva. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 108 p. 2008.BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Vigilância em Saúde. Evolução e controle da raiva canina e felina no Brasil. In: IV Seminário do Dia Mundial da Raiva-Instituto Pasteur. São Paulo. 2010.CORREA, G.L.B.; LAGAGGIO, V.; TROTT, A.M. et al. Participação de Médicos Veterinários na prevenção de zoonoses transmitidas por cães e gatos em Uruguaiana, RS: Importância em Saúde Pública. Hífen, v.22, n.41/42, p 29-36.1998.DEL CIAMPO, L.A.; RICCO, R.G.; ALMEIDA, C.A.N. et al. Acidentes de mordeduras de cães na infância. Revista de Saúde Pública.V.34, n.4, 2000.SCHNEIDER, M.C. Estudo de avaliação sobre área de risco para a raiva no Brasil. Dissertação de Mestrado-Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, 230p. 1990.SCHNEIDER, M.C. et al. Controle da Raiva no Brasil de 1980 a 1990. Revista de Saúde Pública, 30(2), p. 196-203. 1996.SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDE DE SANTA CATARINA. Diretoria de Vigilância Epidemiológica. Informativo Epidemiológico Barriga Verde. Uma análise da situação das zoonoses em Santa Catarina-2003 a 2007. Florianópolis:Ano V- n. 01. 2007.SILVA, A.M.R.; FREITAS, S.F.T. Características do atendimento anti-rábico humano no Estado de Santa Catarina, área considerada sob controle para a raiva no ciclo urbano-2002 a 2007. Florianópolis. Trabalho de Conclusão deCurso. 2007.WARREL, M.J.; WARREL, D.A. Rabies and other Lyssavirus diseases. The Lancet.V.363.p.959-969. 2004.

VIGILÂNCIA DA RAIVA, ATRAVÉS DE EXAMES LABORATORIAIS DE ENCÉFALOS, EM FLORIANÓPOLIS, SCGilson Luiz Borges Corrêa*, Fábio de Melo Chaves Indá*

*Médico Veterinário do Centro de Controle de Zoonoses da PMF